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Published by mvinicius.muniz, 2018-06-12 09:03:05

Livro de Economia Empresarial

Livro de Economia Empresarial

COMENTÁRIO Metas intermediárias

Mecanismos de transmissão Diferentes correntes de economistas têm discutido a maneira como o
comportamento da oferta de moeda, da taxa de juros e da oferta de cré­
Os dois mecanismos de transmissão dito bancário, ou seja, os chamados mec­ anismos de transmissão da po-
tradicionalmente mais mencionados lítica monetária, afeta a atividade econômica.
na literatura são o da moeda e o do
crédito bancário. Caso considere que o mecanismo de transmissão seja a oferta de
moeda, o Banco Central deve estabelecer metas de controle da quanti-
dade de moeda ofertada. Caso considere que seja o crédito bancário, o
COMENTÁRIO Banco Central pode tentar influenciar a atividade dos bancos através da
administração do preço da moeda, isto é, da taxa de juros.
Teoria Quantitativa da Moeda
Meta intermediária (I): moeda
A TQM considera que V e Q sejam A importância do conceito de oferta de moeda está associada à capa-
estáveis e que as variações em M de- cidade de consumo que representa: quanto mais dinheiro possuímos,
terminam as variações, na mesma pro- maior é nossa capacidade de adquirir bens e serviços.
porção, de P.
Vimos no capítulo anterior que a Teoria Quantitativa da Moeda
(TQM) prevê que um aumento da oferta de moeda acarreta um aumento
do nível geral de preços, ou seja, da inflação. A formulação mais tradi-
cional da TQM é:

FÓRMULA

MV = PQ

M é quantidade de moeda
V é a velocidade de circulação da moeda (o número de vezes que a moeda
troca de mãos)
P é o nível geral de preços

Q a quantidade de bens e serviços transacionados

Segundo a TQM, adotada pelos economistas monetaristas, se o sal-
do de meios de pagamento aumenta e a quantidade de bens e serviços
disponíveis na Economia permanece constante, os preços dos bens e
serviços tendem a aumentar, gerando, portanto, inflação. Ainda, quanto
maior o crescimento da oferta da moeda, maior a inflação, já que, segun-
do os monetaristas, a oferta de bens e serviços não pode crescer no curto
prazo. Segue-se que a única forma de debelar a inflação seria restringir
o aumento da oferta de moeda, sendo este o papel mais importante que
deve desempenhar o Banco Central.

REFLEXÃO

Outra maneira de interpretar o mecanismo pelo qual um aumento da oferta de mo-
eda é transmitido aos preços é a seguinte: mais moeda em circulação implica maior

100 • capítulo 5

liquidez, ou seja, a moeda é mais facilmente negociada. Com isso, o preço da mo- COMENTÁRIO
eda, que é a taxa de juros, se reduz. A menor taxa de juros induz os empresários
a aumentarem os investimentos produtivos e a contratarem mais mão de obra; os Controle de oferta da moeda
consumidores aumentarão suas compras, porque haverá menor incentivo a manter o
dinheiro em aplicações financeiras etc. Milton Friedman propunha que um
determinado percentual de aumento
Tudo isso fará aumentar a demanda agregada e, supondo que a oferta anual da oferta de moeda deveria ser
matéria constitucional.
de bens e serviços não aumente de imediato, os preços tenderão a subir.

O esquema a seguir mostra o efeito de uma política monetária expansiva. COMENTÁRIO

AUMENTO DA OFERTA DE MOEDA Assim, se considera que o Papel-moeda emitido
mecanismo de transmissão é
A diferença, portanto, entre M1 e base
REDUÇÃO DA TAXA DE JUROS a moeda, a autoridade mone- monetária é que M1 inclui o saldo dos
tária tem como meta interme- depósitos à vista, enquanto a base
monetária inclui o saldo das reservas
AUMENTO DO INVESTIMENTO E DO CONSUMO diária o controle da oferta de bancárias. O Banco Central só é capaz
moeda. Em outras palavras, de controlar diretamente as reservas
bancárias, já que é ele quem as emite;
se a inflação é causada pelo mas só controla indiretamente os de-
pósitos à vista. Como veremos a seguir,
MAIOR DEMANDA AGREGADA aumento da oferta de moeda, este controle de M1 é feito através das
variações nas reservas bancárias.
a política monetária deve ser

AUMENTO DO NÍVEL GERAL DE PREÇOS exercida através do controle da
oferta de moeda.

Um dos problemas apontados pelos economistas críticos da visão

monetarista é como se deve mensurar oferta de moeda, que é a variável

a ser controlada. Entretanto, oferta de moeda é um conceito controverso.

Como é possível mensurar moeda?

ATENÇÃO

Tradicionalmente, a oferta de moeda está associada ao conceito mais restrito de
meios de pagamento (M1), que é composto pelo saldo de papel-moeda em poder do
público, emitido pelo Banco Central, mais o saldo dos depósitos à vista (ou depósitos
em conta-corrente) emitidos pelos bancos comerciais. Estes seriam os dois ativos
financeiros que possuem maior liquidez e são aceitos, legalmente, em pagamentos.

Para entender como o Banco Central exerce controle sobre a oferta
de moeda — definida como M1 — é preciso distinguir, inicialmente, ou-
tra forma de moeda. A moeda emitida diretamente pelo Banco Central
é chamada de base monetária (M0), que é constituída pelo somatório
do papel-moeda emitido — que faz parte do conceito de M1 — e das re-
servas bancárias, que são uma espécie de conta-corrente que os bancos
mantêm, até mesmo por obrigação legal, no Banco Central.

FÓRMULA

M0 = papel-moeda em poder do público + reservas bancárias

M1 = papel-moeda emitido + depósitos à vista

capítulo 5 • 101

COMENTÁRIO Antes, porém, vale realçar o fato de que o papel-moeda (as notas de
real e as moedinhas que usamos no dia a dia) é emitido apenas para
Necessidades de pagamentos atender nossas necessidades de pagamentos, geralmente, de pequeno
valor, e essa emissão não tem qualquer importância para a política mo-
A tendência é que, com o uso cres- netária, já que depende inteiramente da demanda por papel-moeda:
cente de cartões de crédito e de débi- não se concebe que as pessoas tenham este direito negado no caixa dos
to em operações de pequeno valor, o bancos, pois se tal fato ocorresse haveria uma crise financeira.
uso de papel-moeda seja gradualmen-
te reduzido. A tabela a seguir mostra que o saldo do papel-moeda emitido tem se
expandido todos os anos, o que se justifica pela crescente demanda do
público por papel-moeda em termos absolutos.
COMENTÁRIO
Brasil: Base Monetária. Saldos em final do período (R$ bilhões)
Multiplicar
Período Papel-moeda Reservas Total
Esse mecanismo é chamado de multipli- emitido bancárias
cador de moeda bancária, que parte do 2009 166,1
princípio de que apenas parte dos depó- 131,9 34,2
sitos à vista é sacada na forma de papel-
moeda pelos correntistas dos bancos. 2010 151,1 55,7 206,8

2011 162,8 51,5 214,3

2012 187,4 45,9 233,4

Fonte: Banco Central do Brasil
A forma como o Banco Central tenta controlar a oferta de moeda é
através do controle das reservas bancárias, cujo saldo varia ano a ano
(como você observa na tabela). O Banco Central aumenta a oferta de re-
servas bancárias creditando na conta dos bancos o valor corresponden-
te do ativo que adquiriu dos bancos.

EXEMPLO

Por exemplo, quando compra dólares que estejam em poder de um banco, o Banco
Central deposita o equivalente em reais na conta reserva bancária deste banco. Nes-
se sentido, é um mecanismo semelhante ao utilizado pelos bancos ao concederem
empréstimos a seus clientes: o banco deposita o dinheiro emprestado na conta-cor-
rente do cliente. Por outro lado, quando quer reduzir o montante de reservas bancá-
rias disponível para os bancos, o BC vende um ativo (dólares, títulos do governo etc.)
para os bancos, que pagam ao BC sacando sobre sua conta de reservas bancárias.

Ao provocar um aumento ou uma redução das reservas bancárias, o
Banco Central espera aumentar ou reduzir o montante de depósitos à
vista nos bancos. Isto porque os bancos podem multiplicar, na forma
de depósitos à vista, a moeda criada pelo Banco Central — ou seja, as
reservas bancárias.

Suponhamos que o Banco Central aumente a oferta de reservas ban-
cárias dos bancos, por exemplo, ao comprar títulos públicos que este-
jam em poder desses bancos. Os bancos podem emprestar parte dessas

102 • capítulo 5

reservas a seus clientes. Ao fazê-lo, os bancos criam depósitos à vista. COMENTÁRIO
Qual a proporção das reservas bancárias que os bancos irão emprestar?
Depósito compulsório
EXEMPLO
Ainda no mesmo exemplo, se o Banco
Vamos novamente supor que os bancos, por conta própria ou por decisão do Ban- Central determina, por exemplo, que
co Central, decidam manter 20% do saldo em conta-corrente de seus clientes (ou os bancos devam manter em reserva
seja, dos depósitos à vista) em seu caixa (ou seja, como reserva bancária). Se agora bancária o equivalente a 50% dos de-
eles têm mais 100 unidades monetárias nas suas reservas (o que pode ocorrer, pósitos à vista de seus clientes, eles
por exemplo, quando o Banco Central compra dólares que estejam em poder dos só poderão emprestar 200 unidades
bancos), eles podem emprestar um total de 500 unidades monetárias a mais, o que monetárias e, portanto, só poderão
fazem depositando esta quantia na conta-corrente dos tomadores de empréstimo. emitir 200 unidades monetárias adi-
cionais de depósitos à vista para seus
RESUMO clientes a partir da um aumento de
100 unidades monetárias de suas re-
Dessa forma, os bancos estarão emitindo 500 em depósitos à vista, mas mantendo servas bancárias. Neste caso o multi-
100 em reservas (20% dos depósitos à vista são mantidos em suas reservas), ou plicador bancário é igual a 2.
seja, os bancos terão multiplicado as reservas bancárias por 5 ao criarem 500 uni-
dades monetárias na forma de depósito à vista.

Esse mecanismo do multiplicador bancário ajuda a entender um
dos instrumentos de política monetária à disposição do Banco Central,
que é o depósito compulsório.

Um dos principais problemas de usar o controle da oferta de moe-
da como meta intermediária de política monetária é que, nas últimas
décadas, os bancos criaram diversas formas de captação de recursos
alternativas ao depósito à vista, como os fundos de investimento de
curto prazo, depósitos de poupança, depósitos a prazo etc., depósitos
estes que possuíam liquidez semelhante à dos depósitos em conta-cor-
rente. Com isso, em todos os países que possuem um sistema financei-
ro desenvolvido, como é o caso do Brasil, a participação de M1 no total
dos meios de pagamento diminuiu.

REFLEXÃO

Essa talvez seja uma das principais razões que expliquem o fato de os bancos cen-
trais não mais estabelecerem metas de expansão monetária como faziam nas déca-
das de 1970 e 1980. Desde então, estudos elaborados por diversos bancos centrais
e economistas acadêmicos mostravam que não havia relação entre o aumento da
oferta de moeda (M1) e o comportamento da inflação.

De fato, no Brasil, a caderneta de poupança é um exemplo de ativo
financeiro com grau de liquidez quase igual à dos depósitos em conta-
-corrente. O mesmo se pode dizer dos recursos aplicados em fundos de

capítulo 5 • 103

COMENTÁRIO investimento: a qualquer momento, esses recursos podem ser sacados e
transferidos para os depósitos à vista.
Taxa de juros de curto prazo
Assim, se o Banco Central desejasse controlar a oferta de moeda, ele
A taxa de juros que pode ser adminis- teria de ser capaz de controlar também os depósitos de poupança, o sal-
trada diretamente pelo Banco Central do das aplicações em fundos de investimento etc. E isso nenhum banco
é a taxa de juros praticada no mercado central é capaz de fazer, direta ou indiretamente, assim como não há
de reservas bancárias — a taxa de juros evidências de que o comportamento desses outros componentes dos
básica. Como vimos anteriormente, as meios de pagamento tenha relação com as variações de M1.
reservas bancárias são depósitos que
os bancos mantêm no Banco Central. A tabela a seguir registra diferentes maneiras como o Banco Central
do Brasil contabiliza o saldo dos meios de pagamento, ou seja, a oferta
de moeda. A tabela revela que o saldo de M1, sobre o qual o Banco Cen-
tral tem algum controle, é menos de um décimo do total de meios de
pagamento em um sentido mais amplo (M4), e que as outras formas de
moeda têm aumentado mais rapidamente que o tradicional M1.

Brasil: Haveres Financeiros. Saldos em final do período (R$ bilhões)

Período M1 M2 M3 M4

2009 248,1 1164,9 2203,8 2602,3
3055,3
2010 280,1 1347,3 2535,9 3550,2
4103,2
2011 285,4 1617,5 3030,3

2012 324,5 1763,9 3518,2

M2 = M1 + Depósitos de poupança e depósitos a prazo

M3 = M2 + Quotas de fundos de investimento

M4 = M3 + Títulos públicos

Fonte: Banco Central do Brasil
Em resumo, a oferta de moeda é uma variável extremamente di-
fícil de controlar (quando não impossível). Portanto, desde a década
de 1990, os bancos centrais abandonaram o controle da quantidade
de moeda em circulação e passaram a controlar o preço da moeda, ou
seja, a taxa de juros. Ainda nesse caso, como veremos a seguir, a taxa
de juros sobre a qual o Banco Central tem influência direta é apenas
a taxa de juros do mercado da moeda que ele, Banco Central, emite,
que são as reservas bancárias.

Meta intermediária (II): taxa de juros
Desde meados dos anos 1980, os bancos centrais deixaram de estabele-
cer metas de oferta de moeda, e passaram a usar as variações da taxa de
juros de curto prazo como principal meio de exercer influência sobre o
ritmo da atividade econômica e, consequentemente, sobre o comporta-
mento da taxa de inflação.

104 • capítulo 5

RESUMO COMENTÁRIO

As reservas bancárias são, na prática, a moeda utilizada pelos bancos quando fazem Taxa Selic
negócios entre eles. Suponhamos dois bancos, Banco A e Banco B. Quando o clien-
te do Banco A deposita no seu banco o cheque de um cliente do Banco B, o Banco Selic é sigla de Sistema Especial de
B transfere ao Banco A o equivalente em reservas bancárias. Reservas bancárias Liquidação e Custódia, um sistema
são também a moeda usada pelos bancos comerciais nas suas transações com o administrado pelo Banco Central, que
Banco Central. Por exemplo, quando compra dólares que estão em poder de um ban- registra as negociações com títulos do
co comercial, o Banco Central faz o pagamento depositando os reais equivalentes Tesouro Nacional.
na conta reservas bancárias do banco comercial. Se o Banco Central quer diminuir
o saldo de reservas bancárias dos bancos, ele geralmente o faz vendendo títulos do
Tesouro Nacional para os bancos, que pagam ao Banco Central com reservas ban-
cárias, ou seja, reduzindo seu saldo naquela conta.

Portanto, os bancos estão a todo o momento demandando ou ofertan-
do reservas bancárias. Nesse mercado, conhecido como interbancário, as
reservas bancárias têm um preço, que é a taxa de juros — no Brasil é a taxa
Selic. A cada 45 dias, o Comitê de Política Monetária (COPOM) se reúne
para decidir qual será a meta desejada.

