José Newton Alves de Sousa | 51 sua assistência e apoio, perseguindo a imoralidade pública, com métodos por vezes singulares, mas sempre enérgicos e eficazes; não raro até com a espada, nos confins da Cristandade, pela defesa da civilização, com Sobieski, Carlos de Lore- na, Eugênio de Sabóia e tantos outros chefes, todos Congregados, como o eram também centenas e centenas de seus soldados”. Se os nossos tempos reclamam homens completos, “que não temam caminhar pelas sendas tortuosas da atual condição econômica, tão mísera, e que estejam em condições de sustentar até mesmo aqueles que a Providência confiou a seus cuidados, homens... que, no exercício da própria profissão, detestam a mediocridade e miram aquela perfeição que a obra de reconstrução, depois de tão grande indigência, reclama de todos”, tem sobrada razão o Papa ao considerar o Congregado Mariano como “o homem de hoje”, já porque — são palavras ainda de Pio XII -— ”formar tais homens foi sempre o escopo das Congregações Marianas bem organizadas e ativas”. 0 Congregado ê também CATÓLICO DE FATO. 0 que vemos hoje em dia é uma avalancha enorme de homens de falsa fé e desfibrado caráter, muita vez judas mascarados, constituindo os piores inimigos da própria Igreja, de quem só aceitam a opa da Irmandade e a beleza externa de algumas cerimônias. Dizem-se católicos e seus nomes se lêem nas lojas maçônicas e nos centros espíritas; católicos, e são anti-clericais e divorcistas; católicos, e criticam o Papa; católicos, e vão aos candomblés; católicos, e atacam os Sacramentos; católicos, e não vão à Missa; católicos, e põem a política acima do Evangelho; católicos, e se lambusam no comunismo ateu. Ah! tais não são católicos. Porque católicos são aqueles “para quem seja a coisa mais natural confessar abertamente a própria fé, com as palavras e com os atos, toda vez que o reclamou a lei de Deus e o sentimento de honra cristã;- são aqueles que, “com o olhar fixo no ideal das virtudes cristãs,da pobreza, da santidade, conscientes dos sacrifícios que ele lhes impõe, tendam a esse ideal com todas as suas forças, na vida quotidiana, sempre direitos, sempre retos, sem que as tentações e as seduções consigam dobra-los”. São católicos assim, firmes e íntegros, que as Congregações procuram formar e plasmar. Na conturbada fase que vamos atravessando, as Congregações Marianas devem contribuir com um coeficiente elevado de valorosos católicos, que, por decência moral, esclarecida consciência e dever cristão, se filiem à Ação Católica, para aí, participando do apostolado hierárquico da Igreja, e através de Maria, arrastar o mundo todo para Cristo. E hoje, Marianos, Dia Mundial do Congregado, pesemos melhor as responsabilidades que nos tocam. E, assim fazendo, cresçamos nas virtudes que nos santificam e eternizam. Volvamos, pois, em primeiro lugar, para Deus o nosso pensamento, e Lhe digamos, cheios de fé e amor: • Senhor, aqui estamos, vossos servos fiéis,que Vos queremos como único Rei, por Quem corre nosso sangue, vibra nossa fé e bate o nosso coração. Depois, para Maria, nossa Mãe estremecida, e Lhe invoquemos a proteção infalível, prometendo-Lhe fidelidade até à morte. Depois, para o Santo Padre, que ainda é a grande voz universal, o Grande Chefe, maior que todos os outros grandes que só o poderão ser se com Cristo
52 | Ad Jesum per Mariam e Pedro; volvamos-Lhe o nosso pensamento, a Ele que, como nós, também é Mariano, há 51 anos Mariano, e Lhe digamos corajosamente, que somos dele e que estamos prontos para cumprir fielmente as suas determinações e executar as suas ordens. E depois para o Brasil, nação privilegiadamente mariana, repetindo-lhe o estribilho do triunfo: • Sim, Pátria, a Fita Azul tremulará por ti: E para a Bahia, que devemos transformar realmente em Bahia de Todos os Santos, em Bahia Mariana. E finalmente para nós mesmos, considerando que a Fita que ostentamos nos assinala Arautos do Divino Rei e Cavaleiros de Maria. Devemos ser perfeitos Marianos, nos moldes por que nos viu o Santo Padre. Se somos, verdadeiramente, soldados da Igreja, homens dos tempos novos, católicos de fato, então, Congregados, por que dormir ou cruzar os braços? Por que ceder ao inimigo terreno que é nosso? Sim, Congregados, se somos Filhos de Maria e Maria é nossa Mãe, então, não hã o que temer nem esperar: 0 Terço há-de abalar os corações mais empedernidos. 0 azul da nossa Fita há de expulsar o rubro da maldade eslava. E, através de Maria, o mundo voltará para a Paz, para a Luz, para a Gloria, para Deus. SALVE, MARIA!
José Newton Alves de Sousa | 53 0 BRASIL E 0 MARIANISMO Conferência pronunciada em 13.07.51, por ocasião do 1º. Congresso Mariano Assuncianista.
54 | Ad Jesum per Mariam
José Newton Alves de Sousa | 55 CAPÍTULO 7 0 BRASIL E 0 MARIANISMO I NTRODUÇÃO Procurarei desenvolver o tema que se me confiou — 0 Brasil e o Marianismo — dividindo-o nas partes seguintes: 1. Que é o Brasil? 2. Que e o Marianismo? 3. 0 Brasil e a SS. Virgem. 4. Atualidade das Congregações Marianas no Brasil. 5. A Assunção e a intensificação do Marianismo. 1a. Parte: QUE É 0 BRASIL? Responder a essa pergunta é abrir o mapa imenso da Pátria e passear a vista deslumbrada pelos vales e serras, rios e cachoeiras, planícies e enseadas, florestas e chapadões, dunas e lagoas, litoral e sertão, que compõem nossa paisagem física. É romper o seio nutriz da terra e fitar os tesouros fecundos de nosso subsolo. É erguer altivamente a frente e nos olhos admirados recolher a mensagem de um milhão de estrelas que palpitem na amplidão azul de um céu que a par de ser tão belo quis Deus fosse abençoado pela constelação magnífica do Cruzeiro do Sul, constelação que, mais do que um grupo de astros, é indicativo de Fé e o selo insubstituível de nossa civilização. Que é o Brasil? Responder a essa pergunta é percorrer povoação por povoação,cidade por cidade, capital por capital de quantas se espalham pelos 8.500.000 quilômetros quadrados que Deus nos concedeu para nossos trabalhos e sofrimentos, nosso viver e nosso morrer, nossa gran deza e nossa glória, ficando-nos a obrigação histórica e moral de os conservarmos íntegros e intangíveis, fortes e unos, garantidos pela nossa adesão cívica e consolidados pela nossa fraternidade cristã, blindados pela nossa Fé e respeitados em razão de nossa liberdade. Que é o Brasil? Responder a essa pergunta e folhear quatro séculos e meio de historia poscabralina e outros tantos antes de 1.500, historia que se desenvolveu no “Jardim de Europa à beira-mar plantado” e no centro-leste da América do Sul, constituindo uma só epopéia de afirmação cristã, cujas estanças, lusos e brasileiros, primeiramente aqueles, mas, depois, uns e outros, identificados na projeção histórica da mesma cultura, da mesma língua e da mesma crença, teriam
56 | Ad Jesum per Mariam sabido escrever, com sangue ou sem ele, mas sempre leais ao espírito fundamental de sua civilização medularmente latina e cristã. Que é o Brasil? Responder a esta pergunta é perquirir a galeria daqueles vultos culminantes que, da Descoberta aos nossos dias, na catequese e na agricultura, na mineração e no bandeirismo, nas artes e nas ciências, na língua e no Direito, na política e na cátedra, na oficina e no altar, na guerra e na paz — e por que não dizê-lo - nas Congregações e nas outras formas de Ação Católica vêm tecendo uma coroa de gloria imarcescível,de bravura indômita, de audácia invicta, para depor ao pé da Cruz, que é o coração da Pátria, como atestado de fidelidade histórica e filial amor. Marianos. Alteemos nossas bandeiras, vibremos nossos hinos, mostremos nossas fitas e distintivos, porque este é o nosso verdadeiro Brasil. Este e não o dos calvinistas. Este e não o dos calabares. Este e não o dos condenadores dos Bispos mártires. Este e não o dos expulsores dos Jesuítas. Este e não o dos corifeus de Augusto Comte. Este e não o dos empreiteiros da Rússia. Este e não o dos trampolineiros do divórcio. 2a. Parte: QUE É 0 MARIANISMO? Se ao falar de uma coisa da Terra, posto que sublime, qual é a Patria, a nossa alma vibra tanto, comove-se tanto, como não palpitar mais ainda, estremecer mais ainda, ouvindo falar do Marianismo, que é uma coisa do Céu? Do Céu, porque é uma escola de santidade. Do Céu, porque é um viveiro de apóstolos. Do Céu, porque é o espírito da Santíssima Virgem projetando-se misticamente, sobre a alma em prece de milhões de crianças, jovens e adultos, de ambos os sexos, os quais, piras de Deus, trazem perenemente aceso o fogo sagrado do Ad Jesum per Mariam. Do Céu, porque os Marianos deixam de lado, sobranceiros e resolutos, os falsos chefes, as falsas doutrinas, para ficarem com a Igreja e sua Hierarquia a cuja voz de ordem e verdade, assim respondem: - Presentes, a serviço da Rainha. Do Céu, finalmente, porque a Fita Azul, que os Congregados Marianos usam, mais do que um sinal de agremiação, é um ascensor que os soergue do espírito da Terra, para conserva-los na esfera da vida santificante, em união com Cristo e com a Igreja pelos Sacramentos, com o Papa, o Bispo, o Pároco e o Diretor pela obediência, ao próximo pelo apostolado,ao Céu pelo amor. Que é, porém, o Marianismo? É o espírito comum e substancial das Congregações e a união material delas.
