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Segunda edição da revista Cultura & Gastronomia - Pará de Minas. Matérias sobre os 100 anos da Semana de Arte Moderna, sobre o Egito, restaurante diPanas e muito mais.

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Published by TODAVOZ EDITORA, 2022-02-13 21:15:18

Cultura&Gastronomia - Pará de Minas

Segunda edição da revista Cultura & Gastronomia - Pará de Minas. Matérias sobre os 100 anos da Semana de Arte Moderna, sobre o Egito, restaurante diPanas e muito mais.

Keywords: Egito,bodega,cultura,gastronomia,dipanas

EGITO: encante-se com a 100 ANOS:
Semana de Arte Moderna. pág. 06
viagem cultural e gastronômica
do escritor e artista José GASTRONOMIA: e os amigos do
Roberto Pereira. pág. 14 diPanas. pág. 20

Mar de Minas SABOR de poesia

Conceição Cruz Interpelações

De fartura faz-se a mesa! Geraldo Phonteboa
Peneiras, velhas madeiras
enobrecem o charmoso cenário Sou no mundo com meu corpo
rico em cores, sabores e odores! E nesta carnalidade extraio dele
Tudo que sei
Altaneiro, estilo neve, com seu leve E é através dele que me expresso
sabor de sal, o queijo E com ele me comunico.
em meio às gamelas, Mas não sou só corpo, só carne.
colheres e tachos de cobre Há algo mais
evoca outros amores! E que as palavras nem sempre
Dão conta.
Goiabada, doces de figo, Meu corpo se joga na dança
amendoim, cocadas, Em gestos mais ou menos ordenados
caldas e pudins… Buscando expressar sentimentos,
Desejos, sonhos, realidades indecifráveis.
Assim o mineiro, Que estão além do corpo
com seu jeitinho acolhedor, Apesar de sua
recebe a sua visita, Carnalidade enquanto
levando-a a experenciar o Pulsa o pulso.
seu mar
de delícias sem fim!

SUMÁRIO

Expediente

Revista Cultura & Gastronomia
Pará de Minas é uma publicação
da Todavoz Editora.

CAPA: Alex Coelho 14

PUBLISHER O escritor e artista José Roberto Pereira faz um
E EDITORA RESPONSÁVEL: relato de sua viagem contando as fascinantes
M.Fátima M. Peres experiências culturais e gastronômicas do Egito.
Reg.Profissional:
MG 03731JP 06
E-MAIL:
fatimaperes@todavozeditora. Semana de Arte Moderna
com.br
COLABORADORES: Há 100 anos este foi o movimento que mudaria a
Ângela Xavier tendência estética dominante, o Parnasianismo,
José Roberto Pereira influenciando toda uma geração de artistas brasileiros.
Grá Silva
Terezinha Pereira 20
FOTOS: Todavoz Editora,
arquivos pessoais dos Gastronomia
autores.
PRODUÇÃO E DIAGRAMAÇÃO: diPanas, o bistrô que recebe os
Todavoz Editora LTDA. amigos e os amigos de seus amigos
CONTATO: compartilhando experiências
contato@todavozeditora. gastronômicas e boa música.
com.br
Comercial: (31) 3879-7422 27 - Música
(31) 99821-6566 29 - Artes plásticas
INSTAGRAM:
todavoz_editora 32 - Crônica
culturaegastronomiapm
SITE:
www.culturaegastronomia.com
www.todavozeditora.com.br

* Todos os artigos/textos
assinados são de inteira

responsabilidade
de seus autores.

Cultura & Gastronomia - Pará de Minas - n º 1 - Fev. 2022 3

COM A PALAVRA / Valmir José Costa Diniz- Presidente da ALPM

PROJEÇÃO DE ATIVIDADES da
Academia de Letras de Pará de Minas para 2022

A Academia de Letras de Pará de Minas, como todas as instituições que seguem as recomen-
dações da Ciência teve, em 2020/2021, uma prova de fogo. Isolamento, medo, expectativas. Muitas
dúvidas. Foi necessário lançar mão de novos meios e valores que permitissem gestar sonhos intensos.
Criatividade!!! Para criar e animar a si mesmo, como também animar cada leitora e leitor que, folheando
páginas e páginas, se lançam no mundo mágico das letras. O inimigo, a pandemia, ou esta é uma apren-
dizagem forçada, com vistas a nos preparar para novos tempos? Cada cabeça uma sentença; antigo
bordão que aqui também se encaixa.
Nessa esteira de novas ambições criativas, a Academia de Letras de Pará de Minas se lança em
2022 com aquilo que seus integrantes mais almejam: viver e escrever. A Diretoria busca uma forma de
manter seus objetivos. Em compasso de espera, torcemos para o fim desta era de abstenção de beijos e
abraços, e de trocas de olhares mais próximos. Desejamos voltar a ocupar os espaços sagrados onde se
faz e se compartilha Arte. Ali estarão, como sempre, os amantes do Belo, vidrados, em êxtase. É o círculo
mágico a enovelar Artista e o Público presente.
Neste sentido, a Academia de Letras de Pará de Minas considera que é imperativo agir para
criar e diversificar. Seremos mais um ponto de Luz a encobrir as latitudes cinzentas da desesperança. Por
isso, firmamos as seguintes intenções como proposta de trabalho da Academia para o ano de 2022:
01- Projetos de Organização Interna: finalização do espaço da nova sede da Academia de Le-
tras de Pará de Minas, no Centro Literário Pedro Nestor. Refundação da Biblioteca, do Arquivo Histórico
e do Arquivo Administrativo. Instalação de painéis de fotos de integrantes da Academia.
02- Projetos em Parceria com a Secretaria Municipal de Cultura e Comunicação Institucional:
performances de dança dos alunos da Academia Municipal de Dança Juliana Grassi Pinto Ferreira, base-
adas em textos literários da Academia. Feira Literária. Concurso Literário. Oficina de Escrita Criativa.
03- Projeto Editorial Coletivo: lançamento do Bianuário 2020/2021.
04- Projetos de Mídias Digitais: manutenção de um canal para divulgar poesias e prosas decla-
madas e musicadas, de autoria de integrantes da Academia, com promoção de inserção assistida destes
no mundo virtual. Criação de e-books.
05- Projetos Públicos Participativos: Sarau Literário, mensal, aberto ao público.
06- Projetos em Datas Comemorativas: comemoração do Dia da Academia de Letras de Pará
de Minas, aos 20 de setembro. Comemoração dos 25 anos da Academia de Letras de Pará de Minas e
lançamento do respectivo selo.
07- Projeção e Preparação Para Preenchimento das Cadeiras Vagas da Academia.
08- Atualização Estatutária e Regimental: atualização das diretivas institucionais.
09- Formação de Acervos Historiográficos: imagens, objetos, criações sonoras, biografia e bi-
bliografia de membros da Academia.
10- Plano Novênio (2022 a 2030): continuação do plano decenal iniciado em 2021, com defini-
ção de projetos estruturantes. O primeiro ano foi dedicado a viabilizar a posse da nova sede da Acade-
mia. Participação coletiva nos esforços de desenvolvimento institucional e aperfeiçoamento de imagem
individual e coletiva.
Finda a exposição de intenções, rogamos aos Céus que tenhamos êxito nesta caminhada. As
propostas, acima descritas, são lançadas como intenções porque o Grupo Acadêmico precisa abraçá-las
para que se concretizem. Em um gesto uno, que possamos compartilhar a fé, a esperança e o otimismo,
trazendo um iluminado ano de 2022. Que este seja marcado por pequenas e grandes vitórias individu-
ais, esplendorosamente. E também coletivas, afinal, o sucesso tem o condão de promover o comparti-
lhamento das boas causas e das boas coisas.

