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Published by Revista O Lutador, 2020-02-09 09:35:32

REVISTA OLUTADOR 3919 DEZEMBRO 2019

Um Natal mais humano

Keywords: Revista O Lutador,Jornal O Lutador,Revista Cristã

Famílias [ Famílias cristãs desafiadas a recuperar o sentido do Natal

ANO XCI / Nº 3919
DEZEMBRO / 2019

olut dor.org.br

R$ 9,90

UM NATAL MAIS HUMANO
[ Tempo da alegria [ Não nos deixem órfãos

CONDUTOR DE CRISTO

Apresentado pelo Padre Mário José Neto,
o programa traz uma reflexão popular sobre a
liturgia dominical, além de orientações para a vida.

Sábado, às 12h15, na Rádio América AM 750 ou
pelo aplicativo Rede Catedral.

americabh.com.br radioamericaam750 (31) 3209-0750 App: Rede Catedral

Ívina Tomaz,
apresentadora
e jornalista

Gravidez, parto
e amamentação

A cada semana, a jornalista
Ívina Tomaz conversa com

especialistas e famílias
sobre os desafios
da maternidade.

Sexta-feira, às 21h, na
TV Horizonte ou pelo
aplicativo Rede Catedral.

MATERNIDADE

TV Horizonte (31) 3469-2549 App: Rede Catedral

Sociedade [ A jornada das mulheres que reflorestam a Amazônia Espaço do Leitor [ Escreva, envie seu e-mail, comente

ANO XC / Nº 3918 Aniversariantes
NOVEMBRO / 2019 do mês de dezembro de 2019

olut dor.org.br Tempo do Natal, tempo de alegria e de mui-
ta esperança. Na alegria da chegada do me-
TEMPO nino Deus que vem ao nosso encontro, que-
DA GRAÇA remos parabenizar os assinantes e leitores
DE DEUS da nossa Revista O Lutador. E, desde já, de-
sejamos a todos um Feliz Natal e um aben-
R$ 9,90 çoado Ano Novo, cheio de paz e solidarieda-
de. Continuemos juntos na defesa da vida
[ A palavra “Deus” pronunciada com sentido [ Caminhar juntos da família e da fé. Juntamente com as ale-
grias natalinas, incluímos nas intenções
Ó Trindade Santa, vós que sois a fonte da missa da noite de Natal cada um de nos-
de toda santidade, nós vos louvamos sos assinantes e todos os seus familiares,
por vosso servo o Pe. Júlio Maria De Lombaerde, de modo muito especial os mais doentes e
que, assemelhando-se ao Cristo Eucarístico, acamados. Deus abençoe a todos os nossos
cuidou do vosso rebanho com amor, assinantes.
zelo e doação. E, deixando-se guiar pelo (Caso seu nome não apareça na lista, entre
Espírito Santo, assim como a Virgem Maria, em contato com nosso setor de assinaturas:
testemunhou a ternura missionária da Igreja. Fone 0800-940-2377.
Concedei-me, ó Trindade Santa, pela intercessão E-mail: [email protected] )]
do Pe. Júlio Maria, a graça que vos suplico
[pedir a graça]. E, se for de Vossa santa vontade, Dia 1º - ANTONIO AGOSTINHO DA FONSECA / HARRY HANG / ISABEL BRAZ DE ANDRADE / JOSE MAURO BATISTA - EMM
dai que Pe. Júlio Maria alcance a honra / SILVIA INES SOLIGO PIZETTA / VICENTE DE PAULA FERREIRA DOS SANTOS. / Dia 02 - MARCOS ALFREDO COIMBRA DE
OLIVEIRA / MARIA ESTELA BRONDI PUGINI. Dia 03 - CARLA REGINA PAZ DE FREITAS / FRANCISCA PEREIRA GOMES / GENI DAS
dos altares, para Vossa glória GRACAS COSTA / JONAS FARIAS DA SILVA / MARIA LUIZA AZEVEDO DE GODOY / EM MEMORIA. / Dia 04 - AKIM DE OLIVEIRA
e para o bem de tantas almas. BARROS NETO / ANTONIO ORESTES GREIN / LILIANE ZSCHABER CORREA / MARCIO DO CARMO PEIXOTO / RUBENS CURY/
Por Cristo, Nosso Senhor Amém. MARCIA - EMM / THEREZA BARBARA LEAO. Dia 05 - CONEGO ALVARO AUGUSTO AMBIEL - PAROQUIA NOSSA SENHORA DE
LOURDES / MARIA DA PENHA SOARES FORTES / MARIA JOSE A. TORRES / MARIA JOSE VIEIRA / QUEMEL CALIL CANFUR.
Dia 06 - LUIZ GONZAGA TEIXEIRA/MARIA ONDINA CARVALHO TEIXEIRA / REGINA BATISTA CHIARELLO. Dia 07 - ALAIR CONCEICAO
DO COUTO / EDSON JOSE RIBEIRO DE SOUZA / IRMAO JOSE DE ARRUDA [C] / NEUZA DIAS CUSTODIO / RAIMUNDO NONATO
DE ALMEIDA. Dia 08 - DELORME PIRES SORAGGE DE LIMA / GERALDO DA CONCEICAO REIS / GILBERTO PEREIRA SILVA/
SILVIA APARECIDA DA SILVA / JOAO MARCELINO / MARIO DOS REIS QUEIROZ / SEBASTIAO RODRIGUES DE OLIVEIRA /
VILMA MARIA ROCHA. Dia 09 - GILSON TEIXEIRA COELHO / ILSON ROSA DE SOUZA / MARLENE MARIA SILVEIRA WALTER /
NEUZA EMIDIA ROSA DE GODOI / ZENI RIBEIRO HAMDAN. Dia 10 - JANA LUCIA PEREIRA / NILZA AID COSTA / PADRE JOSE
FREITAS CAMPOS. Dia 11 - ANTONIA LUCIA CARVALHO MOSTARO / JOSE FLAUSINO FERREIRA / LUIZ ANTONIO DA SILVA.
Dia 12 - EVARISTO FIDELIS DE OLIVEIRA / JUDITH ABUNAHMAN / LUIS ALBERTO BASSOLI / MARIA CONCEICAO OLIVEIRA
LATINI / MARIA ELY PERES DE MELO / MARIA TERESINHA DE SOUZA / PAULO MARCIO PINTO. Dia 13 - ANNA FRAGA ALMEIDA /
LUZIA MARIA DA SILVA RAIDER / MAXIMO MALVAR SOBRINHO / OSCAR JOSE RAMOS / PAULO MARCOS MARTINS / ROBERTO
DE SOUZA FALCI. / Dia 14 – ANIBAL SILVA / ELOIZIO GARCIAS / FERNANDA DUARTE GONCALVES / PAULO ROBERTO
CALMON DE ALMEIDA PINHEIRO. / Dia 15 – MARIA GORETE SEGATO RAPANELLI / MARIA PORCINA FERREIRA GERALDINI
/ VALERIANO RAMOS. Dia 16 – ALVARO FERREIRA / AUXILIADORA OLIVEIRA DE ARAUJO - EMM / MARILIA BRESSAN.
Dia 17 – ADHEMAR FARIA DE MOURA / ANGELA APARECIDA CASSEMIRO DEL REY / MARIA AUXILIADORA ANDRIGUETTO
ALVARENGA. / Dia 18 – CECILIA SILVA MOURA / DOROTILDES ANTONIO DE SOUZA FILHO/JAIZA BUENO DE SOUZA.
Dia 19 – FERNANDO MORATTI MOREIRA / JULIO SABINO DA SILVA / MARCIA APARECIDA SALVADOR DE SOUZA / MARIA
DA CONCEICAO RIBEIRO. Dia 20 – FRANCISCO DE ASSIS PEREIRA / HAIDE CONCEICAO ASSIS DE RESENDE / MARIA
DAS GRACAS ROCHA C. BRANT / MARIA DO CARMO CARDOZO COUTO / MARIA DO ROSARIO E CLAUDIO RODRIGUES.
Dia 21 - AGNALDO RIBEIRO SILVA / ANA MARLY MOREIRA ROCHA / AUREA MARIA DE ABREU GUERRA / FRANCISCO DE OLIVEIRA
CORREA NETO / JARBAS ANTONIO CLARET LINO DA SILVA / LAURO BENEDITTI - A/C LUZIA LOURDES / MARIA APARECIDA DE
MORAES / PADRE MANOEL MESSIAS PEREIRA MARTINS. Dia 22 – ADALBERTO CARLOS FONTES / CICERO CARLOS OUVERNEY
/ MARIA APARECIDA MOREIRA. Dia 23 - ANTONIO DOMINGOS PENA ROCHA / FELIPE DE MOURA LIMA / FRANCISCO CORREA
DO AMARAL / MARIA ANGELICA DE FREITAS FIGUEIREDO DIAS / MARIA APARECIDA S. OLIVEIRA / MARLENE DE ARAUJO
/ PADRE PAULO ALEXANDRE GONCALVES / SEVERIANO TORRES BANDEIRA / VICENTE FRANCISCO DA SILVA CARREIRO.
Dia 24 – JOSE NASCIMENTO DA SILVA / MARIA DE OLIVEIRA PIRES / MARIA INES NOVAES BONDAN / NEWTON FERREIRA DA
SILVA - EMM / PADRE JOSE ROQUE DE PAIVA / ZILDA ARAUJO DOS SANTOS. / Dia 25 – EVELINE APARECIDA MACHADO BRITO
/ HELENA NATALICIA ROCHA DE ALVARENGA / JOSE RUIVO DA SILVA / MARIA ELISABETH MASSAHUD RODRIGUES / NATALINA
CATHARINA LUNARDI MELHADO / NATALINO DE JESUS CHIRELLI / NEIVA SASDELLI PRUDENTE / RONALDO ADRIANO DA COSTA.
Dia 26 – CIRENE FERREIRA ALVES / JOSE CALAIS REZENDE FILHO. Dia 27 – ALICE DA SILVA MENDES / DEUSDEDIT LEAO MONTEIRO
DE RESENDE. Dia 28 – ALZERINO FERREIRA / BENEDITO URSULINO BARBOSA / EUFEMIA SOUZA DE FARIAS / LUIZ FERNANDO
CHAGAS / MARCELO DINIZ NASSIF / MARIA MARTA E ALFREDO TEIXEIRA SANTOS. Dia 29 – CLEONICE PEREIRA DOS SANTOS
SOUZA / DELFINA MACEDO WERNECH / EMILIANO ELIAS BEREJUK / ITAMAR BATISTA FERREIRA / JAKSON MOREIRA DE ALMEIDA
/ MARIA DE FATIMA C. DA SILVA. Dia 30 – ELIANA SILVA / GRACIANO CARLOS PIROVANI / JOAO CEZARIO SOBRINHO / JUDITH DA
CONCEICAO SILVA RIBEIRO. Dia 31 - HELENA DE ANDRADE / MARIA APARECIDA PEREIRA QUINTAO / SILVESTRE ANTONIO SCHMITT.

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Carta Compromisso do V Seminário Nacional de Religiosos Irmãos

De 17 a 20 de outubro de 2019, forma de perguntas, para do Irmão não é uma iden- cimento da Vida Religiosa
Religiosos Irmãos da Con- um amadurecer de modo tidade para si mesmo. Ser Consagrada, foi sugerida a
ferência dos Religiosos do mais saudável. Por exem- “simplesmente Irmão” não é criação de uma comunida-
Brasil - CRB, convidados pela plo: “Minhas trocas com o ser simplório, nem ingênuo. de Intercongregacional pa-
mesma, reuniram-se para meio são saudáveis? Uso a É, pois, viver uma liberda- ra acolher os irmãos idosos
celebrar o seu V Seminário criatividade para crescer, de interior sendo discípulo das congregações que não
Nacional, em Fortaleza, CE, resolver meus problemas, de Jesus, buscando percor- têm possibilidade de man-
nas dependências da Pou- amar os demais? Que sig- rer uma caminhada em li- ter uma casa por si mesmas.
sada Wirapu’ru. Nesta edi- nificado eu dou ao que não nha reta num horizonte de
ção, contou-se com a parti- entendo, mas posso abra- sentido. Em síntese, viver O V Seminário Nacio-
cipação de 108 Religiosos Ir- çar, compreender? Sou cria- “marianamente” é ser um nal de Religiosos Irmãos foi
mãos, oriundos de diversos tivo com o envelhecimento? discípulo atento e eficaz. ocasião singular para per-
lugares do Brasil, represen- Como leio o toque de Deus ceber, juntos, as forças, os
tando 30 Congregações de nesta minha caminhada? A fim de refletir e dia- obstáculos, as fragilidades
Vida Religiosa Consagrada. Como lido com a ansieda- logar também sobre outros e as oportunidades no per-
de da finitude?” Dessa for- assuntos importantes e de- curso da caminhada como
Com a assessoria de Ir. ma, é salutar que o Religio- safiadores da vida dos Reli- Religiosos Irmãos. Mas, so-
Annette Havenne, ISM, re- so Irmão tome posse desse giosos Irmãos, neste V Se- bretudo, rezar e celebrar a
fletiu-se o tema “Plenamen- processo e compreenda que minário foram ofertadas alegria e graça desta voca-
te humano, simplesmente o fundamento da sua vida quatro oficinas aos parti- ção específica. Acreditamos
irmão”, com o lema “Maria, é o humano, não deixando cipantes, a saber: Itinerá- que os desafios da vocação
peregrina na fé”, e o objeti- de recordar que Deus tam- rio Formativo; Envelheci- do Irmão se tornam meno-
vo de “aprofundar a matu- bém se encarnou no barro mento; Profissionalização res quando nos abrimos à
ridade do Religioso Irmão, da humanidade. e Fraternidade. ação profética do Espírito
à luz do ser de Maria”. Na Santo em nossas vidas.
sua abertura, a presidente Nesse sentido, fazen- Dentro da dinâmica do
da CRB, Ir. Maria Inês Ri- do a travessia da psicolo- Seminário, por sugestão da Oxalá que, no chão con-
beiro, mad, representando gia para a espiritualidade, Presidenta Nacional da CRB, creto em que nossos pés pi-
toda a Diretoria Nacional, o testemunho de Maria en- criou-se um Grupo de Tra- sam, nossos corações sentem
manifestou sua alegria pela sina-nos que a identidade balho permanente, com um e nossas cabeças pensam,
organização, participação representante de cada região a nossa ação seja sempre
dos irmãos e realização do do país, para dar sustenta- a de testemunhar de Jesus
encontro. ção à reflexão e articulação com as nossas vidas, fazen-
dos religiosos irmãos. Irmã do crescer bons frutos na
A temática foi aprofun- Maria Inês animou a cria- Igreja e no mundo, sendo
dada pela assessora em con- ção de uma comunidade In- de fato plenamente huma-
ferências provocadoras. Pri- tercongregacional de Reli- no e simplesmente irmão.]
meiramente, uma reflexão giosos Irmãos na região da
acerca do processo de ma- Amazônia. E, durante uma FORTALEZA,
turação humana a partir da das plenárias, em respos-
psicologia da Gestalt. Em se- ta à oficina sobre Envelhe- 20 DE OUTUBRO
guida, um olhar reflexivo
sobre a experiência de viver DE 2019.
“marianamente” a traves-
sia para a simplicidade, vis- WWW.SACRAMENTINOS.ORG.BR
lumbrando a figura de Ma-
ria como nossa irmã.

Sobre o processo de ama-
durecimento, foram des-
tacadas as dimensões da
identidade humana (um
ser de relações, situado no
tempo e no espaço, evolu-
tivo, criativo, complexo e
destinado a morrer), bem
como algumas pistas, em

[ Expediente [ Editorial

O LUTADOR é uma publicação mensal Um Natal mais humano
do Instituto dos Missionários
Sacramentinos de Nossa Senhora ÉIMPRESSIONANTE o caminho que Deus escolhe para vir ao nosso encon-
tro. Vem sem alarde, na simplicidade, na pobreza, desce ao mais pro-
olutador fundo da existência humana. Ele se encarna, assume não só a natu-
ISSN 97719-83-42920-0 reza humana, assume a sua fragilidade, os seus riscos e sofrimentos.
E assim, a partir de baixo, a partir dos pobres, pequenos e sofredores,
Fundador gesta-se a esperança para toda a humanidade.
Pe. Júlio Maria De Lombaerde A ação de Deus na história acontece de forma simples, velada,
a partir de dentro das pessoas, movendo-se a partir do interior mais
Superior Geral profundo de cada pessoa. Deus não invade a liberdade humana, antes
Pe. José Raimundo da Costa, sdn conta com ela para o Seu projeto de vida. Na medida em que o ser hu-
mano se abre para Deus, cria condições para que Ele possa agir. Foi as-
Diretor-Editor sim com Maria, com Isabel, com José, com Simeão, com os pastores,
Ir. Denilson Mariano da Silva, sdn com os Magos... Pessoas que, em sua simplicidade, com sua abertura
interior, criam condições para que Deus venha ao nosso encontro, se
Jornalista Responsável faça um de nós e inspire condições para que novas relações de justiça,
Pe. Sebastião Sant’Ana, sdn (MG086063P) solidariedade e paz aconteçam.
A singeleza do Natal nos revela que Deus age a partir de dentro,
Redatores e Noticiaristas na interioridade, no silêncio. Aí Ele convida, convoca, desperta, pede
Pe. Marcos A. Alencar Duarte, sdn nossa colaboração em seu plano de amor e vida para toda a humani-
Pe. Sebastião Sant’Ana, sdn dade. Definitivamente, a festa do Natal remete a um encontro com
Frt. Matheus R. Garbazza, sdn Deus que desce ao mais profundo da existência humana, ao mais pro-
Frei Patrício Sciadini, ocd, Frei Vanildo Zugno, fundo de nós mesmos. Ele vem para fazer morada em nós, no coração,
Dom Paulo M. Peixoto, Antônio Carlos Santini na interioridade...
e Dom Edson Oriolo Infelizmente, em nossos tempos, a lógica do capital que tudo
transforma em mercadoria, vem roubando a simbologia do Natal e
Colaboradores desviando esse movimento de Deus ao interior para exterioridades.
Vários Tudo passa a ser pautado pela lógica do comércio, do lucro, das vanta-
gens financeiras e pelo poder do capital. A ponto de se dizer, em situa-
Redação ções de dificuldade: “Este ano não vamos ter Natal em casa, pois estou
[email protected] desempregado...” ou “sem dinheiro, não tem Natal.” Natal virou sinô-
nimo de comilança, de exageros na bebida, de troca de presentes... Vi-
Correspondência rou algo meramente exterior, que já não toca o interior, o mais profun-
Comentários sobre o conteúdo de olutador, do das pessoas, e nada revela da grandeza de Deus que quer recuperar
sugestões e críticas: [email protected] o melhor de nós, nossa humanidade.
Cartas: Praça Padre Júlio Maria, 01 / Planalto Assim, assistimos a uma onda natalina desprovida de afetos ver-
CEP 31730-748 / Belo Horizonte, MG / Brasil dadeiros, distante das relações de justiça e de fraternidade, longe do
espírito cristão de descer ao encontro dos mais sofridos para devolver-
Assinaturas e Expedição lhes a alegria e a esperança de viver. Há muito o Natal vem-se pagani-
Maurilson Teixeira de Oliveira zando e, o pior, com a aparência de continuar a ser uma festa cristã.
São celebrações bonitas e pomposas, mas que não levam as pessoas a
Assinaturas se humanizarem, a vencerem o ódio, a se deixarem guiar pelo Espírito
R$ 80,00 / Brasil - www.olutador.org.br do Amor, pelo Espírito que guiou Jesus.
[email protected] Não nos faltam festas, falta solidariedade; não faltam presen-
0800-940-2377 - De 2ª a 6ª das 7 às 19 horas tes, falta o senso de justiça; não faltam desperdícios e exageros, falta
humanidade, aquela capacidade de ver o outro, sobretudo o pobre e so-
Outros países fredor, como nosso irmão. Falta ao nosso Natal justamente aquilo que
R$ 80,00 + Porte Deus veio nos revelar com a sua encarnação: humanidade.
Somente um Natal mais humano, vivenciado a partir de dentro,
Edições anteriores não nas exterioridades, nos aproxima de Deus e dos irmãos.
Tel.: 0800-940-2377 E isso é pra começo de conversa.]
[IR. DENILSON MARIANO, SDN
Site
revista.olutador.org.br
facebook.com/revistaolutador

Projeto gráfico e diagramação
Valdinei do Carmo / Orgânica Editorial

Revisão
Antônio Carlos Santini

Impressão e Acabamento
Gráfica e Editora O Lutador, Certificada – FSC®
Praça, Pe. Júlio Maria, 01 / Planalto
31730-748 / Belo Horizonte, MG / Brasil
olutador.org.br

Telefax
[31] 3439-8000 / 3490-3100

Tiragem desta edição
3.200 exemplares
Foto de capa
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|S U M Á R I O OLU TADOR • REVISTA MENSAL • ANO XCI • Nº 3919 • DEZEMBRO • 2019 •
Natal:
a revolução 9Identidade:
Sacerdote!
6da ternura
8Legado
do Padre
Júlio Maria

12Não se trata 10Plenamente 14 Um resumo do conteúdo
apenas humanos,
de migrantes simplesmente da Boa Nova do Reino
irmãos 16 Famílias cristãs

44 desafiadas a recuperar

Testemunho o sentido do Natal
da Missão 18 O uso da Bíblia
em Angola
na catequese
20 O Rei do Show

e o Rei da Vida
22 Percepção sincronizada
23 Em terra de missão
24 Tempo da alegria
25 Celebrações terapêuticas

ou celebrações da fé?
26 Esse incômodo

Salvador...
27 A humanidade maior

que os nacionalismos
30 O bem-aventurado
31 Roteiros Pastorais
43 Não nos deixem órfãos
46 Pedimos vossa

bênção e comunicamos
47 ADCE / MG
48 Natal, celebração

de um evento

NATAL:Capa[Reflexão...
PE. RODRIGO FERREIRA DA COSTA, SDN*
nascimento, adentramos no mun- “em cada nascimento a novidade
ÉNatal. Nasceu o Messias es- do e somos aptos a iniciar algo no- irrompe no mundo e esta supre-
perado. Os anjos se rejubilam vo. Sem o fato do nascimento ja- ma capacidade do ser humano de
de alegria. Os pastores se ale- mais saberíamos o que é a novi- começar equivale à sua liberdade”.
gram com a boa notícia. Os dade, e toda “ação” seria ou mero
reis querem visitá-lo e trazem pre- comportamento ou preservação da Ao chegarmos ao final de mais
sentes. Uma luz brilha nas trevas. ordem existente. Somente a natali- um ano, somos convidados a olhar
A esperança dos pobres se renova. dade traz a esperança do início no- para trás e avaliar o caminho per-
Os corações de Maria e José ficam vo. Como escreve Hannah Arendt, corrido. Não se trata de focar nos
saltitantes de alegria, mesmo sem problemas como se estivéssemos
compreender tal acontecimento. O [6 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2019
velho Simeão profetiza o destino do
menino, porque percebe naquela
criança tão frágil o cumprimento
das promessas de Deus. Ana põe-se
a louvar ao Senhor que, para rea-
lizar o seu eterno plano de amor e
abrir-nos o caminho da salvação,
assumiu a nossa condição huma-
na. O Natal de Jesus é uma verda-
deira revolução da ternura.

