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O Desenvolvimento em Morada Nova de Minas: possibilidades perante ao potencial de exploração de gás natural não-convencional

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Published by Atelier Online, 2021-03-17 13:40:38

O Desenvolvimento em Morada Nova de Minas: possibilidades perante ao potencial de exploração de gás natural não-convencional

O Desenvolvimento em Morada Nova de Minas: possibilidades perante ao potencial de exploração de gás natural não-convencional

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................. 1
CAPÍTULO 1: HISTÓRIA, ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS E CADEIAS PRODUTIVAS DE MORADA NOVA DE
MINAS......................................................................................................................................................... 3

1.1 História de Morada Nova de Minas – antes e depois da barragem................................................. 4
1.2 Perfil socioeconômico de Morada Nova de Minas .......................................................................... 7
1.3 As principais cadeias produtivas do município .............................................................................. 18
Referências utilizadas no capítulo........................................................................................................ 20
CAPÍTULO 2: CONTEXTOS FÍSICOS E AMBIENTAIS QUE ENVOLVEM A REGIÃO DE MORADA NOVA DE
MINAS....................................................................................................................................................... 21
2.1 Geologia ......................................................................................................................................... 22
2.2 Pedologia........................................................................................................................................ 25
2.3 Relevo............................................................................................................................................. 26
2.4 Uso e cobertura do solo ................................................................................................................. 26
2.5 Hidrografia...................................................................................................................................... 27
2.6 Clima............................................................................................................................................... 27
2.7 Biodiversidade................................................................................................................................ 28
Referencias utilizadas no capítulo........................................................................................................ 28
CAPÍTULO 3: POSSIBILIDADES DE EXPLORAÇÃO DO GÁS EM MORADA NOVA DE MINAS – POTENCIAL DE
DESENVOLVIMENTO LOCAL ..................................................................................................................... 31
3.1 Gás natural não-convencional e desenvolvimento local ............................................................... 32
3.2 O uso de energia térmica na indústria ........................................................................................... 35
3.3 O uso da energia térmica em conjunto com outras matrizes ‘limpas’ .......................................... 40
3.4 Extração e logística de distribuição do gás não-convencional....................................................... 41
3.5. Localização do poço de extração em Morada Nova de Minas...................................................... 46
3.6 Avaliação do mercado potencial para o gás.................................................................................. 49
3.7 Algumas considerações sobre o mercado do gás de Morada Nova de Minas............................... 61
Referências utilizadas no capítulo........................................................................................................ 62
CAPÍTULO 4: ARTICULAÇÃO INSTITUCIONAL E SOCIAL PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
LOCAL ....................................................................................................................................................... 65
4.1 Desenvolvimento Sustentável: economia circular e economia verde como instrumentos de
iniciativas bottom-up ........................................................................................................................... 65
4.2 Articulação entre poder público, instituições e sociedade para o desenvolvimento do
empreendedorismo.............................................................................................................................. 68
4.3 Como empreendedorismo e sustentabilidade se enquadram nas cadeias produtivas já existentes
em Morada Nova de Minas.................................................................................................................. 74

4.4 Algumas considerações sobre como os principais stakeholders locais podem contribuir para a
criação de um ambiente favorável ao empreendedorismo................................................................. 86
Referências utilizadas no capítulo........................................................................................................ 87
CAPÍTULO 5: OLHANDO PARA O FUTURO – O POTENCIAL DE CRIAÇÃO DE UM GEOPARQUE NA REGIÃO
DE MORADA NOVA DE MINAS ................................................................................................................. 89
5.1 Geoparque como instrumento de governança e desenvolvimento sustentável........................... 90
5.2 Ecoturismo e geoturismo como catalisadores do desenvolvimento sustentável.......................... 92
5.3 Trilhas e mirantes – instrumentos da interpretação e educação ambiental ................................. 95
5.4 Projeto conceitual para o Geoparque Indaiá-Borrachudo: levantamento de pontos de interesse
geológico ............................................................................................................................................ 100

5.4.1 Descrição geológica da região proposta para o Geoparque Indaiá-Borrachudo................ 101
5.4.2 Recursos Minerais............................................................................................................... 103
5.5 Pontos de interesse potencial para o projeto do Geoparque Indaiá-Borrachudo....................... 104
5.6 Algumas considerações sobre a possibilidade de criação de um Geoparque no entorno de
Morada Nova de Minas...................................................................................................................... 111
Referências utilizadas no capítulo...................................................................................................... 112
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................................................... 113

INTRODUÇÃO

A possibilidade de exploração de gás natural não-convencional em Morada Nova de Minas já
vem sendo debatida há, pelo menos, uma década. Em julho de 2011, o anúncio da viabilidade
de exploração na região foi anunciada pelo, então governador, Antônio Anastasia, calcado nos
dados de exploração obtidos pelo Consórcio Cebasf (composto pela Companhia de
Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais – Codemig, Orteng Equipamentos e Sistemas,
Delp Engenharia e Imetame). Em 2013, a Rede GASBRAS foi formada com financiamento público
federal para aprofundar os estudos em relação à exploração do gás natural não-convencional –
justamente aquele tipo encontrado na região.

Nesse contexto, esse caderno temático visa a contemplar as possibilidades de desenvolvimento
local em Morada Nova de Minas e seu entorno. O objetivo é mapear as principais cadeias
produtivas da região e como elas poderiam se articular e se beneficiar do influxo de capital
advindo de uma eventual exploração do gás. Além disso, também foi trabalho da Rede GASBRAS
– Seção Minas Gerais identificar um terreno propício para a instalação de uma planta de
beneficiamento / envasamento do gás para distribuição, considerando as determinantes
logísticas de distribuição desse produto, bem como a localização das principais indústrias que
se utilizam dessa fonte energética no estado, quais sejam as de cerâmica, vidros e fertilizantes.

Todo esse debate ocorre no seio da compreensão de que Morada Nova de Minas estaria mais
preparada para se beneficiar das oportunidades trazidas pela exploração do gás caso suas
lideranças locais – no poder público, sociedade civil e empresariado local – estivessem
articuladas e alinhadas em relação às medidas necessárias para fomentar o desenvolvimento.
Por isso, foram abordadas as figuras das agências de fomento ao desenvolvimento (dispositivo
previsto em Lei1 desde 2001) e do ecossistema empreendedor – aparato de governança
colaborativo, inovador e aberto, mas que pode ser estruturado de maneira deliberada, com o
intuito de incentivar o empreendedorismo e a inovação em níveis locais.

Mesmo ressaltando-se que a exploração de gás não-convencional ainda não se dá de maneira
concreta em Morada Nova de Minas, a validade desse caderno temático prevalece. O

1 Resolução 2828, de 27 de Março de 2001 - Dispõe sobre a constituição e o funcionamento de
agências de fomento. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/pre/normativos/res/2001/pdf/
res_2828_v6_L.pdf.
1

levantamento das principais cadeias produtivas e a articulação das mesmas com ideias
sustentáveis de desenvolvimento conformam um documento útil para o poder público,
empreendedores e investidores locais que poderão incorporar algumas das ideias aqui expostas
aos negócios já existentes na cidade. Dessa forma, acreditamos, esse trabalho é uma
aproximação do desenvolvimento em Morada Nova de Minas à premissas recorrentes e atuais,
auxiliando a preparação do município aos desafios do Século XXI.
Para tanto, o percurso escolhido nesse caderno temático envolveu: 1) a contextualização
socioeconômica e ambiental de Morada Nova de Minas, bem como o mapeamento das
principais cadeias produtivas do município, com intuito de se estabelecer as bases concretas
para os debates que se seguiram; 2) levantamento das principais indústrias que se beneficiam
da energia térmica, mapeamento dessas indústrias em Minas Gerais e a localização de um
potencial terreno onde se poderia instalar estruturas para a exploração e distribuição do gás
dentro dos limites municipais de Morada Nova de Minas, considerando-se os desafios logísticos
envolvidos; 3) discussão das formas como os principais stakeholders locais poderiam se articular
para criação de bases sólidas para reconhecer e explorar as oportunidades de mercado; 4) a
possibilidade de criação de um geoparque local como veículo do desenvolvimento sustentável,
turismo e educação ambiental.

2

CAPÍTULO 1: HISTÓRIA, ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS
E CADEIAS PRODUTIVAS DE MORADA NOVA DE MINAS

Figura 1: Antiga Igreja de Nossa Senhora do Loreto (sem data)

Fonte: Câmara Municipal de Morada Nova de Minas
Figura 2: Vista panorâmica de Morada Nova de Minas - 2015

Fonte: Câmara Municipal de Morada Nova de Minas
3

1.1 História de Morada Nova de Minas – antes e depois da barragem
Morada Nova de Minas ganhou status de município em 1943, conta com uma população de
8.255 habitantes (IBGE/CENSO, 2010) e se localiza, geograficamente, na mesorregião Central
Mineira, cerca de 300km distante da capital do estado de Minas Gerais, Belo Horizonte. Em
termos mais específicos, a cidade é parte da microrregião de Três Marias, juntamente com os
municípios de Pompéu, Abaeté, Biquinhas, Cedro do Abaeté, Três Marias e Paineiras.

Figura 3: Mapa de localização de Morada Nova de Minas

Fonte: elaborado por Jussara Lima – Rede GASBRAS/MG (2020)

4

(a) Fundação, vocação econômica e principais aspectos populacionais / sociais até a
construção da Represa de Três Marias (1957-1961)

Morada Nova de Minas ganhou o status de cidade em 1943, depois da assinatura de um Decreto
Estadual2 que a emancipou de Abaeté. Em 1960 foi inundada parcialmente para a construção
da Represa de Três Marias e, nas últimas décadas, encontra na pesca, agropecuária, extração de
carvão mineral e turismo as principais atividades econômicas para se desenvolver.

O início de sua história, no entanto, remete ainda ao século XVIII, quando os primeiros
habitantes estabeleceram residência na região da foz do Rio Paraopeba nas décadas de 1730 e
1740. Entre 1801 e 1804, as imediações do Rio Borrachudo passaram a ser habitadas até que,
em 1810, a história de Morada Nova de Minas definitivamente começa a ser contada. Nesse
ano, Dona Inácia Maria do Rosário, habitante da Fazenda Saco Bom, doou 180 alqueires de terra
(cerca de 871,2 hectares) na região para a Igreja. Nesse terreno, padres Franciscanos
construíram uma capela em homenagem à Nossa Senhora do Loreto e, ao lado, D. Inácia
construiu um novo sobrado onde passou a residir, sendo esta casa sua “morada nova”.

