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Published by bertolote, 2020-12-30 14:49:28

Menina com Menina

Contos lésbicos

Keywords: Lésbica Contos

O Monte de Vênus

Carla Simoun

Lara nunca tinha visto tanta mulher gostosa junto. Uma ou outra, um grupinho na praia, no
clube, vá lá. Mas uma casa cheia, como aquela, era de deixar qualquer uma molhada. A Monte
de Vênus era a danceteria exclusiva para mulheres mais badalada em São Paulo, no momento,
e a fama não era para menos. Havia meninas de todos as cores, tamanhos, pesos e idades,
embora predominassem as com menos de 30 anos.

O noticiário da briga da casa noturna para manter a exclusividade da frequentação feminina,
apesar de protesto de grupos machistas, foi muito comentado na mídia. As meninas ganharam
a batalha judicial e o Monte superou o Glória e o Batom na preferência das mais descoladas.
Como era só para um público feminino, pode ousar mais que suas predecessoras. Além da boa
música, do bar com coqueteis fantásticos, das várias pistas de dança, cada uma com um tipo
de música e DJs (todas mulheres, é óbvio) que competiam entre si, possuía diversas alcovas,
que não chegavam a ser quartinhos com porta, mas eram quase; seu dark room inovou no
revestimento das paredes, que eram acolchoadas e recobertas de diversos tecidos deliciosos
ao toque: veludo, cetim, peles. Mais do que Lara sonhara.

Ela começara quase por acaso, em examinações mútuas de sutiãs com amigas. Um olha
daqui, um "passa a mão para sentir como é macio" de lá, um escorregão da mão que
resvalava na pele do seio não coberta pelo sutiã, uns risinhos a disfarçar a ansiedade, até que
um dia Lenita lhe disse que tocar na pele de seu seio era mais gostoso do que o toque no sutiã,
"Você não acha?". Enrubescida, Lara disse "Nunca pensei nisso." "Pois pense; e toque para
sentir." Lenita acariciou a parte descoberta de seus próprios seio, depois tomou o bojo de seu
sutiã na cocha das mãos e concluiu: "Gosto mais do toque na pele. Experimente." Lara
experimentou em si mesma e nada disse. "Posso experimentar em você?, perguntou Lenita.
Lara assentiu e Lenita completou: "Experimente em mim, também." Claro que a pele era
melhor, mas naquele instante Lara descobriu um novo prazer com a delicada pressão das
mãos de Lenita em seus seios. Experimentaram outras vezes até eliminar totalmente o sutiã
em suas sessões de experimentação.

Ela se produziu, de acordo com o clima, para o que esperava que a esperava. Camiseta de
alcinha, de seda preta, sem sutiã, é claro, e uma saia também preta, de adamascado, pouco
abaixo dos joelhos, mas com generosas fendas laterais. Hesitou longamente, primeiro se teria
coragem de ir sem calcinha, e quando decidiu que não, depois, um longo tempo escolhendo o
modelo; gostaria de ir com uma calçola nova de seda preta, de pernas folgadas, pelas quais

era fácil passar a mão, mas difícil de ser posta de lado, e acabou escolhendo um fio dental, que
cobria apenas o essencial, ou seja, aquilo que deveria ficar a descoberto, mas que era muito
fácil para afastar para o lado. Pesou também em sua decisão o fato de que provavelmente não
teria oportunidade de mostrar nem uma nem outra para ninguém e, embora a calçola fosse
muito mais bonita, era menos funcional. Meia-calça, nem pensar; muito brochante. O mínimo
que esperava era saborear um Cosmopolitan e dançar até ficar com as pernas bambas; não
esperava encontrar a princesa encantada, embora estivesse disposta a beijar a perereca que
saltitasse diante dela. O máximo, bem... o céu é o limite, mas Lara não imaginava todos os
recursos e oportunidades como um clube noturno como o Monte de Vênus proporcionava.
Como não imaginara todos os recursos e oportunidades que o sopé do seu monte de Vênus
poderia lhe proporcionar.

Numa ocasião em que foi mostrar um sutiã novo a Lenita - sempre no banheiro da escola -,
esta, depois das palpações esperadas, perguntou se fazia conjunto com a calcinha. "Claro;
sempre uso conjuntos que combinam." "Deixe ver." "O que?" "A calcinha, ora." Surpresa, Lara
hesitou, mas acabou por levantar a saia. Imediatamente Lenita estendeu a mão "para sentir o
toque do tecido" e disse, sem retirar a mão: "É bem macia, mas o toque por baixo é melhor."
Lara descobriu que sim.

Com Júlia, prima dois anos mais velha que ela, Lara descobrira não só para quê servia aquele
botãozinho logo acima de sua xoxota que começava a se cobrir de pelos. Júlia falou, explicou e
lhe mostrou o seu, que parecia bem maior do que o de Lara apesar de completamente coberto
de pelos já espessos. Com paciência, Júlia se trancou a porta do quarto, sentou-se na cama de
pernas cruzadas, afastou a calcinha para o lado e abriu os lábios de sua xoxota para deixar em
evidência seu clitóris. Com dois toques ele ergueu sua cabecinha e Júlia disse: "É bom! Faz em
você". Mais rubra do que a entrada da xoxota de Júlia, a primeira que ela via em toda a sua
plenitude, Lara disse : "Tenho vergonha..." "Que nada, você é menina que nem eu; entre
meninas, pode." Se a tia não tivesse chamando a prima, talvez ela tivesse perdido a vergonha
e descoberto uma forma de prazer.

Mas, o semente da curiosidade fora lançada. Ao chegar em casa, Lara se trancou no banheiro,
tirou a calcinha, pegou o espelho de cabo que ficava em cima do aparador da pia, sentou-se no
chão, abriu as pernas e olhou. Logo abaixo de seus pelinhos incipientes, uma linha rubra, uma
fenda delicada ladeada por duas almofadinhas verticais e, logo no topo da fenda, o botãozinho,
muito menos evidente do que o de Júlia. Apalpou-o e sentiu um comichão gostoso, afastou
delicadamente as duas almofadinhas e descobriu duas linguinhas, uma de cada lado interno

das almofadinhas; no centro, um buraquinho que só podia ser por onde saía o xixi. Ficou
brincando de afastar e juntar as almofadinhas, abrir e fechar e estava gostando, mas seu irmão
bateu na porta, gritando que precisava usar o banheiro. Ela se recompôs, antes de sair, mas
não conseguiu eliminar nem o calor que sentia entre as coxas nem o rubor de seu rosto,
também em fogo.

Aos poucos, depois de outras sessões de descobertas, só, ou em companhia de outras
meninas, Lara havia adquirido a certeza de que seu negócio era menina, e não menino. Havia-
se testado com alguns namorados, todos afoitos em saltar logo a proteção do sutiã e enfiar a
mão por dentro da calcinha, além de sempre quererem que ela pegasse e desse "uma
chupadinha". Nenhum deles tivera a menor sutileza, nem fingira tentar sentir o "toque dos
tecidos". E os beijos... ah! meu Deus, nenhum beijava delicadamente como as meninas que a
tinham beijado, já iam logo enfiando a língua como se estivessem desentupindo uma pia!
Nenhum passou nos testes e ela ficou certa de sua preferência.

Sua parceira de jogos mais frequente era Júlia, mas, depois de um dia de muito tesão e
entusiasmo, foram testar quantos dedos dava para enfiar sem tirar a virgindade. Júlia sangrou
um pouco e decidiram que estavam indo longe demais. Iam continuar apenas amigas,
partilhando o segredo comum e sua confidências sobre outras aventuras. Foi Lara quem
descobriu primeiro as vantagens do chuveirinho do bidê: sentada na posição correta, com o
jato apontado para o lugar exato, a aguinha morna, uhm!!, era difícil se equilibrar... Mas foi Júlia
quem descobriu as vantagens da banheira (que não havia, na casa de Lara) para explorações
genitais.

Cidade pequena é foda, e família é uma coisa muito chata. Não podia se abrir, se "assumir", e
tinha que fazer muitas coisas de que gostava trancada no armário, quer dizer, em quartos de
amigas ou, com sorte, em banheiros da escola ou do clube. Sonhava com o dia e que poderia
ficar tranquilamente na cama com uma menina, as duas completamente nuas, sabendo que
ninguém viria bater à porta, explorando seus corpos mutuamente, com todos os sentidos,
visão, olfato, tato, paladar e audição. Nunca pudera desfrutar de todos os sentidos com a
mesma menina, sempre faltou algum. Tremia só em pensar em ficar deitada abraçada nua a
outra menina (lençol de cetim era pedir demais?), em beijarem-se dos pés à cabeça, os pés de
uma para o lado da cabeça da outra, em esfregarem mamilo contra mamilo, pernas
entrelaçadas, sexo úmido colado em outro sexo úmido, em travar um delicioso campeonato de
jogo de botões inchados. Sonhar não é proibido, e ninguém vê...

Poucos anos depois, Júlia entrou para a Faculdade de Enfermagem e se mudou para São
Paulo. Depois de dividir alguns apartamentos com colegas, encontrou uma quitinete perto da
faculdade, para onde se mudou sozinha, mas vinha para casa quase todos os fins de semana.
Contou para Júlia algumas de suas aventuras e descreveu o ambiente liberado de que
desfrutava, bares, restaurantes clubes noturnos, danceterias BLG; alguns deles
predominantemente L. Lara não via a hora de poder conhecer tudo aquilo.

Uma única vez Lara teve seu sabor provado por uma menina. Casualmente, ela e Eurídice, que
não dava a menor bandeira, se atrasaram na saída do clube e se deram conta de que estavam
sós no vestiário. Foram cada qual para uma ducha em frente à outra e, como que
descuidadamente deixaram as portas entreabertas. Os olhares passaram de furtivos a
ostensivos e a penetrantes e Lara se surpreendeu quando Eurídice abriu um pouco mais a
porta e acenou com a cabeça, convidando-a. Ela se certificou de que não havia ninguém por
perto, pegou sua toalha e foi ao encontro de Eurídice, sem saber bem o que aconteceria.
Aconteceu um pouco de tudo o que ela já conhecia; a novidade foi quando Eurídice se
acocorou diante dela e começou a beijar seu sexo, a lambê-lo e a tentar enfiar a língua. Lara
tremia toda, não sabia bem o que estava acontecendo, chegou a um ponto em que pensou que
fosse desmaiar e teve seu primeiro orgasmo com sexo oral. Eurídice se ergueu e tentou
abaixar a cabeça de Lara para que lhe fizesse o mesmo, mas Lara estava transtornada, presa
de um súbito pavor de ser encontrada naquela situação e saiu às pressas do cubículo. Mais
tarde, lamentou-se profundamente por não ter provado o gostinho de Eurídice.

No primeiro fim se semana prolongado oportuno, Júlia alegou que tinha muito o que estudar e
pôr em dia, e disse que não poderia ir para casa. Convidou Lara para passar o fim-de-semana
com ela. Lara já queria ir na quarta-feira...

Logo na entrada do Monte, Lara percebeu que aquele era seu lugar. Mulheres, muita mulheres,
elegantes, gatíssimas, a maioria jovem, exalando estrógeno por todos os poros e orifícios.
Desde as 10 hs da noite que Lara insistia com Júlia para que fossem logo, e Júlia a contê-la,
que antes da meia-noite não pintava nem rolava nada. "Não é como no Tênis Clube, que já
está fechando, nesse horário." Paciência: conferir as unhas, os cabelos, a roupa, mais uma
voltinha diante do espelho de corpo inteiro fixado na parte de dentro da porta de entrada, um
fiozinho de sobrancelha que se desalinhou, mais um espreizinho de perfume ("Desse jeito você
vai matar alguém asfixiado."), verificar se o salto 8 estava bem firme, elevar os dois seios com
as mãos em concha, uma espera intolerável.

Antes mesmo de conseguir chegar ao balcão e pedir seu Cosmopolitan sonhado, já havia
levado três olhadas de derreter gelo. Júlia havia convidado também Vanessa, uma colega da
faculdade, do mesmo time e que tinha carro. Facilitava muito. Haviam, combinado que caso se
perdessem de vista ficava marcado um encontro a cada hora exata ali mesmo no bar, e que,
em princípio iriam embora juntas às 4 hs. Caso surgisse uma oportunidade para sair com outra
pessoa, nenhuma delas deveria sair sem avisar uma das outras. Estavam para o que desse e
viesse (ou para quem desse ou pegasse).

Foram juntas ainda para um dos salões onde o som era discoteca. Nostalgia ou fantasia
antiga? Em todo caso, o embalo era bom. Começaram a dança e uma morena escultural,
vestida com um bustiê laminado e uma micro saia justíssima começou a encarar Lara,
aproximou-se dela, dançando de forma provocadora. Vanessa, que era bem escolada nesses
ambientes, colou-se em Lara e disse-lhe ou ouvido: É uma teaser, contratada pela casa apenas
para aquecer o ambiente; com essa não rola nada." Pouco importava; havia montanhas de
mulheres bonitas. Aos poucos, perdeu de vista suas acompanhantes, ficou borboleteando e
paquerando quem cruzasse o olhar com o dela. Decidiu mudar de ambiente e foi conferir a sala
d e slow. Bem mais romântica, igualmente quente. Começou a balançar o corpo ao ritmo da
música e logo uma menina cuja idade não conseguia definir - algo ente os 25 e os 40 - parou
diante dela, acompanhando seu balanceio. Aproximou-se, olhando-a fixamente, quase se
encostando nela e delicadamente pousou as as mãos em sua cintura. Acabaram colando o
corpo e ela lhe disse "Você é muito bonita, e dança muito bem." "Obrigada; você também."

Ao seu lado pares dançavam de rosto colado, se agarravam, se beijavam, para alguns a
música pouco importava. Lara estava extasiada; já beijara, e fora beijada por mulheres, mas
nunca vira um casal de mulheres se beijando. Dançou, se esfregou, foi esfregada e acabou
sendo beijada por seu par. Umh!, diferente do beijos anteriores, este mais guloso, determinado,
podia ser um fim em si, mas deixava entrever a possibilidade de uma evolução. Lara precisou
de um tempo para processar tudo aquilo. Olhou em torno e não viu nem Júlia nem Vanessa.
Desculpou-se com sua desconhecida e foi em direção ao bar. Pediu uma cerveja e ficou
observando o movimento. Nada de Júlia, nem de Vanessa.

Decidiu conhecer melhor as dependências. Entre dois salões de dança começava um corredor
com as alcovas, do lado esquerdo; ela contou oito, as seis primeiras tinham apenas um divã,
que dava para acomodar confortavelmente duas pessoas - com jeitinho, três -, a quinta tinha
um sofazão ou cama redonda que dava bem para umas 5-6 pessoas e a última, um móvel
semelhante, mas que comportava bem umas dez pessoas. Todas tinham, à guisa de porta,

uma cortina de franjas e uma iluminação escassíssima. Do lado direito, havia uma espécie de
salão de visitas, com poltronas individuais confortáveis, iluminação baixa, e portas de vidro com
isolamento acústico e um enorme sinal de "Proibido fumar" (como, aliás, em todo o resto do
Monte); um bom oásis de silêncio. Logo a seguir, um salão idêntico, porém destinado a
fumantes. No fundo do corredor, o dark room, mais parecido a um laboratório de treinamento
sensorial, e local de descobertas fascinantes.