José Newton Alves de Sousa | 57 Conforme se lê no artigo inicial do Título primeiro das Regras Comuns, ”As Congregações Marianas, instituídas pela Com panhia de Jesus e aprovadas pela Santa Sé, são associações religiosas que têm em vista fomentar nos seus membros uma ardentíssima devoção, reverência e amor filial para com a Bem-Aventurada Virgem Maria, e por esta devoção e pelo patrocínio de tão boa Mãe, tornar os fiéis, em nome dela reunidos, bons cristãos, que sinceramente se esforcem por santificar-se no seu estado, e se dêem deveras, quando a posição social lhes permitir, a salvar e santificar os outros e a defender a Igreja de Jesus Cristo dos ataques da impiedade”. Todo Congregado Mariano deve realizar em sua vida interna e externa a vivência integral dessas palavras que sintetizam o fim e a natureza das Congregações. Historicamente o Marianismo não tem apenas a con tinuidade próspera de quase quatro séculos de atividade vitalizada e vitalizante. A legitima-lo e glorificá-lo, tem os escritos de muitos Papas e as bênçãos, sempre renovadas e ampliadas, da Igreja de Deus. Tem o registro incontestável de milhares de obras sociais, culturais, ascéticas e de caridade. E, ainda mais, assiste-lhe o direito de apontar o Céu e dizer com santo orgulho. - Trinta Congregados canonizados ali estão, tra balhando outros sobre a Terra! Quereis mais um atestado da legitimidade e glória das Congregações Marianas? Aqui o tendes: São obras dos Jesuitas, posto que coisa comum da Igreja Universal. (Carta ao Prepósito Geral da Companhia de Jesus, R.Pe. J. B. Jansen, 15. 04.1950). Eu tenho um modo prático de aferir a ortodoxia ou não-ortodoxia de uma doutrina, de um conceito ou de uma pessoa. Pergunto: £ contra os Jesuítas? Se a resposta for positiva, digo logo: é falso, não serve. Os Jesuítas têm inimigos? As Congregações também os terão. Mas inimigos tais não abatem ou amortecem. Apenas aumentam as glórias de Maria e fazem suscitar mais soldados de Inácio e ombros novos para a Fita Azul. 21 de Janeiro de 1945 foi uma data de júbilo para todo o mundo católico, especialmente para os Marianos. Nesse dia, S.S. Pio XII, que merece ser chamado “0 Papa das Congregações Marianas”, celebrava o 50º. aniversário de sua inscrição como Congregado. As palavras que então proferiu às Congregações de Roma, reunidas em solene audiência, foram uma confirmação eloqüentíssima e superiormente autorizada da essência mesma de nossas Regras, “alma das Congregações” (Do manual). Foram uma confirmação e também um louvor transformados em “palavra de ordem” para os católicos dos tempos presentes. “Na realidade — diz o Santo Padre — essas Regras não lograram senão exprimir em termos precisos e como que “codificar” a história e a prática constante das Congregações Marianas, providencialmente instituídas pela tão benemérita Companhia de Jesus e tantas vezes aprovadas e altamente louvadas pela Santa Sé”. Declara o Sumo Pontífice, a seguir, que não concebe as Congregações Marianas “como uma simples união de piedade tranqüila e inoperante, um simples
58 | Ad Jesum per Mariam refúgio contra os perigos que ameaçam as almas fracas, e até mesmo uma simples liga de ação meramente exterior, febril porque artificial, e que não pode suscitar e acender senão um fogo de palha, de duração mais ou menos efêmera”. Para o S. Padre, as Congregações Marianas são escolas de formação completa, cujos membros, firmes no compromisso que assumiram com a Virgem Santíssima, procuram o aperfeiçoamento individual por receptação formativa, e o social, por doação apostólica. Reconhecendo, comovido, a atualidade dessas milícias de Nossa Senhora, não hesita o Santo Padre em dizer: “Queremos mesmo afirmar que o modelo de católico qual a Congregação Mariana desde a sua origem se empenhou em plasmar, jamais talvez correspondeu tanto às necessidades e contingências de cada época como agora, e que talvez nenhum tempo o exigisse tão insistentemente como o nosso”. Em outros documentos do mesmo augusto Pontífice, principalmente na gloriosa Bis Saeculari e na Carta que, a 15 de abril de 1950, dirigiu ao Prepósito Geral da Companhia de Jesus, nota-se a insistência em considerar e exaltar a eficácia e valor intrínsecos e atuais das Congregações Marianas às quais “não se pode negar nenhuma das notas características de que a A. C. esta adornada”. Ser “de pleno direito Ação Católica sob o manto de Maria” — eis, em síntese, a aspiração, o ideal, o programa, a marca, a história e a plenitude real do Marianismo. 3a. Parte: 0 BRASIL E A SS.VIRGEM 0 nosso século está fundamente marcado de Maria lidade. Todas as pátrias, ainda as que se põem sob o império dos inimigos de Deus, recebem, em larga cópia, as graças e favores da Virgem Mãe. Não podia o Brasil privar-se da assistência d’ Aquela que é “a bendita entre todas as mulheres”. 0 culto de Nossa Senhora, herdou-o o Brasil de Portugal, que é chamado “Terra de Santa Maria”. “Saindo da ermida de Belém — escreve E. Vilhena de Morais, em “A padroeira do Brasil” - págs. 12-13 — depois de ouvirem missa, os lusos argonautas que vieram pela vez primeira aportar às nossas plagas longínquas, não trouxeram consigo, tão somente, na bandeira branca da esquadra, a cruz vermelha da Ordem de Cristo — insígnia da sua fé — senão também um retábulo de Nossa Senhora da Piedade, diante do qual celebraram, decerto, o santo sacrifício da missa, e, juntamente uma imagem de “Nossa Senhora da Esperança”, símbolo da fé humana e religiosa que - observa o autor - trazia Pedro Álvares no êxito da sua missão”. De Piedade e de Esperança, foi, assim, o prefácio do livro místico da devoção marial do Brasil, que continua viva, pujante, arrebatando as almas para o alto — per Mariam ad Jesum. E essa devoção se multiplicou. Força, é nosso amparo e escudo. Sol, é nossa luz e energia. Vida, é nosso sustento e vigor. Bússola, é nosso guia e caminho. Faz construir templos e santifica os lares. Inspiração, quase não houve poeta, entre nós, que em candentes estrofes, não A cantasse, nem escritor, que, em páginas admiráveis, não A fizesse exaltada. A música e a pintura brasileiras trazem, não raro, o sinete da devoção a N. Senhora. Nosso folclore é rico em piedade mariana.
José Newton Alves de Sousa | 59 Cidades, distritos, acidentes geográficos têm o nome da Soberana do Céu e da Terra. Numerosos são os que, entre nós, por motivo de amor e devoção a Maria, inserem, no seu, o nome bendito da Mãe de Deus, sob uma de suas várias invocações. Tais fatos, e numerosos outros, que para não ser mais longo deixo de citar, atestam, plenamente, a profunda devoção do Brasil a Nossa Senhora, que, do alto do Seu trono, derrama sobre nós, sem cessar, a riqueza infinita das graças de Deus, de que é Medianeira. Prova irrefutável da devoção mariana do Brasil e da assistência maternal de Maria sobre nossa Pátria está na existência das Congregações Marianas que, em todos os Estados da Federação, constituem núcleos vivos e dinâmicos de interioridade eucarística e apostolado social e religioso. Reserva-se às Congregações Marianas um grande papel na vida cristã do Brasil. A alma piedosa de nossa gente acena para a Virgem Santíssima na doce poesia de invocações como estas: Nossa Senhora do Amparo, da Luz, da Penha, do Carmo, do ”Ó”, do Livramento, da Gloria, da Piedade, dos Prazeres, da Esperança, da Guia, dos Navegantes, Aparecida, das Maravilhas. E como se fora a oração - síntese da nacionalidade, não se contém e exclama: Nossa Senhora do Brasil! Pois bem, Senhores: Nós, Congregados Marianos brasileiros, pelo nosso exemplo e pelos nossos trabalhos, pela nossa Fé e pelo nosso desprendimento, pela nossa Fita e pelo nosso apostolado, pela nossa dignidade e pela nossa honra, queremos, firmemente, valorosamente, não apenas invocar Nossa Senhora do Brasil, mas também, e sobretudo, erguer aos Céus e ao mundo, este brado triunfal — Brasil de Nossa Senhora! 4a. Parte: ATUALIDADE DAS CONGREGAÇÕES MARIANAS NO BRASIL Para que o Brasil, na expressão total de seus fi lhos, venha a ser realmente de Nossa Senhora, significando isto a doação plena dos brasileiros, individualmente, e em coletividade, à S.S. Virgem, não é pequeno o trabalho a fazer. De fato, os agentes de Satanás, os antimarianismos de toda espécie trabalham, incansavelmente, a consciência de nosso povo. Durante nossa evolução histórica, os inimigos da verdade estiveram sempre presentes entre nós, no exercício de sua missão descristianizadora. Mas a Pátria, batizada ao pé da Cruz da Primeira Missa, abençoada pelo Cruzeiro do firmamento e robustecida pela civilização que um povo altivamente católico lhe transmitiu, todas as vezes a esses inimigos resistiu e não raro o fez sulcada de heróismo. A presença dos adversários era como estímulo à Fe, e a cada ação inimiga respondia, em brava reação, a nossa honra católica. Por esse motivo, a solércia e a indignação dos contrários à Fé cresceram. Novos planos foram arquitetados. De ver-se-ia minar o terreno sagrado da Religião e do Civismo, e, para tanto, bastaria aos inimigos apoderarem-se das escolas pelo laicismo, corromper a família pelos maus costumes e as inteligências, pela má imprensa. A obra tremenda ganhou, assim, diabolicamente, terreno e mais terreno e a culpa disso endereça-se, em grande parte, a muitos dos nossos, que se conservaram na apatia e na inércia, cegos ã realidade, surdos à voz da consciência.