O Banco Central utiliza seus instrumentos de política monetária para
fazer com que a taxa de juros efetivamente praticada no mercado inter-
bancário seja a mais próxima possível da meta por ele estabelecida. A
determinação, pelo Banco Central, de uma meta para a taxa Selic é, por-
tanto, o ponto central da política monetária. Veja o quadro a seguir no
qual há um comparativo de variação da taxa:

Taxa Selic (1996 - 2013)

50

45 % a.a.
40

35

30

25

20

15

10

5

0

26/06/96
26/06/97
26/06/98
26/06/99
26/06/00
26/06/01
26/06/02
26/06/03
26/06/04
26/06/05
26/06/06
26/06/07
26/06/08
26/06/09
26/06/10
26/06/11
26/06/12
26/06/13

Fonte: Banco Central do Brasil
A taxa Selic é a taxa mínima de captação dos bancos. Quando aumen-
ta a meta para a taxa Selic, o Banco Central está executando uma políti-
ca monetária contracionista, pois as taxas de outros títulos financeiros
(por exemplo, Certificados de Depósito Bancário, que são depósitos a
prazo) também devem subir, ou seja, o dinheiro fica mais caro para os

capítulo 5 • 105

COMENTÁRIO bancos. ATENÇÃO

Demanda agregada A expectativa da autoridade monetária é de que os bancos, para poderem manter
seus ganhos com a intermediação financeira, elevem os juros cobrados nos emprés-
Como veremos mais adiante, a eleva- timos a seus clientes.
ção da taxa de juros também é uma
forma de influenciar o comportamento Esse aumento da taxa de juros reduz a demanda por empréstimos,
da taxa de câmbio, porque pode atrair tanto para investimentos produtivos como para o consumo, levando a
dólares do exterior para serem aplica- uma retração da atividade econômica (ou do ritmo de crescimento da
dos no mercado financeiro brasileiro. demanda agregada). O objetivo último de tal medida é reduzir pressões
inflacionárias que sejam entendidas como provenientes de um excesso
de demanda agregada.
COMENTÁRIO
O esquema a seguir retrata, resumidamente, um exemplo de polí-
Metas de inflação tica monetária expansionista. O objetivo último é estimular o cresci-
mento econômico.
A meta de inflação é definida pelo
Conselho Monetário Nacional, com- REDUÇÃO DA TAXA DE JUROS DO MERCADO INTERBANCÁRIO
posto pelos ministros da Fazenda e do
Planejamento, além do presidente do AUMENTO DOS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS
Banco Central.
AUMENTO DA DEMANDA AGREGADA

AUMENTO DA ATIVIDADE ECONÔMICA

Meta de inflação
No Brasil, a partir de 1999, foi adotado o regime de metas de inflação,
que substituiu a meta cambial estabelecida durante a primeira fase do
Plano Real. Em 2013, o centro da meta de inflação era de 4,5%, com in-
tervalo de tolerância de 2,0 (ver tabela a seguir).

Histórico de Metas para a Inflação no Brasil

Ano Meta(%) Banda (p.p.) Limites Inferior Inflação Efetiva
e Superior (%) (IPCA % a.a.)

1999 8 2 6-10 8,94

2000 6 2 4-8 5,97

2001 4 2 2-6 7,67

2002 3,5 2 1,5-5,5 12,52

2003 4 2,5 1,5-6,5 9,30

2004 5,5 2,5 3-8 9,60

2005 4,5 2,5 2-7 5,69

106 • capítulo 5

Ano Meta(%) Banda (p.p.) Limites Inferior Inflação Efetiva COMENTÁRIO
e Superior (%) (IPCA % a.a.)
2006 4,5 Bancos comerciais
2007 4,5 3,5 2-7 3,14
2008 4,5 Bancos autorizados a emitir depósito
2009 4,5 2 2,5-6,5 4,46 à vista.
2010 4,5
2011 4,5 2 2,5-6,5 5,90
2012 4,5
2013 4,5 2 2,5-6,5 4,31

2 2,5-6,5 5,91

2 2,5-6,5 6,50

2 2,5-6,5 5,84

2 2,5-6,5 5,91

Fonte: Banco Central do Brasil

RESUMO

Ao predeterminar limites toleráveis para a inflação, o governo procura mostrar para
a sociedade que prioriza o combate à inflação, e sinaliza como o Banco Central deve
executar a política monetária. Se a taxa de inflação se aproxima do limite superior, o
Banco Central deve executar uma política monetária contracionista, elevando a taxa
de juros. Caso a taxa de inflação esteja próxima ao limite inferior, isto significaria
maior espaço para executar uma política monetária expansionista.

Instrumentos de política monetária: introdução

Os instrumentos de política monetária podem ser acionados tanto para
estimular a concessão de crédito (política monetária expansionista),
como para reduzir o ritmo da atividade bancária (política monetária
contracionista). Os instrumentos clássicos de política são o depósito
compulsório, a taxa de redesconto e as operações de mercado aberto.

Depósito compulsório
Como vimos, todos os bancos mantêm uma conta de reservas bancárias
no Banco Central, através da qual o sistema bancário (inclusive o Banco
Central) faz suas movimentações financeiras. Todos os bancos comer-
ciais (que são aqueles autorizados a emitir depósito à vista) são obriga-
dos a manter um saldo mínimo nesta conta, que é uma proporção do
saldo de depósitos à vista dos seus clientes.

Esta proporção mínima é chamada de depósito compulsório, tendo
duas funções. A primeira é garantir que os bancos tenham recursos
para satisfazer às demandas de seus clientes que queiram sacar pa-
pel-moeda nos caixas ou transferir recursos de sua conta para outro

capítulo 5 • 107

banco. A segunda função é regular a capacidade dos bancos de conceder empréstimos:
quanto maior a proporção de reservas bancárias em relação aos depósitos à vista, ou seja,
quanto maior o depósito compulsório, menor a capacidade dos bancos de emprestar
para seus clientes através do multiplicador bancário.

RESUMO

Portanto, quando eleva o percentual de depósito compulsório, o Banco Central está adotando uma política
monetária contracionista; e vice-versa, se reduz a obrigatoriedade de manter reservas dos bancos, está
praticando uma política monetária expansionista.

AUMENTO DA ALÍQUOTA DO DEPÓSITO COMPULSÓRIO
DIMINUIÇÃO DO MULTIPLICADOR BANCÁRIO

REDUÇÃO DO CRESCIMENTO DOS EMPRÉSTIMOS E DOS DEPÓSITOS À VISTA
MENOR LIQUIDEZ

AUMENTO DA TAXA DE JUROS

Taxa de redesconto
Uma das funções mais importantes de qualquer banco central é a de ser um empresta-
dor de última instância para os bancos. Ao longo da história, esse tem sido um papel
fundamental desempenhado pelos bancos centrais, que tradicionalmente emprestam
recursos para bancos com problemas de liquidez, e fazem isso creditando na conta re-
servas bancárias (mencionada anteriormente). Esse tipo de empréstimo é o redesconto ou
assistência financeira de liquidez.

ATENÇÃO

O Banco Central cobra juros nesses empréstimos. Alterar a taxa de juros das operações de redesconto é
uma forma de influenciar a atuação dos bancos, ou seja, é um instrumento de política monetária.

Se o Banco Central aumenta a taxa de redes- REDUÇÃO DA TAXA DE REDESCONTO
conto, os bancos devem atuar mais comedida- EXPANSÃO DO CRÉDITO BANCÁRIO
mente na concessão de crédito, porque pagarão
mais caro para obter reservas bancárias, caso ne- REDUÇÃO DA TAXA DE JUROS
cessitem. Por outro lado, quando reduz a taxa de AUMENTO DA LIQUIDEZ
redesconto, o Banco Central está sinalizando que
os bancos podem aumentar os empréstimos con-
cedidos a seus clientes.

108 • capítulo 5

Operações de mercado aberto (ou open market) CONCEITO
O instrumento de política monetária mais utilizado são as operações
de mercado aberto, através das quais o Banco Central compra ou vende Afrouxamento monetário
títulos da dívida pública para os bancos com o objetivo de, respectiva-
mente, aumentar ou reduzir a liquidez do mercado interbancário. É um programa de compras de ativos
que, entre setembro de 2008 e feverei-
RESUMO ro de 2013, elevou o saldo de reservas
bancárias (cerca de US$40 bilhões),
O interbancário, como mencionado antes, é o mercado onde os bancos negociam que vinha sendo mantido nesse ní-
reservas bancárias entre eles, e em que o Banco Central atua comprando (venden- vel durante muitos anos, para mais de
do) títulos do TN para aumentar (diminuir) o saldo de reservas bancárias e, com isso, US$2 trilhões. O Banco da Inglaterra
influindo na taxa de juros desse mercado (basicamente, a taxa Selic). e, em menor medida, o Banco Europeu,
têm adotado mecanismo semelhante.
Quando a demanda por reservas bancárias é maior que a oferta, a taxa Em todos esses países, nem mesmo es-
Selic tende a se elevar acima da meta. Nesse momento, o Banco Central ses instrumentos de intervenção direta
pode comprar títulos que estejam em poder dos bancos, o que provoca surtiram os efeitos desejados.
uma imediata elevação do saldo de reservas bancárias e, portanto, uma
tendência à queda da taxa Selic em direção à meta. Por outro lado, se é
identificado um excesso de liquidez no mercado de reservas bancárias —
o que pode fazer com que a taxa Selic praticada fique abaixo da meta —, o
Banco Central vende títulos da dívida pública para os bancos, reduzindo,
dessa maneira, as reservas bancárias disponíveis para os bancos.

BANCO CENTRAL COMPRA TÍTULOS DO TN EM PODER DOS BANCOS

AUMENTAM AS RESERVAS BANCÁRIAS

AUMENTO DA LIQUIDEZ

DIMINUI A TAXA DE JUROS DO MERCADO DE RESERVAS BANCÁRIAS (TAXA SELIC)

Instrumentos diretos de política monetária

A eficácia da política monetária tem se mostrado reduzida desde a eclosão
da crise financeira em 2008. Nos EUA, por exemplo, a taxa de juros do mer-
cado de reservas bancárias — a chamada FED funds — foi reduzida para
0,25% ao ano, mas não se verificou uma elevação dos empréstimos ban-
cários. O banco central americano passou então a utilizar um novo instru-
mento, não tradicional, chamado afrouxamento monetário (quantitative
easing). O Banco da Inglaterra e, em menor medida, o Banco Europeu, têm
adotado mecanismo semelhante. Em todos esses países, nem mesmo es-
ses instrumentos de intervenção direta surtiram os efeitos desejados.

Também no Brasil o governo adotou políticas monetárias não
convencionais como forma de enfrentar a crise. Em particular, foram

capítulo 5 • 109

usados os bancos públicos — Banco do Brasil, Caixa Econômica e Banco Nacional de De-
senvolvimento Econômico e Social — para incrementar os empréstimos bancários, o que
forçou os bancos privados a seguirem o exemplo, para não perderem mercado. Consequen-
temente, contrastando com a experiência de outros países, foi registrado forte crescimento
do crédito — entre 2008 e 2012, o saldo dos empréstimos bancários como proporção do PIB
elevou-se de 40,5% para 53,8%.

Política monetária e preço de ativos

Desde a crise financeira de 2007-2008, tem aumentado a preocupação dos economistas com as
oscilações dos preços dos ativos em geral. Quando o Banco Central mantém por muito tempo uma
política monetária expansionista, por exemplo, para incentivar o crescimento econômico, a taxa de ju-
ros dos ativos financeiros de renda fixa torna-os pouco atraentes para os investidores, que passam a
preferir assumir riscos adquirindo ativos de renda variável (tipicamente ações de empresas) e também
imóveis residenciais e comerciais. Tem lugar, portanto, uma inflação de ativos, isto é, uma elevação do
valor das ações (mercado de capitais) e dos imóveis (mercado imobiliário). O aumento excessivo dos
valores praticados nesses dois mercados pode configurar a formação de uma bolha especulativa, que
pode ser definida como uma elevação anormal (ou, como preferem alguns economistas, irracional) do
preço de um ativo. A capacidade do Banco Central de atuar nessa situação tem sido muito discutida:
se o Banco Central não intervém furando a bolha (isto é, aumentando a taxa de juros), pode levar a
uma contaminação da inflação de ativos para o resto da Economia; por outro lado, se fura a bolha, pode
ocasionar uma súbita reversão dos preços e, portanto, precipitar uma crise financeira.

Política cambial

Política cambial pode ser definida como o conjunto de medidas governamentais visan-
do influenciar o comportamento da taxa de câmbio, isto é, o preço da moeda nacional
em relação às moedas estrangeiras mais utilizadas no comércio internacional — no
caso do Brasil, o dólar americano.

ATENÇÃO

A política cambial inclui a escolha, pelo governo, da forma como é determinada a taxa de câmbio oficial
— se a taxa de câmbio é fixada pelo governo ou livremente pelo mercado, ou uma solução intermediária.

A taxa de câmbio nominal é o valor da moeda nacional medido em outra moeda. No
Brasil, a taxa de câmbio nominal divulgada diariamente pelo Banco Central é a relação do
real com o dólar americano.

EXEMPLO

Por exemplo, em 17 de março de 2014, a cotação do dólar no mercado doméstico de câmbio no fecha-
mento do dia era de R$2,3513 (compra) e de R$2,3528 (venda). Quando a moeda nacional se desvaloriza,
ou seja, quando se verifica uma subida no câmbio, o valor da moeda de referência medido em moeda na-

110 • capítulo 5

cional aumenta. Assim, se o valor do dólar passa de R$2,00 para R$2,20, diz-se que COMENTÁRIO
o real se desvalorizou (neste caso, em 10%). Por outro lado, se a cotação do dólar
diminui, diz-se que há uma valorização do real. Balanço comercial

Em países que não emitem moeda de ampla aceitação internacional, a No capítulo anterior, através do caso
taxa de câmbio é uma variável fundamental. Esses países têm uma restri- hipotético III sobre o Balanço de Pa-
ção externa: para adquirir bens e serviços no exterior, necessitam de moe- gamentos, vimos que, se déficits co-
da forte (dólares, euros, ienes etc.). Um país como o Brasil não pode gastar merciais não forem financiados pela
mais moeda estrangeira do que recebe com suas exportações, ou seja, não Conta de Capital e Financeira, haverá
pode manter um balanço comercial deficitário por períodos prolongados. perda de reservas internacionais.

Regimes cambiais: vantagens e desvantagens
COMENTÁRIO
Por regime (ou padrão) cambial entende-se a forma como é determinada
a taxa de câmbio: taxas de câmbio flutuantes, taxa de câmbio fixa ou taxa Ao longo da história
de câmbio administrada. Cada um desses regimes tem suas vantagens
e desvantagens, e os economistas se dividem quanto à melhor opção. Até o início da década de 1930, quan-
do se iniciou a Grande Depressão, a
Taxa de câmbio fixa maioria dos países (inclusive o Brasil)
adotava o padrão-ouro: a emissão de
Em um extremo, temos o sistema de taxa de câmbio fixa, em que o go- moeda estava lastreada em ouro e
verno se compromete a comprar e vender dólar a um valor por ele pré- a taxa de câmbio era fixa. Os países
-estabelecido, o qual deve permanecer constante por longos períodos. desenvolvidos voltaram a adotar um
Ao longo da história, foi o regime cambial mais utilizado. regime de taxa de câmbio fixa a partir
do fim da Segunda Guerra Mundial (o
O Sistema de Bretton-Woods (taxa fixa) foi dissolvido em 1971, chamado Sistema de Bretton-Woods),
quando os EUA abandonaram a conversibilidade do ouro com dólar. que admitia que a taxa de câmbio, em
Desde então, os países centrais adotam, oficialmente, o regime de determinadas situações, pudesse ser
taxas de câmbio flutuantes. alterada pontualmente.

