R$ 14,9000064 Divaldo Franco Conheça a trajetória de um dos mais famosos médiuns da atualidade e um exemplo de resiliência EDIÇÃO 65
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4 | Let’s Go Bahia Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Editorial Jotta Fotografia Publisher da Let’s Go Bahia @veronicadgvboas @letsgo.bahia Verônica Villas Bôas No dicionário, resiliência é a capacidade de se adaptar a situações difíceis. Na prática, quer dizer que diante de uma adversidade, a pessoa utiliza sua força interior para se recuperar e buscar condições de enfrentar e superar os obstáculos. Muita gente atribui resiliência àqueles que trazem histórias de superação. Mas nem sempre a resiliência está no inconformismo que nos leva a superar as barreiras e alcançar os nossos objetivos. Conformarmo-nos e aceitarmos a realidade sem perder a fé e a crença de que, apesar dos obstáculos, é possível seguir firme por outros caminhos, com outras possibilidades, mudando o rumo da nossa história, também é superação. Aceitar e compreender não necessariamente significa se conformar e desistir. E é essa força interior que nos faz donos do nosso destino e senhores da nossa caminhada. E essa força tem nome: resiliência. Desta vez, em mais uma edição desta revista que é um imenso desafio, trazemos na capa Divaldo Franco. Quem melhor para alinhar com o tema resiliência? Poder trazê-lo como nosso personagem de capa é um presente não só para mim, mas para cada um dos nossos leitores e seguidores que poderão desfrutar de um texto maravilhoso, escrito pelo talentoso Matheus Pastori, escolhido a dedo para assinar esta pauta. Com a sua escrita apurada, Matheus traz um texto que nos permite conhecer um pouco mais sobre esse líder religioso baiano que é referência de bondade, caridade, humildade, dedicação e muita resiliência. Na seção Aspas, a convidada é a psicóloga Claudia Tondo, que virou referência nacional quando o assunto é sucessão empresarial. Consultora em Empresas Familiares e Famílias Empresárias desde 1993, Claudia vem ajudando diversas empresas e famílias a atravessarem esse processo tão complexo que é a sucessão dentro das organizações. É interessante como um assunto tão necessário e importante seja deixado (na maioria das vezes) para o momento em que os gestores das empresas já não estão mais entre nós ou quando começam a dar sinais de que não têm mais condições de continuar à frente dos seus negócios. A sucessão ainda é um tema deixado para depois dentro das empresas, mas a boa notícia é que há profissionais capacitados para ajudar e apoiar os empresários e seus sucessores nessa tomada de decisão tão importante, e nesta edição Claudia Tondo fala mais sobre isso. A edição traz também mais uma nova articulista que passa a integrar nosso hall de colaboradores nacionais. Estou falando da Flavia Camanho, ex-colunista da Valor Econômico e atual colunista da Forbes, que agora muito nos honra fazendo parte do time de articulistas da Let’s Go Bahia. Em sua primeira participação por aqui, ela vem com um tema muito interessante: resiliência feminina. Vale a pena conferir o seu artigo e ficar de olho nos conteúdos que ela trará para a nossa publicação. Ainda sobre os colaboradores nacionais, continuamos contando com a honrosa participação do famoso economista Ricardo Amorim, que já colabora conosco há dois anos e oferece um conteúdo sempre valioso. Roberto Shinyashiki chega a esta edição com um texto que aborda sonhos, dedicação e sucesso; uma reflexão importante e necessária. Como de costume, a revista vem repleta de conteúdo relevante e autores reputados que dominam os temas que abordam e são referências em suas áreas de atuação. É um orgulho para a Let’s Go poder contar com cada um deles e também poder oferecer um material de qualidade aos nossos leitores. Nomes como Carlos Falcão (Grupo Business Bahia), Paulo Cavalcanti (Associação Comercial da Bahia), Pedro Dornas (Amcham), Kelsor Fernandes (Fecomércio), Elde Oliveira (JA Bahia), Eduardo Athayde (WWI no Brasil), Isabela Suarez (Fundação Baía Viva), Georges Humbert (IBRADES), Fernando Machado (consultor internacional de Inovação E é essa força interior que nos faz donos do nosso destino e senhores da nossa caminhada. E essa força tem nome: resiliência Verônica Villas Bôas RESILIÊNCIA
Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Let’s Go Bahia | 5 e Competitividade), Claudio Cunha (ADEMI), Americo Neto (ABAP), Monique Melo (ABRACOM), Luis Henrique do Amaral (ABRASEL), entre tantos outros, abrilhantam e enriquecem o conteúdo que publicamos a cada edição. Poder contar com essas pessoas, que atualmente representam grupos e entidades relevantes no nosso Estado, é fruto de uma conquista buscada e almejada por nós na revista desde sempre. Nas matérias, trazemos na seção de Sustentabilidade um texto maravilhoso do jornalista Murilo Gitel sobre Greenwashing. Em tempos de aquecimento global, em que vemos com frequência nos jornais de todo o país as notícias sobre registros de altas temperaturas que bateram os recordes dos últimos anos, vale a pena colocar a lupa e ler mais sobre sustentabilidade para podermos ficar, de fato, vigilantes e atentos a um tema que é palavra de ordem mundial: ESG. Na seção de Gastronomia, a novidade é a chegada de Luís Henrique do Amaral, presidente-executivo da ABRASEL Bahia, que passa a assinar a nossa coluna, antes assinada por Tereza Paim. E por falar em gastronomia, que tal conhecer o chef Sheik? Ana Vilava traz um perfil desse famoso chef que está à frente do Take Away (comida japonesa) e que acaba de ganhar o Prêmio Guru 2024, uma honra oferecida pelo Google em reconhecimento à alta qualidade de serviço e excelência gastronômica. Não deixe de conferir também a matéria sobre galinha ao molho pardo; é de dar água na boca! A Let’s Go chega às suas mãos como de costume: cheia de novidades nas suas diversas seções e com pautas para todos os gostos. Enfim, #issoéletsgo. Boa leitura!
6 | Let’s Go Bahia Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 EXPEDIENTE PUBLISHER Verônica Villas Bôas [email protected] REDAÇÃO EDITORA: Aleile Moura Araújo [email protected] REVISORA: Gabriela Ponce JORNALISTAS Alan e Déborah Fontes Ana Virgínia Vilalva Ana Paula Garrido Andrea Castro Juliana Carvalho Matheus Pastori Murilo Gitel Otávio Queiroz Roberto Nunes CONSELHO EDITORIAL Carlos Falcão Claudia Giudice Fabio Lima Isabela Suarez COLUNISTAS Alexandra Isensee ___ Alma Baiana Aline Hermida _________ Jardinagem Andréa Castro _________ Arquitetura & Decoração Cáscio Cardoso ________Esportes Carlos S. Falcão ________ Finanças Claudia Giudice ________Plano B Diego Oliveira __________ Spot Fabiano Lacerda ______ Life Coach Fernando Machado __ Reflexões Gabriela Ponce ________ Sessão Pipoca Ildazio Tavares _________ Conectados Dr. Leonardo Salgado __ Saúde Lila Moraes ______________ Locomotiva Baiana Luiz H. Amaral _________ Gastrô Marcello Fontes _______ Let’s Go 360° Marcelo Sampaio _____ Garimpando Matheus Pastori _______ De Olho nas Telas Otávio Queiroz ________ Games Patrícia Guerra _________ Guia Salvador Patrícia Zanotti ________ Luxo e Beleza Renata Rangel _________ Moda Roberto Nunes ________ Autos e Motos ARTICULISTAS CONVIDADOS Aline Macedo Americo Neto Ana Carolina Monteiro Claudio Cunha Eduardo Athayde Elde Oliveira Flavia Camanho Georges Humbert Iryna Podusovska Isabela Suarez Kelsor Fernandes Monique Melo Paulo Cavalcanti Pedro Dornas Ricardo Amorim Roberto Shinyashiki ESPECIAL PATRIMÔNIOS Rafael Dantas CRÔNICA Malu Fontes FOTOGRAFIA Capa: Jotta Fotografia @jotta_imagem_empresarial @jotta_photopro FOTOJORNALISMO: Jotta Fotografia @jotta_imagem_empresarial @jotta_photopro Anne Hanielly @annehanielly EDITORAÇÃO E ARTE DIREÇÃO DE ARTE: Luiz Artur de Sá Menezes @mamute.marketing Verônica Villas Bôas DIAGRAMAÇÃO: Luiz Artur de Sá Menezes ARTE: Marco Aurélio COMERCIAL DIRETORA: Verônica Villas Bôas [email protected] [email protected] FINANCEIRO Jocy da Matta [email protected] [email protected] DIREÇÃO EXECUTIVA Eden Almeida MÍDIAS DIGITAIS EDITOR ON-LINE: Otávio Queiroz [email protected] Ana Virgínia Vilalva [email protected] GESTÃO DO SITE: ZMARK Marketing Digital Consultoria e Gestão de Instagram Alisson Bruno CONSULTORIA E GESTÃO LINKEDIN: DK Comunicação PUBLICIDADE Marco Carvalho DK Comunicação ASSESSORIA DE IMPRENSA & RP Texto & Cia www.textoecia.com.br IMPRESSÃO Gráfica JB Ltda TIRAGEM 10.000 exemplares DISTRIBUIÇÃO Let’s Go Logística 22 34 42 50 70 76 82 92 108 114 118 132 ÍNDICE V2M EDITORA LTDA Av. Professor Magalhaes Neto, nº 1856, sala 603, Caminho das Árvores, Salvador-Bahia. CEP: 41810-011 www.letsgobahia.com.br Tel.: +55 71 3018-4494 Claudia Tondo Sustentabilidade Inteligência Artificial Capa: Divaldo Franco Autos: carros elétricos Gastrô: galinha ao molho pardo Perfil do Chef: Carlos Sheik Perfil: Marcos Davi Daqui de Salvador: Douro Turismo: Cidade do México Perfil: Fernando Antônio Patrimônios IR IR IR IR
Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Let’s Go Bahia | 7 IR IR IR IR IR IR IRIR Doe seu imposto de renda para o GACC-BA A Legislação Federal permite a destinação solidária de parte do seu Imposto de Renda Tributado para o Fundo Estadual do Direito da Criança e do Adolescente (FECRIANÇA). Indicando o nome do GACC-BA como a instituição a ser beneficiada, válido para pessoas físicas (até 3%). Opte pela declaração completa Na simplificada, os contribuintes não conseguem 01 fazer esse tipo de doação. . Escolha a quantia a ser doada O valor disponível é calculado pelo próprio 04 programa do IR. . No Programa do IR, clique no item 02. “Doações diretamente na declaração” Imprima o Documento de Arrecadação Federal (DARF) e pague até o dia 05 31 de maio de 2024 . Na aba “Criança e Adolescente”, clique em “Novo”, escolha o “Fundo Estadual do Direito da Criança e do Adolescente - Bahia 03 (FECRIANÇA)”, selecione o estado “BA-Bahia” . Para que a doação ao GACC seja reconhecida, é necessário enviar uma cópia do comprovante de pagamento do DARF via e-mail para [email protected], informando nome, CPF e o desejo de doar para o GACC-BA, com cópia para o e-mail [email protected] Safira Souza, 17 anos, paciente do GACC-BA
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10 | Let’s Go Bahia Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Jornalista, escritora e mãe de Chico Claudia Giudice mudança A poesia da Tudo é mudança”, dizia Eurípedes, o poeta trágico grego. “Tudo cede o seu lugar e desaparece”. Eurípedes é o poeta da mudança. Deixou os deuses de lado. Escolheu tratar dos problemas triviais dos humanos, que no século V antes de Cristo viviam um momento de mudança de vida e de tradições na sociedade ateniense. Eurípedes mudou também o ponto de vista da tragédia. No lugar dos feitos e das vitórias, escolheu contar a história dos derrotados, dos vencidos e das mulheres, que nem eram consideradas parte da sociedade. Escreveu 95 peças. Só encontrou o sucesso pleno séculos depois de sua morte. Inspirou dramaturgos modernos como Racine, Goethe e Eugene O’Neil. Eurípedes era caudaloso e recolhido. Morreu sozinho, como viveu. Medeia é a peça dele que mais me impacta e impressiona. A história de uma mulher tomada de amor e ódio pelo marido. Ao ser traída, abandonada e rejeitada por ser estrangeira e plebeia, rebela-se. Revolta-se. Vinga-se dele e do mundo masculino, matando os próprios filhos que ama profundamente. Fúria, morte, dor e mudança. “Deixe em paz meu coração, que ele é um pote até aqui de mágoa e qualquer desatenção, faça não. Pode ser a gota d’água”, canta Joana/Medeia, interpretada por Bibi Ferreira no século passado e por Laila Garin na década passada na peça “Gota D’Água: Uma Tragédia Brasileira”, de Paulo Pontes e Chico Buarque, baseada na obra clássica grega. Muita gente odeia mudar. Acha uma tragédia, digna de Medeia. Eu gosto. Antes de tudo, acho a palavra linda. MUDANÇA. No dicionário, a etimologia explica: radical de mudar + ança. Vem do latim. É sinonímia de deslocamento, modificação e variante. Antônimo de conservação. Faço também de uma leitura livre: mu, um Deus, + dança, um movimento, um deslocamento com ritmo, intenção e música. Como a canção de Gilberto Gil. Mudança é um baile. Mudança é um baile permanente. Plano B príncipe Falconeri, personagem do livro “O Leopardo”, de Giuseppe de Lampedusa. Acredito nisso e por isso gosto de mudar. Desta vez, a mudança tem a intenção de realizar um sonho. Sempre sonhei em morar de frente para o mar. Dormir e acordar olhando para ele e ouvindo-o rugir. O desejo também é voltar a ter uma casa só minha. Faz quatro anos que moro dentro do meu estabelecimento comercial, a Pousada A Capela, na Praia do Piruí, em Arembepe. Adoro o meu trabalho, mas sinto falta de ter a minha sala, a minha cozinha, as minhas coisas. Poder interromper o trabalho e ir para a minha casa e fazer o que der na telha. Diferentemente de uma mudança que fiz em 2015, quando troquei um grande e confortável apartamento por um bem menor para economizar e reduzir 50% do custo do condomínio e contar com uma receita nova de um bom aluguel, desta vez, a mudança não tem nada a ver com resiliência e estoicismo - duas habilidades minhas -, mas com autoindulgência. Quero me dar prazer. Farei, em breve, 59 anos. Trabalho desde os 16. Ainda ralo muito. Sou casquinha. Sou cuidadosa. Menos, né? Em 2015, fui resiliente - capacidade de se recobrar facilmente ou Vou mudar de novo. Outra vez de casa. Em novembro, quando completo 59 anos, sem contar a maternidade, serão 23 mudanças de casa. Na média, dá uma troca de lar a cada 2,5 anos. É bastante. Vou mudar porque sou conservadora. Vou mudar porque faço planos e gosto de concretizá-los. Vou mudar para manter meus planos em linha. A última vez que escrevi isto, deste jeito, foi há 9 anos, na intenção de mudar para que tudo ficasse como estava, como prometia o Mudar rejuvenesce. Mudar desafia. Mudar diverte. Mudar transforma. Já ganhei e já perdi tantas coisas, que faz tempo que nem ligo se perco no par ou no ímpar.
Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Let’s Go Bahia | 11 se adaptar à má sorte ou às mudanças - quando perdi meu emprego de alta executiva da Editora Abril. Adaptei-me. Deixei para trás as mordomias, o “poder”, o meu apartamento mega, com vista para a piscina do Clube Pinheiros, em São Paulo. Gostava da minha rua com ciclovia. Gostava dos meus móveis espalhados por uma sala de três ambientes. Mas na época, depois de umas porradas e uns sacodes, percebi que estava apegada a uma imagem e a um status quo que não mais me pertenciam. Esse apego, considerando o planejamento orçamentário da ME Vida Sem Crachá S.A., poderia significar uma conta cara demais para pagar lá na frente, quando espero viver na sombra e com água fresca. Portanto, como diz o príncipe, mudei para não precisar mudar meus planos no futuro. Doeu pouco. O tempo passou e agora chegou a hora da Dona Resiliência, sempre ela, mostrar o seu lado B, de Bom Demais. Olho para as minhas coisas espalhadas pelos ambientes da pousada e fico imaginando como ficarão bonitas na sala da casa, no meu quarto ou ateliê. Tiro medidas e sonho com uns quadros nas paredes e livros arrumados na sala. Tudo meu. Que alegria! Mudar rejuvenesce. Mudar desafia. Mudar diverte. Mudar transforma. Já ganhei e já perdi tantas coisas, que faz tempo que nem ligo se perco no par ou no ímpar. Posso dizer que já sou capaz de me adaptar às mudanças. Tornei-me mais flexível. Aprendi a ter hábitos saudáveis. Cuido do corpo pensando no futuro próximo, quando espero viver no oásis do deserto da Terceira Idade. Por isso, acredito em mim, no amor, na amizade e no afeto. Estou pronta? Que nada. Ainda falta liberar as tensões e aprender a ser paciente e otimista. Ser muito mais baiana. Relaxar e ter fé, acreditando que no final tudo vai dar certo. Amém.
12 | Let’s Go Bahia Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Emagreceu mais de 100 kg; publicitário, palestrante e estudante de Psicologia Fabiano Lacerda doce! Life Coach No turbilhão do cotidiano, somos frequentemente inundados por conselhos sobre cuidados com a saúde, e o alerta sobre o consumo de açúcar não é novidade. A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza que devemos limitar nosso consumo diário a 25 gramas, um dado relevante quando consideramos que uma lata de refrigerante já contém 40 gramas. Contudo, hoje, quero convidar você a “largar o doce” de uma perspectiva diferente, não física, mas emocional. Em minha terra natal, na Bahia, “largar o doce” não é apenas uma recomendação nutricional, mas uma expressão que traduz a nossa capacidade única de comunicação. É a arte de falar tudo na lata, de contar tudo sem rodeios, uma característica apreciada pela franqueza e autenticidade. Este é um convite para soltar o verbo, falar a verdade e abraçar uma forma direta de se expressar, sem as doçuras da diplomacia excessiva. No universo da Psicologia, a autenticidade é um princípio valioso. Ao nos permitirmos ser verdadeiros conosco e com os outros, não apenas construímos alicerces firmes para relacionamentos significativos, mas também cultivamos um terreno fértil para o florescer da resiliência emocional. A autenticidade não é apenas sobre mostrar ao mundo quem somos, mas também sobre aceitar e abraçar a nossa própria verdade, mesmo que isso nos torne vulneráveis. a verdade sem receios não só fortalecerá significativamente as nossas relações interpessoais, como também desenvolverá uma resiliência robusta, capaz de nos conduzir com firmeza através das vicissitudes da vida, moldando-nos e transformando-nos de maneira profunda e duradoura. Ao abraçar a nossa autenticidade, damos passos corajosos em direção a uma vida mais plena e significativa, na qual a resiliência se torna nossa aliada constante. Dessa forma, nessa fascinante jornada de “largar o doce” emocional, ao expressar a verdade sem receios e fortalecer as relações, cada passo revelado se transforma em uma nova dimensão da nossa verdadeira essência, guiando-nos rumo a uma vida mais plena e significativa. Embarque nesse caminho de autenticidade, resiliência e transformação, moldando-se e evoluindo de maneira profunda. Se sentir a necessidade de explorar mais as dimensões emocionais, considere buscar o apoio de um profissional de Psicologia. Com o suporte adequado, cada passo nessa jornada pode ser guiado com compreensão, proporcionando um crescimento profundo e significativo. Largue o Neste contexto, uma valiosa dica psicológica se destaca: ao se permitir viver autenticamente, esteja disposto a explorar e a entender as suas próprias vulnerabilidades. Quando somos mais autênticos, generosamente, permitimos que o terreno fértil da resiliência floresça. A capacidade de enfrentar desafios, superar adversidades e aprender com as experiências está intrinsecamente ligada à autenticidade. Não se trata apenas de manifestar força; é uma jornada de ser genuinamente você, mesmo diante das provações mais desafiadoras que a vida te oferta. Vá por mim, a verdadeira resiliência não vem de uma armadura invulnerável, mas da coragem de mostrar ao mundo quem você é, mesmo nas suas fragilidades. A autenticidade não é a ausência de fragilidade, mas a coragem de ser vulnerável e, ainda assim, seguir adiante. Dessa maneira, a jornada de “largar o doce” emocional se torna um caminho no qual permitir-se ser autêntico e expressar A verdadeira resiliência não vem de uma armadura invulnerável, mas da coragem de mostrar ao mundo quem você é, mesmo nas suas fragilidades.
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14 | Let’s Go Bahia Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Falhamos. Sem exceção. Somos programados para errar. O inevitável erro não é uma zoeira da natureza. A didática silenciosa da vida tem dois pontos-chave: aprender com os próprios erros e com os erros dos outros. Aprendendo pela dor ou pela observação, não escapamos de um mecanismo universal que nos conduz a decisões erradas. Tomamos cerca de 35 mil decisões diariamente. Para lidar com a maioria delas, sem empacar, contamos com atalhos intuitivos baseados em experiências anteriores e em nossos instintos. Esse processo natural, que nos ajuda a agir rápido e traz muitos acertos, é também a origem do que nos faz errar sistematicamente. Os psicólogos israelenses Daniel Kahneman e Amos Tversky ampliaram o nosso conhecimento sobre a tomada de decisão, demonstrando que estamos permanentemente vulneráveis aos vieses cognitivos que nos induzem a erros de raciocínio e julgamento. A dinâmica das organizações colabora para agravar os vieses, algumas vezes com consequências fatais. Lembra-se da Blockbuster? Em 2013, a maior representante do segmento de locação de vídeos foi liquidada. Antes, a Netflix, ainda não tão valiosa, ofereceu- -se para uma fusão na qual seria a sua operação na internet - e foi desprezada; ao mesmo tempo, a Blockbuster adiou bastante a sua adaptação à era digital. O que explica esses vacilos? Subestimar a concorrência, o excesso de confiança do líder e da equipe na própria experiência e habilidades, a demora em identificar Ana Carolina Monteiro Especialista em Comunidades de Marca, consultora Full Stack Marketing e palestrante na Hackel. com.br, professora de MBA em Inteligência de Mercado, Marketing Estratégico e Mídias Digitais Decisões erradas são resultados de uma combinação de vieses cognitivos - erros sistemáticos do pensamento que impactam a tomada de decisão e agir diante da revolução tecnológica que estava mudando o mercado, o otimismo desmedido em relação a resultados futuros, baseado no sucesso passado. Os erros se somaram até o desfecho que conhecemos. Algumas escolhas ruins podem ter como raiz o descaso, a incompetência e até a má-fé dos decisores. No entanto, frequentemente, decisões erradas são resultados de uma combinação de vieses cognitivos - erros sistemáticos do pensamento que impactam a tomada de decisão. Líderes de negócios, mesmo quando ciente desses vieses, estão sujeitos às suas armadilhas. Quando capturados, a plateia, cheia de certeza, brada que nunca teria errado da mesma forma. Aliás, esses críticos incorrem no viés da retrospectiva - quando julgamos uma situação passada com informações disponíveis depois de ocorrido o fato. O famoso “Eu sabia”. No caso citado, os vieses como o do status quo, do excesso de confiança, do otimismo e, provavelmente, o viés do pensamento de grupo (groupthink) - tendência de calar uma opinião divergente diante da maioria - tiveram assento na mesa dos gestores. A tempestade perfeita é constantemente formada por uma combinação de vieses conhecidos. Se esses vieses fazem parte de nossa estrutura mental, os negócios estariam sempre à mercê dos vieses do pequeno grupo que decide? Este é um dos casos em que aprender com os erros alheios faz muito sentido. A Blockbuster compartilha com outras grandes marcas, e diversas empresas anônimas, a sua história sem final feliz. Agora, entende-se que mudanças intencionais no ambiente são mais eficientes do que tentar mudar as pessoas. Como indivíduos, acreditamos que a consciência dos vieses nos protege de escorregar no seu chão ensaboado. Subestimamos os efeitos dos vieses sobre nós, equívoco identificado como viés do ponto cego. “É muito mais fácil, além de muito mais prazeroso, reconhecer e identificar os erros dos outros do que os próprios”, citando a sumidade no assunto, Kahneman. Isto contém ironia, não apenas do autor, mas da vida: sozinhos não enxergamos os nossos erros, precisamos da ajuda dos outros, que também não enxergam os deles, mas veem claramente os nossos. Então, para errar menos, aposta-se na força do coletivo e, adicionalmente, em metodologia que potencializa o seu lado positivo e previne contra o negativo - lembra-se do viés do groupthink? Eu erro. Você erra. Juntos podemos acertar mais. A vida é mesmo uma boa professora. E entende de negócios. Olhando enviesado CMY CM MY CY CMYK
