Mas o que aconteceria se você quisesse enfatizar a nota mi, fazendo-a soar como a nota
principal e a mais grave no teclado? Isso resultaria em um acorde de C com a nota mi "enfati-
zada", ou como popularmente você veria na cifra:
C/E
(Dó com baixo em mi)
Veja como ficaria no teclado:
Você também poderia enfatizar a nota sol, transformando o acorde C em C/G (dó com baixo
em sol). Ficaria assim:
Outros exemplos de acordes bem conhecidos:
D/F# - ré maior com o baixo em fá sustenido (ou simplesmente, ré com fá#).
G/B - sol com baixo em si.
E/G# - mi com sol sustenido.
F/A - fá com lá.
É incrível como algo tão simples pode ter um efeito tão maravilhoso. Muitos músicos despre-
zam o poder destes acordes mas eles fazem muita diferença na hora de tocar.
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NÃO DESPREZE ESSE TIPO DE ACORDE
Cada uma das inversões enfatiza uma nota e isso causa um efeito
diferente nos ouvintes, podendo transmitir sensações diferentes,
mais rebuscadas.
Vamos analisar a música "Perto Quero Estar", de Michael Smith:
Perceba como os acordes com baixo invertido são utilizados nesta música para:
Transmitir diferentes sensações.
Rebuscar a harmonia.
Dar mais cor à sonoridade.
Se você quer ver como isso tudo soa no teclado, assista ao vídeo da música:
https://www.youtube.com/watch?v=ZjoD9pn3tfc
2.20 Os 4 grupos de tétrades
As tétrades são acordes mais complexos que as tríades pelo simples fato de terem uma nota
a mais. Basicamente, tétrades são acordes com quatro notas distintas. Se você planeja tocar
de forma mais rebuscada ou se deseja ser um músico de alto nível, cedo ou tarde terá que
passar pelas tétrades. A sua hora chegou! Vamos conhecer os quatro grupos de tétrades
que preparei para este guia. Para facilitar, vamos usar o acorde de C como base. Vamos lá:
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TÉTRADES COM 5ª JUSTA
Cmaj7: 1 - 3 - 5 - 7M. Notas: dó, mi, sol, si.
C7: 1 - 3 - 5 - 7m. Notas: dó, mi, sol, sib.
Cm(maj7): 1 - 3m - 5 - 7M. Notas: dó, mib, sol, si.
Cm7: 1 - 3m - 5 - 7m. Notas: dó, mib, sol, sib.
TÉTRADES COM 6ª
C6: 1 - 3 - 5 - 6. Notas: dó, mi, sol, lá.
Cm6: 1 - 3m - 5 - 6. Notas: dó, mib, sol, lá.
TÉTRADES COM 5ª ALTERADA
Cmaj7(#5): 1 - 3 - 5# - 7M. Notas: dó, mi, sol#, si.
Cm7(b5): 1 - 3m - 5d - 7m. Notas: dó, mib, solb, sib.
Cº: 1 - 3m - 5d - 7d. Notas: dó, mib, solb, sibb (lá).
TÉTRADES DERIVADAS DO ACORDE DOMINANTE
Csus4/7: 1 - 4 - 5 - 7m. Notas: dó, fá, sol, sib.
C7(#5): 1 - 3 - 5# - 7m. Notas: dó, mi, sol#, sib.
C7(b5): 1 - 3 - 5d - 7m. Notas: dó, mi, solb, sib.
Estes acordes são muito usados na música popular, Jazz, Blues, MPB entre outros. Por isso, é
importante você dominar estas formações nas doze tonalidades. Eu sei que isso requer
tempo, mas vale a pena cada minuto investido. Além disso, conforme você vai avançando na
carreira musical esses acordes se tornarão naturais para você.
BATEU A ANSIEDADE?
Não fique ansioso para aprender tudo agora. Apenas
compreenda a lógica das fórmulas e assim você poderá montar
qualquer tétrade quando for preciso.
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2.21 O acorde quartal
O acorde quartal é um acorde de sonoridade muito interessante. Se você tem experiência na
área musical certamente já ouviu falar de harmonia quartal ou do uso dos acordes quartais
no Jazz, por exemplo. Chegou a hora de aprendermos um pouco sobre este assunto.
O acorde quartal tem como característica a existência de intervalos de 4ª em sua formação
(e não de terças). Vamos formar um acorde quartal a partir do dó para ver o que acontece:
Partindo do dó, a um intervalo de 4ª chegamos no fá. Do fá, a um intervalo de 4ª chegamos
no sib. Este é um exemplo clássico de acorde quartal (Csus4/7), que no caso poderia substituir
o acorde dominante C7 em uma música. Execute-o no teclado e perceba como a sonoridade
é interessante.
Agora, vamos supor que você fosse substituir o acorde de Dm7 por um acorde quartal. Você
poderia experimentar uma formação partindo do ré. Dê uma olhada:
Certamente, este acorde quartal (Dsus4/7) daria um ótimo colorido na execução, é claro,
dependendo da sensação que você quer transmitir. Apenas para mostrar um pouco mais do
que você poderia fazer, vamos "melhorar" a cadência II-V-I usando acordes quartais:
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Cadência normal
Dm7 - G7 - Cmaj7
Cadência com acordes quartais
Percebeu como a harmonia ficou mais "colorida"? E olha que só estamos "arranhando a super-
fície", mostrando a você o poder dos acordes quartais. Por ora, aprenda a montar e pratique
quantos acordes quartais você puder.
CURSO EXTRAORDINÁRIOS
Neste guia não é possível mostrar na prática, por isso recomendo
que você estude o programa de treinamento completo onde eu
demonstro tudo isso
2.22 Vamos estudar harmonia?
Chegamos à parte sobre harmonia musical do guia, uma área que muitos tecladistas são apai-
xonados. Anteriormente, nós estudamos algumas matérias rudimentares da teoria musical.
Elas vão servir para você compreender melhor o que vamos estudar daqui para frente. Agora,
vamos tratar sobre harmonia e mais à frente sobre rearmonização. Eu investi um bom tempo
garimpando alguns assuntos interessantes para trazer tudo mastigadinho até você.
Isso inclui campo harmônico, funções tonais, trítonos, clichês harmônicos, cadências, tonalida-
de menor entre outros. Os conteúdos a seguir impactaram radicalmente a minha visão musi-
cal. Foi só quando comecei a estudar harmonia que eu passei a compreender como a música
funcionava. É o que vai acontecer com você se fizer a lição de casa. Prepare a sua mentalida-
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de e um bom tempo para estudar o conteúdo a seguir. Depois de efetivamente assimilar
essas matérias sua visão musical vai estar em um novo patamar.
Pronto? Então, vamos avançar!
2.23 O campo harmônico maior
O tema Campo Harmônico é um dos temas mais conhecidos dentro da Harmonia Tonal. A
música tonal é aquela que apresenta uma tonalidade definida, cujos acordes cumprem uma
determinada função (harmonia funcional). Conhecer e dominar o assunto Campo Harmônico
traz inúmeros benefícios:
Facilita na composição de músicas.
Facilita na criação de arranjos.
Facilita na identificação da tonalidade.
Ajuda você a se localizar na música.
Ajuda quem deseja tirar uma música de ouvido.
Abre caminhos para a rearmonização.
E muito mais.
O Campo Harmônico é um conjunto de acordes que são formados a partir de determinada
escala. Esse conjunto de acordes é o que eu chamo de "família". Essa família de acordes é
uma espécie de mapa, indicando a tonalidade da música e os acordes mais prováveis (além
de possibilitar outras informações). Você já deve ter percebido que quando a tonalidade é C
(Dó Maior) alguns acordes são mais frequentes, como por exemplo: C, Am, F e G. Esses acor-
des fazem parte do Campo Harmônico de C. Por isso, é importante você conhecer o Campo
Harmônico nas doze tonalidades. Assim, o seu aprendizado musical vai ser facilitado e acele-
rado.
Mas, como se monta o Campo Harmônico Maior? Se você já conhece bem as escalas maiores
e as tétrades vai ser relativamente simples. Basta seguir os passos abaixo:
1 Liste as notas da escala maior.
2 A partir de cada nota da escala, forme uma tétrade com os graus 1º, 3º, 5º e 7º.
Como Tocar Teclado Bem | Ramon Tessmann ® Todos os direitos reservados 56
3 Todas as notas dos acordes formados precisam ser diatônicas (pertencentes à escala
maior). Portanto, você deverá adaptar as notas não diatônicas dos acordes, reduzindo
meio-tom para que elas fiquem ajustadas à escala.