REFLEXÃO

Nos anos 1980 e 1990, muitos países emergentes seguiram um regime de taxas de
câmbio fixas, ou quase fixas. A Argentina foi um exemplo clássico, tendo adotado,
entre 1989 e 2002, a conversibilidade do peso em relação ao dólar, mantendo fixa a
paridade de um dólar igual a um peso. O Brasil, na primeira fase do Plano Real, esta-
beleceu um regime cambial que mantinha o dólar dentro de uma variação estreita (a
chamada banda cambial) e, nesse sentido, seu regime cambial possuía as vantagens
e desvantagens atribuídas a um regime de taxa de câmbio fixa.

Para países com histórico de taxas de inflação elevadas, a fixação da
taxa de câmbio contribui para o combate à inflação e, por essa razão,
é considerada uma âncora cambial. De fato, a estabilidade da taxa de
câmbio pode realmente ajudar a debelar a inflação.

capítulo 5 • 111

EXEMPLO

Suponhamos que o governo fixe o valor do dólar em R$2,00 (desconsiderando impostos e tarifas). Se um
produto custa US$1,00, ele poderá ser importado por R$2,00. Como a inflação nos EUA é muito baixa,
daqui a um ano esse produto poderá estar custando o mesmo em dólar. Se a taxa de câmbio permanecer
US$1,00 = R$2,00, o produto continuará sendo importado pelos mesmos R$2,00, e ninguém conseguirá
vender tal produto acima desse valor no país. Note-se que, para que esse raciocínio faça sentido, é preciso
que haja plena liberdade de importação (abertura comercial).

Entretanto, a escolha do regime cambial influencia as decisões sobre política monetá-
ria. A adoção de um regime de taxa de câmbio fixa tende a restringir a capacidade do gover-
no de gerir a taxa de juros e seus gastos com o objetivo de estimular a atividade econômica.

Suponhamos que o valor da moeda americana seja fixado em R$2,00. Neste caso, o
Banco Central assume o compromisso de comprar qualquer quantidade de dólar por esse
valor. Se ocorre uma crise financeira internacional, as condições do mercado cambial se
deterioram, porque nesses momentos os investidores estrangeiros procuram retirar seus
recursos do país; para isso, compram dólares no mercado de câmbio, levando a uma ten-
dência à valorização da moeda americana.

REFLEXÃO

Para impedir que o valor do dólar suba, o Banco Central seria então forçado a vender dólares, sempre a
R$2,00. A capacidade do banco central brasileiro de vender dólares está limitada à quantidade de divisas
acumuladas (ou seja, das reservas internacionais).

Na medida em que vende dólares, as reservas internacionais diminuem, o que provavel-
mente levará os investidores a demandarem ainda mais dólares. Nessa situação, o Banco
Central se vê obrigado a praticar uma política monetária contracionista, elevando a taxa
de juros, com o objetivo de atrair dólares do exterior e de tentar convencer os investidores
estrangeiros a manterem seus dólares no país.

Nesse exemplo, a elevação da taxa de juros não estaria explicada por uma percepção de
que haveria algum tipo de pressão inflacionária, mas sim com o objetivo de manter a pari-
dade cambial pré-estabelecida. Pelo mesmo raciocínio, o BC não poderia reduzir a taxa de
juros para estimular a atividade econômica, se entendesse que essa redução levaria a uma
pressão sobre a taxa de câmbio.

RESUMO

A elevação da taxa de juros visando manter o equilíbrio do mercado cambial acaba refletindo também
na política fiscal. O aumento dos juros, como vimos, provoca uma elevação do déficit nominal. Para
mostrar aos investidores sua capacidade de honrar o pagamento dos juros da dívida pública, o governo
se veria forçado a praticar uma política fiscal contracionista, independentemente da situação em que
se encontrasse a Economia.

112 • capítulo 5

Portanto, uma grande desvantagem do regime de taxa de câmbio COMENTÁRIO
fixa é quando ocorre uma crise internacional, como as que ocorreram
no México (1994-1995), na Ásia (1997) e na Rússia (1998), quando se veri- Países como o Brasil
ficou uma fuga de capitais, ou seja, os investidores estrangeiros retiram
seus dólares de países como o Brasil. Por ocasião das crises acima mencio-
nadas, a taxa de juros do mercado de
A fixação da taxa de câmbio pode também ser considerada prejudi- reservas bancárias no Brasil chegou a
cial por outro motivo. No exemplo citado anteriormente, um determina- alcançar 50% ao ano, em uma época
do produto não pode custar mais de R$2,00 no Brasil. Mas e se nenhum em que a inflação era muito baixa, o
produtor nacional puder produzir tal produto por esse valor? Nesse que contribuiu para reduzir o ritmo da
caso, o concorrente externo poderá eliminar o produtor brasileiro, o que atividade econômica.
geraria desemprego entre nós.

Taxas de câmbio flutuantes

Muitos economistas acreditam que, em um regime de taxa de câmbio
flutuante, a taxa de câmbio praticada pelo mercado será aquela que pro-
moverá o equilíbrio das contas externas. Se houver déficit nas transa-
ções correntes, a moeda nacional irá se desvalorizar (o valor do dólar vai
aumentar) porque haverá menos dólares disponíveis no mercado cam-
bial (ver capítulo 4). Consequentemente, as exportações aumentarão e
as importações cairão, restabelecendo-se assim o equilíbrio. A grande
desvantagem é que a desvalorização poderá ter efeitos inflacionários,
porque encarecerá os preços dos produtos importados.

EXEMPLO

A desvalorização da moeda aumenta a competitividade dos produtores nacionais.
Suponhamos que uma empresa brasileira possa produzir um determinado produto
por R$10,00, e que o preço internacional deste produto seja US$5,00. Se a taxa de
câmbio for US$1,00 = R$2,00, este produtor não terá lucro ao exportar. Entretanto,
se o real se desvalorizar para US$1,00 = R$4,00, o produtor receberá R$20,00 pelo
produto exportado. Alternativamente, poderá se tornar mais competitivo ao oferecer
o produto por US$4,00, e ainda assim obter lucro.

No caso contrário, ou seja, de que um superávit das contas externas
promova uma valorização cambial (o preço do dólar cai), a vantagem será
uma redução na pressão sobre a inflação; entretanto, a valorização signi-
ficará uma redução das exportações, menor nível da atividade econômica.

Uma vantagem adicional do regime de taxa de câmbio flutuante é que
ele oferece ao Banco Central a oportunidade de executar políticas monetá-
rias visando, exclusivamente, reduzir as flutuações econômicas, sem se im-
portar com nenhuma meta cambial; assim, quando ocorre uma crise finan-
ceira internacional que provoca saída de divisas e, portanto, desvalorização
da moeda nacional, o Banco Central não é obrigado a elevar a taxa de juros.

capítulo 5 • 113

EXEMPLO

Por exemplo, por ocasião da crise financeira de 2008, diferentemente do que ocorreu nas crises verifica-
das na década de 1990, o Banco Central pôde atuar de maneira a reduzir os impactos negativos da crise
internacional sobre o nível da atividade econômica no Brasil, o que não teria sido possível caso tivesse
como missão a manutenção de uma taxa de câmbio predeterminada.

Nos períodos de crise internacional a desvalorização não necessariamente representa
uma ameaça às metas de inflação, porque a atividade econômica tende a se contrair.

Taxa de câmbio administrada

Em nenhum país as autoridades monetárias deixam de atuar para evitar flutuações considera-
das excessivas na taxa de câmbio. Nesse sentido, embora o regime cambial seja, em tese, o de
taxa de câmbio flutuante, na prática, o regime cambial é de taxa de câmbio administrada (tam-
bém chamado de flutuação suja). Quando considera necessário, o Banco Central adota medi-
das visando influenciar o comportamento do mercado de câmbio, que é onde são realizadas as
operações de compra e venda de moeda estrangeira (dólares, euros, ienes, libras esterlinas etc.).

REFLEXÃO

Se as autoridades consideram que o câmbio está desvalorizado, ou seja, que o valor do dólar está acima do
que seria ideal — o que poderia estar dificultando o combate à inflação —, o Banco Central pode atuar no
sentido de induzir uma redução da cotação do dólar no mercado de câmbio.

O Banco Central pode intervir diretamente, vendendo dólares de suas reservas interna-
cionais, aumentando assim a oferta de dólares no mercado, o que tende a resultar em que-
da do valor do dólar. O impacto sobre as reservas bancárias da venda de dólares pelo Banco
Central será idêntico ao da venda de títulos públicos em uma operação de mercado aberto,
isto é, reduzirá o saldo de reservas bancárias.

A política monetária também influencia o comportamento do mercado de câmbio. Por
exemplo, quando o Banco Central pratica uma política monetária contracionista, elevando a
taxa de juros, aumenta o número de investidores estrangeiros interessados em aplicar dinheiro
em títulos públicos no Brasil, e diminui o interesse dos investidores brasileiros em aplicar seus
recursos no exterior. Por outro lado, aumenta o interesse de bancos e empresas sediados no
Brasil em tomar dinheiro emprestado no exterior e aplicá-los no Brasil (é o chamado ganho de
arbitragem). Com isso, aumenta a entrada de moeda estrangeira no Brasil e, portanto, a liqui-
dez no mercado de câmbio, provocando pressão pela valorização da moeda nacional.

ATENÇÃO

Se o Banco Central não intervém no mercado de câmbio comprando o excesso de dólares, o preço da
moeda americana, de fato, se reduz. Como vimos, essa redução (que significa a valorização do real) con-
tribui para reduzir o preço dos produtos importados e, portanto, a taxa de inflação. Mas, por outro lado,

114 • capítulo 5

incentiva o aumento das importações e diminui a capacidade de exportação das COMENTÁRIO
empresas brasileiras, o que tende a levar a uma deterioração da balança comercial.
Atraindo recursos
Portanto, outra forma de tentar evitar desvalorizações cambiais é
elevar a taxa de juros, atraindo recursos (dólares) para serem investidos Exemplificando, um investidor pode
no país em títulos da dívida pública. Por ocasião das crises do México tomar um empréstimo no exterior pa-
(1995) e da Ásia (1997), o Banco Central elevou a taxa Selic para cerca de gando 5% de juros e aplicá-los no país
45% ao ano, para evitar a desvalorização do real (veja novamente o gráfi- recebendo 10% — são os chamados
co contido na seção “taxa Selic”). ganhos de arbitragem. Se não houver
desvalorização superior a 5%, o inves-
POLÍTICA MONETÁRIA AUMENTO DA TAXA DE JUROS QUEDA DO VALOR DO DÓLAR tidor obterá lucro.
RESTRITIVA

VALORIZAÇÃO DO REAL QUEDA NO PREÇO MENOR PRESSÃO
DOS PRODUTOS IMPORTADOS INFLACIONÁRIA

VALORIZAÇÃO DO REAL AUMENTO DAS IMPORTAÇÕES DETERIORAÇÃO DA
E DIMINUIÇÃO DAS EXPORTAÇÕES BALANÇA COMERCIAL

Acumulação de reservas internacionais:
vantagens e desvantagens

Desde que abandonou o regime de âncora cambial, no início de 1999, o
Banco Central deixou de ter a obrigação de acumular reservas interna-
cionais, já que, com a adoção do regime de livre flutuação cambial, não
teria mais razão, em tese, para intervir no mercado de câmbio.

REFLEXÃO

Nos últimos anos, o Brasil, assim como diversos países emergentes, acumulou reser-
vas internacionais em ritmo acelerado. Parte desse acúmulo foi proposital: manter
um elevado saldo de moeda estrangeira representa uma proteção na eventualidade
de uma crise financeira internacional.

Brasil: Reservas Internacionais e Dívida Externa
Saldos em fim de período (em US$ bilhões)

Ano Reservas Internacionais Dívida Externa Bruta

2002 37,8 227,7
2004
2006 52,9 220,2
2008
2010 85,8 199,4

193,8 262,9

288,6 351,9

Fonte: Banco Central do Brasil

capítulo 5 • 115

COMENTÁRIO A crise de 2008-2009, embora considerada a mais grave desde a de
1929, não afetou tão profundamente os países emergentes por essa ra-
Importações zão, em contraste com o que ocorrera por ocasião das crises de menor
intensidade dos anos 1990 (México, Ásia e Rússia).
Do lado das importações, o governo
pode impor barreiras protecionistas Entretanto, parte do acúmulo de reservas se deve à política cambial
através da elevação das alíquotas e do dos governos (por exemplo, do Brasil e da China), que adquiriram reser-
estabelecimento de quotas para limitar vas para impedir uma valorização excessiva de suas moedas.
a importação de determinados produtos.
ATENÇÃO

A manutenção de elevados níveis de reservas internacionais representa um custo fi-
nanceiro para o governo. Ao adquirir dólares, o BC emite reservas bancárias, aumen-
tando a liquidez do mercado monetário. Para impedir que esse aumento de liquidez
acarrete uma diminuição da taxa Selic, o BC vende títulos do TN, aumentando assim
a dívida pública. O governo paga juros da dívida em volume superior ao que recebe,
aplicando os dólares que compra. O custo de manutenção das reservas internacionais
é, portanto, maior quanto mais elevada for a taxa de juros dos títulos da dívida pública.

Política de comércio exterior

Como vimos, as alterações na taxa de câmbio, embora visem primordial-
mente equilibrar as contas externas, tendem a trazer repercussões sobre
outras variáveis. Assim, para obter resultados desejados em relação à
balança comercial, os governos tradicionalmente adotam políticas para
incentivar as exportações e reduzir as importações, independentemente
das variações que venham a ocorrer na taxa de câmbio.

No Brasil, tais medidas incluem a concessão de financiamentos
subsidiados através dos bancos oficiais e de incentivos fiscais. Tais
medidas devem ser entendidas como parte da política industrial, isto
é, no contexto da discussão mais geral sobre desenvolvimento econô-
mico, como destacado no capítulo 6.

Política Fiscal

No capítulo 4, vimos como os gastos do governo e a arrecadação de
impostos influenciam a demanda agregada e a renda. Esta seção
apresenta uma breve discussão sobre política fiscal e sua relação com
as políticas monetária e cambial.

116 • capítulo 5

Definição e objetivos COMENTÁRIO

A política fiscal é realizada pelo governo ao administrar seus gastos e ao Investidores
decidir como vai financiar tais gastos. Idealmente, nos períodos em que
a Economia está se expandindo de maneira sustentável, o governo deve No Brasil, a aquisição de títulos públi-
cobrir seus gastos através da cobrança de impostos e tarifas. cos está disponível também para pes-
soas físicas, através do Tesouro Direto.
ATENÇÃO

Quando o total de gastos é igual ao da receita com impostos, temos um orçamento
equilibrado. Entretanto, quando a receita supera os gastos, temos superávit orçamen-
tário. Quando as despesas do governo superam suas receitas (quando há déficit públi-
co ou orçamentário), a diferença pode ser financiada através do lançamento de títulos
de dívida. Pode ainda financiar seus gastos emitindo títulos de dívida. Por fim, pode sim-
plesmente emitir dinheiro, prática muito comum ao longo da história. Desde a Constitui-
ção de 1988, o Banco Central do Brasil está proibido de financiar diretamente o governo.

O aumento dos gastos do governo contribui para elevar a demanda
agregada da Economia e, portanto, representa um estímulo à atividade
econômica. O corte (a contenção) dos gastos, por sua vez, acarreta efeito
oposto, reduzindo a demanda agregada.