60 | Ad Jesum per Mariam Hodiernamente, a revista imoral, o romance dele tério, o rádio indecoroso, o cinema corrutor, a moda despudorada, a academia ateista, a praia de nudismo, o comércio inconsciente, a política insincera, numa palavra, a teoria e prática do mais desenfreado liberalismo serve de pasto abundante e propício terreno ao imperialismo sectário assalariado e anti-brasileiro, ao espiritismo pervertedor, às práticas anti-familiares, às investidas onímodas do comunismo sem Deus. É o outro Brasil, o Brasil oposto àquele primeiro que vos apresentei. Ainda há, Senhores, os dois Brasis. 0 verdadeiro, que é o nosso, e o falso, que é o do inimigo. Esmagar a serpente, esmagar o falso Brasil, fa-lo-á Nossa Senhora, “Onipotência Suplicante”. Vale aqui lembrada a frase célebre do Cardeal Leme, nunca tão oportuna como agora: “A Fita Azul salvará o Brasil”. Sim. A Fita Azul que Pio XII ostenta, que o Cardeal Câmara ostenta, que D. Augusto ostenta, que D. Antônio ostenta, que os sacerdotes ostentam, que nós ostentamos. E Fita Azul, aqui, tomada em sentido translato e supremo: o do Ad Jesum per Mariam. Diante disso é que, de modo especial, cresce a responsabilidade daqueles que se consagraram á Santíssima Virgem, marcando-se com o nobre sinal da Fita Azul. Daí a atualidade das Congregações Marianas no Brasil. Que é um Congregado Mariano? Que deve ser? Na mencionada alocução que o Santo Padre Pio XII dirigiu às Congregações de Roma, em 21 de janeiro de 1945, encontra-se magnificamente definido o Congregado: “Soldado da Igreja, “o homem” de hoje, católico de fato”. Sim, Marianos. Soldados, devemos, antes de tudo, obedecer, incondicionalmente, à Igreja. Depois, defendê-la, como consequência do nosso obedecer e do compromisso que assumimos aos nos consagrarmos à S.S. Virgem. Atuais, atualíssimos, devemos ser, como diz o Papa, “homens verdadeiros, solidamente retemperados e prontos para a ação, para os quais é um dever sagrado não descuidar nada do que possa aproveitar ao seu aperfeiçoamento... Homens que não temam caminhar pelas sendas ásperas da atual condição econômica... Homens que, no exercício da sua profissão, detestam a mediocridade e mirem aquela perfeição que a obra de reconstrução, depois de tão grande indigência, reclama de todos” (Alocução de 21.04.1945). Por fim, que espécie de católicos devemos ser? Responde o Papa: “Daqueles que, com o olhar fito no ideal das virtudes cristãs, da pureza, da santidade, conscientes dos sacrifícios que o tempo lhes impõe, tendam a esse ideal com todas as suas forças, na vida quotidiana, sempre direitos, sempre retos, sem que as tentações e as seduções consigam dobrá-los: Homens verdadeiros, firmes e íntegros”. Não quis o Chefe da Igreja apenas dizer o que é o Congregado. Quis
José Newton Alves de Sousa | 61 também, com energia e autoridade, dar sua voz de comando, o que fez com estas palavras, que, para honra nossa e para a salvação da Pátria, não recusaremos: “com a proteção de Maria, deveis ganhar para Cristo os homens de hoje; deveis combater pela verdade com as armas da verdade; e para isto tendes obrigação de saber também manejá-las”. Congregados, irmãos meus. Podemos, resolutos, dizer aos nossos chefes espirituais: - Estamos a serviço da Rainha. Pela Pátria lutaremos e a Igreja contará conosco. 5a. Parte: A ASSUNÇÃO E A INTENSIFICAÇÃO DO MARIANISMO 0 título desta última parte contém, em potencial,os objetivos supremos do Congresso ora em realização. De fato, não estamos aqui, simplesmente, para celebrar a definição e proclamação do dogma da Assunção de Maria ao Céu, mas também para um exame de consciência, uma tomada de posição e uma batalha a travar. Contemplando as glorias todas de Maria Santíssima, não sabemos qual a maior, qual a suprema. Parece mesmo que o próprio átomo, minúsculo, imperceptível, em contacto com aquele olhar terno de Mãe, aquele coração quente de amor, aquela inteligência lúcida de saber, aquelas mãos cheias de graças, da Mãe bendita de Deus, toma as proporções do infinito. É que em Maria tudo é bênção, tudo é graça, tudo é luz, luz, graça e benção irradiantes, que não se enclausuram em si mesmas, pois frutos de Deus, que é Caridade, tendem sobrenaturalmente à conquista e santificação das almas. E é por isto que os Congregados, filhos da mesma augusta Mãe de Deus, doando-se a Nossa Senhora, querem, como complemento vital e necessário dessa doação, doar-se apostólicamente ao próximo, ao irmão. Foram as seguintes as solenes palavras com que o Santo Padre Pio XII, pela Constituição Apostólica Munificentissimus Deus 9 definiu e proclamou dogma de fé a Assunção de Nossa Senhora: “A Imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria,terminando o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à gloria celestial”. Na noite de nossos dias essas palavras, que têm a marca da infalibilidade, brilham com fulgor intenso, e tamanha abundância de luz projeta-se especialmente sobre aqueles que, trazendo aos ombros a Fita Azul, desejam transformar-se em refletores dessa mesma luz, a fim de que, cheios dela, possam iluminar os meandros trágicos e enoitecidos do mundo contemporâneo. E o mundo se fará em luz, porque cada Congregado, mais do que um refletor, é também um facho vivo do templo de Deus. E não podemos fugir à condição honrosíssima de ser fachos de Deus iluminando a Terra. Ao recebermos a Fita, fomos tomados pelas mãos terníssimas de Maria, e nesse momento se realizou também a nossa assunção ao seio materno da Virgem Imaculada. Galgada tal culminância, não podemos mais descer,caríssimos Congregados. Estamos presos pela Fita Azul, amarrados a Nossa Senhora por laços de predileção. E, com a nossa, temos de promover a assunção do mundo, e, de
62 | Ad Jesum per Mariam modo particular, a do Brasil. Por este motivo disse, ainda há pouco, que estamos aqui, não somente para celebrar a definição e proclamação do dogma da Assunção de Maria ao Céu, mas, também, para um exame de consciência, uma tomada de posição e uma batalha a travar. Nosso exame de consciência. Grande, imensa, a dignidade de Filho de Maria. Será que a estamos merecendo? Cumprimos bem nossos deveres? Estudamos regularmente nossas Regras? Frequentamos nossas reuniões? Somos assíduos aos Sacramentos? Obedecemos a nossos Superiores? Combatemos a Maçonaria e as outras sociedades secretas? Ajudamos a má imprensa, comprando ou fazendo introduzir em nossos lares as publicações imorais e heréticas? Auxiliamos, ouvindo programas indecorosos, a radiodifusão materialista? Contribuímos, com nossos votos, para a eleição de comunistas, protestantes, espíritas ou ateus? Falamos dos sacerdotes sem nos lembrar de rezar uma Ave Maria por eles? Temos causado diver gências entre as Congregações, quebrando-lhes, assim, a unidade fraterna? Temos feito barreira à Ação Católica ou lhe devotado inveja ou despeito? Temos estudado a Doutrina Cristã? Temos, fazendo a nossa, procurado fazer também a assunção espiritual dos outros? Temos sido Congregados cem por cento? Eis aí nosso exame de consciência. Essas perguntas devem ir diretamente aos nossos corações. Devem calar em nossas almas e servir de matéria para nosso meditar. E se a Fita Azul, como castigo de nossa Mãe San tíssima, estiver pesando sobre nossos ombros, prendendo-nos à Terra, por não sabermos ser dignos, então, ou a devolvamos ao Diretor, porque de fato a não queremos, ou,então, transformemo-la em arrependimento, em contrição, em bom propósito, em reforma interior e exterior, para que, quanto antes, sejamos plenamente assuntos ao seio bendito de Maria. Nossa tomada de posição Nossa tomada de posição tem dois sentidos: um interno e outro externo. 0 interno diz respeito à Igreja Militante, o externo, ao mundo profano. Nosso lugar, no primeiro caso, como no segundo, está indicado em nossas mesmas Regras e na Bi Saeculari e outros escritos dos Papas. Dentro da Igreja, temos de ser escravos do Senhor, realizando as palavras de Maria Santíssima na Anunciação. Dentro do mundo, temos de ser apóstolos. Como escravos do Senhor, somente uma coisa pre cisamos fazer - ser santos, viver Maria, para irmos a Deus, per Mariam ad Jesum. É a nossa assunção. Como apóstolos, apenas uma coisa também precisamos fazer - continuar a ser santos. Pois não se concebe santidade fechada e egoísta. Porque santidade é vida no amor de Deus, e vida é atividade, e amor é expansão. Daí não terem razão os que pretendiam devêramos restringir-nos a meras associações de piedade individual. Não, seria isso a negação da piedade. Devemos ser santos, queremos ser santos e queremos que os outros o sejam. Queremos poder dizer um dia a Nossa Senhora: - Vede, Mãe, esses milhares de adolescentes e jovens, esses milhares de
José Newton Alves de Sousa | 63 irmãos que contemplais, nós os conquistamos pela Fita Azul. Se Vós realizastes a nossa assunção ao vosso seio, nós Vos imitamos, tomando-os da terra e trazendo-os para Vós. Uma batalha a travar A batalha a travar é a intensificação do Marianismo no Brasil. “Uma paróquia sem congregação” - disse, certa vez, o grande Cardeal Leme - “é como um jardim sem flores ou uma árvore sem ninho”. Somos muitos no Brasil? Não importa. Ainda que fôssemos noventa e nove por cento da população, estaríamos no dever de conquistar a parte restante. Sempre mais, novos ombros para a Fita Azul, novas assunções para Maria, eis nosso objetivo. Trata-se de uma batalha, pois vivemos no dinamismo da luta, robustecidos pela oração. E se é luta, não nos faltam os generais, e generais da estirpe do Pe. Afonso Rodrigues, do Pe. Luis Gonzaga Mariz, dos Pes. Borges e Mariano Pinho. “Recuar nunca - ouvi uma vez aqui - mas avançar sempre”. Que armas, porém, usar? Ei-las: A Fita Azul como escudo. E amparados por ela,a prece, farda do cristão; a castidade, característica do Congregado; a obediência, trincheira da Fé; a humildade, garantia da vitoria; a união, reforço das tropas; a perseverança, fraqueza do inimigo; a Caridade, ambiente de luta. Nossa bandeira, a Cruz. Nossa Rainha, Maria; nosso Rei, Jesus. Objetivo - a marianizaçao do mundo, especialmente do Brasil. Terminemos, formulando as seguintes conclusões: A - De ordem moral: la. - Façamos um exame de consciência. Expulsemos de nossas almas o que é indigno de um Filho de Maria. Purifiquemonos pela penitência. Instalemos em nós a santidade. 2a. - Ouçamos a voz do Papa. Tomemos posição, dentro da Igreja e no mundo, como soldados de Cristo a serviço da Rainha; numa palavra: permaneçamos em santidade. 3a. - Homenageemos a definição e proclamação do dogma da Assunção, procurando levar o mundo, principalmente o Brasil, para o alto, para a Igreja, para Cristo, através de Maria, vivendo a santidade. B - De ordem prática: la. - Realizar, com a possível frequência, concentrações marianas regionais. 2a. - Promover o mais vivo intercâmbio entre as Congregações Marianas de todo o Estado. 3a. - Fundar novas Congregações, atendendo-se, quanto convenha, ao critério da especialização. Bahia, 13 de julho de 1951.
