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A Formosa Lusitania traz nas memórias da viagem de Londres a Lisboa da inglesa Catharina Carlota Lady Jackson interessantes relatos sobre a Basílica dos Mártires. Texto que mereceu a tradução de um dos maiores vultos das letras portuguesas, Camilo Castelo Branco. Escreve sobre sua visita na Igreja dos Mártires na página 51. Na página 157 descreve festejos na igreja.

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Published by panowlpt, 2022-09-16 21:44:24

A FORMOSA LUSITANIA

A Formosa Lusitania traz nas memórias da viagem de Londres a Lisboa da inglesa Catharina Carlota Lady Jackson interessantes relatos sobre a Basílica dos Mártires. Texto que mereceu a tradução de um dos maiores vultos das letras portuguesas, Camilo Castelo Branco. Escreve sobre sua visita na Igreja dos Mártires na página 51. Na página 157 descreve festejos na igreja.

BATALHA, ALCOBAÇA, LEIRIA 415

A umde toda a espécie de peixes lluviaes. lado, está

pendurada a caça; iio outro, hortaliças e fructos va-

riadissimos. » N'esta enorme cozinha ha trez tanques

de lavar as hortaliças, caiuies, etc, e as paredes são

vestidas de azulejos. Ao lado da longa cadeia de fo-

gões está a fileira dos fornos, e ali perto vê-se ri-

mas de farinha triga mais alva do que a neve, pães

de assucar, talhas do mais puro azeite, e profuza

pastelaria, que uma numerosa turba de leigos e

criados está enrolando sobre pranchas de mármore

branco, e assoprando em centenares de formas, e
cantarolando tam alegres como calhandras em seara.
O gran-pHor de Aviz e o prior de S. Vicente rejubi-

lam-se prezenciando os prelogomenos d'aquella hos-

pitalidade. Também, Mr. Beckford ahi está, e mais

o seu impagável mordomo MonsieurSimon, tam elo-
giado e gabado pelo dom abbade pela sua pericia
culinária. É elle quem diz, á guiza de comprimen-

to, áquelle beato gourmand e gourmel: nMonseigneur

rend la religion si aim-able!»

Não eram só as boas vitualhas ; mas a pinga dos

—mais especiaes vinhedos do reino a de Aljubar-

rota, da lavra do mosteiro, e rival do Cios Vougeot.

E que direi da sala de jantar? as toalhas bordadas
e franjadas, o serviço e as serpentinas de prata! E

acamara do abbade? leito cortinado de gaza, tra-

vesseiros franjados de seda ! Nos quartos de vestir,

jarros e bacias de prata, toalhas com cercaduras de

renda, tapetes da Pérsia, reposteiros de velludo, e o

mais á proporção. Viviam vida folgada aquelles glo-

riosos monges d'outr'ora. Divertiam-se em repre-

zentações, concertos, bailes, santificando tudo com

416 A FORMOSA LUSITÂNIA

incensos odoríferos, missas cantadas e orações. Eu

quazi que esperava ver a turba d'estes jocundos phi-
losophos de cogula a saírem das grandes portas
esculpturaes de encontro a nós quando subíamos ao

terraço. Orçavam entre quatrocentos e quinhentos
quando, em 1794 ali esteve Mr. Beckford; mas o

mosteiro podia alojar mil. (•) No tempo da guerra

peninsular, seriam uns cento e sessenta frades; e,
quando se extinguii^am os mosteiros, apenas vinte e

sete se mandaram embora; estes, porém, avizada-

mente tiraram da espada e batalharam nas fileiras
de D. Pedro e D. Maria. (••)

Está o mosteiro agradavelmente situado entre
suaves declives, bosques cerrados, valles fructiferos,

Oque dous rios, Alcoa e Baça, fertilizam. edifício

tem magestade. Em todo o comprimento da sua tes-

tada corre um lanço de escadas rentes com o mos-
teiro. É mais antigo que a Batalha. Fundou-o o

grande Affonso Henriques, depois do ultimo desba-

rate da mourisma em Santarém. Os antigos conquis-

(•) Nunca houve alem de 400 frades, nem havia espaço para mais. No
principio do século XVIII os frades de Alcobaça pediam ao monarcha maior
caza e permissão para admittirem mais noviços. Não o conseguiram.

