de dimensão reduzida possam oferecer melhores pers-
pectivas de sobrevivência que os pequenos negócios
tradicionais que não alcançam o tamanho mínimo efi-
ciente, por mais inerente ao meio rural que sejam essas
atividades.
Em resumo: o perfil da indústria rural espa-
nhola está transformando-se firmemente. Mesmo ha-
vendo uma semelhança nas tendências gerais em todo
o espaço geográfico, o ritmo de criação de empresas
está sendo mais dinâmico no quadro rural do que no
urbano. Ao mesmo tempo, as indústrias básicas e de
alta tecnologia estão predominando no meio rural.
MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 99
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pobreza rural tem sido o maior desafio do
governo do Estado do Ceará e dos demais estados do
Nordeste. As causas desse fenômeno são muitas. De
natureza histórica, estrutural, ambiental e política.
Os elementos estratégicos apontados como es-
senciais para conseguir a redução desses desequilíbrios
são vários.
O desenvolvimento do capital social e humano
(“governança” e educação massiva), tornar o semiárido
competitivo, fazer manejo e conservação dos recursos
naturais e fortalecimento das cidades do interior de
apoio às atividades econômicas da população agrícola
etc. Devido ao subemprego e à baixa produtividade da
agricultura do Estado, além disso, torna-se evidente
que é necessário identificar atividades não-agrícolas
no quadro rural para gerar empregos e renda comple-
mentar para essas famílias.
Existe um grande número de evidências, em
vários países, quando à redução das desigualdades e
da pobreza rural, quando a componente industrial é
incorporada ao processo produtivo dessas áreas. O rá-
pido crescimento econômico e a redução da pobreza
rural, por exemplo, na China, Formosa, Índia, e outros
MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 101
países que eram extremamente pobres há trinta anos,
são atribuídos à integração da agricultura com outras
atividades não-agrícola na zona rural desses países.
Com efeito, nos países mais ricos do mundo,
está sobejamente demonstrado que a agricultura iso-
ladamente não tem possibilidades de oferecer níveis
de renda e bem-estar adequados aos residentes nas fa-
zendas e pequenas cidades. A situação atual dos agri-
cultores desses países é caracterizada por grande de-
pendência de rendas fora da fazenda, com percentuais
que são em média de mais de 50%. Mesmo em alguns
estados do Nordeste do Brasil , há registro de certa
contribuição de renda não-agrícola, que está pesando
em desfrutarem uma melhor distribuição de renda e
menos pobreza do que o Ceará.
Tais conclusões levam ao entendimento de
que, no processo de desenvolvimento econômico mais
equilibrado setorial e socialmente, não se deve tratar
as pessoas das áreas rurais e urbanas como entidades
distintas. Elas estão hoje plenamente conectadas pela
globalização das comunicações, aspirações e necessi-
dades básicas.
Nas décadas passadas, entretanto, o Nordeste de
modo geral concentrou os recursos públicos no setor ur-
bano. Há boas razões teóricas para justificar essa políti-
102 MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL
ca, mas na prática agravou a separação dos setores rurais
e urbanos e o hiato de renda entre elas. A coexistência
do setor urbano moderno e um setor rural tradicional
é o resultado da estratégia de desenvolvimento indus-
trial, suportada por investimentos subsidiados, incenti-
vos fiscais e políticas de preços relativos desfavoráveis
ao setor primário. Esta divisão pode também decorrer
da política que vê o urbano como “moderno” e o rural
como “atrasado”. Menospreza-se, com essa visão, o fato
de que a agricultura pode, com apropriados investimen-
tos e tecnologia ser também moderno.
Esse processo, ao longo de muitos anos, trans-
feriu significativos recursos da área rural para o setor
urbano. Tais como mão-de-obra, matérias-primas e
alimentos baratos, divisas das exportações e as pou-
panças que serão atraídas pelas facilidades de aplicação
em indústrias, comércio e bens imobiliários. O dano
desse processo era agravado nas ondas inflacionárias.
