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Publicação oficial da Cúpula da Cachaça - Safra 2020

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Published by Dirley Fernandes, 2020-09-30 13:59:26

CACHAÇA EM REVISTA ED. 8

Publicação oficial da Cúpula da Cachaça - Safra 2020

Keywords: Cachaça,Cúpula da Cachaça

ABRIDEIRA

TRAVESSIA Expediente Mas as coisas foram se ajustando e o povo da ca-
chaça tratou de não ficar sentado à beira do caminho.
Organizar o Ranking Cúpula da Cachaça
é um trabalho de longo curso, que só se O processo se desenrola e ainda é cedo para di-
realiza com o esforço coletivo. No caso zer o que vai mudar no setor. Mas qualidade seguirá
da quarta edição, começou em junho de sendo fundamental. Então, aí está a oitava edição
2019, com a definição do calendário, o desenvol- da Cachaça em Revista, exatamente como pla-
vimento da página para votação e os ajustes com nejada em março: uma publicação especialmente
nossos parceiros – a Solution Comercial, o Paladar desenhada para celebrar a excelência do destilado
Estadão e a Cachaçaria Macaúva. nacional brasileiro, sintetizada pelas 50 cachaças
finalistas do IV Ranking Cúpula da Cachaça. Você
Quando chega a hora da degustação às cegas, está convidado a degustá-las conosco.
os cúpulos já estamos até com algum alívio. E o en-
cerramento do processo, após a 50ª cachaça ava- Essa edição é dedicada a Erwin Weimann, eter-
liada em dois dias, sempre é um momento de cele- no cúpulo. Você nunca será esquecido.
bração cheio de abraços.
Dirley Fernandes
O que não sabíamos naquele momento, em
7 de março, era que aqueles seriam os últimos Editor e “cúpulo”
abraços que cada um de nós daria em um amigo
por um longo tempo. Dez dias depois, o quadro já Produção: Cúpula da Cachaça e Carbonários!
teria se transformado e todos estaríamos tran- Editor: Dirley Fernandes
cados em casa. Editor de Arte: Sidney Ferreira
Fotos: Mateus Verzola e Téia Camargo (cachaças do Ranking)
Pelo menos, tivemos o tempo justo para ter- Produção gráfica: Maurício Maia
minar o Ranking e divulgá-lo. Uma semana depois Coordenação Comercial: Maurício Maia, Milton Lima e
da publicação do resultado, o único assunto era o Manoel Agostinho
avanço da pandemia.
https://www.facebook.com/CupuladaCachaca
Com o mercado tomado pelo susto e a vida sen-
do adiada, optamos também por postergar a publi- www.cupuladacachaca.com.br
cação da Cachaça em Revista.
@cupuladacachacaoficial

CACHAÇA EM REVISTA 3





EM REVISTA EDIÇÃO NO 8 // SAFRA 2020 // ANO VIII

10 IV Ranking Cúpula 52 FERMENTAÇÃO
da Cachaça Glauco Mello mapeia pesquisas em
Conheça as 50 cachaças que laboratórios e locais de produção
conquistaram o público e a crítica
54 RAIO X DO SETOR
28 MADEIRAS BRASILEIRAS Os números atualizados do
Nelson Duarte passeia pelos mercado da cachaça coturno.
sabores de nossa biodiversidade Confiram.

31 CONCURSOS INTERNACIONAIS 56 VERSOS CAIPIRAS
Maurício Maia e a experiência Sidnei Maschio oferece a saideira
de avaliar destilados do mundo todo

34 TURISMO CACHACEIRO
Os roteiros do viajante
etílico Manoel Agostinho

40 GASTRONOMIA
A cachaça põe a mesa com
gosto de Brasil, por Milton Lima

44 LEGISLAÇÃO
Atualizar é necessário.
Andréia Gerk explica por quê

46 OS EMBAIXADORES
Mestre Derivan troca figuras com
7 defensores da cachaça em 7 países

6 CACHAÇA EM REVISTA



1 3 4
2 5

6 8 9 10
7

quem os cúpulos ?
são

1 JEAN PONCE. Bartender com longa carreira em casas como o 9 ANDRÉIA GERK. Auditora fiscal da Coordenação Geral de Vinhos
DOM e o Brasil a Gosto, ele hoje comanda o paulistano Guarita e Bebidas do Ministério da Agricultura e engenheira agronôma, é
Bar. Uma das maiores referências da coquetelaria brasileira, em coautora de publicações como ‘A Cachaça no Brasil, Dados de Regis-
especial na exploração das possibilidades dos ingredientes nacio- tro de Cachaças e Aguardentes’ (Mapa)
nais e da cachaça 10 MAURÍCIO MAIA (secretário executivo). Consultor, professor
2 MILTON LIMA. Ativista colecionador de cachaça e proprietário e um dos maiores degustadores de cachaça do país. Embaixador
do Chalé Macaúva, que junta a Cachaçaria Macaúva a uma pousa- Global da Cachaça e do Concurso Mundial de Bruxelas no Brasil.
da e um alambique para experiências. Criador de cartas de cacha- Também é jurado do San Francisco Spirits Competition. É colunista
ças, inclusive a da Macaúva, premiada pela revista Prazeres da Mesa do Paladar Estadão.
como uma das melhores cartas de bebidas do país. 11 LEANDRO BATISTA. Um dos mais conhecidos sommeliers de
3 NELSON DUA RTE. Master blender, master distiller, professor, autor cachaças do país, formou-se como profissional no Mocotó, em São
do livro ‘Cachaça: uma dose de marketing’ e especialista em Bebidas Paulo, e foi um dos responsáveis pelo sucesso da casa. Está à frente
Destiladas pela WSET –Wine & Spirits Education Trust, de Londres. da Boutique de Cachaças Umas e Outras.
Foi gerente de Desenvolvimento de Líquidos da Ypióca. 12 Tenente Cristiane (cúpula licenciada). Engenheira agrôno-
4 GLAUCO MELLO JR. Engenheiro químico especializado na ca- ma e mestre alambiqueira - é responsável técnica pela produção da
deia canavieira, trabalhou para Copersucar e Raízen, entre outras. cachaça Faysca, da Força Aérea Brasileira.
Atua como business development manager na Solenis.
5 SIDNEI MASCHIO. Jornalista especializado em Agronomia, foi O novo cúpulo
da equipe do Estadão e do Globo Rural. É apresentador do jornal Cauré Portugal foi eleito na reunião da
diário de agronegócios do canal TerraViva (Band), além de poeta, Cúpula em março e aceitou o convite para
degustador e colecionador de cachaças. juntar-se ao grupo. PhD em enologia com es-
6 MESTRE DERIVAN. Ele é o decano da coquetelaria nacional e um pecialização em microbiologia (Universidade de
dos responsáveis pela internacionalização da caipirinha. Passou por La Rioja), Cauré é CEO da Smart Yeast e uma
bares como o Número, em São Paulo (SP) e hoje está no Blue Note. das maiores referências em processos fermen-
Foi vice-presidente para a América do Sul da IBA (International Bar- tativos no país.
tender Association).
7 MANOEL AGOSTINHO LIMA NOVO (presidente). Autor dos li- IN MEMORIAN
vros Viagem ao mundo da cachaça e A Arte do Blend na Cachaça, atua
como professor, consultor e palestrantes e é formado em Análise ERWIN WEIMANN - Nosso
Sensorial pelo Centro Studi Assaggiatori (Brescia, Itália). Preside o Clu- cúpulo eterno e mestre. que
be Carioca da Cachaça. nos deixou no ano passado, é
8 DIRLEY FERNANDES. Jornalista, editor, escritor e documentaris- representado nessa imagem
ta, comanda o site Devotos da Cachaça. Passou por jornais como pela viúva Sandra e os filhos
O DIA , Extra e Jornal do Brasil, foi colunista da Gula e é autor do Daniel e Maria Fernanda.
documentário Devotos da Cachaça (2010) e do livro O que você sabe Erwin, químico e decano dos
sobre a África? (Nova Fronteira, 2017) master blenders brasileiros,
estará sempre conosco.

8 CACHAÇA EM REVISTA



AASN5A0LdeÂNDIA

Na quarta edição do Ranking, o anúncio das 50 cachaças finalistas

teve mais peso que o resultado final. E isso é muito positivo

A Por Dirley Fernandes
essa altura, os leitores da Cachaça em Re- abreviado essa repercussão. As campeãs foram e seguem
vista certamente já sabem como funciona o sendo devidamente celebradas. Mas as métricas provam
Ranking Cúpula da Cachaça. Mas sempre há que a publicação da chamada Seleção dos Especialistas
teve ibope maior, indicando que o mercado fez a leitura
novidades e as dessa quarta edição funciona-

ram muito bem, para nossa alegria. Tivemos três cam- de que chegar a uma lista com esse grau de excelência já

peãs – as cachaças que obtiveram mais pontos em suas é um atestado de excelência sólido e incontestável.

categorias – e, entre elas, uma cachaça paranaense ficou E o mercado está certíssimo. Depois que uma ca-

com o título de Cachaça chaça chega à fase final, os

do Ano, por ter sido aque- dados do destino podem

la que alcançou a maior levá-la a uma posição mais

pontuação entre todas as acima ou mais abaixo no

concorrentes. Mas também Ranking, mas o fato é que

houve uma mudança sutil ela está entre as 50 melho-

na forma como o Ranking res do país, após ter pas-

foi assimilado: esse ano, o sado pelo crivo do grande

grande momento do con- público e de um painel de

curso, o que mais chamou dezenas de especialistas. O

a atenção e alcançou a re- atestado de excelência está

percussão mais ampla, foi o devidamente expedido.

da publicação da lista de 50

cachaças finalistas.

Sim, o resultado final foi Uma das 50 amostras
amplamente repercutido, pronta para degustação.
como sempre e apesar dos Muita qualidade
percalços do país terem reunida, aumentando
a responsabilidade

10 CACHAÇA EM REVISTA

10 10
lugar lugar
Brancas
Armazenadas/
Envelhecidas

10
lugar

Premium/
Extra Premium

CACHAÇA EM REVISTA 11

O selo premium, que compreende apenas as bebidas compos-
Isso nos leva ao selo do Ranking, uma das novi- tas por 100% de cachaça envelhecida em barris de até
dades de 2020. As 50 cachaças finalistas, aque- 700 litros por pelo menos um ano.
las que foram ranqueadas, adquiriram também o direito
de usar o selo oficial do concurso, desenhado por Sidney A divisão adotada foi calcada em grande parte na
Ferreira, o editor de arte da Cachaça em Revista, e produ- própria legislação da cachaça. Isso não significa que ela se
zido por uma empresa licenciada (Label Sonic). manterá inalterada no próximo certame, já que a Cúpula
O selo é uma antiga demanda dos produtores pre- se molda sempre às condições presentes do mercado.
miados no Ranking. A Cúpula demorou até demais para
organizar o uso da láurea. Algumas cachaças, em edições Entre as brancas, a campeã foi uma das cachaças mais
passadas, fizeram suas próprias versões, com resultados queridas do Brasil: a Tiê, de Aiuruoca (MG). Com pouco
bastante diversos. Agora, o selo em ouro e negro, lindo e tempo de mercado – seis anos – e preço bem competiti-
discreto, já enfeita as garrafas de boa parte dos premiados. vo, a cachaça do casal Arnaldo Ramoska e Cris Amin cole-
No selo, há o número 50, sem indicação de posição ciona prêmios e já tinha abiscoitado a terceira colocação
no Ranking – o que é mais uma forma de a Cúpula va- entre as brancas na terceira edição do Ranking.
lorizar a conquista dessas lindas cachaças. Chegamos
a pensar em outras alternativas, antes de fixarmo-nos Na categoria Armazenada/ Envelhecida, a primazia
nessa ideia, que se revelou a mais acertada. A intenção é coube à Leblon Signature Merlet, produto elegantíssimo
que o selo do Ranking faça com que o consumidor – em que sai da destilaria de Patos (MG) e que já tinha sido
especial aquele que ainda nutre uma ultrapassada des- eleita a sexta melhor cachaça, entre todas as concorren-
confiança em relação a nosso destilado –, na hora da de- tes, do II Ranking.
cisão de compra, tenha mais tranquilidade de que está
adquirindo um destilado de primeira linha. E finalmente, na categoria Premium/ Extra Premium,
a Companheira 8 Anos, de Jandaia do Sul (PR), teve a me-
As campeãs
Outra novidade de 2020 foi a divisão das 50 cachaças A degustação