Lara percorreu o corredor até o fim, dando uma espiada discreta em cada alcova, mas sem
afastar as cortinas; todas pareciam ocupadas, e tinham uma luzinha vermelha acima da
abertura da porta. Quando chegou à porta da penúltima, uma menina que entrava segurou as
franjas como um convite para que ela também entrasse. Ela não entrou, mas pode ver que
devia haver uns três corpos embolados no sofazão. Nem olhou a última, inspirou
profundamente e mergulhou no dark room.

Escuridão total. Esperou um pouco apara acomodar a visão, e nada mudou. O local era mesmo
um breu total. Estendeu os braços, com uma sonâmbula, procurou um apoio referencial na
parede ao lado, forrada com um espécie de veludo e pôs-se a caminhar muito lentamente. Com
dois ou três passos, esbarrou numa parede frontal, forrada num tecido liso como cetim, que
teve que contornar pela esquerda. Primeira passada de mão. Do fundo do escuro uma mão a
tocou, como que por acaso. Ela recuou, automaticamente, mas logo pensou: "Estou aqui para
isso mesmo", e continuou sua marcha lentíssima. A mesma mão (ou outra, como saber?) tocou
nela e ela não se moveu. Toque aqui, toque ali, em cima, em baixo, na frente, atrás, até que
suspeitou de que havia mãos de mais de uma pessoa, uma das quais entrou por baixo da blusa
e acariciou seus mamilos e outra, por baixo da saia até tocar em sua calcinha. Ela já se sentia
encharcada, o cheiro de sexo no ar era inebriante mas, o que fazia ali, com as mãos
paralisadas?

Tateou em torno e concluiu que havia no mínimo três mulheres em torno dela, uma delas com
os seios de fora e outra sem calcinha. Uma beijava seu pescoço por trás, uma mão afastou sua
calcinha expondo seu sexo e uma voz sussurrou em seu ouvido: "Bucetinha melada!; é assim
que eu gosto." Subitamente, Lara se lembrou que havia combinado de se encontrar com as
amigas a cada hora e não fazia a menor ideia de que hora era.

Desvencilhou-se penosamente de mãos, boca, braços e pernas e tateou em busca de uma
saída, cercada por suspiros, gemidos, farfalhar de roupas, estalidos elásticos, respirações
ofegantes. Chegou ao bar e não viu nenhuma das duas. Perguntou a hora a uma barwoman.
"Uma e vinte." Onde poderiam estar? Será que alguma delas teria estado no dark room com

ela? Júlia certamente não; nenhuma delas usava Angel, o perfume de Júlia, e os seios e o sexo
que tocara tampouco eram de Júlia. Com tanto salão de dança e alcovas era inútil tentar achá-
las. O negócio era não perder o encontro das 2 hs. Enquanto isso, por que não dar uma olhada
se alguma delas estava em alguma alcova?

Conseguiu voltar ao corredor e notou que a luzinha de uma das pequenas alcovas estava
verde. Logo, ninguém ali. Na primeira, dois vultos sentados, engalfinhados, mas não dava para
ver rosto nenhum. Na segunda, quase não acreditou: uma mulher sentada, com as costas
apoiada na perde e, entre suas pernas abertas, outro corpo ajoelhado no chão com a cabeça
enterrada nas coxas da outra; uau! Na terceira, um corpo deitado sobre o outro, aparentemente
vestidos. A quarta, vazia. Na quinta e na sexta, o novelo de corpos era muito confuso para se
distinguir, na penumbra, quem fazia o quê. Voltava, quando se deparou no corredor com sua
parceira do salão de slow.

"Estava à sua procura; que bom que a encontrei! Não é fácil encontrar alguém aqui. E você,

encontrou suas amigas?" "Ainda não; estava procurando." "Por que não faz uma pausa, e

aproveitamos para nos conhecer melhor?" Olhou para cima e viu a luzinha verde acesa em

uma das alcovas. Estendeu a mão, disse: "Venha", a afastou as franjas. Lara a seguiu e, assim

que entraram apertou um interruptor que trocou a luz para vermelha. Abraçaram-se

carinhosamente e retomaram o beijo que haviam interompido. Não tardou e estavam as duas

estavam no sofá, só de calcinha, com o resto das roupas penduradas em cabides

estrategicamente existente no interior da alcova. Lara nem sabia dizer onde foram para as

calcinhas e como sua boca chegou até o sexo de sua parceira, mas pode, enfim, sentir não só

o sabor de uma menina excitada, como a inundação que acompanha seu orgasmo. Em duas

ou três oportunidades teve a impressão de que alguém afastara as franjas da entrada ou

mesmo entrara na alcova, mas isso não importava, estava muito ocupada para se ocupar com

ninharias: tinha uma menina em seus braços, estava no braços de uma menina, sua pernas se

entrecruzaram, seus sexos se colaram e, finalmente ela gozou no e com o sexo de outra

mulher.

Antes de voltar ao bar, para o encontro das 3 hs, passaram pelo banheiro para "retocar a
maquiagem". Lara levou um susto ao se ver no espelho: descabelada, o rosto borrado de rímel
e de batom e, sobretudo, um ar de felicidade que nunca havia visto em si mesma. Saiu do
Monte de Vênus sem ao menos saber o nome de quem lhe dera tanto prazer.

Aline Smith

Era uma daquelas sextas feiras em que parece que o diabo esta solto. Só problemas. Ainda
por cima tinha que recepcionar aquela gringa que vinha da matriz para xeretar e conferir seu
trabalho. Logo ela VP de Marketing e Comunicação, dona absoluta de sua equipe, mandava e
desmandava com muita competência e eficiência. Ninguém ousava contrariá-la porque todos
admiravam seu trabalho, e principalmente seu gênio turbulento, explosivo, às vezes mal criado
e ofensivo.

Aline tem o perfil clássico das mulheres bem nascidas, bem resolvidas, seguras, excelente
formação, viajada, uma daquelas raras mulheres que sabem o que quer e que defende seus
pontos de vista com unhas e dentes. Reinava sozinha na empresa, até os mais altos
executivos procuravam atender suas ponderações, não só porque a temiam, mas porque era
difícil convencê ou ate ganhar dela em uma discussão.

Até o presidente da empresa não ousava contradizê-la. Por outro lado seu trabalho era tão
admiravelmente bem feito que toda a empresa saia ganhando. Suas conquistas no lançamento
de produtos, estratégias de publicidade, presença na mídia, levaram a empresa a ganhar
muitos prêmios e principalmente muito faturamento.

Não era para menos a irritação dela com a visita da CEO da matriz americana, recém
empossada no cargo, mas já vencedora de algumas batalhas com a concorrência. No primeiro
semestre de trabalho quis conhecer o braço brasileiro e fazia questão de conhecer o trabalho
da VP de Marketing. Agendou sua chegada na sexta feira, dia sagrado para Aline alongar o fim
de semana e partir para o merecido descanso na chácara. Estava irritadíssima porque sua
companheira não iria acompanha-la neste fim de semana por estar presa em outros
compromissos. Estavam juntas há alguns anos, Gabi, uma garota jovem, dócil, bonita cursando
a faculdade de Comunicação. Aline estava introduzindo-a nos mistérios da vida, cuidando de
sua educação e cultura. Basicamente "pegando para criar", o que lhe dava um prazer infinito,
sentir sua dedicação e embevecimento. Deliciava-se quando despertava em Gabi toda
sexualidade, tocando os pontos certos de seu corpo, fazendo-a gozar como um animal no cio.
Como era gostoso acordar na chácara, preguiçosa, ao lado daquele corpo jovem e nu
enrodilhado em suas pernas, cabeça apoiada em seus seios. Às vezes, quando ela começava
a sugar seu seio, não sabia se estava sonhando ou já tinha acordado.

Sem Gabi o fim de semana não seria o mesmo, esperava fazer a reunião com a tal CEO e
depois refugiar-se em sua casa e descansar..

Noblesse oblige, 11h reunião no escritório seguida de almoço em algum restaurante sofisticado
da cidade, preparar-se para responder todas as perguntas, ser simpática atenciosa.

Qual não foi seu espanto quando anunciaram Miss Debra Taylor, alta, loura, elegantíssima,
sofisticada, bolsa Hermès, sapato de grife com saltos altíssimos, um suave perfume inundando
o ar e uma voz aveludada e gentil.

‒ Nice to meet you. Muito obrigada por me receber. Conheço seu trabalho e admiro muito tudo
que tem feito pela empresa. Em USA seu nome é muito respeitado, e eu mais que conhecer
seu trabalho tinha enorme vontade de conhecê-la.

Aline, muito surpresa pela calorosa receptividade, sentiu-se sensibilizada pela deferência com
que era tratada. Tinha preparado um extenso relatório, muitos números e demonstrações, e
agora Miss Taylor não solicita nenhum demonstrativo, não fala em relatórios, começa uma
conversa bastante pessoal, nada nos moldes de uma alta executiva americana.

Apresentou-se dando um abraço caloroso, um pouco junto demais, sentiu as coxas firmes da
americana contra as suas, seus seios firmes no seu peito, faces juntas. Afastou-se sentindo
uma ligeira excitação.

Debra muito à vontade sugeriu que fossem almoçar e que gostaria muito de conhecer a
gastronomia brasileira, preferia algo típico, tinha ouvido falar na famosa “caipirinha” e queria
experimentá-la.

Aline teve que cancelar o sofisticado restaurante e dirigiu seu carro para um boteco típico.
Dirigindo e fazendo a cicerone, sentiu uma mão apoiada em sua coxa fazendo uma leve
pressão, depois mais forte e depois em cima da pele. As mãos aveludadas massageavam suas
coxas, subiam e desciam e a cada momento penetrando mais fundo em sua intimidade. Outra
mão no seu pescoço, nuca, cabelos, pressão suave e forte intercaladas e de repente um beijo,
uma caricia na orelha, sem palavras, apenas gestos.

Aline foi ficando ofegante, respiração mais forte, mais perturbada. Devolveu a pressão na coxa,
como estava dirigindo estava mais passiva que ativa. Aquela mão esquerda que estava em seu
pescoço começou a descer, penetrou em seu decote, por dentro da camisa, alcançou os seios
e pressionou o mamilo. Era impossível continuar a dirigir. Fez uma paradinha estratégica e
trocaram um beijo na boca com sofreguidão. Depois pediu um tempo para se recuperar,

cancelou o boteco e rumou direto para seu apartamento. Ela faria a caipirinha e decidiria onde
iria tomá-la.

Com certeza o fim de semana prometia muitas surpresas.

O JANTAR DE GALATEA

Anita Cavalcanti

I

Depois de Eloá, o dilúvio. O terremoto, o maremoto, o tsunami. Anita ficara no vazio,
pendurada no pincel. Eloá levara com ela tudo o que havia de bom, a alegria de viver, as cores,
os plano para o futuro. Depressão é isso. Anita não ficara sozinha, ficara com a depressão. A
fossa, a dor-de-cotovelo.

E aquele antigo plano das duas de irem para um ashram na Índia? Era agora ou nunca.
Chutaria o pau da barraca. Iria sozinha.

II

Pondicherry era uma cidadezinha agradável. E pitoresca, com suas placas de rua em francês,
em pleno territória hindu. Em francês, só as placas. Não achou ninguém que entendesse uma
só palavra de francês. Mesmo assim, conseguiu chegar ao mundialmente famoso ashram da
cidade, onde havia feito uma reserva.

Um mês sem falar nada, com ninguém. Talvez nem desse mesmo. Fora os monges mais
idosos, todos ali pareciam estrangeiros. Silêncio e muita meditação. Horas concentrada em seu
hara, no vazio absoluto. Era melhor do que a dor de pensar em Eloá. Ou, em sua ausência. Ela
esperava ouvir sutras e mais sutras, mas, ao invés, horas e horas de yoga. Novidades, como
levantar e deitar cedo, dormir cedo sozinha nma esteira, comida frugal e escassa, trabalho
pesado. Por mais que se esforçasse, não conseguia sentir a Divina Presença, a Luz nem a
Força. Jamais atingiria o Nirvana!

Depois de um mês, silêncio aliviado. Poderia caminhar em grupos de três ou quatro. E falar
pouco e em vez baixa. Para isso seu precário inglês bastava. Dos poucos com quem
conversou, ligou-se mais a Vijay, um chef tamil, que havia trabalhado na Alemanha. Aprendera
novas técnicas da cozinha molecular, que pretendia aplicar para extrair extratos sublimados de
especiarias e condimentos de sua terra. Sentira-se culpado quando sua família, bem como a
maioria de seus conhecidos que ficaram para trás, foram dizimados na guerra de seu país,
enquanto ele estava no conforto possível de uma Europa para refugiados. Sem família (talvez
tivesse sido isso que a fizera sentir-se próxima dele), decidira retornar e reconquistar seu chão.
Mas, nada parecia funcionar. Sentiu que era necessário um estágio num ashram para
examinar e aceitar seu karma Ficar em paz com os mortos e tentar viver sem conflitos com os
vivos. E foi para Pondicherry

Quando deixaram o ashram, antes de retornarem cada qual para sua casa, ele quis mostrar-lhe
lugares especiais de Pondicherry, os templos de Kali e o de Ganesh, e insistiu para que ela
desse um pulo a Khajuraho. E, se quisesse, passasse por Gale, no sul do Sri Lanka, onde ele
era o chef de cozinha de um conceituado hotel cinco estrelas.

Vijay lhe parecera assexuado. Também, pudera, a vida no ashram era um verdadeiro breviário
contra a luxúria. Desde o início da adolescência, ela nunca havia passado tanto tempo sem
nenhuma atividade sexual, nem mesmo uma siriricazinha. Mas, depois de ver a maior suruba
de pedra do mundo no templo Kandaria Mahadeva, seu kama deu sinais de querer despertar.
Ela lamentou que Vijay não fosse do sexo que a atraía.

Devia estar ainda estar deprimida, pois achou o Sri Lanka um saco. Os homens eram muito
mais sensuais que as mulheres, e saiu de lá tão casta como chegou. Entusiasmo, mesmo,
apenas com a cozinha de Vijay. A melhor combinação de técnicas ocidentais com ingredientes
e condimentos orientais. Nada dessa babaquice de comida fusion, afogada em capim-limão.
Literalmente, um prato cheio para trouxas e ingênuos. Vijay, não. Ele pesquisava a fundo para
conseguir extrair o purusha dos condimentos. Empregava sofisticadas técnicas laboratoriais e
da moderna cozinha molecular, para trabalhar os principais condimentos do Oriente,
particularmente aqueles considerados afrodisíacos pelo Aiurveda. Mas, para ele, o kama era
parte essencial e normal da natureza, e não parecia ver nisso nem um tiquinho de sacanagem.

Ela acreditava nos poderes atômicos dos preparados de Vijay. Porém, no estado que se ainda
sde encontrava não quis testar nenhum deles.

III

Sua maior preocupação era com a alfândega. Se conseguiria passar com todos aqueles
frasquinhos de extrato de condimentos. Quase todos eram encontrados no Brasil, mas não em
sua forma de extrato sublimado. O que significava que jamais teriam as mesmas propriedades
e efeitos.