4 Cultura & Gastronomia - Pará de Minas - nº 1 - Fev. 2022

Caro leitor,

Fátima Peres
Editora

Comemorando

mais uma edição

É com imenso prazer que edi- Para a seção de Gastrono-
tamos mais um número da mia, entrevistamos os sócios-pro-
revista Cultura & Gastronomia – prietários do diPanas, um bistrô
Pará de Minas. Assim vamos, aos localizado na pracinha do bairro
poucos, conquistando de grão em Nossa Senhora das Graças, onde se
grão, leitores e colaboradores, encontra a estátua do santo Padre
transformando a cada dia que pas- Libério. Conheça também, quem
sa, um projeto tão sonhado, em são os membros da banda Seu
realidade. Bodega, lançada recentemente, e
Nesta edição, publicamos que já conta com uma agenda de
uma lista de atividades pensada shows pela região.
pelos membros da Academia de Para finalizar, a nossa matéria de
Letras de Pará de Minas para o ano capa deste número traz um mara-
de 2022 e que pretende envolver vilhoso relato da viagem que o es-
toda a comunidade pará-minense. critor José Roberto Pereira e seus
Trazemos também, um pouquinho amigos fizeram ao Egito. Viagem
da história do que foi a Semana de cultural e gastronômica que vai en-
Arte Moderna de 1922. A crônica cantar você, leitor! E as fotos tam-
desta edição ficou por conta da his- bém irão contar um pouco desta
toriadora, escritora e contadora de fascinante aventura pelo mundo
histórias, Ângela Xavier. Além de antigo.
tudo isso, temos também, poesias
e dicas de leitura. Boa leitura!

Cultura & Gastronomia - Pará de Minas - nº 1 - Fev. 2022 5

100
anos
SEMANADEARTE MODERNA

Foto divulgação: Estúdio Bijari De 13 a 18 de fevereiro de sentar suas produções ao gran-
1922 acontecia no Theatro Muni- de público. A Europa passava por
cipal de São Paulo, a Semana de grandes transformações no pós-
Arte Moderna. Marco oficial do -primeira guerra, início do Século
Modernismo brasileiro, o evento XX e a cultura de maneira geral
reuniu há 100 anos, artistas e inte- acompanhava as transformações.
lectuais da literatura, música, artes No Brasil não foi diferen-
plásticas, arquitetura, entre ou- te. E a tendência teve assimilação
tros, tornando-se um movimento rápida. A literatura foi um dos des-
que mudaria a tendência estética taques na Semana de Arte Moder-
dominante naquele momento, o na. E um dos pontos altos daquela
Parnasianismo. semana foi no dia 15 de fevereiro,
Influenciados pelas van- durante um sarau, quando o escri-
guardas europeias e pela renova- tor Ronald de Carvalho leu o famo-
ção geral no panorama da arte oci- so poema “Os Sapos”, do escritor
dental, esses artistas e intelectuais Manuel Bandeira, que ridiculariza-
uniram seus esforços para apre- va os parnasianos.

6 Cultura & Gastronomia - Pará de Minas - nº 1 - Fev. 2022

Leslye Revely, professora mentos populares do Brasil”, afir-
de Arte, Criatividade e Comunica- ma Revely.
ção da Universidade Presbiteriana
Mackenzie (UPM-SP) destaca que Principais nomes
a Semana de Arte Moderna foi da Semana de Arte
um grito. “Como todo grito, ainda Moderna de 1922
não muito calculado em intensida-
de de sons e ruídos, não foi bem Arquitetos: Antonio Moya, Georg
aceito, uma vez que as ideias eram Przyrembel.
muito diferentes das já conheci- Escritores: Afonso Schmidt, Age-
das, gerando resistências e atritos. nor Barbosa, Álvaro Moreyra, Ely-
Porém, o barulho foi de extrema sio de Carvalho, Graça Aranha,
importância para nos apresentar Guilherme de Almeida, Luiz Ara-
angústias dos nossos pensadores nha, Mario de Andrade, Menotti
modernos”. del Picchia, Oswald de Andrade,
Com as publicações de Ronald de Carvalho, Sérgio Millet,
Mário de Andrade e Oswald de Tácito de Almeida.
Andrade, peças de teatro foram Escultores: Wilhelm Haarberg, Hil-
encenadas, mais textos foram pu- degardo Leão Velloso, Victor Bre-
blicados, Villa-Lobos foi convidado cheret.
a dar aulas de música em escolas Músicos: Alfredo Gomes, Ernani
públicas do país, Cândido Portina- Braga, Fructuoso Viana, Guiomar
ri fez arte em edifício público do Novais, Heitor Villa-Lobos, Lucília
Rio de Janeiro, o próprio Mário Guimarães, Paulina de Ambrósio.
de Andrade foi criador do SPHAN Pintores: Anita Malfatti, Antonio
(Serviço de Patrimônio Histórico e Paim Vieira, Emiliano Di Cavalcan-
Artístico Nacional, que se torna- ti, Ferrignac, John Graz, Vicente
ria o IPHAN - Instituto Patrimônio do Rego Monteiro, Yan de Almeida
Histórico Artístico Nacional), en- Prado, Zina Aita.
tre outros. Ou seja, os participan-
tes da Semana de Arte Moderna Capa da 17ª edição.
foram distribuídos para aplicar as Editora: Itatiaia, 1980
discussões do grito inicial em mais
práticas sociais, obras artísticas e
literárias
“Macunaíma (1928) de
Mário de Andrade, por exem-
plo, foi uma obra que resultou
das ideias pós semana. Esse livro,
considerado uma obra-prima do
modernismo no Brasil, trata-se de
uma colcha de retalhos de lendas
brasileiras, recolhidas pelo autor
durante viagens no país, que conta
a história de um personagem anti-
-herói típico das terras brasileiras,
com uma escrita moderna e ele-

Cultura & Gastronomia - Pará de Minas - nº 1 - Fev. 2022 7

Os sapos Manuel Bandeira

Enfunando os papos, Urra o sapo-boi:
Saem da penumbra, — “Meu pai foi rei” — “Foi!”
Aos pulos, os sapos. — “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”.
A luz os deslumbra. Brada em um assono
O sapo-tanoeiro:
Em ronco que aterra, — “A grande arte é como
Berra o sapo-boi: Lavor de Joalheiro.
— "Meu pai foi à guerra!"
— "Não foi!" — "Foi!" — "Não foi!".

O sapo-tanoeiro, Ou bem de estatuário.
Parnasiano aguado, Tudo quanto é belo,
Diz: — "Meu cancioneiro Tudo quanto é vário,
É bem martelado. Canta no martelo”.

Vede como primo Outros, sapos-pipas
Em comer os hiatos! (Um mal em si cabe),
Que arte! E nunca rimo Falam pelas tripas:
Os termos cognatos! — “Sei!” — “Não sabe!” — “Sabe!”.

O meu verso é bom Longe dessa grita,
Frumento sem joio Lá onde mais densa
Faço rimas com A noite infinita
Consoantes de apoio. Verte a sombra imensa;

Vai por cinquenta anos Lá, fugido ao mundo,
Que lhes dei a norma: Sem glória, sem fé,
Reduzi sem danos No perau profundo
A formas a forma. E solitário, é

Clame a saparia Que soluças tu,
Em críticas céticas: Transido de frio,
Não há mais poesia, Sapo cururu
Mas há artes poéticas . . . Da beira do rio...

