Mariana Camargo
2º série A
Autora do livro original:
R.J. Palacio
Dedico esse trabalho aos meus familiares,
meus professores e ao meu colégio que
esteviveram presentes durante a minha
trajetória.
Primeiro capítulo
Já faz 7 anos que Auggie nasceu. Mas não vou
começar falando dele, como sempre acontece. Eu me
chamo Olivia, mas geralmente me chamam de Via, é
como eu sou conhecida por todas as pessoas mais
próximas a mim. Nasci em Nova York, mas logo me
mudei pro Brasil, então não me lembro de quase
nada do pequeno período que estive lá. Minha vida
inteira eu morei em São Paulo, tudo o que eu
aprendi e vivi foi aqui, então não me considero
americana. Eu estudo em uma escola bilíngue, o
nome é Aubrick e ela é uma das mais caras da
minha cidade por ser muito boa. Gosto de estudar lá,
tenho amigos e sinto que posso ser exatamente
como eu sou com todo mundo, mesmo sendo um
colégio grande.
Eu tenho dezesseis anos e por nove anos fui filha
única. Meus pais sempre me deram tudo de melhor,
sempre cuidaram extremamente bem de mim, mas
isso mudou um pouco quando o meu irmão Auggie
nasceu.
Desde o dia que meus pais descobriram a
gravidez, tudo começou a girar em torno disso.
Ainda mais no meio da gravidez, quando
descobriram que meu irmão ia nascer com a
síndrome de Treacher Collins. Apesar deles terem
me deixado um pouco de lado por conta disso, eu
sempre estive feliz com o nascimento do Auggie e
sempre quis cuidar dele junto com os meus pais.
Por um tempo, não poder conversar com os
meus pais sobre algumas coisas e eles darem toda
a atenção pro outro filho foi um problema que me
incomodava muito, mas o que sempre me deixa
confortável é saber que eu tenho minha melhor
amiga, que sempre me ouviu, e sempre me ajudou
a resolver meus problemas.
Segundo capítulo
Desde o primeiro dia em que entrei na escola a
Miranda esteve do meu lado em todos os momentos
mais e menos importantes da minha vida. Tudo o que
meus pais não sabem sobre mim e meus problemas, é
ela que sabe.
Todos os dias depois da aula nós vamos para a
casa dela para fazermos alguma coisa juntas, ou até
mesmo nada. Tem dias que, por mais que tenhamos
mil e um trabalhos para a escola, deitamos e
curtimos a paz que é de estarmos juntas.
A Miranda é como uma irmã pra mim, mas quase
nunca brigamos, ou melhor, nunca brigamos, só
discordamos, e logo começamos a nos zoar por conta
da opinião da outra, mas nunca nada vira motivo de
briga séria. Aliás, não sei como ia ser se ficássemos
brigadas pelo menos por um dia.
Hoje foi um dia diferente pra mim mal podia
esperar para encontrar a Miranda no final da aula e
irmos para a casa dela pra eu contar tudo o que
tinha acontecido. Antes que vocês se perguntem, eu e
ela, por uma decisão infeliz da diretora, não ficamos
na mesma sala este ano.
Passaram-se as horas e eu fui para o portão de saída
esperar ela para seguirmos para a casa da mesma.
Durante o caminho ela não parava de falar, mas
eu não estava ouvindo nada, só conseguia pensar no
que tinha acontecido mais cedo, minha cabeça não
conseguia parar de pensar, e cada vez que pensava,
as borboletas no estômago se mexiam mais.
Chegamos lá e ela percebeu que eu estava aérea e
logo perguntou:
- Vocẽ está aí?
- Estou sim, kkkkkk - disse rindo, por não estar
entendendo a pergunta.
- Vocẽ ouviu alguma coisa que eu disse? - Miranda
perguntou.
- Si...Sim, claro! - eu respondi com vergonha de
falar que não prestei atenção em nada.
- Sério? - perguntou ela de novo, desconfiada.
- Pra falar a verdade, eu não prestei não, quero te
contar o que aconteceu hoje de manhã, e não paro de
pensar nisso! - disse eu empolgadíssima para contar.