Para facilitar, vamos dar um exemplo montando o Campo Harmônico de Dó. O primeiro passo
é listar a escala maior:
Cada nota da escala vai gerar um acorde (com os graus 1º, 3º, 5º e 7º). No caso, o primeiro
acorde seria:
Este é o acorde Cmaj7, o 1º acorde do Campo Harmônico de C. Agora, começando da nota
ré, nós teríamos as notas ré, fá*, lá, dó*. Note que as notas fá e dó foram reduzidas meio-tom
para se adequarem à escala de dó ( já que o 3º e 7º graus de ré são fá# e dó#). Lembre-se:
todas as notas de todos os acordes precisam pertencer à escala. Veja como ficaria o 2º
acorde do Campo Harmônico de C:
Este é o acorde Dm7, o 2º acorde do Campo Harmônico de C. Se formos seguir montando o
restante dos acordes, chegaríamos a seguinte tabela:
Este é o famoso Campo Harmônico Maior de C. Note que para representar os acordes
usamos numerais romanos: I, II, III, IV, V, VI e VII. Uma vez que você compreenda com clareza
a formação do Campo Harmônico poderá montar qualquer um dos doze. Se eu fosse você,
dedicaria algumas horas para treinar a formação nas outras tonalidades. Caso queira conferir
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o resultado, recorra à tabela a seguir contendo os doze campos harmônicos maiores:
A minha dica é que você pratique uma tonalidade por dia, para não haver confusão no início
dos estudos.
2.24 Trítono: o "som do céu"
O Trítono é um assunto curioso dentro da música. É um intervalo musical carregado de tensão
proporcionando uma das mais complexas dissonâncias da nossa música ocidental. É um
"som" de alta instabilidade e por isso foi apelidado na Idade Média de "som do diabo", por
causa da sua sonoridade desarmônica. Eu prefiro chamar esse intervalo de "som do céu".
Como pode algo tão dissonantemente belo e espantosamente útil ser chamado de "som do
diabo"? Eu entendo a estranheza que essa sonoridade pode ter causado na época, mas eu
prefiro falar em "som do céu" simplesmente porque o Trítono é uma das coisas mais fascinan-
tes da música.
Basicamente, o Trítono é um intervalo de três tons inteiros, como por exemplo, dó e fá#. Entre
dó e fá# há uma distância de três tons. Esse intervalo causa uma uma enorme tensão e está
sempre pedindo para resolver, para repousar. É por isso, que os Acordes Dominantes são
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tensionados, porque eles contém um Trítono em sua formação. Observe o acorde de G7:
As notas si e fá (em verde) formam um Trítono, por isso o acorde G7 está sempre "pedindo"
para resolver, de preferência no Cmaj7. Muitos filmes de terror e suspense usam o Trítono
para dar produzir a sensação de medo nos telespectadores. No curso completo eu menciono
o Trítono largamente em aulas de formação de acordes e harmonia. É uma ferramenta de
extrema utilidade para qualquer músico. A seguir eu disponibilizo uma tabela com os Trítonos:
Um excelente exercício que eu fazia quando estava começando a memorizar os Trítonos era
executá-los com as duas mãos junto com o metrônomo, trocando de Trítono a cada batida.
Mas, você pode praticá-los de outra forma se desejar.
2.25 As funções tonais
Já vimos que a música tonal é aquela que apresenta uma tonalidade definida, o que abrange
a grande maioria das músicas que você conhece. Nesse tipo de música os acordes cumprem
certas funções, apontando para conflitos, tensões e resoluções. Conhecer essas funções vai
fazer você entender melhor como as músicas são construídas e quais as sensações o compo-
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sitor quis transmitir para os ouvintes. É um assunto fascinante que vamos estudar superficial-
mente agora. Observe as funções tonais:
GRAU I - Tônica
Repouso, calmaria, estabilidade, casa.
GRAU II - Supertônica
GRAU III - Mediante
GRAU IV - Subdominante
Tensão média, instabilidade moderada, incerteza
GRAU V - Dominante
Tensão, conflito, limite, prepara, chama o repouso.
GRAU VI - Superdominante
GRAU VII - Subtônica ou Sensível
Sensível - meio tom abaixo da tônica
Subtônica - um tom abaixo da tônica
As principais funções são:
I - TÔNICA: acordes de repouso, de conclusão. Dão uma sensação de paz.
V - DOMINANTE: acordes fortes de tensão. Passam a idéia de que "chamam" um acorde
de repouso.
IV - SUBDOMINANTE: acordes que não são nem fortes, nem fracos, normalmente sendo
usados como "passagem" ou "preparação", tanto para o repouso quanto para a tensão.
O acordes I, IV e V são os mais importantes. Os outros acordes farão basicamente a mesma
função, sendo divididos em 3 classes de funções tonais:
1. Família da Tônica: I, III, VI.
2. Família da Subdominante: II e IV.
3. Família da Dominante: V e VII.
Segue uma tabela resumindo as funções tonais:
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Os acordes que pertencem à mesma família são os Relativos e Antirrelativos:
Relativos: acordes que estão ligados entre si por intervalos de terça descendente. A
Tônica (I) tem seu acorde relativo no VI grau (Tr). Por exemplo: I e VI são relativos, V e III são
relativos.
Antirrelativos: Acordes que estão ligados entre si por intervalos de terça ascendente. A
Tônica (I) tem seu acorde antirrelativo no III grau (Ta). Por exemplo: I e III são antirrelativos, V
e VII são antirrelativos.
Se você achar muito complicado memorizar tudo isso, não precisa se preocupar. Funções
tonais é aquele tipo de matéria que você consegue assimilar a linguagem com o tempo. O
que você precisa começar a fazer a partir de agora é enxergar a música com outros olhos, a
partir de uma perspectiva harmônica. Você deve ser capaz de ver os acordes e compreender
a função que cada um está exercendo na música.
2.26 Os tipos de cadências
Cadência (ou progressão de acordes) é basicamente uma sequência padrão de acordes
dentro da harmonia musical. Você vai perceber que algumas sequências de acordes são
bastante frequentes nas músicas. Para facilitar a compreensão harmônica essas sequências
ou cadências foram categorizadas. Os principais tipos de cadência são:
Cadência Perfeita: Dominante para a Tônica (Ex: G7 - C).
Cadência Imperfeita: Tônica está em posição invertida (Ex: G7 - C/E).
Cadência Completa: S - D - T (Ex: F - G - C). O IV pode ser substituído pelo II, ficando Dm -
G7 - C (um clichê importante).
Semi-cadência: II - V (Ex: Dm7 - G7).
Cadência Plagal: É o movimento Subdominante – Tônica (que pode se realizar na forma IV
– I ou II – I) ou o movimento T – S – T (Ex: F - C ou Dm - C). É conhecida como a "cadência
do amém".
Cadência Deceptiva: É, tipicamente, o movimento V7 – VIm7 ou o movimento IIm7 – V7 –
VIm7. Na cadência deceptiva depois da dominante vem um acorde diferente do esperado
(Ex: G7 - Am).
Meia Cadência: É quando a música (ou um trecho da música) repousa sobre um acorde
dominante, ou seja, o dominante não resolve em ninguém, ficando a cadência “vazia”.
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ASSIMILANDO OS TIPOS DE CADÊNCIAS
Para assimilar bem a matéria, escolha uma tonalidade qualquer e
toque as cadências dizendo o nome delas em voz alta (para
associar ao som à cadência)
2.27 O ciclo das quintas
O estudo de harmonia musical requer que o estudante conheça o Círculo das Quintas e o
Ciclo das Quintas. Entender como funciona o Ciclo das Quintas vai facilitar a compreensão
de várias outras matérias. De forma simplificada, o Ciclo das Quintas é a sequência de notas
distanciadas por intervalos de 5J (quinta justa). Se você partir da nota dó, chegará a esta sequ-
ência:
dó - sol - ré - lá - mi - si - fá# - dó# - láb - mib - sib - fá
Este é o Ciclo das Quintas e seria interessante você memorizá-lo, pois como falei, isso ajudará
no seu aprendizado musical. Para facilitar, nós vamos dispor as notas no Círculo das Quintas.
Com o Círculo das Quintas você consegue visualizar com mais clareza as relações entre as
doze notas da escala cromática. Observe:
Perceba que, se você se movimentar para a direita, sempre encontrará a Dominante (Exem-
plo: ao lado direito do C está o G, que é a Dominante de C). Ao lado esquerdo você encontra
a Subdominante. Com o tempo você vai se familiarizando com o Ciclo das Quintas e apren-
derá a usá-lo para compreender melhor até os conceitos mais avançados da música.
