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O arrependimento, segundo o autor da carta aos Hebreus, é categorizado como parte das doutrinas elementares de Cristo (HEBREUS 6:1,2), ou seja, um princípio, um alicerce, um fundamento sobre o qual algo deve ser construído. Portanto, é de suma importância que nós saibamos a real necessidade do arrependimento para as nossas vidas e quais as consequências que a sua ausência traz. Contudo, esse assunto se tornou tão pouco divulgado entre nós, que, apesar de ser considerado como alimento para crianças, hoje, parece ser alimento sólido, pois muitas vezes desce rasgando na nossa garganta, que é sensível a qualquer coisa que não seja papinha. Digo isso primeiramente a mim, pois sou o primeiro a considerar este assunto profundo demais para meu intelecto tão limitado, a ponto de achar que já estou me alimentando de alimentos sólidos, quando estou apenas me deliciando com leite. Porém, mesmo sabendo que há coisas demasiadamente extraordinárias para experimentarmos em Cristo, vamos precisar voltar aos primeiros rudimentos e falar sobre este assunto que é tão essencial para a salvação.

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Published by marlonrasech, 2022-02-08 18:16:16

CORAÇÃO QUEBRANTADO: A PRÁTICA DO ARREPENDIMENTO E A TRANSFORMAÇÃO DO CRISTÃO

O arrependimento, segundo o autor da carta aos Hebreus, é categorizado como parte das doutrinas elementares de Cristo (HEBREUS 6:1,2), ou seja, um princípio, um alicerce, um fundamento sobre o qual algo deve ser construído. Portanto, é de suma importância que nós saibamos a real necessidade do arrependimento para as nossas vidas e quais as consequências que a sua ausência traz. Contudo, esse assunto se tornou tão pouco divulgado entre nós, que, apesar de ser considerado como alimento para crianças, hoje, parece ser alimento sólido, pois muitas vezes desce rasgando na nossa garganta, que é sensível a qualquer coisa que não seja papinha. Digo isso primeiramente a mim, pois sou o primeiro a considerar este assunto profundo demais para meu intelecto tão limitado, a ponto de achar que já estou me alimentando de alimentos sólidos, quando estou apenas me deliciando com leite. Porém, mesmo sabendo que há coisas demasiadamente extraordinárias para experimentarmos em Cristo, vamos precisar voltar aos primeiros rudimentos e falar sobre este assunto que é tão essencial para a salvação.

Keywords: ARREPENDIMENTO,CORAÇÃO,CONVERSÃO,CRISTÃO

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Os sacrifícios que agradam a Deus são um espírito quebrantado;
um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezarás.
(SALMOS 51:17 - NVI)

Davi reconhece que o sacrifício verdadeiro não é o ato de
oferecer um animal, por mais valioso e saudável que fosse, mas,
oferecer-se a si mesmo como sacrifício, como tendo o próprio
coração esmagado e os próprios ossos moídos. Esse tipo de
sacrifício, segundo o salmista, Deus jamais rejeita, pois é
exatamente esta atitude que a Bíblia nos cobra em seu enredo.

O sacrifício de animais e os holocaustos, mesmo tendo sido
ordenados por Deus, poderiam ser rejeitados. Veja o que disse o
profeta Oséias:

“Pois desejo misericórdia, não sacrifícios, e conhecimento de Deus
em vez de holocaustos” (OSÉIAS 6;6 - NVI).

No entanto, achegar-se a Deus com um coração quebrantado
é uma garantia de que não haverá rejeição. Tal atitude é mais
excelente do que um simples cumprimento de regra.

Isso nos prova que, desde sempre, a intenção de Deus não era
simplesmente ditar regras, mas mostrar como as pessoas que
verdadeiramente O amam devem proceder, afinal, que outro
sentido há nos sacrifícios e holocaustos senão o exemplo da
misericórdia de Deus, representado pelo perdão dos pecados e a

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evidência do conhecimento sobre Deus, cujos atributos são
claramente cultuados nos holocaustos, por exemplo: amor para
perdoar o pecador e justiça para punir o pecado?