O uso da política fiscal como instrumento de administração do
nível da atividade econômica é aconselhado principalmente por eco-
nomistas keynesianos, que advogam a ideia de que, em momentos de
crise econômica e aumento do desemprego, o governo deve lançar
mão dos gastos públicos como maneira de compensar a redução dos
investimentos privados.

Déficit primário e déficit nominal

Como mencionado no capítulo anterior, a expressão déficit público com-
preende dois conceitos. O primeiro é o de déficit primário, que se verifi-
ca quando a arrecadação do governo através da cobrança de impostos
e contribuições não é suficiente para cobrir seus gastos correntes (no
pagamento dos salários dos seus funcionários, nos gastos com obras
públicas, manutenção de escolas e hospitais etc.).

ATENÇÃO

Como o governo não deve mais emitir dinheiro, ele só pode gastar mais do que ar-
recada, se endividando.

Para isso, o governo emite títulos de dívida, que são comprados por in-
vestidores institucionais, bancos etc., e que gera a dívida pública. O governo

capítulo 5 • 117

COMENTÁRIO paga juros por essa dívida (os famosos juros da dívida pública), sendo que o
total pago de juros é fortemente influenciado pela taxa de juros dos títulos da
Superávits primários dívida pública. Esta, por sua vez, está em grande parte vinculada à taxa Selic.

O montante de recursos obtidos com o O somatório do déficit primário com o total pago dos juros da dívi-
superávit primário reduz a necessidade da pública é o déficit nominal. Nas estatísticas do governo, este déficit é
de financiamento do governo; por isso, chamado de necessidade de financiamento do setor público (NFSP). Parte
aparece com sinal negativo na tabela. do crescimento da dívida mobiliária da União tem sido causada pela ne-
cessidade de rolagem da dívida pública, ou seja, o governo precisa de
recursos para pagar os juros da dívida.

Exemplificando, a tabela a seguir mostra que, em 2011 e 2012, o gover-
no obteve superávits primários equivalentes a 3,1% e 2,4% do PIB, respec-
tivamente. Entretanto, o custo de rolagem da dívida — os juros da dívida
— foram superiores a esses superávits, levando a um déficit nominal.

Brasil: Necessidades de Financiamento do Setor Público

Discriminação 2011 2012

Primário R$ bilhões % PIB R$ bilhões % PIB
Juros
Nominal -128,7 -3,1 -105,0 -2,4

236,7 5,7 213,9 4,8

108,0 2,6 108,9 2,4

Fonte: Banco Central do Brasil

Dívida bruta e dívida líquida

O financiamento do déficit nominal se dá, portanto, através da coloca-
ção de mais títulos públicos no mercado, elevando, dessa maneira, a dí-
vida pública. A dívida pública pode ser mensurada de diversas maneiras.

A tabela a seguir apresenta três tipos de dados: a dívida pública bruta,
que inclui a dívida interna e externa; a dívida pública líquida, que é igual
à dívida bruta menos os créditos do governo, o que inclui as reservas in-
ternacionais do Banco Central; e o saldo total dos títulos do governo em
poder do mercado, que é a dívida mobiliária.

Brasil: Dívida pública (em % do PIB)

Dívida líquida do Setor Público 2010 2011 2012

Dívida pública mobiliária do -128,7 -3,1 -105,0
Governo Federal
236,7 5,7 213,9
Dívida bruta do Governo Geral
108,0 2,6 108,9

Fonte: Banco Central do Brasil, Relatório Anual

118 • capítulo 5

É importante notar que o comportamento da taxa de câmbio pode afetar a situação das
contas públicas. Uma desvalorização do câmbio, por exemplo, impacta negativamente nas
contas do governo ao elevar o valor dos títulos da dívida pública indexados ao dólar, ou à
outra moeda estrangeira. Todavia, a desvalorização aumenta o valor das reservas interna-
cionais medido em reais, reduzindo, assim, o saldo da dívida líquida do setor público.

O fato de o Brasil ter registrado expressivo crescimento de suas reservas internacionais
nos últimos anos e, desde 2011, a moeda nacional ter se desvalorizado, tem contribuído
para a redução da dívida líquida, embora a dívida mobiliária, isto é, o saldo total de títulos
do governo em poder do público, tenha se elevado.

Determinação da taxa de juros, déficits e dívida pública

Haveria uma relação entre a dívida pública e a taxa de juros dos títulos do governo? Este é um
tema que tem sido muito debatido no Brasil desde os anos 1980, e mais recentemente a partir da
chamada crise do Euro. Alguns economistas afirmam que quando a dívida pública é considerada
elevada, os agentes econômicos desconfiam da capacidade do governo de honrar seus compro-
missos financeiros, e por isso exigem um prêmio de risco, ou seja, juros mais altos para compen-
sá-los pelo risco de calote do governo. A solução seria o governo cortar seus gastos para produzir
um superávit nominal, para, aos poucos, ir reduzindo o saldo da dívida pública.

Outros economistas argumentam não haver uma relação direta entre a dívida e os juros. No caso do
Brasil, por exemplo, nossa situação fiscal não seria pior que a de outros países onde a taxa de juros
é consideravelmente mais baixa. No Brasil, a política adequada seria reduzir a taxa de juros, o que
naturalmente reduziria a NFSP e permitiria maior crescimento econômico. O aumento da atividade
econômica eleva a capacidade de arrecadação de impostos e reduz a relação dívida/PIB. Nos países
da periferia europeia mais afetados pela crise, como Grécia, Espanha e Portugal, a solução incluiria
um aumento dos gastos públicos para permitir o crescimento econômico no curto prazo.

ATIVIDADE

Quer explorar o assunto visto neste capítulo? Recomendamos uma visita ao site do Banco Central do
Brasil, em especial nas seções:
• Glossário
•  O que é o COPOM
•  Perguntas frequentes

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FEIJÓ, Carmem (et al.). Para entender a conjuntura econômica. Capítulos 7 e 8. Barueri, São Paulo: Manole, 2008.

capítulo 5 • 119



Noções sobre
Crescimento e

6 Desenvolvimento
Econômico

marcos tostes lamonica

Noções sobre Crescimento e

6 Desenvolvimento Econômico

COMENTÁRIO Como vimos no capítulo 4, sobre Macroeconomia, o estudo do cresci-
mento e do desenvolvimento econômico é feito em termos agregados.
Disparidades Enquanto os capítulos 4 e 5 são dedicados à interpretação macroeconô-
mica de curto prazo, este capítulo se ocupa do longo prazo.
Uma pequena parcela da população vi-
vendo realmente muito bem, e a maio- Neste capítulo aprenderemos noções sobre o crescimento e o de-
ria com níveis de renda bem abaixo do senvolvimento, que envolvem estratégias de longo prazo para que o
nível de renda média. desempenho de ambos seja consistente e duradouro. Ao possuir tais
noções, seremos capazes de intuir sobre as causas das diferenças de
renda e de nível de desenvolvimento entre as nações e sobre a existên-
cia de disparidades na distribuição de renda e riqueza.

Na Economia, crescimento e desenvolvimento não têm o mesmo sig-
nificado, embora um possa estar sempre associado ao outro.

ATENÇÃO

Crescimento econômico é o aumento contínuo da renda ou PIB, em termos ab-
solutos, descontada a inflação, e per capita, ao longo do tempo. Já o conceito de
desenvolvimento econômico, é mais amplo: é o aumento contínuo do bem-estar.

O desenvolvimento leva em conta as alterações da composição do
produto e da alocação dos recursos pelos diferentes setores da eco-
nomia, de forma a melhorar o bem-estar econômico e social. Ou seja,
além dos indicadores econômicos de curto prazo, ele inclui também
indicadores sociais, tais como os níveis de pobreza, desigualdade e
indicadores de qualidade de vida, como acesso a serviços de saúde e
educação, moradia decente etc.

Agora vamos nos aprofundar um pouco mais sobre essa distinção
entre crescimento, desenvolvimento e as variáveis que contribuem
para o aumento da riqueza e da melhoria da qualidade de vida dos
habitantes de uma nação.

Crescimento econômico versus desenvol-
vimento econômico

No campo da Economia, o crescimento e o desenvolvimento econô-
mico podem aparecer frequentemente associados, mas ambos têm
significados e implicações diferentes. Por exemplo, pode haver cresci-
mento econômico sem, necessariamente, ocorrer o desenvolvimento.

122 • capítulo 6

Nesse caso, o crescimento estaria ocorrendo, mas sem promover mudanças nos proces-
sos de produção e na distribuição da renda que levassem a uma maior inclusão social e
redução das desigualdades de renda e riqueza.

REFLEXÃO

O inverso é menos comum, mas também pode ocorrer, ou seja, uma Economia que promova melhoria no
bem-estar da população sem, contudo, apresentar evolução positiva nos indicadores de crescimento. Neste
caso, a riqueza acumulada estaria sendo mais bem distribuída, sem que a riqueza futura esteja aumentando.

É claro que o ideal seria que os dois movimentos ocorressem na mesma direção: cresci-
mento de curto prazo associado à melhoria na alocação de recursos, que leve a uma melho-
ria na distribuição de renda e riqueza, e, mais ainda, que este processo seja cumulativo, ou
seja, mais crescimento gerando mais desenvolvimento.

Assim, podemos entender que o crescimento econômico ocorre através do aumento
contínuo do Produto Interno Bruto (PIB) em termos absolutos, descontada a inflação, ou
por habitante (per capita), ao longo do tempo. Já o desenvolvimento econômico refere-se a
um estágio econômico, social e político da sociedade, representado, dentre outros indica-
dores, pelo nível de produtividade (produto por trabalhador), pela evolução da distribuição
de renda, pelo nível de escolaridade etc. Vejamos a seguir como os economistas interpre-
tam distintamente o crescimento e o desenvolvimento econômico.

Crescimento econômico de longo prazo

Diferentemente dos dois capítulos anteriores, a interpretação do desempenho econômico
ao longo de muitos anos, por exemplo, 10, 20, 50 anos, nos mostra que as flutuações da pro-
dução e do emprego que ocorrem no curto prazo perdem sua importância relativa.

ATENÇÃO

É o crescimento econômico que se sobressai, isto é, o aumento contínuo da produção real nacional, em
termos absolutos e per capita, ao longo do tempo.

Agora, podemos nos perguntar: o que explica o crescimento da produção no longo prazo?
A teoria econômica inicia essa explicação apresentando uma função de produção agregada,
que pode ser representada da seguinte forma:

FÓRMULA

Y = f(K, L, T)

K – estoque de capital
L – quantidade de mão de obra
T – conhecimento tecnológico disponível

capítulo 6 • 123

COMENTÁRIO O estoque de capital representa a capacidade produtiva de uma
Economia, isto é, a quantidade de bens e serviços que ela pode pro-
Fluxo de investimento duzir a cada período de tempo. A variação do estoque de capital é
determinada pelo fluxo de investimento, ou seja, para se acumular
Como visto no capítulo 4, o investimen- capital (para o estoque de capital de uma Economia aumentar) é pre-
to a cada período é um dos componen- ciso investir.
tes da demanda agregada da Econo-
mia. Como componente da demanda, Paralelamente, a força de trabalho é determinada pelo crescimento
explica em grande parte a flutuação da população. Quanto maior a população, maior a força de trabalho. O
na produção no curto prazo. Mas, em nível de conhecimento tecnológico disponível depende de todo progres-
longo prazo, ou seja, quando o fluxo so técnico disponível até os dias de hoje. No entanto, quanto mais nos
de investimento novo é incorporado ao dedicarmos à pesquisa científica, mais rápido surgirão novas tecnolo-
estoque de capital já existente, o inves- gias que, empregadas na produção, irão aumentar a quantidade de pro-
timento torna-se acréscimo de capaci- duto final por fator adicionado.
dade de produção. Ou seja, em longo
prazo, o investimento vai influenciar a ATENÇÃO
produção pelo lado da oferta.
Assim, quanto maior for o volume de capital e trabalho que uma Economia possuir, e
quanto mais rápido se der o desenvolvimento do progresso tecnológico que a mes-
COMENTÁRIO ma possa empregar na produção ao longo do tempo, tanto maior será o crescimento
da produção e, consequentemente, da renda e da renda per capita.
Novas tecnologias
Contudo, é fundamental que tanto as firmas quanto o governo sai-
Repare que o principal atributo da nova bam planejar os acréscimos de capital e trabalho na Economia, bem
tecnologia é o aumento da produtivida- como estimular o progresso técnico, para que o crescimento seja con-
de agregada (produto por trabalhador tínuo. O planejamento do crescimento em longo prazo evita desequi-
mais produto por capital). líbrios no emprego dos fatores de produção, bem como a redução do
crescimento (ou decrescimento, ou estagnação).

COMENTÁRIO REFLEXÃO

Estoque de capital Já sabemos que o crescimento econômico a longo prazo ocorre devido ao aumento
contínuo dos fatores de produção: capital, trabalho e tecnologia. Agora, vamos en-
O estoque de capital físico é formado tender um pouco mais sobre esses fatores de produção.
pela existência de máquinas, equipa-
mentos, instrumentos e edificações.


Acumulação de Capital (K)

A acumulação de capital físico, assim como a mão de obra, é essencial
para o crescimento. A acumulação de capital representa adições de ca-
pital físico ao estoque de capital, fazendo com que este aumente. Assim,
a acumulação de plantas industriais, de obras de infraestrutura (tais
como em estradas e energia elétrica), do investimento em recursos hu-
manos, e a melhor preparação de mão de obra, entre outros, irão contri-
buir para um crescimento econômico consistente e duradouro.

124 • capítulo 6

A qualificação da mão de obra pode ser atribuída à acumulação de COMENTÁRIO
capital humano, que conjuntamente com a acumulação de capital físi-
co, é indispensável ao crescimento econômico. Capital humano

Crescimento da força de trabalho (L) O capital humano é o conjunto de co-
nhecimentos e habilidades que os tra-
O crescimento da força de trabalho é dado pelo crescimento populacio- balhadores adquirem por meio da edu-
nal. Se, por um lado, a força de trabalho cresce à medida que a popula- cação, treinamento e experiência.
ção aumenta, por outro, o consumo agregado também, implicando uma
maior demanda por bens e serviços.
COMENTÁRIO
REFLEXÃO
Taxa de crescimento do PIB
Uma medida para saber o quanto a população contribui para a geração de riqueza é
o produto por habitante (per capita), que é a relação entre o Produto Interno Bruto Inversamente, se a taxa de cresci-
(PIB) e o total de habitantes a cada período de tempo. mento do PIB for menor que a taxa de
crescimento da população, o produto
Se, em um determinado período, a taxa de crescimento do PIB per capita reduzirá, representando uma
for maior que a taxa de crescimento da população, o PIB per capita perda de eficiência na produção, ou
crescerá. Isso significa que neste período a população ou, mais es- seja, mais habitantes produziram me-
pecificamente, seus trabalhadores conseguiram produzir de forma nos bens e serviços.
eficiente mais bens e serviços.

Portanto, nesses termos, para que a renda per capita suba, é preciso COMENTÁRIO
que ocorra uma melhoria na qualidade da mão de obra (obtida através
da melhoria nos níveis educacionais, de treinamento e especialização), Progresso tecnológico
melhoria tecnológica (através do aumento da eficiência na utilização do
estoque de capital) e eficiência organizacional (maximização na utiliza- É a tecnologia disponível, incorporada
ção dos recursos disponíveis). (PASSOS e NOGAMI, 2003, p. 544). aos fatores de produção, que permite
significativas mudanças de processos
Nível de desenvolvimento tecnológico (T) e técnicas que resultam em uma pro-
dução mais eficiente.


