Palco dos Cravos
Ficha Técnica Título Palco dos Cravos Autores Francisca Padilha, Inês Almeida, Laura Silva, Lucas Silva e Rodrigo Simões (6.ºB) Ana Carolina Marto, Leonor Ferreira, Martim Mendes, Susana Craveiro (6.ºB) Maria Garrido, Mariana Ferreira, Nádia Crisóstomo e Sara Branco (6.ºC) Beatriz Rosa, Diana Faim, Martim Moura, Sara Varanda e Tomás Santos (6.ºD) Revisão Rui Abreu Arranjo gráfico Graça Silva e José Plácido Design e imagens Canva Edição Bibliotecas Escolares Marquês de Marialva Coleção Histórias das BEMM, n.º 25 | junho de 2024
Prefácio Os "Heróis de Abril" dos 6.ºs B, C e D lideraram uma atividade fantástica em memória dos "50 anos de Abril". Na disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, os alunos representaram momentos e factos históricos que pretendiam lembrar, através da memória real dos seus pais e avós. Aqueles acontecimentos que conduziram à conquista da LIBERDADE irão perdurar na consciência da geração estudantil, que não viveu aquela época, bem como todos os valores que o nosso DNA terá que transportar para não retornar ao tempo da ditadura. Sendo um fervoroso adepto das nossas novas gerações e das suas capacidades genuínas de elevado valor cívico, julgo que "a herança de Abril" tem agora a sua sucessão garantida. LIBERDADE PARA SEMPRE! Hermenegildo Freire (professor de Cidadania e Desenvolvimento) | 3 |
| 4 |
6.ºB Personagens Diretor Albano Correia - Francisca Padilha Jornalista Manuel - Lucas Silva Jornalista João - Inês Almeida Diretora Laura Antunes - Laura Silva Jornalista Rodrigo - Rodrigo Simões | 5 |
Redação de um jornal. Ambiente obscuro e pouco acolhedor para transmitir a ideia de algum medo e pouco à vontade entre as personagens. O diretor Albano Correia está no seu gabinete, isolado da redação e identificado com a placa “DIRETOR”. Tem uma cara séria, de poucos amigos. Há um candeeiro aceso na secretária, um telefone e um cigarro no cinzeiro. O jornalista Manuel aproxima-se a bate à porta três vezes. Jornalista Manuel: Senhor Diretor, posso entrar? Diretor Albano Correia: Sim, Manuel, pode entrar. O que se passa? Jornalista Manuel: Trago o artigo para o jornal de amanhã (tira uma folha de uma pasta cheia de papéis e tenta entregar ao diretor). Diretor Albano Correia: Deixe em cima da mesa. Pode sair. Ah! E não bata com a porta! (O diretor começa a ler o artigo em voz alta e vai riscando a folha, de vez em quando, com um lápis azul. Quando termina, levanta a folha para que os espectadores tenham noção do que foi censurado e que não poderá ser publicado.) Artigo Eram 21h do dia 1 de março quando começou a assembleia entre alunos da escola masculina do Batatal e as alunas da escola feminina da mesma localidade. O grupo reuniu-se para escrever um documento a pedir a fusão das duas escolas, podendo raparigas e rapazes frequentar o mesmo espaço de ensino. Algumas raparigas presentes afirmaram estarem a ser ameaçadas por quererem acabar o ensino secundário e seguirem para a universidade. Consideram ter os mesmos direitos que os rapazes, mas não estão a ter as mesmas oportunidades. Um dos elementos presente na reunião terá alertado a polícia, que se dirigiu ao espaço para dispersar o grupo. Alguns alunos foram detidos e continuam presos até à publicação desta notícia. Hoje de manhã, uma pequena multidão juntou-se à porta da esquadra para exigir a libertação dos jovens. A polícia afastou-os com canhões de água e gás lacrimogénio. Apesar destes acontecimentos, o Chefe da esquadra nega ter conhecimento da reunião ou das detenções. “Se os jovens estão desaparecidos é porque viajaram às escondidas; e se fugiram do país deviam ser mesmo presos” – declarações do Chefe Marcolino. Diretor Albano Correia (carrega num botão do intercomunicador): Manuel! Chegue aqui ao meu gabinete! Jornalista Manuel (continua sentado): Senhor diretor, posso só acabar este… Diretor Albano Correia: Claro que não pode acabar o que está a fazer. Quero-o no meu gabinete, imediatamente! (Fala com os seus botões, mas suficientemente alto para os espectadores ouvirem) Olha que esta, hem? Acabar o que estava a fazer… Estes empregados devem pensar que têm direitos e que podem fazer o que querem! Gentinha! Têm mesmo que ser colocados no seu lugar! | 6 |
