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ebook_Modelo_de_Industrializaçao_rural_para_o_desenvolvimento...

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Published by andreaires, 2019-03-27 14:19:30

ebook_Modelo_de_Industrializaçao_rural_para_o_desenvolvimento...

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Estudos realizados conjuntamente sobre o as-
sunto pelo Banco do Nordeste e o Centro de Pós-gra-
duação de Economia da UFC (CAEN) permitem
definir claramente as estratégias e diretrizes de um
programa neste campo.

Há necessidade, porém, a partir desses estudos,
elaborar projetos concretos e detalhados de agroin-
dústrias em áreas específicas - Baixo Médio Jaguaribe,
Acaraú, Curu e Cariri, por exemplo - de modo que
se tenham condições de obter recursos e implantá-los
globalmente, tendo em vista:

a) aumento do valor adicionado dos produtos
agrícolas;

b) expansão das oportunidades de mercado
através da exportação de produtos indus-
trializados;

c) ampliação das oportunidades de emprego;

d) efeitos geradores de renda sobre a região de
influências do projeto; e

e) viabilizar a própria existência dos proje-
tos de irrigação que não terá condições de
prosperar sem essa integração.

Em vista do exposto, a elaboração do referido
programa deveria realizar-se com vistas à definição

MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 49

geral de um programa de industrialização rural para
o Ceará abrangendo aspectos tais como, regulamen-
tação especial de incentivos e tecnologia das indús-
trias previstas. O planejamento desses polos devem
contemplar também as formas organizacionais para a
administração e financiamento das empresas a serem
implantadas.

50 MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL

SIMBIOSE
CONCEITUAL
DO PROGRAMA

OBJETIVOS ASPIRAÇÃO OBJETIVOS DA
DESENVOLVIMENTO DE UMA INDUSTRIALIZAÇÃO
MELHOR
SITUAÇÃO RURAL

AGRICULTURA = PROJETO
IRRIGADA AGROINDUSTRIAL

MODELO DE CONCORDÂNCIA MODELO DE
DESENVOLVIMENTO FUNCIONAL ORGANIZAÇÃO
AGRÍCOLA RURAL EMPRESARIAL

MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 51



O PROBLEMA
ECONÔMICO DA
LOCALIZAÇÃO
DE UMA FÁBRICA

MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 53



LOCALIZAÇÃO DE
EMPRESAS INDUSTRIAIS

Os empreendedores escolhem a localização
para os seus empreendimentos industriais levando em
conta diversos fatores econômicos, circunstanciais e
pessoais. Qualquer que seja o motivo, entretanto, a de-
cisão final pela instalação de uma indústria em deter-
minado lugar busca obter baixos custos, alto volume
de vendas, ou ambas as causas.

A compreensão desse processo decisório care-
ce de uma análise dos meios pelos quais a seleção de
um local se apresente como um problema econômico.
O passo seguinte é o de examinar as vantagens que
resultam de selecionar-se uma adequada localização
de uma fábrica, que elabora certo produto. Quanto às
características de localização no quadro rural ou urba-
no, a maioria das fábricas está num dos grupos gerais,
que são:

a) por orientação no sentido do mercado,

b) por orientação no sentido da matéria-prima e

c) por orientação no sentido da mão de obra.

Via de regra, como também confirmam a teoria
da localização e a experiência prática, as decisões sobre
localização de uma fábrica não são tomadas frequen-

MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 55

temente pelo empreendedor comum. Ele pode tomar
numerosas decisões a respeito de preços, salários ou
vendas, no curso normal de suas atividades. Mas só
será chamado a decidir sobre a localização de sua fá-
brica uma vez.

Esse problema pode surgir para a instalação de
uma empresa nova, ampliar uma fábrica já existente
ou através de uma relocalização.

A situação mais típica ocorre quando uma em-
presa nova está sendo instalada. A obtenção dos finan-
ciamentos, a arregimentação dos sócios, a garantia das
fontes de suprimento de matérias-primas podem obs-
curecer o problema da localização da empresa. Além
disso, no caso em que a empresa é pequena, os empre-
endedores não têm recursos para realizar pesquisas so-
bre as alternativas de localização possíveis e selecionar
a mais vantajosa.

AS VANTAGENS DE LOCALIZAÇÃO

Quando surge um problema de localização, o
empresário toma, geralmente, dois caminhos para to-
mar a melhor decisão. Primeiramente, ele verifica as
vantagens econômicas que variam com a localização.
Em segundo lugar, ele aplica esse conhecimento ge-

56 MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL

ral em seu problema específico de modo a estimar as
variações no desempenho dos negócios projetados se-
gundo as várias localizações possíveis.

As mais importantes vantagens econômicas a
serem conseguidas com uma sábia decisão a respeito
de localização são: redução dos custos de transporte,
abaixamento dos custos de produção, aumento do su-
primento de matéria-prima, aumento da demanda dos
produtos e benefícios da descentralização ou da cen-
tralização. Alguns fatores secundários mais frequen-
temente mencionados pelos empresários são: disponi-
bilidade de edifícios e terrenos, impostos, influências
estaduais e locais, condições de vida, clima, facilidades
de pessoal de administração.

Se as matérias-primas podem ser facilmente
transportadas, a principal consideração do problema
de localização pode ser a de minimizar os custos de
transporte. Entretanto, se elas não podem ser facil-
mente transportadas para a fábrica, provavelmente
determinarão a localização da fábrica nas proximida-
des das fontes de produção. Esse tipo de situação sur-
ge porque certos fatores essenciais são relativamente
imóveis, em geral por causa da grande perda de peso
ou volume ou por serem perecíveis.

MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 57

Provavelmente, a melhor vantagem conhecida
para uma localização industrial é constituída das econo-
mias no custo de mão de obra. Esses custos, evidente-
mente, não são simplesmente diferenças de níveis de sa-
lários,mas dependem da eficiência do trabalhador,tempo
de serviço diário e ausência de distúrbios trabalhistas.

