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21 autoras de várias cidades do Brasil escrevem contos, crônicas, poesias, depoimentos sobre suas experiências durante a quarentena em época de pandemia do covid-19.

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Published by TODAVOZ EDITORA, 2020-07-13 09:41:02

Letras da quarentena: escrita de mulheres_clone

21 autoras de várias cidades do Brasil escrevem contos, crônicas, poesias, depoimentos sobre suas experiências durante a quarentena em época de pandemia do covid-19.

Keywords: mulheres,covid-19,pandemia,literatura,todavoz editora

do virou de cabeça para baixo nos últimos meses. Isso é fato.
Percebo que as pessoas estão perdidas, angustiadas, deprimi-
das e as coisas não se encaixam mais como antes. Tento não me
abater. Mas é difícil às vezes.
Os beijos e abraços foram adiados, os projetos, os pla-
nejamentos profissionais da vida cotidiana, as consultas organi-
zadas para o checkup anual, a viagem para casa do filho distan-
te, o churrasco do final de semana, o aniversário da netinha, do
outro filho, as comemorações do Dia das Mães, também. Tudo
ficou registrado somente no calendário. E nada, ou quase nada
realizado.
E o que nos restou foram apenas as frias redes sociais e
a internet para nos acalentar um pouco, aplacar a saudade. A
frase do professor, que insiste em tilintar em minha cabeça, me
lembra, a cada instante, que é preciso tocar o barco durante a
tempestade, ainda que ele balance, desordenadamente, ten-
tando nos jogar, sem boias, em alto mar. — Então, a vida não é
assim?
Todo caminho da gente é resvaloso.

Mas também, cair não prejudica demais
A gente levanta, a gente sobe, a gente volta!
O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim:
Esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa,
Sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.
Ser capaz de ficar alegre e mais alegre no meio da alegria,
E ainda mais alegre no meio da tristeza...,

também já dizia João Guimarães Rosa.

3º ato
De origem italiana, a família é sempre muito intensa e
passional. Vivem como se o mundo fosse acabar amanhã. Ado-
ram conversar, viajar, comer bem e tomar bons vinhos. Convi-
ver com Gleima e Homero é sempre uma festa. A mãe de Glei-

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ma, dona Nésia, morava com eles e, aos 94 anos, necessitava de
muitos cuidados. Mulher linda, de olhos azuis, extremamente
educada. Era carinhosa comigo, com meu marido, com meus
filhos e gostava de chamar minha filha Júlia de Giovaninha, por
causa da semelhança com o pai.
Passei o dia 16 com o peito apertado e uma enorme
falta de ar. Estava preocupada, pois poderia estar contaminada
pelo covid-19. O dia parecia longo, apesar do sol se esconder
mais cedo nessa época do ano. Meus olhos ardiam muito e fui
dormir antes das 10 da noite. Como de costume, desligávamos
os telefones para que o sono fosse tranquilo.
No dia seguinte, logo cedo, meu marido ligou o celu-
lar. A notícia que chegou pelo WhatsApp na noite anterior nos
“tirou o chão” logo pela manhã. “Dona Nésia partiu”, dizia a
mensagem de Gleima. A despedida seria rápida e para poucas
pessoas. A pandemia impossibilitava a justa homenagem que
dona Nésia merecia. Distantes uns dos outros, pouco mais de
meia dúzia de entes queridos deram o último adeus àquela que
tanto carinho e alegria proporcionou em vida.

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Maria Fernanda Melgaço Almeida

O relógio segue normalmente

O despertador de Leila toca. Cinco da manhã. Poucos
percebem que o relógio, para além de marcar horas, marca a
desigualdade social. É verdade que ele mostra a contagem re-
gressiva da vida a todos. Porém, ele também marca a distinção
entre os que precisam acordar cedo para trabalhar e os que
podem dormir até se sentirem descansados. Mas, afinal, quem
é Leila?
Leila é uma mulher que, como a maioria das brasileiras,
acorda cedo. Casada. Tem dois filhos e uma infinidade de ta-
refas domésticas. Porque, além de trabalhar como doméstica
em uma casa da Zona Sul, tem de arrumar tudo em casa. Acor-
dar cedo. Lavar a louça. Colocar a roupa de molho. Fazer café.
Aprontar os filhos para a escola. Arrumar as camas. E chegar
ao trabalho às oito em ponto. Não antes de tomar duas condu-
ções.
O marido, por sua vez, trabalha como ambulante. Po-
rém, desde que a pandemia atingiu a cidade, o sustento da casa
se resumiu à renda de Leila. Os filhos, que acompanhavam o
pai nas vendas, também se viram afetados pela pandemia. A
orientação escolar foi de ficar em casa. Única forma de prote-
ger a vida. Mesmo com essa orientação, Leila não viu mudança
em sua vida profissional. A patroa disse que o Brasil não podia
parar e a vida havia de seguir normalmente.
Leila continuou sua rotina. Com a exceção de que, agora
que os filhos não estavam indo à escola, devia chegar mais cedo

