Para os Maias e Astecas os piercings detinham grande simbolismo cultural, tanto que eram muito utilizados durante rituais. Há aproximadamente 900 a.C. esses povos utilizavam da colocação de pedras preciosas no esmalte do dente como sinônimo de poder. Toda essa ancestralidade está ligada à herança de uma cultura, ao pertencimento de um povo. Nos dias atuais, um adorno bastante popular utilizado por inúmeros artistas me faz lembrar desses povos antigos, o grillz, que vem conquistando seu espaço na beleza mundial carregado de criatividade e exclusividade. Vale ressaltar que a origem desse adorno dental tem suas raízes fincadas no movimento negro dos anos 80, em que imigrantes africanos no Estados Unidos optavam pela substituição de dentes danificados por ouro como uma alternativa mais barata ao tratamento. Voltando o olhar para a beleza, podemos analisar ou- tros povos como os romanos e egípcios, que carregam a reputação de terem desenvolvido sociedades que valorizavam muito a aparência e não so- mente a ancestralidade e religiosidade. Esses povos também utilizavam dos pier- cings como forma de segregação social. Para os egípcios, o adorno preso ao um- bigo era de uso exclusivo do faraó de- monstrando seu título hierárquico. Já para os europeus, sua contribuição na história desse ornamento foi com a adoção da prática pelos homens, que perfuravam os mamilos como um símbolo de virilidade. Essa prática teve seu primeiro auge no século XIX, décadas após os egípcios, por mulheres da no- breza européia para manter a boa aparência do busto. Ao lado, mulheres indianas de diversas etnias fotografadas (de cima para baixo) por Sheenuratan, iMahesh & Giselle Natassia
Erykah Badu para a Elle Brasil utilizando Grillz, símbolo forte de cultura e resistência Afro-americana.
Cheios de controvérsia e engenhosidade, os piercings chegaram ao seu segundo auge nos anos 60 praticamente sendo resgatados pelo movimento hippie, que os retirou do desuso. É nesse momento que os adornos passam a ser mal vistos pela sociedade estadunidense após ter seus valores contestados. Chega a ser intrigante e um pouco cômico a queda dos piercings carregados de tradicionalismo voltando como uma forma de revolta e contestação do convencional. O movimento hippie decai e os punks assumem o papel de jovens rebeldes que perfuravam os corpos para se rebelar contra a sociedade burguesa. Na década de 70 e 80 os adornos ficam ainda maiores como forma de sátira e expressão de um sentimento de revolta. Ainda nessa época, os piercings se reinventam novamente, agora os clubbers trazem as joias como forma de sinalizar zonas erógenas do corpo, sinalizando para seus parceiros, ou quem tivesse interesse, os pontos de maior excitação em seus corpos. Um dos piercings mais polêmicos da história surge em meio a esse movimento, o frenum piercing, em que a joia perfura a glande peniana atingindo milhares de terminações nervosas proporcionando sensações novas para o portador e seus parceiros. Nos dias de hoje os piercings estão mais relacionados a beleza e estilo do que grandes movimentos sociais, após tantos anos é de se esperar que a sociedade finalmente passe a aceitar os adornos corporais e deixe de se chocar com a prática. Entretanto, analisando todos esses momentos, gosto de pensar sobre como os piercings mudaram ao longo dos séculos e continuam polêmicos, qual será a nova tendência que vai inovar as jóias? Talvez um formato ou material novo? Independente do caminho a ser seguido, aposto minhas fichas que será algo impactante do tipo que você ama ou odeia. 52 Alexander McQueen Menswear (2016)
ALL THAT TRENDS Direção & BELEZA VITÓRIA FLORENTINO FOTOGRAFIA ROBERTS GONSALVES ILUMINAÇÃO URI BEZERRA AssistenteS de BELEZA SARAH SANTIAGO, iris rubira & eduarda amorim produção GERAL PEDRO FRAGA & VITÓRIA FLORENTINO MÍDIA JOÃO RAFAEL DERBALI & GUSTAVO MELO AUDIOVISUAL PEDRO FRAGA MODELOS EDUARDA VILLWOCK & ALLANA SOUZA 53
MARAFFA BAR No coração do bairro Boa Esperança, surge o Maraffa Bar, um estabelecimento dedicado à comunidade LGBTQIA+ e além. Sua ornamentação meticulosamente planejada não apenas encanta os visitantes, mas também cria cenários irresistíveis para compartilhar nas redes sociais. Aberto a todas as idades, este local é especialmente acolhedor para os estudantes universitários em busca de uma experiência única. No Maraffa Bar, a descontração é a palavra de ordem, permitindo que você relaxe, saboreie cervejas e drinks a preços acessíveis, e se envolva em uma atmosfera envolvente. Cada noite no Maraffa Bar é uma celebração de ritmos e melodias, com músicas temáticas que dão vida ao ambiente. Aqui, socializar com os amigos é mais do que umaopção; é uma tradição. A necessidade de introduzir algo diferente, vibrante e divertido levou à criação deste espaço, que destaca-se dos padrões comuns dos bares na região. Ambiente Acolhedor: O Maraffa Bar oferece um ambiente acolhedor e descontraído, perfeito para encontros com amigos ou para relaxar após um dia agitado. Com um visual super bacana e artístico. Variedade de Bebidas: Destaque a extensa seleção de bebidas, como drinks e cervejas acessíveis, proporcionando uma experiência única para os clientes. O espaço também é um grande apoiador de causas sociais como mão de obra para pessoas transsexuais. BAR DO JARBAS Em 2018, uma pérola da gastronomia cuiabana conquistou o coração dos apreciadores de boa comida e ambiente descontraído: o BAR DO JARBAS. Consagrado como o "Melhor Boteco" pela renomada revista "VEJA" na categoria "Comer e Beber", em Cuiabá, este estabelecimento estilizado oferece uma experiência única para os amantes da boemia. Com sua atmosfera estilizada e descontraída, o BAR DO JARBAS se destaca por servir deliciosas comidinhas, apresentadas em combinados diversos que aguçam o paladar. As mesas ao ar livre proporcionam o cenário ideal para encontros animados e descontraídos. O ambiente é um convite irresistível para os amantes de samba, pagode e sertanejo, proporcionando o ambiente perfeito para quem busca uma noite animada ao som de ritmos envolventes. As diversas modalidades culinárias oferecidas fazem do BAR DO JARBAS um dos bares mais procurados pela vibrante população noturna de Cuiabá. IMAGEM: TRIP ADVISOr IMAGEM: OLHAR CONCEITO BARES CUIABANOS LIFESTYLE POR GABRIEL ZYS
