THEAVANTGARDE ABR 2024
TheAvantGarde Brasil, 2º edição, Cuiabá-MT 2024 THEAVANTGARDE Editor-chefe Pedro Fraga Editor-assistente João Rafael Derbali Editor At-Large André Paulino Redatora-chefe Camila Alves Diretora de Produção Vitória Florentino REDAÇÃO Editora de Moda Eduarda Amorim Editor de Música Gabriel Zys Editor de Cinema & Estilo André Paulino Editor de Cinema Thiago Delapola Editora de Beleza Vitória Florentino Editora de Moda e Beleza Camila Alves Editor de Moda e Cultura Pedro Fraga FOTOGRAFIA Fotografia de Moda Uri Bezerra Direção de Arte & Styling Pedro Fraga Iluminação Diego Cavalcante Fotografia de Beleza Roberts Gonsalves Direção de Beleza Vitória Florentino 1º Assistente de Beleza Sarah Santiago 2º Assistente de Beleza Eduarda Amorim 3º Assistente de Beleza Iris Rubira ARTE Diagramação & Design Pedro Fraga Ilustração Clisis AUDIOVISUAL Editorial de Moda Uri Bezerra Iluminação Diego Cavalcante Edição Nicolle Machado Editorial de Beleza Pedro Fraga MÍDIA Direção João Rafael Derbali Produção Gustavo Melo Design Pedro Fraga Redação Sara Soares PRODUÇÃO Executiva Vitória Florentino Executivo André Paulino Moda Pedro Fraga Administrativo Sara Soares CONVIDADOS Maria Vitória Rondon Natália Sarturi Allana Souza Eduarda Villwock APOIO MOB Ótica A Favorita
CARTA DO Editor Ah os anos 90, momento ímpar para os amantes da moda. Quando o fashion tinha uma potência e poder que nunca mais teve igualmente em outro momento. Era de transformações, o primeiro boom da tecnologia no mundo, as supermodelos em ascensão, a pré-virada do século, o capitalismo emergindo, a globalização cada vez mais acelerada e o consumismo em pauta. Somos uma geração de fashionistas criados por Carrie Bradshaw, Andy Sachs e Jenna Rink, aquelas que são nossas gurus espirituais, que de alguma forma nos ensinaram que talvez a melhor terapia seja comprar um novo sapato ou ir ao bar beber um cosmopolitan. Essa era, também é marcada pelo avanço da cultura queer, quantos nomes, principalmente no brasil, nos permitiram estar aqui hoje e sermos quem somos hoje. Claro, há também um lado sombrio da moda desse tempo ao qual não nos orgulhamos, mas é necessário olhar para o passado para compreender e imaginarum futuro menos problemático, com mais diversidade XXXX e menos pressão em relação aos nossos corpos e identidades. Mas desse tempo, também nos resta nostalgia, reassistir a ascensão de nomes como McQueen, Galliano, Tom Ford e Marc Jacobs ainda dá ao jovens que sonham em trabalhar com moda aquela esperança de que talvez seja possível. Realmente, hoje talvez seja tempo de ressignificar, de pensar como mesmo no passado parecíamos estar tão mais evoluídos em relação ao mercado de moda. Mais valorização, apreço e curiosidade sobre o que os criativos da área estavam por lançar. Os Designers eram como um panteão de artistas. Pensemos, num mundo com tanta diversidade, tantos acessos e oportunidades de valorizar e prestigiar trabalhos emergentes, será que realmente custa tanto dar oportunidade aos pequenos criadores? Talvez não seja essa valorização que esteja faltando para revivermos um boom tão grande na moda? Pedro Fraga Editor-chefe
A ilustração "Clubbers" é uma composição de recortes da cena noturna. Com látex, vinil e couro, as figuras contrastam entre cores vivas, que se equilibram com os diferentes elementos que formam cada quadro. A idéia da ilustração é representar, a partir desses recortes, as diferentes nuances que envolvem esse espaço, sendo também aqui uma metalinguagem, quando pretende representar recortes de revista em um desenho para uma revista. É Divine vestida dos pés aos cabelos de látex, erguendo uma taça, como se a própria fosse a estátua da liberdade. É o glamour do exagero, e isso faz sentido.