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ao trabalho, a fim de começar às oito em ponto, após cumprir
os “novos procedimentos”. Chegar pelos fundos — o que não
era novidade. Lavar as mãos. Passar álcool em gel. Medir sua
temperatura. E equipar-se com outra roupa, luvas e máscara.
Só então, iniciar as tarefas.
Os patrões não costumavam ocupar o mesmo espaço
que Leila. Contudo, ela percebeu que, recentemente, eles não
saíam dos quartos enquanto ela estava lá. Uma vez, quando en-
controu o filho da patroa, quis perguntar sobre a pandemia. Se
Covid era como o HIV — que levara seu tio — ou como o câncer
— que levara sua mãe. Mas, ao abaixar a máscara para falar, o
menino deu ordem de não o fazer. Nunca haviam lhe ensinado
a usar aquilo. As pessoas têm uma mania de supor que todos
nascem sabendo tudo.
Leila não assistia à TV, faltava tempo. Sua escolaridade
não era suficiente para ler informações que via no trajeto diá-
rio. No ônibus, ouviu que precisavam manter a distância um do
outro para proteger a vida. Estranhou. O filho havia dito que
ficar em casa era a única forma de proteger a vida. Mas a patroa
disse que a vida havia de seguir normalmente. Proteger? Ficar?
Seguir? Viver? Faltava tempo para pensar nisso.
Chegou em casa. Viu contas a serem pagas, lembrou-se
de que o marido falara de dívida. Precisava voltar às tarefas. La-
var e estender. Preparar o jantar de hoje e o almoço de amanhã.
Varrer. Banhar. E dormir o pouco tempo que restava. O sono
marcado pelo relógio. O sono marcado pela desigualdade.
Um dia, o relógio marcou duas da manhã. Leila estava
acordada, recordando a última vez que trabalhou. Já comple-
tava uma semana que estava ali: deitada, vencida pela febre. O
ar se tornava mais pesado e parecia não chegar aos pulmões. O
médico do Posto lhe disse que voltasse, se piorasse. Ficou em
casa analisando, mentalmente, o último dia que foi trabalhar.
Buscou respostas:

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— Por que respirar se tornou tão difícil? — Só ouviu o
relógio.
— Será que os ponteiros marcam as horas para traba-
lhar ou para morrer? — Tic-tac...
— Se eu morrer, que me levem a um lugar onde não
haja relógio. Para descansar. — Implorou a quem quer que ou-
visse seu pensamento.
Em um lapso de delírio, ou lucidez, achou a resposta que
buscava! Foi tomada por desespero e dor. Voltou a mente às
contas que vira ao chegar e tentou se lembrar do que se tra-
tavam. Sua leitura, de quem interrompera o estudo no 5º ano,
não ajudava. Constatou, mesmo assim, o que supunha: o mari-
do teria, de certo, esquecido de pagar a conta do ar que respi-
ravam. Infelizmente, faltou tempo para alertá-lo e para chorar.
O despertador de Leila tocou. Cinco da manhã. Dessa
vez, o dia não seguiu para ela. Também por todo o país, relógios
despertaram. Cinco. Seis. Sete da manhã. Seguem marcando
horas e a desigualdade social. Afinal, o Brasil não pode parar.
Algumas vidas hão de seguir normalmente.

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Regina Capanema de Almeida

Eu aqui, você ali.

– Mãe, eu quero ir brincar com uma coleguinha.
– Querida, não pode. Nós precisamos ficar em casa.
– Eu vou ficar em casa, só que na casa dela!
– Eu já expliquei que tem um vírus, um bichinho, que
a gente não consegue enxergar de tão pequeno que ele é, mas
que faz as pessoas adoecerem, e os doentes graves podem
morrer. A gente não deve sair de casa para não pegar essa do-
ença. Eu, seu pai, você, a vovó, o vovô e muitas outras pessoas
na cidade, estão quietinhos dentro de casa.
– Quando eu adoeço você me leva no médico, eu tomo
o remédio e a doença sara. É só fazer isso!
– Querida, essa é uma doença nova, ainda estão apren-
dendo como tratar.
– Ué, lá na farmácia têm muitos remédios, será que
nenhum serve para essa doença?
– Ainda estão tentando descobrir um para ela.
– Eu estou cansada de ficar em casa e brincar sozinha!
A menina foi para o seu quarto batendo o pé como se,
assim, pudesse amassar a sua raiva no chão. Triste, olhou para
os seus brinquedos.
– Queria que as bonecas falassem comigo...Elas devem
falar umas com as outras, pois ficam muito tempo no meu quar-
to sem ninguém. Podiam me ensinar como elas fazem para não
se sentirem sozinhas!
Deitou na sua cama querendo chorar e abraçou a bone-
ca preferida. Ficou olhando para ela e viu que os seus olhinhos

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estavam bem abertos, parecendo que estava alegre. Pulou da
cama e foi ver como estavam os olhos das outras bonecas.
– Engraçado, eu nunca tinha prestado muita atenção
nos olhos delas, ficava só carregando de um lugar para outro,
trocando as roupas, dando comidinha e colocando para dormir.
Agora eu estou vendo que os olhos delas não são iguais. Já sei...
descobri como elas conversam. É com os olhos!
Saiu correndo do quarto e foi para a sala. Sorrindo,
olhou para fora da janela.
– Vou fazer igual às bonecas, aprender a falar com os
olhos! Vou olhar, olhar e encontrar lá fora quem vai me olhar
também, e aí nós vamos poder conversar!
Olhou para fora da janela e viu uns passarinhos no jar-
dim, uma borboleta voando, e até um gato sentado no muro.
– Tem um problema... todos lá fora estão ocupados. Os
passarinhos estão andando devagarinho, aos pulinhos, e parece
que já estão conversando entre eles. A borboleta não sossega,
não para de voar, nem vai prestar atenção na minha janela. E
o gato está distraído lambendo as suas patas. Como vou fazer
para eles me olharem e começarmos a conversar?
Era uma menina muito esperta e logo descobriu como
fazer para chamar a atenção dos que podiam virar seus amigos.
– Já sei o que fazer para chegarem mais perto de mim.
Eu vou pôr um pedaço de chocolate na janela. Todo mundo
adora chocolate, e eles vão gostar também!
Pulando de alegria ela voltou para quarto. Tirou o ca-
darço do seu tênis e pegou um pedaço de chocolate que tinha
guardado no fundo do armário.
– Agora é só montar!
Ela amarrou uma ponta do cadarço do tênis na janela e
o chocolate na outra ponta. Resolveu esperar, escondida atrás
da cortina, porque sabia que novos amigos ficam com vergonha
quando se encontram pela primeira vez. A mãe, que estava pro-