As variações nos custos de mão de obra entre
as regiões ou entre as áreas urbanas e rurais têm sido
ex-plicadas por muitos fatores. Quando os custos de
mão de obra são importantes na formação dos custos
de produção, as fábricas tendem a se localizar onde esse
fator está disponível. Como resultado disso, os custos de
mão de obra por serem mais baixos nas zonas rurais são
atrativos para as fábricas, como as de calçados.

Os empreendedores afirmam que a escolha de
localização de uma fábrica pode influenciar a quanti-
dade de suprimento local de matéria-prima adquirível.
As que produzem laticínios, por exemplo, afirmam que,
pela localização das fábricas em determinada área, po-
dem não somente aumentar os fornecedores, como es-
timular um aumento geral da produção de leite. Por ou-
tro lado a demanda pela produção de uma fábrica pode,
muitas vezes, ser grandemente influenciada pela locali-
zação da fábrica. Essa vantagem de localização tem sido
demonstrada em muitos estudos sobre os programas de
industrialização em várias partes de mundo.

58 MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL

A importância de uma cuidadosa seleção do
local para o sucesso do empreendimento varia geral-
mente entre diversos tipos de indústria. Em alguns
casos, os custos extraordinários e os obstáculos eco-
nômicos que resultam de uma localização inadequada
podem ser tão graves que tornem o sucesso do em-
preendimento impossível. No outro extremo, alguns
tipos de fábricas podem ganhar com uma localização
perfeita. O caso em que a matéria-prima está à mão
para uma grande variedade de tipos de fábrica indica,
entretanto, que as economias ou deseconomias de lo-
calização são, geralmente, de substancial magnitude.

Decidir quais vantagens de localização é mais
importantes numa dada situação pode parecer como
um problema difícil. Na prática, entretanto, muitos
empreendedores acham que sua familiaridade com as
indústrias torna a resposta clara.

MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 59

UM MÉTODO PARA
CLASSIFICAR AS DECISÕES
DE LOCALIZAÇÃO INDUSTRIAL

Os professores Glenn E. Maclaughlin e Stefan
Robock, da Universidade da Colúmbia (USA), pro-
põem uma forma prática para orientar o empreende-
dor na decisão de escolher a melhor escolha de locali-
zação de uma empresa industrial.

Segundo esses especialistas um desenvolvi-
mento econômico, depois de decidir o que produzir,
o empreendedor deve fazer estimativas de custo para
um determinado número de localizações alternativas
antes de fazer a sua escolha. Mas, a fim de simplificar
o seu problema pela eliminação das muitas possibili-
dades obviamente indesejáveis, o empresário frequen-
temente segue o processo de seleção de escolher o lo-
cal em duas etapas.

Primeiramente, ele seleciona essa área geral na
base da vantagem locacional mais importante para o
seu tipo de indústria. Em segundo lugar, ele escolhe
uma localização específica dentro da área geral.

De acordo com essa prática, é indicado classi-
ficar os diferentes tipos de atividades industriais se-
gundo o fator que determina a escolha de uma área
geral para localização. Essa classificação de fábricas,

60 MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL

que constitui a base para o agrupamento dos casos de
localização industrial são os seguintes:

1) Fábricas orientadas pelo mercado:

a) quando os produtos finais são perecíveis ou
não são facilmente transportáveis;

b) quando os custos de transporte são uma
parte importante de preços de venda e o
produto final é de transporte mais caro do
que as matérias-primas necessárias à sua
produção;

c) quando os serviços, a convivência do con-
sumidor ou a localidade regional condicio-
nam o nível de vendas desejadas.

2) Fábricas orientadas no sentido da maté-
ria-prima:

a) quando as matérias-primas necessárias são
perecíveis ou não facilmente transportáveis;

b) quando os custos de transporte são uma im-
portante parte do preço de venda e as maté-
rias-primas são de transporte mais caro do
que o transporte do produto final;

c) quando é importante o suprimento de ma-
térias-primas.

MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 61

3) Fábricas orientadas no sentido da mão de
obra

a) quando os custos de transporte são uma
parte insignificante do preço de venda do
produto final e existem diferenças geográfi-
cas nos custos de mão de obra;

b) quando os salários constituem uma alta
percentagem de custo de produção e quan-
do o suprimento de mão de obra mínima é
disponível somente em determinadas áreas.

Como uma decisão empresarial, a questão da
localização se torna um problema de relacionar as
vantagens econômicas potenciais de uma localização
inteligente com as características do tipo de atividade
adotado. Cada empreendedor deve apurar que fatos de
localização específicos são importantes para o seu tipo
particular de fábrica. Desta maneira, como um modo
prático de encarar o problema, o empreendedor pode
procurar uma localização na base da vantagem mais
importante, e fazer, então, ajustamentos secundários,
quando preciso, de maneira a satisfazer as necessida-
des mínimas dos outros fatores.

62 MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL

A LOCALIZAÇÃO DA
AGROINDÚSTRIA
NO NORDESTE

MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 63



INTRODUÇÃO

As características e os fatores condicionantes
da localização das empresas industriais do Nordeste
têm sido amplamente discutidos nos meios acadêmi-
cos e motivo de muito interesse por parte dos órgãos
de desenvolvimento econômico regional.

De modo geral, as teorias da localização explicam
que o crescimento econômico se manifesta em centros
urbanos, polos-atividades ou unidades motrizes, donde é
induzido para a economia global. Dentro dessa concep-
ção, o desequilíbrio é condição concomitante e inevitável
do crescimento econômico, especialmente no caso da in-
dustrialização.

Em vista disso, várias diretrizes normativas
têm sido estabelecidas nas políticas de desenvolvi-
mento industrial do Nordeste, objetivando influir no
direcionamento da localização das empresas contem-
pladas com redução de impostos, oferta de condições
infraestruturas, incentivos e outras formas de ajuda
governamentais.