- Pode falar, Via! - disse desanimada
Não percebi na hora como ela estava e continuei
falando:
- Hoje mais cedo, o Jack, da minha sala sabe?
Então, ele veio falar comigo, foi super simpático e
disse para marcarmos de sair algum dia, ou até
para estudarmos juntos. Vocẽ sabe que eu sempre
tive uma quedinha por ele né?
- Quedinha? Vocẽ sempre babou por ele, Olívia! -
disse ela tirando sarro da minha cara.
- Mentira! - eu respondi envergonhada
Depois disso, a mãe de Miranda chegou e a
conversa não acabou, eu tive que ir embora pois a
Miranda ia para o médico, na hora não me liguei
que ela não tinha me falado de nenhum médico,
diferente das outras vezes que ela sempre me
avisava dos compromissos e vice-versa.
Terceiro capítulo
Eu fiquei assustada e vi meus pais se
divertindo com o meu irmão na sala, então decidi
não atrapalhar, além do mais, eles nem tinham
me visto. Na hora, fiquei triste e decidi ligar pra
Miranda já que ela sempre me escuta quando eu
preciso. Geralmente, a gente faz ligação por vídeo
e não tem um dia que não fazemos uma dessas,
mesmo que mais cedo estivéssemos juntas na casa
uma da outra.
Ela não me atendeu, o que foi estranho, mas na
hora eu não pensei e não me preocupei muito se
havia acontecido alguma coisa com ela. Decidi me
distrair com a única
outra coisa que me faz ficar bem: escrever cartas.
Peguei meu caderno onde escrevo todas
elas, que fica na cômoda do lado da minha
cama, junto com os meus porta retratos e
abajour, e comecei a escrever.
“Olá, estou escrevendo uma carta pra alguém que eu não
sei quem é, até porque só eu tenho acesso a esse caderno.
Eu queria desabafar com a minha melhor amiga mas eu
não sei onde ela está e porque não me atende. Não posso
conversar com os meus pais porque eles só pensam em
cuidar do meu irmão. Eu tô gostando de um menino desde os
meus 12 anos,.Minha mãe e meu pai nem fazem ideia se eu já
beijei ou não, (ok, eu nunca beijei), mas quando acontecer, com
certeza eles não vão saber, pois eu não sei como confiar
neles…..”
Ouvi baterem na porta, fechei o caderno
rapidamente e gritei:
- ENTRA!
Minha mãe entrou e me deu oi, atrás dela veio
Auggie pedindo pra brincar com ele com os seus
bonecos do Star Wars.
Eu fui. , Até porque não culpo o Auggie pela
falta de atenção dos meus pais, e me divirto com o
meu irmão nessas brincadeiras. Fomos ao quarto
dele que é do lado do meu e bem grande inclusive,
e também do jeitinho dele, cheio de bonecos e
desenhos do Star Wars.
Quando vi, já tinha se passado horas e
anoiteceu, nós cansamos de brincar. e Auggie já
estava com fome e foi falar com a minha mãe. Eu
fui tomar um banho, mas antes fui ver se a
Miranda tinha me ligado ou mandado mensagem,
e nada.
Liguei de novo. Não atendeu e eu fiquei meio
chateada por ela não me avisar nada.
Entrei no banho e logo depois deitei e dormi. Eu
tenho o costume de dormir cedo, porque além de eu
sentir muito sono, eu tenho que acordar cedo
sozinha. A, e além do mais eu vou a pé pra escola, e
eu com sono sou insuportável, então prefiro dormir
mais cedo e acordar bem cedinho pra conseguir
fazer minhas coisas.
Como eu e Miranda não nos falamos para irmos
juntas à escola, eu não passei na casa dela e fui
direto para a escola. Quando cheguei no portão da
escola dei de cara com o Jack saindo do carro, ele
me olhou e deu um sorriso, mas uma menina logo já
veio falar com ele e saíram juntos. Mas eu fiquei lá,
que nem boba, sorrindo por nada.
Eu ouvi alguém gritando meu nome de longe
mas achei que não fosse nada, e entrei logo em
seguida.
