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Published by Danni G, 2019-03-28 18:08:10

Revista Familia Nº 00

Revista Familia Nº 00

informaçÃO | DiÁlogo | Aprendizado # 00
Compreensão | Amor |
Guarda
A ADOçÃO compartilhada
no brasil
Sou solteiro
O Papel e vou bem,
dos Avós obrigado!

Gentileza O novo jeito
é questão de de casar
Educação
Entrevista:
Como conciliar

carreira
e família?

R$ 10,00 pé naFÉeriasstcrheagadnado!,

ISSN 1809-676

Crônica do mês: A vida como ela não é! Tecnologia: Da Galinha Pintadinha ao WhatsApp

www.revistanovafamilia.com.br

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AARREECCEEITIATA! !

2 Nova Família www.revistanovafamilia.com.br

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3

Papo de Família Expediente

A FAMÍLIA: REVISTA NOVA FAMÍLIA
ALICERCE DA Rua Francisco Alves, 487 - Vila Ipojuca
VIDA! CEP.: 05033-010 Lapa - São Paulo

É com imenso prazer que Telefone: (11) 2985-9454
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na vida de todos. Você já ouviu
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aquela frase, “Essa é a família que Editora Meireles Ltda
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escolhi pra mim”!?!? Pois bem, ela se aplica CEP.: 05033-010 Lapa - São Paulo
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direitinho a nós aqui e você vai entender
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o motivo. A família continua sendo sem Nido Meireles
CONSELHO EDITORIAL
dúvida a base. A in uência exercida por ela Nido Meireles, Michele Dacosta, Fernando Bonini, Joana Mackenzie, Luciana Freitas, Lúcia Furlan
DIRETORA DE REDAÇÃO
determina o estilo de uma sociedade. Michelle Dacosta/41313-SP
DIREÇÃO DE ARTE
Aprendemos a perceber o mundo, AMOAMO
damos início a nossa identidade e somos Telefone: (11) 947262237 ID 82*56481
introduzidos no processo de socialização. DIAGRAMAÇÃO
Mas hoje em dia esses padrões estão Magda Barkó
mudados, novas forma de encarar a vida CARICATURISTA 
estão presentes, os relacionamentos  Caio Rothje
já não são mais tradicionais, a criação REVISOR
dos lhos já não depende somente de Paulo Afonso de Castro
seus pais, a mulher avança a cada dia EDITORES
no mercado de trabalho, a tecnologia Michele Vitor, Flávia Ferreira de Freitas, Sandhra Cabral, Sylvio Montenegro, Luciana Brunca, Thiago Assunção, Domingos Crescente
invade nossas casas velozmente e nosso COLUNISTAS
estilo de vida é uma constante mutação. Ivanir Signorini, Barbara Mackenzie, Sylvio Montenegro, Nazir Mir Junior, Cléo Francisco, Karen Sternfeld, Daniela Viek, Fernando Sousa
Por essas e outras razões que a revista DIRETOR DE PUBLICIDADE
chegou pra você. Ela veio para desbravar Maurílio Macedo 
assuntos polêmicos e desmisti car DIRETOR DE MARKETING
tabus impostos pela sociedade. E com Fernando Bonini
grande carinho cada um da equipe ASSESSORIA DE IMPRENSA / COMUNICAÇÃO INTEGRADA
abraçou esse projeto com vontade e  Luciana Freitas
dedicação pensando em você! Por isso o CIRCULAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO (AUDITADA)
recebemos de braços abertos: BDO Brazil
Seja bem-vindo (a) a sua Nova Família!!! Rua Major Quedinho, 90 - Consolação
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PAIS E AVÓS ANTENADOS COM
AS NOVAS TENDÊNCIAS E

COMPORTAMENTOS DE

}FAMÍLIA. A REVISTA NOVA

FAMÍLIA TRILHA O CAMINHO!

Nova Família

5

ÍNDICE Cotidiano

Comportamento 26-27

10-13 Gentileza é questão
de educação
O papel dos avós
na criação dos netos Estilo de vida

14-16 28-29
gpointstudio . shutterstock
Oleg Kirillov . shutterstock Sou solteiro
e vou bem, obrigado!

18-20 O novo jeito de casar Família
Carreira e Família
60-61 32-33

Traição. Pode isso? Parente é serpente?
Não, nem sempre.

Especial Educação

22-25 34-36
Educação brasileira hxdbzxy . shutterstock Em pleno século XXI
não representa o aluno Rock and wasp . shutterstockSexo ainda é tabú?

direito

30-31 38-41
Adoção no Brasil Guarda compartilhada
ou não?

6 Nova Família www.revistanovafamilia.com.br

religião My Good Images . shutterstock

42-44

Religião e Família

trabalho Saúde

46-47 48-49

O caminho da felicidade Hábitos Saudáveis X Stress

lazer & Viagem

50-53 Dragon Images . shutterstock

As férias estão chegando!

TEcnologia Causa

54-55 56-57

Quando apresentar Projeto Família Pipa
as crianças à tecnologia?

opinião CRÔnica

58-59 62-65

Qual o limite entre prazer, Um bem humorado
religião, sentido e relato sobre encontros e
mercado?
desencontros digitais

Índice 7

}}CFEOAPEFR"LLFRLCDMMAALCEEEEEEOEIMEÍSOLRIIIAMVSMAAARÍINESMIILAPÉGSOAJOÉIAUDAANTPOTNLUONDAVO.RIBROGEOATÓIDILRNNMRZUVL.DIROSTSHACAOÉELOAESAIALMUVLVTTOMV.ANHAÁE.TI!O.RSI!ESM’REORTF.LTN.CNÍE.IARBOSEAATNDMÉSISOANMAMÊIÍMLSOANDINIOSAVODCHÃ:!AEISAOOS!

Nova Família

8 Nova Família www.revistanovafamilia.com.br

COLUNISTAS

Babi Mackenzie, educadora Fernando Sousa, jornalista
desde 86, fundadora da especialista em Tecnologia e
Teaching Company. Games.

Cléo Francisco, jornalista Karen Sternfeld, nutricionista
especialista em  pela New York University e
Health Coach pelo Integrative
Educação Sexual. Nutrition.

Daniela Viek, relações públicas, Nazir Mir Junior, advogado
consultora, coach, especialista atuante nos ramos do Direito
em Comunicação & Marketing. Civil, Direito Empresarial,
Apaixonada por viagens, pela Direito do Consumidor, Direito
vida, por conhecer novas de Família e Sucessões (Área
pessoas e culturas. Cível), Direito Penal, Direito
Administrativo, Direito Ambiental,
Virginia Piti, jornalista formada Direito Tributário e Direito
pela Universidade Metodista Financeiro (Direito Público).
numa época sem o santo
Google, quando a notícia era Sylvio Montenegro, jornalista
o mais importante. Cronista e radialista. Estudioso sobre
por natureza e solteira por as mais diversas formas de
crenças, especialista em
“detalhe do destino”, sua vida é realizações de celebrações
simples e por isso merece ser sociais e espirituais de
compartilhada. casamento e bodas, sem cunho
religioso ou civil.

Colunistas 9

Comportamento

Com a correria do dia a dia torna-se cada
vez mais comum ver os avós criando os
netos para que os lhos possam traba-
lhar. No entanto, é importante que al-
gumas regras sejam estabelecidas para
que cada um cumpra o seu papel

O PAPEL DOS
AVÓS NA CRIAÇÃO
DOS NETOS

MICHELE VITOR

Quem nunca ouviu a expressão de que ‘vó é mãe com açúcar’? Isso porque o papel dos avós sempre foi
mimar, proteger e fazer as vontades dos netos. Para a maioria das crianças e adolescentes os momentos
vividos ao lado dos avós sempre foram de alegria e muita diversão. E, para os adultos que tiveram essa
oportunidade, sempre cam boas lembranças e muito aprendizado.
No entanto, hoje em dia, esse contato com os avós não se resume apenas a visitas, nais de semana e
temporada de férias. Está cada vez mais intenso. Isso porque as mudanças sentidas na sociedade tam-
bém re etiram na rotina familiar.
Antes era muito comum que as mães cassem em casa cuidando da criação dos lhos e dos afazeres
domésticos. Mas, com toda a evolução da sociedade, as mulheres passaram e ter a oportunidade de
escolher suas pro ssões e o momento de constituir a própria família.
No entanto, por ter uma carreira e também ter a responsabilidade nanceira sobre a família, as mulheres
acabam não conseguindo dedicar tempo para a educação dos lhos. E, esse trabalho acaba cando a
cargos dos avós, que estão, cada dia mais, presentes na criação dos netos.
Mas, o que é uma ajuda para os pais, pode se tornar um problema na educação das crianças se as regras
não forem claras. Segundo o psicólogo e professor universitário, Walter Poltronieri, dependendo da dinâ-
mica da família a interferência dos avós pode trazer tanto benefícios quanto problemas.
Segundo o especialista, a convivência pode se tornar negativa quando os avós interferem nas decisões
dos pais, fazendo com que os lhos percam a referência do que deve ou não ser feito.
“Quando os pais impõem uma regra ou orientam que os lhos tenham determinada atitude, é importante
que os avós respeitem a decisão e, se não concordarem, conversem com seus lhos longe das crianças.
Os pais nunca devem ser questionados diante das crianças sobre as suas decisões”, a rma Poltronieri.

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Monkey Business Images . shutterstock

 Colo de Vó, sensação maior de aconchego.

“Os pais nunca devem ser questionados diante A IMPORTÂNCIA DO DIÁLOGO

Ddas crianças sobre as suas decisões” Quando as diferenças de opiniões surgirem o
e acordo com o especialista, outra situa- mais indicado a fazer é dialogar de forma clara e
ção muito comum quando os avós par- objetiva, segundo a psicóloga Neuzeli Aparecida
ticipam da educação dos netos é que Nicácio, especialista em terapia familiar.
exista um exagero nos mimos, fazendo
com que a criança cresça sem ter que en- “Naturalmente uma boa conversa sempre será
frentar limites. necessária. É preciso que que claro que quem
deve estabelecer as bases, diretrizes e limites em
“Mimar as crianças é uma atitude natural, princi- relação a criação e educação dos lhos são os
palmente quando se trata dos avós, que gostam pais. O papel dos avós se resume ao cuidado, ao
de agradar e de fazer as vontades dos netos. No mimo, a cumplicidade com os netos e a parceria
entanto, é preciso ter limites para que essa atitude com os lhos”, comenta Neuzeli.
não inter ra na criação e na formação. Crianças
muito mimadas, que não sabem respeitar regras Segundo a psicóloga, por mais que a situação pa-
e têm todas as suas vontades satisfeitas acabam reça simples, quando surgir qualquer divergência
se tornando adultos problemáticos que não con- sobre a educação das crianças é necessário que
seguem lidar com situações difíceis”, explica o os avós e os pais sentem para conversar e resol-
especialista. ver as diferenças, sempre longe das crianças.

“Mesmo que os avós não concordem, é importan-
te deixar claro que a educação dos lhos é res-
ponsabilidade dos pais e é preciso respeitar essa
regra”, ressalta Neuzeli.

Comportamento 11

Comportamento

“Crianças muito mimadas que não sabem respeitar
regras e têm todas as suas vontades satisfeitas
acabam se tornando adultos problemáticos que
não conseguem lidar com situações difíceis”

QUANDO COMEÇAM A VANTAGENS DE TER OS AVÓS
SURGIR OS PROBLEMAS POR PERTO

De acordo com Neuzeli, a presença dos avós na De acordo com o especialista Walter Poltronieri,

criação dos netos começa a apresentar proble- existem muito mais vantagens do que desvanta-

mas quando, de um lado, os pais terceirizam aos gens na relação de avós e netos. Para ele, alguns

avós a criação e educação dos lhos, deixando fatores justi cam e comprovam a importância da

toda a responsabilidade com eles. presença dos avós.

Normalmente quando isso ocorre começam os “É possível perceber que crianças que crescem
desentendimentos. De um lado os pais reclamam em contato com os avós se tornam adultos mais
que os lhos não os respeitam e não querem se-
guir as regras impostas por eles, dando atenção exíveis. Além disso, são os avós que reforçam as
somente às orientações dos avós. tradições familiares, contam histórias e ajudam a
formar a memória social das crianças”.

