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Published by hmilheiro, 2020-12-21 08:31:14

autosport_2243

autosport_2243

#2243 O SEMANÁRIO DOS CAMPEÕES
ANO 43
43
23/12/2020
Semanal anos

2,50€ (CONT.) >> autosport.pt

DIRETOR PEDRO CORRÊA MENDES PÉREZ
NA
SFÓERMRULGA1IO

PAMRAER‘ACPEEDRETSAR’

BALANÇO PÁG.44 PÁG. 40

WRC 2020

GRANDES ENTREVISTAS PORSCHE PANAMERA KYMCO SUPER DINK 350I

ARMINDOARAÚJO RICARDO PORÉM 4S E-HYBRID SPORTTURISMO



3

I/ I N S TA N TÂ N E O SIGA-NOS EM EDIÇÃO

#2243
23/12/2020

f l> > a u t o s p o r t . p t
facebook.com/autosportpt twitter.com/AutoSportPT

APREENSÃO A Arábia Saudita fechou as suas fronteiras terrestres, aéreas e marítimas, devido aos receios da nova José Luís Abreu
estirpe de coronavírus descoberta no Reino Unido. O Dakar pode estar em risco.
DIRETOR-EXECUTIVO
S/ SEMÁFORO EM DIRETO
[email protected]
PARADO A ARRANCAR A FUNDO “O que o Lewis está a fazer em
F1 é o que me motiva agora Este foi um ano especial,
O Presidente da FIA, Sergio Pérez foi António Félix da Costa na Fórmula E. Quero tentar cheio de incidências na
Jean Todt, já deixou o confirmado na Red foi confirmado pelo continuar a bater recordes, Fórmula 1, com momen-
aviso que o desporto Autosport inglês deixar a minha marca na tos totalmente marcan-
motorizado tem de Bull para 2021. o terceiro melhor categoria. Essa é a minha tes, quer seja, por exemplo
Provavelmente a piloto do mundo em motivação neste momento”, o recorde de triunfos de
estar preparado Mercedes vai ter que 2020, logo a seguir a Lewis Hamilton, ou no polo opos-
para mais problemas se esforçar mais em Hamilton e Verstappen António Félix da Costa ao Autosport to, o terrível acidente de Romain
inglês, na sequência da sua nomeação Grosjean no Bahrein. Sem dúvida
em 2021 devido à 2021 como o 3º melhor piloto do mundo em que ver o francês envolto numa
pandemia da Covid-19 2020. bola de fogo de inimaginável fero-
cidade, e vê-lo sair de lá incólume,
O SEMANÁRIO DOS CAMPEÕES NA ERA DIGITAL “Não posso mentir, dói. Dei foi algo que vai ficar nas nossas
tudo o que tinha, mas não foi o mentes por muito tempo, e servir
suficiente”, Alex Albon, depois da de exemplo cada vez que quiser-
mos falar da segurança na F1 e o
sua saída da Red Bull para dar lugar a que a FIA tem feito nesse sentido.
Sergio Pérez. Mas houve vários outros momen-
tos intensos, como por exemplo o
“O Seb sabe o que eu penso triunfo de Pierre Gasly em Monza
da nossa relação. Tivemos e depois vê-lo sentado sozinho no
os nossos momentos, mas, pódio, após as celebrações da vi-
agradeço a ele por ser quem tória. Saboreava o maior momento
é. A maneira como me recebeu da sua vida desportiva ao mesmo
na equipa”, Charles Leclerc, na tempo que recordava o seu amigo
Anthoine Hubert. Algo que lhe deve
despedida de Vettel. ter sabido muito bem depois de ter
sido posto de parte pela equipa
Siga-nos nas redes sociais e saiba principal da Red Bull.
tudo sobre o desporto motorizado no O triunfo de Sergio Pérez é também
computador, tablet ou smartphone via um momento marcante da época
facebook (facebook.com/autosportpt), de 2020, naquela que foi a primeira
twitter (AutosportPT) ou em vitória do mexicano na F1. A con-
>> autosport.pt sistência de Pérez em pista tinha
de dar frutos um dia. Vai para a Red
Bull, onde provavelmente triunfará
mais vezes, mas se tivesse saído da
F1, seria uma forte prova que algo
não está bem nesta modalidade.
São apenas exemplos, há outros
momentos que merecem desta-
que especial, porque não ver os
monolugares em pista na Áustria,
no primeiro treino livre do ano no
Red Bull Ring depois de meses
de grande incerteza. Ou o GP de
Portugal de Fórmula 1, que ficará
na história.

4 WRC/
CAMPEONATO DO MUNDO DE RALIS

MUNDIAL DE RALIS

A CONSISTÊNCIA
PAGA-SE EMANO

2020DE CONTRADIÇÕES:
NO WRC

Numa época totalmente atípica do Mundial de Ralis, só mesmo
o campeão foi um nome habitual: Sébastien Ogier. De resto, foi

uma enorme montanha russa, de emoções e acontecimentos
Rui Fonseca

[email protected]
FOTOS @World/André Lavadinho

Se o grande trunfo do desporto é dem das datas é difícil de se estabelecer. porta aberta; convite à perscrutação rativa, a incursão noturna por Mali-
o entretenimento que provém A crise pandémica originou a conhecida pelo bosque e ao salpico pela flora e jai-Puimichel, mítico troço do Rali de
da incerteza, poderíamos clas- reformulação do calendário proposto, pela fauna. Monte Carlo, alegorizava um renovar
sificar a temporada de 2020 que acabou por ser desconstruído para Edificaram-se para que não dependes- de sentidos, desembocando-nos num
do WRC como um brilharete estilhaços ainda menores, quando já se sem de edifícios, equipamentos nos troço inaugural que caíra em desuso
abençoado. Apenas o Rali de palpava o Rali de Ypres. quais era imperativo que nos manti- desde 1994. Bastou a ultrapassagem
Monte Carlo se concretizou dentro dos Pelas opiniões ‘internáuticas’, fãs cons- véssemos. Talvez o troféu de pilotos se desses dezassete quilómetros para se
conformes e quilometragem previstos ternados rebelavam-se por não se te- tenha antropomorfiz do por instantes e afigurar que o anunciado mundo novo
no início do ano, sendo que todas as rem assegurado as novas provas; ao tenha acatado, por fim, teimoso e tardio não se concebia, afi al, tão admirável
restantes rondas se aprofundaram como contrário da Fórmula 1, que também como muitos de nós, a recomendação assim. Os partícipes da M-Sport Ford
poços; neste caso, poços de surpresa. se reinventara num plano remediador de permanecer em casa. Mas, ao cabo WRT não se declaravam no término
Contudo, e durante a maioria do ano, desenrolado em palcos alternativos de de um período tão arrastado, já não se da etapa, premonizando a falência ca-
poucos desses sobressaltos alastra- elevada qualidade. Mas a Fórmula 1 não manifesta um sentido e natural enfas- dente e prescindível de discursificação
ram ao que se processou no interior usufruiu apenas do seu início tardio, tiamento de tanto tempo em clausura? da equipa. Os seus espíritos caíam e
dos automóveis e ao longo dos troços mas também do facto de já se conceber despiam-se, mas também as árvores do
cronometrados. enquanto modalidade mais orientada M-SPORT LONGE DO BRILHO RECENTE sul de França. E as amarfanhadas folhas
Saber o que disso se justifica na desor- por, e para si mesma. Os ralis são uma À partida da primeira etapa desta nar- caducas foram recolhidas mutuamente.

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O coletivo de Cumbria apresentou- quente, que faz com que Greensmith seja narrativa diferente para este conjunto para lá do breve e profundo desagrado
-se à entrada do ano com a alegada dos poucos pilotos do pelotão da frente de provas, apresentando-se cansado e pessoal. Abrindo parêntesis, Jari-Matti
jovem promessa Teemu Suninen e o capazes de entregar uma significância desgastado comparativamente às in- Latvala foi um piloto que se manteve
exilado Esapekka Lappi. Adicionaram desenvolvida e sincera ao que acabou tervenções públicas pré-pandémicas. nas graças do público durante muito
também Gus Greensmith às fi eiras, o de fazer e de sentir com o carro – isto, Comovido até, junto às vedações de tempo, não só pelo estilo vibrante, mas
requerido novo talento britânico que claro, se a natureza circundante for de Monza. também devido à constante relutância
continuamente perscrutam desde o folha persistente. Mas, de cansaço, que dizer de Esapekka em se rever no copo meio vazio – por
relativo fracasso de Matthew Wilson. Ao indivíduo que domine a arte da comu- Lappi e Teemu Suninen?Os dois ‘chefes’ mais azares que lhe batessem à porta,
Embora de Greensmith não se deves- nicação, aguardam-se, naturalmente, de equipa sobreviveram a um ano ago- ou no capot, ou em todo o lado como no
se aguardar muito, foi difícil não nos grandes feitos. E Greensmith, enquanto nizante, sendo constantemente arruma- célebre mergulho do Malhão, no Rali de
frustrarmos serenamente pela sua falta jovem de confiante e irreverente pentea- dos por figuras das quais se aguardava Portugal de 2009.
de ritmo. A condição do piloto, nesta do oxigenado e prendado naturalmente uma maior esporadicidade; como os Esapekka Lappi é escasso de tal atitu-
época, foi atacada bilateralmente. Pri- para que explique no que é que falhou convidados da Hyundai ou o imberbe de, ostentando miserabilidade a cada
meiro, pelo padrão elevadíssimo que ou conseguiu, deixou-se permanecer Kalle Rovanperä. desalento, não possuindo o espírito
Kalle Rovanperä defin u para promes- um pouco aquém do expectado. Já em Esapekka Lappi expôs-se cada vez mais guerreiro reservado aos grandes. O raro
sas contemporâneas e faixas etárias. período outonal, tateava-se também derrotado, tanto à partida como à saída avistamento da sua dentada superior
Seguidamente, pelo inglês nativo e elo- no semblante que ambicionara uma das provas, sem vontade de revelar nada no primeiro dia de Monza, após uma

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CAMPEONATO DO MUNDO DE RALIS

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arrojada e fortuita escolha de pneus, merecesse afastar-se com um título de balança mecânica, onde ambos os lados E o francês provou o que já não tinha
em tudo deverá ter sido semelhante ao construtores. Uma oferenda respeitante estiveram munidos dos pilotos-pesos de atestar, suspirando jocosamente
sorriso de Colombo, no imediato instante ao seu inegável legado e contributo para calibrados ao mais ínfi o grama, que quando confrontado com o facto de,
em que quebrou o ovo sobre a mesa do o desporto, e que chegou a enxergar nunca parou de se auto-gerar e de se aos quarenta e seis anos, se ter tornado
banquete. tenuemente. reformular; sem que alguma vez sou- no piloto mais velho de sempre a liderar
Lappi é, a par de muitos outros obreiros Mäkinen principiou o ano com uma béssemos, ao certo, o valor indicado no um rali do WRC.
da arte e do desporto, vítima do talento equipa completamente fresca que, ao fi al. O protagonista e o antagonista per- Dani Sordo, com apenas três partidas e
precoce. Marcando uma única vitória longo do mesmo, nunca entendeu mais feitos, recíprocos e mutáveis nos seus duas chegadas, roçou mesmo assim os
ao quarto arranque num World Rally nada do que a habitual posição de refe- papéis, dos quais o espetador sai digno. calcanhares dos chefes-de-fi a da Ford
Car, três anos sem revisitar o sabor do rência. Foi um diretor desportivo com na posição fi al do campeonato.
ouro e sem competitividade duradoura uma abordagem completamente distin- PART-TIME COMPETENTES A vitória no Rali da Sardenha foi possi-
são uma eternidade para um piloto no ta da de Andrea Adamo e, portanto, uma Antes dos intérpretes principais, não se velmente a mais categórica de todas as
suposto pico da carreira. personalidade análoga à do italiano, na fantasmagorizem outros atores que em que amealhou na carreira. A primeira,
Ott Tänak foi despromovido duas vezes medida certa que o desporto necessitou. muito contribuíram para a encenação foi buscá-la afi cadamente ao céu, e a
antes de se tornar campeão e uma das A consternação pacata com que Mä- da peça. Craig Breen e Sébastien Loeb segunda caiu-lhe no colo desde esse
referências da atualidade. Tememos kinen aceitou a perda de Elfyn Evans e foram secundários, mas senhores do etéreo patamar superior. Esta, mesmo
que Lappi não se consiga reerguer tão do título de Construtores em Monza só espaço e do tempo. O irlandês igualou com a pulsátil sequência fi al, foi deli-
fir emente, agora que se encontra de pé; poderia ter sido entregue pelo fin andês. o melhor resultado de uma prova do berada, trabalhada e considerada com
como o explorador que busca soluções Adamo e Mäkinen foram uma vibrante mundial, ao arrecadar a prata na Estónia. respeito de campeão. O festejo foi madu-
e que não tem onde se sentar. Para se ro e anticlimático, quase desapontante.
ter um banco, é preciso munirmo-nos O travo da vitória já não o surpreendeu.
de cobertura, mas também de estofo. Bravo. Takamoto Katsuta é o amigo de
Os pontos de maior mediatismo da bom-coração que, de tão simpático,
temporada de Teemu Suninen foram nunca será realmente tido em conta
a remontada mexicana e o forte anda- pelos seus amores para mais do que
mento que patenteou no início do Rali da uma amizade frívola, construída à base
Sardenha, embora nada mais lhe fosse de desabafos relativos a terceiros.
expectável ou até requerível devido à Pierre-Louis Loubet e Ole Christian
excelente posição de partida. Mesmo Veiby não rodaram o suficiente para
assim, a oportunidade que agarrou que deles se deduzisse algum juízo exis-
com unhas e dentes, enquanto tal lhe tencialista. Mais do que confiar no seu
foi exequível, deixa vislumbrar um certo futuro, refugiamos-nos no bom saber
carácter. Suninen nunca deixou de ser de que assumidamente exploram as
um piloto de ritmo intermédio. Só que é oportunidades que lhes são facultadas.
um jovem que ainda se deixa cegar, po-
sitivamente, pelo mito da aprendizagem O BRILHO DE ROVANPERA
e da ambicionada primeira vitória. Mas
diria que, caso num futuro próximo não Contudo, outro sistema autocrático se
represente resultados mais ambiciosos, deixa descortinar, e aos ascendidos dos
a justificação da evolução evento-a-e- R5 bem que se pode começar a insinuar
vento não se sustentará eternamente. um qualquer movimento de resistência
Nem com patrões, nem com a própria anarquista. Isto, porque Kalle Rovanperä
capacidade de auto-aceitação. alcançou a categoria superior dos ralis
e é a grande figura desta temporada,
CARA E COROA sugestionando que também será um
dos vultos mais badalados das sub-
Escrutinando os mais plausíveis porta- sequentes. A liderança estoniana foi
dores de emoção, a Hyundai Shell Mobis uma miragem transcendente que tomou
WRT e a Toyota Gazoo Racing WRT che- como sua e que não se materializou
gavam a Monza com plenas intenções melhor devido a um pneu furado.
de discutir o que ainda não se resolvera Surpreendeu menos no andamento,
entre si. Depois da curta-metragem que já se esperava possante, mas mais
dramática que foi a derradeira jornada na regularidade. Rovanperä produziu
do Rali da Sardenha (com Dani Sordo a um trabalho assombroso, com base
desregular os batimentos cardíacos de
Andrea Adamo), o diretor desportivo
italiano, a jogar em casa pela segunda
vez consecutiva, contou com o auxílio
precioso do seu súbdito castelhano para
abraçar a tão desejada taça.
Embora exista muita gente que não sim-
patize particularmente com Adamo, nele
ecoam as almas latinas de outrora – da
Lancia e sua manipulação quase des-
carada, sinónimo de tempos de glória e
de paixão para os fãs mais aguerridos.
Contudo, Tommi Mäkinen está de
partida da Toyota Gazoo Racing WRT.
Para o seu lugar vai Jari-Matti Latvala.
E, embora a realidade dos saudosismos
possa ser incompatível com a da per-
formance desportiva, o fin andês talvez



WRC/
CAMPEONATO DO MUNDO DE RALIS

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naquilo a que certamente se propusera. WRC à Estónia-natal teria de lhe recair alheio a estas e ao pó, focado só e ape- ele. Mas nem o garoto Lappi atentara a
Mas vê-se no fin andês uma inegável obrigatoriamente, num expectável ali- nas na frescura deliciosa que o aliciara Neuville. E o belga amarfanhava o frágil
predestinação, daquelas que quase nos nhamento de mentalidade com orgulho aquando da escolha dos dois sabores invólucro plastificado que outrora con-
fazem sofrer por antecipação à falta que, uma vez estabelecido, torna Tänak –, já Th erry Neuville coincide com o tera as iguarias, jurando para si e para os
de concorrência futura e consequente no mais efetivo e letal dos pilotos de ‘puto’ que projeta guloseimas no ar, só céus que um dia toda a gente conheceria
interesse na modalidade. Aproveite-se fábrica. A partir daí, conduziu por si para que todas lhe façam ricochete no o seu nome. Seria uma lenda; humilde
enquanto ainda nos admira. durante mais duas etapas, sendo um queixo e se acumulem pelo chão. mas endeusada.
mero embaixador da equipa a partir da A cada cinco ou seis lançamentos, As arcaicas tragédias gregas, nas suas
FOGO E O GELO NA HYUNDAI terceira classificativa do Rali da Turquia. uma solitária goma gelatinosa embate parábolas mitológicas, tudo nos en-
A direção partiu e a mente projetou-se, num dos dentes incisivos mas conse- sinaram sobre a irrevocabilidade do
Ott Tänak suportou uma temporada atí- num portal sem apeadeiros rumo ao gue cambalhotar para dentro da boca. destino e da condição. O rei continuará
pica, algo inesperada após a vertiginosa próximo ano. Quando inquirido pelo Ruborescido de soberba, Neuville con- o rei, assim como um sabotador nun-
ascensão de 2019 e dececionante tanto promotor em relação ao que faria na- templa em redor para se assegurar de ca passará disso. Como é que Neuville
para o próprio como para o seu devoto quela tarde, após a retirada do resto que algum transeunte testemunhara a pode almejar uma narrativa helénica,
coro de fãs. O destronado campeão do do primeiro dia e na eminência de re- ousada acrobacia, só para se inteirar de tentando ser Deus num desporto que
mundo foi duplamente desamparado gressar à estrada no segundo, Tänak, que todos os passantes se regozijavam é do povo?
pela fiabilidade do i20 Coupé WRC e suado por debaixo do tórrido sol turco, nas suas próprias atividades lúdicas, Facilmente se defenderá quanto a isso,
especulamos que tenha sido o piloto foi um mestre da priorização outorgada indiferentes ao feito. pois a verdade é que o povo, enquanto
mais afetado pelo encurtamento do aos supremos racionalistas da história: Ao longe, um pequeno Esapekka Lappi entidade, sempre se endeusará também.
calendário. “terminei agora mesmo o meu gelado, deixara cair um biscoito e, apesar deste Povo ou não, Neuville é, de certa forma,
Pode-se arguir que o estrondoso voo essa foi a primeira coisa.” ainda se encontrar a seus pés e perfei- o Deus que tentou ser. Será que, anos
de Monte-Carlo só poderia acontecer Se Tänak aparenta ser o tipo de indi- tamente comestível, segurava o queixo mais tarde, admitirá para si mesmo que
ao estónio, sendo ele o piloto mais víduo que degusta um gelado quando com os dois punhos cerrados e deixava talvez fossem os seus ímpetos destru-
racional do pelotão e com maiores ca- e como quer – poderia até saboreá-lo escorrer uma pequena lágrima, interro- tivos psicanalistas a desviar-lhe, pro-
pacidades de recuperação psicológica junto ao Hyundai inutilizado, sem virar gando-se repetidamente por que é que positadamente, a boca da trajetória do
de tão grave despiste. costas à passagem das outras viaturas, aquilo teria sempre de lhe acontecer a doce que caía?Tal como quando avistou
A vitória doméstica na primeira visita do

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a barreira acimentada de Monza, que, legitimidade do seu troféu. mesmo, quando o próprio já escolhe- ção, por mais títulos que amealhe, e que
como sabe, não se moveu? Mas, mesmo após Monza e a breve me- ra o seu destino. Só se suplantará, no ambiciona a constante resolução rápida
tamorfose redigida à luz de Ícaro, haverá momento em que os ataques físicos e da sua conjuntura, certificando-se de
PERDER O ÀS DE ‘TRUNFO’ muita gente que não veja Evans como psicológicos forem parte fulcral da sua que acorda a cada manhã com menos
um simples piloto?Como um mero des- linguagem predileta. uma questão na sua cabeça.
Veja-se que Elfyn Evans conquistou portista minimamente afável despido O tique do ombro direito na primeira A turbulenta passagem final pela Ci-
o povo pela sua insistência em tentar de qualquer preconceito, iconicidade entrevista após o despiste de Monza, troën indica-nos isso mesmo, com a
subverter as divinidades. Desde que se ou agenda superior? aliado à voz trémula e ao olhar embeve- marca francesa a não ombrear com
acoplou à categoria superior, sempre foi Segundo a reza do mito, não se pode- cido do momento, indiciavam um Evans o grau de eficácia imposto pelo então
o ‘good-guy’ dos bons pilotos de fábrica e ria tornar campeão; pelo menos não em choque. E, consequentemente, em campeão mundial desde o início do
do WRC em geral, ao que o desporto, que agora. Não antes de nos desagregar e inconformidade e em futura mudança. contrato. Também o prova a continui-
crescentemente se elitiza, está sedento nos abandonar neste mero e superficial Com o perfunctório ataque de Evans, dade de títulos que adquiriu com di-
de alguém que reclame o seu bairrismo patamar terrestre, ascendendo sozinho Sébastien Ogier tornou-se heptacam- versas rondas de sobra. E, afinal, Ogier
de volta. Contam-se milhares de admi- ao redestino e às reformulações do poder peão mundial. é provavelmente o único campeão do
radores de Ogier e Neuville, mas também e da traição. mundo a ser eleito numa quinta-feira
detratores. De Tänak ainda não se iden- O galês, que até na sua regularidade aden- O MAIS SUADO (na estrada, visto que a FISA anun-
tificam muitos da segunda espécie, pois sa a imagem de rapaz bondoso e atinado, O francês, perito da psicologia invertida ciou o primeiro título de Kankkunen
o título de campeão é demasiado recente nunca poderia guardar essa componente indispensável à consagração, certa- no mesmo dia da semana), colhendo
e saudável ao ter quebrado dois regimes como trunfo num ano pleno de incon- mente recordará este ano como um de os louros na etapa inicial do Rali da
totalitários gauleses. Mas haverá um sistência. Saiu de estrada, mas já tarde. ligeira afl ção. Alsácia de 2013 e vencendo a prova
número representativo de pessoas que Fê-lo quando tentou ser mais do que si Ogier é alguém que se nutre da insatisfa- sem peso no corpo. O ano resolveu-
não simpatize com Evans? -se, então, tarde sob os seus padrões;
Caso se titulasse, poder-se-iam en- para gáudio dos espetadores e para
contrar alguns discordantes quanto à desassossego do francês.
validade do campeonato ou até futuros O campeonato mundial de ralis, e a
caluniadores ténues encorajados pela modalidade em si, empobrecem com
sobre-confiança do piloto quanto à o sétimo título de Ogier. Todos os regi-
mes totalitários transformam-se em
sistemas de opressão. Embora sejam
períodos que, em contexto de desporto,
possamos recordar com algum carinho
por termos sido coetâneos e testemu-
nhas de tal mestria no pico da execução,
temo que a sua sucessibilidade seja
corrosiva e, a longo prazo, limitadora.
Os piores anos da modalidade foram os
melhores de Sébastien Loeb.
Foi um verdadeiro prazer sentir que,
ao estar presente nessa década, rees-
crevia a história em conjunto com o
eneacampeão.
Mas o seu sucesso abstraiu o interesse
e a abrangência a novos terceiros em
relação ao desporto.
O pontual título de Tänak será sem-
pre um dos momentos mais frescos e
saudáveis da última década de ralis.
No WRC, ao contrário da Fórmula 1, não
militam equipas suficientes para que os
fortuitos coelhos retirados da cartola
por outros pilotos de segundo e tercei-
ro nível nos entretenham o suficiente
nas entrelinhas, ao ponto de não nos
desinteressarmos com o marasmo das
hegemonias.