REBU BAR O REBU BAR é pensado para ser um oásis contemporâneo destinado a transcender as expectativas dos amantes de drinks e da boa música. Localizado estrategicamente para proporcionar uma experiência única, com uma clientela diversificada, o REBU BAR se tornou um ponto de encontro para todos que buscam mais do que uma simples noite fora. Universitários, profissionais e entusiastas da vida noturna convergem neste espaço eclético, onde a energia pulsante da cidade encontra um refúgio. MALCOM PUB Malcom Pub, um local que vai muito além de ser apenas um ponto de encontro. Este espaço vibrante é uma ode à boa música, à gastronomia de qualidade e à variedade exuberante de bebidas. A atmosfera única do Malcom Pub convida você a explorar os limites da boa música, seja em um encontro casual entre amigos ou durante eventos musicais que agitam as noites. Este espaço é mais do que um simples pub; é um portal para uma jornada sensorial, onde cada gole e cada nota musical se entrelaçam para criar uma experiência inesquecível. Noites de FlashbackI ? Nostálgicas: Uma jornada através do tempo, relembrando momentos que marcaram épocaa ? Cativantes: Envoltas em músicas que conquistaram corações ao longo das décadasa ? Retrô e Vibrantes: Uma fusão de elementos do passado com uma energia contagiante no presentea ? Inesquecíveis: Cada nota traz consigo memórias que resistem ao teste do tempoa ? Ecléticas: Uma miscelânea de estilos que definem diferentes eras, proporcionando uma experiência única. Especiais de RockI ? Energéticas: O poder e a intensidade do rock que energizam e impulsionam a atmosferaa ? Épicas: Noites que se desenrolam como verdadeiras sagas sonoras, repletas de momentos épicosa ? Rebeldes e Poderosas: Letras ousadas e riffs marcantes que ressoam com uma força inigualávela ? Eletrizantes: Um frenesi elétrico que percorre cada acorde, criando uma eletricidade palpávela ? Imortais: Clássicos do rock que resistem ao teste do tempo, continuando a cativar gerações. À medida que o sol se põe e as luzes se acendem, o REBU BAR transforma-se em um cenário envolvente, com músicas temáticas que embalam a noite e proporcionam o cenário perfeito para encontros memoráveis. Prepare-se para uma experiência inesquecível, onde cada gole e cada nota musical são parte integrante de uma jornada noturna excepcional. XXX IMAGEm: jú queiroz/leiagora IMAGEm: leiagora 64
CHOLAS ESTILO POR JOÃO RAFAEL DERBALI A gangue mexicana feminina que tem/teve sua estética usada por Lana Del Rey, Gwen Stefani e muitas outras artistas brancas mais. 65
Hoje muito se comenta sobre a estética latina, tendo várias trends nas redes sociais de mulheres testando a maquiagem “latina” e apropriando-se de vestimentas clássicas e estereotipadas da cultura hispânica, isso devido aos filmes hollywoodianos lotados de ideologias norte-americanas a respeito do conjunto de hábitos e costumes da cultura em questão, o que os diretores acham e supõe que seja ser latino, como agimos, gesticulamos, nos vestimos, entre outros. Há um abismo imenso entre representatividade e representação, sendo a primeira indispensável a necessidade de estudo cultural e consciência de classe, não sendo esses pontos fortes de grande parte das produções norte-americanas feitas em sua maioria por homens brancos estadunidenses. Antes de falarmos das Cholas em si, precisamos falar sobre os Pachucos, grupo que nasceu em 1939 no sudoeste dos Estados Unidos com a imigração de mexicanos. O termo “Pachuco”, vem de “pacho”, xingamento designado a mexicanos nascidos nos EUA que perdem o contato com sua cultura. Marginalizados, segregados, discriminados e oprimidos, os Pachucos encontraram refúgio com outro grupo que nessa época também sofreu repressões dos brancos, os afro-americanos. Em decorrência dessa mescla de identidades, a influência do Jazz foi muito forte para os mexicanos, principalmente na questão de vestimenta. As Pachucas, com suas saias ajustadas, curtas para a época, correntes e relógios (acessórios masculinos da década de 40), cabelos armados, batom vermelho e ternos da marca Zoots adaptados para silhueta feminina, contrariando os papéis de gênero e ideias de beleza da cultura conservadora branca estadunidense eram facilmente identificadas nas ruas de Los Angeles. Mulheres que iam para bares beber e arranjavam briga com qualquer um que se metesse em seus caminhos viraram símbolo de resistência para as pequenas meninas latinas que cresceram vendo suas mães sendo donas de si. Porém, obviamente, essa afronta à ideologia patriarcal gerou grandes repressões dos militares e acabou durando apenas 6 anos, já que muitas mulheres do movimento foram presas, de forma injusta, por serem taxadas como violentas e fora da lei. Portanto, em 1945, ocorre o declínio temporário da gangue das Pachucas, que 15 anos depois, viriam suas descendentes seguirem seu legado, mas agora, como as Cholas. Ao lado, foto do acervo do blog Ochenta Tres, no Tumblr. 66
ARTNEWS Spring 2017 CVLT Nation CVLT Nation Com a classe trabalhadora latina dos anos 60 ainda sofrendo preconceito nas ruas estadunidenses apenas por existirem, a necessidade de criar-se uma rede de proteção e resistência contra os ataques xenófobos ressurge, e o que antes era Pachuco, torna-se “Cholo”, palavra usada para insultar e menosprezar crianças ameríndias, mas apropriada nessa época justamente pelos jovens que cresceram com a influência de seus pais presos pela repressão policial como forma de resistência da identidade cultural deles. A palavra “gangue” foi associada ao movimento, principalmente pela imprensa do Sul da Califórnia, para xxx fomentar o preconceito e a intolerância na região, que na época era a que mais contava com povos descendentes de latinos, porém, como ressignificar palavras pejorativas é algo que muitos movimentos marginalizados fazem, a Gangue das Cholas tomou força. Com o imaginário repleto de representações de como eram as comunidades latinas de Los Angeles se alastrando por todos os Estados Unidos, as Cholas com certeza eram as primeiras a serem associadas à estética latina por andarem sempre juntas e com vestimenta similar. O traço mais marcante? A cara fechada, representando a raiva de estar em um xx país que a todo momento insiste em tirá-las dali e drenar todos os seus direitos como cidadãs. Com a feição que passava a impressão de que a qualquer momento poderiam ir todas para cima de você caso mexesse com elas, as Cholas usavam sobrancelhas finas e arqueadas, delineador contornando os olhos e puxando um pouco mais para fora do olhar (o que hoje chamamos de “gatinho”), lápis de boca com um tom mais escuro no contorno da boca e um batom vermelho forte ou amarronzado, cabelos levantados com gel e bandanas (diziam os cochichos urbanos que escondiam ali canivetes). Usavam xxxxx 68
Acima, frame do videoclipe de “Luxurious” de Gwen Stefani, onde há uma clara referência ao estilo latino dos anos 90 e início dos 2000.