As desavenças também surgem quando, de outro Os avós podem sempre ser considerados como
lado, os avós querem assumir um papel que não ‘um colo amigo’. Agem como apoio quando os ne-
é seu, ou seja, interferem nos limites e regras im- tos se sentem sozinhos e têm alguma divergên-
postos e na educação que os pais querem para cia com os pais. São eles que consolam, orientam
os lhos, como se eles não tivessem competência e ajudam os netos a enxergar que mesmo uma
para isso. atitude mais rígida dos pais é apenas um sinal do
amor e do bem-estar que querem assegurar aos
“Dessa maneira acabam tirando a autoridade dos lhos.
pais e confundem a cabeça dos netos”, comenta
Neuzeli. “Muitas vezes os avós costumam ser considera-
dos um modelo a ser seguido e uma fonte de se-
É sempre importante que seja claro, tanto para os gurança emocional”, comenta Poltronieri.
avós quanto para os pais envolvidos, que os avós
não podem ser responsabilizados pela educação O papel dos avós no desenvolvimento das crian-
dos netos. Esse trabalho é intrasferível e cabe aos ças é tão importante que ajuda a formar a perso-
pais quando esses apresentam boa saúde física nalidade do cidadão. Essa relação acontece em
e mental. todos os lugares do mundo. Uma pesquisa elabo-
rada pela Universidade de Oxford, na Grã-Breta-
Mas, nenhuma dessas situações quer dizer que a nha, com mais de 1,5 mil crianças e adolescentes
convivência constante entre avós e netos não é de 11 a 16 anos, comprovou que crianças que ti-
saudável. veram os avós por perto cresceram mais felizes.

“É possível perceber que crianças que crescem Principalmente nos dias atuais que os pais traba-
em contato com os avós se tornam adultos mais lham fora de casa em período integral, a proximi-
dade com os avós é ainda mais bené ca e neces-
exíveis” sária.

O estudo mostrou também que os avós desem-
penham um papel extremamente importante em
fases turbulentas como a separação dos pais, pro-
porcionando conforto e estabilidade emocional.

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COMO FAZER AS CRIANÇAS O OUTRO LADO DA MOEDA:
VOLTAREM À ROTINA DA BENEFÍCIOS PARA OS AVÓS
CASA DOS PAIS
A convivência com os netos é uma troca de be-
Depois de longos períodos na casa dos avós, nefícios para muitos idosos. Algumas pesquisas
como em temporada de férias, pode ser mais apontam que os avós que tomam conta de seus
complicado fazer as crianças e adolescentes se netos apresentam uma maior probabilidade de
adaptarem as rotinas e regras impostas pelos pais. manterem-se sicamente ativos nos anos seguin-
tes.
Segundo a psicóloga Kareislla Medeiros, é preci-
so que as crianças aprendam aos poucos o que é Para a psicanalista infantil da comunidade médi-
permitido em cada lugar para que saibam distin- ca online Saluspot, Nedia Regina Prando, conviver
guir sua rotina no período de férias com os avós e com os netos é extremamente importante para
o restante do tempo em que passam cumprindo os avós. É como se eles tivessem uma segunda
outras tarefas, ainda que menos prazerosas. chance para criar, educar e curtir a geração se-
guinte. “Quando nos tornamos avós podemos
“Os pais precisam compreender que, se soube- aproveitar com maior liberdade e sem tantos me-
rem dosar, a convivência com os avós pode ser dos o relacionamento com as crianças, ou seja, as
muito construtiva para seus lhos. A chave é sem- di culdades e preocupações que tivemos ao cui-
pre o diálogo, pois é por meio dele que cada um dar dos lhos passam a ser responsabilidade de
consegue entender seu papel sem invadir o espa- outros”, comenta a psicóloga, que a rma ser nessa
ço do outro”, comenta a psicóloga. fase que os avós podem curtir e fazer com os ne-
tos tudo aquilo que gostariam de ter feito com os
“A convivência entre os netos é essencial e sau- lhos, mas não puderam.
dável. Quem não concorda que vó é mãe com
açúcar, não sabe quanto a doçura dessa relação
pode contribuir na formação de um cidadão”, con-
clui Kareislla.

MJTH . shutterstock

Cuidado, mimo e cumplicidade resumem bem o papel de avós com seus netos.

Comportamento 13

Solominviktor . shutterstock

Casamento tradicional perde espaço para modelos irreverentes de união.

O NOVO JEITO
DE CASAR
Cresce o número de casais que optam por morar juntos informalmente

MICHELE VITOR

Apesar de todas as mudanças da sociedade, muitas pessoas muitos casais optam apenas por morar juntos. E, entre os moti-
ainda carregam um ar romântico e sonham em construir uma vos, ganha destaque fugir da burocracia na hora de casar e de
família ao lado de alguém especial. Muitas mulheres ainda de- se separar, caso isso aconteça.
sejam realizar toda a tradição da cerimônia de casamento, o que
inclui, entrar na igreja, no sítio ou em um salão de festa toda Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geogra a e Estatística
vestida de branco e de braços dados com o pai. (IBGE), os casamentos duram em média 15 anos no país atu-
almente. E, de acordo com o psicólogo e terapeuta cognitivo-
Mas, as tradições nem sempre andam lado a lado com a mo- -comportamental, Anderson Martiniano de Souza, essa insta-
dernidade. Hoje em dia, a hora do ‘sim, eu aceito’ pode aconte- bilidade nos relacionamentos leva as pessoas a optarem por
cer de uma maneira bem mais informal e simples. Atualmente, casamentos informais na tentativa de gerar menos expectativa

14 Nova Família www.revistanovafamilia.com.br

sobre os familiares e, muitas vezes, sobre si mesmo. “Hoje, boa A IMPORTÂNCIA DE CUMPRIR
parte das relações são uniões consensuais sem registro em car- O ACORDO QUANDO A
tório ou bênçãos religiosas”, comenta o psicólogo. Para ele, a DECISÃO FOR MORAR JUNTO,
situação econômica do país também contribui para essa dimi- MAS SEM ABRIR MÃO DO
nuição da escolha pelo casamento tradicional. “Isso ocorre na CASAMENTO TRADICIONAL
tentativa de evitar despesas consideradas altas”, comenta.
Outro exemplo muito comum nos dias de hoje, é
Além disso, segundo o especialista, é possível observar uma que existem casais que decidem morar junto, mas
mudança no comportamento da população que considera o não abrem mão de planejar o casamento de for-
afeto mais importante do que as tradições e costumes. “No pas- ma tradicional. É uma maneira de ‘testar’ a convi-
sado, os casamentos tradicionais estavam associados, também, vência diária na mesma casa. Muitos casais optam
a garantias econômicas entre as famílias mais abastadas e eram por essa experiência para testar o respeito a indi-
fundamentados na dependência nanceira da mulher”, explica. vidualidade dentro do relacionamento, a cumplici-
dade, o companheirismo e a rotina de casal.
Com as mudanças dos dias atuais, que incluem a inserção da
mulher no mercado de trabalho, os vínculos de dependência No entanto, mesmo que a decisão seja juntar as
foram substituídos por um modelo mais pautado no afeto do escovas de dentes e somente depois planejar o
que na dependência. E, nesse caso, para algumas pessoas, a casamento é importante que nenhum dos dois se
qualidade da relação tornou-se mais importante do que a insti- permita cair em uma zona de conforto protelando
tuição casamento. esse objetivo. Segundo Anderson, a acomodação
é um processo natural e adaptativo do individuo.
“Nesse caso, para algumas pessoas, a
qualidade da relação tornou-se mais im- “É comum que as pessoas sempre procurem
portante do que a instituição casamento” ações facilitadoras que garantam a sobrevivência
e o bem-estar. Acomodar-se é uma condição evo-
Além das vantagens nanceiras e a redução da lutiva. O adiamento produz um alívio temporário
burocracia associada ao casamento formal, as porque nesse caso a pessoa acredita que tudo
pessoas que optam por uma união estável ou de- dará certo no nal. Quando se trata de uma rela-
cidem morar juntas garantem que esse modelo ção, os casais passam a aceitar uma condição de
de relacionamento está associado a partilha de acomodação por conta da informalidade na tenta-
sentimentos, ideais e projetos de vida comuns en- tiva de evitar esforços nanceiros ou burocráticos”,
tre as duas pessoas. explica.

De acordo com Anderson, os modelos familiares Mas, problemas no relacionamento podem surgir
atuais apresentam grande in uência no compor- quando apenas um dos envolvidos entra nessa
tamento dos jovens – o que favorece essa esco- sintonia da acomodação. Para o especialista, ao
lha. “Nos últimos anos, pudemos observar grandes analisar os casais utilizando a Terapia Cognitivo
mudanças nas estruturas das famílias, como ca- Comportamental (TCC) é possível perceber que
sos de separação, divórcio, união estável e homo- fatores emocionais e comportamentais são ca-
afetiva. Todos esses fatores re etem nas decisões pazes de intervir negativamente na qualidade das
e na percepção que o indivíduo possui sobre os relações, porém muitas vezes as ideias e expecta-
relacionamentos. As experiências familiares que tivas sobre os parceiros estão entre os principais
adquiriu, bem como as afetivas que viveu moldam motivos de con itos entre o casal.
essas escolhas”, a rma o especialista.
“Esses pensamentos não são racionalmente ava-
liados pelos parceiros e tendem a ser aceitos
como algo razoável, in uenciando o equilíbrio
emocional e re etindo diretamente no relaciona-
mento. Dessa forma, os dois passam a interpretar
de maneira equivocada seus sentimentos e o real
signi cado daquilo que querem comunicar um ao
outro. Seus sentimentos e expectativas se tornam
vagos. O resultado disso é o afastamento e o sen-
timento de frustração”, a rma o psicólogo.

Comportamento 15

Comportamento

O ‘CASAMENTO MODERNO’ Mesmo assim, especialistas aconselham que es-
AOS OLHOS DA LEI ses casais façam um contrato com dados con-
cretos e seguros para evitar problemas no futuro,
Com o casamento tradicional os dois envolvidos principalmente em casos de partilha de bens.
têm de forma clara quais são seus direitos em
caso de separação. Mas, o que muitas pessoas CURIOSIDADE
ainda têm dúvidas é quando esse relacionamen-
to não apresenta contratos. Segundo Censo 2010, realizado pelo
IBGE, a proporção de pessoas divorcia-
Segundo a advogada, Xenia Gonçalves Santos, a das passou de 1,8% no ano 2000 para
união informal de casais passou a ser protegida 3,1% em 2010. Os estados que mais se
por lei com a Constituição de 1988, que garante destacaram em número de divórcios são
os mesmos direitos do casamento civil, com re- Mato Grosso, Rio de Janeiro e Distrito Fe-
gime de comunhão parcial de bens. “Bens como deral. Já as uniões consensuais passaram
imóveis e automóveis adquiridos durante o rela- de 28,6% em 2000 para 36,4% em 2010,
cionamento passam a ser considerados objetos com crescimento mais signi cativo no
de colaboração mútua, podendo ser partilhados Norte e Nordeste.
igualmente entre os dois”, explica.

O que importa é a felicidade do casal.

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16 Nova Família www.revistanovafamilia.com.br

} A LEITPUURBALTICRITAÁNRSIOFOSRMA,
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FAMÍLIA TRILHA O CAMINHO!

Nova Família

17

IIya Andriyanov . shutterstock

Manter uma boa comunicação em casa e no trabalho é o diferencial para conciliar carreira e maternidade.

CARREIRA
& FAMILIA

A ARTE DE CONCILIAR O DIA A DIA

MICHELE VITOR

Todas as mulheres têm momentos de dúvidas sobre como conseguir manter de
forma saudável a vida pessoal e pro ssional. Apesar de trabalhoso, é possível sim
ter sucesso nas duas áreas. Especialista explica como

Uma das mais evidentes mudanças na socieda- Mas, nem todas têm facilidade em lidar com o su-
de nos últimos anos foi a entrada da mulher no cesso pro ssional, que muitas vezes exige muita
mercado de trabalho. As mulheres, que antes só dedicação, horas fora de casa e até adiamento de
podiam se dedicar a casa, aos maridos e aos lhos, planos pessoais como a maternidade – fator que
ganharam o mundo e passaram a ser respeitadas pesa muito para a maioria das mulheres.
como pro ssionais. Muitas, hoje em dia, assumem Além da cobrança muitas vezes indireta da socie-
a liderança de empresas de todos os tamanhos dade, existe uma cobrança interna que as mulheres
e também em cargos que chamam a atenção de acabam exercendo sobre si mesmas. Isso ocorre
todo o mundo, como a presidenta do país, Dilma muito quando estão em relacionamentos sérios e
Roussef, e a presidente da Petrobrás, Graças Fos- decidem casar ou quando o relógio biológico come-
ter, por exemplo. ça a bater indicando o momento de se tornar mãe.