finalistas. Dessa vez, ampliamos de duas para três cate- O amigo leitor pode imaginar quão prazerosa,
gorias: a) brancas (apenas para cachaças armazenadas ainda que exigente, é a tarefa de degustar uma se-
em inox); b) armazenadas/ envelhecidas (a categoria quência de cachaças desse nível. O processo correu
mais disputada, que teve 31 rótulos e c) premium/ extra como um rio manso e límpido e no fim da tarde de
sábado estava encerrado, após a 50ª amostra degus-
O local onde a Cúpula tada nas nove baterias dos dois dias. Os cúpulos, en-
se reúne agora se tão, puderam relaxar e comemorar o bom correr dos
chama Espaço de trabalhos... com cachaça, claro.
Degustação Erwin
Weimann. A viúva Mais uma vez, o resultado do Ranking foi para as
do cúpulo, Sandra, páginas do Paladar Estadão – na edição de sexta-feira,
descerrou a placa 13 de março – e sites do Brasil inteiro imediatamente
replicaram a notícia, com os veículos locais exaltando
as cachaças premiadas de cada região.

Na segunda-feira seguinte, a pandemia começava
sua jornada fatal no nosso país. No isolamento, a ca-
chaça seria, como sempre, fonte de alegria e consola-
ções na dura travessia – a companheira do brasileiro,
como tem sido ao longo de cinco séculos.

12 CACHAÇA EM REVISTA

Dessa vez, ampliamos de duas para três categorias: a) brancas (apenas
para cachaças armazenadas em inox); b) armazenadas/ envelhecidas
(a categoria mais disputada, que teve 31 rótulos e c) premium/ extra
premium, que compreende apenas as bebidas compostas por 100% de

cachaça envelhecida em barris de até 700 litros por pelo menos um ano

lhor pontuação da categoria de todo o concurso: 90,63 Os especialistas da segunda fase – um grupo de
pontos. Foi um up em relação ao terceiro lugar de 2018, 54 profundos conhecedores do nosso destilado – se
quando a paranaense ficara em terceiro, com 87,3 pon- superaram dessa vez. As redes sociais comprovaram
tos. Como melhor pontuada, a Companheira recebeu a dedicação de cada um deles na busca por degustar
também o título de Cachaça do Ano. o maior número possível de amostras. Três deles – en-
tre os quais Cauré Portugal, que seria indicado para
O Ranking se unir à Cúpula logo depois, durante a nossa reunião
O processo do Ranking começou em 13 de setembro anual – chegaram a pedir a extensão do prazo de en-
trega da relação de suas eleitas para avaliar com ainda
de 2019, Dia Nacional da Cachaça. Durante dois meses e mais carinho as amostras.
meio, 33.144 pessoas foram ao hot site disponibilizado
pela Cúpula e votaram em 970 rótulos diferentes, com Claro que foram atendidos. A qualidade da lis-
um total de 99.102 indicações – cada pessoa podia indi- ta revelou toda a seriedade com o que essa turma
car até três cachaças. Em 12 de dezembro, saiu a lista das de militantes que põe seu talento profissional e
250 Cachaças Mais Queridas do Brasil, aquelas com mais sua capacidade de ação a serviço do nosso des-
indicações, na qual brilhavam representantes de nada tilado encarou a tarefa. A Cúpula é eternamente
menos que 17 estados – dos mais tradicionais, como Mi- grata a todos.
nas Gerais e Paraíba, até aos que despontam agora em
termos nacionais, como Maranhão e Acre, além de Rio Para os cúpulos, que dessa vez não votaram na
Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Espírito segunda fase, ficou a tarefa final: ranquear as 50
Santo, Bahia, Pernambuco, Piauí, Alagoas, Rio Grande do melhores cachaças do ano no país, o que foi feito
Norte, Pará, Ceará e Goiás. Todas foram para a segunda nos dias 6 e 7 de março, na Cachaçaria Macaúva,
fase em igualdade de condições. apoiadora do Ranking e dona da melhor carta de
cachaças do país, criada pelo cúpulo Milton Lima.

CACHAÇA EM REVISTA 13

BRANCAS R2an0k2i0ng

As branquinhas, aquelas que Foi uma mudança em relação A campeã foi a Tiê, de Aiuruoca
normalmente são as mais queridas ao III Ranking, que agrupou cacha- (MG), cachaça produzida com re-
daqueles que se devotam mais pro- ças em inox, jequitibá e outras que quintes de artesania. Mas a lista tem
fundamente a surpreender os en- não passam muita cor em uma úni- pérolas vindas de Pernambuco, Goiás
cantos das cachaças, tiveram uma ca categoria. e Espírito Santo, além de outras três
categoria só para elas no IV Ranking. mineiras gloriosas. Destaque especial
Para se enquadrar nessa categoria, a Nas cachaças dessa página, o para o Engenho Boa Vista, de Cel. Xa-
cachaça não poderia passar por ma- frescor, a riqueza de aromas, aque- vier Chaves (MG), que emplacou duas
deira, mesmo as assim chamadas la persistência da cana no produto cachaças na lista: a Santo Grau Cel. Xa-
“neutras”. Só inox. destilado e fermentado e o equilí- vier Chaves e a Século XVIII.
brio dão a tônica.

03

Sanhaçu Origem

Chã Grande/PE
ABV: 47%
Cachaça expressiva, franca, traz
o sabor forte e doce da Zona da
Mata Pernambucana.

02 Bem me Quer Prata

Pitangui/MG
ABV: 39%
Produzida por José Otávio
Carvalho Lopes e descansada
em inox, essa cachaça ficou
com a vice-liderança
apostando na suavidade.

04 Colombina Cristal

Alvinópolis/MG
ABV: 43%
Muito fresca e perfumada,
é parte de uma família de
cachaças muito tradicional.
A marca está completando
100 anos.

14 CACHAÇA EM REVISTA

06 SCeanl.tXoaGvriearuChaves

Cel. Xavier Chaves/ MG
ABV: 40%
Versão mais comportada e
igualmente saborosa da Século
XVIII, segue o mesmo padrão
de pureza e riqueza sensorial
da irmã mais velha.

05 Século xviii

Cel. Xavier Chaves/ MG
ABV: 47%
Não tem lista de melhores
cachaças brancas se esse
tesouro líquido não estiver
presente. São mais de 200 anos
de tradição na garrafa.

07

Caialua

Formosa/ GO
ABV: 40%
Essa cachaça goiana marca
presença pela primeira vez no
Ranking, depois de agradar em
cheio os especialistas.

08

Princesa Isabel Prata

Linhares/ ES
ABV: 42%

Integrante de uma ilustre e
premiada linha de cachaças
capixabas, essa cachaça preza
pelo equilíbrio entre frescor e
riqueza de aromas e sabores.

CACHAÇA EM REVISTA 15

ARMAZENADas R2an0k2i0ng

A categoria Armazenadas/ En- ocupara posições de destaque em rana, bálsamo, carvalho, jequitibá e
velhecidas foi a mais abrangente e outras edições do concurso. por aí afora.
disputada do IV Ranking Cúpula da
Cachaça. Nas duas classificações se A cachaça de Patos (MG) dis- E logo na primeira página, a gente
incluíram desde cachaças mais jo- putou com um time de cachaças vê três estreantes do Ranking Cúpula
vens e com pouca cor até blends que revela a variedade da produ- da Cachaça: as mineiras Cachaça do
mais encorpados. Foi um desses ção brasileira. As páginas seguin- Anjo e Mineiriana e a baiana Amada,
que conquistou o topo do pódio: tes comprovam a amplitude dessa comprovando que no mundo da ca-
a Leblon Signature Merlet, que já aquarela, onde cabe jaqueira, jato- chaça, a tradição conta muito, mas a
bá, amendoim, castanheira, umbu- renovação não para de acontecer.

02 MdoidsdParsopRreiesetárvriaos 03

Dracena/SP Cachaça do Anjo
ABV: 39%
Blend muito original de Sta. Rita de Caldas/ MG
cinco madeiras: carvalhos ABV: 40%
francês e americano, jatobá,
amburana, todos de primeiro Produzida em pequenos
uso, e um toque de acácia lotes, é um blend de carvalhos
que faz toda a diferença. francês e americano, umburana

04 e bálsamo de raro equilíbrio
assinado pelo master blender
Canarinha
Antenor Albuquerque.
Salinas/MG
ABV: 44%

Com quatro anos de
envelhecimento em bálsamo,

essa gloriosa cachaça é
uma das mais justamente

afamadas de Salinas.

1166 CCAACCHHAAÇÇAAEEMMRREEVVIISSTTAA

06 Leandro Batista

Ivoti/RS
ABV: 39%
Amburana, Bálsamo e Canela
Sassafrás entram na composição
desse blend excepcional
assinado pelo mestre da cachaça
e das caipirinhas.

05 Mineiriana

Itabira/MG
ABV: 40%
Blend de cachaças que passam
por barris de carvalho francês e
americano, depois de estagiar
em jequitibá, a Mineiriana
atinge uma riqueza de aromas e
sabores poucas vezes igualada.

07 Weber Haus 7 Madeiras

Ivoti/RS
ABV: 38%
Cachaça que leva a assinatura
da casa gaúcha e mistura muito
dulçor, picância e especiarias
graças ao seu blend de
Carvalhos Francês e Americano,
Bálsamo, Amburana, Cabreúva,
Grápia e Sassafrás.

Amada 08

Dias D’Ávila/BA
ABV: 40%

Armazenada em grápia, essa
cachaça impressionou pela
suavidade e alcançou uma
excelente colocação em sua
estreia no Ranking.

CCAACCHHAAÇÇAAEEMMRREEVVIISSTTAA 1177

ARMAZENADas R2an0k2i0ng

09

Dom Bré Amburana

Guarani/MG
ABV: 40%

A marca Dom Bré emplacou
duas representantes entre as 50
cachaças ranqueadas. A Amburana
tem a doçura na medida certa para

agradar a todos os paladares.

10 Unna 11 Pardin 3 Madeiras

Salinas/MG Natividade da Serra/SP
ABV: 40% ABV: 42%
O blend diferenciado - carvalho Carvalho, umburana e jequitibá
americano, carvalho francês, formam o blend dessa bebida
amburana e eucalipto - dá um de suavidade ímpar formulada
toque todo especial a essa em doses precisas pelo
cachaça de textura sedosa. alquimista Marcelo Pardin.

12

Anísio Santiago

Salinas/MG
ABV: 47%
Pode chamar também de
Havana (só o rótulo muda).
Essa lendária cachaça em
bálsamo, de sabores herbais
e agrestes, é uma eterna
favorita dos apreciadores.

18 CACHAÇA EM REVISTA

14 Princesa Isabel Ouro

Linhares/ES
ABV: 40%
Um blend de carvalho e
umburana elegante e suave,
com o sempre alto padrão de
qualidade dessa marca capixaba.