64 | Ad Jesum per Mariam
José Newton Alves de Sousa | 65 SAUDAÇÃO A PIO XII
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José Newton Alves de Sousa | 67 CAPÍTULO 8 SAUDAÇÃO A PIO XII É na Caridade, é no Amor que esta saudação se fundamenta, quer para exaltar o Pontífice reinante, Pai, Mestre e Chefe, quer para glorificar a Igreja do Silêncio, jardim de suplício, por um lado, mas forja de bravos e viveiro de santos, por outro. Santíssimo Padre: Há poucos dias, quando ainda as nossas cidades, ao longo de suas ruas, vibravam à cadência dos passos marciais e os ventos levavam aos ignotos e perdidos confins da Pátria a sonoridade dos hinos cívicos, eu ouvi uma voz soberana, firme, clara, sábia e inconfundível. Éreis vós, Santíssimo Padre, quem assim falava. E a quem faláveis? A nós, brasileiros. E em que língua? Na “Última flor do Lácio, inculta e bela”. Era a 7 de Setembro, data duplamente significativa para nós: a) Dia da Pátria; b) Dia de nossa Padroeira. E a certa altura, Santíssimo Padre, afirmastes que as Congregações Marianas são “vergéis de piedade santificante e apostólica”. Nós, Congregados, vos devemos a nossa Carta Magna, a Bis Saeculari. A Bis Saeculari e todos os outros documentes com que nos tendes distinguido, Congregado Mariano que sois, o maior de toda a terra. Não vou historiar vossa vida. Não dissertarei sobre o que tendes sido, como Chefe Supremo da Igreja, em todo o vosso incomparável e fecundo pontificado. Bem sei que tendes falado aos homens sobre as mais importantes questões, e os mais relevantes problemas da vida moderna; que tendes sido a única luz enextinguível entre os clarões da civilização contemporânea; que tendes sido o único porto seguro no encapelado mar da vida hodierna. Bem sei que resumis o que há de mais elevado e puro na Civilização Cristã; que vossa cultura (legítima cultura e não aparência de saber) se irmana a uma profunda santidade de vida, pois sois isto: um santo!Um santo vivendo entre nós, um santo abençoando o mundo, um santo orientando os homens, um santo pensando feridas, um santo combatendo guerras, um santo canonizando outros santos, e a nossa piedade filial, a nossa piedade de Congregados refulge na esperança de um dia podermos, em nossas orações, invocar S. Pio XII. Santíssimo Padre: Aqui estou para vos saudar (e faço-o na augusta pessoa do Exmo. Sr. Bispo
68 | Ad Jesum per Mariam Auxiliar)1 , mas não pretendo, para exaltar-vos, enumerar a totalidade de vossos títulos e méritos. Que outros, nesta ou em diversa oportunidade, façam realçar os esplendores de vossa pessoa, de vossa vida e de vossa glória; glória, vida e pessoa nas quais todas as grandezas essenciais do homem fizeram morada; morada que as grandezas do céu coroam. Quero saudar-vos, hoje, simplesmente como Papa Mariano, Papa da Assunção, Papa da Bis Saeculari, Papa das Congregações, Papa do Ano Marial, Papa Congregado, Pontífice de Nossa Senhora. E saúdo-vos em nome deste Congresso, o primeiro, no gênero, a realizar-se na Boa Viagem; primeiro, porque outros virão. Saúdo-vos em nome deste Congresso feito de sacrifício e pobreza, de abnegação, de idealismo, mas sobretudo de fé, de confiança, de certeza de que Maria esteve, está e estará conosco, pois é para a gloria d’Ela que tudo isto se projetou e se realiza. Recebei, Santíssimo Padre, o Salve Maria! e o Salve Pio XII do 1º. Congresso Mariano Paroquial da Boa Viagem. E saudando-vos, Santíssimo Padre, saúdo, em vós, a Igreja do Silêncio. Ah! a literatura especializada não diz tudo. 0 cinema fica ainda distante da realidade. Seria necessário estar presente corporalmente para avaliar, com exatidão, os sofrimentos, as angústias, a tragédia, gloriosa tragédia da Cruz nos países onde o poder do mal fez calar, à força, a voz do púlpitos, mas não conseguiu paralizar os corações pulsando ao ritmo do Evangelho Igreja do Silêncio! Três palavras que dizem tudo. Não! A Igreja não pode calar! A ordem recebida foi esta: IDE E PREGAI 0 EVANGELHO A TODOS OS POVOS... E Quem deu a ordem foi Cristo. E Cristo venceu o mundo e a morte. Fazer calar a Igreja: • passa o cortejo dos cardeais, arcebispos, bispos, sacerdotes, religiosos... • passa o cortejo dos leigos católicos... São mais do outro mundo do que deste. E, entre eles, como não os distinguir? - ei-los firmes, nobres, belos no seu porte heróico, na intrepidez, na bravura, na morte redentora... Congregados Marianos da Igreja do Silêncio! Os sinos... a voz dos sinos... “coração da aldeia”, alma das cidades, vocativos de Deus! A melodia dos sinos... Não! A Igreja não pode calar. A Igreja do Silêncio é algo de passageiro, tendo, contudo, o mérito de robustecer a crença e a vida religiosa dos povos. A Caridade nos une estreitamente à Igreja do Silêncio e o sangue de seus mártires retempera o nosso. A Igreja do Silêncio! Que advertência! Que prédica! A eloquência do Silêncio! Silêncio que fala, que fala! As vozes do Silêncio... despertando-nos de nossa letargia, chamando-nos a prestar contas de nossa condição de Católicos e Congregados Marianos, convocando-nos para a luta, por Deus e pela Pátria! A Igreja é imortal, mas a Igreja sofre. E Vós sofreis com Ela, Santíssimo Padre. 1. S. Excia Rvdma. Dom Antônio de Mendonça Monteiro.
José Newton Alves de Sousa | 69 E convosco,nesse martírio, sofremos solidariamente nós. E todos que aqui nos encontramos, queremos, neste momento, tomar posição de sentido, para ouvir e por em prática as vossas palavras, os vossos apelos, as vossas ordens. Nós nos unimos às dores e perseguições dos nossos irmãos que padecem sob o rigor dos novos hunos, que tanto abusam da liberdade que Deus lhes deu! Nós nos reunimos a todos eles, e nos prostramos a vossos pés, obedientes, submissos, respeitosos, a fim de receber vossa bênção, de Pai e Pastor. Bênção que vem do Céu, através de vosso coração, cujo calor sentimos grande, não maior, porém, que o amor que vos consagramos e dedicamos. Bahia, 11 de setembro de 1954.
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José Newton Alves de Sousa | 71 AOS CONGREGADOS MARIANOS DA BAHIA Alocução aos Congregados Marianos da C.M. de N.S. do Perpétuo Socorro e S. Luís de Gonzaga, da Matriz da Boa Viagem, em preparação ao 2º Congresso Mariano daquela freguezia.
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José Newton Alves de Sousa | 73 CAPÍTULO 9 AOS CONGREGADOS MARIANOS DA BAHIA Pio XII, o Grande, gloriosamente reinante, em sua memorável Bis Saeculari e em outros luminosos documentos,tem palavras singularmente eloquentes, traçando o perfil espiritual do Congregado Mariano e a nobre e oportuna missão que a este compete na civilização contemporânea. Tem-se dito e repetido, fazendo eco ao inspirado pensamento de São Luís Maria Grignon de Monfort, que de Nossa Senhora é o nosso século, o qual prepara, assim, pela abundância da vida marial, a plena vitória do Rei Imortal dos séculos. Aparições, congressos, definição de dogma, os mais altos acontecimentos religiosos do mundo são marcados pela presença visível ou invisível da Virgem Santíssima. Por parte desta, há uma como “insistência” no sentido da reconquista do mundo para Deus. Ainda é de hoje a mensagem de Fátima, e a notícia de numerosos videntes e coisa que a crônica religiosa registra com frequência. No tocante às Congregações Marianas, não e possível por em dúvida o florescimento e a expansão que as caracterizam em toda parte. A melhor definição que se lhes deu á sobejamente conhecida: ”São escolas de santidade e de apostolado”. Pio XII nelas reconhece e exalta as verdadeiras notas da Ação Católica, e quando traçou, com mão de Pai e Mestre, a fisionomia do genuíno Congregado, fez realçar a apostolicidade que o deve gerir, apostolicidade decorrente da vida interior superabundantemente enriquecida pela assistência e imitação de Nossa Senhora. Santificando o indivíduo e o grupo, as Congregações Marianas são faróis da fé acessos em meio da tormenta materialista do nosso tempo, e rochedo contra o qual se esboroam as pretensões do inimigo. Onde existe uma Congregação pautada pelo teor e retilineidade das Regras do Manual, a Igreja está viva em cada membro. A união afetiva e efetiva de todas as Congregações é intento e obra que se deve louvar, querer e realizar, máxime se se tem em vista a tragédia moral dos nossos dias. Congregação exprime etimologicamente reunião. Congregado dispersa e Congregação “isolada” não mereceriam tais nomes. Há dois anos passados, a C.M. de N.S. do Perpétuo Socorro promoveu o primeiro Congresso Mariano Paroquial da Boa Viagem, ocasião em que um novo alento se imprimiu à vida mariana local. De 6 a 9 de setembro próximo vindouro, novo congresso ali será realizado. Três grandes homenagens serão prestadas: a Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, pelo transcurso
74 | Ad Jesum per Mariam do 4º. centenário de sua morte; ao Santo Padre Pio XII e ao Emmo. Cardeal da Silva, pela celebração de seu octogésimo aniversário natalício. A Congregação promotora está visitando, em propaganda, todas as suas co-irmãs. É seu intuito congregar, na Boa Viagem, todos os Filhos e Filhas de Maria da Capital, e mesmo do interior, se estes quiserem dar-nos a honra de sua presença. Já se acham à venda as carteiras e logo estarão prontos os hinários e outros objetos de praxe em tais certames. Mais uma vez, a Santíssima Virgem triunfará na Bahia. A postos, pois, Congregados, unidos e firmes, fervo rosos e ativos, em prol do 2º. Congresso Mariano Paroquial da Boa Viagem.
José Newton Alves de Sousa | 75 AS DUAS BAHIAS Discurso pronunciado em 15.11.1954, na Concentração Mariana realizada no Largo dos Mares.