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2.28 Clichês harmônicos por quintas
A progressão harmônica por quintas tem um papel importante na música tonal, como já
vimos anteriormente. Encontramos esse tipo de encadeamento harmônico em praticamente
toda música, já que movimentos como V-I , I-IV, IV-I, I-V, II-V-I entre outros, estão baseados em
relações de quintas entre os baixos.
Para facilitar a sua compreensão vamos organizar o Campo Harmônico de C dispondo os
acordes em distâncias de quintas descendentes. Veja como ficaria:
Esta sequência é a base para muitas ideias harmônicas. Se você executar esses acordes na
sequência apresentada a sonoridade provavelmente será familiar ao seu ouvido. Abaixo
vamos conhecer algumas variações, conhecidos como clichês por quintas descendentes. A
primeira variação é transformar o VIº grau em uma dominante. Veja:
Podemos estender o efeito dominante para o grau III também, veja:
Um clichê bem conhecido da música popular transforma o grau IV em uma IV aumentada.
Como? Simplesmente, buscando-se um salto de quinta descendente para se chegar no VII.
Podemos fazer isso transformando o IV em um F#ø e o VII em um acorde Dominante. Veja
como fica:
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A ideia aqui não é nos aprofundarmos nos clichês, mas apenas mostrar algumas ideias. É com
isso que muitos músicos experientes harmonizam e rearmonizam suas músicas.
Foi essa mesma ideia que usei na execução da música "Noite Feliz". Clique aqui para assistir.
2.29 O acorde diminuto e o meio-diminuto
O acorde diminuto é um dos acordes mais interessantes que conheço. Decidi colocá-lo em
pauta pela sua importância, não só no âmbito harmônico, mas pela sua utilidade. O diminuto é
um acorde simétrico, composto por intervalos de terças menores. As notas que formam o
acorde são 1, b3, b5, bb7. A sétima com bemol dobrado equivale, enarmonicamente, ao grau
6. Para facilitar a formação no dia a dia usamos a seguinte fórmula: 1, b3, b5 e 6. Assim, fica
fácil montarmos o acorde Cº:
Algumas curiosidades do acorde diminuto:
Ele pode funcionar como acorde dominante, quando contém o mesmo trítono do acorde
dominante original. Por exemplo, o trítono do acorde de G7 é composto pelas notas si e fá.
Essas notas estão contidas no acorde Bº, que pode substituí-lo.
Ele pode resolver meio-tom acima de qualquer uma de suas notas. Por exemplo: C#º -
Dm7 ou F#º - G7.
Também pode funcionar como função cromática descendente (não envolvendo resolu-
ção). Por exemplo: C - Ebº - Dm7.
O diminuto pode exercer função auxiliar (quando tem a mesma fundamental). Por exemplo:
Cº - C. Geralmente, é usado para retardar a resolução.
O acorde meio-diminuto tem uma pequena diferença do acorde diminuto. Decidi tratá-lo
aqui só para não deixar dúvidas quanto à sua formação e função. O acorde meio-diminuto,
simbolizado neste guia pela bolinha cortada ao meio "ø", tem a formação: 1, b3, b5 e b7. O
acorde VII do Campo Harmônico, de função Sensível, tem essa formação. Portanto, não
confunda-o com o acorde diminuto. Como exemplo, segue o acorde Cø (Dó Meio Diminuto):
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No Brasil, é comum você encontrar este acorde cifrado como Cm5-/7, que é a mesma coisa
que Cø. A seguir está o desenho no teclado:
2.30 O acorde SUBV7
O Substituto da Dominante é um acorde que eu sou fã, pela sua sonoridade e possibilida-
des de "colorir" ainda mais as minhas progressões. Basicamente, o SubV7 é um acorde que
tem uma formação muito parecida com o Acorde Dominante (mesmo Trítono). Vamos dar um
exemplo fácil de compreender. Se eu pegar o Acorde Dominante G7, ele terá as seguintes
notas: sol, si, ré e fá. Você saberia dizer qual outro acorde tem o mesmo Trítono (si e fá) em
sua formação? Se você disse "Db7", acertou! Veja:
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Essa relação de Trítonos entre os acordes faz com que possa haver uma substituição para
enriquecer a sonoridade. Neste caso, a sequência Dm7 - G7 - Cmaj7 poderia ser substituída
por:
Dm7 - Db7 - Cmaj7
Eu uso o acorde SubV7 para ter uma sonoridade mais rica e menos “óbvia” do que a do
acorde original. A dica é essa: substitua o Acorde Dominante por um Acorde Dominante meio-
-tom acima do acorde de destino. Por exemplo: se você tiver a sequência Gm7 - C7 - Fmaj7,
o acorde alvo é Fmaj7. A nota meio-tom acima de fá é fá# (solb). Então, o C7 pode ser substituí-
do por Gb7 (F#7). A sequência ficaria assim:
Gm7 - Gb7 - Fmaj7
O ideal agora é que você pratique o movimento com o SubV7 nas doze tonalidades. Segue
mais três opções para você praticar:
2.31 A tonalidade menor
Formar os Campos Harmônicos Menores segue a mesma lógica da formação do Campo
Harmônico Maior. Cada nota da escala vai originar um acorde. Temos 3 escalas menores
principais:
1. Escala Menor Natural: 1 - 2 - b3 - 4 - 5 - b6 - b7
2. Escala Menor Harmônica: 1 - 2 - b3 - 4 - 5 - b6 - 7
3. Escala Menor Melódica: 1 - 2 - b3 - 4 - 5 - 6 - 7
A partir de cada nota de cada escala nós vamos montar o respectivo Campo Harmônico
Menor, começando pelo Campo Harmônico Menor Natural. A boa notícia é que a escala
maior e menor natural são relativas, o que resultará nos mesmos acordes da tonalidade de C.
Veja:
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Note que o acorde V é um acorde menor, fazendo com que a área dominante fique enfraque-
cida. Assim, a tonalidade "perde força" na área dominante. No Campo Harmônico Menor
Harmônico esse problema é resolvido, já que o acorde V será um Acorde Dominante, bem
marcante. Veja como fica a construção:
Temos aqui um novo membro da família, o acorde diminuto (VII). É uma adição bem interes-
sante à família Menor Harmônica. Este é um Campo Harmônico bem característico, baseado
em uma escala que dá aquele clima "oriental" quando você a executa. Muito interessante!
Chegamos agora ao Campo Harmônico Menor Melódico. Raras músicas são compostas na
tonalidade menor melódica, mas decidi abordar o tema para ampliar seu conhecimento.
Vamos à formação:
Se você quiser ver esse Campo Harmônico na prática, procure escutar a música “Papel
Machê”, de João Bosco. Mas como eu disse, é raro encontrar todos esses acordes na mesma
música.
Se eu fosse você, estudaria com afinco o Campo Harmônico Menor Harmônico, que é o que
de mais precioso você vai tirar desta aula, já que o CH Menor Natural já é relativo do CH Maior
e o CH Menor Melódico é mais raro de aparecer.
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FOQUE NO CAMPO HARMÔNICO MENOR HARMÔNICO
Recomendo que você estude com maior afinco os campos
harmônicos menor natural e menor harmônico, especialmente o
menor harmônico.
2.32 Vamos rearmonizar?
Estou muito empolgado por você ter chegado até aqui. Daqui para frente, eu vou mostrar algu-
mas coisas interessantes sobre harmonização e rearmonização. As pessoas estão sempre
me pedindo: "Ramon, como eu rearmonizo minhas músicas? Como tocar mais bonito e de
forma mais 'profissional'?". Bem, nesta parte do guia vou dividir alguns conteúdos e macetes.
Mas, antes de prosseguirmos: qual é a diferença entre harmonização e rearmonização?
Na harmonização, você busca seguir a estrutura harmônica da música, adicionando acordes
novos e extensões (sem modificar muito a harmonia original). Na rearmonização, você tem a
liberdade para criar novos movimentos e mexer na estrutura harmônica da música (como por
exemplo, usando o acorde SubV7 ou adicionando uma cadência II-V secundária). Eu gosto de
comparar harmonização e rearmonização com o ato de pintar um quadro. Ao pintar um quadro
você tem a liberdade de "brincar com as cores", enfatizar alguma parte da pintura, escolher
um determinado estilo, enfim. O que eu desejo é estimular a sua criatividade para que você
seja livre e possa criar seus próprios arranjos. Ninguém aqui vai ficar dizendo o que está
"certo" ou "errado", apenas vou mostrar ferramentas que eu uso e que você pode usar para
construir sua própria pintura, de acordo com o seu gosto musical.
Se quiser um exemplo, recomendo que você assista a minha versão da música "Noite
Feliz". Depois de assistir, vamos em frente!