13 1000 Montes 3AOB

Faria Lemos/MG
ABV: 40%
Elaborada com cachaças
maturadas em barris de carvalho
americano com três diferentes
tostas, apresenta sabores e
aromas complexos e intensos.

15

Claudionor

Januária/MG
ABV: 47%
De paladar levemente
adocicado, mantendo a pegada
forte, essa cachaça honra
as melhores tradições da
produção de Januária (MG).

16

Bem me Quer Ouro

Pitangui/MG
ABV: 39%

Nesse blend muito bem
balanceado, o bálsamo entra
para dar um toque de sutileza

para a cachaça envelhecida
em carvalho.

CACHAÇA EM REVISTA 19

ARMAZENADas R2an0k2i0ng

Volúpia Diamante 17

Alagoa Grande/PB
ABV: 40%

Armazenada por um ano em
jequitibá rosa, essa cachaça

paraibana alcança um
perfeito equilíbrio de aromas

e sabores entre o doce, o
picante e o herbal.

19 Sebastiana Castanheira

18 Matriarca Jaqueira Américo Brasiliense (SP)
ABV: 40%
Caravelas/BA Cachaça de tons aveludados
ABV: 42% e leve picância, perfeitamente
A jaqueira, com seus taninos equilibrada, é bebida que
característicos e seus tons comprova as virtudes da
abaunilhados, dá a essa cachaça castanheira no armazenamento.
produzida com esmero no sul da
Bahia seu perfil sensorial único.

20

Mato Dentro

São Luiz do Paraitinga/SP
ABV: 42%
Docemente saborosa, é uma
das cachaças mais queridas do
país. Produzida com métodos
tradicionais e envelhecida em
barris de amendoim.

2200 CCAACCHHAAÇÇAA EEMM RREEVVIISSTTAA

21

MBraatsriilaericraas4 Madeiras

Caravelas/BA
ABV: 42%
Jaqueira, Louro Canela,
Amburana e Bálsamo
compõem o blend bem
temperado e riquíssimo dessa
cachaça baiana.

22 Gogó da Ema Sublime

São Sebastião/AL
ABV: 40%
Essa alagoana passa pelo
jequitibá rosa e depois pelo
bálsamo para atingir tons
herbais e um certo acento
cítrico muito gostoso.

23 24

Colombina 10 Anos WIba Blend de Carvalhos

Alvinópolis/MG Torre de Pedra/SP
ABV: 45% ABV: 40%
Produzida em paróis de
jatobá, essa top de linha da Combinando cachaças
centenária marca mineira tem envelhecidas em barris de carvalho
rara untuosidade e sabores
complexos e expressivos. americano com diferentes
tostas, essa bebida atinge um

belo ponto de equilíbrio.

CCAACCHHAAÇÇAA EEMM RREEVVIISSTTAA 2211

ARMAZENADas R2an0k2i0ng

Soledade Ipê 25

Nova Friburgo/RJ
ABV: 40%

Cachaça armazenada em
tonéis de ipê, madeira que é
símbolo nacional e que dá um

estilo muito característico
para a bebida.

27 Sanhaçu Freijó

Chã Grande/PE
ABV: 40%
Toda a linha de cachaças orgânicas
dessa marca pernambucana
mantém o alto nível. A freijó é uma
branquinha clássica amaciada pelo
descanso no freijó.

26 WReesrenrevcakEspecial

Rio das Flores/RJ
ABV: 40%
Essa cachaça descansa um
ano em tonéis de jequitibá e
mais seis meses em carvalho.
Mantém o frescor e ganha um
toque de elegância.

28

AEnmgeenndhooimSão Luiz

Lençóis Paulista/SP
ABV: 42%
A suavidade dessa branquinha
é uma homenagem às virtudes
do amendoim. Cachaça deliciosa
que desce fazendo carinho na
garganta.

2222 CCAACCHHAAÇÇAA EEMM RREEVVIISSTTAA

30 Santo Grau P.X.

Itirapuã/SP
ABV: 39%
Cachaça única graças ao forte
acento adocicado e complexo
dado pelo amadurecimento em
barris de vinhos de Jerez.

29 Coqueiro Prata

Paraty/RJ
ABV: 44%
Paratiense de corpo e alma,
é cachaça com sabor e
aroma tradicionais e intensos
arredondados pelo rápido
descanso em amendoim.

31

Princesa Isabel Aquarela

Linhares/ES
ABV: 40%
O armazenamento em jequitibá
completa a festa de aromas
e sabores dessa cachaça
elaborada com os melhores
padrões de produção.

CACHAÇA EM REVISTA 23

PREMIUM R2an0k2i0ng

Para ser inserida na categoria Pre- vencedora da categoria. Como foi ainda gustação a alcançar o patamar de 90
mium/Extra Premium, uma cachaça a cachaça que recebeu a maior pontua- pontos – 90,09 para ser mais exato.
precisa ser composta exclusivamente ção entre as 50 finalistas – 90,63 pontos
com 100% de cachaças originárias en- –, a Companheira também leva para o Nessa categoria que conta exclusi-
velhecidas em barris de até 700 litros Paraná o título de Cachaça do Ano. É a vamente com cachaças top de linha, a
por pelo menos um ano. A denomi- segunda vez, aliás, que o título vai para avaliação é mais difícil ainda. O degus-
nação segue as regras da legislação o estado, já que a Cachaça do Ano em tador dificilmente encontra defeitos e
vigente sobre padrões de identidade 2016 foi a Porto Morretes. o que vai determinar uma nota um dé-
do destilado nacional brasileiro. cimo acima ou abaixo será um detalhe
A alagoana Caraçuípe Extra Pre- especial, algum diferencial no visual, no
A Companheira Envelhecida 8 Anos, mium também merece destaque, já aroma ou no paladar. É aí que a perso-
produzida em Jandaia do Sul (PR), foi a que foi a única outra cachaça da de- nalidade do destilado fala mais alto.

03

Sapucaia Real

Pirassununga/SP
ABV: 41%
Uma das mais tradicionais
marcas paulistas, a Sapucaia
detém barris com cachaças
que envelheceram por mais de
uma década. Preciosidades!
A Sapucaia Real é a fina flor
desses barris.

Caraçuípe 02

Campo Alegre/AL
ABV: 40%

Elegante, complexa e com aromas
de fruto maduro, essa cachaça

alagoana envelhece três anos em
barris de carvalho francês.

04 Extra PremCiuamsa6BAuncocos 05

EDxotmraBPrréemium Bento Goncalves/RS
ABV: 40%
Guarani/MG
ABV: 40% Nada de acidez aparente ou
Revelando doçura e picância, percepção de álcool. Esta
sabores abaunilhados e frutados
e final alongado, essa mineira cachaça envelhecida com vagar
é daquelas que fazem brilhar o no frio da Serra Gaúcha aposta
olho dos apreciadores.
tudo na suavidade.
24 CACHAÇA EM REVISTA

06 Magnífica Soleira 07

Vassouras/RJ EVxectrcahPioreAmlbiaunmo
ABV: 43%
Sempre presente entre as Torrinha/SP
melhores colocadas do Ranking, ABV: 40%
essa cachaça de sabores Envelhecida três anos em
intensos e frutados é uma das carvalho, essa cachaça recende
glórias da produção nacional. a baunilha e desce pela garganta
como uma carícia.

08

EngEexntrhaoPSrãeomLiuumiz
Lençóis Paulista/SP
ABV: 42%
Clássica extra premium, essa
cachaça paulista envelhece
por três anos em barris de
carvalho, resultando em bebida
rica de sabores, denotando a
qualidade de sua produção.
09 SSeinbgalestBiaanrareCl arvalho
Américo Brasiliense/SP
ABV: 40%
Com três representantes
no Ranking, a Sebastiana
se destacou. A Carvalho
Single Barrel, com seu acento
adocicado, é um modelo em
sua categoria.

10 11 WExetbraerPHreamusium

Sebastiana Duas Barricas Ivoti/RS
ABV: 38%
Américo Brasiliense/SP Com seu paladar mentolado,
ABV: 40% fruto da passagem por carvalho
e bálsamo, essa gaúcha é
A marca paulista virou sinônimo exemplo clássico de produção
de produtos diferenciados. de excelência.
A Duas Barricas passa dois
CCAACCHHAAÇÇAAEEMMRREEVVIISSTTAA 25
anos em castanheira e dois em
carvalho. Dulçor no ponto certo

em uma bebida deliciosa.

eles escolheram
as melhores

Esses profissionais que trabalham diariamente pela cachaça selecionaram as 50
cachaças do Ranking, após o público indicar as 250 cachaças mais queridas do país

Aline Bortoletto Altino Farias Ana Carolina Corrêa Ana Laura André ricardo
Pesquisadora da Escritor e proprietário Pesquisadora da Guimarães Alcarde
Criadora do
ESALQ/USP da Embaixada ESALQ/USP aplicativo e portal Professor acadêmico
da Cachaça, em Cachaciê da ESALQ/USP
Fortaleza (CE). Piracicaba

Bruno Videira Cauré Portugal Carlos Lima Carlos Mussarela Cecília Helena César Adames
Especialista e criador CEO da Smart Yeast Diretor do IBRAC e Apreciador e Especialista em Professor e
proprietário do embalagens e especialista em
do movimento apreciador Restaurante criadora do canal ‘A destilados
Viva Cachaça de cachaças Mussarela (RJ) louca da cachaça’

Cláudia Fernandes Deise Novakoski Denise Marcolino Eliana Girardello Elen Lopretti Enaldo Lopes
Ex-presidente da Sommelière de Jornalista e Sommelière de Cachacière e Proprietário da
Confraria Copo vinhos e cachaças, Consultora da Cachaçaria Trilha
professora da criadora do canal cachaças Personal Cachacier Real, em Belo
Furado 365pingas (Cachacaria Vô Horizonte (MG)
ABS/RJ Milano, Curitiba)

Gerson Souza Gilberto Freyre Guiba Monteiro Guto Nodari Illan Oliveira Isadora Bello Fornari
Jornalista, repórter Secretário de Vice presidente da Sommelier e Diretor da Solution Especialista em
Cultura do Estado Confraria Paulista membro da cachaça
e apreciador de Pernambuco Confraria Gaúcha Comercial
de Cachaça da Cachaça e análise sensorial

26 CACHAÇA EM REVISTA

Kelly Costa Jairo Martins josé Alberto Kede josé Darci Soares José Moisés Moura Laércio Zulu
Autora do blog Cachacista e autor Ex-presidente da Ex-presidente da Criador do Museu Bartender.
Confraria de Cachaça Confraria Gaúcha da Cachaça, em Ex-grupo São
Caipirinha de livros sobre Copo Furado – RJ Lagoa do Carro (PE) Bento e Candieiro
Prendada cachaça de Cachaça

Leszek Wedzicha Lethicia Suzigan Luis Claudio Fernandes Luisa Saliba Marcel Rates Marcelo Moschetti
Especialista e Corniani Especialista em Proprietária do Proprietário da loja Autor do blog
Restaurante Rota ‘Eu Amo Cachaça’, Da Caninha
ativista da Cachaça Pesquisadora da cachaça. Fundador
na Europa ESALQ/USP do Gedec do Acarajé de Brasília (DF)

Marcelo Serrano Marco De La Roche Mauro Holanda Nina Bastos Ornella Boulhossa Oswaldo Bernadino
Bartender do Venuto Autor do Portal Fotógrafo e Bartender e sócia Bartender e Proprietário da
MixolgyNews. militante da do Jiquitaia, em propietária da Distribuidora
(SP) Barista e bartender cachaça Savana, em Belo
São Paulo (SP) Butique da Cachaça, Horizonte (MG)
em São Paulo (SP)