Por fim, a produtividade do trabalho e da terra, bem
como a renda per capita das áreas rurais ficaram bem
atrás das prevalecentes nos centros urbanos. Durante
esse período, ocorreu uma crescente concentração da
pobreza na população rural do Ceará. Outro aspecto
importante para agravar a pobreza rural foram as li-
mitações de postos de trabalho nas cidades e a pouca
capacitação da população rural para ocupar outras ati-
MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 103
vidades produtivas no próprio campo.
O tema desse capítulo é recomendar que, a es-
tratégia de industrialização rural, pode ajudar às popu-
lações dessa área a obter em alternativas para melhora-
rem seu nível de vida ou saírem do estado de pobreza
em que se encontram. Um programa dessa natureza
precisa contar com incentivos fiscais e subsídios finan-
ceiros, quando necessário. Mas, o principal incentivo
aos empresários e investidores devem ser a assistência
tecnológica e disponibilizar estudos que demonstrem
a viabilidade dos empreendimentos preconizados.
Nos países do sudeste asiático são referidos
como apoio do setor governamental para programas
dessa natureza: a) estudos de oportunidades indus-
triais e de mercados; b) financiamento de capital fixo
e de trabalho, com taxas preferenciais; c) pesquisa tec-
nológica e assistência técnica; d) capacitação de recur-
sos humanos.
Como já referenciado antes, os objetivos de um
programa dessa natureza são integrar o setor agropecu-
ário e o setor industrial, favorecer a interiorização, abrir
mercados para a produção agrícola e outros produtos.
Enfim, promover a melhoria dos padrões de distribui-
ção de renda nas áreas de atuação do programa.
Quanto ao mercado para os produtos proces-
104 MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL
sados, devem ser exploradas as oportunidades regio-
nais do Ceará e outros estados. As possibilidades de
mercados externos podem viabilizar algumas iniciati-
vas específicas que venham a ser identificadas.
Em todos os casos, o fundamental é que os em-
preendimentos tenham uma base tecnológica compe-
titiva e consistência para sobreviver e prosperar. Es-
tudos realizados pelo Banco do Nordeste (ETENE)
e pela Universidade Federal do Ceará, dos quais par-
ticipei como componente da equipe de pesquisado-
res dessas instituições, demonstra que um dos fatores
essenciais e a garantia da oferta de matérias-primas
e sua qualidade. Em vista disso, é recomendável que
o suprimento de insumo para as agroindústrias seja
oriundo de produção irrigada ou menos sujeitas às ir-
regularidades das chuvas.
Alguns fatores críticos precisam ser bem ava-
liados, conforme se pode aprender das experiências in-
ternacionais e do próprio Nordeste do Brasil. Um dos
elementos cruciais do êxito de um projeto de indus-
trialização rural é a capacidade empresarial. Natural-
mente, em muitos casos essas qualificações precisam
ser identificadas ou preparadas no próprio processo de
execução desses empreendimentos.
A introdução de indústrias nas áreas rurais do
MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 105
Ceará, especialmente nos pólos de irrigação, poderá
constituir medida efetiva para multiplicar os efeitos
positivos dos projetos agrícolas. E reduzir os efeitos
negativos causados pelo êxodo rural, pela decadência
de pequenas cidades do interior.
A industrialização rural ou agroindústria, ob-
viamente, não pode ser vista como um processo de
transferência de práticas industriais urbanas para o
meio rural. Conseqüentemente, o planejamento e
execução dos programas de industrialização dos pó-
los devem levar em conta aspectos tais como padrões
educacionais, disponibilidade relativa de fatores, dis-
tribuição do poder aquisitivo local, e oportunidades
de mercado em outras áreas. Em suma, condições in-
fraestruturais, assim como formas organizacionais e
tecnológicas requeridas para cada caso específico.
106 MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL
INDUSTRIALIZAÇÃO
RURAL:
Considerações e
Recomendações para um
Programa no Ceará
RAPHAEL BAR-EL *
(*) Professor emérito da Ben-Gurion Uni-
versity of the Negev (Israel). Autor de Es-
tudos sobre industrialização rural no Nor-
deste do Brasil e em vários países.
MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 107
INTRODUÇÃO
O papel da industrialização
rural no processo de desenvolvimento
foi amplamente analisado pelo Prof.