18 Nova Família www.revistanovafamilia.com.br

Costuma ser nessa hora que surge a dúvida entre se gar a pro ssão para cuidar do lho ou adiar a ma-
manter como pro ssional de sucesso ou abrir mão de ternidade e se ausentar um pouco do dia a dia das
toda a independência conquistada para se tornar mãe. crianças para investir na carreira, sempre é possí-
Nenhuma das escolhas é errada, desde que seja vel mudar.Além disso, é possível sim aliar a vida
realmente o que a mulher deseja. Adiar o sonho da pessoal com a pro ssional de uma forma que não
maternidade para garantir o sucesso pro ssional cause traumas à própria mulher e à sua família,
pode ser bom, desde que a escolha seja feita com principalmente nos lhos que ainda são crianças.
certeza. Bem, como quando a decisão é colocar A empresária e executiva de carreira, Madalena
a maternidade em primeiro lugar, se ausentando Feliciano é um dos exemplos a serem seguidos
de todo o cenário pro ssional. Essa opção pode pelas mulheres que não desejam abrir mão nem
ser bené ca, desde que o desejo seja verdadei- da carreira, nem da maternidade. Diretora de pro-
ro. Pois, normalmente, mulheres que optam por jetos da empresa Outliers Careers e presidente do
essa alternativa, mesmo sentindo que a pro ssão Instituto Pro ssional de Coaching, a executiva é
é importante, passam a ser vulneráveis a vários mãe de cinco lhos.
problemas, inclusive de saúde como a depressão. Especialista no assunto, Madalena conta a Nova
Mas, é importante saber que não há caminho sem Família como conseguir obter sucesso na vida
volta. Mesmo que no momento a decisão seja lar- pessoal e pro ssional.

Nova Família: Qual o papel da mulher Nova Família: Ainda existe uma pressão Nova Família: E os lhos? Eles compre-
hoje em dia no mercado de trabalho? da sociedade (e dos maridos) para que endem quando a mãe precisa se au-
as mulheres deixem suas pro ssões de sentar ou não pode estar presente em
Madalena: As mulheres passaram a ocu- lado para se dedicar a família? ‘reuniões escolares’, por exemplo?
par cargos que antigamente eram con-
siderados masculinos. No setor público, Madalena: Existe sim, mas é uma pres- Madalena: Os lhos sempre cobram. Isso
por exemplo, as mulheres são a maioria e são cada vez menor. Tanto as mulheres faz parte. Obviamente que é importante
ocupam quase 60% das vagas. Elas che- quanto suas famílias (pai, mãe, marido e para eles que nós estejamos presentes,
garam a 2,9 milhões no mercado formal, lhos) percebem que não é preciso dei- porém é necessário que saibam que isso
que inclui indústrias, construção civil, co- xar o trabalho de lado para se dedicarem nem sempre é possível. Portanto, o que
mércio, serviços e agropecuária. para a família. Hoje é muito mais comum vale nesse caso é a sinceridade. É pre-
encontrarmos maridos que apoiam as ciso dizer aos lhos o motivo pelo qual
Nova Família: O que leva as mulheres a suas mulheres do que aqueles que as estará ausente, ressaltando a importân-
se sentirem culpadas e divididas entre desencorajam. cia deles em sua vida e reforçando que
o trabalho e a família? sempre que possível estará presente.
Nova Família: O que as mulheres preci-
Madalena: Querendo ou não, crescemos sam fazer para conciliar a carreira com Nova família: E o relacionamento com
em uma geração a qual nos acostuma- a maternidade? o marido como ca quando a agenda
mos a ver as mulheres cuidando apenas pro ssional está cheia?
da casa. Nossos pais foram frutos de uma Madalena: Não existe uma receita de
geração pós guerra, totalmente diferen- bolo para isso. Cada mulher encontra Madalena: Assim como os lhos, os ma-
te da nossa. E, a inserção da mulher no uma melhor forma de conciliar as suas ridos precisam e merecem atenção, por
mercado de trabalho é algo relativamen- responsabilidades de mãe com as pro- isso é importante aproveitar ao máximo
te novo. E, como tudo o que é novo vem ssionais. Para que essa decisão não se os momentos a dois. Vale fazer progra-
acompanhado de insegurança, é normal torne um dilema o ideal é programar o mas diferentes e reservar um tempo para
que a mulher se sinta assim no começo, momento ideal. Um bom planejamento, namorar, isso fará com que o marido se
mas com o passar do tempo ela começa com certeza, irá ajudar e muito. Alguns sinta seguro e amado.
a entender que pode sim ser uma ótima exemplos importantes que podem fazer
mãe sem deixar de conquistar bons car- toda a diferença na arte de conciliar car-
gos e se dedicar a carreira. reira com maternidade incluem: a esco-
lha da babá e uma escola mais próxima,
assim será possível ter mais tempo com
o lho e mais qualidade de vida. Além
disso, é indispensável aproveitar o tempo
com o lho da melhor maneira possível,
lembrando sempre que quantidade não
signi ca qualidade.

Comportamento 19

Comportamento

Nova Família: E quando o trabalho in- o seu tempo entre as duas prioridades. Nova Família: O que vocês fez para
clui viagens constantes ou longas? Não cabe julgar o que é certo ou errado. conseguir consolidar sua carreira sem
Como ca o relacionamento com os Se a mulher se sente completa apenas abrir mão de ser mãe?
com tarefas domésticas e cuidando da
lhos? família, é preciso respeitar sua escolha. O Madalena: Decidi desde muito nova que
importante é se sentir plena e feliz. queria ser mãe e não abriria mão da mi-
Madalena: Deixar claro a importância do nha carreira. Por isso me organizei para
trabalho e o quanto faz com que se sinta Nova Família: E quando essa escolha receber meus lhos e investir nos meus
realizada ajuda muito nesses períodos de acaba gerando um desequilíbrio ainda estudos. Planejamento, foco, motivação
ausência. A boa comunicação é o grande maior entre o casal? O que fazer? e a certeza de que chegaria lá nunca
diferencial nessa jornada. me faltaram. Essas características foram
Madalena: Optar por uma ajuda que ve- essenciais para que eu pudesse obter o
Nova Família: O que fazer quando es- nha de fora pode ser uma boa ideia (tera- sucesso de hoje. Posso a rmar com pro-
ses compromissos pro ssionais aca- pia de casal, coaching etc). Vale mostrar priedade que com amor, dedicação, gar-
bam resultando em desentendimentos que existem outros casais que passaram ra, energia e com um bom planejamento
com o marido? por isso, superaram e estão felizes. essa tarefa será realizada com sucesso e
trará benefícios para todos os envolvidos.
Madalena: A melhor arma é a conversa. Nova Família: Quais são os principais
Ainda que haja acordo é importante não problemas que podem surgir após a Nova Família: Como você fez para con-
abrir mão dos próprios sonhos. Um diálo- mulher decidir abrir mão da carreira? seguir isso? Quais dicas você dá para as
go aberto e sincero bene ciará o enten- pro ssionais que também são mães?
dimento e a compreensão dos dois. Madalena: Segundo uma pesquisa pu-
blicada pela Universidade Federal do Madalena: Primeiro tive a sorte de ter um
Nova Família: Quando chega a hora de Rio de Janeiro (UFRJ), após o nascimento marido que me apoiou em todos os mo-
escolher entre vida pro ssional e pes- dos seus lhos, algumas mães começam mentos. Além disso, ele sempre foi meu
soal: Isso é saudável? a se sentir sozinhas e sobrecarregadas braço direito. Para estar motivada todos
com as tarefas domésticas. Isso pode os dias para o trabalho escolhi a área que
Madalena: Não, uma escolha desse por- acarretar uma piora na autoestima, com sempre fui apaixonada. Organizei minha
te nunca será saudável. Se a mulher opta sentimentos de desvalorização, culpa, agenda pessoal e pro ssional e sempre
apenas pela vida familiar ela corre gran- dependência nanceira e emocional, so- fui criteriosa em manter minha rotina de
de chance de se arrepender depois. O lidão e, em casos mais sérios, depressão. trabalho.
mesmo pode acontecer quando a esco-
lha for pelo trabalho. É preciso deixar que Nova Família: E a sua experiência? Minhas dicas são: trabalhe no que você
as coisas ocorram naturalmente, sem Quantos lhos você tem? Qual a idade ama, planeje, tenha foco, mas acima de
forçar uma escolha. deles? tudo, tenha atitude. Não leve trabalho
para casa. Aproveite sempre o tempo
Nova Família: Algumas mulheres deci- Madalena: Felizmente fui presenteada no lar para cuidar da família e mostre o
dem abrir mão da vida pro ssional para com cinco lindos lhos. São duas meni- quanto são importantes em sua vida!
dedicar todo o tempo para o marido e nas, uma de 23 anos e uma de oito anos
os lhos. Essa é uma boa escolha? de idade, e mais três meninos de dez, 13
e 18 anos. Além deles, tenho uma netinha
Madalena: Sempre digo que não existe de cinco anos.
certo e errado, mas sim o que é melhor
para cada um. Existem mulheres que
depois do casamento e maternidade de-
cidem dedicar-se inteiramente a isso, as-
sim como existem aquelas que dividem

UMA NOVA REVISTA. UMA NOVA FAMÍLIA

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21

Especial

EDUCAÇÃO BRASILEIRA
NÃO REPRESENTA O
ALUNO

“E FLÁVIA FERREIRA DE FREITAS “
nsinar não é transferir
conhecimento, mas criar as
possibilidades para a sua própria
produção ou a sua construção

A frase proferida por Paulo Freire, ícone da edu- a Europa. A educação pública e de massa é um
cação no Brasil, ainda é utilizada para designar fenômeno relativamente novo em nossa História”,
o ensino dos sonhos, que constrói sua base nas explicou Fabiano. Para o pesquisador, a política
potencialidades que os alunos trazem do mundo educacional remete a Era Vargas e, por conse-
externo, encarando a escola como um espaço de guinte, a um exercício de forjar um povo e uma
troca desses aprendizados e não apenas de uma nação. “A preocupação de Vargas nesse sentido
instrução engessada. Mesmo lutando por um en- não era apenas administrar o Brasil, mas, sobretu-
sino de qualidade, professores ainda se deparam do, produzir um Brasil. Assim dá-se início uma sé-
com problemas antigos, como a permanência na rie de intervenções de padronização dos livros e
escola. conteúdos e o desa o de como levar a educação
para todos e com que qualidade esse processo
Como fazer com que o garoto e a garota quem na educacional se daria é imposto”.
escola e se interessem por ela? A pergunta suscita
inúmeros questionamentos e levam os pro ssio- Anísio Teixeira e Fernando Azevedo ao pensar
nais e pesquisadores a se perguntarem quais ca- a “Escola Nova” tinham esse desa o em mente,
minhos seguir. Pesquisador e doutor em Antropo- questão que Fabiano eleva ao patamar das segre-
logia Cultural, Fabiano Monteiro, fez uma imersão gações. “Os limites e melindres dos investimentos
nessa questão durante a pesquisa de doutorado, em educação, penso eu, começam com o proble-
quando lançou um olhar sobre os discursos raciais ma da suspeita em relação às capacidades morais
presentes nos livros didáticos da década de 1950 e intelectuais do brasileiro, por parte de nossos
comparados aos lançados hoje. governantes e, principalmente, nossas elites ditas
eruditas”. 
“Em linhas gerais posso dizer que os professores
acham que a educação brasileira está em crise. O pesquisador destaca que: “Enquanto a educa-
Isso não é um fato novo. Desde sempre a ação ção nos países desenvolvidos era uma questão de
de educar no Brasil foi feita tendo como espelho reprodução do sistema capitalista e de desenvol-

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A educação independe exclusivamente do professor.

vimento social, educar as massas no Bra- incomoda muito os professores e direto-
sil era (e talvez ainda seja) uma ação tida res que têm uma visão de mundo mais
como “desperdício” e esse é um ponto conservadora.
nevrálgico comparado a outros países”. 
“Eles se queixam, cam esperando e não
Com o ímpeto democrático pós-ditadura buscam saída para incluir todo mundo
militar de niu-se que era necessário pro- num projeto educacional que possa ser
ver educação para todos, dentre os de- exitoso. Não contam com essas pessoas
fensores desse ideal estava Paulo Freire, (alunos) para melhorar ou desenvolver
Darcy Ribeiro, Brizola, Cristóvão Buarque a sociedade. Gostariam, na verdade, de
e D. Ruth Cardoso. O acesso à educação, deixá-las à margem”, conta. “No Brasil
além de ponto pací co, se transformou vige ainda a lógica de que a escola de-
em uma espécie de magia. Era comum veria ser um espaço reservado aos me-
pensar que, se todos estudassem, o Bra- ninos estudiosos. A escola é um lugar de
sil e o mundo seriam lugares melhores.  todos, a despeito do desempenho. É um
direito. É uma experiência pesadíssima
A suspeita em relação ao “povo” e sua na cultura ocidental moderna. Nossos
aptidão à escola ainda não desapareceu. gostos musicais, nossos valores, nossos
O estudo realizado por Fabiano mostrou primeiros romances acontecem na es-
que os diretores e professores ltram cola”.
os alunos que julgam “menos piores” e
investem neles, na expectativa que os Ao longo dos anos, as tecnologias avan-
demais, simplesmente saiam da esco- çaram, mas as políticas educacionais
la. O problema é que da era Fernando caram estagnadas. O ensino é quase
Henrique Cardoso pra cá isso não ocorre principesco, erudito e nada atraente. “É
mais, porque os programas sociais são impressionante o glamour que a cultura
vinculados à permanência escolar e isso de massa exerce sobre os alunos. Quan-