Paula Braga Batista Paulo Carvalho Peter Armstrong Priscila Mallmann Rafael Araújo Rafael Sá
Técnica do Instituto Bartender do Membro honorário Sommelière Sócio da loja Proprietário da loja Drink
Mocotó, em São de Vinhos e virtual Cachaçaria
Mineiro de da Cúpula de cachaça Nacional, de Belo It, de Belo Horizonte
Agricultura (IMA) Paulo (SP) da Cachaça Horizonte (MG) (MG), e do e-commerce

Cachaça Express

Rogélio Brandão Rosane Ferreira Sérgio Rabello Walter Garin Yansel Galindo Zeca Meirelles
Pesquisador Presidente da Proprietário do Professor e Presidente da Proprietário da
UFOP Galeto Sat’s, do Rio bartender do Shake Confraria de Escola ProDrinks
Confraria de Cachaça de Janeiro (RJ) Speakeasy Bar, no Cachaça Copo Furado
Copo Furado, do Rio Rio de Janeiro (RJ)

de Janeiro (RJ)

CACHAÇA EM REVISTA 27

Outros destilados e até
a cerveja estão de olho
nas incríveis propriedades
das madeiras brasileiras,
o que é motivo de orgulho
e preocupação. Saiba mais
sobre essa riqueza com o
cúpulo e master blender
Nelson Duarte

Do Brasil e do mundo
Já se vão quase vinte anos a serviço da cachaça. De mui-
tas caminhadas, muita cachaça boa, outras nem tanto, tempo e se antecipar a possíveis intercorrências.
mas sobretudo de muita pesquisa, muita dedicação e A ideia de escrever esse artigo, durante a oitava reunião
muita, mas muita“litragem”.
anual da Cúpula da Cachaça aguçou a curiosidade inerente
a todo master blender de iniciar pesquisas com outros desti-

Foi assim que me tornei o primeiro master blender com lados e com cervejas especiais.

registro profissional na carteira de trabalho e o pioneiro en- Muito trabalho pela frente, mas selo aqui o compro-

tre as indústrias multinacionais que, numa tendência irre- misso de trazer ao leitor, na edição da Safra 2021 da Ca-
versível, adquirem destilarias Brasil afora e assumem o con- chaça em Revista uma coletânea dos resultados obti-

trole da produção e comercialização. dos com essas pesquisas.

Marcas icônicas como Nega Fulô, São Francisco eYpióca

estão hoje sob controle dos principais grupos multinacio- De olho em nossas madeiras

nais de bebidas, assim como outras mais recentes, como Há uma coisa em comum a todas as multinacionais que

Leblon, Santo Grau e Sagatiba. investiram no mercado da cachaça: elas estão de olho nas

Mas o que leva essas marcas a procurarem profissionais nossas madeiras nativas para envelhecer seus próprios des-

experientes num mercado que pouco valoriza o papel do tilados. Já existem pesquisas e mesmo experiências localiza-

master blender? A resposta é simples: o conhecimento da das no envelhecimento de whisky em amburana, para ficar

ação dos mais diversos tipos de madeira usados para arma- só em um exemplo.

zenar e envelhecer cachaça. Além do tradicional carvalho, Embora as legislações dessas bebidas não permitam o

europeu ou americano, nenhum outro destilado em qual- uso de madeiras diferentes do carvalho, já existem brechas

quer parte do mundo tem tamanha liberdade e versatilida- para a criação de categorias que correspondam, por exem-

de para trabalhar com madeiras nativas das mais diversas plo, às nossas aguardentes compostas.

regiões do país. Além dos destilados, há uma verdadeira febre por en-

O principal diferencial dos profissionais, seja de grandes velhecer cervejas artesanais em madeiras brasileiras. Nessa

empresas ou de pequenos alambiques, é conhecer a rea- onda, diversas microcervejarias já estudam a reação dos

ção da cachaça quando armazenada ou envelhecida em mais variados tipos de cerveja à maturação em madeira. As-

cada tipo de madeira, saber o que esperar com o passar do sim que os primeiros resultados positivos caírem no gosto

28 CACHAÇA EM REVISTA

do consumidor, já podemos esperar que as grandes indús- Já algumas madeiras antes tradicionais e largamente
trias cervejeiras tenham produtos especiais maturados em utilizadas, como o amendoim e a castanheira, estão com o
madeiras brasileiras. corte proibido por risco de extinção, devido ao desmata-
mento descontrolado.
E já que falamos em amburana, vamos discutir a seguir
algumas madeiras brasileiras bastante utilizadas no enve- Amendoim: versatilidade
lhecimento ou armazenamento de cachaça, bem como O amendoim é bastante versátil e de uso bastante di-
algumas menos conhecidas que trazem resultados surpre-
endentes. E não só para a cachaça, o que coloca em risco a fundido no descanso da cachaça. Considerada por muitos
própria existência dessa diversidade se não houver respon- master blenders, inclusive por este que vos escreve como a
sabilidade e manejo sustentável no reflorestamento das madeira mais nobre para armazenamento de cachaça, o
matas nativas do Brasil. amendoim conserva e acentua as características sensoriais
do destilado. Em verdade, realça o aroma e sabor frutado
Todas as madeiras citadas nesse artigo têm sido alvo de original do destilado e desnuda sua verdadeira alma.
estudos por pesquisadores independentes ou, principal-
mente, por destilarias de whisky e bourbon e produtores de Embora seu corte esteja proibido ou sujeito a rigoroso
cervejas artesanais. controle legal, o amendoim tem sido testado justamente
porque “amacia” o destilado, mas preserva as sensações de
Amburana no foco quando saiu do destilador. E não se encontra no mundo ne-
E por que a amburana é tão cobiçada, tanto pelos nhuma outra madeira com tais características.

produtores brasileiros de cachaça quanto por produto- A nobreza da castanheira
res de outros destilados mundo afora? O que tem de tão A castanheira, por sua vez, já foi chamada de carvalho
especial?
brasileiro, tal a nobreza de sua atuação junto ao destilado.
A amburana é acentuadamente aromática, com for- Quando tostada de modo adequado, reduz sua intensi-
te presença de tanino e marcante destaque para aromas dade vegetal de madeira nova e traz notas de baunilha,
florais, amadeirados e de especiarias. Quando tostada, por caramelo e chocolate, além da castanha a que empresta
vezes lembra tabaco, traz uma doçura acentuada e, depen- o nome.
dendo da idade do barril, seu aroma e sabor lembram va-
gamente o anis. Seu corte só pode ser feito mediante autorização es-
pecial do Ibama, via de regra devido a queda por causas
Com tamanha personalidade e riqueza sensorial, não é naturais, como raios ou alguma fragilidade do tronco.
à toa que o mundo volta seus olhos, bocas e narizes para a
nossa amburana! Cervejas escuras mais intensas ficam incríveis quando
maturadas em castanheira. Embora seu
arquivo cúpula da cachaça aroma e sabor sejam suaves, a interação
com o álcool realça o dulçor e as caracte-
rísticas da cerveja.

Barris de Bálsamo, madeira forte
jaqueira da Madeira clássica no armazenamento e
Cachaça
Matriarca envelhecimento de cachaça, o bálsamo é
uma madeira forte, resinosa, com taninos
por vezes até agressivos, mas que entrega
ao destilado uma tipicidade exclusiva, mar-
cante, seca e com forte presença de espe-
ciarias tropicais.

A agressividade dos taninos pode ser su-
avizada com a tosta correta, que vai liberar
dulçor e acentuar as notas de especiarias.

CACHAÇA EM REVISTA 29

Barris de
amendoim, como
os da Sapucaia,
estão se tornando
raridades

Vale recordar que a cachaça Havana, um mito no mer- cervejeira graças a essa característica de mais suavidade,
cado, é armazenada em tonéis de bálsamo por anos e é porém com igual intensidade.
presença obrigatória em qualquer ranking das melhores
cachaças. A presença do bálsamo é marcante, porém, nota- Ainda pouco conhecido nesse universo de envelhe-
velmente equilibrada na Havana. Fica aqui nossa reverência cimento de destilados, o putumujú talvez traga a maior
ao mestre Anísio Santiago. contribuição floral de todas as madeiras. A prática leva à
constatação que o ideal para o putumujú é uma tosta leve,
O bálsamo é uma madeira que desafia o master blen- que não prejudique a intensidade floral e que agregue uma
der. Se bem trabalhado, vai entregar uma cachaça intensa, doçura suave, porém marcante.
saborosa e com personalidade. Mas nem todos têm essa
sensibilidade e o bálsamo acaba relegado a segundo plano. Por ser pouco conhecido e ainda pouco explorado, cria
um universo de possibilidades sensoriais inusitadas, não só
É madeira com grande potencial no mercado cervejei- para os destilados, mas também para o universo cervejeiro.
ro, e os testes já realizados mostram um avanço considerá-
vel no sabor, cor e aroma de cervejas claras e na intensidade O uso da jaqueira vem crescendo e ganhando adeptos
de cervejas escuras. entre os produtores de cachaça. A primeira sensação que
vem à tona nos destilados envelhecidos em jaqueira é o dul-
Ipê traz maciez çor, mas esse vem acompanhado de especiarias e é equili-
O ipê, por sua vez, é uma madeira potente, gostosa de brado pela ação das resinas naturais da madeira.

trabalhar, mas que requer atenção no preparo para apro- A jaqueira prima pela exuberância de aromas e sabores,
veitamento de todo seu potencial. Traz maciez e entrega e certamente terá destaque em pesquisas de destilados à
sabores que remetem a castanhas e nozes. Muito versátil base de cereais. E minha intuição me diz que será muito
e gostosa de ser trabalhada, engana quem espera dela um bem aceita em cervejas que seguem a escola belga.
floral acentuado.
Jequitibá não pode faltar
A tosta do ipê reduz a intensidade dos taninos e aumen- Por fim, não poderia encerrar o artigo sem falar do corin-
ta o dulçor presente na madeira. Normalmente confere ao
destilado tom alaranjado e notas de tabaco. ga jequitibá, uma madeira nobre, versátil, considerada neu-
tra, que contribui para tornar a bebida mais leve e palatável.
O ipê é considerado árvore símbolo nacional, o que
dificulta que o mundo já trabalhe em pesquisas para Quando tostado, o jequitibá libera elementos de vani-
novos destilados. lina, que aproxima seus efeitos ao do envelhecimento em
carvalho europeu.
Possibilidades infinitas
O cumaru é outra madeira potente, com forte aro- Toda essa versatilidade faz do jequitibá uma das madei-
ras favoritas para armazenamento de destilados e começa
ma de baunilha. Não é uma madeira muito comum no a ganhar corpo também para maturar cervejas sem alterar
armazenamento de cachaça, mas quando utilizada traz em demasia suas características originais.
resultados muito próximos ao bálsamo no que diz res-
peito a especiarias, porém com menos tanino e mais Toda essa diversidade é um verdadeiro paraíso para o
dulçor. Seu uso tem sido bastante pesquisado indústria master blender que pode, além de trabalhar isoladamente
cada madeira, criar novos e inusitados produtos com a com-
binação de duas ou mais madeiras.

Embora orgulhoso que nossas madeiras brasileiras este-
jam ganhando mundo graças à riqueza de suas característi-
cas organolépticas, essa constatação também despertou, lá
no fundo, o receio de que, com o crescimento das pesquisas
e possíveis usos de madeiras brasileiras para envelhecimen-
to de outros destilados, a cachaça seja passada para trás e
sinta, no futuro, as consequências de não ter se protegido e
valorizado suas reservas naturais de madeira.