Outro exemplo da relação entre ação e intenção é notado na
lei da circuncisão, ordenada por Deus através de Moisés, realizada
nos meninos judeus. Todo judeu se orgulhava da circuncisão, pois
era a garantia de que era descendente de Abraão e, portanto,
membro do povo escolhido por Deus. No entanto, o próprio Moisés,
que lhes forneceu a Lei, ordenou:

“Circuncidai, pois, o vosso coração e não mais endureçais a vossa
cerviz” (DEUERONÔMIO 10:16 – ARA).

Este texto inspirou o apóstolo Paulo a escrever:

Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a
que o é exteriormente na carne. Mas é judeu o que o é no interior, e
circuncisão a que é do coração, no espírito, não na letra; cujo louvor
não provém dos homens, mas de Deus. (ROMANOS 2; 28-29 -
NVI).

O que Moisés e Paulo estão dizendo é que não adianta ter a
circuncisão física se o coração também não estiver circuncidado.
Nesse sentido, a circuncisão física é um símbolo no corpo da

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verdadeira circuncisão, que é no coração2. Paulo vai além e afirma
categoricamente que, se há um sinal que define a participação de
alguém como membro do povo de Deus, este sinal é a circuncisão
do coração.

Entenda: a circuncisão do coração não substituiu a
circuncisão física no novo testamento. Ela já era necessária desde
sempre, desde Abraão. Apenas foi abolido o símbolo que a
representava no corpo, afinal, a circuncisão do coração evidência
com muito mais excelência a participação no povo de Deus na
Aliança, através das obras, do que a circuncisão física, e é realizada
pelas mãos divinas em homens e em mulheres.

Você percebeu que atos isentos da verdadeira motivação são
meros símbolos? Espero que você consiga compreender o grave
risco que é viver uma vida pautada em ações recheadas de vazio, e
que entenda que não é isso que Deus nos ensina pela Sua Palavra.

Toda ordem divina tem uma motivação correta, algumas
vezes explícitas, outras, implícitas, e Deus não olha para o exterior,
mas conhece as intenções do coração. Deus enxerga o que está
oculto aos nossos olhos, e interpreta os atos baseando-se

2 É importante ressaltar que, ao utilizarmos o termo “coração” para designar
sentimento, afeições, desejos, anseios, etc., estamos nos utilizando de uma metáfora, pois,
na verdade, a função do órgão humano denominado coração é bombear sangue. Por isso,
sempre que o termo “coração” aparecer aqui, leia-se consciência.

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exclusivamente no íntimo. Qualquer ação, por melhor que seja, se
não tiver a motivação correta, constitui-se hipocrisia e, portanto, é
abominação para Deus.

E qual relação há entre ação/intenção e o arrependimento? A
mais intensa. O arrependimento é fruto do reconhecimento de um
erro e da busca por perdão, que resulta numa reconciliação e numa
transformação. A realidade que polariza ou unifica ação e intenção
define a probabilidade que existe de alguém chegar ao
conhecimento necessário de si mesmo e alcançar ao ponto de
arrepender-se amargamente do estilo de vida que vive, mesmo. Em
outras palavras, a motivação equivocada dos nossos atos pode ser
um bloqueio para o reconhecimento da necessidade que temos de
nos arrependermos.

A mais perigosa dentre as motivações equivocadas
bloqueadoras do verdadeiro arrependimento, ao meu ver, é a
legalista, isto é, o fazer as coisas pelo simples fato de elas serem
obrigatórias. Como já mencionado, Jesus lutou contra isto no seu
ministério, lançando no rosto dos fariseus a sua hipocrisia, pois suas
ações, apesar de serem recomendadas pela lei, tinham motivações
erradas e, portanto, se tornavam abomináveis diante de Deus. Todo
o capítulo 23 do evangelho segundo Mateus, por exemplo, é uma
repreensão de Jesus aos fariseus hipócritas que, sendo zelosos da

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lei, se fizeram abomináveis e, por isso, receberam uma série de "aí
de vós, fariseus hipócritas" do verdadeiro Rabi, que profetizou a
desgraça que viria sobre eles. Dentre os exemplos citados pelo
Mestre sobre a hipocrisia de muitos fariseus, Ele citou um
comportamento frequente ou talvez um ditado popular que
representava tal comportamento: “Guias cegos! Vocês coam um
mosquito e engolem um camelo” (MATEUS 23:24 – NVI). O
mosquito era considerado um animal impuro na lei de Moisés, o
menor de todos. Tão pequeno que, como sabemos, pode ser
engolido sem que seja percebido. Por isso, os fariseus coavam
suas bebidas para não descumprirem a lei acidentalmente, no
entanto, tropeçavam feio em outros aspectos exigidos pela mesma
lei. Tais aspectos eram tão claros que poderiam ser considerados
como engolir um camelo, que era o maior animal impuro
considerado na lei mosaica. Obviamente, ninguém consegue
engolir um camelo sem que perceba.