também brincos em formato de argolas grandes, tatuagens, regatas brancas sobrepostas com uma camisa xadrez na maioria das vezes, porém abertas, para mostrar a barriga, correntes, calças jeans ou baggys e tênis esportivo, para caso precisassem fugir das repressões policiais. Haviam também, Cholas com mais experiências mundanas que usavam roupas com a estética mais puxada para as Pachucas, porém um pouco mais ousadas. Claro que essa confiança feminina vinda de mulheres marginalizadas não foi vista como um movimento feminista legítimo na época, foi jugado como “feminismo popular”, como se fosse modismo, e não uma luta de fato. Na década de 90, as Cholas já influenciavam a América Latina inteira, o que descaradamente gerou uma certa inveja nas cantoras estadunidenses e européias da época (pode-se dizer que ainda gera). Gwen Stefani, Amy Winehouse, Fergie são exemplos de artistas que se apropriaram culturalmente da estética das Cholas. Gwen Stefani comentou já que cresceu em L.A e presenciou o surgimento do grupo e por isso usou muitas roupas parecidas com as das mulheres mexicanas, mas ainda sim utilizar-se de um estilo de vida que passou por diversas fases de opressão e dificuldades só porque se acha bonito e gostaria de usar a roupa igual é claramente uma falta de consciência de classe e racial forte. Porém, a artista pelo menos “deu os créditos” às Cholas. As consequências da apropriação cultural são alarmantes, dentre elas o esvaziamento de uma identidade de uma sociedade inteira, é extremamente desrespeitoso e danoso, por isso a necessidade de sempre ponderar e estudar sobre algo antes de reproduzir. Nos dias atuais, com o acesso a informação mais rápido, fica mais fácil pesquisarmos sobre as influências dos looks das famosas, se elas estão se apropriando ou não, mas isso com certeza deveria ser um papel da artista informar suas referências e dar o devido reconhecimento a elas. 70
Existe o Voguing PósMadonna? “Décadas se passaram desde os fenomenais Ballrooms, mas as dramáticas performances de Vogue experimentam um ressurgimento mainstream póspop que firmam essa cultura queer em ambientes ainda não explorados. ” LIFESTYLE POR ANDRÉ PAULINO Naturalmente, pela dramaticidade, glamourização e pela autenticidade, o voguing alcançou o topo do mundo. Madonna, uma das maiores artistas vivas, nos anos 1990 atingiu o ápice de seu expert ao lançamento de seu vídeo "Vogue" – magistral e inigualável – elevando a subcultura gay nova iorquina ao estrelato mundial com a coreografia atribuída a figuras como José Xtravaganza, que protagonizou o projeto ao seu lado. Entretanto, apesar de por um lado a popstar ter voltado os olhos de todo o mundo para o estilo de dança queer afro-americano, ao enfatizar apenas um pequeno viés dessa dança em seu vídeo, por outro ela ofusca a verdadeira mensagem da cultura Ballroom: a resistência histórica, o unitarismo, a pluralidade e a diversidade. As performances de Vogue – ou Voguing – tiveram suas origens nos salões de baile de Nova Iorque na década de 1980, a princípio chamadas de "Pose" pois eram reproduções, ou quase uma mímica, das poses estampadas nas capas das revistas de moda em ascensão nesse período, aa N 71 Madonna no “The Girlie SHow” em Londres (1993).
como a Vogue. David DePino conta no livro Voguing and the House Ballroom Scene of New York, da fotógrafa Chantal Regnault, sobre a primeira vez que uma performer abriu uma revista Vogue durante um Ball e folheou até a página em que havia apenas uma modelo, e então parou na mesma posição da fotografia no rítmo da música. Essa era Paris Dupree, uma das figuras mais importantes da história dos Ballrooms com seu baile Paris Is Burning. "Paris tinha uma revista Vogue em sua bolsa, e enquanto ela estava dançando, ela a tirou, abriu em uma página onde uma modelo estava posando e depois parou naquela pose na batida da música. Então ela virou para a próxima página e parou na nova pose, novamente na batida [...] No começo, eles chamaram de 'Pose', porque começou na revista Vogue, e, depois, eles chamaram de 'Voguing'" comenta David DePino. De cima para baixo: Foto da Série POSE da Netflix; Imagem do dançarino Melvin Hans; Registro da “Renassaince Tour” de Beyoncé; E foto de divulgação de “Vogue” Por Madonna, 72 “Se olharmos para a história do e especificamente para aquele momento, o que Madonna fez foi trazer o para o mainstream”, Ballroom Ballr oom Steven Canals, co-criador da série POSE da Netflix BALLROOM BALLROOM
Poster do documentário “Paris is Burning” que conta sobre o movimento queer em Nova Iorque, com temáticas em volta do Vogue e da cena Drag Queen.