Havia distribuído seu pequeno estoque por toda a bagagem. E meio a roupas, dentro de
sapatos, em tubos e fracos vazios de cosméticos, misturado com as roupas sujas, em bolsos
de casacos. Nos recantos de sacolas e mochilas. Caso fosse selecionada para a inspeção de
bagagem, havia preparado um longo e comovente discurso sobre uma hipotética doença sua e
os benefícios exclusivos e específicos da medicina aiurvédica. Como se isso tivesse algum
valor para um burocrata imbecil da Anvisa. Que certamente seria convocado pelo agente
alfandegário. Dependendo do tom da conversa, poderia deixar no ar sua disposição, sem que

parecesse suborno, de doar uma contribuição para a Caixa dos Funcionários do Aeroporto. Se
nada disso funcionasse, teria uma crise de nervos, uma grande crise histérica. Ttremores,
abalos musculares, um fio de baba, quase uma convulsão. Chamariam o pessoal da Saúde.
Seria levada para o Posto Médico. Na confusão, esperava se safar com todos os frascos de
condimentos. Perda de tempo e de adrenalina. Passou direto. Sem inspeção de bagagem.

IV

Ela a havia notado em algumas ocasiões, mas nunca havia passado pela caixa onde ela
atendia. Como ainda não se dispusera a procurar emprego, tinha muito tempo livre. Foi ao
supermercado no meio da tarde. Havia menos gente. Encheu um carrinho com ítens diversos,
para demorar no caixa. Ficou rodando à toa até que a caixa dela estivesse sem ninguém.
Maíra, informava o crachá. Em treinamento.

Morena clara. Cabelos cacheados (certamente alisados antes). Olhos esverdeados, magrinha,
seios pequenos, algumas sardas. Lindinha. lindinha. O resto, o balcão escondia. Novinha, mas
devia ser "de maior", se trabalhava ali.

Depois do que sofrera, não dava para perder tempo.

- Crédito, respondeu, e emendou: - Você é muito bonita. nunca pensou em ser modelo?

- Ah, pensar a gente pensa, mas nem sei por onde começar.

- Pode começar fazendo uns testes, um book.

- E como se faz isso?

- Trabalho como produtora. Tenho contatos. Se quiser, posso marcar.

Os olho e as narinas se dilataram. O verde se acentuou e a respiração se acelerou. Bom sinal.

- Pense nisso. Venho sempre aqui. Fique com meu cartão. Pense. Se quiser, me ligue. Vou
ficar esperando.

V

Efetivamente, tinha contatos com fotógrafos. Já fotografara com alguns deles. Mas, o melhor
era que tinha contato com uma fotógrafa. Era bom definir o gênero.

Explicou o plano a Muriel, que concordou imediatamente. A sororidade estava em marcha. Ela
produziria e Muriel clicaria. Depois... Depois, veria.

Três dias depois, Maíra ligou.

- Dona Anita, aqui é a Maíra do supermercado. A senhora falou para eu ligar se quisesse fazer
um teste para modelo.
- Sim..., silêncio prolongado... - e você está disposta?
- Tô.
- Que bom. Estamos justamente começando a fazer uns testes para o lançamento de uma
coleção de lingerie. Você... tem problema em posar de calcinha e sutiã?
- De calcinha e sutiã?... Precisa ficar pelada?
- Não, não. Só de calcinha e sutiã. Talvez, só de calcinha, mas de costas.
Silêncio.
- É melhor você pensar e me ligar depois.
- Não precisa, eu topo.
- Não perguntei, mas você é maior de idade, não é?
- Sou sim; fiz dezoito no mês passado.
- Então, pode ser na próxima quinta-feira? Não vai estar menstruada? A que horas você sai do
trabalho?
- Não, só daqui a duas semanas; sou bem regulada. Saio às cinco.
- Ótimo. Tem como anotar o endereço? Não é muito longe, acho que dá para estar lá antes das
seis. Se quiser, tome um táxi. Peça um recibo que o estúdio reembolsa. Assim você chega
mais cedo.
- Vai até que hora? Tenho que avisar em casa.
- Termina antes das nove. Talvez lá pelas oito e meia.

VI
Maíra chegou às cinco e meia e apresentou o recibo do taxi. Muriel estava às voltas como
equipamento, luzes, rebatedores, câmaras etc, e Anita a acompanhou até o vestiário.
Não antes de acertar as contas. Não misturava negócios com prazer. Gostava de fazer
negócios com prazer.

- Aqui está o dinheiro do táxi. Durante os testes, nós pagamos cem reais por hora de sessão.
Depois, se for aprovada e fotografar para alguma campanha, será bem mais. Depende do
produto e da campanha.

Ela era magrinha. Cor da pele, cabelos, seios pequenos e quadris largos revelavam suas
origens africanas. Olhos verdes e sardas indicavam que por suas origens africanas havia
passado algum europeu loiro. Trigueirinha gostosinha, decidiu Anita, mas nada de especial.

- Por enquanto, tire a roupa e pendure naqueles cabides. Fique apenas de calcinha e sutiã e
vista aquele penhoar. Vai ter que lavar bem o rosto para fazer a maquiage.

Anita saiu, deixando-a à vontade. Ao voltar ela estava como devia. Regina cuidou da maquilage
sumária e arrumou-lhe os cabelos. Anita acompanhou-a até o set, ajudou-a a despir o penhoar,
enquanto Muriel falava com ela para deixá-la à vontade. Ela engrenou sem maiores
dificuldades e as primeiras fotos foram feitas.

- Agora, vamos trocar as peças, disse Anita venha comigo.

Levou-a de volta ao vestiário e deu-lhe um conjunto de calcinha e sutiã.

- Troque sua calcinha sutiã por este conjunto. Vamos ver se o tamanho está bom.

- ... Na sua frente?

- O que tem de mais? Tenho peito e xoxota como você. Está bem, fico de costas. Se precisar
de ajuda, avise.

- Pronto.

Bem melhor, com calcinha e sutiã combinando. O tamanho estava adequado. Depois de
algumas trocas e fotos, à sós no vestiário, Maíra perguntou:

- Como estou indo?

- Muito bem. O problema é que seus pelos são muito escuros. Seu quadril é largo e, com as
calcinhas mais transparentes, os pelos marcam.

- Mas eu depilei bíquini, para vir aqui.

- Está bem, mas não é isso. Fica evidente que sua xoxota está com pelos. As manequins de
lingerie depilam tudo.

- Tudo? Como assim?

- Com cera. A xoxota fica lisinha, em nenhum pelinho.

- Nossa, deve doer muito!

- Dói um pouco, mas fica melhor e dura mais tempo do que se raspar com barbeador.

- Nunca ouvi falar. Como se faz isso?

- Qualquer salão de beleza bom faz isso.

- Vige! Tem que ficar peladona na frente de alguém?

- E daí? Quem faz isso é profissional. É como ir ao ginecologista. E o médico ainda enfia os
dedos lá dentro. Se precisa, precisa.

- E é homem quem faz isso? Morro de vergonha.

- Para homem, em salão de beleza, você pode mostrar a xoxota o quanto quiser, que a única
emoção que ele vai sentir é inveja. Mas, em geral, quem faz esse tipo de depilação é mulher.
Olhe, para não ser radical, você poderia começar com uma depilação total com gilete, mesmo.
Vai ver como fica diferente. Se der certo, na próxima você tenta a cera.

- Não é perigoso se cortar?

- É. E melhor que alguém a depile. Se quiser, posso ajudar.

- Não sei... tenho vergonha.

- Deixe de ser boba. No mundo das modelos não há lugar para vergonha. É só um teste, e
estou cansada de fazer isso em candidatas a modelo, como você.

- E faz aqui mesmo?

- Temos tudo de que se precisa. Você tira a calcinha, se deita naquela maca e eu cuido do
resto.

Visivelmente embaraçada, Maíra obedeceu. O rubor em sua face era evidente. Anita cobriu seu
púbis com uma toalha quente úmida, "para amaciar e facilitar da depilação" e foi preparar
creme barbeador. Na passagem colocou umas dessas coisas chamadas de "música
relaxante", cantos de baleias, ruídos de ondas e de água escorrendo, sons new age, essas
bobagens.

- Fique tranquila; feche os olhos e ouça apenas a música. Vou começar das beiradas para o
centro, mas ainda não vou depilar os lábios. Se sentir algum incômodo, avise.

Esguichou a espuma desde uns 10 centímetros abaixo do umbigo até o alto das coxas e
massageou toda a região delicadamente:

- Ajuda a amolecer os pelos.

Maíra respirava tranquilamente. Quem começou a ficar incomodada foi Anita. Debruçada sobre
o sexo de Maíra estava ficando zonza com o ruído sibilante da lâmina cortando os pelos
íntimos e o delicioso aroma que ela exalava, que permaneceu no ar sobrepujando o do creme
de barbear. Maíra devia estar excitada, aquele cheiro era inconfundível.

- Tudo bem?, perguntou Anita, recobrando o controle da situação.

- Tudo bem, só um pouco de cosquinha.

- É assim mesmo. Talvez fique mais intensa; avise, se incomodar.

Aquela nunca fora uma da fantasias de Anita. Mas ela estava achando muito excitante
desnudar a pele daquela maneira. O creme branco desaparecia e surgia a pele morena nua,
mais nua impossível, pressagiando o que ainda estava por vir. Apenas os lábios continuavam
cobertos de pelos encaracolados.

- A primeira etapa terminou, disse removendo com uma toalha úmida o creme restante.
Continuamos?

- Pode.

- Então, agora abra bem as coxas e dobre os joelhos.

Anita notou um leve tremor em sua mão. A posição de Maíra era de sonho. Prontinha para o
embate. Mas Anita não misturava negócios com prazer.

- Vou precisar afastar os lábios um pouquinho. Tudo bem?

A voz de Maíra sensivelmente mais rouca:

- Tudo bem.

Anita manipulava o aparelho com extremo cuidado. Passadas longas. A favor do crescimento
dos pelos. Não escanhoava, para evitar cortes e ferimentos. Não importava se não ficasse
perfeito. À medida que o creme era removido, junto com os pelos, o sexo de Maíra surgia em
sua nudez plena, abaulado, inchado, de um moreno arroxeado. Anita teve a impressão de
perceber uma lágrima de Eros brilhando na fenda entreaberta. Mais um pouco, escorreria.
Contendo-se com dificuldade, disse.

- Está quase acabando. Puxa, sua xoxota é linda, de proporções perfeitas. Seu namorado deve
adorar...

- Num tenho namorado.

- Mas, já teve.
- Uns dois ou três, mas foi só namorinho.
- E o que eles acharam da sua xoxota?
- Nada. Eles bem que tentaram passar a mão, mas eu não deixei. Homem só quer se
aproveitar da gente.
- Quer dizer... que você é virgem?
- ...Sou.
- Coisa rara, na sua idade. Pronto, ficou uma beleza.
- Dá um friozinho... geladinho.
- Vou passar uma loção que vai dar um calorão. Depois continuamos com as provas. Agora
não vai aparecer sombra nenhuma.

VII
Segunda de manhã. Anita no supermercado.
- As fotos ficaram muito boas (e, abaixando a voz), principalmente depois da depilação. Me
ligue depois das cinco.
Ao telefone, explicou que as fotos estavam excelentes. O cliente queria uma modelo mais
conhecida, mas elas estavam tentando convencê-lo a apostar em Maíra. Teriam que esperar
uma semana, mais ou menos, pela decisão.
- Entretanto, tenho outra coisa a lhe propor. Precisamos conversar.
Combinaram que no dia seguinte Anita a apanharia na saída no trabalho.

VIII
Acomodaram-se numa mesinha ao canto. Ao abrigo de olhos e ouvidos indiscretos. Anita abriu
uma revista e colocou-a diante de Maíra.
- Sabe o que é isso?
- Nossa! Que coisa mais esquisita! A moça está pelada?
- Isso é um jantar cerimonial japonês.

A moça era de uma brancura imaculada. De olhos fechados, parecia nua, coberta de sushis e
sashimis, com adereços de legumes entre eles. Ao seu redor, um círculo de homens.
Japoneses sérios. Todos de terno escuro.

- Eles vão comer a moça?

- Acho que não. Ela é apenas uma bandeja humana, sobre a qual a comida é servida. Ela fica
imóvel. Eles comem e vão-se embora. E ela ganha um bom dinheiro.

- Que nojo!

- Que nada. É uma cerimônia erótico-gastronômica. É claro que eles gostariam de comê-la,
mas de outro jeito. Comem a comida com os pauzinhos e depois vão comer suas esposas com
outro tipo de pau.

- Acho nojento.

- Sabe quanto ela ganha por hora para fazer isso? Mais de quinhentos reais.

- Nossa! É quase o que eu ganho num mês.

- Não gostaria de ganhar isso também?

- Desse jeito, não. Acho nojento e morreria de vergonha dos homens.

- O que quero lhe propor é diferente. Tenho um grupo de amigas que admiram o corpo
feminino. E que gostam muto de comidas exóticas. Eu preparo comidas exóticas. Gostaria de
contratá-la para trabalhar como bandeja humana. Como ainda é um teste, pago quatrocentos
reais por hora. Para facilitar, faremos um teste só você e eu. Já a vi nua e você não deve mais
ter vergonha de mim. Se der certo, combinaremos um jantar para umas seis ou oito amigas.
São todas de confiança e não haverá homem nenhum.

Anita parou, ofegante, e tomou um gole do seu Cosmopolitan. Maíra, olhando para a foto da
revista, sorveu lentamente sua cerveja, Tinha muito que aprender em matéria de bebidas. E da
vida.

- Ela está pelada, por baixo dessa comida?

- Pelada e depilada. Onde já se viu misturar comida com pelos?

IX

Se seus cálculos estivessem corretos, com oito mulheres por jantar, a quinhentos reais por
cabeça, fora as bebidas. Descontando os que prometera a Maíra, o que sobrava compensava

amplamente os insumos e seu tempo na preparação. Até daria para voltar ao Sri Lanka em
busca de mais extratos de condimentos de Vijay.

O exotismo dos pratos, o inusitado da apresentação e (sobretudo) a promessa do efeito
afrodisíaco criariam inevitavelmente um alta expectativa. E uma fila de espera. A comunidade
lésbica era inestimável. Se saísse como planejado, ela nem precisaria encontrar um novo
emprego. Poderia até abrir uma empresa e contratar Maíra com exclusividade. Pensar em
eventos customizados. Para um casal apenas. Apenas para casais. Para facilitar encontros. O
céu era o limite.

X

No sábado era a folga de Maíra e ela chegou no apê de Anita às quatro horas. Esta passou um
longo tempo explicando como a coisa funcionaria. Ela prepararia os quitutes, empregando um
pouco ds condimentos que trouxera do Sri Lanka, e os colocaria sobre o corpo de Maíra. Como
a maioria dos doces e salgados era de cremes ou pastas, não seriam usados nem talheres
nem ohashi. Eles passariam diretamente do corpo de Maíra para a boca das comensais. Nos
testes, a de Anita.

Naquele contexto, Anita não necessitava nenhum afrodisíaco. Desde a sessão de depilação, só
pensava em como levar Maíra para a cama. Conseguir o que nenhum namoradinhos
conseguira. Fazer a xoxota dela babar sem subterfúgios de creme de barba e barbeador.
Substituir Eloá? Porém, para que Maíra fizesse bem o que Anita esperava que ela afizesse, os
afodisíacocs teiam que funcionar. Anita faria com que ela provasse todos os serviços.