Com a encarnação da Palavra
Eterna do Pai em nossa humani-
dade, em nossa história, estas se
tornaram sacramento de salvação,
epifania de Deus. “No momento em
que o Filho de Deus assume nossa
fraqueza, a natureza humana re-
cebe uma incomparável dignidade:
ao tornar-se ele um de nós, nós nos
tornamos eternos”. (Prefácio do Na-
tal) Assim sendo, a nossa história
tornou-se sacramento vivo, porque
na história da humanidade Deus se
autocomunica, voltando para nós
o seu rosto amoroso e compassivo.

A esperança profética do Natal
Em cada Natal a esperança se refaz.
A promessa de Deus feita a Abraão e
anunciada pelos profetas se cumpre
(cf. Lc 1,46-55). Mas o Natal de Jesus
não é um acontecimento preso ao
passado, ele está presente em ca-
da criança que nasce e reabre o fu-
turo para o mundo. Em virtude do

a revolução da ternura

mergulhados “num vale de lágri- ber, mesmo nos momentos mais zias”. (Lc 1,52-53.) Como nos recorda
mas”, nem tampouco de mascarar sombrios, os vestígios de Deus em o Papa Francisco, “na sua encarna-
os conflitos como se não existis- nossa vida, em nossa história. Não ção, o Filho de Deus convidou-nos
sem. Nossa melhor atitude dian- é em vão que na entrada do Infer- à revolução da ternura”. (EG, 88.) O
te da história é a de gratidão pelo no de Dante está escrita a sentença: Natal é, pois, a celebração da con-
passado, paixão no presente e espe- “Abandonai toda esperança, ó vós fiança de Deus no ser humano, Ele
rança de futuro. Haja vista que um que entrais!” Sem esperança não não desiste de nós, e da esperança
olhar agradecido não falseia a rea- permanecemos vivos. “É na espe- do ser humano neste Deus-Conosco,
lidade nem esconde os dramas da rança que fomos salvos.” (Rm 8,24.) que quis estar tão próximo de nós,
comédia humana, mas procura per- que se fez criança. Como escreve
ceber, mesmo em meio às sombras Não uma esperança futurísti- Fernando Pessoa, “Ele é a Eterna
da existência, a luz da esperança. ca, que nos tira do mundo real à Criança, o Deus que faltava. Ele é o
espera de um mundo ideal, mas humano que é natural. Ele é o divi-
Fazendo uma retrospectiva do uma esperança ativa, ou melhor, no que sorri e que brinca. E por isso
ano de 2019, talvez tenhamos o mes- performativa, que molda o nosso é que eu sei com toda certeza que
mo sentimento de Jesus quando se existir, que nos faz acreditar que é ele é o Menino Jesus verdadeiro. É a
aproximou de Jerusalém, viu a ci- possível novo céu e nova terra, on- criança tão humana que é divina”.
dade e chorou sobre ela (cf. Lc 19,41). de não haverá mais morte, nem lu-
É quase impossível ver o nosso país to, nem angústias, nem lamentos, Diante de tanta violência, amea-
sendo jogado de um lado para o ou- nem medos, nem dor, porque tu- ças de guerras e destruição, a vivên-
tro, como um barco à deriva em alto do isso deixará de ser (cf. Ap 21,4). cia do Natal nos interpela à cultura
mar, e não chorarmos sobre a nos- do encontro, do cuidado e da ternu-
sa dura realidade política, social e A revolução da ternura ra. Pela encarnação, Deus nos ensi-
ambiental. Diante de tantos desa- Segundo o Dicionário da Língua Por- na a não nos fazermos indiferentes
fios, somos tentados a cair no fata- tuguesa, a palavra “revolução” sig- aos outros, mas, ao contrário, o Na-
lismo que nos faz perder a esperança nifica ato ou efeito de revolver o que tal nos convida a nos deixar inter-
do novo, transformando-nos mui- estava sereno, ou ainda, revolta e pelar pelo rosto, pelo sofrimento e
tas vezes em juízes sombrios que se sublevação. Parece que a revolução a miséria do outro, pois “a Palavra
comprazem em detectar qualquer tem sempre um sentido de revolta, de Deus nos ensina que no irmão
perigo ou desvio, sem perceber que, indignação. Por outro lado, está o prolongamento permanen-
“mesmo no tempo mais sombrio, te da Encarnação para cada um de
temos direito de esperar alguma quando falamos de ternu- nós: ‘Sempre que fizestes isto a um
iluminação, e que tal iluminação ra, vem logo à mente cari- destes meus irmãos mais pequeni-
pode bem provir menos das teorias nho, meiguice, afeto. En- nos, a Mim mesmo o fizestes’ (Mt
e conceitos, e mais da luz incerta, tão como falar de revolu- 25,40)”. (Papa Francisco, EG, 179.)
bruxuleante e frequentemente fra- ção da ternura? Será que é
ca que alguns homens e mulheres, possível pensar numa ter- Que a celebração do Natal de Je-
nas suas vidas e obras, farão brilhar nura revolucionária? sus nos ajude a fazer uma verdadeira
em quase todas as circunstâncias e revolução da ternura! Que esse Deus
irradiarão pelo tempo que lhes foi O nascimento do Deus menino de rosto humano que vem ao nosso
dado na Terra”. (Hannah Arendt) é uma verdadeira “revolução da ter- encontro nos ensine a cuidar uns dos
nura”. Ele nos faz acreditar na força outros e a renovar nossa esperança na
Nossos olhos, muitas vezes ha- dos pequenos, pois Deus “derruba do humanidade, que a cada nascimento
bituados às sombras, têm dificulda- trono os poderosos e exalta os hu- pode começar algo novo no mundo.]
de de ver a luz. Porém, assim como mildes; cumula de bens os famin-
as trevas não conseguiram apagar tos e despede os ricos de mãos va- * Pe. Rodrigo, SDN é licenciado em Filosofia,
o Sol resplandecente (Jesus Cristo) bacharel em Teologia, com especialização
que nasceu para nós (cf. Jo 1,5), so- DEZEMBRO 2019 [ OLUTADOR]7 em formação para Seminários e Casa de
mos também convidados a perce- Formação. Mora atualmente na paróquia
São Bernardo, Belo Horizonte, MG.

Igreja Hoje [ A luz jubilar estava lançada para iluminar nossa caminhada...

LEGADO do
Padre Júlio Maria

“Formamos a Igreja viva, que caminha para o Reino do Senhor.”

LUISA GARBAZZA* todas as comunidades, pastorais e do com dois acontecimentos impor-
movimentos. Durante o ano, em to- tantes para nós sacramentinos: oito
TODOS somos responsáveis por fa- das as atividades, a temática jubilar de dezembro, a ordenação presbiteral
zer da Igreja de Cristo essa “Igreja se fez presente. Em todos os meses, do Diácono Matheus Garbazza, SDN;
Viva” que tanto queremos. Na ca- no dia 8, as orações por sua beatifi- dia 20, o jubileu de ouro sacerdotal do
minhada do povo de Deus, no entanto, cação foram intensificadas. Padre Antônio Otaviano, SDN – am-
alguns cristãos se sobressaem nessa bos filhos desta terra.
missão. Padre Júlio Maria, sem dú- Dia dois de fevereiro, dia de Nossa
vida, é um desses exemplos. Nós, da Senhora da Luz: velas personalizadas Temos, pois, muito a agradecer: o
Paróquia Nossa Senhora do Bom Des- com motivo dos oitenta anos foram privilégio de pertencermos a uma paró-
pacho, temos o privilégio de desfrutar abençoadas e distribuídas para todas quia sacramentina; os ideais julimaria-
do legado desse santo. Conhecemos as comunidades. A luz jubilar estava nos; os missionários sacramentinos que
Padre Júlio Maria como um homem lançada para iluminar nossa cami- por aqui passaram; a oportunidade de
alto, barbas longas, olhar calmo, al- nhada. A cada celebração, lembráva- celebrarmos estes 80 anos de história.
ma serena. Homem sério, trabalha- mos a alegria de pertencermos a uma
dor, generoso, ciente de sua vocação paróquia sacramentina e bendizía- “Em tudo, demos graças a Deus.”
e missão como consagrado: evangeli- mos a Deus por esses 80 anos de pre- (1Ts 5,18)]
zar, pregar e praticar o amor, a solida- sença. Foi assim que, em março, uni-
riedade, a justiça. “Amor e sacrifício” mo-nos às paróquias sacramentinas, *Secretária do ConselhoParoquial
– foi assim que nos ensinou o amor espalhadas pelo Brasil, e celebramos de Evangelização da Paróquia
por Jesus Eucarístico e pela Mãe da os 90 anos de fundação dos Missioná- N. Sra. do Bom Despacho
Eucaristia. Onde passou, deixou pe- rios Sacramentinos de Nossa Senhora.
gadas de fé e marcas de Deus. Assim
ele viveu. Assim ele quis que vives- Em maio, celebramos Nossa Se-
sem as três congregações que criou. nhora do Santíssimo Sacramento, no
dia treze, e no dia 31, nossa padroei-
Presença sacramentina ra, Nossa Senhora do Bom Despacho.
Em 2019, estamos vivendo um “Ano No dia da padroeira, quadros com a
jubilar”: oitenta anos da presença sa- estampa do Padre Júlio Maria foram
cramentina na cidade de Bom Des- abençoados e entregues aos coorde-
pacho. Iniciamos o ano em clima de nadores de comunidade: um símbo-
festa, pois foi justamente no dia pri- lo do Servo de Deus presente em nos-
meiro de janeiro de 1939 que Padre Jú- sos momentos de oração.
lio Maria assumiu nossa paróquia,
instituindo como primeiro pároco o Tivemos ainda dois momentos
Padre João Balke, SDN. Ao longo des- em que a missão sacramentina foi
ses 80 anos, muitos missionários sa- posta em evidência: na temática dos
cramentinos pisaram este solo, que tapetes e altares de Corpus Christi; nas
traz as marcas do fundador. Temos, visitas missionárias, em julho, com
portanto, motivos suficientes para a presença de leigos, do seminarista
nos exaltar e desejar a continuida- Gilson, do Frater Dione Afonso, SDN, e
de desse sonho julimariano. do seminarista diocesano Filipe Costa.

Como abertura deste ano, de 1º a Ação de graças
9 de janeiro, uma novena em honra Vivemos agora um tempo de ação de
ao Fundador, com a participação de graças. Este tempo jubilar será coroa-

[8 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2019

Igreja Hoje [ Obrigado pelo seu testemunho de um sacerdócio feliz!

Identidade:
Sacerdote!

50 anos de ordenação sacerdotal do Pe. Antônio Otaviano da Costa Franco, SDN

DIÁC. FRT. MATHEUS R. GARBAZZA, SDN Da Paróquia de São Lourenço, em ter o microfone na mão é uma gran-
Manhuaçu, guarda também uma boa de oportunidade para evangelizar.
EM 2019, a Congregação dos Missio- saudade. Pôde desenvolver muitos de
nários Sacramentinos de Nossa seus dons, fazer o bem às pessoas, “Sou feliz por ser padre, e é sendo
Senhora rende ação de graças ao tecer amizades. A tradicional subi- padre que me sinto feliz”, disse ele às
Senhor pelos 50 anos de ordenação da ao Cruzeiro da Bem-Posta, para vésperas do Jubileu de Ouro. A identi-
sacerdotal do Pe. Antônio Otaviano da lá celebrar a missa, sempre me pa- dade sacerdotal que carrega fica ex-
Costa Franco, SDN – juntamente com receu símbolo de seu desejo de levar pressa no lema de sua ordenação, ao
todos os seus familiares, amigos e os pa- as almas para o céu. qual permanece fiel: “Não é justo que
roquianos dos lugares por onde passou. abandonemos a Palavra de Deus...
Para sua Congregação dedicou boas Nós atenderemos sem cessar à oração
Neste homem de voz forte e con- forças. Foi formador, conselheiro ge- ao ministério da Palavra”. (At 6,2.5.)
vicções profundas, vemos o retrato de ral e Superior Geral. Entusiasta da
um padre zeloso de sua identidade, vocação, da Igreja e do Servo de Deus Parabéns, Pe. Antônio Otaviano,
oferecendo a Graça de Deus às pes- Pe. Júlio Maria, não cessou de buscar pelos 50 anos de sacerdócio! É uma
soas e, ao mesmo tempo, conduzindo cultivar no coração dos jovens o de- honra ter sido seu coroinha, como o é
cada ser humano a um profundo re- sejo de seguir a Cristo mais de perto. ser seu irmão de Congregação e o será
lacionamento com seu Criador. Mais sê-lo no ministério ordenado. Obri-
do que festejar uma única pessoa, es- Por último, desde 2006, continua gado pelo seu testemunho de um sa-
tamos agradecendo à Trindade San- a missão em sua terra natal, na Pa- cerdócio feliz, de venturas sem par!]
ta o grande dom confiado à huma- róquia Nossa Senhora do Bom Des-
nidade, que é a continuação da obra pacho, onde é sempre bem acolhido
redentora do Filho por meio do mi- pelo carinho fraterno de seus conci-
nistério ordenado. dadãos. Sua marca é o entusiasmo
com as coisas de Deus e da Igreja.
O homenageado
Pe. Antônio Otaviano é natural de Bom Marcas de um sacerdócio feliz
Despacho. Seus pais, já na glória celes- Aliás, se uma palavra pode definir nosso
te, foram Heitor Franco Filho e Maria sacerdote jubilando é o entusiasmo. O
da Costa Franco. Seus irmãos formam rádio, uma de suas grandes paixões, o
uma numerosa família, tradicional demonstra: sempre com uma palavra
na cidade. Ainda jovenzinho, iniciou interessante e atual, comentando os
sua formação para ser missionário assuntos do momento à luz da Pala-
sacramentino. Foi ordenado presbíte- vra de Deus. Ali se sobressai uma ca-
ro por Dom Belchior, no dia 20 de de- racterística: as comparações jocosas,
zembro de 1969, em seu torrão natal. muitas vezes ousadas, que despertam
ao mesmo tempo o riso e a inquie-
Os inícios de seu ministério pres- tação a respeito do tema em estudo.
biteral tiveram como palco a ines-
quecível Paróquia do Bom Jesus de O zelo pelas coisas sagradas tam-
Manhumirim. Ele mesmo diz, vez ou bém lhe é peculiar: gosta da ordem, do
outra, que ali aprendeu a ser padre. ensaio, do estudo. Mesmo que às vezes,
Impossível não mencionar o carinho na liturgia, ele mesmo saia um pou-
pelos jovens, sobretudo os integran- co do roteiro. Mas seus gestos e suas
tes da Juventude Unida de Manhu- palavras demonstram verdadeira fé
mirim – JUDMAN. Tempo intenso e naquilo que celebra. A palavra, aliás,
que deixou marcas profundas. não lhe falta. A tribuna é seu ambien-
te natural. Gosta sempre de dizer que

DEZEMBRO 2019 [ OLUTADOR]9

Igreja Hoje [ Como podemos contribuir para a construção de relações

Plenamente humanos,
simplesmente irmãos

FRT. DIONE AFONSO, SDN* dando a debruçar, e Ir. Annette levan- volver e integrar estas dimensões ao
tou os pontos centrais deste encontro. longo da vida. E retomar o trabalho,
ENTRE os dias 17 e 20 de outu- com coragem, sempre que aparecer
bro, aconteceu em Fortaleza, O Lutador: Ser plenamente humano uma crise ou um desafio!
CE, o V Seminário Nacional na Vida Religiosa Consagrada. Co-
de Religiosos Irmãos. O en- mo este processo deve ser abraça- O Lutador: Que esperanças e desafios
contro trouxe o tema “plenamente do por nós? a VRC enfrenta hoje e que esperança
humano, simplesmente irmão”, e Ir. Annette: Ninguém é plenamente desponta para o seu futuro?
o lema “Maria, peregrina na fé” (LG, humano, estamos todos em processo Ir. Annette: Vou começar pelo que dá
58). Contamos com a presença de 30 de humanização e de maturação! O esperança! Descrevi isso, no decor-
Congregações Religiosas e de mais que é importante é sair das descul- rer do seminário, como forças inter-
de 100 Irmãos, cada um partilhan- pas e lançar mão, pessoal e decidi- nas e oportunidades exteriores que
do a sua experiência vocacional. A damente, do processo formativo e jogam ao nosso favor. Vocês mes-
assessoria ficou na responsabilida- das ferramentas que estão ao nosso mos, Religiosos, levantaram a lis-
de de Ir. Annette Havenne, Irmã de dispor, no caso concreto dos religio- ta nos trabalhos em pequenos gru-
Santa Maria, que possui vasta expe- sos irmãos, no contexto da sua VRC, pos de convivência. Por isso eu lhes
riência missionária e pensamentos para crescer e amadurecer. Em ou- dou a palavra: FORÇAS: centralida-
pertinentes, como “a missão é o lu- tras palavras, tomar posse do nosso de do Cristo em nossa vida; vivên-
gar favorável da formação”. Sempre processo de maturação humana. No cia do núcleo identitário da VRC; pai-
preocupada em construir relações seminário, optei por apresentar a vi- xão pelo Reino; formação inicial e
mais humanas, Ir. Annette faz-nos são antropológica da psicologia da permanente; carisma fundacional,
resgatar a nossa história de vida co- “Gestalt”, que nos oferece boas pis- congregacional e pessoal; qualida-
mo semente germinal da experiên- tas para este trabalho: ela apresen- des, habilidades humanas e proces-
cia comunitária e missionária. ta o ser humano como ser de rela- so de maturação; clareza maior da
ções, ser situado no tempo e no es- identidade de irmão e capacidade
Na oportunidade, a Revista O Lu- paço, ser evolutivo, ser criativo, ser de ressignificar esta vocação; vir-
tador a convidou para falar-nos um que se depara com a sua finitude! tudes; sentido de pertença a uma
pouco desta provocante temática sobre Trabalhar o nosso humano é desen- família religiosa; mobilidade, iti-
a qual o V Seminário está nos convi-
[10 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2019

saudáveis e solidárias?

nerância; interculturalidade. E as que faz a diferença por onde eu pas- so apesar das nossas diferenças, da
OPORTUNIDADES que levantaram: so, sendo, de fato, irmão. Com um interculturalidade e da intergeracio-
apoio da Igreja e o novo modelo si- toque de humor, no encontro falei nalidade. É sonho, é desejo, é ensaio
nodal apresentado e representado de duas devoções: devoção à “Santa do bem-viver na Terra sem males!
pelo Papa Francisco; CRB, intercon- Dez”, que nos faz rezar a ladainha E Jesus nos deixa o dom do Espíri-
regacionalidade, trabalho em redes; dos desanimados, desajeitados, de- to Santo para nos ajudar a não dei-
novas possibilidades para a forma- sarrumados, desprezados, desres- xar cair este sonho de Deus e nosso!
ção permanente; cursos acadêmicos peitados, desastrados, descongre- “Vejam como eles se amam!” Hoje
e formação profissional; comunica- gados, descansados; e, a devoção à gostamos de chamar isso “evange-
ções e novas tecnologias; contatos “Santa Ré”, que nos convida a rein- lização pelo estilo de vida”. Depois
com os jovens, trabalho na forma- ventar, recriar, ressignificar, reco- devem vir as palavras, os compro-
ção; presença no meio do povo e re- meçar, reorientar, reconduzir, re- missos, os projetos para estender is-
lações de proximidade com os leigos. construir... Enfim, é uma brinca- so em círculos de comunhão sem-
deira, mas que nos ajuda a ter cla- pre mais alargados, sem exclusão!
Quanto aos DESAFIOS e OBSTÁ- reza da opção de vida que fizemos:
CULOS, vocês mesmos também fi- se somos irmãos, somos irmãos de O Lutador: Você nos alertou contra o
zeram o levantamento: seculariza- quem? Irmãos onde? Irmãos, por perigo do clericalismo e nos disse que
ção, poucas vocações; clericalismo; quê? E irmãos para quem? os Religiosos Irmãos são uma força
ativismo; tradicionalismo; autori- viva para relações mais respeitosas
Maria é nas diferenças e nos carismas de cada
tarismo; estruturas rígidas e modo simplesmente um. Ser plenamente humano passa
de exercer o poder; choque das gera- nossa irmã também por este caminho de huma-
ções. Resumindo, diria que a situa- e peregrina nizar relações igualitárias?
ção atual é complexa, mas ela nos na fé, como Ir. Annette: Com certeza, mas diria
provoca a nos reinventarmos e nos cada um de nós! que não basta... Aqui, precisamos de
oferece novos meios jamais sonha- Daí o convite algo mais que tem por nome: viver
dos antes! Os momentos de caos, de a viver a Vida os valores básicos do Evangelho, tais
desconstrução das nossas certezas Consagrada como: simplicidade, amor fraterno,
são os momentos onde mais sopra “marianamente”! perdão dado do fundo do coração,
o Espírito Santo, e a história nos diz cuidado em estabelecer com todos/
que naqueles momentos a VRC se re- O Lutador: “Simplesmente irmãos”: as mas começando em casa... rela-
inventa e redescobre novos carismas, o valor da fraternidade está cada vez ções nutritivas e não tóxicas. É um
novas formas de seguir a Jesus no mais fragilizado socialmente. Como trabalho que começa no humano,
discipulado, na vida fraterna e na podemos contribuir para essa cons- mas que exige também de nós a es-
missão. É preciso fazer a travessia. trução de relações saudáveis e soli- piritualidade dos discípulos de Je-
Travessia de uma vida pautada na dárias? sus. Por isso o Seminário fez ques-
Instituição para uma vida pautada Ir. Annette: A beleza toda é que a vo- tão de nos oferecer, além de Jesus,
no Carisma, no sentido de Vida Reli- cação do irmão... é ser irmão, ícone, nosso mestre e guia de trilhas, uma
giosa que carrego, que me preenche e imagem, parábola de Jesus, que veio figura inspiradora, a de Maria Mãe,
entre nós como nosso irmão para re- uma mulher que nos faz descer: de
inventar as relações, para que pos- Grande Mãe ela torna-se Pequena
samos amar como Deus ama, cui- Discípula. Isso ajuda também no
dar uns dos outros, ser comunida- processo geracional: alguém que
de. Ser irmão de verdade, simples- antes abriu a porta para o Filho, no
mente, é ser amostra-grátis de que fim da festa, aprende a entrar pe-
é possível, sim, se amar, ser solidá- la porta que o Filho abrir. Maria é
rios, partilhar, conviver... para que simplesmente nossa irmã e pere-
todos tenham vida mais plena. E is- grina na fé, como cada um de nós!
Daí o convite a viver a Vida Consa-
DEZEMBRO 2019 [ OLUTADOR]11 grada “marianamente”! E isso se-
rá a mensagem que deixarei para
todos vocês: vamos seguir Jesus na
Vida Religiosa Consagrada, a pas-
sos largos, na alegria e leveza, no
jeito simples de Maria!]