30 CACHAÇA EM REVISTA

Sob os olhos do mundo
Quando falamos de ça pela viagem. O concurso
julgar um concur- O cúpulo Maurício Maia, é itinerante. A cada ano é re-
so internacional de jurado e embaixador do alizado em um país diferente.
bebidas, poucas Então, lá se vão 8, 10, 24 horas
pessoas conseguem imagi- de voo – e tome jet-leg. A che-
nar o tamanho da tarefa colo- Spirits Selection, fala sobre gada ao aeroporto é sempre
cada à frente do profissional. delicada, pois administrar um
Sim, profissional! Não basta a importância dos concursos grupo de mais de 120 juízes

ser um apreciador de bebi- internacionais e conta como de diferentes nacionalidades
das para dar conta do traba- não é tarefa fácil.
lho. Sim, trabalho! Apesar de funciona essa competição
Depois de todas as for-

prazeroso e de proporcio- na qual a cachaça malidade da viagem e de-
nar a possibilidade de viajar vidamente hospedados, na

o mundo, conhecer outros vem ganhando destaque primeira noite sempre há um
profissionais, novas culturas e coquetel de boas-vindas para

novos destilados, e, principal- integrar o pessoal. Depois

mente, aprender e utilizar esse aprendizado para ajudar a de seis anos de concurso, fiz bons amigos entre meus

evoluir o mercado da cachaça, as exigências para um juiz colegas. Pessoas que admiro profissionalmente e pes-

internacional são muitas vezes extenuantes. soalmente. Sabe aquela coisa de virarmos “uma família”?

Não basta ser um especialista – sim, isso ajuda mas Então, é isso.

não é o suficiente – e gostar de outros destilados. É ne- Os dois primeiros dias de concurso são destinados a

cessário desenvolvimento sensorial, conhecimento de treinamento e workshops. Manhã e tarde. Os assuntos

dezenas de bebidas da qual a maioria das pessoas nunca vão desde o aprofundamento em um determinado des-

ouviu falar – já provou baijiu? – e principalmente foco, tilado a técnicas avançadas de análise sensorial.

responsabilidade e estômago. No terceiro dia, o pau come solto. Os juízes são divi-

A rotina de um concurso como o Spirits Selection by didos em mesas com 6 a 7 pessoas, de nacionalidades

Concours Mondial de Bruxelles é um tanto puxada. Come- e especializações diferentes, sendo uma delas o pre-

CACHAÇA EM REVISTA 31

competição

sidente do júri. Sou o presidente de uma mesa, e meu sos, de grandes trocas, aprendizados e oportunidades.
júri, no último ano, foi composto por um brasileiro (eu), Para um presidente de júri, a tarefa não termina nunca.
uma inglesa, um francês, um canadense, um alemão e
um chinês. Se isso não é pluralidade, não sei mais o que No último dia, todas as bebidas que receberam as maiores
é. Como presidente, é minha função determinar o ritmo notas e as medalhas de “Grand Or” (Duplo Ouro) são se-
das degustações e organizar para que as fichas de de- paradas em uma segunda bateria de degustação fechada,
gustação sejam devidamente preenchidas e cheguem na qual vamos eleger os destaques entre os melhores de
corretamente aos responsáveis pela tabulação. cada categoria, o melhor produto orgânico, e o “best of
show”– o melhor destilado do concurso, ou seja, uma das
Após tabulado, o resultado de cada bateria é discuti- melhores bebidas do mundo. É muita responsabilidade.
do entre os juízes para a distribuição das medalhas das
amostras que atinjam as notas de corte. Porém, não é só Na degustação informal,
poque recebeu uma determinada nota que a ela ganha cachaça é a primeira a acabar
automaticamente uma medalha. A bebida tem que me-
recer e é aí que entra a percepção subjetiva de cada juiz Um dos momentos mais esperados são as
e a responsabilidade de uma medalha em um concurso confraternizações informais entre os juízes após
como esse. E tudo isso começa às 9h e se estende até a a maratona diária de baterias, visitas e jantares.
hora do almoço. São em média 36 amostras degustadas Sempre nos reunimos informalmente em al-
em quatro horas, em cada um dos três dias. gum lugar do hotel para que cada um ofereça
uma garrafa da bebida de seu país. Não tem
Mais aprendizado regras, nem ordem. São calvados, whiskies,
Após a pausa para o almoço, não há descanso. O gru- cognacs, armagnacs, brandys, tequilas, mezcal,
rakias, sochus, baijius, destilados experimentais
po todo segue para uma tarde de visitas técnicas. É sem- sem um nome específico e, claro, cachaça. Cada
pre um produtor local, uma destilaria onde podemos um prova o que quer. Nessa infinidade de bebi-
nos aprofundar e degustar o que cada país sede tem a das do mundo inteiro, um balé de taças e garra-
oferecer. São, em média, quatro horas de deslocamentos, fas com os maiores especialistas do planeta, as
visitas e aprendizado. cachaças são sempre as primeiras a acabarem.
Acho que isso significa alguma coisa.
E o dia parece que não acaba. Ainda tem o jantar, ofe-
recido por autoridades locais ou algum produtor ou as-
sociação e, no último dia, pela comissão do país sede do
próximo ano. Essa rotina se estende por três dias inten-

32 CACHAÇA EM REVISTA

O retorno de marketing ISS Awards,
Costumo dizer que uma das formas mais baratas
um novo concurso
e eficientes de promoção no Brasil e no exterior é os- Neste ano teremos um novo concurso
tentar em sua garrafa uma medalha de um concurso
internacional. Dados levantados entre os premiados que deve entrar no radar do produtores de
indicam um incremento médio de 30% nas vendas no cachaça. Trata-se do ISS Awards – Internatio-
ano subsequente. Imagine você parado em frente a nal Sugarcane Spirits Awards. Trata-se de um
uma prateleira com dezenas de garrafas do mundo in- concurso exclusivo para destilados a partir
teiro. Qual você escolheria? Claro que uma que tivesse de cana-de-açúcar. São runs, rons, runs agrí-
ganhado algum prêmio internacional. É lógica e intui- colas, cachaças, aguardientes, araks, licores, e
tiva essa escolha. toda uma gama de bebidas que sequer ima-
ginamos. O grande diferencial é que todas as
Os produtores ainda podem optar por receber um avaliações, com juízes selecionados entre os
retorno oficial sobre a avaliação de seu destilado. É melhores especialistas de todo o mundo, será
uma compilação das notas de cada juiz, que são ava- feita de forma remota. Os produtores enviarão
liadas e escritas sob a forma de notas de degustação suas amostras para a organização na França,
e comentários técnicos. É uma importante orientação elas serão categorizadas e divididas em cate-
para o produtor sobre pontos onde ele se destacou e gorias e enviadas para a avaliação online pelos
nos quais pode melhorar. juízes. Uma plataforma exclusiva e 100% digi-
tal foi desenvolvida para o concurso. Sou um
A participação da cachaça tem sido destacada nos úl- dos juízes selecionados neste primeiro ano.
timos concursos. Em média, nosso destilado é o quinto
em volume de inscrições e no último ano foi o terceiro da mala cheia, trago a satisfação de ver a cachaça pre-
em quantidade de medalhas, que são limitadas. De todas miada e alçando voos mais altos, o que só aumenta a
as amostras inscritas, um máximo de 30% são agraciadas motivação para o trabalho de ajudar o desenvolvimento
com uma medalha. Constando ainda que por dois anos do nosso destilado.
seguidos uma cachaça foi eleita o melhor destilado orgâ-
nico (Cachaça Perfeição em 2018 e Cachaça Pai Vovô em
2019) e sempre temos uma cachaça entre os destaque
do best in show, como a Gouveia Brasil em 2018.

A melhor parte, no entanto, é voltar para casa. Além

CACHAÇA EM REVISTA 33

TURISMO

viagemA cachaça guia a
A combinação da produção de

cachaça com o turismo abre

excelentes possibilidades de renda

e desenvolvimento regional.

O cúpulo Manoel Agostinho

percorre alguns dos roteiros

que exploram essa ideia como uma possibilidade de promover o desenvolvi-
mento rural. Uma vantagem adicional foi a valorização
Acachaça pode ser um grande mote para pra- dos patrimônios e produtos locais e até um possível pa-
ticar uma atividade que em muito contribui pel positivo na conservação do meio ambiente.
para o desenvolvimento do campo: o turismo
rural. Vamos falar de alguns dos possíveis rotei- Paralelamente a isso, as pequenas propriedades ru-
ros – muitos dos quais já tive o prazer de percorrer – que rais sofriam com transformações econômicas. “Durante
unem as delícias da cachaça a outros atrativos da vida muitos anos o desenvolvimento rural foi identificado
no campo. Mas antes vamos a uma introdução sobre o apenas com o setor agrícola, mantendo estreita relação
turismo rural. com o progresso técnico e a eficiência dos sistemas de
produção. Contudo, essas relações de produção e traba-
Foi na Europa que se iniciou a atividade turística rural lho no meio rural passam por transformações, como a
nos moldes contemporâneos. Isso aconteceu nos anos intensificação da globalização e modernização da agri-
1950. Por ser considerada uma estratégia interessante, cultura, inviabilizando técnica e economicamente mui-
já que contribui para a fixação do homem no campo, a tas das pequenas propriedades rurais”, escreveu o turis-
geração de emprego e o desenvolvimento socioeconô- mólogo João Luiz Santana Brasil.
mico nas zonas rurais, a atividade sempre foi vista com
bons olhos, o que foi consagrado com a Política Agrária Essas transformações levaram a um boom de inves-
Comum, em 1962, que incentivava o turismo rural. timentos privados no setor de turismo rural, com apoio
de todos os níveis de governo.
A Itália, em 1966, já tinha em seus projetos rurais a
proteção ambiental como mote. Portugal, iniciou, em No início desse século, mais um avanço. O segmento
1978, o chamado Turismo de Habitação, no qual conju- de Turismo Rural insere-se no contexto do Plano Nacional
gava turismo rural, agroturismo e turismo de aldeia. do Turismo 2003–2007 proposto pelo Ministério do Tu-

No Brasil da década de 1980, o turismo rural surgiu

34 CACHAÇA EM REVISTA

rismo, na medida em que, segundo o órgão, “contribui No Brasil, Lages, em Santa Catarina, teve alguns dos
para diversificar a oferta turística;
aumentar os postos de empreendimentos pioneiros na área do turismo rural.
trabalho e a renda no meio rural; valorizar a pluralidade Graças a isso, o município foi batizado de Capital Nacional
e as diferenças regionais;
consolidar produtos turísticos do Turismo Rural, sendo lá, também, criada a Associação
de qualidade e
interiorizar a atividade turística”. Brasileira de Turismo Rural (ABRATURR), em 1994.