Não tinha visto a Miranda ainda, o que era
estranho, porque ela era a primeira pessoa que
eu via no dia. Estava sentindo falta de ter alguém
pra conversar assim que eu acordava.
Chegou o final do dia, e o Jack hoje não falou
comigo. Saí da escola meio desanimada, minha
única amiga que eu sei que sempre está aqui
comigo, hoje, não estava. O menino que eu gosto,
falou comigo um dia e depois não mais.
Decidi passar na casa da Mi para conversar
com a mesma e saber ver o porque ela tinha
faltado.Em 14 anos que estudamos juntas, ela
nunca tinha faltado sem me avisar. Até porque,
quando ela faltava, eu também faltava.
Passei pela mesma rua de sempre, e como de
costume estava vazia.
Cheguei e toquei a campainha, ela me atendeu
com uma cara de mal humorada, não olhou no meu
olho, algo estava diferente. Miranda estava branca,
pálida, eu não entendi o motivo. Mas entrei mesmo
assim…
Quarto capítulo
Segunda novamente, e dessa vez eu sabia que
ia ser diferente. E não de um jeito bom. Só pensava
como eu ia me virar sozinha na escola sem a Mi.
Da última vez que eu vi a Miranda, não foi
como das outras vezes. Assim que eu entrei na
casa dela, ela saiu andando e logo subiu pro
quarto, sem falar nada. Nós estávamos sozinhas
na casa imensa dela. Eu segui reto até a escada e
fui atrás dela. Entrei no quarto e ela estava no
banheiro, trancada. Sentei na cama, e esperei.
Ela saiu de lá e parecia estar fraca, bem fraca,
de cabeça baixa. Mas assim que ela apareceu, eu
perguntei séria:
- Pensa em me responder quando no whats?
Ontem eu estava precisando desabafar
- Como sempre… - no meio do que eu estava
dizendo e disse sussurrando, mas consegui
escutar.
- O quê? - fingi não escutar.
- Nada… - Miranda respondeu e logo disse
desanimada - Pode continuar falando Via.
Eu continuei:
- Vocẽ sumiu e não me falou nada
- É que… - tentou falar.
- Meus pais de novo não me deram atenção e só
ficaram com o Auggie, prestando atenção no que
ele fazia e deixava de fazer. - Continuei falando,
sem perceber.
- Então… - Nanda tentou de novo.
- Hoje também, o Jack nem olhou pra mim e eu
só precisava de voc… - fui interrompida por ela.
DÁ PRA VOCÊ PARAR UM POUCO DE FALAR SÓ
EM VOCÊ? - Ela gritou como nunca tinha visto.
Eu parei de falar e fiquei quieta com uma
expressão sem graça. Ficou um clima horrível no
quarto e ela abaixou a cabeça novamente,
respirando bem fundo, fazendo com que eu
conseguisse ouvir a respiração.
- Mas, Mi porque você não foi pra escola? E
porque não me avisou que não ia? Eu fiquei sozinha
lá, esperando que nem tonta. - com expressão de
braveza na cara, mas calma.
- Você tá falando sério? - Ela levantou a cabeça,
e parecia não acreditar que eu estava perguntando
aquilo, mudando de expressão na mesma hora.
- Sim? Porque eu não estaria? - eu perguntei de
volta, sem entender.
- Você percebeu, que desde a hora que você
chegou aqui, só falou no que aconteceu com você e
não perguntou, e nem se quer por um segundo você
perguntou e se importou como eu estava?
E por pelo menos UM segundo, eu achei que
você fosse se perguntar porque de eu estar com
essa aparência, porque eu tenho certeza que
você percebeu a minha aparência, mesmo não
dando importância. - ela disse com voz de quem
estava prestes a chorar.
- Ah, para de drama vai MI… - eu disse,
achando que não era sério.
- Caramba Olívia, parece que vocẽ não
consegue se importar com as pessoas, na
realidade só consegue se importar com você
mesma. - a expressão da mesma passou de
triste para brava e se segurou pra não falar
besteira
- Porque você tá falando isso Miranda? Não
estou te entendendo. - eu perguntei pra ela, bem
confusa.