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16 | Let’s Go Bahia Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Paulo Cavalcanti resiliência social O poder da Advogado, empresário, escritor e presidente da Associação Comercial da Bahia (ACB) Nós podemos ter o governo que queremos. Para isso, precisamos avançar no nosso pacto social Sempre que ouvimos a palavra resiliência, quase que automaticamente pensamos na capacidade do indivíduo de se reinventar, sobreviver às adversidades, ressuscitar, ressurgir das cinzas. Normalmente, relacionamos as pessoas resilientes a uma filosofia de vida como o estoicismo, a força mental, a capacidade de não desistir e reconstruir a própria vida, um caminho diferente, com mais determinação, novos propósitos e significados. Mas você já parou para pensar sobre como as sociedades ou as nações também podem ser resilientes? Hoje, vivemos preocupados com os rumos da nossa sociedade, com as questões de segurança pública, com o avanço da violência e até mesmo com as organizações criminosas substituindo o Estado em alguns espaços. Também nos preocupamos com a degradação do ensino público, o aumento do desemprego, as altas taxas de informalidade, a corrupção e a insegurança jurídica. Acostumamo-nos a assistir à degeneração da sociedade como a um indivíduo que sofre de câncer. É a nossa convivência social sendo combalida por um mal terminal. Se quisermos mudar este quadro, é urgente que compreendamos e exercitemos a resiliência social, que nada mais é do que a capacidade que as comunidades, sociedades e sistemas sociais têm de se recuperar e até mesmo se fortalecer diante de desafios, adversidades e mudanças. E isso envolve também a colaboração, a solidariedade e a capacidade de se unir para superar dificuldades e promover o bem-estar coletivo. Embora existam autores internacionais que escreveram livros que nos oferecem insights valiosos sobre como a resiliência social pode ser cultivada e fortalecida em diversos contextos, entendo que são raros os que conseguem enxergar que a resiliência, a ressocialização de qualquer nação, conceito mais amplo precisam ser valorizadas. A ressocialização da nossa sociedade é a única forma de escaparmos do caos social. Agora, você deve estar se perguntando: e como podemos fazer isso acontecer? A resposta é bem simples: é a partir da nossa união, da resiliência de uma maioria que ainda acredita que isso é possível, com a criação de uma grande rede nacional com as melhores atitudes que transformaremos e ressocializaremos a nossa sociedade. Ainda em meu livro, deixo claro que quem pode te jogar para cima ou para baixo ou até mesmo te deixar exatamente onde você está é apenas você mesmo. Esta é a mesma analogia que faço em relação ao Estado que temos: nós podemos ter o governo que queremos, podemos ter garantida a eficiência dos serviços públicos, como educação, saúde, segurança e justiça. Para isso, precisamos avançar no nosso pacto social, assumir as nossas responsabilidades e cobrar daqueles que elegemos para controlar a máquina pública que façam valer os nossos direitos já garantidos na nossa Constituição. Temos o poder de transformar, só depende de nós mudar os nossos hábitos e adotar atitudes participativas. Esse é o caminho que busco construir com essa nova filosofia da consciência cidadã, participativa e transformadora: mostrar como um conjunto de pessoas diferentes pode ser resiliente socialmente por meio de várias formas de colaboração e apoio mútuo, formando uma base sólida para enfrentar adversidades e promover o bem- -estar coletivo. será sempre conduzida por uma minoria com conhecimento e com condições de organizar pensamentos coerentes. Geralmente, são aqueles que menos precisam dos serviços públicos como educação, saúde e moradia, por exemplo. Em meu livro “E aí? Isso é da minha conta? – Reflexões sobre a consciência cidadã participativa transformadora”, digo que estamos completamente perdidos e que somos uma sociedade composta por pessoas mal informadas ou inocentes, sem oportunidades, vítimas de quem deveria protegê-las. Explico que a ressocialização da nossa nação tem que ser encarada como prioridade pelo nosso povo. A racionalidade, a ordem e a recuperação da dignidade em seu
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18 | Let’s Go Bahia Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Pedro Dornas Head da Resiliência: Amcham Bahia como cultivá-la em nossas vidas? Em um mundo repleto de desafios e incertezas, a resiliência emerge como uma qualidade essencial para enfrentar adversidades e prosperar. Ela não se limita apenas a superar obstáculos, mas também envolve a capacidade de aprender com as experiências e crescer com elas. Neste artigo, exploraremos o significado da resiliência e como podemos cultivá-la em nossas vidas. Em sua essência, a resiliência é a capacidade de se adaptar e se recuperar diante de situações difíceis. É a habilidade de manter a calma e a determinação mesmo quando tudo parece desmoronar ao nosso redor. A resiliência não significa evitar o fracasso, mas, sim, enfrentá-lo de frente e transformá-lo em uma oportunidade de crescimento. Minha própria jornada empresarial é um testemunho do poder da resiliência. Desde 2017, quando me mudei para Salvador em busca de novas oportunidades, enfrentei inúmeros desafios e obstáculos. No entanto, em vez de desistir diante das dificuldades, optei por aprender com elas e me tornar mais forte. Trabalhando em uma empresa de terceirização de mão de obra, enfrentei diversos altos e baixos. Cometi erros, encontrei obstáculos inesperados, mas nunca perdi de vista meus objetivos. Essa resiliência e determinação me permitiram progredir na carreira, alcançando posições de destaque em um grupo empresarial influente na região e, posteriormente, assumindo o cargo de head regional da Amcham na Bahia. O segredo da resiliência reside em nossa capacidade de mudar nossa perspectiva diante das adversidades. Em vez de nos deixarmos abater pelo fracasso, devemos encará-lo como uma oportunidade de aprendizado e crescimento. Cada obstáculo que encontramos no caminho é uma chance de nos tornarmos mais fortes e mais resilientes. Além disso, é importante lembrar que a resiliência não é uma qualidade inata, mas, sim, algo que pode ser cultivado e desenvolvido ao longo do tempo. Existem várias estratégias que podemos adotar para fortalecer nossa resiliência, como cultivar uma mentalidade positiva, praticar a autocompaixão, buscar apoio emocional e físico, e manter um senso de propósito e significado em nossas vidas. Ao enfrentarmos os desafios O segredo da resiliência reside em nossa capacidade de mudar nossa perspectiva diante das adversidades. Em vez de nos deixarmos abater pelo fracasso, devemos encará-lo como uma oportunidade de aprendizado e crescimento da vida com resiliência, não apenas fortalecemos nossa capacidade de lidar com as adversidades, mas também abrimos portas para novas oportunidades e realizações. A resiliência nos capacita a perseverar diante das dificuldades e a alcançar o sucesso, não importa o quão árduo seja o caminho. Portanto, convido você a cultivar a resiliência em sua própria vida. Lembre-se de que cada obstáculo que você enfrenta é uma oportunidade de crescimento e desenvolvimento. Com determinação, perseverança e uma mentalidade resiliente, você pode superar qualquer desafio e alcançar seus objetivos mais ambiciosos. CMY CM MY CY CMY K
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20 | Let’s Go Bahia Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 A resiliência feminina é uma força poderosa que tem sido evidente ao longo da história. As mulheres demonstram uma incrível capacidade de enfrentar desafios, de adaptar-se às circunstâncias adversas e de emergir mais fortes Flávia Camanho Conselheira, mentora e especialista em Desenvolvimento Humano A resiliência feminina: um pleonasmo Um pleonasmo é uma figura de linguagem caracterizada pelo uso desnecessário de palavras ou expressões que transmitem a mesma ideia; redundância. Em outras palavras, é quando se usa uma expressão ou um termo que já estão implícitos no contexto, adicionando, assim, informações supérfluas. E a resiliência? Resiliência é a capacidade de se adaptar e se recuperar diante de desafios e adversidades, é uma qualidade feminina fundamental. Um exemplo claro é a nossa capacidade de gerar outro ser humano. Temos a condição de viver nove meses em um dueto interno, tendo dois corações batendo dentro de nós. Apesar de parecer, então, que a resiliência é uma condição inata às mulheres, ao longo da história, as mulheres desenvolveram uma resiliência notável, enfrentando uma variedade de obstáculos sociais, econômicos e culturais. A adversidade que as mulheres frequentemente enfrentam é uma constância que chega a ser até invisível aos olhos. Como se o peixe se acostumasse com a água e não mais percebesse sua presença. Essas adversidades vão desde disparidades salariais até a discriminação de gênero e violência doméstica. A vivência de não ser ouvida, de sentir medo em usar uma roupa, de não poder andar sozinha à noite em uma grande cidade. Essas microagressões que sofremos pela única questão de termos o gênero feminino acabam por ter o efeito de desenvolver em nós uma incrível força interior. Acabamos incorporando maneiras de superar as adversidades, muitas vezes assumindo múltiplos papéis e responsabilidades para seguir na realização de nossos objetivos. A capacidade das mulheres de se adaptarem a situações em constante mudança é uma característica marcante de sua resiliência. Seja equilibrando carreira e vida familiar, lidando com crises econômicas e a falta de acesso a recursos financeiros ou enfrentando mudanças sociais, as mulheres, frequentemente, demonstram uma notável flexibilidade. Acabamos, talvez por necessidade, encontrando novas formas de enfrentar desafios e aproveitar oportunidades, muitas vezes mostrando uma capacidade de adaptação surpreendente. E tem sido um caminho virtuoso, à medida que as mulheres superam obstáculos e desafios, emergem mais fortes e empoderadas. Nascem novas referências, mulheres ocupam novos lugares de poder e, assim, adquirem ainda mais a habilidade de se transformar e crescer com essas experiências. Mulheres resilientes frequentemente se tornam defensoras de mudanças sociais, lutando por igualdade de gênero, justiça e oportunidades para si e para outras pessoas. Temos ótimas referências como Rosa Parks, cuja recusa em ceder seu assento a um homem branco no ônibus de Montgomery, Alabama, desencadeou o Movimento dos Direitos Civis nos Estados Unidos. Ou um exemplo mais recente que tem sido de grande inspiração para minha filha e meninas das novas gerações: Malala Yousafzai. Uma menina que sobreviveu a um ataque do Talibã por sua defesa pelo direito das meninas à educação e se tornou uma voz global para a educação das mulheres, tendo recebido o Prêmio Nobel da Paz, em 2014. Aqui na Bahia, temos o exemplo poderoso de Ivete Sangalo. O último Carnaval não foi trivial para ela. Apesar de representar uma grande celebração de 30 anos de carreira, ela enfrentou todos os imprevistos que poderiam existir em um megaevento. Houve um acidente com o trio, ela teve que lidar com inúmeras falhas técnicas e teve que tomar decisões assertivas. Em um momento de extremo estresse, ela parou e chorou, o que é uma característica de resiliência, entender sua vulnerabilidade e sua força. E para terminar consagrada, desceu do trio e cantou no meio da “pipoca” com milhares de pessoas. Trouxe, então, este trocadilho no início do artigo por ter a certeza de que mulheres não existem se não possuírem a capacidade de ser resilientes. A resiliência feminina é uma força poderosa que tem sido evidente ao longo da história. As mulheres demonstram uma incrível capacidade de enfrentar desafios, de adaptar-se às circunstâncias adversas e de emergir mais fortes.
Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Let’s Go Bahia | 21 Sempre em busca da excelência, a Larco conquistou o posto de quarta maior distribuidora do país. Com operações em 15 estados, fornecemos combustível de alta qualidade para veículos, máquinas e equipamentos, ajudando a impulsionar diferentes áreas da economia brasileira e oferecendo sempre o melhor para você ir ainda mais longe. larcopetroleo.com.br Quem vai com Larco, vai mais longe. A gente distribui combustível e confiança.