Dior no Brooklyn: Uma mistura de moda, Marlene Dietrich e a vibe americana… Fashion Revolution Week iluminando os podres da indústria e convocando mudança nesse mês de abril! Maria Grazia Chiuri levou o público do Museu do Brooklyn a uma viagem na última segundafeira(15), apresentando a coleção outono 2024 da Dior. Nessa coleção, Maria traça conexões profundas com a história da maison e de Christian Dior. A primeira conexão remete à inspiração de Grazia na icônica atriz alemã Marlene Dietrich, uma figura íntima da grife durante os anos 1930. A segunda conexão resgata a relação vibrante entre Nova York e Paris, especialmente durante a era em que Dietrich brilhava no cenário do entretenimento mundial. Uma noite para deixar qualquer fashionista de queixo caído! Não dá para negar que a moda está se tornando cada vez mais consciente. Com a Semana Fashion Revolution chegando ao seu décimo ano, estamos testemunhando uma mudança de paradigma na indústria da moda. Este movimento ativista não apenas lança luz sobre os problemas prementes do setor, mas também instiga ações concretas para enfrentá-los de frente. Desde a garantia de condições dignas para os trabalhadores até processos produtivos mais ecológicos, as pautas em destaque refletem um desejo crescente por mudanças radicais. Algodão arrancado de áreas desmatadas, montanhas de roupas descartadas no deserto do Atacama e uma indústria que ainda luta para representar verdadeiramente a diversidade do mundo ao seu redor. Esses são apenas alguns dos temas urgentes que estão sendo discutidos na maior mobilização de ativismo de moda do planeta. É hora de a moda se vestir com uma consciência mais verde e inclusiva, e o Fashion Revolution está liderando o caminho. INTERNACIONAL POLÍTICA news por sara soares 7 05
news Protesto ousado na SPFW: Modelos Acima de 50 anos dão Show de Empoderamento! SPFW Antes da São Paulo Fashion Week começar, o grupo de ex-modelos acima dos 50 anos decidiu fazer barulho. Compostas por: Paula Franco, 53, Haag Campedelli, 52 e Andrea Clara, 51, que marcaram a geração dos anos 1990, se manifestaram com o Manifesto Fashion “Nós Não Somos Invisíveis”, elas questionaram a falta de representatividade feminina nas passarelas e na publicidade brasileira. A foto-protesto, sem retoques, mostrou a beleza real das mulheres maduras, provando que a idade é apenas um número na moda. É um recado claro: a moda é para todas, independentemente da idade! Gloria Coelho: 50 Anos de pura inovação na moda! SPFW A estilista brasileira Gloria Coelho está provando que o tempo só a deixou mais afiada do que nunca. Em sua coleção apresentada na São Paulo Fashion Week, ela misturou elementos tão diversos que é como se estivesse fazendo uma salada de moda: década de 1960, roupas de balé, Kate Moss, crochê, armaduras medievais e até Pokémon. Sim, você leu certo… Pokémon! Parece que a criatividade não tem limites quando se trata de Gloria Coelho. Ao longo de sua carreira, Gloria construiu uma reputação sólida como uma das principais mentes criativas da moda brasileira. Seus designs futuristas e visão orientada para o futuro continuam a atrair clientes de todas as idades e estilos. Afinal, quem não quer se vestir como uma mistura de século XXI com Pokémon, certo? Parabéns, Gloria, por manter a moda brasileira sempre surpreendente e, é claro, um pouco excêntrica. SPFW em Ebulição: Blush Laranja domina as passarelas. SPFW O blush laranja é o novo queridinho da estação! Grifes como Aluf, Marina Bitu e a novata Catarina Mina investiram no item em tonalidades alaranjadas para trazer vivacidade à maquiagem, indicando que o blush será o destaque desta temporada de outono. É uma explosão de cor em meio aos tons neutros, mostrando que a moda brasileira está mais vibrante do que nunca. É o blush laranja, o segredo de beleza que está conquistando corações e necessaires por aí! 06