*[email protected]

Religião [ Não se trata apenas de migrantes:

Queridos irmãos e irmãs! mento num teor de vida rico de co- xar mover e comover por quem bate à
modidades. Aqui está a razão por que porta e, com o seu olhar, desabona e
FÉ assegura-nos que o Rei- «não se trata apenas de migrantes», desautora todos os falsos ídolos que
no de Deus já está, miste- ou seja, quando nos interessamos por hipotecam e escravizam a vida; ídolos
riosamente, presente so- eles, interessamo-nos também por que prometem uma felicidade ilusória
bre a terra (cf. Gaudium et nós, por todos; cuidando deles, todos e efémera, construída à margem da
Spes, 39); contudo, mes- crescemos; escutando-os, damos voz realidade e do sofrimento dos outros.
mo em nossos dias, com também àquela parte de nós mesmos
que talvez mantenhamos escondida «Mas um samaritano, que ia de
Apesar temos de constatar por não ser bem vista hoje. viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o,
que se lhe deparam obs- encheu-se de compaixão» (Lc 10,33). Não
táculos e forças contrá- “Tranquilizai-vos! se trata apenas de migrantes: trata-se
rias. Conflitos violentos, verdadeiras e Sou Eu! Não temais!” (Mt 14,27). da nossa humanidade. O que impele
próprias guerras não cessam de dilace- Não se trata apenas de migrantes: tra- aquele samaritano – um estrangeiro,
rar a humanidade; sucedem-se injus- ta-se também dos nossos medos. As segundo os judeus – a deter-se é a com-
tiças e discriminações; esforça-se pa- maldades e torpezas do nosso tempo paixão, um sentimento que não se pode
ra superar os desequilíbrios econômi- fazem aumentar o nosso receio em explicar só a nível racional. A compai-
cos e sociais, de ordem local ou global. relação aos “outros”, aos desconhe- xão toca as cordas mais sensíveis da
E quem sofre as consequências de tu- cidos, aos marginalizados, aos foras- nossa humanidade, provocando um
do isto são sobretudo os mais pobres e teiros. E isto nota-se particularmente impulso imperioso a «fazer-nos pró-
desfavorecidos. ximo» de quem vemos em dificuldade.

NÃO SETRATA APENAS DE MIGRANTES,

Este foi o alerta do Papa Francisco emsuaMensagem para

As sociedades economicamen- hoje, perante a chegada de migrantes Como nos ensina o próprio Je-
te mais avançadas tendem, no seu e refugiados que batem à nossa por- sus (cf. Mt 9,35-36; 14,13-14; 15,32-37),
seio, para um acentuado individua- ta em busca de proteção, segurança ter compaixão significa reconhecer
lismo que, associado à mentalidade e um futuro melhor. É verdade que o sofrimento do outro e passar, ime-
utilitarista e multiplicado pela rede o receio é legítimo, inclusive porque diatamente, à ação para aliviar, cui-
mediática, gera a «globalização da falta a preparação para este encontro. dar e salvar. Ter compaixão significa
indiferença». Neste cenário, os mi- dar espaço à ternura, ao contrário do
grantes, os refugiados, os desaloja- O problema não está no fato de que tantas vezes nos pede a socieda-
dos e as vítimas do tráfico de seres ter dúvidas e receios. O problema sur- de atual, ou seja, que a reprimamos.
humanos aparecem como os sujeitos ge quando estes condicionam de tal Abrir-se aos outros não empobrece,
emblemáticos da exclusão, porque, forma o nosso modo de pensar e agir, mas enriquece, porque nos ajuda a ser
além dos incômodos inerentes à sua que nos tornam intolerantes, fecha- mais humanos: a reconhecer-se parte
condição, acabam muitas vezes alvo dos, talvez até – sem disso nos aper- ativa dum todo maior e a interpretar
de juízos negativos que os conside- cebermos – racistas. E assim o me- a vida como um dom para os outros;
ram como causa dos males sociais. do priva-nos do desejo e da capaci- a ter como alvo não os próprios inte-
dade de encontrar o outro, a pessoa resses, mas o bem da humanidade.
A atitude para com eles constitui diferente de mim; priva-me duma
a campainha de alarme que avisa do ocasião de encontro com o Senhor. «Livrai-vos de desprezar um só
declínio moral em que se incorre, se destes pequeninos, pois digo-vos que
se continua a dar espaço à cultura do “Se amais os que vos amam, que os seus anjos, no Céu, veem constan-
descarte. Com efeito, por este cami- recompensa haveis de ter? Não fazem temente a face de meu Pai que está
nho, cada indivíduo que não quadre já isso os publicanos?” (Mt 5,46). Não no Céu» (Mt 18,10). Não se trata ape-
com os cânones do bem-estar físi- se trata apenas de migrantes: trata- nas de migrantes: trata-se de não ex-
co, psíquico e social fica em risco de se da caridade. Através das obras de cluir ninguém. O mundo atual vai-se
marginalização e exclusão. caridade, demonstramos a nossa fé tornando, dia após dia, mais elitista
(cf. Tg 2,18). E a caridade mais excel- e cruel para com os excluídos. Os paí-
A presença dos migrantes e re- sa é a que se realiza em benefício de ses em vias de desenvolvimento con-
fugiados – como a das pessoas vul- quem não é capaz de retribuir, nem tinuam a ser depauperados dos seus
neráveis em geral – constitui, hoje, talvez de agradecer. Em jogo está a fi- melhores recursos naturais e huma-
um convite a recuperar algumas di- sionomia que queremos assumir co- nos em benefício de poucos merca-
mensões essenciais da nossa exis- mo sociedade e o valor de cada vida. dos privilegiados. As guerras abatem-
tência cristã e da nossa humanida- O progresso dos nossos povos depen- se apenas sobre algumas regiões do
de, que correm o risco de entorpeci- de sobretudo da capacidade de se dei-

[12 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2019

trata-se da nossa humanidade...

mundo, enquanto as armas ra com o próximo, que leva teger, promover e integrar. mais vulneráveis, ajudam-
para as fazer são produzidas a tratá-lo como mero obje- Mas estes verbos não valem nos a ler os «sinais dos tem-
e vendidas noutras regiões, to de comércio, que impele apenas para os migrantes e pos». Através deles, o Senhor
que depois não querem ocu- a ignorar a humanidade dos os refugiados; exprimem a chama-nos a uma conver-
par-se dos refugiados causa- outros e acaba por tornar as missão da Igreja a favor de são, a libertar-nos dos ex-
dos por tais conflitos. pessoas medrosas e cínicas. todos os habitantes das pe- clusivismos, da indiferen-
riferias existenciais, que de- ça e da cultura do descarte.
Quem sofre as conse- Porventura não são es- vem ser acolhidos, protegidos, Através deles, o Senhor con-
quências são sempre os pe- tes os sentimentos que mui- promovidos e integrados. Se vida-nos a nos reapropriar-
quenos, os pobres, os mais tas vezes nos assaltam à vis- pusermos em prática estes mos da nossa vida cristã na
vulneráveis, a quem se im- ta dos pobres, dos margina- verbos, contribuímos para sua totalidade e contribuir,
pede de sentar-se à mesa dei- lizados, dos últimos da so- construir a cidade de Deus cada qual segundo a própria
xando-lhe as «migalhas» do ciedade? E são tantos os úl- e do homem, promovemos vocação, para a construção
banquete (cf. Lc 16,19-21). «A timos na nossa sociedade! o desenvolvimento humano dum mundo cada vez mais
Igreja ‘em saída’ sabe tomar Dentre eles, penso sobretudo integral de todas as pessoas e condizente com o projeto de
a iniciativa sem medo, ir ao nos migrantes, com o peso ajudamos também a comu- Deus.
encontro, procurar os afasta- de dificuldades e tribulações nidade mundial a ficar mais
dos e chegar às encruzilhadas que enfrentam diariamen- próxima de alcançar os ob- Estes são os meus votos
dos caminhos para convidar te à procura – por vezes, de- jetivos de desenvolvimento que acompanho com a ora-
os excluídos» (Evangelii Gau- sesperada – dum lugar onde sustentável que se propôs e ção, invocando, por interces-
dium, 24). O desenvolvimen- viver em paz e com dignida- são da Virgem Maria, Nossa

MASTAMBÉM DE NOSSOS MEDOS...

o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado.

to exclusivista torna os ricos de. Na lógica do Evangelho, que, caso contrário, dificil- Senhora da Estrada, abun-
mais ricos e os pobres mais os últimos vêm em primei- mente serão atingíveis. dantes bênçãos sobre todos
pobres. Verdadeiro desenvol- ro lugar, e nós devemos co- os migrantes e refugiados do
vimento é aquele que procu- locar-nos ao seu serviço. [...] Por conseguinte, não es- mundo e sobre aqueles que
ra incluir todos os homens tá em jogo apenas a causa se fazem seus companhei-
e mulheres do mundo, pro- Queridos irmãos e irmãs, dos migrantes; não é só de- ros de viagem.]
movendo o seu crescimento a resposta ao desafio colocado les que se trata, mas de to-
integral, e se preocupa tam- pelas migrações contempo- dos nós, do presente e do fu- Vaticano,
bém com as gerações futuras. râneas pode-se resumir em turo da família humana. Os 27 de maio de 2019.
quatro verbos: acolher, pro- migrantes, especialmente os
Francisco PP

Tornar-se servidor

«Quem quiser ser grande en-
tre vós, faça-se vosso servo;
e quem quiser ser o primeiro
entre vós, faça-se o servo de
todos» (Mc 10, 43-44). Não se
trata apenas de migrantes:
trata-se de colocar os últi-
mos em primeiro lugar. Je-
sus Cristo pede-nos para não
cedermos à lógica do mun-
do, que justifica a prevari-
cação sobre os outros para
meu proveito pessoal ou do
meu grupo: primeiro eu, e de-
pois os outros! Ao contrário,
o verdadeiro lema do cristão
é «primeiro os últimos». Um
espírito individualista é ter-
reno fértil para medrar aque-
le sentido de indiferença pa-

DEZEMBRO 2019 [ OLUTADOR]13

Bíblia [ Ele pede metanoia, isto é, mudar o modo de pensar e de agir.

FREI CARLOS MESTERS, O.CARM.BRASIL

1“Mudem de vida”
Jesus não pede: “Observem a Lei e a Tradi-
ção!” Ele pede metanoia, isto é, mudar o modo
de pensar e de agir. Este é o apelo de mudan-
ça que a chegada do Reino traz consigo. Sem
esta mudança radical o povo não poderá en-
tender a mensagem do Reino anunciada por
Jesus. A mudança que a chegada do Reino es-
tá pedindo é uma mudança que engloba to-
dos os aspectos da vida das pessoas, do povo e
da nação. Se não acontecer esta mudança, “se
vocês não se converterem, todos vão perecer
do mesmo jeito”. (Lc 13,3.5.) Isto é, do mesmo
jeito que galileus pereceram pela violência de
Pilatos, assim todos irão perecer pela violên-
cia repressiva do Império. Não houve a mu-
dança que ele pediu! Quarenta anos depois,
no ano 70, esta profecia tornou-se triste rea-
lidade! Jerusalém foi totalmente destruída.

Um Mudar por quê?
resumo do Ao longo dos séculos anteriores, foi aconte-
conteúdo cendo uma inversão total dos valores que se
da Boa Nova expressa na própria religião. A religião oficial
já não revelava o rosto de Deus ao povo: o man-
do Reino damento de Deus foi anulado pela tradição
2/2 (cf. Mc 7,8); o ser humano estava em função
[14 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2019 da lei (cf. Mc 2,27); o templo levava vantagem
sobre o amor aos pais (cf. Mc 7,10-13); a mise-
ricórdia foi diminuída em favor da observân-
cia (cf. Mt 9,13); a justiça praticada pelos fari-
seus já não revelava o Reino (cf. Mt 5,20). Na
prática, o amor de Deus estava separado do
amor ao próximo. Os escribas e os fariseus,
responsáveis pela transmissão da fé, tinham
esquecido as necessidades dos pobres (cf. Lc
13,15-17), impunham pesos pesados ao povo
(cf. Mt 23,4) e, assim, bloqueavam a entrada
do Reino (cf. Mt 23-13).

Mudar o quê?
Já não bastava consertar um ou outro defeito.
Era necessário fazer tudo de novo! Metanoia!
Nascer de novo (cf. Jo 3,3), reconhecer o pró-
prio erro, aceitar a nova leitura do passado e
iniciar uma prática nova no ruma que Jesus
propunha: viver o amor a Deus no amor ao
próximo (cf. Mt 22,39); estender que o sábado
é para o homem (cf. Mc 2,27) e que o objetivo
da lei é imitar Deus que faz chover sobre to-
dos (cf. Mt 5,43-48); viver a eleição divina não
como um privilégio que separa dos outros po-
vos, mas como um serviço que leva a inserir-
se no meio deles (cf. Mt 20,28; Lc 17,10). Numa
palavra, aprender que ninguém tem o direi-
to de marginalizar como “pecador”, “impuro”,
“pagão”, “maldito” ou ignorante (cf. Jo 7,49;

Este é o apelo de mudança que a chegada do Reino traz consigo...

9,34) aqueles a quem Deus acolhe co- cismo que se decora, nem uma ideo- mal que estraga a vida humana e
mo filhos (cf. Mt 5,45). Realmente, fa- logia que se transmite. A Boa Nova do aliena as pessoas de si mesmas.
zer uma mudança assim era o mesmo Reino é um fato da vida em que Deus 4. Restaurar a vida para o serviço (cf.
que morrer e nascer de novo. “Quem esta presente, atuando, libertando o Mc 1,29-34 - cura da sogra de Pe-
não nascer de novo não pode ver o Rei- seu povo com poder, realizando o seu dro e de muitos outros doentes).
no de Deus” (Jo 3,3). Muitos não quise- plano se salvação, mostrando que é A sogra levantou-se e começou a
ram fazer esta mudança radical, rea- Rei, Senhor da história. servi-los. A Boa Nova cuida da vi-
giram contra Jesus e decidiram elimi- da doente e procura restaurá-la
ná-lo (cf. Jo 12,37-41; 11,45-54; Lc 19,42). Mas não só! Ela é uma palavra que para o serviço.
tira o véu deste fato e revela ao povo a 5. Permanecer unido ao Pai pela ora-
2“Acreditem presença gratuita de Deus aí dentro; ção (cf. Mc 1,35 - Jesus ora num lu-
nesta Boa Notícia!” é uma atitude, um testemunho, uma gar deserto). Faz parte da Boa Nova
Realiza-se a esperança do povo. Toda prática, que confirmam esta presen- permanecer unida a raiz que é o Pai,
esta novidade que começou a existir ça de Deus; é todo o passado do povo através da oração.
ao redor da sua pessoa, Jesus a de- que o confirma e o ratifica: “Era isto 6. Manter e aprofundar a consciência
signou com A Boa Nova do Reino. Ex- que esperávamos há muito tempo!” da missão (cf. Mc 1,36-39 - anúncio
pressão antiga, usada pela primeira da Boa Nova pelas aldeias da Gali-
vez pelo profeta Isaías para designar Anunciar a Boa Nova do Reino, o leia). A Boa Nova exige que o mis-
a Boa Nova da volta dos exilados (cf. Is que é? É apontar fatos concretos pelos sionário não se feche nos resulta-
40,9; 52,7; 61,1). Desde então, todos es- quais se veja onde o Reino de Deus es- dos já obtidos, mas que mantenha
peravam pela Boa Nova do Reino. Nos tá acontecendo e interpretá-los de tal sempre a consciência da missão.
gestos e nas palavras de Jesus esta es- maneira que apareça para fora esta 7. Reintegrar os marginalizados na con-
perança se realiza. dimensão escondida da presença vi- vivência (cf. Mc 1,40-45 - um leproso
toriosa de Deus na história do povo. é curado e enviado aos sacerdotes).
O acesso a essa Boa Nova só era Foi assim que Jesus respondeu a João A Boa Nova acolhe os marginaliza-
possível através da fé: “Acreditem na Batista: “Vão dizer a João o que estão dos e os reintegra na convivência
Boa Nova!” Fé não só na mensagem, vendo e ouvindo!” (Mt 11,4-5.) humana.
mas também na pessoa de Jesus, tal
como ele era e se apresentava: jovem, 3A finalidade da Boa Nova Estes sete pontos marcaram o
operário, sem estudo, vindo da Gali- anunciada por Jesus anúncio da Boa Nova, realizado por
leia, sem ser doutor, sem ser sacer- Marcos descreve a finalidade que a Jesus e pelos primeiros cristãos. Será
dote, sem ser da classe dirigente, mas Boa Nova do Reino quer alcançar na que marcaram os 500 anos de Evan-
que tem a coragem de dizer a todos: vida do povo. gelização da América Latina? Será que
“Eu sou o caminho, a verdade e a vida. marcam a evangelização que fazemos
Ninguém vem ao Pai senão por mim”. Os sete pontos que seguem hoje? Ali onde esta Boa Nova entra ho-
(Jo 14,6.) “Quem vê a mim vê o Pai!” (Jo são os sinais do Reino. Po- je na vida humana, sem dúvida algu-
14,9.) Sem esta fé na palavra e na pes- dem servir como critério ma ela encontrará resistências e pro-
soa de Jesus não era possível entender de avaliação para exami- vocará conflitos. É o que o Evangelho
a Boa Nova do Reino que ele anunciava! nar de perto a qualidade de Marcos sugere, apresentando lo-
da nossa prática evange- go em seguida cinco conflitos entre
Embora a Nova não fosse tão Boa lizadora: Jesus e os líderes religiosos da época
para os doutores e escribas, ela era real- (cf. Mc 2,1-3,6).
mente Boa para os pobres (cf. Lc 4,18). 1. Criar comunidade (cf. Mc 1,16-20 - vo-
Pois através da prática e da palavra de cação dos primeiros discípulos). A Marcos informa ainda que, no mo-
Jesus, o povo pobre, que vivia margi- Boa Nova tem como primeiro obje- mento de chamar os apóstolos, Jesus
nalizado como “ignorante”, “maldito”, tivo congregar as pessoas em trono “chamou a si os que ele queria chamar,
“impuro” e “pecador” (cf. Jo 7,49; 9,34), de Jesus e, assim, criar comunidade. e foram até ele. E constituiu o grupo
tinha novamente acesso a Deus. Jesus dos Doze, para que ficassem com ele e
liberou a entrada. A presença amiga 2. Fazer nascer consciência crítica (cf. para enviá-los a pregar, com autori-
de Deus tornou-se novamente, uni- Mc 1,21-22 - admiração diante do en- dade para expulsar os demônios” (Mc
versal, aceitável para todos, livre das sinamento de Jesus). A maneira co- 3,13-15). No mesmo chamado, Jesus
amarras nas quais vinha sendo apri- mo Jesus anuncia a Boa Nova faz o coloca duas finalidades. Chama pa-
sionada havia séculos (cf. Mt 23,13). povo criar consciência crítica com ra “estar com ele” e para “enviá-los a
relação aos escribas, seus líderes. pregar e a expulsar os demônios”. O
Apontar a Boa Nova estar com Jesus dá o conteúdo para a
de Deus na vida do povo 3. Combater o poder do mal (cf. Mc 1,23- pregação e a autoridade para expulsar
A Boa Nova do Reino, o que é? Não é 38 - expulsão de um demônio). A Boa o demônio. Ou seja, a comunidade é
uma doutrina que se ensina, nem uma Nova combate e expulsa o poder do a plataforma de onde parte a missão
moral que se impõe. Não é um cate- DEZEMBRO 2019 [ OLUTADOR]15 e lhe dá consistência.]

Família [ O Reino de Deus significa, pois, o mundo

PE. SEBASTIÃO SANT`ANA SILVA, SDN

FAMÍLIAS CRISTÃS
desafiadas a recuperar
o sentido do Natal
DEZEMBRO vem chegando
cheio de propostas pas- o sentido do Natal. O lugar central secularização e da relativização dos
torais ligadas à família. da festa deve ser de Jesus Cristo, valores”– alertou Bento XVI.
Com o início do Advento temos certeza. Mas há no mundo
(1º/12), entramos no no- todo um acelerado e preocupante Nesse contexto, percebemos que
vo Ano Litúrgico. Vigi- processo de descristianização e de o Natal vai deixando de ser festa
lantes, preparamo-nos indiferença religiosa. “Em nossa so- cristã, de Jesus, para se tornar, cada
para o encontro com Je- ciedade sopra cada vez com mais dia mais, uma festa do novo deus,
sus Cristo que veio (em violência o vento da descristiani- o “consumo”.
Belém), que vem a nós hoje de mui- zação, da indiferença religiosa, da
tas maneiras – sobretudo, na Pala- Para grande parcela de batiza-
vra, na Eucaristia e nos irmãos po- [16 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2019 dos – aqui não estamos falando dos
bres ou sofredores – e que virá glo-
rioso no final dos tempos. Adven-
to é vinda: Jesus veio, vem e virá.
O grande foco de dezembro é o
NATAL, a festa familiar por exce-
lência. Além da tradicional Nove-
na do Natal em Família, temos o
Dia Nacional da Família (8/12) e a
festa de N. Sra. de Guadalupe, pa-
droeira das famílias (12/12). No Do-
mingo após o Natal (29/12), vamos
coroar o ano civil com a festa litúr-
gica da Sagrada Família.
Comprometidos com a bandei-
ra da família, não podemos per-
der esta oportunidade privilegiada
de testemunhar que Jesus, o Filho
de Deus, é a razão de nossa alegria
contagiante.

