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Published by fabio.roberto, 2017-05-18 16:46:02

cap 1

Centro Universitário Adventista de São Paulo
Fundado em 1915 — www.unasp.edu.br
Missão: Educar no contexto dos valores bíblicos para um viver pleno e para a excelência
no servirço a Deus e à humanidade.
Visão: Ser uma instituição educacional reconhecida pela excelência nos serviços
prestados, pelos seus elevados padrões éticos e pela qualidade pessoal e
profissional de seus egressos.

Administração da Entidade Diretor Presidente: Domingos José de Souza
Mantenedora (IAE) Diretor Administrativo: Élnio Álvares de Freitas
Diretor Secretário: Emmanuel Oliveira Guimarães
Administração Geral do Unasp Chanceler: Euler Pereira Bahia
Reitor: Martin Kuhn
Pró-Reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão: Tânia Denise Kuntze
Pró-Reitora de Graduação: Sílvia Cristina de Oliveira Quadros
Pró-Reitor Administrativo: Élnio Álvares de Freitas
Pró-Reitor de Relações, Promoção e Desenvolvimento Institucional: Allan Novaes
Secretário Geral: Marcelo Franca Alves
Campus Engenheiro Coelho Diretor Geral: José Paulo Martini
Diretora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão: Francisca Pinheiro S. Costa
Diretor de Graduação: Afonso Ligório Cardoso
Campus São Paulo Diretor Geral: Douglas Jeferson Menslin
Diretor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão: Maristela Martins
Diretor de Graduação: Ilson Tercio Caetano
Campus Virtual Diretor Geral: Martin Kuhn
Gerente Acadêmico: Everson Muckenberger
Faculdade de Teologia Diretor: Reinaldo Wesceslau Siqueira
Coordenador de Pós-Graduação: Vanderlei Dorneles
Coordenador de Graduação: Ozeas Caldas Moura
Faculdade Adventista Diretor: Martin Kuhn
de Hortolândia Diretora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão: Tânia Denise Kuntze
Diretora de Graduação: Sílvia Cristina de Oliveira Quadros
Diretor Administrativo: Élnio Álvares de Freitas
Diretor de Relações, Promoção e Desenvolvimento Institucional: Allan Novaes
Secretário Geral: Marcelo Franca Alves
Campus Hortolândia Diretor Geral: Lélio Maximino Lellis
Diretor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão: Eli Andrade Rocha Prates
Diretora de Graduação: Suzete Maia




Editor: Rodrigo Follis
Editor Associado: Felipe Carmo
Conselho Editorial: José Paulo Martini, Afonso Cardoso, Elizeu de Sousa, Francisca Costa,
Reinaldo Siqueira, Rodrigo Follis, Betania Lopes, Wilson Paroschi
A Unaspress está sediada no Unasp, campus Engenheiro Coelho, SP.



Formação de tutores para EAD
Imprensa Universitária Adventista

1ª edição — 2017
Caixa Postal 11 – Unasp E-book
Engenheiro Coelho, SP CEP 13.165–000
Tels.: (19) 3858–9055 / (19) 3858-9355

www.unaspress.com.br


Editor: Rodrigo Follis
Revisão: xxxxxx
Programação visual: Fábio Roberto Todo o texto, incluindo as citações, foi adaptado segundo o
Capa:xxxxx Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em 1990,
Imagens: Shutterstock em vigor desde janeiro de 2009.







Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)


Filatro, Andrea.

Formação de tutores para EAD / Andrea Filatro, Carolina Cavalcanti, Andressa Paiva. — 1. ed. —
Engenheiro Coelho, SP : Unaspress — Imprensa Universitária Adventista, 2017.

ISBN:

Referências
1. Educação — Filosofia 2. Educação — Teoria 3. Educadores — Formação 4. Pedagogia
5. Prática de ensino I. Título. II. Série.