Coachella: O festival que mistura música e estilo no deserto da Califórnia! Naomi Campbell assina coleção cápsula para a Boss Naomi Campbell, a supermodelo, e uma das mulheres mais influentes do mundo fashion, e a marca Boss abalaram a indústria da moda na última semana com "Naomi x Boss", uma linha de mais de 40 peças para quem está sempre na estrada. De trajes de compressão a itens antibacterianos, a coleção une estilo e funcionalidade. Estampas especiais promovem uma vibe zen, transformando cada peça em uma afirmação de bem-estar. Para que ama viajar com estilo, conforto e atitude. Com "Naomi x Boss", é hora de elevar o nível das suas aventuras e arrasar em qualquer destino! INTERNACIONAL MÚSICA news 7 O Coachella não é só música, é um verdadeiro desfile de tendências! Com Lana Del Rey no palco, o festival é o lugar onde o estilo encontra a melodia. Desde os looks nostálgicos de 2014 até os acessórios extravagantes, passando pelo visual único de Lana Del Rey que foi a principal atração. Os frequentadores buscaram se inspirar em seu estilo, que traz peças vintage, espartilhos e outros acessórios com pérolas. A parceria entre a plataforma e o festival também traz uma colaboração exclusiva com Chloe e Chenelle, duas estilistas de renome no universo das celebridades, para dar vida à inspiração nos grandes eventos. Com milhões de buscas na plataforma relacionadas ao Coachella, das quais 40% são feitas pela geração Z que claramente está mergulhando em uma variedade de estilos femininos, desde os delicados laços e tules - uma clara homenagem ao icônico Lana Del Rey Core - até o uso de couro e casacos de pele pretos com visuais mais sombrios. Além disso, houve um interesse enorme por looks inspirados em fadas, incluindo vestidos de renda e maquiagens artísticas. 07
Dolce&Gabbana: Da passarela ao Palazzo Reale em Milão. MODA 7 Dolce&Gabbana quebra paradigmas ao estrear no Palazzo Reale, em Milão, com a exposição "Do Coração às Mãos". Com mais de 200 peças de altacostura, a mostra celebra a tradição italiana e a criatividade sem limites dos designers. É uma verdadeira imersão no mundo da moda, onde o glamour encontra a história. É Dolce&Gabbana provando que a moda não é apenas vestuário, é arte! Para os amantes de moda, já estão à venda os bilhetes para “Do coração para as mãos” da Dolce&Gabbana, no site oficial da exposição, que pode ser visitada de terça a domingo, entre as 10h e as 18h30. Custam 17 euros. "Dormindo com Estilo"? Met Gala dá um gostinho do catálogo inspirado na temática deste ano. Preparem-se! O Met Gala está chegando, trazendo consigo mais um desfile de extravagâncias fashion. Com um livro digno de contos de fadas, destacando vestidos cobertos de plantas e borboletas, parece que estamos prontos para adentrar um mundo onde até as roupas têm vida própria. “Sleeping Beauties: Reawakening Fashion”, ou em tradução livre, "Belas Adormecidas: O Despertar da Moda", e promete ser um dos eventos mais aguardados e comentados da indústria da moda, marcado para 6 de maio como um espetáculo que nos fará questionar se estamos vivendo um sonho ou um pesadelo fashion. INTERNACIONAL news 08
SUMÁRIO ABR2024 MODA 13 O final dos anos 80 voltando em carne viva no século XXI 17 OLD FASHIONED 25 MULHERES PAGAM MAIS CARO APENAS POR EXISTIR 27 DARK FEMININE 31 OFFICE SIRENS 41 A MODA É OU NÃO É ARTE 45 CARRIE BELEZA 49 DA TRADIÇÃO À REBELDIA 53 ALL THAT TRENDS
LIFESTYLE 63 bares cuiabanos 65 CHOLAS 71 EXISTE O VOGUING PÓS-MADONNA? 75 ONDE IR EM CUIABÁ 77 OS EDITORES RECOMENDAM CULTURA 81 NERVE E NÓs 85 DUNA 2 É SUNTUOSO 89 O USO DE DROGAS ATRAVÉS DO OLHAR CINEMATOGRÁFICO 93 CHORAR TODO O MAR 95 MULHERES NO CINEMA
COLABORADORES DA EDIÇ ÃO ANA BEATRIZ GOVEIA EDITORA DE MODA Ariel elisis ilustrador MARCELLY DE PAULA ESCRITORA & POETA EDITORA DE LIFESTYLE EMANUELLY SANTOS
TheAvantGarde Brasil, 2º edição, Cuiabá-MT 2024 se esqueça de nos seguir nas redes sociais Não Instagram: TikTok: @theavantgarde.br TheAvantGarde Brasil
O final dos anos 80 voltando em carne viva no século XXI E quando a estética clean girl parecia estar em seu auge, surge novamente o velho testamento da moda para balançar o cenário fashion; Uma história que conta de Kate Moss à Tom Ford. MODA POR PEDRO FRAGA Nos últimos meses um termo de nome muito curioso tem fervido na internet e principalmente no TikTok, a “messy girl” (uma nova roupagem do já conhecido indie sleaze) tem recebido fortes holofotes nas redes e causado uma estranha nostalgia. Com o crescente interesse pelas supermodelos do final dos anos 80 e começo dos 90, a geração Z têm colocado em seus pódios de inspiração nomes como Kate Moss, Naomi Campbell e Cindy Crawford. Sombras escuras nos olhos, música alternativa, cabelos bagunçados, sapatos e bolsas caras, sobrancelhas finíssimas e forte apreço pelo high fashion são quase que palavraschave para começar a compreender melhor essa forte onda de volta ao grunge que precedeu a virada do século. Enquanto Moss era fotografada pela icônica Corinne Day para campanhas da Calvin Klein, chamando a atenção para uma nova movimentação na indústria, crescia fervente N 13