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curando por ela, entrou na sala.
– O que você está fazendo aí, atrás da cortina? Pode
sair e ir tomar banho. Depois do jantar, nós vamos assistir um
filminho.
Debaixo do chuveiro, ela ficou pensando no seu plano.
Achou que ia ser melhor deixar a conversa para amanhã, pois
seus futuros amigos estavam ocupados e podiam demorar para
descobrir o chocolate na janela. Tomou banho, jantou e prefe-
riu ir dormir. No outro dia, acordou e foi correndo ver se um dos
novos amigos já estavam na janela.
– Ah... formigas estão carregando o chocolate que eu
deixei ontem na janela! E agora, o que eu vou fazer?
A menina teve outra ideia e foi procurar sua mãe.
– Mãe, você pode me emprestar a lente que a vovó usa
para enfiar a linha na agulha?
– Vou buscar, mas cuidado para não deixar cair e que-
brar.
– Pronto, eu mudei de plano. E, com a lente que au-
menta o tamanho das coisas, eu vou enxergar melhor as formi-
gas. Agora eu vou é conversar com as formigas!
Chegando na janela, a menina viu as formigas grando-
nas através da lente, mas descobriu um outro problema.
– Eu não consigo ver os olhos delas, elas não ficam
quietas! Estão com pressa para carregar o chocolate. Será que
estão com fome? E, com fome, elas não vão querer parar para
me olhar e conversar comigo. Melhor é ajudar e desamarrar o
chocolate para ficar mais fácil carregar para a casa delas. Vou
ter é que inventar um outro plano!
Ela sentou em um cantinho da sala, fechando os olhos
para se concentrar mais.
– Já sei! Os passarinhos vão ficar com sede de cantar ou
voar, então eu vou deixar um copo com água na janela para eles
virem beber. Quando acabarem de beber a água, vão me ver, eu

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olho para eles, e nós começamos a conversar.
O copo ficou na janela durante todo o dia, mas nenhum
passarinho veio beber água. À noite, cansada de tanto esperar
um passarinho para conversar, a menina foi dormir. A mãe per-
cebeu que a filha estava triste e deitou na cama com ela.
– Mãe, passarinho não bebe água?
– Claro que ele bebe água.
– Será que é uma água diferente da que a gente bebe?
– Ah, isso eu não sei. Não entendo nada de passari-
nhos! Vai dormir, amanhã você pergunta para o seu pai, talvez
ele saiba te responder.
Quando acordou ela foi procurar o seu pai, mas ele esta-
va no banheiro. A menina tomou seu leite, comeu só a metade
do pão e foi para a janela.
– Papai vai demorar, melhor eu desistir de conversar
com o passarinho hoje. Quem sabe o gato vem conversar co-
migo? Não deve ser difícil para ele chegar até a janela, pois os
gatos estão acostumados a subir, a pular e saltar. Vou deixar uns
pedacinhos do meu pão com manteiga para ele na janela. Eu
acho que vai gostar!
O gato não apareceu na janela até de noite. A menina
não conseguia entender porque o gato não quis vir comer o pão
com manteiga.
– Mamãe, qual é a comida que gato mais gosta?
– Minha filha, você anda perguntando umas coisas es-
quisitas! Ontem, queria saber qual o tipo de água que passari-
nho bebe. Hoje, quer saber o que gato come. É tarde, melhor
você ir dormir, e amanhã procuramos na internet.
Ela acordou cedinho, foi até a janela e levou um susto.
– Oh! Tem uma borboleta pousada na janela! Não vou
chegar muito perto dela...ela ainda não me conhece, pode se
assustar e fugir. Estranho... eu acho que ela já está olhando para
mim...ela está abrindo e fechando as asas, como se estivesse

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piscando!
A borboleta era muito delicada e a menina preferiu falar
baixinho.
– Bom dia, Borboleta. Olhe para mim para conversar-
mos. Você é tão bonita, tão colorida, deve entender de cores.
Quem sabe a gente começa falando sobre quais são as cores
que nós gostamos mais?
Neste momento, a mãe entrou gritando na sala.
– Filha, ligaram da sua escola, na próxima semana as
aulas vão recomeçar, e você vai poder também brincar com as
coleguinhas como queria!
– Mãe, nem estou mais querendo. Eu já arrumei uma
nova amiga para conversar e brincar!

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Regina Marinho

Tudo ficará bem!

De repente, como tanta gente, vi-me lançada num co-
tidiano ao qual não estava nem um pouco familiarizada. Por
causa do distanciamento social e da determinação de trabalho
remoto, mudei-me para uma casa, em outra cidade, cuja cons-
trução terminara dois anos antes. Isso fez minha vida mudar
drasticamente, mais que se estivesse morando no antigo lugar.
Confesso! Ainda estou me achando nesta nova rotina.
O contato com o verde é sanador! Andar descalça na
terra, tomar sol, colher verdura fresca na horta… Coisas mara-
vilhosas que afastam o tédio e o desespero, mas têm exigido o
cumprimento de tarefas diárias. Como o trabalho é muito, meu
propósito é me levantar às 6h. Jesus amado, que coisa difícil!
A gente ainda segue sem muita noção e acaba indo se deitar
tarde, por causa daquela série ou daquele filme que há tanto
tempo queria ver. Aí, no outro dia… Nossa, já passa das 7h?! Le-
vanto-me atropelada pelo tempo, que segue inexorável, e tento
não perdê-lo demais. Acho que toda rotina tem sua importân-
cia, mas se a gente a cumpre de forma automática, imersa num
universo muito pessoal, não se dá conta do que se passa a nos-
sa volta. “Meu Deus! Você viu isso?!”, João me pergunta. Não vi
não, o que foi dessa vez?, pergunto enquanto pego a couve, a
maçã e o limão para o suco verde. Afetada pelos acontecimen-
tos diários de um país em estado de abandono, perco o tempo
das tarefas para achar o tempo de ver as últimas notícias, quem
sabe, um fato novo que traga alguma esperança. “Vamos lavar a