12-08943 CDD-370.1

Índices para catálogo sistemático:
1. Educação : Ensino 370.1
2. Educação : Teoria 370.1

Editora associada:
022709 2017

Sumário









07 Visão geral sobre tutoria


29 Competências pedagógicas do tutor



57 Competências comunicacionais


85 Competências comunicacionais do tutor


117 Competências organizacionais do tutor



147 Competências integradas do tutor



VISÃO GERAL SOBRE

A TUTORIA







Introdução Carolina Costa Cavalcanti

Doutora em Educação pela USP,
mestra em Tecnologias Educacio-
Por séculos, a sala de aula tem sido o local primordial na qual nais pelo Instituto Tecnológico e de
o professor ministra suas aulas, conduz atividades avaliativas, orienta Ensinos Superiores de Monterrey,
o desenvolvimento de trabalhos em grupo e desempenha funções México (ITESM). Pesquisadora do
atreladas à prática docente. Podemos organizar a prática docente, Núcleo de Pesquisa Novas Arqui-
realizada em sala de aula, em dois grupos de atividades básicas: 1) teturas Pedagógicas da USP e da
aquelas relacionadas ao ensino de conteúdos e avaliação da apren- Rede Panamericana de Problem
dizagem; 2) aquelas ligadas à gestão das interações em sala de aula. Based Learning (PANPBL).
Entretanto, com o desenvolvimento tecnológico e o surgimento da Andrea Filatro
Educação a Distância (EAD), a prática docente passou a ser desempe- Doutora e mestra pela Faculdade
nhada por vários sujeitos, conforme veremos nesta unidade. de Educação da USP. É autora das
A EAD é uma modalidade educacional caracterizada pela obras Design Instrucional Contex-
separação física e temporal entre professor e alunos e que depen- tualizado (Senac São Paulo, 2004)
de de meios tecnológicos para que ocorram o ensino, a aprendi- e Design Instrucional na Prática
zagem e a comunicação entre os sujeitos envolvidos no processo (Pearson Education, 2008), além
educacional. A modalidade é ainda caracterizada pela diversidade de obras didáticas publicadas pelas
encontrada nos programas e cursos ofertados. Tal diversidade per- Editoras Scipione, FTD e Saraiva.
passa o nível educacional (pós-graduação, graduação, educação

Formação de tutores para EAD






continuada, supletivo, complementação de cursos presenciais etc.), o emprego de mídias
e tecnologias (material impresso, rádio, teleconferência, internet, dispositivos móveis, entre
outros), chegando a concepções pedagógicas e organizacionais diferentes. Existem desde
modelos de autoaprendizagem até modelos de aprendizagem colaborativa. Também há
modelos centrados em conteúdos e outros focados no desenvolvimento de projetos. Alguns
programas são ofertados a poucos estudantes e outros, a milhares de estudantes. Em alguns
cursos está prevista grande interação entre os participantes; em outros, menor interação.
Esta diversidade também se reflete na forma como a prática docente é organiza-
da, uma vez que é comum vários professores desempenharem, em parceria, atividades
de ensino, acompanhamento dessas atividades e avaliação dos cursos. Alguns destes
profissionais são: professor-autor, tutor virtual e tutor presencial.
Com estas considerações iniciais, convidamos você a participar do curso online Formação
de Tutores para EAD. Nesta primeira unidade você aprenderá alguns conceitos fundamentais
sobre tutoria e EAD. Além disso, conhecerá o papel a ser desempenhado pelo tutor e as competên-
cias esperadas do tutor que atua em cursos a distância.


OBJETIVO GERAL


Conhecer os conceitos
fundamentais sobre tutoria

Tópicos de estudo

◆ Significado do termo “tutoria”
◆ A modalidade de educação a distância

◆ O papel do tutor na modalidade a distância
◆ Competências esperadas do tutor






8 UNASP VIRTUAL

Visão geral sobre a tutoria







Vamos aos estudos





Fundamentos


Para entender as competências esperadas do tutor em cursos a distância, é importante
que primeiro você entenda o significado do termo tutoria. É isso que veremos no tópico a
seguir. Além disso, nesta unidade você conhecerá um breve histórico, as características e a
abrangência da modalidade a distância no contexto nacional. Estas informações o ajudarão
na compreensão do papel a ser exercido quando você atuar como tutor em cursos ofertados
na modalidade a distância. Finalmente, você entenderá quais são as competências esperadas
do tutor para que seu trabalho tenha a qualidade necessária e esperada.