fervente um movimento subversivo nas ruas de Londres e Nova Iorque: O Grunge e o Heroin Chic. Marcado por uma estética desleixada, despojada de glamour artificial e uma atitude antiestablishment, o Grunge não apenas infiltrou-se nas passarelas, mas também na cultura popular. Bandas como Nirvana e Pearl Jam proporcionaram a trilha sonora perfeita para uma geração desencantada, enquanto estilistas como Marc Jacobs transformaram essa estética em um fenômeno de moda. Essa era foi marcada por desafiar não só só a indústria da moda e beleza como também todo o status quo cultural. Foi época de olhar mais profunda e introspectivamente para toda uma sociedade. Mas afinal, essa era efêmera do início dos anos 90, que surgiu depois no início dos anos 10 e que volta agora no início do anos 20 tem influência de alguns nomes que nunca serão esquecidos: Marc Jacobs, John Galliano, Alexander McQueen e Tom Ford, aqueles que traduziram todas essas sensações em suas passarelas. aaaaaaaa A re-popularização dessa trend não só reflete a forma de se vestir, como também uma visão muito mais subversiva. É rejeição ao excesso, do artificial, daquilo que é validado por ser polido, sempre em favor do autêntico e do individual (um prato cheio para quem tem aquário no mapa astrológico). Boa parte do estilo de vida dessa época foi ditado pelas lentes da fotógrafa britânica Corinne Day. “As fotos de Kate eram radicais (...) Eram diferentes de tudo que poderia ser classificado como moda. 14 Na página anterior, Kate Moss para a GQ Magazine em 1992; Ao lado, a coleção de Marc Jacobs de 1993 para a Perry Ellis.
como moda. Day preferia preto e branco a cores, modelos com ar vagabundo e aparência pálida de ressaca, as roupas desmoronando, muito grandes ou muito pequenas, tiradas de brechós ou do chão do quarto. Seus cenários eram ao ar livre e fuleiros, sempre com luz natural e poses esquisitas”. Passagem do livro Champagne Supernovas, de Maureen Callahan, obra que passeia por essa época da moda, falando principalmente sobre o trabalho de Moss, Marc Jacobs e Alexander Mcqueen. O livro mostra como a moda foi um fator essencial para as revoluções culturais da última década do século. O que o rock and roll foi para os anos 50, as drogas, para os 60, os filmes, para os 70, e a arte moderna, para os 80, a moda foi para os anos 90: o estopim, e depois o filtro. “A moda como um fenômeno cultural significativo para os anos 1990 teve a ver com uma crescente consciência popular na moda, e as crescentes trocas entre a moda e a arte” declara Valerie steele, diretora do Fashion Institute of Technology (FIT). Definitivamente os últimos anos tem representado uma volta dos espíritos da velha guarda fashion dessa época, é quase como se abríssemos uma tabuleiro Ouija para nos comunicar com eles, e tomássemos a decisão de replicar os pensamentos e visões daquela época, sejam antiquados ou não. Esse encontro massivo de contraculturas surgindo por todos os lados, o conflito entre o tradicional e o novo que desafia as estruturas, a busca pela glamourização da sua realidade e de possuir cada vez mais produtos que te diferenciam e te tornam cool, são repetitivos comportamentos que tornam difícil saber se estamos falando de 1990 ou 2024.
“A moda como um fenômeno cultural significativo para os anos 1990 teve a ver com uma crescente consciência popular na moda, e as crescentes trocas entre a moda e a arte” Realmente, é tempo de refletirmos até que ponto é vantajoso tornar à nossas antigas convicções, às figuras que idolatramos, aos velhos comportamentos. Talvez, uma ótima trilha sonora para sentir a atmosfera dessa coalizão entre essas duas épocas seja “Smells Like Teen Spirit” da banda Nirvana. Para finalizar, gostaria de deixar mais uma passagem do livro, que precede o início do primeiro capítulo: “Uma revolução aconteceu nos anos 1990, e ninguém percebeu. Esta é a história daquele tempo fugaz, ainda que fortemente influenciador — o momento em que o alternativo em moda e beleza virou mainstream, e o mainstream virou um grande negócio”. Familiar, não? Acima, “Champagne Supernovas” de Maureen Callahan; Entre as páginas Kurt Cobain por Michael Linssen
OLD- FASHIO ..NED Direção PEDRO FRAGA FOTOGRAFIA URI BEZERRA BELEZA VITÓRIA FLORENTINO produção EXECUTIVA ANDRÉ PAULINO & VITÓRIA FLORENTINO MÍDIA ANDRÉ PAULINO AUDIOVISUAL URI BEZERRA ILUMINAÇÃO DIEGO CAVALCANTE MODELOS NATÁLIA SARTURI & MARIA VITÓRIA RONDON
18
Na capa, Alice Guy-Blaché (1873-1968).