- Eu estou com câncer, e nem por um segundo
sequer você me perguntou o que eu fiz ontem. -
disse ela abaixando a cabeça e chorando.
- E... eu - comecei a falar mas logo fui
interrompida por ela.
- Ontem foi a minha primeira sessão de
quimioterapia Via… Eu descobri faz dois meses.
- Mi, eu não sei o que dizer - respondi
desolada.
- Não precisa falar nada, Olivia - disse,
respirando fundo - E, hoje, eu fui sim na escola,
mas você tava prestando muita atenção no Jack
entrando na escola e não ouviu meus gritos.
- Mas…. Mir - eu tentei falar mas comecei a
chorar.
- Via, eu preciso descansar agora, estou
tomando muito remédio e estou muito fraca. Acho
melhor você ir agora e depois nós conversamos.
Depois disso não falei mais nada, levantei da
cama deixando ela amassada onde sentei, sai do
quarto e desci aquelas escadas imensas. Na minha
cabeça, parecia que aquilo não acabava mais, não
conseguia parar de pensar no que ela tinha me
falado.
Fui pra casa andando, e não conseguia parar de
chorar, meu chão caiu. Minha melhor amiga está
com uma doença gravíssima e ela não sabe se pode
contar comigo.
Quinto capítulo
Depois que cheguei em casa sexta-feira, sabendo
do que estava acontecendo com a Mi, eu deitei e
não me levantei mais.
Pela primeira vez em muito tempo, meus pais
me deram atenção. Até porque o Auggie estava
na casa de Christopher. Meu pai e minha mãe se
preocuparam e foram até mim ver o que tinha
acontecido.
No começo, confesso que estava meio grossa
pelo simples fato de eles quererem saber da
minha vida só porque meu irmão não estava
perto, depois que ele voltasse, tudo voltaria ao
normal: Eles brincando e cuidando do Auggie 24
horas por dia, eu trancada no sótão ou no quarto,
passando despercebida na casa.
Enquanto eu dormia, jogada no meio da
cama, na manhã de sábado, os dois entraram no
silenciosos, fazendo com que eu não acordasse, e
logo sentaram na cama, um de cada lado. Acordei
assustada por ver os dois me olhando enquanto eu
dormia, e levantei pulando da cama. Os dois
caíram na gargalhada pela minha cara e segundos
depois eu comecei a rir junto. Depois de rir tudo o
que eu tinha para rir, lembrei do que tinha ficado
sabendo no dia anterior e caí no choro. E quando eu
digo choro, é de não conseguir parar de soluçar.
Dessa vez os dois se assustaram por não
estarem entendendo nada. Começaram a me
perguntar o que havia acontecido
desesperadamente:
- Via, minha filha, o que aconteceu? - perguntou
minha mãe
- Porque você tá chorando assim Via?
- O que podemos fazer?
- Fizeram alguma coisa pra você meu amor?
Eram tantas perguntas que eu nem sei quem
estava perguntando o que.
Eu tentei me acalmar, mesmo não conseguindo
tanto, mas me acalmei para conseguir explicar o
mínimo:
- Eu sou uma péssima amiga, eu só penso em
mim e isso tudo é culpa de vocês!!! - eu disse
colocando minha cabeça no travesseiro,
abafando o som e chorando cada vez mais
- Nossa culpa? - meu pai perguntou confuso.
- SIM - gritei.
- Mas por que, filha? - meu pai perguntou
novamente enquanto minha mãe não conseguia
falar nada .
- Vocês só ligam pro meu irmão, não sabem
nem metade da minha vida, não sabem do que eu
gosto. Não se importam com a hora que vou
chegar, não sabem se eu já beijei ou não.
- Via.. - minha mãe tentou falar
- Desde pequena tinha que parar de brincar do
que eu estava brincando pra não atrapalhar
o Auggie, tudo pelo Auggie né? - continuei falando
em tom alto.
- A única pessoa que me conhece de verdade é
a Miranda e agora eu to perdendo ela! Isso é
culpa de vocês. Saiam daqui!