Significado do termo “tutoria”

A palavra tutor vem do latim tútoróris, que significa, segundo o dicionários
Houaiss (2001), “guarda, defensor”. A origem da tutoria, no contexto universitário, data
do século XV, quando era usada como uma forma de orientação religiosa a estudantes,
com a finalidade de ensinar a fé e a conduta moral. Ainda no contexto universitário, a
partir do século XX, o tutor assumiu o papel de orientador e acompanhante de trabalhos
acadêmicos de alunos. No contexto da EAD, por sua vez, o termo tutoria é comumen-
te adotado para definir a relação professor-aluno-materiais que ocorre em Ambientes
Virtuais de Aprendizagem (AVA) de cursos a distância. Outros termos utilizados para
1
se referir a estes profissionais são: professor orientador, mediador, e-professor ou ainda
facilitador e animador, entre outros.



1 AVA é uma plataforma na internet, onde as atividades de um curso a distância são realizadas, os materiais didáticos
ficam disponíveis a alunos, e professores e tutores interagem utilizando ferramentas do ambiente para se comunicar e
interagir. O conceito de AVA será apresentado e discutido com maior profundidade na Unidade 4.


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Formação de tutores para EAD






















Por ter sido usado em contextos variados no campo da educação ao longo da história, o
termo tutor pode ter significados diferentes ou não muito claros. Portanto, na esfera da EAD, é
preciso uma ressignificação para superar a ideia de tutor apenas como aquele que ampara, pro-
tege, defende, dirige ou que tutela alguém, uma concepção que está relacionada à definição de
tutor encontrada no dicionário Houaiss. Entendemos que, nesta modalidade educacional, traba-
lhar como tutor também significa ser professor e educador.
“as atividades docentes na As atividades docentes na EAD são realizadas

EAD são realizadas por um por um grupo de professores, numa ação coletiva de-
nominada polidocência. Estes profissionais se dividem
grupo de professores, para redigir os conteúdos do curso, gravar videoaulas,

numa ação coletiva de preparar atividades, apoiar os alunos na realização de
atividades realizadas a distância, acompanhar turmas
nominada polidocência”. de alunos em encontros presenciais para realização de
atividades e avaliações, entre outras funções. Ferreira
e Silveira (2009) chamam esse fenômeno de descen-
tralização da ação docente e afirmam que resulta em uma rede de ações de compar-
tilhamento do trabalho pedagógico. Nesse sentido, cada sujeito envolvido no processo
é responsável por tarefas específicas e deve cumpri-las a contento para garantir que o
trabalho docente seja realizado em sua completude.





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Visão geral sobre a tutoria







Tendo em vista todas essas considerações, ressaltamos que a participação do tu-
tor no processo de ensino-aprendizagem em cursos a distância é bastante relevante,
uma vez que esse profissional pode assumir diferentes atribuições e funções, de acordo
com as características da instituição, do curso em que atua e do modelo pedagógico
adotado, conforme será discutido na Unidade 2.



A modalidade de Educação a Distância (EAD)


A EAD é uma modalidade educacional caracterizada pela separação física e tempo-
ral entre professores e alunos e pela utilização de mídias e tecnologias para estabelecer
interação entre eles, a fim de que o processo de ensino-aprendizagem ocorra.
Na EAD, os conteúdos dos cursos são organizados em mídias e, posteriormente
são veiculados aos alunos pelo uso de tecnologias. As tecnologias podem ser agrupa-
das em analógicas (livro impresso, fotografia impressa, fita de vídeo, televisão, rádio,
jogos de tabuleiro etc.) e digitais (CD, DVD, internet, realidade virtual, hipertexto etc.).
As mídias, por sua vez, são os meios utilizados para organizar ou representar alguma
informação ou conteúdo (texto, imagem, som).










Por exemplo, um conteúdo sobre a construção da cidade de Brasília pode ser organi-
zado em um livro (mídia: texto / tecnologia: livro impresso) e também em uma videoaula
cujo link fica disponível no Youtube (mídia: vídeo / tecnologia: internet).
Mídias e tecnologias podem ser organizadas e utilizadas de formas variadas durante
a concepção e oferta de um curso a distância. Estes serão os recursos usados pelos alunos





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Formação de tutores para EAD






para ter acesso às temáticas trabalhadas pela equipe docente além da forma como eles
irão se comunicar com outros participantes (professores, tutores, gestores, outros alunos).