Referências:
BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Págs. 158 - 159. Editora: Nova Aguilar. Rio de Janeiro. 1977.
BRANDINO, Luiza. “Semana de Arte Moderna de 1922”; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/semana-
-arte-moderna-1922.htm. Acesso em 9 de fevereiro de 2022.

8 Cultura & Gastronomia - Pará de Minas - nº 1 - Fev. 2022

LIVROS / Sugestão de leitura

Tesouros, Fantasmas e Lendas de Ouro Preto Credo, que delícia
Autora: Ângela Leite Xavier Autor: José Roberto Pereira
3ª Edição da autora/ 2021 Editora: Mosaico
Nº de páginas: 200 Nº de páginas: 160
Onde encontrar: [email protected] Onde encontrar: [email protected]

Alguém em Mi
O olhar da bailarina
Nem muralhas, Nem mulheres
Autora: Malluh Praxedes
Editora: Todavoz / 2018
Nº de páginas: 55
Onde encontrar: [email protected]

Mulheres que me habitam Contoadas - ouvir para contar
Autora: Cláudia Jordão Organizadora: Terezinha Pereira
Editora: Alpharrabio/2021 Editora: Todavoz/ 2019
Nº de páginas: 160 Nº de páginas: 80
Onde encontrar: (11) 9 9407-7226 Onde encontrar: [email protected]

Cultura & Gastronomia - Pará de Minas - nº 1 - Fev. 2022 9

RESENHAS / Terezinha Pereira

ISRAEL E PALESTINA

trechos, histórias e emoções

Terezinha Pereira é escritora e “Israel e Palestina-trechos, não via há muitos anos e que por
coordenadora de grupos de leitura histórias e emoções”, de Regina sorte estariam com ela na jornada.
Capanema de Almeida é uma de- Emociona-se para falar dos últimos
liciosa narrativa de viagem por lu- momentos, quando, já em direção
gares que se afiguram misteriosos, ao aeroporto, o grupo fez uma pa-
seja por serem cenários de narrati- rada no Monte das Oliveiras para
vas bíblicas, seja pela história dos conhecer o local onde, conforme
povos que lá habitam, seja pelas narra a história bíblica, Jesus subia
notícias de conflitos e segregações para orar, para pregar e foi preso
raciais e religiosas que se seculari- para ser crucificado. E ainda, lá do
zam por lá. Caso, algum dia, o lei- alto, ela pôde ver a beleza da ci-
tor queira ir a Israel e Palestina ou dade de Jerusalém, a Esplanada do
se jamais pretender ir até lá, valerá Templo com as mesquitas, o Santo
a pena empreender a viagem com Sepulcro e, logo abaixo, o cemité-
este livro que o levará a lugares rio Judeu.
místicos, turísticos e até mesmo a O começo? Logo na chega-
regiões pouco exploradas pelos vi- da a Tel Aviv, chamou-lhe a aten-
sitantes de outros países. ção a segurança demonstrada pelo
No prólogo, a autora co- guias Jacil e Pascal, que são ex-mo-
menta que não produziu um guia, radores do local. Esses bons guias
mas registros que “nasceram de proporcionaram ao grupo uma es-
parto natural, e apesar de ela estar tada rica e feliz em Israel e Jerusa-
integrada num coletivo, a atenção lém. Após o desembarque, foram
dada a cada momento e às emo- em direção ao deserto de Negev,
ções colhidas foram dela!” Então, que ilustra a capa do livro: “Seria
a usar de uma linguagem cativan- fundamental iniciarmos pelo de-
te, ela vai narrando como foi sua serto, que em hebraico remete à
viagem, realizada de 29 de junho palavra pastar, sobreviver sem su-
a 08 de julho de 2019, desde os pérfluos. Deveríamos retomar o
encontros do grupo com os organi- caminho de dentro, de promessas,
zadores para os preparativos. Fala de alianças, de cada um de nós.
do reencontro com amigas que [...] o deserto come a língua e abre

10 Cultura & Gastronomia - Pará de Minas - nº 1 - Fev. 2022

olhos e ouvidos”p. 15 ISBN: 9786557490013
Sobre os dez dias em que Título:Israel e Palestina-trechos, histó-
durou a experiência por aqueles rias e emoções
países, Regina relembra lugares e Edição: 1ª ed.
sentimentos, o que deixa o leitor Editora: Mazza Edições, Belo Horizonte
curioso e com um enorme desejo Publicação: 2020
de conhecer tais coisas: sítios ar- Número de páginas: 100
queológicos, templos, mesquitas, Autora: Regina Capanema de Almeida
povoados, cidades, monumentos, Ilustração: fotos da autora
esculturas, ruínas, etc. É uma lei-
tura de começar e não ter vonta- O livro pode ser encontrado para leitura na Biblioteca Pública de
de de largar, até que, quase sem Pará de Minas ou adquirido no site da Mazza Edições:
perceber, chegar ao final da nar- https://loja.mazzaedicoes.com.br/israel-e-palestina
rativa bem conduzida e tão bem
arrematada: “Ali, naquele monte, Cultura & Gastronomia - Pará de Minas - nº 1 - Fev. 2022 11
chorei e senti um vento suave e me
banhando e abraçando. Devolvi o
abraço a Jerusalém simbolizando
todo o país Israel. E agradeci pelo
muito que aprendi, pelo exercício
do amor sem fronteiras e a imen-
sidão do que levarei para refle-
tir.p.91-92

Regina Capanema de Al-
meida nasceu em Pará de Minas
e mora em Belo Horizonte des-
de a adolescência. É médica, com
doutorado em Medicina Tropical/
UFMG. Cresceu lendo, estimulada
pelo pai, magistrado, que garim-
pava livros e construiu uma biblio-
teca maravilhosa, e por sua mãe,
professora criativa, que incentiva-
va as artes. Do ler para o escrever
foi um passo, uma dança, um ma-
labarismo. Profissional, mãe e avó
apurou o ouvido. E continua, entre
dores e alegrias, correndo atrás e
brincando com letras que puxam
palavras e amarram sonhos. Publi-
cou “Branquinho – o fantasminha
triste”, infantojuvenil, pela Mazza
Edições e também capítulos de li-
vros, artigos científicos além de
histórias infantis em diversas cole-
tâneas.

Vovô na INTERNET

Vovô na internet é um livro um avô qualquer ou uma foto do
da escritora Regina Capanema de avô modificada em algum progra-
Almeida, autora de “Branquinho, ma de computador. Indignado, ele
o fantasminha triste”, de “Israel vai perguntar à mãe se ela havia
e Palestina - trechos, histórias e recebido uma foto do avô em que
emoções” e de contos infantis pu- ele mais parece ser um monstro. A
blicados em diversas coletâneas. mãe confirma e ainda diz que havia
A história começa com mandado a foto para algumas pes-
Tatá revelando ao amigo Lu que soas para elas saberem que o avô
havia visto uma foto do avô dele estava com um problema de saú-
no celular de sua mãe e que o avô de.
estava horroroso na foto. Lu não
se conforma com o que o amigo O leitor vai se envolvendo na
lhe disse. Contesta a fala do amigo história do Lu, que até se imagina
dizendo que a foto só pode ser de ser um mágico que poderá mudar,
mesmo a distância, a aparência
horrível do avô, até que, um dia,
vai visitá-lo e então...
Motivos para ler Vovô na
internet: o livro é lindamente ilus-
trado, é escrito por uma escritora
mineira, é lúdico, faz o leitor pen-
sar na relação afetiva entre neto
e avô. Vovô na internet foi publi-
cado em 2021, com o selo Penni-
nha Edições, da Mazza Edições, de
Belo Horizonte.