Nos anos que se seguiram, parentes de D. Inácia, pessoas da região e também de outras partes
começaram a se estabelecer no entorno da capela de Nossa Senhora do Loreto, formando uma
primeira comunidade dedicada à lavoura e à criação de gado. Em 1852 esse povoado é
finalmente reconhecido por lei3 e batizado, oficialmente, de Nossa Senhora do Loreto de
Morada Nova, sendo considerado como um distrito de Abaeté. Mais tarde, em 1861, o povoado
é integrado à diocese de Mariana.

Em 1935, obras de reforma e ampliação na capela se iniciam para que esta se transforme em
uma igreja matriz. Ainda em 1939, o povoado é elevado à categoria de Vila. Até que em 1943,
coincidindo com o fim das obras da nova igreja matriz, Nossa Senhora do Loreto de Morada
Nova ganha o status de município, se emancipando de Abaeté. Inicialmente, a cidade foi
rebatizada simplesmente de Morada, porém mais tarde o nome foi alterado para Moravânia
(1948) e, finalmente, Morada Nova de Minas (1953).

Em 1950, de acordo com as Estimativas do Departamento Estadual de Estatísticas de Minas
Gerais, a cidade possuía 14.264 habitantes. As principais atividades econômicas da cidade nessa

2 Decreto Lei Estadual 1058 de 31 de dezembro de 1943.
3 Lei Provincial nº 603 de 1852.

5

época eram, de acordo com o Recenseamento Geral do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE de 1950, a agricultura, pecuária e a silvicultura. Os principais produtos eram
o arroz, milho, feijão, cana de açúcar, mandioca, algodão e pescados. Grande parte desta
produção era destinada aos mercados consumidores de Belo Horizonte, Pará de Minas e
Divinópolis, em Minas Gerais, e São Paulo e Distrito Federal, fora do estado.

Figura 4: Linha do tempo – principais eventos históricos entre 1730-1961

Fonte: elaborado a partir de Prefeitura de Morada Nova de Minas (2014)
6

Já em 1960, quando a cidade conhecia o auge de seu desenvolvimento econômico calcado na
agropecuária, iniciaram-se os trabalhos de inundação de parte da área do município para a
construção da Represa de Três Marias. Terras férteis e estradas foram submersas, deixando
Morada Nova de Minas parcialmente ilhada e comprometendo seu desenvolvimento. Ou seja,
após a década de 1950 o município passou por um processo de diminuição drástica de sua área
rural, que perdeu importância perante as atividades desempenhadas em sua zona urbana.

O reflexo da mudança de panorama em Morada Nova de Minas pode ser visto na variação
populacional da cidade nas décadas que se seguiram. Após as primeiras inundações, houve um
grande êxodo demográfico, com o número de habitantes caindo para 8.352 habitantes no ano
de 1970, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. No ano de 1980,
chegou-se a 6.019 habitantes. A partir de 1991 observa-se uma volta do crescimento
populacional, o que pode denotar uma recuperação nas últimas décadas, com a cidade
chegando à 6.652 habitantes, 7.591 em 2000 e, no ano de 2010, alcançando a marca de 8.255.
Estima-se que em 2019 a cidade alcançou o número de 8.863 habitantes.

(b) Rumos da cidade após a construção da Represa: qual o novo panorama dos aspectos
populacionais, sociais e econômicos?

A partir da inundação dos campos em 1960, a cidade tentou recuperar sua produção agrícola,
porém sem o mesmo sucesso anterior. Essa atividade foi paulatinamente perdendo espaço para
o setor de serviços, como mostram os dados da Fundação João Pinheiro – FJP (2019): em 2017,
37,8% dos empregos era no setor agropecuário, enquanto os serviços eram responsáveis por
45,3%. Hoje, a cidade procura estabelecer-se como polo turístico, aproveitando as margens da
represa para o turismo ecológico e rural. Além disso, também busca se reestabelecer
economicamente a partir da extração de carvão vegetal e, principalmente, da produção de
tilápias em tanques rede.

1.2 Perfil socioeconômico de Morada Nova de Minas
As mudanças no panorama econômico de Morada Nova de Minas, especialmente após a
construção da Represa de Três Marias (1961), podem ser melhor entendidas se levarmos em
conta dados socioeconômicos da cidade nos últimos anos. Dados relativos a população;

7

trabalho e rendimento; educação; economia e sociedade; saúde; e território e ambiente
contribuem para a compreensão, como um todo, de Morada Nova de Minas no século XXI
(Figura 5).

População

• População em 2010: A população de 8.255 habitantes coloca Morada Nova de Minas
numa posição intermediária em relação às outras cidades de Minas Gerais. De acordo
com o IBGE, Morada Nova de Minas estaria na 413º posição dentre os 853 municípios
do estado na quantidade de moradores.

• População em 2019 (estimada): De acordo com a estimativa do IBGE, Morada Nova de
Minas teria, em 2019, 8.863 habitantes. Isso representaria um acréscimo de 608
moradores entre 2010 e 2019, um aumento de cerca de 7,3% do número de habitantes
em relação a 2010.

• Densidade Demográfica: Densidade demográfica corresponde à distribuição da
população em uma determinada área e é calculada a partir da razão entre o número
total de habitantes (hab.) de um município e a área territorial desse município (km²).
Esse dado permite compreender se uma cidade é muito ou pouco povoada. Com a média
de 3,96 habitantes a cada quilômetro quadrado, Morada Nova de Minas apresenta uma
baixa densidade demográfica, estando na 827ª posição entre os 853 municípios de
Minas Gerais.

• Pirâmide etária: Uma pirâmide etária nos permite enxergar como se dá a composição
de uma população a partir da idade e sexo de seus habitantes. Dos 8.255 habitantes de
Morada Nova em 2010, 4.205 eram homens e 4.050 eram mulheres. O eixo horizontal
representa a proporção da população e o eixo vertical a faixa etária. O lado direito do
eixo horizontal é destinado à representação das mulheres e o esquerdo dos homens. A
pirâmide nos permite ver que grande parte da população pertencem a dois grandes
grupos etários grupos: dos 10-24 anos e dos 35-49 anos. A queda do número de
habitantes com idade entre os 25 e os 34 anos mostra que muitos moradores da cidade

8

saem de Morada Nova de Minas em busca de emprego e estudo justamente em uma
faixa etária de elevada produtividade.

População Morada Nova de Minas Unidade
habitantes
Dados Socioeconômicos

Qtd. (Ranking
Microrregião)

2019 (estimada) 8863

2010 (Censo) 8255 habitantes

Densidade Demográfica 3,96 hab/km²
(Censo 2010)

Trabalho e Rendimento

Salário Médio Mensal dos 1,7 salários mínimos
Trabalhadores Formais [2017] 2142 pessoas
24,2
Pessoal Ocupado – Total % da população
[2017]

População Ocupada –
Percent. [2017]

População com Renda de até 32,7 % da população
½ salário mínimo

Educação

Escolarização – 6 a 14 anos 97,8 % da população
[2010] 7,2 Etária
5,3
IDEB Rede Pública – 1º ao 5º ano pontos (máx. 10)
[2017]
pontos (máx. 10)
IDEB Rede Pública – 6º ao 9º ano
[2017]

Matrículas Ensino Infantil 418 matrículas
[2018]

Matrículas Ensino Fundamental 1068 matrículas
[2018]

Matrículas Ensino Médio 261 matrículas
[2018] 79 docentes
75 docentes
Docentes – Ensino Infantil
[2018]

Docentes – Ensino Fundamental
[2018]

Docentes – Ensino Médio 21 docentes
[2018] 3 escolas

Escolas – Ensino Infantil
[2018]

Escolas – Ensino Fundamental 9 escolas
[2018] 1 escolas

Escolas – Ensino Médio
[2018]

Economia e Social

PIB per capita 30761,39 R$
[2017]

IDH Municipal (IDH-M) 0,696 [médio] índice (melhor = 1)
[2010]

Proporção de Pobres 6,84 %
[2010]

Índice de Gini 0,4 índice (melhor = 0)
[2003]

Receitas oriundas de Fontes 85,5 % das receitas
Externas [2015]

Total de Receitas Realizadas 32024,4 R$ (x1000)
[2017]

Total de Despesas Empenhadas 34452,62 R$ (x1000)
[2017]

Fundações privadas, Associações e 88 unidades
Entidades sem fins lucrativos [2016]

Empresas atuantes 253 unidades
[2017]

Microempreendedores Individuais 387 indivíduos
– MEIs [2019]

Saúde

Mortalidade infantil 23,53 óbitos por mil
[2017] Nascidos vivos

Internações por diarreia 0,9 casos por mil hab.
[2016]

Estabelecimentos de Saúde 9 estabelecimentos
– Rede SUS [2009]

Território e Ambiente

Área territorial 2084,275 km²
[2018]

Esgotamento sanitário 2,2 % das residências
[2010]

Fonte: IBGE Cidades (2020); Portal do Empreendedor (2020);

IBGE/CEMPRE (2017); FJP/IMRS (2019)

Figura 5: Principais dados socioeconômicos de Morada Nova de Minas
9

Trabalho

• Salário médio mensal dos trabalhadores formais: A média dos habitantes de Morada
Nova de Minas recebe 1,7 salários mínimos por mês, colocando a cidade em uma
posição intermediária em relação às outras cidades de Minas Gerais (337ª colocação
entre 853 municípios no estado).

• População ocupada – Total e percentual: 24,2% da população de Morada Nova de
Minas se encontrava formalmente empregada em 2017, o que a coloca no grupo de
cidades onde esse índice é elevado (107ª posição em 853 cidades em Minas Gerais). Esse
percentual representava, em 2017, 2.142 pessoas empregadas na cidade.

• População com renda de até ½ salário mínimo: 32,7% da população de Morada Nova
de Minas vivia, em 2010, com metade de um salário mínimo por mês. Isso quer dizer
que praticamente 1/3 da população do município vivia com cerca de metade do salário
considerado o mínimo necessário para se atender as necessidades básicas. Isso colocava
a cidade na posição 198º entre os 853 municípios de Minas Gerais em relação à
proporção da população vivendo com até ½ salário mínimo.