Ela preparara na sala uma longa mesa baixa, coberta por um colchonete, um plástico branco e,
sobre tudo, um lenço de linho branco. Sua avó nunca imaginaria para quê uma peça de seu
enxoval seria empregada. Para ficar no clima, Anita vestira uma das túnicas multicoloridas que
trouxera da índia. Sem nada por baixo.

O cardápio estava pronto e os comes pré-preparados. Alguns dos serviços tinham que ser
finalizados na hora. Mas estava quase tudo pronto, como o cardápio:

Caipirinha em geleia com jagra e água de rosas

Musselina de ostra com cravo

Paté de fîgado de ganso com canela

Espuma de côco com funcho

Sorbet de pitanga com marsala e cardamomo

Baba de moça com açafrão

XI

Anita acompanhou Maíra até a banheira que já estava preparada. Sabão de côco, sem
perfumes, para evitar interferências odoríferas. Supervisionou o banho e notou que os pelos
começavam a crescer. Mas, não disse nada. Quando o negócio fosse começar para valer, a
depilação a cera seria imprescindível.

Ajudou-a a enxugar-se minuciosamente. Estava impressionado com a seriedade e a calma de
Maíra. Parecia que fazia aquilo todos os dias.

Deitou-a na mesa. Cobriu-lhe o sexo com uma concha de vieira. Os seios pequenos, com
meias cascas de tangerina. Seriam descobertos apenas no momento de "servir".

Voltou da cozinha com cubinhos de Caipirinha em geleia com jagra e água de rosas, que
dispôs em carreiras, ao longo das coxas de Maíra, que exclamou:

- É geladinho!

Colocou um cubinho na boca de Maíra e colheu duas das coxas de Maíra com a própria boca.
Regozijou-se com o resultado. Trouxera também a terrina com a Musselina de ostra com cravo.
Depositou uma colherada na testa e outra na boca de Maíra. Lambeu delicadamente a da
testa. Degustando e acalmando Maíra. Um pouco salgada; a essência do cravo atenuava o
sabor mas anestesiava um pouco a língua. Não lhe pareceu boa ideia abrir o ágape com cravo.

Fez o trou normand com outro cubinho de geleia de caipirinha.

Em seguida, o que para ela deveria ser a piéce de résistence gastronômica, o Paté de fîgado
de ganso com canela. Deu a porção de Maíra na boca e ouviu:

- Hum, é muito bom!

Colocou uma colherada em cada covinha logo acima das clavículas e, enquanto as lambia -
deliciosas! - respirava bem junto ao pescoço de Maíra. Seria difícil saber o que dependia dos
extratos afrodisíacos e o quê da situação. Poderia ficar naquilo durante horas. Como fora se
esquecer do Sauternes? Começava a sentir um calorzinho auspicioso no baixo ventre.

Foi à cozinha e voltou com a bomba de ar comprimido. Depois de outro cubinho de caipirinha,
removeu a cascas de tangerina dos seios. Pressionou a válvula da bomba e a bela espuma
branca de côco com funcho começou a cobrir os seios da base para a o cume. Os mamilos
estavam eretos antes que as grandes auréolas arroxeadas desaparecesses sob a neve de

côco. Anita lambeu a espuma alternadamente em cada seio. De baixo para cima. Terminou
lambendo, chupando e desnudando os mamilos enrijecidos. Pelo frio da espuma ou pelo calor
da língua de Anita?

O peito de Maíra oscilava cada vez mais rapidamente para cima e para baixo. Sua respiração
estava acelerada. Quem sabe, outros processo fisiológicos também?

Nova jornada à cozinha e voltou com o sorbet de pitanga com marsala e cardamomo.
Anunciou, antes de colocá-lo sobre o umbigo:

- É gelado.

- Ui, é mesmo.

Na verdade, era uma delícia. Uma feliz combinação de ingredientes. Maíra concordou. Anita
lambeu tudo até raspar o fundo da vasilha umbilical. Maíra disse que fazia cócegas.

- É ruim?

- Não, gostoso.

Ao apanhar com os lábios mais uma geleia de caipirinha na coxa Maíra, Anita sentiu que o
calor entre suas próprias coxas havia aumentado muito. Seu sexo estava inchado e úmido.
Maíra arfava. A caminho da cozinha para apanhar a Baba de moça com açafrão, para o grand
finale, seu corpo era percorrido por descargas elétricas. Da periferia para o seu centro amoroso
de seu corpo. Arrepios, coriscos, relâmpagos. Os extratos dos condimentos já estavam em
plena ação.

Ajoelhou-se, trôpega, com a compoteira ao lado de Maíra e removeu a concha que cobria seu
sexo. Maíra tentava permanecer imóvel, como fora orientada a fazer. Mas todos seus músculos
se contraíam involuntariamente, provocando-lhe pequenos deslocamentos sinuosos, viperinos.
Sentia ondas de calor da cabeça aos pés, dos pés à cabeça. Arrepios que se concentravam em
seu sexo.

Anita ficou admirando aquele sexo em sua plenitude, que o movimento dos quadris fazia subir
e descer. Abaulado, grandes lábios polpudos, quase entreabertos, a linguinha dos pequenos
projetando-se para fora. Lá no alto, coroando tudo, um botãozinho petulante parecia pedir seus
quinze minutos de atenção. As lágrimas de Eros escorriam abundantes. Mas Anita não
misturava. negócios com prazer. Com grande esforço e um delicado guardanapo, enxugou o
licor do amor. Aspirou o guardanapo e teve uma vertigem. Vijay era um gênio. Escolhera os

condimentos certos. Ela escolhera a baixela certa. Sentia cãibras no ventre. Seu sexo estava
preste a explodir.

Com uma espátula de marfim, ungiu aquela jóia, até então intocada, com a emulsão. O
botãozinho perdera sua discrição e seu pudor. Exibia-se altaneiro e guloso acima da Baba de
moça. A cada carícia da espátula, um gemido contido de Maíra, um arquear de seus quadris,
coxas mais abertas, joelhos dobrados.

Anita deslocou-se para os pés de Maíra e começou a lamber o doce de baixo para cima, de
fora para dentro. Tratava de controlar e conter sua gula. Tratava de controlar e conter seu
tesão. Ofegante, María soergueu o tronco e apertou a cabeça de Anita contra sua boceta. Anita
abocanhou o clitóris que não pedia outra coisa. Maíra emitiu um longo e rouco uivo. Anita ficou
ainda alguns momentos rolando o carocinho da fruta sem caroço com a língua. Subitamente,
num salto, atirou-se sobre Maíra. Ventre no ventre, sexo encaixado no sexo, clitóris esgrimindo-
se mutuamente, não aguentou muito mais. Seu canto de Afrodite suplantou o de Maíra e o das
cítaras e tablas que rodavam no toca-CD.

Depois de sabe-se lá quanto tempo, Anita deslizou para baixo e foi acabar de comer o doce
que não terminara. Como mignardise, lambeu ainda toda a baba não metafórica da legítima
moça desmaiada de pernas abertas, para seu deleite. Criara mais um prato: a babaca babada.

XII

Faltavam pequenos ajustes para o negócio entrar em fase operacional. Maíra estava disposta a
mais alguns testes. Disposta e muito interessada. Anita estava pensando também em cobrar
mais de quinhentos reais por cabeça. Valia.

VINTE ANOS DEPOIS

As três haviam-se conhecido no colégio interno. Trícia, Otávia e Elisa. O autodenominado
TriOElétrico. Coisas de menininhas virando mocinhas.

Quando Otávia e Elisa chegaram, já faziam um ano que Trícia era interna, mas todas cursavam
o primeiro ginasial. O pai de Trícia era diplomata de carreira, estava sempre mudando de um
país para outro e ela perdera alguns anos escolares. Logo ficaram amigas, embora no primeiro
ano em que lá estiveram, Trícia - já "mocinha" -, dormisse no dormitório das Grandes e as
outras duas, no das Médias. Mas foi apenas durante um ano, pois ao longo desse, Otávia e
Elisa começaram a menstruar e foram promovidas para o dormitório das Grandes.

Na época, não sabiam disso, mas ficaram apaixonadas uma pela outra. Quem percebeu
claramente foi a irmã Paulina, que tinha uma queda por Trícia, a quem havia minuciosamente
ensinado diversos "segredos de mulher", logo que ela menstruou pela primeira vez, tais como
cuidar de sua higiene íntima, com demoradas demonstrações ao vivo junto a um bidê do
banheiro de como passar o sabonete e esfregar sem ficar incômodo e sem afetar a virgindade,
apenas as duas sozinhas, as demais já recolhidas após a oração da noite, como se enxugar
cuidadosamente com a toalha felpuda, como acomodar melhor o absorvente na calcinha, como
ajustar a calcinha, o sutiã, escovar e prender os cabelos num coque, ensinamentos que não
constavam da ementa do Colégio, mas que Trícia considerou bemvindos e que se dispôs a
reproduzir com Elisa e Otávia, quando a "vez" delas chegou.

Apesar do estrito controle externo, sempre conseguiam admirar e acompanhar mutuamente o
crescimento dos seios, o surgimento da primeira penugem substituída por pelos mais
distintivos, hora no horário do banho, quando havia luz para o deleite dos olhos, ora à noite,
após o apagar das luzes, quando, qual ceguinhas, descobriam o mundo através das mãos.

Trícia era filha de um paulistano quatrocentão, cuja família constava da Nobiliárquica de Pedro
Taques e de uma alemã, descendente da casa de Hohenzollern. Sempre foi mais alta e sempre
teve seios mais desenvolvidos do que as meninas da sua idade, cabelos lisos, louros quase
ruivos, repetidos lá embaixo, porém levemente encaracolados. Olhos azul-água, sempre
atentos como os da suindara, e doces como um quindim. Desportista, boa em quase todos os
que praticava, era cheia de energia, iniciativa e entusiamo.

Otávia era a da terceira geração descendente de imigrantes italianos que haviam embarcado
cedo no processo de industrialização do país de adoção e ficado imensamente ricos.

Revelando sua origem vêneta, tinha as emoções sempre à flor da pele e dos olhos claros, um
corpo muito bem proporcionado, exceto pelos seios que desproporcionadamente volumosos,
uma basta cabeleira castanho claro, e se destacava nas atividades artísticas; natação era o
único esporte que a atraía. Mais do que da atividade física em si, gostava da sensação de
deslizar na água e de sentir a água deslizando por seu corpo. Sonhava com nadar nua, coisa
obviamente impossível sob o jugo das Marcelinas.

Elisa - na verdade, Elisa Haruko -, sempre a primeira da classe - CDF, para as invejosas - era
sansei. Miudinha, diáfana, parecia uma bibelô de porcelana e exalava uma fragilidade
constantemente à beira da ruptura. Seus cabelos negros de azeviche, cortados curtos e com
uma franja baixa, dificultavam sua acomodação no coque regulamentar do Colégio e tinham
uma curiosa réplica abaixo, com seus pelos lisos que se espraiavam desordenadamente sobre
sua pele alvíssima, dando a impressão de serem muito mais longos do que o eram. O olhar
que transparecia pelas fendas transversais era mais dissimulado do que o de Capitu, aliás uma
de suas heroínas preferidas, em toda a galeria da literatura que ela conhecia melhor do que
ninguém.

Juntas descobriram o mundo e se descobriram uma para a outra, furtivamente, às apalpadelas
às cegas. E isso era-lhes bastante. Não se interessavam pelas profundezas, como os machos -
espeleólogos sempre - que insistem em penetrar em grutas e cavernas - quanto mais
desconhecidas e inexploradas, melhor. Preferiam as canhadas e os vales úmidos, que, à
exploração apropriada, se transformavam em alagadiços quentes, pulsantes e odorosas, no
máximo pelas fendas que antecedem as grutas e cavernas. Adoravam as colinas suaves, cujos
píncaros eréteis indicavam seu grau de satisfação, o montículo coberto de suave pilosidade
que precedia vales e canhadas. Amavam, sobretudo, explorar e ter em si explorado o pequeno
promontório - tão tímido, que se ocultava sob discreto capuz - localizado entre o montículo e o
início do vale, mas que irrompia fogoso no momento supremo. E isso era-lhes bastante.

-o-o-o-o-o-

Separaram-se ao final do ginásio. O pai de Trícia foi promovido a embaixador numa deliciosa
capital européia, o posto era fixo, de longa duração, as escolas excelentes e lá se foi ela com a
família. O pai de Elisa entrou numa crise financeira e ela foi fazer o colegial numa escola
pública. Otávia permaneceu sem as amigas no Colégio. Correspondiam-se assiduamente, as
cartas de Trícia quase bilhetes, as de Otávia desabafos e explosões emocionais e as de Elisa
representavam um alto nível de literatura epistolar, cartas pra serem lidas, relidas e
preservadas para a posteridade.

Encontravam-se ocasionalmente duas a duas, mas nunca haviam-se encontrado as três.

-o-o-o-o-o-

Era a primeira vez que as três se encontravam depois de vinte anos e, como era de se esperar,
estavam todas excitadas e curiosas. Trícia havia se formado tradutora e intérprete pela
Universidade de Genebra, e nunca se casara; aliás, nunca se soube de um namorado sequer,
e residia em Munique, omde ficava a sede de sua empresa. Otávia obtivera um MBA pela
Getúlio Vargas - onde havia conhecido seu futuro marido. Elisa doutorara-se em literatura
comparada pela Universidade Feminina Showa, de Tóquio e acabou se casando, por arranjos
familiares - uma forma atualizada de miai - com um empresário do setor avícola do interior do
Estado. Em suma, estavam todas materialmente bem de vida, Otávia, como sempre, muuuuito
rica.

Era na fazenda de Otávia o encontro, uma antiga fazenda no Vale do Paraíba, da época do
Império que atingira seu apogeu com nos tempos áureos do café. O marido de Otávia a
comprara, mandar reformar: o casarão fora restaurado, respeitando seu estilo original, e tudo
fora beneficiado com recursos da modernidade, incluindo um campo de pouso, aliás, mais bem
equipado que alguns ditos aeroportos públicos. O xodó de Otávia era seu spa, um conjunto de
três piscinas - uma menor, de água aquecida, uma raia olímpica, de água natural - uma
banheira de hidromassagem que acomodava facilmente seis pessoas, uma sauna finlandesa,
um banho turco, duchas de tipos os tipos e temperaturas e uma sala de ginástica anexa. O teto
era de vidro retrátil - para os dias de calor tórrido; as paredes de mármore rosa contrastavam
co o verde exuberante da vegetação tropical e as cestadas de flores por todos os lados. O
mobiliário e tudo o mais transbordava de luxo e bom gosto que só a riqueza bem educada pode
proporcionar.

Martim, o marido de Otávia, tivera que partir, devido a negócios e ela receberia Trícia e Elisa,
que viriam no avião do marido. O marido de Elisa, quando soube que Martim estaria ausente
julgou que seria melhor se deixasse as três sozinhas. Otávia enviou o motorista a buscá-las no
campo de pouso e as esperou ansiosa à porta do casarão.

A chegada foi uma festa, abraços, beijos, risos, uma que outra lágrima, rapidamente removida
como dorso da mão. Corações disparados e aliviados ao ver que os vinte anos passados não
haviam causado nenhum estrago, devastação ou desastre evidentes. Otávia pediu que as
criadas as acompanhassem até seu respectivos aposentos e sugeriu que, assim que
"retocassem a maquiage" descessem com roupa de banho (que havia pedido que

trouxessem), pois o coquetel de boas vindas seria no seu spa, ali ao lado. As criadas as
ajudariam a se acomodar e lhes indicariam o caminho.

