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Livro de José Newton Alves de Souza<br>(da Academia de Letras e Artes Mater Salvatoris).

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Published by upnacomunicacao, 2023-09-29 15:59:58

Ad Jesum per Mariam - Um tratado de amor às Congregações Marianas

Livro de José Newton Alves de Souza<br>(da Academia de Letras e Artes Mater Salvatoris).

Diagramação: Flamarion Reis Setembro/2023


DEDICATÓRIA À Confederação Nacional das CC. MM. do Brasil À Federação das CC. MM. da Arquidiocese de S. Salvador da Bahia À C. M. de N. S. do Perpétuo Socorro e S. Luis, da Boa Viagem À C.M. de N. S. da Assunção e Beato Contardo Ferrini Ao Revdmo. Pe. A. Monteiro da Cruz, S. J. Ao Revdmo. Pe. Valério Alberton, S.J. Ao Revdmo. Pe. Paulo José de Souza, S. J. Ao Revdmo. Pe. José Manuel R. Sanchez, S. J. Ao Ministro Geraldo M. Bezerra de Menezes Ao Dr. Ary de Christan 0. C. D. o Autor


NOTA O CEM - Centro de Estudos Marianos da Bahia - é o braço formador a serviço das Congregações Marianas da Bahia, fundado em 15 de agosto de 2020. Tem no Prof. José Newton Alves de Sousa seu inspirador, o grande entusiasta pela boa formação do congregado mariano. O CEM é responsável pelo incentivo à presente publicação, que vem a lume na celebração dos 80 Anos da Federação das Congregações Marianas da Arquidiocese de Salvador, Bahia.


PREFÁCIO Minha apresentação ao professor José Newton Alves de Sousa deu-se de forma indireta. Inicialmente, pela fala dos congregados marianos veteranos de Salvador, depois pela leitura de atas da Federação Mariana da Arquidiocese de Salvador. A impressão que eu tinha dele era como o transeunte que percebe a fragrância do jasmim ocultado pelo muro do jardim ou como o notívago que vislumbra os clarões do plenilúnio ainda oculto pela copa da mata. Até que em um feliz dia de 2018 eu o conheci pessoalmente, quando o procurei em busca de informações que robustecessem a pesquisa que, naquele momento, realizava sobre a história das Congregações Marianas na Bahia. Foi um encontro rápido em consideração a sua idade, mas demos um certo trabalho aos carteiros a partir de então. A crônica dos anos quarenta e cinquenta do século passado dá conta de uma intensa atividade do jovem professor José Newton no âmbito das Congregações Marianas, em um período no qual o leigo ainda tinha pouca participação na formação, reservada quase que exclusivamente ao clero. Certamente ele não era o único a fazê-lo, mas seu nome aparece com uma frequência inusual nesse mister. Entre essas citações, uma possui título estampado nos anais do Congresso Assuncionista, realizado em agosto de 1951, em Salvador: “A Assunção e a intensificação do Marianismo”. Como tanta coisa se perdeu ao longo das décadas, supunha que também dessa conferência não restasse mais que o título. Entretanto, o dito popular se confirmou: “a paciência tudo alcança”. Em agosto de 2022, ainda com todos os cuidados recomendados pelas autoridades sanitárias em vista da pandemia da covid-19, fomos em pequena comissão à sua residência para uma edição especial do podcast “Papo Mariano”. Na ocasião, encontrei na estante do professor José Newton parte de sua obra encadernada, e lá estava este tesouro para as Congregações Marianas, cujo prefácio ora tenho o inenarrável prazer de atualizar. Ad Jesum per Mariam é uma coletânea composta por sete discursos, duas conferências, uma mensagem radiofônica, uma saudação, uma alocução e uma palestra. São textos representativos das duas fases do professor José Newton como militante das fileiras marianas em Salvador: 1942 - 1960 e 1971 aos dias atuais. Digo representativos porque não correspondem à totalidade deles. O próprio autor, em seu prefácio de 1979, informa que se publicava “quase todos os discursos e conferências” por ele pronunciados como congregado mariano entre 1943 e 1977; em nota de rodapé informa também a exclusão de uma conferência intitulada “A glória da Fita Azul”. A título de exemplo, podem ser citados ainda a coordenação de um dos subtemas do Congresso Brasileiro das Congregações Marianas realizado em Salvador em 1984 para comemorar o quarto centenário de sua presença no Brasil, de cujo evento ele foi coordenador geral, e a conferência intitulada “Uma presença evangelizadora: a das Con-


gregações Marianas” lida no III Seminário sobre a Evangelização da América Latina, promovida pelo CELAM, sob a coordenação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, em março de 1990. A leitura dos treze textos que compõem esta antologia introduz o leitor no âmago do que são, de fato, as Congregações Marianas para a Santa Igreja sob o ponto de vista de um congregado mariano exemplar. Tão perfeitamente ele o faz que um/a congregado/a que os lê sente reacender a chama do amor primeiro pela causa mariana ou afervora, para além do comum, entre os que têm uma prática mariana em seu viver de católico. Mas também, parece-me, esses textos são capazes de atrair quem os lê para as fileiras das Congregações Marianas. Logo no prefácio, ele afirma: “as Congregações Marianas têm sido o ‘clima’ e o ‘veículo’ de minha vida interior e apostólica. [...] Permanecem e permanecerão sempre como ‘escola de santidade e apostolado’.” Essa imagem de “escola de santidade e de apostolado” será frisada em vários outros momentos da obra. Como o professor José Newton vê o surgimento das Congregações Marianas? Eis o que ele afirma: “Há um capítulo especial na história de nossa Salvação: por intermédio de Sua Mãe Santíssima como Inspiradora e Onipotência Suplicante, Cristo fez surgirem as Congregações Marianas, autênticas comunidades de vida cristã, pois se não o fossem, nem seriam comunidades, nem teriam vida cristã.” Essa colocação é feita em um momento histórico difícil para as Congregações Marianas, quando, em plano mundial, passaram a ser conhecidas como “Comunidades de Vida Cristã” e ele consegue harmonizar as ideias, sem ferirnenhuma delas. O professor José Newton desempenhou importante papel na consolidação da Federação Mariana de Salvador. A partir de 1927, acentuou-se o caráter federativo das Congregações Marianas com a fundação da Federação de São Paulo. A Bahia experimentou a organização federativa em 1929, mas não conseguiu resultado positivo. Em 15 de agosto de 1943, finalmente chegou-se a fundar a Federação Masculina de Salvador. A consciência de pelejar pelo fortalecimento da causa mariana é evidente em vários momentos. Um destaque deve ser dado ao “Apêndice” feito ao discurso pronunciado no décimo aniversário da Congregação da Boa Viagem, seu sodalício inicial em Salvador, poucos dias antes da instalação da Federação Arquidiocesana (25 de junho). Nesse apêndice, a palavra união aparece cinco vezes e o verbo unir, em três flexões diferentes. Como estas palavras ele conclui o Apêndice: “Formemos o batalhão invencível da Mãe de Deus, unidos ombro a ombro, coração a coração, alma a alma, e espalhemos pelo mundo nosso brado supremo ad Jesum per Mariam. É esse, caríssimos Congregados Marianos visitantes, o sentido essencial da saudação que vos faço.” Outro momento marcante de seu interesse pelo fortalecimento do marianismo - definido por ele como “o espírito comum substancial das Congregações e a união delas - é a radiomensagem transmitida pela Rádio Excélsior da Bahia em 18 de novembro de 1945 à Federação da Prelazia de Santarém, Pará, que se instalava naquela data. De forma empolgante, ele cria esta imagem: “São milhões de passos em cadência rítmica, em marcha triunfal; são milhões de vozes cantando o estribilho triunfante: SALVE MARIA!” E segue, em tom poético, caracterizando as fileiras marianas em cada estado brasileiro para ilustração de sua afirmação anterior: “[...] mais se nos firma a esperança de que a Fita Azul