Especial 23

Especial

do eu dava aula para o ensino médio todos aulas de artes cênicas, artes industriais,
os garotos queriam jogar bola, ser rapper aprendiam a cozinhar, tinham programas
ou tra cante. As meninas queriam ser mo- de representação e participação política,
delo, mulher de pagodeiro ou mulher de participação no calendário de discussões
tra cante. Nada disso passa pela vida es- de conteúdos, entre outras coisas.
colar... Não há mais sonho com a escola”.
“Não era só agradável car ali, mas o es-
Em acréscimo, a mestre em literatura e tar ali era instrumentalizado na produção
mestranda em educação, Isabel Nave- de conhecimentos práticos. Mas falo dos
ga, que tem como objeto de estudo as anos 1980, de uma escola com poucos
manifestações populares que podem ser alunos e professores arejados. Eram ou-
utilizadas como forma de aprendizado, tros tempos... Tenho saudades da escola
a rma que a escola deveria incluir as po- onde estudei, e não das escolas onde
tencialidades no processo educacional. lecionei. Não falo isso com orgulho, falo
“A criança tem uma linguagem própria com pesar”.    
e percebi durante os meus estudos que
a escola tradicional não faz uso dessas DADOS MUNDIAIS
manifestações durante o processo de
aprendizado. Eles ignoram o conheci- O engessamento do ensino, de acordo
mento que esse aluno traz consigo”. com Isabel, é um dos quesitos que ex-
plica o mau desempenho do Brasil em
Ambos os pesquisadores acreditam que pesquisas que traçam o ranking de edu-
ainda exista ambientes propícios para o cação. O Relatório de Desenvolvimento
desenvolvimento completo do aluno, Humano, divulgado este ano pela Orga-
os quais são caros ou inacessíveis para nização das Nações Unidas (ONU), infor-
algumas camadas da sociedade. Fabia- ma que o Brasil está abaixo da média da
no conta que estudou em escolas com América Latina em educação e expecta-
projetos pedagógicos muito bem ela- tiva de vida. O estudo do orgão calcula o
borados, sobretudo entre a 4ª e 8ª série Índice de Desenvolvimento Humano dos
(atual 5º e 9º ano). Era uma escola em países com base em indicadores de edu-
tempo integral, na qual os alunos tinham cação, saúde e renda.

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De acordo com a pesquisa, o Brasil avan- Levantamento executado pela Organi- 13 milhões de pessoas, ainda não sabe
çou uma posição no ranking mundial, zação para a Cooperação e Desenvolvi- ler nem escrever.
passando do 80º lugar em 2012 (IDH de mento Econômico (OCDE) em 32 nações,
0,742) para o 79º em 2013 (IDH 0,744) no no ano de 2013, em 1070 escolas, com Em artigo, o mestre em liderança e ad-
ranking do desenvolvimento humano. aproximadamente de 14,3 mil professores ministrador Rodnei Vecchia justi ca que
Apesar da melhora no ranking, os dados e 1,1 mil diretores, indicou que no Brasil o estupendo desenvolvimento coreano
da ONU não revelam avanço signi cati- 20% das horas dos docentes em classe é ocorreu, principalmente, devido a inves-
vo em educação e expectativa de vida. A desperdiçada com indisciplina, enquanto timentos e incentivos maciços do Estado
média de estudo na América Latina é de a média mundial é de 13%. Os docentes em sistemas educacionais públicos de
7,9 anos e no Brasil, desde 2010, 7,2 anos. brasileiros gastam também mais 12% das ensino fundamental e médio (carga ho-
Estudos econômicos dão conta que cada horas em sala de aula para resolver afa- rária de mais de 40 horas semanais). “As
ano de estudo escolar acrescenta 10% na zeres administrativos, sobrando somente salas de aula são adequadas ao ensino,
produtividade de um trabalhador. Não é 68% da carga horária para atividades de equipadas com o que há de mais avan-
por acaso que na maioria dos países eu- ensino e aprendizagem. çado em tecnologia, os professores são
ropeus, assim como nos EUA, no Japão e muito bem preparados e remunerados.
na Coréia do Sul há um alto nível de es- A maioria das escolas públicas é pou- Mais de 66% dos gastos com pesquisas
colaridade, que beira 12 anos de estudo. co equipada: 0,6% têm laboratório de são nanciados pelo setor privado, por
ciências; 15% têm biblioteca e sala de meio de incentivos scais. A gestão dos
O vice-secretário-geral da ONU, Jan informática; 14% têm somente uma sala recursos é e ciente, ou seja, criou-se um
Eliasson, destacou durante discurso de de aula em sua maior parte nas regiões ciclo virtuoso que produz continuamente
abertura na Primeira Iniciativa Global pela Norte e Nordeste; e apenas 44% têm in- resultados auspiciosos”.
Educação, realizada no ultimo mês, que fraestrutura básica como água e energia.
apesar dos avanços no número de crian- Sem citar arremedos de escolas públicas Foi esse processo de gestão na área
ças na escola, ainda há 58 milhões que que sequer possuem vagas para novos educacional, entre outras medidas to-
estão fora das salas de aula em todo o alunos e cujas salas de ensino nem ao madas pelo poder público, que trans-
mundo e 250 milhões de crianças não menos têm cadeiras su cientes. formou a paupérrima Coréia do Sul da
sabem ler. “A educação de qualidade década de 60 em um país rico 50 anos
é mais do que um ponto de entrada no Ao sentirem-se desestimulados, alunos depois. Nesse mesmo período, o ora
mercado de trabalho, é a base para a re- abandonam as escolas: 24% não con- subdesenvolvido Brasil da década de
alização pessoal, igualdade de gênero, cluem o ensino fundamental e 49% o en- 1950 surge em 2010 como um país ainda
coesão social, desenvolvimento susten- sino médio. A evasão escolar entre jovens em desenvolvimento.
tável, crescimento econômico e cidada- de 15 a 17 anos beira os inaceitáveis 16%.
nia global responsável”, disse ele.
Na década de 1960 o Brasil e a Coréia do
Sul eram países subdesenvolvidos. Mas
em 2011 a renda per capita coreana re-
presentava o triplo da brasileira. A Coréia
praticamente erradicou o analfabetismo,
enquanto, dados da Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios (Pnad), de
2013, mostram que 8,3% dos brasileiros
com mais de 15 anos, uma multidão de

Especial 25

cotidiano

GENTILEZA É

QUESTÃO DE EDUCAÇÃO

SANDHRA CABRAL

As boas maneiras, delicadeza e atenção para com outro, além de
garantirem o bom convívio em sociedade,

deixam claro o grau de educação de um povo.

S egurar a porta aberta para alguém, dar pas- “O objetivo da ABQV é motivar e inspirar as pesso-
sagem a outros veículos no trânsito, ceder as para que elas possam transformar nossa socie-
lugar aos idosos ou gestantes em trans- dade em um lugar melhor para se viver, através da
portes públicos. Estas são algumas regras prática diária da gentileza nos diferentes ambien-
básicas de convivência em grupo, das quais tes sociais como família, empresas, comunidades
todos gostam, mas que estão desaparecendo ra- e sociedade em geral. A ideia é a de se discutir e
pidamente das nossas vidas. estimular a importância de um retorno a valores
universais como amabilidades e gentilezas”, reve-
Para especialistas, o sumiço paulatino dos gestos la Samia Aguiar Brandão Simurro, Vice-Presidente
gentis para com o próximo transforma as relações da Entidade.
humanas em contatos frios, hostis e, por vezes,
agressivos. Identi car as causas da perda da gentileza em um
mundo globalizado, que prega por mais educa-
“A gentileza é a prática de bom convívio social, ção, não é tarefa fácil.
portanto, sem gentileza as relações se deterioram
e os con itos se multiplicam, podendo mesmo “Há um conjunto de fatores que contribuem para a
chegar a processos violentos. É preciso que se desvalorização da gentileza. Um deles é a objeti-
entenda que a prática da gentileza, além de edu- cação do Homem e seu paralelo: a humanização
cação, é uma forma de organização da socieda- dos objetos. Como exemplo, basta ver os comer-
de”, adverte Suely Buriasco, Mediadora de Con i- ciais de TV valorizando o “ter” em detrimento do
tos, Educadora e Escritora. “ser”. Outro fator é a velocidade, a pressa, o exces-
so de tarefas que as pessoas precisam dar conta
A carência dessa virtude preocupa psicólogos e no dia a dia. Parar para cumprimentar, dar a vez,
educadores há tempos: em 1996, a gentileza ga- ajudar a carregar pacotes, tudo isso toma tempo,
nhou um dia mundial, instituído em Tokyo, no Ja- um tempo que não temos, por isso a tendência é
pão, comemorado sempre em 13 de novembro. não investir esse tempo nessas gentilezas que po-
deriam nos atrasar. Só que não percebemos que
Aqui no Brasil, o movimento pela gentileza  é re- o atraso passa a ser na qualidade das relações”,
presentado, desde então, pela Associação Brasi- explica Marcos Méier, Mestre em Educação, Psi-
leira de Qualidade de Vida (ABQV). cólogo, Escritor e Palestrante.

Não há, contudo, como falar de gentileza sem fa-
lar do ambiente familiar. Segundo Gabriela Cosen-
dey, Psicóloga Clínica, o comportamento do indi-
víduo revela muito sobre suas origens e a forma
como foi criado. “A gentileza é um exemplo dos
valores que são transmitidos desde cedo pelos
pais e que se espera que sigam com as pessoas
ao longo de suas vidas”, enfatiza Cosendey.

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Como diz o ditado, “gentileza gera gentileza”. MNStudio . shutterstock

Samia Aguiar Brandão Simurro, Vice-Presidente da Associação Neste processo, é importantíssimo frisar que o mais importante
Brasileira de Qualidade de Vida, acredita que o grande proble- no ensinamento da gentileza a uma criança é o exemplo. Pais
ma da sociedade atual é a falta de solidariedade. “Enquanto so- gentis estão sempre ensinando a criança a ser também gentis,
ciedade, temos cada vez mais problemas que são globais e de mas infelizmente o contrário também acontece.
todos. Temos os desa os ambientais, a falta de recursos que
exigem soluções conjuntas e solidárias para a sustentabilidade Além da educação essencial e insubstituível que se oferece em
do homem e do planeta. É preciso repensar posturas individu- casa, também o Estado tem sua parcela na reforma urgente em
alistas para que possamos criar um mundo genuinamente hos- prol da gentileza, a começar pela valorização do professor com
pitaleiro para as próximas gerações onde os valores essenciais ações reais. Na avaliação de Méier, de nada adianta a rmar que
possam ser respeitados e os fracos possam ser apoiados e a a Educação é prioridade e deixar o professor sem apoio, sem
civilidade seja preservada”, sentencia. salário digno e esperar que ele faça o que a família não está
fazendo.
GENTILEZA DE PAIS
PARA FILHOS Antigamente as crianças já chegavam à escola com os bons
modos a ados, já que esta é tarefa dos pais. Contudo, atual-
Ser gentil é, sim, questão de educação e não apenas daquela mente, se o professor não lhes ensinar essas virtudes, as crian-
que se aprende na escola, mas principalmente daquela que re- ças terão di culdades nas relações sociais por não compreen-
cebemos em casa, dos nossos pais e parentes mais próximos. derem os mecanismos de respeito ao outro. A gentileza, que
seria a complementação disso, ca ainda mais rara.
A redução da gentileza entre as pessoas, de acordo com Mar-
cos Méier, Mestre em Educação, pode estar centrada no que ele Por esse e outros motivos, os professores precisam de forma-
chama de endeusamento da infância, provocado pelos genitores ção continuada de qualidade. A psicologia que aprenderam em
da criança. seus cursos de licenciatura ou no curso de pedagogia, não foi
su ciente. “Ou se investe na educação de forma séria ou va-
Segundo ele, as crianças são excessivamente valorizadas, pelos mos perceber, talvez tarde demais, que será quase impossível
pais, quanto aos seus desejos egoístas e passam a ser umbigo- viver num país que não respeita os idosos, as pessoas com de-
centradas. “Elas querem comidas especiais, querem ser imedia- ciência ou qualquer outra pessoa considerada diferente. Além
tamente atendidas, não sabem ouvir “nãos” e tudo isso as faz se disso, a lei do umbigocentrismo vai continuar criando pessoas
sentir tão importantes que as outras pessoas, incluindo adultos que não respeitam regras de trânsito, normas de atendimento
e idosos, nada valem. Assim, esse clima de “tudo pra mim” se ao público, ou regras sociais. A falta de gentileza é só a ponta do
opõe a qualquer ato de gentileza, pois a gentileza é a manifes- iceberg”, destaca o educador.
tação visível do quando reconheço o valor do outro e o quanto
reconhecemos isso”, avalia Méier. A falha é multifatorial e a sociedade precisa acordar para agir
antes que seja tarde. E Marcos Méier adverte: “Os sintomas de
Para reverter o processo e resgatar a gentileza é preciso come- uma sociedade doente já estão surgindo: bullying, bater em
çar cedo, ensinando a criança a brincar sozinha, a m de que ela professor, matar para roubar, violência gratuita e tantas outras”.
saiba o que fazer quando alguém lhe pedir que aguarde pela
satisfação de seu desejo. “Isso é o início da valorização do ou-
tro”, acrescenta o especialista.