Otávia estava à espera, de biquini por baixo de uma saída de banho de crochê branco, que
ressaltava o tom moreno de sua pele de verão.

Também estavam à espera, sobre um aparador, o balde de gelo com duas garrafas de
champanha, canapés variados, docinhos em profusão e uma bela fruteira bem sortida. Do
colesterol em estado quase nascente do foie gras às ecossaudáveis tangerinas bio, bem
miradinhas. Para todos os gostos.

As três chegaram quase ao mesmo tempo e aí foi uma avalanche de conversas, risadas, frases
entrecortadas, apartes, abraços, réplicas, beijinhos, tréplicas, a oratória em pleno caos.

Otávia levantou-se, abriu e serviu a bebida em quatro taças, Baccarat legítimo, e disse que só
serviria a primeira rodada; tudo estava ali e que servissem à vontade. Indicou um enorme
refrigerador entre uma pia e um armário e disse:

Se não gostarem do que está à mostra, na geladeira ou no armário acharão outros comes e
bebes. Mas, gostaria de lhe mostrar o último presente que o Martim me deu.

Ao dizer isso, removeu a saída de banho, levou as mãos às costas, soltou o fecho do sutiã do
biquini e livrou-se dele.

‒ Tchan, tchan, tchan, tchaaaan!

As outras duas ficaram boquiabertas.

‒ O que acham de minha plástica de seio? Sabem que sempre achei meus seios muito
grandes, e, devido ao peso, estavam começando a ficar caídos.

‒ Ach so!, exclamou Trícia. Nem na primeira série eram tão bonitos assim!

Fariam inveja a muitas dançarinas do Crazy Horse. Mais para pequenos do que para médios,
de implantação alta, simétricos, firmes, com mamilos apontados levemente para cima.

‒ Depois deixo vocês verem de perto, se quiserem. Agora, vou para a hidro, nuinha, como
prefiro. Se quiserem, podem me imitar. Como vêem, este spa não tem janelas, e a porta fica
trancada por dentro. Dei ordens às criadas para não nos interromperem até a hora do jantar.
Temos bem umas quatro horas só para nós, para pôr a conversa e tudo o mais em dia.

Trícia despiu-se imediatamente e acompanhou-a. Elisa hesitou por uns instante, mas acabou
imitando-as, e a conversa e as risadas ressurgiram até que as borbulhas da água morna e do

champanha gelado começaram a assumir o controle, os corpos amoleceram, até que o único
ruído era o do borbulhar da hidro.

‒ Estou molinha, molinha, disse Otávia. Vou sair um pouco, para refrescar.

Vestiu um dos roupões felpudos que estavam empilhados ali ao lado e foi deitar-se numa
espreguiçadeira perto da piscina. Abriu a abas do roupão, como se fosse para desvendar os
seios, porém deixando à vista toda a parte frontal de seu corpo. Aqui e ali, uma gotas d'água
brilhavam, não absorvidas pelas felpas, sobretudo no triângulo castanho claro, cuidadosamente
aparado, que faziam brilhar ainda mais.

Elisa logo se juntou a ela, também com um roupão desamarrado, ajoelhou-se à sua direita e
ficou em silêncio, admirando os neosseios de Otávia.

‒ Que lindos ficaram, né? Sempre quis ter um peito assim. O meu sempre foi meio chato e
depois de amamentar meus dois filhos, os seios ficaram caídos, olhando para o chão
envergonhados.

Sem abrir os olhos Otávia retrucou:

‒ Não há nada de que se envergonhar. Amamentar é sua função principal, e ponto. Eu, como
não tive filhos, uso os seios como fonte de prazer. Por isso, hesitei longamente antes de me
decidir pela cirurgia. Diziam que se perde a sensibilidade, que, depois, não se sente mais nada,
mas acho que não a perdi. Quer dizer, um pouquinho só. mas o cirurginao disse que vou
recuperar toda a sensibilidade.

Após pesada hesitação, Elisa murmurou:

‒ Posso testar?

‒ Claro; tudo o que quiser.

Elisa curvou-se e apenas encostou os lábios no mamilo direito, assim permanecendo até ter
tido a impressão de que o mamilo reagia ao contato. Tocou, então, o mamilo com a pontinha da
língua e ele definitivamente deu sinal de vida, cresceu, bem como seu irmão ali ao lado.
Delicadamente Elisa tomou-o entre seu lábios e começou a acariciá-lo com a língua, girando
em círculos ao seu redor e aumentando discretamente a pressão de sucção. Interrompeu para
perguntar:

‒ Sente algo?

‒ Sinto uma delícia invadir meu corpo.

Com esse sinal verde Elisa retomou sua função, qual gueixa treinada para proporcionar prazer.
Estendeu o braço direito por cima do corpo de Otávia e passou a reproduzir com os dedos em
pinça o que fazia com lábios e língua.

Trícia assistia interessada o espetáculo inédito. Elas haviam se acariciado mutuamente em
diversas ocasiões nos tempos do colégio, sobretudo os seios, uma que outra fugaz passada de
mão entre as coxas, tocando o sexo, mas sempre furtivamente, como se não fosse intencional,
com receio de serem flagradas por alguma Irmã ou por outra colega, Mas nunca haviam feito
nada deliberadamente, nada ostensivamente, nada descansadamente, embora soubessem
bem do que se tratava, e, sobretudo, nunca haviam visto uma acariciando a outra. Era demais
para se ver de longe.

Saiu da hidro, colocou um roupão sobre os ombros, sem vestí-lo propriamente e foi postar-se
ao lado esquerdo de Otávia, onde ficou observado as manobras de Elisa, que começavam a
fazer Otávia ficar ofegante. Inclinou-se começou a lamber como um gatinho as gotículas de
água que ainda brilhavam sobre a pele de Otávia, detendo-se no umbigo, onde se formara um
pocinha. Acabadas as gotas d'água, deslizou o rosto para o triângulo tentador e nele pousou
levemente o rosto.

‒ Vinte e quatro anos de espera!, foi sua exclamação, antes de de deslocar para os pés de
Otávia, de onde ficou a admirar a paisagem daquele corpo numa perspectiva incomum: os pés
em primeiro plano, a saliência dos joelhos, o abaulado das coxas grossas, a mancha
acastanhada, um seio manipulado por Elisa e o outro semioculto por sua cabeça, o queixo de
Otávia que começava a se arquear para cima.

Não resistiu mais, começou a mordiscar o dedão do pé de Otávia, o que lhe provocava umas
ondas elétricas que começavam no pé, ampliavam-se em seus quadris e ia explodir coluna
acima, no cérebro. O gatinho que antes lambia aprendeu a mordiscar e foi mordicando
paisagem acima até se deter na junção das coxas de Otávia. Alí, imperceptivelmente, imiscuiu
a língua na fenda que se formava entre a coxa e o grande lábio, o que levou Otávia a fazer um
movimento de abertura das coxas. Trícia as conteve com as mãos e prosseguiu com sua
minuciosa exploração das fendas semi cerradas. Introduziu a língua na fenda coxogenital
esquerda, depois na direita, cada vez mais profundamente.

Otávia tinha a impressão de começar a flutuar. Elisa estava imersa nas carícias manuais e
bucais mais deliciosas que Otávia jamais recebera.

Trícia, concluída sua exploração lateral, abriu as coxas de Otávia o suficiente para aspirar o
inebriante aroma que seu sexo já excitado exalava e para admirar o panorama incomparável de
uma vulva que começa a inchar, a avolumar-se, a projetar-se para fora, a abrir-se, a secretar, a
escorrer e deixa de seu uma vulva para se tornar uma boceta faminta, voraz, que pede, que
precisa de algo mais do que uma simples admiração visual.

E Trícia prodigou-lhe o que necessitava. Passou a lamber de baixo acima, primeiro com a
ponta da lingua afilada, depois com a língua toda, ora um lábio, ora o outro, que aumentavam
de tamanho, e fez com que Otávia abrisse as coxas cada vez mais, até que passou a lamber a
boceta inteira, com lambidas de vaca.

‒ Isso, isso! Não pare! Continue!, gemeu Otávia.

Mas Trícia parou, e Elisa parou também, e desceu das colinas onde se instalara, interessada
em saber o que se passava abaixo dos sopés, no vale que se tornara já um charco. Trícia, com
infinita delicadeza, afastou os grandes lábios, expondo as ninfas ansiosas por sua parte de
carinho, e foram contempladas com sua dose de lambidinhas, lambidas, lambidonas,
mordiscos e mordidinhas. Trícia mal continha sua ânsia de abocanhar o botão rubro que
assistia cada vez mais irritado aquela injusta e desequilibrada distribuição de atenção,
pulsando e forçando os quadris de Otávia a se deslocarem para baixo, a fim de encaixá-lo
naquela boca desdenhosa dele, no que era contra-arrestado pela fenda transbordante, que
deslocava os quadris para cima, a fim de que aquela língua experiente e exasperante nela
penetrasse. Até que Trícia tampouco se conteve: abocanhou o grelo ereto de Otávia, que
passou a chupar, sugar, aspirar, mordiscar, enquanto introduzia um dedo ‒ dois dedos, três ‒
na vagina completamente melada de seus próprios sucos e da saliva que ela ali depositara.

Subitamente, Otávia cessou de arfar e de gemer, arqueou o corpo de forma impressionante,
erguendo com os quadris o rosto de Trícia com a boca colada em sua boceta e soltou um ronco
que parecia vir de seu útero e que se transformou numa saraivada de gritos que reverberaram
pelas paredes marmóreas do spa. Trícia, que colocara sua outra mão entre suas próprias
coxas, começou a soluçar e logo seu corpo pôs-se a tremer e sacudir-se, tentando acomodar-
se aos movimentos desordenados de Otávia.

Elisa com a boceta em chamas, assistiu perplexa o apogeu e a ressaca do embate, num
silêncio religioso com a certeza de estar presenciando um ritual sagrado, que nunca imaginara
presenciar e do qual morria de vontade de ter sido protagonista.

Trícia continuava desabada sobre Otávia, que recobrava seu fôlego, pouco a pouco.

Quando Otávia consegui falar, afastou Trícia de cima de si e dirigiu-se a Elisa.

‒ Não sei se aprendi direito como se faz essa maravilha tsunâmica, coisa do outro mundo. Mas
gostaria de tentar com você. Antes de irmos dormir, aceita ser minha cobaia, sob a supervisão
visual, manual e oral de Trícia?

ERA UMA VEZ...

Marion Andersen

Era uma vez uma menina, que desde pequenina sempre pedia à sua Fada Madrinha que lhe
trouxesse o Príncipe Encantado. Mas ela nunca aparecia, nem ele.

Uma noite, sua mãe leu para ela, antes de dormir, a história da Cinderela. Do dia seguinte em
diante, ela vivia lavando os pés, várias vezes por dia. Se o príncipe encantado aparecesse para
provar o sapatinho de cristal em seu pezinho (ela tinha certeza que calçaria perfeitamente), ela
não queria nem perder tempo em ir lavar os pés. Onde já se viu provar sapatinho de cristal com
pé sujo?

De outra feita, sua mãe leu-lhe a história da Bela Adormecida. Do dia seguinte em diante,
depois de lavar os pés, ela corria para a cama, onde passava horas de olhos fechados, à
espera do príncipe. Alguém já ouviu falar de príncipe que beijou a Bela Acordada?

Sua Fada Madrinha devia ter-se esquecido dela, pois o príncipe não vinha.

Depois ouvir a história do sapo que se transformou em príncipe por um beijo de uma menina,
dividia seu tempo entre lavar os pés, ficar deitada de olhos fechados e procurar sapos no
jardim do edifício.

Deixou crescer os cabelos e pediu à mãe que lhe fizesse uma trança bem forte, que esperava
que ficasse bem longa, logo, logo. Afinal, morava no sétimo andar, e príncipe que se preza nem
sobe escadas nem toma elevador, entra mesmo é pela janela.

Vivia comendo maçãs, na esperança que alguma delas tivesse sido envenenada pela Rainha
Má disfarçada de bruxa e que o príncipe viesse salvá-la.

Pedia, pedia, para a Fada Madrinha, e nada...

Quando seu pai saía, sempre lhe pedia que trouxesse uma rosa de algum jardim, com a
esperança de que fosse do jardim da Fera, e aí a Fera iria prender seu pai e aí ela, a Bela, iria
resgatar o pai e aí a Fera se transformaria num príncipe que se casaria com ela e aí seriam
felizes para sempre.

Ouviu a história do papagaio que entrava à noite pela janela, banhava-se numa bacia cheia
d'água e se transformava no Príncipe do Reino do Limo Verde, e não dormia mais até sua mãe
encher uma bacia com água e colocá-la ao seu lado. À medida que crescia, sua mãe disse que
se cansara de tanto encher bacias e ela mesma se ocupou dessa tarefa. Ao lado da bacia
d'água, sempre uma ervilha para o caso de ter que fazer o teste do colchão.

A Fada Madrinha, com certeza, não gostava mais dela.

Ela crescia e, aos poucos, foi se conformando com que da Fada Madrinha não viria ajuda
nenhuma. Era melhor ela começar a se virar sozinha. Porém, nenhuma de suas incontáveis
simpatias, magias, mandingas, feitiços, amarrações, macumbas, despachos, bentinhos,
responsos, tríduos, novenas, terços, rosários e quetais funcionou.

Quiçá fosse melhor mudar de aspirações, se não de madrinha. Afinal, seus pelinhos haviam
começado a crescer e seus peitinhos desabrochavam petulantes. Não era mais uma
menininha. "Mocinha", dissera sua mãe quando lhe deu o primeiro pacote de absorventes
higiênicos e a orientou sobre "aquilo".

Não era historinha para criança, mas ela já não era mais criança, e leu uma nova historinha
que dizia que a verdadeira varinha mágica ficava entre as pernas dos homens, e era essa
varinha que transformava as mulheres e que fazia a felicidade delas.

Claro que não iria desistir de sua Fada Madrinha, mas começou a dar tratos à bola a respeito
de como experimentar a tal varinha mágica que os homens carregavam. Arrumou um
namorado e, na primeira oportunidade, perguntou-lhe se tinha uma varinha mágica entre as
pernas. Como resposta, ele rapidamente abriu as calças, puxou para fora uma coisa esquisita,
grossa demais para se parecer a uma varinha e disse:

‒ Pega nela e alisa que você vai ver uma das mágicas que ela faz.

Ela até pegou, mas estava meio melada, pulsava, e ela ficou com medo. Achou que era
mentira a história da varinha mágica entre as pernas dos homens, ao menos entre as daquele
namorado; mas não teve coragem de procurar em outro. Se fosse verdade, deveria estar entre
as pernas de algum homem especial, não de todos e, menos ainda, de qualquer um.
Certamente estaria somente entre as pernas do Príncipe Encantado.

Uma noite, ela foi dormir depois de preparar toda a sua parafernália, bacia d'água, ervilha,
janela aberta, Santo Antônio de pés amarrados, e de se encomendar, pela trimilésima vez, à
sua fada Madrinha. Era assim toda noite, e nada acontecia

Nessa noite aconteceu. Ainda semi-adormecida, ela sentiu um calorão, apesar da janela
aberta. Descobriu-se, ergueu a camisola até o peito, e o calor continuava. Abriu os olhos e
ficou deslumbrada com a luminosidade ao lado de sua cama. Semicerrou os olhos para
diminuir o ofuscamento e, aos poucos, divisou um vulto brilhante de pele alvíssima, com um
diadema na cabeça e uma varinha brilhante erguida na mão direita, de onde jorrava aquela luz
estranha,

‒ Fada Madrinha!