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louça de dupla? Um lava e o outro enxágua?” Adoro quando ele
sugere isso! Lado a lado, escutamos um comentário e trocamos
alguma ideia. É dia de lavar roupa também, mas, antes, preciso
entrar no trabalho remoto: verificar e-mails recebidos, respon-
dê-los, se for o caso, acessar o programa de tramitação de CI’s…
Na instituição em que trabalho, exerço tarefas de suporte a um
programa de atividades presenciais, além de redação e revisão
de materiais. É muito estranho me lembrar da rotina intensa
de atividades com que lidávamos há tão pouco tempo. Tudo
mudou! O programa foi suspenso em decorrência da pandemia
e as tarefas de suporte também foram atingidas. O corre-corre
continua! Bendita máquina de lavar!! Só não tira a sujeira de
terra no tecido. Abro a torneira e a água jorra, como se brotasse
do cano. Lembro-me das favelas brasileiras em que falta tudo
e falta a água que vejo encher o bojo do tanque. Meu Deus!
Como viver sem água?? Como fazer a higiene fundamental para
se prevenir da covid-19?? Ponho a roupa pra bater e vou prepa-
rar o almoço. Uma cebola, dois dentes de alho… Cadê o feijão?
Não acredito que me esqueci, de novo, de pôr o feijão de molho
ontem à noite! Será que vou aprender um dia? Corto a cebola e
os olhos ardem. Vejo-me como a mulher que descobre a beleza
dos aros transparentes da allium cepa no texto de Rubem Al-
ves. Lembro-me da Ode à Cebola, de Neruda, que li num jornal
impresso e me fez louca pra comprar o livro, ponho a Mônica
(Salmaso) pra cantar, e canto junto com ela. O mundo parece
maravilhoso! Parece? O mundo criado por Deus é pura beleza!
Já o mundo modificado pelo homem… O que fazer pro almo-
ço? Olho a despensa… Falta isso, isso… Enquanto anoto para a
próxima compra, outro pensamento me vem. Não tá faltando é
nada, mulher! Falta mesmo é pra quem perdeu o emprego por
causa da pandemia. Gente, é um crime acabarem com o auxílio
emergencial!!
Não há um só dia em que eu não seja afetada pelo dra-

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ma de milhares de brasileiros e, também, por muita coisa baca-
na, exemplos de amor e solidariedade! Tantas palavras anima-
doras! Uma coisa que não tenho conseguido, perdoe-me quem
pensa o contrário, é ver este momento como algo ruim, mesmo
havendo dor. Tenho tido a atitude de parar, respirar e obser-
var. Intuo que há muitos ensinamentos importantes e que, de
fato, não voltaremos ao normal de antes. Então, vou continu-
ar a fazer as tarefas domésticas sem ajuda externa, mas com a
contribuição de meu parceiro, apoiar financeiramente, no que
posso, a quem precisa, continuar atenta às lições do vírus e….
rezar bastante. Como Juliana de Norwich, mística do séc. XIV
que vivia em isolamento voluntário quando sobreveio a peste
bubônica, eu também creio: “All shall be well!!”

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Renata Teixeira da Silva

Querido João,

Hoje, quatorze de junho de dois mil e vinte, escrevo a
você esta carta que só será aberta daqui a 14 anos, quando
você terá 18 anos – pelo menos, é esse meu intento! É uma car-
ta escrita agora, para um “você” no futuro, que fecho os olhos
e tento imaginar... Neste dia em que você terá alcançado o que
consideramos a maioridade, desejo partilhar percepções que,
espero, sejam úteis...
Estávamos numa correria sem fim, João! Eu vivia para
trabalhar de tal forma que até mesmo estudar foi ficando meio
complicado, sabe!? Doutorado, francês, flauta transversa, rela-
cionamentos, família, tudo foi sendo deixado para depois, pois
o urgente era trabalhar, trabalhar e trabalhar! Até que, em abril
de 2019, fui surpreendida com um diagnóstico de uma doença
considerada bastante grave nestes tempos: câncer. E isso me
ensinou uma série de lições, querido João.
Então, quando veio a “grande pandemia de 2020”, ela
me encontrou mais fortalecida, para certas questões, do que
me encontraria dois anos antes. Isso, que obrigou a humani-
dade a se isolar para resguardar sua imunidade, começou, na
verdade, para mim, quando iniciei as quimioterapias; uso de
máscaras e álcool em gel também! Mas vamos ao que motivou
esta carta: percepções, lições...
Lição nº. 01) Esta vida é um sopro:
Quantas vezes, João, agi como se fosse ter meus pais
para sempre, como se pudesse ver quem eu quisesse, onde e

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quando quisesse! Como se eu fosse a dona do tempo e pudesse
determinar o rumo das coisas, meu querido! Não, não temos o
controle de nada! Não sabemos o que virá depois da próxima
curva e, sim: a vida é algo tão breve!!! Isso me fez dimensionar
melhor o tempo! Então, passei a vê-lo como algo tão, mas tão
valioso, que fiz questão de aproveitá-lo fazendo algo que, real-
mente, mudasse para melhor minha própria vida e a daqueles
que eu pudesse auxiliar. “Qual é meu papel no mundo?” passou
a ser pergunta frequente, insistente dentro de mim. A vida é
dom precioso, a juventude não é eterna; não somos eternos
nestes corpos que nossas almas governam, assim como as pes-
soas que nos cercam também não o são! Isso me fez parar para
pensar nos tipos de relacionamento que desejava construir e
em como gostaria de deixar “minha marca”. Pense na marca
que deseja deixar!
Lição nº. 02) Somos uns pelos outros:
Essa era a frase que seu bisavô, João Gualberto, gostava
de repetir. Passei a ter uma percepção melhor dela quando, du-
rante meu tratamento, era procurada por pessoas em situação
semelhante que, muitas vezes, não precisavam de nada mais
que um alento, uma palavra amiga. Sou muito grata por ter po-
dido oferecer isso. Já no início da pandemia de 2020, quando
foi exigida uma “ausência de ação” (no caso, ausência de tanto
convívio, de tanto “movimento”), pude ressignificar, novamen-
te, esta lição. Foi-nos dado um toque de recolher em plena luz
do dia! A ordem era “ficar em casa”, não apenas para nos res-
guardarmos, mas para resguardar a saúde de todos: familiares
e não familiares, próximos e não tão próximos! Algo que acon-
teceu em outro continente repercutiu noutros... e pudemos ter
a sublime percepção: estamos, mesmo, todos interligados!
Lição nº. 03) A vida é muito profunda para nos permi-
tirmos ser superficiais:
É nossa opção: sermos nós, ou sermos laços, sermos