Cotidiano 27

estilo de vida

Ser um quarentão solteiro não signi ca abrir mão de um relacionamento.Belinka . shutterstock

TENHO 40 ANOS, SOU
SOLTEIRO E VOU BEM,

OBRIGADO!

THIAGO ASSUNÇÃO

Estar solteiro não é exclusividade dos mais novos. Desde que a separação deixou
de ser tabu, principalmente para as mulheres, encontrar homens mais velhos
solteiros, divorciados ou separados é cada vez mais comum.
E há quem faz desse estado civil seu estilo de vida!

Para algumas pessoas estar solteiro é uma fase, uma situação vida, mesmo que já tenham passado dos 40 anos. Os quaren-
aonde ela vai encontrar-se consigo mesmo para retomar sua tões solteiros e convictos de seu estado civil são a prova disso!
vida, enquanto para outras “It’s gonna be legendary... wait for it!
Legendary!”. Não são necessariamente pessoas que temem construir uma
família, mas que não criam tantas expectativas em relação
Assim como o famoso personagem Barney Stinson, do seriado a isso. São namoradores, pegadores e, de certo modo, muito
norte-americano “How I Met Your Mother”, existem pessoas que cobiçados. Dentro deste per l, você consegue lembrar-se de
adoram car solteiras, sem jamais comprometer-se. E não ape- algum ator famoso de Hollywood que, apesar de ter cedido ao
nas viver um tempinho solteiros, mas fazerem disso um estilo de casamento, aproxima-se desse estilo de vida do Barney?

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George Clooney foi por anos um dos quarentões e solteiros Marcelo diz que um dos fatores de estar solteiro também parte
mais desejados. Existem os solteiros que gostam dessa liberda- delas. “Hoje as mulheres estão independentes nanceiramen-
de, assim como os que curtem o momento antes de se “amar- te, sabem o que querem. Até gosto dessa liberdade, mas gosto
rar” novamente. de namorar também. O que me incomoda é a possibilidade de
conviver a dois por muito tempo”, completa.
SOLTEIRO, PERO NO MUCHO
Cada pessoa interpreta suas experiências de forma diferente. Até que encontre alguém que entenda e aceite viver dessa
O que já foi bom antes, pode não ser tão bom depois. Não ter forma, Marcelo continuará ligado ao seu universo do solteiro.
obtido sucesso no casamento pode ser traumatizante para uns, “Posso amar uma mulher e ir para casa dormir. Sem cobranças.
enquanto que para outros pode servir como uma experiência a E isso não é imaturidade, pelo contrário, é uma reinterpretação
ser aprimorada no futuro. da vida a dois. Vivo minha liberdade plena, me respeito e vou até
“Casar é bom, é a convivência que torna o relacionamento difícil. o meu limite, que no caso é até a porta da igreja!”, naliza.
Acho que todos deveriam experimentar pelo menos uma vez na
vida, já que a vida de solteiro também nem sempre é boa”, é o O solteiro convicto de sua escolha não precisa necessariamente
que diz o vendedor de 50 anos, Manoel Viana. Ele foi casado por nunca ter experimentado um relacionamento a dois, basta ter
16 anos, teve dois lhos, mas está solteiro há um bom tempo. passado por ele e decidido viver de outra forma. E como toda
“Quando me casei, pensava que conviver a dois seria mais fácil, escolha, elas sempre têm opções.
mas não é. Hoje, eu me sinto muito bem solteiro”, completa.
De acordo com o terapeuta comportamental, Carlos Esteves,
Neste caso, estar solteiro está sendo uma opção para reavaliar ser um quarentão solteiro não signi ca abrir mão de relaciona-
sua vida, mas isso não quer dizer que ele está morto. “Saio todo mento, pois eles conseguem equilibrar sua vida pessoal com
nal de semana, conheço muitas mulheres. Com algumas eu suas relações, de curto a médio prazo.
troco telefone, com outras ca apenas naquele encontro”.
“Em termos práticos, estes relacionamentos uem naturalmen-
É praticamente o mesmo caso do empresário de 40 anos, Mar- te. O casal compartilha algumas noites juntos, mas vive separa-
celo do Valle. “Eu casei em razão da gravidez. Eu tinha 24 anos do. O que governa, em geral, suas escolhas são as consequên-
e não planejava isso. Gostei bastante dela e foi bom durante um cias de curto prazo: os solteirões não priorizam o longo prazo,
tempo, mas acho que faltou maturidade para o casal”, explica. não assumem compromissos do tipo, lhos ou a constituição de
um lar único (nosso)”, explica.
Marcelo adora sua vida de solteiro, mas apenas se envolverá
novamente caso haja um consentimento de seu espírito de li- Ele também comenta que esse “novo” estilo de vida, ajuda a
berdade. “Não acho que casar vai tirar minha liberdade, desde sociedade a se reorganizar. “Em 2013 o lósofo Pascal Bruckner
que eu encontre uma mulher madura que respeite isso. Ter a publicou um livro (já traduzido com o título “Fracassou o casa-
liberdade de trabalhar até tarde, beber com os amigos de vez mento por amor?”) onde diz que ao contrário do que a socieda-
em quando, etc”, naliza. de pensa em relação ao ‘fracasso do casamento’, o que de fato
está ocorrendo é a con rmação de que as pessoas ‘estão ca-
ENFIM... SOLTEIRO! sando por amor’, visto que uma relação de longo prazo requer
Mesmo que pareça que os quarentões solteiros vivenciam sua um constante empenho, na sustentação dos sentimentos, de
liberdade momentaneamente como todos os outros, existem os sedução, carinho, compreensão, liberdade etc”.
que adotam isso como estilo de vida. Mesmo! “Há uma série de
passos quando se trata de esquecer uma mulher: da cama dela Sabemos que quem está solteiro, nem sempre está assim por
até a porta, PRÓXIMA!”, losofa o personagem Barney Stinson. opção dos outros, mas também sabemos que muitos dos sol-
teiros vivem assim, porque assim desejam. O que importa é vi-
Seria triste saber que alguém pensa assim, mas ele é uma cari- ver sua vida, seja como for. Esteja solteiro ou não, identi que
catura de um per l de homem que aterroriza de certo modo as apenas se está fechado para balanço ou se essa decisão é um
mulheres. Não tão cruel quanto o Barney, o comerciante Marce- estilo de vida, e assuma suas escolhas.
lo Correa, de 42 anos, é um típico solteiro convicto que até gosta
de se relacionar por um período, mas prefere muito mais a sua E um recado para os solteirões: não façam como o Barney Stin-
liberdade ao casamento. son. Mesmo que ele seja um dos personagens mais engraça-
dos da série, as tiradas de humor sobre as mulheres e o univer-
“Já noivei três vezes, mas nunca o cializei a relação ‘casamen- so masculino limitam-se a cção. Não sejam tão cruéis com os
to’. Não tenho nada contra, não é a toa que tentei. Acho válido outros e muito menos com vocês. As mulheres, com certeza,
quando tem realmente afeto e respeito pela pessoa. Mas nos agradecem!
dias atuais, a frase ‘felizes para sempre’ perde um pouco o sen-
tido. Por que viver infeliz com uma mulher se podemos testar
novas possibilidades?”, comenta.

Estilo de Vida 29

direito

A ADOÇÃO
NO BRASIL

LUCIANA BRUNCA

T er um lho é um sonho e também uma das decisões mais importantes na
vida de um casal. As relações familiares são reguladas pelo afeto, amor, ca-
rinho, respeito, sendo estes essenciais para a existência de uma família, que
é à base da sociedade. Em 1988 a Constituição Federal, passou a reconhe-
cer como família também aquelas oriundas da união estável e monoparental (quando
apenas um dos pais de uma criança arca com as responsabilidades de criar o lho
ou os lhos), possibilitando que todos pudessem exercer o direito de constituir uma
família, independente de ser natural ou por adoção.

O tempo passou, e hoje a justiça brasileira, também teve que acrescentar mais um
tema nessa discussão: a adoção por casais homossexuais. De acordo com o advoga-
do especialista em Direito Empresarial e de Família, José Alberto Mazza Lima, a lei não
faz distinção de opção sexual para adoção. “A lei não determina nada nesse sentido,
inclusive a lei nem de ne que tem que ser um casal. Pessoas solteiras também podem
adotar. Claro, que tudo depende da interpretação do juiz e da avaliação das condições
de vida que a criança ou adolescente adotados terão”, explica o advogado.

As determinações de adoção no Brasil são reguladas pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA). Durante o processo de adoção, além de avaliações do per l pes-
soal, são feitas também avaliações psicológicas e até sociais, para saber que tipo de
vida as crianças ou adolescentes terão. “Os juízes avaliam tudo e levam em conside-
ração, todos os detalhes, visando sempre fazer a melhor escolha para a criança ou
adolescente adotado. E garantindo que os direitos dos adotados sejam respeitados e
cumpridos. É uma decisão muito importante, principalmente se levarmos em conside-
ração que essa criança ou adolescente já passou por alguns traumas na vida”, disse
Mazza Lima.

Dados do Cadastro Nacional de Adoção (CNA) mostram que existe no Brasil mais de
5,4 mil crianças e adolescentes aptos para adoção.

Com o objetivo de esclarecer as principais dúvidas de você leitor, a Revista Nossa Fa-
mília elaborou uma entrevista. Con ra abaixo os principais pontos da lei de adoção no
Brasil, as avaliações que são feitas e também a duração de um processo de adoção.
Veja a entrevista completa:

30 Nova Família www.revistanovafamilia.com.br

viavetal . shutterstock

Adoção, um ato de  investimento afetivo e capacidade de acolhimento.

Revista Nossa Família: O que diz a lei • Tratando-se de adolescente (maior de NF: Como é feito o processo de avalia-
de adoção hoje no Brasil? 12 anos), a adoção depende de seu con- ção para que o casal esteja apto a ado-
sentimento expresso; tar uma criança ou adolescente?
José Alberto Mazza Lima: O Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA)- Lei • Antes da sentença de adoção, a lei exi- Mazza Lima: O pretendente passa por
8069/90 estabelece o seguinte para a ge que se cumpra um estágio de convi- avaliação de psicólogos, assistentes so-
adoção: vência entre a criança ou adolescente e ciais, juiz e promotor, devendo provar
os adotantes, por um prazo xado pelo que é capaz de oferecer, basicamente
• A idade mínima para se adotar é de 21 juiz, o qual pode ser dispensado se a o que está garantido pelo artigo 227 da
anos, sendo irrelevante o estado civil; criança tiver menos de um ano de idade Constituição Federal, isto é: o direito à
ou já estiver na companhia dos adotantes vida, à saúde, à alimentação, à educação,
• O menor a ser adotado deve ter no má- por tempo su ciente. ao lazer, à pro ssionalização, à cultura, à
ximo 18 anos de idade, salvo quando já dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivia com aqueles que o adotarão, NF: Existe diferença no processo de convivência familiar e comunitária, além
caso em que a idade limite é de 21 anos; adoção de casais heterossexuais para de colocá-los a salvo de toda forma de
casais homossexuais? negligência, discriminação, exploração,
• O adotante (aquele que vai adotar) deve violência, crueldade e opressão.
ser pelo menos 16 anos mais velho que Mazza Lima: Não tem previsão legal para
a criança ou adolescente a ser adotado; isto. Nem precisa ser casal. Uma pessoa NF: Quanto tempo demora um proces-
solteira pode adotar. so de adoção no Brasil?
• Os ascendentes (avós, bisavós) não po-
dem adotar seus descendentes; irmãos NF: A lei da adoção já reconhece casais Mazza Lima: Isto é relativo. Embora o
também não podem; do mesmo sexo? processo seja igual em qualquer lugar do
Brasil, pode demorar tempos diferentes
• A adoção depende da concordância, Mazza Lima: A lei não faz previsão nem em cada cidade, dependendo da exis-
perante o juiz, do promotor de justiça e de que seja casal, por isto não há distin- tência de varas especializadas em direi-
dos pais biológicos, salvo quando forem ção para casais do mesmo sexo. to de família, número de processos e de
desconhecidos ou destituídos do pá- pro ssionais à disposição do juiz e, até
trio poder (muitas vezes se acumula, no mesmo do ritmo de trabalho de cada juiz.
mesmo processo, o pedido de adoção
com o de destituição do pátrio poder dos
pais biológicos, neste caso devendo-se
comprovar que eles não zelaram pelos
direitos da criança ou adolescente envol-
vido, de acordo com a lei);

Direito 31

retrato de família

PARENTE É SERPENTE?
NÃO, NEM SEMPRE.