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José Newton Alves de Sousa | 77 CAPÍTULO 10 DUAS BAHIAS MARIANOS DA BAHIA Nesta tarde histórica em que nos concentramos em frente à Matriz dos Mares, templo augusto onde a perfeição arquitetônica afina com o desvelo dos que procuram reparar, lágrimas nos olhos e joelhos em terra, a ofensa que se fez a Deus, o crime de profanação que sacrílegas mãos perpetraram,nesta tarde histórica, a Bahia verdadeira está cantando as glorias imarcescíveis da Virgem Imaculada. A Bahia verdadeira, sim, e não a outra, aquela que traiu a nossa unidade espiritual e se desseivou da essência cristã. Porque há duas Bahias: a que está aqui conosco rezando, e a falsa. Uma, que recebeu, no beijo das caravelas, o influxo gestante da Cruz; outra, que trocou a Cruz pela foice e o martelo, com que pretende fazer em pedaços a mesma Cruz, que é o estandarte universal da Liberdade. Uma, que aponta, no agudo das torres de suas igrejas, o sentido ascensional da brasilidade; outra, que, nas profundezas abissais do materialismo, como que enlameia a própria dignidade humana. Uma, que se firmou, inabalavelmente, na rocha indestrutível da catolicidade; outra, que assentou alicerces na areia movediça de ideologias e crendices exóticas. Uma, que se iluminou da Fé indivisível e universal; outra, que se embriagou das fé-mirins ou da falta de Fé. Uma, que continuou escudada nos princípios formadores da nossa nacionalidade; outra, que importou esquemas ideológicos vasados nas mais brutais e repelentes concepções. Uma, que povoa os templos; outra, que profana os sacrários. Uma, que abençoa os lares; outra, que destrói a família. Uma, que junta as mãos e adora Deus; outra, que cerra os punhos e prega o ateísmo militante. Uma, que dignifica o nosso passado; outra, que renega a nossa historia. Uma, Cidade do Salvador; outra. Cidade de Satanás. Eis aí as duas Bahias: a verdadeira e a falsa. Nesta tarde histórica - ó Senhor, nos To agradecemos - nesta tarde histórica, aqui conosco se concentra a Bahia verdadeira e a Verdadeira Bahia. A nossa Fita Azul, neste momento crítico da vida humana, permanece como sentinela vigilante e guarda defensiva da Cidade de Deus. Prontos e valorosos, a todo instante, os Marianos da Bahia reafirmamos, nesta hora solene e grave, a realeza de Maria Santíssima, sob e por cuja ban-
78 | Ad Jesum per Mariam deira lutamos, a fim de que o Brasil, das Guianas às coxilhas e dos Andes ao Atlântico, seja um só organismo cristão, sem carências nem avarias, pelo qual circule, esplêndida, a vitalidade evangélica. Marianos! Estamos fora e acima das competições partidárias. A nossa política é Cristo. A nossa plataforma é Maria. 0 nosso Rei é eterno e o nosso regime é o da Verdade, da Justiça e do Amor. 0 que desejamos é que se consolide, em todo o mundo, o Reinado Integral de N.S. Jesus Cristo, através da Virgem Imaculada. Cristo venceu o mundo, no passado, no presente e no futuro. Ainda um ano não se passou que, da Capital do Catolicismo, a voz esclarecida e inspirada do Pai da Cristandade, Supremo Comandante, na Terra, das hostes de Cristo Rei, Pio XII, aquela voz inspirada, pronunciou as seguintes palavras, por ocasião do quinquagésimo aniversário de inscrição de S. Santidade na Congregação Mariana. “0 fiel Congregado se alistou sob o estandarte de Maria com um compromisso perpétuo: não tem portanto o direito de entregar as armas por temor dos ataques e das perseguições; não pode, sem infidelidade à própria palavra, desertar e abandonar seu posto de combate e de honra”. E prossegue o grande Pontífice, falando diretamente a milhares de Congregados a seus pés reunidos: “Vós vos comprometestes a defender a Igreja de Jesus Cristo. A Igreja o sabe e conta convosco, como pelo passado colocou suas esperanças nas gerações de Congregados que vos precederam. E a sua confiança nunca foi enganada: os nossos antepassados nobremente vos abriram e traçaram o caminho. Em todas as lutas contra o contágio e a tirania dos erros... as CC.MM. combateram na linha de frente, com a palavra, com a pena, com a imprensa, na controvérsia, na polêmica, na apologia; com a ação, sustentando a coragem dos fiéis, movendo os confessores da fé, colaborando no árduo e odiado ministério dos sacerdotes católicos com sua assistência e apoio, perseguindo a imoralidade pública, com métodos por vezes singulares, mas sempre enérgicos e eficazes; não raro a pé, com a espada, nos confins da Cristandade, pela defesa da civilização,com Sobieski, Carlos de Lorena, Eugênio de Sabóia, e tantos outros chefes, todos Congregados, como o eram centenas e centenas de soldados. Mas porque buscar exemplo no passado, quando, mesmo nos nossos tempos, e não em uma só Nação, milhares e milhares de heróicos Congregados combateram e sucumbiram, aclamando e invocando a Cristo Rei? “Nós confiamos que sabereis conservar dignamente o peso de tão gloriosa herança”. Sim, Santíssimo Padre, aqui estamos, às vossas ordens, na defesa desse Patrimônio Sagrado, nós, os Marianos da Bahia. Ressoem em nossas almas, profundamente, as palavras do Santo Padre, e que elas sejam, para todos nós, uma luz, um alento e um imperativo. E que esta Concentração não seja simplesmente uma aproximação de todos nós pela contigüidade física, mas represente, ao vivo, mais uma vitória da Mãe de Deus e do próprio Deus, sobre o comunismo ateu, e todas as formas e ideologias incompatíveis com a Fé católica. Que esta Concentração seja, deveras, a vitória da união contra a dispersão odiosa.
José Newton Alves de Sousa | 79 Que daqui saiamos ardendo em fogo de sagrado entusiasmo, para dilatarmos o império espiritual e real da Fita Azul, pela fundação de novas Congregações, mas em paralelo com um contínuo aperfeiçoamento das já existentes; pela propagação do Ofício e do Terço de N. Senhora; pela entronização dos Sagrados Corações de Jesus e Maria nos lares; pela nossa adesão total à Ação Católica; pelo cumprimento exato dos nossos deveres mariais. De pé, Marianos, pela verdadeira Bahia e pelo Brasil verdadeiro! De pé, Marianos, pela Causa de Cristo-Rei! De pé, Marianos, como as colunas dos templos: firmados na rocha de Pedro, guardando o sacrário do Rei Imortal dos Séculos e sustentando o tecto da Verdade, da Justiça e do Amor.
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José Newton Alves de Sousa | 81 SAUDAÇÃO DO PADRE MARIZ, S.J. Discurso lido por ocasião da solene sessão de homenagem ao Pe. Luiz Gonzaga Mariz, S.J., realizada em 29.08.1959,no auditório da Reitoria da Universidade Federal da Bahia.
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José Newton Alves de Sousa | 83 CAPÍTULO 11 SAUDAÇÃO DO PADRE MARIZ, S.J. A Companhia de Jesus, marcada de uma espiritualidade centralizada em Cristo, mas que “procede da vida e se adapta a qualquer vida”, “espiritualidade de combate e orientada para o máximo rendimento apostólico” (Cf. PLUS, Raul in: “Até Deus por Santo Inácio” – Livraria Apostolado da Imprensa, 1945, Porto, págs. 12 e segs.) – fora por ele antevista na solidão de Manresa e, uma vez fundada, não haverá língua, nem distância, nem perigo, nem força que a impeça de expandir-se no grande ímpeto de universalidade que a alimenta, na insaciável sede de salvação do mundo, em plena consonância com o espírito do Fundador que, conforme Hugo Rahner, S.J., foi, na realidade, e no mais justo sentido, “homem de Igreja”(RAHNER, S.J. Hugo, “Inácio de Loyola, homem de Igreja” – Livraria Tavares Martins, Porto – 1956). Ouvi o que o Pe. Henrique Rosa, S.J., em sua opulenta obra “ Os Jesuítas, de sua história aos nossos dias”, em luminosa síntese escreveu: “Esta Companhia saída do episódio de Pamplona, depois que o soldado arrojado ao solo se ergueu transformado em santo e diretor de santos, estava destinada a tornar-se, entre todos os batalhões irmãos, válida auxiliar da Igreja na reforma católica, na luta contra os terríveis males e perigos daquela idade e da seguinte: infidelidade e barbárie do novo mundo, cisma e heresia, ignorância e corrução do antigo. “Logo ao tomar as armas, lançou-se com efeito o novo batalhão aos pontos mais ameaçados; atirou-se às regiões imensas desvendadas por Colombo e denominadas por América, aos continentes abertos por Vasco da Gama, através das praias e ilhas descobertas ou conquistadas por exploradores portugueses ou aventureiros espanhóis; e para lá levou a luz do Evangelho e da civilização. Penetrou por entre as nações rebeladas ou subvertidas, ameaçadas pelo erro, de um e de outro lado dos Alpes, do Reno, do Mosela, onde quer em suma que aparecesse o cisma ou a heresia, e os enfrentou para contê-los ou expulsá-los. Firmou-se principalmente nas nações católicas, lutando pela reforma dos costumes e preservação da fé. E disseminou por toda a parte os seus soldados, alguns fixos em determinados postos, nos centros de estudos e ministérios, nos colégios, nas casas professas, outros em movimento e de atalaia nas residências e nas missões vo lantes, por cidades e aldeias, prisões e hospitais, por onde houvesse almas a salvar ou interesses da glória de Deus a defender e a propagar”, (pags. 11-12 - Ed. Vozes Ltda. , 1954). 0 Brasil é dos países mais bem aquinhoados das mercês inacianas. 0 timbre jesuíta marca toda a nossa história, e o Pe. Alvino Bertholdo Braun, S.J., no seu festejado “Santo Inácio de Loyola, Fundador da Companhia de Jesus” (Ed.