une os brasileiros e se erguerá como bandeira de guerra santa e um símbolo de amor de Cristo, em todo o território nacional.” Um último conceito a ser extraído dos textos desta coletânea é o de “congregado mariano”. Para isso, escolhemos algumas afirmações presentes na obra: “apóstolos de Deus e vanguardeiros da Igreja”, “fiel imitador de Maria Santíssima”, “católico integral”, “cavaleiro da Virgem, soldado da Igreja e cidadão do céu”. Tendo as Congregações Marianas surgido pelo trabalho do jesuíta Padre João Leunis, o professor José Newton vê o congregado mariano como uma espécie de “jesuíta leigo” ao apresentar, em forma de gradação Santo Inácio como imitador de Jesus, o jesuíta como imitador de seu Santo Fundador e “nós outros sem sotaina, mas de Fita Azul.” Peço desculpas a quem conseguiu ler até aqui por ter-me estendido demais. Mas a verdade é que os textos do professor José Newton me empolgaram sobremaneira, e isso não pode ser difícil a qualquer de nossos irmãos de fita azul. E no auge dessa santa empolgação, ouso fazer uma analogia com o trabalho de outro irmão congregado mariano - este já elevado à glória dos altares - São Luís Maria Grignon de Montfort. São Luís escreveu o “Tratado da Verdadeira Devoção à Virgem Maria”, enquanto este Ad Jesum per Maria pode ser considerado como o “Tratado do verdadeiro amor às Congregações Marianas”. Salve Maria! Salvador, 14 de novembro de 2022. Alan José Alcântara de Figueiredo Congregado Mariano Diretor do Centro de Estudos Marianos da Bahia


PREFÁCIO 2 No dia 2 de agosto de 1932, recebia eu, das mãos de D. Francisco de Assis Pires, bispo diocesano, a fita de Candidato, na recém-fundada Congregação Mariana de N.S. dos Anjos e S. Luís de Gonzaga, da cidade do Crato, Estado do Ceará. Por inspiração e iniciativa daquele virtuoso antístite, iria a Diocese do Crato possuir, dessa forma, sua primeira Congregação Mariana Masculina. De então para cá, as CC. MM. têm sido o “clima” e o “veículo” de minha vida interior e apostólica. Vindo, em 1942, residir na Cidade do Salvador, Estado da Bahia, trouxe minha transferência para a C.M. Acadêmica, dirigida, na época, pelo vibrante jesuíta Pe. Francisco Tavares de Bragança. Como me fixasse na Cidade Baixa, pleiteei, e obtive, transferir-me para a C.M. de N.S. do Perpétuo Socorro e S. Luís de Gonzaga, da paróquia da Boa Viagem, onde militaria até inícios de 1960, quando, convidado para implantar e dirigir a Faculdade de Filosofia do Crato, voltei para minha cidade natal, à frente daquele estabelecimento de Ensino Superior, agregado à Universidade Federal do Ceará. Ao regressar à terra de meu nascimento, não mais encontrei florescentes as Congregações Marianas. Ali havia, quando retornei, uns poucos Congregados sobreviventes, desestimulados e dispersos. Tinham sofrido, como em outras partes, os efeitos transformadores de novas posturas e direções pastorais. Ainda tentei, sem o êxito desejado, fundar, então, uma C.M. de profissionais liberais,com o objetivo, entre outros, de reanimar o ideal das CC. MM. naquele meio outrora tão fértil neste particular,possuindo uma Federação operosa, um mensário verdadeiramente formador, e todo um quadro de viva piedade e ardoroso trabalho apostólico. 1971 foi o ano de minha volta para Salvador. 0 fato ocorreu no segundo semestre, e logo era eu escolhido na C.M. de N.S. da Assunção e Beato Contardo Ferrini, fundada pelo saudoso Pe. Mariano Pinho, S.J., e a que eu já pertencera em seus primórdios. Hoje, mais conhecida como C.M. de Casais, é, sem favor, entre as treze outras existentes na Capital, uma das espiritualmente mais sólidas, institucionalmente mais organizadas e apostolicamente mais ativas. Ao tempo de D. Augusto Álvaro da Silva, foi-me, por duas vezes, confiada a presidência da Federação das Congregações Marianas Masculinas. Havia, naquela época, também a Federação das Congregações Marianas Femininas, na Arquidiocese de São Salvador da Bahia. Na atual fase de minha vida em Salvador, isto é, de 1971 para cá, coube-me, por dois períodos consecutivos, presidir a Federação, agora única, das Congregações Marianas. Estas já foram, sem dúvida, movimento de massa, em que a quantidade se ostentava nos desfiles, procissões e concentrações, sensibilizan-


do olhos e, não raro, levando à euforia e entusiasmo os participantes e circunstantes. Hoje, elas se esforçam por manter-se cada vez mais coerentes com o espírito que desde o início as inspirou, e que as tornou capazes de adaptar-se às circunstâncias de tempo, lugar e pessoas, sem perderem sua essência ou substância específica, nem as linhas marcantes de seu perfil institucional. Permanecem, e permanecerão sempre, como “escolas de santidade e apostolado”. Por mais que se tente substituir-lhes ou alterar-lhes o caráter fundamental que lhes dá sentido e lhes assegura a perenidade, por mais que procurem desfigurá-las ou deturpá-las, elas persistem fiéis a suas origens e fins, custodiadas por Aquela sob cuja graça e para cuja honra nasceram e existem. 0 que publico em “Per Mariam ad Jesum” são quase todos os discursos e conferências que, na qualidade de Congregado Mariano, pronunciei, de 1943 até 1977. Com isso, desejaria alcançar os seguintes objetivos: a) recordar um passado remoto e outro próximo, que me são muito caros; b) agradecer às Autoridades Eclesiásticas e aos Companheiros de luta a confiança que em mim têm depositado; c) reafirmar meu propósito de continuar fiel às CC.MM.; d) louvar Aquela que, sendo a Medianeira de Todas as Graças, há-de reconduzir o mundo para Cristo, que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Este livro devia ter sido impresso em fascículos, o primeiro dos quais foi publicado em 1947. Dificuldades várias, porém, impediram a concretização desse desiderato. Em especial homenagem aos inolvidáveis Dom Antônio de Mendonça Monteiro e Pe. Luiz Gonzaga Mariz, S.J., são, neste volume, reproduzidas as palavras que eles se dignaram escrever, em 1947, para “Per Mariam ad Jesum”, e que vieram a lume no 1º. fascículo. Cidade do Salvador, março de 1979 PREFÁCIO DO VIGÁRIO GERAL DA AÇÃO CATÓLICA NA ARQUIDIOCESE DA BAHIA


Grande e louvável esforço desenvolve o Prof. José Newton Alves de Sousa em favor da mocidade católica em nossa terra. Este livro1 é uma prova de acendrado amor à virtude, que arde no coração do jovem mariano e militante da Ação Católica. 0 Santo Padre Pio XII, gloriosamente reinante, escreveu estas palavras que merecem ser meditadas: “Infelizes os povos em cuja juventude se extingue o fogo sagrado da fé, o ideal e a presteza para o sacrifício”. As páginas vibrantes deste livro constituem um incentivo generoso da fé, do ideal e do sacrifício de que fala o Vigário de Cristo. Os Congregados Marianos devem ser homens - em toda a força do termo - e cristãos, às deveras, isto é, católicos exemplares, que trabalhem seriamente na própria santificação e também sejam apóstolos intrépidos e corajosos nas fileiras da Ação Católica. Queira Deus Nosso Senhor abençoar o autor, os leitores deste livro e conceder a conversão de muitas almas para o Reino de Cristo. Ubique Dei Patriaeque memor! Per Mariam ad Christum! Bahia, 22 de Agosto de 1947 Festa do Imaculado Coração de Maria Mons. Antônio de Mendonça Monteiro V.G. da A.C. 1. Tanto este prefácio, quanto o do Diretor da Federação das Congregações Marianas da Arquidiocese da Bahia foram escritos para o livro inteiro, de que se publicaria, em 1947, apenas o 1º. fascículo. No presente volume, deixa de incluir-se a conferência intitulada “A Glória da Fita Azul”, mas se publicam dois capítulos novos: um, contendo o discurso proferido pelo autor no Dia Mundial do Congregado, de 1972, e outro, a conferência lida por ocasião do 1º. Congresso Nacional Mariano realizado na Capital do Paraná, em setembro de 1977.