Na capa, Alice Guy-Blaché (1873-1968). NA PÁGINA À ESQUERDA E ACIMA, SAIA DE TWEED MOB (SHOPPING ESTAÇÃO), ÓCULOS ROBERTO CAVALLI ÓTICA A FAVORITA & SUÉTER ITALIANO E JAQUETA DE COURO DO ACERVO DO STYLIST
Na capa, Alice Guy-Blaché (1873-1968).
NA PÁGINA À ESQUERDA E ACIMA, SAIA DE TWEED, SUÉTER DE TRICÔ E CASACO DE PELO MOB (SHOPPING ESTAÇÃO), ÓCULOS ATHENAS PRATA ÓTICA A FAVORITA.
Na capa, Alice Guy-Blaché (1873-1968). 23
Na capa, Alice Guy-Blaché (1873-1968).
Mulheres pagam mais caro apenas por existir BELEZA POR CAMI ALMEIDA
Esse texto será dinâmico, prepare-se para fazer descobertas empíricas. E já avisamos de antemão: não passar raiva não é uma opção por aqui. Pegue sua calculadora, vamos fazer uma conta simples. Some todos os produtos de higiene pessoal que você compra todo mês: shampoo, condicionador, creme de pentear, absorvente… assustou com o resultado? E se dissermos que você paga mais caro apenas por existir? Pink tax ou taxa rosa é o termo usado para se referir aos valores a mais que pagamos por um produto que é considerado “feminino”. A expressão ficou popular na França, quando a ativista feminista Georgette Sand começou a expor a diferença de valores entre produtos de uso iguais entre homens e mulheres, mas que na versão rosa era mais caro. aaaaaaaaaaaaaaaaaaa O movimento se espalhou até que o Departamento dos Consumidores da cidade de Nova York divulgou um estudo em 2015, afirmando que produtos femininos custavam até 7% a mais que produtos masculinos idênticos. Já nas terras tupiniquins, a ESPM — Escola Superior de Propaganda e Marketing — divulgou em 2016 uma pesquisa que apontou que mulheres pagam cerca de 12,3% a mais em produtos idênticos aos direcionados ao público masculino, apenas por uma versão considerada “feminina”. E não para por aí, já que o percentual varia de produto em produto. Por exemplo: a diferença em vestuário infantil chega até 23%, serviços — relacionados à cabelo, por exemplo — chega a 27% e brinquedos pode chegar a 26%. a Em itens essenciais de higiene, como absorventes, a taxação chega a ser chocante. Cerca de 30% do valor do produto são taxas e é daí que nasce a discussão da dignidade menstrual. O nome é “taxa rosa”, mas não se limita apenas aos produtos literalmente cor de rosa e sim a serviços e itens voltados para as mulheres. Devemos pontuar aqui outra perspectiva da questão: como podemos pagar mais caro se recebemos menos? Segundo o IBGE, em 2022, as mulheres recebiam cerca de 78% do que os homens ganham. Se você, mulher, não se sentiu injustiçada até agora, você tem realmente sangue de barata. A reflexão que fica é: será que as mulheres gastam muito como dizem ou é só mais caro ser mulher nessa sociedade patriarcal? Imagem de divulgação de “De repente 30” (2004). 26
Foto da atriz Angelina Jolie. Desvendando a elegância sombria da tendência que tem bombado nas redes. MODA POR EDUARDA AMORIM O conceito de "dark glam" tem suas raízes profundamente entrelaçadas nas subculturas da moda, emergindo como uma expressão de elegância sombria e misteriosa. Originário da fusão entre elementos do estilo gótico e glamuroso, o dark glam encapsula uma estética intrigante que cativa os aficionados por moda em todo o mundo e nasceu da necessidade de desafiar as convenções tradicionais e explorar novas fronteiras estilísticas. Inspirado por uma variedade de influências, incluindo o movimento gótico e a cultura underground, o dark glam se estabeleceu como uma forma de expressão ousada e autêntica para aqueles que buscam uma abordagem alternativa à moda. Maquiagens pesadas com cores escuras e profundas, tendo como cores principais o preto e o vermelho escuro, texturas luxuosas como o couro, veludo e renda e muitos detalhes ousados como corsets e gargantilhas fazem parte do dark glam. Outra característica distintiva é sua capacidade de evocar uma sensação de mistério e sofisticação, enquanto ainda mantém uma aura de rebeldia e autenticidade. Esse estilo tem sido frequentemente associado à cultura noturna, onde suas nuances são exibidas de forma marcante. O 27