Breve histórico da EAD


No contexto internacional, o surgimento da EAD pode ser traçado há quase dois
mil anos, pelo menos. Se mergulharmos na história da modalidade, chegaremos até as
Epístolas do Novo Testamento, consideradas as primeiras formas de EAD de que se tem
notícia. Essas cartas possuíam um caráter didático e eram destinadas a comunidades in-
teiras que se encontravam distantes de seu autor: o apóstolo Paulo.




















A modalidade, como conhecemos na modernidade, estabelece-se de forma
oficial a partir do surgimento das vias de comunicação por correspondência inicia-
das no final do século XVIII. A Universidade de Londres, por exemplo, começou em
1859 a ofertar os primeiros cursos superiores a distância por correspondência, os
mesmos que foram cursados posteriormente por Nelson Mandela, quando estava
na prisão, e por outros cinco ganhadores de prêmio Nobel. Esta instituição se tornou
um marco na história da EAD.




12 UNASP VIRTUAL

Visão geral sobre a tutoria







Entretanto, como o nosso enfoque é formar tutores para atuar no contexto nacional
da EAD, neste tópico optamos por explorar brevemente pontos relevantes do histórico da
modalidade no contexto brasileiro.
Comecemos por mencionar que a EAD no Brasil ganhou forte impulso com a edu-
cação via rádio. Nesse formato, os alunos recebiam o material impresso por correio,
ouviam as aulas por meio do rádio e interagiam, quando necessário, através de corres-
pondências. Esta expansão ocorreu com a criação, em 1923, da Rádio Sociedade no Rio
de Janeiro, por Roquete Pinto. Outros projetos usando rádio educativa foram lançados
nos anos seguintes: a Rádio Escola Municipal no Rio
de Janeiro, o Movimento de Educação de Base (MEB),
a Universidade do Ar mantida pelo Serviço Nacional “no Brasil, a EAD ganhou
de Aprendizagem Comercial (Senac), entre outros.
Muitas delas tinham por ênfase a educação profissio- forte impulso em 1923,
nal e a alfabetização de jovens e adultos. com a criação da Rádio
Alguns anos depois, cursos por correspondência
ofertados pelo Instituto Monitor (1938) e pelo Instituto Sociedade no

Universal Brasileiro (1941) foram lançados. Estas institui- Rio de Janeiro”.
ções formaram milhares de alunos que ingressaram em
cursos, geralmente de cunho técnico, em uma modalida-
de que passou a ser denominada “educação domiciliar”.
O final da década de 1960 foi marcado por mobilizações que buscaram levar a educa-
ção para a TV. Mas foi só na década seguinte que se criou o Projeto Minerva, um programa
transmitido por cerca de 1.200 emissoras de rádio e 63 emissoras de televisão, que visava
preparar os alunos para os exames supletivos de capacitação ginasial e madureza. Em pouco
mais de um ano, o projeto atendeu a aproximadamente 17.200 alunos. Vale destacar, ainda,
a Fundação Roberto Marinho, que idealizou e lançou, pouco tempo depois (em 1978), o Tele-
curso, responsável pela formação de milhares de jovens e adultos no ensino médio.






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Formação de tutores para EAD






A segunda metade da década de 1990 representou uma evolução para a EAD, pois
foi neste período que as Instituições de Ensino Superior (IES) começaram a fazer uso de mi-
crocomputadores, vídeos e fitas cassete, geralmente na forma de atividades de autoestudo.
Um grande salto ocorreu, no entanto, em 1995 quando o Ministério da Educação
(MEC) criou a Secretaria de Educação a Distância e também o Programa TV Escola. Em
1997, registraram-se, ainda, as primeiras tentativas do desenvolvimento de sistemas edu-
cacionais para a Educação a Distância, os Ambientes Virtuais de Aprendizagem – AVA.
Nos últimos anos, a modalidade a distância vem crescendo exponencialmente no Bra-
sil. Segundo dados do Censo EAD.BR 2014/2015 (2015), em 2014 um total de 3.868.706 ma-
trículas foram realizadas em cursos a distância regulamentados (ensino médio, universitário
e pós-graduação lato sensu) e cursos livres, incluindo programas de extensão e ações de
educação corporativa. Segundo o Censo do Ensino Superior (BRASIL, 2014) em 2013 a EAD
respondeu por 15% das matrículas de graduação no ensino superior no país.