A família desafiada
a recuperar o sentido do Natal
Um dos desafios colocados para
nós cristãos, hoje, é o de recuperar

sem miséria, sem divisão entre ricos e pobres...

ateus, mas de cristãos – o Natal vi- mundo, que lhe entregou o seu Fi- Muitos foram os que rejeitaram
rou sinônimo de comprar e gastar, lho único”. (Jo 3,16.) Jesus durante sua vida terrestre,
de comer e beber, de presentear o desde aqueles que fecharam a porta
que não se pode pagar e de receber Santo Agostinho afirma que para Maria, que estava prestes a dá
aquilo de que não se precisa. Cresce, “quem não for capaz de se escan- -lo à luz, até os que simplesmente
cada dia mais, o exército dos con- dalizar com a encarnação do Filho o ignoraram ou deixaram que ele
sumidores, a grande massa de ma- de Deus não é capaz de ter fé”. caminhasse sozinho para a cruz.
nobra à disposição do “deus mer-
cado” ou “deus consumo”. A solidariedade de Jesus conos- No entanto, o evangelista João,
co foi tamanha, que chegou ao ex- após referir-se ao drama do primei-
Sem a fé e o amor tremo de fazer-se um de nós, assu- ro Natal – “Ele veio para os que eram
não há paz e esperança mindo a nossa condição, descendo seus e os seus não receberam” – apon-
Há uma cruzada de cientistas ateus ao mais baixo grau da miséria hu- ta para o grande dom: “Mas, a to-
para reduzir a influência da religião mana. Assumiu-nos para elevar- dos os que o receberam, deu-lhes a
no mundo moderno. Os novos ateus nos à condição de filhos de Deus, capacidade de se tornarem filhos
querem retirar, junto com Deus, a de participantes da vida divina, de de Deus”. (Jo 1,12.)
espiritualidade da vida das pessoas, herdeiros dos bens eternos.
substituindo-a pelo progresso e pela Para não acontecer-nos o dra-
contemplação de conquistas cien- Diante de tudo isso, como vai ma do primeiro Natal, vamos con-
tíficas e tecnológicas. ser o nosso Natal? Um Natal para vidar nossas famílias, amigos e vi-
zinhos para uma calorosa acolhida
No entanto, o ser humano não Na perspectiva a Jesus que vem ao nosso encontro.
pode contentar-se só com os bens da fé, o Natal
materiais. No fundo do seu cora- nos permite Natal
ção, ele está orientado para Deus celebrar e viver com Jesus Cristo
e para o amor. Por isso, a descris- o mistério de um ou
tianização não é um progresso, Deus que nos com o Papai Noel?
a religião não é uma coisa ultra- ama gratuita e O Natal de sua família vai ser do
passada e a diminuição da práti- apaixonadamente. Menino Jesus ou do Papai Noel,
ca religiosa não é uma tendência sacerdote do “deus consumo”? Os
definitiva. celebrar essa paixão de Deus por enfeites (casa, lojas, escritórios)
nós, suas criaturas? Ou um Natal serão a estrela, o presépio com Je-
São muitas as pessoas que estão apenas bonito, com mesa farta e sus, Maria e José ou será o Papai
procurando reencontrar na fé o sen- reunião de família, mas vazio do Noel com suas renas e pinheiros
tido para suas vidas. Hoje, são inú- seu conteúdo de fé? cobertos de neve, em pleno verão
meras as personalidades de gran- brasileiro?
de influência no mundo moderno “Veio para os que eram seus
que manifestam publicamente sua e os seus não o receberam” Qual deles morreu para salvar
fé em Deus. Entre elas, há cientis- O Evangelho de João, no Prólogo, o povo e qual deles explora o povo?
tas, artistas, empresários, líderes acena para o drama do primeiro Quem existiu e quem é apenas len-
políticos e sindicais etc. Natal: “Ele veio para os que eram da? Na sua família, as crianças ou-
seus, mas os seus não o recebe- virão falar mais de Jesus, o grande
A fé e o amor ajudam a construir ram”. (Jo 1,11.) Esse drama apa- presente de Deus, ou do Papai Noel
um mundo mais justo, mais soli- rece também em Lucas, quando que está em foco na mídia? Quem
dário, mais fraterno, mais huma- narra que Maria “o enfaixou e o pode trazer, para você e seus fami-
no. Fé e amor fundamentam um colocou na manjedoura, pois não liares, a alegria, a paz e a certeza
mundo de paz e de esperança. havia lugar para eles na estala- de serem pessoas muito amadas
gem”. (Lc 2,7.) por Deus?
Jesus veio para
que tivéssemos DEZEMBRO 2019 [ OLUTADOR]17 Afinal, quem será presença maior
vida plena no Natal de sua família: Jesus, que
Na perspectiva da fé, o Natal nos nasceu no meio dos pobres, ou o
permite celebrar e viver o mistério velhinho de barbas brancas, gran-
de um Deus que nos ama gratuita de sacerdote do “deus consumo”?
e apaixonadamente. Sim, o Natal
celebra a história sagrada de um Que tal motivar sua família pa-
“Deus que amou de tal maneira o ra a Novena e a Missa de Natal?

Feliz e santo Natal para você e
sua família!]

Catequese [ A Bíblia na catequese deve ajudar a todos a descobrirem a
OusodaBíblia
PE. JOSÉ HERVAL FERREIRA, SDN
na catequese
PODEMOS dizer que a Bíblia é a
principal fonte do processo
de evangelização, pois a Bí-
blia é a Palavra de Deus pa-
ra nós. E se, na catequese, o
que se pretende é ajudar o catequi-
zando a realizar o seu encontro com
Deus, fica clara a importância das o catequista ativo em um grupo de a) É preciso preparar a turma para

Sagradas Escrituras para realizar reflexão isso é muito fácil.) escutar. Clima de silêncio, interes-

esse encontro. A catequese precisa, Dificuldades na escolha dos textos se e contemplação.
portanto, ser centrada na Palavra de Mesmo que a Bíblia seja um livro b) Antes da leitura, fazer breve co-
Deus. O Catequizando deve aprender

a “escutar” a Bíblia e ser incentivado básico da catequese, o processo ca- mentário a respeito do texto. Isso

a viver o que escutou. Por meio da tequético não consiste num simples cria a curiosidade e facilita a com-

Bíblia, Deus se comunica conosco estudo dela. A seleção dos textos pa- preensão.

e nós nos comunicamos com Ele. ra cada encontro levará em conta o
O uso da Bíblia, porém, pode tra- conteúdo que se quer transmitir. O c) A posição de quem lê e de quem

zer algumas dificuldades. material adotado na catequese já traz escuta. Depois de já ter rezado de

Dificuldade da linguagem uma seleção de textos bíblicos. O ca- pé, escutar a Palavra assentados
tequista verá o conteúdo e depois pro- ajuda a se concentrar mais e ou-

As traduções da Bíblia, em geral, não curará dar a fundamentação bíblica. vir atentamente.

usam uma linguagem acessível a Com isso entendemos duas coisas: d) O tom de voz deve mostrar natu-
crianças e adolescentes. E, às vezes, a) Não se pode, na catequese, ler os ralidade. Não ler “cantando” o tex-
nem os adultos entendem direito

o que foi lido, por causa do vocabu- livros bíblicos do começo ao fim, to, mas proclamá-lo conversando.

lário bíblico e de certos costumes sem organizar os textos a partir de Usar um volume de voz suficien-

e culturas dos povos antigos, per- conteúdos programados. Isso para te para ser ouvido, nem gritando,

sonagens das Sagradas Escrituras. que o catequista não seja tentado a nem sussurrando, como se fosse

O desejável seria uma tradução ir comentando partes bíblicas, sem segredo.

para as crianças que não desfigu- um programa de conteúdos. Quanto ao comentário dos textos
rasse os textos, mas que apresen- b) E também não se pode realizar um É para um verdadeiro aprofunda-
tasse uma linguagem compreen-

sível de acordo com a idade dos ca- tipo de leitura bíblica, em que se abre mento do tema. Não basta explicar

tequizandos. Na verdade, o impor- a Bíblia ao acaso e se lê o primeiro e compreender o texto. É preciso li-

tante, quando se fala do uso da Bí- texto que os olhos alcançam, como gá-lo ao tema e aplicá-lo à realida-

blia, não é estar simplesmente com se essa fosse a vontade de Deus para de da vida. Ficar atento ao tema e

a Bíblia na mão, mas compreender aquele momento. Ficaria parecendo ao objetivo do encontro, para não

sua mensagem. Expressões ou fra- uma tentativa de tirar sorte com a se conversar sobre um tanto de coi-

ses que escapam totalmente do uni- Bíblia, forçando Deus a revelar sua sas, sem concluir nada. Mas o texto

verso mental da criança precisam vontade na hora em que a gente não pode ser visto como uma cami-

ser, no mínimo, adaptadas e, às ve- quiser. Seria manipulação, como a sa de força para limitar a reflexão.

zes, excluídas. cartomante que joga as cartas pa- Ele é ponto de partida para uma

Quando se trabalha com ado- ra descobrir a “vontade dos astros”. conversa atraente de aprofunda-

lescentes, jovens ou adultos, prin- Geralmente os roteiros de ca- mento do tema. É hora de diálogo.

cipalmente se eles já têm certa ca- tequese já apresentam uma suges- O catequista não deve
minhada, é importante familiari- tão de textos bíblicos que se encai- se sentir num púlpito fa-
zá-los com a Bíblia. O catequista in- xam no assunto de cada encontro. zendo sermão. Mais im-
centivará a turma a adquirir a Bí- portante que falar, é fazer
blia e a levá-la para os encontros Quanto à proclamação dos textos falar, induzindo todos a se
de catequese. Treinar bem o ma- Toda leitura deve ser bem feita. Mas expressarem.
nuseio e explicar aquilo que não se um texto da Palavra de Deus exige
compreende à primeira vista. (Para cuidados especiais:

[18 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2019

maneira como Deus nos fala hoje...

Quando a turma debate o as- na turma: mau humor, moralis- É preciso ter cuidado para não co-
sunto, tem-se certeza de que algu- mos, autoritarismos, monopólio locar nossa vontade como sendo
ma coisa foi interiorizada. Usar re- da verdade, dificuldade de ouvir vontade de Deus.
cursos apropriados que ajudem a os outros.
reflexão: cartazes, faixas, álbuns É preciso distinguir o que é opi-
seriados, partilha de opiniões. En- A comunicação de retorno é mais nião pessoal, o que é doutrina ou
tendendo e interessando-se pelo as- difícil. Vai exigir do catequista certo pensamento da Igreja, que busca
sunto, o catequizando vai emitindo jeito de escutar a turma, compreen- sempre o bem de toda humanidade
a sua opinião e se comprometendo der sua realidade, suas ideias, suas conforme a vontade de Deus.
com a comunidade. opiniões, seu mundo.
A vontade de Deus será sempre
Quanto ao processo de comunicação Comunicação sem retorno é um mistério. Cada pessoa a ouvirá,
Sobretudo na hora do comentário. sempre incompleta. É como quan- a sentirá, diretamente em seu co-
A comunicação é horizontal e ver- do se envia uma carta que fica sem ração, em sua consciência. O cate-
tical. A horizontal vai do catequis- resposta. O catequizando não pre- quizando irá aprendendo a concluir
ta ao catequizando e do catequizan- cisa sair do encontro repetindo o que Deus lhe mostra, a partir de
do ao catequista. A vertical vai de tudo o que o catequista afirmou. tudo, quando se reflete no encon-
Deus ao catequizando e deste volta O importante é o catequizando se tro. Mas a comunicação de Deus ao
até Deus, em forma de adesão pes- confrontar com a mensagem pro- catequizando acontecerá sempre
soal e íntima. posta e se posicionar ou se deci- no íntimo de cada pessoa.
dir diante dela, elaborando o seu
Então, o catequista deve comu- conhecimento. Ao catequista cabe também in-
nicar-se com os catequizandos, centivar aos catequizandos a dar
saber falar uma linguagem en- O catequista deve estabelecer a uma resposta, um retorno àque-
tendida e apreciada por eles. Isso comunicação de Deus com os cate- la iluminação divina que tiver si-
supõe o catequista seguro no as- quizandos. A Palavra que se ouviu do captada a partir da reflexão da
sunto, falando com clareza, sem é Palavra de Deus. Com as devidas Palavra. Essa resposta pessoal é
atitudes que produzam antipatia proporções, é Deus falando. A tur- que vai produzir nele a mudança
ma precisa ouvir a Palavra, saben- de vida, com a adesão mais clara
do que Deus quer comunicar algo. de que ele for capaz. A melhor res-
posta à Palavra de Deus é a sim-
DEZEMBRO 2019 [ OLUTADOR]19 patia e o amor que o catequizando
aprende a ter em relação a Deus,
criando condições para que flo-
resça no coração uma atração for-
te por Deus.

Então, a Bíblia não é um manual
de dogmas, mas uma proposta
que deixa espaço para o leitor
refletir, pensar, discernir, deci-
dir. A Bíblia pede uma resposta
prática, um engajamento cons-
ciente, uma fé firme e uma cari-
dade perfeita. Essa é uma con-
quista de toda uma vida. A lei-
tura diária da Bíblia faz parte do
esforço de formação contínua
dos fiéis. E a Bíblia na cateque-
se deve ajudar a todos a desco-
brirem a maneira como Deus
nos fala hoje, aqui e agora, on-
de o próprio Deus nos colocou
para testemunhar seu amor e
sua presença libertadora.]

Juventude [ O segredo do sucesso sempre foi acolher a todos e tratá-los

FRT. DIONE AFONSO, SDN* O Rei do Show

ONATAL de 2017 foi presenteado Rei que defende a vida ajuda, mas tanto a multidão quanto
por The Greatest Showman – O filme, a certa altura, provoca uma os discípulos o fazem calar-se, pois
“O Rei do Show. É um clássico reviravolta preocupante: não só os entre eles não há lugar para “um
musical produzido pela Fox grandes e poderosos sentem-se in- cego”. Jesus pensa e age diferente:
e dirigido por Michael Gracey. O Rei comodados com Barnum e seu “Cir- escolhe os excluídos, os que estão
do Show é um enredo que traz a tra- co de Horrores”, mas começa a im- escondidos nas sombras, os que são
ma de um garoto órfão, pobre, mas pregnar na sociedade uma onda de apedrejados por suas falhas. Jesus
que nasceu cultivando um amor pu- preconceito e de ódio. As pessoas devolve a cada um a dignidade hu-
ro e nunca teve medo de ousar e de ditas “normais” começam a se re- mana. A esperança de viverem co-
apostar tudo para realizar os seus so- belar e protestam contra o circo e mo iguais.
nhos. O personagem principal, Bar- seus integrantes. Cospem, espan-
num, é estrelado por Hugh Jackman, cam e humilham-nos, pois, para Uma das filhas de Barnum e
e Barnum acredita que “a arte mais eles, na sociedade não há espaço Charity – Michelle Williams – na
nobre é fazer os outros felizes”. para o diferente. ocasião de seu aniversário pede ao
pai para fazer um pedido antes de
Rei pelos excluídos Ao olharmos para o Evangelho, soprar a vela: ela pede que a felici-
Barnum sempre depositou sua fé na Jesus também defende a vida dos dade não termine nunca. Uma fa-
felicidade do outro. Desde criança pequenos. À beira da estrada ele aco- mília que mora num apartamento
percebia que o que dava esperan- lhe o Bartimeu. O cego clama por simples, no terraço de um prédio
ça às pessoas era a alegria. A capa-
cidade de sorrir era um poder que [20 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2019
poucos dominavam e que herança
nenhuma era capaz de substituir.

O segredo do sucesso sempre
foi acolher a todos e tratá-los co-
mo iguais em qualquer lugar. Bar-
num incomodou os teatros orna-
dos de requinte e peças regadas de
luxo, dinheiro e pouco acessíveis à
população pobre dos Estados Uni-
dos. Mas Barnum não era esse tipo
de artista. Ele acreditava na força
do diferente, do extraordinário, do
sensacional. E ele foi atrás daqueles
que a sociedade escondia, porque
eram “aberrações”. Ao trazer essas
pessoas para os holofotes, os gran-
des ficaram incomodados.

As pessoas saem do seu teatro
mais felizes, sorrindo, e com uma
esperança radiante no rosto. E is-
so é sensacional. “Colocar gente de
todos os tipos no palco, de todas as
cores, formas, tamanhos, e tratá
-los como iguais, qualquer crítico
chamaria isso de uma celebração
da humanidade”. Barnum torna-se
um showman não por seu talento,
mas porque ele reconheceu o talen-
to no outro. Ele pegou o que é espe-
cial em cada um e deu a eles a dig-
nidade de ser gente.

como iguais em qualquer lugar...

co nos alerta que os jovens podem
correr o risco de pensar que a mis-
são, a vocação, ou até mesmo a pró-
pria vida possa ser apenas útil para
o futuro. E que nada tem a ver com o
presente e que, no final das contas,
apresentamos pra vocês um “futu-
ro de laboratório”.

É PRECISO
ACORDAR
OS NOSSOS
JOVENS

w e o Rei da VIDA Concluímos com o Papa: “essa
é a ficção da alegria. Não é a alegria
pobre, entre lençóis de um subúr- ou com anomalias. Barnum acorda do hoje, do concreto, do amor”. As-
bio do século XIX. Sua filha, ao ver em cada uma dessas pessoas o que sim, com esta ficção da alegria, nós
o pai não tendo sucesso com a casa elas têm de extraordinário: a vida! os escondemos nas sombras. “Nós os
de teatro da cidade, o aconselha-o: adormecemos para não fazerem ba-
“o senhor precisa encontrar pessoas “Por sermos diferentes, nossa rulho, para não incomodarem, pa-
extraordinárias, papai, e despertar própria família nos escondeu, te- ra não nos questionarem, para não
nelas o que têm de mais especial”. ve vergonha de nós. Barnum nos questionar as nossas ações. Nisso, os
tirou das sombras e nos deu hu- vossos sonhos ficam escondidos, per-
O Reino se faz do extraordinário manidade e esperança de viver. Ele dem altitude, começam a adormece-
Despertar nas pessoas a vida que ca- nos deu uma família de verdade. rem” como se tivessem comido a maçã
da um carrega dentro de si. Quando Uma família que se alegra em nos envenenada da bruxa má e tornam-
ateiam fogo no teatro pelo precon- ter por perto.” Esse é o projeto do se jovens cheios de ilusões rasteiras,
ceito e ódio daqueles que não aceita- Reino que Jesus inaugura: acordar pequenas e tristes. “Tudo isso porque
vam os que eram diferentes, e serem em todos o direito por “vida plena” consideramos como jovens do futu-
tratados como iguais na sociedade, (Jo 10,10.) ro e que o agora de vocês ainda não
o filme destaca temas sociais como chegou; que são demasiados jovens
o preconceito contra os negros, con- Somos convidados a despertar o para se envolverem no sonho e cons-
tra as mulheres, contra os “doentes” extraordinário em nossos jovens: a trução do amanhã. E assim segui-
vida que cada um carrega, seus so- mos escondendo-os, ludibriando-os”.
nhos, seus sorrisos. Papa Francis-
Não! Não podemos agir assim,
DEZEMBRO 2019 [ OLUTADOR]21 é preciso acordar os nossos jovens,
não esconder os sonhos deles, des-
pertar neles o extraordinário de cada
um: “é preciso que se rebelem por-
que os jovens são chamados a viver
o agora de Deus”.

Para rezar e discutir em grupo
A partir de João 10,1-10, refletir sobre
a vida plena para todos. Onde nos-
sos jovens são excluídos? E o que po-
demos fazer para despertar neles o
extraordinário dentro de cada um?]

*[email protected]

Encontro Matrimonial [ Reflexão...

Jesus queria que os Seus segui-
dores estivessem muito conscien-
tes de que o Primeiro Testamento já
pertencia ao passado. Contudo, de-
sejava que todos tivessem a clareza
necessária para perceberem que o
Reino de Deus estava chegando. Na
verdade, ele já estava presente. Por
isso mesmo, acrescenta que “vinho
novo se coloca em odres novos, e as-
sim os dois se conservam”. (Mt 9,17.)

Percepção Especial para sacerdotes
sincronizada Enquanto Jesus estava mostran-
do a presença do Reino e a atua-
PE. JACOB, MSF to enquanto o noivo está com eles?” ção de Deus na vida do povo, os ju-
(Mt 9,15.) Com certeza, eles ficaram deus estavam mais preocupados
NEM SEMPRE temos a sensibi- devendo. Com certeza, ainda não ti- com práticas religiosas tradicio-
lidade necessária para per- nham a percepção suficiente para nais como o jejum. Mesmo que a
ceber, não apenas os sinais descobrirem o alcance dessa colo- história e a tradição, bem como as
do Reino, mas, sobretudo, o cação do Nazareno. práticas religiosas em geral, pos-
seu acontecer diário. Por vezes, co- suam seus valores, convém culti-
mo os discípulos de João Batista, Por isso mesmo, o Mestre tenta var uma sensibilidade mais acura-
nós ainda não estamos suficien- aguçar a sua perspicácia ao revelar- da para percebermos o que existe
temente afinados com as coisas de lhes: “Dias virão em que o noivo se- de mais importante nos valores do
Deus. Ficamos bem mais preocupa- rá tirado do meio deles. Então, sim, Reino. Estes estão presentes no dia
dos com as aparências e exteriori- eles jejuarão”. (Mt 9,15.) Talvez, nem a dia. Se assim não agirmos, cor-
dades que com o essencial. mesmo assim tenham chegado ao remos o risco de reduzir até mes-
que Jesus deles estava esperando. mo a Eucaristia a uma mera prá-
Os discípulos do Batista, mais que tica religiosa. Corremos o risco de
bem intencionados, aproximaram-se O Nazareno, então, aproveita a estar apenas colocando remendo
de Jesus e lhe perguntaram: “Por que oportunidade para ajudá-los a perce- novo em pano velho.
razão nós e os fariseus praticamos berem que algo novo e bem distinto
jejuns, mas os teus discípulos não?” estava acontecendo: “Ninguém coloca Ainda hoje esta mensagem é
(Mt 9,14.) Eles, em vez de perceberem remendo de pano novo em roupa velha, por demais importante e significa-
Jesus, e nele, a grande manifestação porque o remendo repuxa a roupa e tiva. Quantas vezes perdemos tem-
do Reino e se alegrarem com a sua o rasgão fica maior ainda”. (Mt 9,16.) po em discussões inúteis e estéreis!
presença, estavam mais preocupa- Em vez de tentarmos aprofundar o
dos com coisinhas como o jejum. Para melhor ainda ressaltar a que de fato interessa em evangeli-
mensagem, o Mestre aduz: “Tam- zação, ficamos discutindo este ou
Aguçar a percepção bém não se coloca vinho novo em aquele vocábulo e criando obstá-
Disse-lhes Jesus, certamente, não odres velhos, senão os odres se ar- culos à verdadeira atuação do Es-
sem certa surpresa: “Por acaso, os rebentam, o vinho se derrama e os pírito Santo. Com isso, estaremos
amigos do noivo podem estar de lu- odres se perdem”. (Mt 9,17.) colocando remendo novo em pa-
no velho.
[22 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2019
Sugestão para o Diálogo Diário:
- Encaro as mudanças, especialmen-
te na Liturgia e na Catequese, como
oportunidades para uma verdadei-
ra atualização do Reino?

- Como me sinto? O que penso?
O que faço? Como estão minhas ne-
cessidades e o que proponho fazer
para melhorar?]

Família Julimariana [ Em saída...

IR. ZELY DE PAULA - SACRAMENTINA DE NOSSA SENHORA

de mEmistseãrroa
DEUS nos fala e nos presen-
teia de mil modos: na sorte Tive possibilidade de me encontrar
e na desventura, no êxito com grupos, como Terceira Idade, Ter-
e no fracasso, no prazer ço dos Homens, jovens que se prepa-
e na dor, na alegria e na ram para o sacramento da Crisma etc.

Grupo animado, o da Terceira

tristeza; em dias ensola- Idade! Participa da reflexão e par-

rados e em dias chuvosos... Sempre! tilha sua experiência. Gente alegre,

Ele nos toca, nos fala, nos oferece o cheia de vida e festeira. Passeiam,

dom do seu amor. Pena que às ve- festejam e, na dança, dão show. Ce-

zes estamos distraídos demais ou lebram a vida, mesmo enfrentan-

focados em outro ponto de interes- do as dificuldades da caminhada.

se pessoal e não nos damos conta... E a gente, que vai a uma turma as-

Estar em Alvarães, Amazonas, foi sim, para refletir a Primeira Carta de

um presente de Deus! Partilho com vo- João, “amemos porque Ele nos amou

cê, leitor (a), um pouco dessa experiên- primeiro”, percebe que esse amor é

cia, de passar um mês na Prelazia de vivenciado por aquela gente feliz.