Jornalista Manuel (bate três vezes à porta): Senhor diretor, dá licença que entre? Diretor Albano Correia: Sim, Manuel, pode entrar. Aqui está o seu artigo, com as correções que fiz. O Manuel continua a escrever muitas coisas... que não deve. Um dia destes ainda vai ter uma surpresa! Sabe que a polícia, às vezes, aparece de surpresa na casa das pessoas que falam demais, não é? Agora vá lá levar o documento à sala de impressão para que ainda saia no jornal de amanhã. O jornalista Manuel sai e vai para a zona da sala de pausa onde está um outro jornalista. O diretor levanta-se e vai até a essa sala. Quando se aproxima, percebe que estão dois jornalistas a conversar. O diretor esconde-se a fica a ouvir a conversa. Jornalista João: E então, Manuel? Desta vez publicam o teu artigo todo? Jornalista Manuel: Achas, João? Olha para isto! (Tira o artigo da pasta para mostrar que está todo riscado) O diretor é mesmo um vendido. Está feito com o regime. Jornalista João: Olha, outra coisa... Sabes que foi o António Maria que escreveu liberdade, no muro da igreja? Jornalista Manuel: A sério? Que coragem! Jornalista João: A polícia está a investigar, mas não descobre quem foi. (Risos) E sabias que o professor Amaral, da escola de Cantanhede, anda a falar aos alunos sobre os seus direitos? E a falar de liberdade? Jornalista Manuel: Outro corajoso! Durante este diálogo, o diretor vai fazendo diferentes expressões faciais. No final da conversa, esfrega as mãos e vai para o seu gabinete. Marca um número no telefone que tem na secretária. Diretor Albano Correia: Estou? Chefe Martins? Fala Albano Correia, diretor do Jornal Diário. Tenho informações importantes para lhe dar. Em primeiro lugar, sei quem foi o responsável por andar a escrever nas paredes da igreja. Sim, sim… sei que estão a investigar, mas que não chegam ao culpado. Ouvi que foi o Antónia Maria. Sim, de fonte segura. Outra coisa, chefe Martins, sabe quem é o professor Amaral? Sim, esse mesmo. Temos um problema com ele e vamos ter de tomar medidas. Acredita que ele anda a falar de direitos aos seus alunos? E de liberdade? E de revolução? Ele está a contribuir para que cresçam cidadãos informados e isso é uma ameaça para nós. Este homem tem de levar uma lição. A prisão é o lugar ideal para ele. Não lhe parece? | 7 |
Redação de um jornal nos dias de hoje. O espaço é agradável, com muita luz e um ambiente descontraído. A diretora Laura Antunes está no gabinete e recebe uma chamada no telemóvel. Diretora Laura Antunes: Olá, Rodrigo! Tudo bem? Jornalista Rodrigo: Olá, Laura! Olha, é para dizer que já te enviei o artigo que escrevi para o teu e-mail. Diretora Laura Antunes: Boa! Era sobre as faltas de condições no Centro de Saúde, não era? Vou já ver... Beijinho e obrigada. (Começa a mexer no computador e lê o texto em voz alta; vai acenando com a cabeça e dizendo coisas, como “muito bem”, “muito bom”, “perfeito”.) Artigo No passado dia 1 de março, a população do Batatal reuniu-se junto do Centro de Saúde da localidade para mostrar a sua indignação com o que se está a passar. O edifício é bastante antigo e precisa de obras urgentes. Ofélia Nunes é uma das utentes que refere que o “telhado está a cair aos bocados e que já tem falta de telhas, o que leva a que chova no consultório médico. As janelas têm vidros partidos, o que faz com que no Inverno fique muito frio dentro das instalações.” “As obras estão prometidas há muito tempo, mas a verdade é que não há maneira de começarem” – é a frase que se ouve mais entre os presentes. Os utentes também se queixam que, como não há médico nem enfermeiro, a unidade só abre uma vez por semana. “Aqui só podemos adoecer à 5.ª feira” – diz Júlio Semedo de 92 anos. A população juntou-se para exigir que se tomem medidas rapidamente, pois está farta de promessas e qualquer dia acontece uma catástrofe. O presidente da Câmara agendou uma reunião com o representante do grupo para se discutirem as medidas a tomar. “O diálogo é a melhor forma de usarmos a nossa liberdade de expressão e opinião. A população sente que é ouvida, que tem voz, que faz parte da resolução dos problemas. É assim que queremos que a população do Batatal se sinta” - diz o presidente A polícia esteve presente no local, como é habitual neste tipo de situações, e não registou qualquer tipo de ocorrência. O Comandante Soares diz: “A população está a exercer o direito de se manifestar; e, neste caso, tem todos os motivos para se indignar. Percebo bem as suas preocupações e exigências. A manifestação decorreu de forma tranquila e sem incidentes. Esperamos que tudo se resolva rapidamente para a população do Batatal”. | 8 |