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flores ou espinhos, sermos pedra de tropeço ou degrau para
elevação... João, ame profundamente, ajude de forma constan-
te, pense positivamente! Se há algo que não lhe agrada, lute
para mudar rapidamente! Apenas não se limite, aprenda a se
perdoar pelos seus erros e a corrigi-los sempre que possível!
Perdoe, sempre, quem lhe ofender ou ferir, seja como for! Seja
perseverante no bem! Aproveite cada pôr do sol, cada sorriso,
cada afago, cada beijo e cada abraço, cada dia de chuva, cada
voo de borboleta e tenha o trabalho como aliado, jamais como
algoz! Viaje, sonhe, realize! O tempo é implacável, João, e o que
se leva desta vida é mesmo – tão somente! – a vida que se leva.
Que sua vida seja plena e seja leve!
Com amor,

Madrinha

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Terezinha Pereira

Quero um mundo fora do mundo

Início deste ano de 2020: noticiam que um agente pato-
gênico que causa doenças respiratórias, quem sabe uma espé-
cie de pneumonia até então fora do comum, surge na cidade de
Wuhan, na China. A coisa se anunciara em meados de dezem-
bro. Como nunca eu ouvira falar daquela cidade da China, fui ao
mapa-múndi. Achei. Bem. Mas. O fato ocorria lá na China, outro
mundo... Passa mar, passa terra, passa mar, passa terra...
Wuhan? Da China, sabia de Pequim (ou Beijing), de Nan-
quim (ou Nanjing), de Xangai, de Hong Kong, de Macau. Sabia
da Muralha, que em tempo passado teria protegido o território
chinês de ataques de outros povos. Muralhas hoje, para quê?
Se o inimigo pode chegar do espaço. Ou surgir do nada. No
hoje, muralhas serviriam para turista ver. Só, imagino. Contudo,
o micróbio estava era por lá. Na China, lá no oriente...
Bom. Em meados de janeiro, haveria lá cerca de cin-
quenta pessoas infectadas, algumas em estado grave. Poderia
vir a ser uma epidemia. Por lá. Até então, especialistas da ciên-
cia inferiram que a causa da doença era um novo tipo de coro-
navírus. De modo sutil, davam a entender que o invisível orga-
nismo teria emanado de mercados de frutos do mar existentes
na região. Até hoje, não garantem se é conhecido o ponto exato
de onde nasceu o temido. Intervieram para evitar a dissemi-
nação do vírus pelo país com ações que deixaram o povo do
lado de cá do mundo ocidental com os cabelos arrepiados. No
entanto... era na longínqua China.

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Porém... Distâncias são vencidas pela velocidade. As
pessoas voam. Na bagagem de seus corpos, carregam inimigos
minúsculos, invisíveis. Mundos oriental e ocidental não teriam
contado com isso? Alguém está na China hoje, amanhã pode
estar na Europa, na Inglaterra, nos Estados Unidos, no Brasil.
Assim, a epidemia originada numa região da China, em pouco
tempo, acabou virando uma pandemia.
A impressão que tenho neste mês de junho é que o úl-
timo janeiro deu-se há um século. Nesse janeiro, o que matava
e adoecia pessoas em Minas Gerais era uma cerveja. Chuvas
fortes, enchentes e desabamentos também mataram gente em
Minas e em outras partes do país. Então... A doença causada
pelo coronavírus foi batizada de covid-19 e, ligeira e sem pedir
licença, fez-se presente no mundo do ocidente. No Brasil, desde
meados de março, as cidades ficaram diferentes. As pessoas,
menos as que morreram por causa do coisa ruim ou de outros
males, são as mesmas. Cadê o sossego. Cinemas, bibliotecas,
casas de espetáculos, escolas, lojas, shoppings, camelôs, res-
taurantes, bares, igrejas... Empregos, trabalho. Cadê tudo isso?
Uai, nos lugares de sempre. Muitas pessoas estão em casa, por
cuidado ou por medo. Sendo assim, os lugares carecem de gen-
te. A Internet é que fornece informação, desinformação, conta-
to com familiares, namorados, palestras, interação entre pro-
fessores e alunos. Ah! Contatos com as mais variadas formas de
arte. Sem isso, como suportar a tristeza da vida! Viagens virtu-
ais. Pela Internet, pode-se viajar. Até pela China.
A mente em turbulência. A minha, as de muitos. A todo
dia, noticiam a evolução do número de pessoas contaminadas
e de mortos por causa do famigerado. Em alguns países, esses
números já estão em queda. Em outros, como no Brasil, país
enorme, com enormidade de diferenças territoriais, climáticas
e, mais ainda, de diferenças sociais e, atualmente, desnorteado
por falta de um líder com consciência de nação, o número está