Tal procedimento deve-se ao reconhecimento de
que a teoria locacional clássica é inadequada para servir de
modelo para orientar as decisões dos empresários quanto

MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 65

ao local de instalação de suas indústrias nas regiões sub-
desenvolvidas. De fato, as experiências de crescimento da
produção industrial nessas áreas, nos últimos vinte anos,
demonstram que os efeitos dinâmicos da atividade eco-
nômica, disciplinados pelas forças de mercado, tendem a
operar no sentido da acentuação das desigualdades econô-
micas e sociais entre as regiões e no seu interior. A realida-
de dos fenômenos espaciais do Nordeste indica claramen-
te que a intervenção do Estado é indispensável à realização
de desenvolvimento econômico mais equilibrado, se bem
que as forças de mercado não devam ser cerceadas espe-
cialmente no sentido da lucratividade e competitividade.
Assim, o governo deve agir apenas restringindo o impacto
das forças tradicionais de concentração do setor industrial.

A fim de orientar políticas futuras sobre a lo-
calização das empresas agroindustriais no Nordeste,
procurou- se investigar os principais motivos que in-
fluenciaram os empresários a se instalarem onde elas
se encontravam na ocasião da pesquisa1.

1 Pedro Sisnando Leite. “A Agroindústria de Produtos Alimenta-
res”. Fortaleza, BNB/UFC. 1991

66 MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL

FATORES QUE INFLUENCIARAM
A LOCALIZAÇÃO DAS EMPRESAS

A oferta de matérias-primas foi o fator mais
relevante apontado pelas empresas pesquisadas como
determinante de sua localização no Nordeste. Das
noventa e cinco empresas que prestaram informação
sobre o assunto, 75% declaram isto. Por ordem de im-
portância, segundo os principais motivos dessa deci-
são, novamente a matéria-prima foi indicada em pri-
meiro lugar proporcionalmente a outros motivos.

Os dois outros elementos mais mencionados
como indutores da instalação da empresa no Nordeste
formam a experiência anterior da empresa pesquisa-
da no ramo industrial em que operavam e a produção
própria de matéria-prima. Em alguns casos, a opção
deveu-se à ausência de competição, à existência de
maiores incentivos ou à associação com grupos tradi-
cionais do ramo.

As razões mais enfatizadas para a localização
das empresas no município onde se encontram foram
a proximidade da matéria-prima e o fato de o empre-
sário ser radicado no município em que a empresa foi
instalada. Segue-se, em ordem de importância, bem
mais abaixo das razões mencionadas, a existência de
serviços básicos (energia, transporte, comunicações

MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 67

etc.) e a proximidade do mercado. Além desses, foram
apontados, como de pequena influência, a existência de
distritos industriais, incentivos estaduais e municipais
e possibilidade de enquadramento do projeto em uma
melhor faixa de prioridade pela SUDENE para obter
maior participação de incentivos. Como nos demais
casos analisados, os dois primeiros fatores indicados
comparativamente com os demais indagados foram o
local de residência do empresário e a proximidade da
oferta da matéria-prima.

No Pólo Baixo-Médio Jaguaribe, por exem-
plo, a razão decisiva para a localização da indústria
no município foi o empresário ser residente no local e
dispor de matéria-prima nas proximidades do estabe-
lecimento. Já no caso do Pólo Petrolina/Juazeiro, deu-
-se uma conjugação de fatores tais como: existência
de serviços básicos e distrito industrial, proximidade
da matéria-prima, além do fato de alguns empresários
serem residentes no município-sede da indústria. Por
sua vez, a proximidade da matéria-prima e do lugar
de residência do empresário foram as condições fun-
damentais para motivar a localização das indústrias
nos seus respectivos municípios no Pólo Baixo São
Francisco. Enquanto isso, no Pólo Norte de Minas, as
causas mais apontadas, em ordem de importância fo-
ram: residência do empresário; incentivos estaduais e

68 MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL

existência de distrito industrial, e proximidade da ma-
téria-prima, que ocupou a segunda colocação.

Fato notório a assinalar é que não foi reco-
nhecida como fatores relevantes para a localização da
indústria no respectivo município a proximidade do
mercado e a possibilidade de enquadramento da in-
dústria pela SUDENE, em melhor faixa de priorida-
de para obter maior participação de incentivos. Neste
último caso, trata-se, certamente, de reconhecimento
por parte das empresas pesquisadas de que já recebem
da SUDENE os incentivos máximos possíveis, ou por
serem pequenas empresas e, por não poderem habili-
tar-se para esse propósito, não consideraram oportuno
dar-lhes maior destaque.

MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 69

QUALIFICAÇÃO DOS INCENTIVOS,
IMPOSTOS E FINANCIAMENTOS

As empresas agroindustriais instaladas no Nor-
deste podem ter sido beneficiadas com incentivos dos
artigos “34/18” da SUDENE2 com recursos do Fundo
de Investimento do Nordeste (FINOR), do Programa
de Agroindústria do Nordeste (PDAN), com recursos
do Banco Interamericano de Desenvolvimento e outras
modalidades de crédito para a formação de capital fixo
e capital de giro, além de redução e isenções fiscais.

Verificou-se, através de pesquisa direta, que, das
indústrias contatadas, 42% haviam recebido algum dos
tipos de incentivos mencionados. Das 21,1% beneficia-
das com o FINOR, quase a metade era da indústria de
óleos vegetais, seguida de indústrias de processamento de
frutas, legumes e hortaliças, e leite e derivados. Podem-se
distinguir, ainda, as participações dos artigos 34/18, com
9,5%, o PDAN, com 8,5%. Metade das indústrias pes-
quisadas recebiam também simultaneamente FINOR e
3,2% financiamentos do BID. As empresas beneficiadas
com recursos desta instituição foram principalmente
estabelecimentos com exploração de leite e derivados e
derivados de arroz. Dos ramos industriais existentes na
época da pesquisa, somente o grupo de sementes selecio-
nadas não recebeu referidos incentivos.

2 Alusão aos dois dispositivos das leis que o criaram.

70 MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL

Tomando por critério a faixa de emprego, veri-
fica-se que os incentivos dos artigos 34/18, FINOR e
PDAN favoreceram predominantemente os grandes es-
tabelecimentos, especialmente os com mais de 100 pes-
soas empregadas, apesar de haver contemplado algumas
pequenas empresas. A concentração dos financiamentos
do BID foi na faixa de 50 e mais empregados.