Diretora Laura Antunes (pega no telemóvel e faz chamada): Sim, Rodrigo? Já li o teu artigo. Jornalista Rodrigo: E o que achaste? Diretora Laura Antunes: Gostei bastante. É importante que isto se saiba: Centro de Saúde com telhado a cair, vidros das janelas partidos, falta de profissionais, só abre uma vez por semana... Não é aceitável nos dias de hoje. Pode ser que, quando isto for publicado, os políticos façam alguma coisa mais depressa e não apenas promessas. Jornalista Rodrigo: E é para publicar tudo como escrevi? Diretora Laura Antunes: Claro. (Risos) Não mudei nadinha! Já não estamos no “antes 25 de Abril”. Todas as personagens se alinham à boca de cena e assumem a sua própria identidade como alunos do 6.ºB. Como perceberam, o nosso pequeno teatro teve dois momentos: o primeiro, aconteceu antes do 25 de Abril e, o segundo, após a Revolução. No primeiro, reduzimos as luzes para tornar o ambiente mais escuro; o escuro transmite uma sensação de medo e receio, pois era assim que se vivia naquela época. As personagens eram apenas homens, dado que, naquela altura, as mulheres não tinham este tipo de emprego. Não havia relação próxima entre as pessoas; era tudo muito formal do tipo “Senhor diretor isto…”, “Senhor diretor aquilo...”, “Dá licença?”. As pessoas tinham de ter cuidado com o que diziam, pois nunca sabiam quem é que as estava a ouvir e podiam ser denunciadas. As pessoas não eram livres de escrever a verdade do que estava a acontecer. Havia sempre alguém do regime a verificar os textos antes de serem publicados. No segundo momento, acendemos todas as luzes para iluminar bem o espaço e dar a sensação de liberdade e bem-estar. As pessoas já se tratam pelo nome e até por Tu, mantendo o respeito pelo Outro. As pessoas são livres de escrever o que pensam ou sobre o que acontece, sem haver alguém a controlar e a censurar. A polícia também aparece quando se juntam pessoas, só para manter a ordem e não para causar medo e impedir que se manifestem. TODOS: Viva a Liberdade! Viva o 25 de Abril! | 9 |
| 10 |
6.ºB Personagens Leonor - Leonor Ferreira Susana - Susana Craveiro Maria - Ana Marto Joaquina - Susana Craveiro PIDE Martim - Martim Mendes Marido - Martim Mendes Mulher – Ana Marto | 11 |
CENA I Palco vazio. Leonor (sozinha no palco, virada para o público): Hoje voltamos atrás no tempo. Estamos no período em que não havia liberdade. Salazar e mais tarde Marcello Caetano dominavam o país... (mudando de local à medida que fala para o público). Como todos sabem, não havia eleições livres e ai de alguém que se opusesse ao regime. A PIDE estava sempre à escuta. O mais certo era a prisão e a tortura... Também é bom saber que as mulheres só podiam votar se tivessem o ensino secundário completo. As mulheres tinham ainda muitos outros direitos restringidos. Só podiam sair do país com a autorização do marido. Se estiverem casadas pela igreja nunca se poderiam divorciar. Nesta época ninguém podia publicar músicas ou jornais sem passarem pelo crivo da censura. CENA II (A Susana aparece no palco) Susana: Como podem perceber, antes de 25 de Abril de 1974 nem liberdade de expressão as pessoas tinham… Vamos ver se era mesmo assim! CENA III No palco, algumas pessoas conversam com ar de indignação. Susana observa. Duas raparigas conversam sobre o governo enquanto um homem, de óculos escuros, vai andando perto delas a tentar escutar o que dizem. Maria (a sussurrar): Ai já estou farta deste governo. Hoje em dia não podemos fazer nada, nem sequer podemos votar. Estou farta! Joaquina: Também estou farta. Mas fala baixo, olha que podemos ser apanhadas. (PIDE Martim, de gabardina e chapéu, avança para as raparigas e prende-as com algemas.) PIDE Martim: Com que então a dizer mal do governo. Vamos embora! À minha frente, já! Maria e Joaquina (juntas): Por favor, nããão! Susana (falando para o público): Já é tarde demais, esqueçam lá. Este foi um exemplo de falta de liberdade de expressão. | 12 |