Educação

• Escolarização – 6 a 14 anos: Esse dado mostra qual o percentual de crianças e
adolescentes, entre os 6 e 14 anos, estão matriculados na escola. Em 2010, data do
último Censo Demográfico, 97,8% dos habitantes de Morada Nova de Minas nessa faixa
etária frequentavam a escola. Isso colocava a cidade na 395ª posição entre as 853
municipalidades de Minas Gerais.

• IDEB da Rede Pública: O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) é
calculado de dois em dois anos pelo Governo Federal a partir das notas da Prova Brasil,
que avalia o desempenho nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática dos alunos
do Ensino Fundamental das escolas públicas das redes municipais, estaduais e federal.
O Ideb varia de 0 a 10 e, quanto mais próximo de 10, melhor a qualidade da educação.

10

✓ 1º ao 5º ano: A nota do último IDEB (2017) dos alunos do 1º ao 5º ano da rede
pública em Morada Nova de Minas foi 7,2 pontos, o que coloca a cidade no
primeiro patamar do estado de Minas Gerais. Com esse índice, Morada Nova de
Minas ficou na 41ª posição no ranking entre as 853 cidades mineiras.

✓ 6º ao 9º ano: A nota do último IDEB (2017) dos alunos do 6º ao 9º ano da rede
pública em Morada Nova de Minas foi 5,3 pontos, o que também coloca a cidade
no primeiro patamar do estado de Minas Gerais. Com esse índice, Morada Nova
de Minas ficou na 69ª posição no ranking entre as 853 cidades mineiras.

Economia e Social

• Produto Interno Bruto (PIB) per capita: O PIB é a soma de todos os bens e serviços finais
produzidos por um país, estado ou cidade, geralmente em um ano. Especificamente, o
indicador “PIB per capita” mede quanto do PIB caberia a cada indivíduo do município se
todos recebessem partes iguais. No caso de Morada Nova de Minas, esse valor seria de
R$30.761,39 para cada habitante no ano de 2017. Esse valor colocaria Morada Nova de
Minas no patamar mais alto de Minas Gerais, na posição 98º entre os 853 municípios do
estado.

• Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM): O IDHM abrange as dimensões
educação, longevidade e renda de um município na construção do índice. O objetivo de
considerar também a educação e a longevidade seria o de apresentar uma medida do
desenvolvimento municipal mais abrangente do que apenas o desempenho econômico,
medido pelo Produto Interno Bruto (PIB). O IDHM apresenta valores entre 0 e 1, sendo
0 o pior valor possível e 1 o melhor valor possível. O IDHM de Morada Nova de Minas,
em 2010, era 0,696, considerado, em termos absolutos, médio. É um IDHM ligeiramente
acima da média de Minas Gerais, cujo melhor índice é 0,810 e o pior 0,530.

• Proporção de Pobres: Considerando-se pobre a pessoa cuja renda domiciliar per capita
mensal é inferior a R$ 220,70 (a preços de dezembro de 2017) (FJP/IMRS, 2019), a
proporção de pobres em Morada Nova de Minas é de 6,84% da sua população, sendo o

11

segundo melhor valor dentre as sete cidades que compõem a microrregião de Três
Marias, onde a cidade está inserida.

• Índice de Gini: O Índice de Gini é um instrumento utilizado para medir o grau de
concentração de renda em uma determinada unidade territorial, apontando a diferença
entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. O índice varia entre 0 e 1, onde
zero representa a situação de igualdade absoluta (ou seja, todos têm a mesma renda) e
um representa a desigualdade extrema (isto é, uma só pessoa detém toda a riqueza).
Para Morada Nova de Minas, o valor é 0,40, o que coloca a cidade entre uma das mais
desiguais da microrregião de Três Marias.

• Total de Receitas Realizadas x Total de Despesas Empenhadas: A relação entre Receitas
Realizadas e Despesas Empenhadas permite ter uma compreensão geral do balanço
econômico no município em um determinado ano. As receitas dizem respeito à
quantidade de dinheiro que Morada Nova de Minas tinha em seu cofre no ano de 2017;
já as despesas dizem respeito àquilo que a cidade gastou no mesmo ano. Sendo assim,
podemos considerar que no ano de 2017 Morada Nova de Minas gastou 2.428.220
milhões de reais a mais do que gerou/recebeu.

Saúde

• Mortalidade Infantil: A taxa de mortalidade infantil é medida pelo número de óbitos de
crianças no primeiro ano de vida em relação a cada mil nascidos vivos. A taxa de
mortalidade infantil serve como uma das referências de qualidade do serviço de saúde
em um determinado país, região ou município. No caso de Morada Nova de Minas, essa
taxa é de 23,53, o que significa que cerca de 23 crianças morrem antes de completarem
um ano de idade a cada mil crianças que nascem com vida na cidade. Em Minas Gerais,
Morada Nova de Minas ocupa a posição de 142º lugar entre as 853 cidades do estado.

• Internações por diarreia: A quantidade de internações por diarreia é um bom parâmetro
para se medir a qualidade do saneamento básico de uma cidade, já que entre suas
causas está a ingestão de água ou alimento contaminado por vírus, bactérias ou

12

parasitas. Em Morada Nova de Minas são cerca de 0,9 internações por diarreia a cada
mil habitantes. Isso coloca a cidade como 250ª, entre as 853 do estado, com mais
internações por diarreia.
• Estabelecimentos de saúde – Rede SUS: Em Morada Nova de Minas são 9
estabelecimentos de saúde vinculados à rede do Sistema Único de Saúde (SUS), o que
configura 1,09 estabelecimentos de saúde para cada mil habitantes. Esse número coloca
Morada Nova de Minas como o terceiro município da microrregião de Três Marias com
mais estabelecimentos de saúde por mil habitantes.

Território e Ambiente

• Área Territorial: Morada Nova de Minas tem uma área territorial de 2.084,275 km², o
que a coloca como a 57ª cidade com maior área territorial entre os municípios de Minas
Gerais.

• Esgotamento sanitário: Apenas 2,2% de Morada Nova de Minas dispõe de esgotamento
sanitário adequado. Isso a coloca como a cidade de número 826 no ranking das 853
cidades do estado de Minas Gerais. Contextualizando Morada Nova de Minas: ranking
da microrregião de Três Marias com base nos dados socioeconômicos

13

População

Quadro 1: Ranking da categoria “População” – Microrregião de Três Marias, MG

Ranking – Microrregião Três Marias

População

Posição População 2019 (estimada) Densidade Demográfica

1º Três Marias 32356 Abaeté 12,49

2º Pompéu 31812 Pompéu 11,41

3º Abaeté 23237 Três Marias 10,57

4º Morada Nova de Minas 8863 Paineiras 7,27

5º Paineiras 4486 Biquinhas 5,73

6º Biquinhas 2515 Cedro do Abaeté 4,27

7º Cedro do Abaeté 1164 Morada Nova de Minas 3,96

Fonte: elaborado a partir de IBGE Cidades (2020)

Ao comparar Morada Nova de Minas com as outras cidades da microrregião, podemos apontar
que ela é a quarta cidade mais populosa, porém com quase 1/3 apenas da população da terceira
cidade, Abaeté. Quanto à densidade demográfica, observa-se que Morada Nova de Minas é a
cidade com o menor índice; os 3,96 hab/km² mostra que a cidade ainda é pouco povoada,
denotando um potencial latente para o crescimento.

14

Trabalho e Rendimento

Quadro 2: Ranking da categoria “Trabalho e Rendimento” – Microrregião de Três Marias, MG

Fonte: elaborado a partir de IBGE Cidades (2020)

Morada Nova de Minas apresenta, empatada com Abaeté, Biquinhas e Cedro do Abaeté, o
terceiro maior salário médio mensal da microrregião. Apesar de um número absoluto
relativamente baixo de pessoal ocupado (2142), Morada Nova de Minas lidera no quesito
percentual de população ocupada (24,2%), com o dobro do último colocado nesse quesito, o
município de Paineiras. Já no quesito percentual da população com renda de até ½ salário
mínimo, Morada Nova de Minas ocupa a primeira colocação, sendo a cidade com o índice mais
baixo de pessoas recebendo uma baixa remuneração.

Educação

Quadro 3: Ranking da categoria “Educação” – Microrregião de Três Marias, MG

Fonte: elaborado a partir de IBGE Cidades (2020)

15

Apesar de 97,8% das crianças e jovens entre 6 e 14 anos frequentarem a escola, o percentual
de escolarização de Morada Nova de Minas só não é mais baixo que em Pompéu, se
compararmos às outras cidades da microrregião. No entanto, a qualidade do ensino de Morada
Nova de Minas surge ao se avaliar os números do IDEB: entre o 1º e o 5º ano, a nota média de
7,2 (em 10) coloca os alunos da cidade como aqueles com melhor desempenho nos primeiros
anos do ensino fundamental; do 6º ao 9º ano a nota tem uma queda considerável (5,3 em 10),
porém ainda é o suficiente para deixar Morada Nova de Minas empatada com Biquinhas em
primeiro lugar na microrregião. Em termos do número de escolas por mil habitantes, Morada
Nova de Minas ocupa o segundo lugar, com 1,57 escolas, com menos da metade das escolas de
Biquinhas, o primeiro lugar com 3,30 escolas para cada mil habitantes.

Economia e Social

Quadro 4: Ranking da categoria “Economia e Social” – Microrregião de Três Marias, MG

Fonte: elaborado a partir de IBGE Cidades (2020)

Morada Nova de Minas apresenta o segundo maior PIB per capita da microrregião, apesar de
haver uma distância considerável para Três Marias, a vencedora nesse quesito. Apesar de em
termos universais o IDHM de Morada Nova ser considerado médio, ela é a cidade com a terceira
melhor marca dentre as sete que compõem a microrregião. Já em relação à proporção do
número de pobres na cidade, Morada Nova de Minas (6,84%) só fica atrás de Abaeté (6,69%).
Em relação ao índice de Gini, existe uma considerável diferença entre Cedro do Abaeté (a
melhor nesse quesito com 0,34) e Morada Nova de Minas que, com 0,40, se aproxima muito
dos números de Abaeté, a última colocada com 0,42. Ou seja, a desigualdade de renda em
Morada Nova de Minas é uma das maiores dentre as sete cidades que compõem a microrregião.