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crescendo. Falam de grupos de risco. Idosos, gente com doen-
ças crônicas, os mais suscetíveis. A China, tão grande, tão cheia
de gente, tão distante. Parece que os governantes de lá tiveram
um consenso nas ações de prevenção e combate ao atual inimi-
go maior. Crê-se que, por lá, nos dias de hoje, o desventurado
tenha parado de atacar.
Reflito. O arrenegado, micróbio invisível – como essa
coisa pôde provocar tal revolução desarmada em todos os re-
cantos desta Terra que creio redonda? Extensa reviravolta sem
armas de fogo, sem poderosos mísseis, como também desguar-
necida de recursos médicos, de leitos hospitalares, de equipa-
mentos de proteção individual. Medicamentos ministrados à
base do ensaio-e-erro. Que os erros se convertam em sensatez
e que a ciência se depare com uma panaceia para aniquilar o
coisa maligno e, também, restaurar a dignidade das pessoas
que se veem tão desoladas.
Anseio. Que todos sejam libertos do medo de andar li-
vremente pelas ruas. Que todos possam, em breve, receber e
visitar amigos, abraçar filhos que moram noutras casas, noutras
terras. Que o café da tarde com amigos seja retomado. Na Chi-
na, tão distante, já estarão se abraçando? Enquanto não chega
a era pós-pandemia... liberto meus desejos. Quero sair desta
sozinhês, desta paradeza. Por ora, ir-me embora. Para onde?
Pasárgada? Utopia? Xangrilá? Terra do Nunca. Nárnia. Terra de
Oz. País das Maravilhas. Para a Terra que tem palmeiras onde
canta o sabiá. Para a Terceira Margem do Rio? Um terceiro
mundo. Quiçá um mundo fora do mundo. Na demora, viajo
pela literatura.

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Epílogo

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Maria Valéria Rezende

A face descoberta

Alina acorda com aquela conhecida angústia. Sonhou de novo
com as vagas imagens da mãe que perdeu, aos dois anos de
idade, na pandemia de 2020. Despacha logo as crianças para a
escola. Esquece a angústia por uns minutos enquanto aprecia
os corpinhos nus dos dois filhos, cada dia mais morenos do sol
de verão, hoje ambos usando um novo par de máscaras que ela
se orgulha de ter desenhado.
Tão originais! Quando desaparecem pela porta da Van
escolar, Alina volta-se para dentro e reencontra a angústia. Bus-
ca a chave, abre a gaveta e pega a fotografia, única prova que
lhe restou da existência da mãe e escapou da destruição de to-
dos os indecentes retratos anteriores à peste. Olha longamente
a face descoberta, a sobressair entre o véu de noiva e todos os
panos que antes cobriam os corpos. Sente um pouco de vergo-
nha de contemplar assim, longamente, a boca, o nariz e o quei-
xo daquela mulher e achá-los belos. Soa o relógio, e ela se lem-
bra do desfile que fará hoje dos novos conjuntos de máscaras
e minúsculos tapa-sexos higiênicos. Inaugura uma nova linha e
deve parecer segura e confiante frente à sócia e às clientes.
Tranca a gaveta e corre para banhar-se, tratar a pele
com aquele creme francês que lhe deixa o corpo inteiro admi-
ravelmente aveludado e, finalmente, vestir-se com sua máscara
mais elegante e exclusiva.

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Sobre as autoras

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ANDRÉA MOREIRA
nasceu em Belo Horizonte e mora em Pará
de Minas desde criança. É graduada em Psi-
cologia e tem mestrado em Intervenções
Psicossociais em Psicologia. Poeta e contis-
ta, teve poesia premiada em 2016 na L’Ac-
cademia Internazionale Il Convivio, na Itália,
com o primeiro lugar em Poesia Estrangei-
ra e publicações em Portugal nos livros: A
Vida em Poesia II e Faz de Conto II. Obteve menção honrosa
no concurso Casa de Espanha, em 2016. Participou do livro de
contos Águas Passadas. É colunista do jornal O Diário, em Pará
de Minas.

CARMÉLIA CÂNDIDA
nasceu e vive em Pará de Minas/MG. É
graduada em Letras, pós-graduada em Al-
fabetização e Letramento e em Língua Por-
tuguesa. Escreve crônicas, contos, poemas
e textos teatrais. É membro da Academia
de Letras de Pará de Minas. Contadora de
histórias e atriz, é membro dos Grupos de
Teatro Iluminartt e ReVerso. Mantém o blog “Baú de Carmélia”,
onde publica seus textos. Autora do livro O azul dos olhos dela,
de contos e crônicas (2012, Virtual Books).

DÉA MIRANDA
nasceu em Pará de Minas, é graduada em Letras, poetisa, cro-
nista e contista. Publicou dois livros de poesias: A essência das

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palavras e A essência do Ser. Em Caderno
Literário: “Folhas Esparsas” publica contos
e crônicas. Possui crônicas, poesias e contos
inseridos em várias antologias. Participou
do livro Pará de Minas, meu amor, no ano
do sesquicentenário da cidade. É autora de
um poema que homenageia a sua cidade,
cuja música foi composta pelo maestro Sa-
muel Lopes. Colaborou em alguns jornais e revistas de Pará de
Minas e região. Manteve a coluna “Coisas de criança” durante
alguns anos, no Jornal Gazeta Paraminense. Ocupa a cadeira nº
11 da Academia de Letras de Pará de Minas.

ELMA PIEDADE SANTOS LEITE
é poetisa e professora. Ama o que faz. Partici-
pou de várias Antologias e vê a poesia como
alimento para a alma. O escrever é como o res-
pirar...vida!

FABIOLA IMBRIANI
mãe de dois filhos e responsável por cursos e
exames de idiomas numa escola internacional
de Lecce, Itália. Estudou inglês e português na
Universidade tornando-se tradutora e intérpre-
te. Ao final dos estudos, com todo o grupo da
Universidade de Lecce, foi ao Brasil para estu-

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dar um mês na UFMG. Foi naquele momento que conheceu o
Brasil e ficou apaixonada por ele.