Na distribuição dos tipos de incentivos por po-
los, cabe assinalar o FINOR em Petrolina/Juazeiro e
Norte de Minas Gerais; essa situação se repetiu com re-
lação ao PDAN, acrescido do Polo do Baixo São Fran-
cisco. Dos sete polos que utilizaram os incentivos dos
artigos 34/18, destacaram-se o Baixo-Médio Jaguaribe
e Baixo São Francisco.

As empresas localizadas nos polos delimitados
no referido estudo não eram, de modo geral, bem aqui-
nhoadas com isenções de impostos. Essas empresas não
recebiam praticamente reduções ou isenções do im-
posto sobre serviços (ISS), impostos sobre exportação
(ISEXP) e importação (ISIMP). Das 95 empresas pes-
quisadas, cerca de 15% foram beneficiadas com isenções
parciais de imposto sobre produtos industrializados e de
imposto sobre circulação de mercadorias (ICM). Quase
todos que receberam essa concessão, consideraram isso
relevante para sua empresa.

MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 71

Na esfera do imposto de renda, entretanto,
constatou-se que 41% das empresas dos polos haviam
gozado de vantagens de redução ou isenções totais
desse tributo, com o reconhecimento pleno de que tal
favorecimento era importante para o funcionamento
da indústria. Convém assinalar que uma mesma em-
presa pode receber mais de uma isenção, razão por que
se verificou certa concentração de vantagens em algu-
mas empresas nesse particular.

No caso específico de isenções do imposto de
renda, que são as mais significativas, observou-se que
as atividades mais favorecidas foram as indústrias de
óleos vegetais, sementes selecionadas e de processa-
mento de frutas, legumes e hortaliças. As agroindús-
trias de todos os grupos, no entanto, independente-
mente do grau de vantagens obtidas, reconheceram
que os benefícios de isenção parcial do imposto e ren-
da são aspecto relevante para elas.

A mesma conclusão se aplica, neste caso, às
grandes empresas beneficiadas com isenção do impos-
to de renda, visto que foram as mais contempladas e,
com raras exceções, consideraram as isenções relevan-
tes para os seus negócios.

Com relação ao grau em que as empresas dos
polos foram beneficiadas com isenção do imposto de

72 MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL

renda, cabe destacar as localizadas nos pólos de Aca-
raú/Curu, Alto Piranhas, Norte de Minas, Petrolina/
Juazeiro, Guanambi e Moxotó/Pajeú, que se situaram
na faixa de 50- 75% de suas respectivas empresas in-
cluídas. Na verdade, afora Barreiras e a Baixada Oci-
dental Maranhense, todas os demais polos tiveram
proporções variadas de suas empresas favorecidas. Vale
assinalar que, no Polo de Açu, a isenção desse tributo
não era relevante para suas empresas, assim como 25%
das situadas no Polo de Gurguéia.

No tocante às isenções parciais ou totais dos
impostos de produtos industrializados e de circulação
de mercadorias, cabe sobressair que, quanto ao pri-
meiro, os ramos mais beneficiados foram as indústrias
de derivados de milho e produção de rações. Quanto
à segunda, a produção de leite e derivados, a produção
de rações e sementes selecionadas.

MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 73

CONDIÇÕES DE INFRA-ESTRUTURA
EXISTENTES E DE APOIO À INDÚSTRIA

Todos os polos pesquisados dispõem de forne-
cimento de energia elétrica da ELETROBRAS. Ape-
nas uma empresa de produção de sementes seleciona-
das, no Polo de Barreiras, utilizava energia gerada no
próprio estabelecimento. No Pólo do Baixo Parnaíba
e no Baixo São Francisco, quatro empresas, nos ra-
mos de leite e derivados e óleos vegetais, tinham como
segunda fonte de fornecimento de energia elétrica o
próprio estabelecimento.

No tocante ao abastecimento d’água, vê-se que,
no total dos polos, 61% das empresas contavam com
sistema público, 20% com poço artesiano próprio, 23%
faziam uso da água de rio, lago ou lagoa e 7,4% de
poço profundo. Naturalmente que algumas indústrias
utilizavam mais de uma fonte. De qualquer modo, vale
assinalar que os ramos industriais que dependem adi-
cionalmente mais de outras fontes, que não o sistema
público, são as indústrias de leite e derivados, sementes
selecionadas e a indústria de processamento de frutas,
legumes e hortaliças. Nos polos de Petrolina/Juazeiro,
Baixo-Médio Jaguaribe, Acaraú/Cura, Baixo Parnaí-
ba, as indústrias utilizavam como fonte d’água os rios
que cruzam os respectivos polos.

74 MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL

Quando da realização da pesquisa de campo, cer-
ca de 88% declararam dispor de sistema de comunicação
telefônica, 91% de sistema de transporte, 40% assinala-
ram contar com assistência técnica e 21% com treina-
mento de pessoal especializado para suas indústrias.

Com relação às indústrias de óleos vegetais,
verificou-se que os polos Petrolina/Juazeiro, Norte de
Minas, Guanambi, Formoso, Acaraú/Curu, Baixo São
Francisco e Açu contavam com unidades industriais
do ramo, mas não dispunham de assistência técnica de
terceiros. Nos polos do Baixo-Médio Jaguaribe, Baixo
Parnaíba, Gurgéia e Alto Piranhas, a assistência técnica
estava disponível para, mais ou menos, a metade dos
estabelecimentos pesquisados.

Existia treinamento de pessoal técnico nos
polos de Petrolina/Juazeiro, Baixo-Médio Jaguaribe,
Alto Parnaíba, Gurguéia e Alto Piranhas, segundo a
opinião de 25% dos pesquisados.

No que diz respeito ao sistema de comunica-
ção e telefonia, rede bancária e sistema de transporte,
a situação era reconhecidamente boa, porquanto mais
de 90% das empresas contavam com tais serviços.

As indústrias de derivados de arroz dispunham,
em seus respectivos lugares de funcionamento, das mes-
mas facilidades das indústrias dos grupos anteriores,

MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 75

isto é, que não tinham problemas quanto à rede ban-
cária, sistema de comunicação e telefônico e sistema de
transporte. Merecem algum destaque apenas os polos
do Baixo- Médio Jaguaribe e Guanambi onde cinco
das nove empresas do ramo não estavam satisfeitas com
os mencionados serviços de apoio. Quanto às disponi-
bilidades de assistência técnica, a metade das empresas
dedicadas a esse grupo industrial contavam com facili-
dades de tais serviços e apenas uma empresa, localizada
no Polo de Petrolina/Juazeiro, dispunha de apoio para o
treinamento de pessoal técnico para sua indústria.