Explicando superficialmente, o Voguing é uma dança que foi desenvolvida rapidamente pela comunidade e logo subdividida em três categorias distintas: Vogue Femme, Old Way e New Way. Cada qual com suas individualidades e praticadas por subgrupos distintos, entrentanto conectados pelo Voguing, que eram apresentados nos Ballrooms, bailes nos quais as performances eram ovacionadas e, originalmente, aconteciam no Harlem, presenciadas por pessoas racializadas, latinas e sobretudo LGBTQIA+ marginalizadas por fatores como a violência, o preconceito, a hostilidade habitacional e a falta de oportunidades. Era comum a competição entre as "Houses" – ou famílias – em categorias de Voguing, as quais, nesse contexto, tinham a função de suprir o papel da família biológica daqueles os quais foram abandonados por questões de homo e transfobia. A glamourização, apesar da dificuldade, tinha forte apelo nas categorias competidas, sendo fatores de desempate detalhes como o beauty e a maquiagem. Haviam casas batizadas com nomes de grandes marcas de alta costura, como a casa Valentino, a casa McQueen e a casa Balenciaga, assim reafirmando a super-influência da moda no meio queer afro-americano. Assim, Madonna foi nada além de a precursora para que outras cantoras pop como Ariana Grande, Rihanna, Beyoncé e Azaelia Banks produzissem mais músicas nesse ritmo. Nesse sentido, o voguing não está passando pela sua fase post mortem. Muito pelo contrário, está sendo reavivado pela fome hollywoodiana por produções artístico-culturais marcantes, como a recente série televisiva "Pose" que se inspira em muitas personalidades reais do cenário queer dos anos 1980 e estrelada pelo maior casting transsexual de uma produção dessa projeção, além do álbum pop/house produzido por Beyoncé "Reinassance" com fortes influências da estética Ballroom. Quarenta anos passados, o que anteriormente se restringia a cena nova iorquina, agora recebe holofotes em todos os continentes do globo. É claro que Madonna não é irrelevante para a comunidade gay a qual ajudou a se fortalecer em Nova Iorque, entretanto, apenas os deu o vislumbre de uma vida confortável e o reconhecimento profissional, mas não foi capaz de reduzir o preconceito, a discriminação e as desigualdades que os colocaram em uma posição de vulnerabilidade, e não podemos culpá-la. Sua arte segue atemporal e coesa, impecável e deslumbrante, em estética e Madonna na “MDNA World Tour” em 2013. sonoridade, como se propõe a ser.
ONDE IR EM CUIABA LIFESTYLE POR EMANUELLY SANTOS A capital de Mato-Grosso é conhecida por ser uma das cidades mais calorosas do Brasil, porém além disso, possui lugares que merecem ser conhecidos por todos. Disponibilizamos, então, um pequeno roteiro de dicas de “Onde Ir em Cuiabá”, para que você possa colecionar memórias gastronômicas e ter a sua dose de serotonina com drinks maravilhosos. 75
BERRY’S ICE FOOD: A sorveteria tendência que abriu recentemente em Cuiabá oferece uma das mais satisfatórias experiências gastronômicas, pois possui um diversificado cardápio com mais de 50 sabores para agradar aos mais diversos paladares. Conta com um ambiente climatizado e ótimo atendimento, disponibilizando também opções inclusivas de sorvetes zero lactose e sabores flexíveis que variam dependendo do dia. O valor é de R$8,90 cada 100g e a loja fica localizada na Avenida Isaac Póvoas, número 1508, no bairro Popular. Coffee Ground BR: A cafeteria que encanta os visitantes desde a sua fachada, a Coffee Ground foi inspirada na arquitetura dos cafés de Londres, tornando assim um local agradável para relaxar e aproveitar as delícias que estão disponíveis no cardápio. Com um ambiente climatizado, se torna um ótimo lugar para passar a tarde e aproveitar a companhia de amigos ou até mesmo a sua própria companhia. O horário de funcionamento é de segunda a sexta das 8h às 21h, e aos sábados das 8h às 17h. Localizado na rua Havana, na esquina com a rua Bogotá, bairro Jardim das Américas. Trigoria: O trigoria é um bar voltado ao samba que a cada dia ganha mais espaço em Cuiabá com programações disponíveis todos os fins de semana, além de um espaço aberto possibilitando os visitantes se deliciarem com os drinks e bebidas disponíveis enquanto deslumbram o entardecer da capital. Já no domingo, no horário de almoço, o estabelecimento fornece um serviço de “passe e pegue” para massas, carnes e acompanhamentos, a partir das 11h. O bar está localizado na Avenida Haiti, número 468, bairro Jardim das Américas. Varadero Bar e Restrô: O Varadero é um restaurante conhecido pelos moradores da capital graças a o seu ambiente que possibilita desde sair para jantar com os amigos, até um jantar romântico com uma pessoa especial. O local fornece um cardápio que abrange os mais diversos paladares gastronômicos e opções de drinks que vão dos mais comuns aos mais refinados. O horário de funcionamento para o almoço é de segunda a domingo, das 11:30h às 15h e no jantar das 18h às 01h, já no domingo das 18h às 00h. O restaurante fica localizado na Avenida Presidente Castelo Branco, número 898, bairro Quilombo.
OS EDITORES RECOMENDAM Numa leva tão frenética de tendências de consumo, confira nossa seleção de melhores produtos e tendências: 77
La Roche-Posay Effaclar Alta tolerância SEX AND THE CITY O gel de limpeza Effaclar se tornou com certeza um passo essencial no meu skincare, tanto na limpeza da pele antes da aplicação de uma máscara ou hidratante quanto para começar o dia antes de passar o protetor solar. Deixa a pele macia e ajuda na prevenção de cravos e espinhas. CASA PRO COQUETéIS Bom atendimento, ambiente aconchegante, boa localização, boa música ambiente, e, é claro, bons drinks foram essenciais para chamar minha atenção neste mês de Abril. A Casa Pro Coquetéis, na Praça Popular, é uma ótima pedida para um happy hour sofisticado com os amigos. Realmente, te entendo Carrie Bradshaw, às vezes um Cosmopolitan é tudo de que precisamos. Acaba de ser adicionada ao catálogo da Netflix uma das séries mais impactantes das últimas décadas. Seja pelas aulas de moda, seja pela fácil identificação, seja pela gostosa desenvoltura da coluna narrada por Carrie Bradshaw, ou seja pela sua genuína autenticidade em retratar estilos de vida tão padronizados nas grandes metrópoles, quem viveu os anos de Sex And The City sente uma eterna nostalgia. Enquanto a protagonista narra cada pensamento escrito na sua coluna, a série acontece em um piscar de olhos, perpassando NYC como um parque de diversões cheio de bares, restaurantes, lojas de grife e as ruas da cidade. Sex And The City pode ser produto de outras gerações, mas os temas inseridos na trama serão sempre atuais, refletindo os problemas de uma sociedade que apesar de moderna, continua sexista. PEDRO FRAGA EDITOR-CHEFE PEDRO FRAGA EDITOR-CHEFE ANDRÉ PAULINO PROD. EXECUTIVO & EDITOR AT LARGE