HILA FLÁVIA MARINHO TEODORO nasceu
em Pará de Minas. Bacharel em Direito pela
PUC-Minas, tem curso especial em Canto Or-
feônico e Coral (SEEMG). Membro fundado-
ra da Academia de Letras de Pará de Minas.
Seu primeiro livro foi publicado aos 40 anos
de idade: Quintal de horta pela Editora Vega.
Tem vários outros livros publicados pela
Mazza Editora, além de participações nos Bianuários da ALPM.

IARA CHRISTINA SILVA BARROCA é profes-
sora Ph.D. Associado I, da Universidade Fe-
deral de Viçosa, Campus Florestal/UFV, na
área de Línguas e Literaturas de Língua Por-
tuguesa com Pós-doutorado em Literatura
Comparada pela University of Central Flori-
da – UCF –, Estados Unidos e Pós-doutorado
em Estudos Literários pela Université Paris
Ouest Nanterrre La Défense. Integra, como pesquisadora, os
grupos de pesquisa: Mulheres em Letras (FALE/UFMG/CNPq);
Grupo de Pesquisas CLEPUL – Centro de Literaturas e Culturas
Lusófonas e Europeias LETRAS/Universidade de Lisboa; Gru-
po de Pesquisa MILBA – Memória e Imaginário na Literatura
Memória e Imaginário nas Literaturas Brasileira e Africanas, na
UFRPE – Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife.

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IDÊ FERREIRA
nasceu em São José da Varginha. Cons-
truiu sua identidade em Pará de Minas.
Educadora por formação e opção de vida,
tem sempre um olhar mais sensível sobre
o ser humano, suas inquietudes e busca
por um mundo mais solidário e generoso.
Sente-se conectada com as pessoas, com
o que está acontecendo, ciente de que vi-
vencia um processo de cura, não só individual, mas coletiva, e

que todos sairão melhores do que são.

JULIA FERNANDES
mineira de Nanuque, é professora de Lite-
raturas com licenciatura em Português e
Espanhol; Mestre em Literatura Brasileira e
Doutora em Teoria da Literatura e Literatura
Comparada pela FALE-UFMG; atualmente
dedica-se a pesquisas sobre escrita feminina
e arquivos literários.

JULIANA BORGES OLIVEIRA DE MORAIS
é licenciada em Letras (Inglês) pela Universi-
dade Federal de Minas Gerais. Mestre em Li-
teraturas de Expressão Inglesa e Doutora em
Teoria da Literatura e Literatura Comparada
(UFMG). É professora adjunta do Departamen-
to de Letras, Artes e Cultura da UFSJ nas áreas
de teoria da literatura e literaturas em língua

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inglesa; pesquisadora dos grupos Mulheres em Letras e Núcleo
de Estudos em Literaturas de Língua Inglesa (UFMG) e Mulheres
e Ficção (UFV) .

KELEN BENFENATTI PAIVA
é mineira de São João del-Rei, Doutora em
Literatura Brasileira pela UFMG, escritora,
pesquisadora, professora e Coordenadora
do curso de Letras do IF Sudeste MG/SJDR.
Atualmente, desenvolve pesquisas sobre au-
toria feminina e arquivos literários.

LETÍCIA PALMEIRA
é autora de diversos livros nos gêneros ro-
mance, contos e crônicas pelas editoras
Penalux e Multifoco e já participou de vá-
rias coletâneas. É graduada em Letras pela
Universidade Federal da Paraíba e, mesmo
tendo nascido em São Paulo, é na cidade de
João Pessoa que reside e trabalha sua ficção.

LÍGIA MUNIZ
é natural de Oliveira (MG) e reside em Pará de Minas há 39
anos. Professora, jornalista pela UFMG, especialista em Meto-
dologia do Ensino Superior e Educação. Atualmente é Asses-
sora Pedagógica na Faculdade de Pará de Minas (FAPAM). Foi

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sócia-fundadora do Jornal Gazeta Para-
minense. Recebeu vários prêmios lite-
rários. Possui publicações em jornais,
antologias, coletâneas, revistas entre
outros, inclusive nos Cadernos Literá-
rios da ALPM.

LUCIANA PIMENTA
mulher, mãe, poeta, professora e pesquisado-
ra. Doutora em Direito pela PUC Minas; Mes-
tre em Filosofia Social e Política pela UFMG.
Professora do Curso de Direito da PUC Minas,
Líder do Grupo de Pesquisa Direito e Litera-
tura: Um olhar para as questões humanas e
sociais a partir da Literatura (PUC/CNPq).
Pesquisadora do Grupo Mulheres em Letras (FALE-UFMG/
CNPq); Autora de três livros de poema: Aprendizagem no espe-
lho (2000); Heranças (2016) e Morada (2017).

MARIA DE FÁTIMA MOREIRA PERES
nasceu em Pará de Minas. Formada em jor-
nalismo pela UFMG, licenciatura em Letras
pela PUC-Minas e Mestre em Literaturas de
Língua Portuguesa pela mesma universidade.
Pesquisadora do Grupo Mulheres em Letras
(FALE/UFMG/CNPq). É editora do jornal Mu-
lheres em Letras, organizadora de vários livros

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acadêmicos e literários, tem artigos publicados em antologias,
anais e revista de crítica literária. Ocupa a cadeira de número 15
da Academia de Letras de Pará de Minas.

MARIA FERNANDA MELGAÇO ALMEIDA
nasceu no dia 28 de março de 2000, em Pará
de Minas - MG. Desde pequena, é amante
das artes, em especial, dos sons e das letras.
Em 2015, concluiu o curso de formação bá-
sica em música, com habilitação em flauta
transversal, pela Escola Municipal de Músi-
ca Geraldo Martins (EMMGM). De 2018 até
o presente, cursa a faculdade de História pela Universidade Fe-
deral de Minas Gerais (UFMG).