Eles tentaram falar alguma coisa, mas eu saí
correndo pro banheiro e tranquei a porta. Ouvi
eles fechando a porta do meu quarto e uma
conversa bem baixinha, não consegui entender o
que estavam falando, entrei no banho pra me
acalmar. Tomei um remédio pra dormir e só
acordei às 3 horas da manhã de segunda.
Sexto capítulo
Passou uma semana desde a última vez que eu
falei com a Miranda, e aconteceu muita coisa desde
aquele dia. Depois de ter conversado com os meus
pais, dormi e acordei às 3 horas da manhã,
morrendo de fome. Eu desci devagar, na ponta do
pé tentando não fazer barulho, e é nessas horas que
eu agradeço pelo piso da minha casa ser de carpete.
Fiz um pão com ovo e um na chapa. Subi de novo e
liguei minha televisão para ver minha série,
“atypical”.
Eu e a Miranda sempre assistimos essa série
juntas, então sempre conversávamos enquanto
assistimos sobre o que estava acontecendo. Eu
esqueci do que tinha acontecido, e quase mandei
mensagem pra ela. Na hora que eu lembrei,
desliguei o celular e fui procurar outra coisa no
Netflix.
Gosto muito de novelas, então coloquei uma
malhação antiga pra assistir. Quando deu 5:00 da
manhã, decidi me adiantar e tomar um banho pra
ir pra escola, já que minha aula começa às 7:00.
Tomei banho, escolhi a roupa e arrumei meu
quarto. Quando deu 6:40 sai de casa e fiz o mesmo
caminho de sempre. Passei em frente a casa da Mi,
mas diferente dos outros dias, segui em frente.
Cheguei na escola e fui para minha sala. Sentei em
uma carteira que estava em dupla, mas não tinha
ninguém ao meu lado.
Minha primeira aula ia ser de história,
imaginei que iriamos fazer algum trabalho de
dupla, já que a sala já estava arrumada daquele
jeito. Estava sem dupla, pois todos já estavam
sentados com seus pares. Mas o que eu não tinha
percebido, é que o Jack ainda não tinha chegado, e
logo fui falar pra professora que eu não tinha com
quem fazer o trabalho.
- Professora, eu estou sem dupla…
- Lúcia, eu cheguei atrasado, posso entrar? - O
Jack perguntou logo em seguida atrás de mim.
- Resolvido, Olivia, já tem uma dupla - disse a
professora depois de ouvir o que o Jack falou. - e
Jack, pode entrar, sente - se com a Via para
fazerem o trabalho.
Eu fui para minha carteira sem saber o que falar,
não sabia o que estava sentindo, não sabia se era
muita felicidade ou muita vergonha. Ele sentou ao
meu lado, e começou a puxar assunto. Eu estava
meio em choque, então não conseguia continuar
com a conversa, e cortava ele sem querer.
Ele desistiu e começamos a fazer o trabalho. A
partir daí, eu fiquei mais relaxada e começamos a
conversar normalmente.
- Onde você mora mesmo? - ele perguntou pra
mim.
- Ali perto de um parque cheio de árvores, sabe?
Dois quarteirões de distância daqui. É uma casa
grande, branca. - eu respondi, especificando bem.
-Eu sei bem, moro na sua rua - ele disse - só
perguntei pra ver se era você a menina que
aumenta o som no último. - disse dando risada.
- Quê? - eu perguntei sem entender -
Não sabia que você morava na minha rua. Onde
você mora?
- Ali do outro lado da rua, me mudei
recentemente pra lá. Minha casa é bem na frente
da sua, - ele parou de rir e respondeu.
- Meu deus! Que vergonha! - falei baixinho,
mas ainda em um tom que desse pra ele ouvir .
- Vergonha do quê? - ele perguntou sem
entender.
- Você ouve tudo o que eu escuto - eu respondi
dando risada
- Não precisa ficar com vergonha, eu curto as
músicas - ele disse com um sorriso de canto.
- Depois disso, fiquei quieta e continuei com o
trabalho.