BECO DO PAPA O Beco do Papa é um corredor cultural inovador em Cuiabá, localizado na Avenida Mato Grosso, 163, com a proposta de unir a arte, música e entretenimento no centro histórico da capital mato-grossense. O bar, diverso e repleto de programações, costuma receber artistas de Rock, Funk, Reggae, Rap, Pop, entre outros gêneros musicais. Além dessas programações, todas as terças-feiras o Beco recebe o projeto "Free Tá O Jazz ", uma jam session gratuita aberta para o público e para outros artistas participarem levando seus próprios instrumentos. O ambiente amplo é composto por um palco, um bar, um ambiente com sinuca e mesas para se sentar. Nessa edição, a TheAvantGarde teve a honra de utilizar o espaço para o shooting principal da revista. ANDRÉ PAULINO PROD. EXECUTIVO & EDITOR AT LARGE REGENERADOR LABIAL NEEDS Needs vem conquistando seu espaço nas resenhas de skin care pela internet e não poderia estar de fora das recomendações desta edição! A fórmula do reconstrutor conta com uma alta concentração de Dexpantenol e vitamina B5 que juntos reparam a pele seca, áspera e com rachaduras, tudo o que precisamos para salvar os lábios naqueles dias em que parece não ter salvação. Minha forma predileta de aplicação é durante a noite, para acordar com os lábios renovados. Para os maquiadores também é uma ótima opção para hidratar a boca dos modelos enquanto a maquiagem é feita, pode ser encontrado por cerca de R$25,00 nas farmácias pelo Brasil. VITÓRIA FLORENTINO DIR DE PROD. E BEAUTY ARTIST 79
VALE O ESCRITO Recentemente, a Polícia Federal prendeu os responsáveis pelo assassinato da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, e revelou o envolvimento da milícia carioca no crime. Para compreender melhor esse submundo miliciano no Rio e sua conexão profunda com o jogo do bicho, recomendo a excelente série documental "Vale o Escrito", disponível no Globoplay. THIAGO DELAPOLA EDITOR DE CINEMA ENJOEI Se você está procurando um lugar onde vender e comprar peças de segunda mão, esse aplicativo é para você! Tem várias marcas diferentes e preços que variam bastante, uma ótima opção para continuar com a rotatividade de peças e para renovar o guarda-roupa. Além de pagamento seguro, a plataforma é super completinha e intuitiva para quem quer vender também. Tudo de bom! CAMI ALMEIDA REDATORA-CHEFE
Como um jogo fictício pode refletir tanto na sociedade atual? CINEMA POR SARA SOARES
Finalmente ele! “Nerve - Um Jogo Sem Regras” é um filme de suspense lançado em 2016, dirigido por Ariel Schulman e Henry Joost. A trama gira em torno de Vee DeMarco (a querida Emma Roberts), uma estudante prestes a sair do ensino médio e sonhando em ir para a faculdade. Após uma discussão com sua amiga Sydney, que é popular onde estuda juntamente com a protagonista, Vee decide provar que tem atitude e se inscreve no Nerve, um jogo online bem interessante. O conceito central do jogo é: o Nerve é dividido entre observadores e jogadores. Os observadores decidem as tarefas a serem realizadas, enquanto os jogadores as executam. De cara em seu primeiro desafio, Vee conhece Ian (o estimado Dave Franco), um jogador com um passado obscuro. Juntos, eles caem nas graças dos observadores, que enviam cada vez mais tarefas para o casal em potencial. O meio de pensamento por trás do jogo é muito bem estruturado: imagine um mundo onde todos observam e são observados a todo momento, onde as pessoas têm o poder de decidir a vida dos outros. O Nerve explora essa dinâmica, criando uma economia auto sustentável, onde muitos mandam e pagam, enquanto poucos realizam e recebem bem. 82
O filme traz consigo uma pegada contemporânea, não apenas pelas cores vibrantes do gráfico e looks chamativos como o vestido verde em que Vee é desafiada a roubar (algum anjo para dizer a marca?). Mas também a forma como é tratada a relação dos jogadores do jogo com as redes sociais. Portanto, após essa introdução despretensiosa e “publi” completamente gratuita, (Emma e Dave, por favor discutir cachê com o Editor-chefe) a TAG a partir de agora assume o papel de tentar lhe convencer de que o cenário abordado no filme não é tão distante da realidade atual. O filme por si só promete ser muito mais que uma aventura juvenil. O público deve refletir sobre a sua relação com a tecnologia, os limites para se conseguir likes e seguidores nas mídias sociais e outras várias questões de privacidade na internet. Algo semelhante com o seriado "Black Mirror", disponível no Netflix. Vem aí uma leve crítica à sociedade do Pokémon GO (com todo o respeito). Apesar de se ter a expectativa de que fosse abordado de forma XXXXXXXXXX “demonizada” e menos realista, o jogo em questão parece bem plausível nos dias atuais. Por ser uma plataforma onde as pessoas colocam sua identidade em risco, em troca de fama e dinheiro nas redes sociais. Há quem concorde com o fato de que seria indiscutível o sucesso que esse app faria se o mesmo acabasse chegando ao mercado de games; considerando a gama de opções de aplicativos que promovem o contato tanto virtual quanto presencial que temos no mercado atualmente, como o Tinder, Uber e Pokémon GO. Talvez seria mais uma proposta inocente, que “conciliaria” vida social no mundo online e presencial e que deixaria os usuários online desafiarem os jogadores a fazerem coisas como “sair para visitar determinado lugar”, “beijar um estranho por 5 segundos”. Sendo sinceros, pondo desta maneira, não parece emocionante? A TAG comprova essa emoção dizendo que “Nerve - Um jogo sem regras” é um filme onde você compartilha dos mesmos sentimentos da protagonista com relação ao jogo. No começo você XX não sente nada senão desconfiança. Durante, se depara com os sentimentos de realização e ambição proporcionados pelo jogo e suas propostas. No início do fim… um sentimento de medo, angústia e prisão, por ter sua identidade roubada. E no final, a sensação de alívio e ansiedade, por sair ileso depois de tudo o que aconteceu. Em uma entrevista, dada logo após o lançamento do filme, Emma Roberts e Dave Franco refletem sobre a veracidade do cenário no jogo; chegando a se perguntarem “não é mesmo real?” e apontando o quão assustador é ter algo tão perigoso e tão próximo da realidade contemporânea; pois, a qualquer momento alguém com boas ou más intenções poderia criar um jogo com um sistema tão “bom”, eficaz e arisco quanto Nerve; onde depois de popularizado entre os mais corajosos, seria extremamente difícil de deter (vaso ruim não quebra né). Bom, definitivamente a equipe da TheAvantGarde se abstém dessa aventura, sorry “Watchers”. Mas, e você? Jogaria Nerve? 84
Ao longo de toda a resenha, fotos de divulgação do filme. DUNA 2 É SUNTUOSO CINEMA POR ANDRÉ PAULINO Villeneuve sobrepõe seu trabalho anterior com uma sequência hipnotizante.