Especificidades da EAD no Brasil: legislação


Uma das características da EAD no Brasil é a marcante regulamentação governamental.
Leis, normas e portarias específicas regem os cursos superiores de graduação e pós-gradua-
ção lato sensu credenciados pelo MEC. Para os cursos livres, assim como na modalidade
presencial, não existe uma regulamentação específica do MEC.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/96, em
seu artigo 80, tratou da EAD pela primeira vez na legislação brasileira, estimu-
lando a expansão da modalidade no cenário educacional brasileiro. Pouco tempo
depois, o Decreto nº 5.622/05 regulamentou o artigo 80 da LDB e apresentou
diretrizes para oferta de cursos a distância em todos os níveis educacionais. Sobre
o ensino superior a distância, o artigo 4º estabeleceu que os alunos devem ser







14 UNASP VIRTUAL

Visão geral sobre a tutoria







avaliados presencialmente e que as atividades realizadas a distância devem ter
peso menor que aquelas realizadas presencialmente.
















Para o cumprimento desse requisito obrigatório, as instituições de ensino
superior que ofertam cursos credenciados devem ter polos presenciais ou um
novo núcleo a distância dentro de uma instituição já existente, ou mesmo adotar
as duas estratégias para cumprir a legislação vigente. É no polo que o tutor pre-
sencial atua para acompanhar as atividades e avaliações vinculadas às disciplinas
de cursos superiores a distância.


O papel tutor na modalidade a distância


Conforme mencionado na introdução deste capítulo, os cursos a distância,
principalmente no ensino superior, em geral contam com dois tipos de tutores: o
tutor virtual (que atua no AVA) e o tutor presencial (que apoia o desenvolvimento
de atividades acadêmicas em polos educacionais). Trataremos aqui dos dois tipos de
tutores, com enfoque especial nas competências a serem desenvolvidas pelo tutor
virtual. O tutor é o representante primeiro do curso junto aos alunos. Deve ter domí-
nio dos conteúdos e proporcionar apoio pedagógico e operacional. Deve, também,








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Formação de tutores para EAD






participar ativamente da avaliação, do processo e do conteúdo. Entretanto, sabemos
que ser tutor traz em si alguns desafios:




1. A prática docente compartilhada: muitas vezes, o tutor virtual
conduzirá uma atividade no AVA que não foi concebida por ele, mas
por um professor-autor. Para cumprir seu papel na perspectiva da
prática docente compartilhada, o tutor deverá ler os textos redigi-
dos pelo professor-autor e/ou assistir previamente às videoaulas do
curso a fim de estar preparado para auxiliar os alunos no desenvol-
vimento das atividades propostas e também para esclarecer dúvidas
sobre conteúdos ou metodologia de estudo.


2. O uso de tecnologias para interagir com os alunos: basica-
mente, o tutor virtual interage com os alunos utilizando tecnologias.
Por vezes, pode enfrentar problemas técnicos no uso de determi-
nadas ferramentas e deve agir de forma proativa para resolvê-los,
contando com o suporte técnico da instituição educacional. Tam-
bém é necessário que o tutor conheça as tecnologias adotadas no
curso para evitar percalços no desenvolvimento de suas atividades.

3. A comunicação no AVA: o tutor virtual se comunica com os alunos
por meio de textos, arquivos de áudio e vídeos que publica no AVA.
Como ele não estará perto do aluno quando este acessar os conteúdos
disponibilizado no ambiente, deve ser o mais cordial e o mais claro pos-
sível nas mensagens que publicar.


No exercício da tutoria em EAD, o tutor precisa desenvolver competências diversas
conforme retratado na Figura 1, apresentada a seguir:







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Visão geral sobre a tutoria







Competências
organizacionais





Competências Competências
tecnológicas pedagógicas

Tutoria


Competências
comunicacionais



Figura 1 – Visão integrada da tutoria em educação a distância

A maneira como o tutor exerce essas competências diversas varia de acordo com os
diferentes modelos de tutoria que podem ser adotados em cursos a distância.