(••) Estava melhormente informado o conde A. Raczynski, quando, ao
mesmo respeito, escreveu : « certo é que os frades (de Alcobaça) eram ar-

dentes partidários de D. Miguel ; e, se me não engano, armaram á sua custa
um regimento de voluntários para a defeza da sua cauza. E elle, por sua

parte, mostrou-lhes que os prezava, por que foi vêl-os, e lá passou muitos
dias no mosteiro. Deve confessar-se que os frades não mostraram grande fi-
nura e discernimento sustentando-lhe a cauza; porque, apenas D. Miguel
foi deposto, mandaram-os sair da sua antiga caza. » Les Arts en Portugíil^
pag. 454.

]{A'IALIIA, ALCOBAÇA, I.KHUA 417

tadores celebravam sempre as suas victorias com

—alguma fundação religiosa de modo que os seus

triumphos eram sempre obra de Deus ou dos san-
tos. D. Affbnso, a ponto de investir com os mou-

ros, que dominavam Santarém em numero de 4:000

homens, não tendo elle mais que duzentos e cin-
coenta, antes de dar o assalto fez voto a Deus de,

se alcançasse victoria, doar á fabrica e sustentação

de um convento quanto terreno o olho nú pudesse

abranger. (•) Pediu a S. Bernardo (") que interce-
desse por elle; e lhe dedicaria o mosteiro. Santarém
foi tomada por astúcia, e a mourisma desbaratada.
E, portanto, Affonso fundou o mosteiro no local on-
de agora está o augusto edifício que data do começo

Ado século XIII. (•••) noticia da fundação está es-

cripta nos azulejos que ladrilham as paredes da sa-

la dos reis.

Que mudada está aquella prodigiosa fabrica ! Que
é feito do explendor dos seus altares e coros? Que

é dos thezouros de prata e ouro e paramentos que

(•) D. AfFonso decerto em 1147 nào podia comprometter-se a dar ao
mosteiro senào o que pudesse avistar do alto da serra de Albardos, mas sem
óculo, por que os óculos foram inventados em 1607. naked aye da auctora
é um anachronismo que parece forjado em Alcobaça no século de Bernardo

de Brito. N'aquelle tempo, não se sabia o que era olho armado.

(••) o monge Bernardo ainda era vivo: níio seria implorado na quali-
dade de santo; mas de bom intercessor para com o Deus dos exércitos. Es-
te caso, porém, da promessa feita na serra de Albardos pertence á parte my-

thica da historia.

(•••) Aliás XII, por que a primeira pedra foi assentada em 2 de feve-

reiro de 1148, 6 ao cabo de 74 annos foi concluído.

27

418 A FORMOSA LUSITÂNIA

já lhe deram a primazia nos mais opulentos mostei-

ros do reino? Caíu-lhe em cima já duas vezes a

garra devastadora. Barbaramente os francezes des-
truiram o sagrado edifício; violaram os sepulchros

em cata de thezouros, e esbrucinaram a formosa
Ignez de Castro em seu jazigo, ao pé do seu i'eal ma-
rido e amante. Laceraram-lhes os túmulos ; mas não

tiveram vagar para os derruir, por que o exercito an-
glo-luzo se aproximava ; e, pegando fogo ao mostei-

ro, que felizmente lhe rezistiu com sua solidez, os
sacrílegos assoladores fugiram. São menos interes-

santes outros jazigos que ali ha esculpturados mais

ou menos primorosamente. D. Ignez jaz em um sar-

cophago de pedra com os pés voltados para os de
D. Pedro, o justiceiro, que assim mandara collocar
os túmulos para que elle e a sua amada rainha se er-

guessem rosto a rosto, e se saudassem na resurrei-

ção.