ISBN: 978 65 89855 09 5
Autora: Regina Capanema de Almeida
Ilustrador: Walter Lara
Dimensões: 14x21cm
Páginas: 24
Endereço para adquiri-lo na página
anterior.

12 Cultura & Gastronomia - Pará de Minas - nº 1 - Fev. 2022

Hortelã, anis Aromas e Ilustração: Alex Coelho / Texto: Fátima Peres
ou erva-doce... sabores do
Ou tudo Egito. Humm...
misturado?
...Que me transpor-
Me deixam sensível... tam para as margens
Trazem memórias do Nilo, numa viagem
felizes, marcantes!...
inesquecível!

Sinto-me Já nem lem-
mais leve, bro mais
diferente quem eu sou.
Uma deusa,
agora. talvez!
E pelas margens do

rio, Renenutet vai
espalhando rique-
zas, alho, coentro,
cominho, gergelim,

orégano,...

Cultura & Gastronomia - Pará de Minas - nº 1 - Fev. 2022 13

Fotos: José Roberto Pereira

Entre tantas outras riquezas proporcionadas pelo Rio
Nilo (foto), em suas margens são plantados vários
condimentos como: coentro, hortelã, anis, cominho,
gergelim, orégano, tomilho, açafrão, alho, manjerona,
manjericão, erva-doce etc, base da culinária egípcia.
14 Cultura & Gastronomia - Pará de Minas - nº 1 - Fev. 2022

CULTURA & GASTRONOMIA/ José Roberto Pereira*

VIAJANDO

pelo Egito

O alimento é um dos pra- cheiro e sabores foi tão marcante *Escritor / Artes Cênicas
zeres que mais criam memória afe- que coloco essa viagem entre as
tiva. Ninguém vive sem se alimen- mais interessantes que fiz.
tar. Na maioria das vezes, estamos A base da culinária egíp-
acompanhados ao degustar delí- cia é diversificada, composta por
cias. Nossas primeiras memórias vegetais, proteínas, carboidratos
estão, indissoluvelmente, ligadas à e sofre influência da cozinha do
comida, à cozinha da casa de nos- Mediterrâneo e do Oriente Médio
sos pais ou de nossos avós. É nes- pelo fato de o Egito estar em uma
se cenário, marcado por cheiros e área geograficamente privilegiada,
sabores, que se desenvolve nossa entre os continentes Africano e
intimidade com os alimentos. Para Asiático. A combinação de espe-
quem tem oportunidade de conhe- ciarias resulta em pratos saborosos
cer lugares e se inserir em outras e acentuados. Cidades litorâneas
realidades no contexto da culiná- possuem um cardápio vasto, com
ria, o ato de consumir alimentos predominância de peixes e frutos
pode causar mudanças em pesso- do mar. Em geral, em boa parte
as sensíveis, empáticas e criar me- dos lugares que visitei, mantém-se
mórias marcantes e duradouras. o charme da cozinha tradicional,
Foi nesse contexto que mergulhei com pratos elaborados à base de
na culinária faraônica, no inverno condimentos, muitos deles planta-
egípcio de 2021. A experiência de dos às margens do rio Nilo, como

Cultura & Gastronomia - Pará de Minas - nº 1- Fev. 2022 15

coentro, hortelã, anis, cominho, alto-relevo que revelam o requin-
gergelim, orégano, tomilho, aça- te da realeza. Em tumbas, foram
frão, alho, manjerona, manjericão, encontrados alimentos, colocados
erva-doce, entre outros. Mas, ine- como oferendas, ou reproduções
vitavelmente, a cozinha egípcia foi em miniaturas. Um importante
também atingida pelo processo de documento do período de Ramsés
globalização. III descreve sua curiosa alimenta-
São muito populares no ção: o “[...] Papiro Anastasi IV pos-
Egito, em ruas e praças, a céu aber- sui uma lista de produtos a serem
to, os mercados de hortaliças, fru- reunidos por um funcionário do
tas, verduras, grãos, pães, especia- palácio de Ramsés III para um ban-
rias e animais abatidos, retalhados quete de recepção da chegada do
aos quilos para serem vendidos. faraó à capital. A partir das inscri-
Caminhar por entre os becos dos ções, podemos listar, pelo menos,
mercados é caótico, mas causa en- nove tipos de pães disponíveis
cantamento. A poeira do deserto para consumo, identificar as car-
deixa o ambiente ainda mais com- nes consumidas no palácio, prin-
plexo de ser descrito. cipalmente de aves como o ganso,
Segundo alguns registros, codornas e pombos, além de car-
no período dos faraós, a população neiros e peixes, diferentes tipos de
egípcia consumia legumes, frutas, bolos e frutas. No entanto, nem to-
verduras, pães, grãos e proteína das as camadas da sociedade goza-
animal. Fabricava-se e consumia-se vam da mesma dieta. A cozinha do
cerveja feita de cevada, e vinho, palácio do faraó, sem dúvida, dis-
este último, provavelmente, absor- punha dos mais diversos cardápios
vido da cultura síria-palestina. Em alimentares. Já a população tinha
tumbas e templos, é possível ver a como base da alimentação diferen-
riqueza de detalhes dos alimentos, tes tipos de pães e a cerveja, com-
dos utensílios domésticos, cenas plementados por vegetais e frutas,
de colheitas de grãos e de caçadas e em períodos de festividade, por
pintados, esculpidos em baixo ou carnes e outros alimentos distribu-

Nas fotos acima e na página ao lado,
especiarias que ficam expostas nas ruas.
Na foto ao lado uma loja de especiarias

localizada nos arredores do Cairo.
16 Cultura & Gastronomia - Pará de Minas - nº 1 - Fev. 2022

Cultura & Gastronomia - Pará de Minas - nº 1 - Fev. 2022 17

ídos pelo palácio e pelos templos. potes, pilões datados de 3.000 a
[...]”. 5.000 a.C. nos dão uma dimensão
Na tumba mais famosa, a da sofisticação e do conhecimento
de Tutankhamon, foi encontrada dos artistas da época.
uma grande quantidade de comida: Viajar para o Egito é mer-
omoplata de uma vaca, costelas de gulhar em uma das maiores civili-
carneiro ou cabra, asas e peitos de zações que já existiu e que deixou
nove aves, uma variedade de pães, um legado extraordinário ainda
frutas, mel, grãos, entre outros ali- em estudo. Boa parte do acervo
mentos. Os egípcios acreditavam egípcio permanece adormecido
na vida após a morte e conside- sob as areias do deserto à espera
ravam que os mortos também se de escavações arqueológicas que o
alimentavam diariamente. Alguns revelem ao mundo. Para não ficar
dos alimentos desse tempo estão perdido em meio a tanta cultura, é
presentes nas cozinhas espalhadas aconselhável o acompanhamento
pelo mundo, como fava, lentilha, de um guia local que fale portu-
grão-de-bico, quiabo, cebola, alho, guês ou outro idioma que o turista
alho-poró, aspargo, aipo, couve, domine para que ele possa com-
nabo, rabanete, alcachofra, alface, preender os registros em tumbas,
endívia, pepino, agrião, salsa, abo- templos e cidades. A história egíp-
brinha, berinjela, entre outros. cia é tão misteriosa que, a cada
O acervo dos museus egíp- cinco anos, os guias passam por
cios possui uma impressionante uma atualização de conhecimen-
quantidade de utilitários de co- tos, pois, com os achados arqueo-
zinha. O design, o acabamento e lógicos, ela pode sofrer mudanças
a variedade de materiais usados, ou ser completada. Trata-se de
como a cerâmica, pedra, cestaria, uma civilização complexa, com-
tigelas, pratos, copos, talheres, pleta, rica em arte, cultura e com