PREFÁCIO DO DIRETOR DAS FEDERAÇÕES MARIANAS DA ARQUIDIOCESE DA BAHIA O Sr. José Newton Alves de Sousa, mariano de alma e coração, brinda hoje o público brasileiro com uma obra espi ritualista. Oferta-a aos ”Cavaleiros da Virgem” e aos soldados de Cristo-Rei”. Estua, nestas paginas, o estro de uma alma apai xonada por Jesus-Hóstia. Vibra no seu verbo cálido, o amor acendrado à Virgem. Está, pois, revestido de todos os predicados exi gidos a um autêntico militante da Ação Católica. Em todos estes campos, tão maravilhosos, tão nobres, se desenvolve a sua atividade de poeta, orador e escritor. Não o apresento ao público. Ele próprio se impõe por outras obras já publicadas. Resta-me, apenas, augurar-lhe que o seu livro, essencialmente marial, seja lido por todos os Congregados Marianos. A Virgem o abençoe. Jesus-Hóstia o santifique. São estes os meus melhores votos. Bahia, 10-VI-1947 Pe. Luiz Gonzaga Mariz, S.J.


ÍNDICE 210 270 330 370 430 470 530 650 710 750 810 890 950 103 1. O PAPEL DO CONGREGADO MARIANO NO MUNDO MODERNO............................... 2. DIRETRIZES MARIANAS............................................................................................................... 3. MENSAGEM DA FEDERAÇÃO MARIANA DA BAHIA À DA PRELAZIA DE SANTARÉM-PARÁ......................................................................................................................................... 4. EM TORNO DE UM TRICENTENÁRIO...................................................................................... 5. OFICINA DO ROSÁRIO.................................................................................................................. 6. AS CC. MM. EM FACE DO NOSSO SÉCULO.......................................................................... 7. O BRASIL E O MARIANISMO....................................................................................................... 8. SAUDAÇÃO A PIO XII................................................................................................................... 9. OS CONGREGADOS MARIANOS DA BAHIA........................................................................ 10. AS DUAS BAHIAS........................................................................................................................... 11. SAUDAÇÃO DO PADRE MARIZ, S.J....................................................................................... 12. O DESENVOLVIMENTO DO HOMEM TODO E DE TODOS OS HOMENS................. 13. A EVOLUÇÃO DO MOVIMENTO MARIANO - DAS PRIMEIRAS “REGRAS COMUNS” DE 1587, AOS “PRINCÍPIOS GERAIS”, DE 1968....................................................... REGISTROS FOTOGRÁFICOS..........................................................................................................


José Newton Alves de Sousa | 21 0 PAPEL DO CONGREGADO MARIANO NO MUNDO MODERNO Discurso pronunciado quando do Decenário da Congregação Mariana de N.S. do Perpétuo Socorro e S. Luis, da Paróquia da Boa Viagem,25.6.1943. Foi publicado, inicialmente, no “Mensageiro da Fé”, de que se chegou a tirar uma separata. Posteriormente, em 1948, veio a lume, outra vez, no 1º. fascículo de “Ad Jesum per Mariam”.


José Newton Alves de Sousa | 23 CAPÍTULO 1 0 PAPEL DO CONGREGADO MARIANO NO MUNDO MODERNO A egrégia milícia marial que, hoje, celebra seu décimo aniversário de fundação, nasceu e vive ante os estertores agônicos de um fim de civilização carcomida de ideologia nos deletérios materialismos grotescos. Estamos presenciando, realmente, a agonia de uma civilização que desprezou a Deus, deificou a matéria. Por conseguinte, há muito vem esta Congregação assistindo à derrocada final dessa civilização ateia cujas raízes se aprofundam a épocas já passadas. Destarte, ela está convicta de que tudo passa sobre a terra, e que somente o que é de Deus, fica. Os tempos mudam. As eras se sucedem. Povos desaparecem. Civilizações destroem-se. Mas o que é de Deu perdura eternamente, sempre novo, vivo, inaugural. Assim é a Congregação Mariana de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. 0 seu ideal será sempre o mesmo, sempre o mesmo o seu espírito, a sua finalidade, o seu programa, opondo ao vício a virtude, ao ódio o amor, ao mal o bem. A luta pela santificação dos seus membros e pela marianização social ser-lhe-á perenemente o roteiro sagrado que, já há dez anos, vem perlustrando. Reforme-se o mundo. Guerreiem-se os homens. A Congregação não diminui. Não muda. Não cai. Fica. E vence - coisa de Deus. XXX Os sociólogos cristãos, os filósofos bem orientados, os pensadores sinceros, opinam que a causa da imensa ruína dos nossos dias vá encontrar-se no afastamento de Deus da vida quotidiana dos homens. E não seria preciso ser um grande pensador, nem um filósofo afamado, nem um sociólogo de renome para se ficar ciente do quanto é reveladora da realidade do mundo moderno aquela opinião. De fato, quem, analisando, atentamente, o desenrolar dos acontecimentos hodiernos, não ouve, do profundo angustiado do ser humano, um grito abafado de dor pagã, um brado ansioso de liberdade, de alguma coisa que o mundo não é capaz de dar? Bem razão têm os que afirmam que a dor aproxima o homem de Deus. E se assim é, torna-se necessário que nós, Congregados Marianos, apóstolos de Deus e vanguardeiros da Igreja, batizemos com a linfa sacral do exemplo e da ação, o próprio sofrimento da moderna humanidade. E que a todos mostremos que essa liberdade que procuram não lhes pode o mundo oferecer. 0 homem é verdadeiramente livre quando não está preso, espiritualmente, ao mundo.