WRC/
CAMPEONATO DO MUNDO DE RALIS
10 ACRONOLOGIADE UM ‘ANNUS
HORRIBILIS’ NOWRC
O ano de 2020 vai ficar
marcado na história do
Mundial de Ralis como um ano
muito difícil, que muitos vão
querer esquecer rapidamente.
A pandemia ‘permitiu’ apenas
sete provas e só mesmo o Rali
de Monte Carlo foi ‘normal’.
Recordemos então alguns
momentos que marcaram a
temporada

José Luís Abreu
[email protected]
FOTOS @World/André Lavadinho

O ACIDENTE DE OTT TÄNAK WRC), que depois do quinto lugar no Rali “Foi o pior que nos podia acontecer, volta, mas desta feita não houve volta a
Ott Tänak e Martin Järveoja tiveram um de Monte Carlo, foram terceiros na Suécia, tendo em conta o nosso orçamento dar. Até a falta de combustível de 1974
horrível acidente no Rali de Monte Carlo, e ainda venceram a Power Stage. O jovem que já é tão apertado”, disse no final foi ultrapassada, a tragédia de 1986 tam-
mas felizmente puderam contar com um fin andês chegou ao derradeiro troço a Richard Millener. bém, uma intempérie descomunal em
Hyundai i20 Coupe WRC à prova de bala. 0.5s de Ogier e bateu-no por 3.9s na Power 2001 dificultou imenso. Só mesmo um
As coisas poderiam ter corrido muito mal, Stage. É o melhor elogio que se pode fazer MORREU MARTIN HOLMES maldito vírus foi capaz de ajoelhar o Rali
mas poucas ou nenhumas foram as con- ao jovem finlandês que, recordamos, fazia Não há muito tempo tínhamos festejado o de Portugal, que mais uma vez será ca-
sequências físicas para a dupla. Um má apenas o segundo rali da sua carreira num 80º aniversário de Martin Holmes, o ‘nosso’ paz de ultrapassar todos os obstáculos e
estreia com a nova equipa, a Hyundai, World Rally Car. mais antigo jornalista em atividade, mas ressurgir mais forte em 2021.
por parte da dupla estónia. Uma pequena em junho perdemos o Martin Holmes, um
lomba, que a 180 Km/h foi decisiva para o RALI DO MÉXICO ENCURTADO nome incontornável do Mundial de Ralis. CARLOS SAINZ, O MELHOR
assustador acidente que tiveram, saindo O Rali do México foi encurtado para que Fez a cobertura de 520 ralis do WRC e
violentamente de estrada, capotando por os elementos das equipas não tivessem assinou trabalhos e reportagens para o DE SEMPRE NO WRC
uma ravina de 25 metros até se imobiliza- problemas em regressar aos seus países AutoSport desde 1978 até 2020. Com surpresa para muitos e justiça para
rem. A razão: “Batemos numa lomba que de origem, já que a Europa estava a ‘fe- tantos outros, Carlos Sainz foi escolhido
não identifiquei nos reconhecimentos”, char-se’ devido ao coronavírus, os EUA RALI DE PORTUGAL CANCELADO pelos adeptos do WRC de todo o Mundo
disse Tanak. a endurecer medidas, e existia por isso Depois de ter sido inicialmente adiado, com o Melhor Piloto de Sempre na História
risco que as equipas não conseguissem o Rali de Portugal 2020 foi cancelado. A do Mundial de Ralis, ‘batendo’ Sébastian
O PIOR MONTE CARLO DE LOEB viajar conforme planeado. Não foi fácil prova do ACP já passou por momentos Loebnafi al,depoisdeumconjuntodeeli-
Sébastien Loeb e Daniel Elena tiveram o regresso à Europa para toda a cara- difíceis, dos quais soube sempre dar a minatórias em que os 20 melhores pilotos
um Rali de Monte Carlo muito difícil. As vana, mas as coisas resolveram-se. Na da história da modalidade se ‘defrontaram’
condições complicadas dos troços sur- verdade, as equipas foram unânimes
preendem qualquer um, até um sete vezes na aceitação desta medida, sendo que
vencedor do Monte Carlo e nove vezes o percurso que ficou por realizar não
Campeão do Mundo de Ralis: “As con- impediu que a totalidade dos pontos
dições dos troços foram difíceis de ‘ler’, a fosse atribuída. Mas poucos tiveram a
aderênciamudavaquaseconstantemente, cabeça a 100% na prova.
em termos gerais tentei manter-me segu-
ro, mas mesmo assim cometi vários erros. FOGO ‘TRAMOU’ M-SPORT NO MÉXICO
Não correu bem, não foi o meu melhor Rali O primeiro dia de Rali do México ficou
de Monte Carlo.” marcado pelo dramático abandono de
Esapekka Lappi e Janne Ferm, já que o
RALI DA SUÉCIA: seu Ford Fiesta WRC foi ‘engolido’ pelas
chamas no final da PE7. Os finlandeses
UM TRISTE RECORDE PARA O WRC eram quartos quando o desastre acon-
O aquecimento global tem ‘baralhado’ a teceu. Apesar dos melhores esforços
meteorologia um pouco por todo o mundo, da equipa, o carro ardeu por completo:
e o Rali da Suécia foi vítima dessa situação.
A prova realizou-se, mas o evento ficou na
história do Mundial de Ralis como o evento
mais curto de sempre desde a sua criação
em 1973,realizando-se apenas 171.64 km
de troços. Caso o Rali da Austrália de 2019
se tivesse realizado (e não cancelado como
acabou por ser) teria batido o recorde por
muito, já que esteve previsto realizarem-
-se apenas 94 Km de especiais.

KALLE ROVANPERA FEZ HISTÓRIA
Grande Rali da Suécia para Kalle Ro-
vanperä/Jonne Halttunen (Toyota Yaris

>> autosport.pt

11

ELFYN EVANS PERTO DO TÍTULO
Com o triunfo no Rali da Turquia, Elfyn
Evans recuperou a liderança do Mundial e
passou a ser o principal candidato ao título.
Ott Tänak e Sébastien Ogier desistiram
enquanto Th erry Neuville minimizou
estragos com um segundo lugar, depois
de furar, numa prova muito marcada
pela... falta de ar nos pneus. Foi isso que
decidiu o rali, pois Elfyn Evans foi o mais
cauteloso, inteligente ou eventualmente
o mais sortudo.

O ÚLTIMO PÓDIO DE LOEB NO WRC?

Sébastien Loeb foi ao pódio do Rali da
Turquia, depois de quase um ano fora
do WRC num rali que desconhecia, pois
nunca o tinha disputado naquela zona, e
foi a ver muitos vídeos que se preparou.
Segundo revelou, foram “dois longos dias
a comparar os onboard com as notas, para
ter um pouco os troços na cabeça antes
dos reconhecimentos”, disse. Depois a
suarapidezeexperiênciafi eramoresto.

SORDO VENCE NA SARDENHA

Dani Sordo alcançou na Sardenha a sua
terceira vitória no WRC, curiosamente,
repetindo o triunfo do ano anterior na
mesma prova.
Elfyn Evans saiu de Itália com um avanço
de 14 pontos, apenas com duas provas pela
frente, julgava-se na altura, Ypres e Monza.
Tanak ficou com 28 pontos para recuperar
em duas provas, e Neuville 24. Boas pres-
tações de ambos mas para surpresa de
muitos, foi Dani Sordo a vencer, depois de
aproveitar de forma excelente a sua posi-
ção na estrada no primeiro dia de prova,
dando depois boa sequência ao trabalho.
Os astros estavam a alinhar-se para a
Grã-Bretanha voltar a ter um campeão
depois de Colin McRae e Richard Burns,
e as coisas ainda ficaram mais risonhas
quando se ficou a conhecer o cancela-
mento do Rali de Ypres, mas ainda falta
uma prova, Monza...

online. Foi através duma votação online no Safari, Argentina, Finlândia, Nova Zelân- Hyundai, colocando-se nessa altura na 7º TÍTULO PARA SÉBASTIEN OGIER
www.wrc.com que os adeptos puderam dia, Grã-Bretanha, Rali da Alemanha em luta pelo título.
escolher e, no fi al, a escolha recaiu em perigo, Rali de Itália remetido para outubro, Na prova que marcou o regresso do WRC Sébastien Ogier e Julien Ingrassia asse-
‘El Matador’: “Não posso estar mais feliz o Japão indefin do. Perfi aram-se várias após um hiato de seis meses, e que foi guraram em Monza o seu sétimo título
e orgulhoso com este reconhecimento. outras hipóteses, os ralis de Ypres, Valais, uma estreia absoluta nos 47 anos de Mundial de Ralis, selando o campeonato
Não preciso de vos dizer o quanto avalio Chipre, Letónia e Estónia. Finalmente, história do WRC. Dois dias num rali sprint com o triunfo na prova. O despiste de El-
Sébastien Loeb e o quanto ele merece foi decidido que a Estónia iria acolher o em que os favoritos eram Ott Tänak/ fyn Evans na PE11 foi o momento-chave
ser o maior, ele e todos os campeões do recomeço do Mundial de Ralis, no início de Martin Järveoja (Hyundai i20 Coupe da prova e do campeonato. A Hyundai
mundo merecem este reconhecimento. setembro, os ralis da Alemanha e Japão fo- WRC), confirmaram esse favoritismo assegurou o título de Marcas.
Toda a família dos ralis deu-me um grande ramdefin tivamentecancelados,eoWRC ao vencer “nas calmas”, nunca dando As coisas estavam a correr a contento a
sorriso e este grande reconhecimento”, salvou-se entre os pingos da chuva com grandes hipóteses aos adversários. Foi Evans, ao perseguir sempre de perto Ogier,
disse Sainz. as provas da Turquia, Sardenha e Monza. também um grande rali para Craig Breen mas com a neve e o gelo na estrada, as
e Paul Nagle (Hyundai i20 Coupe WRC), hipóteses de algo suceder eram grandes
MAIS CANCELAMENTOS TRIUNFO DE TANAK NA ESTÓNIA que fez uma das suas melhores exibições e a Lei de Murphy entrou em ação. O que
À medida que os meses passavam, mais Ott Tänak venceu o Rali da Estónia, na- de sempre no WRC, e também para Kalle podia correr mal, correu mesmo, Evans
provas do WRC foram sendo canceladas, quele que foi o seu primeiro triunfo na Rovanpera e Jonne Halttunen. saiu de estrada na PE11 e a partir daí per-
deu grande parte das hipóteses que tinha
de ser campeão. A partir deste momento,
Ogier só tinha de fazer 15 pontos mais que
Evans, e conseguiu-o, levando o carro até
ao fi sobre ‘carris’, acabando mesmo
por vencer o rali. São assim mesmo, os
ralis, e é isso que fica para a história duma
temporada que teve apenas sete ralis.

WRC/CAMPEONATO DO MUNDO DE RALIS

12 MUNDIAL
DE RALIS 2020
OS ALTOS E BAIXOS DOS
MELHORES PILOTOS DO MUNDO

O ano de 2020 não foi fácil para ninguém, mas não faltou competição, incerteza, drama, fortes acidentes, enfim,
o habitual no Mundial de Ralis. Recordemos por isso a caminhada de uma época que mais ninguém esquecerá tão cedo

José Luís Abreu [email protected] FOTOS Oficiais

1º SEBASTIEN OGIER/JULIEN INGRASSIA 2º ELFYN EVANS/SCOTT MARTIN 3º OTT TÄNAK/MARTIN JÄRVEOJA
(TOYOTA YARIS WRC), 122 PONTOS (TOYOTA YARIS WRC), 114 PONTOS (HYUNDAI I20 COUPÉ WRC), 105 PONTOS
Costuma-se dizer que a sorte dá muito trabalho, e Esteve muito perto de se sagrar campeão, mesmo estando Ott Tanak é provavelmente, hoje em dia, o melhor piloto
Sébastien Ogier assegurou o seu sétimo título Mundial longe de ser o melhor piloto do ano. Não foi o mais rápido, do WRC. Determinado, intenso, e muito rápido, perdeu
em 2020, naquele que foi o seu campeonato mais muito longe disso, mas foi o mais consistente, e que menos este ano o título que conquistou com brilho em 2019,
complicado de vencer. Substituiu Ott Tanak na Toyota, e tinha errado... até ao Rali de Monza. Não faz muito sentido dizer depois dum ano que começou mal, com o acidente de
com o carro do campeão fez o que melhor sabe, repetiu que perdeu o título de forma inglória, porque Ogier desistiu com Monte Carlo, mas que os azares da Turquia e Sardenha
o feito. Depois de um ano de 2019 em que perdeu pela o motor partido na Turquia, Tanak teve também a sua dosse de impediram de poder lutar melhor pela reconquista.
primeira vez um título em sete anos, Ogier teve uma contratempos mecânicos, só mesmo Neuville se auto-excluiu Muito resumidamente, o ano não lhe correu bem,
época regular. Começou com um segundo lugar em da luta. embora não nos atrevemos a justificá-lo com resquícios
Monte Carlo, a Suécia não lhe correu nada bem devido à Um campeonato é uma maratona, e só foi dramático porque psicológicos do acidente da primeira prova. Tanak é o
ordem na estrada. Foi quarto. Venceu no México, depois sucedeu na última prova onde tudo se decide, mas ‘azares’, ‘Iceman’ dos ralis. Começou o ano com uma brutal saída
de se ter distanciado bem no primeiro dia. Foi terceiro todos tiveram. Também não se pode dizer que ‘merece’ este ou de estrada no Rali de Monte Carlo, onde a dupla teve
no Rali da Estónia, surpreendido por um excelente Craig ‘aquele’. Merece quem ganha. sorte de não se ter magoado seriamente. Depois disso,
Breen, e abandonou na Turquia com o motor do Yaris Depois de um Monte Carlo no pódio, entrou muito forte no dois segundos lugares, na Suécia e no México, onde
WRC partido depois da cedência de um cilindro. Perdeu Rali da Suécia, e venceu pela segunda vez no WRC. Teve podia ter feito melhor. Depois da longa interrupção, um
aí a liderança do campeonato. Foi terceiro na Sardenha, pouca sorte na Estónia com um furo, o que redundou em dois triunfo fácil na Estónia, apesar de um furo, prova que o
depois de perder no último troço uma posição para quartos lugares seguidos, no México e na Estónia, mas a colocou novamente na rota do título. No seu país brilhou
Neuville, mas em Monza, apesar de também ter ido ‘às sorte regressou na Turquia onde depois duma prova em que a grande altura e ficou sempre a ideia que nem sequer
cordas’, fez no resto tudo bem, ao contrário do seu a cautela deu frutos, já que ficou livre dos muitos problemas deu o máximo. Contudo, no Rali da Turquia, uma falha
colega de equipa, Elfyn Evans. Não era fácil recuperar os que afetaram os seus adversários. Venceu o rali depois de da direção do seu Hyundai logo no primeiro dia deixou-o
14 pontos que tinha de atraso, mas quando Evans saiu ‘saltar’ de quarto... para primeiro na PE9. Líder do campeonato fora dos pontos, atrasando-se significativamente
de estrada em Monza, isso escancarou-lhe as portas do com uma vantagem de 14 pontos, as perspetivas eram mesmo no campeonato. Na Sardenha, um fim-de-semana
título, que não desaproveitou, claro. muito boas. Em Monza as coisas estavam a correr a contento, dececionante para Tänak, devido a problemas de
perseguindo de perto Ogier, na prática o único que lhe podia suspensão logo no primeiro dia que lhe custaram quase
verdadeiramente ‘roubar’ o título. Na PE11, os parciais ‘diziam’ dois minutos. Terminou o seu ‘reino’ como campeão em
que estava bem na frente de Ogier, mas uma curva ‘gelada’, Monza a trabalhar para a equipa, ajudando-a no título de
congelou as suas hipóteses de ser campeão. Saiu de estrada Construtores. Que ninguém duvide que vai voltar mais
para um buraco onde era impossível tirar o Yaris WRC sem forte em 2021.
um bom reboque. Seja como for, foi o seu melhor ano, mas
certamente que ao galês não lhe ‘sabe’ assim...

4º THIERRY NEUVILLE/NICOLAS GILSOUL >> autosport.pt
(HYUNDAI I20 COUPÉ WRC), 87 PONTOS
O belga estava desesperado para terminar com 13
uma série de quatro anos seguido em que foi
segundo no campeoanto, e este ano conseguiu-o, 5º KALLE ROVANPERÄ/JONNE HALTTUNEN
mas não da forma que queria,pois terminou em (TOYOTA YARIS WRC), 80 PONTOS
quarto. Começou a temporada bastante bem,em O ‘puto-maravilha’ dos ralis, Kalle Rovanperä,
Monte Carlo,vencendo o rali depois duma grande arrancou para a sua primeira época com um
luta com Sébastien Ogier e Elfyn Evans. Foi sexto WRC ainda tinha apenas 19 anos. Ainda não foi
na Suécia, depois de ter tido grandes dificul- este ano, mas continua na calha para bater
dades a abrir a estrada. No México,um problema o recorde do seu novo chefe de Equipa, Jari-
mecânico na PE10 atirou-o para fora dos pontos e, Matti Latvala, como o mais jovem vencedor de
no Rali da Estónia, arrancou uma roda, colocando- sempre duma prova do WRC (Latvala tinha 22
se no quinto lugar do campeonato, 13 pontos anos e 313 dias). Começou de forma impres-
atrás de Rovanpera. Para quem tinha ganho o sionante o campeonato, depressa se tornou
Monte Carlo, era mau demais. Compreende-se no mais jovem vencedor de troços no WRC,
a posição na Suécia, mas o sucedido na Estónia aos 19 anos, e também o mais jovem piloto
estragou tudo. Tentou reagir na Turquia, onde a terminar uma prova no pódio, na Suécia,
liderava quando um furo na PE9 o atirou para o no seu segundo rali com a Toyota Gazoo
terceiro lugar. Ainda recuperou para segundo, Racing WRC. O seu potencial já ficou claro
mas a vitória fugiu-lhe e o campeonato também desde muito cedo, e a temporada que fez,
estava cada vez mais a fugir-lhe, novamente. em que terminou em quinto a sete pontos
Ainda tentou, por exemplo, batendo Ogier na de Thierry Neuville foi consistente, nunca
Sardenha, mas a vitória na prova escapou-lhe terminando pior do que o quinto lugar, apesar
e nessa altura o campeonato já era quase uma de um abandono na Sardenha, no único erro
missão impossível. Confirmou-o em Monza com significativo que cometeu, ao bater numa
uma saída de estrada que só uma rede ‘parou’ árvore de traseira. O outro foi num shakedown,
e depois, acabou com o seu rali depois de bater depois da tomada de tempos. Notou-se que
num bloco de cimento no banking de Monza. Game globalmente nunca quis dar passos maiores
Over do dia, rali e campeonato! No início do ano, do que a perna neste seu primeiro ano de WRC,
tinha dito estar contente ter Tanak na equipa, só Evans terminou mais vezes nos pontos que
porque nunca tinha perdido para um colega de ele, venceu sete PE, duas PowerStage, liderou
equipa. Perdeu este ano. uma prova, batendo um recorde, tornando-
se no mais jovem piloto a liderar uma prova
do WRC. Cumpriu à risca as indicações que
tinha, e claramente vai ter um ano de 2021
ainda melhor.

6º ESAPEKKA LAPPI/JANNE FERM 7º TEEMU SUNINEN/JARMO LEHTINEN
(FORD FIESTA WRC), 52 PONTOS (FORD FIESTA WRC), 44 PONTOS
Depois duma desapontante campanha de Teemu Suninen emergiu no WRC como uma
2019 com a Citroën, Lappi liderou a M-Sport forte promessa, dois anos ao lado de Ogier
Ford em 2020, mas a exemplo do que sucedeu terão feito algo pelo seu crescimento como
com Suninen, também ele não foi capaz piloto e a chegada do experiente navegador,
de materializar melhor a sua temporada. É Jarmo Lehtinen, a meio de 2019, ajudaram-no
verdade que os problemas da equipa em nada a crescer ainda mais, mas a época de 2020
ajudaram, mas tinha que ter feito melhor. não lhe correu bem, como não correu a todos
O ano até começou de forma positiva, com os pilotos da M-Sport, já que a equipa está em
um quarto lugar no Monte Carlo e quinto na dificuldades financeiras e por isso não está a
Suécia, mas depois do abandono no México, conseguir acompanhar a Hyundai e a Toyota.
as coisas pioraram significativamente. As Suninen começou o ano com dois apagados
provas da Estónia e Turquia correram-lhe mal, oitavos lugares no Monte Carlo e na Suécia,
terminando apenas em sétimo (Estónia) e mas no México, primeira prova de terra,
sexto (Turquia). Desistiu na Sardenha, logo terminou o dia de sexta-feira no segundo
na PE2 com um problema de motor no Fiesta lugar. Contudo, um erro tirou-lhe esse mesmo
WRC, e em Monza liderou na primeira fase segundo lugar, não aproveitando a ordem na
do rali, até à PE5, fruto de uma boa escolha estrada. Terminou em terceiro. Depois disso,
de pneus, mas quando vieram os troços do foi sexto na Estónia, abandonou na Turquia e
segundo dia já tinha gasto anteriormente os em Itália aproveitou novamente bem a ordem
melhores pneus e com isso foi-se afundando na estrada para andar na frente na fase inicial
na classificação. Ainda assim, terminou em do rali, mas a pouco e pouco foi perdendo
quarto a abrir no Monte Carlo e finalizou o ano posições, terminou apenas em quinto, o seu
na mesma posição, em Monza. Globalmente segundo melhor resultado do ano. Encerrou a
uma época pobre, como o foi para todos os temporada em três cilindros, depois do motor
elementos da M-Sport. Com a sua experiência, do seu Fiesta WRC lhe pregar uma partida em
ficar a quase 30 ponto de Rovanpera no Monza, num ano em que não fez melhor mais
campeonato é muito. por causa da equipa do que a sua pilotagem.