A Fada Madrinha apenas colocou o indicador diante dos lábios pedindo silêncio, e falou,
porém, de um modo estranho: ela não movia os lábios, mas a menina entendia perfeitamente o
que ela queria lhe comunicar. E ela "ouviu":

‒ Pensou que a tinha esquecido? Nada disso. É que você me pedia coisas antes do tempo,
você era muito pequena e não poderia entender a mensagem que tenho para você. Não lhe
trouxe o Príncipe Encantado; trouxe algo muito melhor. Apenas relaxe e deixe que eu lhe
ensine certas coisas. Talvez você se assuste um pouco, mas é assim mesmo, apenas relaxe.

Apontou a varinha mágica para o peito da menina e lentamente sua combinação começou a
subir até o pescoço e, sem que ela erguesse a cabeça, saiu por cima, descobrindo seus
peitinhos nascentes rosados e macios como um pêssego ainda no galho, deixando-a só de
calcinha. Tocou seus biquinhos que cresceram e ficaram durinhos, e pediu:

‒ Pegue cada um de seus peitinhos na conha da mão, pressione levemente para cima e sinta
como são suaves e sinta como crescem com seu toque. Pegue agora, delicadamente, cada
biquinho entre o polegar e o indicador de cada mão e faça pequenos movimentos giratórios,
para um lado, para o outro, sinta como eles se aquecem, se acendem, como ficam mais
durinhos. E como é bom.

Deixou-a por alguns instantes descobrindo deliciada essa parte da magia, após o que apontou
a varinha mágica para sua calcinha, que desapareceu, por encanto. Automaticamente ela
cerrou as coxas.

‒ Sinta agora um calorzinho ali onde nascem as coxas, uma sensação nova, como se
estivesse úmida por baixo. Relaxe as coxas e leve o dedo médio para início da fenda que
começa ali. Logo acima dela você vai notar um grãozinho, como uma ervilha. Esse é o
grãozinho que revela a verdadeira uma verdadeira princesa, não aquele que se coloca por
baixo do colchão. Acaricie seu grãozinho, note como ele cresce, fica quase do tamanho de um
grão de feijão ou de grão de bico, depende da princesa. O seu já está do tamanho de um feijão
branco. Isso é ótimo. Sinta que a umidade está aumentando, o calor entre as coxas também,
introduza um pouco mais o dedo na fenda, lambuze-o em seu mel mágico, sinta que está
ficando cada vez melhor.

A menina já arfava aceleradamente. A Fada Madrinha a orientou a abrir bem as coxas e não se
assustar, que a parte mais importante da magia iria começar. Parecendo flutuar, ela teve a
sensação que a Fada Madrinha se ajoelhou entre suas coxas e deu um beijo ali onde ela

estava com o dedo. Sentiu uma coisa úmida e serpeante se movimentar, como se a lambesse
por baixo. Era bom, muito bom! E aí, ela teve a impressão que a Fada Madrinha se deitou
sobre ela, ao longo de seu corpo. Boca sobre boca, seio sobre seio, sexo sobre sexo. Mas, ela
não pesava nada! Claro, era fada!

A Fada Madrinha colocou uma das pernas entre suas coxas e pousou um suave beijo em seus
lábios. Delicadamente, entreabriu seus lábios com a ponta da língua, que entrava e saía,
convidando-a a fazer o mesmo. Os bicos dos seios se tocavam, causando-lhe uma sensação
inefável. A fada Madrinha encaixou seu sexo sobre o da menina, que pode sentir o grãozinho
da fada pressionando o seu. Era cada vez melhor! A fada começou a movimentar os quadris,
de um lado para o outro, para cima e para baixo, em movimentos circulares.

A menina sentia correntes elétricas percorrendo todo seu corpo, que começavam no centro e
se espraiavam para a cabeça e para os pés, de início como marolas, depois ondas, que se
tornaram imensas vagas, até que ela foi por engolfada por um tsunami e seu sexo foi inundado
por jatos de lava quente.

Ela não saberia dizer quanto tempo se passou até que "ouviu" a voz da Fada Madrinha, ainda
deitada imponderavelmente sobre ela, "dizer" docemente em seu ouvido:

‒ Vou concluir a magia com um segredo: Príncipe Encantado não existe. Existem príncipes,
mas não são nada encantados. E agora, você não precisa mais de príncipe nenhum. Como
nós, as Fadas. Com nosso poder e magia, se quiséssemos, cada uma de nós teria uma porção
de Príncipes Encantados aos nossos pés. Você nunca reparou que só existem Fadas do sexo
feminino? Bruxos existem, mas não há Fados, muito menos Fado Padrinho. Nós, fadas, não
precisamos nem de príncipes nem de fados; uma de nossas mágicas é bastarmo-nos a nós
mesmas. Você tampouco precisa de príncipes. Com o que lhe mostrei, com o que aprendeu
hoje, você se tornou uma Princesinha Encantada. E uma Princesinha Encantada só precisa de
outras Princesinhas Encantadas para ser feliz

‒ Mas, não conheço nenhuma Princesinha Encantada. Onde vou encontrar outra Princesinha
Encantada, como fazer para reconhecer uma delas?

‒ Você descobrirá. Vocês se reconhecerão pelo jeito, pelo olhar. E serão felizes para sempre.

TESTE DE RORSCHACH

Melanie Coelho

‒ Borboleta.

‒ Concha.

‒ Marisco.

‒ Canoa.

Cada qual vê o que quer, ou o que pode.

‒ Cofrinho.

‒ Borboleta.

‒ Abricô.

‒ Ostra.

Como teria podido dizer o Professor Rorschach, inventor do teste no qual ela se baseara, cada
qual vê o que tem dentro da cabeça.

Ela chegara às sua atividade atual gradualmente, passo a passo. Formada em Psicologia,
enveredou pela Psicologia Clínica mais para resolver seus próprios problemas e dificuldades do
que por uma real vocação clínica ou por curiosidade científica. Para completar sua formação
acadêmica, fora insistentemente orientada durante todo o curso a fazer sua própria terapia ‒
psicanálise, seria o ideal ‒ e fizera um pouco de tudo o que estivera ao seu alcance, em grupo ou
individualmente. Do que mais gostara fora das terapias, workshops e maratonas reichianas, mas
nunca achara que aquilo daria certo como seu ganha-pão. Detestara o trabalho em hospitais e
clínicas psiquiátricas ‒ 'muita loucura junta sob o mesmo teto' ‒ e acabara se acomodando com o
seguimento de pacientes encaminhados por seus diversos ex-terapeutas e ex-supervisores e por
médicos com os quais gradualmente fizera contato.

A certa altura, percebeu que quase todos os seus pacientes tinham problemas da esfera sexual ‒
coisa que aprendera ainda na faculdade ‒ e grande parte de sua clientela era composta de
mulheres encaminhadas por seu ginecologista e seus colegas de uma "clínica de senhoras" das
mais conceituadas da cidade. Quando começou a recusar pacientes por falta de horário, decidiu
fazer uma faxina na casa e ficar apenas com aquelas pacientes que tinham pouco de loucura
psicótica e muito de loucura sexual, que eram mais fácil de tratar e muito, muito mais divertidas.

Mas não era uma mera charlatã; lera e estudar bastante sexologia, investira em consultas a outras
soi-disant sexólogas e fisioterapêutas de saúde da mulher ou reprodutiva, sempre simulando
queixas distintas só para ver que manejo empregavam, frequentara congressos e reuniões
científicas e profissionais para se atualizar e fazer-se conhecer; chegou mesmo a apresentar
casos clínicos interessantes que só haviam ocorrido em sua cabeça.

Para reforçar o currículo e impressionar as incautas, juntou uns cobres e foi para a Califórnia fazer
"uns cursos", que incluíram "Aeróbica sexual", "Desconstrução da manipulação genital", "Terapia
de regressão genital", "Descoberta da ontologia gênito-cósmica", "Feng-shui do sexo" e outras
pirações californianas que não se encontram em nenhum. Nas paredes da sala de espera de seu
consultório quase não havia mais espaço para diplomas, certificates, memberships, de
autenticidade tão duvidosa quanto a virgindade de bailarinas de cabaré. Mas, como aprendera em
um de seus cursos, na prática, fé e persuasão valem mais do que técnica e ciência.

Tornou-se também frequentadora assídua de sex shops e de sites da internet para ficar a par da
parafernália escrita, esculpida, mecânica ou eletrônica, comestível ou não, que poderia ser útil em
sua prática. No limite, fez um curso de pompoarismo, mais para atrair clientes do que para
ejacular bolinhas de ping-pong e fazer espirais de fumaça de cigarro com a vagina. Estava
diplomada e especializada: "Sexologia feminina: psicoterapia e aconselhamento". Trocou seu
modesto consultório na Lapa por um espaçoso conjunto na Vila Madalena, com sala de espera e
lavabo, sala de atendimento individual e uma ampla sala para terapia em grupo, ambas com
banheiro.

Partiu do princípio que mulher não conhece seu próprio sexo, não gosta do seu sexo, não gosta
do cheiro do seu sexo e o discrimina. Fosse qual fosse motivo pelo qual a tinham procurado,
sempre dava um jeito de encaixar habilmente:

‒ O que acha de seu sexo? Quero dizer, não falo do gênero feminino, que é melhor do que o
masculino e que os demais, mas do seu sexo genital?

Dependendo de como vinha a resposta, emendava:

‒ Você já viu bem, e de perto o seu próprio sexo?

Ela sabia que não era tão fácil assim, ele ficava lá embaixo, coberto de pelos, fechado por duas ‒
quatro ‒ pregas e por séculos de repressão. Dada a perseguição de que era vítima, da sociedade
para reprimi-lo, dos homens para arrombá-lo, ficara quase sempre sob saias, vestidos,
combinações, cintas, calcinhas e, cada vez mais, por forros dito "higiênicos."

Pegava leve, no início. Dava cada paciente um espelhinho redondo com um suporte como o de
um porta-retrato de mesa, e uma caderneta e passava-lhes uma lição de casa em três etapas.
Instruía-as para que, em casa, quando tivessem a certeza de que não seriam interrompidas:

1. Despir-se da cintura para baixo, sentar-se no chão com as pernas entendidas, de frente para
uma janela ou outra fonte de iluminação (o banheiro poderia ser um bom lugar), abrir bem as
coxas, e a armar o espelhinho de forma a poder ver bem o seu sexo. Anotar na caderneta o que
via e qual eram suas impressões e sensações.

2. Em seguida, ainda sentada, dobrar os joelhos e deixá-los o mais afastados que conseguisse.
Novamente, anotar o que via, o que pensava do que viam e o que sentia.

3. Afastar com os dedos, primeiro os grandes lábios, e, em seguida, os pequenos lábios. Anotar o
que viam, o que pensava do que via e o que sentia.

Obviamente, a primeira impressão era de surpresa; nuca se haviam visto daquele ângulo, a
maioria sequer imaginado fazer isso. Depois de discutido o que haviam visto, sentido e o que
pesavam de tudo aquilo, se não houvesse nenhuma resistência nem rigidez intransponível,
passava-se para a segunda etapa, a da exploração sensorial. Os três passos anteriores eram
repetidos, porém, em cada uma das três posições a paciente deveria passar a ponta de um dedo
ao longo dos grandes lábios, dos pequenos lábios, no clitóris, na entrada da vagina e no períneo,
primeiro de olhos abertos e, em seguida de olhos fechados; após cada tempo, levar o dedo ao
nariz e aspirar o aroma (de olhos, abertos, de olhos fechados) e, finalmente, lamber a ponta do
dedo para sentir o seu próprio sabor. Ainda no consultório, não eram poucas as que faziam careta
de nojo e diziam que não conseguiriam ir até o final do exercício, ao que ela respondia:

‒ Não se force; vá até onde conseguir. O importante são as sensações que vai descobrir.

Muitas conseguiam. A maioria conseguia. Inúmeras acabavam gostando muito da brincadeira.
Com o tempo, algumas ficaram peritas na exploração do próprio corpo, e ela resolveu dar um
passo mais ousado. Identificou seis clientes que haviam aproveitado muito do exercício e
convidou-as para um "workshop de exploração mútua". Nenhuma recusou.

Pediu que viessem com roupa folgada, de abrigo esportivo, de preferência. Num sábado à tarde, o
workshop teve início com uma breve dinâmica de grupo, a fim de que se apresentassem e se
conhecessem um pouco, servida de um sucinta palestra feita por ela, cujo razão era explicar os
objetivos e o procedimento da sessão, durante a qual serviu um coquetel de frutas condimentado
com um vinho torrontés para ajudar a descontrair.

Ela havia disposto, ao longo das paredes, diversos biombos, atrás dos quais colocara camisolões
de TNT, idênticos aos usados por pacientes cirúrgicos. Orientou-as para que fossem para trás dos
biombos, se despissem completamente da cintura para baixo e vestissem os camisolões, com a
abertura para a frente. No centro da sala, em círculo, muitas almofadas de vários tamanhos,
materiais e cores. Convidou-as a que se sentassem em círculo fechado e, assim que se
acomodaram, colocou em frente aos pés de cada uma um espelho circular com cerca de 20 cm de
diâmetro, cm poder de aumento de 5 vezes. Pediu que mantivessem o roupão fechado e
abrissem as pernas. Os espelhos tinham um suporte que os mantinha em posição inclinada,
quase vertical, e ela foi de um em um ajustando sua colocação. Recordou o que dissera na
palestra introdutória:

‒ Façam de conta que estão sozinhas, em seu banheiro, e vamos repetir, em grupo, o primeiro
exercício que já fizeram em outras circunstância. A diferença, desta vez é que não anotarão nada;
o relatório será oral. Respirem fundo e, assim que se sentirem à vontade, ergam o roupão até à

cintura, a fim de que vejam o próprio sexo refletido no espelho que está a seus pés. Se o foco não
estiver ajustado, erga a mão que corrijo.

De uma para outra, o tempo gasto em erguer o roupão era bastante variável. Mas, finalmente,
todas as seis estavam lá, sentadas em almofadas no chão, nuas da cintura para baixo, com as
coxas escancaradas admirando os respectivos sexos.

‒ Agora, começando aqui pela minha direita, cada uma vai dizer com que se parece seu sexo
nessa posição.

Deu duas conchas, dois mariscos, uma canoa e um cofrinho.

‒ Agora, afastem os grandes lábios e, começando pela minha esquerda, digam com o que se
parece.

Três borboletas, duas ostras, um marisco.

‒ Agora ‒ e ela semicerrou as persianas deixando a sala num penumbra agradável ‒ fechem os
olhos e acariciem o seu sexo, primeiro de forma exploratória, base do monte de Vênus, grandes
lábios, pequenos lábios, fechados, abertos, base do clitóris, glande do clitóris, e escolham a parte
que lhes causou a sensação mais gostosa e explorem mais detidamente esse ponto.