Tefé; de conviver com o povo das águas Outro grupo que me chamou a

e das florestas, amante da terra e da atenção foi o do Terço dos Homens.

natureza, profundamente religioso. Bonito sentir que, depois de um dia

Gente simples, acolhedora e ale- de trabalho e de luta, lá estão eles

gre. Gostam de festa e sabem feste- reunidos para louvar a Mãe de Je-

jar. Gente de espírito religioso, de sus. Com que entusiasmo e pron-

trabalho e de luta. Em visitas e con- tidão marcam presença nessa de-

versas, os valores que revelam a fé voção a Maria! Com eles refletimos

e a esperança são explicitados com também a Primeira Carta de João.

espontaneidade e simplicidade. E que acolhida à Palavra de Deus!

As Irmãs Sacramentinas de Nos- Aos domingos, o encontro com

sa Senhora estão em Alvarães desde os crismandos. Vinte e cinco jovens

2012. Atualmente apenas duas: Irmã que se preparam para acolher a un-

Ana Maria e Irmã Renata, no esforço ção do Espírito Santo no Sacramen-

de serem presença e responderem to e o envio à missão.

às exigências da missão. No dia 24, em Tefé, participamos

Nesse tempo, com as águas em bai- com o povo de Deus da Celebração de

xa, há dificuldade de mobilização em Envio de D. Fernando, Bispo da Pre-

embarcações para presença nas Comu- lazia, ao Sínodo da Amazônia. Ali, a

nidades Ribeirinhas, que ficam isoladas. marca da presença missionária dos

O mês de setembro foi o meu Religiosos Espiritanos.

tempo de experiência nessa terra O setembro se foi e o meu tem-

abençoada. Mês da Bíblia, uma ri- po no Amazonas também. Porém,

ca oportunidade de refletir a Pala- voltei enriquecida com a experiên-

vra de Deus. Neste ano, a Primeira cia. E agradecida: às Irmãs de mi-

Carta de João, com o tema: “Para nha Comunidade, às Irmãs que me

que nele nossos povos tenham vi- acolheram e me ofereceram espaço

da” e o lema: “Amemos porque Ele para essa experiência; a Deus, por
nos amou primeiro”. este presente, por esta graça!]

DEZEMBRO 2019 [ OLUTADOR]23

Espiritualidade [ Alegria...

DOM PAULO MENDES PEIXOTO*

ACHEGADA de Jesus na noite de Natal tem o simbo-
lismo de uma grande alegria, conforme está ex-
presso nas significativas palavras do profeta: “Ale-
grai-vos, o Senhor está próximo” (Sf 3,14). A vin-
da ao mundo do Filho de Deus marcou profundamente

a história dos novos tempos, conseguindo transformar

a expectativa do povo do passado em realidade de uma

presente alegria.

Todas as pessoas têm momentos de alegria, mas

nem todos eles são totalmente verdadeiros e duradou-

ros. Só Deus é capaz de proporcionar alegria consisten-

te, aquela que sai de dentro do coração e contamina po-

sitivamente os que se encontram nos arredores. É jus-

tamente nesta circunstância que está o sentido real das

Festas natalinas, porque Deus está presente na Pessoa

de Jesus Cristo.

A vida tem momentos de tristeza, de angústia e

até de revolta. Foi o que aconteceu com o povo de Deus

preso no Exílio da Babilônia. A baixa autoestima dos re-

manescentes foi superada por uma convicção firmada

nas palavras dos profetas. Deus passou a ser reconhe-

cido e tomou posso do coração das pessoas. Daí surgiu

uma nova realidade, conseguindo recuperar o humor

até então perdido.

É triste quem não consegue vivenciar a presença

alegre de Deus no coração. A vida não pode ser fonte de

tristeza, porque ela pertence e está nas mãos do Criador.

As atitudes de tibieza podem causar tristeza e desânimo

na conquista de uma vida feliz e alegre. Tudo depende do

poder de humor da pessoa para conseguir chegar a uma

vida saudável, mesmo tendo que enfrentar dificuldades. Tempo
alegria
A vida humana, nos últimos tempos, vem enfren-

tando as imposições dos diversos tipos de opressores,

e eles estão por todos os lados, espalhados na socieda-

de. Olhando por outro ângulo, há motivos também de da
encorajamento, que causam sublimação dos reais atos
de ignorância e desmotivadores da autêntica alegria. A
proximidade do Natal é motivo de incentivo para uma

vida positiva.

Falar de alegria é olhar para os valores éticos, por-

que são apoiados na solidariedade, na partilha, na jus-

tiça, como também na forma, sem abuso, de exercer o

poder. Assim foi o reinado de Jesus Cristo, de comunhão

e serviço ao povo, principalmente àqueles mais caren-

tes e injustiçados. É Ele quem conduz a história e faz

acontecer a alegria no coração daqueles que fazem op-

ção sincera por Ele.]

*Arcebispo de Uberaba, MG

[24 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2019

Liturgia [ O despertar da fé...

SERGINHO VALLE*

Celebrações terapêuticas

ou celebrações da fé?
AIGREJA tem registro de curas
acontecidas durante celebra- Na prática, do ponto de vista celebrativo, ponsáveis pela preparação das cele-
ções litúrgicas. Hoje, se faz pro- estou falando do perigo da instrumen- brações, as equipes de celebrações,
paganda de celebrações com talização da Liturgia. Esta pode ser ins- saibam conduzir o coração dos ce-
promessas terapêuticas e curas físi- trumentalizada para servir a interesses lebrantes ao coração do Mistério da
cas e espirituais. Não se duvide de que políticos e sociais, como tem aconteci- fé. É a dinâmica mistagógica que,
Deus possa agir no decorrer de uma do, e pode ser instrumentalizada com na prática, significa conduzir para
celebração litúrgica. Tenho participa- promessas terapêuticas e curativas. De dentro do Mistério da Salvação. Não
do de muitas curas espirituais no Sa- um modo ou de outro, é sempre ins- para dentro do misterioso, mas pa-
cramento da Reconciliação e, até mes- trumentalização, o que implica con- ra dentro da ação divina, onde acon-
mo, curas físicas em celebrações da siderar uso equivocado da Liturgia. tece o Reino de Deus. Neste caso, o
Unção dos Enfermos. O mesmo acon- sofrimento pode ser acolhido como
teceu em celebrações eucarísticas. Despertar a fé parte do caminho da vida pessoal e
Minha interrogação vai na direção da Uma das finalidades inerentes na não usado para desafiar a Deus com
pretensão de realizar celebrações com celebração da Liturgia é o desper- milagres, como tem acontecido com
promessas de curas e milagres. Con- tar da fé. Repito: finalidade ineren- Jesus, como narrado em Mt 16,1-4.
sidero que ninguém pode ter controle te, porque toda celebração serve pa- Mais que promover celebrações te-
de pretender que Deus aja para curar ra despertar e fazer crescer a fé, em rapêuticas com promessas de curas,
“naquela celebração”, marcada para primeiro lugar. Despertar, animar é preciso compreender que toda ati-
“aquela hora” e com alguns ritos in- e alimentar a fé. Toda celebração vidade de serviço divino em favor
troduzidos – nem sempre litúrgicos litúrgica é, neste sentido, um mo- do povo – como se entende pela eti-
– em alguma celebração particular. mento para confirmar a fé. E isso mologia da palavra “Liturgia”, que
Ninguém pode controlar o Espírito de vale especialmente quando celebra- é “serviço a favor do povo” e “servi-
Deus, que age na liberdade e não com mos com irmãos e irmãs debilita- ço do povo dirigido a Deus” – reali-
agendas de data e hora marcadas. [...] dos fisicamente ou espiritualmente. za-se na liberdade do Espírito. Que-
Algumas celebrações transmitidas rer programá-la para finalidades ou
na mídia exageram em promessas Não se pode perder este aspecto, pois, interesses humanos, por mais jus-
de milagres e curas de todo tipo. Não em casos extremos, existe sim, o risco tos e benevolentes que sejam, é algo
tenho o direito de emitir julgamen- de instrumentalizações com fins bei- que, ao meu ver, não nos compete.
to, mesmo porque todo julgamento rando a “efeitos mágicos”, o que não Em situações de crises, físicas ou es-
sempre recai em ressaltar o negati- tem nada a ver com celebração litúrgica. pirituais, a celebração é fonte para
vo; é preciso reconhecer que muitas discernir qual a vontade de Deus em
dessas celebrações, sempre com for- Seria muito triste se assim acon- todos os momentos de nossas vidas
te acento emocional, têm sido cami- tecesse ou se ritos fizessem su- ou num momento existencial em par-
nho de conversão pela cura espiri- por um conceito próximo a isso. ticular. Se Deus quiser agraciar-nos
tual para muitas pessoas. Não julgo, Um modelo para compreendermos com sua bênção curativa, bendito seja
mas constato este fato no que diz res- bem este aspecto encontra-se no epi- o seu nome pelos séculos dos séculos!]
peito ao aspecto psicológico da emo- sódio dos discípulos de Emaús (cf. Lc
ção, que é sempre passageiro e, por 24,13-35). Debilitados espiritualmente Fonte: Serviço de animação litúrgica - liturgia.pro.br
isso, passível de equívoco. No que se em suas esperanças, os discípulos re-
refere às curas espirituais, a Dire- tornam de onde partiram. A Liturgia
ção Espiritual e os místicos da Igreja da Palavra, realizada com Jesus no
insistem na necessidade de entrar caminho até a pousada, e a partilha
e fazer o caminho do discipulado. A do pão reacenderam neles a fé, res-
conversão de São Paulo é um bom tabelecendo a esperança no coração
exemplo disso. e tornando-os missionários e anun-
ciadores do encontro com o Senhor.
Para isso acontecer em nossas ce-
lebrações, é importante que os res-

DEZEMBRO 2019 [ OLUTADOR]25

Atualidade [ Jesus...

ANTÔNIO CARLOS SANTINI

EGUNDA metade dos anos 80. Esse incômodo

SUm casal do ECC fala do fi- Salvador...
lho, mau estudante, rebelde
e cercado de más compa- Quando Jesus entra na vida de alguém,
nhias. Pedem que eu tenha passa a incomodar muita gente.
uma conversa com o ado-
lescente. Acho que tivemos duas ou Aqui e ali, a mídia anuncia ten- desordem estabelecida, e que os lou-
três “conversinhas”. Foi fácil no- tativas de arrancar os crucifixos da cos continuem loucos, antes que aco-
tar que era um bom garoto, mas parede de locais públicos, em no- lher esse tal perturbador e correr o
de alma vazia. Encaminhamos o me do espírito republicano ou da risco de sua companhia. E diz mais:
diálogo para a pessoa de Jesus Cris- igualdade entre os credos. Em uma “A partir do momento em que Jesus
to. Sugerimos a leitura do Evan- cidade próxima do meu quintal, o intervém de maneira muito concre-
gelho. Parece que o garoto gostou juiz da comarca mandou amarrar ta e mexe com a tranquilidade ordi-
da proposta. o badalo do sino da igreja, proibin- nária da existência deles, é melhor
do os chamados para a missa. No mantê-lo à distância, pois será im-
Um mês depois, voltam os fundo, o mesmo incômodo com a possível dormir tranquilo com ele por
pais. Embora o filho tivesse dei- presença do Crucificado. perto se os loucos se tornam sábios e
xado as más companhias e mos- os porcos se lançam no mar”.
trasse mais dedicação na escola, Como escreve Hébert Roux, pre-
eles tinham outra queixa: o filho ferem permanecer com seus pos- Pobre Cristo! Nunca imaginou
estava lendo demais a Bíblia. Nem sessos e seus doentes, preferem a que seria essa presença incômoda!]
queria ver televisão. E rebatiam:
“Assim não dá...” [26 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2019

Apenas um episódio entre tan-
tos outros, mas com uma cons-
tante que se repete: quando Jesus
entra na vida de alguém, passa a
incomodar muita gente. Mesmo
sem fazer nenhum discurso de pro-
selitismo, o “convertido” incomo-
da simplesmente por assumir um
novo modelo de vida. Acaba sen-
do uma denúncia silenciosa pelo
contraste com a vida mundana.

Há uma passagem do Evangelho
que sempre me chamou a atenção.
Em Mateus 8, 28ss, Jesus expulsa
os demônios que possuíam dois
homens na região dos gadarenos.
Como os maus espíritos fizessem
o pedido, Jesus autorizou que eles
entrassem nos porcos que pasta-
vam junto à falésia do mar. De ime-
diato, o rebanho se precipitou no
abismo e os animais morreram.

Informados do acontecido, vie-
ram os gadarenos e suplicaram a
Jesus que se retirasse de sua re-
gião. Era uma presença incômo-
da para eles. Sim, Jesus curava os
doentes, libertava os endemonia-
dos, mas... dava prejuízo...

MARIA CLARA BINGEMER Atualidade [ O problema universal...

A HUMANIDADE MAIOR QUE OS NACIONALISMOS

Saber que a Amazônia vem sendo agredida com seguidas e vastas queimadas não é um problema do Brasil. É um problema universal.

CHARLES LOUIS DE SECONDAT, ba- do planeta, vem sendo agredida com francesa e brasileira. A reunião do G7
rão de La Brède e de Montes- seguidas e vastas queimadas não é aconteceu em meio à polêmica. O pre-
quieu – mais conhecido sim- um problema do Brasil ou das nove sidente Macron, como porta voz do co-
plesmente como Montesquieu nações em cujas áreas se encontra a letivo reunido, em uma atitude bas-
– filósofo e jurista francês e ilustre re- Amazônia. É um problema universal. tante louvável, assumiu postura con-
presentante do Iluminismo do sécu- ciliadora, oferecendo uma soma im-
lo XVIII, é autor de uma frase que me A mobilização do mundo intei- portante ao Brasil para combater os
marcou desde os primeiros estudos ro com a proporção aumentada das incêndios na Amazônia.
na Aliança Francesa em meu antigo queimadas, portanto, é mais que com-
e amado Colégio Sion: preensível, louvável. E mais ainda o Leio, porém, perplexa que tal ofer-
é quando nações estrangeiras ofere- ta não será aceita? Apenas se o pre-
“Se eu soubesse de algo útil à mi- cem ajuda para minimizar os noci- sidente francês pedir perdão? Caros
nha nação, mas nocivo a outra, eu não vos efeitos desses incêndios que tanto presidentes, pedir perdão é sempre
a proporia a meu príncipe. Porque sou ameaçam, agridem e ferem de morte uma atitude nobre, mas pelo que me
homem antes de ser francês ou bem a vida em todas as suas formas, in- parece do caso em pauta, ou o perdão
porque sou necessariamente homem, clusive a humana. é de parte a parte ou a oferta de aju-
não sendo francês senão por acaso”. da já é um gesto conciliador que dis-
Antes da atual crise, países como pensa outras explicitações. Não seria
A crise das queimadas na Amazô- a Alemanha e a Noruega doavam so- o momento de pensar mais no bem
nia que vive o Brasil nos últimos tem- mas importantes para a preservação do comum e menos no amor próprio fe-
pos me trouxe de volta esta frase tão bioma amazônico. A política do atual rido e em um suposto “nacionalismo”
luminosa em sua sabedoria e válida governo brasileiro foi por eles contes- ameaçado? Não seria o momento de
através dos tempos. A pertença à hu- tada e a generosa contribuição amea- reagir não segundo a nacionalidade,
manidade é e tem de ser maior que na- çada de ser retirada. A resposta do Bra- mas segundo a condição humana que
cionalismos, regionalismos ou qual- sil surpreendeu. Nela não se percebia é comum a todos?
quer “ismo” que se atravesse no cami- desejo de escuta e muito menos gra-
nho de sua universalidade. tidão, mas um nacionalismo exacer- Às sábias palavras de Montesquieu
bado que parecia significar dispensar poderíamos adicionar as de Chico Men-
A Amazônia arde, queima. Há tem- a ajuda oferecida. des, herói inconteste do meio ambien-
pos já que as chamas ameaçam devo- te, mártir da causa ecológica: “No iní-
rar a floresta. E o mundo se manifesta, Recentemente, quando explodiu cio eu defendia os seringueiros, de-
demonstrando algo que o Papa Fran- o alerta sobre as queimadas, o diálo- pois compreendi que devia defender
cisco afirma em sua encíclica Lauda- go endureceu com a França e o pre- a natureza e, por fim, percebi que de-
to si. O universo é nossa casa comum. sidente Emanuel Macron. Este con- via defender a humanidade”.
A terra é nossa mãe. Se não a cuida- testou a política ambiental do Brasil,
mos, pior ainda, se a agredimos, fica- houve resposta e discussão. O confli- É da humanidade que se trata, se-
remos não apenas sem a natureza e tivo diálogo perdeu-se em acusações nhores. Não de tal ou tal nação. Somos
suas belezas e benesses. Nós com ela desnecessárias, além de comentários brasileiros ou franceses por acaso e
morreremos, pois nossa vida e nosso equivocados, que chegaram a envol- humanos constitutivamente.]
destino estão indissolúvel e inapela- ver até mesmo as primeiras damas
Fonte: Dom Total

velmente ligados ao seu.

Desde que o Criador fez Adão do

barro e da terra, e soprou em suas na-

rinas o hálito divino, a humanidade é

chamada a habitar o universo criado

e dele cuidar com desvelo e carinho.

Da natureza vem o alimento que co-

memos e a água que bebemos, a bele-

za que vemos, os sons que emitem os

seres vivos e chegam a nossos ouvi-

dos, os perfumes diversos do mundo

vegetal e animal e, por fim, mas não

por isso de menor importância, o ar

que respiramos.

Por isso, o que acontece com a na-

tureza nos afeta a todos e deve convo-

car-nos inapelavelmente a agir quan-

do esta se encontra ameaçada. Saber

que a Amazônia, a maior área verde

DEZEMBRO 2019 [ OLUTADOR]27

Crônica [ Maria

MINHA FILHA aquelas cores, no quadro de nossas fiquei triste, sendo alegre, eu fiquei
“Tão prematuramente me fora roubada, janelas. Qualquer uma que se abris- parada, tendo rodinhas nos pés...
com tamanha e rápida sutileza. se, lá estavam os pés de manacás.
Tanto encanto aos céus fora levado, Como esquecer aquela cena que
cheios de meiguice, doçura e pureza. E um dia, sem mais nem me- os caixeiros da loja resolveram fa-
Sem consolação, e triste e desolado, nos, minha irmãzinha de qua- zer, tentando nos livrar da triste-
aqui na terra, sem carinho, sem lugar, tro anos se foi para sempre. Di- za pela falta da Neném?
lamentando sua falta entre nós, em brado, ziam: “Brincou até à hora de dor-
consolados com a fé, com a dor, sem chorar. mir e, no outro dia, estava com Gente grande não pensa mes-
Serei, um dia, com tua graça, recompensado febre, febre, febre... A meningi- mo como gente pequena... Fizeram
com infalível, inexorável chamado, te a levou!” uma grande fogueira com as roupi-
recebendo o que Deus Onipotente doou. nhas de minha irmã... Havia esse
E, lá no céu dos justos, unidos, juntinhos, Meus cinco anos eram cem, du- costume – quase um rito – de que as
Pai e filha em quieto e bom cantinho, zentos, eu fiquei velha sem ser... Eu tristezas e o luto iam embora com
Gozaremos o que a avara terra negou.”
Manacás
(Osório Caetano da Cruz, meu pai – 1942)

***

Como esquecer que é novembro, se
meus pés de manacá estão pesadi-
nhos de estrelinhas pintadas em
vários tons de lilás, como?

Como esquecer que é novem-
bro, se as fotografias antigas me
chamam com olhos vivos, e sorri-
sos alegres, como?

Já novembrei muitos novem-
bros e meu coração é um homem
da roça que sonda o tempo e adi-
vinha se vai chover, se vai dar en-
chente, se vai ter fartura...

Meu coração vive em novembro,
desde que as primeiras nuvens es-
curas anunciam as chuvas de fim
de ano.

Meu coração novembra em qual-
quer tempo, isso é a verdade: maio
é novembro, mesmo com anjos no
altar. Junho é novembro, mesmo
com bandeirolas caipiras e roupas
de chita dançando na praça. Dezem-
bro é novembro, embora o Jesusi-
nho esteja no seu bercinho de pa-
lha... Todos os meses do ano - ape-
sar das alegrias de cada um - lem-
bram-me que é novembro...

E, agora, meu pés de manacá
estão carregadinhos de estrelas...

Mamãe nunca deixou de plantar
manacás. Sempre aquele perfume,

[28 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2019

as chamas... Levaram as crianças não tinha os olhos vermelhos de HUMOR
para fora de casa, mas eu voltei a sangue... Nós começávamos a fa-
tempo de ver o segredo: as botini- zer guisadinho, a vida começava PERDEU A CLIENTE
nhas cor-de-rosa, as meias de ren- a dizer que o caminho era grande – Dona Marocas, aqui é o Meireles, de-
da, os vestidinhos rodados, a bone- pela frente. Vivêssemos... tetive particular da “Espia Eletrônica”.
ca de celuloide, tudo ardendo no fo-
go, bem perto de uma roseira que Mamãe escolheu uma latada de – Oi, seu Meireles! Está seguindo
se escondia atrás da fumaça para manacá. O pé estava todo lilás, to- o meu marido conforme combinado?
não assistir o adeus às heranças de do roxinho, quase não se via o ver-
uma menininha... de das folhas... – Sim! Positivo e operante! Ele es-
tá no shopping neste momento, abra-
Depois, depois, mamãe já es- O Bené carroceiro teve que pe- çado a uma gorda horrorosa com ca-
tava começando a sorrir, papai já dir ajuda a um dos caixeiros para ra de javali... Vou mandar as fotos.
colocar o mimo na carroça... o pre-
sente para a Neném... E, muitas ve- – Quem está com ele sou eu...
zes, vi que o Bené limpava os olhos
com as costas das mãos... CUMPRINDO ORDENS
O coronel que servia como inspetor-
Ficamos todos juntos no alto do geral dava atenção especial a fardas
passeio, pai, mãe, irmãos, Ana, Ma- impecáveis. Certa vez, ele flagrou um
drinha Maria, caixeiros e fregueses recruta fora da norma.
– foi uma outra despedida...
– Recruta, o que você deve fazer
Ficamos ali, parados, dando quando o bolso da camisa está desa-
adeus para as flores... Bené nem botoado? – perguntou ele.
tinha coragem de dar ordens - em
voz alta - para o cavalo; só com as Espantado, o rapaz respondeu:
rédeas, o animal entendeu que era – Devo abotoá-lo, senhor!
para andar... E começou, lentamen- O coronel olhou-o bem nos olhos
te, adivinhando que carregava uma e disse:
encomenda preciosa... – E então?
Com isso, o recruta estendeu os
Ficamos juntos, abraçados uns braços nervosamente e abotoou o bol-
aos outros, até a carroça sumir lá so da camisa do coronel.
longe, com a latada de manacás...
MAL MENOR
- Como posso esquecer que é no- O jovem espertinho se apresenta ao
vembro, se meu coração não se es- recrutamento militar.
quece das estrelas batendo as cabeci-
nhas ao compasso da carroça, como – Algum problema de saúde? –
se dessem adeus para nós, como? pergunta o sargento.