Inspirado pelo movimento "heroin chic" dos anos 90, o dark glam compartilha elementos dessa estética controversa. O termo "heroin chic" foi criado para descrever uma tendência na moda que celebrava uma estética desleixada e decadente, muitas vezes associada ao uso de drogas e à figura da modelo pálida e esquelética. Embora controverso, o heroin chic deixou uma marca inegável na moda, influenciando subsequentes outros movimentos estilísticos. Hoje, o dark glam continua a ser uma força relevante na moda noturna, sendo incorporado em uma variedade de looks e estilos. De roupas e acessórios a maquiagem e penteados, essa estética oferece uma infinidade de opções para aqueles que desejam adotar uma pegada mais dramática. O dark glam é mais do que apenas uma tendência passageira na moda noturna; é uma expressão de individualidade e criatividade que continua a cativar aqueles que buscam uma estética distintiva e intrigante, permanecendo como uma força relevante e inspiradora na moda contemporânea. Fall 2023 RTW - Saint Laurent Foto de divulgação do filme “Garota Infernal” (2009). Paola Bracho, personagem principal da novela “A usurpadora (1998). Fall 2024 RTW - Roberto Cavalli Spring 1998 RTW - Alexander McQueen
Acima, foto de Lana Del Rey para a divulgação do álbum “Did You Know That There's a Tunnel Under Ocean Blvd”. A cantora nortamericana é responsável pela crescente do arquétipo da garota sombria na internet.
Para quem deseja incorporar mais mistério e sofisticação aos looks noturnos aqui vão algumas dicas de como incorporar essa e estética e arrasar muito nas noites: Peças-chave: Jaquetas de couro pretas, um vestido de veludo ou uma blusa com detalhes de renda podem servir como uma base sólida para construir seu look. Texturas: Adicione dimenção ao look, misturas como renda e seda ou veludo e couro podem criar um visual mais interessante. Cores: Mesmo o preto sendo a cor carácteristica do dark glam, você pode adicionar cores que acrescentam profundidade como o marrom e o vermelho. Confiança: O mais importante ao incorporar o dark glam é de longe a confiança, já que, o estilo é voltado para transmitir a sensação de poder. Acessórios: Gargantilhas, brincos e anéis dourados são uma ótima combinação para deixar seu look um pouco mais glamuroso. Como incorporar o dark glam nos seus looks para a noite
Na capa, Alice Guy-Blaché (1873-1968). OFFICE SIRENS 31 Direção PEDRO FRAGA FOTOGRAFIA URI BEZERRA BELEZA VITÓRIA FLORENTINO produção EXECUTIVA ANDRÉ PAULINO & VITÓRIA FLORENTINO MÍDIA ANDRÉ PAULINO AUDIOVISUAL URI BEZERRA ILUMINAÇÃO DIEGO CAVALCANTE MODELOS NATÁLIA SARTURI & MARIA VITÓRIA RONDON
ACIMA, BLUSA GOLA ALTA MOB (SHOPPING ESTAÇÃO) & ÓCULOS ATHENAS ÓTICA A FAVORITA
33
NA PÁGINA À ESQUERDA E ACIMA, BLUSA E SAIA DE TWEED MOB (SHOPPING ESTAÇÃO), ÓCULOS ATHENAS ÓTICA A FAVORITA & GRAVATA E BOLSA DO ACERVO DO STYLIST
NA PÁGINA À ESQUERDA E ACIMA, SAIA DE TWEED MOB (SHOPPING ESTAÇÃO), ÓCULOS ATHENAS PRATA ÓTICA A FAVORITA & GRAVATA, BLUSA E SALTO DO ACERVO DO STYLIST
A moda é ou não é arte? O papel da moda na comunicação e na arte MODA POR ANA BEATRIZ GOVEIA Ainda que haja controvérsia sobre a moda ser ou não uma forma de arte, ela é a nossa chance de expressar sentimentos e transmitir mensagens no nosso dia a dia, ou seja, também pode ser lida como uma forma de comunicação. Nesse sentido, podemos traçar um paralelo entre os vários aspectos da moda e nosso cotidiano, desde um desfile nas semanas de moda até uma trend nas redes sociais, tudo tende a passar alguma mensagem. A moda pode passar uma visão artística atrelada a qualquer forma de arte, sendo uma delas as artes cênicas com suas performances em desfiles contemplativos, como na coleção de alta-costura verão 2024 de Maison Margiela, onde o diretor criativo da marca John Galliano trouxe de volta a perspectiva de desfiles teatrais com performances e criações que poderiam ser consideradas obras de arte por si só. Assim como Galliano, vários estilistas ao longo dos anos usaram outras formas de arte como inspiração, um exemplo perfeito é Yves Saint Laurent com o vestido Mondrian, um vestido criado a partir do quadro do pintor holandês Piet Mondrian, o vestido que fazia referência ao quadro neoplasticista foi um completo sucesso e iniciou o auge da carreira de Yves Saint Laurent, impressionando toda a alta sociedade francesa nos anos 60. Com tudo isso em mente, xx A 41 Schiaparelli Fall 2021 Couture.