Sétimo capítulo
Depois daquele trabalho semana passada eu e
Jack fomos à escola juntos todos os dias,
combinados de nos encontrarmos dez minutos
antes do horário que iríamos pra escola pra não
nos atrasarmos. Ele vem na porta da minha casa
pra eu não ter que atravessar (eu admito que fico
boba e com frio na barriga toda vez que o vejo).
Amanhã já é segunda e estou ansiosa para
vê-lo aqui de novo.
Vocês até podem pensar que eu não estou nem
preocupada com Miranda, mas não é verdade.
Pensar no que eu vou fazer com o Jack me distrai
e não me deixa pensar na falta que ela está me
fazendo.
Semana passada, eu não a Vi na escola a
semana inteira. Mas ela está passando por um
momento difícil e não sei se posso ajudar.
Dormi enquanto pensava se passava na casa
da Mi ou não. Acordei quando eram 5:50 da
manhã, e fiquei olhando para o teto pensando no
sonho que eu tive com a Miranda. Estava com a
roupa do dia anterior, jogada no meio da cama.
Lembrei que não tomei banho antes de ir dormir e
estava com a sensação que estava suja, então
rolei até o final da cama e caí no baú que
fica ali na frente. Fiquei ali por uns cinco minutos
cochilando e lembrei que tinha que tomar banho,
saí correndo rápido e fui pro meu box.
Entrei debaixo do chuveiro e deixei a água
cair no meu ombro e na minha cabeça, mas eu
ainda não conseguia parar de pensar no sonho
com a Mi… Eu saí do banho mais relaxada e
decidida em ir falar com ela na casa dela.
Me troquei, coloquei uma calça preta larga
uma daquelas no estilo skatista, e um moletom
preto com um camuflado no meio. Peguei minha
mochila e saí de casa em direção a casa da
Miranda. Andei mais rápido do que o normal
para conseguir pegar a Mi antes dela sair para a
escola.
Oitavo capítulo
Cheguei na casa da Miranda a tempo e
toquei a campainha, a mãe dela atendeu, o que
me fez estranhar um pouco, já que estava
acostumada com a Mi me atendendo. A tia Silvia
abriu a porta com uma cara abatida e não disse
nada. Eu entrei e estava um silêncio. o que
também era estranho, pois a casa sempre
estava com visita, geralmente as amigas da Tia
Silvia. Quando não eram as visitas era a música
que as duas colocavam para escutarem juntas.
A relação das duas sempre me chamou
atenção para um lado muito positivo, tendo
como base a minha relação com os meus pais. O
pai da Mi morreu muito cedo, em um acidente de
carro, ela era bem pequena então não tem
muitas lembranças dele. Mas as duas sempre
foram muito sozinhas, mas muito unidas.
Aquela casa estava diferente, com um ar triste,
muito parecido com o olhar da Tia Silvia. Fiquei
preocupada pois nunca tinha visto ela daquele
jeito, a mãe da Miranda sempre me tratou como
uma segunda filha, pelo fato da gente estar
sempre juntas, sempre me tratou muito bem.
Pensando nisso tudo, tinha passado uns cinco
minutos e ela ainda não tinha aberto a boca,
então eu perguntei:
- Tia, o que tá acontecendo, por que você está
assim? Cadê a Mi?
- Via, eu não tenho boas notícias… - parou de
falar e começou a chorar.
- Tia o que tá acontecendo? Me conta, por
favor!
- Olivia, minha filha foi internada essa noite,
ela está entre a vida e a morte.
Quando ela falou isso eu caí no chão, não
tinha reação, eu não sabia o que fazer, eu estava
sentindo um misto de coisas. Me sentia culpada,
arrependida, e tudo o que se pode imaginar. Só
me perguntava o porque eu fui tão egoísta o
tempo todo.
Ela me ajudou a levantar e me acalmou, me
deu um copo d'água, me levou até a cozinha para
eu sentar e me contou o que tinha acontecido
depois que fui embora aquele dia em que eu e Mia
brigamos.
Depois que eu fui embora, Mia esperou um
tempo para conversar com a Miranda e perguntar
o que tinha acontecido para eu ter ido embora
daquele jeito. A Tia Silvia me disse que a Miranda
me chamou de egoísta e falou que não queria mais
papo comigo, mas quando baixaram os nervos ela
chorou muito porque já estava sentindo minha
falta, mesmo não conseguindo assumir.