Em outros momentos descritos pelos evangelistas, as
repreensões que os fariseus receberam continham um chamado
maravilhoso ao arrependimento. É o caso do conselho de João
Batista:

Quando viu que muitos fariseus e saduceus vinham para onde ele
estava batizando, disse-lhes: "Raça de víboras! Quem lhes deu a
ideia de fugir da ira que se aproxima? Dêem fruto que mostre o

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arrependimento! Não pensem que vocês podem dizer a si mesmos:
‘Abraão é nosso pai’. Pois eu lhes digo que destas pedras Deus
pode fazer surgir filhos a Abraão. O machado já está posto à raiz
das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será cortada e
lançada ao fogo. "Eu os batizo com água para arrependimento. Mas
depois de mim vem alguém mais poderoso do que eu, tanto que não
sou digno nem de levar as suas sandálias. Ele os batizará com o
Espírito Santo e com fogo. Ele traz a pá em sua mão e limpará sua
eira, juntando seu trigo no celeiro, mas queimará a palha com fogo
que nunca se apaga" (MATEUS 3:7,12 – NVI).

Você consegue perceber o que realmente importa? Os

fariseus estavam certificados de sua cidadania entre o povo de Deus

por serem descendentes do patriarca Abraão, porque eram

circuncidados, tinham as promessas, as alianças, os sacrifícios e o

culto a Deus. Mas João Batista os repreende como quem diz: "vocês

são realmente filhos de Abraão? Vocês têm certeza? Vocês sabiam

que Deus pode fazer surgir filhos de Abraão até das pedras? Então,

por que tanto orgulho? Arrependam-se e provem que se

arrependeram produzindo frutos que evidenciam uma

transformação. Caso contrário, toda árvore que não produzir este

bom fruto de arrependimento será cortada e lançada no fogo que

nunca se apagará".

Ah, queridos! Minha oração é para que eu e você tenhamos

os nossos olhos abertos para esta tão grande necessidade que temos

de reconhecer nosso estado deplorável diante de Deus, tendo

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cuidados de não nos tornarmos fariseus, zelando do que precisa ser

zelado com a motivação errada, nos esquecendo frequentemente do

amor e da justiça e da misericórdia. Minha oração é para que a

palavra verdadeira do evangelho nos coloque em crise, pois esse é

o único caminho para entendermos que dependemos muito mais de

Deus do que julga nosso fraco entendimento. Se a palavra da

verdade doer em ti, saiba que isso trará grande alegria, porque a

tristeza segundo Deus é motivo de alegria, assim como disse o

apóstolo Paulo aos coríntios, após enviar uma carta com uma série

de repreensões:

Mesmo que a minha carta lhes tenha causado tristeza, não me
arrependo. É verdade que a princípio me arrependi, pois percebi que
a minha carta os entristeceu, ainda que por pouco tempo. Agora,
porém, me alegro, não porque vocês foram entristecidos, mas
porque a tristeza os levou ao arrependimento. Pois vocês se
entristeceram como Deus desejava, e de forma alguma foram
prejudicados por nossa causa. A tristeza segundo Deus não produz
remorso, mas sim um arrependimento que leva à salvação, e a
tristeza segundo o mundo produz morte. (II CORÍNTIOS 7:8,10 –
NVI).

Amados, não é à toa que grande parte do conteúdo da Bíblia

é um chamado ao arrependimento. Observe que sempre que há uma

repreensão e/ou uma profecia punitiva, há um chamado ao

arrependimento. E sempre que a profecia punitiva se cumpre, é

sinal de que a advertência não foi ouvida e não houve

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arrependimento. Uma coisa é certa: Deus jamais aplicará Sua Santa
Justiça sem um aviso prévio, mas jamais deixaria de aplicar Sua
Santa Justiça, a não ser mediante arrependimento.