O effeito que produz a nave central da egreja até

á capella-mór é deslumbrante, e o das naves lateraes
não o é menos, devido á grande altura e á belleza da

Aforma dos seus arcos. esculptura é magnifica, e

tanto aqui como em Alcobaça, tem-se cuidado mui-

to de reparar os estragos do tempo e também os
cauzados pelos vizitantes. Os portuguezes distin-
guem-se como escuiptores. Vi n'este convento e

em diíferentes capellas e egrejas que estão sendo

retocadas, magnificas amostras de esculptura mo-

derna, tanto em madeira como em pedra; e, ape-

zar da acção do tempo lhes ter assignalado os seus
perniciosos effeitos, ainda podem ser vantajosamente

comparadas com os lavores que subsistem.

ríATAIJIA, AÍJOlJArA, IJ-JIIÍA 419

A livraria foi outr'ora uma sala esplendida, ladri-

lhada de mármore branco c preto, com dezenhos

caprichosos nos intervallos das suas oito grandes
janellas. Todos os livros raros e manuscriptos pas-
saram para Lisboa quando os conventos se extin-

Aguiram. livraria ficava do lado de um jardim, cul-

tivado com esmero, e onde se encontravam as flo-
res mais raras. Duas fontes serviam de adorno a

—este jardim. N'um dos do claustro creio que ha-
—via cinco existiam ainda ha poucos annos as la-

ranjeiras mais antigas de Portugal. Diz-se que ha-

viam sido plantadas antes das de Penha Verde,
que eram consideradas como as primeiras introdu-
zidas na Europa e vindas da China. Estes immen-

sos conventos são hoje excellentes quartéis, e tal-
vez seja melhor que estejam habitados pelos sol-

dados da egreja militante do que por um regi-
mento de frades. Com quanto se veja pequeno nu-
mero de padres em Portugal, é classe que super-
abunda. E certo, porém, que o seu vestuário é mais

simples do que o dos antigos frades, o qual tinha

o que quer que fosse romântico. Esta falta, como

accessorio pittoresco aos grandes edifícios monásti-
cos, é sensível quando se vizita Mafra, Batalha e

Alcobaça.
Levantamo'-nos muito cedo, vimos Alcobaça e

ás 3 horas estávamos de volta em Leiria, E uma

cidade bonita rodeada de montanhas e com o rio

Liz serpenteando pelos seus férteis valles. No topo

d'uma montanha estão as ruinas d'um castello mou-

risco. Tem cathedral, varias egrejas, uma encanta-

dora alameda, e o rocio, onde os elegantes de Lei-

!

420 A FORMOSA LUSITÂNIA

ria se reúnem, nas margens do límpido rio. Atra-

vessamos os extensos pinheiraes plantados poi' el-

rei D. Diniz e chegamos a Leiria, sua rezidencia

predilecta.

É logar muito mais commercial do que a

maioria das cidades pequenas de Poi'tugal : tem

muitas fabricas notáveis, e na Marinha Grande ha

uma importante fabrica de vidro. Ha aqui um anti-
go portão de ferro que dá entrada para uma das se-

cções da fabrica e nos disseram que tinha sido
—trazido de Lisboa, do logar palavras textuaes do
—nosso guia
d'aquella infernal insiítuição da In-

quisição. Na capella do paço episcopal existe uma

— —magnifica pintura Jesus flagellado devida ao

pincel de Vasques.

Leiria é uma das cidades em que os francezes

exerceram sua vingança quando foram compeli idos

a retirar-se do paiz. E local bonito, alegre, e tem

aguas recommendadas pela medicina : tanto aqui
como nos subúrbios ha varias nascentes frias e

quentes que são muito apreciadas pelas suas virtu-

XVdes therapeuticas. No século era Leiria uma

terra afamada e foi esta cidade a que primeiro pos-

suiu imprensa em Portugal: era a terceira que exis-

tia na Europa. Aqui se estamparam muitas obras
importantes. Leiria foi também o l)ei-(*o do distincto

poeta Francisco Lobo.

Adeus, donosa Leiria

CAPITULO XXVII

— —INCÊNDIOS EXÉQUIAS COCHES DE ESTADO

—Lisbod. Os meus companheiros dirigiam-se a

Badajoz; mas não deliberados ainda na direcção a

seguij% depois de lá chegarem. Ora, como eu deze-

jasse ver aquella cidade, rezolvi ir com elles, aven-

turando-me á sorte de ser internada em Hespanha

ou repulsa de lá. Combinamos pernoutar em Abran-

tes, onde elles esperavam cartas. As cartas não vie-

ram mas appareceu-nos o nosso velho amigo de
;
—Barcellos aquelle a quem chamei Castella.