16

Saúde

Quadro 5: Ranking da categoria “Saúde” – Microrregião de Três Marias, MG

Ranking – Microrregião Três Marias
Saúde

Posição Mortalidade Infantil Estabelecimentos de Saúde
Internações por Diarreia

– Rede SUS (por mil hab.)

1º Três Marias 11,76 Paineiras 0,2 Cedro do 1,65
12,20 Pompéu Abaeté 1,14
12,30 Três Marias 1,09
2º Pompéu 0,3 Biquinhas 0,86
0,67
3º Abaeté 0,6 Morada Nova 0,53
de Minas 0,48

4º Morada Nova 23,53 Abaeté 0,8 Paineiras
de Minas

5º Cedro do - Cedro do 0,8 Três Marias
Abaeté Abaeté Abaeté

6º Biquinhas - Morada Nova 0,9
de Minas

7º Paineiras - Biquinhas - Pompéu

Fonte: elaborado a partir de IBGE Cidades (2020)

Dentre as cidades com disponibilidade de dados para a mortalidade infantil, Morada Nova de
Minas é a que apresenta os piores números, e com alguma folga: os 23,53 óbitos de crianças de
até um ano de idade a cada mil nascidos vivos é quase o dobro de Abaeté (12,30), a cidade logo
à frente nesse quesito. Em relação às internações por diarreia, Morada Nova de Minas está em
último lugar dentre as cidades que dispõem desses dados, com o índice de 0,9 internações por
mil habitantes, 4,5 vezes mais que o número de Paineiras (0,2), município que apresenta os
melhores resultados. No tocante ao número de estabelecimentos de saúde por mil habitantes,
Morada Nova de Minas tem um resultado relativamente bom, 1,09 estabelecimentos, em
terceiro lugar.

17

Território e Ambiente

Quadro 6: Ranking da categoria “Território e Ambiente” – Microrregião de Três Marias, MG

Ranking – Microrregião Três Marias

Território e Ambiente

Posição Área Territorial (km²) Esgotamento Sanitário (%)

1º Três Marias 2678,253 Abaeté 85,0

2º Pompéu 2551,074 Três Marias 84,8

3º Morada Nova de Minas 2084,275 Pompéu 73,8

4º Abaeté 1817,067 Cedro do Abaeté 26,1

5º Paineiras 637,309 Morada Nova de Minas 2,2

6º Biquinhas 458,948 Biquinhas 1,3

7º Cedro do Abaeté 283,211 Paineiras 0,6

Fonte: elaborado a partir de IBGE Cidades (2020)

A área territorial total de Morada Nova de Minas é relativamente grande, o que possibilita a
expansão do tecido urbano e das atividades agropecuárias. A falta de uma rede mais ampla de
esgotamento sanitário, no entanto, pode servir como um entrave para essa expansão, já que
a falta de tratamento do esgoto pode contaminar mananciais e afetar a saúde da população.

1.3 As principais cadeias produtivas do município
A grande vocação agrícola ainda predomina em Morada Nova de Minas. De acordo com dados
da Fundação João Pinheiro (FJP, 2019), em 2016, 53% da riqueza da cidade era gerada pela
agropecuária, enquanto o setor de serviços era responsável por 41,70% e a indústria por 5,3%.
Os dados do Cadastro Central de Empresas (CEMPRE) do IBGE apontam que, em 2018, eram
201 empresas em Morada Nova de Minas: sendo cerca de 87% delas de pequeno porte. As

18

atividades econômicas mais expressivas do município são a piscicultura, o eucalipto para a
siderurgia (carvão vegetal) e a pecuária de corte e leite.

Em relação à carvoaria, existem cinco grandes produtores e cerca de 15 outros de menor porte
que plantam eucalipto para abastecerem, como fonte energética, os mercados da siderurgia de
Minas Gerais e outros estados. De acordo com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão
Rural do Estado de Minas Gerais (EMATER-MG), a área plantada em 2014 atingiu 25.000
hectares e a produção de carvão no mesmo ano foi de 2.060 toneladas.

Outra atividade que tem sua importância para a cidade é a agricultura familiar, que contribui
para abastecer o município com hortifrútis. De acordo com a EMATER, o setor de agricultura se
estrutura assim no município:

• Pequenos produtores com área até 60 hectares = 12

• Grandes produtores com áreas acima de 2.000 hectares = 5 a 10 (grupos de empresas).

Uma atividade promissora e em pleno desenvolvimento, que conta com recursos da EMATER é
a do processamento da mandioca para produção de farinha e polvilho, que devido ao seu
estágio ainda nascente, conta atualmente com apenas quatro associados. Além disso, uma
unidade de processamento de açúcar mascavo e rapadura, atualmente com 25 associados,
também está em atuação no município.

Ainda com grande potencial para evoluir, algumas atividades agrícolas apontadas pela EMATER
são a plantação de grãos (milho, soja e feijão) e a fruticultura (abacaxi, maracujá, banana, pitaya
e uva já estão sendo plantadas). Além destas, a própria criação de tilápia ainda pode se
especializar, com o processamento e introdução de novas linhas de produtos, por exemplo. Por
fim, a pesca profissional e esportiva, além do turismo ainda são pouco explorados e podem
contribuir para o desenvolvimento da cidade.

A cadeia produtiva de maior destaque no município, no entanto, é a piscicultura, sendo que a
principal espécie criada é a tilápia. O setor emprega cerca de 30% da população local e, apesar
de dificuldades estruturais e financeiras, Morada Nova de Minas aparece como o segundo maior
produtor de tilápia do país. A composição do setor da piscicultura na cidade se dá da seguinte
maneira:

19

• Pequenos produtores = 10 %
• Médios produtores = 60 %
• Grandes produtores = 30%
Vale ressaltar que, do total produzido de tilápia no município, cerca de 50% é comercializado
in-natura.

Referências utilizadas no capítulo

Fundação João Pinheiro – FJP (2019). Índice Mineiro de Responsabilidade Social.
Recuperado de http://imrs.fjp.mg.gov.br/
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2010). Censo 2010.
Recuperado de https://censo2010.ibge.gov.br/.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE / Cadastro Central de Empresas – CEMPRE
(2018). Cadastro Central de Empresas – 2018.
Recuperado de https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/cempre/quadros/brasil/2018.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2020). Portal Cidades.
Recuperado de https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/morada-nova-de-minas/panorama
Portal do Empreendedor (2020). Estatísticas.
Recuperado de http://www.portaldoempreendedor.gov.br/estatisticas
Prefeitura de Morada Nova de Minas (2014). História. Recuperado de
https://www.moradanova.mg.gov.br/detalhe-da-materia/info/historia/6495

20

CAPÍTULO 2: CONTEXTOS FÍSICOS E AMBIENTAIS QUE
ENVOLVEM A REGIÃO DE MORADA NOVA DE MINAS

Figura 6: Ponte sobre o Rio Indaiá

Fonte: Jussara Lima (2020)
Figura 7: Vista Parcial de parte do Rio Indaiá

Fonte: Jussara Lima (2020)

21

2.1 Geologia
Os principais litotipos e sedimentos encontrados no município são apresentados no Figura 7A e
podem ser classificados em quatro conjuntos litológicos/sedimentares distintos, sendo eles:

i. Sedimento e depósito Cenozóicos –representado por sedimentos e depósitos
avermelhados argilosos e arenosos as vezes com cangas. Este agrupamento no município
representa 809km² de área o que equivale a 39% da área total;

ii. Arenito e sedimento Cretáceos - caracterizados por arenitos avermelhados a
esbranquiçados com grãos arredondados finos a médio ou sedimentos arenosos. Este
conjunto representa 120km² de área o que equivale a 6% da área do município;

iii. Arenito e argilito Proterozóicos – composto por arenitos de tons variados grãos finos a
grossos ou sedimentos areno-siltosos de coloração bege. Este conjunto no município
representa uma área de 539km² que equivale a 26% da área total;

iv. Siltito e argilito Proterozóicos –constituído por siltitos e argilitos de tons bege e ocre ou
sedimentos silto-argilosos de coloração bege. No município este conjunto está em uma
área de 372km² que representa 18% da área total.

Qual a importância?

Um levantamento litológico em formato de mapa é uma das ferramentas para o
desenvolvimento econômico e representa a base fundamental de conhecimento do meio físico.
Estes tipos de dados orientam descobertas de recursos minerais, servindo para subsidiar ainda
o gerenciamento de recursos hídricos, áreas de riscos, o ordenamento territorial e ações que
visam a proteção do meio ambiente. Além disso, o conhecimento geológico pode ser útil nos
provimentos de empreendimentos turísticos como geossitios e geoparques.

Recursos Minerais

O diamante é um dos recursos minerais historicamente procurados na região por garimpeiros e
mais recentemente por empresas do setor. As empresas atualmente requerem áreas
dominantemente nos leitos e margens do Rio Borrachudo e Indaiá localizado na região oeste do
município (Figura 7B).

22

Outros tipos de exploração e extração mineral presentes no município são: A- Ardósia que é o
principal bem mineral da região e que é utilizado na construção civil; B- Fosfato que é extraído
de rochas sedimentares rica em potássio (verdetes) e que é utilizado na fabricação de
fertilizantes e C - Areia e cascalho que são utilizados na construção civil. Também são alvos de
extração e pesquisa os arenitos e granitos como potenciais fontes de rochas ornamentais na
construção civil. Soma-se como um outro recurso, porém não bem esclarecido para sociedade,
as reservas de gás naturais na região.

Potenciais Geossitios
Os geossítios de acordo a literatura representam lugares ou pontos de interesse geológico com
destaque ao valor do meio circundante envolvendo valor científico educativo, cultural ou
turístico. Na região de Morada Nova de Minas os potenciais locais que podem vir a ser geossítios
cita-se:

• Região da Pedra Preta – localizada na Fazenda Kitéria em Morada Nova de Minas.
• Zona de cisalhamento do Traçadal – trata-se de uma região caracterizada por vales

profundos, alongados de direção NNW-SSE e que apresentam alto potencial para
cavernas em meio a rochas pelito-carbonáticas.
• Gruta Ribeirão do Inferno – trata-se de uma caverna cadastrada no sistema
CANIE/CECAV localizada dentro do contexto da Zona de Cisalhamento do Traçadal.
• Exsudações no Baixo Rio Indaiá – são emanações de gases naturais sobre as águas ou
solos, porém nítidas por meio de borbulhamento quando represadas ou no próprio rio
Indaiá.