CENA IV No palco, uma conversa entre marido e mulher. As duas personagens estão sentadas. Susana (falando para o público): E agora um exemplo de que as mulheres não tinham direitos quase nenhuns em comparação com os homens. (Retira-se para um dos lados.) Mulher: Olha, desculpa estar a perguntar-te, mas sabes que tu até ganhas bem, mas o meu patrão não me quer dar mais dinheiro por eu ser mulher. Diz que eu não trabalho bem. Estou a pensar em mudar de país, talvez para França. Lá, eles devem ter mais direitos que nós. Deixas-me ir? Marido: Claro que não, tu achas mesmo?! Eu preciso de ti aqui para trabalhar nesta casa. Tu não vais a lado nenhum! Mulher: Mas eu preciso de ganhar dinheiro, por favor. Marido: Tu não vais! És casada comigo pela igreja. Não podes ir para o lado nenhum sem eu te autorizar. Susana (aparece à frente da cena, falando para o público): Mais um exemplo de que antes era tudo uma injustiça, muito, mas muito grande. Agora vamos mostrar como finalmente isto acabou! Liberdade, liberdade! CENA V Soldados entram de rompante. Um grupo de pessoas avança de um lado para outro do palco. Ouve-se a Grândola, Vila Morena. As pessoas apanham cravos e colocamnos nas espingardas dos soldados. Todos (gritando): Liberdade! Liberdade! Abaixo o fascismo! Susana (falando para o público): Hoje em dia queixamo-nos por ter que fazer os trabalhos de casa ou por ter de responder nas aulas, mas antes do 25 de Abril era uma sorte podermos dizer o que pensávamos. Como puderam ver, dizer o que se pensava muitas vezes dava direito à prisão. Esperamos que agora reconheçam que somos uns privilegiados por podermos dar livremente a nossa opinião. Maria: Agora, toda a gente pode votar e esperamos que utilizem esse poder quando forem mais velhos porque, se não o utilizarem, estão a desprezar esse direito tão importante. Todos (gritando): LIBERDADE PARA TODOS! E que ela dure para sempre! | 13 |
| 14 |
6.ºD Personagens Beatriz (aluna) - Beatriz Rosa Professora - Diana Faim Ricardo (aluno) - Martim Moura Lúcia (aluna) - Sara Varanda Capitão de Abril - Tomás Santos Soldado - Beatriz Rosa | 15 |
1.º Ato CENA I Numa sala de aula tradicional: 4 carteiras para alunos (Lúcia, Ricardo, Beatriz e Martim), um crucifixo e a foto de Salazar/Marcello ou Américo Tomás na parede. Uma das alunas aparece vestida com calças. Professora: Então, Lúcia! Não podes vir assim vestida para a escola! Lúcia: Porquê, senhora professora? São novas e estão limpinhas. Professora: Porque tu, menina, não podes usar calças. Só os meninos, por exemplo, o Ricardo. Ricardo: Pois, Lúcia, não podes trazer. Professora: Cala-te, Ricardo! Martim: Não é justo. Não deveria ser assim! Professora: Calem-se! Olhem que dou uma tareia aos dois! Beatriz: Não, professora, não lhes pode bater! Professora: Ai não? Então, vou castigar-vos a todos! (Atira milho para o chão e obriga os alunos a ajoelharem-se sobre ele. Ficam todos muito chorosos.) CENA II No dia seguinte... Na mesma sala de aula, após a professora tocar o sino, os alunos entram a fazer uma manifestação com cartazes nas mãos, repetindo frases. Os alunos (a gritar): Queremos ir para a escola vestidos como quisermos! Professora: Mas que gritaria é esta? Lúcia: Professora, nós queremos liberdade de expressão! Queremos ir para a escola vestidos como quisermos! Nós não entendemos por que razão é que as raparigas não podem usar calças e os rapazes não podem usar saias. Queremos mudar isso! Professora: Não fui eu que criei essas regras! Beatriz: Então, temos de mudar isso! | 16 |
| 17 | 2.º Ato CENA I No dia seguinte… A cena passa-se nas ruas de Lisboa e a música Grândola, Vila Morena começa a tocar na rádio. Aparecem vários militares empunhando metralhadoras. O chefe dos militares, capitão de Abril, entrega as armas aos outros militares. Uma criança põe os cravos nas armas dos militares e começam a marchar. Capitão de Abril - Agora sim! As mulheres e os homens, todo o povo, pode votar a partir dos 18 anos. As crianças podem ir para a escola com a roupa que quiserem. Já se pode beber coca-cola. Já todos podem ler e ver o que quiserem e muito mais! Soldado: Mas não se esqueçam, a liberdade tem alguns limites! Vai até à liberdade do OUTRO! (Todos atiram cravos ao público.)