2.33 Os efeitos emocionais dos intervalos
Para mim, uma das matérias mais fascinantes da música é esta: os efeitos emocionais dos
intervalos. Cada intervalo musical tem uma emoção associada e você pode usar essa infor-
mação para incitar determinadas sensações nos ouvintes. Por exemplo: vamos supor que
você queira transmitir uma ideia de distância e solidão. Talvez um filho que foi morar longe
da mãe começa a sentir saudades de casa. Em vez de executar um acorde maior, que daria a
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impressão de alegria e poder, você poderia executar o acorde Cadd2 (Dó com a 2ª adiciona-
da), que iria transmitir melhor a ideia de saudade e solidão. É essa sensação que o intervalo
de 2ª maior poderia incitar no acorde.
E se você quisesse passar a ideia de que algo triste ou melancólico aconteceu? Quem sabe
esse filho que foi morar longe perdeu o emprego ou ficou doente. Neste caso, você poderia
usar o intervalo de 3ª menor, transformando o acorde maior em um menor. O acorde Cm
funcionaria bem melhor para passar a ideia de tristeza ou tragédia. Tudo isso é muito interes-
sante porque você pode começar a "brincar" com as sensações dos ouvintes usando determi-
nados intervalos.
O livro "How Music REALLY Works!", de Wayne Chase, traz uma tabela que fiz questão de
traduzi-la e adaptá-la para a nossa realidade. É uma tabela simples contendo os intervalos e
emoções associadas. Desde que conheci essa tabela, ela passou a ser minha referência
quando eu quero "dar novas cores" aos meus acordes. Vamos dar uma olhada:
Em vermelho eu anotei as emoções negativas mais fortes. Guarde bem as informações desta
tabela porque elas são importantes. Com elas, nós podemos enriquecer os acordes, por
exemplo.
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2.34 Enriquecendo os acordes
Uma vez que você conheça bem as emoções associadas aos intervalos musicais você pode
usar esse conhecimento para "colorir" seus acordes. Vejamos:
Cadd2 - para enriquecer as tríades maiores, é possível acrescentar o 2º grau. Na música
pop é muito comum você encontrar o acorde maior cifrado com "add2" ou "9", por exemplo,
Cadd2 ou C9. Isso faz com o que o acorde fique mais suave, "distante" ou "aveludado". Dica:
é sempre bom cifrar usando o "add2" ou "add9", pois se usar somente o "9" pode pressupor
a presença da 7ª.
Cmaj7 - o intervalo de 7ª maior pode trazer aquela sensação de saudosismo e nostalgia.
Não é necessariamente triste, mas está "suspirando". O "maj7" é muito usado no Jazz e em
vários outros estilos, deixando a sonoridade mais complexa.
Csus4/7 - o Acorde Quartal é um acorde que dá aquele efeito de suspensão, é tensionado,
mas não busca fortemente resolver. Como não tem o Trítono igual o Acorde Dominante, é
possível ficar mais tempo sobre ele criando um efeito de relaxamento. A execução prolon-
gada desse tipo de acorde pode inclusive levar pessoas a entrar em transe. Eu admito que
gosto de usar o Acorde Quartal no lugar do Acorde Dominante (por exemplo: Gsus4/7 no
lugar de G7).
C11, C13 - Gêneros como Samba, Bossa Nova e o Jazz se utilizam da riqueza das tensões
para conferir mais cores aos acordes. Assim, é comum você ver acordes com 9ª, 11ª, 13ª.
Cm7 - o uso da 7ª menor no acorde menor "suaviza" um pouco a tensão. Isso significa que
o Cm7 é um acorde "menos triste" do que o Cm puro. Acrescentar a 7ª menor ao acorde
menor é o mesmo que dizer: "Pode ficar otimista, as coisas não são tão ruins assim". Eu
confesso que gosto desse tipo de acorde por produzir uma sonoridade mais suave, não tão
trágica quanto o acorde menor puro.
C7 - o Acorde Dominante é o clássico acorde de tensão que sugere um acorde seguinte
(repouso), provavelmente buscando sua 5ª descendente. Por exemplo, um C7 provavel-
mente resolveria no Fmaj7.
Naturalmente, há muitas formas de você enriquecer seus acordes, mas por ora vamos
começar com essas opções que mostrei. Agora, vamos para a prática, enriquecendo os
acordes da música "Atirei o pau no gato". Primeiro, vou disponibilizar a versão mais simples:
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Agora vamos ver uma versão com alguns acordes enriquecidos, sem mexer na estrutura da
música:
Note que eu não fiz nada além de enriquecer levemente os acordes e a sonoridade já mudou
bastante. Toque as duas versões no teclado ou piano e sinta a diferença.
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2.35 Harmonizando com foco melódico
Um dos melhores caminhos para você "colorir" seus acordes dentro do processo de harmoni-
zação é analisar calmamente a melodia da música. As notas da melodia podem acrescentar
tensões incríveis aos acordes. O processo é bem simples. Primeiro, eu identifico a tonalida-
de da música e os acordes que já foram usados na música original. Depois, eu invisto um bom
tempo analisando a melodia em relação aos acordes. Então, eu faço uma pergunta valiosa:
"Esta nota que estou tocando pertence a quais acordes?"
As respostas desta pergunta podem proporcionar uma explosão de ideias para você enrique-
cer seus acordes. Vamos a alguns exemplos:
Observação importantíssima: a compreensão desse conteúdo específico exigiria muitas
demonstrações práticas no teclado, o que é impossível fazer através de um livro digital.
Mesmo assim eu quis incluí-lo aqui porque isso pode trazer algum insight para você. Eu reco-
mendo fortemente que você estude meu programa de treinamento completo online onde
podemos trilhar a jornada de aprendizado na prática. Dito isso, continuemos no conteúdo.
Conforme eu vou executando a melodia, vou encontrando novas opções de extensões e
tensões para os acordes. Ademais, também encontro opções de novos acordes. Acompanhe
comigo:
Veja outro exemplo, na música "Atirei o pau no gato":
O segredo é estar sempre analisando as notas da melodia e fazendo a pergunta: "Esta nota
pertence a quais acordes?". Aí, você pode experimentar os acordes que contenham aquela
nota que você quer harmonizar.
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É como falei antes, neste seu exercício de experimentação não vai ter "certo" ou "errado". Vai
muito do seu gosto musical e das sensações que você quer produzir nos ouvintes. Se algo
não está "fechando" no ouvido, tente outro acorde ou mude a abordagem. Se gostou do que
ouviu, anote e continue harmonizando as músicas da forma como você mais gostar. Com o
tempo você vai adquirindo experiência para criar harmonias ainda mais ricas. Este é o meu
desejo, por isso me esforcei para trazer todas essas ferramentas musicais para você.
SEU OUVIDO É O SEU MELHOR JUIZ
Se algo não está “fechando” no seu ouvido, tente outro
acorde ou mude a abordagem. Se algo não soa bem é
porque provavelmente não está bem.
2.36 Os clichês II-V-I maior e menor
A cadência IV - V - I constitui um dos clichês harmônicos mais importantes da música. Tudo
começa com uma Subdominante, levando a uma tensão com a Dominante, buscando-se o
repouso na Tônica. Se fosse na tonalidade de C, a sequência seria F - G - C. Como já vimos
anteriormente, os acordes IV e II são relativos. Com a substituição do acorde IV pelo II a
progressão ficaria:
Também existe a versão II-V-I na tonalidade menor, originada no Campo Harmônico Menor
Harmônico, repousando no acorde menor (7 ou maj7). Veja:
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Dominar o II-V-I maior e menor nas 12 tonalidades vai ajudar você a rearmonizar suas músi-
cas com a inserção de muitos acordes. De que forma? Aqui estão duas regras clássicas:
1 Quando você ver um acorde alvo, como por exemplo um Cmaj7, você pode "preparar o
caminho" com o clichê II-V-I. No caso, você tocaria Dm7 - G7 antes de chegar no Cmaj7.
2 O mesmo vale para a tonalidade menor. Antes de você chegar a um acorde menor você
pode "preparar o caminho" com o clichê II-V-I menor. Por exemplo: antes de chegar num
Am, você poderia tocar Bø - E7 e aí executar o Am.
Veja mais exemplos:
Teoricamente, você pode usar essa estratégia em várias partes da música. Quero reforçar a
palavra "teoricamente" porque na prática você irá experimentar a sonoridade. Você não vai
sair colocando II-V-I em todo lugar, apenas onde você achar que "encaixou bem".