A Organização Mundial do Turismo estima que o Depois dos barrigas verdes vieram os paulistas, na re-
Turismo Rural é um segmento com grande potencial gião de Mococa (SP). Ali foi formatada a primeira rota rural
e se calcula que pelo menos 3% de todos os turistas nacional, com tradicionais propriedades rurais ofertando
do mundo orientam suas viagens para o turismo rural. cavalgadas, hospedagem e gastronomia típica.
E a mesma fonte indica que o turismo rural apresenta
um crescimento anual de aproximadamente 6%, o que, Rio Grande do Sul
segundo o Instituto Brasil Rural “denota uma nova ten- A cachaça conta com um fator facilitante. A maioria
dência global, onde o turista não mais deseja ser um dos produtores tem sua renda advinda da cachaça aliada
mero expectador da viagem, mas sim, o protagonista, a outra atividade agrocultural: leite, olericultura, piscicul-
que efetivamente vivencia a cultura e a experiência nos tura e, cada vez mais, atividade turística e de lazer.
novos destinos visitados”. A OMT prevê que os serviços O alambique da Cachaça Flor do Vale, em Canela (RS),
ligados ao turismo rural aumentará notadamente nos foi um dos que agregaram atividades ecoturísticas à sua
próximos cinco a dez anos. produção. Localizado em meio a uma área repleta de

arquivo cúpula da cachaça Alambique da
Flor do Vale,
em Canela (RS)

CACHAÇA EM REVISTA 35

TURISMO

morros, trilhas e cachoeiras a 5 km do centro da cidade, Café e cachaça, bebidas tipicamente brasileiras, cami-
converteu-se em uma importante atração local. nham juntas em um roteiro que oferece a oportunidade
de conhecer os processos produtivos artesanais das be-
Por incentivo das famílias que residem na localidade de bidas sob o cuidado de agricultores familiares, incluindo
Arroio Bonito e arredores do município de Não-Me-Toque, os municípios de Viçosa, Arapongas e Guaraciaba, onde
no Estado do Rio Grande do Sul foi dado início à constru- se produz a cachaça de mesmo nome.
ção de uma Cooperativa Agroindustrial chamada Delícias
da Colônia, que rapidamente contaminou o município Também em Minas Gerais, a bebida inspirou a criação do
vizinho de São José do Centro, onde a cachaça fala mais Circuito Turístico da Cachaça, lançado em 2016 e reunindo
alto. Lá a Cachaça StrohHut (chapéu de palha em alemão) seis municípios: Salinas, Taiobeiras, Rubelita, Fruta de Leite,
produzida e engarrafada pelos sócios Wentz e Roehrig, é Berizal e Indaiabira. A região é responsável pela produção de
feita artesanalmente. A propriedade recebe os visitantes e cerca de 70 rótulos da bebida, incluindo a lendária Havana.
os proporcionam um verdadeiro tour pela roça, desde o
alambique até o leite de vaca tirado na hora. No mesmos Espírito Santo
estado a Cachaça Casa Bucco em Bento Goncalves ofere- No Epírito Santo surgiu o Encantos do Cricaré, projeto
ce um jantar e hospedagem após o tour cachacístico e de
quebra um passeio pelas vinícolas do Vale dos Vinhedos. que desde 2013 fomenta o turismo rural na região, am-
parado pelo SNAR-ES.
Destilaria da
Guaraciaba, Um desses empreendimentos tem foco na Cachaça Ja-
na cidade de guaré, do alambique da família Cescon, no Sítio Boa Vista,
mesmo nome no município de Jaguaré, e inclui outros municípios, como
São Mateus, Vila Pavão e Nova Venécia. Também no estado
temos o Festival da Polenta, em Venda Nova do Imigrante,
que agrega passeios pelos alambiques da região.

Minas Gerais Dona Carolina: hotel e alambique arquivo cúpula da cachaça
Em Minas Gerais, ocorre anualmente o evento Do Café
à Cachaça, com alunos do Senar em parceria com os sin- São Paulo
dicatos rurais de Carangola, Divino e Caparaó, na Região No Estado de São Paulo não é diferente, com o turis-
das Três Divisas. Durante cerca de uma semana os jipeiros
do país percorrem até 500 quilômetros conhecendo e se mo rural possibilitando experiências como andar de car-
deliciando com as premiadas cachaças artesanais de alam- roça, percorrer trilhas, saborear a cachaça produzida nos
bique da região, além, é claro, dos cafés, queijos e doces. alambiques artesanais e apreciar o melhor da “culinária
No Sudeste de Minas Gerais temos o Projeto Talentos caipira”, feita no fogão a lenha.
do Brasil Rural, que promove um passeio divertido e agra-
dável, bem brasileiro. Tudo começa com um copo sem- Em Itatiba, no interior paulista, o Hotel Fazenda Dona
pre pequeno e o corpo esquenta a cada gole. Carolina oferece, depois de típico almoço de roça, um

36 CACHAÇA EM REVISTA



TURISMO

passeio pelos cafezais, terminando na degustação e Lagos do Vale, arquivo cúpula da cachaça
compras da cachaça que leva o mesmo nome do hotel. em Quatis (RJ)
arquivo cúpula da cachaça
Sem sair do Estado de São Paulo visita-se a produção pelo museu do engenho. E ainda entram no circuito ca-
agropecuária da região de Rio Preto. Ali, o produtor rural chaças do porte de Serra Limpa, Rainha (aguardente), Vi-
Sylvio Di Jacintho começou a operar a Rota da Cachaça. tória, Ipueira, Princesinha do Brejo, Aroma da Serra, Elite,
Trata-se de uma visita a propriedades rurais de seis muni- Turmalina da Serra, Volúpia, Nobre e muitas outras.
cípios: Guapiaçu, Cedral, Rio Preto, Mirassol, Monte Aprazí-
vel e Poloni. O passeio inclui café colonial, degustação de Rio de Janeiro
diferentes tipos de cachaça, almoço e jantar típicos. Alguns produtores de cachaça incrementam seus
produtos oferecendo hospedagem e ainda refeições
Cachaça Triunfo, em Areia (PB) típicas da região, ou até mesmo passeios agradáveis
recheados de degustação e compras nos alambiques.
Paraíba É o que acontece em Paraty (RJ), berço da nossa bran-
A Paraíba também entra no jogo. O turismo no espaço quinha, com passeio de jipe pelos seis alambiques da
rural é um grande condutor para o desenvolvimento da re- cidade: Maria Izabel, Engenho d’Ouro, Paratiana, Pedra
gião do Brejo Paraibano. São 11 municípios (Areia, Alagoa Branca, Coqueiro e Corisco.
Grande, Bananeiras, Alagoa Nova, Pilões, Serraria, Borborema, No Vale do Paraíba, a Rota do Café e Cachaça com-
Solânea, Belém, Caiçaras e Matinhas) nos quais a produção a preende três municípios: Valença (Santa Rosa, De la Vega
cachaça se alia ao turismo rural como fonte de renda. e Pirapeúna), Vassouras (Magnífica e Cachoeira da Ca-
O engenho Triunfo, localizado a seis quilômetros da chaça) e Rio das Flores (Werneck e Vieira e Castro). A vi-
cidade de Areia, oferece, além da cachaça, um passeio sita aos alambiques é complementada pela experiência
de observar o fausto das fazendas dos tempos imperiais.
Ainda no Estado do Rio, temos boas opções em Qua-
tis (Hotel Fazenda Lagos do Vale) e Campos dos Goyta-
cazes (Barra Velha), ambos com bons restaurantes den-
tro do alambique.

Pernambuco
Em Pernambuco, a Rota da Cachaça pelo Agreste

envolve Vitória de Santo Antão, Gravatá e Chã Grande,
onde está instalado o alambique da Cachaça Sanhaçu.

O turismo rural tem sido considerado como uma so-
lução para o êxodo rural e a falta de preservação am-
biental, além da melhoria da qualidade de vida, à medi-
da que retira o homem urbano das rotinas estressante
das cidades. Para os produtores de cachaça, é mais uma
oportunidade de renda agregada ao seu produto.

38 CACHAÇA EM REVISTA



GASTRONOMIA beber

A fome com
a vontade de

A cachaça vem ganhando espaço no
preparo de pratos da gastronomia
brasileira, exercendo diferentes
papéis. O cúpulo Milton Lima fala sobre
as amplas possibilidades do nosso
destilado na cozinha

De todos os grandes des-
tilados do mundo, sem
dúvida alguma a cachaça
é a que tem a maior diver-
sidade de aromas, cores e sabores.
Regiões, madeiras, tamanho do to-
nel, idade e tratamento dos barris,
graduação alcoólica e modelos de
produção são algumas das variá-
veis que tornam o perfil sensorial
da cachaça uma fonte inesgotável
de possibilidades. Se adicionarmos
os blends então, são praticamente
infinitas as combinações possíveis.
Assim como a cachaça represen-
ta a diversidade brasileira, a gastro-
nomia nacional também segue por
caminhos os mais diversos: comida
de boteco, alta gastronomia, comida
mineira, baiana, paraense, de caça
ou pesca e até a vegana... Tudo são
sabores da nossa culinária.

40 CACHAÇA EM REVISTA

Linguiça Imaginem então misturarmos
flambada na tudo isso, juntando a fome com a
cachaça da vontade de beber ou a sede com a
Cachaçaria vontade de comer?

Macaúva Levar a cachaça do copo sobre
o balcão para dentro das panelas
da cozinha já é rotina nos principais
pontos gastronômicos do país. A
cachaça tem o poder de realçar sa-
bores e aromas. É usada para ama-
ciar carnes e enriquecer o sabor de
marinadas, em combinação com
especiarias diversas e substituindo o
vinho em muitas receitas.

A cachaça também é útil para
flambar carnes e vegetais assados
ou grelhados. Como vimos recen-
temente no programa ‘Mestre do
Sabor’ com uma batata salteada,
ela empresta uma coloração cha-
muscada, dando um toque defu-
mado ao prato.

Também é possível incrementar
doces e sobremesas, criando, por
exemplo, caldas finalizadas com uma
boa cachaça envelhecida,

Na cozinha, na hora de escolher
a garrafa da sua receita pense na
cachaça que gostaria que estivesse
no seu copo. Isso facilita a escolha
e torna mais fácil ser assertivo na
sua combinação.

A gastronomia, bem como a co-
quetelaria, é um aliado importante
para a divulgação e a valorização
do nosso destilado. É preciso que
o mundo da cachaça se aproxime,
troque ideias e desenvolva projetos
com os chefs, que, em sua maioria,
têm imensa abertura para propostas
que envolvam nosso destilado.

Aliás, o que vale para a cachaça
vale para outros patrimônios nacio

CACHAÇA EM REVISTA 41

Trabalhar tudo isso em conjunto torna mais claro o
que é esse complexo blend chamado Cachaça do Brasil

GASTRONOMIA

nais que têm muito a contribuir para zada em cachaça. Mais do que isso, cachaça certa, a madeira de enve-
enriquecer a experiência e auxiliar nossa comida busca despertar a lhecimento exata que vai equilibrar
na valorização que todos buscamos vontade do cliente de experimentar e harmonizar com cada prato, tem
para o nosso destilado. Falo das artes as cachaças da nossa carta. A ideia é recebido uma atenção maior por
plásticas, da história, do cinema... A aguçar todos os sentidos. parte dos chefs. Essa é uma tendên-
Macaúva Porto, por exemplo, conta cia que oferece milhões de cami-
com uma galeria de arte para auxi- Nosso carro chef é a lingui- nhos dentro da cozinha.
liar a cachaça a revelar para os por- ça toscana flambada na cachaça.
tugueses um retrato do Brasil. Tra- Acredito que esse prato, além do E claro: fora da panela, a cachaça
balhar tudo isso em conjunto torna sabor e dos aromas, se destaca segue exercendo seus papéis tradi-
mais claro o que é esse complexo pela parte visual. O prato é flam- cionais e consagrados numa refei-
blend chamado Cachaça do Brasil. bado na mesa... O cliente vê o ção. Ela pode ser a parceira ideal de
fogo se levantar e se encanta. É um quitute. Também exerce muito
Aguçar os sentidos bem comum clientes de outras bem a função de aperitivo, abrindo
Falando um pouco mais de per- mesas se surpreenderem e acaba- caminho para uma refeição. E funcio-
rem fazendo o mesmo pedido. na até mesmo como um digestivo.
to, na cozinha da Cachacaria Macaú-
va, onde há nove anos atendo meus A cachaça tem sido usada na Enfim, a cachaça precisa fazer
clientes, tento sempre proporcionar gastronomia brasileira desde sem- parte da dispensa de todo bom
uma comida que não apenas har- pre. Mas vejo que, nesse momento, bar ou restaurante. Até porque, eu
monize com a cachaça, já que isso ela vem deixando de ser um ingre- sempre digo: não como nada de fí-
é o básico para uma casa especiali- diente menos valorizado, um coad- gado vazio.
juvante nas receitas. A escolha da
Um brinde e bom apetite!