Toda a Estrela chegava às portas – Bem... acho que não vou servir
e janelas, todo mundo parava para pra soldado, tenho muita dificulda-
ver o desfile das florezinhas roxas de em erguer os braços.
adeusando pelas ruas empoeira-
das. Todos em silêncio, quase uma – Ora, isso não atrapalha. A me-
oração, como se a carroça fosse um nos que, na guerra, você tenha que
andor carregando uma santa em se render...
procissão pelas ruas.
RAZÃO DA ESCOLHA
Já novembrei muitos Finados, – Por que você quis entrar para a Ae-
já novembrei muitos adeuses. ronáutica, e não para a Marinha?

Em cada novembro, todos vol- – É simples: tudo o que sobe tem
tam, com seus gestos, suas falas, de descer... mas o que desce nem sem-
seus abraços, suas ternuras e meu pre tem de subir...]
coração até pensa que é Natal...

Então, meu coração renasce
com o Menininho que acabou de
(re) nascer... Ele nos ensina que o
ano, a vida não é feita só de novem-
bros e adeuses...]

DEZEMBRO 2019 [ OLUTADOR]29

Páginas que não passam [ Busca constante...

O bem-aventurado gente, o perfume da vida produzi-
do por teu Espírito Santo, guardião
JOÃO DE DALYAATHA da pureza daqueles que o amam!

ELIZ aquele que fixa os olhos con- queimam em sua força purifi- Feliz aquele que esquece as com-
cadora! panhias do mundo, entretendo-se
Ftinuamente sobre ti, ó meu Pa- contigo, pois todas as suas necessi-
raíso que apareces em mim! Ó Feliz aquele cujos pensamen- dades são cumuladas por ti!
árvore da vida, em meu cora- tos são reduzidos ao silêncio pela
ção, a todo momento me inflamas preocupação contigo, pois o Espí- De fato, tu és seu alimento e sua
com teu desejo! rito faz brotar nele rios de vida pa- bebida. Tu és sua alegria e seu con-
ra seu gozo: para o seu e para o da- tentamento. Tu és sua vestimenta, e
Feliz aquele que que te busca em queles que têm sede de sua visão. é de tua glória que sua nudez é reves-
si mesmo a todo momento, pois é tida. Tu és sua morada e a habitação
dele mesmo que flui a vida para ele, Feliz aquele que mescla ao seu sono onde ele encontra repouso, e em ti
a fim de que nela se deleite! o pensamento de ti, pois os demônios ele entra para se abrigar a todo tem-
que sujam os preguiçosos com fétidas po. Tu és o seu sol e o seu dia, e é em
Feliz aquele que, a todo tempo, imaginações se afastam dele com terror! tua luz que ele vê os mistérios ocul-
traz em seu coração a lembrança tos. Tu és o Pai que o gerou, e como
de ti, pois também sua alma se em- Feliz aquele que estende seu lei- um filho ele te chama “Pai”. Tu lhe
briaga de tua doçura! to na admiração incessante de teus deste o Espírito de teu Filho em seu
mistérios e ali repousa silenciosa- coração, e este deu-lhe a liberdade
Feliz aquele que te procura em mente na maravilha que eles provo- confiante de pedir-te tudo o que é teu,
seu próprio ser, pois seu cora- cam, pois dela exala também, para como um filho a seu pai. E em ti que
ção se torna ardente de teu fo- a alegria do coração de quem é dili- ele acha companhia permanente, já
go, e sua carne com seus ossos que não conhece outro pai fora de ti.
[30 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2019
Tu estás unido à sua alma, tu
te misturaste os seus membros, tu
brilhas em teu espírito e o cativas
para que ele se encante com tua vi-
são. Tu fazes calar os movimentos
de sua alma pela veemência de teu
amor e transformas o desejo de seu
corpo pela grandeza de tua doçura:
ele sente teu perfume como a crian-
ça que respira o de seu pai, e o odor
de tua graça exala de seu corpo co-
mo se desprende do corpo da crian-
ça o odor de sua mãe. A todo mo-
mento tu o consolas com tua visão.

Quando ele come, ele te vê em
seu alimento. Quando ele bebe, tu
resplandeces em sua bebida. Quan-
do ele chora, tu apareces em suas
lágrimas. Em todo lugar para onde
olha, ele te vê, de modo que de to-
dos os lados aumentas sua beatitu-
de, nem existe ninguém que não o
proclame bem-aventurado.]

JOÃO DE DALYATHA [Séc. VIII] foi um monge sírio, con-
siderado como um dos maiores autores místicos da
Igreja Siríaca. Conhecido pelo nome de Aragawi Man-
fasawi, isto é, “o Ancião espiritual”, seus escritos, prin-
cipalmente cartas, revelam um homem cuja doutrina
se fundamenta diretamente na experiência, em uma
vida mística que ele formula em estilo bem pessoal,
cheio de lirismo, sem o cuidado de sistematizá-la, com
a nítida sensação de que a linguagem não chega a ex-
primir o âmago da vida espiritual.

Roteiros Pastorais

Leitura Orante 32 • Tudo em Família 33
Dinâmica para Grupo de Jovens 33
Catequese 34 • Homilética 36

DEZEMBRO 2019 [ OLUTADOR]31

Leitura Orante [ Reflexão...

“O tempo
está próximo...”

A. Situando o texto (Lc 21,8b.) D. O que o texto nos faz dizer a Deus?
Jesus nos mostra que Deus não po-
de ser manipulado. O “tribunal” de quele tempo. Eles fazem parte do ca- 1. Senhor, abençoai o vosso povo que
Deus é para todos. Não traz favore- minho de todos aqueles que se pro- enfrenta todas as tribulações do ca-
cimentos para uns e deixa outros põem ser fiéis discípulos de Jesus. minho, ao se colocar em busca da
de fora. O julgamento é para a ter- Com uma linguagem semelhante salvação, da paz e da justiça. Nós
ra inteira. Mas somos chamados ao livro do Apocalipse, indica tem- vos pedimos:
a estar atentos e caminhar perse- pos difíceis, de perseguição. Ao fa-
verantes e firmes na fé, pois em lar das catástrofes, elas não devem Todos: Senhor, fazei de nós profetas
Deus, justiça e misericórdia andam ser tomadas ao pé da letra. A fina- da Esperança.
juntas e não são contrárias uma à lidade da linguagem apocalíptica é
outra. Deus é justo sendo miseri- animar e fortalecer a resistência dos 2. Senhor, dai-nos a sabedoria de dis-
cordioso, e é misericordioso sendo que são perseguidos. Em meio às cernir os sinais dos tempos e conti-
justo. Vamos ouvir o que o Senhor dificuldades e perseguições, é pre- nuar perseverantes na fé. Nós vos
vem nos falar. ciso ter firmeza na caminhada pa- pedimos:
ra continuar dando testemunho e
Cantando: Buscai primeiro o Reino de reafirmando a fé. (Outras preces espontâneas)
Deus e a sua justiça. / E tudo mais vos
será acrescentado. / Aleluia! Aleluia. Cantando: Confiai, confiai não sa- E. O que o texto
beis, qual o dia ou hora. / Está per- sugere para nossos dias?
B. O que o texto diz em si to a Salvação. / Eis que vem o Senhor - Neste Natal, o que podemos fa-
em sua glória. (bis) zer concretamente para devolver
Ler na Bíblia: Lucas 21,5-19 a alegria e a esperança aos mais
Jesus diz: “Não fiquem apavorados sofridos?
Chave de Leitura quando ouvirem falar de guerras,
1. O que Jesus fala a respeito do Tem- terremotos e revoluções. É preciso F. Tarefa concreta
plo? que estas coisas aconteçam, mas não Participar das celebrações do Natal
2. O que eles perguntam a Jesus? será logo o fim, pois o dia e a hora e Ano Novo em sua paróquia ou co-
3. O que Jesus fala a respeito do fim? não serão conhecidos”. Não pode- munidade.
4. O que Jesus quer dizer para nós mos esquecer que Deus é sempre jus-
hoje com: “Cuidado para não ser- to e misericordioso. A justiça divi- Encerramento
des enganados” ? na não se assemelha à dos homens. Bênção Irlandesa
Somos chamados a estar atentos e Que o caminho seja brando a seus
C. O que o texto diz para nós vigilantes aos sinais dos tempos e pés, / o vento sopre leve em teus om-
O texto nos fala de perseguições e interpretá-los à luz do Evangelho. bros. / Que o sol brilhe cálido sobre
sofrimentos das comunidades da- Nesses momentos, firmes na espe- tua face, / as chuvas caiam sere-
ra da verdade plena, nós estaremos nas em teus campos. / E até que eu
testemunhando a nossa fé. É neste de novo te veja, / que Deus te guar-
espírito que devemos viver este tem- de na palma de sua mão! / Renova,
po do Advento, tempo de alegria, na Senhor, a cada dia, a alegria de te
certeza de que o Senhor vem, com servir e fazer o que é agradável a TI.
amor, ao nosso encontro. Todos: Amém!

Cantando: Confiai, confiai não sa- (Baseado
beis, qual o dia ou hora. / Está per- em um texto da Neuza,
to a Salvação. / Eis que vem o Senhor
em sua glória. (bis) Arquidiocese de BH)

[32 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2019

Tudo em Família [ 72 – Família...

A briga pelo banheiro...

1. Coisas que acontecem 2. Pensando juntos competição deve ser monitorado e
corrigido pelos educadores.
Alcino era o caçula de oito irmãos. Dizem os entendidos em psicologia
A casa tinha apenas um banheiro. que a criança antiga permanece vi- 3. Para uma
Para o pequeno, toda manhã era um va lá dentro do adulto. Mesmo sem reunião de casais
sofrimento esperar que todos usas- perceber, boa parte de seus gestos e - Na sua infância, como era o relacio-
sem o banheiro. A qualquer tenta- decisões trazem a marca da criança namento com seus irmãos e irmãs?
tiva de furar a fila, era escorraçado oculta. E o ambiente familiar deixa
pelos maiores. suas feridas, mais ou menos dolo- - De algum modo você se sentiu pre-
ridas, ao longo do processo de cres- terido ou sufocado pelos irmãos?
Já adulto, casado, profissional cimento.
respeitado em seu campo de traba- - Você carregou mágoas provenien-
lho, Alcino pôde construir uma casa Mesmo na Bíblia, estão re- tes das relações entre irmãos?
muito boa. Entre as comodidades, gistrados choques, desavenças
decidiu fazer quatro banheiros. De e violências no círculo familiar. - Ocorriam cenas de ciúme? Havia
algum modo, ele declarava seu pro- Um caso exemplar foi o de José competição entre vocês? Ou predo-
testo para as mágoas da infância. do Egito. minava um clima de cooperação e
ajuda mútua?
O tempo passou, os filhos cres- Cabe aos pais um papel de vigi-
ceram e saíram de casa. Agora, a es- lância e supervisão para que o rela- - Como aproveitar essa experiên-
posa de Alcino, também idosa, vive cionamento entre irmãos seja real- cia para a educação de seus filhos?]
reclamando de uma casa que tem mente fraterno, de modo que não
quatro banheiros... e do trabalho haja opressores e oprimidos, ven-
que isso dá... cedores e derrotados. O excesso de

Carta de despedida — Dinâmicas para Grupo de Jovens [ 72

Objetivo:
Avaliar o momento concreto que está sendo vivido pelo grupo através da
verbalização das emoções.

Número de pessoas:
Cerca de 15 pessoas.

Material necessário:
Papel e caneta para cada um.

Descrição da dinâmica:
Cada participante escreverá numa folha uma carta de despedida do gru-
po. Nessa carta, deve comentar como está se sentindo em relação ao gru-
po, o que está sendo o mais importante, do que estava gostando ou não,
do que não estava gostando, se vai sentir saudade... por quê? E o que mais
quiser acrescentar. Depois, as cartas são lidas em voz alta, pela própria
pessoa que escreveu, ou então trocando-se os leitores. Lidas todas as car-
tas, pode-se conversar sobre o rumo que se deve dar ao grupo para resol-
ver o problema que se está enfrentando.]

Fonte: discipuladoemcristo.blogspot.com

DEZEMBRO 2019 [ OLUTADOR]33

Roteiros para catequese: [ Trabalhar em grupo...

Quebra-cabeças na catequese

OQUEBRA-CABEÇAS é um jogo sim- a respeito dos sentimentos que a mesmo sinal que o seu e formar
ples, que pode animar a reflexão figura desperta. com eles um grupo.
do grupo. Ele pode ser usado como
apoio para qualquer tipo de refle- SE VOCÊ quer fazer uma reflexão 3Cada grupo monta a sua figura,
xão. Damos um exemplo para um em pequenos grupos, isso pode cola-a numa folha, reflete so-
grupo que está iniciando um traba- ser feito a partir de vários quebra-ca- bre o que ela comunica, e faz com
lho e precisa se conhecer melhor: beças simultâneos. Para desenvol- ela um cartaz para apresentar em
ver o trabalho, providencie algumas plenário. Se a coordenação achar
1O(a) catequista escolhe uma fi- figuras que possam ser recortadas, melhor, a reflexão pode ser orien-
gura ou um cartaz grande e su- colas, pincéis e papel para cartaz. tada com perguntas que liguem a
gestivo, e que tenha a ver com o as- figura ao assunto do dia.
sunto central do encontro; corta es- 1Selecione várias figuras signifi-
sa figura em pedaços irregulares e cativas (cenas bíblicas, fatos da 4É possível distribuir cenas bíbli-
os distribui aos presentes. Depois comunidade ou gravuras e fotos cas já recortadas, pedir ao gru-
coloca no quadro, ou no chão, uma de fatos concretos) relacionadas po de crianças (ou catequistas, ou
folha vazia, do tamanho da figura ao tema que vai ser refletido. Ca- adultos, jovens) para montar o que-
recortada, com o desenho da forma da figura será repartida em 4 par- bra-cabeças e, em seguida, ler o tex-
dos pedaços distribuídos. tes (ou mais, conforme o tamanho to bíblico que corresponde à cena
do grupo) e cada parte de uma mes- (pode ser uma mesma cena bíblica
2Cada pessoa é convidada a co- ma figura terá, nas costas, o mes- e o texto bíblico corresponder a to-
locar na folha vazia o seu peda- mo sinal de identificação (núme- dos os grupinhos ou não). Depois,
ço de figura e, ao mesmo tempo, a ro, letra, cor...). refletir sobre o texto. O grupo po-
se apresentar e dizer o que espera de também ler o texto, mostrar a
do encontro. 2Os pedaços serão distribuídos ao imagem montada e ser convidado
grupo. Cada pessoa deverá pro- a fazer um gesto, usar uma músi-
3Ao final, o grupo é convidado, curar os que têm pedaços com o ca e outros recursos, para expres-
dois a dois, a fazer um cochicho sar a mensagem tirada do texto.]

[34 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2019

Equipe
do Catequese

Hoje

Formação de grupos

TODO MUNDO já fica enfadado quan- Por grupos de interesse - O (a) coor- siguais ou ocorra o atrito entre li-
do vai trabalhar em grupos e o denador(a) anuncia a formação de deranças, convidam-se estas pes-
coordenador usa sempre a mesma grupos das pessoas em determi- soas para que cada uma delas, por
técnica de contar as pessoas. É bom nado tipo de esporte: futebol, tê- sorteio, escolha seus companhei-
variar de vez em quando. Aqui es- nis, natação, basquete... Ou ain- ros de equipe, ficando responsá-
tão outras possibilidades. da, torcedores de determinado ti- veis pela mesma.
me de futebol. Para evitar grupos
Desenvolvimento numerosos, pode-se determinar Por figuras - Todos os participan-
Por canções - entrega-se a todos o número que comportará cada tes recebem figuras geométricas.
os participantes fichas ou papele- equipe. As figuras se repetem na quantida-
tas com títulos de canções conhe- de de componentes que cada gru-
cidas do grupo(podem ser religio- Por elementos-chave - Em um gru- po deve ter. Depois, juntam-se os
sas ou MPB). A uma ordem do coor- po, sempre há determinados par- quadrados, os triângulos, os círcu-
denador, todos começam a cantar ticipantes que se destacam pela li- los etc. O mesmo se pode fazer com
a música sorteada, caminhando derança, pelos talentos ou por me- desenhos de frutas, flores e outros
em direção a quem sorteou a mes- lhor conhecerem determinado as- elementos.]
ma canção. Também se pode fazer sunto, tendo uma visível ascendên-
o mesmo com animais, imitando cia sobre o restante do grupo. Pa- Fonte: Catequesehoje
os sons que eles emitem. ra evitar que os grupos fiquem de-

DEZEMBRO 2019 [ OLUTADOR]35

Homilética [ 19•01•2020 “Eis o cordeiro
de Deus.”

(Jo 1,29b)

2º Domingo Leituras da Semana
do Tempo
Comum [dia 20: 1Sm 15,16-23; Sl 49[50],8-9.16bc-17.21.23; Mc 2,18-22
[dia 21: 1Sm 16,1-13; Sl 88[89],20-22.27-28; Mc 2,23-28
[dia 22: 1Sm 17,32-33.37.40-51; Sl 143[144],1-2.9-10; Mc 3,1-6
[dia 23: 1Sm 18,6-9; 19,1-7; Sl 55[56],2-3.9-13; Mc 3,7-12
[dia 24: 1Sm 24,3-21; Sl 56[57],2-4.6.11; Mc 3,13-19
[dia 25: At 22,3-16; Sl 116[117],1.2; Mc 16,15-18

Leituras: Is 49,3.5-6; por aqueles que foram santificados é, o que faz, onde mora. Conhecer
Sl 39[40]; 1Cor 1,1-3; Jo 1,29-34 em Jesus Cristo. Não apenas foram Jesus é entrar em comunhão com
santificados, mas continuamente Ele, participar da sua vida.
1. A missão do Servo. O texto apre- chamados à santidade. Este pro-
senta as características da missão cesso começa através do batismo. Jesus é o Cordeiro de Deus que
profética do Servo de Deus: vai li- Paulo se dirige também a todos os tira o pecado do mundo (v. 29).
bertar e reunir o povo de Israel e, que invocam em todo o lugar o no- João “vê” Jesus. O verbo ver é mui-
mais ainda, será luz para as nações me de Nosso Senhor Jesus Cristo. to importante neste testemunho
e portador da salvação universal de 3. O testemunho de João. João Ba- de João Batista. Ver é condição es-
Deus. Este personagem misterioso tista dá testemunho de Jesus e vai sencial para o testemunho, está
tem uma missão de Servo. Está a crescendo no conhecimento de Je- na linha do conhecer. O verbo ver
serviço de Deus. Nele Deus manifes- sus. Ele é assim modelo para nos- aparece 4 vezes nestes 6 versículos.
tará a Sua glória, e a glória de Deus sa comunidade cristã. João vê Jesus como o Cordeiro de
é a liberdade de Seu povo. Deus que tira o pecado do mundo.
João Batista não conhecia Jesus
Assim, o Servo assume uma mis- (vv. 31.33). Não apenas João não co- Estamos diante de uma profun-
são libertadora. Vai libertar o povo nhecia Jesus, mas ninguém o co- da afirmação de fé da comunidade
da opressão babilônica e trazê-lo colocada na boca do Batista. O ter-
de volta para Jerusalém. Esta mis- nhecia ainda. As autoridades dos mo usado para cordeiro é “talya”
são não é novidade nos planos de judeus o confundiam com o Batis- em aramaico, que significa servo e
Deus, já fazia parte do Seu projeto, ta (cf. Jo 1,19-27). Não o conheciam cordeiro. Assim, Jesus é visto como
pois Deus revela que formou, mode- e morreram sem conhecê-lo, pois o Servo de Deus (cf. Is 53, 7,12), como
lou e preparou o Servo desde o ven- conhecer, na Bíblia, tem um sentido cordeiro expiatório (cf. Lv 14) e como
tre materno para realizar a missão profundo, não apenas saber quem cordeiro pascal (cf. Ex 12). Jesus é o
de reconduzir Jacó e reunir Israel. libertador. Liberta o homem da es-
[36 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2019 cravidão do pecado, ou seja, da ade-
Parece que Deus dá ao Seu Servo são a um sistema injusto e opressor,
uma nova identidade libertadora. O expressão clara da rejeição de Jesus.
Servo tem consciência de que Deus é
Sua força. Ele será a luz para todas as Jesus é o Santificador, batizan-
nações. Através dele a salvação de Deus do no Espírito Santo. João vê o Es-
vai chegar até aos confins da terra. pírito Santo descer do Céu, como o
voo de uma pomba, e pousar sobre
2. A missão do apóstolo. É Paulo Jesus. Jesus é, assim, ungido pelo
quem escreve. O irmão Sóstenes está Espírito Santo. O Espírito de Deus
com ele. Aqui ele se autodefine como habita nele. Ele possui a plenitude
apóstolo de Jesus Cristo. Esta sua do Espírito. Seu batismo não será
missão apostólica vem da vontade apenas com água, como o do Batis-
soberana de Deus. Foi Deus quem o ta, mas será com o Espírito Santo.
chamou. Esta saudação responder
e combate as más línguas que ne- Jesus é o Filho de Deus (vv. 3-4).
gavam ou questionavam sua mis- João, que antes não conhecia Jesus, foi
são apostólica (cf. cap. 9). aos poucos vendo Jesus (v. 29), falando
sobre Ele (v. 30), vendo o Espírito San-
Destinatário - Ele se dirige à to (v. 32), ouvindo a voz do Pai (v. 33).
Igreja de Deus que está em Corin-
to. Que Igreja é essa? Deus agora Tudo isso foi dando experiência
tem um novo povo: a comunidade suficiente a João para, no fim, testemu-
cristã. Essa comunidade é formada nhar que Jesus é o Filho de Deus, Aquele
que é capaz de revelar a nós o amor
do Pai e nos transmitir a vida divina.]

Homilética [ 26•01•2020 “Eu farei de vós
pescadores
de homens.”