84 | Ad Jesum per Mariam Vozes Ltda., III edição, 1956, pág. 211), demonstrando ter sido o extraordinário santo um amigo do Brasil, escreveu: “0 fato histórico é indiscutível: a Companhia de Jesus sacrificou as suas melhores forças em prol do progresso material, intelectual e moral do Brasil. Este fato permanecerá em pé mau grado a malsã, balofa e falsa história do século 18 e 19, eivada de peçonha pombalina”. Membro dessa ínclita Companhia, veio para o Brasil, em 1932, fixando-se na Bahia, o nosso homenageado de hoje. Nascido em Carrazeda d’Anciães, Distrito de Bragança, Província de Trás- -os-Montes, em 09 de março de 1893, entrou para a Escola Apostólica de Guimarães (Portugual), tornando-se Noviço da Companhia a 29 de agosto de 1909, em Barro, meio século atrás, exatamente. Alcançou-o em Portugal a revolução do começo do século, com a conseqüente expulsão dos Jesuítas, pois, onde a Igreja, aí os filhos de Santo Inácio. Se para a maior gloria de Deus tudo há-de aceitar-se, que venha a prisão dos Noviços, juntamente com a de seu mestre, e também, depois, o desterro voluntário, que atira nosso querido e ilustre homenageado para Exatem, Alssemberg, França, Inglaterra. Os cristãos não se amedrontam ante os sofrimentos. Santa Teresa não seria a única a ligar pela disjuntiva “ou” o verbo sofrer ao verbo morrer, visto ter nascido no Calvário a Mística Esposa de Cristo, a Santa Igreja. No decorrer de 1924, ordena-se padre, em Oña, Espanha. Um novo ministro. Alter Christus. A ordenação de um sacerdote vale por um renovar da face da terra, tamanha é a significação e o alcance do ato, tão imensa a dignidade do padre. Valham aqui as palavras de São Bernardo: “A que assombrosa dignidade vos não tem Deus exaltado (fala aos sacerdotes). Que sublime a prerrogativa do vosso estado. Sois mais nobres que os reis e os imperadores; vosso estado sobrepuja todo outro estado; digo mais, está mesmo acima dos anjos e arcanjos, dos tronos e dominações. Pois como para a obra da Redenção não assumiu (Cristo) os anjos mas a descendência de Abraão, também não são os anjos, mas sim os homens, e só os sacerdotes que fazem ministros da consagração do seu corpo e do seu sangue”. (Apud MILLET, S.J. in: “Jesus Vivo no Padre”, Porto, Portugal, 1950 - pág. 02). E estas, de Santo Agostinho: “É em verdade veneranda a dignidade dos sacerdotes, em cujas mãos, como no ventre da Virgem, se digna incarnar o Filho de Deus” (Op.cit., pág. 02). Depois da dignidade do sacerdote, a do professor, que o foi em La Guardia e San Martin de Trevejos (Espanha) e aqui na Bahia. Quem professa no magistério não transmite apenas, como um espalhador de noções de língua ou ciência. Vai muito além: transmite-se espiritualmente aos discípulos, em doação docente e formativa. E se trata de um Jesuíta, formado na Ratio Studiorum, o caso é de plasmar mais que um homem: um cristão e um santo. Bendito o que segue o imperativo do mestre: “Ide e ensinai”, sem esquecer, porém, o batismo “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Ainda o Colégio Antônio Vieira se localizava na Piedade, quando para ele entrou o Revdmo. Pe. Luiz Gonzaga Mariz, S.J.. 0 Colégio Antônio Vieira constituía ainda um legítimo repositório e precioso legado de gloria lusitana. Além
José Newton Alves de Sousa | 85 disso, um insofismável atestado de autenticidade educacional, de caráter privado e cristão. Os méritos do ensino cristão e livre desafiam as caretas dos inimigos da Liberdade e da Igreja. No plano pedagógico, ensinar e dirigir são movi mentos que se completam e se compenetram harmoniosamente. E, assim vamos surpreender, na fecunda e abençoada vida de nosso homenageado, um ano em que exerceu a função de Vice-Diretor do Colégio Antônio Vieira. Mas o Revdmo. Pe. Luiz Gonzaga Mariz, antes de ser mestre, é sacerdote, e sacerdote da Companhia de Jesus. Tem enchido seus dias de meritórias obras de que aqui se assinalam algumas: Pregador de Retiros Considerado em si mesmo, o Retiro e um empreen dimento do qual pode depender a perfeição e salvação de nossa alma: com relação a nós e de soberana importância; com relação a Deus, é o tempo de graças especiais: de conversão, de santificação, de perfeita contrição. Tem por objeto nossa reforma de vida com vistas à salvação de nossa alma, único negocio verdadeiramente necessário. (Cf. Pe. Alexandrino Monteiro in: “Exercícios de Santo Inácio de Loyola”, Ed. Vozes Ltda. - Rio - págs.ll-13). 0 silêncio interior, emoldurado pelo exterior, é o clima propício aos colóquios com Deus. 0 mundo hã-de reformar-se pelo silêncio restaurador dos Exercícios Espirituais, nos moldes inacianos, pois esse é caminho de transfiguração das lamas. E o desejo da Igreja, como vemos na Encíclica “Mens Nostra”, é o de que os Exercícios sejam larga e universalmente praticados por todas as classes de fiéis. Como pregador de retiros, o Revdmo. Pe. Mariz enfileira-se entre os benfeitores da humanidade que, sem alarde nem prêmio Nobel, mais fazem pelos homens que as invenções, as letras, as ciências e a política. Diretor e organizador de peregrinações Há no cristão e, de modo especial, no padre, um permanente sentido de viagem. Não estamos aqui limitados por uma impossibilidade sobrenatural. Tangencia-nos a realidade, por vezes trágica, da estreiteza e insuficiência do mundo. Ilumina-nos a certeza da outra vida, em busca da qual, peregrinos no tempo e condicionados pelo espaço, caminhamos entre o berço e o túmulo. Tudo passa, menos o Eterno, pelo qual somos solicitados a todo instante. Eis então que não nos quedamos inertes ante um fatalismo inadiável. Suspiramos pelo Infinito, pelo Perfeito, pelo Bem, por Deus. Daí o anseio de viajar, e viajar sob a luz bendita, sob a luz da Graça, sob a luz do Céu, como se em cada templo, em cada túmulo de mártir, em cada estrada santa se assentasse a escada de Jacó. Bem compreendemos como um Jesuíta, que, pelo próprio nome, deve, vocacionalmente, imitar Jesus Cristo, o Grande Peregrino da Boa Nova, se dedica, como se tem dedicado nosso caríssimo homenageado, a organizar peregrinações, como se, com isso, desejasse apontar, pelos mares e pelos ares, pelas terras e cidades, o caminho da bem-aventurança imorredoira. Os que assim sabem caminhar nesta vida, hão-de, com certeza, atingir o Bom Porto, quando da viagem definitiva.
86 | Ad Jesum per Mariam 0 devoto de Nossa Senhora Existem alguns pontos através de que podemos a- veriguar a ortodoxia,ou não, de um católico. São eles: o amor ao Papa, a aceitação humilde dos dogmas, a estima aos Jesuítas e a devoção a Nossa Senhora. 0 Jesuíta completo não pode olvidar que, sendo como Jesus, tem de ser, necessariamente, um filho de Nossa Senhora. Ou já não seria Jesuíta. E ser filho de Nossa Senhora não é somente amá-La, como ainda servi-La devotadamente, espalhando-Lhe o culto e a devoção. Nossa Senhora tem coberto de muitas graças a Com panhia de Jesus. Uma delas, e das maiores, foi a da fundação das Congregações Marianas, cujo número, cuja atuação, cuja vida e cujas bênçãos ensejam esperanças de melhores dias para o mundo. A primeira Congregação Mariana do Brasil foi fundada na Bahia, por um Jesuíta. Muito tempo depois, constituída a Federação, caberia a um Jesuíta dirigi-la. E temos, então, o Pe. Mariz, S.J., a comandar o Exército Azul da Santíssima Virgem em terras da Arquidiocese de São Salvador da Bahia. Portugal renasceu em Fátima. A noite ali teve sua aurora mais radiosa. A Virgem desceu sobre a azinheira e os felizes videntes receberam a Mensagem do Céu. E o mundo ouviu a grande Nova e acorreu, penitente, a Portugal. Mas a Virgem é também peregrina e sua devoção raia e se define pela universalidade. E ei-La, sob diferentes invocações, cultuada em todo o mundo. 0 Brasil não podia deixar de olhar para Fátima. A Bahia não podia deixar de associar-se ao coro de louvores, agradecimentos e preces. E vai ser construído no Garcia, junto ao Colégio Antônio Vieira, majestoso templo dedicado a Nossa Senhora de Fátima, que aqui tem seus cruzados, intrépidos, piedosos e ativos, à frente dos quais o notável apóstolo da Santíssima Virgem, o Revdmo. Pe. Luiz Gonzaga Mariz, S.J.. Cinquenta anos de vida religiosa 0 que hoje aqui nos reúne, por um imperativo ditado pelos corações dos Marianos da Bahia, é a celebração do cinquentenário de vida religiosa daquele que estamos homenageando. Quem lê “Inácio de Loyola”, “Entre Guerras”,”Fa tima, onde o Ceu tocou a Terra”, “Maria Antonieta”, “0 Incidente dos Perdões”, e outras obras que denunciam o humanista apura do, o escritor primoroso, o sacerdote apostólico, o inaciano pi£ doso - não carece de ouvir mais nada para saber como tem sido rica de dons, empreendimentos e grandezas a vida do Revdmo. Pe. Mariz, S.J.. 0 perfil que traçou de Santo Inácio terá sido, além de uma prova de amor e devoção ao Fundador, um reflexo da vida do próprio autor. 0 Pe. Raul Plus, S.J. escreveu um precioso livrinho intitulado “Até Deus por Santo Inácio”. Pois bem, tem sido esse o caminho dos verdadeiros Jesuítas. Reproduzir Santo Inácio na própria vida - o que significa imitar Cristo como Santo Inácio O imitou, guardada a fisionomia inconfundível de cada um - eis o segredo da grandeza dessa Companhia santa, à sombra da qual também nos santificamos, nós outros sem sotaina, mas de Fita Azul. Concluindo Revdmo. Pe. Mariz, S.J,
José Newton Alves de Sousa | 87 Não vos invejamos o dom e a arte de exímio musicista nem a gloria de haverdes fundado e dirigido a Orquestra Sinfônica da Bahia. É que tangemos instrumentos mais afinados que os de vossa orquestra, executando peças mais harmoniosas que as que compondes: Não vos espanteis: Haverá instrumentos mais de licados que os corações amigos, quando afinados pelas alegrias inefáveis de uma festa como a de hoje, em que se faz ouvir o sopro de Deus a abençoar quem há cinquenta anos 0 serve excelentemente? E haverá maviosidade mais pura que a de um Te Deum que almas verdadeiramente amigas levantam ao Céu, pelas mãos da Santíssima Virgem e em honra de Santo Inácio, como agradecimento ao Altíssimo por este meio século de vida religiosa, cuja maior parte se venceu aqui na Bahia? Saudando-vos, Revdmo. Pe. Mariz, nós, Congregados Marianos e vossos amigos, devíamos pedir-vos a benção, que no-la podeis dar. Procedemos, entretanto, como o conde de Laet, quando, certa vez, saudou o Cardeal Arcoverde. Nós é que vos dizemos, entre as alegrias mais plenas, no júbilo mais santo, no agradecimento mais comovido: - Deus vos abençoe, Padre Mariz.