Este inesperado encontro, como era de espei^ar,

Emrevirou de todo os nossos projectos. vez de se-

guirmos para Badajoz, retrocedeu-se para o Entron-

camento, d'aqui para Santarém, e assim fui vindo

até Lisboa. Eu de mim não gostei da reconsidera-

ção; por que, tendo ido tam longe, quizera ver de

Abrantes alguma couza mais que o castello e as íbi'-

talezas lá ao longe, assim mesmo interceptados por

uma montanha. Ainda assim, vi de relance a ele-

—gante ponte da via-íeri*ea sobre o Tejo a principal

obra d'esta natureza que os portuguezes até agora

empreheiíderam.

O comboyo de Badajoz passava para engatar

no do Porto que chega de noute ; e nós, apezar de

422 A FORMOSA LUSITÂNIA

fatigadíssimos, preferimos vir n'elle a passar a

noute em Abrantes. Antes de recomeçar viagem,
D. Rita abriu-se um pouco mais commigo, e con-

—fidenciou-me (não é precizo encarecer-lhe o grande
—segredo) que nós, ou mais exactamente, elles re-

trocederiam. Separamo'-nos em Santarém, eu de
mim com pena, e me quer parecer que elles alguma

sentiram. Compromettemo'-nos que, se as couzas
de Hespanha se aquietassem no anno que vem, fa-

riamos juntos uma excursão n'aquelle paiz. Castella
ficou em Santarém; mas D. António veio commigo

para Lisboa, d'onde se passou a Liverpool e á Irlan-

da. Chegamos entre as seis e sete da manhã ; e com

as delongas na miúda e incomprehensivel busca das
bagagens, terminaram aquelle dia e noute de fati-

gante jornada.

Vae agora grande alarido em Lisboa contra «os

patifes da facção internacionalista de Hespanha».

Tem havido muitos incêndios, attribuidos aos mter-

nacionalistaSj que derramam petróleo nos portaes e
escadas quando o podem fazer a occultas. Os lisbo-
nenses estão loucos de medo, e eu começo a tremer
por outra laia de incêndios que podem faiscar do
terror pânico. Durante a noute passada houve trez

vezes por toda a cidade um horrendo badalar a fogo.
De uma vez, foi rebate falso. E que os sujeitos en-

carregados de vigiarem os fogos tornaram-se tam
nervosos como o resto da gente ; e assim que lobri-

gam nas janellas um charuto accezo com mais lume
que o trivial, ou alguma luz ao través de uma vi-

draça lampejando mais que outras, imaginam logo
que está ardendo a caza, e propalam a falsa noticia

l\(i;.M)lU8, EXÉQUIAS, COCHES DE ESTADO 423

j)(jr css.i Lisboa í'(')i'a. Ainda assim, quazi todas as

iioiites lia incêndios a valor.

—22. Esta niadi'ugada, entro meia nouto e uma

hora, acordaram-me sobresaltada os rebates dos si-

nos, e um barulho extraordinário na rua. Sontei-
me no leito a escutar. Ouvi passadas na escada e

nos corredores, e as exclamações: a Incêndio ! incên-

dio! Senhor!)} Pensei que estava a arder o hotel.

Immediatamente saltei da cama, e saí fora do quarto.

No largo patamar estavam senhoi^as, homens, crian-
ças e ci*iados, todos descalços, e trajados com a

maior simplicidade. Uma senhora tinha as longas

tranças soltas pelas espáduas; outras estavam de

touca de dormir. Esta trazia um saiote de baeta
vermelha, eum curto corpete branco; aquella vestia
uma enfronhada fatiota de doi'mir. Os meus atavios

não eram melhores. Os cavalheiros também compa-

receram en déshabillê. Tudo desordem. aQue é isto? »

— perguntei eu. a Incêndio! incêndio!)} exclamou al-

guém e, pegando-me da mão, levou-me de corrida
;

á janella que dava para a rua do Alecrim, onde já

estava uma dama, esposa do sujeito que me levara,

trajada como saíra da cama, a ver o fogo que la-

vrava furiosamente n'uma caza baixa ao fundo da

rua.