MARIA VALÉRIA REZENDE
é escritora e tradutora, nasceu em 1942, na
cidade de Santos (SP), onde viveu até aos
18 anos. Desde 1976 vive na Paraíba, ten-
do já recebido o título de cidadã paraibana.
Formada em Língua e Literatura Francesa,
Pedagogia e Mestre em Sociologia, dedi-
cou-se, desde os anos 1960, à Educação
Popular, em diferentes regiões do Brasil e no exterior, tendo
trabalhado em todos os continentes. Tem diversos livros publi-
cados de poesia, literatura infantojuvenil, contos e romances. O
seu romance O voo da guará vermelha (Ed. Objetiva, 2005) foi

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publicado em Portugal, França e teve duas edições na Espanha
(espanhol e catalão). Participa em várias coletâneas no Brasil,
Argentina, Itália, França, Estados Unidos da América e Portu-
gal. Ganhou o prêmio Jabuti em 2009, Categoria Infantil, com
a obra No risco do caracol (Ed. Autêntica, 2008) e, em 2013, na
Categoria Juvenil, outro Jabuti com o romance Ouro dentro da
cabeça (Ed. Autêntica, 2012). Os Jabutis para Melhor Romance
e Livro do Ano de Ficção chegaram em 2015, pelo seu roman-
ce Quarenta Dias (Ed. Alfaguara, 2014). O seu último romance
Outros Cantos (Ed. Alfaguara, 2016) valeu-lhe o Prêmio Casa de
las Américas (Cuba, 2017), o Prêmio São Paulo de Literatura e o
terceiro lugar no Prêmio Jabuti 2017.

REGINA CAPANEMA DE ALMEIDA
é médica, com doutorado em Medicina
Tropical/UFMG. Cresceu lendo, estimulada
pelo pai, magistrado, que garimpava livros
e construiu uma biblioteca maravilhosa, e
por sua mãe, professora criativa, que in-
centivava as artes. Do ler para o escrever
foi um passo, uma dança, um malabarismo.
Profissional, mãe e avó apurou o ouvido. E continua, entre do-
res e alegrias, correndo atrás e brincando com letras que puxam
palavras e amarram sonhos. Publicou capítulos de livros, artigos
científicos e histórias infantis.

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REGINA MARINHO
nasceu em Pará de Minas, filha de Genuína
Melo e de Walter Marinho. Formada em
História pela PUC-Minas e pós-graduada
em História Moderna e Contemporânea.
Foi professora de História do ensino fun-
damental, pela rede estadual de ensino,
e é servidora do Tribunal de Justiça Minas
Gerais. É escritora, poeta e cantora. De sua autoria, são os li-
vros de poemas Icarina e o Caderno Literário n. 4 da Academia
de Letras de Pará de Minas. Foi colaboradora do Jornal Gazeta
Pará-minense e do Jornal Diário de Pará de Minas. Participa de
coletâneas com poemas, contos e textos, em publicações da ci-
dade de Pará de Minas e Belo Horizonte.

RENATA TEIXEIRA DA SILVA
é licenciada em Letras pela Faculdade de
Pará de Minas-FAPAM e bacharela em Di-
reito pela Universidade de Itaúna (UIT),
Doutora em Didática da Língua Portuguesa
pela Universidade Nova de Lisboa, Mestre
em Educação pela Universidade Federal de
Juiz de Fora (UFJF). É professora na FAPAM,
revisora e escritora. Ocupa a cadeira número 03 da Academia
de Letras de Pará de Minas. Tem capítulos de livros, artigos, crô-
nicas e poemas publicados em revistas, periódicos acadêmicos
e literário e em jornais. Publica no blog de sua autoria: Popoei-
rapoesia.

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TEREZINHA PEREIRA
é aposentada. Tem 71 anos. Mora em Pará
de Minas. Gosta de escrever. Tem traba-
lhos premiados e publicados na Itália, Por-
tugal e em diversos estados do Brasil. Pu-
blicou sete livros: romances, contos e uma
tradução. Organizadora de Pará de Minas
em tempo de Literatura - Ensaios, escritos
e escritores, Águas Passadas - escritoras de Pará de Minas con-
tam histórias e Contoadas - ouvir para contar.

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Este livro foi produzido pela Todavoz Editora em Calibri
12, em plena pandemia da covid-19. Até este instante, julho de
2020, mais de 70 mil pessoas já haviam morrido vítimas da do-
ença que assola o país e tem causado diversos transtornos para
milhares de famílias brasileiras.

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Em artigo publicado no site da UFMG, no dia 16 de abril de 2020
com o título: O Ano em que Belo Horizonte enfrentou a peste,
Heloisa Starling (Professora do Departamento de História e co-
ordenadora do Projeto República-UFMG) descreve a chegada
da gripe espanhola à jovem capital mineira, em 1918. Em um
dos trechos do artigo ela cita:

“Em 1918, Belo Horizonte experimentou o tempo da peste.
Seus moradores viveram uma situação-limite, até então desco-
nhecida e tão urgente quanto o terror que cada um deles deve
ter sentido. Surpreendentemente, essas pessoas decidiram
colocar todas as chances ao seu lado. As iniciativas individuais
eram boas, mas não bastavam, e a cidade se uniu para espan-
tar o medo. De várias maneiras, cada um ao seu modo, quem
morava na capital de Minas deu seu jeito e descobriu o afeto
da compaixão: acendeu a própria sensibilidade diante do so-
frimento alheio para focalizá-la sobre os doentes – ou sobre os
riscos da doença que se espalhava pelos bairros. A compaixão
eliminou algo da angústia gerada pela solidão, e a razão é fácil
de entender. Ela abre o coração do indivíduo no instante exato
em que vê o sofrimento do seu semelhante, por mais distante
de si que possa estar o sofredor”.


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