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José Newton Alves de Sousa | 89 0 DESENVOLVIMENTO DO HOMEM TODO E DE TODOS OS HOMENS Palestra proferida no Dia Mundial do Congregado,de 1972, durante a assembléia comemorativa promovida pela Federação Mariana da Bahia, no auditório do Colégio Antonio Vieira. Foi publicada na “Estrela do Mar”,de outubro do mesmo ano.
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José Newton Alves de Sousa | 91 CAPÍTULO 12 0 DESENVOLVIMENTO DO HOMEM TODO E DE TODOS OS HOMENS I. IDÉIAS PRÉVIAS Na historia da salvação, aparece o pecado de nos sos primeiros pais como a causa prima do atrofiamento e morte do homem. Deus gerou-nos na unidade fundamental de Seu amor, criando-nos como filhos Seus, feitos à Sua imagem e semelhança. Essa paternidade primordial Deus concedera-nos para a perfeição de criaturas racionais, quer individualmente como pessoas, quer em grupo, como sociedade. Nossa vida seria uma vida de compreensão, de amor fraterno, de coexistência sob a luz de Deus. Não poderia ser uma vida meramente contemplativa, mas uma vida a desenvolver-se segundo o ritmo e o impulso sobrenatural da espécie, imaculadamente saída das mãos de Deus. Satanás, inimigo do homem, porque filho do ódio, levou o homem ao pecado. Começou aí a decadência do homem. 0 or gulho, a inveja, a ganância, a luxuria vão corroendo as bases do templo onde Deus vivo habitava. Agora, a desobediência vai ser lei, a violência vai ser norma, a guerra vai ser praxe, a fome3 a dor3 a miseria3 as desigualdades vão ser as consequências. II. CRISTO VEM SALVAR-NOS Chegara a plenitude dos tempos, como desejo, como expectativa, como necessidade e, também, como transbordamento do amor de Deus. Deus criara o primeiro homem, feito do barro. Agora, tirará da substância perfeita de Seu Amor o Segundo Adão, que nascera de uma Virgem, para ser Mãe, Mãe de Seu Filho, Mãe nossa individualmente, e Mãe da Igreja. Abria-se o capítulo decisivo da historia de nossa salvação. 0 próprio Filho de Deus passava a ser nosso Irmão; Mãe nossa passava a ser a própria Mãe de Deus: Jesus Cristo, nosso Senhor, pelo mistério de Seu nascimento, vida, paixão, morte e ressurreição, relacionava-nos com o princípio criador e paternal de Deus Pai, com o princípio salvífico e mediador dEle próprio, com o princípio maternal e também mediador de Sua Mãe Santíssima, e com o princípio fraternal e colaboracional dos homens entre si. Cristo, protótipo do Homem Perfeito,envolve-nos na afeição indefectível de Sua própria Mãe, a fim de que, doravante, nos fosse possível constituir, neste mundo, o receptáculo preparado ao advento do Reino de Deus. 0 Reino de Deus em cada indivíduo, em cada grupo social e na humanidade inteira. 0 Reino de Deus na vida material e na vida espiritual. 0 Reino de Deus já aqui antecipando, de alguma forma, o Reino da Glória.
92 | Ad Jesum per Mariam Mas o pecado não foi abolido. 0 homem não perdeu sua liberdade nem sua responsabilidade. 0 pecado continua a ser o definhamento e a morte do homem. III. AS CONGREGAÇÕES MARIANAS Há um capítulo especial na historia de nossa sal vação: Por intermédio de Sua Mãe Santíssima, como Inspiradora e Onipotência suplicante. Cristo faz surgirem as Congregações Ma- rianas, autênticas comunidades de vida cristã, pois, se não o fossem, nem seriam comunidades, nem teriam vida cristã. As Congregações não são segregações: são escolas de fraternidade, serviço e amor, agindo sob o impulso da Graça e o beneplácito de Nossa Senhora. Não devem distinguir-se por uma simples fita, mas pela evidência de um fato que as caracteriza: o seu cristocentrismo, especialmente marcado do espírito de Maria Santíssima. 0 distintivo não deve ser um privilegio egoísta, mas um sinal de consagração e disponibilidade. 0 manual não deve ser apenas um preceituário de doutrina e piedade, mas um convite à vida de oração. As reuniões não devem ser simples momentos de agradável convívio, mas ocasiões de formação e abastecimento para a luta apostólica. Os Exercícios Espirituais não devem ser uma rotina medrosa, de quem se esconde do carnaval, mas providenciais momentos para revisão da vida, da espiritualidade e da ação. 0 Congregado Mariano, pela própria denominação e compromisso formal que assumiu, há-de ser o homem de fato, segundo a medida do Evangelho. Cada época e cada lugar exigem do Congregado uma reflexão, uma vida e um trabalho que, embora ligados a um dado espaço e um dado tempo, apontam as dimensões maiores da própria vida, expressas na força do amor divino e marial. Nos dias que correm, neste ano que vivemos, os Marianos de todo o mundo somos convidados a refletir sobre duas medidas de nossa realidade: a) o desenvolvimento do homem todo; b) o desenvolvimento de todos os homens. Entendemos por desenvolvimento, segundo a perspectiva cristã, A ORDEM NATURAL DOS HOMENS, MOVIDOS PELO AMOR DE DEUS E AGINDO PARA 0 BEM-ESTAR E A PERFEIÇÃO DE CADA UM E DE TODOS. Sua plenitude e perfeição seria o Reino de Deus, na perspectiva do Pai Nosso. IV. 0 TEMA Existe, no tema que meditamos, uma dupla totalidade: a) a de cada homem como um todo individual; b) a de todos os homens, como coletividade humana global. Uma sem a outra é impossível, do mesmo modo como impossível é preparar nossa eternidade sem merecer nossa temporalidade. Daí ser o desenvolvimento completo não só o que abrange cada homem e todos os homens, mas também o que consagra o mundo em que vivemos como prelúdio existencial ao mundo onde esperamos viver na Eternidade. Na qualidade de Congregados Marianos ou de cristãos comprometidos com o Senhor, por uma especial consagração à Senhora, somos chamados a refletir sobre os dez pontos que a seguir se enumeram. 1) Temos procurado aprofundar nossa vida espiritual,de modo que o seu exercício nos leve,gradativamente, à medida plena do homem cristão para os nossos dias? Que é que deve caracterizar o homem cristão?
José Newton Alves de Sousa | 93 2) Temos sido, até agora, em vez de Congregados, meros segregados, formando grupos herméticos, egoistas, esquecidos da pobreza, da dor, do sofrimento dos outros? 3) Que temos feito, de concreto, para transformarmos a Fita em fato e o distintivo em sinal? 4) Como temos considerado e vivido a Palavra de Deus, colhida no Evangelho e nos Documentos pontifícios, conciliares e sinodais, alertando-nos para os problemas e necessidades de nosso tempo? 5) Que temos feito, de inteligentes oportuno e positivo, para influir apostolicamente em nosso meio, em nosso trabalho, em nossa sociedade? 6) Que perquirições temos realizado, para descobrir os que precisam de nós, de nossa palavra, de nosso gesto, de nosso amor? 7) Qual tem sido nossa atitude no sentido de orientar a opinião pública, de estabelecer uma linha de verdade, um clima de compreensão entre todos? 8) Onde está, para nós, o nosso próximo, em termos de pessoas, comunidade e povos? 9) Temos sabido ver Cristo nos outros, por O termos vivido em nós? Nosso marianismo vem sendo apenas um devocionário azul e branco, ou um caminho oferecido a Deus,para que o Seu Reino quanto antes venha e se estabeleça sobre nós e em nós? 10) E, finalmente,a pergunta mais angustiante:QUE TEMOS FEITO PARA QUE NOSSAS CONGREGAÇÕES SE REJUVENESÇAM, SE REFORCEM, SE ATUALIZEM, CRESÇAM EM ENTUSIASMO, PROSPEREM EM SERVIÇO E APOSTOLADO? No dia Mundial do Congregado, ano de 1972, entre guerras, ódios, ambições, hipocrisias, desobediências, seduções, apostasias, perversões, sensualismos e misérias, os olhos amorosos de Cristo, nosso Irmão, são postos, outra vez, sobre nosssos olhos. E os lábios dEle, exânimes e endoloridos, proferem, do alto da Cruz, como a tirar-se da inércia e da descaridade,aquelas palavras que abalaram os séculos: - MÃE, EIS AÍ OS TEUS FILHOS. - FILHOS, EIS AÍ VOSSA MÃE.
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José Newton Alves de Sousa | 95 A EVOLUÇÃO DO MOVIMENTO MARIANO DAS PRIMEIRAS “REGRAS COMUNS”, DE 1587, AOS “PRINCÍPIOS GERAIS”, DE 1968 Conferência lida no dia 9 de setembro de 1977, em Curitiba, Paraná, por ocasião do 1º. Congresso Nacional Mariano.