COMENTÁRIO

O nível de desenvolvimento tecnológico é um conceito interpretado Poupador de capital
pelos economistas como um estágio de progresso tecnológico, o qual
se expressa na modernidade do estoque de capital e na qualificação Segundo Gremaud (et al. 2006), os
da mão de obra. países em desenvolvimento, como têm
o fator trabalho em abundância, devem
O progresso tecnológico poderá ser considerado como neutro quando enfatizar um processo produtivo pou-
não altera a relação entre trabalhadores e máquinas. Poderá ser poupador pador de capital, que é o fator escasso.
de capital, quando o conhecimento técnico for empregado de forma a uti- O contrário acontece nos países de-
lizar mais trabalho que capital na produção, caso o capital seja o fator es- senvolvidos (op.cit., pág. 484).
casso. E será poupador de trabalho quando o capital for o fator abundante.

Os países desenvolvidos têm uma taxa de crescimento da popula- capítulo 6 • 125
ção relativamente mais baixa, seus trabalhadores são mais instruídos
e os salários são mais altos. Isso faz com que os países desenvolvidos

se preocupem em investir mais recursos no desenvolvimento de máquinas e equipamen-
tos, do que em poupar mão de obra.

Crescimento de curto prazo e o equilíbrio macroeconômico

As escolhas que governantes enfrentam ao estabelecer estratégias de crescimento e desenvolvi-
mento para suas economias, obviamente, não são simples. Se o crescimento econômico alcançado
por determinada Economia é compatível com sua capacidade produtiva, ou seja, se o padrão de
consumo de sua população pode ser adequadamente satisfeito pela sua estrutura produtiva, o país
em questão pode crescer sem incorrer em desequilíbrios, tanto externos quanto internos, como por
exemplo, excesso de endividamento público. No entanto, se um país apresenta baixa taxa de investi-
mento e decide acelerar seu crescimento, apoiado no crescimento do consumo privado ou no gasto
público, por exemplo, incorrerá, no médio prazo, em desequilíbrios orçamentários e, possivelmente, no
setor externo (como visto no capítulo 4), os quais acabarão interrompendo tal modo de crescimento.
Logo, o crescimento é macroeconomicamente sustentável quando não se incorre em desequilíbrios
progressivos (inflação, déficit público ou déficit externo).

Desenvolvimento econômico

O principal objetivo do desenvolvimento econômico é atender a uma demanda fundamen-
tal das sociedades modernas, isto é, o bem-estar. Para tal, o sistema econômico e o governo
devem perseguir basicamente quatro objetivos para satisfazer a demanda por bem-estar de
uma sociedade, a saber: segurança, justiça social, liberdade e preservação do meio ambiente.

O desenvolvimento econômico vai além de um aumento na quantidade de bens e ser-
viços produzidos, em temos absolutos ou per capita, em um determinado período. Por-
tanto, na análise do desenvolvimento econômico, incluem-se as mudanças de caráter
quantitativo e qualitativo.

ATENÇÃO

De acordo com Gremaud (op.cit., 2006), para ocorrer o desenvolvimento econômico devemos observar se
o crescimento econômico que acontece ao longo do tempo está provendo:
a) crescimento do produto por habitante;
b) redução dos níveis de pobreza, desemprego e desigualdade social;
c) melhoria nas condições de vida, tais como: saúde, nutrição, educação, moradia e transporte.

Por essa razão, ressaltam Passos e Nogami (2003), o desenvolvimento econômico não
deve ser analisado ao tomar-se por base só os indicadores de crescimento econômico,
como a taxa de crescimento do PIB e do PIB per capita, mas por outros indicadores que
reflitam mudanças na qualidade de vida da população de uma Economia (op. cit., p. 545).

Em meados do século XX, muitos governos, inclusive latino-americanos, viam no de-
senvolvimento econômico um processo de transformação da estrutura produtiva, como
um meio de superar o atraso histórico em que se encontravam os países subdesenvolvi-
dos e alcançar rapidamente o nível de bem-estar dos países considerados desenvolvidos.

126 • capítulo 6

Nesse processo, muitos países adotaram políticas que incentivavam o COMENTÁRIO
avanço da industrialização como política de aumento de emprego e
renda, trazendo a reboque a melhoria da qualidade de vida. Avanço da industrialização

O processo de desenvolvimento das nações não é recente, e, mesmo No pós-guerra, os vários países que
assim, nem todos os países possuem nos dias de hoje um padrão de vida promoveram um processo de indus-
comparado ao do europeu, norte-americano ou japonês. Assim, o estu- trialização acelerada como forma de
do sobre desenvolvimento econômico, no âmbito econômico e social, é superar o atraso econômico e social
importante, haja vista as diferenças existentes entre as economias de- perseguiram estratégias diferentes.
senvolvidas e as em desenvolvimento. Por exemplo, no Brasil, a industrializa-
ção teve como foco maior atender o
Os principais indicadores sociais: índice mercado interno. Em países asiáticos,
de Gini e índice de desenvolvimento como a Coreia do Sul, o processo de
humano (IDH) industrialização teve como foco aten-
der à demanda externa.
Os índices de Gini e IDH são comumente utilizados para medir e ava-
liar a evolução da qualidade de vida da população em função do cres-
cimento econômico. Avalia então, se o crescimento da produção, da ri- COMENTÁRIO
queza e da população está sendo acompanhado pelo desenvolvimento
econômico — isto é, da melhoria na qualidade de vida, melhor distri- Em desenvolvimento
buição de renda, entre outros, que são os indicadores mais utilizados
como instrumentos para essa avaliação. São atualmente classificadas como
economias de renda baixa (que con-
RESUMO tinuam muito atrasadas em relação
às desenvolvidas) e as de renda mé-
O aumento da renda per capita não é, como já mencionado no capítulo 4, a melhor dia (chamadas também de economias
tradução da melhoria do bem-estar da população. O índice de Gini mede o nível de emergentes, pois estão em vias de
concentração de renda, e o IDH mede o nível de desenvolvimento. convergir com as desenvolvidas).


COMENTÁRIO

Índice de Gini Índice de Gini

O índice de Gini é o instrumento comumente utilizado para medir o Leva o nome de seu criador, o estatísti-
grau de concentração de renda de um país. Por meio dele, podemos co italiano Corrado Gini (1884-1965),
comparar os diferentes graus de concentração de renda entre países já e foi desenvolvido com o objetivo de
reconhecidamente ricos (Estados Unidos, Japão, Alemanha etc.), em medir a desigualdade de renda em uma
desenvolvimento (Brasil, Rússia, China etc.) e os reconhecidamente po- sociedade. Gini também realizou impor-
bres (Etiópia, Nigéria, El Salvador etc.). tantes trabalhos no campo da Demo-
grafia e da Sociologia.
O índice de Gini mostra a diferença entre a renda dos mais pobres
e dos mais ricos de um mesmo país e varia em uma escala de zero a
um. O valor zero representa a situação de igualdade, ou seja, todos capítulo 6 • 127
têm a mesma renda. O valor um está no extremo oposto, isto é, uma
só pessoa detém toda riqueza.

Dessa forma, quanto mais próximo de zero menor será a concentração de renda e desi-
gualdade. E quanto mais próximo da unidade, maior será a concentração de renda, mos-
trando que tal país tem uma desigualdade de renda muito elevada. Quando um país se en-
contra nesta última situação, a maior parte da população recebe a menor parte da renda.

REFLEXÃO

Países com uma alta concentração de renda têm uma classe média reduzida e salários médios muito bai-
xos. É amplamente reconhecido que países com uma desigualdade de renda muito alta são considerados
países pobres, menos desenvolvidos.

O índice de Gini é uma medida utilizada para orientar a elaboração de políticas públicas,
mostrando em quais extratos de renda está a fração da população que precisa receber subsí-
dios, políticas de redistribuição de renda e uma maior oferta de serviços públicos, com o in-
tuito de aumentar a participação dessa parte da população na apropriação da renda nacional.

Explicando o índice de Gini
O índice de Gini se baseia na curva de Lorenz (veremos um exemplo a seguir), que mos-
tra a proporção de renda nacional recebida por uma dada porcentagem da população.
Essas proporções são cumulativas, das famílias mais pobres para as mais ricas. A área
resultante da diferença entre as duas curvas, dividida por toda a área à direita da linha
diagonal, é o índice de Gini.

A linha diagonal (com ângulo de 45º) denota a linha de igualdade perfeita. Quando a
curva de Lorenz, que retrata a distribuição de renda real, é igual à linha diagonal, não há
concentração de renda. Por outro lado, quanto mais a curva de Lorenz estiver afastada (para
direita) da linha diagonal, mais desigual e concentrada é a distribuição de renda do país.
Vejamos um exemplo:

RENDA
100%

PERFEITA QUARTO 25%
DISTRIBUIÇÃO TEM 70% DA RENDA

DE RENDA NACIONAL

TERCEIRO 25%
TEM 15% DA RENDA

NACIONAL

SEGUNDO 25%

TEM 10% DA RENDA CURVA DE
LORENZ
PRIMEIRO 25% NACIONAL
100%
TEM 5% DA RENDA POPULAÇÃO

NACIONAL

0%

128 • capítulo 6

EXEMPLO COMENTÁRIO

A figura apresenta um cenário de elevada concentração de renda. Os 25% mais Crescimento puramente
pobres ficam com apenas 5% da renda, enquanto os 25% mais ricos apropriam-se econômico
de 70% da renda. A partir desse panorama, um governo preocupado em diminuir
a desigualdade, pode elaborar políticas públicas apropriadas para essa faixa da Avalia a evolução do bem-estar de uma
população. Por exemplo, pode implantar um programa de transferência de renda à população somente através dos recursos
população mais carente, para elevar seu padrão de vida, oferecendo maiores opor- que ela possui, pela renda ou riqueza que
tunidades para o desenvolvimento humano (como o Bolsa Família, por exemplo); ela pode gerar.
pode aumentar a oferta e o acesso à educação e serviços de saúde de qualidade;
pode reduzir a carga de impostos de produtos de primeira necessidade (de maior
consumo das populações mais carentes); pode subsidiar moradia etc. COMENTÁRIO

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) IDH

Diferentemente da perspectiva do crescimento puramente econômico, Elaborado pelo Programa das Nações
a abordagem do desenvolvimento humano procura olhar direta- Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),
mente para o potencial de desenvolvimento das pessoas, aumen- em 1990. Seu desenvolvimento do IDH
tando o acesso aos recursos necessários para se obter um padrão de está associado ao nome do economista
vida melhor, considerando uma vida longa e saudável, com acesso Amartya Sen, ganhador do prêmio Nobel
a educação de qualidade e com a preocupação de preservação das de Economia em 1998.
gerações futuras.

O IDH é um indicador socioeconômico com o objetivo de medir o COMENTÁRIO
grau de desenvolvimento econômico e a qualidade de vida oferecida à
população de quase todos os países do mundo. Assim é diretamente Desenvolvimento humano
empregado para comparar o nível de desenvolvimento entre os países.
De acordo com Passos e Nogami
Esse programa partiu do pressuposto de que, para conhecer e aferir (2003), o desenvolvimento humano pro-
o avanço na qualidade de vida de uma população, seria necessário um cura aumentar as opções das pessoas,
indicador que avaliasse progressos sociais, ou seja, um indicador que não apenas aumentando a capacidade
avaliasse o desenvolvimento das capacidades humanas de progresso. de consumir bens e serviços, mas as op-
Assim o IDH considera, além da renda per capita, outras características ções criadas para aumentar a capacida-
que influenciam a qualidade de vida. de ou condição humana.

REFLEXÃO

Segundo o PNUD, a renda é uma variável importante, mas como um meio para
alcançar o desenvolvimento, e não o seu fim. Ao introduzir a ideia de desenvolvi-
mento humano na perspectiva do desenvolvimento econômico, o foco é transferido
da renda para o ser humano.

O conceito de desenvolvimento humano difundido pelo PNUD pres-
supõe um processo de ampliação das escolhas das pessoas, para que te-
nham capacidade e oportunidade para ser o que desejarem.

capítulo 6 • 129

O IDH é calculado pelo PNUD, que avalia 3 dimensões do desenvolvimento humano:
renda, longevidade e educação. Assim, é obtido com base em dados econômicos e sociais,
a saber: PIB per capita, expectativa de vida, anos de estudo e anos esperados de estudo.

O IDH varia em uma escala de zero (nenhum desenvolvimento humano) a um (desen-
volvimento humano total). Assim, inversamente ao índice de Gini, o país é mais desenvol-
vido quando seu IDH é mais próximo de 1 (a metodologia deste índice também é utilizada
para aferir o desenvolvimento de cidades, estados e regiões). Vejamos uma tabela:

IDH 2012 (países selecionados)

Ranking País IDH Ranking País IDH

1º Noruega 0,955 20º França 0,893

2º Austrália 0,938 26º Reino Unido 0,875

3º Estados Unidos 0,937 40º Chile 0,819

4º Holanda 0,921 45º Argentina 0,811

5º Alemanha 0,920 51º Uruguai 0,792

6º Nova Zelândia 0,919 61º México 0,775

7º Irlanda 0,916 85º Brasil 0,730

8º Suécia 0,916 91º Colômbia 0,719

9º Suíça 0,913 173º Etiópia 0,388

10º Japão 0,912 185º Moçambique 0,327

Fonte: PNUD
Apesar dos avanços recentes, podemos ver na tabela que o Brasil se encontra em
uma posição intermediária em relação aos países do globo. Segundo o PNUD (2013),
o Brasil saltou de um IDH de 0,522 em 1982, para 0,730 em 2012. No índice de Gini,
passou de 0,6356, em 1989, para 0,5299 em 2012. Isto pode ser interpretado como um
processo de convergência, ainda que lento, aos níveis de renda e qualidade de vida dos
países desenvolvidos.

REFLEXÃO

Contudo, vale ressaltar que outros países latino-americanos, como Chile, Argentina, Uruguai e México,
embora tenham uma geração de riqueza absoluta inferior à brasileira, possuem, segundo o PNUD de 2012,
um desenvolvimento humano melhor que o do Brasil.

Desenvolvimento sustentável

A questão da sustentabilidade do desenvolvimento econômico foi o tema de debate na famo-
sa Conferência das Nações Unidas de 1972, em Estocolmo. O conceito de desenvolvimento
sustentável passou a ser disseminado após o relatório da Brundtland Commission, de 1987.