Modelos de tutoria


Existem tantos modelos de tutoria quanto há educadores e instituições de
ensino dispostos a apoiar a aprendizagem a distância. Ainda assim, para fins di-
dáticos, podemos agrupá-los segundo algumas características distintivas. Vale
lembrar, contudo, que seja qual for o modelo de tutoria adotado, o papel tu-
tor é diferente do papel de um docente tradicional em sala de aula. Muda-se o
componente tempo e muda-se o componente espaço, da mesma forma que se
alteram as relações com os materiais, os feedbacks, os canais de comunicação e
a interação social e pedagógica.
Agora vejamos os modelos de tutoria e suas principais características.







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Formação de tutores para EAD







Tutoria proativa


Na tutoria proativa, o tutor acompanha o aluno a cada unidade do curso, tomando a ini-
ciativa de entrar em contato em caso de sua ausência no AVA e/ou nos encontros presenciais.
Neste modelo, o tutor também analisa a produção individual e/ou coletiva dos alunos e parti-
cipa ativamente das atividades previstas no modelo pedagógico do curso. Em geral, os cursos
que contam com tutoria proativa demandam a formação de turmas, para que o tutor possa
acompanhar mais de perto um grupo de alunos. Este tipo de tutoria permite que atividades
colaborativas sejam desenvolvidas com o apoio de um tutor dedicado. Também é possível que
discussões aprofundadas sejam realizadas em fóruns de discussão e outros espaços coletivos.
A Figura 2, a seguir, representa a tutoria proativa:









Proposta e mediação
de atividades
TUTOR




Turma de alunos estudando
juntos e realizando atividades
colaborativas


Figura 2 – Tutoria proativa

Neste modelo de tutoria, é papel do tutor assegurar que um alto ní-
vel de interação ocorra no curso on-line. Isso pode ser obtido de várias





18 UNASP VIRTUAL

Visão geral sobre a tutoria







maneiras, em geral previstas desde o planejamento do curso. Uma das
técnicas mais simples é propor aos alunos que realizem tarefas regulares
(semanalmente, por exemplo) e as disponibilizem
no ambiente virtual, de maneira que toda a classe “o modelo de tutoria
possa acessar e conhecer o trabalho dos colegas. reativa é bastante adotado
Isto provê bases para o compartilhamento de ideias
e a discussão entre os participantes. em cursos
Na tutoria proativa, o tutor também desempe- autoinstrucionais, onde os
nha um papel importante na avaliação da aprendiza- alunos estudam sozinhos,
gem. Suas atribuições incluem, além da orientação,
a correção de atividades com a oferta de feedbacks em seu próprio ritmo”.
qualificados, e a avaliação do desempenho de cada
aluno com base na proposta projetada para o curso. Este é, portanto, o modelo
de tutoria que mais se aproxima do papel que um professor desempenha na
modalidade presencial.



Tutoria reativa

Na tutoria reativa, o tutor também acompanha o curso a distância, mas oferece apoio
quando há uma solicitação espontânea dos alunos por auxílio sobre o conteúdo ou a proposta do
curso. Em geral, esse modelo de tutoria se ajusta bem aos chamados cursos autoinstrucionais,
aqueles em que os alunos estudam sozinhos, em seu próprio ritmo.
As tarefas propostas aos alunos consistem basicamente na leitura de textos, na ex-
ploração de materiais multimídia como animações e vídeos e em atividades com correção
automática ou baseadas em autoavaliação. Por essa razão, os cursos que contam com tutoria
reativa não requerem, necessariamente, a formação de turmas. A matrícula de novos alunos
é contínua, o que significa que cada um deles estará em um ponto diferente do estudo.






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Formação de tutores para EAD






Isso exige do tutor uma compreensão global da proposta do curso e atenção
especial para adaptar seu atendimento às necessidades de cada aluno em cada mo-
mento de sua aprendizagem. A Figura 3 (abaixo) representa a tutoria reativa:



Solicitações espontâneas





Dúvidas sobre atividades



TUTOR Questões sobre conteúdo

Alunos estudando individualmente,
no seu próprio ritmo

Figura 3 – Tutoria reativa


A tutoria reativa prevê, portanto, um tutor que atue na solução de dúvidas e no
apoio às necessidades educacionais individuais de cada aluno.