Das 21 empresas pesquisadas no ramo de pro-
cessamento de frutas, verduras e hortaliças dos catorze
polos, 43% contavam com assistência técnica de ter-
ceiros, sobressaindo a região do Baixo-Médio Jagua-
ribe e Moxotó/Pajeú e Alto Piranhas, concentrando
todo esse serviço. Consequentemente, todos os demais
polos de Petrolina/Juazeiro, Acaraú/Cura e Açu, que
contavam com indústrias do ramo, informaram não
dispor de assistência técnica. Quanto ao treinamento
de pessoal técnico para o ramo industrial em exame,
apenas 28,6% das empresas correspondentes infor-
maram ter facilidades nesse particular, valendo desta-
car, novamente, que nos polos de Petrolina/Juazeiro e
Acaraú/Curu as oito empresas pesquisadas afirmaram
que não contavam com esse serviço de apoio.

76 MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL

O sistema de comunicação telefônica e os ser-
viços da rede bancária foram utilizados em todas as
empresas pesquisadas.

Há registro também de apenas três empresas si-
tuadas nos polos de Petrolina/Juazeiro e Baixo-Médio
Jaguaribe que afirmaram não dispor de serviços de trans-
porte especializado para o traslado de produtos de suas
indústrias, necessitando de recorrer a outras localidades.

As informações sobre o assunto, para os de-
mais ramos industriais, podem ser generalizadas di-
zendo-se que as condições eram boas para a maioria
dos polos e grupos agroindustriais e que não havia di-
ficuldades significativas quanto ao sistema de comu-
nicação e telefonia, rede bancária e sistema de trans-
porte. A assistência técnica disponível satisfazia a 20%
das agroindustriais derivados de milho e a 67% nas
de produção de rações. O apoio para treinamento de
pessoal técnico era geralmente deficiente.

DESTINAÇÃO DA
PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL

Grande parte da produção agroindustrial dos
polos de produção agrícola do Nordeste destinava-
-se à própria região nordestina. Das 95 agroindús-

MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 77

trias existentes nos referidos polos, 83% afirmaram
vender preponderantemente para o Nordeste. Sabe-
-se, entretanto, que 17 das 95 empresas declararam
nada terem vendido à região no ano da pesquisa.

A distribuição dessas empresas, em termos
de faturamento na própria região nordestina, foi de
que 65 das 95 empresas obtiveram mais de 80% de
seu faturamento na referida região.

O segundo destino dos produtos agroindus-
triais dos polos de produção agrícola era a região
Sudeste. Dezoito empresas afirmaram que obtive-
ram algum faturamento proveniente de produtos
colocados nesta região. Num terceiro plano apa-
rece o exterior, com cinco empresas efetuando al-
guma exportação em 1987. Duas delas afirmaram
que mais de 80,0% de suas vendas se destinaram
ao exterior.

As vendas para as regiões Norte, Centro-
-Oeste e Sul foram insignificantes. Oito empresas
declararam terem vendido para estes mercados mas
num percentual diminuto: com até 20% do fatura-
mento total. Cinco empresas venderam para o Sul e
três para as regiões Norte e/ou Centro-Oeste.

78 MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL

ESTUDOS
DE CASOS
INTERNACIONAIS

MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 79



A INDUSTRIALIZAÇÃO
RURAL CHINESA

A China tem apresentado um robusto e sus-
tentado crescimento econômico após as reformas de
abertura dos mercados e investimentos privados. A
taxa de crescimento da renda total de longo prazo tem
sido de 8% a 10% ao ano. É uma das mais elevadas do
mundo desde 1980.

O crescimento demográfico desse país é de me-
nos de um por cento anualmente. Mesmo assim, con-
ta com uma população de 1,3 bilhões de habitantes.
Com uma renda de US$ 1,1 trilhão em 2002 e uma
renda per capita de US$ 845. Essa população e renda
encontram-se distribuídas em um território de 9,6 mi-
lhões de km, divididos politicamente em 22 províncias
e sete regiões autônomas e especiais.

Uma realização que tem sido muito comentada
mundialmente é o êxito obtido no combate à pobreza
e diminuição das desigualdades regionais. Nos meios
acadêmicos, há muita discussão sobre a real magnitude
dos benefícios sociais do acelerado crescimento chinês.
Alguns pesquisadores estimam que a população abai-
xo da linha da pobreza era de 33% em 1978. Dez anos
depois, essa proporção havia caído para 10% e no ano

MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 81

2000 tal cifra já era de apenas 4,5%, em média. A po-
breza é maior no quadro rural onde vivem ainda 65%
da população, mas os critérios para essa avaliação são
diferentes dos utilizados no Brasil.

Segundo cálculos do Banco Mundial, caso
as tendências de crescimento da redução da pobreza
continuem desse modo, a China poderá alcançar no
ano 2015 as metas de diminuição da pobreza em 50%
do que prevalecia no ano 2000. Segundo o celebrado
economista Jeffrey Sachs, “é provável que a China ve-
nha a ser o primeiro dos países pobres do século XX a
acabar com a pobreza no século XXI”.

Várias estratégias e programas estão sendo co-
locados em prática na China para alcançar esses resul-
tados superiores aos demais países subdesenvolvidos
do resto do mundo. O nosso propósito é destacar a
contribuição da industrialização rural neste contexto.
Sabe-se que desde os primórdios da revolução socia-
lista chinesa, Mao Tse -Tung estabeleceu como para-
digma a doutrina econômica de que a industrialização
era o setor principal da economia, mas que a base do
desenvolvimento era a agricultura.