24 | Ad Jesum per Mariam XXX Não tenho a pretensão de querer bosquejar o quadro poliformo do mundo moderno. Apenas me limito a ferir de leve algumas das facetas mais salientes do panorama geral dos nossos dias. E, em face disto, qual o papel, qual a atitude que deve assumir o Congregado Mariano, como Filho de Maria e defensor da Igreja. Que o mundo sofre, já vo-lo disse. Mas não seria paradoxo dizer que o mundo ri? Sim, o mundo ri. Mas no riso do mundo não se percebe o sorriso de Deus. 0 riso mundano traduz as próprias ansiedades materializadas e bestiais do homem sem Fé. É o eco do seu desespero interior, da sua insatisfação e da sua infelicidade. E nessa imensa tristeza disfarçada em risos, embotelha-se o pobre mundo enfermo do presente. A dor, ou é vida para os que se resignam em Deus, ou é morte para os que desesperam. É o ponto biviário de onde se destina ao Céu ou se desgarra à perdição. Nestes tempos de tantas dores e de tantas lágri mas, não é possível viver sem sofrer. Sofrem os materialistas e sofrem os espiritualistas. Uns, desesperados; outros, esperançosos. Uns satânica, outros cristãmente. Mas todos sofrem. É preciso, porém, que a dor redentora e fecunda dos que sofrem em Deus, transmita-se às almas que não tem Fé. E o papel do Con gregado Mariano, neste particular, é importantíssimo. A exemplo daquela que é chamada ”a Mãe das Dores”, devemos todos rumar o nosso sofrimento em direitura ascensional ao Céu, acompanhado de nossas súplicas a Deus pela cristianização da dor humana. A dor é que nos há-de santificar e a todos os homens. Maria nos ensinou a sofrer. Ela, nossa Mãe, e Jesus, nosso Irmão. Vamos levar Jesus, por Maria, a cada alma sem Fé. Vamos fazer o apostolado do bom sofrer, entre os homens sem Deus... E o mundo ressurgirá bem vivo, aos cânticos harmoniosos e festivos dos Anjos do Além. xxx Volvamos agora a vista a algumas particularidades, também dolorosas, dos tempos atuais. A observação exata dos fatos quotidianos nos des perta a atenção para umas tantas coisas que são mesmo o rumor funéreo de um fim de civilização. Desviando-se o homem da estrada da Luz, só podia era envolver-se em trevas. Foi o que aconteceu. E que horrendo acontecimento! Onde já se viu tanto pecado, tanta miséria, tanta injustiça, tanto crime como nos dias de hoje? Onde tão grande quebra do ritmo moral? Onde tão deprimente corrupção dos costumes? Onde tanta falta de Fé, de Esperança e de Caridade? Onde tanta inveja e tanto ódio? Tanta cegueira e tanta morte? É doloroso e triste, verdadeiramente triste e doloroso, o quadro representativo do mundo moderno. A luta heróica pela recolocação do mundo em suas verdadeiras bases se faz mister com muita urgência. A nós, Congregados Marianos, está confiada


José Newton Alves de Sousa | 25 grande missão nessa peleja sublime pela regeneração humana. Preparados já nos achamos. Estamos com Maria. Pois partamos, e já, ao campo da luta. Ad Jesum per Mariam — eis o nosso estandarte e o nosso lema. Precisamos provar que somos realmente Filhos de Maria. E se a Igreja nos diz: ide à Ação Católica, não contrariemos as ordens da Mística Esposa de Cristo. A Ela obedeçamos como fieis e valorosos defensores. Cooperar marialmente para a difusão e consolidação do reino de Cristo nas almas e nos corações é o supremo dever da hora presente. E nenhum Congregado Mariano se pode furtar a esse imperativo apelo da Igreja de Deus. Compenetremo-nos da nossa excelsa missão e saibamos honrar o nome augusto de Filhos de Maria. Não nos bipartamos entre princípios opostos. Sejamos todos de Maria, para sermos todos de Cristo, todos de Deus. 0 que se faz preciso,sobretudo, é a nossa integração marial, isto é: levarmos uma vida segundo as Regras da Congregação, na prática constante das virtudes, no desapego às coisas mundanas, na repulsa ao pecado, na aproximação da Eucaristia, onde o Cristo Vivo e Total está à nossa espera, para nos ser Alimento e Luz, Luz da Inteligência e Alimento do espírito. Integração marial por uma vida constantemente, continuamente sentida com a Igreja. Por uma vida em que brilhe e refulja, na luminosidade palpitante da sua grandeza divina, a prática eficiente da humildade e da pureza. Por uma vida, enfim, de imitação a Maria, que é o porto de salvação, a bússola do céu, o diamante místico do colar de Deus, a luz das Nações, a delícia dos anjos, a alegria dos santos, o amparo dos que caem, o alento dos que sofrem, a esperança dos que lutam, a gloria dos heróis, a coroa dos mártires, o sustentáculo, o caminho, o guia, o sol, a inspiração, o abrigo seguro, o tudo da mocidade que A tem por Mãe. Levar uma vida tal, mariocêntrica e cristocêntrica, deve ser a nossa verdadeira posição a assumir em face do mundo atormentado de hoje. Sejamos, pois, completos marianos. Ser completo mariano é não concordar com o mal. É saber repelir o mundo. É saber vencer o pecado. Conseguintemente, só uma a posição, o papel do Congregado em face do mundo moderno, deste mundo pleno de misérias e corrupções, em que se trocou “céu” por “sexo”, em que se substituiu amor a Deus por ódio a Deus, em que se desprezou o espírito e se abraçou a matéria. Só um o papel do genuíno Congregado: ser mariano verdadeiro, ser mariano completo.


26 | Ad Jesum per Mariam APÊNDICE SAUDAÇÃO ÀS CONGREGAÇÕES DA BAHIA Bem intenso é o júbilo da Congregação de São Luis desta Paróquia em saudar as suas co-irmãs aqui representadas. É que, prezados companheiros de fita azul, o sentido da união deve imperar em nossas almas e em nossos corações, para a perfeita realização dos nossos ideais. E que outro não seja o motivo desta saudação senão esse apelo que vos faço de nos unirmos estreitamente em Maria, para que Cristo, Irmão nosso, venha habitar gloriosamente em nos. Todas as nossas obras, todas as nossas ações, todos os nossos trabalhos seriam em vão se não tivéssemos em mira essa sagrada união fraternal, onde se realiza plenamente a máxima do Evangelho: “amai-vos uns aos outros”. Já não é mais tempo de egoísmo nem desarmonia. A nossa vida, a nossa finalidade, as nossas Regras reclamam a união de que vos falo. Uma união de onde surja, rejuvenescido e santo, o mundo de amanhã. Uma união onde brote, vigorosa e esbelta, na plenitude de uma vida verdadeiramente cristã, a humanidade do porvir. Sim, Congregados, unamo-nos. Formemos uma barreira intransponível, em cujo cimo altaneiro baloice, gloriosa, no alvi-azul de suas cores, a Bandeira de Maria. Formemos o Batalhão invencível da Mãe de Deus, unidos ombro a ombro, coração a coração, alma a alma, e espalhemos pelo mundo o nosso brado supremo: ad Jesum per Mariam. É esse, caríssimos Congregados visitantes, o sentido essencial da saudação que vos faço. Saúdo-vos, pois, e com toda a alma e força vos digo – para a glória de Maria, para o triunfo de Cristo e salvação do mudo, unamo-nos todos, Congregados da Bahia, Congregados do Brasil, Marianos de toda a Terra.


José Newton Alves de Sousa | 27 DIRETRIZES MARIANAS Discurso pronunciado quando da posse na Presidência da C.M, de N.S. do Perpetuo Socorro e S. Luis, da Boa Viagem, em junho de 1944. Foi publicado, inicialmente, no 1º. fascículo de “Ad Jesum per Mariam”.