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Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Let’s Go Bahia | 23 Claudia Tondo: governança e sucessão Saiba como a profissional ajuda na construção do futuro através da consultoria de famílias empresárias Por Otávio Queiroz trabalhava na clínica, e logo se viu envolvida em casos que incluíam membros de famílias empresárias. Foi essa experiência que a inspirou a mergulhar mais fundo no estudo das interações entre família e negócios. “Minha primeira formação acadêmica foi em Psicologia. Bem no início da minha carreira, ainda nos anos 1990, eu trabalhava com clínica me especializando em Terapia de Casais e Famílias. Foram nesses atendimentos clínicos que começaram a aparecer os primeiros casos de pessoas com membros de famílias empresárias, o que acabou criando muita vontade de conhecer as empresas daquelas famílias”, explica Claudia. Determinada a aprofundar seu entendimento sobre o funcionamento das empresas familiares, Claudia complementou sua formação em Psicologia com cursos na área de negócios e conhecimentos jurídicos. Essa abordagem holística permitiu que ela desenvolvesse uma compreensão abrangente dos Ela é mulher, reconhecida na área e com uma carreira marcante. Claudia Tondo se destaca no cenário da consultoria de famílias empresárias não apenas por suas conquistas acadêmicas, mas também por sua dedicação incansável em promover o desenvolvimento e a sustentabilidade das empresas familiares. Com décadas de experiência e uma abordagem holística, Claudia se tornou uma voz influente no campo da governança corporativa e familiar, oferecendo insights valiosos sobre as oportunidades e os desafios enfrentados por essas organizações. História e carreira A trajetória de Claudia Tondo é um testemunho do seu compromisso com a excelência e a inovação na consultoria de famílias empresárias. Com formação em Psicologia, especialização em Terapia Familiar e doutorado em Psicologia com foco em processos de liderança em empresas familiares, Claudia construiu uma base sólida de conhecimento multidisciplinar. A palavra governança ajudou muito a tornar um trabalho como o meu mais conhecido e reconhecido. Nos anos 1990, meu trabalho praticamente não tinha um nome, mas as pessoas chegavam por indicação, pois precisavam melhorar algum assunto relacionado às misturas de famíliaempresa-sociedade Ao longo de sua carreira, Claudia se destacou não apenas por sua expertise acadêmica, mas também por sua abordagem prática e empática ao lidar com as complexidades das empresas familiares. Seu interesse pela área nasceu nos anos 1990, quando
24 | Let’s Go Bahia Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Aspas desafios enfrentados por essas organizações e das estratégias eficazes para superá-los. Governança A governança corporativa e familiar é um tema central no trabalho de Claudia Tondo. Ela acredita firmemente que estruturas de governança eficazes são fundamentais para garantir a continuidade e o sucesso das empresas familiares em longo prazo. Em suas próprias palavras: “A palavra governança ajudou muito a tornar um trabalho como o meu mais conhecido e reconhecido. Nos anos 1990, meu trabalho praticamente não tinha um nome, mas as pessoas chegavam por indicação, pois precisavam melhorar algum assunto relacionado às misturas de família-empresa-sociedade”. Claudia destaca que a distinção entre herdeiros e sucessores é essencial para o processo de sucessão. Ela enfatiza a importância de educar futuros sócios e acionistas responsáveis, preparando-os para desafios e responsabilidades associadas à gestão dos negócios familiares. “Com certeza, existem mais herdeiros do que sucessores. Esta tendência é também matemática. Se você funda uma empresa e tem três filhos, dificilmente os três terão perfil para trabalhar em seu negócio, mas os três tendem a ser herdeiros dos negócios e do patrimônio familiar”, explica Claudia. Além disso, Claudia ressalta a importância da sucessão planejada, destacando que esse processo requer tempo, planejamento estratégico e avaliação criteriosa dos candidatos a sucessores. Ela enfatiza a necessidade de os empresários brasileiros considerarem todas as alternativas disponíveis para garantir a continuidade dos negócios familiares. Ao oferecer conselhos aos empresários brasileiros, Claudia enfatiza a importância de encarar a sucessão como uma prioridade e planejá-la com antecedência. Sua mensagem é clara: “Comece hoje a preparar o terreno para o futuro de sua empresa e de sua família”. A trajetória e as ideias de Claudia Tondo destacam o papel crucial que a consultoria de famílias empresárias desempenha na construção de empresas familiares sólidas e duradouras. Sua abordagem multidisciplinar e sua paixão pelo que faz a tornam uma voz indispensável no campo da governança corporativa e familiar no Brasil e além.
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26 | Let’s Go Bahia Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Dr. Roberto Shinyashiki Empresário, palestrante e Doutor em Administração de Empresas pela Universidade de São Paulo (USP) Pagar o preço do seu sonho: o poder da dedicação na construção do sucesso No universo da realização pessoal e profissional, todo sonho possui um preço a ser pago. É neste contexto que compartilho uma experiência marcante que envolve minha filha Marina, estudante de Medicina. Num fim de semana, convidei-a para um momento de lazer, mas ela optou por dedicar-se integralmente aos estudos, exemplificando a importância de reconhecer que os objetivos demandam sacrifícios. Cada aspiração, seja acadêmica, esportiva ou profissional, exige um investimento de tempo, esforço e abnegação. O sucesso, muitas vezes, é construído na escuridão e na solidão, aspectos que costumam permanecer invisíveis aos olhos externos. O caminho para alcançar nossas aspirações é uma jornada desafiadora e solitária, onde cada passo implica um comprometimento profundo e persistente. É fácil para os outros testemunharem os triunfos visíveis, mas raramente percebem os sacrifícios e as batalhas silenciosas travadas nos momentos mais sombrios. O ditado “Você vê as pingas que eu tomo, mas não vê os tombos que eu levo” ressoa como um lembrete poderoso de que o sucesso, muitas vezes, é construído nas dificuldades não vistas, nos obstáculos superados longe dos holofotes. A verdadeira grandeza é forjada nos bastidores, onde a resiliência e a dedicação se entrelaçam para moldar o alicerce do sucesso. Portanto, abraçar a escuridão e a solidão como parte integrante do percurso é fundamental para compreender a verdadeira extensão de nossas realizações. O caminho árduo molda o sucesso! Podemos observar o esforço dos atletas de alta performance, como o lendário Usain Bolt. Seus breves segundos de glória na pista representam o resultado de inúmeras horas de treino, estudo e preparação mental. Trabalhei por anos com medalhistas olímpicos, testemunhando o quão crucial é o processo de preparação para alcançar o desempenho excepcional durante as competições. Infelizmente, muitos talentos promissores são desperdiçados devido à falta de coragem para pagar o preço necessário. Eric Berne, renomado psiquiatra, ilustra esse ponto ao mencionar indivíduos com potencial comparável ao de Baryshnikov, um dos maiores bailarinos russos do século passado, que optam por uma vida aquém de suas capacidades devido a traumas, bloqueios mentais e medos. Para superar tais obstáculos, é indispensável enfrentar as próprias limitações, trabalhar a mente e buscar ajuda quando necessário, seja por meio da terapia ou da transformação da mentalidade. Assim como uma loja exige que avaliemos se estamos dispostos a pagar o preço por um produto, nossas aspirações demandam uma análise sincera de nossas disposições e comprometimentos. Minha trajetória como palestrante também reflete a necessidade de pagar o preço para atingir e manter uma posição de destaque. O preparo, o trabalho árduo e o constante afastamento da família foram partes integrantes desse preço. Contudo, a consciência de que eu estava disposto a pagar esse preço sempre esteve presente, alimentando minha determinação. Assim, convido cada um de vocês a refletir sobre essa máxima, que é uma jornada árdua em direção ao sucesso, reforçando a ideia de que, ao aceitarmos e pagarmos o preço dos nossos sonhos, estamos trilhando um caminho que nos levará à realização desejada, pois é no escuro da noite, na solidão, que se define quem você é, o que almeja e o que vai conseguir. E esteja certo: você consegue! O sucesso, muitas vezes, é construído na escuridão e na solidão, aspectos que costumam permanecer invisíveis aos olhos externos
Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Let’s Go Bahia | 27 Elde Oliveira Presidente da JA Bahia Vale a pena investir em programa de empreendedorismo para jovens na Bahia? O empreendedorismo tem se mostrado uma ferramenta poderosa para impulsionar o desenvolvimento econômico e social em diferentes regiões do país. Na Bahia, não é diferente. Segundo dados da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) de 2020, no Estado, a taxa de empreendedorismo entre os jovens de 18 a 24 anos foi de 26,2%. Com números tão significativos, investir em programas de empreendedorismo voltados para esse grupo gera não apenas o impacto positivo na comunidade, mas também na seleção e retenção de talentos. Afinal, ao investir nos jovens empreendedores, as instituições são expostas a ideias inovadoras e diferentes perspectivas, o que pode impulsionar a criatividade e a capacidade de inovação no ambiente de trabalho, além de ter a possibilidade de identificar talentos promissores e formá-los de acordo com a cultura e os valores da organização. Dessa forma, é possível criar uma equipe de profissionais engajados, motivados e alinhados com seus objetivos. Um exemplo de sucesso nesse sentido é a BASF. A líder mundial na área química tem realizado ações em parceria com a Junior Achievement Bahia, organização sem fins lucrativos que promove a educação empreendedora entre os jovens baianos. Como resultado dessa parceria, a empresa contratou seis jovens beneficiárias dos projetos para serem suas estagiárias, em 2024. Um reflexo claro dos benefícios de investir em programas de educação para jovens. Essas iniciativas contribuem para a formação de uma nova geração de empreendedores, despertando neles habilidades como inovação, proatividade e liderança. Além disso, ao estimular o empreendedorismo, cria-se um ambiente propício para o surgimento de novos negócios e oportunidades, impulsionando a economia local. Promover o empreendedorismo entre os jovens também pode criar um ambiente propício para a disseminação de uma cultura empreendedora dentro das empresas. Isso significa que os funcionários passam a ter uma mentalidade mais proativa, com maior autonomia e disposição para buscar soluções criativas para os desafios do dia a dia. Ao investir nesse tipo programa, as empresas também demonstram comprometimento com a sociedade e com o desenvolvimento da comunidade local. Isso pode gerar uma imagem positiva perante a opinião pública, fortalecendo a reputação e atraindo a atenção de potenciais clientes, parceiros e investidores. Isso também pode resultar em novas oportunidades de negócios, acesso a mercados locais e regionais, além do fortalecimento da marca. Em suma, investir em programas de educação para jovens pode trazer diversos benefícios para as instituições e para a sociedade como um todo, a exemplo da formação de talentos, do estímulo à inovação, da retenção de talentos e do fortalecimento da reputação. Promover o empreendedorismo entre os jovens também pode criar um ambiente propício para a disseminação de uma cultura empreendedora dentro das empresas
28 | Let’s Go Bahia Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Este bom momento que vive a nossa capital é reflexo também do novo boom turístico. Ainda segundo o IBGE, o turismo registrou um aumento de 11,4% nas atividades do ano passado, atingindo o melhor desempenho anual da série histórica, iniciada em 2011 Kelsor Fernandes Presidente do Sistema Fecomércio-BA e empresário Salvador: destino para empreender No dia 29 de março de 2024, a nossa capital completou 475 anos. Um momento de reflexão para mim, mais um entre tantos empreendedores vindos do interior que enxergaram na cidade do Salvador um terreno fértil para empreender, enfrentando os percalços naturais para quem opta por construir o seu próprio negócio. No meu caso: sem sócios, com poucos recursos e cuidando de todas as áreas possíveis da empresa. Assim, no ano de 1991, iniciei a minha jornada no ramo imobiliário, na qual sigo até hoje. Naquela época, encontrei no chamado Comércio de Serviços a oportunidade que agarrei com unhas e dentes e que terminou me levando aos caminhos do associativismo da categoria. Olhando para trás, não dá para comparar a Salvador na qual me defrontei com tantos obstáculos burocráticos com a capital dos dias atuais, cujo tempo médio para a abertura de uma empresa é de quatro horas. É claro que os avanços tecnológicos transformaram o ambiente de negócios, sempre em parcelas positivas e negativas, numa simbiose própria do capitalismo. Hoje, o empreendedor dispõe de medidas que simplificam muitos processos, mas se depara com uma concorrência avassaladora e a necessidade diária de inovar para sobreviver no mercado. Dona de 50% do PIB do Estado, Salvador sempre foi uma “cidade terciária”, ou seja, são as empresas do Comércio de Bens, Serviços e Turismo que movimentam sua economia, gerando a maioria dos empregos. Nesse grupo, o segmento de Serviços lidera na criação de postos de trabalho, segundo dados do CAGED/MTE de 2023. Salões de beleza, escritórios de consultoria, corretoras de imóveis, petshops, lavanderias, enfim, as prestadoras de serviços que enxergamos pelas ruas da nossa cidade são também as protagonistas do seu crescimento. Para se ter uma ideia, de acordo com dados do IBGE, analisados pela Fecomércio-BA, o setor de Serviços na Bahia fechou o ano passado com um aumento de 6,7%, num acréscimo acima da média nacional. Graças a esse resultado, 2023 foi o melhor ano para os Serviços desde 2016. Outro dado alvissareiro para o cenário empresarial soteropolitano, de maneira geral, vem da Junta Comercial do Estado da Bahia (JUCEB). O número de empresas abertas em Salvador nos meses de dezembro e janeiro últimos segue ascendendo. Em dezembro, foram 787 e em janeiro foram 859 novas empresas, superando o número de empresas encerradas no mesmo exercício: 664 empresas extintas em dezembro/23 e 569 em janeiro de 2024. E nessas contas nem entraram a abertura de novos Microempreendedores Individuais (MEIs). Este bom momento que vive a nossa capital é reflexo também do novo boom turístico. Ainda segundo o IBGE, o turismo registrou um aumento de 11,4% nas atividades do ano passado, atingindo o melhor desempenho anual da série histórica, iniciada em 2011. Tivemos, ainda, um Carnaval digno de entrar para a história, com uma movimentação do comércio estimada em R$ 1,2 bilhão na Bahia, em meio ao primeiro verão sem resquícios dos efeitos da pandemia, o que recolocou a capital baiana no lugar que, definitivamente, é seu: o de destino turístico mais desejado do país. O aquecimento das atividades empresariais também se deve à tração dos programas municipais de apoio a quem deseja empreender. Um bom exemplo é o Invista Salvador, lançado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Emprego e Renda (SEMDEC), que inclui planos de incentivo e isenções, como o Revitalizar, com foco na revitalização dos imóveis do Centro Antigo e da Cidade Baixa. A Política Municipal de Inovação é outra iniciativa que enxergamos com bons olhos ao conectar as startups aos incentivos fiscais da Lei da Inovação. Segundo dados da SEMDEC, Salvador é líder no Nordeste em número de startups. Ainda temos muitos gargalos a superar nesta cidade que tão bem me acolheu quando cheguei de Alagoinhas, em busca das oportunidades que até hoje estão concentradas nas capitais. Aqui, iniciei meu negócio, família e filhos, que hoje são meus sócios. Como empresário, aprendi a ser resiliente e também otimista, acreditando que Salvador, no ápice dos seus 475 anos, é um destino certo para empreender.
