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Livro com 2 textos de alunas do AEMM, Cantanhede. N.º 24 das Histórias das BEMM (maio de 2024)

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Published by be23cantanhede, 2024-05-29 09:54:00

EntrEscritas

Livro com 2 textos de alunas do AEMM, Cantanhede. N.º 24 das Histórias das BEMM (maio de 2024)

Keywords: Histórias da BEMM

Entr scritas maio de 2024 E Escrever é reinventar a realidade. Sophia de Mello Breyner Andresen


Ficha técnica Título: EntreEscritas Textos: Ana Rita Ferreira; Maria Inês Ramos Arranjo gráfico: Graça Silva e José Plácido Design e imagens: Canva Imagens: Craiyon Edição: Bibliotecas Escolares Marquês de Marialva Coleção: Histórias das BEMM, n.º 24 | maio de 2024


N a t a l E s p e c i a l M a r i a I n ê s R a m o s | 8 . º E


Todos os anos, numa grande cidade, quando começava o frio e a neve, chegava também a altura mais esperada do ano, o Natal. O tempo em que tudo ficava mais brilhante: as decorações por todos os lugares, as músicas natalícias, as árvores nas salas das pessoas, as montras cheias de presentes. | 6 |


Nessa grande cidade, com muitos milhares de pessoas, vivia uma menina muito especial. Chamava-se Clara. A Clara não era nem muito alta nem muito baixa e tinha uns olhos azuis da cor do céu. Começava mais um dia de sol e a pequena Clara ia para a escola. A primeira aula ia ser a sua preferida, a aula de português. Ao chegar à escola, reparou num menino que estava sentado num canto com um pequeno livro na mão. Não estava com uma roupa muito quente para aquela altura do ano, pois, mesmo com sol, estava um dia frio de dezembro. A Clara decidiu ir ter com o menino. – Olá, tudo bem? Sou a Clara. E tu? O menino, um pouco envergonhado, respondeu: – Sou o Lucas. – Está tudo bem? Não tens frio? – perguntou a menina. O Lucas respondeu que sim, mas, muito atrapalhado, disse que tinha de ir para a aula e foi embora. | 7 |


A Clara também foi ter com as amigas e foram todas para a aula de português, muito ansiosas, porque iam treinar para o concurso que todos esperavam, o Concurso de Escrita Criativa da Biblioteca. Na aula, estiveram a ler poemas de Natal e, quase no fim, a professora anunciou: – Meninos, quero que escrevam agora os vossos poemas de Natal. Sejam criativos e façam os poemas com o coração, pois todos vão participar no concurso de que vos falei. Todos ficaram muito entusiasmados com a ideia. Uns iam escrever sobre as prendas, outros sobre o Pai Natal, mas a Clara não: a menina ia escrever sobre o que para ela era realmente o Natal. No final das aulas, voltou a encontrar o Lucas e, ao chegar ao pé dele, reparou que estava a chorar. A menina, muito preocupada, abraçou-o e perguntou o que se passava. Envergonhado, respondeu: – Estou triste e preocupado. A minha família nunca teve muito dinheiro, mas este ano a situação piorou e não sei se vamos ter casa onde passar o Natal, ou sequer comida. | 8 |


Os olhos de Clara brilharam como nunca... Tranquilizou-o, dizendolhe que não se preocupasse, que tudo se iria resolver. À noite, ao jantar, conversou com os seus pais e com os seus irmãos sobre o que tinha acontecido no seu dia e todos ficaram muito emocionados. A Clara e os irmãos tinham a tradição de escrever uma carta com pedidos para pôr na meia. Este ano, a carta de Clara era diferente. Pedia que o seu novo amigo tivesse onde viver e o que comer. Nessa noite, foi à janela e, contemplando o céu, reparou numa estrela diferente, muito brilhante, e pediu um desejo muito parecido ao que escrevera na sua carta de Natal. No dia seguinte, os seus pais foram acordar a menina, muito animados, e disseram-lhe que tinham pensado muito e queriam que o menino e a sua família passassem o Natal com eles. Muito feliz, a Clara correu para a escola e contou a notícia ao amigo. A atenção e a bondade da Clara tinham salvado o Natal daquela família em dificuldades. Quando, em janeiro, regressaram todos à escola, a menina entregou o poema à professora. Sentia-se muito feliz com o seu texto, pois fora inspirado no seu Natal. E como o Natal da Clara tinha sido único, o seu poema não podia ser diferente, ganhando, assim, o concurso da Biblioteca. | 9 |