No alto da página, os amigos:
Raphael Santos, Paulo Duarte

e José Roberto Pereira.
Logo abaixo, o registro da primeira
receita medicinal do mundo, segundo um
guia local. E na foto ao lado, o escritor
José Roberto no Forte de Alexandria,
construído sobre os escombros do Farol de
Alexandria que é uma das sete maravilhas

do mundo antigo.
18 Cultura & Gastronomia - Pará de Minas - nº 1 - Fev. 2022

aprofundamento em várias áreas população mundial vive na misé-
do conhecimento. ria, travando lutas diárias para se
Voltei ao Brasil com a alimentar. Situação que cria uma
sensação de que sabemos muito condição traumática e agoniante
pouco sobre nossos ancestrais e em quem passa fome. Um pro-
mais atento à alimentação. A co- blema grave que causa mortes e
mida, indispensável à nossa so- que dificilmente será solucionado,
brevivência, provocou significati- principalmente por envolver esfe-
vas mudanças no comportamento ras governamentais que não criam
humano ao longo dos tempos e políticas públicas eficientes para
continua sendo uma das pautas saná-lo. Problema, que, sem tais
mais urgentes nos dias atuais, políticas, nem mesmo os faraós
considerando que boa parte da conseguiram resolver.

Referências:
TELO, Canhão. A alimentação no antigo Egipto. Revista Hapi, n.3, p.33-89. Lisboa, 2015.
FONSECA, Sofia. Guasch Jané, Maria Rosa. Ibrahim, Mahmoud. O vinho no Antigo Egito:
uma história mediterrânea. Revista Mundo Antigo, (NEHMAAT-UFF/PUCG), ano 1, v.1, nº1,
p.131-146. Campos dos Goytacazes (RJ), 2012.
http://museuegipcioerosacruz.org.br/alimentacao-e-culinaria-no-tempo-dos-faraos/

Cultura & Gastronomia - Pará de Minas - nº 1 - Fev. 2022 19

diPanas:

recebendo os amigos e os a

1280 CuCltuultruar&a eGGasatsrtornoonmomiaia- nPaºr0á-dNeoMv.in20a2s1- nº 1 - Fev. 2022

amigos dos nossos amigos...

Cultura & Gastronomia - Pará de Minas - nº 1 - Fev. 2022 21

ENCONTROS, EXPERIÊNCIAS
gastronômicas, rock e blues

Por Fátima Peres
Fotos: Leonardo Werchmann

Pará de Minas, localizada na Região Sudeste do País e a Oeste da
capital mineira (Belo Horizonte) é, cada vez mais, uma cidade atraente
para a cultura e a gastronomia. Nos últimos anos vem recebendo gran-
des investimentos de empresas que promovem grandes transformações,
tanto gastronômicas quanto culturais. Eles são facilitados pelo expressivo
crescimento econômico de Pará de Minas nas últimas décadas.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), Pará de Minas em 2018 já ultrapassava a marca dos 96 mil habi-
tantes e cujo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) já havia passado
de 0.400 em 1991 para 0.725 em 2010 (última atualização do órgão). O
Produto Interno Bruto (PIB/per capta) chegou em 2019 ao montante de
R$ 33.220,00. E não é de se espantar que a escolarização de crianças na fai-
xa-etária de 6 a 14 anos também atingisse a extraordinária marca de 99,1%.

Na foto da página ao lado: E quem, também, aposta Wilson: Pana é uma gíria latino-a-
Grá Silva e Wilson Caldas, nesse contínuo e virtuoso mericana designada para amigo e
sócios-proprietários do diPanas crescimento da cidade é o empre- é muito usada na Colômbia e Ve-
sário Wilson Caldas, proprietário nezuela. O nome vem de encontro
do bar e restaurante diPanas. Na- com nossa filosofia que é receber
tural de Belo Horizonte, Wilson os amigos e os amigos dos nossos
mudou-se para Pará de Minas em amigos...
1988, ainda criança. Morou tam- C&G: Qual é a proposta do diPanas?
bém em Pequi (MG) e aos 23 anos Restaurante temático? Um pub?
foi passar uma temporada na Espa- Wilson: Nossa proposta é com-
nha. Segundo ele, a ideia de mon- partilhar experiências e encontros.
tar o diPanas surgiu enquanto mo- Somos um espaço intercultural.
rava lá. Atualmente contam com Ofereceremos um ambiente cuida-
duas unidades em Pará de Minas. dosamente decorado, pratos na-
Confira aqui a entrevis- cionais e internacionais com aque-
ta que Cultura & Gastronomia fez le toque especial, além de shows
com o empresário. de blues e rock todos os finais de
C&G: Desde quando existe o diPanas? semana, inclusive com atrações in-
Wilson: O diPanas existe desde ternacionais.
2011. C&G: Oferece pratos ou petiscos
C&G: O que significa diPanas? elaborados? Bebidas especiais?

22 Cultura & Gastronomia - Pará de Minas - nº 1 - Fev. 2022

Cultura & Gastronomia em Pará de Minas nº 1 - Fev. 2022 23

Tem carta de vinhos? De cervejas? dam a cozinha.
Wilson: Temos um cardápio cui- C&G: Qual é o público-alvo?
dadosamente alinhado com nossa Wilson: Nosso público é composto
proposta. Além de petiscos auto- por aquelas pessoas que buscam
rais, temos também releituras de novas experiências e boa música.
alguns tira-gostos de buteco, além Recebemos pessoas de toda a re-
de pratos mexicanos. Para harmo- gião e até de fora do estado em
nizar possuímos uma “carta” com- alguns eventos.
posta de dezenas cervejas artesa- C&G: Por que escolheu um bairro
nais e mais de 20 drinks, sendo em como o Nossa Senhora das Graças
sua maioria autorais e que fazem para se instalar, já que ele é bem
bastante sucesso. Nossa carta de residencial (perto da casa do Pa-
vinho fixa é bem tímida, mas com dre Libério e em frente a imagem
boas uvas. Geralmente na tempo- dele)?
rada de inverno aumentamos nos- Wilson: O bairro guarda várias his-
sa variedade. tórias (é o mais antigo da cidade) e
C&G: Conta com um chef de cozinha? tem uma característica bem boêmia
Wilson: Quem comanda a nossa que proporciona um certo charme.
cozinha é a sócia-proprietária Grá C&G: Comporta quantos clientes
Silva, que é formada em gastrono- dentro do diPanas?
mia e possui diversas especializa- Wilson: Durante os finais de sema-
ções. Junto com ela, sua mãe Jania na chegamos a receber entre 200 e
Marisa e a Bruna Modesto coman- 250 clientes em rotatividade.

24 Cultura & Gastronomia - Pará de Minas - nº 1 - Fev. 2022

RECEITA DA CHEF / Grá Silva Grá Silva é sócia-pro-
prietária do diPanas e,
PASTEL de angú junto com a mãe, Jania
Marisa e Bruna Modesto
INGREDIENTES: comanda a cozinha. São
responsáveis pelas
1 litro de água delícias servidas no
1 kg de fubá de milho bistrô. Ela é formada em
1 colher de sopa de óleo gastronomia e possui
Sal diversas especializações.
1 ovo
1 pitada de bicarbonato
1/2 copo (americano) de polvilho azedo (peneirado)
Recheio a gosto (aqui utilizamos carne de panela desfiada e queijo com
alho poro).