Tutoria máster


Na tutoria máster, um tutor mais experiente (muitas vezes, o professor-au-
tor) orienta outros tutores com relação aos conteúdos e à proposta do curso.
Regra geral, a tutoria máster ocorre em projetos que visam alcançar um número
elevado de alunos, agrupados em várias turmas rodando simultaneamente ou
executadas em sequência num curto espaço de tempo. Na maioria dos casos, o





20 UNASP VIRTUAL

Visão geral sobre a tutoria







tutor máster interage apenas com os tutores, oferecendo e sendo ele mesmo um
exemplo de tutoria proativa e reativa.
A tutoria máster pode ocorrer antes e/ou durante a execução das turmas regulares. Muitas ve-
zes, é executada uma edição prévia do curso apenas com os tutores selecionados, os quais vivenciam a
proposta do curso no papel de “alunos” e recebem tutoria proativa do tutor máster. Não é incomum que
a tutoria máster assuma um forte componente avaliativo, funcionando como uma etapa de avaliação
de desempenho dos tutores antes de sua efetiva contratação para conduzir uma turma a distância.
A Figura 4 a seguir representa a tutoria máster:







TUTOR Orientação ativa
MÁSTER e reativa ao tutor








TUTOR TUTOR TUTOR
Proposta e mediação Proposta e mediação Proposta e mediação
de atividade de atividade de atividade










Turmas de alunos estudando juntos e realizando
atividades colaborativas


Figura 4 – Tutoria máster




UNASP VIRTUAL 21

Formação de tutores para EAD






Vemos, também, com certa frequência, a tutoria máster se estendendo durante a exe-
cução das turmas regulares. Nesses casos, o tutor máster assume uma postura mais reativa,
atuando em resposta às solicitações espontâneas dos tutores sob sua coordenação.



Monitoria

A monitoria é outro tipo de atividade de apoio a alunos que estudam a distância. Embora
algumas instituições possam usar essa denominação para referir-se ao trabalho do tutor, há
























uma diferença clara entre as funções. O tutor, não importa se proativo, reativo ou máster, é um
conhecedor da área de conhecimento ou prática do curso, e também da metodologia de ensino
dessa área. Por essa razão, está capacitado a esclarecer dúvidas conceituais ou metodológicas. É
de fato um professor, com graus variados de interação com os alunos.
Já o monitor desempenha tarefas mais operacionais e de suporte tecnológico. Ele não
precisa necessariamente dominar a área de conhecimento de um curso, mas deve conhecer
bem as políticas e as práticas da instituição, bem como as ferramentas do ambiente virtual de





22 UNASP VIRTUAL

Visão geral sobre a tutoria







aprendizagem. Nem todos os cursos a distância contam com um monitor. Isso depende muito
do porte de cada projeto de curso. Em alguns casos, o tutor acumula as atribuições do monitor,
ou, alternativamente, conta com o apoio de um coordenador de curso para as questões admi-
nistrativas ou com o suporte técnico para atender o aluno a respeito de dúvidas tecnológicas.


Competências esperadas do tutor


O tutor deve ter conhecimentos específicos para que realize suas atividades profissionais com
qualidade. Isto é, deve desenvolver competências específicas para que a prática docente seja de-
sempenhada, em parceria com o professor-autor e o tutor presencial, de forma adequada. O autor
clássico McClelland (1971) indica que competência é a capacidade de desempenhar funções
específicas para que tarefas e atividades sejam realizadas em um contexto profissional ou não. As
competências estão vinculadas aos conhecimentos que uma pessoa detém (saber), às suas habili-
dades (saber fazer) e atitudes (querer fazer), conforme representado na Figura 5, a seguir:



Conhecimentos Habilidades Atitudes

Conhecimentos Aplicação dos Comportamento
adquiridos de diante dos
maneira formal conhecimentos conhecimentos
na prática
ou não formal e habilidades