AQue algazarra! que confuzão I i'ua ia cheia, e

cada qual berrava quanto podia. As lavaredas ru-

bras davam aspectos sinistros áquellas caras que
vociferavam cheias de tregeitos iracundos. Os sol-
dados de cavallo corriam para baixo e para cima
com o Ímpeto de ajudantes de ordens nas paradas.

!

424 A FORMOSA LUSITÂNIA

Cruzavam-se os archotes, deixando caudas de faís-

cas, que me pareceram mais nocivas que proveito-
sas ao intento. Do topo da ladeirosa rua do Alecrim
desciam a correr centenares de gallegos com os bar-
ris ao liombro. O fogo era, lá ao fundo, no Arco pe-

Aqueno. agua corria rua abaixo por entre cordas,
;

mangas dispersas, e mobilia de todos os feitios
arrojada das janellas, viam-se as bombas entre as
lavaredas, mas não as dominavam, por que não ha-

via bastante agua.

Os bombeiros entreviam-se a caminhar entre

chammas para acudirem esforçadamente a uma mu-

lher que n'umajanella alta gritava desesperada que
lhe acudissem. Ella tinha entre os braços que es-

tendia uma criança. Hori^endo espectáculo ! Era im-

possível desviar a vista fascinada n'aquelle lance

E não puderam salvar a desgraçada mulher. Cerca-

vam-na as lavaredas ; viram-se-lhe nos braços duas

criancinhas; e, no momento em que os bombeiros

chegavam ao alcance de a salvarem, eis que ella se

abysma. -Os espectadores conclamaram um grito de

liorror. Mãe e filhos eram devorados pelo fogo.
O incêndio lavrou perto de quatro horas ; creio

que acabou de pei* si, por serem grossas as paredes

que defenderam o prédio vizinho. Esta manhã está

ati'avancada a entrada da rua por montes de tras-
tes quebrados e meios queimados. Ainda lá perma-
necem as bombas, e muitos soldados e operários.
Imputam este dezastre ao petróleo dos internacio-
nalistas, e já se diz que os suspeitos incendiários
se encontram vadiando nas vizinhanças do palácio
da Ajuda; pelo que, o paleo é defezo actualmente a

;

INCÊNDIOS, EXÉQUIAS, COCHES DE ESTADO 425

todos OS estrangeiros, e as sentinellas encaram des-
confiadas todo o viandante que relance a vista ao

paço.

—24. Houve esta manhã solemnes exéquias na

Sé, suffragando a alma de D. Pedro IV. Quando a

viuva vivia, este anniversario era um dia de tristeza

e luto para Lisboa. Desde o nascer até ao pôr do

sol havia salva de cinco em cinco minutos, e os si-

nos todos da cidade tangiam funebremente o dia
inteiro. Fechavam-se as lojas, toda a gente vestia de

luto, e andava, como F. observa, levada do diabo, e
disposta a amaldiçoar a memoria do rei soldado.

Morreu, porém, este anno, a imperatriz-duqueza

e, como este já seja o trigésimo nono anniversario,
mui judiciosamente aboliram as demazias do luto e

da tristeza, e as ceremonias reduziram-se á missa,

vizita ao jazigo de S. Vicente, e parada. Ao meio
dia estava tudo concluído. Parecia aquillo mais uma
manhã de festival revista de tropas que outra couza.

O altar-mór e os flancos da cathedral estavam

forrados de setim preto, agaloado de ouro. Os ca-

maristas do cortejo real iam de luto. O coiyo diplo-

mático tinha bancada distincta. D. Luiz, D. Fer-
nando e D. Augusto foram recebidos á porta da

egreja pelo patriarcha e clerezia, todos em grande

ténue, que os conduziram ás cadeiras, destinadas ás

pessoas reaes, com seu docel escuro franjado de ou-

ro, deante do altar-mór. O batalhão de caçadores 5

entrou no templo, e alinhou ao longo das naves; o
esquadrão de lanceiros ficou fora, no largo, á en-
trada. Grande quantidade de officiaes de marinha e

426 A FORMOSA LUSITÂNIA

de terra, quazi todos condecorados com profuzas

medalhas rutilantes, sentaram-se debaixo da nave
osqLiei'da; na direita estavam damas quantas ca-
biam; as que vieram tarde, sentaram-se no chão,
quando não estavam de joelhos, ou se empilhavam
n'um recanto d'onde se viam o altar e os ma-

gnates. A missa foi peormente cantada do que

outras a que assisti, mas ninguém deu por essa ni-

nharia.