- Porque ela não veio falar comigo na escola,
tia? - eu perguntei, enquanto ela pegava um pedaço
de bolo pra eu comer.
- Depois daquele dia, a Miranda não foi mais à
escola Via… - ela disse enquanto abaixava a cabeça
com um tom de voz triste. - Ela estava cada vez
mais fraca, e depois da discussão de vocês ela só
piorou.
- Mas onde ela está? Cadê ela, tia?
- Ela está internada já faz 40 dias, Olivia, não
consegue andar por conta da fraqueza e não pode
ser levada para o quarto pois está em fase de risco.
O câncer dela não melhora, está cada vez pior e eu
não sei o que faço. Se eu perder minha família, vou
ficar sozinha, eu não sirvo pra isso. - disse ela
desesperada e chorando.
- Calma, espera, não vai acontecer nada com
ela não tia, me deixa ir vê-la no hospital, por
favor.
- Eu não sei se é muito bom pra vocês isso, Via.
- ela disse exitando
- Tia Silvia, por favor, me deixe ver ela. Eu juro
que eu não vou prejudicá-la, talvez eu possa até
ajudar. - eu implorei com as mãos cruzadas e
quase chorando com medo de ela não deixar.
No final ela aceitou me levar para visitar a
Miranda. Passou uns cinco minutos e foi pegar o
carro. Chegando lá a Mi estava acordada e fez
uma cara de surpresa e confusão, como ela
sempre fazia quando não entendia algo. Eu sentei
e começamos a conversar….
Nono capítulo
Começamos a conversar e ela me disse tudo o
que estava passando na cabeça dela.
- Via, eu sinto sua falta, já fazem duas
semanas que não nos falamos e eu piorei depois
da nossa discussão. Você não tem culpa de não
desconfiar da minha doença, você não tinha como
saber, eu só fiquei brava porque você sempre
falava somente da sua vida, e na minha cabeça
você não sabia nada da minha. - disse a Mi
chorando.
- Eu sei Mi, me perdoa por isso, eu não sei mais
o que fazer durante o dia sem você. Minha rotina
era você, meus dias ficaram 200% melhores com
você. O que melhorou meus dias mesmo foi o
Jack… - na hora que falei o nome dele parei de
falar e logo em seguida pedi desculpa - Desculpa,
desculpa, estamos aqui para falar de você. Como
você está?
E nós conversamos por horas e horas… Até que
chegou a enfermeira e disse que ela tinha que
descansar pois estava chegando a hora da
cirurgia.
Décimo capítulo
Depois que eu fiz as pazes com minha melhor
amiga e nós duas conversamos, sendo que dessa
vez eu ouvi mais do que falei, eu lembrei de que
tinha marcado de ir para a escola junto com Jack
mas acabei esquecendo com tudo o que tinha
acontecido, então fui olhar o celular, onde
tinham milhares de mensagens do mesmo
perguntando onde eu estava. Quando vi tudo
aquilo de mensagem sai correndo desesperada
para tentar encontrar o Jack. Estava quase na
hora de acabar a aula, então decidi esperar meu
crush… digo amigo, na porta da escola
Quando cheguei, tinha acabado de tocar o
sinal, e logo vi o Jack saindo. Ao tentar falar com
ele, fui ignorada, sendo brasileira, não desisti e
fui atrás, até que consegui parar na frente dele.
- Jack, PARA! Deixa eu explicar.
- Olivia, você me deixou esperando que nem
bobo, quase me atrasei pra aula e você nem aí.
- Para de ser egoísta, meu! Você nem sabe o
que aconteceu e tá se importando porque se
atrasou
5 minutos. Só pra você saber, mesmo que não
faça diferença na sua vida, minha melhor
amiga está internada com câncer no hospital e
fazia mais de
um mês que nós não nos falávamos, porque eu
só sabia pensar e falar sobre você. Por causa
disso eu e ela brigamos. - eu disse chorando,
abaixando a cabeça.