Nos anos de 1990, uma comédia do DOMINGOS CRESCENTE
cineasta Mario Monicelli fez muito
sucesso mostrando as diferenças en- UMA FAMÍLIA DE 4.600 ANOS
tre os componentes de uma típica família italiana,
que se reúne para comemorar o Natal e recebem De qualquer forma, o que podemos destacar, sem
a notícia de que os avós pretendem ir morar com sombra de dúvida, é a importância da estrutura
um dos lhos. As situações – muito divertidas – familiar na formação de nossa sociedade. Não
baseiam-se no jogo de empurra, uma vez que apenas da sociedade atual, mas também nas so-
ninguém quer assumir essa responsabilidade. ciedades das várias épocas desde os primórdios
do homem sobre o planeta.
É muito engraçado e, como toda comédia, exa-
gera nas situações e no título. Porque, na reali- Pesquisadores da Universidade de Adelaide, na
dade, se parentes discutem por coisas menores, Austrália, realizaram um exame de DNA nos res-
geralmente estão unidos naquilo que é realmente tos mortais de quatro corpos encontrados juntos
importante. em um sítio arqueológico. Eles concluíram trata-
-se de mãe, pai e dois lhos que viveram há mais
Não é fácil falar sobre a família, apesar de o tema de 4.600 anos. Esse ainda é o mais antigo registro
estar presente em nossas vidas todos os dias. Em genético de uma família em todo o mundo.
casa, vivemos em família. No cinema ou na te-
levisão, a família nunca deixa de estar presente, Mas o termo família só surgiu mesmo no Império
seja na forma de drama em novelas de horário Romano. É um tanto irônico, mas necessário res-
nobre; seja em séries humorísticas. Nos últimos saltar que o termo família não tem uma origem tão
dias, até mesmo no discurso de quase todos os nobre assim. Ele vem da expressão latina “famu-
candidatos a um cargo eletivo, de presidente a lus”, que signi cava “escravo doméstico”. A família,
deputado estadual, lá estava a defesa da famí- com a acepção moderna desse termo, era desig-
lia. E justamente por ser um assunto tão amplo e nada no Império Romano como “família natural”, e
apaixonante, torna-se difícil escolher apenas um para se referir ao relacionamento de pais e lhos,
aspecto para tratar. apenas. Só na Idade Média é que esse conceito se
expandiu, com a complexidade criada pelos diver-
As desavenças familiares, que existem e são sos casamentos e pelas novas famílias formadas.
até bastante comuns, não tiram a importância
e o papel da família na formação de uma Daquela época para cá, a verdade é que os grupa-
sociedade melhor, mais produtiva e mais ética mentos com base em casamentos e parentescos
foram sendo constantemente in uenciados por
grandes transformações, como a Revolução Fran-
cesa, a Revolução Industrial ou o ambiente atual,
marcado pela individualidade exacerbada, os pe-
quenos apartamentos e vida corrida nas grandes
cidades.

Mas, longe desses problemas representarem um
perigo para os grupamentos familiares, eles mos-
tram sua força como um núcleo afetivo e de apoio

32 Nova Família www.revistanovafamilia.com.br

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O papel da família sempre contribui para a formação de uma sociedade melhor.

mútuo, representado pela cooperação entre seus Católica deve ser capaz de acolher em seu seio
membros, seja do ponto de vista afetivo, como - novas formas de viver em família, respeitando as
nanceiro, de trabalho, saúde etc. mudanças exigidas pela vida moderna e os cos-
tumes vigentes. O encontro dos bispos da Igreja
A importância da família na orientação dos lhos Católica, que reunirá, até 19 de outubro no Vatica-
– por meio da educação e transmissão de seus no, 253 participantes tem a família como tema e
conceitos éticos e morais, além do seu encami- pode esclarecer muitas questões relativas à visão
nhamento ao mercado de trabalho e criação de da Igreja sobre a estrutura familiar atual, que é a
uma nova família – é essencial na formação de base de nossa sociedade.
uma sociedade mais sadia e produtiva. Na realida-
de, a família atua não apenas como um incentiva- OUTRAS CULTURAS
dor desses conceitos de união, amor ao próximo
e ajuda mútua. A família contribui também para Os critérios que de nem uma família, na cultura
reprimir atitudes consideradas antissociais ou ina- ocidental, são os laços de sangue ou de pessoas
dequadas, de acordo com a época ou a cultura. unidas legalmente como no caso do casamento e
das adoções. Outras culturas podem de nir a fa-
PAPA ELEGE NOVAS FORMAS mília por critérios diferentes, como uma série de
DE VIVER EM FAMÍLIA regras de a liação e aliança aceitas pelos mem-
bros, como a poligamia (um homem e várias es-
Há uma prova recente e inconteste das mudan- posas), a poliandria (uma mulher e vários esposos)
ças pelas quais o conceito de família passa. Em ou até mesmo o incesto.
setembro desse ano, o Papa Francisco, diante
dos meios de comunicação de todo o mundo, ce- Mas, sempre envolvendo costumes locais arrai-
lebrou 20 casamentos, entre os quais o de uma gados, nem sempre de fácil assimilação no Oci-
mãe solteira com seu novo companheiro, cujo dente. O que é realmente importante notar é que
primeiro casamento havia sido considerado nulo. o papel da família, seja em que qual cultura for,
A mensagem não poderia ser mais clara: a Igreja terá sempre o importante papel de contribuir para
a formação de uma sociedade melhor.

Retrato de Família 33

Educação

EM PLENO SÉCULO XXI O
ASSUNTO SEXO
AINDA É UM TABU
ENTRE PAIS E FILHOS?

BABI MACKENZIE

O assunto sexo ainda é tabu entre pais e lhos devido a uma série de razões, entretanto, quanto mais
cedo os pais entenderem que sexo é uma parte integral da vida de uma família melhor, pois, através
do diálogo franco e aberto, ca muito mais fácil auxiliar nossos pequenos curiosos a lidar com sua
sexualidade, de maneira a encontrar respostas seguras para perguntas que surgirão ao longo dos
anos de formação, ajudando-os a discernir limites entre o que é bom ou mal, e, principalmente,
derrubando mitos ou falsidades para se ter uma vida muito mais saudável e feliz.

ENTENDENDO QUE A SEXUALIDADE É DA CURIOSIDADE A COMPREENSÃO
PARTE NATURAL DO SER HUMANO DA SEXUALIDADE

A grande maioria dos pais e mães não sabe que a educação Do primeiro para o segundo ano de vida do bebê, se inicia a
sexual é efetivamente iniciada no dia do nascimento do bebê. fase da cognição básica, isso é, ele/ela percebe claramente a
Até seu primeiro ano, ele/ela, através dos sentidos, reconhece diferença entre a mãe e o pai e o seu papel naquela “mini socie-
e percebe instintivamente as diferenças, até anatômicas, entre dade” que institui a família, e isso é reforçado até pela escolha
o pai e a mãe. Nesta fase, os bebês ainda são incapazes de de brinquedos e vestuário que é feita pelos pais.
fazer julgamentos morais. Mesmo assim, é comum pais e mães
terem sérias dúvidas quanto a moralidade de andarem nus ou Ocorre também uma curiosidade natural em relação ao corpo
tomarem banho com seus lhos. da mãe e do pai, e não é de se estranhar caso esse pequeno ser
queira tocar em partes do corpo dos pais por pura curiosidade.
Mesmo assim, se um pai ou mãe não se sentir confortável an- Reforço que o ideal é reagir da forma mais natural, honesta e
dando nu na frente de sua lha ou lho de tenra idade, ele/ela correta possível.
não deve se forçar a fazer isso, pois, inconscientemente poderá
passar uma imagem contraditória. Por exemplo, um pai que re- Dos três aos cinco anos de idade, esta cognição se aprofunda
age abruptamente ao ser tocado no pênis por seu bebê de um quanto à percepção anatômica, mas, principalmente em termos
ano de idade estará passando para ele/ela uma reação negati- comportamentais e na escolha de brincadeiras. No entanto, de-
va ao seu órgão sexual. vido ao acesso que as crianças atualmente possuem em ter-
mos dos meios de comunicação, como a televisão, internet e
revistas, é comum as crianças serem submetidas a informações
de baixa qualidade ou crueza.

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Jeanette Dieti . shutterstock

Curiosidade sexual na criança é parte natural do ser humano.

Em culturas onde o cuidado com o conteúdo assistido por crianças não é levado muito
a sério, o acesso a questão da sexualidade é muito mais disponibilizado, sendo muito
comum cenas de beijos, excessivamente ardentes, nas novelas das 6 da tarde, o que
pode causar confusão para as crianças que não tiverem pais aptos, abertos ou presen-
tes para dialogar e orientar positivamente.

É nesta idade que eles costumam perguntar de onde nascem bebês ou como foi que
aquele bebê entrou na barriga da titia? Devemos mentir, contar que foi uma cegonha
que os trouxe ou que a titia engoliu uma semente e o bebê germinou? Será que já não
basta os pais serem literalmente obrigados a sustentarem uma mentira coletiva em
relação ao Papai Noel, o Coelho da Páscoa e a Fada do Dente? Que tipo de modelo
de comportamento (role model) os pais estão passando para os lhos quando faltam
com a verdade?

CLUBE DO BOLINHA E DA LULUZINHA

A partir dos cinco anos, meninos e meninas já possuem uma compreensão clara a
respeito de suas diferenças físicas, inclusive se agrupando – o tal do Clube do Bolinha
ou da Luluzinha!

A curiosidade sexual já esta muito mais a orada nesta idade, já entraram na fase ge-
nital que compreende a descoberta da sensualidade, de se tocar, explorar o corpo,
do “troca-troca”, da fantasia, até do pecado, e é precisamente nesta fase que é muito
importante auxilia-los a passarem por ela com tranqüilidade e equilíbrio.

Educação 35

Educação

Mais importante ainda, é deixar claro que tudo que estão passando e sentindo si-
camente é perfeitamente normal. A questão da masturbação deve ser esclarecida,
explicando que menos é melhor para o corpo, pois o excessivo aumento de interesse
ou atividade sexual nesta idade é um claro indicador de ansiedade, ou de alguma di-
culdade que a criança possa estar tendo para lidar com as pressões do seu dia a dia,
e se esse for o caso, essa é uma boa oportunidade para conversar e ver o que está
acontecendo.

A verdade gera o equilíbrio e a con ança em tudo que
é bom, belo e verdadeiro. E isso deve ser incentivado
desde o início. Continuar a fomentar mitos e tabus é vi-
ver na ignorância, na idade da escuridão que só gera
mais ignorância, desequilíbrio e confusão emocional.

ADOLESCÊNCIA

A partir dos nove anos ou na pré-adolescência, podemos dizer que a compreensão
de que existem outros aspectos comportamentais sexuais na sociedade, como o
homossexualismo, já é mais clara.
Além do mais, há um aumento signi cativo em relação a curiosidade sexual onde a
internet é o instrumento de preferência desses aventureiros. Sites de pornogra a de
todos os tipos imaginários não ajudam os pais a responderem perguntas difíceis como,
“por que tem gente que gosta de ser chicoteado”, “por que têm mulheres que gostam
de se vestir de enfermeiras”, ou, “o que é aquele negócio que vibra no fundo da sua
gaveta?”, questões ainda mais difíceis de responder se o adulto se colocar no papel
de onipotente dono da verdade. Que tal perguntar a eles o que eles acham, de abrir
uma pauta para discutir o que é isso que existe na sociedade e juntos chegarem “nos
por quês”?
Acredito que todos carão surpresos com os resultados positivos de uma abertura
verdadeira e real das questões sexuais com os lhos desde a mais tenra idade, pois
esta atitude abre portas de comunicação que serão vitais para o futuro de muitos de
nossos lhos, ajudando-os a tomar decisões boas para suas vidas, transformando-os
em jovens adultos responsáveis e felizes.
Esta possibilidade de diálogo não é só relacionada a questões sexuais, mas também a
questões de drogas, álcool, baladas e outros dilemas e di culdades que nossos lhos
possam vir a encontrar estrada abaixo ou acima.

Babi Mackenzie é educadora desde 86, fundadora da Teaching Company.

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Nova Família

37

direito

POR QUE OPTAR,
NA SEPARAÇÃO,
PELA GUARDA
COMPARTILHADA
DOS FILHOS? E POR
QUE NÃO?

Abordaremos, nas linhas que seguem, alguns aspectos legais da guarda
compartilhada, bem como suas vantagens e desvantagens, tanto pela ótica dos
pais, quanto pela ótica das crianças.