28 | Ad Jesum per Mariam


José Newton Alves de Sousa | 29 CAPÍTULO 2 DIRETRIZES MARIANAS Sou muito grato aos prezados companheiros desta nobre Congregação pela confiança em mim depositada, quando da minha eleição para a sua atual Presidência. Acaba de exercer este cargo um homem íntegro e ardoroso, alma verticalmente cristã, coração marialmente apostólico, esse arauto do bem, cuja ação desinteressada de zeloso católico de há tempos se vem fazendo sentir, luminosa, em nosso âmbito paroquial. 0 Sr. João Gonsga Barreto bem soube desempenhar as suas funções presidenciais nesta Congregação. E hoje, quando o substituo nesse espinhoso argo, volto-me para ele e se me desfazem as hesitações e se me avolumam as esperanças. Confiando em que tudo está sendo feito segundo s desígnios da Providência Divina, eis-me aqui, vendo o imenso das responsabilidades que me cabem doravante e contemplando a poquidade dos meus méritos pessoais, eis-me aqui para repetir aquelas palavras que ecoam perenemente como uma sinfonia angélica amenizando o furor das tempestades: - Senhor, feita seja a Vossa Vontade, não a minha. Congregados: Há um ano, precisamente, neste mesmo local, nesse mesmo salão, tive oportunidade de falar sobre o papel do Congregado Mariano no mundo moderno. Ha um ano, eu era um simples Congregado e falava somo companheiro para companheiros. Hoje, quisestes colocar-me num pedestal grande demais para mim, mas muito pequeno para vossa bondade, e ê como vosso Presidente que vos falo, traçando a rota que vos proponho a seguir. Onze anos de vida assaz fecunda já podem garantir uma perpetuidade frutuosa. Espero em Deus poder continuar na mesma gloriosa estrada que há tanto tempo vindes palmilhando. Espero encontrar em todos vós, oficiais maiores e menores, Congregados, Candidatos e Aspirantes, abnegados e vontadosos auxiliares. Precisamos realizar a plenitude das nossas Regras. Por istos hei-de procurar sempre cumprir, à risca, as diretrizes do Manual e as determinações do nosso mui caro Diretor. Nossa Congregação necessita concretizar-se cada vez mais numa afirmação de sólida piedade e vida interior por parte de cada um dos seus membros. Se ser Congregado Mariano fora apenas usar uma fita azul e um distintivo me-


30 | Ad Jesum per Mariam tálico, creio seria de todo infrutífera qualquer agremiação dessa natureza, porque ser Congregado Mariano é ter uma vida em concordância com a vontade de Deus. É ser um fiel imitador de Maria Santíssima. É ter o espírito aclarado de Fé e incendido de Amor. É ter a alma em contínua prece e ação de graças. É ter o coração vibrante de pureza e castidade. É ser obediente às Autoridades hierárquicas. É envolver-se de humildade e ter coragem de ser católico integral. Mas há Congregados que pretendem fazer da Congregação um balcão de mercado. Há outros que gostariam de fazer dela um campo de futebol. E outros que a querem transformar numa arena política. Não. A Congregação é o que nos dizem as Regras Comuns, no parágrafo 1, no título primeiro: “é uma associação religiosa que tem em vista fomentar nos seus membros uma ardentíssima devoção,reverência e amor filial, para com a B. Virgem Maria, e por esta devoção e pelo patrocínio de tão Boa Mãe tornar os fieis, em nome dela reunidos, bons cristãos, que sinceramente se esforcem por santificar-se no seu estado, e se dêem deveras quanto a posição social lhes permitir, à salvação e santificação dos outros e a defender a Igreja de Jesus Cristo dos ataques da impiedade”. Não é digno da Congregação aquele que tenta fazer, a seu modo, uma leitura desvirtuada e arredia do espírito das Regras aprovadas pela Santa Igreja. Daí certas lamentáveis divergências frequentemente surgidas nos meios marianos, com relação, geralmente, à Ação Católica. Hoje em dia não se está para mais estabelecer inimizades entre aqueles e esta. Roma a respeito disto já falou, e querer contradizer Roma é negar o próprio Catolicismo. 0 mesmo Papa que, certa vez, num momento de grande e sagrada eloqüência, teve esta frase singular: “AS Congregações Marianas são a Via Láctea do céu da Igreja”, foi o mesmo que pronunciou estas palavras: “As Congregações Marianas são os melhores auxiliares da A.C.”. Aí está a verdadeira gradação hierárquica.1 Hei-de esforçar-me por mantê- -la nesta Congregação. Para que sejam alcançadas as nossas finalidades, é necessário, antes de tudo, que haja nossa integração no verdadeiro espírito da Congregação. Precisamos de chefes autênticos, que assegurem o desenvolvimento, no tempo e no espaço, das falanges marianas. Chefes completos. Chefes cem por cento. De vida interior. De humildade profunda. De procedimento ilibado. Chefes que arrastem pelo exemplo, que se comuniquem pela inteireza de caráter, pela abnegação e pelo sacrifício. Chefes valorosos e destemidos. Chefes que sejam os arautos dos tempos novos, que lutem nas fileiras da Ação Católica, tendo no peito a Fita Azul. Com chefes assim, podemos recrutar um bom número de candidatos e aumentar de muito as nossas fileiras. Com chefes assim, de logo crescerá a nossa biblioteca, formar-se-á,conseguintemente, nossas scholla eantorum, nosso departamento recreativo, funcionarão nossas academias culturais e nossas obras de assistência social. Com chefes assim, venceremos o inimigo e abafaremos, facilmente,a gri1. Posteriormente Pio XII, na B.S.,considerou as CC.MM. como Ação Católica de direito e de fato (Nota de 1979).


José Newton Alves de Sousa | 31 ta adversária. Entrego-me, com todos os membros da Diretoria, nas mãos imaculadas de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e de S. Luís, protestando fidelidade e obediência à autoridade do Reverendíssimo Pe. Diretor. E vamos trabalhar incessantemente. Temos diante de nós um campo imenso que nos exige oração e trabalho constantes. Cruzar os braços seria crime. Lutar é o dever. Que mais resta? Cumpri-lo. Com a Fita Azul a fulgir sobre nosso coração, vi bremos a toda altura, superando e amortecendo as vozes infernais, vibremos, ovantes e entusiastas, cheios do amor de Deus, plenos do Ideal Mariano, vibremos aos céus e terras do Brasil e do mundo, a saudação que trouxe à terra o Redentor da humanidade . “AVE, MARIA!”


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José Newton Alves de Sousa | 33 MENSAGEM DA FEDERAÇÃO MARIANA DA BAHIA À DA PRELAZIA DE SANTARÉM-PARA Lida através da Rádio Excelsior da Bahia em 18.11.1945 - dia da Fundação da Federação Mariana de Santarém.