Como exemplo, vou aplicar os conceitos aprendidos até aqui na música "Eu navegarei", da
Harpa Cristã:
Perceba como a versão rearmonizada é muito mais rica e complexa harmonicamente. Agora
é sua vez de pegar alguma música que você conhece e implementar algumas ideias de
harmonização e rearmonização que aprendemos até aqui. É normal ficar um pouco "travado"
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no início, mas o importante é tentar, tentar e tentar. Uma hora você vai começar a perceber
onde os acordes se encaixam melhor.
2.37 A cadência II-V secundária
Já vimos anteriormente a importância da cadência II - V. Normalmente, ela está relacionada ao
acorde I, mas pode ser estendida aos demais acordes da tonalidade. Assim, cada acorde do
Campo Harmônico pode ser preparado por uma cadência II - V. Basta seguir a regra:
1. Quando o acorde alvo for maior, use o IIm - V7 (maior).
2. Quando o acorde alvo for menor, use o IIø - V7 (menor).
Dessa forma, podemos montar o Campo Harmônico com as cadências secundárias, preparan-
do cada acorde alvo. Veja na tabela a seguir:
Estas são as formas tradicionais que as cadências secundárias aparecem, no entanto podem
haver empréstimos, como por exemplo, um IIø - V7 resolvendo em um acorde maior. Faça o
teste e sinta a sonoridade: Dø - G7 - Cmaj7. Mas, vale lembrar que isso não é tão comum.
No mais, eu recomendaria que você fizesse o mesmo estudo da tabela anterior em todas as
tonalidades. Eu investiria pelo menos dois dias praticando os movimentos II - V de cada
acorde alvo, de cada tonalidade. Assim, vai ficar mais fácil a aplicação na hora em que você
precisar.
Para finalizar, segue as cadências secundárias do Campo Harmônico de F:
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Como você pode ver, só com esse conhecimento você já tem várias opções de novos acor-
des à sua disposição.
2.38 A nota pedal
Uma das grandes armas de harmonização que utilizo é a nota pedal. Basicamente, a nota
pedal é o ato de segurar uma mesma nota em meio a uma progressão de acordes. É um
efeito muito usado no Jazz, Gospel, Rock e na música pop em geral. Geralmente, a nota a ser
segurada fica na região mais grave do teclado. A nota pode ser parte integrante do acorde (1º,
3º ou 5º) ou não (o que é menos frequente). Um clássico exemplo do uso da nota pedal é a
introdução da música "Jump", da banda Van Halen. Na música, você vai escutar uma progres-
são com os acordes C, F e G, mas sobre o baixo de C. A cifra ficaria assim:
C - F/C - G/C - C
Perceba como o baixo fica sempre no dó e os acordes "passeiam" por cima. Isso cria uma
sonoridade muito interessante e abre muito mais possibilidades de harmonização. Vou dar
um exemplo prático, usando a música "Tudo entregarei" da Harpa Cristã:
Neste exemplo, eu abusei um pouco da nota pedal só para ressaltar a matéria. Cabe a
você decidir como quer usar essa ferramenta, segundo seu gosto musical.
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2.39 Rearmonizando Ciranda, Cirandinha
Agora, eu quero te mostrar uma pequena rearmonização que fiz da música "Ciranda, Cirandi-
nha". A propósito, deixe-me explicar porque eu uso cantigas populares e hinos da Harpa Cristã
como exemplos práticos. Primeiro, essas músicas são conhecidas pela maioria das pessoas
o que facilita a assimilação das matérias. Em segundo lugar, usar músicas simples e de fácil
compreensão é o melhor caminho para se estudar harmonia.
Portanto, não fique triste se eu não dei um exemplo usando alguma música que você goste. O
que vale é o conhecimento que eu estou transmitindo e que pode ser aplicado em qualquer
música. Dito isso, eu vou mostrar algumas "roupagens" para uma música simples, através dos
conhecimentos que já aprendemos aqui neste guia. Observe:
Vá ao teclado ao teclado e execute cada uma das versões. Se possível, me mande um email
dizendo o que você achou ou caso queira tirar alguma dúvida. Segue meu email:
[email protected].
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2.40 Observação sobre rearmonização
O assunto rearmonização é muito vasto e aqui apenas abordei o tema de forma superficial.
Meu desejo foi apenas compartilhar algumas matérias e estratégias para ampliar um pouco a
sua visão sobre o que é possível ser feito.
Aliás, esse é um dos propósitos deste guia, mostrar para você que o mundo da música é mara-
vilhoso e que é perfeitamente possível você aprender matérias complexas, de forma objetiva
e agradável.
Por falar em matérias complexas, em frente temos um grande desafio. Vou falar sobre a tal
da Harmonia Negativa, um tema nada simples. Arregace as mangas e vamos com tudo!
2.41 Bônus: Harmonia negativa
Há um tempo atrás eu escrevi um artigo que repercutiu muito no site do Aprenda Piano. É um
assunto quentíssimo que muita gente ficou interessada em saber mais. Como eu gosto de ver
as pessoas desafiadas, eu decidi compartilhar o conteúdo daquele artigo aqui neste guia.
Você vai perceber que o formato da escrita é diferente porque eu repliquei quase 100% do
artigo, com algumas pequenas adaptações. A ideia não é você focar no estilo da escrita mas
tentar compreender esses conceitos tão desafiadores relacionados ao tema harmonia.
Introdução do artigo
Hoje, vou tentar abrir um pequeno portal para uma dimensão paralela e tentar elucidar mini-
mamente um assunto que está em alta no cenário musical mundial. Vou falar de HARMONIA
NEGATIVA! Eu sei que tem muita gente querendo saber mais sobre essa tal de Harmonia
Negativa (ou Harmonia Invertida, ou Harmonia Simétrica). Mas é importante segurarmos a
adrenalina e acalmarmos os ânimos para não prejudicar o raciocínio. Acredite, vamos precisar.
Nesse artigo, entre outras informações, vou tentar responder (não de forma definitiva) algumas
dúvidas:
O que é Harmonia Negativa?
Como posso aplicar conceitos tão avançados na prática?
Por que se fala tanto em Harmonia Negativa hoje em dia?
Por que o assunto está na moda?
Quem está envolvido nas discussões sobre Harmonia Negativa?
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PS: jamais terei a pretensão de esgotar qualquer assunto nesse artigo. Muito pelo contrário!
Já gastei alguns neurônios tentando me aprofundar no tema, portanto estou aberto a rece-
ber auxílio da comunidade para melhorar esse artigo (pois certamente ele vai precisar de
melhorias). O fato é que eu escrevi sobre Harmonia Negativa mais para aprender do que
para ensinar. E você ganha de presente minhas reflexões em formato de artigo.
A hype da Harmonia Negativa
Boa parte do “só se fala nisso” no que tange a Harmonia Negativa foi causada por Jacob
Collier, que já mencionei aqui no guia. Há um tempo atrás, Jacob mencionou a tal da Harmonia
Negativa e alguns conceitos referenciados no livro "Theory of Harmony" do pianista e estudio-
so suíço Ernst Levy (1895 – 1981). As menções ocorreram em uma discussão com Herbie Han-
cock e depois em uma entrevista postada no Youtube, que viralizou rapidamente. Assistindo a
entrevista, eu tinha a sensação de que para Jacob o tema Harmonia Negativa era tão simples
quanto preparar Nissin Miojo.
Como você pode perceber no vídeo, fica claro que Harmonia Negativa não é nada como
Nissin Miojo. Conhecer Harmonia Negativa abre muito mais possibilidades e ideias na
hora de compor músicas, arranjos, harmonias entre outros. É como se fosse uma nova e
poderosa ferramenta de criação musical, isso na experiência pessoal do Jacob Collier. Nas
palavras dele: “Isso é épico. Soa maravilhoso e aconchegante”. Mas, até aí poderia ser mais
um dia comum no mundo da música não fosse o fato de o assunto ter sido o estopim de diver-
sas discussões que eclodiram rapidamente na internet. O mistério foi crescendo à medida que
as pessoas pesquisavam e não encontravam quase nada escrito sobre o tema (inteligível ou
não). Mas, enfim, a maioria dos comentários no vídeo resumia-se a: “O quê é isso? Não entendi
nada! Ele tá falando grego?”. É claro que em “ondas” e “novidades” desse porte sempre há
céticos dizendo:
“Ah, isso é mais uma modinha”.
“Ele não falou nada de mais”.
“Isso não existe, ninguém fala disso”.
“Mais uma hype… não caiam nessa!”.