130 • capítulo 6

ATENÇÃO COMENTÁRIO

Esse conceito define como sustentável o desenvolvimento econômico que atenda Conservação do meio ambiente
às necessidades da geração corrente sem comprometer a capacidade das gera-
ções seguintes atenderem suas próprias necessidades. Dessa forma, o cresci- Recursos naturais e ambientais são
mento e o desenvolvimento econômico deveriam ser perseguidos levando-se em empregados ao longo do processo de
conta o equilíbrio entre o que é socialmente desejável, economicamente viável e crescimento econômico, mas devem ser
sem danos irreversíveis ou não ao meio ambiente. usados com consciência para evitar a
exaustão acelerada de recursos não re-
Dessa forma, para o desenvolvimento ser sustentável é necessário nováveis, a degradação do meio ambien-
que o crescimento econômico e a melhoria da qualidade de vida ocor- te e a poluição. Caso contrário, o cresci-
ram respeitando a conservação do meio ambiente. mento e o próprio desenvolvimento não
serão sustentáveis.
A acumulação de lixo não orgânico, poluição dos recursos hídricos e do
ar, bem como a utilização eficiente de recursos naturais finitos, expõem o
desafio, para as gerações atuais e seguintes, quanto à manutenção do atual COMENTÁRIO
ritmo de crescimento da produção e consumo, à medida que a melhoria de
vida em muitas sociedades permite um aumento no padrão de consumo. Ecologicamente possível

O desenvolvimento sustentável, do ponto de vista ambiental, requer Novas tecnologias devem ser persegui-
o equilíbrio entre proteção do meio ambiente e seus recursos, e o uso das para que o uso dos recursos ambien-
destes recursos de forma a garantir uma qualidade de vida aceitável (de- tais pelo progresso econômico não de-
senvolvimento humano) para os habitantes não só de algumas nações, gradem o meio ambiente, prejudicando
mas para todo planeta. Portanto, o crescimento e o desenvolvimento o desenvolvimento e a qualidade de vida
econômico devem ocorrer dentro dos limites do que é ecologicamente das gerações futuras.
possível, e promover o acesso a recursos e oportunidades para o aumen-
to da prosperidade a todos.

Políticas públicas para a promoção do
desenvolvimento

Vimos que o padrão de vida da sociedade depende de sua capacidade
de produzir bens e serviços, e que sua produtividade depende do capi-
tal físico, do capital humano, dos recursos naturais e do conhecimento
tecnológico. Mas o que os formuladores de política podem fazer para
estimular o aumento do produto por trabalho, que traz efeitos positivos
sobre a renda e a contínua melhoria do padrão de vida da sociedade?

REFLEXÃO

Nesta seção destacaremos algumas políticas públicas que os governos têm implementado
para promover o desenvolvimento econômico nos países. Primeiramente, trataremos do
incentivo à Acumulação de Capital; em seguida, da Educação e do Direito de Propriedade;
depois do Livre Comércio, e, finalmente, dos estímulos à Pesquisa e Desenvolvimento.

capítulo 6 • 131

COMENTÁRIO Política de incentivo à acumulação de capital

Forte correlação O incentivo à acumulação de capital produtivo consiste em estimular o in-
vestimento na formação de capital fixo. Isso pode ser feito por meio de es-
Como o consumo das famílias e a arre- tímulos à expansão de uma indústria de bens de capital, a qual venha pro-
cadação tributária aumentam, podendo duzir bens de capital mais avançados, contribuindo para o aumento do
induzir a um aumento nos gastos do produto da economia e da renda por trabalhador. Investir mais recursos
governo, as firmas, em um clima de ex- na produção de bens de capital proporcionará um aumento no estoque
pectativas otimistas, podem elevar seus de capital do país, permitindo ao mesmo produzir mais bens e serviços.
investimentos para ampliar a capacidade
produtiva e, com isso, satisfazer a de- EXEMPLO
manda crescente devida ao crescimento
da renda nacional. Suponha que o Congresso Nacional aprove uma mudança tributária que tenha por
objetivo tornar o investimento mais atraente, através da criação de uma espécie de
crédito tributário para o investimento. Essa política concederia uma vantagem tribu-
tária — uma dedução do imposto devido — a qualquer empresa que construa uma
nova fábrica ou compre um novo equipamento, com impacto positivo na geração de
novos postos de trabalho. Isso, na prática, representaria uma recompensa às empre-
sas que tomam empréstimos e investem em novo capital, alterando o investimento
para qualquer nível da taxa de juros.

A relação entre crescimento e investimento é forte, embora não seja
perfeita. Os países que dedicam sistematicamente uma grande parcela
do seu PIB ao investimento, tendem a ter altas taxas de crescimento do
PIB no longo prazo. Os que dedicam parcelas pequenas do PIB ao inves-
timento, ou apresentam um comportamento do investimento evoluin-
do de forma muito volátil (ora o investimento se expande muito rápido,
ora muito devagar), tendem a ter baixas taxas de crescimento no longo
prazo, quando comparado ao primeiro caso.

No entanto, à medida que a renda agregada aumenta, o investimento
também aumenta, conotando uma forte correlação entre estas duas va-
riáveis. Como vimos no capítulo 4, o investimento expande a demanda,
que por sua vez, expande a produção, o emprego e a renda.

O financiamento do investimento em capital fixo e a poupança

Para a expansão da acumulação de capital, é essencial o desenvolvimento
de um sistema de financiamento (concessão de empréstimos bancários em
prazos e condições razoáveis ou o desenvolvimento de um mercado de títu-
los) que viabilize projetos de imobilização de capital, envolvendo longo perío-
do de tempo para gerar fluxos de renda que permitam saldar dívidas contra-
ídas. Na ausência de um sistema financeiro que atenda a esta necessidade,
o governo pode adotar, por exemplo, políticas que aumentem a taxa de pou-
pança da nação, reduzindo o consumo privado. Esta política, no entanto,

132 • capítulo 6

só será bem sucedida se a poupança aumentada significar que haverá mais recursos disponíveis
para produzir bens de capital. Caso a poupança aumentada seja dirigida à especulação financeira,
diz-se que ocorre um vazamento de recursos que não ampliam a demanda agregada.
O governo também poderá estimular o investimento em capital produtivo através das operações
dos bancos públicos de desenvolvimento, que visam financiar o investimento de longo prazo. Os
bancos públicos têm um papel distinto dos bancos privados. O papel dos bancos públicos é basi-
camente atender à demanda de crédito não suprida pelo setor financeiro privado. Eles concedem
crédito para grandes, médios e pequenos produtores e empreendedores, projetos de infraestrutura
e investimentos que têm por objetivo o desenvolvimento regional, por exemplo, que é relevante no
desenvolvimento econômico.
Devido à natureza do investimento que envolve sempre um horizonte de longo prazo — no qual o
risco, a incerteza, o volume de recursos solicitados e os prazos de financiamento são maiores —,
em muitos casos, o banco privado pode não ter interesse em financiá-lo. Além disso, em países
em desenvolvimento, o mercado de títulos é geralmente insuficiente para atender ao volume de
demanda de recursos das empresas para financiamento de longo prazo. Portanto, a escassez de
financiamento desse investimento produtivo pode ser abreviada pela atuação dos bancos públicos
de desenvolvimento.
No caso do Brasil, entre os bancos públicos, destacamos o Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), o qual financia investimentos que contribuem para o crescimento
econômico do país, concedendo empréstimo de longo prazo com taxa de juros abaixo das taxas de
mercado. Entre os projetos que requerem um grande volume de recursos, o BNDES tem financiado
investimentos nas áreas de petróleo e gás, energia elétrica, logística, agronegócio etc. Entre os princi-
pais objetivos do BNDES, está a promoção das potencialidades produtiva e inovadora, com impactos
na exportação de bens e serviços, na geração de emprego e renda, e qualidade de vida (através dos
financiamentos a investimentos em infraestrutura, transporte, saúde, educação, cultura e lazer).

O aumento da capacidade produtiva pode ocorrer pelo investimento dos residentes e
dos não residentes, ou seja, o investimento estrangeiro. O investimento estrangeiro pode
assumir várias formas. Por exemplo, a montadora Hyundai poderia construir uma fábrica
de carros no Brasil. Como esse investimento seria diretamente na produção, ele é chamado
de investimento estrangeiro direto.

Alternativamente, se um não residente adquirir ações de uma empresa brasileira (com-
prar uma participação na propriedade da empresa), ele poderia usar os recursos obtidos
com a venda de ações para construir uma nova fábrica. No entanto, o investimento estran-
geiro indireto só ocorre com a primeira venda da ação.

ATENÇÃO

Um investimento financiado com dinheiro de não residentes, mas operado por residentes, é chamado de
investimento estrangeiro indireto. Dessa forma, o resto do mundo poderá proporcionar os recursos neces-
sários (poupança) para aumentar o estoque de capital da Economia nacional.

Os economistas acreditam que o investimento estrangeiro pode trazer uma grande con-
tribuição para o crescimento e o desenvolvimento econômico dos países. Mesmo que parte

capítulo 6 • 133

COMENTÁRIO dos benefícios desse investimento retorne ao proprietário estrangeiro,
o investimento aumenta o estoque de capital da Economia, gerando
Capital humano maior produtividade e maiores salários. Além disso, o investimento
estrangeiro é uma maneira pela qual os países pobres podem absorver
Em países em vias de desenvolvimento, parte das tecnologias avançadas usadas pelos países ricos.
especialmente onde o capital humano é
mais escasso, a diferença entre os salá- Banco de desenvolvimento internacional e
rios dos trabalhadores instruídos e não o desenvolvimento econômico
instruídos é muito elevada. O baixo nível
de instrução e qualificação é uma das O Banco Mundial é uma organização que procura incentivar o fluxo de capital
fontes da concentração de renda. para os países pobres ou em desenvolvimento, como Brasil, Chile, Panamá, Áfri-
ca do Sul etc. Essa organização internacional capta recursos dos países avan-
çados, como os Estados Unidos, Alemanha e Suíça, e os utiliza para conceder
COMENTÁRIO empréstimos a países menos desenvolvidos, de forma que eles possam investir
em estradas, saneamento básico, escolas e outros tipos de capital que possam
Investimento em capital humano promover o desenvolvimento econômico e a melhoria do padrão de vida, princi-
palmente das camadas mais carentes da população. O Banco Mundial também
Quando os estudantes estão na escola, oferece a esses países assessoria para auxiliar os países que estão em vias de
abrem mão dos salários que podem ga- desenvolvimento a empregar melhor os recursos disponíveis na nação.
nhar. Em países menos desenvolvidos,
as crianças frequentemente abando- Política de incentivo à Educação
nam as escolas muito jovens, ainda que
o benefício da educação seja muito alto, Outro meio fundamental para o desenvolvimento de um país são as po-
simplesmente porque seu trabalho é ne- líticas públicas que elevam o nível de educação da população. O gasto
cessário para ajudar a manter a sua fa- público em educação representa investimento em capital humano. Para
mília. É nessa situação que as bolsas de um país crescer e se desenvolver ao longo do tempo não basta acumular
estudos governamentais têm um papel capital físico, mas também capital humano.
essencial e fundamental no desenvolvi-
mento socioeconômico da nação. Assim, a política de governo pode aumentar o padrão de vida de sua
população oferecendo boas escolas e incentivando a sua plena utiliza-
ção. O governo pode oferecer bolsas de estudos a alunos (ou à sua famí-
lia), para mantê-lo na escola, e assim evitar a evasão escolar, que ainda é
alta nos países menos desenvolvidos.

O investimento em capital humano implica deixar de trabalhar (para
auferir uma renda) e se dedicar a um estudo: profissionalizante, espe-
cialização ou de pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias ou
conhecimento. Portanto, assim como o investimento em capital físico,
o investimento em capital humano tem um custo de oportunidade.

Investimento em capital humano

Para os economistas estudiosos do crescimento de longo prazo, o investi-
mento em capital humano é particularmente importante, pois propaga exter-
nalidades positivas. Uma externalidade é o efeito das ações de uma pessoa

134 • capítulo 6

sobre o bem-estar de outra pessoa. A externalidade pode também ser cau- CONCEITO
sada pelas empresas e pode afetar quem está perto ou longe dela. Uma pes-
soa instruída, por exemplo, poderia gerar novas ideias sobre a melhor forma Direito de propriedade
de produzir bens e serviços. Se estas ideias entrarem para o conjunto de
conhecimento de uma sociedade, de modo que todos possam usá-las, então O direito de propriedade refere-se à
essas ideias serão uma externalidade da educação. Nesse caso, o retorno capacidade das pessoas de exerce-
da instrução para a sociedade é maior do que o retorno para o individuo. rem autoridade sobre os recursos que
Esse argumento justificaria grandes subsídios ao investimento em capital possuem.
humano que observamos sob a forma de educação pública.
Mankiw (2005) chama a atenção para a fuga de cérebros. Muitos países en-
frentam a emigração de muitos trabalhadores mais instruídos para países ricos COMENTÁRIO
e desenvolvidos, onde eles podem desfrutar de um padrão de vida mais eleva-
do. Como o capital humano gera externalidade positiva, essa fuga de cérebros Tribunais de justiça
deixaria as pessoas que permanecem, no país, ainda mais pobres do que antes.
Esse problema cria um dilema para os formuladores de política. Os países ricos O Estado deve garantir o direito de pro-
têm os melhores sistemas de educação superior, sendo natural que os países priedade. Os tribunais fazem com que os
pobres enviassem seus melhores alunos para o exterior a fim de melhorar sua direitos de propriedade sejam cumpri-
instrução. No entanto, esses alunos que passaram algum tempo fora podem dos. Por meio da justiça penal, os tribu-
decidir não voltar para seus países de origem, e essa fuga de cérebros reduziria nais desencorajam o roubo. Além disso,
ainda mais o estoque de capital humano. (MANKIW, 2005, p. 374). por meio da justiça civil, os tribunais ga-
rantem que compradores e vendedores
respeitem os contratos.


Política de garantia ao Direito de Propriedade

Um produto de consumo das famílias, assim como muitos insumos em-
pregados no processo de produção, passa por várias etapas de produção
até que fiquem prontos para serem consumidos. Essa divisão de produ-
ção entre muitas empresas permite que fatores de produção da Econo-
mia sejam usados da maneira mais eficaz possível.

RESUMO

Como vimos no capítulo 3, as economias de mercado se auto ajustam por meio dos
preços de mercado, o que equilibra a oferta e a demanda.

Mas para o sistema de preços funcionar, é necessário um respeito
amplo na Economia pelo direito de propriedade. Uma empresa do ramo
do agronegócio não irá investir na produção de grãos se o direito a sua
propriedade não for garantido, ou seja, não irá investir se ela acreditar
que sua propriedade pode ser confiscada pelo próprio governo ou apro-
priada indevidamente por outros indivíduos.

Ela só irá operar se tiver certeza de que se beneficiará da venda subse-
quente de sua produção. Por isso, os tribunais de justiça desempenham
um papel importante nas economias de mercado.

capítulo 6 • 135

COMENTÁRIO A política de governo deve promover a eliminação dos obstáculos ao
bom funcionamento do mercado, como garantir os direitos de proprie-
Políticas econômicas de livre dade de todos os residentes e não residentes no país. A ineficiência do
comércio sistema de justiça, por exemplo, poderia desestimular a geração de in-
vestimento doméstico e estrangeiro.
Os governos podem retirar obstáculos
ao livre comércio, tais como tarifas so- REFLEXÃO
bre os produtos importados ou exigên-
cia de cotas de importação. Sem os direitos de propriedade, o país não cresce nem se desenvolve, principalmen-
te, porque isso desestimularia o investimento privado.

COMENTÁRIO Política de incentivo ao livre comércio

Política voltada para dentro As políticas econômicas que permitem o livre comércio da Economia
com as demais nações são vistas como um meio de desenvolvimento
Tem por objetivo aumentar a produtivida- econômico. Segundo seus defensores, permitem que o país empregue
de e os padrões de vida dentro do país, seus recursos disponíveis na produção daquilo em que é mais eficiente,
evitando que os bens produzidos inter- e troque-os, por meio das exportações, pelos bens sobre os quais não
namente entrem em competição com temos conhecimento ou tecnologia para fazê-los.
os estrangeiros no mercado doméstico.
Opõe-se à política voltada para fora. Entre o final dos anos 1940 e início dos anos 1980, muitos países em
desenvolvimento, inclusive o Brasil, adotaram uma política que inibia o
livre comércio como medida de estímulo à industrialização nacional.
AUTOR
REFLEXÃO
Celso Furtado
Como os países pobres tinham poucas indústrias, o livre comércio naquele momento
Celso Furtado (1920-2004) é uma re- poderia impedir que muitos setores industriais nascessem e progredissem. Nesse ce-
ferência no pensamento econômico nário, os países ricos e industrializados exportariam bens mais sofisticados para os pa-
brasileiro, além de ter sido um renoma- íses mais pobres e estes exportariam produtos básicos e primários para os primeiros.
do intelectual, imortalizado pela Acade-
mia Brasileira de Letras em 1997.