42 CACHAÇA EM REVISTA



É NPOERCQUEESSÁRIO
REVISAR regras
Apenas recentemente o go-
Instrumentos legais verno brasileiro tem adota- seu estoque de normas e as conso-
mal desenhados do providências para gerir lidem em apenas três figuras: porta-
podem cercear o seu estoque regulatório, rias, resoluções e instruções norma-
a inovação e simplificando o arcabouço normativo tivas. O objetivo é revisar, atualizar,
criar barreiras brasileiro. Em decorrência desse fato, simplificar e consolidar os atos legais,
à eficiência nos últimos meses foram publicados eliminando normas obsoletas, redu-
econômica. A cúpula alguns “revogaços”. Na sua maior par- zindo a complexidade dos processos
e auditora fiscal te, os atos revogados, embora ainda e fortalecendo a segurança jurídica.
agropecuária continuassem válidos, não possuíam
AndrÉia Gerk fala mais efeitos práticos no ordenamen- O ‘resivaço’ e o ‘tarifaço’ carre-
sobre o processo de to jurídico brasileiro, seja por estarem gam duas importantes funções: re-
revisão da IN 13, que implicitamente revogados ou com duzir o custo Brasil e fazer com que
regula o setor da eficácia ou validade prejudicadas, o país adote o preconizado no Ma-
cachaça por tratarem de dispositivos que não nual de Boas Práticas Regulatórias
estavam mais em vigência. da Organização para a Cooperação
44 CACHAÇA EM REVISTA e o Desenvolvimento Econômico
No direito brasileiro vigora a cor- (OCDE), foro do qual o Brasil almeja
rente segundo a qual a revogação participar como membro.
das normas deve ser expressa – ou
seja, norma posterior tem que ex- Mudança à vista na cachaça
pressamente revogar a anterior que Na mesma linha, a Secretaria de
tenha sido revista ou não tenha sido
recepcionada por norma superior. Defesa Agropecuária (SDA) do Mi-
Nesse mesmo caminho, a publicação nistério da Agricultura, Pecuária e
do decreto presidencial do “revisaço” Abastecimento (Mapa) já vinha tra-
obriga a que todos os órgãos fede- balhando no sentido de promover
rais, autarquias e fundações revisem a melhoria da qualidade regulatória.
Com isso, espera-se reduzir falhas
nas práticas regulatórias, uma vez

que uma norma pode impedir ou de Impacto Regulatório - AIR; minuta los meios virtuais nos últimos meses
desestimular a inovação ou criar bar- da norma; consulta interna; resulta- e as sugestões chegaram ao Mapa
reiras desnecessárias ao comércio, do de consultas públicas; resultado pelos canais disponíveis.
à concorrência, ao investimento e à de audiências públicas; aprovação
eficiência econômica. da minuta pelo Comitê Permanente Espera-se que os atores do se-
de Análise e Revisão de Atos Norma- tor aproveitem a oportunidade para
No caso da cachaça, o proces- tivos (CPAR); análise jurídica; assina- aprofundar as discussões e que, ao fi-
so de revisão está sendo conduzido tura do ato; publicação e, por fim, o nal do processo, a futura norma seja
pela Coordenação-Geral de Vinhos e monitoramento do ato. implantada sem entraves e questio-
Bebidas (CGVB/DIPOV/SDA/MAPA). A namentos maiores e que traga bene-
Instrução Normativa nº 13, de 29 de Participação fícios para o setor como um todo.
junho de 2005, que traz o padrão de O Departamento de Inspeção
identidade e qualidade da aguarden- Quem tenha interesse em inte-
te de cana e da cachaça, foi escolhi- de Produtos de Origem Vegetal – ragir com o Mapa nessa discussão,
da pelo setor regulado em workshop DIPOV, junto com a CGVB e a Câma- pode em qualquer momento en-
realizado em novembro de 2019 ra Setorial da Cadeia Produtiva da viar um e-mail para: dipov@agri-
para compor a Agenda Regulatória Cachaça deliberou promover três cultura.gov.br.
da SDA para o Biênio 2020-2021. reuniões abertas para coleta de sub-
sídios. A pandemia do Covid-19, no A participação ampla e ativa
Para o sucesso da revisão desta entanto, obrigou a, pelo menos, o do setor contribuirá sobremaneira
norma, é importante a participação adiamento desse plano. Menos mal para a construção de uma legisla-
da sociedade, principalmente dos que as discussões transcorreram pe- ção atual, aberta à inovação e com
atores envolvidos no processo: pro- menor intervenção estatal nas prá-
dutores, padronizadores, engarrafa- ticas produtivas.
dores, distribuidores, exportadores,
associações, responsáveis técnicos, arquivo cúpula da cachaça
especialistas em geral e outros que
atuam na cadeia produtiva da cacha-
ça e na sua promoção como bebida
típica e exclusiva do Brasil.

A participação social acontece
em momentos distintos: através
de consulta pública e quando da
realização de audiências públicas.
O Mapa adotou o Sistema de Mo-
nitoramento de Atos Normativos –
Sisman – e os interessados em par-
ticipar deverão se cadastrar (http://
sistemasweb.agricultura.gov.br/
pages/SISMAN.html) para poder re-
alizar as suas contribuições.

Todas as fases do processo re-
gulatório de revisão da IN nº 13, de
2005 constarão do Sisman: Análise

CACHAÇA EM REVISTA 45

DRINKS

A volta ao

cmaucndhoaçdaa

O cúpulo Mestre Derivan ouviu os colegas de bar que estão na

linha de frente em sete países na batalha para levar a cachaça

aos corações e mentes do planeta, uma turma de valor que traz

informações valiosas para a Cachaça em Revista

Nós, membros da Cúpula da Cachaça, JEAN SALVADOR – SUÍÇA arquivo cúpula da cachaça
temos nossos conhecimentos indivi- “A construção do mercado
duais e unimos nossos esforços na for- se dará pelo barman”
mação de um repositório coletivo – do
qual a Cachaça em Revista faz parte – que tem Eu sempre fui um entusiasta da cachaça e um
a finalidade de promover e passar valiosas infor- inconformado com o desconhecimento do mer-
mações sobre nossa Cachaça. cado externo sobre o produto. Buscávamos algo
Esse esforço que vai ao encontro do que fa- que pudesse não só bem representar o Brasil, mas
zem individualmente produtores, apreciadores ter uma conexão com o produtor. Além disso, que
e bartenders, entre outros atores do mercado. fosse artesanal, como forma de incentivar os pe-
Usando como linha condutora as relações for- quenos produtores, e tivesse respeito pelo meio
madas na constante troca de conhecimento ao ambiente. Iniciamos com a ABOUT Brazil na Suíça
longo dos anos, fui buscar alguns dos muitos no verão de 2017 e a partir de 2019 começamos a
entusiastas da nossa Cachaça pelo mundo. operar em Portugal, por meio de operação direta
Agora, gostaria de dividir com todos estas li- e empresas nos dois países.
ções de paixão e acima de tudo o testemunho
de um relevante trabalho realizado por esses As dificuldades são muitas para implantar e
brasileiros que se dedicam a levar conhecimen- posicionar uma marca de cachaça, desde definir
to sobre a origem, histórias, matérias-primas, o público-alvo e criar uma estratégia para con-
madeiras e características distintas da Cachaça versar com ele, passando pelo desafio de levar o
para públicos em distantes países. produto para fora do Brasil, até a dificuldade de
entender um mercado onde você nunca esteve.

A participação da cachaça no mercado mun-

46 CACHAÇA EM REVISTA

HUGO TOMEI – REINO UNIDO tolomeu, Magnífica, Yaguara, Avuá, Germana, arquivo cúpula da cachaça
“O trabalho da cachaça no exterior Novo Fogo, Velho Barreiro e 51, entre poucas
acontece de forma fragmentada” outras marcas. Sou otimista e acredito numa
melhora para próximos anos.
Minha missão como apaixonado pelo meu país é divul-
gar e promover a cultura brasileira no exterior. O crescimento A diversidade de aromas e sabores das ma-
da marca Brasil ajuda várias indústrias brasileiras que geram deiras brasileiras encanta e surpreende. A am-
receitas com exportação. A cachaça tem sido o meu maior burana é um claro exemplo disso. Contudo, a
foco. Acredito que o destilado nacional tem muita qualidade mensagem precisa ser clara e consistente.
e pode, sim, ganhar espaço. Contudo, precisamos, trabalhar
consistentemente na promoção e divulgação. A caipirinha é a porta de entrada. E vemos
releituras de clássicos com rum, como o Dai-
O mercado de bebidas é um dos mais concorridos do quiri. Ter mais um cocktail, como o Rabo de
mundo. Existem diversas categorias e novos produtos são galo, no IBA seria um grande passo. Mas é a
lançados com muita freqüência. Empresas multinacionais união dos produtores, especialistas, bartenders, órgãos governa-
investem um orçamento gigantesco para promover suas mentais e consumidores na divulgação e promoção da cchaça e a
marcas. Introduzir uma nova categoria, um novo coquetel, única forma de alcançarmos novos horizontes.
formar o gosto das pessoas, leva tempo e trabalho.
Rabo de Galo,
Minha motivação é ver que estamos evoluindo aos pou- por Hugo Tomei
cos, mas precisamos andar de forma alinhada. A cachaça
ainda não chegou como deveria ao exterior. O Reino Unido 50 ml cachaça (1/2 branca 25ml
é a vitrine do mundo em termos de tendências para as be- e 1/2 amburana 25 ml)
bidas e coquetelaria internacional. É onde surgem as novi- 25 ml Cynar
dades e o lugar no qual o mercado está sempre de olho. 25 ml Vermute
Misturar os ingredientes, adicionar gelo e decorar com
O trabalho da categoria no exterior acontece de forma um twist de laranja.
independente e fragmentada. Por aqui, temos acesso a Bar-

dial ainda é muito pequena. Então, não somos uma barreira, porque os clientes associam
atrativos para distribuidores, lojas... Eles nos a cachaça ao verão. A introdução de novos
veem como um produto de baixo giro (a ca- cocktails, como o Rabo de Galo está come-
chaça que não é premium, por outro lado, já çando a mudar isso. Esse é o ponto que
tem um bom volume). mais defendo – a construção do mercado
se dará pelo bar, pelo barman. É preciso in-
Algo que realmente precisamos mudar é o vestir no desenvolvimento de uma coque-
conceito de que cachaça só serve para fazer telaria para cachaça.
caipirinha. Neste sentido, o trabalho junto aos
barmen é fundamental. É ele quem vai ofere- Rabo de Galo,
cer o produto, quem vai criar um drink espe- por Jean Salvador
cial, que vai contar a história. Temos que trans-
formar a cachaça numa bebida incrível para a 60ml (2oz) de cachaça ABOUT Gold
confecção de coquetéis. As madeiras brasilei- 30ml (1oz) de vermouth tinto
ras são uma boa ferramenta que desperta os 2 dash Amargo Angostura
sentidos dos apreciadores de destilados.
Refrescar os ingredientes numa
O que nos motiva? O desafio. Saber que te- jarra, passar coando para um copo
mos um produto incrível quando devidamen- previamente gelado.
te apresentado... e que tem um mundo inteiro Decorar com casca de Laranja.
para conquistar. Opcionalmente pode-se perfumar o
copo com um spray de laranja.
Devido à influência da Caipirinha, da
imagem tropical, os cocktails cítricos sem-
pre fazem muito sucesso. Mas isso pode ser