PREPARO:

Coloque para ferver em uma panela, a água, o sal, e o óleo. Assim que
estiver fervendo (borbulhando) coloque o bicarbonato e em seguida vá
acrescentando fubá e vá mexendo rapidamente com uma colher de pau
para não embolar. Deixe cozinhar um pouco. Depois tire do fogo e vire
em uma mesa (pedra), acrescente o polvilho e o ovo. Sove a massa ainda
quente, até ficar consistente. Enrole a massa em um pano de prato úmido
e vá fazendo os pastéis. Fritar em óleo bem quente e não mexer até que
comece a dourar. Dica: congelar os pasteizinhos e retirar do congelador
no momento de fritar, pois assim eles ficarão mais crocantes.

Cultura & Gastronomia - Pará de Minas - nº 1 - Fev. 2022 25

GOURMET / Lançamentos

LINHA GARIBALDI VG renova conceito visual

Foto: divulgação Novo rótulo reforça propostas – uma técnica que pode ser classificada
de sofisticação e elegância para linha como intermediaria entre a elaboração
de espumantes premium. Consagra- pelos processos Charmat e Tradicional.
da no portfólio de rótulos nobres da Ele necessita de mais tempo para ela-
Cooperativa Vinícola Garibaldi, a linha boração do que um Charmat normal, o
de espumantes Garibaldi VG colecio- que garante mais densidade e cremo-
na varios prêmios. Agora, o que já era sidade ao paladar, e o desafio foi justa-
agradável ao paladar, referendado por mente transcrever isso na embalagem:
distinções em concursos como o fran- espumante para pessoas com nível de
cês Citadelles du Vin, será ainda mais exigência acima da média.
atrativo aos olhos. Os consumidores têm, na Ga-
Isso porque o conceito visual ribaldi VG, as opções de espumantes
da linha foi completamente renovado, Extra-Brut Branco e Brut Rosé. Eles
equiparando-o à excelência degustativa podem ser encontrados com exclusivi-
da bebida. A linha Garibaldi VG é com- dade no canal Horeca, casas especiali-
posta por dois espumantes, ambos ela- zadas, e-commerce e varejo tradicional
borados pelo método Charmat Longo com adegas especializadas.

Cafés aromatizados Santa Mônica

Foto: divulgação Baunilha, Nuts, Chocolate site da marca www.cafesantamonica.
Trufado, Rum e Caramelo são os pri- com.br, na Amazon e nas principais re-
meiros sabores da marca Santa Mô- des supermercadistas.
nica para ampliar sua participação no O Café Santa Mônica é refe-
segmento de cafés gourmet que vem rência na produção de café gourmet
crescendo mais de 20% ao ano. no Brasil. Além de produzir seus pró-
Os cafés aromatizados Santa prios grãos na Fazenda Santa Mônica
Mônica são 100% arábica nas cinco localizada em Machado, no Sul de Mi-
novas versões. Eles estão disponíveis nas Gerais, a empresa também torra,
em cápsulas de alumínio acondiciona- embala e fornece seus cafés Tradicio-
das em embalagens com dez unidades nal, Intenso e Orgânico nas versões
cada e já podem ser encontrados no grão, moído e em cápsulas.

Melitta lança no Brasil drip station

Foto: divulgação Desenvolvida na Alemanha técnica pour over pode ser testada e
e vendida em toda a Europa, a drip variada de diferentes maneiras na drip
station Melitta Amano permite tes- station Melitta Amano. Seu suporte
tar diferentes técnicas e variações no para filtro de papel com dois furos
preparo manual do café, por meio da conta com uma exclusiva válvula me-
válvula drip stop control. tálica, a drip stop control, que permite
O produto, concebido e dese- ao consumidor controlar o tempo de
nhado na Alemanha, faz parte de uma contato do pó de café com a água para
linha internacional e premium da Me- variar o resultado sensorial obtido. O
litta e tem foco no preparo manual do produto está disponível na loja on-line
café por meio da técnica pour over. A da Melitta.

26 Cultura & Gastronomia nº 1 - Fev. 2022

ROCK / Lançamento

O rock revisitado
do SEU BODEGA

Lançada em janeiro deste ano, a banda Seu Bodega já conta com
agenda de shows em Pará de Minas e região, tocando os mais variados
clássicos do rock.

Em janeiro de 2021, quan- apresentou pela primeira vez ao Apresentação da banda
do o doutor Cristiano Pereira visi- público num espaço reservado Seu Bodega no
tava a casa de vinhos Bodega, em dentro da casa de vinhos. À ban-
Pará de Minas, reconheceu seu da também se juntou a vocalista dia dolançamento em
primo em segundo grau, Fernan- Priscila Alvin. Segundo Fernando janeiro deste ano.
do Moreira, proprietário do local. Moreira, a banda toca rock com
Até então, pouco se encontravam, um pezinho no heavy metal. “Não Cultura & Gastronomia nº 1 - Fev. 2022 27
pois cada um deles vivia em cida- fazemos exatamente cover. Faze-
des distantes entre si. Daí surgiu o mos releituras de clássicos do rock,
assunto sobre música e a amizade hard rock e heavy metal e cada
foi consequência. integrante fica livre para imprimir
Cristiano, que toca guitar- sua personalidade musical, dando
ra base, então convidou Fernando resultado a uma identidade sonora
(guitarra solo) para ensaiar no es- única”, afirma o músico, que duran-
túdio que existe na casa de seus te alguns anos morou na Austrália
pais. Convidaram também outros e lá também tinha uma banda.
músicos e começaram a ensaiar Ele conta que a intenção
todas as segundas-feiras. do grupo é tocar nos principais
Ao longo do ano de 2021 eventos e bares da região. Cada
aconteceram duas mudanças, a do músico tem sua profissão. Todas
baixista e do baterista que foram bem diferentes umas das outras.
substituídos pelos atuais, Mike Al- Mas todos os integrantes têm em
meida e Fábio Marinho, mais co- comum a paixão pelo rock. Ainda
nhecido com Calango. no lançamento, a banda já conta-
Após um ano de ensaios, va com outras apresentações na
em janeiro deste ano, a banda se agenda.

Quem são os integrantes da banda aprendeu a tocar violão e guitarra.
Estudou na Arte Nossa, Pro Music,
Fábio Marinho (baterista) ou em BH e Blue Note em São José do
Calango como é mais conhe- Rio Preto. O rock e blues foi desco-
cido, trabalha no e-commer- berto na adolescência pelos discos
ce de uma indústria de produ- do Celso Blues Boy, Blues Etílicos,
tos químicos. Tem 42 anos e Deep Purple e Jimi Hendrix.
toca desde os 14 anos. Casa-
do com @raquelleticiaabreu Fernando José Moreira ou Nando
e pai do Gustavo e da Letícia. (guitarra solo) tem 35 anos, é ca-
É vice-presidente do motoclube, sado com a médica Juliana Elisei
JShows da Estrada Motoclube Bra- e formado em Educação Física.
sil. Durante muito tempo foi personal
trainner. Hoje é sócio proprietário
Priscilla Alvin (vocal), trabalha em da casa de vinhos Bodega, que deu
uma Clínica Oftalmológica. Tem 35 origem ao nome da banda. Quando
anos, casada e mãe de Trigêmeas. morou na Austrália participava da
Apaixonada por música desde mui- banda de rock Banda Brasa. Desde
to cedo. Cresceu ouvindo clássicos sua adolescência toca guitarra.
como Queen, Led Zeppelin, Jethro
Tull, Yes. Aos 15 aprendeu a tocar Mike Almeida tem 29 anos é gra-
violão e aos 16 teve sua primeira duado em Ciências Sociais pela
banda de rock. PUC Minas. Atualmente trabalha
com vendas. Seu interesse por mú-
Cristiano Duarte (guitarra base), sica teve a influência de seu avô
42 anos, casado com Danuza Gi- que tocava violão em um grupo de
menez e pai dos meninos Athos e chorinho. Aos 12 anos ele come-
Ian. Formado em medicina e traba- çou a tocar violão e aos 16 o baixo,
lha em Pará de Minas. Na infância instrumento que toca atualmente
se interessou por piano quando co- na banda. Além das referências do
meçou a aprender com a professo- samba e chorinho, sempre gostou
ra Nicéia Lopes. Ao longo dos anos muito do bom e velho rock n roll.