23

Figura 7 – Aspectos Físicos de Morada Nova de Minas. A) Principais Litotipos; B) Recursos
Minerais; C) Tipos de Solo; D) Altitude; E) Declividade; F)Uso e Cobertura do Solo;
G)Hidrografia e H) Pontos Hidrográficos

24

2.2 Pedologia
A Figura 7C apresenta um perfil de solo padrão com níveis/horizontes principais desde
superfície até chegar na rocha (R). Os tipos de solo preexistente no município de Morada Nova
de Minas são:

• Cambissolos – constituídos por material mineral, com horizonte B incipiente (Bi)
subjacente e qualquer tipo de horizonte superficial. Tem sequência de horizontes A ou
hísticos, Bi, C, com ou sem R.

• Latossolo – constituídos por material mineral, com horizonte B latossólico
imediatamente abaixo de qualquer um dos tipos de horizonte diagnósticos superficial,
exceto hístico.

• Neossolo – constituídos por mineral, ou por material orgânico pouco espesso, que não
apresentam alterações expressivas em relação ao material originário devido à baixa
intensidade de atuação dos processos pedogenéticos.

O – Material Orgânico
A – Mineral escurecido
E – argila e outras
partículas finas
B – Acumulação de
horizontes anteriores com
presença de óxidos e
hidróxidos de ferro
C – Material não
consolidado
R – Rocha Consolidada

Qual a importância?
Útil no planejamento e gerenciamento do uso da terra e dos recursos naturais além de
potencializar a produção agrícola e diversas atividades econômicas para uma região.

25

2.3 Relevo
O município possui uma área de 2084km2 e está localizado no interior da Mesorregião Central
Mineira, pertencente a Microrregião de Três Marias. A área apresenta as altitudes que vão de
520 a 960 metros, sendo que as maiores altitudes encontram-se a noroeste do município,
conforme mostra o mapa hipsômetrico da Figura 7D. Já a declividade, dentro do limite
municipal, a predominância é do tipo plana e suave ondulado, ocupando 40% da área, seguido
de domínios ondulado (16%), forte ondulado (3%) e do tipo montanhoso (1%) (Figura 7E).

Qual a importância?
O uso do conhecimento da declividade do relevo é útil, pois ela influencia na velocidade de
escoamento superficial da água. Torna-se, portanto, uma boa ferramenta na detecção de áreas
com menor ou maior predominância a susceptibilidade de ocorrência de erosão;

2.4 Uso e cobertura do solo
Dentro do município as principais classes quanto ao uso e cobertura do solo, cita-se: formação
florestal, formação savânica, floresta plantada, formação campestre, pastagem, cultura anual
perene, infraestrutura, outra área não vegetada, e rio/lago. Constatou que o maior domínio
dentro do município é o de pastagem que representa aproximadamente 38% da área do
município, seguido de floresta plantada que corresponde a 18% (Figura 7F).

26

Qual importância?
Útil na avaliação, gerenciamento e planejamento de áreas naturais e antrópicas quanto as
modificações da paisagem e do aumento dos impactos ambientais e socioeconômicos.

2.5 Hidrografia
O município está inserido na bacia hidrográfica do Rio São Francisco cujas drenagens locais e
pertencentes ao município são apresentadas na Figura 7G O mapa hidrográfico do município
apresenta curso de águas na margem esquerda do Rio São Francisco estendendo até o
reservatório da Usina Hidrelétrica de Três Marias.
O conhecimento do mapa hidrográfico está também intimamente ligado com os pontos
hidrológicos como: nascentes, lagos, lagoas, represas, poços e cisternas, conforme Figura 7H.

Qual a importância?
Gerenciar o cadastro de pontos hidrológicos e monitorar quantitativamente e qualitativamente
os recursos hídricos.

2.6 Clima
Na região do município predominam climas tropicais semi-úmido, com temperatura média
anual quente–média > 18°C em todos os meses e semiúmido de 4 a 5 meses seco. O gráfico com
as médias mensais de precipitação das duas últimas décadas encontra-se na Figura 8. Observa-
se que o maior registro de chuvas nos últimos anos tem ocorrido entre novembro e março. O
acúmulo médio de precipitação na região nas últimas décadas é em torno de 1137 mm.

27

Figura 8: Média mensal de precipitação das últimas duas décadas para o município de
Morada Nova de Minas

Fonte: INMET (Instituto Nacional de Meteorologia)

2.7 Biodiversidade
O município está inserido no bioma cerrado que é considerado como a savana tropical mais rica
do mundo, pois há cerca de 5% de toda a diversidade do planeta, abrigando 30% dos diversos
seres vivos identificados no Brasil. No município identifica-se algumas espécies de fauna e flora
ameaçadas e é privilegiado por conter uma importante área de proteção integral, a “Estação
Ecológica de Pirapitinga”, que tem como objetivo a preservação da natureza e a realização de
pesquisas científicas.

Referências utilizadas no capítulo

Alkmim F.F. & Martins-Neto M.A. 2001. A Bacia Intracratônica do São Francisco: Arcabouço
estrutural e cenários evolutivos. In: Pinto C.P. & Martins-Neto M.A. (eds.). Bacia do São
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– Núcleo MG, p. 9-30.
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Geol., 14, Belo Horizonte, Publicação Instituto de Pesquisa Radiaotivas/UFMG, 5, p.1-25.
BRASIL. Portaria nº 444, de 10 de janeiro de 2002. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF,
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Campos J.E.G., Dardenne M.A. 1997a. Estratigrafia e sedimentação da Bacia Sanfranciscana:
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28

Campos J.E.G., Dardenne M.A. 1997b. Origem e Evolução da Bacia Sanfranciscana. Revista
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Relatório do mapeamento Geológico da Folha Três Marias na escala de 1:100.000. Projeto Alto
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Dardenne M.A. 1978. Síntese sobre a estratigrafia do Grupo Bambuí no Brasil Central. In: 30º
Congresso Brasileiro de Geologia, Sociedade Brasileira de Geologia (SBG), Recife, Anais..., v. 2,
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Dardenne M.A. 1981. Os grupos Paranoá e Bambuí na Faixa Dobrada Brasília. In: 1° Simpósio
sobre o Cráton do São Francisco, Sociedade Brasileira de Geologia (SBG) – Núcleo BA, Salvador,
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Dias, P. H. A., Chaves, M. L. S. C., Andrade, K. W., Noce, C. M. 2011. Relatório do mapeamento
Geológico da Folha São Gotardo na escala de 1:100.000. Projeto Alto Paranaíba. Contrato
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Fragoso D.G.C. 2011. Geologia da região de Presidente Olegário e evolução tectono-sedimentar
do Grupo Areado, Eocretácio da Bacia Sanfranciscana, Minas Gerais. MS Dissertation,
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 134 p.

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA. Sistema Brasileiro de Classificação de
Solos. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/93143/1/
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Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA. Sistema brasileiro de classificação de
solos. Brasília, Serviço de Produção de Informação, 1999. 412p.

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA. Bioma Cerrado. Disponível em: <
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Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio, Plano de Manejo – Estação
Ecológica de Pirapitinga- disponível em : <
https://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/docs-planos-de-
manejo/esec_pirapitinga_pm.pdf> Acesso em 03 de dezembro de 2019.

Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio, disponível em :
<http://www.icmbio.gov.br/cbc/conservacao-da-biodiversidade/especies-ameacadas-
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29

Instituto Nacional de Meteorologia do Brasil – INMET. Estações Automáticas. Três Marias.
Disponível em: < www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=estacoes/estacoesAutomaticas >
Acesso em 04 de abril de 2020.

MAPBIOMAS. Disponível em: <https://plataforma.mapbiomas.org/map#coverage > Acesso em
05 de maio de 2020.

Menezes-Filho M.R., Mattos G.M.M., Ferrari P.G. 1977. Projeto Três Marias: Relatório final, vol
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http://www.mma.gov.br/port/sbf/fauna/index.cfm >. Acesso em: 18 de dezembro de 2005.

Moura, Harley; Blog Morada Nova de Minas. Disponível em: https://harleymoura.blogspot.
com/p/fotos.html. Acesso em 19 de maio de 2020.

Pinto, C. P., Pinho, J.M.M., Sousa, H. A. de. 2001. Recursos minerais e energéticos da Bacia do
São Francisco em Minas Gerais: Uma abordagem regional. In: Pinto, C. P. & Martins-Neto, M. A.
(eds.) Bacia do São Francisco: Geologia e Recursos Naturais. Belo Horizonte, SBG/MG, 139-160.

Reis, H. L. S, A. 2011. Estratigrafia e Tectônica da Bacia do São Francisco na Zona de Emanações
de Gás Natural do Baixo Rio Indaiá (MG). Tese (Mestrado em Ciências Naturais) – Programa de
Pós-Graduação em Evolução Crustal e Recursos Naturais do Departamento de Geologia da
Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto, Minas Gerais, p. 73.

Reis, H. L. S. Gás natural. In: Pedrosa-Soares, A. C.; Voll, E.; Cunha, E. C. (Eds.). Recursos Minerais
de Minas Gerais. Belo Horizonte: Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (CODEMGE),
2018. p. 1–39.

Ribeiro, E. V. 2010. Avaliação da qualidade da água do Rio São Francisco no segmento entre Três
Marias e Pirapora – MG: metais pesados e atividades antropogênicas. Departamento de
Geografia. Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte.

Signorelli, N., Tuller, M. P., Silva, P. C. S. da, Justo, L. J. E. C. 2003.
Mapa Geológico da Folha Três Marias. Brasília, CPRM, escala 1:250.000.

30

CAPÍTULO 3: POSSIBILIDADES DE
EXPLORAÇÃO DO GÁS EM MORADA NOVA DE
MINAS – POTENCIAL DE DESENVOLVIMENTO

LOCAL

A exploração de gás natural não-convencional ainda não é regulamentada no Brasil. No entanto,
em outros países, essa é uma indústria que já se desenvolve há algumas décadas, como são os
casos de Estados Unidos, Alemanha, Argentina e Austrália, por exemplo. O gás natural é
considerado uma importante fonte de energia de transição entre matrizes mais poluidoras –
como o óleo e o carvão – e aquelas consideradas limpas (eólica, solar etc.). Em que pesem os
debates acerca das melhores práticas e dos procedimentos mais seguros de fratura hidráulica
(fracking), a exploração comercial desse tipo de recurso mineral pode ser considerada uma
fonte interessante de desenvolvimento local nas próximas décadas. Morada Nova de Minas, de
acordo com levantamentos preliminares da Rede GASBRAS, pode apresentar depósitos
importantes e exploráveis, comercialmente, de gás natural não-convencional.