CACHAÇA EM REVISTA 47

DRINKS

Augusto Amaral – Itália Eu pessoalmente aposto muito nas madeiras brasileiras, por-
“Precisamos de mais que todas tem a suas próprias particularidades e características.
embaixadores da cachaça” Infelizmente nem todas a madeiras chegam aqui, mas temos re-
ferências para trabalhar e divulgar. Essas referências são fáceis de
Sou de Goiânia, moro na Itália ha 15 anos encontrar em distribuidoras especializadas em destilados, mas em
e sou bartender desde 2014, atualmente em supermercados só se vê cachaça branca e industriais. A madeira
Nápoles. Faço treinamentos e seminários que mais agrada é a amburana, por seu toque exótico e de espe-
por toda a Itália com a distribuidora da We- ciarias, muito versátil em coquetéis e boa para ser bebida pura.
ber Haus. Nos últimos quatro anos, falo com
os europeus sobre produção artesanal, co- A clássica caipirinha todo mundo adora e bebe, mas a maioria
quetelaria brasileira e madeiras da cachaça. dos bartenders faz errado. Em meus treinamentos, explico como
se faz uma caipirinha de respeito. Mas coquetéis como rabo de
A maior dificuldade é o pouco conheci- galo e Macunaíma também são pedidos.
mento sobre cachaça. Não há o básico. No
meu começo, era difícil achar informação Sei que exportar é difícil. Os custos são altos. Mas não
de qualidade. Depois, comecei a pesquisar desista. Feche com distribuidoras que agreguem valor ao
em português e achei bom material. Minha seu produto. E precisamos de mais embaixadores da cacha-
maior motivação é levar informação de ça pelo mundo.
qualidade para todos os bartenders e ges-
tores de bares e restaurantes. Rabo de Galo, Esse drink é preparado
por Augusto Amaral no mixing glass e
Atualmente na Itália existem muitas mar- servido dentro uma
cas de cachaça artesanal e industrial, como 30 ml Cachaça envelhecida taça ‘ tulipano’ decorada
Weber Haus, Avuá, Leblon, Yaguara, Magnifica, Santo Grau, em amburana com uma casca de
Engenho da Vertente e Germana. Entres as industriais, te- 40 ml Bitter Campari laranja.
mos Sagatiba, Velho Barreiro, Ypióca, Tatuzinho, 51 e Pitú. 40 ml Vermouth Cinzano Tinto
3 gotas de chocolate bitter

HENRIQUE DELGADO – USA
“A cachaça chega aqui mais cara. Mas… e daí?”

Atualmente trabalho na One11, um night club super badalado da cidade de Boca arquivo cúpula da cachaça
Raton, Flórida, com coquetelaria clássica e avançada. Nos últimos nove anos, dedi-
quei a carreira a cruzeiros internacionais, com a paixão pela profissão me motivando Rabo de Galo,
diariamente a chegar à excelência. por Henrique Delgado

Aqui na Flórida, tenho contatos com a Pitú, Tukunaçu, Velho Barreiro e Leblon. 60 ml de Cachaça
Por incrível que pareça, americanos não entendem muito de cachaça. Inclusive, Velho Barreiro
pensam muitas vezes que a caipirinha é o nome do próprio destilado. Portanto, de- 30 ml de redução de vinho
pois de uma leve apresentação do nosso destilado, preferem sempre as branquinhas Cabernet australiano
– “the white one”, como eles chamam. com Maple
A caipirinha é unânime. O ar tropical e a refrescância aqui no calor da Flórida a
leva a bater, muitas vezes, o mojito, clássico valorizado ao extremo por aqui, onde o Modo de preparo: montado e
público roda muito pelo Caribe. Releituras do negroni, usando a nossa cachaça, tam- guarnecido com um medalhão
bém tem um certo apreço. O rabo de galo, nem tanto (o americano não gosta muito de Limão Tahiti e bitter
do vermute, inclusive Martinis, muitas vezes vão sem ele).
Há procura por cachaça, em especial pelo público Latino. A cultura americana está
fortemente ligada aos seus próprios spirits (vodkas doTexas, bourbons, ryes, tennessee…).
Devido às taxas, a cachaça chega aqui mais cara. Mas… e daí? Penso que embai-
xadores devam ser implantados por aqui para trabalhar melhor as marcas, levando
ao consumidor final e aos compradores e trabalhando nas baladas, que são muitas.
Assim a cachaça ficará conhecida!

48 CACHAÇA EM REVISTA

Nando Imamura – França
“Tenho 49 cachaças no Uma Nota Paris”

Rabo de Galo,arquivo cúpula da cachaça Sou mixologista e bar manager do Uma Nota Paris. Cuido da parte operacional
por Nando Imamura arquivo cúpula da cachaçado bar, quevai desde a contratação de bartenders ao treinamento da equipe, além
da elaboração da carta decoquetéis. Foi difícil de montar o bar sem conhecer ne-
40ml Yaguara Branca nhum supplier, mas a maior dificuldade é trabalhar sem falar Francês. Por aqui, me
15ml Punt e Mes viro com o inglês. O que me motiva é poder mostrar o meu trabalho, mesmo com
15ml Aperol todas as barreiras.

Modo de preparo: montado, Hoje no Uma Nota Paris eu tenho 49 cachaças em diferentes madeiras e seis
copo baixo; decoração: grapefruit delas estão entre as Top 50 do Ranking Cúpula da cachaça 2020. As marcas a que
tenho acesso aqui na França são: Yaguara, Novo Fogo, Leblon, Germana, Magnífica,
Fazenda Soledade, Abelha, Engenho da Vertente e Parati.

As madeiras brasileiras são sempre uma boa descoberta tanto para os clientes
quanto para os bartenders. A amburana é a favorita por aqui, por homens e mulhe-
res. O uso da cachaça na coquetelaria agrada muito. Tenho um menu (season) que
tem a cachaça como base para todos os coquetéis. Assim eu vou puxando mais a
cachaça e fazendo as pessoas terem novas experiências. Tenho trabalhando com o
conhecimento. Assim, quem sabe, a cachaça repita o caminho percorrido pelo gim.

josefram Martins Silva – Espanha
“Eles adoram a cachaça quando têm acesso”

Trabalho com coquetelaria Tiki Velho Barreiro, Ypióca e Sagatiba. No cachaça quando têm acesso. Muitos
e Tropical. Meu bar, o Over Sea, em meu bar, trabalho com Leblon, Saga- passam a preferir a cachaça ao rum.
Granada, é uma mistura de culturas: tiba, Abelha e Capucana.
brasileira, caribenha e do Oriente. Tra- O que faz mais sucesso são os sa-
balhamos com versões de cocktails As madeiras brasileiras consegue bores fáceis de entender. Sem falar da
clássicos com um toque de fantasia. surpreender os paladares dos clientes caipirinha, que é clássica, há o rabo
Por exemplo: a nossa versão de ne- estrangeiros, e muito. Eles adoram a de galo e as batidas. Eu tenho uma
groni (negrande ) leva cachaça infu- versão do Porn Star Martini que leva
sionada com frutos vermelhos e folha cachaça em vez de vodka e vende
de limão, Anticua Fórmula Italiana e como água.
Campari perfumamos com laranja. Fi-
nalizamos com um bitter de cacau e Mas precisamos de apoio aqui. Eu
banana verde tostada. sempre quis mostrar mais sobre nos-
so produto, mas encontro dificulda-
Dar a conhecer nossa cultura é de, as marcas são pouco acessíveis. É
um trabalho duro, mas muito grati- bem diferente do rum, que está mui-
ficante. Quando cheguei aqui, há 15 to mais próximo dos bartenders.
anos, ninguém imaginava usar cacha-
ça sem ser em uma caipirinha. Come- Rabo de Galo,
cei a usar em versões do Mai Tai, em por Josefran Martins Silva
versões de daiquiris, zombies... Com o
tempo, o povo foi adorando e pedin- 40 ml de Cachaça Leblon
do muito mais. 20 ml Martini Fiero
2 lances de Bitter de Pomelo vermelho
Aqui na Espanha não estão dispo-
níveis muitas marcas. As que eu tenho Em um copo baixo, coloque gelo. Em
acesso aqui são Leblon, Avuá, Abelha, seguida, os ingredientes. Misture bem
Santo Grau, Capucana, Yaguara, 51, e finalize com uma casca de laranja.

CACHAÇA EM REVISTA 49

DRINKS

LETÍCIA NOEBAUER – ÁUSTRIA que eu receba amostras para a seleção do meu site. E há o
“Precisamos de mais fato de o próprio brasileiro não valorizar a cachaça. Meus
embaixadores da cachaça” compatriotas por aqui não são meus melhores clientes.
Eles pagam 50 euros numa garrafa de whisky, mas são os
O meu trabalho consite em importar cachaças que primeiros a reclamar de uma cachaça que custa 35 euros.
gosto de beber para a Áustria, onde as vendo por mi-
nha loja virtual fraucachaca.com. Tudo se inicia quando A falta de valorização do meu trabalho também me irri-
acho um produto interessante: seja pela sua tradição, ta: eu seleciono um produto, trago pra cá, faço um coque-
pelo jeito como foi produzido, o rótulo, região de prove- tel, tiro foto e o produtor nem reage ao meu post. Assim
niência... Tento ter um repertório abrangente para ofe- que um gringo – sim, homem, europeu – faz o mesmo,
recer aos meus clientes. Quero educá-los e mostrar que a reação é outra. Outra dificuldade: cachaças maravilhosas
a cachaça vai muito além de um destilado de coluna com sites desatualizados, típicos dos anos 1990. Assim fica
usado para fazer caipirinha. difícil para o consumidor entender o que está comprando.

Os produtos com que trabalho eu degusto, coloco Eu estou convencida de que se os produtores se unis-
no site e divulgo nas redes sociais, enquanto tento pro- sem mais por um único ideal poderiam conseguir ir mui-
curar um bar ou restaurante que queira adotar a cacha- to além e posicionar a cachaça num patamar mais alto.
ça. Estou criando uma pequena comunidade que apre- Temos uma bebida única, que atende a todos os gostos.
cia cachaça nos países que falam alemão e motivando Uma vez, expus cachaças no Festival de Rum de Viena e
as pessoas a fazerem coquetéis em casa. Também sou preparei um kit com nove dadinhos de madeiras brasi-
a criadora do The Frau Cachaça Show, podcast dispo- leiras para uma master class. Foi um sucesso. Só assim as
nível em oito canais no mundo inteiro, inclusive o Spo- pessoas conseguiram entender a diferença em cor e sa-
tify. Geralmente ofereço degustações de cachaça para bor que cada madeira apresenta.
empresas e para eventos de menor escala. A intenção é
descomplicar e desmistificar. As pessoas aqui são bem exigentes e sabem muito
bem o que estão comprando. São extremamente diretas
A minha maior dificuldade é a distância, que dificulta e pontuais. Levo para reuniões uma cachaca branca, uma
envelhecida em carvalho e umas opções de madeiras bra-
sileiras. Eles percebem com rapidez o que fazer com a ca-
chaça que tem em mãos e adoram experimentar.

Já ensinei um bartender super conhecido a fazer
caipirinha. Eles acham muito trabalhoso, dizem que
tem que ser mais rápido. Por isso eu defendo coquetéis
como o rabo de galo.

A todos os cachaceiros: temos que ter muito orgulho
do nosso legado, nosso ouro líquído. É único, é nosso! So-
mente nós temos isso no nosso DNA. Precisamos unir nos-
sas forças e nos apoiar mutualmente. Sigam- me nas redes,
comentem, compartilhem. É importante aqui fora para
que nos sintamos motivados a continuar nosso trabalho
pela cachaça!

Rabo de Galo,
por Letícia Noebauer

40 ml de Cachaça Sebastiana Duas Barricas
20 ml de Cynar.

Em um copo baixo, ponha gelo e em seguida os
ingredientes. Misture e sirva

50 CACHAÇA EM REVISTA


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