O a m o r n ã o t e m a s a s A n a F e r r e i r a | 9 . º A


Esta história não começa com o personagem principal, mas sim com um evento. 1976, um ano completamente vulgar, apenas com mais uma morte vulgar. Brenard Hawshuits morre nas ruas de Londres sem nenhuma razão aparente. A polícia necessita investigar o caso e todos os suspeitos possíveis. A poucos metros da cena do crime, encontram uma pequena loja de relógios. O senhor que os atende aparenta ser antipático, meio carrancudo e com cara de poucas palavras. Ele também parecia ter algo a esconder. – O que querem? – questiona o relojoeiro, parecendo intimidado. | 12 |


– Somos parte do quartel-general de investigação de Londres e necessitamos de lhe fazer algumas perguntas. – Entrem! Precisamos de um sítio mais reservado – a sua expressão muda ao pronunciar estas palavras, parece estar meio atordoado. O homem guia-os até a uma pequena sala mal iluminada, apenas separada da outra por uma grossa cortina vermelho vinho e com três cadeiras pouco estáveis. Este, então, começa por dizer apenas uma palavra: – Microfone. – O quê? – um dos polícias interroga, seguindo-se um curto silêncio. – Para encontrarem o culpado, só precisam de encontrar o microfone dela. Depois de muitas tentativas falhadas, os investigadores Ronald e Lila acabam por desistir e deixam a loja sem obter nenhuma outra resposta. – Precisamos de pistas – Lila admite ao sair do local. – A única coisa que temos é “microfone”. Tens alguma ideia? – Talvez o criminoso possa ter um? – Não, ele estaria a reunir provas contra si próprio. – Então... Talvez a vítima? – Talvez, mas a polícia forense não o teria encontrado? – Só há uma maneira de descobrir… Os dois colegas dirigem-se ao pessoal encarregado que os avisa que o único objeto encontrado na posse de Brenard era uma pequena foto. Analisando-a, observam o mesmo na praia com uma rapariga muito charmosa a seu lado. Estavam os dois muito sorridentes e, vendo pela data da foto, não havia sido tirada há muito tempo. Estranho pensar como agora este rapaz estava estendido no chão e a moça, provavelmente, a vaguear por aí. | 13 |


Depois de muito pesquisar e de uma quantidade considerável de interrogatórios, os parceiros apenas têm relatos de uma rapariga que foi vista vagueando pelas ruas e que, ao testemunhar o acontecido, desmaiou e foi levada para o hospital. Como era a última chance de obterem respostas, decidiram ir visitá-la. O local era um sítio frio, triste, como se fosse uma mensagem dizendo que quem entra ali não se encontra nas portas do paraíso, mas pelo contrário. Por mais que não quisesse admitir, Lila sentiu uma onda de choque, quando descobriu que o quarto que iria visitar era o mesmo do seu falecido pai. Nada de bom parecia estar a decorrer enquanto caminhavam pelos corredores, até chegarem perto do quarto, onde uma estranha sensação de bem-estar e calor repentino os preencheu. Abriram a porta e lá não encontraram ninguém na cama, apenas uma confusão de médicos de um lado para o outro em pânico e uma janela aberta. Tentaram aproximar-se da cama e puxaram os lençóis em frustração... O microfone... um pequeno microfone de lapela conectado a um gravador de voz. Eles não acreditaram quando viram a sua pista finalmente ali, diante dos seus olhos. Pegaram na caixa de gravações, clicaram no “play” e uma voz vacilante começa por dizer: “Não era a minha intenção” – diz no meio do que parecia ser um choro forte. “Eu não queria magoá-lo, não desta maneira… Eu só não queria estar mais tempo acorrentada a ele” – a voz pausa. | 14 |


“Quando eu lhe contei que amava outro, ele ficou furioso, enraivecido… Eu vi que, aos olhos dele, eu não estava segura, eu era uma presa” – ouve-se fungar. “Eu tive que fugir e depois… e depois… ele fez isso... ele matou-se..." – pausa durante um longo tempo. “Por favor, se alguém ouvir isto, saiba que eu o amava e foi por isso que o fiz... E foi por isso que saltei…”. Antes que Robert pudesse desligar o aparelho, a voz finaliza dizendo: “Pai, peço imenso perdão. Se estiveres a ouvir, quero que saibas que nunca planeei que visses aquela cena, sentado na tua pequena loja. Queria que tivesses conseguido falar comigo primeiro. Mas entende que parti em paz”. Os presentes na sala parecem paralisados. Lia senta-se na cama em estado de choque e repara num pequeno relógio dourado pousado em cima da mesinha de cabeceira, acompanhado por uma nota: “Para ti pai e para a tua bonita coleção.” | 15 |


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