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30 | Let’s Go Bahia Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Business Bahia Carlos Sergio Falcão Engenheiro civil, pós-graduado em Engenharia Econômica, MBA em Gestão e Negócios, presidente da Winners Engenharia Financeira e líder do Business Bahia um desafio a ser vencido A Bahia das belezas naturais, da vocação turística e de alguns polos de desenvolvimento é um Estado pobre e desigual. A sua capital também não é diferente. Um estudo divulgado pelo Instituto Cidades Sustentáveis (ICS) que comparou 40 indicadores sociais e de atuação do poder público nas 26 capitais brasileiras confirmou que, apesar dos esforços da atual gestão municipal, Salvador ainda é a cidade com piores índices de pobreza, desnutrição e desemprego no país, tendo o pior desempenho na taxa de desocupação, em que 16,7% da população ainda está desempregada. Além disso, tanto Salvador quanto a Bahia têm perdido peso relativo ao longo das últimas décadas. De acordo com o IBGE, da mesma forma que ocorreu com o Estado em relação ao Nordeste, a capital baiana perdeu posição no ranking de maiores PIBs municipais no Estado desde 2012, e em 2021 esse índice caiu para 17,9%. Em relação a Salvador, essa perda de protagonismo pode ser explicada pela baixa industrialização da cidade, pelo crescimento acima da média de outras regiões voltadas para o agronegócio e pela migração de parte da população economicamente ativa, que busca melhores condições de vida, para sua Região Metropolitana. Além disso, a cidade tem seu foco de desenvolvimento concentrado no setor de serviços, notadamente o turismo, com sazonalidade, baixa produtividade e salários abaixo do setor industrial, mais A desigualdade na Bahia, desenvolvido em outras cidades como Camaçari. Já o Estado, apesar de algumas inciativas privadas bem-sucedidas, especialmente na área das energias sustentáveis, e de sucessos pontuais como a BYD e a ponte Salvador-Itaparica, por exemplo, sofre pela ausência de um projeto sustentável de desenvolvimento, de longo prazo, com o aproveitamento das vocações naturais e uma política de atração de investimentos com ênfase em infraestrutura, logística e sustentabilidade e foco no midle market. Se o cenário já é complexo, entendo que a reforma tributária irá torná-lo ainda mais desafiador. Estou convencido de que, apesar de necessária, ao transferir a cobrança do ICMS da origem para o destino, essa reforma irá prejudicar os Estados nordestinos que nos últimos anos se valeram de benefícios fiscais para tornar mais atrativa a vinda de empresas para a região, minimizando as suas deficiências em infraestrutura e capacitação técnica. A questionada lei da subvenção, aprovada no final do A melhor forma de combater a pobreza é gerando empregos, e se não nos atrapalharem, nós, empresários, sabemos como fazer isso.
Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Let’s Go Bahia | 31 ano passado, também dificultou não somente a vinda de novas indústrias, como até a manutenção daquelas já instaladas, representando um retrocesso na segurança jurídica nacional. Felizmente, diversas entidades empresariais, como a poderosa CNI, estão buscando na justiça a suspensão dos efeitos dessa lei, e diversas decisões preliminares favoráveis aos contribuintes têm sido concedidas em todo o país. Possivelmente, essa batalha só será decidida no STF e, certamente, se a decisão for técnica, e não política, as empresas terão chances de sucesso. Dificilmente, reverteremos este cenário apenas através do poder público. As entidades empresariais têm um papel decisivo nessa luta contra a pobreza baiana, e por isso precisam ser mais ouvidas. Temos presenciado diversas ações da FIEB, do Business Bahia, ACB, Fecomércio, Lide/ Ba etc. promovendo debates, encontros e projetos que possam melhorar a nossa economia, mas falta uma unidade nessas ações e uma melhor comunicação entre elas. O Business Bahia, por exemplo, lançou a campanha e o Selo Made in Bahia, que busca despertar a consciência dos consumidores sobre a importância de priorizar os produtos e serviços baianos, além da Invest Salvador, para apoiar o município e mobilizar os empreendedores soteropolitanos a aderirem ao programa de desenvolvimento da nossa cidade, e irá promover no segundo semestre o Summit de Negócios Made in Bahia, para movimentar a economia do Estado; ações relevantes, mas que precisarão de mais apoio e divulgação para gerar o impacto esperado. O cenário é desafiador, a pobreza é real, mas a melhor forma de combatê-la é gerando empregos, e se não nos atrapalharem, nós, empresários, sabemos como fazer isso.
32 | Let’s Go Bahia Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 A distribuição de renda no Brasil é profundamente desigual, um problema agravado por dois fatores principais: a falta de educação básica e pública de qualidade para todos e um sistema tributário que sobrecarrega os mais pobres. Primeiramente, a educação básica de qualidade é escassa, criando uma grande disparidade entre aqueles que têm acesso a uma boa educação e os que não têm. O Estado investe mais em educação universitária, beneficiando apenas uma pequena parcela da população, enquanto a maioria, que depende do ensino básico, fica à margem. Os programas governamentais, que deveriam ajudar os mais pobres, muitas vezes beneficiam os mais ricos. Como no exemplo citado, o acesso gratuito às universidades públicas, frequentemente, favorece quem já tem mais recursos. Além disso, o sistema de impostos no Brasil penaliza desproporcionalmente os mais pobres, que gastam toda a sua renda em consumo e, consequentemente, em impostos sobre esse consumo. As altas alíquotas de impostos sobre o consumo fazem com que os mais pobres paguem uma porcentagem maior de sua renda em impostos em comparação aos mais ricos. A Reforma Tributária tem outros méritos, mas não vai mudar esta realidade. A solução para esses problemas não é eliminar o Estado, mas, sim, reformá-lo. Precisamos acabar com os programas governamentais que não beneficiam primordialmente os mais necessitados. Com o dinheiro economizado, poderíamos reduzir os impostos sobre o consumo e aumentar o investimento em educação básica. Isso aliviaria a carga sobre os mais pobres e criaria uma sociedade mais justa e igualitária, além de acelerar o crescimento da economia brasileira e contribuir para aumentar a renda e a riqueza de todos os brasileiros. Em resumo, a solução da pobreza e da desigualdade está ao nosso alcance. Investir em educação básica e reformar e reduzir impostos, principalmente sobre consumo, são passos essenciais. A mudança é possível, mas exige que o governo tenha coragem de eliminar gastos com programas de governo que não beneficiam principalmente os mais pobres, mas continuam a ser erroneamente chamados de sociais. Até hoje, nenhum governante brasileiro teve coragem de fazer isso. Até quando? O Estado causa a desigualdade de renda no Ricardo Amorim Economista mais influente do Brasil, segundo a Forbes, e Influenciador nº 1 no LinkedIn Brasil A solução da pobreza e da desigualdade está ao nosso alcance. Investir em educação básica e reformar e reduzir impostos, principalmente sobre consumo, são passos essenciais Arte: Let’s Go/ Mamute Marketing Finanças
Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Let’s Go Bahia | 33 A oportunidade é maior A oportunidade é maior quando quase ninguém quando quase ninguém a viu ainda. a viu ainda. Oportunidade Descubra novos horizontes para sua empresa com Ricardo Amorim, economista mais influente do Brasil de acordo com a revista Forbes. Descubra como alavancar os resultados da sua empresa e de seus clientes com a queda de juros e as transformações tecnológicas em curso e faça 2024 acontecer. www.ricamconsultoria.com.br
34 | Let’s Go Bahia Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Verde por fora, vazio por dentro: nem tudo o que reluz é ESG Organizações têm se apropriado do conceito de maneira equivocada, sem, necessariamente, apresentar boas práticas ambientais, sociais e de governança Por Murilo Gitel Sustentabilidade
Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Let’s Go Bahia | 35 Sabe aquele ditado que diz: “Nem tudo o que reluz é ouro”? Pois é. Em tempos de crescente popularização do ESG (Environment, Social & Governance) no mundo corporativo, também podemos afirmar que muitas organizações que se dizem “verdes” estão, na verdade, vazias por dentro. Aliás, já há até mesmo um nome específico para os discursos e práticas de empresas que se apropriam desse conceito na tentativa de surfar nessa “onda verde”: ESG Washing (Lavagem ESG, em uma tradução livre), uma espécie de derivação do já consolidado greenwashing (lavagem verde) aplicado à sustentabilidade. Mas, afinal, o que é ESG? Ainda que a temática de práticas ambientais, sociais e de governança já fizesse parte das preocupações das empresas, foi somente em 2004 que esta sigla passou a fazer parte dos dicionários corporativos. E ela nasceu de uma provocação do então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, o qual conclamou, por meio da publicação Who Cares Wins (Pacto Global e Banco Mundial), 50 CEOs de grandes instituições financeiras sobre como integrar essas questões ao mercado de capitais. Contudo, o ESG só viria a se popularizar a partir de janeiro de 2020, quando Larry Fink, CEO da BlackRock, maior fundo de investimentos do mundo, destacou em sua famosa carta anual aos CEOs das companhias que recebem recursos da organização que as práticas de ESG passariam a ser imprescindíveis para quem desejar se manter competitivo no mercado. Nem tudo é ESG Embora muitas empresas no Brasil e no restante do mundo adotem, sim, uma cultura ESG como estratégia nos negócios, informando seu desempenho nesses padrões por meio de relatórios e auditorias independentes, o que se tem visto, desde então, é uma enxurrada de organizações, releases de assessorias de imprensa e cursos se apropriando da sigla de forma sorrateira. Autor do livro “Introdução ao ESG” (Editora Scortecci) e um dos precursores do tema no Brasil, o consultor, advogado e escritor Augusto Cruz concorda que há distorções. “O que se vê em profusão é uma grande confusão entre o conceito de sustentabilidade e ESG. A implantação de uma agenda ESG exige que a corporação trate de temas materiais ao seu negócio com foco em seus investidores. Distribuir cestas básicas para uma organização da sociedade civil, em que pese ser uma ação altruísta, dificilmente diz respeito ao ESG”, exemplifica. Razões para as distorções Entre os fatores associados à apropriação indevida do ESG, Cruz destaca a demanda de um mercado exagerado de treinamentos e consultorias que encontra um enorme público ávido por novas oportunidades de trabalho, recolocação e transição de carreira. “Ter habilidades e competências do ESG é o pote de ouro do fim do arco-íris”, compara. O consultor também ressalta que muitas empresas se veem compelidas a evidenciar boas práticas em ESG. “Em face de uma pressão importante de consumidores (notadamente das gerações Y e Z) que demonstram predileção por marcas comprometidas com os temas ESG, na ânsia de atender aos seus stakeholders, algumas empresas adotam medidas imediatistas e acabam correndo o risco de incorrerem no greenwashing”, justifica. Distorções e apropriações Segundo observa o consultor em gestão empresarial e vice- -presidente do Conselho de Sustentabilidade da FIEB, Jorge Cajazeira, há uma série de distorções ou apropriações indevidas, e empresas ou entidades podem reivindicar compromissos com os princípios de ESG sem implementar mudanças substantivas ou sem aderir ao espírito do que o ESG propõe. “A apropriação indevida da sigla ESG pode ser atribuída a vários fatores, incluindo o ESG Washing, que é uma forma de greenwashing aplicada ao conceito de ESG. Isso ocorre quando empresas fazem declarações enganosas ou superficiais sobre suas práticas ambientais, sociais e de governança para parecerem mais responsáveis ou sustentáveis do que realmente são. Isso pode ser motivado por uma tentativa de atrair investimentos, clientes ou melhorar a reputação da empresa sem um compromisso real com as práticas sustentáveis”, ressalta Cajazeira. ESG com Dendê No campo da normalização, a Organização Internacional de Padronização (ISO) está em vias de aprovar a elaboração do seu primeiro documento normativo sobre ESG, que tem o baiano Augusto Cruz é autor do livro “Introdução ao ESG”