Leituras da Semana (Mt 4,19b)

3º Domingo [dia 27: 2Sm 5,1-7.10; Sl 88[89],20-22.25-26; Mc 3,22-30
do Tempo [dia 28: 2Sm 6,12b-15.17-19; Sl 23[24],7-10; Mc 3,31-35
Comum [dia 29: 2Sm 7,4-17; Sl 88[89],4-5.27-30; Mc 4,1-20
[dia 30: 2Sm 7,18-19.24-29; Sl 131[132],1-5.11-14; Mc 4,21-25
[dia 31: 2Sm 11,1-4a.10a.13-17; Sl 50[51],3-7.10-11; Mc 4,26-34
[dia 1º: 2Sm 12,1-7a.10-17; Sl 50[51],12-17; Mc 4,35-41

Leituras: Is 8,23b-9,3; deve buscar a unidade através da lho, vaidade e divisões podem inu-
Sl 26[27]; 1Cor 1,10-13.17; Mt 4,12-23 união no mesmo espírito e no mes- tilizar a cruz de Cristo.
mo modo de pensar. A unidade de-
1. A Luz se levanta. Neste orácu- ve brotar do próprio Cristo que não 3. Jesus é a Luz. Mateus apresen-
lo messiânico, contemplamos o está dividido. Nós somos membros ta Jesus realizando o que lemos
contraste trevas X luz, ação do do Seu Corpo. na primeira leitura. Logo após a
opressor X ação de Deus, morte X morte de João Batista, que fecha o
vida para o povo. Em tempos de A situação da comunidade era Primeiro Testamento, Jesus abre
confronto e guerras, as tribos do de uma lamentável e escandalo- as portas do Segundo, deixa Naza-
Norte eram pisoteadas pelas bo- sa divisão em partidos ou grupos. ré e vai morar em Cafarnaum, às
tas dos soldados, pelas patas dos Uns diziam ser de Paulo (os mais margens do Mar da Galileia, nos
cavalos e pelos carros de guerra. abertos!); outros, de Cefas-Pedro (os confins de Zabulon e Neftali. Je-
O povo vivia nas trevas, numa si- mais fechados!); outros, de Apolo sus cumpre assim a profecia de
tuação de morte. (os mais intelectuais!) e outros, de Isaías. O povo que vivia na região
Cristo (os mais carismáticos e mís- escura da morte viu uma grande
A ação de Deus aparece nos vv. ticos). Curioso! Estariam os Após- luz, e essa luz é Jesus.
3-4. As primeiras lembranças são tolos no mesmo pé de igualdade
os dias de Madiã, quando Deus dá com Cristo? Qual era o conteúdo da Sua pre-
força a um punhado de gente, ca- gação? “Convertam-se, porque o Rei-
pacitando-a para afugentar o poder Ao invés de Paulo criticar os ou- no de Deus está próximo!” Esta é a
opressor (cf. Is 7,15-25). Deus que- tros líderes, ele critica o grupo que síntese da mensagem de Jesus: a
bra a canga de suas cargas, a vara se diz ligado a ele. “Paulo foi cru- conversão, pois o Reino de Deus está
do opressor e o bastão do capataz. cificado em favor de vocês? Vocês chegando na pessoa dele. É através
Deus faz as chamas devorarem as foram batizados em nome de Pau- do arrependimento e da adesão ao
botas dos soldados e as capas em- lo?” Quando Paulo diz que batizou projeto de Jesus que chega o Reino.
papadas de sangue. apenas poucas pessoas, ele mos-
tra que o papel de pregador é mais Jesus convoca os primeiros se-
Todas estas imagens querem exigente do que o de simplesmen- guidores do Reino. É no quotidiano
dizer que Deus libertará o povo do te batizar. A unidade deve ser feita da vida de cada um de nós que Jesus
norte e do poder dos seus opres- em torno de Cristo. Cristo é incon- nos encontra, nos olha e nos cha-
sores. Como resultado da ação de fundível. Foi Ele que morreu por to- ma a participar do Reino. Os qua-
Deus, no lugar de trevas o povo vê dos. É em nome dele que todos nós tros primeiros são dois grupos de ir-
brilhar uma grande luz. É a esperan- somos batizados. É em torno dele mãos: Simão e André, Tiago e João.
ça que renasce. O povo se multipli- que nos devemos unir. Nosso orgu- Jesus os chama para o seguimento
ca. Prazer e alegria de viver voltam e para fazer deles uma comunida-
a reinar no meio do povo. A alegria DEZEMBRO 2019 [ OLUTADOR]37 de de irmãos.
do povo é comparada ao prazer da
colheita, após o esforço da semea- Aqui vemos uma ruptura com
dura. Há satisfação ao repartir os o quotidiano, uma confiança total
despojos da guerra, após a dureza em Jesus e o risco do imprevisível.
da batalha. Eles deixaram tudo por causa de Je-
sus, por causa do Reino. Jesus co-
2. Unidos no espírito. Paulo faz um meça então a pregar, dentro e fo-
pedido solene em favor da unidade. ra das sinagogas, a Boa Notícia do
É em nome do Senhor Jesus Cris- Reino e a curar todo o tipo de doen-
to que ele pede. Na comunidade de ças e enfermidades do povo. A vida
Cristo não pode haver divisões. Ela começa a reaparecer com a ativi-
dade de Jesus.]

Homilética [ 2•02•2020 “Meus olhos viram
a tua salvação.”

(Lc 2,30)

Festa da Leituras da Semana
Apresentação
[dia 3: 2Sm 15,13-14.30; 16,5-13a; Sl 3,2-7; Mc 5,1-20
do Senhor [dia 4: 2Sm 18,9-10.14b.24-25a.30-19,3; Sl 85,1-6; Mc 5,21-43
[dia 5: 2Sm 24,2.9-17; Sl 31,1-2.5-7; Mc 6,1-6
[dia 6: 1Rs 2,1-4.10-12; (Sl) 1Cr 29,10-12; Mc 6,7-13
[dia 7: Eclo 47,2-13; Sl 17,31.47.50-51; Mc 6,14-29
[dia 8: 1Rs 3,4-13; Sl 118,9-14; Mc 6,30-34

Leituras: Ml 3,1-4; miu nossa condição humana, por- dedicar sua vida aos pobres e margi-
Sl 23[24]; Hb 2,14-18; Lc 2,22-40 que veio para ajudar a descendência nalizados deste mundo.
de Abraão. Ele não veio para ajudar os
1. O Mensageiro de Deus. No tempo anjos, mas os homens. É por isso que c) Simeão e Ana representam a
do profeta Malaquias, o Templo de Ele teve que ser semelhante em tudo humanidade pobre e esperançosa da
Jerusalém já havia sido reconstruí- a seus irmãos. Só assim Ele poderia consolação e da libertação. Jesus vem
do, mas o culto estava perdendo o expiar os pecados do povo. Não nos realizar a esperança da humanida-
sentido e não agradava mais a Deus. escandalizemos com a cruz de Cristo. de empobrecida representada nesses
Os sacerdotes estavam achando pe- 3. O resgate do Filho. Jesus é levado velhinhos justos e piedosos, abertos
sado o seu trabalho. Relaxavam no ao Templo de Jerusalém para cum- às maravilhas de Deus, cheios de de-
desempenho do culto, desprezando prir a Lei. Lá a Sagrada Família se dicação e esperança.
o nome de Deus e pervertendo o en- encontra com dois personagens: Si-
sinamento. Na verdade, eles se des- meão e Ana, que agradecem, louvam d) São Lucas é o evangelista do Es-
viaram do caminho, profanaram a a Deus e profetizam sobre Jesus e Ma- pírito Santo. Cheios do Espírito Santo
aliança e prejudicaram a caminhada ria. Depois de cumprir a Lei, a Sagra- estão Zacarias, Isabel, João Batista,
do povo. Os sacerdotes falhavam nas da Família volta para Nazaré da Ga- Maria, Simeão, Ana e especialmen-
suas principais funções: ministrar o lileia, onde Jesus vai viver. Quais são te Jesus.
culto e ensinar o povo conforme as as mensagens?
normas da Aliança. Justiça e direito e) Simeão mostra a missão de
estavam sendo violados. a) José e Maria procuram cum- Jesus. Ele é o Messias do Senhor, o
prir a Lei (cf. Ex 13,2.12), para que Je- Servo de Deus das quatro profecias
Deus vai enviar o mensageiro pa- sus pudesse, realmente, assumir a de Isaías sobre o “Servo de Senhor”. É
ra preparar o caminho à frente dele. realidade do seu povo. a “salvação que Deus preparou para
Esperado para os últimos tempos, ele todos os povos”. Ele é a luz para ilu-
é identificado pelo próprio Jesus co- b) José e Maria são pobres e ofe- minar as nações e a glória do povo
mo sendo João Batista (cf. Mc 1,2). Ele recem o sacrifício dos pobres: um par de Israel (cf. Is 42,6; 52,10). Jesus vai
é igual ao fogo de uma fundição: vai de rolas ou dois pombinhos. Mem- ser também causa da queda e soer-
purificar e eliminar tudo que não é bro de uma família pobre, Jesus, vai guimento para muitos. Vai ser alvo
autêntico. Como o ouro e a prata, ele viver na simplicidade e pobreza e vai de contradição. Vai desmascarar a
vai refinar e purificar os filhos de Le- vida errada de muita gente. Muitos
vi para que eles possam apresentar a [38 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2019 vão amá-lo, mas também muitos
Deus uma oferta, que seja de acordo vão detestá-lo por causa da sua jus-
com a justiça (v.3). O profeta compa- tiça e verdade.
ra Deus ao sabão das lavadeiras (v.2),
que elimina toda a sujeira das rou- f) Simeão anuncia também
pas. Assim, injustiça e violação do di- para Maria uma espada de dor.
reito serão eliminadas para sempre. É que ela vai partilhar também a
dor do Filho, como primeira e fiel
2. Na cruz, o amor. A morte de cruz discípula.
do Messias de Deus foi sempre algo
difícil de aceitar. Que Deus é este que g) A profetisa e consagrada ve-
permite o sofrimento e a morte de seu lhinha Ana chega neste momento e
Filho Amado? Para São João, a morte começa a louvar a Deus e a falar de
de Jesus na cruz é a expressão máxi- Jesus aos pobres que conservavam
ma da glória do Pai e da glória do Fi- sua esperança de liberdade.
lho, pois ali o amor atinge seu zênite.
h) A Sagrada Família de Nazaré
A encarnação da vida, no sofri- retorna para a Galileia, terra dos mar-
mento do povo, foi a forma mais pro- ginalizados. Ali Jesus vai crescendo,
funda e perfeita da solidariedade de tomando consciência da exploração
Deus com os homens. Jesus assu- dos grandes sobre os pequenos. Ele
se prepara para a sua missão com
a fortaleza, sabedoria e a graça vin-
das do alto.]

Homilética [ 9•02•2020 “Vós sois o sal da terra
e a luz do mundo.”

(Mt 5,13-14)

5º Domingo Leituras da Semana
do Tempo
Comum [dia 10: 1Rs 8,1-7.9-13; Sl 131,6-10; Mc 6,53-56
[dia 11: 1Rs 8,22-23.27-30; Sl 83,3-5.10-11; Mc 7,1-13
[dia 12: 1Rs 10,1-10; Sl 36,5-6.30-31.39-40; Mc 7,14-23
[dia 13: 1Rs 11,4-13; Sl 105,3-4.35-37.40; Mc 7,24-30
[dia 14: 1Rs 11,29-32; 12,19; Sl 80,10-11b.12-15; Mc 7,31-37
[dia 15: 1Rs 12,26-32; 13,33-34; Sl 105,6-7a.19-22; Mc 8,1-10

Leituras: Is 58,7-10; de da sabedoria humana. Mui- 3. O perfeito louvor. Estamos em
Sl 111[112]; 1Cor 2,1-5; Mt 5,13-16 tos achavam que a salvação vi- pleno Sermão da Montanha. Os pri-
ria da sabedoria, ou seja, atra- meiros versículos falavam das Bem
1. Quando Deus responde. A comu- vés dos conhecimentos dos mis- -aventuranças, ou seja, Jesus fala-
nidade dos exilados já está de volta térios de Deus. va à multidão dos pobres, famin-
à sua pátria com um culto organiza- tos, perseguidos, sofredores de to-
do. Externamente, belas liturgias, Ora, a própria comunidade no dos os tipos. Eles eram felizes, pois
sacrifícios e jejuns, mas, interior- seu conjunto era composta de gente o Reino pertencia a eles, que eram
mente, está faltando alguma coi- iletrada, sem conhecimento, sem comprometidos com o Reino da jus-
sa. O povo reclama da falta de res- instrução e Deus lhe trouxe a sal- tiça, solidariedade e vida para to-
posta de Deus. vação, através do Evangelho anun- dos. Este compromisso é ilustrado
ciado por Paulo. Portanto, a salva- por dois símbolos, o símbolo do sal
Na realidade, Deus não está gos- ção não vem da oratória, da sabe- e o símbolo da luz.
tando dos sacrifícios e jejuns que o doria dos homens, dos sofisticados
povo está fazendo, pois não aconte- raciocínios. O sal serve para dar sabor, para
ce uma mudança interior que con- preservar, para avivar o fogo do fo-
duza à solidariedade social. Eles je- A salvação vem da cruz de Cris- gão. O compromisso de aliança pe-
juam e continuam com a explora- to. O primeiro argumento de Pau- rene entre duas pessoas era selado
ção. Deus abomina a esterilidade e lo para mostrar que a salvação não comendo um pouco de sal. Quando
o vazio das práticas cultuais e reli- Jesus declara: “Vocês são o sal da
giosas, que não são acompanhadas vem do prestígio da oratória ou da terra”, ele está fazendo um alerta
de justiça, solidariedade e transfor- sabedoria foi a própria pobreza e para o compromisso cristão, para
mação social. desprestígio intelectual da comu- o testemunho do Evangelho de so-
nidade. O segundo argumento é o lidariedade e justiça. O cristão de-
O que agrada a Deus é tudo aqui- modo como Paulo se apresentou ve dar sabor de vida à sociedade,
lo que leva à justiça e solidarieda- à comunidade com simplicidade, preservar o direito e a justiça, ati-
de, à libertação do próximo, o bem sem recorrer à eloquência, cheio var a chama do amor e da vida. Se
do irmão. A partir do v. 6, temos a de fraqueza, receio e tremor não o cristão perder este elã, ele só ser-
enumeração do que agrada a Deus: confiando em raciocínios conve- virá para ser jogado fora e pisado
acabar com as prisões injustas, des- nientes e sedutores. Sua demons- pelos homens.
fazer as correntes do jugo, pôr em tração residia apenas no poder do
liberdade os oprimidos e despeda- Espírito Santo. A luz foi feita para iluminar, pa-
çar qualquer jugo (v. 6), hospedar ra clarear, para ser colocada no alto,
em sua casa os pobres sem abrigo, Quem confiar em si mesmo, em e não para ficar escondida, oculta-
vestir aquele que se encontra nu e seus méritos, em sua competência da debaixo de uma vasilha ou um
não se fechar à sua própria gente e sabedoria, não evangeliza nem móvel.
(v. 7). A partir do v. 8, sob a condição se salva, pois o único Evangelho é
de uma prática de justiça e solida- a cruz de Cristo: ali reside a salva- Ser luz significa traduzir a vida
riedade. A justiça será recompen- ção de todos. em boas obras diante dos homens
sada com a presença da glória de para que eles louvem o Pai. Não se-
Deus na caminhada do povo, ilu- DEZEMBRO 2019 [ OLUTADOR]39 riam estas boas obras, anunciadas
minando-o, guiando-o, dando-lhe por Isaías, o perfeito louvor ao Pai
fartura e força (v. 11). que está no céu?]

2. Da cruz, a salvação. A comunida-
de de Corinto está cheia de pro-
blemas. Um deles era a vaida-

Homilética [ 16•02•2020 “Não vim para abolir,
mas para cumprir.”

(Mt 5,17b)

6º Domingo Leituras da Semana
do Tempo
Comum [dia 17: Tg 1,1-11; Sl 118,67-68.71-72.75-76; Mc 8,11-13
[dia 18: Tg 1,12-18; Sl 93,12-13a.14-15.18-19; Mc 8,14-21
[dia 19: Tg 1,19-27; Sl 14,2-4b.5; Mc 8,22-26
[dia 20: Tg 2,1-9; Sl 33,2-7; Mc 8,27-33
[dia 21: Tg 2,14-24.26; Sl 111,1-6; Mc 8,34 – 9,1
[dia 22: 1Pd 5,1-4; Sl 22,1-6; Mt 16,13-19

Leituras: Eclo 15,16-21; acompanhada da oratória, do bri- das as suas minúcias, mas buscar
Sl 118[119]; 1Cor 2,6-10; Mt 5,17-37 lho, de artifícios para seduzir os ou- nela inspiração para a justiça e a
vintes. Ela é dada por este mundo, misericórdia, para cumprir toda a
1. Entre a morte e a vida. O Livro do pelos letrados e poderosos. A sabe- justiça em favor da vida (cf. 3,15). É
Eclesiástico foi escrito em hebrai- doria de Deus, entretanto, provém esse o programa de Jesus.
co, no início do séc. II a.C., e depois do poder de Deus que confunde sá-
traduzido para o grego. Sua inten- bios e poderosos. Na verdade, o núcleo do capítulo
ção é salvaguardar a identidade do está no v. 20: a superação da justiça
povo judeu e suas tradições contra É só aos maduros na fé que Pau- dos doutores da Lei e dos fariseus. A
o imperialismo cultural dos selêu- lo fala dessa sabedoria. São aque- antítese do v. 19: “maior” e “menor”
cidas que, para unificar o Império, les que acolheram Jesus crucifica- no Reino significa, simplesmente,
adotaram uma política de assimi- do na globalidade do seu mistério estar comprometido com o Reino
lação da cultura, religião e costu- de encarnação, morte e ressurrei- (= maior no Reino) e posicionar-se
mes gregos. ção. Deus nos ama profundamen- fora do Reino (= menor no Reino).
te e, por isso, pensou em nós desde
O trecho de hoje aborda o pro- o início do mundo. Esse projeto de b) A preocupação de Jesus vai
blema da liberdade. Diante de tan- Amor, ele nos revelou pelo seu Espí- além do homicídio. Busca evitar tu-
tos males que envolvem o ser hu- rito, que sonda todas as coisas, até do aquilo que conduz à morte: a ira,
mano, é fácil ceder ao pensamen- o insulto, o xingamento, a inimi-
to dominante de que tudo depende mesmo as profundidades de Deus. zade. O caminho da vida passa pe-
da divindade, tanto o bem quanto o A sabedoria de Deus se concretiza la reconciliação.
mal. Os vv.11 e 12 refletem o pensa- e se condensa em Jesus Cristo cru-
mento comum: Não digas: “De Deus cificado. Estas coisas, ocultas aos c) Adultério e fidelidade. Não
vem o meu pecado!”, pois Deus não sábios e prudentes, Deus as reve- apenas o adultério é proibido, mas
faz o que Ele próprio detesta. Não lou apenas aos pequeninos, aos que até mesmo o desejo de adultério. Na
digas: “Ele me induziu”, pois Deus o amam. verdade, o adultério começa com o
não precisa dos ímpios. olhar de desejo, por isso o mal de-
3. O caminho da vida. A tônica do ve ser cortado pela raiz. “Arrancar
O autor contesta este modo de capítulo é a justiça do Reino. Esta- o olho” e “cortar a mão” são expres-
pensar e afirma a liberdade huma- mos no Sermão da Montanha, que sões metafóricas, não devem ser
na. Observar os mandamentos e ser ocupa os capítulos 5-7. interpretadas ao pé da letra: signi-
fiel depende da escolha humana. ficam erradicar a cobiça (= olho) e
Diante de cada um, Deus colocou a) Jesus não veio abolir a “Lei e as ações (= mão) que lhe seguem.
o fogo e a água, ou seja, a morte e os Profetas”, ou seja, não veio acabar
a vida. A cada um será dado o que com o Primeiro Testamento, mas O v. 32 parece favorecer o divór-
cada um escolher. realizar as promessas de Deus. Rea- cio! A Igreja, porém, sempre inter-
lizar a lei nos pequenos detalhes pretou a palavra “pornéia” (o texto
A responsabilidade do mal está (v. 18) não significa atender a to- diz: a não ser em caso de “pornéia”)
nas mãos dos homens, e não nas como união ilegítima, por causa de
mãos de Deus. Na verdade, o que [40 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2019 grau de parentesco, que trazia im-
Deus quer é que o homem escolha pedimento matrimonial segundo
a vida. Aqui está o uso da liberda- a Lei (cf. Lv 18,16-18; At 15,29).
de. Escolher o pecado e a morte é
abuso da liberdade. d) Jesus proíbe qualquer jura-
mento. Quem precisa de juramento
2. As duas sabedorias. Paulo con- é porque carece de credibilidade. O
trapõe a sabedoria dos homens e a cristão deve falar apenas a verda-
sabedoria de Deus. A dos homens é de, doa a quem doer. Ele deve ser
coerente com a verdade em relação
a si próprio, aos outros e a Deus.]

Mensagens [ Poesia & Sabedoria

Poema de Natal

VINICIUS DE MORAES

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados

Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos –
Por isso temos braços longos para os adeuses

Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:

Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos –

Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai –
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte –
De repente nunca mais esperaremos…
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

“A graça de Deus,
assim como a água,
corre para as partes

mais baixas.”

PHILIP YANCEY

DEZEMBRO 2019 [ OLUTADOR]41

Variedades [ Culinária & Dicas de português
[ Não Tropece na Língua

[ ÀS EXPENSAS E OUTROS CASOS DE CRASE

dePaiãpoim - É correto escrever: A contratada de- O correto é sem o acento – mes-
ve refazer os serviços as expensas da mo quando o pronome estiver no
Ingredientes empresa? Qual é o certo: A contrata- feminino:
da deve refazer os serviços às expen-
½ kg de aipim cozido e passa- sas suas ou às expensas próprias? BOA NOITE A TODOS
do no espremedor de batatas; 4 BOA NOITE A TODAS
ovos; 1 tablete (15g) de fermento (MARIA LUIZA, RIO DE JANEIRO, RJ)
para pão; ½ kg de farinha de tri- Isso porque todo e toda, prono-
go; 2 colheres (sopa) de mantei- No primeiro caso é incorreto es- mes indefinidos, não são determi-
ga; 1 colher (chá) de sal; 1 colher crever “as expensas” (sem acento de nados pelo artigo. E como se sabe, a
(chá) de açúcar; 2 colheres (so- crase), pois a expressão comporta crase é o processo de junção da pre-
pa) de leite. ou apenas a (simples preposição) posição A como o artigo definido A.
ou às, à semelhança da locução “às
Modo de fazer custas de”: - Por que dizemos “ir ali” ao invés de
“ir àli” (a ali)?
Dissolver o fermento no leite. Acres- - A contratada deve refazer os
centar os ingredientes restan- serviços às expensas da empresa. (GUSTAVO LACERDA, CURITIBA, PR)
tes e amassar tudo muito bem.
Deixar crescer. Depois da massa - Ele vive a expensas da mulher. Escreve-se “vou ali”, sem acen-
pronta, modelar os pãezinhos e - Ao sair de casa, quando com- to, porque não existe a ocorrência
levar ao forno quente, em tabu- pletou a maioridade, João começou de “a + ali”. O verbo ir pode ser usa-
leiros untados. ] a viver a suas expensas. do de várias maneiras (só no Dicio-
- Oferecemos a hospedagem, mas nário de Regência, de Celso Luft, ele
Do livro as refeições correm às suas expensas. ocupa mais de uma página) e uma
delas é como intransitivo: verbo ir +
“Cozinhando sem Mistério”, Também é possível falar às pró- advérbio (locativo). Neste caso, não
prias expensas. E ainda se pode in- há a incidência da preposição A. Se-
de Léa Raemy Rangel verter a ordem das palavras nesta guem alguns exemplos: “Queremos
& locução: “vive a expensas suas” ou ir ali agora. Vou lá, sim. Vamos pa-
“vive às expensas suas, às expen- ra lá. A listagem do material neces-
Maria Helena M. de Noronha Ed. sas próprias”. sário vai em anexo, conforme soli-
O Lutador, Belo Horizonte, MG citado. Vai abaixo a nominata. Ele
- Por que na frase: o prêmio foi en- sempre ia na frente”.
Pedidos tregue à quem menos merecia, usa-
0800-940-2377 se crase e na frase: o prêmio foi da- - Relatório referente à compra solici-
livraria.olutador.org.br do a quem não merecia, não se usa? tada... favor informar se existe crase
[email protected] após referente. E o porquê.
(JACIENE NASCIMENTO, NILÓPOLIS, RJ)
(CIDA PARRA, SÃO PAULO, SP)
Em nenhuma das frases apre-
sentadas é correto o uso da crase. A Sim, o correto é escrever refe-
grafia certa é: 1. O prêmio foi entregue rente à compra solicitada. A razão é
a quem menos merecia e 2. O prêmio que referente a forma uma locução
foi dado a quem não merecia. Dife- na qual o A é uma preposição (veja o
rente seria: O prêmio foi entregue masculino: referente ao prazo soli-
àquele que menos merecia, em que citado) e o substantivo compra está
a palavra grifada está por “a aquele determinado pelo artigo definido A.]
= para aquele”.