Será? Bem, certamente a Harmonia Negativa não tem nada a ver com esquemas de pirâmide
financeira ou com algum tipo de hot dog gourmet. Respeito todas as opiniões contrárias, mas
é um assunto que considero fantástico, ou no mínimo, empolgante. Para mim, tem muito mais
"frango nessa sopa". Mas, afinal, em discussões de gênios quem sou para opinar? Por ora, só
quero ser o escrivão relatando o que consigo compreender. Isso nos leva às primeiras ressal-
vas:
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Ressalvas
Antes de irmos para a teoria propriamente dita, preciso fazer algumas ressalvas. A primeira
delas tem a ver com a nomenclatura. Alguns músicos não concordam com o uso do termo
“negativa”, porque isso seria criar mais um nome para algo que já existe. O termo correto
seria “invertida”. Então, em vez de “Escala Negativa”, o correto seria “Escala Invertida“. Ou
quem sabe, Harmonia Negativa deveria se chamar “Harmonia Simétrica“. Mas, sinceramente,
não tenho tanta paciência para tecnicalidades. Pessoalmente, curto muito mais o termo
“Negativa”, que é mais comum e traz consigo esse ar misterioso. Essa nomenclatura ativa a
minha curiosidade. Então, está decidido. Aqui, vamos usar o termo “Negativa”.
Isso nos leva a segunda ressalva: o termo não remete a algo necessariamente ruim, tipo
como quando o gerente do banco liga pra pessoa e diz que a conta está negativa. Nada disso!
É só mais um sinônimo parcial para o termo “invertido”, dentro desse assunto específico. Dito
isso, chegou a hora de entrarmos no “mundo invertido”. Aperte os cintos!
Harmonia negativa: aspecto melódico
Essas ideias avançadas (da Harmonia Negativa) fazem parte de uma teoria chamada Teoria
Funcional da Polaridade Tonal. O que é isso? Em vez de encher você com explicações maçan-
tes, vamos caminhando passo a passo, da forma mais prática possível. Vamos começar com a
estrutura da Escala Maior que já conhecemos. Como já ensinamos, a construção da Escala
Maior é baseada na fórmula abaixo:
T - T - ST - T - T - T - ST
Se formos construir a Escala Maior de C, ficaria assim:
É importante compreendermos que cada nota tem o seu valor dentro da sua escala e tonalida-
de. Também é importante sabermos que o intervalo de quinta justa é de suma importância
para o que estamos estudando. Se estamos na Escala de C, o intervalo abaixo é o mais impor-
tante para nós agora:
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Ao tocarmos esse intervalo é como se as duas notas soassem unidas, ou melhor, fundidas,
como se fossem uma coisa só. E é bem no meio desse intervalo que encontramos o eixo,
onde vamos “posicionar o espelho” (Eb/E). Mas vamos falar disso mais à frente. Por ora, vamos
considerar essa nota (sol) nosso ponto de partida para o “mundo invertido” (assim como dó é
a partida para o mundo positivo). Partiremos da nota sol, em movimento descendente, para
encontrar a “escala espelhada” de C, intitulada Escala Maior Negativa de G. Por que descer
em vez de subir?
Lembre-se: positivo e negativo são opostos. Se a escala positiva sobe (do grave para o
agudo), a escala negativa desce (do agudo para o grave). Se a Escala Maior de C se constrói
subindo, a Escala Maior Negativa de G se constrói descendo, usando a mesma fórmula da
construção da Escala Maior. Então, chegou a hora de espelharmos a escala para ver o que
acontece:
Espelhando a escala maior de C
Vamos identificar nota por nota em movimento descendente usando a fórmula T – T – ST – T
– T – T – ST (invertida) para encontrar a escala espelhada de C ou G Negativa. Para isso,
vamos começar pelo Tom Gerador, a nota sol:
Essa é a famosa escala espelhada de dó, no mundo negativo. Note que comecei da direita
para a esquerda, começando pelo sol (mais agudo) e terminando no sol (mais grave). Tudo
certo até aqui? Antes de prosseguirmos, quero lançar luz sobre o termo Tom Gerador pela
primeira vez aqui:
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Tom gerador
O Tom Gerador nada mais é do que o tom que dá o start na formação da escala. Na Escala
Maior de C, o Tom Gerador é a tônica dó. Isso é o que ocorre no “mundo positivo”. No “mundo
negativo”, o Tom Gerador é o sol, que é a nota dó na polaridade invertida. Por isso é que a
escala originada desse Tom Gerador é chamada de G Negativa. Mas reforço que a tônica
continua sendo o dó, a 5ª abaixo, pois nosso ouvido percebe o dó como tônica, no intervalo
dó-sol. O sol será apenas o Tom Gerador.
Dica do Ramon: Como a tônica continua sendo dó, não seria interessante chamar a escala
originada de G Frígio ou Eb Jônio para não haver confusão com os graus da escala e a Polari-
dade Funcional. Por exemplo: na Escala Maior de C, o grau 7º é o si. Já na G Negativa, o grau
7º é o láb. Então, si está para dó (no mundo positivo) como láb está para sol (no mundo negati-
vo). A Polaridade Funcional que “empurra” o si para o dó é a mesma que “empurra” o láb para
o sol. Elas têm o mesmo efeito de gravidade só que em polaridades opostas. “Peraí… você
disse gravidade?”. Veja:
Só decidi fazer essa observação para que não haja confusão com relação aos graus, algo
muito importante nesta matéria.
Espelhando uma Melodia
Com todas essas informações em mãos, você pode tocar qualquer melodia “espelhada” no
mundo negativo. Basta usar os graus relacionados. Por exemplo: se no mundo positivo a melo-
dia é dó – ré – mi, no mundo negativo a melodia será sol – fá – mib. Isso porque estamos
falando dos graus 1, 2, e 3 da escala de dó, que no espelhamento ficaria sol – fá – mib. Lembra
que o Tom Gerador é sol? Por isso, partimos do sol quando estamos no mundo invertido. Veja
como ficariam as primeiras notas do "Parabéns para Você" em polaridades opostas:
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Toque aí no seu instrumento para sentir a sonoridade. Perceba como a melodia produzida
no mundo negativo fica meio dark. Reforço que todos os movimentos são contrários, por isso,
tudo é “espelhado”. Enquanto os graus no mundo positivo sobem, no negativo descem. Um
conceito bem complexo para qualquer pessoa assimilar no início, mas já que estamos aqui,
vamos "afundar o pé na jaca". É importante você estar familiarizado com o aspecto melódico
antes de ir para o aspecto harmônico, que será um pouco mais complexo.
Aspecto harmônico
Agora chegou a hora de trabalharmos com o aspecto harmônico. Se você for construir os
acordes do Campo Harmônico de C, em tríades, você chegaria a:
Provavelmente, você já deve saber construir os campos harmônicos tradicionais, mas antes
de avançarmos no aspecto harmônico no mundo negativo, preciso te apresentar a dois
conceitos bem inusitados:
1 Adaptação Telúrica: nesse formato você constrói e nomeia os acordes de “baixo para
cima”, como no mundo positivo. Em minha opinião, essa opção é mais fácil de compreen-
der o acorde, pois já conhecemos sua escrita.
2 Concepção Absoluta: aqui, se constrói os acordes de forma descendente, do alto para
baixo, criando uma nova forma de cifrar (-G, -Fm, -Ebm e assim por diante). Em minha
humilde opinião, esse caminho é mais complicado, apesar de ter sua função.
Basicamente, na Adaptação Telúrica você vai ter como base a nota mais grave e na Concep-
ção Absoluta, a nota mais aguda. Por exemplo, para acharmos o acorde I negativo, vamos
partir do Tom Gerador, usando os mesmos intervalos de terças do mundo positivo. Pegando
novamente a escala espelhada:
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O acorde I seria a tríade: sol – mib – dó, ou seja, os graus 1, 3 e 5 da escala negativa. Na Adap-
tação Telúrica, o acorde é chamado de Cm. Já na Concepção Absoluta, é o G Maior Nega-
tivo, ou G Negativo (-G). Preste atenção:
“Ramon, meu cérebro está fritando!”. Calma, vamos montar outro acorde a seguir. Que tal o
acorde V? Basta pegar o 5º grau, que é o Tom Gerador, e descer em terças, como no mundo
positivo. Ficaria assim:
Na Adaptação Telúrica, esse é o famoso Fm. Na Concepção Absoluta, é “simplesmente” o -C
(C Negativo). É importante perceber que os acordes maiores espelham acordes menores e os
acordes menores espelham acordes maiores. Observe:
Com essas explicações, (eu espero) fica mais fácil construirmos uma planilha com todos os
campos harmônicos positivos e negativos para quando precisarmos criar um arranjo ou rear-
monizar uma música. Dica: toque os acordes do CH Negativo (da direita para a esquerda) para
sentir a sonoridade:
Um atalho para acordes negativos
Caso você ache muito complicado achar os acordes negativos, vou apresentar um outro cami-
nho, que um usuário do Quora escreveu em um fórum. Aqui embaixo vai o caminho que ele
apresentou para você produzir um acorde negativo. O exemplo é na tonalidade de C:
1 Encontre a tônica (C) e depois a dominante (G).
2 Encontre a nota do meio (no caso, mib {negativo} / mi {positivo}). Esse é o eixo central de
simetria em C (veja imagem abaixo).