A apropriação indevida da sigla ESG pode ser atribuída a vários fatores, incluindo o ESG Washing, que é uma forma de greenwashing aplicada ao conceito de ESG JORGE CAJAZEIRA 36 | Let’s Go Bahia Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 para o real. Não basta ser e aparecer, eu tenho que ser, ter evidência, relatório, ouvir as partes interessadas e mostrar para o mundo qual é a percepção que a minha comunidade impactada tem sobre o meu negócio. Isso é uma prática ESG”, defende Leana Mattei. redatores. “Sendo assim, a Bahia e o Brasil estarão à frente desse avanço internacional na tentativa de tornar o ESG menos suscetível a camuflagens e lavagens verdes”, comemora. Na avaliação de Leana Mattei, mestra em Desenvolvimento e Gestão Social pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e sócia- -diretora da consultoria Aganju Impacto Social e ESG, muito da distorção acerca do ESG nasce da falta de entendimento sobre trazer o discurso para a prática. “Toda essa temática veio de uma maneira muito bombástica e crescente, uma avalanche de informações que muitas vezes não traziam para as pessoas, sobretudo para o público em geral, o como fazer”. Tendências de ESG A consultora também observa que a chamada “Era das redes sociais” é outro aspecto que contribui, negativamente, para o esvaziamento acerca do que vem a ser, de fato, o ESG. “É muito post para pouco relatório, é muito holofote para pouco bastidor, é Sustentabilidade Jorge Cajazeira representa a Bahia e o Brasil na norma ISO de ESG Leana Mattei defende a importância de trazer o discurso ESG para a prática 2.600%: crescimento de menções ao ESG no ambiente virtual no Brasil entre 2019 e 2023. Fonte: Pacto Global da ONU e consultoria Stilingue. 75% das empresas brasileiras pla- nejam adotar práticas ESG nos próximos 12 a 18 meses. Fonte: Tendências de RH 2023 (Korn Ferry). US$ 35,3 trilhões: investimento ESG em todo o mundo em 2020. Fonte: Global Sustainable Investment Review. A publicação lista 10 tendências ESG em 2024 para a Bahia: 1. Festividades sustentáveis 2. Religiosidade enquanto força 3. Poder de influência do Estado 4. Relação com as águas 5. Consumidores atentos 6. Valorização de marcas baianas 7. Priorização de fornecedores locais 8. Recortes de raça e gênero 9. Eventos sobre ESG 10. Conhecer a Bahia para atuar na Bahia muita vontade de mostrar que é sem ser. Esse tipo de conduta é extremamente combatido pelos profissionais sérios da área, porque isso acaba trazendo para nós sempre um pé atrás de quem contrata”, ressalta. Na primeira semana de março, a Aganju lançou o e-book “ESG com Dendê – Da Bahia para o Brasil – Um olhar regionalizado sobre as principais tendências ESG para 2024”. “Temos buscado, cada vez mais, mostrar para as empresas que precisamos territorializar esse discurso, trazendo-o
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38 | Let’s Go Bahia Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Consultor internacional Inovação e Competitividade Fernando Machado Temos descrito os desafios relacionados com a extinção da humanidade, além das soluções tecnológicas e de inovações nos sistemas sociais que possibilitem sua sobrevivência. Deve e pode a espécie humana ser salva? Nesses 300 mil anos de existência, não foi encontrado, como hoje, um limiar de transformações tão radicais na sua própria essência. Muitas das respostas estão na sintonização harmônica entre as mudanças tecnológicas e sociais da civilização humana, pois as invenções em ciência e tecnologia quase sempre estão à frente das invenções sociais, dificultadas pelo exercício espúrio do poder. Essa falta de sintonia obstaculiza as inovações tecnológicas e críticas para a sobrevivência da humanidade. Além do exercício do poder, o cérebro e as crenças de um homem conduzindo uma biga, no Império Romano, não eram muito diferentes dos de um astronauta numa espaçonave. As crises desse império viam a democracia dando lugar a imperadores ditatoriais. Por estas razões, aqui focamos alguns dos desafios centrais relacionados com as mudanças sociais demandadas por essa sintonização. Existem evidências históricas abrangendo o período entre os séculos 16 e 20 (Joel Mokyr, “A Culture of Growth”, 2016) de que a linguagem e a cultura de inovação são fundamentais para o desenvolvimento econômico-social da civilização. entre homem e mulher, hetero e homossexuais, progressistas e conservadores, rural e urbano. Em vez de facilitar a livre expressão de ideias e formar comunidades cooperativas globais, na ausência de sintonia com mudanças sociais, as tecnologias de comunicação criaram tribalismos, desinformação, fake news, deep fakes, polarizações políticas e outras, as quais aumentaram as divisões sociais, empoderaram lideranças autocráticas, jogam a pá de cal na já moribunda democracia e ameaçam a sobrevivência da humanidade. Qual o pior problema? Pessoas acreditando em fake news ou pessoas que se recusam a aceitar informações verdadeiras por considerá-las falsas? Blackrock Neuraltec, Neuralink e outras empresas já estão implantando chips em cérebros humanos, os quais, além de resolver disfunções neurológicas, permitirão controlar computadores e celulares com pensamentos. Imaginam o caos social que essas polarizações, tribalismos e fake news criariam quando potenciados por essa inovação tecnológica, associada à dos computadores quânticos e turbinados pela IA? O “nós” e o “eles” são a receita do suicídio da espécie. “Extinção é a regra, sobrevivência é a exceção” O “nós” e o “eles” são a receita do suicídio da espécie. Muitas das respostas estão na sintonização harmônica entre as mudanças tecnológicas e sociais da civilização humana. Agüera y Arcas (“Who are we now?”, 2023) obteve respostas de acordo com diferentes identidades, sexos, gêneros e crenças, em localidades e gerações distintas. A ordenação “natural” da sociedade em torno de um núcleo familiar e da harmonia comunitária deu lugar a uma nova ordem social em evolução, baseada em uma fragmentação sem distinções binárias Entretanto, impactada pela ignorância generalizada e pelas fake news, essa cultura foi substituída por outra, de aversão ao risco, de ceticismo quanto às novas tecnologias, a qual se manifesta na ascensão do saudosismo conservador e na intensidade da versão apocalíptica vinculada à Inteligência Artificial (IA). As máquinas inteligentes visam atender às necessidades dinâmicas da humanidade. Quais seriam elas? Ao pesquisar milhares de norte-americanos entre 2016 e 2022, B. Reflexões Carl Sagan
Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Let’s Go Bahia | 39 A Humanidade 2.0 já parece uma colônia de insetos. Devido à densidade populacional, fragmentação e dispersão, nessas colônias é impossível um inseto identificar outro de forma individual, somente por sua função social ou colônia de origem. Assim, as formigas, usando feromonas, distinguem as que são de outra colônia, o “nós” dos “eles”. Mas não se espera que as formigas salvem o planeta. Como escaparmos do mesmo padrão mental delas, se a noção de si mesmos não é a expressão de nenhuma identidade essencial e desconhecemos a verdade? Os rótulos ideológicos e sociais são as feromonas usadas pelos humanos para diferenciar tribos, os “nós” e “eles”. Pode o “nós” existir sem o “eles”? A resposta pode estar nas mudanças sociais propícias ao sincronismo indispensável para realizar as inovações tecnológicas demandadas para a sobrevivência da humanidade. Agüera y Arcas sugere que o desastre da diferenciação entre “nós” e “eles” poderia ser solucionado por duas vertentes. Primeiro, estender às opiniões de tribos contrárias um exame como o que gostaria que suas próprias convicções fossem por elas recebidas, construindo paz, segurança e sobrevivência mediante diálogo e empatia. Incorporar à liberdade de expressão a liberdade para ouvir. Segundo, submeter essas tribos ao intenso conhecimento sobre o universo, sua evolução e como funciona, para criar a consciência de que todos habitamos o mesmo planeta frágil, com desafios existenciais concretos que no passado fizeram desaparecer 97% de todas as espécies existentes. A segunda vertente de Agüera y Arcas tem méritos concretos. Poderia ser complementada pela exposição semelhante à física quântica, para proporcionar o requerido entendimento da realidade e das devidas medidas adicionais que as mudanças de mentalidade exigem, de acordo com a neurociência, além daquelas relacionadas com a identidade, linguagem e cultura que constroem a ilusão do Eu. O cérebro humano está condicionado a desconsiderar informações diferentes das crenças e padrões por ele já armazenados. Esse filtro em relação à mudança e à incerteza é conhecido como o mecanismo de confirmação de tendências. Através dele, o cérebro protege sua identidade, composta de ideias, conceitos, preconceitos e processos que foram formatados, segundo C. Jung, por sistemas educativos, crenças e histórias herdadas de terceiros. Segundo D. Hume, estamos programados para perceber identidade em nós mesmos, quando, na verdade, existe apenas mudança. Reconhecer isso e abraçar a aprendizagem constante são, assim, mecanismos de apoio à necessária reestruturação das conexões cerebrais. Mas, como provou D. Kahneman, a maneira mais efetiva de aprender e mudar mentes, alterando o mecanismo de confirmação de tendências do cérebro, se dá pela via de impactos emocionais. Nesse sentido, a indução de experiências laicas e controladas com substâncias como o DMT, a psilocibina e outras tem se mostrado imbatível na geração de um impacto emocional de alta intensidade, capaz de mudar rapidamente esses mecanismos de confirmação de tendências e mentalidades. Ansiedade e depressões têm sido curadas de imediato, barreiras emocionais de síndromes pós-traumáticas de veteranos de guerra eliminadas, e pacientes terminais liberados do medo da morte. Esse conjunto de medidas nos daria a chance de melhorar a sintonização harmônica e o sincronismo integral entre as inovações tecnológicas e sociais, o que viabilizaria a Humanidade 2.0 e uma Humanidade 3.0. (71) 99199-6160 Experiência, Serviços de Excelência, Preço Justo. VOCÊ ENCONTRA NA VB RISCOS ESPECIAIS CORRETORA DE SEGUROS.