Algumas importantes indústrias têm a energia térmica como ponto crucial em seus processos
produtivos – entre elas estão a de fertilizantes, de cerâmicas e vidreiras. Em Minas Gerais, alguns
polos dessas industrias são encontrados espalhados pela extensão territorial do estado.
Considerando a possibilidade de exploração do gás natural presente no entorno de Morada
Nova de Minas, bem como a posição central do município em Minas Gerais, conjecturou-se
quais seriam os mercados potenciais em que tal recurso poderia ser aproveitado.

A partir disso, empreendeu-se uma discussão acerca da logística de produção e distribuição do
gás natural, considerando-se seus principais modais utilizados comercialmente. Dessa forma,
foram mapeadas algumas possibilidades, como o escoamento por via rodoviária (gás natural
comprimido – GNC ou gás natural liquefeito – GNL), por gasoduto e pelo chamado gas-to-wire.
Considerando-se essas possibilidades, a equipe da Rede GASBRAS delimitou um terreno, dentro
do município de Morada Nova de Minas, que poderia ser utilizado como ponto inicial para a
instalação de uma planta de produção e/ou distribuição do gás.

O trabalho que se segue teve, então, o objetivo de compreender os benefícios – em termos de
desenvolvimento socioeconômico local – da exploração do gás natural não-convencional, a
partir daquilo observado em países em que tal experiência já ocorre há anos ou décadas;

31

estabelecer quais as principais características e desafios envolvidos na logística de produção e
distribuição do gás; e, com o intuito de averiguar o potencial comercial do gás extraído em
Morada Nova de Minas, delimitar quais as principais indústrias que fazem uso da energia
térmica, aquela oriunda do gás natural e onde elas se localizam no estado de Minas Gerais. Em
suma, buscou-se compreender qual seria o mercado em potencial para o gás de Morada Nova
de Minas.

3.1 Gás natural não-convencional e desenvolvimento local
O gás natural é uma fonte de energia primária, constituído pela mistura de metano e outros
hidrocarbonetos gasosos, originados da decomposição de matéria orgânica fossilizada ao longo
de milhões de anos. O gás natural tem-se mostrado cada vez mais competitivo em relação a
vários outros combustíveis, tanto no setor industrial como no de transporte e na geração de
energia elétrica (Alves, Melchíades & Boschi, 2008).
De acordo com Vetter (2016), o gás natural é uma importante fonte de energia de transição e
uma fonte confiável, já que ainda dispõe de robustas reservas, o que lhe confere uma extrema
importância estratégica à longo prazo. Apesar disso, o tópico de fraturamento hidráulico está
presente em discussões públicas e entre especialistas desde, pelo menos, o início da década de
2010. O foco dos debates públicos está no possível impacto ambiental da técnica de
fraturamento (fracking), como contaminação das águas subterrâneas, terremotos, emissões
elevadas de gases de efeito estufa, enorme consumo de água e riscos devido ao descarte
inadequado da água de retorno.
Porém o fracking pode ser feito com segurança: na Alemanha, por exemplo, desde 2014 a
exploração comercial de gás não-convencional pode ser feita legalmente desde que uma
comissão de especialistas independentes vote positivamente em relação ao impacto ambiental
e à segurança em relação à terremotos e contaminação de mananciais d’água; adicionalmente,
as autoridades estaduais federais alemãs relevantes devem aprovar essas atividades.

32

De acordo com Vetter (2016), condições que têm que ser respeitadas para que o fracking ocorra
na Alemanha incluem:

1. Se a tecnologia de fraturamento for aplicada na extração de gás de xisto na Alemanha,
isso exige procedimentos ecológicos (por exemplo, o uso de fluidos ambientalmente
corretos). Além disso, o conjunto de leis existentes para legislar sobre a exploração e
produção de gás natural precisará ser aprofundado. A proteção da água potável deve ser
uma prioridade.

2. Para avaliar se o fracking pode ser conduzido de maneira ecológica, os procedimentos
propostos devem ser primeiro verificados quanto às condições geológicas locais em cada
caso individual e acompanhados de medidas de monitoramento apropriadas. Para isso,
deve ser realizada uma avaliação de impacto ambiental com base nos regulamentos de
mineração correspondentes. Além disso, deve-se garantir a participação dos órgãos
públicos de gestão ambiental, em particular das autoridades hídricas, no processo.

3. A operação e o desenvolvimento de tecnologia para extração de gás de xisto na
Alemanha exigem uma abordagem transparente e passo a passo. Portanto, os primeiros
projetos devem ser realizados como projetos de demonstração e todas as partes
envolvidas (público, indústria, comunidade científica e organizações ambientais) devem
ser incluídas desde o início; medidas e resultados individuais devem ser publicados,
acompanhados e avaliados por um programa científico abrangente; o foco principal deve
ser a pesquisa sobre o possível impacto na qualidade das águas subterrâneas das
medidas de fraturamento hidráulico.

Marcos-Martinez, Measham e Fleming-Muñoz (2019) reforçam a necessidade de se manter um
monitoramento estrito em relação à exploração do gás não-convencional via fracking,
especialmente em um momento em que a demanda por gás natural cresce globalmente. Para
os autores, avaliações de impacto robustas dos efeitos da indústria de gás não-convencional em
diferentes fases do desenvolvimento podem ajudar a reduzir os trade-offs da política energética
e promover melhorias gerais no bem-estar das regiões onde a atividade ocorre.

Em relação aos impactos da extração segura de gás não-convencional por meio das técnicas de
fraturamento no desenvolvimento regional, Marcos-Martinez et al. (2019) apontam que na
região de Queensland, na Austrália, onde tal atividade ocorre em grande escala, tem sido

33

observado o crescimento da renda média familiar, bem como efeitos positivos indiretos, como
o spillover da geração de empregos. A indústria também tem sido associada ao aumento do
número de jovens integrando a pirâmide etária da população local e, também, ao aumento do
nível educacional médio dos empregados.
Em regiões australianas onde a exploração do gás não-convencional ocorre ainda em um porte
menor, como New South Wales, Marcos-Martinez et al. (2019) chegaram à conclusão que a
renda familiar média aumentou em 7,7% em 2011 se comparado ao ano de 2001, quando ainda
não havia tal atividade. O estudo foi feito comparando New South Wales à outras regiões
australianas com perfis socioeconômicos historicamente similares ao longo do mesmo período
temporal.
Já Weber (2012), estudando 338 condados em três estados norte-americanos (Colorado, Texas
e Wyoming) que exploram gás não-convencional em zonas rurais desde o fim dos anos 1990
concluíram que o número de empregos e a remuneração nas regiões (condados, ‘counties’) em
que o gás não-convencional é explorado de maneira mais intensa (os chamados ‘boom
counties’) cresceram entre 1993-2008, se comparados àqueles condados em que a atividade
ocorre em menor porte (Figura 9).

Figura 9: Evolução do número de empregos e salário médio mensal nos chamados ‘boom counties’ (1993-2008)

Fonte: Weber (2012, p. 1584)

Para o autor, esse tipo de estimativa sobre os ganhos econômicos para as economias locais
decorrentes do crescimento na extração de gás natural contribui para informar os gestores
públicos formuladores de políticas energéticas e econômicas sobre os incentivos de fomentar
(ou desincentivos em desencorajar) a extração. A magnitude dos ganhos é especialmente

34

importante para o gás não-convencional, aponta Weber (2012), pois deve ser considerado à luz
de possíveis externalidades negativas associadas à extração, incluindo a deterioração das
estradas causadas por caminhões pesados que transportam água e as possíveis consequências
à saúde e ao meio ambiente decorrentes do fracking.

3.2 O uso de energia térmica na indústria

Duas indústrias se destacam, no Brasil, como grandes consumidoras do gás natural: a de
fertilizantes e a de cerâmica e vidro. Dessa forma, ambas se colocam em posição de destaque
ao se fazer o exercício de qual tipo de indústria poderia ser fomentado com o gás extraído de
Morada Nova de Minas.

3.2.1 Fertilizantes

O setor industrial brasileiro, como um todo, corresponde a 55% do consumo final de gás natural,
incluindo seu uso como matéria prima. Além disso, o gás natural precisa demonstrar
competitividade para que seja uma opção para outros filões de consumidores, já que não possui
uso cativo em grande parte dos setores (EPE, 2019).

Cerca de 90% dos fertilizantes mais utilizados no Brasil envolvem, em alguma medida, a
combinação entre nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K) em sua composição – o chamado
‘fertilizante NPK’ (Isaac, 2008). Apesar desses três nutrientes primários serem considerados
fundamentais para o crescimento saudável das plantas, os solos geralmente não dispõem dos
mesmos em quantidades ótimas ao desenvolvimento da planta. Isso faz com que a indústria
agrícola dependa muito do uso do fertilizante NPK para atender à demanda global de alimentos
e garantir cultivos saudáveis (Bernardes, 2020).

De acordo com Isaac (2008), 97% dos fertilizantes de nitrogênio do mundo são derivados de
amônia produzida sinteticamente através da reação entre hidrogênio e nitrogênio (processo de
Haber-Bosch). Por sua vez, a principal fonte de hidrogênio para os fertilizantes nitrogenados
químicos é justamente o gás natural (Messias, Silva, Freire & Silva, 2008). Ou seja, uma das
cadeias produtivas que faz o uso mais intensivo do gás natural é, justamente, a indústria da
produção de fertilizantes nitrogenados (Figura 10). A importância do nitrogênio se dá, em

35

particular, por ser um nutriente vital para a produção da clorofila, que permite às plantas a
realização da fotossíntese (Bernardes, 2020).