Segundo muitos estudos de economistas reno-
mados e documentos de institutos de pesquisa inter-
nacionais, como o australiano Research Unit, (Unida-

82 MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL

de de Pesquisa) da Universidade de Adelaide, um dos
marcantes traços do desenvolvimento da China nos
últimos vinte anos tem sido a rápida industrialização
rural. Centrada na instalação de numerosas empresas
de pequena escala localizadas em pequenas cidades,
lugarejos e na própria área rural. Os estudos do profes-
sor Justin Yifu (2005) revelam que outras economias
da Ásia, tal como Formosa, também seguiram o cami-
nho da industrialização rural.

No período de 1978 a 1997, o número de em-
presas desse segmento, na China, aumentou de 1,5 mi-
lhões para 23,4 milhões. Quanto ao número de ocu-
pados, passou de 28,3 milhões de pessoas para 135,1
milhões.

A industrialização rural também foi de funda-
mental importância para o rápido e continuado cres-
cimento da economia chinesa. De acordo com as fon-
tes de informações já mencionadas, a industrialização
rural não tem sido apenas um complemento da pro-
dução agrícola, mas tornou-se uma fonte indispensá-
vel de crescimento nacional. É também largamente
conhecido que o setor exportador tem sido um dos
sustentáculos para o recente sucesso do crescimento
chinês. As indústrias rurais também são um dos seto-
res líderes nesse particular, especialmente nos últimos
anos. A participação dos produtos originados da in-

MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 83

dústria rural, elevou-se de 10% em 1986 para 46% em
1997. Outra forma para mensurar a contribuição da
industrialização rural é quanto à renda per capita. Em
1984, esse valor era de 315 iuan (US$ 39,00) na zona
rural, com 24% de atividade industrial rural, passando
para 1.987 iuan (US$ 248,00) em 1997, com 36% da
atividade não-agrícola.

Em 1978, por exemplo, somente 9,5% da força
de trabalho rural eram engajadas em atividades indus-
triais e apenas 7,6% da renda rural oriundas do setor
não-agrícola propriamente. No ano de 1996, menos
de vinte anos depois, 30% da ocupação rural estariam
trabalhando na indústria local. A renda não-agrícola
do quadro rural alcançou 34% do total da renda rural.

A magnitude e a velocidade de desenvolvimen-
to da industrialização rural chinesa nas últimas duas
ou três décadas, despertaram um grande interesse no
meio acadêmico e das pessoas que trabalham em de-
senvolvimento regional.

A partir disso, emergiu uma série de teorias e
interpretações dos motivos desse êxito de desenvolvi-
mento local. Alguns destacam os aspectos culturais e
o papel das cooperativas. Outros preferem enfatizar
as externalidades criadas pela acumulação de conheci-
mento e, mais recentemente, da formação de um novo

84 MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL

capital social. Acredito que foi muito importante para
isso o modelo econômico baseado na participação da
propriedade pública das empresas locais em combina-
ção com a afluência do papel da iniciativa privada.

As províncias que iniciaram o processo de in-
dustrialização rural estão localizadas na área costei-
ra, onde há excesso de mão de obra relativamente à
escassez de terra para agricultura e recursos naturais.
Nessas províncias, por exemplo, a terra disponível per
capita é de mais ou menos 0,09 hectare. Diferente-
mente, as vantagens comparativas das províncias do
interior do país estão baseadas na oferta de matérias-
-primas locais e recursos relacionados com a indústria.
A industrialização rural, entretanto, não é uniforme
no território nacional chinês. A participação dessa ati-
vidade no produto rural varia de 86% em Shangai a
4% no Tibet.

Muitos são os motivos que contribuem para
essa diversidade. Na era do planejamento econômico,
após 1949, um deliberado esforço foi empreendido vi-
sando realizar um desenvolvimento mais balanceado
regionalmente do país. Um grande volume de inves-
timento foi direcionado para as regiões central e oes-
te, também chamadas de segunda e terceira frentes.
A maioria das fábricas estabelecidas nesse caso era de
indústrias pesadas. Em 1980, haviam ido instaladas

MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 85

75.610 indústrias rurais nessas regiões.

No início do desenvolvimento econômico mo-
derno da China, a industrialização rural mantinha
uma estreita relação com as zonas urbanas. A sistemá-
tica consistia na simples transferência da tecnologia
industrial dos centros urbanos costeiros para o inte-
rior. Nessa era da coletivização, do desenvolvimento
de comunas e de brigadas, as empresas rurais ficaram
muito dependentes de técnicos que eram transferidos
das cidades para a chamada “reeducação dos campo-
neses”. Com o fim da Revolução Cultural, ocorreu a
reversão desse processo. Trabalhadores agrícolas pró-
ximos a cidades como Shanghai passaram a ocupações
industriais urbanas. Não obstante, muitos dos traba-
lhadores nessa condição, ao obterem aposentadoria,-
voltaram para as pequenas cidades de origem. Por sua
vez, a estrutura industrial de Shanghai e outras cida-
des era de produtos de consumo e intensivos de mão
de obra, fáceis de serem adaptadas às zonas rurais e de
investimentos iniciais baixos.

Após a década de 1980, a transferência de tec-
nologias das zonas urbanas para a indústria rural toma
novas rotas. Diferentemente da indústria urbana domi-
nada pelo setor público, a indústria rural é caracterizada
pela pluralidade de proprietários. Dentre esses, encon-
tra-se a participação do governo local. É bom lembrar

86 MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL

que antes de 1978 não existiam indústrias privadas na
China. Foi a partir de 1984 que se deu o início acelera-
do da privatização da indústria rural. Para exemplificar,
94% da indústria de transformação chinesa em 1997 já
se classificavam como de iniciativa particular. Em ter-
mos de emprego, esse percentual era de 59% e valor da
produção de 51% do total do setor industrial.

As despesas de consumo, tanto nas áreas rurais
como urbanas, cresceram por ano 6,5% e 5,8%, res-
pectivamente. Isto criou uma excelente oportunidade
para a indústria rural de bens de consumo. Nesta fase,
a indústria urbana mantinha estreita relação com a in-
dústria rural, em termos de tecnologia, equipamentos,
pessoal e canais de comercialização. Há reclamações
de que a industrialização do interior precisa ser dis-
tribuída de modo melhor regionalmente. O desenvol-
vimento balanceado, todavia, depende das condições
locais prevalecentes.