Notei alguns generaes velhos e diplomatas con-

versarem animadamente com grandes gestos, e, ao
que pareciam, de todo em todo despreoccupados da

solemne ceremonia a que assistiam. No fim de tudo,

o rei, ao sair, parou a fallar-lhes, e elles agarraram-

Ihe na mão e beijaram-lh'a com tal vehemencia, que

era impossível conter o rizo á vista de tamanha ex-

plosão de lealdade. E D. Luiz com a sua cabega

loura, tam menineiro no meio d'aquelles veteranos

bronzeados, submettia-se com ares de gracioso re-
conhecimento áquelle supplicio, que a mim me quer
parecer que seja tam pezado para elle como para os
outros. D. Fernando retirou-se menos ceremoniati-
camente ; mas primeiro que as couzas entrassem na
ordem decorreu muito tempo, durante o qual a ca-

thedral e o largo ofiereciam um espectáculo brilhan-
tissimo, e o mais para ver-se que se me deparou em
Lisboa. O clero pompeava os seus hábitos de mais

luxo, a oíficialidade de mar e terra em grande uni-
forme com as suas condecorações profuzão de far-

;

das diplomáticas; a plumagem branca dos ajudantes

de ordens; as bandeirinhas brancas e escarlates dos
lanceiros, espectáculo imponente, tanto pelos sober-

INCÊNDIOS, EXÉQUIAS, COCHES DE ESTADO 427

bos cavallos, como pelos cavalleiros. Saiu depois o

famoso corpo de caçadores. Seguiu a turba das s(;-

iihoras trajadas de preto com realços de laços de cor

e flores. Depois, os espectadores de todas as classes

por ali dispersos, e as janellas cheias de gente. Os

sinos, em vez de dobrar, repicavam; atroada da ar-

tilheria eccoava rio acima, e trovejava do castello de

S. Jorge. Os cavallos curveteavam. Carruagens ar-
moriadas e librés vistosas estão embaralhadas com

tipóias de praças, e em vão se esforçam por sair á

frente que o espirito democrático dos cocheiros
;

Adesabridamente lh'o prohibe. populaça gosta d'is-

to, por que tudo lhe é patuscada, e muito lhe apraz

dar vulto ao brilhante espectáculo em honra do rei

soldado, que, se vê lá do ceu estas folias, deve rego-
zijar-se mais do que d'antes quando se procurava

despertar no animo do povo a memoria do excelso
libertador com incentivos fúnebres.

Com quanto um pouquinho quente, o dia estava

Alindo. temperatura de dia principia a ser agora

agradável em Lisboa. O mais grosso das turbas dis-
persou-se por passeios e ruas sombrias. E eu, que
me sentia disposta ás minhas recreações dilectas,

suggeri a F. que as pi'ocurassemos na feira de Be-
lém, que eu não tinha visto ainda.

Fretamos, pois, um bote no Cães das Columnas,
e fizemos um agradável passeio rio abaixo até Pe-

droiços, deslizando, á vista da formosa cidade, em

quazi todo o seu comprimento de nascente a poente.
Variado e encantador panorama que a vista nunca