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3 Se você subir 1/2 tom chegará a fá. Se descer 1/2 tom chegará a ré.
4 A contrapartida simétrica de fá é ré. A contrapartida de fá# é réb e assim por diante.
5 Agora pegue qualquer acorde da escala (G7, exemplo). As notas de G7 são: sol – si – ré
– fá. Correto?
6 Agora ache as contrapartidas simétricas partindo do eixo: dó – láb – fá – ré.
7 Agora é só dar nome ao acorde: Fm6 ou Dø.
Resumindo: o G7 é o Fm6 na Harmonia Negativa. Assim, você conta com mais uma alternativa
na hora de criar seu arranjo para cada acorde dado. Em vez de ter uma Cadência Perfeita você
pode optar por uma Cadência Plagal, apenas invertendo a polaridade do acorde. Veja:
Agora analise a sequência abaixo:
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Cada acorde no “mundo positivo” tem um acorde invertido no “mundo negativo”, que pode
ser substituído quando possível ou desejável. Um outro exemplo que encontrei em minhas
pesquisas:
Agora é sua vez de ficar “brincando” com esses novos acordes e testá-los em seus arranjos.
Uma dica: Quando a melodia permitir, troque o acorde positivo pelo negativo e sinta a
sonoridade. Dependendo da sensação que você quer produzir no ouvinte um acorde negati-
vo será muito mais atrativo. Você vai se surpreender com as novas possibilidades que abrirão
bem em sua frente!
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PARTE #3
NOVE MACETES
INCRÍVEIS
Finalmente, chegamos à parte três do guia. Eu espero que você esteja gostando das informa-
ções que estou compartilhando até aqui. Se você está gostando eu ficaria muito feliz de ouvir
seu feedback. Basta me enviar um email: [email protected]. Deu um trabalho
imenso juntar todas essas informações, mas quando eu recebo uma mensagem de gratidão
me faz ganhar o dia e ver que o trabalho valeu a pena. É por isso que peço seu feedback.
Mas a jornada ainda não terminou! Ainda mais agora que chegamos às dicas e macetes incrí-
veis. O conteúdo que preparei para finalizar este guia compreende várias matérias, "segre-
dos", técnicas e dicas super úteis que eu tive o prazer de aprender na minha carreira musical.
Muitos desses macetes eu tive que aprender sozinho, no dia a dia mesmo. Portanto, eu
tenho o maior prazer de compartilhar esse conteúdo com você. Desfrute!
3.1 Acorde menor turbinado aberto
Vou começar compartilhando um verdadeiro tesouro. É uma abertura para acordes menores
muito utilizada no Neo Soul. É um tipo de acorde com um "tempero" bem especial e que
utilizo com frequência no lugar de acordes menores. A ideia básica é substituir o acorde
menor por um acorde com mais "cores", observe:
Acorde Menor (Cm)
Acorde Menor Turbinado (Cm7/9/11)
A versão aberta deste acorde é lindíssima e é construído desta maneira:
Esta versão aberta é mais voltada para arpejos ou para quando é necessário maior preenchi-
mento na música. Não se preocupe se você não alcança as notas ou se a sua mão doer um
pouco no início. Levou algumas semanas para eu me adaptar bem a esse acorde.
Por ora, recomendo que você exercite essa abertura assim:
1. Movimento ascendente e descendente de meio-tom (Cm - C#m - Dm...).
2. Movimento ascendente e descendente de 1 tom (Cm - Dm - Em...).
3. Ciclo das Quartas: (Cm - Fm - Bbm...).
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EXPERIMENTE ESSA ABERTURA AGORA
Experimente essa abertura agora mesmo substituindo os
acordes menores por acordes menores turbinados. Vai ser
uma experiência bem interessante
3.2 O dítono alt
O dítono nada mais é do que o intervalo de 3ª maior (dois tons). A partir dele a gente pode
desvendar mais um dos grandes segredos do Neo Soul, o Acorde Alterado baseado no
dítono (ou como eu gosto de chamar, o Dítono Alt). Vamos ver sua interessante formação:
Vá ao teclado e execute esse acorde. Perceba como ele tem uma sonoridade complexa e
rica. As possibilidades de uso são inúmeras:
Pode substituir um acorde diminuto.
Pode substituir um acorde dominante.
Pode substituir um acorde alterado.
Pode harmonizar qualquer nota da melodia.
Pode ser um acorde de passagem.
Pode preparar a aproximação de notas vizinhas (Ex: Adit > Bbm).
Quando eu aprendi esse acorde, eu o exercitei desta forma:
1. Movimento ascendente e descendente de meio-tom (Cdit - C#dit - Ddit...).
2. Movimento ascendente e descendente de 1 tom (Cdit - Ddit - Edit...).
3. Ciclo das Quartas: (Cdit - Fdit - Bbdit...).
4. Progressão V - I menor: (Gdit > Cm, Cdit > Fm...).
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3.3 Campo harmônico cromático (7/9/13)
Uma das grandes características do Jazz é a inserção ou substituição de acordes, buscando
um caminho mais rebuscado até o acorde alvo. Um acorde que cumpre muito bem a função
de substituição é o acorde SUBV7 que já estudamos aqui neste guia. O acorde SUBV7 pode
ser um substituto para o Acorde Dominante (pela relação dos trítonos). Para facilitar a compre-
ensão, qualquer acorde SUBV7 pode resolver num acorde meio-tom abaixo.
Por exemplo, a sequência Dm7 - G7 - Cmaj7 poderia ser substituída por:
Dm7 - Db7 - Cmaj7
Tendo esse conhecimento em mãos podemos montar um campo harmônico de forma "cromá-
tica". Ficaria assim:
Com esse campo harmônico podemos facilmente identificar várias possibilidades de movi-
mentação que darão um efeito jazzístico muito interessante. Para a harmonia ficar mais
rebuscada, podemos acrescentar tensões ao SUBV7. Eu gosto de usar os graus 7, 9 e 13. Veja
como ficaria o Ab7/9/13:
Esse acorde seria uma ótima opção para resolver no G7. Veja um exemplo de progressão:
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DOBRANDO AS POSSIBILIDADES
A coisa mais incrível é que somente com essa matéria você já
consegue praticamente dobrar a possibilidade de acordes
utilizados nas suas execuções
3.4 Aproveitando-se da escala pentatônica menor
Uma incrível “carta na manga” que eu guardo para usar em momentos especiais quando estou
improvisando sobre acordes menores é a Escala Pentatônica Menor. Na verdade, não é
apenas uma carta na manga, mas uma espécie de “bengala” que eu posso utilizar quando
falta criatividade ou quando dá um “branco” na hora da execução de uma harmonia mais com-
plexa.
A boa notícia de se conhecer essa escala é que você dificilmente conseguirá errar um solo
ou improvisação sobre um acorde menor se você usar a Escala Pentatônica Menor. Isso
porque não há nota a ser evitada. Basta executar todas as notas da escala livremente. Vamos
ver a formação dela:
1 – b3 – 4 – 5 – b7
dó – mib – fá – sol – sib
É uma escala bem simples, mas com uma sonoridade bem interessante. Quer ver? Com a mão
direita execute as notas da escala e com a mão esquerda execute qualquer um desses acor-
des: Cm, Cm7, Cm6, Cm7/9 entre outros acordes menores.
Gostou da sonoridade? A Escala Pentatônica Menor é uma das escalas mais úteis que eu
conheço. Aproveite-se dela!
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3.5 O mais "famoso" acorde alterado
Se tem um acorde que me deixou "babando" quando eu comecei a estudar Jazz e formação
de acordes foi o tal do acorde alterado. Mas não é um acorde alterado qualquer. É um dos
acordes mais magníficos que eu já conheci em toda a minha vida (segundo meu gosto musi-
cal, é claro). Toda vez que eu o escutava, ficava tentando "tirar de ouvido", mas nunca conse-
guia. Até que num belo dia, em uma aula meio despretensiosa, um antigo professor finalmente
me mostrou o famoso acorde alterado. Observe a formação:
Mão Esquerda: dó - dó↑.
Mão direita: mi - sol# - sib - mib.