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José Newton Alves de Sousa | 35 CAPÍTULO 3 MENSAGEM DA FEDERAÇÃO MARIANA DA BAHIA À DA PRELAZIA DE SANTARÉM-PARA MARIANOS DA PRELAZIA DE SANTARÉM Convosco partilhamos as alegrias do dia de hoje. Mais uma Federação Mariana que se funda e um triunfo a mais da Virgem Imaculada; uma nova fortaleza que se ergue para a defesa da Fé e a salvaguarda dos costumes. Vós surgis num momento oportuníssimo, e isto prova, eloquentemente, a assistência maternal de Maria sobre o Brasil. Daí do Norte da Pátria,a vossa voz moça e vibrante é como um clarim despertando as energias sagradas da consciência religiosa e nacional do Brasil. A vossa atitude, em federando todas as vossas Congregações, é uma a firmação insofismável da vossa coesão marial e do vosso alto espírito de disciplina, ordem, compreensão e clarividência. Nunca, talvez,como em nossos dias, seja mister tanta união organizada entre as Congregações e entre os Congregados, como garantia de êxito e certeza de vitória. Todo o Exército da Santíssima Virgem precisa estar solidamente unido, na oração e na ação. 0 vosso exemplo irá falar alto perante todo o Brasil Católico. 0 vosso canto será ouvido por toda a Pátria. E com isto mais se nos firma a esperança de que a Fita Azul une os brasileiros e se erguerá como uma bandeira de guerra santa e um símbolo do triunfo de Cristo, em todo o território nacional. E como que descortinamos, numa ante-visão alimentada da Fe mais viva, um quadro maravilhoso onde as cores da Mãe de Deus formam a harmonia das linhas e a beleza de bosquejo! Comove-se-nos a alma embevecida ante o espetáculo inédito: São milhões de ombros unidos fraternalmente; são milhões de passos em cadência rítmica, em marcha triunfal; são milhões de vozes cantando o estribilho triunfante: SALVE, MARIA! E entre esses milhões de corações chamejantes de entusiasmo e esplendentes de glória, estão os filhos do Norte do Brasil, onde flui o rei dos rios; os filhos do Nordeste causticado e comburido pelas secas flagelantes; os filhos da Bahia do Salvador, da Bahia do Senhor do Bonfim; os filhos de Goiás e Mato Grosso, na imponência das suas matas e no mistério do Oeste; os filhos de Minas Gerais, onde luz o ouro e reluz a Fé; os filhos do Espírito Santo, valentes e generosos; os filhos do Rio de Janeiro, onde se abre, para o céu, a Baía de Guanabara e o Cristo Redentor, do alto do Corcovado, abençoa o povo brasileiro; os filhos de São Paulo, bandeirantes da Pátria e da Virgem; os filhos do Paraná e Santa Catarina, no ardor da sua crença e no destemor das suas conquistas; os filhos do Rio Grande do Sul, açoitados pelo minuano e enrijecidos pela Cruz; os filhos de todo o Brasil, sem distinção de cor nem de classe, igualhados na mesma Hóstia Eucarística, fraternizados na mesma Fita Azul. E nessa ante-visão


36 | Ad Jesum per Mariam setorial e panorâmica do Brasil Mariano, estais vós, Congregados da Prelazia de Santarém, a quem saudamos com os mais afetuosos e sinceros aplausos. Marianos da Prelazia de Santarém, vós que sois — novecentos Filhos de Maria a serviço de Cristo-Rei, aceitai esta mensagem cordial, que nós, Marianos da Bahia, vos mandamos. E evocando à memória o nome do Fr. Ambrósio,que, vinte e sete anos, fundou a vossa primeira Congregação, alteamos os nossos corações ao Coração da Virgem, suplicando-Lhe conceda a todos vós o penhor das Suas bênçãos fecundas e graças copiosas. Recebei nossa Mensagem e formai conosco nas pelejas formidandas em prol da marianização completa do Brasil, para a maior Glória de Deus e honra da nossa Mãe Santíssima.


José Newton Alves de Sousa | 37 EM TORNO DE UM TRICENTENÁRIO Discurso pronunciado no dia 23.3.46, no Salão Nobre do Convento da Boa Viagem, Bahia, em sessão magna come morativa do Tricentenário da provisão régia em que D. João IV proclamou a SS. Virgem, sob o título de Imaculada Conceição, como Padroeira de Portugal e seus domínios, nestes incluídos, então,o Brasil.


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José Newton Alves de Sousa | 39 CAPÍTULO 4 EM TORNO DE UM TRICENTENÁRIO Em festa como a que hoje se celebra, evocando a memória reverente o significado trissecular de uma Provisão régia, que o Soberano luso selou em 25 de março de 1646, em Terra de que o abismo azul do Atlântico imenso não nos pode jamais separar, porque, cá e lá, a mesma língua fala, o mesmo sangue pulsa, a mesma fé palpita, — em festa como a que hoje se celebra, cale a inteligência e cante só o coração. Esse coração que um materialismo rude quer — como já o lembrou alguém — reduzir a um músculo comum, mas que, para nós, é um centro onde se processam as mais belas e sublimes operações do nosso ser e um tabernáculo vivo onde o Senhor dos Mundos vem habitar na Hóstia Santa, esse “assombro fisiológico” é um prodígio moral; esse coração que o comunismo não pode encher, que tal poder o tem apenas Deus; esse coração, que razões tem que a razão mesma desconhece, como o acentuou o gênio pascalino; esse coração... ah! esse coração que ama e crê, que chora e ri, que sofre e luta, esse coração... que só ele cante, e cale a inteligência, neste dia de pompas tricentenárias, em que se dissolvem fronteiras e povos da mesma crença louvam e bendizem a Imaculada. Conceição da Virgem Senhora Nossa Concebida sem pecado original! Quando, em 25 de Março de 1646, D. João IV proclamou a Virgem Santíssima, sob o título da Imaculada Conceição, Padroeira de Portugal e seus domínios, era já o Brasil posse da Grande Mãe de Deus e Nossa Mãe, Maria Santíssima. Lê-se na preciosa brochura do Pe. Valentim ”Nossa sa Senhora do Brasil” — que ”a primeira imagem e a primeira invocação dessa excelsa Virgem sob os céus constelados da terra do Cruzeiro, foi a de Nossa Senhora da Esperança, cuja efígie junto com um precioso retábulo de Nossa Senhora da Piedade,aportaram às plagas brasílicas, conduzidas nas caravelas portuguesas, sob o comando do bravo almirante e descobridor Pedro Álvares Cabral”. “E, — continua o autor, — apenas nascido, foi o Brasil, por irresistível e amorosa atração, chamado para o culto de Maria, unindo eternamente seu coração ao coração incomparável dessa incomparável Mãe - e Rainha dos brasileiros”. Nossa Senhora da Esperança! Nossa Senhora da Piedade! E não são essas, Senhores, as duas grandes linhas de nossa formação espiritual? E não são essas, as pedras fundamentais da nossa nacionalidade? E se a nossa piedade invocou um dia a Virgem San tíssima sob o título de Nossa Senhora do Brasil, foi porque o nosso coração, tangido de profundo amor filial, sentiu e viu, com o sentimento mais puro e a visão mais esplêndida, que o Brasil era, é e será de Nossa Senhora.


40 | Ad Jesum per Mariam Brasílio Machado, num momento em que o arroubo da eloquência atingia o auge, teve estas palavras verdadeiramente lapidares: Assim “como a Espanha se chamava nas crônicas de outrora, o “dote da Santíssima Virgem”, e a França fora o “Reino de Maria”, a Inglaterra, “0 Feudo de Maria”, a Hungria, “a família de Maria”, o México, “a Nação de Maria” e Portugal “a Terra de Santa Maria”, o Brasil era ainda mais: - era “a Posse de Maria”. Carregado de razões andou também aquele orador fluente que assim apontou a face mais bela e verdadeira da nossa vocação histórica”. Arrancai do coração brasileiro a devoção a Nossa Senhora e tereis rasgado os polinapsestos de nossa tradição e mutilado os arquivos da Historia Pátria”. N. S. do Brasil? Não só: - Brasil de Nossa Senhora. Maria está na base mesma da grandeza nacional. Tirai-a de lá, isto é, apagai do coração do nosso povo — coisa evidentemente impossível — a chama da devoção marial, e tereis desfigurado e estraçalhado o coração do Brasil. E hoje, Senhores, quando três séculos são passados, do dia em que a suprema Autoridade real do mundo luso reconheceu, oficialmente, antes mesmo da sua definição dogmática, a bendita e imaculada Conceição de Maria, proclamando — A Padroeira de Portugal e seus domínios, que compreendiam também o Brasil, é preciso que consideremos, devidamente, o valor dessa imensa dádiva divina, e, reconhecendo esse valor e o seu significado, demos de vista sobre os perigos que povoam a nossa estremecida Pátria, onde o malfadado cavaleiro de uma esperança desesperada pretende quebrar o pedestal sobre que se firma a própria alma de raça, os sentimentos mais nobres do coração brasileiro. Não, Senhores, mil vezes não!Pois nos braços de Maria nós nascemos. Não, Senhores, mil vezes não! Debalde o lobo das estepes tenta sangrar o ”Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo”. Todavia, valem de advertência as palavras atua- líssimas desse mesmo Cordeiro que as mais ferozes alcatéias há vencido: - “Vigiai e orai”! Vigiai e orai, que os inimigos de Deus já não se aproximam: eles já estão dentro da cidade e muitas vítimas já fizeram. E nesta hora extrema, de múltiplos perigos, só temos que fazer o que disse S. Bernardo: “Olhai a Estrela e invocai Maria”. Há a foice e o martelo? Os Congregados Marianos já disseram também: há o Terço e a Fita Azul. Mas vigiemos e oremos, para não cairmos em tentação. E essa vigília e essa oração devem concretizar- se nos trabalhos da Ação Católica e no apostolado do culto mariano. No borborinho das fábricas, no calor das oficinas, no vai-vem dos veículos, no movimento das escolas, na agitação dos escritórios, no afastado dos campos, nas perquirições da intelectualidade, nas letras da imprensa, uma grande ânsia, um enorme desejo, uma vontade intraduzível concerta uma orquestração dolorosa e quase desesperada. E do alto da Cruz, em direitura a todas essas almas angustiosas, reboa, há vinte séculos, o poema da amargura: - “Sítio.”!