WRC/
CAMPEONATO DO MUNDO DE RALIS

14

8º DANI SORDO/CARLOS DEL BARRIO 9º CRAIG BREEN/PAUL NAGLE 10º SEBASTIEN LOEB/DANIEL ELENA
(HYUNDAI I20 COUPÉ WRC), 42 PONTOS (HYUNDAI I20 COUPÉ WRC), 25 PONTOS (HYUNDAI I20 COUPÉ WRC), 24 PONTOS
Com larga experiência nos ralis, Dani Sordo ainda é piloto Craig Breen disputou este ano duas provas com a Hyundai no Não é só uma lenda do RC, mas sim uma das maiores estrelas
para vencer ralis, como provou este ano no Rali da Sardenha. WRC, e se as coisas não lhe correram particularmente bem de toda a história do automobilismo. Sem nada a provar,
O espanhol participou em três provas, desistiu no México na Suécia, onde terminou em sétimo, numa prova muito difícil hoje em dia faz o que gosta, e de vez em quando vem matar
com problemas mecânicos, venceu na Sardenha depois duma devido à falta de neve, já na Estónia o irlandês esteve em saudades ao WRC.
estupenda exibição e foi terceiro em Monza, contribuindo para grande plano, e foi o único que deu alguma luta a Ott Tanak. Depois de ter feito seis provas em 2019, com a Hyundai
o triunfo da Hyundai nos Construtores. Pontuando em apenas Uma grande exibição que não lhe valeu de muito, já que não Motorsport, este ano voltou a partilhar o terceiro carro, e com
duas provas fez quase os mesmo pontos que Teemu Suninen disputou mais provas no WRC até ao fim do ano, tendo que a pandemia só realizou duas provas. No Rali de Monte Carlo as
que correu durante toda a época. Continua a ser um piloto se quedar com o programa do construtor de pneus MRF no coisas correram-lhe mal e ainda assim foi sexto da geral, mas
muito consistente, que ‘entrega’ bons resultados na maioria Europeu de Ralis. na Turquia, apesar de não ter corrido ‘naquela’ prova, terminou
das vezes. É verdade que em Itália aproveitou muito bem a sua A sua exibição na Estónia deixou água na boca e isso ter-lhe-á no pódio, contribuindo para mais um bom resultado da Hyundai
posição na estrada, mas continuou a vencer troços quando valido nova oportunidade com a equipa em 2021, mas as coisas nos Construtores. Tantos anos depois e ainda lidera provas e
chegou à liderança, e depois a sua experiência fez o resto, ao dificilmente podem mudar muito, pois com uma prova aqui e ali vence troços. Um ‘monstro’.
controlar bem o resto da prova. Em Monza, chegou à liderança é difícil estabelecer-se no WRC onde há menos lugares que na
no segundo troço da prova, andou na frente até meio do rali corrida ao espaço da NASA.
e só na parte final caiu para terceiro de modo a garantir os
pontos que a Hyundai precisava para ser campeão. De uma
utilidade extrema.

11º GUS GREENSMITH/ELLIOTT EDMONDSON 13ºTAKAMOTO KATSUTA/DANIEL BARRITT
(FORD FIESTA WRC), 16 PONTOS (TOYOTA YARIS WRC), 13 PONTOS
É um dos mais jovens do plantel, chegou a Depois de ter realizado duas provas em 2019,
impressionar na sua primeira época com a o jovem Takamoto Katsuta continua a sua
M-Sport Ford mas este ano as coisas não lhe aprendizagem no WRC, onde tem mostrado um
correram nada bem, apesar de um quinto lugar no progresso encorajador. O seu programa de 2020 foi
Rali da Turquia, uma prova de sobrevivência, pois mais curto do que o antecipado, devido à pandemia,
quem pouco ‘andou’, salvou-se dos furos. e o destaque vai para o sétimo lugar que obteve
Foi o que sucedeu com Greensmith. no Rali de Monte Carlo. Mostrou velocidade na
Estreou-se nos ralis em 2013, em 2017 Estónia e terminou o ano com um triunfo na
já estava no WRC 2. Dois anos depois Power Stage do Rali de Monza.
estreou-se no WRC, aproveitando bem Depois de ter sido selecionado pela Toyota
uma lesão de Elfyn Evans. em 2015, que o colocou no seu Toyota Gazoo
Saiu de estrada no Monte Carlo, Racing Challenge Programme para jovens
abandonou no México com um pilotos, já se percebeu que dificilmente
problema mecânico no primeiro é um futuro campeão em potência, mas
dia, teve novamente problemas na pode fixar-se no WRC quando conseguir
Sardenha, com o alternador do Fiesta encontrar o equilíbrio certo entre a sua
WRC. Foi dos que mais sofreu com a falta velocidade, que já percebemos que tem,
de testes da M-Sport, e não fez muito e reduzir os excessos que lhe têm valido
para provar que merece o seu lugar no WRC. imensas saídas de estrada. Em cinco
Gus Greensmith acabou o campeonato depois de provas, três acidentes. As duas saídas de
bater num portão estreito do circuito de Monza, um estrada no circuito de Monza foram um bom
acidente que espelha bem a má época que fez. espelho da sua fogosidade e inexperiência.

SOADNUATDSOEAMSGPAONEARMT >> autosport.pt

15

F1QUEOUTRO PILOTO
DA ERA HÍBRIDA

PODERIA TER TANTO
SUCESSO QUANTO
LEWIS HAMILTON?
AS RESPOSTAS...

Aexcelente prestação de George Russell no GP de Sakhir trouxe para a mesa um
tema que surge de forma cíclica... o que é mais importante, o piloto ou a máquina?
Lewis Hamilton conquistou seis títulos na era híbrida, muito graças à qualidade
dos carros da Mercedes. O exercício que propusemos era o de tentar perceber
que outro piloto, na opinião do leitor, poderia ter tido tanto sucesso quanto Hamilton.
Colocámos a lista de todos os pilotos campeões ou que têm vitórias no seu currículo e
que correram de 2014 a 2020, excluindo Nico Rosberg e Valtteri Bottas, que pilotaram
carros da Mercedes neste período. Deixámos ainda para o leitor a possibilidade de
acrescentar outros nomes à discussão.
No fi al, Max Verstappen recolheu quase um quarto dos votos, 23%, face aos 19.1% de
Fernando Alonso. Sebastian Vettel ficou um pouco mais atrás com 16.4%, com Daniel
Ricciardo a somar 12.1%. Charles Leclerc ficou logo a seguir com 10.2%, enquanto 7.2%
dos leitores entenderam que nenhum piloto poderia ter tanto sucesso quanto Lewis
Hamilton. Não é de estranhar que a votação tenha recaído em Verstappen, Alonso
continua a estar muito cotado, Vettel teve um ano mau, mas quando teve carro para
isso deu muita luta à Mercedes, e Ricciardo também é piloto de topo.
Leclerc ainda precisa de tempo e de um carro melhor para ganhar mais admi-
ração entre os adeptos, e da lista proposta só mesmo Pastor Maldonado não
recolheu qualquer voto.

FÉLIX DA COSTA
FOI O 3º MELHOR PILOTO DO MUNDO

António Félix da Costa conseguiu compatriota Filipe Albuquerque, que da BMW para a DS. Uma mudança vista
mais um excelente prémio para juntar ficou em 36º neste ranking. por alguns como insensata, mas que
aos muitos que conquistou em 2020. António Félix da Costa foi oitavo no era necessária para o piloto de Cascais,
O piloto foi considerado o terceiro top 50 de 2012, numa altura que era apesar de todos os receios. Aposta
melhor piloto do mundo para a o nome mais falado para subir à F1. O mais que ganha com vitórias, títulos e o
Autosport britânica. Para a publicação, piloto luso sempre foi destaque neste reconhecimento internacional merecido.
Félix da Costa foi confortavelmente tipo de listas, mas a falta de vitórias Parabéns ao nosso Félix da Costa pelo
o piloto com maior destaque fora da consecutivas, por estar em estruturas prémio… mas queremos mais e sabemos
F1 e apenas Lewis Hamilton (1º) e Max que não o permitem, fez com que caísse que há mais a chegar.
Verstappen (2º) fizeram melhor. O no ranking. Regressa agora ao topo de Xavier Mestelan Pinon, chefe da DS
campeão da Fórmula E e vice campeão forma merecida. Performance, explicou à Autosport.com
de endurance em LMP2 fez uma época Uma época fantástica de Félix da Costa porque é que Félix da Costa conseguiu
sublime a todos os níveis. que ainda teve direito a um teste num maximizar o equipamento à sua
Com três vitórias, três poles, seis Indycar que abriu portas para um disposição: “Ele evitou todos os erros
pódios e a maior margem de sempre futuro nos States. Mas isso não será que cometeu no passado e melhorou
para o segundo classificado, Félix da para breve, pois o português é agora o muito a forma como trabalhou
Costa é provavelmente o mais forte homem em destaque na Fórmula E e vai connosco. Depois disso, o nosso carro
campeão de sempre da Fórmula E. defender o seu título novamente com a foi muito rápido. Sem erros. É evidente
Junta a isso uma vitória e cinco pódios DS Techeetah. que quando se está neste pacote,
no WEC, onde quase venceu Le Mans, No final de 2019 falamos com Félix da então é possível lutar pela vitória. No
ficando esse privilégio entregue ao Costa numa fase em que fazia a mudança final, ganhámos ambos os títulos.”

E/16 ENTREVISTAA

ARMINDO ARAÚJO
ACHO QUE
ENTREVISTA
ARMINDO ARAÚJO

FOMOS JUSTOS
VENCEDORES

Armindo Araújo e Luís Ramalho são os novos Campeões de Portugal de
Ralis, o seu segundo título juntos em três anos após o regresso do agora
hexacampeão. Venceu metade das provas do campeonato e provou que a

mudança de projeto que levou a cabo foi um sucesso a todos os níveis

ENTREVISTA José luís Abreu
[email protected]

FOTOGRAFIA ZOOM MotorSport/António Silva e Arquivo

Quando o AutoSport da Hyundai em Portugal, decidiu mudar, vitória no ano de estreia, foi importante. possível por todas essas pessoas e em-
entrevistou Armindo juntou-se à The Racing Factory, à Skoda, Foi um ano em que atingimos os nossos presas estarem ao meu lado e acreditarem
Araújo no início de 2016, MEO e Galp, e deu sequência à sua carrei- objetivos, um ano atípico, difícil, mas que em mim. Estes títulos não são só meus,
numa altura que cum- ra noutro projeto vencedor. fomos sempre dando a volta às dificulda- são de muitas pessoas e de muitas em-
pria o quarto ano de au- Armindo, novamente Campeão de des e conseguimos colocar na estrada um presas que investiram para atingir estes
sência das competi- Portugal de Ralis. É o teu sexto título ab- bom campeonato do qual, felizmente, saí- objetivos...
ções, sentimos nele que soluto, o segundo em três anos. A este mos vencedores. Que balanço fazes da temporada?
há muito tinha atirado juntam-se também vários títulos nos És o piloto mais vitorioso dos ralis em O balanço é positivo porque conseguimos
para trás das costas o agrupamentos, e claro, os dois títulos Portugal. No começo, há 20 anos, ima- fazer o campeonato nacional. Este é um
que passou em 2012, mundiais de Grupo N. Como te sentes ginavas chegar a este nível? ano diferente, atípico. Todos sabemos que
mas que também já com este título? Não, nunca pensei poder vencer os cam-
não era tão categórico Sinto-me feliz por ter atingido os objeti- peonatos que venci e estar onde estou
quanto a um possível regresso aos ralis. vos que tinha. Era uma equipa nova, um hoje, ainda com potencial para poder
Quando o questionámos se ponderaria desafio enorme e a mudança que fiz de vencer mais alguma coisa, assim espe-
fazer o campeonato nacional, ficou claro projeto foi arrojada. Saí de uma marca ro.Recordo-mequesemprefui umapes-
que só voltaria a correr num bom pro- e fui para um projeto privado. A equipa soa muito competitiva. Desde tenra idade
jeto, para lutar pelos lugares da frente, e para onde fui, a The Racing Factory, era que sonhei ser piloto. Primeiro, piloto de
quando lhe lembrámos que muita gente uma equipa muito jovem. Tudo era novo, motos e depois fiz a passagem para os au-
o gostava de ver novamente na estrada, mas eu achei que era altura de mudar e tomóveis. Tentei dar sempre o meu máxi-
disse que ficava contente, orgulhoso, mas seguir um novo desafio. mo, empenhar-me em todos os projetos.
que achava que isso não iria ser possí- Conseguimos vencer. É o meu sexto títu- O meu empenho no nacional é o mesmo
vel. Pois bem, enganou-se. E ainda bem! lo, com a quarta marca diferente também, que no mundial. É o máximo que posso
Exatamente dois anos depois estava a o que é importante. É a vitória também dar e fazer. Tentei sempre estar ao lado
apresentar na Cidadela de Cascais o seu de todos os elementos da minha equipa, das pessoas certas, dos projetos certos,
projeto com o Team Hyundai Portugal, e que me acompanham há muitos anos e das marcas certas e tentei sempre ter a
nestes últimos três anos, em 22 ralis do que têm lutado para que estes resulta- maior seriedade possível com todos, as
CPR, obteve oito vitórias e dois títulos. dos apareçam. A The Racing Factory foi empresas e pessoas que me apoiaram
Após dois anos a correr pelo importador uma peça fundamental, e poder dar esta nesta minha carreira. Felizmente isto foi

>> autosport.pt

17

a Covid-19 afetou todos os quadrantes da forma categórica. Depois, tivemos a para- bom e mostrámos estar fortes em as- Além da desistência, fui obrigado a trocar
sociedade a nível nacional e internacio- gem devido à Covid-19, onde estivemos falto e terra. Depois, decidimos ir ao Rali de carro para o Vinho Madeira. Depois o
nal. Houve imensas dificuldades para co- vários meses parados. Mesmo aí, estive da Calheta fazer uma preparação para o carro do Vinho Madeira não estava com
locarmos as provas na estrada. Foi difícil sempre em contacto com toda a equipa Vinho da Madeira. Talvez aí tenha sido o as mesmas especificações e tivemos um
comunicar, foi difícil fazer aquilo que que- técnica e estivemos sempre a conversar e ponto mais negativo da época. Mostrámos rali abaixo do nosso nível competitivo.
ríamos fazer com este projeto desportivo. a tentar perceber o que poderíamos me- um bom andamento, estávamos a lide- Depois, tivemos de alterar tudo no carro
Mas, focando-nos na parte desportiva, lhorar e mudar no carro. rar a 'armada' do continente, mas demos que estava preparado para nos apresen-
penso que tivemos uma boa prepara- Depois, quando entramos em Castelo um toque no último troço, revelando-se tarmos em Chaves. Em Chaves, no Rali do
ção da época em terra, depois entramos Branco, numa mudança de piso, o início esse um grande problema para a pro- Alto Tâmega, atrasámos-nos no primeiro
fortes no Rali de Fafe, onde vencemos de do asfalto, entrámos a vencer. Foi muito va seguinte. dia com uma travagem mal calculada, o

E/
ENTREVISTA

18

ARMINDO ARAÚJO

que me obrigou a atravessar uma chica- zava para o meu projeto desportivo acho vender o projeto aos meus patrocinadores acho que podíamos ter feito mais, mas
ne, obrigando-me a ir à volta, perdendo que conseguimos mostrar que essa de- foi outra. É logo outro querer e acreditar. veremos no futuro.
assim tempo. Quando estava a recupe- cisão era a correta. Quando dizes que no Eles voltaram todos e eu tive o prazer de A sensação de fora é a de que não te faltou
rar, no dia seguinte, furei e acabei o troço Rali de Fafe vencemos como vencemos, lhes dar a vitória logo no ano de regresso. absolutamente nada em termos de con-
furado. Acabo a 10 ou 11 segundos atrás é mesmo aquela 'cereja no topo do bolo’. Apesar de haver equipas em Portugal dições para lutar. O jantar com o Aloísio
do primeiro classificado. No Vidreiro tive- É realmente o que eu pensava, sendo a bem mais antigas e experientes do que [Monteiro] (ndr, a primeira conversa, en-
mos o problema da prova ser parada de- decisão que tomei a melhor decisão, mas a The Racing Factory, tu apostaste neles tre ambos) deve ter-te caído mesmo bem.
vido à tragédia que aconteceu. Por acaso, o risco estava lá. e as coisas correram de forma perfeita... As coisas foram perfeitas a partir daí...
enquanto houve prova voltei a furar, in- O teu regresso deu-se em 2018, depois São uma equipa jovem, mas uma equipa Como disse, a The Racing Factory tem
felizmente. Foi uma fase negra perante de cinco anos fora dos ralis. Em três anos com enorme potencial. Uma equipa hu- uma abertura enorme para compreender
aquilo que podíamos fazer. és campeão por duas vezes. Já pensas- milde que quer aprender e está a aprender. o que é tentar lutar por um campeonato
Felizmente, na prova seguinte, o Rali Terras te que o que aconteceu em 2012, se tens Como disse há pouco, abriram as portas desta envergadura. Portanto, o Aloísio
d' Aboboreira, uma prova de terra nova- continuado nos ralis, achas que isso pode para o nosso projeto e a minha estrutura teve sempre a maior abertura para nos
mente, conseguimos demonstrar a nossa ter-te roubado uma melhor carreira in- privada fazer o seu projeto. Esta mentali- dar as melhores condições para vencer e
velocidade, fi emos uma grande prova e ternacional? dade foi muito importante. A minha equipa eu tenho parceiros de longa data que me
vencemos. Ficámos líderes e dá-se a de- Isto agora é os ‘ses’. Vale o que vale. O que privada tem as suas ideias de como de- puderam apoiar para eu ter este projeto.
cisão do Algarve não ser feito, e vencemos é certo é que em 2012 aconteceu o que senvolver um projeto de ralis. A The Racing O que eu quero dizer é que nem só a The
o campeonato. aconteceu com o projeto Mini. Um pro- Factory tinha a sua estrutura e nós com Racing Factory, nem só o Aloísio, nem só
Mas, convém relembrar que vencemos jeto que caminhava num sentido onde essa união, de uma estrutura altamente o Armindo, nem só a equipa do Armindo
o campeonato com as regras iniciais do eu não me revia minimamente. Não me profiss onal, motivada e ambiciosa, com consegue estes resultados e este sucesso.
campeonato, ou seja, todos já sabiam que revendo naquela política, não aceitar esse a minha estrutura pessoal, criámos uma Isto é montado com muitas peças, todas
isto poderia acontecer. tipo de posição no desporto, comuniquei equipa vencedora e demonstrámos no unidas no sentido certo. Eu tenho de ter
Fomos a única equipa que venceu provas aos meus patrocinadores o que se esta- terreno. Não foi como eu queria, porque os meus parceiros bem alinhados com o
de terra e asfalto. Fomos a equipa que mais va a passar. Em conjunto, decidimos que
troços venceu no campeonato, ou seja, a não era o nosso caminho. É mais do que
equipa que mais pontos tinha para estar sabido os problemas que houve com a
na frente do campeonato. Portanto, acho Mini e a Motorsport Itália, portanto são
que fomos justos vencedores. águas passadas.
Qual foi o momento chave da tua vitória? Abandonamos o projeto e vamos ser ho-
As duas provas de terra foram sem dúvi- nestos, naquela altura não havia condi-
da momentos chave para a vitória. Foram ções para eu entrar noutra equipa do WRC.
vitórias folgadas, que nos deram muitos Não tinha condições fi anceiras para ter
pontos de PowerStage, etc. Isso foram um projeto, fazendo aquilo que estava a
pontos importantes para depois colma- fazer na altura. Eu quando não acredi-
tar os problemas que tivemos com os to num projeto, não acredito que vou ter
furos e o toque na Madeira. Acho que o sucesso, ou seja, também não consigo
nosso potencial podia ter sido demons- vender aos meus parceiros. Prefi o estar
trado duma forma ainda mais forte. Mas, parado do que estar num projeto onde não
infelizmente isso não aconteceu. Espero acredito que possa vencer.
demonstrar no futuro. Estive estes anos parado e quando sur-
Logo no início do ano, no Rali Serras de giu uma ideia de construir algo que fosse
Fafe, tu venceste com grande margem. para ganhar, aí sim, a forma de estar foi
No fim, estavas extremamente contente. outra, a motivação foi outra. Até a forma de
Já te vi ganhar muitas vezes no passado
e ali parecias estar ainda mais. Porquê?
Percebeste que tinhas feito as escolhas
certas?
Sem dúvida. A minha decisão de sair de
uma marca e montar um projeto privado
poderia ser arriscar em demasia. Eu sabia
o risco que estava a tomar ao fazer isso,
mas precisava de ter outra liberdade de
ação para gerir o meu projeto desportivo.
Eu queria ter outra intervenção no proje-
to, a nível de comunicação, a nível técni-
co e de outras escolhas internas, porque
acho que tinha outra forma de pensar e
de levá-lo com maior sucesso.
Consegui uma boa parceria com a The
Racing Factory. Eles abriram as portas
para me receber de uma forma fantástica.
Com essa parceria e com o que eu ideali-