se cança de admirar ! Saltamos em terra em Pedroí-

ços entre um abarracamento de banhos, perto d'a-

428 A FORMOSA LUSITÂNIA

quelle imbrincado specimen de architectura manue-

lina, a gentil e antiga Torre de Belém, e íbrtaleza

—do Bom Successo vanguarda defensiva do Tejo,

mais ornamental que temivei. Conta-se, a este res-

peito, que, durante a guerra civil dos Estados Norte

e Sul americanos, um navio pertencente a uma das

Umfacções entrou no Tejo. que estava ancorado

quaziimmediatamente aproou á barra. Seguiu-o, sem

intermissão de tempo, o outro, dando-lhe caça, em

contravenção das leis estabelecidas nos portos neu-

traes. O governador de Belém mandou, pois, dispa-

rar a bateria contra a fragata Sacramento que pas-

sava; mas, apezar de carregarem com bala, não lhe

Atocaram. fragata responderia ao fogo da Torre

com uma banda da artilheria, se ao capitão lhe não

repugnasse, como declarou depois, que as suas ba-

las delapidassem uma aresta d'aquelle lindo mimo da

ATorre de S. Vicente. Torre está perto da praia,

onde se arma a feira annual que dura um mez. Es-

perava eu encontrar o que (|uer que fosse piquant e

original em uma feira portugueza; mas desgraçada-
mente foi uma logração. Transposto o arco que di-

vide Pedroicos de Belém, o que se via eram maçãs

e mais nada: centos de jigos de maçãs vermelha-

Aças, bonitas para ver mas insípidas ao paladar.

maçã é a fructa mais reles de Portugal; ao passo

que as peras são uma delicia. Vistas as maçãs, se-
gue-se uma fileira de barracas, cheias de bugiarias

ordinárias, por via de regra tam feias que diríeis gos-

tarem pouco os portuguezes de brindarem os seus me-

ninos com brinquedos; pois a fealdade da bonecada

moveu-me a perguntar d'onde viera semelhante ma-





INCÊNDIOS, EXÉQUIAS, COCHES DE ESTADO 429

nufactura. Também ha ourives, c grande amostra de

—porcellana, bonita e curiosa único objecto digno de

at tenção.

Como nas feiras ruraes de Inglaterra e França,
havia gigantas gordas, raparigas disformes, um ra-
paz com duas cabeças, e outras que taes monstruo-
zidades, botequins, um ou dous cosmoramas, e um
theatro de arribação, em que se annunciava a Gran

Duqueza: era o recreio da noute, e o complemento

dos attractivos n'esta feira annual. Ao anoutecer con-

corre a populaça; e de manliã aftiuem as senhoras

com os meninos. D. Fernando e a sua condessa dão
por lã umas voltas, e com benévolo propozito esco-

lhem objectos na collecção d'aquellas farandulagens.
Dui'ante a primeira época da feira, que está a ter-
minar, o vento batia tam rijo n'aquelle sitio ventila-
do da feira, que era para recear que os furacões so-

prassem botequins e barracas pelo mar dentro. O
mau tempo obstou ã concorrência; e agora pedem-

se mais quinze dias para aquella semsaboria; pare-
ce, porém, que a outra feira de outubro, na extre-

ma opposta da cidade, se dã por lezada nos seus

direitos, e por isso impugna o consentimento da ca-

mará. A semanal Feira da Ladra, no Campo de
SanfAnna, é de um soporifero muito mais recrea-

tivo. Aqui, entre muita frangalhice e mixordía de

—couzas apparecem objectos de curiozidade e valor

reliquias de velhos tempos.
Pois que a feira nada tem que nos prenda, aqui

temos em frente a explendida egreja dos Jeronymos
de Santa Maria de Belém que se ve sempre com

prazer por muito que se vizite. Houve n'este sitio

430 A FORMOSA LUSITÂNIA

outrora uma ermida em que Vasco da Gama e seus

companheiros velaram orando a noute antecedente
ao embarque que os levou ao descobrimento da ín-

dia. O ponto de embarque era mais perto que o
;

Tejo n'aquelle tempo chegava ás paredes da ermi-

da. N'este mesmo local, D. Manuel, reconhecido a

Deus pelo prospero êxito da expedição indiana,
principiou a edificar o magestoso templo monacal,
que os seus successores concluiram. Por cauza da

proximidade do rio, os alicerces do mosteiro estão

cimentados em estacarias, que dão grande solidez

ás fundações, e d'ahi rezultou a rezistencia do edi-

fício ao abalo do grande terremoto. É hoje Casa Pia

o celebrado mosteiro que foi dos monges de S. Je-

ronymo. Dá amparo e educação a crianças pobres
de ambos os sexos. São bem tratados; e na edade
própria entram em officios que os habilitem a ga-

nhar sua vida.