Isso nos é provado pelas próprias escrituras. Foi assim no
dilúvio, foi assim em Sodoma e Gomorra, foi assim com o reino do
Norte (Israel) e com o reino do Sul (Judá). Todos provaram do justo
juízo de Deus, pois não se arrependeram de suas más obras mesmo
com tanta advertência. Mas também temos o relato de Nínive que,
ouvindo a voz do profeta Jonas, que não trazia mensagem de
arrependimento, mas apenas de juízo, ouviu, entendeu e se
arrependeu, mudando seus atos e condutas, e foi liberta da severa
punição que Deus prometera, mesmo a contragosto do profeta.
Nisto vemos a verdade que há nas palavras do profeta Jeremias que
diz:

No momento em que falar contra uma nação, e contra um reino
para arrancar, e para derribar, e para destruir. Se a tal nação,
contra a qual falar, se converter da sua maldade, também eu me
arrependerei do mal que pensava fazer-lhe (JEREMIAS 18:7,8)

AGORA, POIS, ARREPENDE-TE

A Bíblia nos ensina que a repreensão é uma forma legítima e
cuidadosa de demonstrar amor verdadeiro, ao contrário do que a
sociedade atual considera. Somos bombardeados frequentemente
com ideias contrárias à repreensão, à advertência e à punição com
argumentos mentirosos de que tais ferramentas causam traumas e
trazem consequências ruins para os seus alvos. No entanto, como
cristãos que somos, precisamos nos basear inteiramente nos
princípios bíblicos, pois são bons e eficazes na nossa formação
tanto espiritual quanto social.

Dito isto, é necessário entender a repreensão divina como
uma prova do cuidado especial de Deus para com o repreendido.
Receber uma repreensão de Deus deve ser motivo de grande temor,
pois se há repreensão é porque há algo errado, mas também motivo
de grande alegria porque, se há repreensão é porque há zelo,
cuidado e amor de Deus envolvido. Prova disto é o que o Senhor
Jesus diz através do apóstolo João:

Repreendo e disciplino aqueles que eu amo. Por isso, seja diligente
e arrependa-se. 20 Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir
a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo
(APOCALIPSE 3:19).

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Cuidemos para não deixarmos o Senhor do lado de fora. É

um perigo acharmos que ele está dentro quando na verdade ele está

batendo à porta e não o escutamos e não o concedemos acesso

irrestrito. Abra a porta e deixe-O entrar. Quando Ele entrar, deixe

Ele transformar o que precisa ser transformado, aceite a Sua

disciplina e correção, ame Sua repreensão e se arrependa.

Atente-se para o perigo de viver como a igreja de Éfeso que,

mesmo cuidando e zelando da doutrina, de modo que identificou

muitos falsos profetas, como os nicolaítas, mesmo sofrendo e

trabalhando arduamente pelo evangelho sem desfalecer, estava

vivendo distante do primeiro amor. Isto é, estavam fazendo o que

tinha de ser feito, mas sem a motivação correta. Vendo isso, Jesus

diz:

Conheço as suas obras, o seu trabalho árduo e a sua perseverança.
Sei que você não pode tolerar homens maus, que pôs à prova os
que dizem ser apóstolos, mas não são, e descobriu que eles eram
impostores. Você tem perseverado e suportado sofrimentos por
causa do meu nome, e não tem desfalecido. Contra você, porém,
tenho isto: você abandonou o seu primeiro amor. Lembre-se de
onde caiu! Arrependa-se e pratique as obras que praticava no
princípio. Se não se arrepender, virei a você e tirarei o seu
candelabro do seu lugar. (APOCALIPSE 2:2,5)

Atente-se para o perigo de viver como a igreja de Pérgamo,

que, mesmo sendo fiel até o martírio, aceitou doutrinas contrárias à

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verdade bíblica. Alguns da igreja abraçaram as doutrinas dos
nicolaítas, que Jesus odiava3, e outros que aceitaram ensinos que

permitiam comer carne sacrificada a ídolos e imoralidades sexuais.