Uma característica da industrialização rural
chinesa na “era da reforma” foi a questão da origem
da formação de capital. As fontes de crédito bancário
eram mínimas e o suprimento de capital provinha dos
excedentes da própria agricultura. Em contrapartida,
essa limitação forçou o setor industrial rural a buscar
compensar a escassez de capital com aumento de efi-
ciência.

MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 87

Devido a complexa história do desenvolvimen-
to econômico da China, é oportuno tentar esclarecer
um pouco as principais etapas que a industrialização
rural precisou. A partir da reforma rural ocorrida nas
décadas de 1970 e 1980 abriu-se um novo capítulo na
área rural chinesa. Foi desse momento em diante, que
a industrialização rural deu início a uma história de
sucesso. Fato notório ocorreu em 1978, após 20 anos
de interrupção, voltou a ser adotado o sistema de agri-
cultura familiar. Com a produção agrícola crescendo
a 6% ao ano desde então, a industrialização rural flo-
resceu vigorosamente. As organizações rurais coletivas
passaram a ser denominadas de vilas empresariais e a
iniciativa privada foi incentivada. Em 1984, foram ins-
talados 4,7 milhões de novas firmas, totalizando neste
ano 6,1 milhões. Nos dois anos seguintes, o número
alcançou 12,2 milhões dos quais 88% eram privadas
ou empresas cooperativas.

88 MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL

AS INDÚSTRIAS RURAIS
NA ECONOMIA DE FORMOSA

A população de Formosa, que é uma ilha sub-
tropical do Oceano Pacífico, é de 22 milhões de habi-
tantes, residentes numa área de 36.000 km. O Produto
Interno Bruto foi de US$ 22 bilhões, com crescimento
médio de 6,2% ao ano desde 1952. A renda per capita,
no ano 2000, era de US$ 10.000.

A industrialização rural é um dos elementos
principais que contribuíram para a diversificação da
economia rural, segundo os estudos do Prof. Chien-
-Zer Liu (2.000) da Universidade Nacional Chung.
Sobre o mesmo assunto, são valiosos os estudos do
Professor H. C. Tasai (1981) sobre Industrialização
Rural em Formosa.

Na verdade, há muitos fatores que facilita-
ram o desenvolvimento rural e reduziram a pobreza
rural de Formosa. Nas áreas rurais, as fábricas de
maior importância são as que produzem alimentos,
substâncias químicas, metais e produtos de madeira,
equipamentos mecânicos, minerais não-metálicos e
produtos têxteis. Essas indústrias rurais contribuí-
ram para melhorar a renda não-agrícola no quadro
rural e igualar a distribuição de renda entre essas

MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 89

áreas e as zonas urbanas. Com isso, a capacidade de
investir na agricultura melhorou bastante.

A absorção de trabalhadores nas indústrias ru-
rais provocou dois efeitos no modelo de utilização da
mão de obra das famílias rurais. Pessoas da unidade fa-
miliar foram beneficiadas pelas oportunidades de tra-
balho na própria área rural, assim como trabalhadores
desempregados pelo processo de mecanização das ati-
vidades agrícolas. Em consequência disso, as pessoas
que antes eram expulsas para as cidades maiores foram
estimuladas a se manterem residindo em seus lugares
de origem.

Os estudos sobre a industrialização rural de
Formosa explicam que esse processo não se diferen-
ciou do que ocorreu com a indústria a nível nacional.
As políticas deliberadas de desenvolvimento industrial
tiveram início em 1953 com diretrizes de substituição
de importações de alimentos, têxteis, bicicletas, ferti-
lizantes etc. A agroindústria recebeu atenção especial
nessa fase, gerando muitas oportunidades de trabalho
não agrícola no quadro rural. Na década de 1970, a
ênfase foi na promoção de exportação, com várias for-
mas de apoio à indústria para aumentar a competiti-
vidade externa. Destacam nesse sentido, as facilidades
de créditos, deduções de impostos, construção de in-
fraestrutura e facilidades de aquisição de terras. A base

90 MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL

dessa indústria exportadora é de eletrônica, madeira,
plásticos, equipamentos óticos e outros com elevado
grau de valor adicionado e intensivo em mão-de-obra.
Ainda no final dessa década, as políticas industriais
passaram a fomentar a manufatura de substâncias quí-
micas e petroquímicas e maquinaria pesada e produtos
metálicos básicos. A partir do início dos anos de 1980
mais um passo é dado no processo de evolução indus-
trial de Formosa. O foco desde então, voltou-se para
as indústrias de precisão e de tecnologia sofisticada de
semicondutores e novos produtos eletrônicos.

Em decorrência de vários fatores que condicio-
naram a ocupação do solo agrícola de Formosa, pre-
valecia até poucos anos uma estrutura de propriedade
de terras e ordenamento urbano muito confuso. Dada
a alta densidade populacional, o espaço territorial é
vital. Ainda há muitas deficiências de infra-estrutura
pública e instalações sociais.

Com o avanço do processo de desenvolvi-
mento de Formosa e a globalização da economia,
tem havido um melhoramento das condições de
emprego e do ambiente de vida na área rural. Para
enfrentar os desequilíbrios existentes entre as cida-
des e as áreas rurais, o governo tem adotado polí-
ticas de desenvolvimento rural integrado para fa-
cilitar o desenvolvimento agrícola, construir áreas

MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 91

urbanas no meio rural e melhorar o bem-estar dos
agricultores através da industrialização rural.

Com base nessas políticas, em trinta anos,
ocorreram mudanças estruturais importantes na eco-
nomia de Formosa. No caso da contribuição setorial
da renda, destacou-se a redução da parcela agrícola de
18% em 1970 para 8% no ano de 2000. O setor serviço
saltou no período de 57% para 60% e a indústria de
25% para 32%. É bom registrar que a grande mudança
estrutural de Formosa ocorreu de 1955 a 1970 quando
a contribuição da indústria avançou de 17% para os
níveis mencionados e a agricultura descendeu de 38%
da renda para os 18%, referidos antes. Especialmente
quanto a agricultura há de se mencionar que a área to-
tal cultivada era de 900 mil ha em 1970, decrescendo
para 780 mil ha no ano 2000. Como o número de es-
tabelecimentos também decresceu, o tamanho médio
das propriedades manteve-se em torno de um hectare.