- Nossa, Olivia! eu sinto muito… - disse o
Jack, pegando no meu rosto e acariciando, logo
depois me abraçou. - Eu não sabia de nada disso,
não podia imaginar.
- Eu vim correndo assim que Miranda voltou
a dormir no hospital, quando eu vi suas
mensagens fiquei desesperada e saí de lá,
parecia que eu tinha rodinhas no meu pé. - eu
disse dando risada
- Desculpe, Via, não tinha o direito de ficar
bravo com você, eu fui egoísta mesmo. - ele disse,
após dar um beijinho no canto da minha boca.
- Eu entendo você, tá tudo bem, eu já fui muito
egoísta também, principalmente com a Mi, foi esse
um dos maiores motivos para eu ir hoje lá, além da
saudade que eu estava dela.
Depois disso, eu e Jack fomos lá para a minha
casa, andamos o tempo todo de mãos dadas.
Quando chegamos em casa, meus pais estavam na
sala e ficaram felizes de me verem com ele. Logo
falaram pra irmos para o quarto que iriam levar
um lanche para nós em alguns minutos,
consentimos e subimos, bastante envergonhados.
Quando chegamos lá, sentamos um de frente
para o outro na minha cama, ficamos nos
encarando, sendo que as vezes desviamos os
olhares,
ele passou a mão no meu rosto e logo em seguida
nos beijamos, o que nunca tinha acontecido, mas
foi tão, mas tão bom, que ali foi o momento em
que me vi mais apaixonada ainda.
Minha mãe bateu na porta, dizendo que
estava com o lanche, ela entrou e conversou um
pouco com Jack, que inclusive amou a sogra rs…
Enquanto estávamos comendo, ele falou
muito rápido:
- Quernamorarcomigo? - falou e escondeu a
cara no travesseiro.
- OI? - eu gritei.
Jack respirou fundo, tirou a cabeça do
travesseiro, tomou coragem e perguntou de novo,
só que agora, com um espaço de tempo.
- OLIVIA - não me perguntem porque, mas ele
deu ênfase desse jeito no meu nome - a senhorita
gostaria de namorar comigo?
- enquanto ele estava fazendo a pergunta, pegava
na minha mão e ficava com a cara vermelha,
equivalente a um pimentão.
- SIMMMMMMMMMMMM! - eu disse gritando
histericamente, fazendo com que ele se assustasse
um pouco, mas não no nível de fazê-lo se
arrepender de ter feito o pedido que ele tinha
acabado de fazer.
Depois disso, ele me abraçou muito forte e me
deu um beijo fofo, passando a mão no meu rosto,
ao mesmo tempo.
Um tempo depois….
Depois daquele dia, que eu e Jack começamos
a namorar, parece que tudo melhorou, até
minha relação com meus pais.
Miranda voltou pra casa, o tumor do
câncer foi completamente retirado, parece
até um milagre, mas aconteceu, No dia em
que ela voltou para a casa, eu contei pra ela
que eu estava namorando e nós pulamos de
felicidade juntas, até porque, ela também
estava quase ali para começar a namorar.
Nesse tempo que nós não estávamos nos
falando, ela conheceu um menino, ele já tem
18 anos, mas é muito responsável, carinhoso,
enfim, tudo o que a Miranda queria e gostava.
O nome dele é Lucca, uma gracinha, os dois
fazem um casal muito fofo
e além do mais, ele e o Jack se dão muito bem, o
que me deixa mais feliz ainda, na verdade, nós
quatro nos damos muito bem, o que é ótimo não é
mesmo?
Hoje inclusive, marcamos de ir ao cinema,
tipo, rolê de casal, Jack vai passar aqui de carro,
(sim, ele tem carro, é emancipado, então já pode
dirigir), e depois vamos passar na casa da Mia
para buscar ela e o Lucca.
Essa obra foi inspirada no livro
Extraordinário, mas nessa versão
a história se concentrou apenas
em contar sobre a vida da Olivia,
irmã de Auggie, protagonista do
livro de inspiração.
Dessa vez, situações da vida de
uma adolescente, que é carente de
seus pais, são contadas pela
protagonista.