Em Duna (2021) já havia transparecido o fato de que o árido do cineasta Villeneuve é terreno fértil para a ficção científica. O diretor, famoso por 'Blade Runner 2049' e 'Arrival', arriscou, não uma única vez, mas duas sequenciais e inebriantes adaptações do livro. O resultado é uma produção audiovisual ímpar e repleta de elementos cenográficos que transmitem uma atmosfera penetrante, por mais que sua hipnose não seja tão duradoura quanto a profundidade do texto de Frank Herbert. Na contramão da vagarosidade tediosa do primeiro filme, Dune Part Two se infiltra no tecido epitelial do telespectador: arrepios, sustos e alguns ataques de frenesim são efeitos colaterais da aterrissagem de volta ao fenomenal planeta Arrakis. Não foi Jodorowsky em 1975 com seu script impossível nem Lynch em 1984 com sua estética grotesca e maximalista quem conseguiu uma execução de Duna impecável. Villeneuve executa com sua equipe essa tarefa com a mais prazerosa das felicidades. Um projeto que se concretiza praticamente sem críticas negativas e que se difere do primeiro filme pelo seu ritmo mais frenético e pelas 2h45 imperceptíveis de pura ação e diálogos fluidos. Está aí o ingrediente que faltava para Villeneuve conquistar o restante do público, agora o mundo é seu. Duna se passa em um império totalitário intergalático em expansão, onde feudos planetários são controlados por Casas nobres, em que O Duque Leto, da família Artreides, é designado pelo Imperador para comandar o planeta desértico Arrakis, um local de interesse político pela abundância de uma rara especiaria com fins medicinais e de alto valor econômico. Sem a especiaria é impossível o deslocamento e o comércio interplanetário. Por ela, há oitenta anos o barão Harkonnen (Stellan Skarsgard) persegue e tenta exterminar os Fremen, a população nativa de Arrakis. Entretanto, a casa Atreides foi dizimada pelos Harkkonen. Na segunda metade da duologia, Paul aaaaa 86
Atreides (Timothee Chalamet), o único herdeiro de sua dinastia, se une aos guerreiros Fremen para se vingar de seus inimigos. A excelência do filme não se resume apenas ao retorno do espantoso elenco – composto por Chalamet, como Paul Artreides, Zendaya, como a Fremen Chani e por Ferguson, como Lady Jessica Artreides — ou pela cinematografia inigualável e única, desenvolvida por Villeneuve e seu Diretor de Fotografia Greg Fraiser, que foram capazes de transformar imagens subjugadas e monocromáticas vindas de um mundo que é "apenas areia e poeira" em um blockbuster sólido e singular. Fraser se tornou um dos diretores de fotografia para produções de referência em efeitos visuais, incluindo Rogue One: A Star Wars Story, The Creator, The Batman e a série de TV The Mandalorian. Analógico e digital são sobrepostos como as camadas de um bolo ao longo da produção de Duna, que funde com excelência uma estrondosa trilha sonora e cenários físicos com efeitos CGI em locais reais do deserto (Abu Dhabi e Jordânia) para criar panoramas de pessoas, máquinas, espaço, fogo e mares de areia. Com uma equipe de competência indubitável, a direção fotográfica consegue reproduzir efeitos gráficos da maneira mais realística possível, justamente com o objetivo de fazer com que a imagem pareça tão visceral que o espectador não pense em como ela foi criada até mais tarde. aaaaaaaaaaaaaaaaaaaa Retorna também a figurinista Jacqueline West com sua estética "mod-eval", misturando aspectos medievais com a modernidade, e se inspirando em Cristóbal Balenciaga e na alta-costura dos anos 1950. Além disso, a profissional tem um olhar crítico e fértil para a arte medieval, pinturas árabes, o norte da África e o antigo Islã. Diga-se de passagem, um critério altíssimo na direção de arte é a capacidade do figurino e hairstyling de transmitir a mensagem ou as transições de fase dos personagens durante o longa-metragem, e Duna parte dois cumpre esse requisito com maestria, principalmente no que se refere à personagem de Rebecca Ferguson. A complexidade da atmosfera construída por Villeneuve em seus últimos trabalhos há de causar uma ansiedade geral tanto aos nostálgicos fãs de Star Wars que se identificam com o novo mundo quanto à crítica especializada por uma continuação frenética da jornada do herói interpretado por Chalamet. Duna Messias, o terceiro longa-metragem da saga, já foi confirmado pelo diretor. De acordo com o The Hollywood Reporter, ele está quase terminando o roteiro da terceira parte da saga. Mas muitos desafios aguardam o Messias. Não há dúvidas sobre o praticamente impecável roteiro assinado por Eric Roth, Jon Spaihts e pelo próprio Denis Villeneuve, mas é de se esperar um declínio da apreciação crítica, haja vista a má recepção dos outros livros pelos leitores de Frank Herbert.