Figura 10: A cadeia produtiva de fertilizantes nitrogenados - note-se o papel do gás natural como matéria
prima básica

Fonte: Empresa de Pesquisa Energética - EPE (2019, p. 3)

O programa “Novo Mercado de Gás”, anunciado pelo governo federal em março de 2019, aliado
às perspectivas de oferta adicional de gás natural do pré-sal e também da Bacia de Sergipe-
Alagoas, pode contribuir para o aumento da oferta e, por conseguinte, competição no mercado
brasileiro de gás natural. Neste contexto, a oferta de gás natural a preços competitivos aumenta
a atratividade de investimentos em indústrias intensivas nessa fonte, contribuindo para a
instalação de novas plantas, com geração de empregos e movimentação da cadeia produtiva.
O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores agrícolas do mundo e, portanto, um
importante ator no mercado consumidor de fertilizantes. Entretanto, de acordo com a Empresa
de Pesquisa Energética - EPE (2019), cerca de 80% do mercado doméstico de fertilizantes é
atendido através de importação. Dessa forma, a instalação de novos empreendimentos de
fertilizantes com base a gás natural pode fazer sentido a depender da competitividade de outras
fontes de combustível, como os derivados do petróleo. O EPE (2019) aponta que dificuldades
relacionadas à disponibilidade e preço do gás natural, bem como a competição internacional e
o grande o volume de investimentos requeridos, têm contribuindo para a estagnação, na última
década, da indústria nacional de fertilizantes nitrogenados.

36

De maneira complementar, o Banco Nacional de Desenvolvimento - BNDES (2012) indica que,
além de questões logísticas, tributárias e ambientais, a indisponibilidade de matérias-primas
básicas vem sendo gargalos para novos investimentos no setor de fertilizantes no Brasil.

Além de uma planta já em construção (Unidade de Fertilizantes Nitrogenados - UFN III), existem
outras quatro grandes plantas projetadas de fertilizantes nitrogenados no Brasil (sendo uma
delas em Minas Gerais, a UFN V), com capacidade de produzir, competitivamente, amônia e
ureia.

Ou seja, existe uma demanda interna para o aumento de consumo de fertilizantes nitrogenados
- dependentes do gás natural - e existe um plano para que essa demanda por fertilizantes seja
atendida, com a construção de novas unidades produtoras. Isso quer dizer que a demanda por
gás natural, que já é alta no mercado interno hoje, deverá crescer ainda mais nos próximos anos.
Corrobora para o argumento o fato de os fertilizantes estarem diretamente relacionados ao
setor do agronegócio, uma das principais atividades econômicas e fontes de exportação do
Brasil e também de Minas Gerais.

3.2.2 Indústria cerâmica e vidreira

Outra indústria que desponta como uma das grandes consumidoras de gás natural é a da
cerâmica e vidros. O processo produtivo de cerâmica e vidros, em escala industrial, requer um
elevado consumo de energia térmica e elétrica. De maneira geral, as etapas que mais consomem
energia são: secagem, moagem, atomização e queima (Ishida, Valente, Villegas & Pinzón, 2018).

O termo cerâmica é genérico e contempla vários tipos de produtos industriais, dentre os quais
estão incluídos os vidros. Além desses e das cerâmicas tradicionais (materiais diversos
produzidos à base de argila – i.e. tijolos, telhas, louças, pisos de revestimento, azulejos etc.),
também fazem parte do segmento cerâmico os cimentos, o gesso, os materiais refratários e
isolantes térmicos, os materiais abrasivos e as fritas e esmaltes (Victoria, 2018) (Figura 11).
Dentre esses, os principais subsetores da indústria cerâmica e vidreira são: cerâmica vermelha,
cerâmica branca e vidros (Ishida et al., 2018).

37

Figura 11: Principais segmentos da indústria cerâmica, suas características e tipos de produtos

Fonte: Victoria (2018, p. 2)

As cerâmicas vermelhas compreendem um amplo e diversificado grupo de materiais de
alvenaria utilizados na construção civil (tijolos, telhas, blocos, elementos vazados, lajes, tubos,
conexões e argilas expandidas), bem como utensílios de uso doméstico ou de adorno (panelas,
vasos, filtros e jarras de barro etc.) (Victoria, 2018).
Dentre os diversos tipos de produtos de cerâmicas brancas existentes, destacam-se as louças de
mesa (jogos de chá e café, canecas, pratos, vasilhas, travessas, assadeiras etc.) e as louças
sanitárias (vasos, mictórios, cubas, banheiras etc.). Também estão incluídos nesse grupo os
isoladores, receptáculos e interruptores elétricos, bem como as cerâmicas artísticas (vasos,
jarras, esculturas de decoração ou utilitários) e as cerâmicas técnicas (materiais fabricados sob
medida para atender demandas específicas das indústrias química, mecânica, têxtil, térmica
etc.) (Victoria, 2018).

38

Por ser um sólido resistente, transparente, inerte, durável e detentor de várias propriedades
térmicas, mecânicas e acústicas, os vidros possuem inúmeras aplicações em setores industriais
ou domésticos das sociedades modernas. Por causa de sua importância, facilidade de produção
e abundância das matérias primas usadas para a fabricação, os vidros são considerados
materiais insubstituíveis e essenciais para o homem, sendo cada vez mais alvo de estudos que
visam melhorias nos produtos e aplicações em setores que envolvem tecnologia de ponta (i.e.
indústria nuclear, bélica, óptica e aeroespacial. Assim como para as cerâmicas tradicionais, as
indústrias vidreiras também são caracterizadas por conter uma ampla e heterogênea variedade
de produtos, com composição, forma e aplicações diferentes. Com base em características
semelhantes, os vidros são classificados em três grandes classes (vidros planos, embalagens de
vidro e artigos de vidros) (Victoria, 2018).

De acordo com Alves et al. (2008), um dos melhores indicadores da evolução da indústria
cerâmica e vidreira é o estudo da evolução de seu consumo energético. Com o aprimoramento
das técnicas referentes ao processo produtivo, o avanço tecnológico dos equipamentos e o
aumento da produtividade, o consumo de energia elétrica e térmica aumentou
progressivamente nas últimas décadas. Dessa forma, os custos com energia representam,
atualmente, uma grande parcela do custo total de produção dessas indústrias, conformando-se
num grande gargalo competitivo.

O gás natural, atualmente, é a principal fonte de geração de energia térmica utilizada pelas
indústrias cerâmicas e vidreiras no mundo. A energia térmica, por sua vez, é imprescindível em
três das quatro principais etapas produtivas da cerâmica e do vidro: atomização (via úmida),
secagem e queima.

Um fator vantajoso que contribui para o emprego do gás natural na indústria cerâmica e vidreira
do Brasil é a localização geográfica dos principais polos produtivos em relação às redes de
gasodutos existentes nas regiões Sul e Sudeste. Dessa maneira, a proximidade das fábricas em
relação ao gasoduto Bolívia-Brasil, permite melhores possibilidades de ampliação do uso do gás
natural nesta atividade produtiva (Alves et al., 2008).

Sabendo-se que a maior parte do valor do custo energético das indústrias de revestimento
cerâmicos e vidraçaria pode ser atribuída ao gás natural, as empresas buscam alternativas para
aumentar sua eficiência, através da diminuição do consumo e aumento da produtividade.

39

Porém, com o eventual aumento de oferta de gás natural não-convencional à preços
competitivos, o setor de cerâmica e vidraria poderia observar um crescimento do número total
de novas empresas entrando no setor, fazendo com que a produção geral cresça e o consumo
bruto do gás também.

Quanto à produção de cerâmica como um todo (considerando-se vermelha e branca), o gás
natural predomina como fonte de energia para o processo de fabricação, com 86% de
participação - a eletricidade representa 10% e outros tipos de combustível representam 4%
(Ministério de Minas e Energia - MME, 2017). Já em relação ao vidro, também existe uma
predominância do gás natural como fonte de energia, com 80,3% de participação no consumo
energético do processo, enquanto a eletricidade representa 18,3% e o gás liquefeito de
petróleo (GLP) representando 1,4% (Ishida et al., 2018). Outras fontes energéticas utilizadas nos
fornos de produção de cerâmica e vidro, além do gás natural, são: lenha, eletricidade ou óleo
combustível.

Ou seja, trata-se de uma indústria que se apoia em grande medida no gás natural como principal
fonte de energia térmica, estando esse tipo de combustível presente em praticamente todas as
etapas do processo produtivo. A eventual exploração de gás natural não-convencional em
Morada Nova de Minas poderia aproveitar dessa demanda e contribuir para a impulsão desse
tipo de indústria na região.

3.3 O uso da energia térmica em conjunto com outras matrizes ‘limpas’

À medida que o mundo faz a transição para um futuro de energia mais limpa, espera-se que o
gás desempenhe um papel importante no atendimento à crescente demanda de energia de
fontes seguras e sustentáveis. Em bacias de hidrocarbonetos maduras, maximizar a recuperação
dos recursos de gás restantes é uma prioridade para os governos e as indústrias (Pegram, 2020).

À medida que o mundo faz a transição para um futuro de energia mais limpa, espera-se que o
gás desempenhe um papel importante no atendimento à crescente demanda de energia de
fontes seguras e sustentáveis. Em bacias de hidrocarbonetos maduras, maximizar a recuperação
dos recursos de gás restantes é uma prioridade para os governos e as indústrias (Pegram, 2020).

40

Castro, Alves, Castro, Masseno e Salles (2019) apontam que a transição energética em direção
a matrizes menos poluidoras é um processo dinâmico e irreversível no mundo inteiro, inclusive
no Brasil. Esse processo de transição se justifica pela busca do cumprimento das metas
formuladas para o desaquecimento global em acordos mundiais, como, por exemplo, o
Protocolo de Kyoto (vigente entre 2005 e 2020) e o Acordo de Paris, assinado em 2015 e que
propõe que o aquecimento global não ultrapasse os 2°C até 2050.
Para atingir esses objetivos, a descarbonização das matrizes energéticas é a principal meta
perseguida pelos países comprometidos com a contenção do aquecimento global. Nesse
sentido, dois princípios de ação ocorrem de maneira concomitante: (i) ampliação da
participação das fontes renováveis em relação às fontes não renováveis na matriz energética
(fomento das energias eólicas e solar, por exemplo); e (ii) alterações na composição das fontes
não renováveis na geração de energia elétrica (que abrange a substituição do carvão pelo gás
natural, por exemplo) (Castro et al., 2019).
Além de questões ambientais, a importância da descarbonização da matriz energética brasileira
também passa pela consolidação da segurança de nosso sistema energético, consolidando seu
lastro a partir da diversificação. Nessa perspectiva, a disponibilidade conjunta de energia
proveniente de fontes hidrelétricas, eólicas, solares e termoelétricas seria uma das alternativas
para a diminuição do custo da energia elétrica no Brasil (Chaves, 2019).