Vendo isto, disse Jesus:

No entanto, tenho contra você algumas coisas: você tem aí pessoas
que se apegam aos ensinos de Balaão, que ensinou Balaque a
armar ciladas contra os israelitas, induzindo-os a comer alimentos
sacrificados a ídolos e a praticar imoralidade sexual. De igual modo
você tem também os que se apegam aos ensinos dos nicolaítas.
Portanto, arrependa-se! Se não, virei em breve até você e lutarei
contra eles com a espada da minha boca. Conheço as suas obras,
o seu amor, a sua fé, o seu serviço e a sua perseverança, e sei que
você está fazendo mais agora do que no princípio. (APOCALIPSE
2:14-19)

Atente-se, ainda, para o perigo de viver como a igreja de

Tiatira, que, mesmo sendo perseverante, guardando o amor, a fé e

trabalhando muito mais do que no início, estava se deixando ser

ludibriada pelos ensinos de uma tal profetiza que ensinava

caminhos tortuosos, deturpando verdades bíblicas em prol de uma

vida de promiscuidade, afirmando que quanto mais se conhece os

profundos segredos de Satanás, mais provará da Graça de Deus. O

laudo do Filho de Deus, cujos olhos são como chama de fogo e os

pés como bronze reluzente foi este:

3 Mas há uma coisa a seu favor: você odeia as práticas dos nicolaítas, como eu
também as odeio. (APOCALIPSE 2,6)

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Conheço as suas obras, o seu amor, a sua fé, o seu serviço e a sua
perseverança, e sei que você está fazendo mais agora do que no
princípio. No entanto, contra você tenho isto: você tolera Jezabel,
aquela mulher que se diz profetisa. Com os seus ensinos, ela induz
os meus servos à imoralidade sexual e a comerem alimentos
sacrificados aos ídolos. Dei-lhe tempo para que se arrependesse
da sua imoralidade sexual, mas ela não quer se arrepender. Por
isso, vou fazê-la adoecer e trarei grande sofrimento aos que
cometem adultério com ela, a não ser que se arrependam das obras
que ela pratica. Matarei os filhos dessa mulher. Então, todas as
igrejas saberão que eu sou aquele que sonda mentes e corações, e
retribuirei a cada um de vocês de acordo com as suas obras.
(APOCALIPSE 2:19-23).

Atente-se ao terrível perigo de viver como a igreja de Sardo,

que tinha certeza que estava viva; vivia como se estivesse viva,

tinha nome de quem vivia, mas o diagnóstico de Jesus, que é

verdadeiro e contempla o interior, confirmou o contrário:

E ao anjo da igreja que está em Sardo escreve: Isto diz o que tem
os sete Espíritos de Deus, e as sete estrelas: Eu sei as tuas obras,
que tens nome de que vives, e estás morto. Sê vigilante, e confirma
os restantes, que estavam para morrer; porque não achei as tuas
obras perfeitas diante de Deus. Lembra-te, pois, do que tens
recebido e ouvido, e guarda-o, e arrepende-te. E, se não vigiares,
virei sobre ti como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti
virei. (Apocalipse 3:1-3)

Atente-se ainda para o tão gravíssimo perigo de viver como a

igreja de Laodiceia, que se considerava rica, abastada, poderosa e

sem necessidades, mas, aos olhos do Soberano da criação de Deus,

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ela era miserável, desgraçada, pobre, cega e nua, com suas

vergonhas expostas. Ah, irmãos! Quão terrível é ter um conceito

muito elevado de si mesmo! Isso impede um auto diagnóstico

verdadeiro e real. Isso transforma a vida numa fantasia, numa

mentira, num teatro de falsa humildade e falsa santidade, a ponto

de causar náuseas no Senhor. Foi exatamente isso que aconteceu

com essa igreja: tornaram-se tão prepotentes e tão autossuficientes

que, julgando serem espirituais, estavam para ser vomitados da

boca do mestre.