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19

meu projeto desportivo, com eles a acre- ge da realidade. Queres falar um pouco so- Ele é o meu braço direito e esquerdo. É ele ponte para tudo o que fosse relaciona-
ditarem que eu sou a equipa e o piloto para bre a tua equipa? E depois do Rui, porque que trata de tudo o que me possa distrair do com a Hyundai em termos técnicos.
eles promoverem no desporto automóvel. acho que ele poderá ter sido uma gran- da competição. Construímos uma excelente amizade e
Depois, tenho de ter a capacidade para es- de mais valia, devido à sua experiência O Miguel está sempre lá, desde levar o ca- o Rui passou a pertencer à minha equi-
colher a melhor equipa técnica, para eu e onde trabalha no WRC... pacete, tratar das redes sociais, ao mer- pa em todos os projetos daí para a frente.
ter uma base técnica forte e coesa, para Claro que sim. Queria dar aos parabéns chandising. É ele quem supervisiona a O Rui esteve comigo no projeto Hyundai,
poder atacar bem o campeonato, que nes- primeiro ao Luís Ramalho, neste meu re- gestão da equipa no terreno. Tenho tam- com a RMC em Espanha e quando eu de-
te caso foi a The Racing Factory e toda a gresso ao desporto. Antigamente estava bém o Nuno Coelho que é um elemento cidi correr com o Skoda e a The Racing
sua estrutura. Depois, tenho uma equipa com o irmão dele, o Miguel. mais recente, mas que tem feito um tra- Factory, ele passou para este projeto, como
privada onde tenho as pessoas da minha O meu regresso foi com o Luís. Ele tem sido balho excelente. Eu achei que precisava de é natural, e toma conta do meu projeto téc-
confiança, que me tratam da comunicação uma pessoa fenomenal, em toda a sua dis- alguém que me fosse aos troços durante a nico relativamente ao Skoda. Trabalha em
e até da parte técnica. Eu tenho um técni- ponibilidadeeprofi sionalismo,paraatin- noite e perceber as mudanças climatéri- parceria com os técnicos da The Racing
co, o Rui Soares, que trabalha comigo há girmos todos estes resultados. Sem dúvi- cas que se esperam para as manhãs. É um Factory, porque obviamente isto é um tra-
vários anos e acompanha-me em todos da que tem sido uma peça fundamental. trabalho duro, toda a noite a andar pelos balho de equipa. Ele é uma peça funda-
os projetos. Nós temos uma equipa muito Depois tenho a minha equipa privada há troços para perceber o que vai acontecer. mental no meu sucesso e é um engenheiro
alargada, mas cada um sabe o que tem de alguns anos. Tenho o Nuno Castro que me Ele tem feito um trabalho muito bom. E, que me entende bem. Tem uma capaci-
fazer. Quando temos boas peças juntas, o trata da comunicação e dos regulamentos, para fi alizar, temos o Rui Soares. dade de análise muito forte e como sabe-
resultado é sempre positivo e vencedor. sendo uma ponte com a Federação e os Ele era engenheiro do Hayden Paddon mos, esteve no Campeonato do Mundo de
Por acaso queria falar sobre o Rui Soares, Orgãos de Comunicação Social. quando eu corria no Mundial, portanto Ralis a lutar pelo título, no Rali de Monza,
que já está há muito tempo contigo. Quem O Miguel Rodrigues, que me trata das era meu adversário [risos]. Já o conheço e isso mostra os créditos que ele tem e eu
está por dentro percebe o que ele ajuda. redes sociais, mas que tem feito um tra- há muitos anos, mas depois, no meu re- posso usufruir disso.
Nós, normalmente, olhamos só para quem balho pormenorizado no antes, durante gresso com a Hyundai, ele trabalhava na Mudando um pouco de assunto, qual foi
está dentro do carro e isso está muito lon- e depois das corridas. Hyundai Motorsport e foi o Rui a minha o teu adversário mais difícil destes últi-

E/
ENTREVISTA

20

ARMINDO ARAÚJO

mos três anos? pação por parte dos pilotos de ralis em houve um ou outro adiamento ou cance- agarrado a um volante ou ele não está
Bem, nós temos um leque de pilotos fortes, que tínhamos começado o campeona- lamento, caso do Rali de Portugal e agora muito virado para isso?
que podemos destacar num determina- to, tínhamos os nossos compromissos o Rali do Algarve, e conseguimos cons- Olha, não sei [risos]. Hoje em dia os miúdos
do piso, num determinado ano ou numa com os patrocinadores e marca, assim truir um campeonato digno, cumprindo têm tanta coisa para fazer e tantos des-
determinada prova. sendo, era importante começar e termi- um número mínimo de provas e assim portos para praticar que por vezes não
Mas, eu tenho sempre três, quatro pi- nar o campeonato de uma forma digna, sendo conseguimos validar este cam- seguem as pisadas dos pais. O meu fil o
lotos, que nestes últimos anos têm sido com algo palpável, para entregar aos nos- peonato para nós e para os nossos par- adora automóveis, motas, anda muito bem
muito fortes. Desde o Ricardo Teodósio, sos parceiros. ceiros. Da minha parte, consegui vencer, de mota, mas não sei se terá o espírito de
que foi campeão no ano passado, o Bruno Foi aí que nos reunimos entre pilotos e que fico muito orgulhoso. Gostava de ter tido competição e de sacrifício que o pai teve,
Magalhães que tem feito uma boa épo- arranjamos uma plataforma de entendi- a prova do Algarve para fechar em luta aquilo que eu tive de abdicar para um dia
ca, portanto um adversário forte. O José mento para discutirmos com a federação direta a decisão pelo título. Assumo isso, ser piloto de automóveis e de motas, não
Pedro Fontes que é um piloto com muita as nossas dificuldades, as nossas vonta- mas também assumo desde sempre que sei. Mas, se puder ajudar no que quer que
experiência e por isso é sempre um can- des e isto foi visto de uma forma muito os regulamentos são para ser cumpridos seja para ele atingir um objetivo, seja do
didato. O Pedro Meireles que é um candi- abrangente. Nós pilotos reunimos, pen- e se estes eram os regulamentos, nada que for, vou fazer. Não o vou forçar a ser
dato que em algumas provas se mostra sámos o que era melhor para nós, mas mais há a fazer. piloto de automóveis. Ele vai fazer aquilo
sempre forte. sem afetar ou condicionar os clubes e a Agora, um exercício diferente. Neste mo- que gostar...
Portanto, nós temos sempre quatro a cin- própria federação. mento tinhas o poder de mudar alguma
co pilotos que podem vencer corridas, que Apresentámos a nossa proposta à fede- coisa no automobilismo nacional. O que
podem vencer campeonatos. Na minha ração, sendo ela muito sensível ao que pe- mudavas ou tentavas mudar, em ter-
equipa não estamos focados num adver- dimos. Aí ficou decidido que haveria um mos globais?
sário apenas, mas sim em preparar o me- número mínimo de provas para o cam- Em termos globais, eu acho que nós nos
lhor possível. Já sabemos que há uns mais peonato ser elegível. Nós sabíamos que ralis temos uma base forte para o despor-
fortes em terra, outros em asfalto, outros o campeonato poderia parar em algum to e temos uma base fraca de promoção.
em determinadas provas e tentámos estar momento. Foi até proposto podermos fa- Temos de promover com outro nível, com
atentos a isso. O objetivo é sempre lutar zer provas em janeiro, mas alguns pilotos outra força, com outra intensidade. É o que
pela vitória, mas o foco principal é vencer foram contra isso e assim ficou decidido falta neste momento no nosso desporto.
campeonatos. que o campeonato terminaria sempre em Falta trazer as televisões ao nosso des-
O Hyundai i20 R5 em 2018 e 2019 e este 2020. Não era possível passar para 2021, porto. Tudo aquilo que nós envolvemos
ano o Skoda Fabia Evo Rally2. Quando fi- sendo assim essas regras estabelecidas neste desporto, todas as empresas, os
cou claro que o teu adversário era o Bruno, para não haver mudanças a ‘meio do jogo’. meios, estamos mal promovidos.
já sabias que do lado do carro a vanta- E quase no dia a seguir à autorização dos Em 2021, vais continuar? Tudo igual?
gem era tua? jogos de futebol, nós conseguimos voltar Alterações?
Não posso estar 100% de acordo com isso. à estrada e regressar em Castelo Branco, Neste momento não temos nada decidi-
O Hyundai é um carro muito bom. Deu- com novas regras de segurança, de saú- do. Ainda não sei o que vou fazer, mas a
me um título e é um carro extremamente de, de proteção e com algumas diferenças minha ideia principal é defender o meu
competitivo. Pode ter algumas caraterís- desportivos, como o caso de não haver título e tudo farei para tal.
ticas diferentes do Skoda. É um carro que super-especiais, etc. Esperamos ver-te cá. Agora, ainda me
tem uma forma especial de ser conduzido Todas estas regras foram muito impor- lembro do teu fil o muito pequenino nos
e tem os seus pormenores. Mas, permite tantes para o desenrolar do campeona- parques de assistência. Agora mais cres-
vencer ralis e permite lutar por campeo- to. Fomos quase sempre fazendo provas, cido, achas que algum dia o vamos ver
natos. São dois carros competitivos, da
mesma classe. São carros similares. São
opções que se fazem em termos de mar-
ca. Fui muito feliz quando guiei o Hyundai,
da mesma forma com o Skoda.
Tendo em conta o trabalho que o Bruno te
deu, alguma vez pensaste. Sei o que vale
aquele carro e por isso sei que o Bruno fez
um excelente trabalho?
Eu sabia de antemão que tanto pelo pilo-
to, como o carro, era um grande candida-
to ao título. Ia ser uma luta difícil e da mi-
nha parte só me competia ser mais forte.
Este ano os pilotos e a FPAK uniram-se
para fazer os ralis em tempo de pande-
mia. Presumo que tenhas gostado des-
sa união?
Sim, foi feito quando o campeonato co-
meçou. Depois houve a paragem devido
à Covid-19 e houve uma grande preocu-

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E/22 RICARDO PORÉM
ENTREVISTA
RICARDO PORÉM VAI DISPUTAR O SEU TERCEIRO DAKAR

Ricardo Porém vai SIMBIOSE ma sorte e a mecânica a acabou por
disputar pela ter- PERFEITA nos trair, não nos permitindo terminar,
ceira vez o Dakar e ENTRE deixando-nos alguma aprendizagem e
depois do ano pas- ÉNEEAMPSVISÁELEGQONAUTCDIOINO,AARL permitindo-nos preparar melhor a edi-
sado na sua estreia ção de 2021.
com a Borgward Ricardo Porém vai no início de 2021 disputar pela terceira vez o Gostaste mais do Dakar da América do
ter corrido com o Dakar, a segunda vez com um Borgward BX7 DKR Evo. Depois Sul ou da Arábia Saudita?
seu irmão Manuel da estreia com a equipa o ano passado, as responsabilidades Gostei naturalmente mais da versão na
Porém ao lado, Arábia Saudita, pela diversidade de pis-
desta feita volta a são maiores, mas também a ambição tas, pelas fantásticas paisagens e por as
Jorge Monteiro, que condições logísticas que a organização
com ele tinha dis- ENTREVISTA José luís Abreu nos proporcionou em 2020. No Peru as
putado o último Dakar sul-americano. [email protected] pistas eram mais monótonas.
Depois de um ano em que as coisas não FOTOGRAFIA Agency/Ricardo Oliveira As dunas, são mesmo como divãs, ou
correram da melhor forma, nesta edi- são uma enorme dor de cabeça?Quais
ção a equipa vai mais bem preparada. são as dunas que não queres mesmo
A confiança no Borgward é agora maior, ver à frente?
fruto da aprendizagem do ano passado, As dunas são sempre o ponto alto de
e o facto de ter corrido ao lado de Nani cada etapa. Conseguir transpor as mes-
Roma também foi positivo, pelo que se mas obriga-nos a ter algum conheci-
as coisas correrem sem grandes con- mento e habilidade, portanto temos que
tratempos um top 10 é possível. Mas não estar sempre muito concentrados. É com
vai ser fácil. Seja como for, um Dakar fá- base na experiência que vamos conse-
cil também não tinha graça... guir ultrapassar os cordões de dunas
Há muito sonhavas com o Dakar, mas sem sobressaltos e sem ‘atascarmos’.
o tempo passa depressa, e já vais para Se me perguntam se é divertido, claro
a tua terceira participação. Que ba- que concordo, mas reconheço que há
lanço fazes até aqui destas tuas duas momentos de tensão que deixam mais
aventuras de SSV e o ano passado com stressados e que nos obrigam a pensar
a Borgward? rápido. Quando ficamos atascados, por-
É verdade que desde pequeno que cresci que também acontece, há que resolver o
a ver o Dakar, onde os primeiros 15 dias problema o mais rápido possível... (risos)
de Janeiro eram colados à TV a ver a mais Que parte menos gostaste do percurso
dura prova de Todo-Terreno do Mundo. do ano passado?
Obviamente que é especial e tudo passa O que menos gostei foi mesmo as eta-
a correr. Vou já para a terceira experiên- pas com muita pedra. Houve mesmo
cia no Dakar, depois de uma aventura uma etapa onde tivemos quatro fu-
nos Side-by-Side e outra nos Autos. ros e só tínhamos três rodas suplentes.
Esta será uma edição onde me quero Tomámos a decisão de fazer os últimos
afir ar mais na categoria Auto, que foi 80km da especial sempre com uma
sempre a grande aposta da minha car- furada e as outras três rodas sempre
reira. O balanço das duas participações a trocar... Acredito que este ano, com a
anteriores é proveitoso, uma vez que experiência adquirida o ano passado,
os erros servem como aprendizagem talvez consiga superar melhores esses
para o futuro e é mesmo por isso que dias, porque eles vão existir.
um balanço acaba por ser sempre po- A aventura com a Borgward começou o
sitivo. Fazer o Dakar de SSV acabou por ano passado. Como se esperava, as coi-
ser importante para conhecer a prova sas foram complicadas, são sempre para
e a sua estrutura, terminando a prova. os novos projetos. Esperas muito mais do
Já o ano passado, não tivemos a mes- carro, da equipa e do Dakar deste ano?

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23

Sim, as coisas acabaram por não nos
correr da melhor forma, acabando por
ter de desistir. Ainda assim, a Borgward
Rally Team, que é assistida diretamente
pela Wevers Sport, é uma equipa muito
capaz que está mais preparada, que ad-

quiriu mais conhecimento e que fez
um estudo muito intenso e alarga-
do sobre os problemas sentidos na

edição de 2020, identificando to-
dos os problemas. Isso deixa-me
bastante confiante para a edição
de 2021, onde serei o único piloto
na equipa, tendo todo o foco no
fi al de cada etapa no carro e a
dar o melhor todos os dias para
que consigamos atingir os nos-
sos objetivos.
Ainda te consideras um semi-roo-
kie no Dakar?
Quando nos comparamos com os pilo-
tos da frente e mais experientes, posso
considerar-me um semi-rookie, ainda
por cima num ano em que fiz apenas a
Baja Portalegre. Outras equipas já es-
tão neste momento na Arábia Saudita
a competir, o que acaba por me deixar
sempre na posição de ‘rookie’, com a al-
gum conhecimento em Dakar, adquiri-
do nas duas últimas participações, que
nos pequenos detalhes podem fazer a
diferença e ajudar a ultrapassar uma
dificuldade que possa vir a aparecer.
O que é que aprendeste em 2019 com o
SSV, que te serviu para a prova do ano
passado com o Borgward e o que apren-
deste o ano passado que te vai servir
para a prova de 2021?
Na primeira participação acabei por co-
nhecer melhor o que é a corrida, o que é
o Dakar. Aqueles dias consecutivos de
etapas duras, feitos num Side-by-Side,
o que acresce a dificuldade. Dias longos,
com muito frio nas ligações, onde pas-
samos cerca de 12 horas com o capacete
na cabeça. Em 2020 não completámos
todas as etapas o que não nos permitiu
ter toda a experiência. Mas a verdade é
que em todos os dias de Dakar apren-
demos algo novo, mesmo os mais ex-

E/
ENTREVISTA

24

RICARDO PORÉM

perientes. Vamos mais bem prepara-
dos que em 2019 e 2020 e certamente
vamos aprender algo em 2021 que nos
vai permitir ser ainda mais competiti-
vos em 2022, se lá estivermos.
Disseste o ano passado que o Borgward
é um carro competitivo, bastante fiável,
mas que não está ao nível dos carros
mais evoluídos, como os Mini ou Toyota,
e que estava no bom caminho. E este
ano o que achas?
É verdade que o Borgward é um carro
competitivo e fiável. Como referi ante-
riormente, os problemas sentidos em
2020 foram identificados e resolvidos
como é o caso do que tivemos na caixa
de velocidades, que tinha defeito de fa-
brico, fruto de um problema de origem na
marca. Eu acredito que foi mais a pou-
ca sorte do que falta de fiabilidade. Em
tudo é preciso sorte, mas não é menos
verdade que a sorte dá muito trabalho
e acredito que este ano as coisas es-
tão alinhadas para que essa fiabilidade
esteja connosco. Não é um Mini, não é
uma Toyota, até porque essas marcas

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investem muitas horas e dinheiro para retirei da edição do ano passado. Este tros ao volante do Borgward, tentamos tar bem fis camente como mentalmen-
atingir o seu objetivo que é o Dakar. A ano a responsabilidade aumenta, vou sempre estar activos fis camente du- te. Acompanhamento certo com bons
Borgward faz o seu trabalho, traça o ter que representar da melhor forma a rante todo o ano, intensificando o trei- profiss onais vai certamente fazer toda
seu caminho e procura os seus obje- Borgward mas sinto que com as com- no físico nos últimos 5 meses pré-Da- a diferença, num ano em que me pre-
tivos, que estão bem delineados e que petências adquiridas o ano passado o kar que nos permitam chegar a Janeiro parei fis camente, melhor do que nunca,
acredito que vamos conseguir atingir. irei fazer da melhor forma. numa boa forma física. Pessoalmente para a participação no Dakar.
Que estrutura vais ter no Dakar a tra- Como se prepara um piloto fi icamente faço cerca de cinco treinos por sema- Falou-se muito o ano passado do espí-
balhar contigo? e mentalmente para um Dakar? na, variando a intensidade e duração rito de entreajuda, por causa das etapas
A Wevers Sport leva para a Arábia Na falta de fazermos fazer quilóme- do treino, o que me permite não só es- muito longas, de sair cedo, chegar tarde,
Saudita uma estrutura que conta com muitas horas dentro do carro. Que his-
cerca de 10 pessoas, que lhe permitirá tórias podes contar do ano passado?
assistir a Borgward Rally Team e o nos- É verdade que Dakar está associado a
so Borgward BX7 DKR. espirito de sacrifício, entreajuda, muitas
O ano passado podias 'beber' da ex- horas de condução e pouco descanço.
periência do Nani Roma. Este ano és o Apesar de não termos terminado em
chefe de fi a. Como vai ser? 2020, houve momentos em que tive-
O Nani Roma, aliado ao facto de já ter mos de mostrar essa entreajuda, e não
ganho dois Dakar’s, tem uma expe- aconteceu mais vezes porque no dia em
riência incrível no desenvolvimento que o Nani fura e fica sem rodas suplen-
de carros, o que me permitiu uma ex- tes, espera por nós mas nós também já
periência incrível em 2020. Um piloto tínhamos furado três vezes, acabando
com o qual aprendi muito e que tem por não o conseguirmos ajudar da for-
uma forma de estar e de ensinar muito ma que poderia e gostaria. São as con-
interessante, que permitiu que nos tor- dicionantes do Dakar...
nássemos amigos. Isso foi sem dúvida Há a novidade Prodrive/Loeb na prova
umas das coisas mais importantes que deste ano, face aos Toyota e Mini. Quem

E/
ENTREVISTA

26

RICARDO PORÉM

achas que vai ganhar e porquê? Monteiro, tal como com o Manel. São juntos, vencemos Portalegre juntos e já em percursos tão difíceis. É mais difícil
É uma questão difícil porque ainda não ambos dois excelentes navegadores competimos em Marrocos, também jun- mentalmente ou fis camente?
vimos a Prodrive a competir diante da que cumprem na íntegra as suas fun- tos! Há uma grande cumplicidade entre Essa é uma pergunta difícil de respon-
Toyota e Mini. Acredito que tendo em ções. Quando soube que o Manel não nós e os resultados provam isso mes- der. Se fosse fácil não estaríamos a falar
conta a equipa e os pilotos que desenvol- podia marcar presença na edição desta mo. Tenho imensa estima, admiração e do Dakar. Esta é uma prova muito gran-
veram o carro, seja possível que tenham ano, a primeira pessoa em quem pen- confiança no Jorge e tenho a certeza que de onde uma simbiose perfeita entre pi-
um bom andamento. Ainda assim, acre- sei foi no Jorge e liguei-lhe de imediato vamos conseguir fazer a nossa prova e loto, navegador e máquina é essencial.
dito que mesmo conseguindo o Nasser e disse-lhe: “Jorge, temos de ir lá mais atingir os nossos objetivos. Quando as coisas correm menos bem
Al Attiyah colocar a Toyota ao nível dos um ano!” Fizemos juntos o Dakar 2019 Como é viver 15 dias fechado num carro é mais difícil ultrapassar esse senti-
Mini, a vitória penderá para a Mini. mento e encontrar uma solução rápi-
Vamos andar de olho em ti, quem achas da. Já fisicamente, se as coisas forem
que são as equipas que podem causar correndo bem, o cansaço aparece mas
surpresas com bons resultados, para é compensado pela parte mental. É uma
lá dos oficiais? pergunta difícil, para a qual penso não
Espero fazer bons resultados! Apesar haver uma resposta só.
do Dakar ser uma prova muito grande, Não é possível, mas imagina que po-
espero conseguir fazer bons resulta- dia escolher um 'joker' para o Dakar.
dos, de alguma forma surpreendentes Pudesses escolher entre uma pilotagem
em algumas etapas. Mas penso que a 100% da tua parte, uma navegação a
não podemos tirar o foco por exemplo 100% da parte do Jorge ou não teres aza-
do Filipe Palmeiro, que vai navegar o res mecânicos mais graves, só as peque-
BenediktasVanagas numa viatura exac- nas coisas naturais, qual escolhidas. E
tamente igual às oficiais, apesar de ser não podes dizer todas! Sabemos que é o
numa estrutura privada que vai certa- equilíbrio entre as três que garante re-
mente fazer um bom trabalho, tal como sultados, mas qual é a que melhor pode
o Paulo Fiúza também num projeto Mini definir o esultado duma prova?
como navegador. Talvez por sentimento
patriótico, vou estar a puxar por estes
dois projetos enquanto surpresas. Há 20
a 30 pilotos no Dakar que vão discutir
bons resultados e acredito que será um
Dakar renhido e bonito de acompanhar
e espero que se mantenham de olho em
mim e que isso me traga uma força extra
para que os resultados sejam atingidos.
O que esperas da tua carreira no TT?Ser
um piloto Dakar, gostavas de um proje-
to na Taça do Mundo Bajas, ou Taça do
Mundo de TT?
Sinto que tenho feito uma carreira no
sentido certo. Comecei no Campeonato
Nacional de Todo-Terreno, com algumas
incursões na Taça do Mundo e agora a
minha carreira está virada para o Dakar.
Naturalmente que gostaria de poder
conciliar mais provas com o Dakar, mas
os projetos desportivos que tenho abra-
çado não continham essa premissa.
Portugal tem um grande campeonato
de TT, bons pilotos e carros, mas pro-
jetos maiores é difícil. É só o dinheiro
que falta, de resto temos tudo?
Portugal tem efetivamente um bom
campeonato, com boas viaturas e bons
pilotos que podiam dar o salto, saindo
da sua zona de conforto para partici-
par em provas da Taça do Mundo para
posteriormente entrarem no Dakar.
Não consigo perceber as razões, mas
não deixa de ser favorável para os fãs
portugueses que acabam por ter um
bom campeonato e assistir de perto a
provas competitivas.
Estás à vontade com o Jorge Monteiro
na bacquet do lado direito como esta-
rias com o teu irmão. Em quê é diferente
ser um ou outro?
Sim! Estou muito à vontade com o Jorge

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Das três, e como referes, tem que haver faz todo o tipo de infraestruturas e
um mix de todas e regularidade. Mas es- manutenção em redes de Gás. Foram
colhendo, optava por não ter azares de pioneiros em todas as tecnologias de
mecânica, uma vez que erros existem gás anteriormente desenvolvidas e
sempre e outras coisas que acontecem estão na linha da frente do hidrogé-
em etapas de 500km. O objetivo é estar nio. São a empresa de referência ao
todos os dias ao fi al do dia e com erros nível desta tecnologia em Portugal e
é possível chegar ao fim, já com azares num ano tão importante, em que se
mecânicos.... fala tanto da mudança das energias
E se tiveres que dividir percentagens de renováveis e alternativas no Dakar,
importância entre as três? O que 'vale' não poderíamos deixar de represen-
mais e menos? tar esta empresa que me acompa-
Se tivesse que dividir entre as três daria nha desde o início do meu percurso
mais importância à navegação e mecâ- desportivo. O futuro vai ser ligado às
nica do que à pilotagem. Poupar o car- energias renováveis, sempre com a
ro e ter a navegação certa faz com que parte ecológica diretamente ligada e
consigamos poupar tempo e seguir o veremos se um dia não estarei a fa-
road-book, daí valorizar mais as duas zer o Dakar num carro a hidrogénio.
opções mencionadas anteriormente. Extreme E. O que achas?
O que gostas mais e menos no Borgward O Extreme parece-me um campeonato
BX7 DKR? interessante que pode bem demonstrar
Destaco o chassis fantástico, bem como o futuro da modalidade. Se é com a tec-
toda a preparação de settings que de- nologia actualmente disponibilizada ou
senvolvemos ao longo do ano e também não, não sei. O Campeonato está com
no ano passado com o Nani Roma para uma boa base de organização, tem bons
esta corrida. Talvez o motor seja o que pilotos e equipas. O futuro está lançado.
pode não estar tão alinhado com a per- Qual é o piloto que mais admiras no TT?
formance do carro, quando comparado Face ao seu palmarés e à sua forma de
com a Toyota que por exemplo tem mais estar, penso que o Stephane Peterhansel
disponibilidade de binário. é a referência. Um homem que venceu
Tens um patrocinador que trabalha com vários Dakar’s, tanto nas duas rodas
essa tecnlogia, explica lá melhor o que como quatro rodas e ainda hoje disputa
pode vir a ser um veículo a Hidrogénio os lugares da frente de qualquer etapa é
no Dakar? sem dúvida um excelente piloto. Quem
É verdade, o meu main sponsor é a sabe o um dia conseguirei chegar a me-
PRF GasSolution. Uma empresa que tade dos títulos da sua carreira.