podemos afirmar que a moda é sim uma forma de arte e pode ser relacionada com diversos tipos de arte, afinal, a moda não é sólida, e sim fluída, cheia de nuances e vertentes, assim como qualquer outra forma de arte. Muito se fala sobre os desfiles de alta costura das grandes marcas, o que abre margem para vários questionamentos, sendo o maior deles entre a maioria das pessoas “Mas em que hipótese eu usaria essa roupa?” e a resposta é simples, provavelmente em nenhuma! Pois esses desfiles são contemplativos, e as peças são apresentadas com o intuito principal de fazer com que o público entenda a visão do artista e ver de perto as várias características criativas de cada grife, e como elas colocam isso em cada coleção. Yves Saint Laurent 1965. Maison Margiela Spring 2024 Couture
Quando se fala da intersecção entre moda e arte, a marca Schiparelli é o primeiro pensamento na cabeça de muitos fashionistas. Acima, um dos desenhos da coleção Fall 2020 Couture.
Vale lembrar que a moda pode também ter um aspecto político e social, como por exemplo os movimentos punks e hippie, que usavam da moda para protestar contra o sistema político e social de suas respectivas épocas. Vale lembrar que a moda pode também ter um aspecto político e social, como por exemplo os movimentos punks e hippie, que usavam da moda para protestar contra o sistema político e social de suas respectivas épocas. Ainda sobre o movimento punk podemos falar de Vivienne Westwood, uma das maiores estilistas que moldou a cena punk dos anos 70, com suas ideias fortes e declarações incisivas sobre a política, a liberdade sexual da mulher e as mudanças climáticas. Além disso, Westwood nos lembra o conceito de moda disruptiva, que vem da ideia de quebrar padrões e impactar hábitos de consumo, ela ainda consegue nos trazer a reflexão do belo e do feio dentro da moda com suas criações que fugiam dos padrões fashion da época, em meio a polêmicas, Vivienne Westwood consagrou-se no mundo da alta costura. Ainda sobre o movimento punk podemos falar de Vivienne Westwood, uma das maiores estilistas que moldou a cena punk dos anos 70, com suas ideias fortes e declarações incisivas sobre a política, a liberdade sexual da mulher e as mudanças climáticas. Além disso, Westwood nos lembra o conceito de moda disruptiva, que vem da ideia de quebrar padrões e impactar hábitos de consumo, ela ainda consegue nos trazer a reflexão do belo e do feio dentro da moda com suas criações que fugiam dos padrões fashion da época, em meio a polêmicas, Vivienne Westwood consagrou-se no mundo da alta costura. Essa reflexão deixa implícito um questionamento por trás, afinal, a moda na contemporaneidade brasileira ainda pode ser disruptiva e inovadora? A resposta é sim! Um exemplo disso é quando ofertamos visibilidade a uma cultura marginalizada, pois a partir disso abrimos caminhos para uma ascensão de novas ópticas que poderão refletir a realidade dos artistas. Uma maneira de incluir esse conceito ao nosso cotidiano é conhecer e consumir produções nacionais que consigam trazer por meio de suas peças as suas raízes, como por exemplo a marca “Meninos Rei”, criada pelos irmãos baianos Junior e Céu Rocha, que há quatro temporadas participam do line-up da São Paulo Fashion Week, com criações que perpetuam as suas ancestralidades. Ademais, a moda é uma das maiores formas de expressão da sociedade atual sendo que as suas crenças, as suas individualidades, as suas pluralidades, as ideias e os protestos são refletidos na maneira como nos vestimos e como (e onde) compramos, com isso em mente, podemos pensar na moda como um espelho das problemáticas e conquistas da atualidade. A história da indumentária apresenta diversas intersecções entre períodos históricos, como novos costumes e maneiras de se vestir, relembrando as necessidades de cada período. Dessa maneira, é importante contextualizar o período em que se vive com que ideia a moda atual