Quando algumas já estavam ofegantes, ela interrompeu e disse:

‒ Neste ponto, passamos para a era tecnológica ‒ e deu a cada uma um pequeno vibrador,
explicando-lhes como funcionava, ligava e desligava. ‒ Sugiro que não se detenham e que
prossigam até o fim.

Menos tempo transcorreu antes que a primeira começasse a arfar e logo a gemer, curvou-se para
frente e ficou inerte. Outras três também tiveram seus orgasmos. Suavemente ela trouxe todas à
realidade, serviu nova rodada do coquete de frutas e antes que descrevessem o que haviam
sentido e para evacuar a tensão acumulada naquelas que haviam ficado a ver navios, ou melhor,
a não ver nada, pois continuavam de olhos fechados, apesar da gemedeira circundante, e
questionou:

‒ Agora que já estamos íntimas Como poderíamos nos referir ao sexo feminino? Acho "vulva"
muito técnico e difícil de pronunciar, quase dá um nó na língua. Usamos o tradicional "boceta"?

‒ Não gosto; é muito machista.

‒ "Buceta" então, nem se fala!

‒ Ah, mas "bocetinha", falado na hora certa, poder soar bem carinhoso...

‒ Eu uso "xexeca", é mais neutro e gosto do chiadinho.

‒ "Tchola" também chia.

‒ Ih, "tchola" é coisa de lésbica!

‒ "Xexeca" é muito infantil. Se é para chiar, tem "xibiu", mas é muito Dona Flor; prefiro "xoxota",
que chia igual e é mais neutro.

‒ Eu também.

Palmas, então, para a vitoriosa xoxota.

Em pouco tempo, ela introduziu uns ajustes na dinâmica das sessões, adquiriu mais segurança,
essa modalidade de terapia passou a ser comentada e procurada, e passou de uma sessão por
semana para duas, três, quatro, que tiveram que ser realizadas no período vespertino. Num
instante, havia-se formado uma respeitável lista de espera. Precisava de uma assistente, uma
estagiária.

As faculdades de psicologia estavam cheias de candidatas em potencial. Ávidas por um
trabalhinho, ou melhor, por um dinheirinho. Dava para escolher tamanho, modelo, cor, etc.
Colocou o anúncio e foi uma avalanche. Criou um filtro adicional de seleção: já ter tido uma
relação física com outra menina. Aí a coisa encurtou como cobertor de pobre. E a variedade
também; apareceram muito mais bofinhas do que ladies, e algumas claramente pirulitas. Contudo,
depois de entrevistar diversas, incluindo um exame anatômico pormenorizado, acabou ficando
com uma loirinha mignon, que se revelou muito esperta e com estrógenos saindo pelos poros.

Paralelamente, continuou a desenvolver um novo formato de sessão, para as "graduadas" do
primeiro formato, desejosa de ampliar seus horizontes, ou ir mais fundo, dependendo da
preferência. Para tal, selecionou oito "graduadas com louvor". O início da sessão era idêntico ao
formato anterior. A diferença consista em que após a auto-exploração visual e superficial ela
estimulou as as oito a introduzirem um ou dois dedos na vagina, no que chamou de "A caça das
Emeraldas". Passara a chamar o clitóris (ou melhor, sua glande) de "pérola" e queria ampliar o
tesouro das rainhas (das princesinhas, também) e decidira que o famoso e fugidio Ponto G seria
uma esmeralda escondida no fundo do sertão (mas também poderia ser da floresta ou do cerrado,
dependendo da pilosidade de cada mulher). Orientou-as pacienciosamente, algumas o
encontraram, outras não, apesar do exibição de contorcionismo que proporcionaram.

‒ Não tem importância não encontrá-las, na primeira tentativa. Haverá outras oportunidades.
Agora, passamos para uma etapa mais avançada. Você, você e você ‒ indicou três delas, que
lhes pareciam as mais propícias para o que tinha em mente ‒ continuem sentadas e dobrem os
joelhos, com as coxas bem abertas. As outras três deitem-se de barriga para baixo, uma entre as
pernas da vizinha, a uns 30-40 cm do sexo da outra e repetiremos o que se fizeram no auto-
exame, porém descrevendo à que está sendo examinada o que vêem, o aroma que sentem e que
sensações isso lhes desperta. Os lábios podem ser afastados pela examinadora ou pela
examinanda, cada para combina como prefer. lembrem-se que depois os papéis de examinadora
e de examinanda serão trocados.

‒ Eu prefiro que ela mesma afaste os lábios. Nunca toquei na xoxota de ninguém, a não ser na
minha, e acho que isso de tocar na xoxota de outra mulher é coisa de lésbica, disse.

‒ Pois eu não me importo de tocar. Não sei se quero que me toquem.

‒ Como preferirem. Não se violentem e não forcem, ninguém. Lembrem-se de que estão aqui
para se conhecer melhor, e que há um preço a pagar por grandes descobertas e aquisições.
Tentem deixar preconceitos de lado, por um instante. Vamos lá?

Aí, o que era concha virou borboleta, o cofrinho, uma boca na vertical, o marisco, ostra, e assim
por diante. O que era fedor de peixe se tornou aroma de maresia e o que era vergonhoso e
repelente revelou sua beleza até então oculta.

‒ Nossa, esse babadinhos parecem uma renda entiotada!

‒ Como é lisinha! E brilha tanto!

‒ Nunca imaginei que o cheiro pudesse ser tão agradável.

‒ Posso olhar a dela também? Depois, deixo as duas olharem a minha.

Parecia que se haviam esquecido do temor de serem consideradas lésbicas, só por admirarem a
beleza do sexo feminino, ao vivo, em cores rosadas e bem de perto. Ela inspecionava os exames
e notou que estava ficando inchada e úmida, seus mamilos, livres de sutiã, que ela quase nunca
usava, davam ar de sua graça através da blusa de seda que portava.

‒ Puxa, nunca imaginei que houvesse tantos detalhes e que fossem tão diferentes uma da outra.
Achei que fossem todas iguais.

‒ Tem umas que até mudaram de forma desde o começo da sessão; parece que cresceram, que
ficaram mais saltadas!

Ela pontificou:

‒ Xoxota é que nem face: não tem duas iguais. Pode ter parecidas, mas iguais, iguais, nem
gêmeas. Sempre tem alguma diferencinha.

Percorrendo o círculo, notou que em todas a lubrificação natural estava bastante acentuada, em
algumas visivelmente escorria. Olhou para sua assistente e percebeu nas maçãs de seu rosto um
rubor que normalmente não estava lá, e pensou: 'Hoje é dia de serão.'

Encerrou a sessão com uma curta preleção sobre o acontecido e sobre como poderiam aplicar o
que haviam vivenciado e aprendido em sua via diária.

Assim que a última paciente se despediu e saiu, pediu à estagiária para fechar a porta e voltar
para fazerem um apanhado da sessão, coisa de rotina após todas as sessões. Porém, esse
apanhado que sempre era feito na sala de atendimento individual, nessa noite teve a rotina
alterada: assim que a estagiária voltou à sala de grupo, ela a esperava em pé, abraçou-a pela
cintura e deu-lhe um faminto e demorado beijo.

A noite iria ser longa. E muito boa.

BRICANDO DE MÉDICA

Nise Ferreira

Ela se casara muito cedo, ainda no segundo ano da faculdade. Entrara em Medicina com 18 anos,
sem nunca ter namorado. Sempre primeira aluna da classe, CDF, cursinho ao mesmo tempo que
o terceiro colegial, nunca tivera tempo para namoros. Filha única, sem primas, dois primos que
moravam em outras cidades, toda a sua experiência erótica se resumia a um mostra-pra-mim-
que-eu mostro-pra-você, com um dos primos (não achou nada de interessante naquele pintinho
que parecia seu dedo indicador apontando para cima e nem entendeu o porquê de ele demorar
tanto vendo o dela) e outra, de médico, com o outro primo e alguns outros amiguinhos e
amiguinhas. Ela insistia em ser a médica, com o que já sonhava desde então, mas o primo, dois
anos mais velho decidiu que ele era mais velho acasa era dele, a ideia fora dele e ele escolho
quem era o quê. Examinou-a demoradamente, principalmente depois que mandou que ela tirasse
a calcinha, porque o problema dela era no xixi. O exame foi demorado e minucioso e, quando ele
mandou que ela abrisse bem as pernas e tentou enfiar os dedos dentro dela, doeu e ela se retirou,
zangada, da brincadeira.

Claro que se masturbava. Descobrira a coisa meio sozinha, meio de ouvir farrapos de conversa de
colegas da escola e, aos poucos, aperfeiçoara seu método particular. De pernas bem fechadas,
com a mão direita esfregava delicadamente seu sexo para cima e para baixo, enquanto sua mão
esquerda acariciava seu mamilo esquerdo. Sentia um calor aumentar no baixo ventre, ficava com
o sexo todo molhado e dormia tranquila. E isso era tudo.

Já no primeiro ano conheceu Gustavo, aluno do quinto ano, tido como o rapaz mais bonito da
faculdade, muito alto, forte, porte atlético, disputava várias modalidades esportivas pela Atlética
Acadêmica, como titular em todos eles; tinha fama de já ter repassado diversas colegas sem
nunca ter-se ligado a nenhuma. Nem ele nem ela demonstraram interesse pelo outro. Ela também
o achava bonito, e mais nada. Rachadora, não iria se desviar sua atenção dos estudos, que
ocupavam todo o seu tempo.

No início de novembro, pouco antes da reta dos exames finais, ela se surpreendeu quando ele a
convidou para sair, para jantar e dançar. Seu primeiro impulso foi o de recusar, mas, lembrou-se
de que rachara o ano inteiro, já havia fechado média em todas a matérias e podia se dar ao luxo
de uma saída. Além do mais, ser convidada por Gustavo melhorava o ranking de qualquer garota.
Não que ela precisasse disso, mas, CDF também tem lá suas vaidades. Disse que iria pensar, a
fim de não parecer muito "facinha". Finalmente concordou para o sábado seguinte.

Ele veio buscá-la em seu carro ‒ importado ‒ e levou-as a um restaurante elegante; de lá, a uma
danceteria ‒ ele dançava muito bem, tinha muito mais experiência que ela ‒ e, lá pelas duas da
manhã, ele a levou, sem anunciar, para o apartamento onde morava sozinho, como se fosse a
coisa mais natural deste mundo. No caminho, ela decidiu que não iria recuar; deveria ficar

menstruada no dia seguinte ou no outro e o que rolasse, ela toparia. Foi tudo mais rápido e mais
"executivo" do que ela previra, e, já na cama ela percebeu, dolorosamente, que ele era avantajado
também em outra parte do corpo; nada a ver com o pintinho do priminho. Quando ele se retirou de
dentro dela e percebeu o sangramento, disse que não imaginara que ela fosse virgem e, que se
ela lhe tivesse dito, teria ido mais devagar. Aí, perguntou se ela queria passar a noite ali ou
preferia que a levasse para sua república. Ela se sentia meio atordoada, dolorida, envergonhada
pela sujeira que deixara nos lençóis e quis que a levasse.

Saiu com ele novamente na semana seguinte e nas outras, e ela precisou de muito auto-controle
para não lhe dizer que suas regras não tinham vindo. Nem vieram nem um mês depois de sua
iniciação. Comprou um teste na farmácia, e deu positivo. Estava grávida e teria que contar a
Gustavo. Ele reagiu friamente, como era seu estilo e disse:

‒ Imaginei que você estivesse tomando a pílula, como todas. Aliás, nem imaginei que você fosse
virgem. Deveria ser a única em toda a faculdade. E agora, o que quer fazer, tirar?

‒ Nunca! Vou ter que pensar melhor o que fazer. Tenho que começar por contar a meus pais. Vai
ser um choque para eles.

‒ Se você quiser tirar, eu arranjo tudo. Sei bem quem faz isso com toda segurança. Entretanto, se
você quiser ter a criança, eu me caso com você.

‒ Você se casaria comigo se eu não estivesse grávida?

‒ Provavelmente, não. Mas tenho 50% de responsabilidade. Minha mãe engravidou de mim antes
de se casar e o cara que a engravidou caiu fora. Fui criado por minha mãe e meus avós; sei como
é isso, e não quero isso para ninguém, muito menos para um filho meu.

Romina e Gustavo se casaram no início do ano e Larissa nasceu no início de agosto, com Romina
inciando o quarto semestre e Gustavo como sextanista interno. Decidiram que Romina trancaria a
a matrícula naquele semestre e retomaria o curso no ano seguinte, quando Gustavo já deveria ser
residente de Cirurgia.

No início do ano seguinte, apesar dos recursos de Gustavo, que lhes permitia ter empregada e
babá durante o dia, Romina sofria por não poder ficar mais perto da filha. Gustavo passava o
tempo no hospital, sempre com muitos plantões, e incomodava também a Romina passar tantas
noites sozinha. Até voltara às suas práticas do prazer solitário. Ouvia rumores de que Gustavo
não perdoava nenhuma enfermeira, exceto, por motivos óbvios, a Enfermeira-Chefe,
maldosamente apelidada de "Bolacha de Titânio"e sua companheira, "Bolachinha-sem-Recheio".

Um dia, num intervalo de uma aula de Patologia, conversando com uma colega, Alaíde, soube
que esta estava pensando em trancar a matrícula, pois não estava conseguindo se manter. Viera
do interior de Minas, de uma família muito humilde que não tinha recursos para ajudá-la. Ela fazia
diversos "bicos", vendia cosméticos, roupas, livros, etc, mas não estava conseguindo pagar as
despesas de aluguel da república, alimentação, transporte, roupas, material para a faculdade.

Pensou e, sem lhe falar nada, consultou Gustavo sobre a possibilidade de trazê-la para morar em
sua casa. Uma espécie de fille au pair, que não teria que pagar por cama e mesa e lhe faria boa
companhia, ajudaria a cuidar de Larissa e ainda poderiam estudar juntas. Gustavo achou boa a
ideia e Alaíde se mudou na semana seguinte.

No semestre seguinte, começaram as aulas de Propedêutica, nas quais se aprendia o fazer o
exame físico dos pacientes: Inspeção, Percussão, Palpação e Ausculta. Romina sentia que estava
atingindo seu sonho de infância: ser médica. Durante as aulas, um grupo de oito alunos,
orgulhosamente munidos de seus estetoscópios reluzentes de novos, comprimiam-se ao redor do
professor para examinar um pobre de um paciente que era examinado por todos. Nessas
circunstâncias, Romina sentia que lhe faltava tempo para examinar mais detidamente cada
paciente, a fim de bem dominar a técnica do exame. O Professor sempre recomendava que
praticassem o mias que pudessem, pois, a prática era fundamental e concluía magistralmente
"Usos promptos facit".

Uma noite, em que acabara de colocar Larissa para dormir, Romina disse para Alaíde:

‒ O que acha de praticarmos o exame físico uma na outra?

‒ Pode ser, mas acho ‒ e espero ‒ que não encontremos nada de patológico; ausculta e
palpação normais, disse com um risinho.

Pegaram seus respectivos estetoscópios, Romina se deitou em sua cama e desabotoou a blusa.

‒ Comece você.

Alaíde começou pela ausculta cardíaca, que lhe parecia a mais difícil. Concentrada na tarefa, às
vezes fechava os olhos para isolar um sentido e aguçar a audição. Na enfermaria, haviam
examinado apenas pacientes do sexo masculino, e ela se deu conta de que o seio esquerdo
dificultava a localização precisa dos pontos onde deveria colocar o diafragma do estetoscópio,
ainda mais que os seios de Romina eram volumosos e ela estava de sutiã. Ela não ousava dizer
isso a Romina, mas esta se deu conta da dificuldade da amiga e sugeriu:

‒ Acha que facilita, se eu tirar o sutiã?