Desprovida de qualquer elogio, esta igreja, que aparenta não

ter nenhum problema quanto à doutrina, recebe a mais dura e severa

repreensão, mas também um conselho:

Conheço as suas obras, sei que você não é frio nem quente. Melhor
seria que você fosse frio ou quente! Assim, porque você é morno,
nem frio nem quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca.
Você diz: Estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada. Não
reconhece, porém, que é miserável, digno de compaixão, pobre,
cego e que está nu. Dou-lhe este conselho: Compre de mim ouro
refinado no fogo e você se tornará rico; compre roupas brancas e
vista-se para cobrir a sua vergonhosa nudez; e compre colírio para
ungir os seus olhos e poder enxergar. Repreendo e disciplino
aqueles que eu amo. Por isso, seja diligente e arrependa-se.
(APOCALIPSE 3:15-19)

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Percebam, queridos, que grande e maravilhoso amor Cristo
tem pela Sua igreja. Palavras duras não representam ódio ou
desprezo, mas compaixão, cuidado e amor imensos e sublimes.

Agora, atente-se para o maior perigo de todos. Há duas igrejas
que não receberam repreensão, mas só elogios. A igreja de Esmirna
e de Filadélfia. Ambas receberam um diagnóstico favorável do
nosso Amado Mestre. Esmirna era pobre e tinha humildade para
reconhecer isso, mas aos olhos de Cristo, era rica, diferente de
Laodiceia, que era rica, mas aos olhos de Cristo era miserável. A
igreja de Filadélfia tinha pouca força, era fraca, mas mesmo assim
era perseverante, não negou o Senhor e não abraçou os ensinos dos
que se diziam judeus, mas eram sinagoga de Satanás. Nenhuma
repreensão para essas igrejas. Que privilégio! Receber só elogios
daquele que insiste em dizer "eu conheço as tuas obras", que sonda
rins e coração e que julga conforme a verdadeira intenção do
coração é maravilhoso, concorda? Onde está, portanto, o perigo?

O perigo, queridos, não está na conduta desses dois grandes
exemplos de igreja, Esmirna e Filadélfia. Se o próprio mestre não
tinha do que reclamar delas, quem sou eu para dar um diagnóstico
diferente? O problema está em nós.

Explico: você já se comparou com os crentes da igreja de
Éfeso, de Pérgamo, de Tiatira, de Sardes ou de Laodiceia? Você se

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identificou com o conceito elevado que a igreja de Sardes tinha de
si mesmo, tendo e carregando nome de viva enquanto estava morta
ou morrendo? Você já se mediu à luz das escrituras e meditou nos
diagnósticos verídicos vindos de Cristo? Já deu ouvidos ao
mandamento proferido inúmeras vezes nos textos bíblicos que
clama: “arrependam-se! ” ?

É bem mais confortável ler a carta de Cristo à igreja de
Filadélfia e absorver todos os elogios e todas as promessas como
tendo sido proferidas diretamente para nós e não fazer o mesmo
com as cartas às outras igrejas. O perigo consiste em achar que o
diagnóstico dado por Cristo à igreja de Filadélfia, por exemplo, é o
mesmíssimo diagnóstico que Cristo nos dá hoje. Tal crença fecha
as portas para uma autoanálise à luz dos demais diagnósticos às
demais igrejas e uma avaliação verídica sobre a nossa conduta.

Por exemplo: será que temos zelado a doutrina do evangelho
de maneira bíblica, santa, pura e simples? Algumas igrejas não
estavam fazendo isso e foram repreendidas, e foram disciplinadas e
foram convidadas a se arrependerem. Será que estamos realmente
vivos, tendo sido regenerados e santificados pelo Espírito Santo?
Será que nascemos de novo, conforme afirmou o mestre sobre
sermos novas criaturas para servir a Deus em espírito e em verdade?
Será que carregamos nomes de vivos ou estamos mortos em nossas
transgressões e delitos, abraçados com o pecado e longe de Deus?

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Será que fazemos o que precisa ser feito com a motivação
correta, tudo para a glória de Deus, embasados e influenciados pelo
primeiro amor, ou estamos fazendo por fazer, por mera obrigação,
pensando que estamos agradando a Deus? Será que não precisamos
de colírio para nossos olhos enxergarem? Será que não precisamos
de vestes brancas para cobrir nossa nudez? Será que não precisamos
de ouro refinado no fogo para sermos ricos de verdade?