José Newton Alves de Sousa | 41 A sede de Cristo. A sede de Deus agonizante! E qual a agua, a água capaz de desalterar os lábios de Deus? Ah! A agua das almas que O procuram e não o encontram. As almas dos pagãos, as almas dos operários iludidos pelo comunismo, as almas de todos os perdidos e de todos os transviados. E para recolher esse líquido preciosíssimo que, corrompido no pecado, poderá purificar-se nos lábios amorosos de Cristo, há um vaso divino, “Arca da Aliança” e “Porta do ceu!,’ “Saúde dos enfermos” e “Refúgio dos pecadores” - a Virgem Imaculada, concebida sem pecado original. Bem haja a memória de D. João IV, do grande e inolvidável Monarca, que nos pôs debaixo da proteção maternal de Maria, sob aquela invocação que é a mais bela e a mais santa de quantas coroam a fronte bendita da Rainha da Paz, Senhora Nossa. Marquem, porém, estas soleníssimas comemorações tricentenárias o revigoramento da nossa vida interior e o início de constantes jornadas marianas em todos os bairros e pontos desta Capital. E isso — que é uma sugestão, e, mais do que uma sugestão, um dever de todos quanto amamos a SS. Virgem, sobretudo tendo em vista as circunstâncias atuais — consistiria na ampliação e consolidação daquilo que já se vem fazendo em algumas partes desta cidade: o ofício de N. S., cantado pelo povo, e entremeado de explicações da doutrina católica e do culto de Maria. Já anunciou a imprensa religiosa local o aparecimento de um novo livro desse grande apóstolo da devoção a Nossa Senhora, em terras baianas e brasileiras, Cônego Francisco de Sales Brasil. E o melhor é que essa publicação, cujo título é, já, uma garantia de vitória — “A salvação pelo Rosário” - virá acompanhada da distribuição gratuita, entre o povo, de rosários que, em avultada quantidade, serão confeccionados para esse fim. É a nos, principalmente, mocidade mariana, que cabe o desempenho de tão nobre missão. E não meçamos sacrifícios. Ouçamos o apelo desses três séculos de proteção marial com que a Divina Providência nos agraciou. E lembramo-nos de que não se reduz a um enfeite piedoso a Fita que pende dos nossos ombros. Ou nos decidimos a ser Marianos cem por cento, ou de nós se envergonhará a Virgem Imaculada. Ha insultos e perigos? Repitamos, como Santa Tereza, esse canto três vezes viril: - “Ou sofrer, ou morrer”! Congregados! Levemos Maria ao coração do povo. Deus o quer. A Pátria o exige. Sejamos dignos de ser chamados Marianos. Avante mil vezes. Em cada mão um rosário, em cada lábio uma prece, e o céu aberto em cada coração. SALVE MARIA!


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José Newton Alves de Sousa | 43 OFICINA DO ROSÁRIO Discurso pronunciado no Salão Nobre do Convento de São Raimundo, Bahia, na tarde de 05.04.1946, quando da inauguração da Oficina do Rosário.


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José Newton Alves de Sousa | 45 CAPÍTULO 5 OFICINA DO ROSÁRIO “Inaugurar-se-á, no 1º. sábado de abril, ás 6 horas da tarde, a Oficina do Santíssimo Rosário - Sede: Convento de São Raimundo. Não somente as pessoas que já se inscreveram, mas todos os devotos da santíssima Virgem estão convidados ao piedoso ato de tantas promessas”. Vi esta singela notícia na última página da “Semana Católica” do dia 31 de março p. passado. Não vi na Rua Chile, nem na Praça da Sé, nem no Largo do Teatro, nem na Av. Sete, nem em parte alguma da Bahia, faixas com letreiros chamando a atenção do povo. Não vi muros riscados, nem calçadas escritas, convidando a cidade para o ato. Não ouvi alto-falantes presos em carro, pelas ruas, pelas portas de fabricas “anunciando e garantindo” a chegada de traidores a serviço de outras pátrias. Mas li aquele suave convite lá na sexta página do nosso semanário que só tem seis páginas, mas seis páginas onde cabe um apelo carinhoso da Rainha do Sacratíssimo Rosário. E ouví, através de um telefone, a inconfundível voz do Reverendíssimo Cônego Francisco de Sales Brasil que, num pedido imperativo, me dizia: “Faça um discursinho amanhã, na inauguração da Oficina do Rosário”. E veio-me, então o pensamento de que, como seria outro o mundo, como seria outro o Brasil, como seria outra a Bahia, esta nossa querida Bahia, se ao invés desses emblemas alienígenas e agressivos que a gente vê pelas ruas e praças e, até em roupas femininas e gravatas de academóides palradores, víssemos, substituindo a foice, uma esfera de contas e em lugar do martelo, a Cruz da Redenção. E que melhor ainda seria se, ao invés de rubros caracteres formando nomes de traidores da Pátria e renegadores da Fé, lêssemos, em lindíssimas letras da cor do sereno e límpido céu da nossa terra, estas palavras que o ódio de Satanás não pode abafar em nossos corações. Salve Maria! Ave Maria!Rainha do Brasil! Oficina do Rosário!... Oficina da santificação popular. Oficina da libertação das almas simples. Oficina de cristianização dos bairros pobres. Oficina de abrir estradas para o céu. Oficina de reparação dos males sociais. Oficina de amor ardente a Maria. Oficina da vitoria de Deus. Umas contas, uma corrente, uma Cruz.