‒ Acho que sim.

Romina tirou o sutiã e Alaíde ficou encantada e paralisada com o que viu: dois seios opulentos, de
pele branca como a neve, auréolas e mamilo pequenos, de um rosado claro, como ela nunca tinha
visto. Romina era uma ruiva descendente de escoceses, mas ela provinha de uma família mineira
numerosa, com diversos agregados, e inúmeras vezes vira os seios de irmãs, tias e primas. Eram
todas trigueiras, de pele morena escura, com mamilos e auréolas grandes e escuras, quase
negras, indicando a ascendência africana. Romina rompeu o silêncio, jocosa:

‒ O que foi? Já achou algum problema.

‒ Não! Nenhum... é que... nunca tinha visto seios tão bonitos.

‒ Sempre achei que fossem todos parecidos.

‒ Quando for sua vez de me examinar, vai ver que há grandes diferenças.

Voltou a examiná-la, mas notou que sentia uma sensação estranha, tentava se concentrar como
se fosse o exame de uma paciente real, mas estava vendo e tocando os seios nus de sua amiga,
e isso começou a mexer com ela. Por mais que evitasse tocar onde não era necessário, acabava
esbarrando no mamilo de Romina (logo no esquerdo!) e, em pouco tempo eles reagiram e
começaram a intumescer. Alaíde tentou imaginar que era uma reação normal, mas não podia
ignorar que seus próprios mamilos também estavam intumescendo dentro do seu sutiã. Julgou
que tinha que interromper o exame, pensando: 'E se isso acontecer com uma paciente real?'
Disse que estava com dificuldade para ouvir os sons adequadamente, e propôs que parassem.
Mas, Romina disse:

‒ Nada disso, agora é minha vez. Você descansa e depois ausculta de novo.

Alaíde tirou a blusa e se deitou. Romina logo notou a primeira diferença: ela usava 46 taça D, e a
amiga deveria usar 38-40, taça A-B. Mesmo assim, o sutiã dificultava sua manobras.

‒ Acho que se tirar o sutiã, fica mais fácil.

Segunda descoberta: apesar de os seios de Alaíde serem pequenos, tinham auréola bem grande
escuras, quase negras, assim como os mamilos, que pareciam maiores ainda, devido ao estado
de excitação. Isso não incomodou Romina, que completou sua "lição de casa". Quis se deitar para
que Alaíde prosseguisse com seu exame, mas esta pretextou cansaço e disse que iria se deitar.

‒ Você está bem?

‒ Estou, só um pouco cansada. Vou ficar menstruada.

Nas semanas seguintes, aprenderam a palpação abdominal, primeiro degrau gástrico, fígado,
baço, colo ascendente, transverso, sigmóide, bexiga, etc. Foi novamente de Romina a iniciativa de
propor que se examinassem mutuamente. Deitou-se com o penhoar aberto, de calcinha e sutiã. A
amiga seguiu metodicamente as etapas do exame e, ao chegar ao baixo ventre, esbarrava
sempre no elástico da calcinha. Para facilitar, Romina abaixou o elástico, sem tirar totalmente a
calcinha, mas o suficiente para expor seu pelos pubianos, sedosos, lisos e acobreados que faziam
um contraste notável com sua pele alvíssima. Alaíde engoliu em seco. Até então ela só tinha visto
e tocado seu triângulo pubiano e vislumbrado os de irmãs e primas, todos negros,
encarapinhados, cujo toque lembrava um bombril. A essa altura, sentiu que não apenas seus
mamilos cresciam, mas que brotava uma umidade entre suas coxas. Porém, não queria
interromper o exame.

Havia pensado muito depois da noite da ausculta cardíaca e chegara à conclusão de que talvez
aquilo tivesse se devido ao inusitado da situação, nunca estivera fisicamente tão perto do corpo
seminu de uma mulher (aliás, nem de homem algum) e teria que se acostumar com isso; passaria

com o tempo. Na enfermaria era diferente; havia os pacientes, os colegas, o professor,
enfermeiras que entravam e saíam, mas, com Romina, eram duas mulheres jovens a sós, num
quarto, numa cama, um contexto muito diferente. O fato é que sua umidade aumentava,
aumentava, seus mamilos idem. Com esforço, conseguiu concluir o exame.

‒ Sua vez, comandou Romina, abotoando apenas o segundo botão de seu penhoar.

Quando, para facilitar o exame, Romina abaixou o elástico da calcinha de Alaíde, ele era bem
mais frouxo do que ela imaginara e desceu muito mais do que fora sua intenção, descobrindo não
apenas seus pelos, mas praticamente toda a vulva de Alaíde. Enquanto Romina se surpreendia
ao ver os pelos negros, ásperos e encarapinhados, Alaíde rapidamente levou a mão ao sexo,
'para se cobrir', pensou Romina.

‒ Desculpe, foi sem querer.

Alaíde nada respondeu e puxou a mão de Romina para seu sexo. Romina se deixou guiar pela
mão de Alaíde e tocou seu clitóris já ereto e úmido, entreabrindo as coxas para facilitar o acesso
de Romina. Ela descobriu uma pérola rosa-escuro luzidia brilhando no início da fenda vulvar
melada de Alaíde. Com a abertura das coxas, o clitóris, que não era dos mais discretos, projetou-
se para fora e Alaíde passou a esfregar nele a mão de Romina. Alaíde afastou os grandes lábios e
Romina se surpreendeu, mais uma vez, ao descobrir as mucosas de um rosa forte, bem diferente
da tonalidade negra que as circundavam. Alaíde gemeu:

‒ É bom...

A essa altura, Romina se deu conta de que também estava molhada. Fazia mais de uma semana
que Gustavo não dormia em casa, e ela não se havia masturbado nesse período. Abriu o penhoar
deitou-se ao lado de Alaíde e puxou sua mão por dentro da calcinha, como a outra fizera com a
dela. Num instante, Alaíde ergueu-se e tirou a calcinha de Romina, e acabou de baixar a sua.
Ajoelhou-se ao pé de Romina, abriu suas coxas delicadamente, e o esplendor de seu sexo foi-lhe
sendo revelado: afastados uns poucos pelos cor de cobre, sua vulva magnifica mostrou seus
lábios espessos e alvo, ladeando uma fenda discreta e melíflua, marisco precioso ainda em sua
concha, que exalava um aroma embriagador. Com os indicadores e os polegares, afastou os
lábios polpudos para desvelar seu interior róseo, como uma borboleta recoberta de fina gelatina
que abria suas asas para o exterior, deixando ver em seu meio um golfo brilhante, úmido e
ardente, que se alargou espontaneamente à aproximação de Alaíde. Coroando aquela maravilha,
um botão rosado que parecia querer saltar para fora. Alaíde introduziu o dedo médio naquela
fenda voraz e apoiou seu polegar no botão que latejava, latejava... Um arrepio percorreu Romina
da cabeça aos pés, ela começou a tremer toda, recolheu as pernas sobre o peito e Alaíde não
resistiu mais ao que via e ao perfume que sentia: pousou seus lábios sobre o botão que parecia
querer explodir e o sugou como uma bezerrinha suga a teta de sua mãe. Romina entrou em
ebulição, seu corpo se arqueou, despejou sua lava na boca de Alaíde e perdeu as referências do

mundo. Gustavo, com todo o seu calibre e potência, que penetrava em suas profundezas, nunca
lhe havia provocado semelhante prazer. Largada como estava, ela nem se deu conta de que
Alaíde se erguera rapidamente, despira-se completamente e quase se sentara em seu peito, com
os joelhos apoiados de cada lado de seu corpo, aproximando seu sexo de sua boca e implorando:

‒ Faz em mim, por favor!

Romina mal teve tempo de saborear o forte aroma que se desprendia daquele sexo, que Alaíde
escancarara com os dedos, deixando ver seu clitóris ereto e projetado para fora, presidindo um
vale estreito e gelatinoso, surpreendentemente rosado, úmido, molhado, melado e lambeu aquela
iguaria com sabor a maresia e a fruto proibido, lambeu de baixo a cima, de lado a lado e
finalmente se concentrou no botão alongado, desesperado por sua boca. Alaíde soltou um gemido
prolongado, inclinou-se para a frente, pressionou fortemente o corpo de Romina com as pernas,
até que esta sentiu-se sufocar e empurrou o corpo de Alaíde de cima de si.

Ficaram as duas lado a lado, exaustas, perplexas, satisfeitas, com as faces lambuzadas dos
sumos uma da outra. Deram-se as mão, viraram-se de lado, abraçaram-se e adormeceram certas
de que acabavam ter a melhor brincadeira de médica de suas vidas. Como boas estudantes,
sabiam que tinham muito que aprender e que a perfeição viria com a prática.

Como dizia seu caro professor de Propedêutica, "Usos promptos facit".

LUA DE MEL

Mariza Vasconcellos

Nádia já havia estado com algumas meninas. Oito, para ser mais exata. Com nenhuma pudera
passar uma noite inteira, e era a primeira vez que fazia uma pequena viagem romântica com uma
mulher. Dizem que uma viagem pode tudo acertar ou tudo arruinar. Como não tinha nada a
perder, resolveu ver o que tinha a ganhar.

Havia descoberto, ou decidido, que seu negócio era com meninas depois da tentativa desastrada
com o Celso. Havia tido diversos namoros superficiais - no sentido afetivo e físico - com garotos,
nada sério nem duradouro, porém isso, aliado à sua natural expansividade havia lhe granjeado a
fama de namoradeira, "menina muito dada". Meio virgem e meio putinha; o problema com as
meias verdades, o difícil é saber qual a metade é a verdadeira. Celso não acreditava que ela fosse
virgem, por mais que ela insistisse em afirmar que era. Numa noite em que estavam se
amassando no banco de trás do carro dele, ao sair da discoteca, ele ficou mais persistente e,
quando afastou sua calcinha para o lado, estavam numa posição em que ela não conseguia sair
de baixo dele, e reclamou para que ele parasse. "Vou só brincar na portinha. Se você for mesmo
virgem, não entro; fique tranquila." A estocada súbita foi dolorosa. Ela gemeu alto e começou a
chorar. Ele acelerou o ritmo das estocadas e só parou quando se arqueou retesado para trás e
soltou um grunhido selvagem. Quando saiu de cima dela e percebeu que ela sangrava, adicionou
insulto à injúria: "Você está menstruada!" Como ela não parasse de chorar ele se deu conta do
que fizera. Não disse nada; apanhou do porta-luvas uma caixa de lenço de papel, deu para ela,
limpou-se também e deixou-a em casa e nem sequer telefonou no dia seguinte. Ligou três dias
depois, mas Nádia não quis falar com ele, nunca mais. Se isso fosse "fazer amor", ela preferia a
guerra. A todos os homens.

Com meninas, tudo fora diferente. Desde seu jogos, mais de curiosidade que eróticos, com
Lucinha, sua amiguinha de infância, até outros contatos cada vez mais claramente eróticos com
outras meninas, tudo sempre fora envolto numa aura de delicadeza e de carinho. Achava que por
algumas havia se apaixonado - nada além de paixonite infanto-juvenil -, e sido correspondida,
algumas vezes, não. Progressivamente foi aprofundando o contato e o conhecimento físico. Com
Lucinha, brincavam de se sentar, uma de frente para a outra, sem calcinha, e se examinarem
mutuamente as xoxotinhas para ver semelhanças e diferenças. De início era tudo igual, exceto
pelo fato de que Lucinha era bem mais gordinha, também naquele lugar. Com examinações
sucessivas começaram a notar pequenas diferenças, uma tinha umas preguinhas com uns
babadinhos que a outra não, uma, um buraquinho redondinho, o da outra parecia que estava
dando uma risadinha, em cima de tudo, uma tinha um evidente botãozinho parecido a um
pequeno grão de bico e que, na outra, estava escondido entre as almofadinhas laterais. Pena que
Lucinha tinha se mudado de cidade quando tinha 11 anos.

Com outras, foi avançando em suas descobertas, da reatividade dos seios, da delícia que era o
toque de leve em seu mamilos endurecidos, do extraordinário poder daquele botãozinho, evidente
em Lucinha e em algumas outras e, nela, naturalmente oculto pelos grande lábios - aprendera que
esse era o nome correto de suas "almofadinhas" - até que fosse provocado, quando então punha
para fora impetuosamente sua cabecinha, e que tudo isso tinha o extraordinário poder de deixá-la
cada vez mais úmida, molhada, melada, encharcada até escorrer pelas coxas. Descobriu,
sobretudo, a sensação inefável do orgasmo, autoprovocado ou desencadeado por alguma
menina.

Havia descoberto quase tudo, quando conheceu Vanessa. Mulher atraente, alta, porte altivo, com
seus cabelos negros frisados e perfil helênico, dificilmente passava desapercebida. Era também
uma figura intrigante: apesar de muito feminina de traços, nas roupas e na maquilage discreta,
tinha algo de viril em seu modo de ser que destoava do resto. Talvez tivesse sido isso que atraíra
Nádia logo à primeira vista, numa festa de aniversário na casa de amigos comuns. Bom papo,
descontraída, sempre cercada de homens interessados, a quem aparentemente correspondia,
nem de longe deixava suspeitar de sua real preferência. Nádia não podia se gabar de uma vasta
experiência com mulheres, contudo, havia desenvolvido uma espécie de faro que lhe permitia
adivinhar (corretamente) a preferência homossexual de mulheres que a tinham. Não sabia explicar
o que era, algo ligado à projeção dos quadris para a frente, com as pernas levemente afastadas,
uma força no olhar, por aí. O fato é que haviam se encontrado mais duas vezes, sempre em casa
de amigos comuns, e atração aumentara. O que a deixava cada vez mais intrigada é que em
nenhuma delas Vanessa estava de calças compridas; em duas delas, com vestidos chemisier
estampados, abotoados na frente, que nada revelavam do forma de seu corpo. Na terceira
ocasião, mais formal, estava com um elegantíssimo tailleur Chanel cor de areia e uma blusa com
um babado estreito acompanhando o discreto decote. Os cabelos longos, em uma ocasião preso
num coque alto e, nas outras vezes, soltos e bem penteados. Qualquer homem diria: "Uma
gostosa." Mulheres de bom gosto, também.

Foi no terceiro encontro que tiveram a oportunidade de conversar mais à vontade. Era um
vernissage de uma conhecida em comum, nu clube elegante de São Paulo. Esculturas
interessantes, mas nada daquilo que dá vontade de se ter em casa, exceto um bronze com duas
pessoas abraçadas, cujo sexo era indefinido, mas Nádia achava que eram duas mulheres; parou
diante dela avaliando se gostava ou não e viu Vanessa chegar pelo outro lado. Já se haviam
cumprimentado anteriormente, e a recém-chegada também ficou um tempo examinando a peça
em silêncio, após o que, perguntou: "É do seu agrado?" A estátua estava entre as duas, era
impossível ver a estátua sem ver que estava logo depois dela e Nádia resolveu arriscar:

‒ Do que está falando.

‒ Do que você está vendo.

'Ela é esperta', pensou Nádia, e resolveu entrar no jogo:


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