Essa política de industrialização acelerada com base em proteção ta-
rifária e não tarifária, que propiciou um rápido crescimento em muitas
economias menos desenvolvidas no pós-guerra, até os anos 1980, é co-
nhecida como política voltada para dentro.

Essa abordagem obtém o apoio de algumas empresas locais que rei-
vindicam proteção contra concorrentes estrangeiros para competir e
crescer. O Brasil foi um país que perseguiu a política de industrialização
acelerada como forma de reduzir sua distância em relação às economias
desenvolvidas. Muitos economistas de renome contribuíram para esta
estratégia, devendo-se mencionar o nome de Celso Furtado.

A partir dos anos 1990, a corrente que propõe o livre comércio
como meio de desenvolvimento passou a predominar. Essa política in-
centivou as empresas instaladas em território nacional a serem mais

136 • capítulo 6

eficientes e competitivas em relação àquelas instaladas no resto do COMENTÁRIO
mundo; isso porque as empresas domésticas — sejam elas de residen-
tes ou não residentes — concorrem com as estrangeiras tanto no mer- Bem público
cado interno quanto externo.
A disseminação desse conhecimento
REFLEXÃO livre é que vai tornar possível a criação
de novas tecnologias que serão aplica-
Para o livre comércio cooperar com o desenvolvimento econômico de um país ou re- das tanto no crescimento da produção
gião em desenvolvimento, é preciso que a tecnologia (ou know-how) disponível seja quanto na melhoria da qualidade de vida.
igualmente acessível a todos os países. Caso contrário, os países mais avançados A evolução da internet é um exemplo.
tecnologicamente sempre estarão em vantagem sobre os países menos avançados
no comércio internacional.

Desse modo, o livre comércio estaria contribuindo para a melhoria
da qualidade e aumentando a quantidade de produto nacional, gerando
mais emprego e renda para seus habitantes, bem como o comércio in-
ternacional pode melhorar o bem-estar dos cidadãos de um país.

Política de incentivo à Pesquisa e Desenvolvimento

Outra política pública é o apoio à Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). O
avanço do conhecimento técnico ao longo do tempo pode ser considera-
do a principal razão para a evolução da qualidade de vida em relação aos
padrões de 20, 50 ou 100 anos atrás.

EXEMPLO

O telefone, a penicilina, o motor elétrico, os computadores e o laser estão entre as
inovações que no último século contribuíram para melhorar a capacidade de produzir
bens e serviços, e também o padrão de vida.

Assim, o governo poderá adotar políticas que estimulem o desen-
volvimento tecnológico, não só criando incentivos para que a inicia-
tiva privada (empresas e universidades privadas) incremente as pes-
quisas, como também estimulando o desenvolvimento tecnológico
por meio das instituições públicas (como os institutos de pesquisa e
as universidades públicas).

Toda pesquisa tem o objetivo de desenvolver conhecimento aplica-
do ou científico. E, de modo geral, o conhecimento é um bem público,
isto é, toda vez que alguém tem ou desenvolve uma ideia, ela entra para
o conjunto de conhecimento da sociedade e, assim, outras pessoas po-
dem fazer livre uso dela.

Um grande estímulo à pesquisa e ao desenvolvimento de novas tec-
nologias é o sistema de patentes propiciado pelo governo. Por exemplo,

capítulo 6 • 137

quando um inventor ou empresa desenvolve um novo produto, como um circuito eletrô-
nico (chip), por exemplo, seu inventor solicita uma patente. Se o produto for considerado
realmente original, o governo concede a patente, dando ao inventor direito exclusivo de
fabricação do produto por um determinado período de anos, que pode chegar ao máximo
de 20 ou 25 anos, dependendo da especificidade do produto.

RESUMO

Na prática, a patente dá ao seu inventor o direito de propriedade sobre sua invenção. A patente concede
um direito de monopólio sobre o qual, durante o seu período de vigência, o proprietário poderá explorá-lo lu-
crativamente, inclusive como meio de ressarcimento dos custos envolvidos na pesquisa que gerou o invento.

Ao permitir que os investidores lucrem com seus inventos, mesmo que seja por um pu-
nhado de anos, o sistema de patentes aumenta o incentivo para que indivíduos e empresas
se dediquem à pesquisa. Assim, a pesquisa e o desenvolvimento de novos conhecimentos e
tecnologias vão aumentando a capacidade das firmas e das famílias de elevarem sua rique-
za e qualidade de vida, utilizando mais eficientemente os recursos escassos e degradando
cada vez menos o meio ambiente.

Gastos do governo em Pesquisa e Desenvolvimento

O governo dos Estados Unidos, há algum tempo, desempenha um papel importante na criação e
disseminação do conhecimento tecnológico. Há mais de um século, o governo americano vem pa-
trocinando pesquisas de métodos de produção agrícola, bem como aconselhando os agricultores
sobre como usar a terra de forma mais produtiva. Mais recentemente, por meio do seu departa-
mento de defesa e da NASA (Administração Nacional de Aeronáutica e do Espaço), tem financia-
do a pesquisa aeroespacial; como resultado, os Estados Unidos tornaram-se líderes na produção
de foguetes e aviões. O governo continua a incentivar o avanço do conhecimento com bolsas de
pesquisa através da Fundação Nacional de Ciência e do Instituto Nacional da Saúde, além das de-
duções de impostos para as empresas que se dedicam à pesquisa e ao desenvolvimento científico
(cf. MANKIW, 2005, p. 376).
As guerras também influenciam a Pesquisa e Desenvolvimento. O departamento de defesa nacio-
nal americano, assim como aqueles de outros países, estimula o desenvolvimento tecnológico e
científico com objetivos de defesa. Mas essa tecnologia acaba transbordando para a sociedade na
forma de bens e serviços de uso civil, em tempo de paz. A difusão do transporte aéreo comercial
intercontinental, o desenvolvimento de radares sofisticados e das telecomunicações, são alguns
exemplos de subprodutos das políticas voltadas para o desenvolvimento tecnológico e científico
em prol da defesa nacional.

Globalização

Do ponto de vista econômico, a globalização pode ser entendida como uma integração glo-
bal das relações econômicas e financeiras. Isto é, as economias tornam seus mercados de
bens, serviços e financeiros integrados às demais economias, criando um único mercado

138 • capítulo 6

global. Nesse processo, as empresas perdem sua característica nacional COMENTÁRIO
ou multinacional para assumir uma postura global. Por exemplo, um
mesmo produto pode ser produzido em escala mundial. Expansão marítima europeia

REFLEXÃO O início das grandes navegações e a
descoberta da América, em 1492, pro-
Segundo a teoria econômica, ao longo da globalização, o sistema capitalista de pro- piciou um intercâmbio cultural e mer-
dução desenvolveu-se em escala mundial, isto é, o mercado, as forças produtivas, a cantil entre os mercados então conhe-
nova divisão internacional do trabalho e a reprodução ampliada do capital expandi- cidos: Europa, Ásia e América. Com a
ram suas fronteiras globalmente. organização mercantilista dessa época,
surgiram novas rotas comerciais que
Origem expandiram as trocas entre os países,
gerando um maior crescimento e de-
Muitos economistas, ao explicar as origens do processo de globalização senvolvimento de suas economias.
(que teve início no fim dos anos 1980), reportam que esse processo é de-
corrente de um fenômeno econômico do século XV, devido à expansão
marítima europeia. COMENTÁRIO

A acumulação de riqueza com as trocas ultramarinas criou con- Meios de comunicação
dições para outro fenômeno econômico: a Revolução Industrial, em
meados do século XVIII, que trouxe desenvolvimento econômico e Sua rápida expansão, a partir dos anos
principalmente tecnológico. de 1950, com a popularização do telefo-
ne, do rádio e do telégrafo, foi o alicerce
REFLEXÃO para a nova fase da globalização que se
inicia ainda nos anos 1980.


A produção aumentou e, com isso, as exportações. Agora, os países poderiam
comprar produtos que não fabricavam de outros países e se especializar na pro-
dução daqueles em que são mais eficientes, ou seja, aqueles que fabricam a um
custo mais baixo.

No século XX, o mundo sofreu outra mudança com a criação das
corporações multinacionais (uma empresa com sedes e fábricas espa-
lhadas pelo mundo), criando uma nova fase do capitalismo e promo-
vendo uma expansão da produção em escala mundial ainda não vis-
ta. Nesse mesmo século, o progresso tecnológico cria e desenvolve os
meios de comunicação.

Através da ascensão das ideias neoliberais dos anos 1980, houve
uma onda de desregulamentação das atividades financeiras, que já se
observava nos países desenvolvidos desde 1970. Assim, o capital finan-
ceiro poderia livremente fluir para outros mercados em busca de uma
rentabilidade maior. Isso corroborado pelo progresso tecnológico as-
sociado à evolução da informática e das telecomunicações. O resulta-
do foi a extraordinária redução dos custos operacionais e dos custos de
transação em escala global.

capítulo 6 • 139

REFLEXÃO

Assim, as operações financeiras tornaram-se significativamente mais baratas, ao mesmo tempo em
que se reduziram os custos de coleta de informações e de monitoramento dos mercados financeiros
espalhados pelo mundo.

Uma consequência disso foi o aumento do fluxo de capital, tanto produtivo quan-
to financeiro, para países em desenvolvimento (principalmente o financeiro). Os paí-
ses da América Latina e da Ásia foram os que mais receberam esses fluxos de capital,
embora não tenham ainda atingido o nível de renda per capita e bem-estar social dos
países desenvolvidos.

Se a liberalização econômica trouxe benefícios pela expansão do comércio, também
tornou as economias mais sujeitas a crises. Nos anos 1990, as economias asiáticas e
latino-americanas sofreram grande volatilidade nas contas externas, levando o regime
de câmbio fixo ao abandono em quase todo o mundo. A crise nos países desenvolvidos,
entre 2005 e 2010, é largamente atribuída à desregulamentação dos mercados financei-
ros promovida pela liberalização econômica.

Liberalismo e globalização

Segundo Gonçalves (2002), a ascensão das ideias neoliberais foi um determinante da globa-
lização. A liberalização representou a redução das barreiras comerciais de acesso aos mer-
cados nacionais. A desregulamentação envolveu a eliminação ou afrouxamento das normas
reguladoras da atividade econômica. Em outras palavras, o Estado, através do seu governo,
passou a ser orientado pela política neoliberal, a qual objetiva diminuir a intervenção e a influ-
ência do Estado na Economia. Assim, a intervenção estatal nos mercados, como planejador e
regulador, dá lugar às decisões da iniciativa privada, pois as decisões de mercado seriam as
melhores para alocar os recursos na Economia; no lugar das barreiras comerciais para pro-
teger a produção nacional está a liberalização da importação de bens e serviços, mesmo que
isso signifique perda de postos de trabalho e diminuição da renda como contrapartida de pre-
ços mais baratos; e o controle do fluxo de capital externo dando lugar à abertura do mercado
doméstico, visto como meio de atingir um crescimento econômico maior do que poderíamos
ter, caso não pudéssemos contar com o investimento financeiro externo. A crise financeira
internacional de 2007 tem colocado em cheque estas ideias.

Características da globalização

O processo de globalização econômica atual representa uma mudança nas estratégias
dos investidores institucionais (bancos, fundos de investimentos, fundos de pensão
etc.) e das empresas transnacionais que operam em escala global. Dessa forma, uma
das características da globalização é uma maior dispersão geográfica dos recursos fi-
nanceiros e produtivos, ao mesmo tempo em que os mercados, onde se operam esses
recursos, tornaram-se mais integrados.

140 • capítulo 6

RESUMO CONCEITO

Seguindo essa lógica, a globalização econômica aconteceu porque ocorreu simul- Investimento externo direto
taneamente: um crescimento extraordinário dos fluxos internacionais de produtos
e capital entre países; um aumento da concorrência internacional; um avanço na O IED é todo fluxo de capital com o intui-
internacionalização da produção e maior integração entre as estruturas produtivas. to de controlar a empresa receptora do
Essas são as principais características da globalização. investimento. O principal agente de reali-
zação do IED é a empresa transnacional
Para um melhor entendimento, separamos a globalização em produ- empresa de grande porte que controla
tiva (que aborda os aspectos envolvendo a produção e o fluxo de bens e ativos em pelo menos dois países. Essas
serviços) e financeira (que envolve o fluxo de moeda e obrigações finan- empresas têm, geralmente, a sua matriz
ceiras entre os países). localizada nos países desenvolvidos e,
por meio do investimento externo direto,
Globalização produtiva elas controlam subsidiárias e filiais em
outros países.


A internacionalização da produção ocorre sempre que residentes de um
país podem adquirir bens e serviços (incluindo operações financeiras)
com origem estrangeira: isso significa a existência de fluxos internacio-
nais de bens, serviços e capital financeiro. Há três formas básicas de in-
ternacionalização da produção: comércio, investimento externo direto
e relações contratuais.

Os serviços, de modo geral, são produtos intangíveis e não armaze-
náveis e, portanto, o comércio internacional de serviços exige o deslo-
camento do consumidor (turismo, por exemplo) ou do produtor com a
presença de pessoa física (consultoria, por exemplo).

No entanto, a principal forma de internacionalização da produção
de serviços é a presença comercial estrangeira no país (na forma de pes-
soas jurídicas). Nesse caso, ocorre o estabelecimento de subsidiárias e
filiais por meio do investimento externo direto (IED). Este último é o in-
vestimento que as empresas estrangeiras fazem somente no setor pro-
dutivo da economia doméstica.

A internacionalização da produção também pode ocorrer por meio
de relações contratuais, pelas quais os residentes de um país (A) transfe-
rem, para residentes de um país (B), um conjunto de ativos específicos
de sua propriedade (tecnologia, capacidade gerencial, organizacional e
mercadológica), que viabilizam a produção de bens ou serviços no país
(B), por uma empresa de origem do país (A).

RESUMO

Trata-se, então, da transferência de know-how (tecnologias de processo, tecnolo-
gias de produto, assistência técnica etc.) ou de direitos de propriedade (marcas,
patentes, copyrights, franquias etc.), por meio de relações contratuais.

capítulo 6 • 141

IMAGEM A rede de fast food McDonald’s é, entre muitos, considerada uma
marca símbolo da globalização. Sua produção de sanduíches em série,
McDonald's por meio de processos rigidamente padronizados, está instalada nos
quatro cantos do planeta, rompendo barreiras culturais. O processo de
Loja McDonalds em Setagaya-ku, multiplicação da rede McDonald’s nos países se dá basicamente pela
Tokyo, Japão. compra de franquias pelo residente.