F1/28
FÓRMULA 1

SNÉARRGEIDOBPUÉLRLEEZM 2021 aguentar o confronto interno com Max
Está fi almente confir ada a ida Verstappen. Já sabe o que quer do carro
E no final fez-se de Sérgio Pérez para a Red Bull. Parecia que a caminhada do mexicano na e gosta de estar bem preparado para a
justiça. Um dos Chegou-se a pensar que o mexica- F1 tinha terminado, mas foi contratado pela corrida. Isso é bom para a Red Bull pois
melhores pilotos no não teria lugar em 2021, sendo Force India e aí mostrou todo o seu talento. ganha um piloto que, em teoria, facilmente
da F1, algo que obrigado a um ano sabático, mas a Mais maduro, mais consciente das suas trará muitos pontos à equipa, o que per-
tem mostrado com Red Bull ponderou bem e escolheu capacidades, tornou-se no melhor piloto mitirá pressionar mais a Mercedes e obri-
regularidade desde “Checo” Pérez em detrimento de Alex Albon. da equipa. O primeiro pódio pela equipa gará Verstappen a estar no seu melhor.
2014, não vai sair Corria o ano de 2012 e um jovem mexi- veio logo em 2014 (Bahrein), seguindo-se Pérez tem um prémio merecido pela sua
da competição e cano dava nas vistas na Sauber. O seu mais um na Rússia (2015), Mónaco (2016), regularidade e por ter sido sempre um
assegurou o lugar nome era Sérgio Pérez. As suas presta- Baku (2016 e 2018), Turquia (2020) e a tão dos melhores do segundo pelotão. Volta
numa das melhores ções foram espantosas e os três pódios desejada vitória no Bahrein esta época. a uma equipa de topo que certamente lhe
equipas da grelha. conquistados (Malásia, Canadá e Itália) Muito mudou desde que Pérez teve a sua permitirá lutar por pódios e consolidar a
Sérgio Pérez assinou colocaram-no nas bocas do mundo. No primeira oportunidade numa equipa de sua posição na F1. A Red Bull fica com uma
pela Red Bull e final desse ano assinou pela McLaren topo. Pérez é agora um piloto seguro, dupla muito forte, com a velocidade pura
tem agora nova para suceder a um tal de Lewis Hamilton. inteligente e experiente. A qualificação de Verstappen e a inteligência e gestão
oportunidade para Mas o sonho depressa se tornou em pe- sempre foi o seu ponto mais fraco, mas de corrida de Pérez. Além de espicaçar
mostrar do que é sadelo. Um carro pouco competitivo e ciente disso, sabendo também que não Max a fazer mais e melhor, a Red Bull tor-
capaz numa equipa uma equipa perdida, deixou Pérez numa podia lutar pelas posições de top, apostou na-se agora numa ameaça ainda mais
situação delicada. A relação com Jenson sempre em afi ar o carro para o domingo, séria à Mercedes. “Checo” tem nas mãos
de topo Button também teve momentos tensos onde é um dos melhores. A gestão que algo que sempre quis mas nunca pare-
em pista e começaram a surgir rumores faz dos pneus é espantosa e isso per- ceu ao alcance… uma nova oportunidade
Fábio Mendes sobre a postura pouco adequada do me- mite à equipa ter uma flexibilidade na numa equipa de topo, agora com todas
[email protected] xicano dentro da equipa. Pérez acabou estratégia que poucos pilotos permitem. as ferramentas para ser bem sucedido.
por ser dispensado no fi al de 2013, para A Red Bull procurava um bom número Max Verstappen está contente: “É sempre
dar lugar ao promissor Kevin Magnussen. dois. Talvez tenha isso e muito mais. Pérez difícil lutar com a Mercedes e espero que
traz experiência e traz maturidade para o ‘Checo’ [Sergio Pérez] consiga ser o tal,
primeiro, ajudar a equipa a progredir e
para estar a ‘morder-me os calcanhares’.
É sempre bom teres um companheiro de
equipa a puxar por ti. Não acho que vá
mudar algo nas minhas performances,
mas é sempre bom ter um segundo carro
capaz de estar lá toda a corrida, a tentar
colocar pressão”, disse Verstappen.

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F1APROVACALENDÁRIODE 23 CORRIDAS,PORTUGALÉHIPÓTESE

Este ano foram 17 em 23 semanas, para o ano C/ C A L E N D Á R I O
estão previstas 23 corridas, com a data de 25
de abril, que estava reservada para o GP do desporto motorizado tem de estar preparado não terminaram. A temporada acabou, mas 21 DE MARÇO GP AUSTRÁLIA
Vietname, ainda em aberto. Portugal está na para mais problemas em 2021 devido à não começamos a nova a partir de uma folha 28 DE MARÇO GP DO BAHREIN
‘short list’ de possibilidades, mas desta feita pandemia da COVID-19. Na gala de entrega de branca. Ainda existem confinamentos e 11 DE ABRIL GP CHINA
as condições não vão ser as mesmas deste prémios da FIA, Todt afirmou: “2020 foi uma o vírus continua. A próxima metade de 25 DE ABRIL TBC
ano, pelo que é necessário quem de direito, temporada muito boa e muito criativa. Nin- 2021, na minha opinião, não será normal. 9 DE MAIO GP ESPANHA*
leia-se o governo, fazer contas ao investimen- guém imaginava há um ano, na reunião em Fizemos progressos, estamos à espera da 23 DE MAIO GP DO MÓNACO
to necessário e perceber se vale a pena. Paris, que teríamos três Grandes Prémios em vacina, e isso será bom para todos. Penso 6 DE JUNHO GP DO AZERBAIJÃO
Imola, Portimão e Mugello estão de reserva Itália. Corridas seguidas no mesmo circuito que nos próximos dias poderemos ver 13 DE JUNHO GP CANADÁ
como opções possíveis para marcar o início da como na Áustria, Silverstone ou Bahrein e muitas mudanças nos calendários, não só 27 DE JUNHO GP FRANÇA
temporada europeia, tendo todas elas aderido um Grande Prémio na Turquia. Mas as coisas na Fórmula 1”, finalizou Todt. 4 DE JULHO GP ÁUSTRIA
ao calendário de 2020 no lugar dos eventos 18 DE JULHO GP DA GRÃ-BRETANHA
cancelados pela pandemia da COVID-19. 1 DE AGOSTO GP HUNGRIA
De resto, a F1 prepara-se para um ano recorde 29 DE AGOSTO GP BÉLGICA
de 23 corridas, mas sem saber como evolui 5 DE SETEMBRO GP HOLANDA
a pandemia, 2021 ainda poderá ser muito 12 DE SETEMBRO GP ITÁLIA
afetado. Um novo grande prémio na Arábia 26 DE SETEMBRO GP RÚSSIA
Saudita foi acrescentado ao calendário, com 3 DE OUTUBRO GP DE SINGAPURA
uma corrida noturna em Jeddah, prevista 10 DE OUTUBRO GP JAPÃO
como a penúltima da época. A nova temporada 24 DE OUTUBRO GP DOS ESTADOS UNIDOS
terá início na Austrália a 21 de março, e termi- 31 DE OUTUBRO GP DA CIDADE DO MÉXICO
nará a 5 de dezembro com o Grande Prémio 14 DE NOVEMBRO GP DE SÃO PAULO
de Abu Dhabi. O calendário apresenta duas 28 DE NOVEMBRO GP DA ARÁBIA SAUDITA**
sequências de provas triplas, compactando 5 DE DEZEMBRO GP DE ABU DHABI
uma série de seis corridas em sete semanas
após as férias de verão. *Sujeito ao acordo do promotor
O Presidente da FIA, Jean Todt, avisou que o **Sujeito à homologação do circuito em Jeddah

ALFA ROMEO NÃO SE COMPROMETE
PARA DEPOIS DE 2021

Com presença garantida em 2021, o futuro altos e baixos… Por isso, temos de nos pergun- PRIMEIRO DIA
da Alfa Romeo não é certo para depois da tar a nós próprios: Qual é o melhor acordo? Até DECARLOS SAINZNAFERRARI
próxima época. Frédéric Vasseur afirmou que agora, a Ferrari tem sido, na sua maioria, um
a equipa não está em posição para negociar parceiro sólido.” Carlos Sainz já esteve na Ferrari e tudo indica que deverá testar antes de Barcelona
um novo acordo a longo prazo com a Ferrari. O A Sauber chegou a ter um acordo com o monolugar de 2018, o SF71H. Sainz foi fotografado a fazer o assento, no seu
acordo entre a estrutura da Sauber e a Ferrari apalavrado com a Honda, mas a entrada primeiro dia de vermelho.
trouxe de volta para a F1 a marca Alfa Romeo, de Vasseur colocou um ponto final nesse “Foi muito especial” disse Sainz. “É um dia que nunca vou esquecer. Estou preparado
mas não é ainda garantido que a marca se acordo e levou a equipa a receber unidades e motivado para este novo desafio. Vou estar aqui a partir de janeiro, a dar tudo para
mantenha no Grande Circo pois o novo acordo motrizes da Scuderia e apoio técnico, com ajudar a equipa. Mal posso esperar. Já dei uma volta à fábrica e é algo que quero fazer
entre a Sauber e a Scuderia não está ainda no a Ferrari a poder colocar uma marca do seu mais vezes no próximo ano.” A data para o teste de Sainz no SF71H ainda não foi divul-
papel. “Estamos ligados à Ferrari até ao final grupo (FCA) na F1 além de colocar um piloto gada, mas será feito para permitir ao espanhol familiarizar-se com a forma da equipa
de 2021”, disse Vasseur. “Então teremos de italiano na grelha. Com a Honda fora de trabalhar e os sistemas de controlo. Também lhe permitirá habituar-se a trabalhar com
rever os acordos porque o próximo contrato jogo e com a Mercedes com provavelmente a sua equipa.
deverá decorrer entre 2022 e 2026 por causa pouca vontade de fornecer mais uma equi-
dos novos carros.” pa, a Sauber poderá manter o acordo com
Quando lhe perguntaram se o próximo con- a Ferrari ou então as ligações francesas
trato seria com a Ferrari, respondeu: “Nunca de Vasseur à Renault poderão trazer uma
se sabe ao certo. É como com um casamento. mudança de paradigma. Vasseur esteve
Ninguém garante que ficarás para sempre inicialmente no projeto da F1 da Renault,
com a mesma mulher – como eu! Tens de ter mas saiu face a divergências com outros
sempre em conta numa parceria que haverá responsáveis da marca.

F1/
FÓRMULA 1

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FERNANDOALONSOFOIOMAISRÁPIDONOÚLTIMOTESTEDOANO

Fernando Alonso destacou-se no último teste POS. PILOTO EQUIPA TEMPO DIF. Nº DE VOLTAS
de 2020 fazendo a melhor marca do dia. O piloto 1M36.333S 105
espanhol completou mais um passo na cami- 1 FERNANDO ALONSO RENAULT 1M36.595S +0.262S 110
nhada do seu regresso à F1. Alonso estabeleceu 1M36.840S +0.507S 82
um tempo mais rápido de 1:36.333 no R.S.20 da 2 NYCK DE VRIES MERCEDES 1M37.446S +1.113S 89
Renault. A Mercedes terminou em segundo e 1M37.557S +1.224S 123
terceiro lugar, com os pilotos de Fórmula E, Nyck 3 STOFFEL VANDOORNE MERCEDES 1M37.770S +1.437S 101
de Vries e Stoffel Vandoorne, encarregados das 1M37.817S +1.484S 126
tarefas de teste. 4 ROBERT KUBICA ALFA ROMEO 1M37.826S +1.493S 93
De Vries, no seu primeiro teste de Fórmula 1, 1M37.902S +1.569S 98
terminou 0,262s atrás do bicampeão mundial 5 YUKI TSUNODA ALPHATAURI 1M38.153S +1.820S 78
Alonso, com o piloto reserva Vandoorne meio 1M38.157S +1.824S 129
segundo abaixo do seu antigo companheiro de 6 JURI VIPS RED BULL 1M38.284S +1.951S 77
equipa McLaren. Robert Kubica, da Alfa Romeo, 1M38.495S +2.162S 127
foi quarto, à frente de Yuki Tsunoda. 7 ANTONIO FUOCO FERRARI 1M39.800S +3.467S 75
1M39.947S +3.614S 125
8 CALLUM ILOTT ALFA ROMEO

9 GUANYU ZHOU RENAULT

10 JACK AITKEN WILLIAMS

11 ROBERT SHWARTZMAN FERRARI

12 SEBASTIEN BUEMI RED BULL

13 MARINO SATO ALPHATAURI

14 ROY NISSANY WILLIAMS

15 MICK SCHUMACHER HAAS

MATTIABINOTTO“LECLERCESAINZSÃOLIVRES FERRARIAPRESENTANOVO CARRO
DELUTAREMPISTA,MASAPRIORIDADEÉAEQUIPA” EM BARCELONA,NOVOMOTORENTUSIASMA

Para Mattia Binotto não haverá piloto número um. O A Ferrari pretende apresentar o seu novo reportados até agora parecem dar excelentes
responsável da equipa Ferrari defendeu que não há um carro, o SF21, nos testes de pré-temporada sinais. Fabiano Vandone, ex-piloto e jornalista,
Número Um, deu luz verde às lutas em pista entre os em Barcelona. Para Mattia Binotto, o carro de falou sobre o novo motor da Ferrari, afirmando
dois pilotos, mas realçou que a prioridade é a equipa: 2021 “tem um nome simples porque 2021 é um que o passo em relação à unidade deste ano é
“Não há nada no contrato do Charles que indique que ano de transição. O carro é quase o mesmo, significativo:
ele seja o líder da equipa. Os dois são livres de lutar em com o ‘congelamento’ dos chassis”. Um dos “Temos de ser otimistas, os resultados no
pista, mas o importante é que não causem danos um pontos mais falados para 2021 na Ferrari é a banco de testes estão a dar desempenhos
ao outro. De resto, terão as mesmas oportunidades questão do motor. O chefe de equipa da Ferrari extraordinários. A Ferrari foi limitada pela
no início da temporada”. Para Binotto, o foco da tem- confirma que “no banco de testes as coisas FIA entre 2019 e 2020, e isto causou danos
porada de 2021 será o campeonato de construtores: estão a correr bem. Acho que comparado consideráveis. Agora reconstruiram um motor
“A nossa prioridade, no presente e no passado, será com 2020 estamos a progredir em termos graças também ao regulamento que o permite
o campeonato de construtores. Por isso, em certas de performance”. “Vamos voltar a ter uma e deram um duplo salto: o primeiro ao recu-
corridas o importante é ajudar a equipa e aceitar as unidade motriz competitiva. Não seremos os perar o que lhe foi retirado, e o segundo com
decisões. E ao colocar o interesse da equipa em primei- piores na grelha e tenho essa sensação devido um novo desenho tecnológico. Não devemos
ro, acho que ajuda o interesse dos pilotos. Mais para aos números que vi. Mal posso esperar para pensar num motor Ferrari que elimina a
o final do campeonato veremos se haverá um piloto ver o que as outras equipas fizeram”, finalizou diferença para a Mercedes, mas diminui muito
com uma vantagem clara e se conseguimos ajudá-lo a Binotto. Os rumores que chegam de Itália essa diferença. Ter mais potência pode gerar
atingir o objetivo. Mas a prioridade é a equipa.” são muito positivos. O novo motor já está a mais downforce e melhorar a utilização dos
ser testado há vários meses e os resultados pneus, tudo o que faltou no projeto SF-1000. “

TEMPO MÁXIMO DE CORRIDA F1 CONFIRMA ACORDO
REDUZIDO A TRÊS HORAS COM INTERLAGOS POR MAIS CINCO ANOS

Apesar do tempo normal de uma corrida ser de de 90 a 120 minutos, Apesar de muito se ter falado no Rio de Janei-
estava regulamentado que o limite máximo era de quatro horas. ro, a Fórmula 1 vai continuar em Interlagos, já
Após o Grande Prémio do Canadá de 2011, que durou mais de 4 horas, que foi confirmado um acordo por mais cinco
depois da prova ter sido suspensa devido à forte chuva, antes de se anos. A única mudança: passa a ser Grande
reiniciar quase duas horas depois, foram introduzidos novos regu- Prémio de São Paulo a partir da próxima
lamentos, limitando a duração de uma prova. No Regulamento Des- temporada. A F1 acordou com os novos promo-
portivo de 2021 o Artigo 5.3.b) diz agora “se a corrida for suspensa, a tores a ida para o Rio de Janeiro em 2021, mas
duração da suspensão será acrescentada a este período (de corrida) o governo não aprovou a construção da pista,
até um tempo total máximo de três horas de corrida.” devido a questões ambientais. Agora, o Grande
Prémio de São Paulo permanecerá em Interla-
gos até pelo menos 2025: “Temos o prazer de da F1, Chase Carey. Recorde-se que Interlagos re-
anunciar que a cidade de São Paulo continuará cebe o Grande Prémio do Brasil desde 1990, e foi
a acolher o Grande Prémio do Brasil até 2025. palco das últimas decisões de títulos da corrida
O Brasil é um mercado muito importante para em 2006, 2007, 2008 e 2012.
a Fórmula 1, com adeptos dedicados e uma
longa história no desporto. A corrida no Brasil
sempre foi um destaque para os nossos fãs e estamos
ansiosos por proporcionar corridas emocionantes
em Interlagos nos próximos cinco anos”, disse o CEO

TOTOWOLFFMANTÉM-SE >> autosport.pt
COMO DIRETOR DA MERCEDES
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Chegou a estar de saída da Mercedes, foi a equipa Mercedes-AMG Petronas. Esta
dado como quase certo na Aston Martin, equipa é como uma família para mim”, >> JOST CAPITO É NOVO ROSTO
foi apontado como possível CEO da F1… no disse Wolff . “Passámos por tantos altos DA REESTRUTURAÇÃO DAWILLIAMS
final, Toto Wolff vai manter-se na Mercedes e baixos juntos que não consigo imaginar
como chefe da equipa, enquanto vê a trabalhar com um grupo melhor de pes- Os novos proprietários
participação da INEOS aumentar. soas neste desporto – e estou muito feliz da Williams, a Dorilton
Wolff já tinha mostrado que queria por continuarmos juntos nesta nova era. Capital, têm vindo a
manter-se no leme da Mercedes, que Este novo investimento da INEOS confirma fazer uma revisão da
estava entusiasmando com o desafio 2022 que o apelo comercial das equipas de Fór- estrutura desde que
e com a ideia de colocar alguém no seu mula 1 é evidente e envia um importante assumiram o cargo da
lugar, preparando a sua saída. Esse desejo sinal de confiança no desporto após um família Williams em
confirma-se agora com este novo contrato ano desafiante.” Agosto, com o reforço
por três anos, provavelmente o último Mas Wolff afirmou que o novo contrato vai dos departamentos em
como diretor de equipa. mais além e que o novo acordo assinado todos os sectores.
Para além do novo acordo com Wolff, foi é “para a vida”: “Não me comprometi por A última mudança é a
também anunciado que o parceiro prin- mais três anos, mas para a vida toda! entrada em cena de um
cipal, a INEOS, adquiriu uma participação Somos agora três acionistas que são nome conhecido da F1
de um terço na equipa de Fórmula 1. A donos da empresa”. Wolff também disse e dos ralis, Jost Capito.
Mercedes confirmou que a Daimler reduz- que, “independentemente” do seu papel Com quatro décadas de experiência no automobilismo, irá conduzir a equipa para uma nova
irá a sua participação de 60% e a Wolff atual, ele tem a liberdade de se demitir a era, assumindo a responsabilidade pelo funcionamento quotidiano da empresa a partir de
aumentará a sua quota de 30% para criar qualquer momento e transitar para outro 1 de Fevereiro de 2021. Capito ficou conhecido pelo seu trabalho de sucesso na Volkswagen
três parceiros iguais. A equipa continuará papel, tal como CEO ou Presidente do Con- numa altura em que a marca dominou por completo o WRC. A sua passagem pela McLaren foi
a ser conhecida como Mercedes. “Tenho selho de Administração. Ele acrescentou: fugaz numa fase em que a equipa passava por momentos francamente negativos.
o prazer de iniciar este novo capítulo para “Mercedes é o que eu faço!” Reportará ao Presidente da Williams, Matthew Savage, enquanto Simon Roberts, que assumiu
o papel de diretor de equipa desde que Claire Williams saiu da equipa, reportará diretamente
a Capito, tendo assumido o papel permanentemente.
“É uma grande honra para mim juntar-me à Williams Racing nestes tempos emocionantes e
exigentes, tanto para a equipa como para a Fórmula 1”, disse Capito. “É uma honra fazer parte
do futuro desta equipa que carrega um nome tão forte no desporto, pelo que chego a este
desafio com grande respeito e com um enorme prazer”.