Fotos: Cultura&Gastronomia

Da esquerda para direita:
Mike, Cristiano, Priscila,
Nando e Calango

28 Cultura & Gastronomia - Pará de Minas - nº 1 - Fev. 2022

ARTISTA RENASCE

com a pandemia

Fotos: arquivo pessoal

A artista plástica Margare- sempre gostou de artes, artesana-
th Elisei é natural de Nepomuceno to. Nas horas vagas fazia bijuterias,
(MG). Mas há quase dois anos es- caixinhas de papelão, desenhava
colheu Pará de Minas para viver. e coloria. Há 20 anos começou a
“Minha filha mora na cidade e eu pintar telas com tinta acrílica. Mas
sempre vinha passear e gostava apenas como diversão e passatem-
muito. Um dia, casualmente, ela po. “Pintei durante muitos anos e
me convidou para vir morar aqui e parei”, afirma. No início da pan-
eu aceitei. Não pensei duas vezes demia, já aposentada e com seu
e em 15 dias já estava com a mu- negócio de aluguel de roupas de
dança pronta”, lembra Margareth. festa parado em face da situação,
A filha é a médica Juliana Elisei, ca- voltou a pintar novamente, só que
sada com Fernando Moreira, cujo em aquarela. “Segui apenas meus
pai é natural de Pará de Minas e impulsos, levada pela monotonia
que também tem fortes laços fa- do isolamento. Me sentia gratifica-
miliares na cidade. da por colocar na tela e no papel as
Margareth conta que ela cores, muitas vezes dos meus sen-

Cultura & Gastronomia - Pará de Minas - nº 1 - Fev. 2022 29

outras para preencher os momen- ótima escolha, quando resolveu
tos de solidão”, recorda. mudar para Pará de Minas e reco-
O portfólio da artista é meçar a pintar. “Hoje tenho meu
bem diversificado. Ela pinta desde ateliê com um terraço e vista para
cartões para datas comemorativas, o Bariri, caminho diariamente no
até aquarelas específicas para pro- parque, fotografo flores, pássaros,
fessores, como a de italiano, que colho frutas que fazem parte de
encomendou o Coliseu, o Parte- uma flora intensa e natural. Uma
non, a Torre de Pisa e a bandeira belíssima paisagem, ar puro, tem
da Itália. Mas antes disso, nunca a capelinha em que faço minhas
havia pensado em vender suas orações, sempre para agradecer.
obras. “Mas fui mostrando para As pessoas são receptivas, gosto
amigos e familiares e postando do comércio daqui e das pequenas
no Instagram o que eu produzia, o lojas que vejo nas minhas andan-
que acabou resultando em muitas ças pela cidade. A pandemia im-
encomendas. Fico muito contente pediu que se fizesse maiores laços
pois percebo que as pessoas, não de amizade, mas os poucos amigos
só da família e os amigos, gostam que fiz são especiais. Valorizo cada
do meu trabalho. Pessoas até de gesto de amizade, de boas-vindas,
outras partes do país querem ad- sou receptiva a criar afeto com
quirir minhas telas”, comemora Eli- pessoas de bem e minha intuição
sei. sempre se mostrou certeira. E as-
Margareth diz que deve- sim vou levando uma vida tranqui-
mos sempre procurar mudar para la e feliz nessa cidade. Já me sinto
melhor. Considera que fez uma parte dela”, finaliza a artista.

Margareth se encantou com
Pará de Minas e, com a pandemia
do Coronavirus, acabou resgatando

seu talento artístico
30 Cultura & Gastronomia - Pará de Minas - nº 1 - Fev. 2022

CRÔNICA / Ângela Xavier

A CASA

de meus ancestrais

O que é o tempo? Será o passado mais velho que o presente e Ângela Xavier é escritora,
historiadora e contatora de histórias
este maior que o futuro? Em que instante vivemos nós? O que é o agora?
Vejo minha avó Aureslina, alta, bem magrinha, sua saia comprida co-
brindo as pernas até os pés. A roupa escura de viúva eterna, os cabelos
longos, enrolados e presos na nuca por grandes grampos, o rosto limpo!
Nada de batom, lápis, creme, base, sombras... sempre ao natural, como
o tempo a fez. Os pés enfiados nos chinelos macios protegendo os joane-
tes, seu andar vagaroso percorre a casa enorme, agora vazia. Onde estará
ela hoje? Onde fica o passado?
Vou lá! Vejo-me menina no quintal imenso de sua casa em meio
às bananeiras, mangueiras, abacateiros, laranjeiras, limoeiros – e gali-
nhas! Isso é real? Ou esse lugar só existe em minha memória? Não im-
porta. Agora estou lá. Percorro o pomar enorme e farto. Paro diante da
parreira de uvas. Está carregada! Nada mudou naquele quintal. Até os
cachos de uvas estão envoltos em sacos de panos brancos, protegidos de
insetos e pássaros, quiçá de gambás. Resguardados para os netos. Enfio
os dedos na abertura de um dos sacos, como fazia na infância, e destaco
uma uva. É moscatel. Está rosada de tão madura. Apanho mais duas e
levo as três à boca de uma vez só para “saborear com todas as papilas
gustativas” como ensinava meu tio Alberto. Minha avó está na janela e
espia com satisfação. Nada diz.
Continuo minha caminhada pelo quintal onde tantas vezes brin-
quei e tantos frutos comi. Diante do pé de jabuticaba, carregadinho, não
resisto. Subo, escolho um galho de onde possa alcançar as frutas maiores
e mais doces. Lá no alto, diante de um galho carregadinho agi como quan-
do criança: abracei o tronco e chupei as frutas sem arrancá-las do galho.
Era como se fosse um beijo de amor. As cascas vazias continuavam nos
galhos enganando quem as visse de baixo; parecia estar o galho cheio de
frutas maduras.