40 | Let’s Go Bahia Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Diariamente, a sociedade brasileira tem assistido a ataques explícitos ao Estado de Direito, à Democracia e à Constituição Federal. Essas violações geram danos imensuráveis à população, que é diretamente afetada, devido ao aumento exponencial das desigualdades sociais. Diante deste cenário, é imprescindível o direcionamento de esforços e medidas que priorizem a proteção e a preservação dos direitos fundamentais, sobretudo aqueles vinculados à liberdade, à propriedade, à segurança, inclusive jurídica, à igualdade e à vida. Não obstante, a preservação dos direitos fundamentais deve promover, ainda, a real sustentabilidade, esta concebida enquanto dever do Estado e da sociedade, que determina a observação de condutas tendentes a promover avanços e justiça social, o pleno e livre desenvolvimento econômico e o equilíbrio ecológico, de modo racional, proporcional e adequado, a fim de assegurar a sadia qualidade de vida para as presentes e futuras gerações. Neste contexto, edita-se o II Congresso de Direito e Sustentabilidade, a ser realizado pelo Instituto Brasileiro de Direito e Sustentabilidade (IbradeS) e pela Associação Comercial da Bahia (ACB), com vistas a promover políticas de erradicação da pobreza, a educação de qualidade, o uso de energia limpa e acessível, ações contra mudanças climáticas, a redução de desigualdades sociais entre países, promovendo, a partir de perspectivas empresariais sustentáveis, a discussão da pauta ambiental. Direito e Sustentabilidade: de Salvador para o mundo O evento será realizado na cidade de Salvador, primeira capital do país, que, novamente, acolhe não somente um dos mais importantes congressos da matéria, com os mais qualificados palestrantes, mediadores, congressistas, patrocinadores e apoiadores, mas também proporciona aos visitantes e congressistas uma oportunidade para conhecer os prazeres intangíveis e as descobertas de um dos paraísos do Nordeste brasileiro. publicar, acompanhar, relacionar- -se, assessorar e colaborar para o desenvolvimento multidisciplinar, ético e participativo do Direito, da Sustentabilidade e de todas as suas interfaces. Objetivamos fomentar, ainda, a discussão de temas de grande interesse para os profissionais que trabalham nas áreas de Sustentabilidade e Direito, contribuindo para a formação de recursos humanos, gestores e operadores do Direito no país, bem como viabilizar o intercâmbio de informações e a troca de experiências entre as instituições públicas e privadas, universitárias ou institutos de pesquisa, empresas privadas e instâncias governamentais dos três poderes e das áreas afins, entre outros, por meio de palestras, minicursos, debates e da apresentação de trabalhos científicos. Sucesso absoluto na sua primeira edição, com mais de 600 participantes e ampla cobertura em todas as mídias, o evento será realizado em 16 e 17 de maio de 2024, com as principais autoridades, especialistas, cientistas, agentes políticos, empresários e formadores de opinião do país que, de forma multidisciplinar e multifacetada, irão debater importantes temas do Direito e da Sustentabilidade, à luz da ciência e do Estado Democrático de Direito. Não restam dúvidas, portanto, de que esta é uma forma de contribuição concreta para a adoção de políticas públicas voltadas para a ideia-chave da pesquisa em Sustentabilidade, Meio Ambiente e Interpretação do Direito Ambiental, como fator de desenvolvimento e inclusão social, que se constitui como um dos grandes desafios da nossa sociedade. A finalidade precípua do congresso é analisar o tema da Sustentabilidade à luz do Estado Democrático de Direito e, ao final, produzir trabalhos e resultados de pesquisa para colaborar com a defesa, o aprimoramento e a modernização das instituições democráticas, da constituição e da Política Nacional do Meio Ambiente, dando ênfase à livre iniciativa, à inovação, à manutenção do equilíbrio dos ecossistemas e à indução de políticas públicas internas e internacionais. Além disso, o debate e a pesquisa em Direito e Sustentabilidade têm o firme propósito de - com método, base científica, coerência, respeito às leis, à democracia e às instituições - promover, pesquisar, difundir, É imprescindível o direcionamento de esforços e medidas que priorizem a proteção e a preservação dos direitos fundamentais Georges Humbert e Isabela Suarez Ele, advogado, professor, pós-doutor, doutor e mestre em Direito e presidente do Instituto Brasileiro de Direito e Sustentabilidade (IBRADES); ela, advogada, empresária, presidente da Fundação Baía Viva e vice-presidente de Sustentabilidade da Associação Comercial da Bahia (ACB)
Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Let’s Go Bahia | 41 como McKinsey & Company, Bain & Company e Boston Consulting Group (MBB), além das chamadas “Big Four” (KPMG, Deloitte, PwC e Accenture), adaptam-se, integrando a IA para capacitar ainda mais as suas equipes. Nesta era transformadora, a integração da IA parece começar a remodelar os cenários organizacionais e sociais. A IA pode melhorar a resiliência dos negócios, mantendo a funcionalidade durante situações como falhas de hardware, ataques cibernéticos e mudanças ambientais; além de automatizar processos e tarefas críticas, como respostas a incidentes e a recuperação de desastres; dar respostas rápidas e eficazes, minimizando o tempo de inatividade, com redução de custos; e transformar a gestão de resíduos, fornecendo soluções mais inteligentes e eficientes. Como será que a inteligência natural, “generativa por natureza”, que precisa equilibrar os ecossistemas, manterá a sua resiliência com a participação acessória e inexorável, daqui por diante, da IA? Eduardo Athayde Diretor da Rede WWI no Brasil e membro da Comissão de Economia do Mar da Associação Comercial da Bahia Inteligência Artificial O Mobile World Congress (MWC), realizado de 26 a 29 de fevereiro em Barcelona (Espanha), reuniu empresários e especialistas de todo o mundo mostrando as ramificações na indústria de comunicação e na conectividade. O vice-presidente corporativo da Azure/Microsoft, Yousef Khalidi, abriu um dos painéis para falar sobre como a Inteligência Artificial (IA) tem moldado a indústria móvel. A Azure é a plataforma de computação em nuvem que oferece acesso, gerenciamento e desenvolvimento de aplicativos e serviços por meio de data centers globais, concorrente do Google Cloud. “Tudo começa na rede central na qual a IA torna as operações mais eficientes”, explicou Khalidi. “Essa transformação dos negócios está acelerando a monetização das redes e impulsionando o PIB global atual, de US$ 100 trilhões em cerca de US$ 10 trilhões”. Nessa era da “eco-nomia digital”, na qual a informação aberta está on-line e, às vezes, ao vivo, empresas de Wall Street, acompanhadas pelo WWI, mergulham em estudos para compreender os efeitos da IA generativa na governança sustentável empresarial, na economia em geral e em sua integração ao futuro – analisando a sua resiliência. À medida que as tecnologias de IA generativa ganham força, tornando-se parte integrante de estratégias de diretoria e de táticas operacionais, as empresas se interessam por avanços, posicionando-se na vanguarda dessa evolução. Com a tecnologia preparada para encarar tarefas complexas em vários setores, muitos líderes estão pensando em como aproveitar essa sinergia transformadora, entre humanos e IA, para impulsionar as suas organizações. Uma pesquisa da PwC aponta que 52% dos CEOs, apoiados pela IA para transformar negócios, acreditam que os seus modelos não serão mais viáveis em dez anos e que a Inteligência Artificial tem potencial para mudar esse cenário. Nos últimos meses, tem havido uma tendência nos bancos para explorar o potencial da IA, com o objetivo de aumentar as capacidades de sua força de trabalho. A Harvard Business School (HBS) e o Boston Consulting Group (BCG) divulgaram uma pesquisa sugerindo que a IA pode ajudar mais os analistas do BCG de baixo desempenho, melhorando-os, do que os analistas do BCG que já têm alto desempenho. Hoje, as exposições à IA são mais elevadas no setor de serviços de alto valor agregado, como jurídico, informática e matemática, ocupações de negócios e operações financeiras, embora ainda sejam baixas em setores mais orientados para a indústria. Avanços recentes na IA generativa, contudo, foram acelerados para aumentar a produtividade dos profissionais. Consultorias proeminentes, Nesta era transformadora, a integração da IA parece começar a remodelar os cenários organizacionais e sociais resiliente impulsiona o crescimento do PIB global
42 | Let’s Go Bahia Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 É inegável que a ascensão da Inteligência Artificial (IA) generativa está moldando o nosso mundo de maneira profunda e marcante. Os frutos surpreendentemente realistas produzidos por essas tecnologias têm suscitado debates acalorados sobre a aplicação dos direitos autorais a esses materiais. Um exemplo emblemático desse embate é o caso da obra intitulada “Um Recentíssimo Portal para o Paraíso”, criada por uma ferramenta de IA e submetida para registro por Stephen Thaler. Em agosto de 2023, o tribunal decidiu contra Thaler, argumentando que uma Inteligência Artificial não poderia ser considerada autora de uma obra. Uma das principais polêmicas em relação ao assunto refere-se à potencial violação do direito autoral com o uso de obras de terceiros durante os treinamentos das IAs. Boa parte das ferramentas é desenvolvida a partir de um treino baseado na submissão de dados ao algoritmo. Para que uma IA seja capaz de reconhecer visualmente cachorros, por exemplo, centenas de milhares de imagens são submetidas ao algoritmo. A ferramenta aprende por associação: durante o treinamento, indica-se a ela quais das imagens submetidas retratam cachorros. A Inteligência Artificial e o grande dilema da proteção de direitos autorais Tecnologia Detentores de direitos autorais alegam que as IAs utilizam seu trabalho sem permissão ou compensação. E agora? Por Otávio Queiroz
Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Let’s Go Bahia | 43 Entretanto, o posicionamento do Escritório de Direitos Autorais dos EUA, ao admitir a possibilidade de registrar obras geradas por IA com intervenção humana suficiente, abre novos horizontes. Embora os direitos autorais tradicionalmente protejam apenas criações humanas, reconhece-se que as ferramentas tecnológicas podem desempenhar um papel crucial no processo criativo. Isso implica que obras de arte, música e outros trabalhos criados com IA podem ser elegíveis para a proteção de direitos autorais, desde que haja uma contribuição humana significativa. No Brasil No contexto brasileiro, a situação não difere muito. Do ponto de vista legal, a legislação atual não oferece suporte para atribuir autoria a uma IA. A Lei nº 9.610/98 protege obras intelectuais como produtos do “espírito humano”, excluindo, assim, as criações de Inteligência Artificial. Além disso, a lei define o autor como uma “pessoa física criadora”, o que exclui explicitamente as IA. No entanto, há debates em torno da possibilidade de proteção, dependendo do grau de intervenção humana na produção do material pela IA. Por exemplo, quando a IA é usada para criar representações de personagens famosos ou imagens de celebridades, é questionável que essas obras não mereçam proteção autoral. Legislação Um projeto de lei apresentado pelo deputado Aureo Ribeiro (PL1 473/23) visa obrigar empresas que utilizam IA a disponibilizarem ferramentas para que os autores possam controlar o uso de seus materiais por esses algoritmos. No entanto, a implementação prática desses controles permanece incerta, devido à complexidade das IA e à quantidade massiva de dados necessária para treiná-las. Assim, enfrentamos um dilema complexo que exige um equilíbrio delicado entre a preservação dos direitos autorais e a promoção da inovação trazida pela IA. A questão fundamental é: como conciliar a proteção dos direitos autorais com a natureza evolutiva e desafiadora da IA? Quem paga? Por fim, surge ainda a controvérsia sobre a atribuição de responsabilidades: em caso de violação de direitos autorais pela ferramenta de IAs, quem deve arcar com eventuais reparações? Dependendo da análise, a responsabilidade pode recair sobre o indivíduo que empregou a ferramenta; sobre a empresa que desenvolveu a IA; ou mesmo sobre o programador que utilizou obras de terceiros no treinamento do algoritmo. No fim das contas, a lição que fica é que, apesar das inúmeras polêmicas, a Inteligência Artificial é uma novidade que veio para ficar e, na maioria dos casos, tem revolucionado de forma positiva diversos setores e mercados. Cabe a nós utilizá-la da melhor maneira possível, respeitando, inclusive, o direito do próximo.
44 | Let’s Go Bahia Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Games Otávio Queiroz Jornalista de Tecnologia e Games @ottaqueiroz Videogames prometem renovar indústria do cinema, mas será possível? O mundo do entretenimento está em constante evolução, atravessando diferentes eras ao longo dos anos. Desde os dias dos épicos do faroeste até as adaptações literárias, passando pela febre dos super-heróis, parece que agora é a vez dos filmes inspirados em videogames conquistarem o público apaixonado por cinema. Os fãs de videogame vivem há alguns anos em uma eterna expectativa por boas produções audiovisuais. Com o cinema repleto de filmes que se inspiram em jogos, o resultado ainda não agradou a maioria dos fãs, porém isso pode mudar em pouco tempo, já que produções com grandes orçamentos e franquias renomadas devem ganhar espaço nas telonas. Atualmente, os filmes de super-heróis reinam supremos na indústria do entretenimento. Com o sucesso estrondoso das produções da Marvel, como “Vingadores: Ultimato”, “Capitão América: O Soldado Invernal” e “Pantera Negra”, multidões têm lotado as salas de cinemas. No entanto, esse domínio está perdendo fôlego. O público anseia por algo novo e excitante nesse gênero, algo que os últimos lançamentos não conseguiram entregar, como ficou evidenciado pelos fracassos de bilheteria de “Adão Negro”, “Shazam! A Fúria dos Deuses”, “Morbius” e “Homem-Formiga e Vespa: Quantumania”. Essas produções foram duramente criticadas, resultando em uma crescente perda de interesse pelo gênero. É neste cenário que os filmes e séries baseados em videogames começam a ganhar destaque. Embora, historicamente, essas adaptações tenham enfrentado desafios, resultando em filmes de qualidade questionável, os estúdios estão agora empenhados em uma verdadeira redenção para esse gênero. Reconhecendo a necessidade de reavaliação, os filmes estão passando por mudanças significativas: desde uma abordagem mais fiel aos jogos originais até o aprimoramento da narrativa emocional dos protagonistas. Como resultado, a qualidade das adaptações de videogames para o cinema tem melhorado consideravelmente nos últimos anos, ganhando não apenas a aprovação dos fãs dedicados, mas também a atenção de um público mais amplo. À medida que os games continuam a conquistar novos patamares de popularidade, a relação entre o cinema e os jogos só tende a se fortalecer. A possibilidade de explorar narrativas ricas, personagens cativantes e mundos fantásticos dos jogos nas telas do cinema oferece um potencial ilimitado para contar histórias emocionantes e criar experiências imersivas para o público.
Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Let’s Go Bahia | 45 DROPS De acordo com fontes do site Kotaku, a produção de GTA 6 está sofrendo atrasos e existe a possibilidade de que o jogo não seja entregue até o fim de 2025, que é a janela de lançamento anunciada originalmente pela Rockstar Games. Com isso, um lançamento no fim de 2025 seria mais provável, embora um adiamento para 2026 também esteja sendo cogitado como um “plano alternativo” ou “opção de emergência”, em caso de necessidade. GTA PODE SOFRER ATRASO E SÓ CHEGAR EM 2026 Foto: Reprodução BRASIL REGISTRA A PRIMEIRA CONDENAÇÃO À PRISÃO POR PIRATARIA DE CONTEÚDO AUDIOVISUAL O Brasil registrou a primeira condenação criminal na história do país envolvendo pirataria de conteúdo audiovisual. O caso aconteceu na 5ª Vara Criminal de Campinas, em São Paulo. O indiciado em questão não teve o nome divulgado e recebeu a pena de cinco anos, quatro meses e 17 dias de prisão. Os crimes não envolvem o consumo de materiais piratas, mas a transmissão de conteúdo por IPTV e a venda ilegal desses serviços. SONY AMPLIA A PRODUÇÃO DE JOGOS DE PS5 EM MÍDIA FÍSICA NO BRASIL Foto: Reprodução Foto: Divulgação A PlayStation anunciou, no fim de março, que está ampliando a sua produção de jogos de PlayStation 5 em mídia física no Brasil. Em parceria com a Solutions 2 GO, a empresa criou uma instalação de última geração na Zona Franca de Manaus para prensar discos de jogos exclusivos e de parceiros de publicação, que serão distribuídos nacionalmente e exportados para todos os países da América Latina.
46 | Let’s Go Bahia Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Esportes Cáscio Cardoso Publicitário, produtor de conteúdo, apresentador e comentarista esportivo. TV Aratu, Rádio Sociedade, Futebol S/A, Linha Alta e Podcast 45 E também do futuro Por um resgate do passado. O futebol da Bahia vive um momento muito especial. Depois de seis anos, Esporte Clube Bahia e Esporte Clube Vitória voltam a figurar na primeira prateleira do ludopédio nacional, juntos: a série A. O Bahia, sob a gestão de um dos principais MCO (multi-club ownership) do mundo, o Grupo City, traça horizontes de protagonismo, em médio e longo prazo, além das fronteiras regionais e até nacionais. Mais que as respeitáveis cifras investidas, o know-how de gestão no futebol e os casos bem-sucedidos, em especial do Manchester City, da Inglaterra, atual campeão europeu, alimentam um sonho dourado na claque tricolor. O retorno de tamanha expectativa é representado pelo crescimento do número de sócios, que chegou aos 70 mil, recorde na história do clube, e pela percepção de que a Fonte Nova está “ficando pequena” diante da alta procura por ingressos e “acessos garantidos”, o formato local de “ticket-season”. Camisas e produtos oficiais são lançados e esgotados em lojas próprias e no e-commerce em questão de dias. Inclusive, atento às demandas do mercado, o clube inaugurou um novo camarote na Arena Fonte Nova, com ticket médio bem alto, voltado para quem deseja compartilhar o jogo com música ao vivo, comidas e bebidas, em formato all inclusive, ativações de marca e espaços confortáveis para interação D, em meados de 2022, sob profunda crise política e financeira, para alcançar, ao fim de 2023, o seu retorno à elite do Campeonato Brasileiro, conquistando o seu primeiro troféu nacional, a Série B. É, até o momento, o maior título da história do clube. Um movimento de resgate que começou na reconstrução da relação institucional do Leão com sua torcida e que hoje sustenta um ambiente de horizonte promissor. O Vitória foi campeão baiano em 2024 e reestreia no Brasileirão com uma folha salarial de R$ 7,5 milhões; quase três vezes maior que a do time campeão da 2ª divisão no ano passado. Aumentou consideravelmente suas receitas de patrocínio com a valorização das propriedades comerciais na camisa do clube e até mesmo com um novo acordo de exploração das placas de publicidade ao redor do campo do Barradão. Por falar no caldeirão rubro-negro, está em pauta no clube uma reforma estrutural do estádio, para incrementar a experiência do torcedor e aumentar as receitas de “match day”, preparando o Vitória para um futuro de crescimento. Os dois clubes crescem colocando a figura do torcedor no centro do negócio, e não poderia ser diferente. A indústria é sustentada, essencialmente, pela paixão dos fãs. É aí que chegamos ao ponto a ser debatido: a torcida única em clássicos Ba-Vi. Voltamos a 2018. Foi em 18 de fevereiro daquele ano, no Barradão, a última vez em que Bahia e Vitória fizeram um clássico com as duas torcidas presentes no estádio. De lá para cá, se o clássico tem mando de campo do Bahia, só a torcida do Bahia pode ir ao estádio. Se social durante 7 horas. Praticamente uma festa fechada dentro da partida. Tudo isso sem comprometer a maior fatia de público, indispensável para as receitas e para a identidade de um time popular como é o Bahia. O Vitória, por caminhos, motivos e perspectivas diferentes, também vem dando motivos de orgulho à massa rubro-negra. Em apenas 3 anos, o clube deixou uma zona de risco de rebaixamento à série A paixão que foi transmitida por gerações tinha nos clássicos um componente essencial de entendimento do que é o espírito esportivo.
Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Let’s Go Bahia | 47 for mando de campo do Vitória, só a torcida do Vitória pode ir ao estádio. Uma medida tomada com base em uma recomendação do Ministério Público, preocupado com a escalada de violência promovida por indivíduos, na maioria das vezes, associados a torcidas organizadas. Uma “solução” para tentar diminuir os episódios lamentáveis que já causaram, inclusive, algumas mortes (nenhuma delas dentro das praças esportivas; é importante deixar isto claro). Existem argumentos pertinentes à manutenção dessa medida. A segurança pública, mesmo que tão habilidosa para realizar um Carnaval titânico como o de Salvador, parece mais confiante em “administrar” apenas um grupo de cores indo a um estádio. Os clubes, com suas “casas” cada vez mais disputadas e preparadas para receber apenas os próprios aficionados, têm um discurso brando e poucas atitudes para discutir o fenômeno. Torcedores, de lado a lado, enxergam as vantagens da torcida única (e dá para compreender) por sentirem “segurança” de ir ao clássico, inclusive com a família, algo que estava se perdendo com os episódios de agressões. Não trago essas perspectivas carregando nas críticas, porque elas não são a causa, são a consequência. É evidente que a escalada de violência associada ao futebol chegou a um estágio insuportável, mas esta é a notícia ruim: a violência não parou, mesmo com o advento da torcida única. A medida traz uma sensação de segurança que não é real, pois, praticamente em todo dia de clássico, grupos associados a torcidas organizadas promovem enfrentamentos violentos em diversos bairros da cidade, colocando pessoas em risco. No estádio, mesmo com apenas uma torcida, cenas de hostilidade, falta de educação e até pancadarias são tão comuns quanto antes. Já são seis anos de medida. É muito natural que torcedores entre 10 e 12 anos tratem como o “normal” não cruzar com um torcedor de outro time da cidade em dia de clássico. Quanto menos convivência, maiores as diferenças. A mensagem transmitida quando não se aceita um torcedor de clube rival no mesmo estádio que você, mesmo que seja um familiar, amigo ou colega, é de intolerância. Algo que vai no sentido contrário à essência do esporte, que é a inclusão e a socialização. E que pode participar da falência da indústria que depende dessa paixão. A torcida única não resolveu os principais problemas relacionados à violência no futebol e está minando um pilar da construção do futebol como esporte mais popular do planeta. A violência precisa de respostas, mas a torcida única não é uma delas. A solução não é simples e não dá para afirmar que está clara aos nossos olhos, mas a percepção das suas consequências é bem visível, mesmo que em médio e longo prazo. A paixão que foi transmitida por gerações tinha nos clássicos um componente essencial de entendimento do que é o espírito esportivo. O aspecto festivo constituiu uma cultura de valorização do clássico, e, por tabela, dos clubes envolvidos. Esse é um resgate que precisa ser feito. E os atores vão precisar de união e da visão de futuro que estão demonstrando, em especial, os dirigentes de Bahia e Vitória. Tornar a ida ao estádio uma experiência positiva e desejada para o torcedor, e lucrativa para os clubes, é um objetivo comum. É vital para a sustentabilidade do negócio. Não existe um caminho único para chegar às soluções, mas é importante saber que a torcida única não é um caminho.
48 | Let’s Go Bahia Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Se levarmos em consideração que muitos dos problemas de hoje envolvem soluções mais complexas, entendemos a importância de nossos filhos se tornarem cidadãos ativos e responsáveis não só do lugar em que vivem hoje, mas do mundo Iryna Podusovska Escritora, mestre em Línguas e Ciências Cognitivas pela Università degli Studi di Siena e especialista em Educação A escola como protagonista no preparo das novas gerações Em um mundo sempre mais globalizado, tecnológico e imprevisível, estar preparado para os desafios de hoje e do amanhã, muitas vezes, se torna um diferencial. Saber acompanhar as constantes mudanças, se atualizar, estar pronto para se comunicar com o mundo e expandir os seus horizontes além das fronteiras físicas e mentais requer muita flexibilidade e resiliência. O desafio se torna maior ainda se, desde pequenos, aprendemos a resolver só alguns tipos de problemas que, muitas vezes, não correspondem aos da vida real. Por isso, há décadas, psicólogos, filósofos, educadores e cientistas promovem o debate sobre a importância de prepararmos as novas gerações para os problemas do futuro. A escola, obviamente, é um dos ambientes cruciais nesse processo. Contudo, muitas vezes, as mudanças na educação não ficam claras para os pais, que querem garantir que a formação dos seus filhos esteja acompanhando as mudanças do mundo real. Muitas das mudanças significativas foram trazidas pelo ensino construtivista, que visa dar mais protagonismo, significado e riqueza ao processo de aprendizagem. Mas se olharmos para a vida real e os seus desafios, percebemos que há muito mais a ser aprendido. Os problemas reais requerem de nós uma análise do problema, o entendimento dos pontos cruciais a serem resolvidos e da ordem lógica dos procedimentos, um planejamento e o pensamento crítico e flexível caso o plano inicial não dê os resultados desejados, além da aplicação do conhecimento prévio para adaptar as estratégias de resolução e a curiosidade de aprender no processo. A comunicação no mundo real não acontece só com a caligrafia bonita. É preciso ter clareza nas ideias, ser conciso e coerente, ter empatia e saber argumentar. Os estudos feitos pelos psicólogos, cientistas e educadores sobre o funcionamento do cérebro e sobre como aprendemos confirmam que precisamos mudar o foco do professor e da prática do ensino para o estudante e o processo de aprendizagem. Inúmeras pesquisas demostram que quanto mais somos ativos no processo de aprendizagem, mais aprendemos. E se o objetivo for o desenvolvimento integral do indivíduo, precisamos também estimular a sua independência, autonomia, resiliência e papel ativo na sociedade. Só assim podemos garantir que as gerações futuras estarão preparadas para enfrentar o mundo, habitá-lo, gerenciá-lo e melhorá-lo. Se levarmos em consideração que muitos dos problemas de hoje envolvem soluções mais complexas, entendemos a importância de nossos filhos se tornarem cidadãos ativos e responsáveis não só do lugar em que vivem hoje, mas do mundo. A urgência do preparo para enfrentar o mundo acadêmico, profissional e social afora vira iminente. As escolas com currículos internacionais e imersão bilíngue se tornam cruciais neste cenário. Dúvidas existem neste plano também: o que significa ser internacional e bilíngue? A internacionalidade é garantida quando o currículo da escola e o seu projeto pedagógico visam trazer conhecimentos e aprendizagens para além da matriz nacional. Já o bilinguismo, além de oferecer a fluência em uma segunda língua, também traz mais abertura mental a outras culturas, maneiras de pensar e pontos de vista. Os benefícios do bilinguismo não param por aí: estudos comprovam que, além de um melhor desenvolvimento linguístico, o bilinguismo traz benefícios em vários processos mentais e cognitivos, como melhor raciocínio crítico e lógico na resolução de problemas, empatia e pensamento abstrato. Poderíamos discutir por horas os benefícios de todas as práticas e metodologias de ensino, mas só em pensarmos como o futuro incerto requer um desenvolvimento completo do indivíduo, o seu preparo para o desconhecido e o entendimento do seu papel como cidadão do mundo, a importância de garantir isso para os nossos filhos fica clara.
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50 | Let’s Go Bahia Edição 65 - JAN/FEV 2024 _ Circ: MAR/ABR 2024 Foto: Fernando Antônio Fotos Capa A extraordinária vida de Divaldo Franco Em entrevista exclusiva, um dos mais famosos médiuns da atualidade conta como passou a semear estrelas Por Matheus Pastori de Araujo, em memória de Jorge Ramos Todo aquele que tem fé, seja qual for, é um instrumento do bem