AComissão de Constituição e Justiça (C.C.J.) NAZIR MIR JUNIOR
do Senado federal aprovou, na data de 02
de setembro de 2.014, o projeto de lei ORIGEM
que obriga a adoção da guarda com-
partilhada do lho de pais separados A ideia de guarda compartilhada surgiu em resposta ao desgas-
que não chegarem a um acordo. O texto ressalva te da guarda exclusiva em face de uma cultura igualitária que
que a guarda compartilhada só será aplicada se prioriza o interesse do menor, e a igualdade dos sexos.
cada um dos pais estiver apto a exercer o poder
familiar e se eles também tiverem interesse na A guarda compartilhada, com o nome de “joint custody” teve iní-
guarda. cio na Inglaterra por volta dos anos sessenta, mais precisamente
Atualmente, o uso desse regime, nos casos em em 1964, no caso Clissold, que iniciou uma tendência que faria
que não há acordo entre pai e mãe, não é obriga- escola na jurisprudência inglesa.
tório. De acordo com o Código Civil, se essa situ-
ação ocorrer, a guarda será aplicada “sempre que CONCEITO
possível” pelo juiz de família.
O conceito legal de guarda compartilhada vem esculpido no
parágrafo 1º do artigo 1.583 do Código Civil, com a redação
que lhe deu a Lei nº11.698/2008, ao dizer que “compreende-se
(...) por guarda compartilhada a responsabilização conjunta e o
exercício de direitos e deveres do pai e da mãe que não vivam
sob o mesmo teto, concernentes ao poder familiar dos lhos
comuns”.

Pode-se, assim, conceituar o instituto da guarda compartilhada
como o modelo de cuidado parental em que, mesmo depois de
separados, os pais continuam a exercer, de forma igualitária, os
direitos e deveres em relação à guarda, do mesmo modo que
faziam na constância da união.

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A guarda compartilhada concede ao lho o direito de usufruir tanto do contato com a mãe quanto com o pai.

direito

As responsabilidades na guarda conjunta, nesse diapasão,
serão exercidas em comum, não sobrecarregando,
econômica ou emocionalmente, somente um dos genitores.

VANTAGENS E DESVANTAGENS DA POR QUE NÃO OPTAR PELA GUARDA
GUARDA COMPARTILHADA COMPARTILHADA?

A guarda compartilhada, em teoria, é um instrumento que con- A guarda conjunta, da mesma forma que qualquer outro mo-
cede ao lho o direito de usufruir tanto do contato com a mãe delo de cuidado parental, pode não funcionar bem em alguns
quanto com o pai por um período maior, admitindo maior exibi- casos. Os pais devem ter consciência de que possuem não
lidade nesse convívio. Mas, para que atinja o seu objetivo é pre- apenas direitos, mas, também, deveres.
ciso na prática que os adultos responsáveis pela criança, antes
de entrar com o processo para regulamentar a guarda, obser- Se os pais têm con itos constantes não é possível a concessão
vem as características de suas famílias, bem como a qualidade da guarda compartilhada, pois estaria seguindo na contramão
da relação que permaneceu entre os dois, após a separação. do modelo familiar de bom relacionamento. Causaria, neste
Isso porque, se optarem pela guarda compartilhada, os encon- caso, severos efeitos colaterais na criança, correndo o risco de
tros e as trocas de ideias entre eles deverão ser muito mais fre- tornar a rotina familiar uma completa desordem, eivada de de-
quentes, já que o acordo deve pressupor, também, a divisão de sentendimentos e brigas.
despesas e a tomada de decisões em consenso.
Novas batalhas judiciais surgiriam quando um dos genitores,
POR QUE OPTAR PELA GUARDA como representante do lho, quisesse praticar algum ato que
COMPARTILHADA? o outro não concordasse, gerando situações embaraçosas, que
na verdade, poderiam ser resolvidas facilmente.
São inúmeras as vantagens tanto para os lhos, quanto para os
pais. Garante, aos lhos, os benefícios da convivência igual com Outra di culdade é a difícil adaptação da criança, principalmen-
cada um dos pais, não havendo a ausência de nenhum deles. te quando muito pequena, a moradias diferentes, por ainda es-
Propicia melhor adaptação do infante ao novo grupo familiar de tar em formação, tanto física quanto psicológica. Tanto o direito
cada um de seus genitores e transmite uma melhor imagem de quanto a psicologia priorizam a importância da referência de
família aos lhos. A guarda compartilhada ajuda ainda na con- uma moradia estável.
tinuidade do cotidiano familiar, evitando que o lho tenha de
escolher entre um dos pais. Há, ainda, a di culdade dos custos maiores na criação de mora-
dias apropriadas, cando os lhos sujeitos a um constante ajus-
Em relação aos pais, o instituto da guarda compartilhada me- tamento.
lhora aspectos como a quali cação na competência de cada
um deles, maior cooperação e melhor divisão dos gastos de
manutenção dos lhos. Deste modo, ocorrem menos mudan-
ças no relacionamento entre os pais e os lhos. Os pais, através
da equiparação de tempo livre para a organização de sua vida
pessoal e pro ssional, teriam, ainda, maiores possibilidades de
reconstruir suas vidas depois do término do vínculo conjugal.

A pensão alimentícia deixa de ser um problema pelo acordo
de divisão de tarefas. Mas é possível o pagamento sempre que
presente o binômio necessidade e possibilidade.

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Doutrinadores há que entendem ser a COMO DIZ LUIS
mãe quem deve ter, na maioria dos ca- FERNANDO VERÍSSIMO:
sos, a guarda dos lhos. Assim, a guarda "LER É O MELHOR
compartilhada afastaria o afeto materno REMÉDIO.
que é essencial à criança. LEIA JORNAL...
LEIA OUTDOOR...
Deve-se, portanto, analisar cada caso LEIA ALGUÉM!!’ LEIA A
com cuidado. Deverá o juiz olhar todos REVISTA NOVA FAMÍLIA!
os requisitos necessários para conces-
são da guarda compartilhada e, se for
mais vantajoso, deverá, evidentemente
ser aplicada, visando o melhor interesse
do menor.

É inegável que o instituto da guarda
compartilhada tenha sim inúmeros be-
nefícios, tanto para os pais quanto para
os lhos. Contudo, pensamos ser teme-
rária a possibilidade de torna-la obrigató-
ria, isso porque, conforme já discutimos,
a guarda compartilhada tem chance de
sucesso tão somente nos casos em que
os pais guardam boa relação após o tér-
mino da união. Nos casos em que houver
um clima de animosidade entre os ge-
nitores, a guarda compartilhada poderá
trazer grandes malefícios ao desenvolvi-
mento da criança.

Cabe ao Magistrado, assim, cuidado e
bom senso na concessão, ou não, da
guarda compartilhada.

Nazir Mir Junior é advogado atuante nos
ramos do Direito Civil, Direito Empresa-
rial, Direito do Consumidor, Direito de
Família e Sucessões (Área Cível), Direito
Penal, Direito Administrativo, Direito Am-
biental, Direito Tributário e Direito Finan-
ceiro (Direito Público).

Direito 41

religião

RELIGIÃO
& FAMILIA

SYLVIO MONTENEGRO

Não há um nível do conhecimento humano mais aberto às conveniências do que
o nível da crença. Aquele que gera o nível “teológico” e, consequentemente, o
religioso, baseado nas mais diversas religiões espalhadas pelo mundo, formas
particulares de pensamento acabam por tentar se impor umas às outras. E
daí surge uma dúvida àquelas pessoas que realmente prezam pela liberdade
individual de culto: “Devo eu ou não, in uenciar a vida espiritual de minha família
e, em especial, a de meus lhos?”

É bom lembramos que “crer” também é No entanto, devemos ter com os nossos familiares
“conhecer”, só que de uma maneira in- a mesma caridade proposta por todas as con s-
tuitiva, sem grandes explicações a res- sões religiosas: o respeito ao próximo. Isso signi ca
peito. Algumas religiões até se aprovei- que sim; não só temos o direito, como a obrigação
de apresentarmos, aos nossos, a nossa forma de
tam dessa intangibilidade do saber para, pensar a religião e colocar a disposição deles essa
educação que nós mesmos obtivemos em algum
através de “crenças inexplicáveis”, subjugar seus momento de nossas vidas.

éis. Outros níveis mais famosos de conhecimen- Porém, existe um pressuposto bastante esquecido
no seio familiar quando se trata da educação reli-
to são o “empírico” (aquele que se sabe por expe- giosa. A multiplicidade de opiniões. Seria bastante
difícil que qualquer pessoa conseguisse passar a
riência e não por estudo, sem preocupação com alguém todas as variações de crenças de todos
os tempos em todos os lugares para que esse
suas causas), o “cientí co” (que vai além do mero “aprendiz” pudesse escolher sua forma de pen-
sar. Ninguém tem esse conhecimento todo. Mas,
empirismo exatamente porque busca suas expli- adotando-se um princípio losó co de Sócrates,
podemos sim achar um caminho respeitoso para
cações, causas e consequências) e o “ losó co” falarmos de fé: “Tudo o que sei é que nada sei”.

(que parte da análise do material para o universal, Podemos falar do que acreditamos, mas devemos
deixar claro que isso não é a “verdade” de nitiva,
elaborando hipóteses e postulados para as gran- mesmo que nossas religiões assim se autoprocla-
mem. Falando e exempli cando nossas crenças
des perguntas da Humanidade: Quem sou eu? De pessoais (sim, porque toda crença “É” pessoal,
por mais que se aglutinem as pessoas) estaremos
onde vim? Para onde vou? E por que estou aqui?). mostrando uma luz no caminho de quem está se
descobrindo em sua formação humana. Mostran-
Tratamos aqui apenas do conhecimento “teoló- do; não impondo.
gico” e de sua relevância para a família de uma
forma geral.

DEVEMOS? PODEMOS?

Uma das funções primordiais de pais, responsá-
veis, educadores e tutores é a de orientar seus
dependentes. Em todas as circunstâncias da vida.
Por que a religiosidade seria diferente?

42 Nova Família www.revistanovafamilia.com.br

Crer” também é “conhecer”. My Good Images . shutterstock

MAS SABEMOS O QUE É “RELIGIÃO”?

A palavra “religião” deriva do latim “religio, religionis”, que têm o sentido de “culto, ce-
rimônia, lei divina, santidade, prática religiosa”. O problema começa quando se busca
qual o verbo que esse substantivo latino teria formado nominalmente: “religare” ou
“relegere”? Parece mera discussão acadêmica, mas é fundamental para sabermos do
que estamos falando e o que iremos falar aos nossos familiares.

A maior parte das doutrinas religiosas costuma vincular “religião” com o vulgo “reli-
gare”, que, na prática, quer dizer “religar, atar, apertar, ligar bem”. Nessas explicações
doutrinárias, “religare” seria a tentativa de “religar” o Homem a Deus. Pode até ser uma
visão bonita e parecer ter sentido. Mas ela explicaria muito o porquê de tanta resistên-
cia por parte de jovens e adolescentes em adotar uma religião. Quem, de bom grado,
gostaria de estar “atado”, “apertado” ou “bem ligado” a alguma coisa, sendo que, assim
interpretada, a religião traria, intrinsicamente, a ideia de falta de liberdade?

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Religião 43

religião

A espiritualidade permite a vida. Nadezhda1906 . shutterstock

Por outro lado, “relegere” (“meditação”, “a consideração aten- No entanto, nenhum desses três conhecimentos faria o menor
ciosa para com as coisas que dizem respeito a Deus”; além de sentido, se não dependesse da sua utilização e das consequ-
“reeleger”, “reescolher”) não é tão aceita como origem de reli- ências morais que dele adviriam. O conhecimento religioso ser-
gião, mas parece ser a que mais se aproxima do sentido que se ve para balizar não as perguntas losó cas aqui já colocadas
gostaria de dar a ela, trazendo, aí sim, a possibilidade da re exão (Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? E por que estou
sobre crenças, nas escolhas, reescolhas, através de uma medi- aqui?), mas sim uma outra tão importante quanto as demais:
tação atenciosa nas coisas que diriam respeito a Deus. Conve- “Como vivenciar essa vida?”.
nhamos: para a juventude em sua fase de descobertas isso é
bem mais atraente e faz muito mais sentido. O ESPÍRITO DE FAMÍLIA

“VERDADES” E “VERDADES” Ao educarmos nossa família num ambiente de busca de conhe-
cimento em todos os seus níveis, mas com respeito às diver-
Tentemos fazer uma pessoa pensar sobre suas crenças – e não sidades, opiniões, crenças e “certezas”, estaremos sim criando
simplesmente aceita-las sem explicações – e teremos uma fé um ambiente sólido, não estanque, e de muito afeto emocional
robusta e consolidada. E, caso não a tenhamos ainda, pelo me- e amorosidade universal.
nos não teremos uma crença que se destruirá na primeira di - A religiosidade tratada com a mais pura espiritualidade é re-
culdade vivenciada por essa pessoa. médio para qualquer momento difícil. Para qualquer lugar... Em
qualquer época!
E, verdade seja dita, não é o que entendemos como verdade
que vai se perpetuar. Conheçamos ou não a “verdade”, ela, a Sylvio  Montenegro é jornalista e radialista. Estudioso sobre as
“verdade”, se imporá no momento necessário por conta própria, mais diversas formas de crenças, especialista  em realizações
sem precisar de nenhuma ajuda opinativa de ninguém. de celebrações sociais e espirituais de casamento e bodas, sem
cunho religioso ou civil.
O QUARTO NÍVEL DE CONHECIMENTO

Podemos conhecer coisas porque aprendemos na prática o
que elas signi cam...Podemos conhecer coisas porque as es-
tudamos e as esmiuçamos a exaustão para que soubéssemos
explica-las até que outra pessoa a explique melhor... Podemos
conhecer coisas de forma dedutível, utilizando-nos dos nossos
outros dois níveis de conhecimento anteriores, já adquiridos...