| 18 |
6.ºC Personagens Maria Garrido Mariana Ferreira Nádia Crisóstomo Sara Branco | 19 |
Num palco “limpo”, quatro meninas alinhadas. No chão, por trás das meninas, estão quatro metralhadoras com cravos no cano. Maria Miguel: Vamos contar-vos uma história sobre um país à beira-mar plantado. Era um país cinzento e nele viviam os nossos avós que ainda hoje têm muitas histórias para contar. O país era governado por um homem mal-encarado, de nariz afiado, que era o chefe de todos. Chamava-se António de Oliveira Salazar. Mariana: Na altura, não se podia discordar do governo porque existia uma polícia diferente da de hoje. Era a polícia política que se chamava PIDE. Tinha uns homens muito sisudos com mil olhos que tudo viam e mil ouvidos que tudo ouviam. Nádia: Nesse país, havia escolas para rapazes e escolas para raparigas. Bem, para aqueles que tinham sorte de poder ir à escola. Nem todas as crianças iam à escola. Os que eram de famílias pobres tinham de trabalhar. Naquela época, os homens eram obrigados a ir à guerra, em África, e muitos morriam por lá. Sara: Nesse país, era proibido ler, escrever e falar tudo o que se queria – havia a CENSURA. O POVO era contra esta DITADURA. Falavam uns com os outros baixinho e, os mais informados, queriam que as pessoas fossem LIVRES como os pássaros que voam pelo mundo… como as nuvens que decoram o céu… como o vento que sopra… Maria Miguel: Os mais informados diziam: “Todos têm direito a ter que comer! Não podem trabalhar de dia e de noite! As crianças tinham que ir à escola e não deviam trabalhar! A guerra, em África, tinha de acabar!” | 20 |
Mariana: Todos deviam ter direito a VOTAR, a falar e a dizer o que pensavam! Todos deviam ter o direito a ter uma CASA com luz, água e esgotos! Mas a PIDE, aos que falavam assim, levava-os para a prisão, batiam-lhes, torturavam-nos, para os convencer a pensar de outra forma. Basta! Basta! Basta! Nádia: LUTARAM POR UM MUNDO MELHOR Os SOLDADOS cansaram-se de guerras… AS PESSOAS cansaram-se de ficar caladas, sem liberdade e REVOLTARAM-SE Um dia, na rádio, ouviu-se a canção... As quatro meninas (cantam): GRÂNDOLA VILA MORENA TERRA DA FREATERNIDADE O POVO É QUEM MAIS ORDENA… Sara: Saíram às ruas homens, mulheres e soldados, com armas e balas feitas de CRAVOS. ERA O DIA 25 DE ABRIL DE 1974. Chegou finalmente a REVOLUÇÃO DOS CRAVOS, revolução sem feridos nem mortos. As quatro meninas (com as armas na mão com cravos): ABAIXO A DITADURA VIVA A LIBERDADE VIVA O 25 DE ABRIL O POVO UNIDO JAMAIS SERÁ VENCIDO PAZ, PÃO, HABITAÇÃO, SAÚDE, EDUCAÇÃO Maria Miguel (com as armas com cravos na mão): Foi devido a essa REVOLUÇÃO que hoje se comemora, em todo o PAÍS, o DIA 25 DE ABRIL. 50 anos se passaram, mas os nossos avós continuam a dizer aos netos para regar os cravos vermelhos de Abril, para que não murchem… As quatro meninas (com as armas na mão com cravos, gritam): LIBERDADE E DEMOCRACIA! | 21 |
| 22 |