Fato relevante, no entanto, foi o aumento da
produtividade da mão de obra, tendo em vista que nos
30 anos em análise ocorreu uma redução de 53% na
população ocupada diretamente na agricultura, pecuá-
ria e pesca. Em 1970, de fato, estavam engajados nessas
atividades 1,7 milhão pessoas, passando para 770 mil,
nesse período. Em termos percentuais, a agricultura
empregava 37% da população trabalhadora de Formo-

92 MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL

sa em 1970, passando para apenas 8%. Em contrapar-
tida, a indústria passou de 28% para 38% e serviços de
35% para 54%. Vale registrar que em Formosa 85%
dos produtores agrícolas não são proprietários de suas
terras. O nível de renda familiar da família rural cor-
responde a 80% das famílias não-agrícolas residentes
nas cidades.

MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 93



PROCESSOS DE
INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL

NA ESPANHA

O tema tem sido muito estudado na Espanha,
especialmente pelos pesquisadores Garcia Sanz (2000)
e Melero & Calatrava (2001).

As análises desses autores mostram o aumento
da participação percentual da população rural dedica-
da à indústria e aos serviços durante a década de 1990,
em comparação com a queda da percentagem dos que
ganham a vida da agricultura. Somente um em cada
cinco habitantes ocupados no meio rural é atualmente
agricultor, considerando os municípios com menos de
10.000 habitantes.

Segundo Vazques Barquero (1982), falando so-
bre a importância da industrialização rural diz que nos
anos 1980 esse setor absorvia 10% da população ativa
industrial do país. Este autor sustenta que os “sistemas
produtivos locais” apresentam uma forte especializa-
ção, em produtos tradicionais, como os de alimentos,
móveis, têxteis, confecções, couro e outros.

Com base em dados do “Registro Industrial de
1980 e 1990”, observa-se que os municípios rurais são

MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 95

os que mais absorvem o incremento relativo de em-
prego industrial. Ao longo dos últimos vinte anos, tem
ocorrido na Espanha um processo de industrialização
dispersa. Assim, calcula-se que entre os anos de 1981-
2000, as zonas e municípios rurais centraram 60% dos
novos estabelecimentos industriais, 55% do emprego
e 62% da inversão realizada nesse setor.

As investigações realizadas sobre esse fenôme-
no espanhol, destacam a presença de indústrias bá-
sicas e de alta tecnologia nas atividades tradicionais.
Os diversos autores que estudaram as mudanças da
industrialização rural invocam várias causas para ex-
plicar esse fenômeno da atratividade nas localidades
rurais. São citados a questão residencial, os altos cus-
tos do solo urbano industrial, a melhor qualidade da
mão de obra rural, (ética superior de trabalho), baixos
custos de produção (especialmente de salários) e baixo
nível de conflito industrial no meio rural e pequenas
cidades.

Ao analisar uma série de estudos de casos de in-
dustrialização do meio rural, Sanz Menéndez (1983),
conclui que o fenômeno obedece a duas causas dife-
rentes. Durante os anos 1970, seria atribuível à mas-
sificação do consumo e ampliação dos mercados que
abriram novas perspectivas para as empresas locais.
Este autor opina, entretanto, que nos anos 1980, ocor-

96 MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL

reu uma reorientação da indústria urbana em busca
de melhores condições produtivas. Professor Vazquez
Barquero (1996) acrescenta que esse processo se deve
também a melhoria dos meios de comunicação, a in-
tegração de serviços rurais em redes geograficamente
externas, cujo eixo motor se encontra nos núcleos ur-
banos. A convergência de rendas agrárias para o setor
de industrialização também teve um certo peso.

Numa primeira fase, a indústria rural espanhola
era constituída de pequenos estabelecimentos perten-
centes a indústrias tradicionais. Desde os meados dos
anos 1990, essa indústria está dominada pelos setores
não-tradicionais os quais compreendem as indústrias
básicas (papel, artes gráficas, indústria química e pe-
troquímica) e de alta tecnologia.

A indústria rural espanhola estava formada
em 1999 de 53% do segmento não-tradicional, ape-
sar de no quadro urbano essa relação ser de 67%.
Uma percepção comum derivada dos referidos es-
tudos, isto é, as indústrias rurais são formadas por
pequenas empresas. Adotando o critério de dimen-
são segundo o número de trabalhadores/empresa,
verifica-se que as indústrias tradicionais empregam
uma média de 7 trabalhadores, as indústrias bási-
cas 10 e as de alta tecnologia 27. É bom esclarecer,
entretanto, que a média de empregados de empresa

MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 97

nos centros urbanos é de 10 pessoas caracterizando
um parque industrial de pequenas empresas.

Em termos gerais, na Espanha não está ocor-
rendo um deslocamento de empresas industriais das
áreas urbanas para as rurais. Numa série estatística de
vinte anos, constatou-se que o investimento de criação
de novas indústrias deu-se de acordo com um padrão
de evolução semelhante nas duas áreas. É importante
destacar, no entanto, que nos últimos anos, tem ocor-
rido um maior dinamismo das inversões industriais
nos municípios rurais. Os setores não-tradicionais da
atividade fabril são as que parecem mais destacadas
nas novas atividades manufatureiras dos povoados. São
destaques nesse particular os setores de eletrônica (fa-
bricação de equipamentos de informática), assim como
a indústria de artes gráficas, indústria química, mate-
riais acústicos, maquinaria e equipamento mecânico.

Os estudos sobre a indústria rural espanho-
la mostram que, no caso das indústrias tradicionais,
tem ocorrido uma tendência de aumento de tamanho
das unidades através de processos de concentração de
capital em ditas atividades. Há indicações de que as
companhias com sede nas cidades estão adquirindo as
fábricas localizadas nas zonas rurais. Segundo o eco-
nomista Audretsch (1995), é possível que no mundo
rural de hoje algumas novas empresas não-tradicionais

98 MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL


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