Pedro Sisnando Leite e divulgado em
muitos dos seus livros sobre o assunto.
As considerações que se se-
guem são baseadas em uma revisão de
parte da bibliografia recente sobre a
experiência acumulada em alguns pa-
íses que apresentam industrialização
rural. Esse trabalho enfoca três pers-
pectivas principais: a contribuição da
industrialização rural ao desenvolvi-
mento econômico, a importância da
integração setorial e a importância da
integração regional (entre as indús-
trias rurais e as cidades locais) no pro-
cesso de industrialização rural.
MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 109
1. A potencial contribuição da
industrialização rural
Contribuição das indústrias
rurais ao crescimento da renda
A experiência da China mostra que a industrializa-
ção rural não é somente um instrumento para solu-
cionar um problema específico de desemprego local:
ela pode ser considerada uma contribuição impor-
tante para o crescimento econômico global. Kwong e
Lee (2005) mostram que o valor bruto da produção
da indústria rural da China cresceu rapidamente de
38,5 bilhões de yuans em 1978 para 8.245,6 bilhões
de yuans em 2000. Uma taxa de crescimento médio
anual de 21,8 por cento, medida em termos reais, foi
registrada para a indústria rural nesse período. Peng,
Zucker e Darby (1997) também descobriram que a in-
dústria rural chinesa cresceu três vezes mais rápido do
que o PIB nacional, tendo ultrapassado a agricultura
em 1987, e agora chegando perto de metade de toda
a economia chinesa. Uma das razões plausíveis forne-
cidas pelos estudiosos para explicar um crescimento
tão espetacular é o apoio do governo local para dire-
cionar os empréstimos bancários para as empresas sob
sua jurisdição. Essa prática havia contribuído para o
MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 111
início das empresas e suas futuras expansões quando
o mercado financeiro da China ainda era subdesen-
volvido na metade dos anos 80. Kawakami (2004) diz
que o desenvolvimento rural baseado na agroindús-
tria contribuiu para o crescimento regional e ameni-
zou disparidades inter- regionais no período inicial da
reforma na China. A entrada de capital estrangeiro
teve um papel de liderança significante para o cres-
cimento regional durante os anos 90, mas agravou as
disparidades inter-regionais. A educação e as empre-
sas não-estatais estavam entre as outras chaves para o
crescimento regional ao longo do período da reforma.
Esses resultados significam que, para se alcançar um
crescimento sustentável e equilibrado no futuro, é es-
sencial que se estenda os investimentos de capital es-
trangeiro para as regiões do interior, juntamente com
maior desenvolvimento do capital humano e empresas
locais não-estatais.
Contribuição para a diminuição
da diferenciação rural
A experiência no Vietnã, como mostrada por lan
Livingstone (2000), mostra que o desenvolvimento
da agricultura pode ter um efeito negativo no que se
refere à igualdade na área rural. O artigo identifica
duas áreas problemáticas em contraste com o incrível
crescimento agrícola alcançado pelo Vietnã: uma for-
112 MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL
te tendência à diferenciação rural e à marginalização
de determinados grupos, e o surgimento de grande
desemprego. O artigo avalia as potenciais contribui-
ções de indústrias rurais domésticas e de empresas
independentes de pequeno porte, concluindo que as
mesmas não são soluções para o problema, embora o
fazendeiro faça uma contribuição útil à viabilidade das
famílias. No entanto, existem possibilidades impor-
tantes para a produção agrícola e pecuária em empre-
sas independentes, com base em uma agricultura mais
diversificada e comercializada. Onde o recurso para a
agricultura é mais circunscrito, como no norte, fica a
exigência de uma estratégia de trabalho intensivo de
fabricação para exportação.