>> FABRICANTES DE MOTORES
JÁTESTAM BIOCOMBUSTÍVEIS

YUKI TSUNODA A revolução na F1 já começou. Se em 2022 vamos ver novos carros em pista, em 2026 deve-
CONFIRMADO NA ALPHATAURI remos ver motores a usar combustíveis sustentáveis. A F1 não fugiu ao desafio ambiental e,
ao invés de se esconder ou de tentar caminhos que já estão a ser percorridos, iniciou uma
A AlphaTauri F1 confirmou Yuki Tsunoda como viagem própria com os biocombustíveis a serem a solução encontrada. A FIA e a F1 estão a
o próximo colega de equipa de Pierre Gasly em trabalhar para se tornarem neutras em emissões de carbono a partir de 2021 e alcançarem o
2021. O japonês teve de esperar até à confir- estatuto de zero emissões até 2030.
mação que conseguiria obter os pontos sufi- Parte desses planos incluem a mudança para combustíveis 100% sustentáveis quando uma
cientes para a superlicença de Fórmula 1. Com nova unidade motriz for introduzida, e a FIA confirmou que foram enviadas amostras aos
os pontos necessários garantidos, concluiu-se fabricantes de F1 para teste.
a contratação do piloto, que substitui o russo “Um dos passos mais significativos para alcançar este objetivo foi a investigação, desenvolvi-
Daniil Kvyat. mento e produção pelo Departamento Técnico da FIA de um combustível 100% sustentável,
Tsunoda é mais um produto do programa de desenvolvido de acordo com especificações rigorosas de F1”, disse a FIA na sua revisão da
jovens pilotos da Red Bull que chega à Fórmula estratégia ambiental.
1, desta feita com muita ‘mão’ da Honda. Tsu- “Sendo uma variedade de biocombustível de segunda geração, o que significa que é exclusi-
noda será o primeiro piloto japonês presente vamente refinada utilizando bio-resíduos, não destinados ao consumo humano ou animal, os
no plantel da Fórmula 1 desde Kamui Kobayashi, primeiros barris estão agora com os fabricantes de unidades motrizes de F1 para testes e
em 2014: “Como a maioria dos pilotos, o meu validação.”
objetivo sempre foi correr na F1, por isso estou Espera-se que as equipas de F1 trabalhem com os fornecedores existentes e novos para even-
muito feliz com esta notícia. Quero agradecer à tualmente desenvolverem os seus próprios combustíveis no futuro. “O objetivo é demonstrar
Scuderia AlphaTauri, à Red Bull e ao Dr. Marko por me terem dado esta oportunidade, o trabalho tecnológico e levar os fornecedores de F1 a desenvolverem os seus próprios
e claro que a todos na Honda, por todo o apoio que recebi até aqui. Tenho também combustíveis, com o requisito obrigatório de serem 100% sustentáveis.”
que agradecer às equipas com quem corri até aqui, particularmente a Carlin, onde
aprendi muito este ano. Compreendo que no próximo ano estarei a carregar as es-
peranças de muitos adeptos japoneses da F1 e farei o meu melhor por eles também.”

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ENTREVISTA

IL CAPOCESAREFIORIO
Ao logo dos anos, o desporto automóvel tem conhecido um sem-número de líderes. E se alguns estiveram apenas de
passagem, outros houve que, pelo seu carisma, pela forma como viviam a competição e por aquilo que acrescentaram ao
espetáculo, terão sempre um lugar na história. Cesare Fiorio pertence a estes últimos. Até não se saía mal ao volante mas cedo
percebeu que era a comandar tropas que se sentia realizado. Com a ajuda de um par de amigos e de outros tantos mecânicos,
criou uma pequena equipa e converteu a marca Lancia no pináculo das provas de estrada, contribuindo para que modelos
como o Stratos, o 037 ou o Delta se tornassem verdadeiros ícones dos ralis. Fiorio tinha um modo muito particular de viver as
corridas. Via em cada prova uma batalha mas não se resguardava no quartel. Antes, vivia-a nas trincheiras, ao lado dos seus
pupilos, encabeçando cada investida e desenhando a mais impiedosa das estratégias para apanhar o inimigo em falso. Passou
pela resistência e pela Fórmula 1, sempre com a mesma atitude porque, segundo o próprio, só faz sentido correr para ganhar e

ficar em segundo é a mais temida das doenças por quem abraça a competição

Nuno Branco Camarda, propriedade de Cesare Fioiro. É volante e dedicar-se à criação e à gestão da casa italiana que, na altura, não esta-
[email protected] na tranquilidade do campo, entre oliveiras, da sua própria equipa? va oficialmente envolvida na competição.
FOTOS Arquivo Autosport, campos de trigo e árvores de fruto, que Comecei a correr com 20 anos. Nessa ida- Como nasceu a equipa HF Squadra Corse
Martin Holmes, FCA, o carismático ex-diretor da Lancia e da de, quem gosta de automóveis, é ao vo- e o que tinha em mente quando a criou?
Pirelli e Arquivo Cesare Fiorio Ferrari, hoje com 81 anos, passa os seus lante que deseja estar. Com um Fiat 500, A ideia nasceu quando decidi criar uma
dias recuperando ainda de um grave aci- ganhei em dois anos consecutivos as 12 equipa muito pequena com dois amigos:
CeglieMessapicaéumapequena dente sofrido em 2017, quando passeava horas de Monza. Adquiri um Lancia Appia um havia sido meu adversário quando
cidade italiana situada na região de bicicleta. No edifício principal, acessí- Zagato e foi o próprio preparador Zagato corria com os Fiat 500 [Luciano Massoni]
da Apúlia, rodeada por terrenos vel a quem visita a esplendorosa quinta, que, vendo em mim, algumas qualidades, e o outro era um empregado da Lancia
agrícolas e “masserias”,nome encontra-se uma espécie de sala museu me colocou nas mãos os Lancia Flaminia [Dante Marengo]. O nosso objetivo era
usado no sul do país para desig- onde repousam troféus e memórias, ver- Coupé para participar em corridas de obter o apoio da Lancia e tornarmo-nos
nar as quintas que se dedicam à dadeiros testemunhos de uma vida reple- turismos. Apesar de alguns resultados seus representantes porque, quando a
exploração agropecuária. Algumas delas ta de sucessos. É aqui, rodeado de livros e interessantes, decidi deixar a pilotagem equipa foi criada, não tinha qualquer li-
associaram a atividade ao turismo, con- de fotos e com a carroçaria do Ferrari 640 porque descobri que era melhor como ma- gação à marca exceção feita ao facto de
vertendo-se em unidades de alojamen- de Nigel Mansell como pano de fundo, que nager do que como piloto (risos). esta nos ceder alguns carros de série que
to rural. A meia dúzia de quilómetros do Fiorio enceta uma viagem ao passado… Estávamos no início dos anos 60. O seu íamos modificando para correr com eles
centro da cidade, encontramos a Masseria A sua ligação aos automóveis começou pai era então diretor de comunicação da ou para os ceder a alguém que quisesse
como piloto. Porque decidiu abandonar o Lancia e o Cesare conhecia bem os cantos competir. No início, pegávamos nesses

carros elevávamo-losadoisgrandespre- disso era o Fulvia Coupé e foi esse o carro parte da sua estratégia de marketing? feitamente a condução do Fulvia.
paradores da altura e que muito fi eram que utilizámos contra verdadeiros carros Penso que foi o triunfo do Harry Källström Que importância teve a vitória no Monte
por nós, um era o Carlo Facetti em Milão de corrida como o Alpine Renault ou o no RAC de 69, que lhe permitiu sagrar-se Carlo de 1972, não apenas para a equi-
e o outro era o Almo Bozatto em Turim. Porsche 911. Não era fácil andar à frente campeão europeu de ralis nesse ano. O pa mas também para a marca Lancia?
Começámos a ganhar provas e a Lancia daquelas máquinas mas a verdade é que feito impressionou o mundo dos ralis por- Quando ganhámos o Monte Carlo de 72,
levou-nos mais a sério, propondo-nos conseguimos. A primeira vitória interna- que, ao RAC, iam todas as grandes equi- sabíamos que o tínhamos conseguido
que a equipa usasse as instalações da cional surgiu na Córsega, em 1967, com o pas, era uma prova muito prestigiante porque havia neve. Em condições nor-
fábrica. Deram-nos um pequeno espaço, Sandro Munari, que era um grande pilo- e muito difícil e a vitória de uma equipa mais, era difícil andar à frente dos nossos
com dois elevadores e nada mais. Na al- to. Nessa altura, corriam ainda para nós jovem causou surpresa. adversários mas, devido às condições em
tura, a equipa era formada por um chefe o Pauli Toivonen, pai do Henri e o René Qual era o piloto que melhor tirava parti- que a prova se realizou e porque tínhamos
de mecânicos, o Walter Levizzani e dois Trautmann, um campeão francês de ralis. do das potencialidades do Lancia Fulvia? bons pilotos e uma boa equipa, consegui-
mecânicos, o Luigi Podda e o Gino Gotta Os sucessos obtidos foram determinan- O Munari era um fantástico piloto que mos fazer frente aos Porsche e aos Alpine
e, com estas três pessoas, começámos a tes para que a Lancia nos cedesse mais ganhou muitas provas e conduzia mara- em todas as classificativas. A vitória teve
fazer a preparação dos nossos carros. Os recursos, nomeadamente mais pessoas vilhosamente bem o carro. Mas não foi o uma enorme importância para a equipa
sucessos surgiram muito rapidamente e mais equipamento. único: nós tínhamos um piloto de testes, mas teve também um enorme impacto
apesar de a Lancia não ter propriamente Qual foi o momento determinante para o Claudio Maglioli que, além de competir para a Lancia e para a vida de muita gen-
um carro criado a pensar na competição. que o quartel-general da Lancia consi- como piloto, nos ajudava a desenvolver te. Semanas antes, a 31 de dezembro de
Depois do Flavia Coupé, o mais próximo derasse seriamente a competição como os carros e que também dominava per- 71, a Lancia fechara a linha de produção

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do Fulvia mandando para casa uma boa petir foi determinante para o sucesso. Munari levando o Fulvia à cá-lo para o tornar competitivo”.
parte dos seus operários. Mas, logo após Para construir o carro, o Marcello Gandini, conquista de uma vitória O Stratos foi o carro mais marcante da
a vitória no Monte de Carlo, surgiram mi- designer da Bertone, pediu-me para criar histórica no Monte Carlo de 72 sua vida?
lhares de encomendas e a marca retomou um caderno de encargos com os requisi- Foi pelo menos a maior batalha que travei
a produção do Fulvia chamando de volta tos que deviam ser levados em conta na Parkes, um antigo piloto que teve um papel porque, na altura, quando lancei a ideia, ela
os operários que haviam ficado sem em- sua conceção. Decidi então ouvir todos fundamental no desenvolvimento do car- foi aceite mas, entretanto, a Fiat compra-
prego. Foi um acontecimento muito es- os intervenientes de modo a idealizar o ro até à sua morte em 1977, num acidente ra a Lancia e, como na Fiat não queriam
pecial. Graças a esse triunfo, a produção carro perfeito. Comecei por falar com os de estrada. O Stratos foi homologado no construir o carro, despediram-me. Um
do Fulvia foi prolongada por cinco anos. pilotos, que pediram um boa visibilidade dia 1 de outubro de 74 e, nessa altura, já as mês depois, falaram comigo e contra-
Foi o pai de um dos carros mais marcan- a partir do interior, que fossem senta- equipas Toyota, Ford e Fiat estavam bem taram-me novamente, oferecendo-me
tes da história dos ralis: o Lancia Stratos. dos o mais verticalmente possível, como lançadas para ganhar o campeonato de também a gestão desportiva da Fiat. Fiquei
Como idealizou uma máquina imbatí- um piloto de ralis e não numa posição marcas. Mas havia ainda cinco ralis para obviamente contente porque, acima de
vel a partir de um exercício de estilo que de condução de pista, e que o carro fos- disputar: o Sanremo, o RAC, a Córsega e tudo, o Stratos iria avançar. No entanto,
Bertone apresentou no Salão de Turim se suficientemente pequeno para poder as duas provas americanas, nos EUA e no tenho de destacar aquele que foi para mim
de 1970? ser manobrável em estradas estreitas e Canadá. O Stratos estreou-se a vencer no o feito mais marcante da minha carreira:
A minha ideia era ter um carro que fosse sinuosas. Depois, fui falar com o depar- Sanremo, venceu no Canadá e na Córsega vencer o Audi Quattro com o Lancia 037
competitivo em todas as condições. Nós tamento de motores, que me pediu um e também podia ter vencido no RAC mas ganhando o título de marcas em 1983.
conseguíamos vencer na lama, na chu- carro cuja traseira deveria abrir comple- eu disse ao Munari para não correr riscos Cada carro representa um desafio dife-
va, no nevoeiro, na neve, mas não con- tamente para os mecânicos acederem fa- porque bastava-nos chegar em terceiro rente. O Delta S4 também foi um projeto
seguíamos bater os Alpine e os Porsche cilmente ao motor. Resposta semelhan- para ganharmos o campeonato do mundo fantástico na medida em que era a pri-
em asfalto. Quando vi o protótipo no Salão te obtive quando falei com os técnicos e foi nessa posição que terminámos. Sem meira vez que utilizávamos a tecnologia
de Turim, pensei imediatamente que, se responsáveis pela caixa de velocidades. as contas do Mundial de Marcas, o Munari de quatro rodas motrizes e ganhámos as
conseguíssemos por aquele carro a cor- Queriam aceder facilmente à caixa para podia ter ganho o RAC e ainda hoje ele me duas primeiras provas em que participá-
rer em ralis, não teríamos de esperar por a substituir ou para alterar as relações. cobra essa vitória (risos)… mos: a estreia, no RAC de 85 e o Monte
condições adversas para ganhar ralis. Falei também com os eletricistas e foi-me Como decorreu a reunião com Enzo Carlo de 86. 1986 Seria um ano de su-
Seríamos competitivos em todo o tipo de dito que queriam o alternador numa po- Ferrari? Foi fácil convencê-lo a ceder o cesso mas, infelizmente, o fatal acidente
pisos. A história veio a provar que estava sição onde fosse fácil aceder e substituir motor que haveria de equipar o Stratos? de Toivonen na Córsega, quando lidera-
certo já que, com o Stratos, ganhámos em já que, naquela altura, problemas com o Devo dizer que ia bastante nervoso para va… (silêncio). Depois disso, a FIA decidiu
três anos consecutivos o campeonato do alternador eram frequentes durante um a reunião. Esperava uma resposta nega- banir os carros de Grupo B. A decisão foi
mundo de ralis. Um dos pontos mais crí- rali. E foi com este caderno de encargos tiva já que o Enzo Ferrari nunca cedia os tomada em junho e, em janeiro do ano
ticos foi a escolha do motor a utilizar e que Gandini criou o Stratos. Ele fez um motores mas fiquei surpreendido com o seguinte, iniciar-se-ia um novo capítulo
decidi ir pessoalmente a Maranello falar fantástico trabalho, em colaboração com facto de ter à minha frente um homem dominado pelos carros de grupo A. Tive
com Enzo Ferrari, que nos cedeu o bloco os técnicos da Lancia. Durante os testes que conhecia e apreciava o trabalho de- apenas seis meses para encontrar um
do motor Dino V6 que viríamos a colocar iniciais, percebemos que a suspensão não senvolvido na Lancia e os sucessos que carro, construí-lo e estreá-lo no Monte
transversalmente na carroçaria desenha- tinha o comportamento esperado e pedi havíamos obtido. Ele disse-me “aprecio Carlo de 87. A equipa trabalhou ardua-
da nos estúdios Bertone. ajuda ao meu amigo Gianpaolo Dallara, tudo o que têm feito nos ralis porque sei mente. Nesse verão de 86, ninguém gozou
Além do design indiscutivelmente des- experiente preparador, que nos ajudou que têm obtido sucesso gastando muito férias. Acabámos por vencer a prova de
lumbrante e futurista, quais eram os prin- a desenvolver a suspensão. Da parte da pouco dinheiro comparando com as ou- estreia e o Lancia Delta dominou os ralis
cipais atributos do Stratos? Ferrari, além do motor, recebemos tam- tras marcas”. Respondi-lhe: “fico muito durante seis anos, o que teve também um
O facto de ter sido concebido para com- bém a cooperação do engenheiro Mike satisfeito por reconhecer o trabalho que enorme significando para mim.
temos feito. Temos um projeto para fazer O que mudou após a fusão entre a Fiat e
um carro especial e precisamos do seu a Lancia em 1977 e o nascimento da ASA
motor”. E ele disse-me “ok, irão usar o (Ativita Sportiva Automobilistica)?
bloco do motor do Dino e podem modifi- Basicamente, a grande mudança deu-se
no tipo de carros que devíamos por a cor-
rer. Na altura da fusão, corríamos com o
Stratos e a Fiat disse-me que teríamos de
correr com um modelo mais comercial,
nesse caso o Fiat 131 Abarth. O Stratos era
um modelo construído a pensar nos ralis,
ao contrário do 131 Abarth. A facilidade de
acesso à mecânica do Lancia não estava
presente no Fiat e isso tornou as coisas
mais difíceis mas conseguimos, apesar
de tudo, levar o carro às vitórias também.
Quando a Audi deu a conhecer ao mundo
o Quattro, imaginava quão revolucioná-
rio viria a ser o carro alemão nos ralis?
Confesso que estava bastante receoso
com o que o carro pudesse representar
porque, se o conceito vingasse, o que veio
a acontecer, nós não tínhamos uma tec-
nologia semelhante para lhe fazer fren-
te. Percebi rapidamente que o carro seria
uma fórmula vencedora mas, na impos-
sibilidade de responder da mesma forma,
tive de arranjar uma solução que, apesar
de ter apenas 2 rodas motrizes, teria de
fazer frente ao Audi Quattro.
E assim nasceu o Lancia Rally 037…

>> autosport.pt 35

O objetivo era conceber um carro sufi- Fiorio e Munari, Era preciso fazer tudo o que estava ao Quando fundei a equipa, eramos tão pou-
cientemente rápido e eficaz para impe- uma dupla que nosso alcance para anular a diferença cos que eu acabava por ajudar os mecâ-
dir o domínio do Quattro. E foi com essas tantos sucessos para os Audi Quattro. Nos ralis em terra, nicos a fazer o que fosse preciso no fi al
premissas que nasceu o Lancia 037 um ofereceu à Lancia quando um Lancia era o primeiro carro dos troços. Esse espírito de ser parte de
carro com motor central, muito mais leve a partir, dificilmente vencíamos o troço uma equipa, de ser mais um, veio desses
e manobrável que o Audi. Com o 037, ga- Fiorio observando porque apanhávamos a estrada bastan- tempos e ajudou-me ao longo dos anos
nhámos à Audi o mundial de marcas de 83 o seu “menino”, o te escorregadia, com terra solta e estáva- a ter uma relação próxima e aberta com
o que foi, como já disse, um dos maiores revolucionário Lancia mos claramente em desvantagem por ter mecânicos, engenheiros e pilotos.
feitos da equipa. Depois, chegámos a um Stratos, durante o um carro com duas rodas motrizes. No Não acha que a Lancia reagiu tarde a co-
ponto em que percebemos que não po- Monte Carlo de 77 Sanremo de 83, liderávamos o rali e pedi locar um carro de quarto rodas motrizes
díamos lutar mais pelas vitórias sem um a outros pilotos que pegassem nos mule- nas mãos dos seus pilotos?
carro de tração total e tivemos de apren- vestido à civil, à autoridade que gere as es- tos e percorressem, na véspera, os troços Não tenho a certeza disso. Quando a Audi
der os segredos dessa tecnologia para o tradas e comecei a reclamar, indignado, que iriam ser disputados, para cima e para surgiu, nós pura e simplesmente não po-
desenvolvimento do Delta S4. dizendo que acabara de percorrer aque- baixo, no sentido de limparem a estrada. díamos reagir porque não tínhamos essa
Como foi construída a vitória da Lancia la estrada completamente coberta de Sempre procurei trazer algo de novo, que tecnologia. Tivemos de pensar numa al-
sobre a Audi no campeonato de marcas neve, que havia arriscado a minha vida nos desse vantagem. Fomos os primeiros a ternativa com duas rodas motrizes que
em 1983? e que não era admissível a estrada estar usar rádio para estabelecer comunicação nos permitisse continuar a lutar pelas
O triunfo nesse campeonato resultou de aberta ao trânsito sem ter sido limpa. Eles entre o diretor da equipa, os mecânicos e vitórias e isso foi possível durante algum
uma conjugação de fatores, começando mandaram então o limpa-neves e o troço os pilotos. No início, era difícil colocar esta tempo. Estivemos um, dois anos sem ter
pelo facto de praticamente não ter nevado ficou praticamente limpo, o que era uma ideia em prática mas, depois, todos os ou- carro para vencer até conseguirmos, no
no Rali de Monte Carlo. Lembro-me que, enorme vantagem para o Lancia 037 já tros nos seguiram. A Lancia foi também a fi al de 85, ter fi almente um carro que
na véspera do arranque do rali, percorri que, em asfalto seco, o carro fazia valer primeira equipa a mudar de pneus a meio nos possibilitasse regressar às vitórias.
todos os troços e havia apenas um com o motor central e o menor peso para ser de um troço com um sistema semelhan- Foi um dos pais do Grupo B e um dos gran-
muita neve. Quando acabei de fazer esse mais rápido que o Quattro. E assim ven- te ao que é usado na F1. Especialmente des responsáveis por aquela época de
troço, retirei o casaco da Lancia, dirigi-me, cemos o Monte Carlo com o Walter Röhrl. em ralis como o Monte Carlo, fazia todo ouro que marcou a história do mundial
O ano começava bem… o sentido porque as condições variavam de ralis. Qual era a sua visão quando pro-
Há várias histórias de ideias que a Lancia ao longo do troço e podíamos começar moveu o nascimento dessa categoria?
punha em prática para ganhar segundos o troço com pneus sem pregos e depois O Grupo B devia ser a era mais competiti-
preciosos, compensando assim a des- mudar para pneus com pregos antes de va de sempre na história dos ralis. Com o
vantagem face à tração integral. Como chegar à parte coberta de neve. O tem- seu nascimento, o Mundial de Ralis devia
aquela em que mandou os muletos per- po que ganharíamos compensaria lar- atrair mais construtores e conhecer lutas
correrem, na véspera, as classificativas gamente os 30 a 35 segundos perdidos sem precedentes, não só entre os pilotos
do Sanremo de modo a varrerem a es- na mudança de pneus. Inspirei-me na F1 mas também entre os carros.
trada, ou a mudança de pneus em pleno mas tive que idealizar uma máquina que Na sua opinião, a que se deveu a enorme
troço do Monte Carlo, com equipamentos removesse quatro parafusos em simul- popularidade que os ralis tinham nes-
semelhantes aos da F1… tâneo. Inovámos uma vez mais quando sa época?
passámos a ter um médico permanente Foi uma era absolutamente espetacular.
durante as provas. Um especialista em Se formos hoje a um rali do campeonato
medicina desportiva [Ben Bartoletti] que do mundo, vemos público mas não terá
cuidava dos pilotos, olhava para o que eles mais do que um terço dos espectadores
comiam, a preparação que deviam fazer, que existiam naquela altura. Era uma
as horas de sono, etc. Quando íamos para loucura e essa popularidade perdeu-se
um rali, levávamos, no mínimo, 40 pes- no momento em que os monstros foram
soas e era normal uma delas adoecer. banidos. Nessa altura, os pilotos corriam
Quando passámos a ter um médico, os três ou quatro dias sem interrupção, os
elementos das outras equipas vinham mecânicos estavam em constante movi-
ter connosco quando estavam doentes mentoparaprestaremassistêncianofi al
e pediam para o nosso médico os ver. E das classificativas, exigindo uma grande
eu avisava: “desta vez passa mas, para organização para montar essa operação.
a próxima, a tua equipa tem de trazer o E os espectadores assistiam a isto tudo,
seu próprio médico” (risos). Estas ideias, faziam parte do espetáculo, tudo se pas-
revolucionárias na altura, foram deter- sava à sua frente. Hoje, há maior distan-
minantes para o nosso sucesso. ciamento, os carros são assistidos num
Consta que essas ideias vinham da sua parque ao qual os espectadores não têm
mente. Estava sempre a pensar nestes acesso e não há contacto com os pilotos
pequenos detalhes que podiam fazer a ou com os carros. Tudo isso contribuiu
diferença? para a quebra da popularidade dos ralis.
Era a minha maneira de estar no desporto. Oficialmente, os carros de Grupo B atin-
Liderei equipas durante 30 anos e todas giram, no último ano em que correram,
as noites, antes de adormecer, dedicava qualquer coisa como 500 Cavalos. A es-
uns minutos a pensar no que podia fazer calada de potência não se ficava por aqui?
no dia seguinte para ser mais rápido que No caso do Delta S4, o carro tinha dupla
os nossos concorrentes. E, durante a noite, sobrealimentação, ou seja, o compres-
tive várias ideias que, isoladamente, po- sor volumétrico que nos dava potência a
diam representar pouco mas, todas juntas, baixas rotações e o turbocompressor que
traduziam-se em vencer campeonatos. nos dava potência a altas rotações. O mo-
A sua formação em Ciência Politica terá tor tinha cerca de 500 cavalos e resultava
certamente ajudado a lidar com o lado de um conceito fantástico, bastante avan-
político do desporto motorizado. Como çado, desenvolvido por Claudio Lombardi,
se descreve enquanto líder? que nos permitia ter força em baixos re-
Era um homem da equipa, era um deles. gimes, onde era preciso ter o máximo de

36

Fiorio e Attilio Bettega, um
piloto viria a perder a vida na

Volta à Córsega, em 1985

No mundial de
endurance, Cesare
Fiorio levou a Lancia
ao sucesso e recolheu
ensinamentos que viria
a aplicar nos ralis

Walter Röhrl, em 1980, no Rali da Argentina que Com o 037, a Lancia cometeu a proeza de bater o pé ao poderoso
haveria de vencer ao volante do Fiat 131 Abarth Audi Quattro. Aqui, no Rali de Portugal de 84 com Attilio Bettega

tração, com o turbocompressor que nos lando, preferia que os ralis continuassem, Vatanen também havia tido um grave que aconteceu meses após a prova, em
dava a potência para as zonas rápidas. Mas que o Grupo B não fosse banido, que tudo acidente na Córsega e o seu carro rebo- dezembro. A Peugeot foi desclassificada
a escalada tecnológica não se ficava por decorresse dentro da normalidade. Tinha, lou 300 metros pela ravina. Se olharmos por usar saias ilegais. Mas quando isso
aqui. Estávamos constantemente a tes- na minha opinião, o melhor carro do cam- para estes acidentes, concluímos que aconteceu, a Lancia já liderava a prova,
tar evoluções e estávamos a terminar o peonato e, repito, desportivamente falan- a decisão foi a mais logica. Eram carros portanto, essa desclassificação em nada
desenvolvimento de um motor com 600 do, queria continuar a lutar com aquela demasiado rápidos. Em 2,9 segundos, contribuiu para a vitória da Lancia e a
cavalos que nunca chegou a ser utilizado arma. Mas, olhando para o lado huma- iam dos 0 aos 200 Km/h, tinham pres- Peugeot nunca venceria a prova. Meses
porque, entretanto, o Grupo B foi banido no da questão, e com o distanciamento tações que se aproximavam das da F1 e depois de termos celebrado a vitória e o
e concentrámos esforços no desenvolvi- que nos é possível ter agora, digo que a isso era demasiado para competirem em título de Alén, a FISA, através do seu pre-
mento do carro de Grupo A. sucessão de acontecimentos foi aquela estradas normais. sidente, o francês Jean Marie Balestre,
Acha que, se tivesse estado em Portugal, que tinha de acontecer. Entráramos num Como geriu a equipa as emoções resul- cancelou os resultados do Sanremo ofere-
em março de 86, no dia do acidente de patamar perigoso de velocidade em es- tantes das mortes de Henri Toivonen e cendo o título a Juha Kankkunen. Foi um
Joaquim Santos na Lagoa Azul, teria con- tradas abertas repletas de gente e isso Sergio Cresto? grande favor que Balestre fez à Peugeot.
vencido os pilotos da Lancia a manterem- representava um risco que teve de ser Na equipa ficámos verdadeiramente cho- Como era a sua relação com Jean Todt?
-se em prova no Rali de Portugal? reconsiderado. cados com a tragédia. Foi um momento Acho que ambos tínhamos respeito pelo
Devo dizer que fiquei surpreendido com Pensa então que o fim do Grupo B foi a muito difícil para todos. A equipa levou outro mas não éramos amigos.
a reação dos pilotos. Eu não estava em decisão acertada? tempo a reencontrar-se. Não foi fácil, mas Após o anúncio do fim do Grupo B, a
Portugal e portanto é difícil dizê-lo com Do ponto de vista desportivo, não era conseguimos. A equipa uniu-se de tal Lancia considerou abandonar a com-
certeza mas ainda hoje penso que, se esti- uma boa decisão para a Lancia mas eu forma que tudo fez para conseguir che- petição?
vesse presente, teria convencido os pilotos não era contra o fim do Grupo B, apesar gar ao título nesse ano. E tanto é que o Não porque os estudos demonstravam
da equipa a continuar em prova. Eles nor- de isso representar um problema para Markku Alén conseguiu sagra-se cam- que as vitórias da Lancia vendiam carros
malmente ouviam-me e, por isso, talvez mim porque tinha de arranjar um mo- pão do mundo. Mas, depois, o Balestre, e, comercialmente falando, a situação da
os tivesse convencido a mudar de ideias. delo para competir em Grupo A, produ- então presidente da FISA, anulou os re- marca estava bem, em grande parte de-
Mais de trinta anos passados sobre esse zir 5000 unidades e desenvolver o carro sultados do Sanremo e o Alén viu o título vido ao envolvimento na competição. A
fatídico dia, como vê a tomada de posição de competição. Mas 1986 foi um ano com ser-lhe retirado. questão que se colocou foi qual modelo a
dos pilotos oficiais que culminou com a muitos acidentes, perdemos Toivonen e Na sua opinião, porque se diz que, no Rali escolher para prosseguir na competição.
decisão de não continuarem em prova? Cresto, houve o acidente de Sintra com o Sanremo de 1986, a política sobrepôs-se Acabou por ser o Delta, um carro muito
É um pouco como a história do fim do piloto português [Joaquim Santos] e o de ao desporto? pouco desportivo mas que tinha já uma
Grupo B. Na altura, desportivamente fa- Marc Surer na Alemanha. Um ano antes, Não foi tanto no rali mas sobretudo pelo versão de quatro rodas motrizes e que foi

O Rali Sanremo de 37

> > a u t o s8p6peflooaipmroatlér.cmpaidctoa

desclassificação
da Peugeot. Alén

venceu com o
Delta S4 mas, mais

tarde, os pontos
da vitória seriam

anulados

Fiorio e aquele que foi, para
si, o melhor piloto de ralis
que conheceu: Henri Toivonen,
no RAC de 1985

Toivonen no RAC de 85, prova que Cesare Fiorio, Giorgio Pianta e Ninni Russo, três grandes
marcou a estreia do Delta S4 no obreiros do sucesso do grupo Fiat na competição
campeonato do mundo e que viria a ser
vencida pelo finlandês

evoluindo ao longo dos anos dando-nos rerem riscos e chegarem os dois ao fi al. a Turim para que o Alén ganhasse o rali… potencial de um carro de Grupo B. Mais
as alegrias que sabemos. Para não ter de impor qual dos dois ganha- No fi al de 1991, a Lancia decide aban- nenhum outro conseguiu fazê-lo, faltava
Porque se tornou a Lancia imbatível na ria,disseentãoquequemfi esseomelhor donar oficialmente os ralis. Na altura, sempre qualquer coisa, mas o Henri era
segunda metade dos anos 80? tempo na primeira passagem pelo Col du concordou com a decisão? fantástico e o único a explorar verdadei-
Porque tínhamos uma fantástica equipa Turini, ganharia a prova. Biasion venceu Não concordei com a decisão, mas, na al- ramente os limites do carro. Conhecia-o
de engenheiros, de mecânicos e de pilo- e, de acordo com o combinado, abrandou tura em que foi tomada, infelizmente para desde miúdo e tínhamos uma excelente
tos, ou seja, eu tinha tudo o que um chefe o ritmo, seguindo as minhas instruções. a Lancia, eu já havia deixado a equipa e relação. Quando criei a equipa, contratei
de equipa pode desejar. Foi o resultado de Kankkunen continuou a andar depressa estava na F1 ao serviço da Ferrari, pelo o seu pai, Pauli Toivonen e sempre que
muitos anos de experiência, muito tempo e ultrapassou o Biasion, violando o acor- que não pude intervir. Paolo Cantarella este vinha a minha casa, trazia o pequeno
de trabalho conjunto, muita comunica- do. Fui ter com ele e disse-lhe que teria havia chegado à direção do Grupo Fiat Henri que, na altura, teria uns dez anos.
ção entre todos, o que nos permitia an- de abrandar e deixar o Biasion passar. Ele e decidiu dessa forma. Eu sempre achei O Pauli dizia-me com orgulho que o seu
tever e resolver qualquer problema que criou uma grande história à volta disso. que havia sido uma má decisão porque fil o iria tornar-se um grande piloto e a
pudesse surgir. Mais tarde, falámos, ele compreendeu a a Lancia dependia da participação nos verdade é que isso veio a acontecer. O
Apesar desse domínio, nem tudo foram situação e ficámos com uma excelente ralis para vender carros e os números Pauli ensinou-lhe muito do que sabia e
facilidades para um diretor de equipa. relação. Aliás, Kankkunen foi campeão mostravam isso. o Henri aprendeu muito rapidamente,
Logo a abrir a era do Grupo A, o Rali de nesse ano e, após dois anos na Toyota, Ao longo da sua vida, lidou com alguns tornando-se o melhor de todos os pilo-
Monte Carlo de 87 foi marcado pela po- regressou à Lancia para ser novamente dos melhores pilotos do mundo. Aliás, tos que conheci.
lémica entre os pilotos da Lancia. Na sua campeão do mundo. procurava ter sempre os melhores na sua Depois de Toivonen, gostava que me fa-
opinião, Kankkunen tinha motivos para Sobressaía na equipa Lancia os recur- equipa. O que distingue um bom piloto de lasse um pouco de outros pilotos que
estar descontente com a situação? sos que tinha disponíveis para atingir os um grande piloto? marcaram a história da equipa. Como é
É uma história muito estranha. seus objetivos. É disso exemplo a forma Podes ter um bom piloto em asfalto e um que Cesare Fiorio via cada um dos seus
Kankkunen havia deixado a Peugeot e como Alén venceu o Rali de Portugal de fantástico piloto na terra ou na neve mas pupilos? Começo por Sandro Munari…
juntara-se a nós mas talvez a sua adap- 87, após serem enviados mais amorte- um grande piloto é aquele que consegue Curiosamente, quando começou, o Munari
tação à equipa não tivesse sido imediata. cedores para a última etapa. vencer em todas as condições e respeita não era piloto. Era muito novo e colabo-
Ele achava os italianos um bocado estra- A missão da equipa era criar todas as con- o carro, sem o destruir. rava connosco, fazendo também alguns
nhos. No Rali de Monte Carlo, Biasion e dições para que os pilotos chegassem à Quem foi, para si, o mais talentoso de ralis como navegador. Por volta de 1965,
Kankkunen estavam à frente com uma vitória. Esse exemplo mostra que fazía- todos? eu tive de escolher os pilotos que iriam
grande vantagem para o terceiro e eu mos tudo o que estava ao nosso alcance. Nos ralis, o melhor foi Henri Toivonen. Foi correr pela equipa e então mandei uma
achei que deviam abrandar para não cor- Nesse caso, até ir buscar amortecedores o único que conseguir aproveitar 100% do série de candidatos para o Rali dos 1000

38 Em 1988, Miki
Biasion ofereceu
Com o advento do Grupo A, a Lancia iniciou um
período de domínio absoluto. Aqui, Markku Alén à Lancia a tão
voando para a vitória no Rali de Portugal de 1987 desejada vitória

no Rali Safari

Ainda hoje, Fiorio é um convidado
muito apreciado nos eventos
dedicados aos clássicos

Fiorio, na cerimónia do pódio do GP de Portugal em
1990, ao lado de Senna, Mansell, Prost e Balestre

lagos, com o objetivo de ver o andamen- estava o carro. Uma vez, chegando per- pletamente ileso e correu a pedir auxílio reconhecer tudo aquilo que ele fez pela
to de cada um e de escolher entre eles. O to dos mecânicos, disse: “Rumore meta- porque o Bettega estava ainda no carro. equipa nos anos em que esteve na Lancia.
Munari participou também e, apesar da lo come tutto roto!” Ele queria dizer que Kankkunen foi o único fin andês a sa- Deixei propositadamente para o fim
sua inexperiência, ridicularizou os outros o carro fazia um barulho metálico como grar-se campeão do mundo ao serviço Alessandro Fiorio…
pilotos ao ser muito mais rápido que eles. se estivesse tudo a partir-se (risos). Era da Lancia… O Alessandro teve muito pouca sorte por
Era um piloto fantástico. A vitória que ob- impossível ficar indiferente ao Markku e É verdade. Em 1986 foi campeão do mundo ser fil o de quem é. Ele ganhou tudo nas
teve na Córsega em 67 foi o primeiro gran- ele colhia a simpatia da equipa por causa na Peugeot, com um carro de grupo B e, no categorias secundárias mas depois, quan-
de êxito da equipa e depois, o triunfo no dessa forma de ser, aliada ao facto de ser ano seguinte, na Lancia, com uma equi- do chegou à principal, por uma questão de
Monte Carlo de 72 veio a carimbar esse um piloto rápido em todos os tipos de piso. pa nova, num carro novo completamen- princípio, não o coloquei na equipa Lancia.
valor internacional, confir ado, depois, Apesar de o seu temperamento ter pou- te diferente daquele que havia conduzido, Qualquer outro piloto, com a carreira que
de forma plena, ao volante do Stratos. Foi co a ver com os latinos, a verdade é que tornou-se novamente campeão. Isso diz ele havia tido até aí, teria entrado mas eu
um dos melhores pilotos que tive. Walter Röhrl também se deu bem na muito da sua versatilidade e da sua capa- não me sentia confortável em pegar no
Porque era Markku Alén tão acarinhado equipa… cidade de adaptação. Era um verdadeiro meu próprio fi ho, colocá-lo na equipa
pelos italianos? Röhrl era um piloto de exceção. Ganhou o campeão do mundo. Eu nunca me con- principal e pagar-lhe para correr. Hoje, é
O Markku era um bom tipo, de quem me Monte Carlo com carros de tração traseira, tentei em ter apenas pilotos bons. Tinha comum isso acontecer mas eu não o fize
tornei amigo. Foi um dos pilotos da Fiat que depois com um carro com motor central de ter os melhores e os pilotos também porissodigoqueeleteveazarporserfil o
eu herdei após a fusão, quando passei a e, por fim, com um modelo de tração to- desejavam correr pela Lancia pelo que de Cesare Fiorio. O Alex acabou por ir para
liderar o departamento de competição tal e isso diz muito das suas qualidades. se obtinha a conjugação perfeita entre Ford e eu senti-me aliviado porque, de al-
do grupo. Durante os muitos anos em Qualquer volante que lhe colocassem nas os melhores pilotos e a melhor equipa. guma forma, ele conseguira prosseguir a
que esteve connosco, o Markku condu- mãos, ele retirava o melhor desse carro. Com Biasion, os tifosi viram, fi almen- carreira mas, ao mesmo tempo, frustrado
ziu vários carros e foi sempre competi- Era absolutamente um piloto de topo. te, um italiano sagrar-se campeão do pelo facto de saber que, na minha equipa,
tivo, o que diz bem do seu talento. O seu Pensa que Attilio Bettega poderia ter sido mundo de ralis… ele teria condições para vingar.
temperamento dava-lhe carisma e tor- campeão do mundo? Biasion foi campeão do mundo por duas Houve algum piloto que gostasse de ter
nou-se uma figura bastante popular na Nunca saberemos. Bettega era um piloto vezes e, além disso, conseguiu um feito contratado mas que tal não se tenha con-
equipa. Esta popularidade era ajudada jovem e rápido mas tinha muitos aciden- muito importante para equipa: a primei- cretizado?
pelo facto de ele falar um italiano muito tes. O acidente que lhe retirou a vida foi ra vitória no Safari. Havíamos tentado Por norma eu conseguia ter os pilotos que
próprio e, quando chegava à assistência muito estranho. O embate foi totalmen- várias vezes sem êxito e foi com ele que desejava mas, nos ralis, houve um piloto
no fi al dos troços, tinha sempre uma te no seu lado e ele não resistiu. Já o seu o conseguimos. Era um piloto muito rápi- excecional e muito inteligente que nun-
maneira engraçada de descrever como copiloto, Maurizio Perissinot, saiu com- do, equiparável a Kankkunen e só posso ca chegou a correr na nossa equipa: Ari

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39

Vatanen. Tínhamos uma relação muito tempos conferiam maior personalidade Em cima, Cesare boas hipóteses de vencer a corrida e de
boa mas a oportunidade nunca surgiu aos ralis. As assistências eram feitas no Fiorio com o seu filho ser campeão. Mas isso também estava na
e talvez tivesse sido o único de que tive meio da estrada, havia contacto dos es- Alessandro. mente de Senna. Ele também sabia que
pena. Depois, se quisermos falar de F1, pectadores com os carros, com os pilotos, Ao lado, na sala museu tinha de sair à frente na primeira curva
tenho de referir Ayrton Senna. Mas, nes- com os mecânicos e hoje isso perdeu-se, da Masseria Camarda e, partindo atrás do Prost, tudo fez para
te caso, não se trata de ter pena por não contribuindo para um maior afastamento impedir que o Prost saísse à frente, ati-
o ter contratado porque eu assinei um das pessoas face aos ralis. Fabi ou De Cesaris, ganhámos duas vezes rando-se para cima do Ferrari. Certo é
contrato com o Ayrton que foi, depois, Gostaria de ter tido Loeb ou Ogier a correr o Mundial de Endurance e, embora se tra- que, um ano depois, Senna viria a admitir
travado pela Ferrari porque já tínhamos na sua equipa? tasse de uma equipa pequena, permitiu- que fez uma manobra premeditada para
o Alain Prost. A equipa optou por manter Tenho especial admiração por Loeb. Era -nos aprender muita coisa para usar, de- se vingar do título que Balestre lhe havia
o Prost e, perante a recusa em contratar muito rápido, não cometia erros, respei- pois, nos ralis. Dou um exemplo: nos ralis retirado no ano anterior. Apesar de não ter
o Senna, deixei a Ferrari. tava o carro, não abusava da mecânica e ninguém ligava ao consumo de combus- sido campeão, achei a experiência muito
Ter os melhores pilotos na mesma equipa conseguia ser mais rápido do que todos tível. Na endurance nós levávamos isso interessante. Depois disso, dediquei-me
tem um custo associado que não é ape- os outros. Se ele tivesse corrido uns anos em conta e fazíamos contas para calcu- a outra grande paixão, os barcos, e esta-
nas fi anceiro. Refi o-me à gestão dos antes, seria certamente um piloto que eu lar o combustível necessário de modo a beleci o recorde da travessia do Atlântico,
egos e das lutas entre si… gostaria ver a correr pela Lancia. evitar peso desnecessário. Passámos a que ainda hoje não foi batido. Quando
Não me lembro de ter dito a algum pi- Por que motivo a Itália não está envolvi- fazer o mesmo nos ralis e conseguíamos regressei, fui convidado pela Ligier para
loto que teria de deixar o outro vencer. da nos ralis hoje em dia? reduzir 50 kg ao peso do carro. Muitas ou- liderar a equipa e consegui nessa altu-
Claro que tive situações em que, para Diria que temos bons pilotos mas não te- tras foram aproveitadas e isso foi muito ra uma das vitórias mais gratificantes
assegurar a vitória, pedi aos pilotos para mos oportunidade de correr num bom importante para nos mantermos no topo da minha passagem pela F1, no Grande
abrandarem, como aconteceu no Monte carro. As pessoas estão muito focadas dos ralis durante tantos anos. Prémio do Mónaco de 96, com o Olivier
Carlo de 87 mas não decidi quem iria na Ferrari e, por consequência, só veem O que faltou para obter na F1 o sucesso Panis. A Ligier era uma marca do fundo
vencer. Avisei os pilotos que quem fosse F1. Nos ralis, falta um construtor italiano que conseguiu nos ralis ou na endurance? do pelotão, debatia-se com problemas
mais rápido no Turini seria o vencedor. que dê oportunidade aos pilotos de valor Fiz 35 Grandes Prémios na F1 com a fi anceiros e aquela vitória foi um feito
O mesmo se passava na luta pelo cam- que a Itália tem. Ferrari. Desses, ganhámos 9 e fomos marcante para todos na equipa.
peonato. Nunca havia favoritos à parti- Quão importante foi a experiência acu- 26 ao pódio. Não se pode dizer que seja De todos os anos que dedicou à competi-
da. Quem ganhasse mais e pontuasse mulada nos ralis quando se mudou para um mau resultado. Quando cheguei, a ção automóvel, de que sente mais falta?
mais, seria campeão. as pistas e para as provas de endurance? Ferrari atravessava um momento de fal- Sinto falta de ser mais novo para po-
Pensando no que se passou no Rali Foi ao contrário. Na altura, fui a favor da ta de competitividade. Vencera no Brasil, der continuar envolvido na competição.
Sanremo de 1976, provavelmente participação nas corridas de endurance com o Mansell, logo na prova de aber- Durante anos foi parte integrante da mi-
Waldegård teria tido alguma dificulda- porque os protótipos eram mais sofist - tura mas, depois, estivemos dez corri- nha vida. É costume dizer-se que a pior
de em concordar com essa teoria. O que cados e isso permitiu-nos transferir co- das sem ver a bandeira de xadrez, fruto doença que pode atingir quem está na
aconteceu na última noite da prova ita- nhecimento e tecnologia das pistas para de vários problemas mecânicos. Foram competição é ficar em segundo. A procu-
liana? os carros de ralis. Recorrendo a pilotos tempos enriquecedores e só não fomos ra pela vitória, o não querer ficar doente,
Nesse ano, Munari e Waldegård, ambos italianos como Patrese, Alboreto, Nannini, campeões por causa do desfecho que ou seja, em segundo, tudo isso fez parte
ao volante de um Lancia Stratos, discu- todos conhecemos no Japão, em 1990. de todos aqueles anos e tenho pena que
tiam o rali taco a taco e estavam clara- O carro já era fiável e Prost estava mais a idade avance e já não permita ter con-
mente à frente de todos os outros. Pedi- rápido do que Senna nesse fim- e-se- dições para continuar.
lhes então que abrandassem para não mana, tinha feito melhores tempos no É um dos líderes mais bem-sucedidos da
corrermos riscos e avisei-os de que iria warm-up e sabíamos que, se ele saísse história do desporto automóvel e também
deixá-los dar tudo por tudo na última à frente na primeira curva, teria muito um dos mais carismáticos. Qual é segre-
classificativa. Quem fosse aí o mais rá- do do sucesso?
pido, seria o vencedor. À entrada para o Não há segredos, exceto sabermos de
derradeiro troço, o Waldegård tinha qua- quem nos devemos rodear. Percebermos
tro segundos de vantagem e eu pedi-lhe quem poderá ser um bom engenheiro, um
que, quando recebesse ordem de partida, bom piloto, um bom eletricista e juntar-
esperasse quatro segundos e só partisse mos a isso o facto de, quando, à noite va-
depois, garantindo assim que ambos os mos dormir, dedicar uns minutos a pensar
pilotos arrancavam completamente em- como podemos ser mais competitivos no
patados. O Waldegård acabou por fazer o dia seguinte. Foi isso que fiz durante todos
mesmo tempo que o Munari, ganhando estes anos…
o rali por quatro segundos de vantagem
e deixando o Munari bastante chateado
por não vencer o Sanremo. Mas ambos
tiveram as mesmas hipóteses.
Segue hoje em dia o WRC?
Para ser honesto, sigo mais o campeo-
nato italiano do que o WRC. O WRC per-
deu muito do seu carácter competitivo.
Os ralis são muito mais curtos, os pilotos
fazem três troços de manhã, regressam
à base onde um chef lhes prepara o al-
moço e disputam mais três troços à tarde
regressando ao hotel onde dormem toda
a noite. Isso faz com que as provas sejam
bem diferentes das que conhecemos no
passado, em que se corriam de dia e noi-
te, com assistências à beira da estrada no
fi al de cada troço enquanto os pilotos
comiam uma sandes à pressa antes de
arrancarem para o troço seguinte. Esses

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KYMCO

» SUPER DINK 350i

UM MOTOR SURPREENDENTE

A Super Dink 350i é um ótimo exemplo de maturidade da
Kymco como marca. Uma scooter sem complexos, com muito
para oferecer, e com capacidade de ombrear com os grandes.
Rolámos com esta máquina num crescendo de surpresa, pela
sua competência, estilo e honestidade

Pedro Alpiarça imponente, volumosa mas acutilante, e moderna, perfeitamente contextual e médias) e temperatura exterior. A
[email protected] os ângulos escolhidos para a esculpir com as restantes linhas. interação com o mesmo é pouco segura,
dão-lhe a desportividade necessária No painel de instrumentos é tudo bas- obrigando a retirar a mão do guiador
U ma marca que fez a sua primei- para corresponder às suas prestações. tante simples e prático. Apresenta um para o operar.
ra scooter em 1970 deve saber Todos os pormenores exalam uma pre- velocímetro (em km/h e milhas, para Temos dois compartimentos (sem
o que faz. A Kymco ganhou es- sença forte, desde o grande vidro frontal aqueles que gostariam de ir a terras chave) para guardar pequenos obje-
paço no nosso mercado, sem (não regulável) a terminar nos faróis de sua majestade), um conta rotações tos, sendo que num deles existe uma
preconceitos na aposta e com duplos (de halogéneo com mínimos em e o computador de bordo com toda a prática ficha USB para carregarmos o
orgulho nos seus seguidores. led), nas carenagens com indicadores informação necessária para nos faci- telemóvel. A boca do depósito de com-
de direção embutidos (em led, muito litar a vida, odómetro, temperatura do bustível encontra-se bem acessível,
IMAGEM,QUALIDADE E EQUIPAMENTO bem enquadrados), terminando na sec- motor, nível de combustível, voltagem para não perdermos muito tempo antes
A Super Dink 350i tem uma imagem ção traseira, com uma estética fluida da bateria, consumos (instantâneos de enfrentar a cidade.

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GOSTÁMOS A MELHORAR

CAPACIDADE MOTRIZ SUSPENSÃO TRASEIRA

ESTÉTICA ESPAÇO DEBAIXO DO ASSENTO

RELAÇÃO PREÇO-QUALIDADE

Debaixo do assento, apenas um capa- mostra-nos o seu pacote dinâmico coisa, é notório o ganho de aceleração dianteira, com uma boa leitura de piso
cete integral e um aberto encontrarão com orgulho, na verdade, este é o seu neste bem esforçado motor. Estas re- garantindoumaboamargemdeconfiança
o espaço necessário para se quedarem ex-libris, o que a faz brilhar perante a cuperações permitem-nos fugir de para as inserções em curva mais afoitas.
seguros, gostaríamos de um pouco concorrência. Comecemos pela parte situações de trânsito mais complicadas Não adorámos a brusquidão do sistema
mais de capacidade neste sentido, a melhor. O seu motor de 320cc com 29 cv (a Kymco não é uma moto pequena e traseiro, nos ressaltos mais pronunciados
competição consegue-o. Luz de pre- é fantástico na maneira como sobe de requer certezas nos azimutes tirados), notou-se alguma falta de compostura (o
sença e o já habitual amortecedor fa- regime. Sabem, quando estamos a meio bem como velocidades de auto estrada propulsor desta moto coloca-nos facil-
cilitam-nos a logística. punho numa scooter e, na incapacidade perfeitamente enquadradas com a faixa mente em situações em que dependemos
de “meter uma abaixo”, ficamos resig- mais à esquerda. Em nenhuma altura mais da fé do que da engenharia…), e em
CONDUÇÃO (MOTOR, SUSPENSÕES, nados ao marasmo que vem a seguir? notámos exagero nos consumos (mé- curvas de maior apoio o quadro brin-
TRAVAGEM E ERGONOMIA) Pois aqui, ao trancar acelerador, senti- dias a rondar os 4l/100km). da-nos com umas oscilações típicas de
Neste capítulo, a Kymco Super Dink mos que aparece sempre mais qualquer As suspensões cumprem, sobretudo a quem está a pedir demasiado ao conjunto.

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CONCORRÊNCIA HONDA FORZA 300 SYM CUISYM 300 Felizmente temos uma travagem po-
tente, as suas pinças triplas a morde-
YAMAHA XMAX 300 25.1 CV 27.3 CV rem o disco em pétala oferecem-nos
um total controlo sobre o dissipar da
28 CV POTÊNCIA POTÊNCIA velocidade que ganhámos (já vos men-
cionámos o motor?). Não foram raras
POTÊNCIA 182 KG 198 KG as vezes em que o ABS foi testado. O
surpreendente e generoso assento,
179 KG PESO PESO na sua consistência e geometria,tem
um fácil acesso ao solo e nunca nos
PESO 5 825€ 5 549€ sentimos desconfortáveis e com falta
de apoio. Em boa verdade, a ergonomia
5 995€ PREÇO BASE PREÇO BASE da Super Dink é excelente, com um
casar perfeito entre postura desportiva
PREÇO BASE e capacidade rolante.

CONCLUSÃO
Com um predicado simples, baseado
na sua capacidade motriz, esta Kymco
irá surpreender todos aqueles que a
experimentarem. Tem postura de ma-

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xi-scooter, prestações de referência e FT/ F I C H A T É C N I C A
uma qualidade de construção que não
a envergonha em nada em relação ao 321 CC
resto do mercado. Se pensarmos nos
tempos conturbados em que vivemos, CILINDRADA
onde o gasto das deslocações citadi-
nas (e o tempo associado às mesmas) 28.5 CV
preocupa o orçamento familiar, a Super
Dink revela-se uma opção muito válida. POTÊNCIA
Extremamente competitiva em relação
às rivais, arriscamos dizer. 12.5 L
Os seus 5199€ são carregados de diver-
são, competência e estilo (porque não?), DEPÓSITO
e revelam a inteligência daqueles que
sabem o que querem sem olharem para 192 KG
o vizinho. Até porque, provavelmente…
só o vão ver nos espelhos. A Kymco PESO
Super Dink 350i custa 5199 euros e
pode ser escolhida em 4 tonalidades 5 199€
de pintura: Preto, Cinza, Branco ou
Vermelho. PREÇO BASE

MOTOR MONOCILÍNDRICO CICLO 4 TEMPOS
CILINDRADA 321 CC POTÊNCIA MÁXIMA 28,5
CV A 7500 RPM ARREFECIMENTO LÍQUIDO
ALIMENTAÇÃO INJECÇÃO ELECTRÓNICA
TRANSMISSÃO VARIADOR CONTÍNUO
EMBRAIAGEM CENTRÍFUGA AUTOMÁTICA
CAIXA DE VELOCIDADES AUTOMÁTICA
SUSPENSÃO DIANTEIRA FORQUILHA HIDRÁULICA
TELESCÓPICA SUSPENSÃO TRASEIRA DUPLO
AMORTECEDOR HIDRÁULICO TRAVÃO DIANTEIRO
DISCO Ø 260 MM EM PÉTALA COM PINÇAS
TRIPLAS TRAVÃO TRASEIRO DISCO Ø 240 MM
PNEU DIANTEIRO 120/80-14 PNEU TRASEIRO
150/70-13 DIMENSÕES C x L x A: 2250 x 780
x 1345 MM DISTÂNCIA ENTRE EIXOS 1553
MM PESO 192 KG CAPACIDADE DEPÓSITO
COMBUSTÍVEL 12.5 LT.

AUTO+ mais

DACIA
SANDERO

QUASE TUDO João Isaac cos rijos, mas o habitáculo do Sandero
MNOOEAVSIOSSEEDNOBCEQIMAULE [email protected] é agora muito mais atual, quer em
design, quer em oferta. Destaque
A convite da Dacia Portugal, o Automais foi conhecer o É grande a responsabilidade para a inclusão de um suporte para
novo Sandero, modelo lançado originalmente em Portugal desta nova geração, um novo o smartphone em todas as versões e
em 2008 e que, entretanto, conquistou o lugar de líder Sandero que dispõe, porém, outras novidades, essas sim, variáveis
no mercado de particulares nacional e europeu, um feito de ambição comercial igual- consoante o nível de equipamento,
notável considerando, principalmente, a idade da marca, mente grande, sustentada por como por exemplo o ar condicionado
da nova Dacia integrada no grupo Renault mais conforto e tecnologia, automático, o acesso e arranque mãos-
possíveis, principalmente, devido à -livres, o travão de estacionamento
adoção da plataforma CMF-B também elétrico e a câmara e sensores de es-
utilizada pelos Renault Clio e Captur. tacionamento. Relativamente a oferta
Exteriormente, as diferenças são multimédia, estão disponíveis três
claras. Mesmo sem revolucionar, o sistemas, do mais simples que requer
Sandero tem agora um design bem integração direta com o smartphone
mais robusto, com novos para-cho- ao mais evoluído Media Nav com, por
ques, grelha e iluminação que estreia exemplo, conectividade Apple Car Play
igualmente a nova assinatura de luz e Android Auto sem fios. No campo da
com desenho “em Y”, quer na frente, segurança, o Sandero passa a poder
quer atrás. De uma forma geral, está contar com travagem ativa de emer-
bem mais dinâmico, ligeiramente mais gência e sensor de ângulo morto, por
largo e comprido e também um pouco exemplo. A habitabilidade era já um
mais baixo. dos seus pontos fortes e nesta nova
geração o Sandero oferece mais 42
MAIS TECNOLOGIA milímetros de espaço para as pernas
dos passageiros de trás, sendo uma re-
Por dentro, tudo muito diferente. ferência no seu segmento. A bagageira
Obviamente, mantém-se os plásti-

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tem uma capacidade de 410 litros. Para FT/ F I C H A T É C N I C A bordo a mostrar 6,5 l/100 km. Ao vo- cerca de 9 l/100 km (o computador
o ficarmos a conhecer, partimos de lante, tudo muito fácil, com comandos de bordo já indica dados GPL), mas
Oeiras e apontámos ao novo conces- 1.0 / 90 CV leves a nível de caixa de velocidades, também o foi o ritmo a que o sub-
sionário da Renault e Dacia em Leiria, pedais e direção, este último, o ponto metemos para a viagem de regresso.
um espaço recentemente inaugurado GASOLINA em que, neste primeiro contacto, sen- Por dentro do Stepway há decoração
integrado no grupo M. Coutinho. Num timos uma menor evolução. O Sandero específica para portas, tablier e bancos
dia muito cinzento e de chuva quase 11.7 S não precisa de uma direção rápida e e no exterior, para além das proteções
constante, os Sandero coloriram a comunicativa, e é também verdade que de carroçaria e barras de tejadilho
ligação de Oeiras a Leiria. A equipa 0-100 KM/H a muita água e vento que enfrentou modulares, destaque para uma altura
Sandero vestiu azul e a equipa Stepway influenciou este primeiro contacto, livre ao solo superior em 41 milímetros
correu de laranja, ordem pela qual os 5.3 L mas a ritmos elevados, a direção algo relativamente ao Sandero.
conhecemos. De manhã, ao volante lenta obrigou a constantes pequenos
de um Sandero Essential com motor 100 KM ajustes de trajetória. Curiosamente, PREÇO IMBATÍVEL CONTINUA
1.0 litros Turbo com 90 cavalos, ficá- na versão Stepway que conduzimos
mos imediatamente agradados com 119 no regresso, mais alta e assim mais O Sandero, mantendo intacta a sua
a grande evolução sentida a nível de suscetível a vento lateral, sentimos abordagem ao mercado e quase inal-
posição de condução. A regulação em G/KM- CO2 uma maior ligação das rodas com o terado o seu preço, continua a ser uma
altura do banco é agora mais fácil de asfalto, pelo que os pneus específicos, proposta de valor imbatível, mas cuja
se fazer e o volante também permite 13 250€ bem como o clima instável, poderão oferta começa a ser uma ameaça para
ajuste em profundidade, contribuin- explicar, em grande parte, as diferen- rivais do segmento com outras as-
do para o superior conforto sentido PREÇO BASE ças sentidas. O Stepway que guiámos pirações, inclusivamente para o seu
ao volante, também explicado pelos estava equipado com o mesmo motor parente Clio. Chega aos concessioná-
novos bancos. rolamento superior, evolução expli- de três cilindros, embora equipado rios já em janeiro e está disponível a
cada pela nova plataforma. O motor com a tecnologia Bi-Fuel – em que a partir de 9 mil euros com o motor SCe
AO VOLANTE, GRANDE EVOLUÇÃO convence pela boa disponibilidade e Dacia continua a apostar, felizmente de 65 cavalos. A gama ECO-G, Bi-fuel,
consumos comedidos, pois após quase – e com 100 cavalos. O consumo foi está disponível a partir de 11 500 € e o
O Sandero tem agora um pisar muito 200 quilómetros divididos em entre nitidamente superior, com média de muito procurado Stepway tem preço
mais robusto e uma capacidade de autoestrada e estradas nacionais, che- a partir de 13 250 €.
gámos a Leiria com o computador de

AUTO+ mais

CONDUZIMOS o aumento da oferta E-Performance, a divisão eletri-
O RENOVADO ficada da casa de Estugarda, que representa a grande
PORSCHE maioria das vendas do modelo. Com o lançamento do
PANAMERA novo Panamera 4S E-Hybrid, o modelo oferece assim
APorsche apresentou em final de agosto o três variantes híbridas plug-in. O AutoMais esteve
O AutoMais esteve na apresentação renovado Porsche Panamera. Este que é um presente na apresentação nacional do Panamera e
nacional do renovado Porsche modelo importante para a casa alemã, ao tivemos a possibilidade de conduzir esta nova versão
Panamera e conduzimo-lo na versão 4S representar 12% do mix de vendas, começava na carroçaria Sport Turismo.
e-hybrid Sport Turismo a demonstrar a necessidade de uma atuali-
zação para se tornar ainda mais apelativo aos AO VOLANTE DO PORSCHE
Guilherme André clientes. Tal como pode ler no site Automais, o exterior
[email protected] do Panamera destaca-se pela inclusão de série da dian- PANAMERA 4S E-HYBRID SPORT TURISMO
teira Sport Design, algo que era opcional até então, mas
também uma revisão no que diz respeito a assinatura de Um dos primeiros detalhes que reparámos ao entrar
luz. No entanto, um dos principais pontos de interesse é no Porsche Panamera foi o conforto e espaço do ha-
bitáculo. De facto, tanto na primeira como na segunda
fi a de bancos os passageiros têm bastante espaço
para pernas e ombros. Atrás, o espaço para cabeça é
mais reduzido, mas não impede que adultos sintam
conforto durante uma viagem mais longa. Na versão
testada, a carrinha Sport Turismo, contamos ainda
com 425 litros de bagageira. O acesso é bastante bom,
porém, a mala dos cabos de carregamento ocupa um
espaço significativo. Para além disso, o condutor tem
agora um novo volante, o mesmo utilizado no Porsche
Taycan, que apresenta uma boa pega e concentra em
si vários comandos “à distância de um dedo”.
Ao fazermo-nos à estrada, apesar do trajeto ser curto
e das más condições meteorológicas, percebemos o
porquê da Porsche caracterizar o Panamera como
um verdadeiro desportivo, mas com o conforto de
uma berlina executiva de luxo. Os conceitos de con-
forto e dinamismo não costumam andar de “mãos
dadas”, mas o Panamera demonstra que é possível.

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FT/ F I C H A T É C N I C A

2.9 / 560 CV

GASOLINA+ELÉTRICO

3,7 S

0-100 KM/H

2,4 L

100 KM

55

G/KM- CO2

141 541€

PREÇO BASE

Relativamente ao motor, o Panamera 4S E-Hybrid os novos Panamera eletrificados beneficiam de um GAMA BASTANTE DIVERSIFICADA
está equipado com um bloco V6 de 2.9 litros biturbo crescimento de autonomia elétrica em cerca de 30%
(440 cv), associado a um propulsor elétrico (136 cv) e, no caso do 4S E-Hybrid que testámos, a Porsche O renovado Porsche Panamera já se encontra em
que permite atingir uma potência combinada de 560 anuncia 53 quilómetros (ciclo WLTP). A este silêncio comercialização com as primeiras unidades a chegar
cavalos e um binário máximo de 750 Nm de binário. e tranquilidade juntamos ainda o conforto graças ao aos Centros Porsche a partir de dezembro. A gama
Durante o breve contacto percebemos que, com esta aprimoramento dos sistemas de controlo de chassis é bastante diversificada visto que, para além da in-
motorização, conseguimos ter um pouco de dois neste restyling. Por outro, temos debaixo do pé direito clusão de novas variantes híbridas plug-in, a grande
mundos. Por um lado, é possível andar “em silêncio” 560 cavalos sempre prontos a entrar em ação. De aposta da marca neste modelo, é possível escolher
numa utilização mais contida graças ao propulsor facto, apesar do peso superior a duas toneladas na entre três carroçarias (berlina, Executive, Sport
híbrido. Este é alimentado por uma bateria de 17,9 variante Sport Turismo, é possível acelerar dos 0 aos Turismo). Tudo isto acompanhado por potências
kWh, ou seja, superior à utilizada nos híbridos plug-in 100 km/h em menos de cinco segundos (com o pack que vão dos 330 cavalos (Panamera) até aos 700
pré-restyling que se ficava pelos 14,1 kWh. Assim, Sport Chrono), segundo o anunciado pela Porsche. cavalos do Porsche Panamera Turbo S E-Hybrid.

E/ Dando cumprimento ao estabelecido no n° mais importantes provas de desporto au- leitores uma informação atual, rigorosa abordagem e de análise dos factos noti-
1 do artigo 17° da Lei 2/99, de 13 de Janeiro, tomóvel disputadas em território nacional e de qualidade, opinando sobre tudo o ciosos, com total abertura à interativi-
ESTATUTO Lei da Imprensa, publica-se o Estatuto e no estrangeiro, relata acontecimentos que se passa na área do automóvel e dos dade com a sua comunidade de leitores.
EDITORIAL Editorial da publicação periódica AutoSport: ligados à competição automóvel, bem como automobilistas, numa perspetiva plural, 4. O AutoSport pratica um jornalismo pau-
1. O AutoSport é um semanário dedicado temas que versam o automóvel como bem recusando o sensacionalismo e respeitan- tado pela isenção, sem comprometimentos
ao automóvel e aos automobilistas, nas de consumo, tanto na área industrial como do a esfera da privacidade dos cidadãos. ou enfeudamentos, tendo apenas como
suas mais distintas vertentes: desporto e comercial. 3. O AutoSport pauta as suas opções edito- pressuposto editorial facultar a melhor
competição, comércio, indústria, segurança 2. O AutoSport está comprometido com riais por critérios de atualidade, interesse informação e a melhor formação aos seus
e problemática rodoviária. O AutoSport o exercício de um jornalismo formativo e informativo e qualidade, procurando apre- leitores, seguindo sempre as mais elemen-
edita, semanalmente, conteúdos sobre as informativo e procura oferecer aos seus sentar aos seus leitores a mais completa tares normas deontológicas.

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