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José Newton Alves de Sousa | 97 CAPÍTULO 13 A EVOLUÇÃO DO MOVIMENTO MARIANO DAS PRIMEIRAS “REGRAS COMUNS”, DE 1587, AOS “PRINCÍPIOS GERAIS”, DE 1968 Os movimentos religiosos, quando inspirados, nascidos, orientados e desenvolvidos segundo as leis de Deus e da Igreja, não podem ser considerados óbices à vida e prosperidade da Fé. Terão, sem dúvida, o seu aspecto humano. Sofrerão a dor de uma temporalidade crucificante, a tortura de defeccções, escândalos, perseguições, incompreensões, mas, fiéis às origens e aos objetivos, são intrinsecamente respeitáveis, e seus méritos crescem na proporção das lutas empreeendidas por necessidade de sobrevivência. As Congregações Marianas tiveram nascimento lidimamente cristão, e sua história é uma história de coerência e fidelidade teórica e prática. Fundou-as o Pe. João Leunis, S.J., no século XVI, sob o sinal e selo de Nossa Senhora. Seria essa a sua marca, o seu caminho, o seu carisma. Seria também a sua força, a sua perseverança, a sua glória. Vivendo e existindo no mundo e no tempo, como Cristo viveu e existiu no tempo e no mundo, humanando-se para nos redimir, assim as CC. Marianas teriam a feição exterior das obras humanas, mas teriam, sobretudo, o caráter das coisas feitas para o Céu. E não seriam Marianas, se assim não fossem e procedessem. Quanto mais Marianas, mais humanas, mais desejosas e necessitadas de superar o limitado, o transitório, o imperfeito, a fim de imergirem naquela mesma vida que caracterizou e encheu de Graça a Santíssima Virgem: a vida substantivamente cristã. Ora, cada movimento religioso (e nisso não se distingue de qualquer outro) tem uma história, descreve uma linha evolutiva, nunca é rigorosamente igual em todos os momentos a não ser naquilo que constitui a sua substância vital e ontológica, a razão de ser, a sua marca própria. Em relação aos movimentos religiosos, como em relação a outros, as circunstâncias de tempo e lugar, de pessoas e estruturas mudam, interferem, sugerem e impõem adaptações e alterações, permanecendo neles, entretanto, o essencial, apoio e sustentação de sua autenticidade e de sua fidelidade. As Congregações Marianas foram e são obra humana, enquanto fundadas aqui na terra e nesta vida, mas assumiram, em definitivo, por analogia, por assimilação e natureza, uma forma institucional de mediação para o Céu. Há um só Mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo; uma só Medianeira entre os homens e Jesus Cristo: Nossa Senhora; mas as Congregações Marianas são, extensivamente, como que condutos mediadores entre os homens e a Santíssima Virgem, por serem elas “escolas de santidade e apostolado”, viveiros de Cris-
98 | Ad Jesum per Mariam tianismo representado pela Fé esclarecida, pela Caridade operante, pela vida interior e devota. Por isso, têm resistido a intempéries, a lutas e dificuldades de toda ordem, que lhes movem as hostes adversas. Também elas, à semelhança de sua Rainha e Mãe, também elas receberam e recebem as espadas trespassantes e dolorosas da provação e do martírio. Isso as tem fecundado e fortalecido em Graça e perseverança. Pode, sem dúvida, falar-se numa evolução do Movimento Mariano, como pode falar-se, também, numa evolução de outros movimentos religiosos e da própria Igreja Católica enquanto instituição formada e governada por homens. Mas, assim como a Igreja é a mesma na sua essência, possuindo, entretanto, uma história de mudanças, adaptações e reformas, a fim de melhor cumprir a própria finalidade, do mesmo modo as Congregações Marianas, conservando-se específica e efetivamente Congregações Marianas em todos os momentos de sua vida, ostentam, porém, um existir diversificado no espaço e no tempo, um existir evolutivo, tomado este termo como expressivo de vida associativa e institucional, dentro da história maior do Cristianismo e da Igreja. Por isso, é lícito falar não apenas numa atualidade, como também numa atualização das Congregações Marianas. Seja significando, abstratamente, o que é atual; seja significando, concretamente, um fato existindo agora; seja metafisicamente, significando algo que existe em ato e não em potência, as Congregações Marianas não esgotaram suas possibilidades evolutivas. Dizer que as Congregações Marianas existem em ato e não em potência não significa que sejam elas despotenciadas, incapazes de continuarem a ser, e serem ainda mais, Congregações Marianas, nem muito menos traduz uma imobilidade tendente à necrose. As Congregações Marianas são vida, vida humana e vida divina. Vida a serviço, na Graça e pela Graça, apesar da instrumentalidade e dos limites da condição humana que as permeia e estigmatiza. Só Deu é Ato Puro; o mais, não. E quantos se asseguram em Deus, sendo-Lhe fiéis, tantos guardam a paz e a tranquilidade, ainda nas piores tormentas. Ora, as Congregações Marianas são, hoje, como o foram ontem e esperamos continuem a ser amanhã, uma realidade concreta, dotada de poderosa capacidade de ser, existir, agir, perseverar, adaptar-se, renovar-se. Sua especificidade institucional tem algo de inspirado por Deus, de querido e amparado por Deus. Imutáveis no essencial, são plásticas no acidental, fortalecidas pela Verdade, pela Caridade e pela Justiça, obedientes à Igreja, ao Santo Padre, à Hierarquia. A história das Congregações Marianas tem-se feito dentro de condicionamentos circunstanciais que não lograram abalar a perenidade de sua natureza e de seus fins. Orientados e plasmados pelas primitivas “Regras Comuns” reformadas em 1910, e por “Princípios Gerais”, estabelecidos em 1968, são as Congregações entidades tipicamente marianas desde os primórdios, jamais deixando de ser “escolas de santidade e de apostolado”, comunidades de vida cristã modeladas pela exemplaridade insubstituível e indefectível de Nossa Senhora. As Congregações Marianas são uma instituição mutável em tudo aquilo que1 não prejudique ou fira sua essência. Se confrontarmos, por exemplo, as “Regras Comuns”, reformadas em 1910, com os “Princípios Gerais”, hoje vigentes, vamos observar que as mudanças e atualizações havidas não desfiguraram nem alteraram, substancialmen1. Chegou-se a divulgar, sem apoio na realidade, que as CC.MM. iriam sofrer uma total transformação, “passando de simples associações religiosas para verdadeiras comunidades de trabalho” (Cf. “Estrela do Mar”, fascículo de julho-agosto de 1967, p. 186). No documento conciliar intitulado “Apostolicam Actuositatem”, lê-se que os leigos têm o direito de fundar associações, governa-las e dar o seu nome às existentes.
José Newton Alves de Sousa | 99 te, as Congregações Marianas. Assim, continuam estas identificadas e invariáveis nas seguintes notas: 1a. São Associações Religiosas, como está na Regra Comum no. 1 e nos “Princípios Gerais” de números 12, 13, 14, 18, 22, 23 e 24. 2a. Orientam para santificação no próprio estado. Regras Comuns: número 12 Princípios Gerais: Número 33 3a São associações de apostolado: “Regras Comuns” números 1 a 10 “Princípios Gerais”: números 7 e 11 Neste ponto, observa-se uma aparente antinomia entre as “Regras Comuns, que põem em destaque os valores espirituais, sem esquecer a caridade no plano material, e os “Princípios Gerais”, que enfatizam que “nos devemos consagrar, prioritariamente, à renovação de santificação da ordem temporal” (número 7) e que “cada Congregado se comprometa apostolicamente, em especial, na renovação das instituições da sociedade”(número 11). Como não se pode, com espírito cristão e mariano, renovar e santificar a ordem temporal, nem apostolicamente renovar as instituições da sociedade, e sem que tudo decorra de nossa firme união vital com Maria e com Cristo, segue-se que a antinomia é apenas aparente, mesmo porque os Princípios Gerais não teriam força bastante para alterar a palavra de Cristo,m contida em Lc XIII, 31: “Procurai em primeiro lugar o Reino de Deus, e tudo o mais vos será dado por acréscimo”. 4a. São associações caracterizadas por especial devoção a Nossa Senhora: “Regras Comuns”: números 1, 3, 4 “Princípios Gerais”: números 54, 85 e 116 Note-se, porém, que, neste ponto, ao serem elaborados os “Princípios Gerais”, houve certa tendência a minimizar a devoção à Santíssima Virgem, a ponto de se ter mudado a denominação “Congregações Marianas” para “Comunidades de Vida Cristã”, como se Maria fora obstáculo impeditivo de chegar a Cristo: Glória ao Brasil, que manteve a denominação tradicional, a qual já integra, significativamente, nossa própria História, e constitui motivo de justa ufania para nossos brios de soldados a serviço da Rainha do Céu. 5a. São associações que timbram em sentir com a Igreja. “Regras Comuns”: número 33 “Princípios Gerais” número 6 2. “…santificar-se no seu estado”. 3. “…nos setores da vida familiar, professional, cívica, eclesial, etc....sobretudo em seu ambiente diário”(...) “de modo especial aos que estão ocupados em tarefas temporais”.. 4. “Veneramos a Mãe de Deus de modo especial”. 5. “Amor filial a Maria”. 6. “Amor à Mãe de Deus, como compromisso do Congregado ao ser admitido na Congregação”.
100 | Ad Jesum per Mariam 6a. Alimentam sua espiritualidade no Retiro Espiritual “Regras Comuns”: número 9 “Princípios Gerais”: números 4 e 9 Saliente-se que, enquanto as “Regras Comuns”não mencionam, expressamente, os Exercícios Espirituais de Santo Inácio, os Princípios Gerais o fazem. 7a. Exortam à Comunhão frequente. “Regras Comuns”: número 39 “Princípios Gerais”: número 877 8a. Movem aos exercícios de piedade. “Regras Comuns”: número 34 “Princípios Gerais”: número 11 9o. Aconselham e incentivam a Direção Espiritual. “Regras Comuns”: número 36 “Princípios Gerais”: número 4 “in fine” 10a. Estabelecem um período de provação antes do Compromisso, sendo que os “Princípios Gerais” são, neste ponto, mais rigorosos: “Regras Comuns”: número 24 “Princípios Gerais”: número 9 11a. Obrigam a presença às reuniões: “Regras Comuns”: número 5 “Princípios Gerais”: número 12 12a. Mantêm a exclusão do Congregado: “Regras Comuns”: número 31 “Princípios Gerais”: número 15 13a. Mantêm o instituto da Diretoria: “Regras Comuns”: número 17 “Princípios Gerais”: número 21 14a. Mantêm a Direção eclesiástica: “Regras Gerais”: número 17 “Princípios Gerais”: número 21 Convém observar, a esta altura, que as “Regras Comuns” conferiam aos Sacerdotes, enquanto Diretores, mais autoridade que os “Princípios Gerais”. Contudo, vale dizer que, quanto mais perfeitos forem os Congregados e as Congregações, tanto mais sentem com a Igreja, mais respeitam e veneram a Hierarquia, mais obedecem, mais servem, mais se despojam, para que já não vivam por si, mas neles e nelas viva a Igreja e viva Cristo. 7. Os “Princípios Gerais” acentuam que o centro de nossa comunidade é a Eucaristia.