Nesse processo de globalização, o mercado local passou a fazer parte
COMENTÁRIO de um mercado global, contribuindo para um aumento da concorrência
entre empresas no mercado mundial. Nesse novo cenário, um aumento
Desenvolvimento das exportações dependeria da estratégia de vendas no exterior, além de
uma taxa de câmbio favorável e de uma renda mundial crescente.
O governo, com uma maior arrecada-
ção devido ao aumento da renda, po- Outro fato é que os governos nacionais conferem estímulos e incen-
derá aumentar o investimento público tivos fiscais às empresas domésticas para que estas aumentem cada vez
(escolas, hospitais, segurança, justiça, mais as suas exportações.
defesa etc.) e a quantidade e quali-
dade dos serviços públicos, trazendo REFLEXÃO
efeito positivo sobre a qualidade de
vida da população. Do ponto de vista da nação, a política de estímulo e incentivo pode contribuir, inicialmen-
te, para o aumento do emprego, da produção e da renda; posteriormente, para a melhoria
do bem-estar social, se este crescimento, derivado do aumento do comércio exterior, for
acompanhado do desenvolvimento econômico, conforme discutido anteriormente.

Vale notar ainda que o desenvolvimento do e-commerce e da logística
global tem tornado possível a importação de bens de consumo pelo pró-
prio consumidor, através de sites internacionais como Ebay e Amazon,
para mencionar alguns.

Globalização financeira

A dimensão financeira abrange os fluxos internacionais de capital de
empréstimo, financiamento e investimento externo indireto, também
conhecido como investimento de carteira. Com essa transação, o agen-
te pode comprar ativos financeiros, tais como ações, quotas de empre-
sas ou de fundos de investimento, títulos de dívida do governo, títulos
de dívida privados, entre as principais formas, que dispensam o contro-
le sobre o agente econômico que está recebendo esse investimento.

Agora podemos imaginar o quanto uma entrada abundante de capital
em uma Economia em desenvolvimento pode se traduzir em crescimento
e, principalmente, desenvolvimento econômico. É por meio do aumento
do investimento, do emprego e do PIB que sentimos os efeitos iniciais.

Mas a entrada de capitais financeiros externos, incluindo o investimen-
to externo diretamente na produção, representa um passivo para o país na
forma de pagamento de juros, lucros e amortizações aos investidores inter-
nacionais. Se as condições no mercado financeiro internacional forem favo-

142 • capítulo 6

ráveis, o país poderá continuar tomando empréstimos e recebendo capital financeiro, através
do investimento externo direto e indireto, para financiar seu crescimento e desenvolvimento.

REFLEXÃO

Mas se as condições deteriorarem, como ocorreu na crise financeira internacional de 2008, o país sofrerá
uma saída de recursos financeiros em massa de forma muito rápida. Os agentes financeiros, em um mer-
cado globalizado, começam a vender rapidamente seus ativos mais arriscados, por exemplo, os títulos de
dívida e ações nominados em moedas de países em desenvolvimento, para adquirirem os mesmos ativos
em moedas fortes como o Euro e o Dólar.

Caso as reservas internacionais domésticas não sejam suficientes para fazer frente a
essa elevada demanda por moeda externa, o governo deverá promover ajustes macroeconô-
micos para reduzir o gasto agregado e aumentar a poupança, gerando recursos para pagar
os compromissos internacionais. Isso trará redução do ritmo de geração de emprego e uma
redução no ritmo com que a qualidade de vida melhorava.

Portanto, se a entrada de capital financeiro permite uma maior disponibilidade de
recurso, o que equivale a uma poupança maior (que permite um investimento agregado
maior), gera aquilo que os economistas chamam de vulnerabilidade externa, que repre-
senta a baixa capacidade da Economia de resistir a mudanças nas condições de finan-
ciamento devido à crise ou fatores desestabilizadores provenientes tanto da Economia
doméstica quanto externa.

EXEMPLO

No setor produtivo, podemos dar o exemplo da cidade de Macaé, no estado do Rio de Janeiro. Essa cidade
é uma espécie de base das operações de petróleo da Bacia de Campos. Além da Petrobras e de algumas
empresas nacionais, a extração de petróleo atraiu também empresas estrangeiras, que investiram seu ca-
pital na cidade. Isso permitiu que o investimento no setor fosse maior, trazendo, tanto para a cidade quanto
para o estado, mais emprego, geração de renda e tributação. Mas os lucros das empresas estrangeiras,
não investidos, poderão ser enviados para suas matrizes no exterior, já que seus proprietários são não re-
sidentes (vide capítulo 4). Em algum momento, as mesmas empresas poderão remeter o capital investido,
produzindo uma saída desse capital.

Portanto, a despeito dos benefícios da entrada de capital financeiro, seja para investir
no mercado financeiro ou no setor produtivo, gerando crescimento e até mesmo desen-
volvimento econômico, é necessário o conhecimento das políticas macroeconômicas para
administrar as entradas e as saídas de capital. Essa política teria como objetivo evitar dese-
quilíbrios macroeconômicos que viessem a reduzir, ou mesmo interromper, o processo de
crescimento e desenvolvimento pelo qual o país estivesse passando (vide capítulo 5).

capítulo 6 • 143

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAUMANN, R. CANUTO, O. GONÇALVES, R. Economia Internacional: teoria e experiência brasileira. São Paulo:
Elsevier, 2004.
GREMAUD, A.P. et all. Manual de Economia. Org: Pinho, D.B., Vanconcelos, M.A.S. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006.
GONÇALVES, R. Globalização Econômica, In: O Nó Econômico, primeiro capítulo. São Paulo: Record, 2002.
MANKIW, N.G. Introdução à Economia: edição compacta. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005.
PASSOS, C.R.M. e NOGAMI, O. Princípios de Economia, 4ª ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Relatório de Desenvolvimento Humano. 2013. Disponível em:
<www.pnud.org.br>. Data de acesso: 03/06/2014

IMAGENS DO CAPÍTULO

p. 74 McDonald's
Paul Vlaar · Wikimedia . gnu


144 • capítulo 6

Apêndice

Como fazer e interpretar
gráficos e tabelas

Como fazer e interpretar
gráficos e tabelas

CURIOSIDADE Como fazer

Gráficos de pizza 1) Gráficos

Na língua inglesa o gráfico de pizza é Os gráficos são representações visuais de relações entre variáveis. Uma
chamado de gráfico de torta (pie chart). variável é uma medida de algo que assume diferentes valores ou cate-
gorias. Portanto, as variáveis podem ser numéricas ou categóricas. Por
exemplo, renda é uma variável numérica e sexo é categórica, pois só exis-
te sexo masculino e feminino.

Podem-se fazer gráficos com vários propósitos; trataremos aqui ape-
nas dos que visam apresentar resultados. Os gráficos mais utilizados são
de linhas, colunas e pizzas.

Os gráficos de linha são usados principalmente para mostrar a evo-
lução de uma variável ao longo do tempo. Os gráficos de barra também
são usados para mostrar a evolução de uma variável ao longo do tem-
po, mas, nesse caso, o período tem que ser curto. Por exemplo, para
representar a evolução do emprego ao longo de um ano, deve-se usar o
gráfico de linha. Para representar a evolução do emprego ao longo de
seis meses, deve-se usar o gráfico de barras.

Os gráficos de barras são muito usados também para comparar catego-
rias. Por exemplo, o nível salarial dos homens versus o das mulheres ou vo-
tos recebidos pelos candidatos em uma eleição presidencial. Não devem ser
usadas muitas categorias, caso contrário, a visualização fica prejudicada.

Os gráficos de barras podem ser justapostos ou não justapostos.
No último caso, o mais comum, haveria, por exemplo, uma coluna
para homens e outra para mulheres. No justaposto haveria uma co-
luna só, dividida em duas partes, uma para representar o número de
homens e outra o número de mulheres.

Os gráficos de pizza são partições de uma variável. Por exemplo,
como o seu orçamento doméstico se divide em diferentes tipos de gas-
tos: alimentação, transporte, habitação etc.

Cuidados com o gráfico
1)  Todo gráfico tem que ter um título. O título vai dizer do que trata
o gráfico, deixando clara a variável, como a mesma é mensurada, o
período de tempo, as categorias e o recorte geográfico — exemplo:
evolução da renda (R$) de homens e mulheres, de 1990 a 2012, na
Região Metropolitana do Rio de Janeiro;

146

2)  Todo gráfico tem que ter uma fonte, que é de onde foram obtidos os dados — exemplo:
Fonte: IBGE — Pesquisa Mensal de Emprego;

3)  Se o gráfico trabalha com categorias, deve haver uma legenda para cada uma delas,
identificando qual a curva ou coluna que, por exemplo, é a relativa a homens e qual é a
relativa a mulheres;

4)  Se o gráfico tratar da evolução de variáveis ao longo do tempo, a escala temporal (anos,
meses, trimestres etc.) deve estar no eixo vertical;

5)  Gráficos com muitas curvas devem ser evitados. Quanto maior o número de curvas,
maior a chance de o gráfico ficar incompreensível. É muito comum isso acontecer quando
se trabalha com mais de três curvas;

6)  Gráficos em três dimensões devem ser evitados. Podem ser muito bonitos, mas são pou-
co práticos, pois dificultam a compreensão;

7)  Se a série for de dados com intervalo temporal de menos de um ano — série mensal,
trimestral etc. —, é importante ficar atento para a questão da sazonalidade. Esse ponto será
detalhado mais adiante;

8)  Regra básica: um bom gráfico é como uma boa piada; entende-se na mesma hora. Gráfico
que exige muitas explicações perde em comunicação.

2) Tabelas

A tabela é uma forma de apresentar dados em linhas e colunas. A interseção de uma linha
com uma coluna é chamada de célula. Por exemplo, uma tabela com 2 linhas e 2 colunas
terá 4 células.

Cuidados com uma boa tabela
1)  Toda tabela tem que ter um título. O título vai dizer do que trata a tabela, deixando clara(s)
a(s) variável(eis) apresentada(s), como é(são) mensurada(s), o período de tempo, as catego-
rias e o recorte geográfico — exemplo: evolução da renda e do nível de emprego (R$) de ho-
mens e mulheres, de 1990 a 2012, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro;

2)  Toda tabela deve ter uma fonte, que é de onde foram obtidos os dados — exemplo: Fon-
te: IBGE — Pesquisa Mensal de Emprego;

3)  As colunas e linhas da tabela devem estar identificadas;

4)  Quanto maior o número de linhas e colunas, mais difícil será o entendimento do
conteúdo da tabela;

147

5)  Se os dados forem numéricos:
a. não use mais de uma casa decimal;
b. utilize ponto (.) para separar os milhares — exemplo: 1.230,5;
c. mude a escala se o número tiver mais de 5 dígitos — exemplo: 1.230.523 se torna
1.230,5 mil;
d. a escala deve estar indicada no título da tabela e, se for o caso, também no título
da linha ou coluna;

6)  Se houver totais, os mesmos devem estar em negrito para destacar;

7)  Os títulos das colunas e linhas devem estar, de preferência, em negrito para destacar;

8)  Não confundir tabelas com quadros. Nesse último, o conteúdo das células é constituído
apenas de texto, sem números. Por exemplo, nomes de alunos de acordo com as turmas.

Como interpretar

Todo gráfico e tabela permite duas leituras. A primeira é a do todo e a segunda é a das partes¹.
Portanto, a correta análise exige atenção. Vejamos o exemplo a seguir.

Gráfico 1 - Produção Industrial - Índice de base fixa com ajuste sazonal (base: média de 2002=100) - Brasil 1994-2014

140
130
120
110
100

90
80

jan/94
jan/95
jan/96
jan/97
jan/98
jan/99
jan/00
jan/01
jan/02
jan/03
jan/04
jan/05
jan/06
jan/07
jan/08
jan/09
jan/10
jan/11
jan/12
jan/13

¹ Essa é uma Fonte: IBGE – Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física (PIM-PF)
regra que vale O que primeiro chama a atenção no gráfico 1 é a trajetória ascendente da produção indus-
também para trial no período. Se olharmos com mais atenção veremos que podemos dividir essa trajetó-
analisar obras de ria em quatro fases:
1)  De 1994 a 1999, o crescimento da indústria foi pequeno;
arte. 2)  De 1999 a meados de 2008 o aumento da produção industrial foi grande, quase exponencial;
3)  De meados de 2008 a 2009 há uma brusca queda da produção e uma recuperação. Se
148 olharmos com atenção, veremos que a queda foi mais rápida que a recuperação;
4)  De 2009 a 2013, a produção industrial está em uma trajetória de queda. O último perí-
odo é muito irregular. Há de início estagnação, depois decréscimo da produção, segue-se
uma recuperação parcial e, por fim, nova contração.

Com as fases delimitadas fica mais fácil encontrar uma explicação para o que houve.

Não é necessário pesquisar muito para descobrir que, em linhas gerais, a fase 1 correspon-
de ao período do Plano Real, a fase 2 ao governo Lula, e a fase 3 é o período de auge da crise
financeira internacional, que teve impacto no Brasil e em todos os países do mundo, ainda
durante o governo Lula. A última fase corresponde ao governo Dilma.

O passo seguinte será analisar o contexto econômico nacional e internacional, bem
como a política econômica de cada governo, para entender as diferenças. Isso, no entanto,
extrapola os propósitos desse apêndice, mesmo porque esse tipo de análise requer um co-
nhecimento maior de Economia. O importante aqui é destacar como uma análise atenta de
um gráfico nos traz muita informação sobre a Economia.

Valor de referência

Toda vez que se qualifica uma comparação — exemplo: cresceu muito, percentual elevado —, é
importante ter um valor de referência. Por exemplo, ao se afirmar que o crescimento da Economia
foi elevado, pois foi acima da média dos últimos cinco anos, o uso da qualificação elevado está
correto, pois há uma justificativa: foi acima da média dos últimos cinco anos, que é o valor de refe-
rência, nesse caso, dado pelas taxas de crescimento alcançadas no passado.
Muitas vezes a valor de referência é dado pela literatura internacional sobre o tema ou por uma
meta de política pública. No caso da taxa de mortalidade infantil (a cada 1.000 nascimentos, quan-
tas crianças morrem antes de completar um ano de idade), a Organização Mundial de Saúde (OMS)
tem parâmetros que são amplamente utilizados. Segundo a OMS, a mortalidade infantil é considera
alta se morrem 50 crianças ou mais por cada 1.000 nascidas vivas; média, se for de 20 a 49 por
mil; e baixa se for menor que 20 por mil. Com base nesses parâmetros, pode-se afirmar que, em
2010, a mortalidade infantil em nosso país era baixa, pois nosso índice era de 15,6 por mil.
Digamos que o governo fixe como meta reduzir a mortalidade infantil ao nível da do Canadá (5
por mil) ². Com base nesse novo parâmetro, nossa mortalidade infantil está elevada, pois estamos
muito acima da meta fixada pelo governo.
No caso da inflação, no Brasil, utiliza-se como parâmetro a meta de inflação fixada pelo governo.
Se o governo estabelece que a inflação não possa ultrapassar a 6,0%, e o índice alcançado foi de
7,0%, pode-se afirmar que inflação está elevada.

Vejamos agora um exemplo de gráficos de barra. Esse caso é uma situação hipotética, ² Os parâmetros
trata-se do número de downloads de músicas de quatro duplas sertanejas. da OMS e as
estatísticas sobre
Gráfico 2 - Número de downloads de músicas, segundo dupla sertaneja - Janeiro-Junho - 2013 mortalidade
infantil foram
2500 Mário e Mariano obtidas da
2000 Alberto e Roberto publicação
1500 Pedro e Paulo do IBGE
1000 Júlio e Juliano Indicadores de
Desenvolvimento
500 Sustentável
0 2012.
Jan Fev Mar Abr Mai Jun
149
Fonte: Associação de cantores de duplas sertanejas com nomes parecidos


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