Saber Saber fazer Querer fazer





Figura 5 – Conhecimentos, habilidades e atitudes vinculados à noção de competência


Para um profissional desempenhar uma tarefa com eficiência e qualidade, ele deve ter
a capacidade de articular seus conhecimentos, habilidades e atitudes para tomar iniciativa e




UNASP VIRTUAL 23

Formação de tutores para EAD






assumir responsabilidade pelas atividades vinculadas à sua área de atuação. Por essa razão,
adotamos nesse curso uma metodologia cujo enfoque é o desenvolvimento de competências,
desenvolvidas durante a realização de atividades relacionadas aos papéis a serem desempe-
nhados pelo tutor proativo, reativo e máster. Neste sentido, espera-se que os tutores dominem
competências relacionadas às áreas pedagógica, comunicacional, tecnológica e organizacional.
A seguir, descrevemos as principais competências a serem desenvolvidas nestas quatro áreas.


Competências pedagógicas

◆ Capacidade de criar no AVA e/ou no polo presencial um ambiente instigante
e motivador que estimule os alunos a participarem das atividades propostas,
a realizarem pesquisas relacionadas aos conteúdos discutidos, a sanarem os
questionamentos que emergirem, a se motivarem a alcançar os objetivos de
aprendizagem propostos para o curso e a construírem novos saberes.

Competências comunicacionais

◆ Capacidade de criar um diálogo didático real com os alunos,
considerando o perfil dos estudantes e os aspectos sociais e afetivos
envolvidos na interação a distância


Competências tecnológicas
◆ Capacidade de utilizar, de forma apropriada, as ferramentas tecnológicas
do Ambiente Virtual de Aprendizagem para apoiar e estimular a
participação de alunos nas atividades propostas.

Competências organizacionais
◆ Capacidade de trabalhar em equipe e representar a instituição educacional perante
os alunos agindo de acordo com a visão, a missão, os valores, os princípios, a
proposta educacional e os requisitos legais que regem a organização de ensino.





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Visão geral sobre a tutoria







Em resumo, o desenvolvimento destas competências é fundamental para que o tu-
tor desenvolva um trabalho de qualidade no contexto da EAD.





Desafio de tutoria

Levando em conta todos os aspectos tratados nesta unidade, podemos fazer uma
autorreflexão concentrada na nossa prática de tutoria. Assim, pense a respeito dos se-
guintes tópicos:



◆ Você conhece as características da EAD? Como esta modalidade
se diferencia da educação presencial?
◆ Você sabe trabalhar em equipe? Como acredita que seja
possível trabalhar em parceria com o professor-autor em um
curso a distância?

◆ Você acredita que possui os requisitos para atuar como tutor
reativo, proativo e máster?
◆ Você sabe o que é competência? Por que que o tutor deve
desenvolver as competências listadas nesta unidade?

◆ Todas as competências são relevantes nos três modelos de
tutoria, ou existe uma diferença de valor entre elas?
◆ Qual é a sua familiaridade no uso de tecnologias em seu dia a dia?
Você acredita que está conseguindo transpor estes conhecimentos
para participar das atividades propostas até aqui?









UNASP VIRTUAL 25

Formação de tutores para EAD







Resumo


Conhecemos nesta unidade alguns conceitos fundamentais sobre tutoria.
Primeiramente, discutimos a divisão do trabalho docente, que na EAD é compar-
tilhada por professores-autores e tutores. Depois, entendemos o significado do
termo tutoria e destacamos algumas especificidades da modalidade a distância
no contexto nacional. Também conhecemos o papel do tutor na EAD e as carac-
terísticas da tutoria proativa, reativa e máster, bem como as diferenças entre a
tutoria e a monitoria. Finalmente, foram apresentadas as competências de cunho
pedagógico, comunicacional, tecnológico e organizacional a serem desenvolvi-
das pelos tutores que atuarão em EAD.
Esperamos que esta primeira unidade tenha despertado o interesse de futuros
tutores para os aspectos fundamentais da prática docente em cursos a distância.
Na unidade seguinte, você aprenderá sobre as competências pedagógicas que nor-
teiam o trabalho do tutor.



Referências


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Barcelona: Ariel Educación, 2007.

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Visão geral sobre a tutoria







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