- Consulta sobre o emprego da cra- Fonte: Língua Brasil
se. Estaria correta a frase “Boa noi-
te à todos”? Por quê?

(GILDETE DA SILVA CORDOVIL, RIO DE JANEIRO, RJ)

[42 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2019

Missão [ Em saída...

NOE GONÇALVES CHINHEMBA* Não nos
deixem órfãos
EXCELENTÍSSIMO Pároco Pe. Odé-
sio, Irmãs Ângela e Vininha. Ca- Nós vamos agradecer muito mais tirem o nosso pedido. Para termi-
ros catequistas, responsáveis a Congregação a sentir as nossas nar, Deus abençoe a viagem em ca-
e crentes desta Paróquia de Santo súplicas, as orações deste povo de da passo marcado, seja abençoado
António de Cavungo. Deus aqui presente, para que em no- por Deus, nosso Senhor, de todos os
me de nosso Senhor Jesus, o padre cristãos de Cavungo.
A Paróquia, fundada a quinze e as irmãs voltem mais a esta Pa-
de janeiro de dois mil e doze, até a róquia. Senhor padre, isto não foi Abençoe também as famílias
presente data, em que o senhor pa- da exigência da paróquia, mas veja: do Brasil todas, principalmente teu
dre vai se despedir, pertence à Con- as crianças, os jovens, as mamas pai, tua mãe e teus irmãos e irmã, o
gregação dos Sacramentinos. Agora (mães) e os homens com sua par- Pe. Renato Dutra, Pe. João Lúcio, Pe.
ficamos como ovelhas sem pastor. ticipação ativa na obra de Cristo, Geraldo Mayrink e Pe. Valdecir. Re-
Pedimos que nos deixe a bênção e o choramos. Porque assim ficamos cebam um forte abraço. Abraço dos
Espírito para podermos conduzir o como órfãos, ovelhas sem pastor. irmãos crentes da Paróquia Santo
rebanho do Senhor. Jesus disse: “Meu rebanho vos dei- Antônio de Cavungo.
xei, João, conservai e não deixeis
Salientamos que a Congregação perder uma ovelha destas. Eu vou Adeus, adeus até quando voltar!
dos Missionários Sacramentinos ao Pai, que me mandou a vós, e vos Irmãos, rezemos ao Pai como
tenha piedade para com esta Pa- enviarei o Espírito para vos ajudar Jesus nos ensinou: Pai Nosso...
róquia e envie mais operários pa- a vos conduzir”. Também, senhor Obrigado.
ra esta messe, porque nos faltam padre, fazei o mesmo.
mais orientações a serem recebi- Paróquia Santo António de Ca-
das. Com a falta dos padres, o lobo Senhor padre, fazei estas nos- vungo, aos 15-09-2019]
devora o rebanho do Senhor. sas súplicas chegarem até a Con-
gregação dos Missionários e sen- * Catequista Coordenador Paroquial.
A Paróquia agradece muito, bas- República de Angola, Diocese de Luena,
tante, em nome do Senhor, aos mis- DEZEMBRO 2019 [ OLUTADOR]43 Paróquia Santo António de Cavungo
sionários que se entregaram a cum-
prirem os trabalhos em nome de
Jesus nesta Paróquia. Que Deus vos
abençoe. Por isso, a Paróquia por si,
os membros do Governo local e as
entidades tradicionais choramos a
retirada de todos os padres e irmãs
desta sede comunal paroquial. Repi-
to! Não nos deixem como órfãos, en-
viem-nos mais padres a esta Paróquia.

Nós não achamos (não vemos)
maldade com o nosso padre e nem
as irmãs que vivemos com eles; co-
memos com eles, trabalhamos com
eles, muito mais na formação de
catequistas, na catequese e na cons-
tituição de setores e nas comunida-
des. Com a graça de Deus a Paróquia
cresceu e estendeu-se em três co-
munas (distritos), e conta com três
setores e trinta e três comunidades.

Excelentíssimo Pároco Odésio,
a paz esteja contigo. Desde tua che-
gada até a presente data, nós te lou-
vamos pelo esforço nas visitas das
comunidades, o trabalho espiritual
feito na Paróquia, trabalho manual
feito na construção da Igreja e da
Casa paroquial. Nós te louvamos e
que Deus te abençoe.

PE. ODÉSIO MAGNO DA SILVA* Testemunho [ Foi tudo muito gratificante, lindo de se

ARTILHO uma pequena ex- TESTEMUNHO

Pperiência Missionária na DA MISSÃO EM
Diocese de Luena, em An-
gola, no imenso continen- ANGOLA
te africano, onde os Sacra- Ao chegar em Angola, fui mui- semana já havia pegado a primei-
mentinos de Nossa Senho- to bem recebido por Pe. Renato, Ir. ra), febre tifóide e, por fim, saber
ra assumiram uma frente Dorinha (Franciscana do Amparo) pisar o solo do outro, exigiu des-
missionária em Cavungo, província e por todos da Paróquia, porém, sa- fazer alguns paradigmas previa-
de Moxico, no ano de 2012. bendo da mudança de vida que já mente construídos em mim. Não
Para melhor nos situarmos, é estava acontecendo em mim. Aden- foi fácil, mas escutando o irmão que
preciso ter presente que a Religião trar a cultura do outro, os costumes, já estava na missão há três anos,
Católica teve inicio nesta região so- a língua, a alimentação, me prote- e bebendo dos ensinamentos dos
mente em 1934. Neste contexto, o ger contra a malária (na segunda leigos que queriam transmitir seus
Catequista tornou-se a principal re-
ferência da Igreja Católica. Ele era [44 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2019
o responsável pela celebração dos
cultos religiosos. Os Padres Gregório
e Abílio, que eram Beneditinos (Or-
dem de São Bento), apenas saíam
da sede municipal para pregar e ba-
tizar os crentes, e nesta altura não
havia residência em Cavungo, so-
mente a Igreja.
Em janeiro de 2012, a Congrega-
ção assumiu a missão enviando o
Pe. Renato Dutra Borges, SDN, e o Pe.
João Lúcio Gomes Benfica, SDN. Pe.
João Lúcio regressou ao Brasil em
outubro de 2014.

Saber pisar o solo do outro

A missão sempre me encantou e,
em novembro de 2013, o Pe. Aure-
liano, na época nosso Superior Ge-
ral, me fez o convite de ir pra Ango-
la e disse: “Pense uns 15 dias e me
responda”. Não pensei duas vezes
em dar meu sim e aceitei na hora.
Em dezembro de 2014, fui formar
comunidade com Pe. Renato. Con-
fesso que fui com muito medo por
causa das notícias que me passaram
de lá, sobretudo com relação à ali-
mentação e às doenças, um pouco
acima do que era a realidade; mas
isto não tirou meu encantamento
pela missão, e ainda mais por se
tratar de pisar em terras estrangei-
ras, a exemplo de nosso Fundador,
Pe. Júlio Maria de Lombaerde. Por
“Amor e Sacrificio”, fui partilhar o
pouco que eu tinha com o povo ca-
rente da Palavra de Deus, povo po-
bre em tudo.

ver e viver, quando fiz a experiência de abrir o meu coração para acolher o novo...

costumes tradicionais, a língua e Foram quatro anos e dez meses de zíamos isso porque só havia o nos-
já sua experiência de fé, isto foi o missão, e destes, estive um ano e so carro na paróquia. Senti com o
maior aprendizado de toda minha três meses sozinho. povo o que eles sentiam, sentem e
vida. Foi tudo muito gratificante, sentirão, isto é, vivi uma experiên-
lindo de se ver e viver, quando fiz Na Paróquia foram realizados cia de fé e de amor incrível.
a experiência de abrir o meu cora- encontros de formação dos cate-
ção para acolher o novo. quistas, pastoral da criança, pas- Agradeço a Deus em primeiro
toral da saúde, com medicação far-
Nada me fez desistir macêutica e natural, formação bí- lugar; à Congregação que con-
Quando cheguei a Cavungo, já ha- blica e missionária. Também se fez
via um ótimo trabalho sendo rea- o atendimento mensal às comu- fiou enviar-me em missão ad
lizado: formação bíblica, formação nidades das aldeias com os sacra-
de comunidades, novos catequis- mentos da Eucaristia, Reconcilia- gentes, a cada irmão com quem
tas, sacramentos, e as pessoas com ção, Batismo, Matrimônio e Unção
um olhar amoroso para com a pes- aos Enfermos. E ainda as visitas pude partilhar muito da mis-
soa de Jesus. A princípio fui por dois missionárias, caridade aos órfãos e
anos, e fiquei quase cinco anos, pois viúvas, incentivo e organização dos são, as tristezas e alegrias.
quando a gente se deixa ser condu- grupos de reflexão, com material
zido por Cristo, pelo amor ao próxi- produzido por Pe. Renato e Pe. João Agradeço a Dom Jesus Tirso Blan-
mo, a missão fala mais alto que tu- Lúcio, e traduzido para língua local co, que acreditou, nos acolheu, con-
do. Tive trinta e três malárias (33), pelos catequistas e outros. Também fiou a nós a paróquia, dando-nos
quarenta e quatro (44) febres tifói- eu deixei minha contribuição nes- liberdade de trabalhar e até apro-
des, duas vezes infecção no pân- tes trabalhos missionários. veitando o nosso Carisma em sua
creas, gordura no fígado, e desenvol- Diocese. Agradecimento também
veu-se aí o acréscimo do ácido úri- Além dos trabalhos de evangeli- à Congregação, às paróquias e lei-
co e outras enfermidades menores. zação, realizamos vários trabalhos gos que ajudaram financeira e es-
de construção civil: a reforma do piritualmente, e de maneira espe-
Porém, nada disso me fez de- centro de catequese e social, cons- cial agradeço a intercessão de Ma-
sistir, nem deixar de percorrer as trução da igreja matriz, armazém, ria Santíssima, minha mãe queri-
33 comunidades da paróquia, por suporte da caixa d’água com capa- da, que nunca me abandonou, e de
um tempo com a presença do Pe. cidade para sete mil litros, horta, Nosso Fundador, o Servo de Deus Pe.
Renato, outras vezes com a presen- mudas de árvores frutíferas em to- Julio Maria, que esteve sempre pre-
ça dos padres Valdecir Paulo Mar- do o terreno, cercas nos terrenos da sente caminhando comigo.
tins e Geraldo Mayrink. Em vários missão para demarcar os lugares
momentos estiveram os leigos e eu, físicos e construção da casa paro- Por fim, a parte difícil da mis-
e muitas vezes somente eu e Deus. quial. Nesta missão, tinha que ser são foi a despedida em setembro do
de tudo um pouco: mecânico, ele- corrente ano. As sete mulheres ve-
tricista, pedreiro, enfermeiro, mé- lhinhas, de que cuidamos com ali-
dico, professor etc. mentação e remédios, chorando e
pedindo para não as abandonarmos.
Tusakuilileno kuli As crianças dizendo: “Não teremos
Mwangana Kalunga Ketu mais futebol e nem cinema”, ficare-
Além de toda parte de Formação Bí- mos como “filhos sem pai”. E boa par-
blica e Espiritual, há o lado afeti- te do povo clamando mais aprofun-
vo-familiar que criamos com aque- damento nos estudos e por alguém
le povo de Deus: o futebol com as que cuide da saúde de suas famílias.
crianças e adultos, o cinema todos
os sábados para as crianças, os re- Os abraços apertados na últi-
médios que doamos gratuitamen- ma missa me fizeram chorar de
te. E as viagens de emergência para tristeza em deixá-los, e ao mesmo
socorrer doentes de Cavungo para o tempo choro de alegria por ter da-
hospital de Cazombo, a 60 km, com do o melhor de mim para servi-los
a certeza de que, ao chegar ao hos- e amá-los de coração.
pital, não iríamos encontrar medi-
camentos, nem tampouco médico Por tudo, só agradecimento: Tu-
para um bom atendimento, mas fa- sakuilileno kuli Mwangana Kalun-
ga Ketu. “Demos graças ao Senhor
DEZEMBRO 2019 [ OLUTADOR]45 nosso Deus!”]

* Missionário Sacramentino de Nossa Senhora

Carta [ Missão...

Pedimos vossa bênção
e comunicamos

Exmo.
Dom Jesus Tirso Blanco, SDB
DD. Bispo diocesano
de Lwena – Angola, África

Paz e bem! de graça e de muitas bênçãos para povo do Cavungo, que acolheu de
nossa Congregação esta “investida” coração, com muita abertura, so-
QUEREMOS, inicialmente, ma- em terras africanas. lidariedade, alegria e amor nossos
nifestar nosso apreço e agra- missionários.
decer por toda a confiança que tem No entanto, padecemos da es-
nos conferido enquanto Congrega- cassez das vocações. Não é possível Esteja certo Sr. Bispo Dom Tir-
ção, bem como o apoio aos nossos dar continuidade a um projeto que, so, que manteremos nossa comu-
missionários que aí trabalham. No no mínimo, exige de nossa condição nhão na fé, na amizade, no amor,
Projeto África, iniciado em 2012, com manter pelo menos três casas em na solidariedade na oração com o
muita coragem e audácia, dois mis- solo angolano para dar o apoio e a senhor, com a Diocese de Lwena e
sionários sacramentinos foram en- solidariedade possível e necessária. com o povo de Cavungo. Nossa gra-
viados para o continente africano Chegamos à conclusão de que, por tidão às religiosas e religiosos bra-
para trabalharem na missão, no país ora, não é mais possível manter es- sileiros e estrangeiros, que foram
de Angola. No dia 15 de janeiro, as- ta missão. Comunicamos, de modo profundamente fraternos junto aos
sumiram a Paróquia de Santo An- oficial, que vamos encerrar nossas nossos. Sem a solidariedade e gene-
tônio do Kavungo, Nana Candungo, atividades nesta diocese. rosidade deles, nós sucumbiríamos.
no Município de Cazombo, Diocese Nossa gratidão ao governo, que nos
de Lwena. Desde então, o trabalho O Contrato com a vossa dioce- permitiu atuar neste país.
tem sido desenvolvido nestas ter- se encontra-se vencido. Não mais
ras mediante todo desafio e esfor- o renovaremos. Esperamos, quei- Sem mais, reafirmamos a ami-
ço: dificuldades pela localização no ra Deus, em um futuro, possamos zade, o afeto e o respeito por Vossa
país (“periferia da periferia”, cf. vos- reabrir a missão. Pe. Odésio retor- Exa. Pedimos vossa bênção e comu-
sa palavra dita em um discurso), nou a Cavungo. Em setembro de- nicamos que o senhor será sempre
para oferecer a devida assistência, verá vir embora em definitivo. Res- objeto de nossas orações.
sobretudo no momento da doen- ta-nos o lamento de não termos a
ça (distantes de recursos médicos e condição necessária para tal mis- No Cristo, pela Virgem, nosso
hospitalares), reposição de irmãos são e a gratidão a Deus, ao senhor grande abraço.]
outros na missão. Dom Tirso, à Conferência Episco-
Tudo isto tem pesado na balan- pal de Angola e ao querido e amado Pe. José Raimundo da Costa, sdn
ça quando avaliamos a caminhada Superior Geral
da missão ad gentes no continente [46 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2019
africano. Em meio aos desafios e so-
frimentos, algum consolo preenche
nosso coração: a doação sem limi-
tes dos irmãos que lá atuam e dos
que lá trabalharam, a organização
catequética, o convívio e cuidado
com o povo, aprendizagem da lín-
gua (dialetos), construção da igre-
ja e da casa paroquial, entre outros.
Entendemos que foi um momento

WESLEY FIGUEIREDO* ADCE [ Sustentabilidade...

Sustentabilidade e responsabilidade
social da AngloGold Ashanti Brasil

Tema do Almoço-Palestra da ADCE-MG

AASSOCIAÇÃO de Dirigentes Cristãos de Empresa de
Minas Gerais (ADCE-MG) realizou o seu tradicio-
nal almoço-palestra, em Belo Horizonte, no dia 5 de
novembro. Esta edição teve como palestrante con-
vidado o diretor-presidente da AngloGold Ashanti Brasil,
Camilo de Lelis Farace. Na oportunidade, Farace falou pa-
ra um público de empresários e dirigentes de empresas,
associados à ADCE-MG, sobre os 185 anos da indústria de
maior longevidade do país.

Farace contou as principais conquistas e desafios
da empresa ao longo desses anos. “O que levou a AngloGold
a ser uma das maiores do mundo advém do investimen-
to em inovação e na capacidade de dedicação dos nossos
profissionais”, afirmou. “Hoje, podemos falar que o ouro
produzido pela empresa no Brasil não sai do país e pode
ser encontrado nas joias de grandes joalherias, como a Vi-
vara, por exemplo”, disse o diretor-presidente.

Segundo Farace, a AngloGold é tradicionalmente
uma empresa que preserva um número significante de
áreas de preservação. “Nos lugares em que atuamos, tra-
balhamos com a reflorestação e com a preservação da fau-
na e flora. Também mantemos um centro ambiental no
município de Nova Lima”, afirmou.

Por sua vez, o presidente da ADCE-MG, Sérgio Frade,
comentou que a AngloGold vem, tradicionalmente, apre-
sentando um grande benefício para o Estado, principal-
mente nos últimos anos, com diversas inovações e resul-
tados favoráveis na balança comercial. “O tempo evolui e
os processos também: de extração, dos equipamentos, das
práticas trabalhistas; o relacionamento com a sociedade,
o relacionamento com o entorno. E esse é um ponto que
nós defendemos muito na ADCE - da importância da em-
presa como um indutor do desenvolvimento, a partir dos
valores que nós defendemos”, observou.

Frade pontuou que a Associação tem uma forte con-
vicção da importância do setor industrial para a comuni-
dade como um todo, principalmente devido à criação de
postos de empregos. “O que tira as pessoas da pobreza é o
trabalho e, por isso, incentivamos que as empresas gerem
mais empregos e apresentem bons produtos e serviços. Es-
se é o futuro do mundo, e percebemos cada vez mais que
os consumidores procuram empresas que são social e am-
bientalmente responsáveis”, ressaltou ele.]

DEZEMBRO 2019 [ OLUTADOR]47

Igreja Hoje [ Celebrar...

PE. ELÍLIO JÚNIOR Natal, celebração
de um evento
DEZEMBRO é o mês do Natal, quan-
do os cristãos celebramos um Verbo. Ora, o “início” não é o início boa palavra é fonte de admiração,
grande acontecimento: a en- temporal, mas o Princípio eterno de vida interior e de enriquecimen-
carnação do Filho de Deus. ou a Origem não espácio-tempo- to do espírito. Ora, Jesus é o Verbo,
ral do nosso universo feito de tem- isto é, a Palavra viva de Deus. Não
A história é feita de processos e po e de espaço. O Verbo, com o Pai e pode haver melhor palavra! É por
de eventos. Os processos são rela- o Amor, é esse Princípio e Origem; isso que a história e os homens têm
tivamente longos, feitos de conti- é a Inteligência de Deus, pela qual sido iluminados, aquecidos e orien-
nuidade e de gradualidade. Já os tudo foi criado. A fé nos diz que o tados na medida em que se aproxi-
eventos são curtos espaços de tem- Verbo se encarnou, isto é, assumiu mam da poderosa luz que emana de
po em que ocorre uma ruptura, e a natureza humana, vindo morar Jesus. Cada um de nós em particu-
dá-se a irrupção de uma novidade. entre nós. Jesus de Nazaré é o Ver- lar pode experimentar a graça des-
Tomemos, como analogia, a repro- bo encarnado! sa luz na medida de nossa abertura
dução humana. A fertilização de de espírito e de nossa busca de co-
um gameta feminino por um ga- O Natal quer celebrar sobre- munhão com Aquele que traz o selo
meta masculino é um evento. Algo tudo esse evento da encarna- do Pai e a força do Espírito.
novo – uma vida nova – inicia-se ção do Verbo divino. Tal acon-
em um curtíssimo espaço de tem- tecimento é de tal maneira im- Como Palavra, Jesus veio para
po. Já o desenvolvimento da nova portante, que Deus faz todo o comunicar e para ser escutado. Por
vida surgida pelo evento da ferti- seu projeto salvífico e toda a isto, Maria, irmã de Marta, esco-
lização é um processo, pois se faz história humana girarem em lheu a melhor parte. Quem veio pa-
em um tempo maior e por mudan- torno dele. Como pode o Deus ra falar quer ser ouvido! E quem o
ças graduais. infinitamente grande tornar- escuta é agraciado. Nossa vida, tão
se admiravelmente pequeno, marcada pela correria e pelo risco
Na história tivemos vários even- a ponto de assumir, com exce- de perda da interioridade, muito
tos e processos. É indubitável que ção do pecado, todas as nos- ganharia se nos dispuséssemos a
o nascimento de Jesus, há mais de sas limitações e fragilidades? ouvir a Palavra que vem de Deus.
dois mil anos, foi um evento. Aos São Paulo diz que ele se esva- O Pai pronuncia continuamente a
olhos do historiador, em Jesus teve ziou de si mesmo, fez-se po- sua única Palavra, não fazendo ruí-
início um novo ciclo cultural, que ir- bre para nos enriquecer. do, mas no silêncio cheio do sen-
rompeu com força pelo movimento tido e da riqueza de sua presença.
suscitado pelo Mestre de Nazaré no A boa palavra ilumina o ser, aque- Deus, por sua Palavra, oferece-se
solo da religião de Israel. Tal movi- ce o coração, e orienta o caminho. A à contemplação. Admirando a sua
mento se encontraria logo com a superabundante riqueza, unifica-
cultura grega e romana e, mais tar- [48 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2019 mos o nosso ser e conquistamos
de, com a germânica. Jesus e o Cris- a paz! Ao contrário, o movimento
tianismo que dele provém marca- do mundo faz barulho, inquieta e
ram o mundo e concorreram para dispersa.]
a formação da civilização ociden-
tal. Pelo seu significado diante da
história, Jesus foi um evento, isto
é, a irrupção de uma novidade. O
que representa a vida de Jesus co-
mo um todo – evento –, nós o atri-
buímos ao seu nascimento. Por is-
so dizemos que o Natal é a celebra-
ção de um evento.

Há ainda mais. Aos olhos da fé,
Jesus é mais do que simplesmen-
te alguém que influenciou de mo-
do decisivo a história humana. A
sua identidade nos leva para além
do tempo e da história. O Evange-
lho de João diz que no início era o


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