representa e assim quebrar padrões de repressão e censura, para que a ideia da moda disruptiva e inovadora, juntamente com outros conceitos que abrangem a inovação do consumo, como a tecnologia de xxxxxxx materiais têxteis renováveis e o upcycling, que consiste em transformar um material que seria descartado em uma novo produto, seja cada vez mais abraçada e abordada tanto pela geração atual quanto pelas próximas. A moda pode ser abrangente, informativa, contemplativa e diversa, parafraseando uma das personagens mais icônicas dos anos 2000 Blair Waldorf “a moda é a forma de arte mais poderosa que existe... ela mostra pro mundo quem a gente é e o que a gente quer ser” Vivienne Westwood Fall 1994 RTW. 44
Vivienne Westwood Fall 1994 RTW. carrie Direção PEDRO FRAGA FOTOGRAFIA URI BEZERRA BELEZA VITÓRIA FLORENTINO produção EXECUTIVA ANDRÉ PAULINO & VITÓRIA FLORENTINO MÍDIA ANDRÉ PAULINO AUDIOVISUAL URI BEZERRA ILUMINAÇÃO DIEGO CAVALCANTE MODELO NATÁLIA SARTURI "Carrie, A Estranha" (1976) é a mais eloquente adaptação do primeiro romance de Stephen King. Brevemente, Carrie White, criada em um lar claustrofóbico e sem privacidade, religioso e radical, ao passar pelo seu primeiro ciclo menstrual, desenvolve habilidades telecinéticas. Entre problemas familiares, bullying, descobertas sexuais e frustrações íntimas, a protagonista é torturada pelo roteiro de sua própria vida, até o momento mais crítico do longa-metragem: o baile. Insano, cruel e insensível, o momento final do filme, que inicialmente se dá pela retratação de Carrie com os colegas de classe, se transforma em um linchamento público no centro do salão. No palco, com um único ponto de luz, é tramado o derrame de um balde de sangue animal na adolescente que, radiante, foi embalsamada pelo escarlate. Irada, inebriante, paralisada e inevitavelmente traumatizada, ela se vinga no mesmo instante. A personagem de Sissy Spacek é de maneira magistral caracterizada por vestimentas sem cor, um olhar sem brilho, cabelos escorridos e uma postura acanhada. Atormentada, Carrie transparece dor, apreensão e pânico em todos os momentos da trama. Sem sombra de dúvidas, é a obra mais injusta, frustrante e entristecedora de King, mas é um dos melhores longa-metragens já produzidos por De Palma. A modelo Natália Sarturi realizou um Shooting inspirado na obra homônima com exclusividade para essa edição da TAG. 45
Vivienne Westwood Fall 1994 RTW.
NA PÁGINA À ESQUERDA E ACIMA VESTIDO CANELADO MOB (SHOPPING ESTAÇÃO)
Da tradição À rebeldia “como os piercings chegaram ao que são hoje, atingindo os movimentos de contraculturas e subversão” BELEZA POR VITÓRIA FLORENTINO Há décadas o uso de piercings é visto por diversas sociedades como um ato de rebeldia, mas olhando para o passado e conhecendo diversas culturas percebemos que a história é outra. As jóias significam para vários povos uma forma de expressar tradições além da beleza. Na verdade, os piercings estão a muito mais tempo ligados à comunicação do que com a beleza em si. Contudo, como uma prática que surgiu a cerca de 1500 a.c. ainda se mantém tão popular? Podemos dizer que existem ondas de popularidade sobre o uso destes adornos, comecemos então por nossa viagem no tempo. Na cultura indiana, o hinduísmo é a principal religião seguida. Seus costumes mais tradicionais se baseiam em uma rica e muito antiga coletânea de escrituras, conhecida como Vedas, que compreende quatro livros: Rigveda, Yajurveda, Samavaveda e Atharvaveda. O Yajurveda teoriza a medicina ayurvédica, que acredita no estímulo de certos pontos no corpo para promover saúde e conexão espiritual, afinal, essa crença não era exclusiva dos chineses. Aqui vemos o tão famoso piercing no nariz ser utilizado por mulheres para representar que estavam “prontas para o casamento”. Para estas, o uso da jóia traria saúde para seu marido, bem estar para si e também reduziria a dor do parto. H 49Alexander McQueen Menswear (2016)