Contribuição para diminuição
da migração da zona rural para a área urbana
A questão é até que ponto a industrialização rural
pode ajudar a diminuir a migração para as cidades e
evitar a superpopulação. A análise feita por Liang,-
-Zai; Chen,-Yiii-Por; Gu,-Yanmin (2002) mostra que
a experiência da China não prova isso. Para evitar os
problemas de superpopulação e desemprego urbano
que estão associados com a super-urbanização obser-
vada em outros países em desenvolvimento, a China
tem procurado, desde o final dos anos 70, de forma
ativa, uma estratégia de industrialização rural, encora-
MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 113
jando o desenvolvimento de indústrias rurais que for-
neçam oportunidades de emprego para a mão de obra
excedente na agricultura. Nesse trabalho, os autores
examinaram o impacto da industrialização rural sobre
a migração utilizando dados do Censo Populacional
da China de 1990. Nas estimativas feitas por eles, a
industrialização rural não tem um impacto estatístico
significante sobre a probabilidade de migração intra
ou inter província. Logo, os resultados jogam dúvidas
sobre se a China pode seguir um único caminho em
direção à urbanização. Isso quer dizer que a migração
da zona rural para a área urbana é inevitável, e que a
industrialização rural deve ser considerada como um
complemento ao processo de urbanização, não um
substituto. Isso também fortalece o conceito de desen-
volvimento de pequenas cidades regionais, que desvia
a migração rural da cidade metropolitana.
114 MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL
2. Integração setorial
A indústria rural pode ser uma ferramenta
importante para a integração da população rural na
economia regional, não somente através da criação de
maiores níveis de renda, mas também pelo estímulo
à atividade agrícola. Islam e Hehui (1994) mostram
que o período pós-reforma (depois de 1978)jia China
foi marcado por aumentos acentuados tanto na ren-
da como no consumo das famílias dos trabalhadores
rurais. Um crescimento tão alto mantido por mais de
uma década é impressionante. 0 rápido crescimento
das indústrias rurais atuou como o motor da prosperi-
dade alcançada pelas famílias dos trabalhadores rurais
na China durante aquele período. Com as altíssimas
taxas de crescimento alcançadas por tais indústrias, o
aparecimento e rápido crescimento de empresas parti-
culares, e as mudanças institucionais que aconteceram
em relação aos métodos de recrutamento e pagamen-
to de salários em indústrias de propriedade coletiva,
as indústrias rurais como um todo tornaram-se uma
importante fonte de renda para as famílias dos tra-
balhadores rurais. Além da contribuição direta, essas
indústrias tiveram um papel importante em fomentar
o crescimento da agricultura (por exemplo, fornecen-
do fundos para investimento social na irrigação e fa-
MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 115
cilitando a mecanização das fazendas e o uso de fer-
tilizantes), e assim fizeram uma valiosa contribuição
indireta à renda do trabalhador rural.
Uma importante questão relacionada à indus-
trialização rural é a dúvida entre a promoção de clus-
ters industriais e a adoção de política de avaliação
específica de apoio para qualquer caso individual. As
estratégias atuais para industrialização regional en-
corajam o recrutamento, o desenvolvimento de pe-
quenas empresas, e esforços de retenção e expansão
dos negócios para promover o desenvolvimento de
clusters industriais. Essa é também a abordagem ge-
ral usada no Ceará no desenvolvimento das APLs.
Um trabalho feito por Barkley e.Henry (1997) for-
nece uma visão global das vantagens e desvantagens
de se promover os clusters industriais como uma
alternativa de desenvolvimento industrial para as
áreas rurais. As vantagens dos clusters promovidos
com sucesso incluem economias externas mais for-
tes, um ambiente mais favorável para a reorganização
industrial, maior networking entre as firmas, e uso
mais eficiente dos recursos púbicos. As desvantagens
de uma abordagem de cluster industrial são a sele-
ção das indústrias alvo, superação das desvantagens
dos retardatários, e fornecimento de instituições de
apoio. Os resultados indicam que uma estratégia de
116 MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL
cluster industrial não é apropriada para muitas das
comunidades rurais. As áreas que forem considerar a
promoção de cluster devem comparar os custos de se
iniciar ou expandir um cluster com os potenciais be-
nefícios do desenvolvimento de clusters de sucesso.
MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 117
3. Integração regional:
a relação entre as indústrias
rurais e a cidade
A existência de empresas rurais depende em
grande parte do acesso aos serviços e aos mercados
de uma cidade vizinha. Hayami, Kikuchi e Marciano
(1998) mostram, por exemplo, no caso das Filipinas,
que para o desenvolvimento de indústrias de pequeno
porte e trabalho intensivo nas áreas rurais mais afas-
tadas como o meio mais importante de aliviar a po-
breza na área rural e o crescimento urbano doentio, é
de extrema importância que canais de comercialização
sejam estabelecidos de forma a conectar os pequenos
produtores rurais com as grandes demandas urbanas
e/ou internacionais. Esse estudo investiga várias for-
mas de produção e contratos comerciais praticados na
base da indústria de produção de artesanato de metal
nos arredores da Grande Manila, nas Filipinas. Os re-
sultados mostram a eficácia da rede de subcontratadas
em mobilizar o empreendedorismo rural como res-
posta ao grande aumento da demanda na exportação.
Outro aspecto da contribuição de tais acordos
de subcontratação é fornecido por Briones (2002) para
as Filipinas: ele alega que acordos de subcontratação
118 MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL
baseados em contratação relacionai entre os comer-
ciantes urbanos e os fabricantes rurais fornecem um
meio importante para propagar a produção em áreas
rurais. Nesses acordos, o pagamento de adiantamentos
é uma forma de interligação de crédito que atende ao
isolamento de empresas de base rural em relação ao
setor financeiro formal. Os resultados para um estudo
de caso das indústrias de vestuário e artesanato de me-
tal apoiam a^visão de que acordos de subcontratação
podem ser uma forma de organização apropriada para
a industrialização rural.
Outro argumento para a importância da proxi-
midade com a cidade é fornecida por Peng, Zucker e
Darby (1997), com base na experiência chinesa: o fato
de se estar perto de cidades exerce um efeito muito
grande sobre a produtividade (produtividade 30 a 35
por cento maior para um município com um desvio
padrão acima da média na proximidade de centros po-
pulacionais) devido à transferência de tecnologia in-
corporada dos residentes urbanos.
Uma analise estatística detalhada da industria-
lização rural no nordeste do Brasil feita por Bar-EI
(1990) leva aos seguintes resultados sobre o papel da
cidade local e sua influencia:
MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 119
1. A existência de uma cidade rural tem um
papel importante no inicio de um processo
de industrialização rural pelo suporte que a
mesma fornece em termos de infraestrutura,
serviços, mercados, fornecimento de mão de
obra, etc.
2. Existe uma ‘massa crítica’ que se faz necessá-
ria para promover o processo de desenvolvi-
mento industrial: cidades rurais muito peque-
nas (definidas como tendo uma população de
menos de 5.000 habitantes) não conseguem
geralmente fornecer o apoio necessário. Ci-
dades rurais maiores podem facilmente pro-
mover um ‘ponta pé inicial’ para o desenvolvi-
mento industrial.
3. Alem disso, a ‘elasticidade’ da industrialização
rural ao tamanho da cidade rural é maior que
1: um aumento do tamanho da cidade rural
é acompanhado por um aumento mais que
proporcional da industrialização rural. Logo,
quanto mais o processo de industrialização no
interior avança, mais benefícios ele traz para
a área rural em relação à cidade local. Esse
120 MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL
dado dá suporte ao conceito de desenvolvi-
mento urbano no interior, não só como um
instrumento para a solução do crescimento
urbano, mas também como um instrumento
para o desenvolvimento da área rural.
4. A definição de industrialização rural inclui
a cidade rural assim também como a própria
zona rural. O papel da cidade rural é tão im-
portante para a industrialização na zona rural
quanto para a área urbana em si.
5. Qualquer crescimento de atividade industrial
não está necessariamente concentrado na ci-
dade local, sendo uma parte dela ‘difundida’
para a zona rural. Isso indica que o bem co-
nhecido processo de ‘filtragem para baixo’ de
indústrias para pequenas cidades está funcio-
nando também nas zonas rurais.
6. O processo de industrialização nas áreas ru-
rais é facilitado por condições agrícolas van-
tajosas, e por um maior nível educacional da
população rural.
MODELO DE INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E LOCAL 121
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