46 | Ad Jesum per Mariam Uma alma, um coração, uma prece. 0 Brasil, a Bahia Quantos bairros proletários, onde minguam a ins trução e a prática de Fé. Quantas famílias descristianizadas. Amores pro fanados. Promiscuidade horripilante. Preconceitos contra o Clero e a Igreja. Candomblés e feitiçarias. Espiritismo e mil e uma práticas sectárias. Núcleos vermelhos e imprensa corrutora. Pornografia generalizada e meretrício em expansão. Divorcio às portas. Centenas de brasileiros vendidos a Moscou. Estará tudo perdido? Não! Porque há salvação: “A salvação pelo rosário”. Rosário. Eis aí a arma. Meus amigos: Há vinte séculos, em todos os instantes, os homens colocam uma coroa de espinhos sobre a Cabeça sofredora de Jesus. Há vinte séculos, uma Cruz se ergue no Calvário, e o Filho de Deus redime o gênero humano. Aqui e agora, porém, não se ergue um Gólgota nem morre o Nazareno. Nasce um jardim e surge um Tabor. Nem vamos impor uma coroa de espinhos sobre uma cabeça dolorosa. Não. Vamos colher rosas no jardim de Maria e com elas formar uma coroa para a Cabeça do Rei Glorioso, no Tabor do Seu trinfo. Que mais bela coroa para Jesus que o Rosário da Virgem? Então mobilizemo-nos, homens, mulheres, crian ças, rapazes, moças, preparando-nos para a coroação do Rei. Para lutar pelo Rei. Para viver pelo Rei. Para morrer pelo Rei. Preparemo-nos. A coroação será após o combate em que sairá vencido o inimigo. 0 material bélico não faltará, porque não faltará a matéria prima, que são as Graças de Deus, as bênçãos de Maria e a generosidade dos fiéis. 0 rosário cabe em todas as mãos. Estridulou o toque de avançar. Obstáculo a transpor: a indiferença. Objetivo a conquistar: “A salvação, pelo Rosário”. AVE MARIA!


José Newton Alves de Sousa | 47 AS CC. MM. EM FACE DO NOSSO SÉCULO Discurso pronunciado no Gabinete Português de Leitura, da Bahia, em 18.05.1946,Dia Mundial do Congregado.


48 | Ad Jesum per Mariam


José Newton Alves de Sousa | 49 CAPÍTULO 6 AS CC. MM. EM FACE DO NOSSO SÉCULO CONGREGADOS A festa de hoje não tem o estigma das celebrações terrenas nem se limita à pequenês de uma região: Ela é, es_ sencialmente, espiritual e universal. E nesta dupla essencialidade está a significação toda de sua grandeza. É por isto que não estamos considerando brasileiros nem chineses, ianques nem germanos, indús nem portenhos, nas tão somente o Congregado Mariano, cavalheiro da Virgem, soldado da Igreja e cidadão do Céu. Entretanto, que grande e a pátria na conceituação mariana. Tomando-a nas suas proporções reais, amando-a estremecidamente, defendendo-a heroicamente, o Congregado Mariano, cristão e patriota, não a quer diminuída, não a consente explorada. E não a deseja corrupta, não a admite presa da voragem materialista. 0 Congregado Mariano tem a Pátria como a terra do seu berço e, mais do que isto, como um dom preciosíssimo de Deus, um tesouro inestimável, que merece ser respeitado e querido com amor, que chegue ao sacrifício e bravura, que chegue ao martírio. A celebração desta data universal não exclui, não pode excluir, portanto, os sentimentos patrióticos que ardem, e chamejam, e palpitam, e tremem, e cantam, nos corações de todos nós, brasileiros cem por cento, que não manchamos, nem mancharemos jamais, o Pavilhão Nacional, nem pomos a Pátria em subordinação aos imperialismos totalitários, sejam eles quais forem, venham das brumas germânicas, dos Alpes ou do inferno gelado das estepes; brasileiros cem por cento, que sempre, e sobretudo agora, estamos prontos para defender o Brasil das garras vermelhas e de todos os inimigos, internos e externos, que pretendem destruir o granito basilar de nossa nacionalidade, em que se talhou e engrandeceu o espírito do nosso povo, que deixará de ser brasileiro no dia em que deixar de ser cristão; brasileiros cem por cento, porque o que desejamos é marianizar a nação, e marianizar a nação é retemperar a fibra moral dos seus filhos no cadinho das virtudes tradicionais, é plasmar caracteres capazes de resistir à ambiência corrosiva de uma sociedade apodrecida no vício e na indecência, é crear personalidades que se superponham ao mediocrismo reinante, em que inexiste o destemor para a afirmação dos princípios supremos da Religião e da Pátria. Marianizar o Brasil, nos seus filhos todos, da infância à velhice, — eis o que desejamos e fazemos ressaltado nesta data mundial do Congregado, em que devemos meditar e pesar as responsabilidades e o papel das Congregações em face do nosso século. Atingido este ponto de compreensão, de que as Organizações Marianas não são nulas nem passivas diante da realidade atual, erga-


50 | Ad Jesum per Mariam mos nossos pensamentos à Virgem Imaculada, Rainha do Mundo e Padroeira do Brasil, para que a Sua indefectível proteção sustenha a onda de males que abalam o organismo nacional e nos conserve erguidos no ideal que nos alenta e conforta, a fim de que possamos sempre cantar, na pujança espiritualizadora da sua eloquência, o estribilho da vitória,: sim Pátria, a Fita Azul flamejara, por ti. CONGREGADOS MARIANQS Uma falsa compreensão das coisas tem, muitas vezes, procurado “deformar a verdadeira fisionomia das Congregações Marianas”. Mas ouçamos o Santo Padre Pio XII, na Carta Magna do Marianismo moderno, que é a Alocação por ele pronunciada em 21 de janeiro de 1945. ”Nós estamos bem longe — diz o Santo Padre — de conceber as CC.MM. como uma simples união de piedade tranquila e inoperosa, um simples refúgio contra os perigos que ameaçam as almas fracas, e ate mesmo uma simples liga de ação meramente exterior, febril porque artificial, e que não pode acender senão um fogo de palha, de devoção mais ou menos efêmera”. Isto quer dizer simplesmente que as CC.MM não perderam, nem perderão a sua classificação como “escolas de sanidade e apostolado”. E isto porque — diz o Papa — ”a piedade de um Congregado da Santíssima Virgem não pode ser uma piedade mesquinhamente interessada, a qual não vê na poderosíssima Mãe de Deus mais que a distribuidora de benefícios, sobretudo da ordem temporal, nem é uma devoção de seguro repouso, que não pensa senão em remover da própria vida a santa Cruz dos afãs, da luta, dos sofrimentos; nem é uma devoção sensível de doces consolações e de manifestações estusiásticas; nem mesmo, — por mais santa que possa ser — uma devoção exclusiva e demasiadamente preocupada com as próprias vantagens espirituais. Um Congregado, verdadeiro Filho de Maria, Cavaleiro da Virgem, não pode contentar-se com um simples serviço de honra. Deve, ao contrário, estar às ordens dela em tudo, deve tornar-se o guarda, o defensor do seu nome, das suas excelsas prerrogativas, da sua causa, levar a seus irmãos as graças e os celestes favores da Mãe comum de todos, combater sem tréguas sob o comando de Maria”. 0 Congregado Mariano - ajunta o Soberano Pontífice - “se alistou sob o estandarte de Maria com um compromisso perpétuo: não tem portanto o direito de entregar as armas por temor dos ataques e das perseguições; não pode, sem infidelidade à própria palavra, desertar e abandonar o seu posto de combate. 0 Congregado Mariano é, na concepção inspirada do Papa, “soldado da Igreja”, “o homem de hoje”, “católico de fato”. 0 SOLDADO DA IGREJA 0 Congregado deve estar consciente da gravidade do compromisso feito, em que prometeu “defender a Igreja de Jesus Cristo”. E, deixamos que mais uma vez fale o Santo Padre: “a Igreja o sabe e conta convosco, como pelo passado colocou suas esperanças nas gerações de Congregados que vos precederam. E a sua confiança nunca foi enganada... Em todas as lutas contra o contágio e a tirania dos erros, as Congregações Marianas combateram na linha de frente, com a palavra, com a pena, com a imprensa, na controvérsia, na polêmica, na apologia; com a ação, sustentando a coragem dos fiéis, socorrendo os confessores da fé, colaborando no árduo e odiado ministério dos sacerdotes católicos com


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