Será que não precisamos de nenhuma repreensão, irmãos?
Temo que, em não recebendo repreensão, ou estejamos bons
demais a ponto de receber só elogios (e não é isso que é possível
ser observado) ou o cuidado de Deus se afastou de nós (e não é isso
que está acontecendo).

A repreensão de que precisamos está contida nas demais
cartas às igrejas da Ásia, cuja atenção não damos com frequência;
está nas cartas apostólicas, nos evangelhos e na Bíblia como um
todo. Não é por falta de repreensão que vamos seguir errando, pois
Deus se preocupou em nos dar de presente um livro perfeito, a
saber, a Bíblia, que é

"inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a
correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus
seja apto e plenamente preparado para toda boa obra (2 TIMÓTEO
3:16,17).

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Agora, pois, queridos, considerem este apelo: busque de Deus
a sinceridade necessária para olhar para dentro de si e observar
todos os seus pecados, identificando até os que frequentemente nem
consideramos tão perigosos assim, e curve-se diante daquele que
sonda o íntimo, reconhecendo, confessando e clamando por perdão.
Acredite piamente:

um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não
desprezarás.(SALMO 51:17 - NVI)

Não se envergonhe de considerar-se necessitado de perdão,
mesmo já tendo sido batizado e vivendo dentro da igreja há muito
tempo. Quando o Mestre falou que haveria mais alegria no céu por
um pecador que se converte do que noventa e nove justos que não
precisam de arrependimento4, ele não estava dizendo que haviam
justos que não precisavam de arrependimento. Absolutamente não!
Ele estava se referindo aos fariseus, que se consideravam justos e
que não se consideravam como necessitados de arrependimento.
Jesus, então, argumentou como quem diz: “Ah! É uma pena que
vocês são justos e não precisam se arrepender. É que, no céu, há
muito mais alegria por um pecador que se arrepende, do que por
muitos justos que não precisam se arrepender, como vocês”.

4 Ler Lucas 15 completo para entender o contexto desta frase.

66

Por tudo isso, amados, promovamos festa no céu e nos
arrependamos no tempo que se chama hoje, pois se há alguma
forma de agradar a Deus, essa forma é achegando-se a Ele com um
coração quebrantado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BUNYAN, J. Justificação: a doutrina bíblica. 1ª ed. Francisco
Morato: Estandarte de Cristo, 2021.

LLOYD-JONES, M. O clamor de um desviado: estudo sobre
o salmo 51; tradução de José Humberto J. F. Oliveira. São
Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas (PES), 2008.

BÍBLIA. Bíblia Sagrada: nova versão internacional. 1ª ed.
Santo André: Sociedade Bíblica Internacional, 2017.

LOPES, AUGUSTUS N. As 7 igrejas do Apocalipse -
Augustus Nicodemus, Youtube, 2014. Disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=1RMziJvezlo. Acesso
em 20/10/2021.

LOPES, HERNANDES D. Estudo Bíblico Livro do Apocalipse
- Hernandes Dias Lopes, Youtube, 2016. Disponível em
https://www.youtube.com/playlist?list=PLSKv3WuCE_J0kDr
IGXUSliOoXQjgz82Ol. Acesso em 07/11/2021.

O arrependimento, segundo o autor da carta aos Hebreus, é
categorizado como parte das doutrinas elementares de Cristo
(HEBREUS 6:1,2), ou seja, um princípio, um alicerce, um fundamento sobre
o qual algo deve ser construído. Portanto, é de suma importância que
nós saibamos a real necessidade do arrependimento para as nossas
vidas e quais as consequências que a sua ausência traz. Contudo, esse
assunto se tornou tão pouco divulgado entre nós, que, apesar de ser
considerado como alimento para crianças, hoje, parece ser alimento
sólido, pois muitas vezes desce rasgando na nossa garganta, que é
sensível a qualquer coisa que não seja papinha. Digo isso
primeiramente a mim, pois sou o primeiro a considerar este assunto
profundo demais para meu intelecto tão limitado, a ponto de achar
que já estou me alimentando de alimentos sólidos, quando estou
apenas me deliciando com leite. Porém, mesmo sabendo que há coisas
demasiadamente extraordinárias para experimentarmos em Cristo,
vamos precisar voltar aos primeiros rudimentos e falar sobre este assunto
que é tão essencial para a salvação.

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