A porta principal, ao sul do templo, é soberba
em numero de estatuas, columnas em rosca e pro-

fuzão de ornatos, pouco menos valiosos que os do
portal da Batalha. Mas é melhor entrar n'este for-
moso templo pela porta occidental, cuja esculptura-

ção é mais abundante e primorosa, e recentemente

restaurada. Quando se entra por esta porta, faz im-
pressão a baixeza da abobada ornamentada ; e o re-

licário, quazi em trevas a um dos lados, solemniza

aquclle aspecto mysterioso. Adiantados, porém,
poucos passos, entra-sc á nave arrojada e mages-
tosa. Vista d'aqui, esta parte interior, tem aspectos
singulares. Descança a abobada sobre delicadas colu-

mnas de iinissima esculptura, engrinaldadas, cheias

//!/ irit roí Tt r\\r-f niTOi i

FUONTAUIA DA EGlíAJA DOS JERONYiíOS OU SANTA MARIA DE BELÉM.



INCÊNDIOS, EXÉQUIAS, COCHES DE ESTADO 431

do rendas e arabescos da mais íantaziosa arte. Ha

poucas pinturas no templo. Os jazigos reaes são de
primoroso cinzel. Por detraz do altar-mór está o cai-

xão que encerra o cadáver do desgraçado Aííbn-
so VI. Jaz aqui a rainha CathaiMna, esposa de Car-

los II. Na capella-mór, e defrontando-se, estão osja-

zigos do fundador D. Manuel, seu filho e succes-
sor D. João III, e das respectivas esposas. São
formosíssimos os lavores das columnas que sus-
tentam dous órgãos soberbos. Philippe II ergueu

um cenotaphio á memoria de D. Sebastião. Vieram

de Africa os ossos inculcados como do joven e que-
rido monarcha, e foram ali encerrados couza de cem
annos depois da sua morte. Mas esta ossada pre-

sume-se que não seja a do rei, cuja morte é ainda

mysteriosa, e cujo regresso ao reino ainda se espe-

rava muito áquem do prazo que elle poderia durar.
Ouvi dizer que ainda ha sebastianistas. Eu não en-
contrei nenhum que esperasse da reintegração mi-

raculosa do rei o guindar-se Portugal aos pináculos
da gloria ! (*)

Rivaliza com o de Alcobaça o magnifico claustro
de Belém ; não ha nenhum que se lhe avantaje na
Europa, excepto o da Batalha. E pena que a restaura-

ção da egreja se haja protelado tanto. Porções d'este

(•) Nós, os portuguezes agradecidos, beijamos as mãos de s. exc.» pelo
favor que nos faz em não contar aos seus patricios que ainda esperamos D.
Sebastião, o Encoberto. Sirva esta probidade de lady Jackson de desconto
aos aleives que outros malandrins seus patricios nos assacam.

432 A FORMOSA LUSITÂNIA

templo rcconstruiram-se completamente ; a torre é

Atoda nova. esculptura parece boa e o todo é de

crer que seja umasoffrivel imitação do estylo manue-

lino. A pedra empregada n'estas renovações tem

uma cor amarallecida é branda e boa de lavrar, no
;

que se parece com a da primitiva edificação ; mas

estes modernismos desdizem sensivelmente do ve-

Atusto aspecto do restante edifício. excepção das

duas grandes portas, o interior do templo tem bel-

lezas não inculcadas pelo exterior. Por aqui passa-

ria eu horas ; mas esta minha vizita, pela ultima tal-
vez, não podia demorar-se, por que o meu compa-

nheiro lembrou-me que eu ainda não vira a velha col-

lecção de coches reaes, e o edifício que os contém.

A saída fomos assediados pelos mendigos que

se juntaram á porta. Nunca eu tinha visto tam es-

pessa turba de coxos, cegos, decrépitos e estro-

piados. Iam gemendo, mugindo e manquejando atraz

de nós: pungia ouvil-os e vel-os. