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Published by vfernandescs, 2024-01-23 22:55:07

LIVRO-FERNANDO

LIVRO-FERNANDO

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52 Fernando sempre se preocupou com equilíbrio, os claros escuros, a fatura do pincel e a cor, buscando e traduzindo em pinturas realistas. Pesquisou, desenhou e pintou fachadas e interiores de igrejas barrocas de Salvador, além de marinhas e detalhes da arquitetura colonial portuguesa. Vivenciou também as obras de Michelangelo, Rafael, Degas, Mondrian, François Millet, Renoir, Picasso, os claros escuros e a luminosidade de Rembrandt, fazendo estudos e releituras.


53 Ainda, citando também a pintura de René Magritte “Isto não é um cachimbo”, datada de 1929, em acervo do Museu de Arte do Condado de Los Angeles, obra que leva o perceptor a pensar, refletir e interpretar o objeto em si... Quando estudava no ginásio e no curso científico no Colégio da Bahia - Central, Fernando dos 15 aos 18 anos dava aulas de Português, Matemática, História, Geografia, Artes e Ciências Naturais para jovens do terceiro e quarto anos primários em uma escola particular. Uma professora formada, fazia a prova de qualificação dos alunos em junho e dezembro, a qual o elogiava junto à dona escola pelo bom desempenho dos alunos.


54 Aos 19 anos, após a morte de seu pai, foi trabalhar por mais de duas décadas no importante e centenário grupo empresarial MJC, fundado em 1877, com setores agrícolas, industrial, importação e exportação, empreendimentos imobiliários e atuação em bolsa de valores. Onde se destacou como Assessor da Presidência vivenciando o escritório, a administração e o comércio conciliando com sua atividade artística. Escritório MJC - Fotografias Álbum da Bahia - 1930.


55 Entre outros estudos e cursos, graduou-se em Artes Plásticas pela centenária Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, fundada também em 1877 com excelente desempenho e foi aprovado com distinção no Mestrado em Artes, também na EBA-UFBA. Professor adjunto nível IV dessa Escola, lotado no Departamento de Expressão Gráfica e Tridimensional, atua em várias técnicas das Artes Plásticas, tendo lecionado oito disciplinas para os cursos de Artes Plásticas, Desenho Industrial, Licenciatura em Artes, Decoração, Arquitetura, Museologia e Psicologia. Há alguns anos, Freitas Pinto dedica-se ao ensino da disciplina Prática Profissional, orientando alunos graduandos no curso de Artes Plásticas e Design de Interiores e também Arte Mural.


56 Vice diretor da Escola de Belas Artes e Diretor em eventuais oportunidades, Freitas Pinto foi durante uma década, Membro do Conselho Superior da Universidade Federal da Bahia e Câmara de Graduação. Ocupou por duas vezes a Chefia de Departamento de Expressão Gráfica e Tridimensional, além de ser Membro de 2 Colegiados e Congregação da Escola de Belas Artes nesses últimos 14 anos. Há mais de 15 anos escreve sobre Artes Plásticas para o Jornal Tribuna da Bahia. Entre exposições individuais e coletivas realizadas, Freitas Pinto conta mais de uma centena, com participação em Salões, Bienais na Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Holanda, China e Portugal. Foi artista em destaque na Escola de Belas Artes da UFBA, por duas vezes, detentor do Prêmio Copene de Cultura e Arte em 1996, além de muitas outras premiações, como troféus, medalhas e menções honrosas. Homenagem à Profª Maria Helena Flexor na reitoria da UFBA, tendo como diretor eventual da EBA, Prof. Fernando Freitas Pinto ao lado do vice-reitor Prof. Othon Jambeiro e da Profª Celeste Almeida, eleita diretora da EBA.


57 Houveram também obras com cessões de direito à Rede Globo de Televisão para cenários de novelas, participando também do vídeo “Mestres da Arte Bahiana”, pela Rede Bahia TV e Campanha Nacional, tem citações em livros e periódicos por especialistas em arte e apresentações críticas de importantes nomes da área. Tem vivência em ambientação de interiores, como professor de projetos de decoração, administração de empresas e colunista de Artes Plásticas.


58 Eventos na Escola de Belas Artes, coordenados pelo Prof. Fernando Freitas Pinto Sua primeira exposição pública com sala individual foi em 1984, com uma mostra retrospectiva de trabalhos realizados a partir de 1964, na Galeria Le Dome, quando o crítico de arte José Walmir Lafere fala sobre a obra do artista em dezembro de 1984:


59 “Exemplo típico encontramos nos trabalhos de Fernando Freitas Pinto, a sua linguagem pictórica é provida de criatividade... que imprimem um ritmo bastante agradável. O colorido é firme, uniforme, sem exceder nos contrastes entre as cores quentes e frias, evoluindo de um positivismo puro para uma tênue mistura de tintas, atenuado pelo desenho mais rigoroso. Fernando Freitas Pinto expõe ainda alguns quadros de paisagens marinhas, notando-se no conjunto das suas obras uma harmonia estilística, força de um crescimento interior.” Com obras em acervo de empresas particulares, públicas, hotéis, residências e galerias na Bahia e outras fora do país, Freitas Pinto é também autor de capas de catálogos da Pós Graduação e Teses de Mestrado e Doutorado da UFBA, além de participar de júris, bancas examinadoras e curadoria. Sua última exposição individual em 2001 foi uma retrospectiva de 10 anos, no Conjunto Cultural da Caixa, em Salvador, com a exposição Configurações Forma e Conteúdo, pela passagem comemorativa dos 140 anos daquela instituição.


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62 Nas duas últimas décadas vem desenvolvendo suas pesquisas com pinturas inspiradas na cultura popular, como o pote cerâmico, o berimbau e os trançados, onde explora a cor e a forma, com obras singulares. Nessas temáticas há relevâncias dos seus contextos culturais e sociais na história e nas tendências dos mais diferentes povos. Freitas Pinto tenta fazer uma arte que tenha um entendimento romântico na criação da beleza, na simplicidade, com significado simbólico, formando assim uma consciência artística de referência popular.


63 Fases Pictóricas “A imaginação na arte consiste em saber achar a expressão mais completa de uma coisa existente” Gustave Courbet O semelhante no dessemelhante Comparativamente com o "Cachimbo de Magritte" quando a obra leva também o perceptor a pensar, refletir e interpretar o objeto em si e sua ressignificação... Na pluralidade das manifestações artísticas da pós-modernidade do contemporâneo, o artista busca distinguir o objeto utilitário de valor intrínseco, interpretando o seu papel de origem em obra de arte. O objeto é interpretado da sua existência material para a tela e de lá para o imaginário do perceptor. Trabalhando sobre a superfície bidimensional da tela, o artista explora a ilusão espacial, com o objetivo de obter uma intensa expressividade e ilusão de profundidade e volumetria. Nessa temática pictórica, busca também, apresentar duas características minimalistas: a utilização do pote como objeto único e a monocromia. A cor alaranjada do barro queimado aparece em nuances ou reforçadas por suas próprias variações.


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65 Comparativamente com o "Cachimbo de Magritte" quando a obra leva também o perceptor a pensar, refletir e interpretar o objeto em si e sua ressignificação... Na pluralidade das manifestações artísticas da pós-modernidade do contemporâneo, o artista busca distinguir o objeto utilitário de valor intrínseco, interpretando o seu papel de origem em obra de arte. O objeto é interpretado da sua existência material para a tela e de lá para o imaginário do perceptor. Trabalhando sobre a superfície bidimensional da tela, o artista explora a ilusão espacial, com o objetivo de obter uma intensa expressividade e ilusão de profundidade e volumetria. Nessa temática pictórica, busca também, apresentar duas características minimalistas: a utilização do pote como objeto único e a monocromia. A cor alaranjada do barro queimado aparece em nuances ou reforçadas por suas próprias variações.


66 Além dos trabalhos com a cor do barro, apresenta, também, trabalhos geométricos coloridos com a figura do pote em translucidez.


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68 Aparência na Transparência Nessa abordagem pictórica o artista trabalha com o pincel e a espátula sobre a tela, releiturando e depurando a forma, no geometrismo da figura, nas diagonais e paralelas e na reciprocidade das cores, apresentando uma configuração nova, com significado simbólico de resultados abstratos, numa metáfora de cores e formas. "... na arte do trançado nós encontramos as relações geométricas da arte contemporânea e relações gráficas e cromáticas de alta qualidade. A imaginação declinante e livre que a nossa arte conquistou, não é superior à narração delirante da arte popular." Jacob Klintowitz.


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70 Berimbau sim, berimbau não... No universo da arte contemporânea o artista tenta levar a ideia plástica da figura simples do berimbau, objeto de conteúdo e originalidade para a tela, releiturando e captando detalhes, formalizando-o em obra de arte, buscando imagens expressivas, em uma nova e inédita abordagem pictórica, formando, assim, uma consciência artística de referência popular. Na tela a configuração do objeto, numa celebração da cor com a forma e suas variações, que se subordinam a linguagem figurativa. A apropriação de imagens está presente nas Artes Plásticas sempre e em todos os tempos... Cada artista dentro da sua narrativa plástica e visual, na liberdade de expressão, na singularidade criativa e de pensamento.


71 Seu atelier no Litoral Norte da Bahia, lugar de liberdade e reflexão, cria formas com tons de cores, linhas, planos, texturas e transparências. E, num caminho solitário, na emoção do ver realizado, do construir, o artista sonha com um trabalho mágico, buscando comunicar esse sentimento com o perceptor, na simplicidade da sua obra, sua força e sua paixão... Vista do atelier - projeto de concepção do artista.


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74 “A razão do artista apresentar este único tema no decorrer de muitos anos, torna sua obra única, não imitável e com um toque muito original na arte brasileira. Suas pinturas primam por um relacionamento amoroso entre as formas materiais dos potes e as formas docemente mágicas do pintor. A intenção do artista é socializar estes objetos cerâmicos produzidos em larga faixa do Nordeste do Brasil. E isto é importante, uma vez que, em outras regiões do país eles apresentam grandes variações formais e matéricas. Socializar também no que se refere a presença hoje da obra de Freitas Pinto no exterior, o qual é um fato. É preciso não esquecer que a arte é um objeto social, é algo que circula, é um dar-se ao público. Ela é por natureza comunicante. Ela não existe para alguns, mas para todos. Entretanto, o que eu vejo de melhor e de forma mais rica, o que eu vejo com um olhar interno, estético, olhar de modesto crítico de arte é a elevação “dos potes”, peças de cerâmica à categoria, à dignidade de obra de arte de Fernando Freitas Pinto. ... Seus potes, por intencional decisão do artista, continuam formalmente próximos a nós espectadores. Há neles uma força mágica de sentimentos, é o mistério da arte.” Uma Obra Única, Não Imitável Críticas Carlos Eduardo da Rocha - Professor, Crítico de Arte e Escritor (in Memoriam) - 1994


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76 “O trabalho prático do pintor e professor Fernando Freitas Pinto é, antes de tudo, um exemplo do nívelque se espera de trabalhos dessa natureza. A exposição apresentada na NR Galeria de Arte foi produzida com apurada técnica e bom gosto,correspondendo, plenamente, às exigências da criação e produção de um artista profissional. O Professor Fernando Pinto é um artista bastante experiente, conhecido e respeitado no mercado de arte de Salvador, assim como pelos cronistas e críticos de arte. Trabalhando com um só tema e com um único modelo e, ainda mais, restringindo a sua palheta a uma única cor, o artista enfrentou um grande desafio, diante do perigo da monotonia, do desinteresse visual, que tal proposta poderia gerar. Introduziu ainda, na estrutura formal e monocromática de suas composições pictóricas, mais uma limitação, ou seja, o estabelecimento de um constante plano de fundo, e isto, claro está, por uma questão de linguagem artística, de estilo. Um dos méritos do seu trabalho reside na conquista da variedade capaz de impregnar o seu trabalho de interesse e significação estética, uma vez limitado os fatores de contraste e da criação de tensões visuais. Pelas limitações impostas, no contexto monocromático e na repetição do mesmo modelo, o artista buscou, exaustivamente, durante dois anos de concepção e realização, diversas soluções plásticas, optando, finalmente, por um tratamento inteligente e sutil dos contrastes tornais, dos contrastes de posição, nas diversas angulações e através de vários cortes. Fica bem evidente a utilização dos efeitos de volumetria e de espaço, como fatores de expressão plástica, o que concorre par uma tendência ao Hiper-realismo, no que concerne à apropriação da imagem real do modelo utilizado. Em contrapartida à utilização de um único modelo, é quase constante o preenchimento da superfície do suporte da pintura pela multiplicação da imagem. O contraste é aplicado com criatividade, tirando-se partido dos cortes e do posicionamento diversificado, com visão lateral, de topo, e de fundo. O artista enfatiza, para a dinâmica da estrutura formal dos seus quadros, embora visíveis, possuem existência virtual e expressam ação rítmica. Considerando a estrutura geométrica da composição, as soluções plástico-abstratas do artista Fernando Pinto concentram-se também na elipse, elipse O mestre Fernando Freitas Pinto Críticas


77 Juarez Paraíso - Professor, Artista Plástico e Crítico de Arte - 1996 que absorve o olhar, fixando-o na individualidade, uma vez utilizada como modulador da luz e da sombra. Embora o volume seja forte fator de expressão artística, a multiplicação do modela se dá, quase sempre, estendida frontalmente e não em progressão diagonal, gerando uma espécie de anatomia de primeiro plano, o que beneficia a unidade plástica do conjunto. Essa anatomia é mais ainda presente quando o fluxo e refluxo dos efeitos tonais confere aos objetos diversas texturas visuais, enriquecendo o caráter interpretativo das pinturas. Os ocres e marrons compõem a estrutura cromática das composições, enquanto as diferenças de luz e sombra definem os contornos, impondo o ritmo abstrato do claro-escuro. O sentido de iluminação é arbitrário, isto é, não se subordina a um único foco de luz. Revela e identifica a individualidade figurativa subordinada à expressão plástica, não obstante a forte definição realista do volume e da verossimilhança. Não obstante os efeitos próprios do Hiper-realismo, a profundidade e o volume são devidamente controlados, conduzidos pelo fundo como parâmetro espacial. Na verdade, trata-se de uma ilusão que se transforma em metáfora visual, poética, e mesmo quando o artista persegue a semelhança só encontra a dessemelhança, pois como bem afirma Gombrich, no seu livro Arte e Ilusão, “não há realidade sem interpretação”. No conjunto do Trabalho Prático do artista e professor Fernando Pinto, dentre os 20 quadros e um políptico com quatro peças, encontramos uma composição com uma única imagem do modelo assumido, posicionando com a parte superior paralela ao perceptor. A simplicidade do modelo e da composição motivam o artista ao exercício da criatividade visual. O resultado é um instigante efeito perceptual, onde as contradições visuais enriquecem o resultado plástico e expressional. A imagem está centralizada e circundada pelo fundo e branca uniformidade. A relação figura-fundo contraria a lógica do realismo da configuração. A imagem do pote, como figura, apresenta-se na frente do fundo branco, mas, ao mesmo tempo, o que é aparentemente impossível, o perfura, pela sua parte interior, projetando-o para a frente. Independente da importância do trabalho de arte do artista Fernando Freitas Pinto, seria uma grave omissão deixar de considerar a importância da sua presença na Escola de Belas Artes. Como professor tem sido um dos mais competentes e dedicados e como representante da Escola no Conselho de Coordenação da UFBA tem se destacado como um dos seus mais importantes componentes.”


78 ““Rompeu o século... Um novo milênio, com a expectativa de uma grande reflexão. Nunca o presente esteve tão próximo do limiar entre o passado e o futuro. Dois mil anos de cristianismo, quinhentos anos de Brasil... Uma nova era. O passado retorna em flashes. Como um lastro cultural. O futuro se apresenta em conjecturas, como uma nova esperança projetada no porvir. O presente se manifesta em contradições, polêmicas, questionamentos, revisões, esperanças, conflitos, expectativas... Momentos de êxtase: celebrações de calendário! Nesse contexto, a vida continua e o tempo,implacável, recolhe suas migalhas e recicla as folhas que caem para um contínuo desabrochar. Uns esperam, alguns planejam, outros executam. E o presente, registra-se através daqueles que, conscientemente, acontecem, como uma presença constante e indispensável no processo da vida. Fernando Freitas Pinto é uma dessas presenças. No dia 12 de janeiro, Fernando inaugurou uma exposição retrospectiva no Conjunto Cultural da Caixa(antiga Casa de Oração dos Jesuítas), em Salvador, comemorativa dos 140 anos da Caixa Econômica Federal e intitulada “CONFIGURAÇÕES - FORMA E CONTEÚDO”. Foram quarenta telas a óleo, que traduzem a produção do artista ao longo da última década. Quem acompanha a obra de Fernando não se surpreende ao contemplar suas quatro fases, todas voltadas para a temática do artesanato regional. O grau de interpretação do artista, inspirado na cultura local, extrai da linguagem popular, ícones de forma e conteúdo, capazes de expressar-se na arte contemporânea, em configurações de plena maturidade e qualidade artísticas. São potes cerâmicos que dialogam com o geometrismo de cromos vibrantes, em contraponto de formas e cores ou em composições descontrutivistas, sólidas ao mesmo tempo que fluídas. São formas presentes no nosso quotidiano, introjetadas no universo pictórico, com a sutileza do diálogo entre a raiz e a vanguarda e apresentadas em duas fases distintas e complementares. Os potes cedem A Arte Reflexiva de Fernando Freitas Pinto Críticas


79 Francisco Senna - Historiador, Arquiteto e Professor - 2001 lugar à cabaça, que compõe com o arco e a corda, a trilogia do berimbau, nas suas expressões multicoloridas, apresentadas sob prismas de composição em “natureza morta” ou “detalhes em close”. Essa série é de intensa riqueza plástica e pictórica, como a refletir o eco de uma nota solta no ar. São cores vibrantes e tão surpreendentes quanto familiares que, no detalhe, nos remetem ao todo. Forma e conteúdo, mais uma vez, se confundem, num lirismo pictórico-musical, onde a cor se expressa como se cada detalhe assumisse uma nota. E, nesse processo, que sai do pote para o berimbau, a abstração se projeta como uma consequente escala compositiva, nas tramas multicoloridas, inspiradas na cestaria popular. Mais uma vez, o artista recorre às raízes da sua cultura, no cotidiano das construções vernaculares, para ousar, remetendo-as ao subjetivo universo da criação. São entrelaçamentos que se somam em formas e cores, para uma composição cromática que tende ao abstracionismo, não obstante suas fortes raízes. Fernando tece e se revela, cada vez mais, um artista criativo, inovador, coerente e sensível o universo que lhe rodeia... erudito e vernácula. Suas obras traduzem o cotidiano de um artista reflexivo, pesquisador, inserido no contexto universitário como conceituado professor da Escola de Belas Artes da UFBA e como renomado artista plástico, pintor de cores vigorosas e de singular expressão. Sua presença não se faz, unicamente, através de sua obra, já tão significativa no panorama da arte baiana e com perspectivas de alcance mais amplo mas, também, pelo ser humano insuperável na arte de conquistar amigos, de solidarizar e de confraternizar, juntamente com Maria da Graça. Conclusivamente, grande musa nos bastidores do artista, Graça Pinto transpôs o ateliê do artista, com o que havia de mais expressivo, de forma acolhedora e didática, a nos revelar Fernando Freitas Pinto na sua intimidade criativa.”


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81 Críticas "O abstracionismo liberou a arte dos limites realistas, multiplicando as possibilidades do artista criar sua própria pintura. Sem a predeterminação das formas o artista se concentra no ato de pintar, e quando acrescenta à espontaneidade informal, um sólido conhecimento da técnica da pintura, o abstrato ganha sugestiva atmosfera, como pode se ver na fase mais recente da pintura de Fernando Freitas Pinto. A natureza delicada do abstrato de Fernando tem um ritmo sutil que faz a superfície parecer ondulante.Freitas Pinto, o artista, transmite ao espectador a intensidade do seu sentimento em relação ao ato de pintar, ao enfatizar a vivacidade das cores no empasto do branco onde o marrom ganha ricas texturas, ativando a energia da superfície com inesperada luz. Essa destreza no manejo das tintas assegura a qualidade original do estilo abstrato do artista. Abstrato Singular De Fernando Freitas Pinto Matilde Matos - Crítica de Arte - 2006


82 Críticas “Talentoso e senhor de impecável técnica oficinal, ele vive a sua arte e nela circula, com inteira consciência, liberdade e alegre espontaneidade. Sua temática atual são os potes de barro, objetos que convivem com o artista no amplo espaço verde que antecede ao seu atelier, em Vilas do Atlântico. Os potes de barro - o pretexto, o acontecido e todo artista cria a partir de algo que aconteceu a natureza, seres e objetos e as formas da própria arte. Da cerâmica utilitária e artesanal, Fernando Freitas Pinto propõe uma nova realidade. Todavia, ele não sente muita necessidade de deformar a realidade. Seus potes, por intencional decisão do artista, continuam formalmente próximos a nós expectadores e nos comunicam uma incontida vontade de abraçá-los. São rostos e corpos sensuais femininos, ávidos de acariciamentos. Há neles uma força mágica de sentimentos, é o mistério da arte. Suas pinturas organizadas com toque de mestre, colorido e composição numa integração agradável, é o artista impondo a sua própria ordem à realidade do tema, fazendo prevalecer a sua visão artística e a matéria dos potes de barro transmuda-se nessa coisa interna, qualitativamente diferente que é a arte.” Fernando e Seus Potes Ivo Vellame - Professor de História da Arte e Crítico de Arte - 1991


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85 “A Escola de Belas Artes possui um painel destinado a exposições de artistas contemporâneos, no sentido de oferecer aos seus alunos, professores e funcionários, alguns dos exemplos mais expressivos das artes plásticas da Bahia. Já foram expostos, Emídio Magalhães, Leonardo Alencar, Udo Knoff, Riolan Coutinho, Henrique Oswald, Floriano Teixeira dentre outros. Eventualmente, o Painel em Destaque oferece também à sua comunidade exposições com o sentido de resgatar a memória do seu passado, como já aconteceu nas comemorações dos seus 117 anos de existência, tendo apresentado uma síntese de sua história, com a presença do seu principal fundador, Miguel Navarro Y Canizares. O painel, O Artista em Destaque, foi criado em 1991 como uma das atividades extensionistas mais importantes da Escola de belas Artes mais importantes da Escola de Belas Artes. Atualmente, está expondo no “Artista em Destaque” da Escola de Belas Artes o conhecido e consagrado artista Fernando Freitas Pinto. Fernando Pinto é um dos mais importantes artistas da Bahia e a sua obra já foi apreciada por vários críticos de arte, dentre eles, Romano Galeffi, Ivo Velame, Reynivaldo Brito e Carlos Eduardo da Rocha. Fernando Freitas Pinto é um dos mais dedicados e competentes professores da Escola de Belas Artes, tendo se destacado desde a sua formação acadêmica, concluindo o seu curso com nota dez em todas as disciplinas. A mesma “performance” Fernando Pinto repete na realização do seu Mestrado, atualmente em conclusão. O artista plástico Fernando Freitas Pinto apresenta no “Artista em Destaque” da Escola de Belas Artes várias fases de sua produção pictórica, destacando-se a sua preferência pela técnica de representação hiper-realista. Bastante seguro em suas convicções estéticas e possuidor de uma apurada técnica, Fernando Pinto é um profissional exemplar e, em todas as suas atividades, demonstra competência e dedicação, como comprova atualmente como representante da Escola de Belas Artes no Conselho de Coordenação da Universidade Federal da Bahia.” Fernando Pinto, Artista em destaque na Escola de Belas Artes Críticas Juarez Paraíso - Professor, Artista Plástico e Crítico de Arte - 1996


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87 “A biografia do artista bem representa sua Via Crucis, as várias as etapas de sua formação e inspiração ao longo da vida. Dentro da vivencia universitária e fora dela, Fernando bem representa o esforço de auto superação como Artista, Professor e Pedagogo. Vi alguns exemplares de suas pinturas dos últimos 20 anos em visita a seu Atelier - residência. Atraiu-me a atenção o trabalho desenvolvido sobre a temática da cerâmica popular do recôncavo baiano. Sua transposição do elemento figurativo em novas formas de arabescos empresta uma nova realidade visual.Suas cores são fortes. Seu objetivo, a meu modo de ver, foi alcançado através da filtragem das artes visuais, no caso especifico o da pintura. Percebo como colega seu esforço de auto superação, especialmente nas suas fases mais recentes. Suas pinturas são dinâmicas e atuais e sua gama de cor é rica e forte. O trabalho de Fernando Freitas Pinto funde-se com a sua cordialidade de homem e sua historia de artista da nossa Cidade caracteriza sua maturidade e sua experiência, como tal tenho a satisfação de parabenizá-lo para o sucesso sua próxima exposição.Desejo-lhe vida longa e muito trabalho para o futuro, juntamente com um forte abraço do amigo.” As Pinturas Dinâmicas de Fernando Freitas Pinto Críticas Mário Cravo Jr. - Artista plástico - 2006


88 Críticas “Freitas Pinto inaugura uma nova fase da sua pintura com o emprego de elementos diversos em termos de forma, das composições e do manejo das cores. Fiel a sua temática de predileção: a cerâmica popular da Bahia na variedade das formas utilitárias dos potes e das talhas, continua com os propósitos realistas. Em sua nova fase sem abandonar aqueles efeitos das tonalidades ocre do barro cozido, emprega também cores chapadas, enriquecendo o cromatismo, conservando a forma dos vasos tradicionais, que ele sabe construir com recursos tão próprios. O jovem pintor não resiste a busca da pintura pura, que é na verdade uma compulsão dos artistas modernos. Na afirmação desses objetivos Freitas Pinto acrescenta aos seus novos quadros outro elemento construído com massas e volumes informais, abstratos de intenso colorido. O formalista afirma-se também como um colorista completando a sua pintura com novos procedimentos na realização da cor alcançando muito bons resultados. As faixas coloridas que apenas envolvem as formas da cerâmica sem afetar a sua pureza, são como transparência acentuando mais ainda as linhas fortes do desenho. Fernando Freitas Pinto afirma-se no domínio do seu ofício com um passo a mais nos seus objetivos de artista nesta nova fase com outros quadros de maior beleza ainda.” Uma Nova Fase na Pintura de Fernando Freitas Pinto Carlos Eduardo da Rocha - Professor, Crítico de Arte e Escritor (in Memoriam) - 1991


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91 “Por intermédio de vinte e um trabalhos, apresentados em vinte e seis telas na técnica a óleo, a partir de uma forma e uma cor, Fernando Freitas Pinto reitera o fundamento da sua pesquisa. Para ele, a pintura é um propósito como toda obra de arte: De fato, a arte prima pela subjetividade porque não é servil, justificando assim o seu caráter instigante, insólito, provocador, transgressor mesmo e sempre imprevisível. A leitura semiótica - aqui entendida como Teoria dos Signos - da obra de Fernando revela muitas possibilidades de interpretação, a começar pelo próprio título da mostra. Uma delas está na capacidade de nos revelar que nem tudo que é habitual é banal: um pote cerâmico com marcas de queima já fez ou continua a fazer parte do nosso cotidiano - é objeto comum “de toda a humanidade”, e ao mesmo tempo é capaz de comportar informações surpreendentes. Outra possibilidade se vê na simplicidade dos tons presentes nas telas, sugerindo, por meio de luzes e sombras, novidades e reminiscências... Mais uma possibilidade pode ser a de reunir, explícita e implicitamente, os elementos água, terra, fogo e ar, para com eles, e somente com eles, trabalhar a complexidade de tantas formas nos limites do figurativo, construindo riquíssimo painel de interpretações icônicas. Para a Semiótica, as relações artísticas são flagradas sempre em associações por semelhanças, no transe de repertórios tangenciais que suportam a dessemelhança entre o que se percebe e a sua correspondente imagem ou signo, mediada por algum tipo de analogia. Por isso, o título da exposição é rigorosamente semiótico. ... Além dos ícones e dos índices, a mostra nos revela ainda um caráter sígnico de terceiridade. Na expressão dos potes quebrados e na apurada técnica da linguagem abstrata que se insinua em algumas telas, talvez se situe a verbalização de rupturas . resta esperar para saber que novos caminhos estão fascinando a percepção do artista, quiçá propondo novas aventuras, com novas semelhanças em outras tantas dessemelhanças.” A leitura semiótica Críticas Isaías Neto - Professor, Doutor em Filosofia Semiótica - 1996


92 “Mestre de Mestres, professor, pintor, muralista, desenvolveu mais de duas centenas de pinturas sobre a temática de inspiração etnológica. Em sua retrospectiva dos últimos dez anos de pintura, podemos observar uma espinha dorsal em seu trabalho, um aprofundamento nas raízes do seu povo, utilizando-se de inspirações da fragmentação de imagens cubistas, do geometrismo peculiar das artes primitivas e das cores puras do construtivismo. O trabalho de Fernando Freitas Pinto caminha sobre a simplicidade do gesto do oleiro aos traçados de esteiras, ou até mesmo do artesão do berimbau - em processo de mimese, termo grego que se refere não a imitação, mas ao aprimoramento, à transcendência e auto superação. Os utensílios ganham status de arte, no sentido de fato social total, onde o artista, identificado com o seu tempo, não renega o passado, a herança da arte, trabalhando com a tradição que lhe é próxima. Após uma década de trabalho, as obras se inserem na exaltação da arte utilitária, tomando a pintura como linguagem em busca do desconhecido. Temos uma tendência a considerar a cultura ocidental, ou a arte ocidental, aquela proveniente das águas dominadoras da metrópole colonizadora, mas não podemos esquecer que o pensamento ocidental é construído por diversas amálgamas. Deve-se mais aos artistas que aos historiadores a descoberta dos passados formadores da arte ocidental. A arte africana foi relegada ao seu instinto primitivista e utilitário pelos arqueólogos, etnólogos e historiadores até que Pablo Picasso a tivesse compreendido por uma espiritualidade plástica que transcendia ao entendimento tridimensional do mundo. Para os africanos, a arte existe um cenário imaginário plasmático e impalpável, confundindo-se com uma espécie de energia de que o ocidental só veio a se dar conta após a compreensão da física quântica de Heisenberg, através da incerteza do lugar e do quando. As máscaras dos eguns em suas danças refletem para o africano, ou baiano em transe, um outro lugar dos espíritos e outro tempo da existência. Tal qual a obra de Freitas Pinto: no seu espírito de desconstrução da tridimensionalidade, ele arremete em fragmentação expondo, como no cubismo, a consequência do pensamento, a imaginação, sendo mais amigo da arte, pois pinta o que não vê. Imagina sem ver. Construtivismo Etnológico Críticas


93 Alberto Olivieri - Doutor em Arquitetura e Filosofia da Arte - 1996 A tridimensionalidade tem mascarado a compreensão ocidental do mundo pois o homem do ocidente só crê no real, no exato e no palpável. A hegemonia da imagem tridimensional retira do espectador o devaneio do sonho. A hegemonia do especo destrói, com as possibilidades elásticas quando, a releitura através da recomunicação das raízes. Fernando Freitas Pinto nos propõe um método, uma saída, ao menos uma possibilidade. A compreensão absoluta do fato artístico é efêmera. A intenção do artista lhe escapa e muito mais ainda a terceiros. Muito embora os artistas modernos tentem escapar das influências passados, Paul Klee se utilizou do geometrismo africano quase de forma plagiaria. Ao contrário, Freitas Pinto se expressa no mono cromatismo como forma de autonomia da obra, surgindo do resvaladio da cerâmica. A arte vive hoje a síndrome da transitoriedade. O padrão é visto como a sombra do inatingível. As conquistas sedimentadas são relegados sobrepondo-se elementos de ruptura como base e paradigma. Mestre Fernando Freitas Pinto consegue recriar num processo aparentemente de reprodução, fazendo para todos nós a advertência de que, na busca de fronteiras, caminhamos nas trapobanas, esquecendo o domínio técnico da arte reprodutiva, utilitária e nos embebendo nas sombras de uma arte alienígena que muitas vezes não nos dirá quem somos e nem ao menos em quem nos tornamos.Ele valoriza a simplicidade da arte utilitária autóctone. Os mestres pintores além das questões fundamentais que envolvem padrões não devem esquecer que as maiores revoluções se manifestaram após o domínio e a superação de uma técnica, a exemplo de Picasso e J. Van Eick. Esses dois autores são referenciados na obra de Freitas Pinto, passando também por Mondrian esse último buscando uma didática simples para chegar ao receituário da arte, terminando por criar um outro tipo de arte. A crítica que faço ao mestre Fernando Freitas Pinto não possui um caráter exclusivamente pictórico. O trabalho exaustivo que faz, desde a pesquisa incansável na arte ao magistério, nas harmonias não catalogadas, no uso da quarta dimensão em objetos fragmentados. A sua arte não chega a se abstrata, pois não rompe totalmente com o naturalismo. É criada uma figura distanciada do real, possuindo um ritmo e movimento alcançados pelo geometrismo e pelos tons, em busca de um construtivismo etnológico que visa um restauro, uma reconstrução, sem apelar para o impossível.”


94 “Um jogo semântico que se completa num jogo plástico, onde o dessemelhante exterior torna-se a maior semelhança interior. É a familiaridade da forma primeira - o pote cerâmico - que, fazendo parte do universo mental de cada um, é incorporado pelo artista, através de um tema regional, a um domínio mais amplo, o domínio sígnitico. A dessemelhança vem ainda pela significação, é a forma que vai se desapegando da ideia primeira e que, pela vontade interior do artista, transforma o objeto utilitário em signo imaterial, carregado de força criativa, de massas que se metamorfoseiam num jogo de claro-escuro, de luz e sombra. É nesta ambiguidade plástica que a forma primeira, o pote, perde certos aspectos da realidade, para ganhar em simbologia. Para Cézanne, “a pintura viu-se capaz de construir sistematicamente objetos que não eram parecidos mas análogos aos da experiência sensível”. Fernando, constrói objetos que partindo de formas semelhantes chegam a um conjunto de vibrações ricas e complexas de volume, textura, cor e luz. As formas realistas e abstratas tornamse equivalentes como é equivalente o processo do semelhante no dessemelhante. No seu trabalho encontramos expressões de vida, fixadas pela forma e pela cor, que vão além da harmonia plástica para uma linguagem de pós-modernidade. Ele busca no barro, origem do homem, a força da sua comunicação, mas é na linguagem simbólica, que encontra o significado. O mais simbólico é tirado do real, pois não se pode excluir as possibilidades sociais dos conceitos estéticos. O fato técnico gerador de objetos e o fato mental defensor de conceitos é que se concebe o objeto figurativo - a obra de arte. Mas o caráter da obra é também a relação artista sociedade, onde a arte não é mais uma técnica especializada, um conhecimento exclusivo, mas a habilidade manual de expressar uma vida, não só individual mas também coletiva. Pois a vida necessita de forma, assim como as formas estão plenas de vida. Os trabalhos de Fernando Freitas Pinto mostram ainda o equilíbrio dos tons de ocre, com formas sinuosas, o mesmo equilíbrio de que o homem precisa para viver e participar do seu universo. ‘E aquela maneira de formar do artista que se torna a maneira de ver a coisa’. É o símbolo plástico, uma forma de pensamento ao mesmo tempo simples e elaborada, resultado do esforço criativo e da experiência do autor. Encontro do homem com a natureza, encontro de duas força, semelhantes e dessemelhantes.” O semelhante no dessemelhante Críticas Célia Gomes - Professora, Mestre em História da Arte - 1996


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97 “Fernando Freitas Pinto expõe vinte e uma telas, todas com o mesmo objeto: o pote este utensílio tão primitivo, que remonta à pré-história do homem, e que ao longo dos séculos e na diversidade das culturas, conserva com singular fidelidade sua forma e seu material. Primitivo também em um outro sentido: o mítico-antropológico, pelo seu simbolismo uterino, representando a fecundidade humana, bem como a fecundidade da grande Mãe Terra. Numa profunda intuição metafísica, o Autor deu à sua exposição o título de O Semelhante no Dessemelhante. De fato, todos os potes obedecem a um mesmo modelo, e assim são todos semelhantes uns aos outros. ... Mas quem diz “semelhança”, um conceito aberto que conota o seu contrário, já diz “dessemelhança” e “diferença”. Isto ocorre na pintura de Fernando não apenas por uma imposição transcendente ao objeto pintado e à técnica artística, caráter este transcendente que, não obstante, permaneceria inconsciente, e revelaria apenas “limitação” do objeto, do artista, e da própria arte. Pelo contrário, esta dessemelhança na semelhança é em Fernando o seu mais profundo “objeto intencional”. É assim que ele não pinta apenas os potes, as formas materiais, mas os “conjuntos”, as “posições” e as “superposições”, a “profundidade”, às vezes tão nítida que o espectador quereria com o braço alcançar o fundo do pote, e pára tocando a tela lisa... Assim, o Autor pinta verdadeiras “coreografias”. E, no meu entender, tudo isto ele o consegue graças à luz que ele cria sobre a tela, com perfeição, da qual a evidência maior ou menor das formas materiais, a proximidade, a distância, a profundidade, são como que decorrências naturais, graças ao contrário da luz; a sombra. Com tudo isto Fernando, pintando embora “objetos” tão “materiais”, tão concretos”, tão “comuns”, consegue fazer uma pintura muito “abstrata” - e, com estas linhas de abertura e transcendência, o espectador pode deixar a exposição tendo aprendido o mais importante: como é o Universo. Finalizando: Veja-se que o eterno problema da Filosofia especulativa sempre foi o uno e o múltiplo, a essência e a existência, o universal e o singular, o todo no fragmento, a identidade na diferença - Fernando o intuiu nos potes. Aliás, qualquer Metafísica vale tanto quanto ela se torna fenômeno, isto é, se torna perceptível e inteligível no seu outro, e este é o diferente e o dessemelhante.” Intuição Metafísica Críticas Delmar E. Schneider - Doutor em Filosofia e Teologia (in memoriam) - 1996


98 “A obra de Fernando para mim, não possui um caráter simplesmente icônico, pois o resultado da sua obra na temática dos potes, no entanto além do julgamento dos ícones expostos devemos analisar a resposta do mestre dentro do processo. O julgamento baseado no PESSOA passa por um pressuposto do objeto finalizado posto à comunicação. A crítica ao mestre envolve além dos resultados, o suor, a pesquisa constante conforme demonstra o longo caminho já percorrido. A verdade não é somente configurada na palavra do interlocutor mas sobretudo no conceito prévio já estabelecido pela prática da vida do emitente. Nesse sentido não julgamos somente a obra apresentada para obtenção do grau de mestre, pois “compreensão é vida”, verificamos o desdobramento do autor em todas as práticas realizadas para a conclusão do seu mestrado. Os quadros do semelhante no dessemelhante foram apresentados para mim gradativamente abrindo-se com simpatia a compreensão dos mesmos de forma sedutora. A pintura e o domínio da técnica levou Fernando Freitas Pinto a expressar-se no figurativo etnográfico, não abandonando o que há de mais essencial na pintura, reportando-se aos grandes autores, somando ás suas obras as tênues cromáticas da cerâmica queimada utilizada pelos grandes mestres. Muito embora esses valores tenham sido negados pelos modernos os mesmos utilizaram bastante as técnicas desenvolvidas pelos antepassados, as quais poderíamos denominar de unidades semânticas da pintura que se constituíram em sistemas de figuração padrão a exemplo da perspectiva atmosférica descoberta por VAN EYCK, que foi repetida inúmeras vezes pelos impressionistas bem como pelos contemporâneos e outrora os modernos. O mestre Fernando Freitas Pinto Críticas


99 Alberto Olivieri - Professor, Doutor em Arquitetura - 1996 Nas harmonias monocromáticas que surgem das resvaladuras da cerâmica o pintor reporta-se a diversas pinturas em várias épocas, separando o essencial, definindo a autonomia de uma cor como forma de expressão de toda uma obra, impressa nos vasos indígenas como pretexto para a integração com as raízes culturais do seu povo. O semelhante no dessemelhante é tratado com muita simplicidade e inteligência, valorizando particularidades do sentido utilitário sem efemeridades, o que tem sido esquecido pela pintura. A arte vive hoje a síndrome da transitoriedade, o padrão é visto como a sobra imediata ao inatingível. As conquistas sedimentadas são relegadas sobrepondo-se elementos de ruptura com base e paradigma. O Mestre Fernando consegue recriar num processo aparentemente de reprodução, fazendo uma advertência para todos nós que na busca de fronteiras caminhamos nas trapobanas, esquecendo o domínio técnico da arte reprodutiva utilitária ou de outra maneira uma forma de tornar cada vez mais utilitária a própria arte, fazendo-a presente em todo lugar onde a mesma se faça necessária. Na descoberta de harmonias não catalogadas, no uso da quarta dimensão em objetos não fracionados e decompostos em sub-unidades alcançando um “lirismo cósmico”, recriando sob aparência a realidade útil, esse trabalho de mestre que usa a palheta com fonte metodológica para aplicabilidade no ensino e na pesquisa pinta Fernando com referência ao que foi realizado e bem exposto a público, com referência a toda organização mercadológica exposta em quatro cantos da cidade do Salvador incluindo filme realizado pelo próprio autor sobre o tema e evento conclusivo, o professor demonstrou alta capacidade de trabalho, referencial teórico, na erudição da soma, na compreensão da vida, na cultura da síntese acoplando-se na energia criadora do cosmos. Pela qualidade da sua obra esses quadros demonstram como o objetivo foi atingido.” ‘Segue o teu destino Rega as tuas plantas Ama as tuas rosas O rosto é a sombra De árvores alheias’ - F.Pessoa


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