Cultura & Gastronomia - Pará de Minas - nº 1 - Fev. 2022 31

Rosa, que cozinhava deliciosas comidas em O balanço feito de corda de bacalhau ainda estava lá. Balancei
panelas de ferro e no fogão a lenha. alto e vi, do outro lado do muro, minha outra avó, a Cota, podando suas
roseiras, enquanto meu avô Alfredo pintava o retrato de um bispo.
Continuo descendo até o velho pé de manga pequi. Colho do
chão aquele fruto amarelo com pintinhas pretas e o saboreio com prazer.
Seu delicioso sabor é o mesmo de minha infância. As bananeiras de to-
das as espécies arrematam o pomar. O muro divide a propriedade com a
linha férrea. Um trem passa apitando e as pessoas acenam para mim das
janelas. Talvez estejam indo para Bom Despacho. Aceno de volta, saudosa
dessas viagens.
Deixo para trás aquele paraíso e entro na casa pela porta da cozi-
nha. O fogão a lenha está aceso e a Rosa cozinha. O cheiro de sua comida
despertou minha fome. Ela cozinha abóbora moranga e prepara o molho
de caldo de feijão para temperá-la. Reparei bem como ela faz para apren-
der. Na infância, só degustei. Agora eu teria a chance de aprender sua
receita famosa que tornava todos os legumes saborosos.
Ela coloca alho picadinho numa cumbuca, uma pitada de sal,
salsa, cebolinha e gotas de limão. Depois joga, por cima, um pouco de
gordura de porco fervendo. A mistura chia desprendendo um cheiro deli-
cioso. Com uma concha, ela coloca o caldo de feijão sobre a mistura. Em
seguida, despeja o molho sobre a abóbora cozida. Eu já estou com água
na boca.
Nessa hora, a Rosa percebe a minha presença, sorri meiga, me
abraça e diz: “Buniteza!” Dela eram o colo, o carinho e o chamego. A Rosa
vive com minha avó desde que ela se casou. Seu vestido de saia reta vai
até os pés e é de tecido de algodão, xadrez, discreto. Usa chinelos de
couro. Cozinha em panelas de ferro – a colher de cabo comprido com que
mexe a comida é também de ferro e está gasta pelo uso. Atrás da porta
tem uma cabaça dependurada por um barbante em um prego. Serve para
lavar o arroz. Debaixo do armário há uma bacia cheia de bolas de sabão
preto feito com cinza, enroladas em folhas de bananeira. É com esse sa-
bão que se lavam as vasilhas da cozinha e as roupas da casa. O piso da
cozinha, do banheiro e da copa é de ladrilho hidráulico. É bonito, com
desenhos em verde e vermelho sobre fundo branco.
Depois de comer sua comida simples e saborosa, a Rosa chegou
com a tigela de louça branca com seu famoso doce de leite em ponto
de colher, com tiras de casca de limão. Hum! Poder saborear novamente
esse doce! Ninguém jamais conseguiu fazer igual.
Dou um pulo no quarto da vovó Lilina. Lá está sua cama patente
de solteira, a cômoda com o despertador em cima, além de pequenas
imagens de Nossa Senhora e de santos. Os números e ponteiros do re-
lógio, assim como os santinhos, brilham com luz esverdeada no escuro.
Debaixo de cada santinho, um pequeno forro feito de frivolité, coisa que
vovó faz muito bem. Aprendeu com as freiras no colégio onde estudou.
Em cima da cama, o saco cheio de retalhos de todas as cores e estampas
que ela guardava para fazer fuxico e depois costurar um no outro até for-
mar uma grande colcha.

32 Cultura & Gastronomia - Pará de Minas - nº 1 - Fev. 2022

Fotos: arquivo pessoal

Vovó me recebe com seu sorriso tímido. Seu quarto recende a A casa da família da escritora
naftalina. Ela tem seus preciosos guardados protegidos dos insetos. São Ângela Xavier em Pará de Minas
seus véus. Dezenas deles. Desde o primeiro que ela ganhou em sua pri-
meira comunhão até o último. Os primeiros eram brancos, véus de mu-
lher virgem. Depois de casadas, as mulheres usavam véus pretos. E eram
de seda fina, de rendas, de vários tamanhos e formatos.
Abre uma gaveta da cômoda e tira um santinho. É um comprovan-
te de que me incluiu num movimento de proteção do Sagrado Coração de
Jesus. Ela havia garantido uma vela acesa em minha intenção, permanen-
temente. Fiquei feliz ao pensar que aquela vela acesa me protegeria de
todo o mal. E minha avó também. Olhava para mim com a satisfação de
uma benfeitora estampada no rosto. Agradeci. Tomei-lhe a bênção.
Acordo do meu sonho e me lembro que, nessa mesma casa, minha família
morou depois que meus avós se foram. E tudo se transformou. A sala de

Cultura & Gastronomia - Pará de Minas - nº 1 - Fev. 2022 33

Vovó Lilina: “A roupa escura de viúva eter- visitas foi encerada e o piso realçou as duas cores da madeira. Um tachinho
na, os cabelos longos, enrolados e presos na de cobre foi dependurado do teto por correntes e nele colocada uma sa-
nuca por grandes grampos, o rosto limpo!” mambaia. Os quartos foram repovoados pela nova geração.
O quintal continuou o mesmo. O jardim, a parreira de uva branca
ao lado da casa, o pé de goiabinha, o de cerejas, as bananeiras, mangueiras,
tudo como o tio Alberto deixou. Ali era o paraíso das crianças, um mundo
mágico cheio de delícias deixado pelo grande mago das frutas: o tio Alberto.
O barracão, sempre cheio de entulhos, móveis velhos do tempo do bisavô,
agora espaço das galinhas, que não se contentavam em passear pelo quintal,
mas ali faziam seus ninhos e chocavam.
Muitos anos depois, nesta mesma casa morei com meu marido e
meus filhos. E tudo se transformou novamente. Os quartos foram usados
pela nova família, aproveitados os cômodos da grande casa com brinquedos
e locais de trabalho: ateliê de cerâmica, pintura, desenho e restauração.
O quintal se cobriu de grama, ganhou uma horta, uma piscininha de
lona. Como moradores, uma cabra com seus dois cabritinhos e as galinhas
que foram de meus pais. Eram de todas as raças, caipiras, rajadas, multicolo-
ridas, índias, pedrês e carijós. Jamais esquecerei as lindas manhãs de verão
naquele quintal imenso, ouvindo o canto dos pássaros, deitada na grama
macia.
Mas agora acordo para a realidade. Estou na janela do sobrado de
meus pais, de onde vejo a casa de minha avó sendo desmanchada, as árvo-
res frutíferas cortadas uma a uma, todo aquele paraíso se transformando
em um monte de entulhos. A demolição começa pelo telhado, vão tirando
telha por telha, descobrindo os quartos, depois a cozinha, a sala de jantar, a
sala de visitas. Vejo o quarto da Rosa e, se fechar os olhos, posso ver a cama
sempre coberta com aquela colcha colorida, o retrato do Getúlio Vargas na
parede e o seu pequeno guarda-roupas. O quarto da vovó com sua cama
de solteira e sua cômoda repleta de santinhos cintilantes. Vejo aquela sala
ampla com suas enormes janelas abertas para a rua, o assoalho de tábuas
claras e escuras sempre lavadas.
Agora um trator está lá arrancando o que restava do vovô Zeca, da
vovó Lilina, da Rosa e de tantas outras pessoas que ali viveram. Os cami-
nhões saem cheios de tijolos e terra, restos de árvores, e nesses restos eu
vejo um pouco deles. Os vestígios de meus antepassados já não existem.
Enquanto estava de pé a casa que os abrigou, era um pouco deles que vivia.
E essas lembranças mantinham vivas aquelas vidas que já se foram.
O terreno raspado por um trator não diz nada mais e, em cada cami-
nhão que parte carregado de entulho, vai um pouco dessa lembrança, agora
viva apenas na minha memória.
Um sentimento de solidão me atravessa provocado pela vivência
momentânea de um tempo que já não há. A memória que traz consigo emo-
ções, cheiros e sabores.
Onde fica o passado? Percebo afinal que o presente contém o pas-
sado e que também o futuro, está contido no presente.

34 Cultura & Gastronomia - nº 1 - Fev. 2022

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