Execute o acorde e perceba como é rica a sonoridade. É um acorde que está "clamando para
resolver", tamanha sensação de tensão que ele gera. Basicamente, eu vou recomendar a você
duas opções de utilização que você pode facilmente aplicar:
1 Acorde Menor: você pode resolver em um acorde menor (5ª descendente). Por exem-
plo: Aalt > Dm.
2 Acorde Maior: você pode movimentar para um acorde maior meio-tom acima. Por exem-
plo: Aalt > Bbmaj7.
Uma utilização menos comum é surpreender o ouvinte resolvendo no acorde maior (5ª
descendente). Quando você toca um acorde alterado como esse, o ouvido já espera um
acorde menor. Aí você pode surpreender a pessoa com um acorde maior. Por exemplo:
Galt > Cmaj7
Aalt > Dmaj7
Calt > Fmaj7
Confesso que às vezes eu gosto de usar este tipo de abordagem para o acorde alterado.
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SURPREENDA OS OUVINTES
Ao finalizar uma música com acorde menor, experimente substituir
esse acorde menor por um acorde alterado resolvendo em um
acorde maior (maj7)
3.6 O poder do cromatismo na improvisação
Se você já tem experiência com música já deve ter ouvido falar sobre cromatismo. Cromatis-
mo nada mais é do que uma frase que usa notas da Escala Cromática (formada por todas as
12 notas). Dentro da improvisação, o uso de cromatismos pode criar um efeito muito interes-
sante, pois adiciona novas tensões à sua melodia.
Nós sabemos que cada nota da escala exerce um papel na melodia. As notas não diatônicas
(fora da escala) também exercem funções, sendo basicamente notas de tensão. Alguém que
se propõe a ser um bom improvisador jamais deve ignorar as notas fora da escala por causa
da riqueza que elas podem trazer. Vamos ver um exemplo bem simples:
Melodia interessante, não é mesmo? Quando você ver em alguma música que a melodia
possui notas não diatônicas, não é porque está errado (como eu pensava no início do meu
aprendizado). É simplesmente porque o compositor quis adicionar algum efeito diferencia-
do. Vamos ver mais um exemplo:
Execute essas melodias para você "sentir" a tensão das notas não diatônicas.
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3.7 Os modos gregos
Os Modos Gregos são escalas derivadas de cada nota da escala maior. São 7 modelos dife-
rentes da escala maior, por isso também são chamados os modos da escala maior. Por exem-
plo: pegue a escala maior de dó. Se você começar a escala na 2ª nota, o ré, e ir até o próximo
ré (oitava acima), você terá o 2º modo, chamado Dórico. Se você começar a escala no mi (só
com as notas da escala de dó), você terá o 3º modo, chamado Frígio. E assim por diante.
Desta forma, chegamos às fórmulas dos 7 modos, apresentados na tabela a seguir:
Inicialmente, o que você pode extrair desse conhecimento é a sonoridade de cada modo.
Depois, poderá aplicar o conceito sobre os acordes. Por exemplo, você pode tocar uma
música modal, só com escalas dóricas. Observe:
As possibilidades que se abrem são imensas e um estudo mais aprofundado sobre os modos
gregos poderiam demandar muito mais páginas. Essa é uma daquelas matérias que eu reco-
mendo fortemente que você aprenda no meu programa de treinamento online, onde vemos
também a parte prática. Mas, o que eu recomendo por ora é que você se apegue a conhecer
alguns poucos modos e se familiarizar com a sonoridade, para começar a aplicar em suas
improvisações. Eu começaria com:
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Modo Dórico - sobre acordes menores.
Modo Frígio - sobre acordes menores.
Modo Lídio - sobre acordes maiores (I e IV).
Modo Mixolídio - sobre acordes dominantes.
São esses os modos que eu mais utilizo. Comece com eles, criando seus solos sob a perspec-
tiva horizontal. Só o tempo e a prática farão com que sua visão sobre os Modos Gregos seja
ampliada.
3.8 Cinco sites de pianos virtuais
Neste guia, eu não poderia deixar de compartilhar com você uma lista com os cinco melhores
sites de pianos virtuais. Um site de piano online dá a opção de você poder tocar um instru-
mento virtual diretamente no computador usando apenas o teclado do seu PC. Isso pode ser
útil caso você queira estudar teoria musical, compor uma música ou até mesmo tocar piano
online por pura diversão. Se você tem filhos é interessante porque poderá colocá-los em
contato com a música desde cedo através desses pianos virtuais. Independente da utilidade
para você aqui vai a lista de sites de piano online:
1. Virtual Piano - https://virtualpiano.net/
2. Flash Piano - https://www.apronus.com/music/flashpiano.htm
3. Online Pianist - https://www.onlinepianist.com/virtual-piano
4. Piano Plays - http://pianoplays.com/
5. The Virtual Piano - http://www.thevirtualpiano.com/
E agora, a gente se encaminha para o último macete do guia: a abertura "Conchinchina".
3.9 Abertura "Conchinchina"
"Conchinchina" significa um lugar muito distante. É com este apelido que eu quero apresentar
uma das aberturas que eu mais gosto para a mão esquerda. Em breve você vai entender o
porquê do apelido "Conchinchina". Primeiro, deixa eu te dizer que a sonoridade desse tipo de
abertura é única. Dá a sensação que o acorde está completo, preenchido e que não precisa
de mais nada. Assim, a abertura "Conchinchina" torna-se uma importante base para você
construir acordes incríveis, já que somente com a mão esquerda você já "resolve o problema"
da tríade, deixando a mão direita livre para adicionar tensões.
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Sem delongas, segue a fórmula da abertura:
Tríade maior: 1, 5, 10.
Tríade menor: 1, 5, b10.
Lembrando que na tríade você não usa a 3ª, e sim a 10ª (uma oitava acima). Agora, você vai
entender o porquê do termo "Conchinchina". Veja no desenho a distância entre as notas do
acorde de C:
Tente executar essa abertura com a mão esquerda. Veja se você consegue alcançar a 10ª. Se
conseguir, parabéns! Se não conseguir, não precisa se preocupar. Eu mesmo precisei de algu-
mas semanas para conseguir abrir a minha mão desse jeito. Mas não adianta dar a desculpa
de que os seus dedos são pequenos porque meu professor tinha dedos pequenos e conse-
guia fazer essa abertura tranquilamente. Então, é questão de prática e elasticidade mesmo.
Vamos montar agora o acorde de Em para ver o que acontece. Os graus usados são 1, 5, b10.
Observe como ficaria:
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Quando você ver um jazzista tocando, vez ou outra ele vai "soltar" uma abertura dessas justa-
mente porque dá a "sensação" de preenchimento. É um acorde completo, que usa as notas
graves de forma inteligente, sem embolar o som.
DOEU A MÃO?
No início pode doer um pouco a mão se você forçar muito. Se for
o seu caso, pode ter mais calma e ir espaçando os dedos
gradualmente. Não se apresse.
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CONCLUSÕES
FINAIS
Aprender música é uma atividade que traz inúmeros benefícios, mas o melhor deles é esse
sentimento de satisfação e felicidade. Sentar-se ao piano e poder tocar uma linda música é
uma sensação indescritível. Infelizmente, o ensino de música no Brasil tem vários pontos
fracos. Talvez, isso seja um pouco do reflexo do nosso sistema educacional, que está entre um
dos piores do mundo. No mundo da música, isso fica bem claro na enorme porcentagem de
pessoas frustradas. São pessoas que já tentaram aprender de várias formas e acabaram
esbarrando em métodos maçantes, que insistem em maneiras ultrapassadas e ineficientes
de transmitir informação.
Mas, temos uma boa notícia como mensagem final deste guia. Se você é daqueles que já
tentou aprender do zero ou melhorar aquilo que já toca mas sentiu-se travado, talvez o
problema não estava em você, mas sim no "como". Tenho muitos alunos que saíram da
inércia e que abandonaram de vez o "feijão-com-arroz" simplesmente porque encontraram
seu caminho definitivo no teclado. Eles encontraram uma forma muito mais consistente de
aprender música e é nisso que você tem que se apegar. Se você também achar o caminho
certo, as chances são grandes de você realizar seu sonho de tocar bem.
Foi isso o que eu quis transmitir neste guia. Espero que conhecer este material tenha sido uma
experiência empolgante para você. Qualquer dúvida, comentário, ou qualquer assunto que
deseje compartilhar conosco, basta entrar em contato através do e-mail:
[email protected]. Vai ser uma honra poder falar com você!
E para finalizar, caso queira saber mais sobre o meu trabalho, visite meus canais oficiais:
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Um forte abraço e nos vemos em breve!
Ramon Tessmann
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