3.4 Extração e logística de distribuição do gás não-convencional
Três soluções de escoamento do gás natural são mais comuns no Brasil: por modal rodoviário
(GNC e GNL), via gasodutos (‘pipelines’) e o chamado gas-to-wire, em que o gás é beneficiado
in situ e imediatamente transformado em energia, a ser distribuída por redes de distribuição
(Figura 12).

41

Figura 12: Modais de distribuição do gás no Brasil

Fonte: Brasil GTW (2019)

A Figura 13 mostra a relação entre produção de gás por dia e a distância possível de distribuição
em relação ao ponto de entrega para os três principais modais.

Figura 13: Competitividade por solução de escoamento no Brasil

Fonte: Brasil GTW (2019)

A seguir, apresentamos e descrevemos as principais características das três soluções de
escoamento do gás mais populares no Brasil.

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3.4.1 Escoamento por vias rodoviárias: GNC e GNL

A definição de gás natural comprimido (GNC) é todo gás natural processado e condicionado para
o transporte em ampolas ou cilindros, à temperatura ambiente e pressão próxima à condição
de mínimo fator de compressibilidade (Franco, 2009). As pressões existentes em um cilindro de
GNC podem variar de 70 a 250 bar – fazendo com que seu volume seja reduzido em até 270
vezes (GASMIG, 2020).

Após esse processo de compressão, o gás natural é armazenado em cilindros especiais, ainda
no estado gasoso. O transporte do GNC é feito em carretas, que podem ser deixadas nos pontos
de descompressão e substituídas periodicamente ou utilizadas para abastecimento de
reservatórios fixos; após a entrega, o gás natural é descomprimido, e o usuário final o recebe já
nas condições ideais de utilização.

Já o gás natural liquefeito (GNL) é produzido com base em um processo que envolve a redução
da temperatura, mantendo-se a pressão atmosférica, chamado processo criogênico (GASMIG,
2020). A temperatura mínima para que o gás possa ser transformado para sua forma líquida é
de -161ºC, sendo esta temperatura chamada de seu ponto de ebulição. O GNL ocupa um volume
muito menor do que o gás natural em sua forma gasosa – em cerca de 600 vezes –, sendo este
um fator importante a se considerar a logística de distribuição, já que seu transporte também é
feito por carretas (Franco, 2009).

No caso do GNL, o gás natural é mantido no estado líquido desde a planta de liquefação de gás
até as estações de regaseificação instaladas nos usuários finais, onde o gás volta ao estado
gasoso nas condições ideais de utilização. De acordo com a Companhia de Gás de Minas Gerais
– GASMIG (2020), esse modal é ideal para o transporte em maiores distâncias ou quando
grandes volumes foram adquiridos pelos usuários finais do gás.

Um dos pontos positivos tanto do GNC, quanto do GNL é que a distribuição do gás natural não-
convencional é feita com o modal rodoviário, justamente o mais comum e utilizado no Brasil
para o escoamento de produtos (Campos et al., 2015). Isso faz com que o gás seja capaz de
chegar aos usuários finais – indústrias, comércios, postos de combustível veicular, grandes
condomínios residenciais etc. – localizados em áreas ainda não atendidas por gasodutos
(GASMIG, 2020).

43

Outros pontos positivos apontados por Franco (2009) em relação à distribuição rodoviária
incluem:

• O fato de poder carregar grandes volumes de gás natural pode ser considerado como
sendo a grande vantagem do sistema, fazendo com que o transporte seja realizado de
forma eficiente;

• É uma alternativa mais barata de distribuição de gás se comparada à distribuição via
gasoduto;

• A entrega via GNC ou GNL possui uma maior versatilidade se comparada a gasodutos, já
que pode ser realizada por meio de caminhões carregados com o produto, de forma
muito similar à já feita para gasolina e óleo diesel.

Entre os pontos negativos levantados estão a necessidade de investimento nos terminais de
desabastecimento do gás, que exige um certo nível de segurança no manuseio; e o fato da
regaseificação do gás exigir o uso de água, cuja temperatura tende a se elevar no processo – o
que, ao ser retornada para a natureza, pode incorrer em alguns desequilíbrios ambientais
imediatos (Franco, 2009).

3.4.2 Ligação direta com rede de gasoduto

O transporte do gás natural via gasodutos é uma das formas de distribuição hoje em atividade.
Gasodutos são estruturas de aço ou polietileno que permitem o transporte do produto por
longas distâncias por meio de tubulações cujo diâmetro e comprimento variam de acordo com
as necessidades de demanda de projeto.

Ao longo de gasodutos encontram-se diversas estações de compressão, com o intuito de aplicar
pressões para que o gás transportado recupere a perda de carga proveniente do atrito com o
tubo do gasoduto e do escoamento em si. Atualmente no Brasil existem diversos projetos de
gasodutos em operação e nas fases de estudo ou de implementação (Franco, 2009).

44

3.4.3 Processamento in situ da energia térmica: ‘gas-to-wire’

O conceito de gas-to-wire (GTW) significa a geração de energia localmente – in situ – a partir de
um ponto cuja exsudação de gás se dá em escala suficientemente relevante. Por não haver
necessidade de transporte do gás produzido, o GTW é considerado um sistema de alta eficiência
com méritos do ponto de vista econômico e ambiental (Watanabe, Inoue & Horitsugi, 2006).

A metodologia Gas-to-Wire maximiza a recuperação econômica dos recursos de gás, eliminando
a dependência de redes de dutos, uma vez que converte o gás em uma commodity (eletricidade,
no caso) que pode ser transportada com mais eficiência e menor custo para satisfazer a
demanda local. O conceito capitaliza ativos existentes, como campos de gás próximos e
infraestrutura de energia local, combinados com uma ênfase em operações econômicas, com o
objetivo de criar soluções de desenvolvimento comercial e tecnicamente sólidas (Beckman,
2019).

O ponto de diferenciação do GTW está na tecnologia empregada nas plantas, que permite uma
considerável redução dos investimentos necessários por parte da empresa produtora,
tornando-se muito atrativa quando comparada a outras alternativas de monetização de gás
natural, como gasoduto ou gás natural comprimido. Isso se dá porque pequenas centrais
termelétricas são implementadas para geração de energia elétrica, a partir de gás natural obtido
diretamente nas locações de campos produtores.

No Brasil, uma iniciativa da Eneva – empresa que atua nos setores de geração, exploração e
produção de petróleo e gás natural e comercialização de energia elétrica – no Complexo
Parnaíba-MA aponta para as possibilidades que esse tipo de tratamento do gás natural encerra.
A operação da empresa permite a monetização de acumulações de gás natural encontradas em
regiões remotas do onshore (em terra) brasileiro, ao usar a infraestrutura de transmissão de
energia para escoar a produção. O gás encontrado é, então, utilizado para gerar energia elétrica,
que é enviada para o Sistema Interligado Nacional (SIN) a partir da rede de transmissão que
passa no entorno da planta de conversão (Eneva, 2020).

Os principais benefícios da tecnologia GTW são (Watanabe et al., 2006; Beckman, 2019):

• Fornecimento de energia sem interrupções – Segurança Energética;

• Diminuição no custo da energia;

• Maior monetização do gás natural, já que se agrega valor ao ativo a partir da

transformação do gás em energia.

45

3.5. Localização do poço de extração em Morada Nova de Minas
3.5.1 A demanda por gás natural em Minas Gerais

De acordo com Reis (2018), em Minas Gerais ainda não existem campos produtores de gás
natural. No entanto, o estado é um dos grandes consumidores de energia no Brasil, alcançando
em 2015 a demanda energética de de 36,1 milhões de toneladas equivalentes de petróleo.
Desse montante, cerca de 37% era representado pelo gás natural, petróleo e derivados - todos
combustíveis fósseis (de origem mineral), chamados hidrocarbonetos.
Para o autor, esses dados denotam uma dependência relativamente elevada da importação
desses combustíveis de origem mineral, o que torna necessária e estratégica a produção deste
tipo de recurso energético. Adicionalmente, a demanda crescente e aspectos de infraestrutura
fazem a produção de hidrocarbonetos em Minas Gerais ser consideravelmente atrativa. Por se
localizar em uma das regiões mais industrializadas e populosas do Brasil, a produção de gás
natural na Bacia do São Francisco - onde se localiza Morada Nova de Minas - poderia suprir parte
da demanda energética industrial e doméstica local, bem como servir de insumo para a indústria
petroquímica e de produção de fertilizantes, por exemplo.

Figura 14: A rede de gás na América do Sul

Fonte: Companhia de Gás do Ceará - CEGAS (2018)
46

A princípio, o escoamento do gás natural, especialmente o não-convencional nesse caso,
poderia ser realizado através da rede de gasodutos existentes no setor sudeste do Brasil (Figura
14) e, se econômico, na forma de gás liquefeito. Apesar disso, observa-se que um potencial
gargalo para o escoamento de gás produzido em Morada Nova de Minas seria o fato de o
gasoduto não contemplar o município, chegando apenas até a região metropolitana de Belo
Horizonte, cerca de 300km ao sul. Nesse caso, a construção de usinas termoelétricas para
distribuição de energia elétrica através de redes de tensão existentes (gas-to-wire) poderia
configurar uma alternativa adicional para aplicação do gás natural da Bacia do São Francisco.

3.5.2 Possível terreno para a instalação de uma planta de exploração e
beneficiamento do gás em Morada Nova de Minas
As Figuras 15, 16 e 17 apontam, em uma sequência ampliada, o terreno levantado a partir de
informações primárias levantadas em campo pela equipe da Rede GASBRAS e, em um segundo
momento, confirmada a partir de imagens de satélite disponibilizadas no software Google Earth
indicam que uma possível localidade que poderia sediar uma indústria de processamento do
gás não-convencional. Trata-se de propriedade rural próxima à grande estrada, porém de terra,
que é utilizada para o escoamento da produção local de carvão vegetal. A localização é um
pouco afastada do centro urbano de Morada Nova de Minas, porém está distante apenas cerca
de 2km dos principais pontos de exsudação do gás não-convencional, que ocorrem no leito do
Rio Indaiá. Além disso, o acesso à rodovia MG-060 é próximo.

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