O uso de drogas através do olhar cinemato gráfico CINEMA POR THIAGO DELAPOLA No último mês, o debate sobre a liberação e proibição das drogas voltaram ao centro do debate público. Com essa renovação, analisamos duas perspectivas do cinema sobre o tema
O consumo de drogas tem sido um tema constantemente explorado pela arte do cinema, tendo sido abordado de diversas maneiras, desde a glamourização até a exposição de suas consequências devastadoras. Em um momento em que o Senado Federal discute a criminalização de qualquer quantidade de substâncias ilícitas, não mais fazendo a distinção entre consumo pessoal e tráfico, resolvemos trazer aqui dois filmes que se destacaram pela abordagem temática sobre o assunto: "Clímax" (2018), de Gaspar Noé, e "Anjos Caídos" (1995), de Wong Kar Wai. Ambos os filmes mergulham no universo dos entorpecentes, oferecendo uma perspectiva multifacetada sobre o assunto, revelando seus efeitos sociais, psicológicos e emocionais. Em "Clímax", a obra nos apresenta uma imersão intensa em um verdadeiro caos gerado a partir do consumo de drogas, em especial o LSD, por um grupo de jovens dançarinos. Toda a história do filme se passa em uma festa que, rapidamente, se transforma em um tormento coletivo quando alguém batiza a bebida da festa com a substância lisérgica. Assim como os personagens, nós somos levados a uma jornada vertiginosa pelos efeitos da droga. Em meio a tudo isso, vemos os personagens perderem o controle de si mesmos e da realidade ao seu redor. Toda a narrativa da obra é marcada por diversos altos e baixos emocionais, com cenas que se destacam pela violência, paranoia e desespero, trazendo à tona os efeitos extremos que o abuso de substâncias pode causar. Frame do filme “Clímax” (2018). 90
Frame do filme “Fallen Angels” (1995)
Já em "Anjos Caídos", vemos uma abordagem bem mais contemplativa e melancólica sobre as drogas. A obra de Wong Kar Wai acompanha a vida de diferentes personagens em Hong Kong, nos anos 90, cujos destinos acabam se entrelaçando em meio a um ambiente de solidão e desespero. O consumo de drogas, em especial a heroína, é retratado como uma forma de escapismo daquela realidade sombria e opressiva na qual os personagens habitam. O filme ainda conta com a presença de uma atmosfera estilizada e poética, deixando uma sensação de melancolia e alienação, onde a futilidade e autodestruição que acompanham o uso da droga são destacadas. Embora "Clímax" e "Anjos Caídos" abordem o tema das drogas de maneiras distintas, ambos os filmes destacam os perigos e as consequências devastadoras do abuso dessas substâncias. O primeiro opta por mostrar uma visão crua e visceral de como o consumo desenfreado pode gerar um verdadeiro inferno na terra, com a destruição de vidas e relacionamentos. relacionamentos. O segundo oferece uma reflexão sutil e introspectiva sobre a natureza do vício, explorando as profundezas da alma humana na busca pela redenção e conexão. Além disso, ambos os filmes questionam as motivações por trás do uso de drogas, seja como uma forma de escapismo, busca de prazer ou autodestruição. Eles desafiam os espectadores a confrontarem as realidades desconfortáveis e muitas vezes sombrias que cercam o mundo das drogas, questionando as noções preconcebidas de glamour e liberdade associadas ao seu consumo. Tanto "Clímax" quanto "Anjos Caídos" conseguem oferecer perspectivas muito poderosas e provocativas sobre esse tema. Eles conseguem convidar os espectadores a refletirem sobre as complexidades, sejam elas morais, emocionais e sociais, que permeiam esse fenômeno praticamente universal. Ambos os filmes nos fazem lembrar que, ainda que as drogas possam oferecer momentos de fuga ou prazer, o preço que elas cobram, muitas vezes, é alto demais, demais, deixando um rastro de destruição e desespero em seu caminho. Em síntese, assistir a esses filmes nos confronta com a necessidade cada vez mais urgente de uma abordagem mais ampla e compassiva acerca do consumo de drogas — desde as mais leves até as mais pesadas — reconhecendo não apenas os perigos físicos e psicológicos envolvidos, mas também respeitando os usuários, de modo que não haja uma desumanização dessas pessoas, e para que sejam abordadas as profundas raízes do vício, além de gerar um debate sobre as potenciais soluções para esse problema tão complexo. Frame do filme “Clímax” (2018). Frame do filme “Fallen Angels” (1995) 92
Chorar todo o mar Em uma manhã qualquer carimbada no passado Acordei com o fecho de sol entrando no quarto, olhei para minha pele E desejei que ela queimasse. O primeiro acesso a minha boca foi o sal da lágrima que escorreu Tinha gosto do mar. Eu sabia disso mesmo sem dele ainda ter provado. A porta rangeu, e eu desejei que fosse o vento Mas era você Que se aproximou e se deitou no meu lado na cama. Fechei os olhos bem forte e fingi que estava dormindo Mas com seus dedos cheirando a arruda depois de ter mexido no jardim Enxugou meu rosto molhado. As suas mãos cheias de veias Cheias de pintas Cheias de marcas Cheias de histórias. Caminhei com meus olhos que percorriam todo caminho irregular que elas faziam até seu coração Garganta bochechas E o seu rosto também desaguava. Eu não queria chorar para você Eu não queria ter ouvido Quando você dizia que estava ali comigo Porque me doía tanto na alma Te ver chorar para mim também. Na verdade, eu não queria que você precisasse retribuir o meu choro Mas você o fazia com toda destreza do amor. Eu me ques1onava se você ainda lembrava, qual tinha sido seu primeiro amor? Ou se apesar de tanta idade, ainda tinha sonhos que gostaria de realizar? Ou o que esses olhos azuis tão distantes, puderam ver ao longo dos anos? E se eles escolheriam ver tudo outra vez. Quem você gostaria de ter de volta se pudesse barganhar com a morte? Ou quanta despedida seu coração ainda aguentaria. Eu não sabia que as avós também choravam Porque você ajustava o avental molhado da pia Quando algo dolorido te atravessava E por si só toda dor dissipava. Porque com as suas mãos tão habilidosas você tinha o poder de concertar tudo. E por isso nunca ficaria quebrada. Porque eu te via dando conta de tantas coisas que eu Facilmente desistiria de primeira. Mas um pedaço de você 1nha partido Um pedaço meu também Um pedaço de pouca gente para ser sincera. E não havia avental que pudesse concertar aquilo. Uma úl1ma fotografia com os olhos O adeus ao rosto de quem amávamos. Que para você foi um grande amor E que para mim foi o único homem que amei. 93
Eu coloquei uma foto minha no caixão E desejei ser enterrada com ele. Não o fiz. Porque criamos promessas, e pactos que nunca nos abandonaríamos. E isso significaria deixar doer. Mas Você segurou minha mão e caminhou pelos anos Como se só minha dor importasse. Quando te confessei que meu coração só seria capaz de amar mulheres Você acolheu todos os meus medos e estranhamentos. Voltamos a chorar juntas diversas vezes E eu passei a fazer disso nosso ritual. Assim poderíamos chorar sempre que eu sentisse medo do amor. E poderíamos chorar sempre que me contasse das viagens dele pra Santos. Eu te perguntava Se Você gostaria de conhecer o Oceano E você refutava que já era velha demais para isso E que estava tudo bem já que quando fosse para o céu Teria um mar só seu. O céu fica longe demais vó Eu dizia. E que bom que ele ainda não chegou perto de nós. Porque além de chorarmos juntas Nós pisamos na areia juntas E contemplamos toda aquela imensidão azul. Você me olhou com os olhos marejados Como quem quisesse dizer Que o mar só é salgado, graças as nossas lágrimas. E eu te olhei sorrindo, para que você soubesse Que sempre será a mulher que eu mais amei. E que temos uma à outra para continuar chorando juntas com tudo que há de mais sagrado e feminino dentro de nós POR MARCELLY DE PAULA
MULHERES NO CINEMA CINEMA POR THIAGO DELAPOLA “No mês de março é comemorado o dia das mulheres. Aproveitando essa data mais que especial, nós da TAG decidimos falar sobre as mulheres dentro do cinema.” Na capa, Alice Guy-Blaché (1873-1968). 95
Na capa, Alice Guy-Blaché (1873-1968). Desde seu nascimento, o cinema sempre foi dominado por um olhar masculino. Narrativas do ponto de vista masculino eram vistas como universais, enquanto as do ponto de vista feminino eram consideradas como apenas para mulheres, o que fez com que os estúdios realizassem muito mais filmes masculinos ao longo de décadas. Em 2023, segundo o Centro para o Estudo das Mulheres na Televisão e no Cinema da Universidade Estadual de San Diego, que estudou os 100 filmes de maior bilheteria do ano, dos 2200 personagens apresentados, apenas 35% dos personagens com falas eram mulheres, o que se mostra como uma queda de 37% em relação ao ano anterior. E, ainda, os homens representam cerca de 80% dos personagens de filmes analisados. Apenas 27% contavam histórias sob a perspectiva feminina, enquanto 62% contavam com um protagonista masculino. Trata-se do menor percentual desde 2017. Quando vamos para dentro do Set, essa diferença também se faz presente. Observando os dados da pesquisa da mesma universidade, porém no ano de 2022, as mulheres representavam apenas 22% dos cargos de diretoras, roteiristas, produtoras, editoras e cinematografistas no universo das 250 maiores bilheterias daquele ano. Tendo conhecimento desses números, é possível notar uma coisa importante: apesar dos indicativos mostrarem essa queda de representatividade, filmes considerados femininos estiveram nas cabeças das listas de maiores bilheterias do ano passado. Em XXXXXX especial, Barbie, da diretora e roteirista Greta Gerwig.Barbie foi, talvez, um dos filmes com a maior capacidade de atrair uma discussão sobre o olhar e representatividade da mulher nas artes e, principalmente, na sociedade em geral. Com um poderosíssimo marketing e com o fenômeno “Barbieheimmer” como aliado, um grande debate sobre temas como patriarcado, emancipação feminina entre outros fatores foi gerado. Porém, é importante não acreditar que, por conta de fenômenos como esse, que a exceção se tornou a regra. Infelizmente, ainda há muita luta a ser travada e muito espaço a ser conquistado pelas mulheres, tanto no mundo do cinema, como no mundo real. A seguir, uma homenagem às grandes mulheres na história do cinema: Frame do filme “Barbie” (2023).
Na capa, Alice Guy-Blaché (1873-1968). Considerada a primeira cineasta do mundo. Ela vivia em Paris na mesma época em que os irmãos Lumiére criaram o cinematógrafo, dando início ao cinema. Quando tinha 23 anos, ela produziu e realizou seu primeiro filme “La fee aux choux” (A fada do repolho), em 1896, usando câmeras Kinora Reels, a primeira geração de câmera de cinemas. Seu filme de estreia também é considerado o primeiro filme com uma narrativa ficcional da história do cinema. Além dos irmãos Lumiére, Guy-Blaché também foi contemporânea aos cineastas George Méliès, Edwin S. Porter e DW Griffith. Todos nomes que ficaram marcados, menos o de Guy-Blache, marcando como desde o início as mulheres foram subjugadas no cinema. Alice Guy-Blaché (1873-1968) Foi uma das mais importantes e influentes cineastas da Nouvelle Vague, apesar de já ter sua carreira estabelecida antes mesmo do movimento ganhar força e se estabelecer. Tem mais de 50 filmes dirigidos na carreira, que se destacam por apresentar um radicalismo na narrativa, abordando a perspectiva feminista e social. Agnés Varda (1928-2019) Foi uma atriz e cantora estadunidense que, em 1940, se tornou a primeira mulher preta a receber um Oscar, de melhor atriz coadjuvante por sua atuação em “E o vento levou”. Ela também foi a primeira pessoa preta a ir à premiação como convidada e não como servente. Os organizadores do evento tiveram que pedir uma autorização especial para que McDaniel pudesse comparecer ao evento, pois o edifício onde a cerimônia ocorreu não permitia a entrada de pessoas negras. Hattie McDaniel (1893-1952) 97
Na capa, Alice Guy-Blaché (1873-1968). Brasileira roteirista, diretora e produtora que é reconhecida como a única cineasta mulher que produziu, significativamente, dentro do movimento brasileiro Cinema Novo. Em seu primeiro trabalho — A Entrevista (1966) — Helena questionou a sociedade patriarcal e moralista da classe média brasileira. Helena Solberg Nacional e internacionalmente reconhecida como a maior atriz brasileira de todos os tempos, apresentou grandes trabalhos no cinema, teatro e televisão. Foi a primeira atriz latina e única brasileira a ser indicada a um Oscar pelo filme Central do Brasil (1998). Também foi a primeira brasileira a vencer o Emmy Internacional na categoria de melhor atriz. Fernanda Montenegro Adélia foi a primeira mulher preta a dirigir um longametragem no Brasil — Amor Maldito (1984) — que retrata o confronto de uma mulher lésbica com a justiça brasileira — trazendo à tona toda a homofobia e misoginia presentes na sociedade brasileira. Além de diretora, Adélia também atuou em outras funções, como produtora, montadora, câmera, continuísta e maquiadora. Adélia Sampaio Atriz e diretora estadunidense, responsável por filmes como: O Estranho que Nós Amamos, Maria Antonieta, Encontros e Desencontros e, no ano passado, Priscila. Ela já recebeu diversas premiações, como o Oscar e Cannes. Seus trabalhos sempre trazem um olhar instigante e transgressor. Sofia Coppola
Na capa, Alice Guy-Blaché (1873-1968). Pedro Fraga Editor-chefe Agradecimentos Gostaríamos de agradecer imensamente à parceria com o Beco do Papa em Cuiabá que nos cedeu espaço para fotografar . Gostaríamos também de agradecer à gestão da Casa Cuiabana que vem nos apoiando e cedendo espaço para fotografar nas edições. Por último, gostaríamos de agradecer a marca MOB, de circulação nacional que acreditou em nosso trabalho e também à Ótica A Favorita que forneceu seus produtos.