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FAMÍLIA TRILHA O CAMINHO!

Nova Família

45

trabalho Nadezhda1906 . shutterstock

O O primeiro passo é descobrir o que te deixa feliz.
que te faz feliz? No primeiro momento parece uma pergunta comum, e de fácil resposta. Mas os
desa os do dia a dia no trabalho, nos estudos, na família, no casamento, no relacionamento com as
pessoas são tantos que muitas vezes nos perdemos nesse turbilhão de emoções e cobranças e nos
esquecemos de nós. E a pergunta tão simples, lá de cima, é a chave de tudo.
Segundo a coach Ana Martinez, o primeiro passo é descobrir o que te deixa feliz. “Dançar? Sair com os ami-
gos? Praticar atividade física? Ler? Ouvir música, arrumar a casa, mexer com as plantas, en m, precisamos
descobrir algo que nos dê prazer, satisfação, alegria e nos relaxe”, a rmou.
Ana defende que a felicidade é uma questão de atitude diante da vida. “A maioria das pessoas espera um
acontecimento especial como uma festa, uma mudança de casa, um emprego novo, para ser feliz. Mas não
é isso, a felicidade tem que existir em pequenas coisas, até mesmo diante dos problemas temos que ser
feliz. Os desa os da vida não vão deixar de existir, temos que aprender a melhor maneira de lidar com eles,
respeitando sempre os nossos limites”, explica.

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O CAMINHO
DA FELICIDADE

LUCIANA BRUNCA

Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, o caminho da mos iniciar e nalizar as atividades. Isso traz a sensação de dever
felicidade começa nas pequenas atitudes cotidianas, como por cumprido e de realização”, enfatiza a coach.
exemplo, dizer um simples obrigado melhora a qualidade dos
relacionamentos interpessoais e a satisfação diária. “Os efeitos Encontrar ‘cinco minutos’ no dia, para relaxar e ‘diminuir’ a ve-
da gratidão vão muito além, quando demonstramos gentileza, locidade dos pensamentos é uma boa medida para alcançar o
respeito pelo próximo recebemos isso de volta e tornamos as bem estar físico e emocional. “Não existe a necessidade de ser
nossas relações pessoais e pro ssionais muito melhores. É a lei um local preparado, pode ser um canto da sala, no quarto, no
da ação e reação, a gente sempre recebe aquilo que oferece”, jardim, um local que a pessoa consiga se desligar, colocar os
reforça Ana. pensamentos em ordem e recarregar as energias. Esse é um
exercício simples, mas que traz inúmeros benefícios“, diz Ana.
Falar sobre os sentimentos também é uma atitude necessária
para encontrar o caminho da verdadeira felicidade. “Diga para Valorizar os momentos de lazer. Para Ana isso é fundamental, e
as pessoas que trabalham com você, para seus familiares, seus não precisa ser uma viagem para o exterior ou um passeio por
amigos, en m que você os ama, que se sente feliz em dividir um lugar lindo e famoso. Um simples café da manhã com a fa-
a vida com eles. E claro, naquele dia que você não estiver tão mília ou com amigos, sem hora para terminar, pode trazer muita
bem, até porque somos seres humanos e não máquinas e não felicidade e satisfação. “São os detalhes que fazem a diferen-
temos que estar sempre estáveis todos os dias, também diga ça, as pequenas coisas. Temos que aprender a valorizar esses
para eles que não está tão feliz assim, mas que é importante tê- momentos, que muitas vezes passam despercebidos. Por mais
-los ao seu lado. Saiba dar e receber o carinho e a atenção das clichê que possa parecer, a felicidade está sim nos detalhes, e
pessoas”, recomenda a coach. temos que buscá-la diariamente, em todas as nossas ativida-
des. Na verdade, esse é o grande segredo da busca da felicida-
Realizar um trabalho voluntário, fazer doações para entidades de, sabermos encontrar em cada detalhe, cada dia chuvoso ou
bene centes ou até mesmo dar presentes para alguém traz ensolarado, em cada novo desa o que a vida nos oferece o lado
uma sensação de paz, alívio e felicidade. bom de tudo. Respeitando os nossos limites, anseios e medos,
dessa maneira vamos aprender a lidar de maneira prazerosa
A coach ressalta que praticar uma atividade física também é um com os problemas do dia a dia e manter sempre a alegria de
passo importante. “Não precisa ser em academias caras, com viver”.
aparelhos so sticados, com personal trainer. Basta encontrar
um parque, um bosque ou uma simples avenida arborizada Ter coragem diante da vida também é importante para sermos
para caminhar, correr, andar de bicicleta, en m mexer o corpo. felizes. “Se não estamos satisfeitos com algo, seja o trabalho,
Além de melhorar a aparência física, que já irá trazer uma satis- seja em relação a alguma pessoa, temos que analisar a situa-
fação, o exercício alivia os pensamentos e ajuda na oxigenação ção e tomar uma atitude, uma decisão. Todos querem ser rea-
do cérebro”, a rma Ana. lizados pro ssionalmente, bem sucedidos, ter um bom salário,
mas se não estivermos bem com a gente mesmo, nada disso
Manter a casa organizada, a mesa de trabalho em ordem são vai fazer a diferença. Ter coragem para avaliar se o trabalho que
outras atitudes simples que estão diretamente ligadas a felici- está desenvolvendo está sendo satisfatório, e se não estiver é
dade. “Finalizar uma atividade que começou, também é impor- hora de mudar e recomeçar. Claro, que falar é mais simples do
tante, às vezes na correria do dia a dia, iniciamos várias coisas que fazer, mas quando temos essa coragem, vamos ver que os
ao mesmo tempo e ao nal do dia, olhamos para trás e perce- resultados serão fantásticos e todos os riscos envolvidos cam
bemos que deixamos muitas coisas pela metade. Temos que pequenos”, naliza Ana.
aprender a organizar o tempo, e as tarefas diárias para tentar-

Trabalho 47

Saúde

HÁBITOS SAUDÁVEIS
PODEM AJUDAR A

COMBATER O STRESS
DO DIA A DIA

KAREN STERNFELD

A correria da vida atual nos impede muitas vezes de manter uma dieta e estilo de
vida saudável. Vivemos no milênio 2.000 em um ritmo frenético, e muitas vezes a
saúde e a alimentação acabam virando preocupações secundárias nessa correria
da vida moderna. Esse ritmo frenético vem acompanhado de muito stress, que
além de fazer nosso dia a dia mais conturbado, vem com efeitos colaterais; como
ganho de peso, acúmulo de gordura localizada e até mesmo o desenvolvimento
de doenças.
Aqui estão alguns sintomas de stress: dor de cabeça, ansiedade, depressão, dores
no peito, cansaço, fatiga, desequilíbrio no apetite (comer de mais ou de menos),
náusea, distúrbios de sono, perda de libido, problemas em concentração e acne.

STRESS PODE ATRAPALHAR sério. Conseqüências como um sistema imuno-
SEU APETITE lógico fraco, anemia, problemas cardiovasculares
e osteoporose são algumas das muitas possíveis
Quando estamos estressados o que acontece? consequências de uma alimentação pobre.
Acabamos cando com desejos de comidas que
nos “confortam”, e geralmente essas comidas vêm A dica aqui é ter sempre opções saudáveis a mão.
carregadas de açúcar. Comemos e comemos e Seja por excesso ou falta de apetite, frutas secas,
parece que nunca camos satisfeitos. Ao longo castanhas e cenourinhas, são alguns exemplos
do tempo, com freqüentes episódios de stress, o práticos e de fácil acesso. Se o seu caso é de ex-
constante consumo de açúcar pode causar ganho cesso, essas são ótimas opções para comer “com-
de peso, acúmulo de toxinas, e até mesmo o de- pulsivamente”, se você sofre com a falta de ape-
senvolvimento da diabetes. A tentativa de fuga do tite e tiver opções como essas a mão pode servir
stress, através da comida, não resolve o problema como o lembrete de que se deve comer.
de base e pode causar esse desequilíbrio na ali-
mentação, aumento de peso e toxinas no corpo. STRESS PODE CAUSAR
PROBLEMAS NO CORAÇÃO
O oposto também é possível, stress pode tirar
completamente seu apetite, isso pode levar a des- Quando estamos estressados, o coração acelera,
nutrição. Assim como o excesso de comida causa a pressão aumenta e nossa respiração se inten-
problemas a saúde, a falta pode ser tão ou mais si ca. Essas são respostas que nosso corpo tem
a um estado que chamamos de luta ou fuga. Em

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Africa Studio . shutterstock

Comer mais
Gorduras Saudáveis: castanhas e sementes cruas, azeite de oliva,
linhaça, abacate e coco
Antioxidantes: frutas e verduras coloridas e frescas
Fibras: grãos e cereais integrais
Ômega 3: linhaça, chia, algas, folhas verde-escuras,
couve- or, cravo, canela e manga
Cálcio: brócolis, couve, espinafre, gergelim, tahini e amora

A saúde começa pela boca. Evitar
Gorduras trans, gordura hidrogenada, fritura,
gordura saturada de proteína animal e derivados
Comidas industrializadas, especialmente ricas em sódio
Produtos feitos com farinha branca re nada
Carne vermelha, bacon, e linguiça
Gema de ovo e derivados do leite

situações pontuais, assim que o momento de stress termina o HÁBITOS SAUDÁVEIS PARA UMA
corpo se reequilibra e tudo volta ao normal. Mas no caso da VIDA MENOS ESTRESSANTE
maioria de nós, que vivemos em situações prolongadas de
stress como, por exemplo, preocupações com as contas para Silêncio: Amamos nossos amigos e familiares, porém é muito
pagar ou uma insatisfação com o trabalho, vivemos em cons- importante ter tempo para si mesmo, seja para arrumar um
tante estado de luta e fuga e isso pode trazer complicações armário, ler um livro, meditar, andar escutando seu ipod ou
cardiovasculares. É importante fazer escolhas alimentares que qualquer opção que lhe traga paz. O importante aqui é fazer
ajudem prevenir problemas do coração. Veja a tabela abaixo de destes momentos um hábito e pratica-lo diariamente.
opções para aumentar o consumo e opções a serem evitadas Gratidão: O simples ato de parar e ser grato pelo que temos,
no dia a dia. pode mudar a perspectiva que levamos sobre a vida, isso dimi-
nui o stress e oferece uma visão mais otimista e menos ansiosa
STRESS PIORA PROBLEMAS em relação ao futuro. Essa é uma prática muito simples que
PRÉ-EXISTENTES E AJUDA A apenas requer segundos do seu dia.
DESENVOLVER MAUS HÁBITOS Encontrar os amigos: Com toda a tecnologia disponível hoje,
às vezes esquecemos como é prazeroso encontrar os amigos
Além dos fatores acima, uma vida estressante pode também cara a cara e colocar o papo em dia, dar risada e abstrair um
prejudicar sua vida de forma indireta. A Associação Americana pouco dos nossos próprios problemas.
de Psicologia diz que, “circunstâncias estressantes levam a
más escolhas de estilo de vida, como por exemplo, fumar, be- Uma vida mais saudável é baseada em pequenos hábitos. Há-
ber e comer em excesso”. Precisar de um cigarrinho antes de bitos que incorporados no nosso dia a dia podem salvar nossa
tomar uma decisão importante ou tomar uma dose de uísque vida à longo prazo. Pequenas coisas como beber água, respirar
depois de um dia cheio no trabalho, são exemplos corriquei- profundamente, aumentar o consumo de frutas e verdura, dar
ros de como o stress afeta nossas vidas negativamente. Já risada são a base para uma vida plena e um cotidiano mais
sabemos as consequências de tais hábitos: câncer, doenças prazeroso.
do coração, etc. A melhor opção aqui é respirar fundo antes de
acender o próximo cigarro, dar uma volta no quarteirão, respi- Karen Sternfeld é nutricionista pela New York University e Health
rar, cantar uma musica, encontrar os amigos ou simplesmente Coach pelo Integrative Nutrition.
beber um copo de água.

Saúde 49

lazer & Viagem MelissaKing . shutterstock

Férias, momento de trilhar um caminho em família.


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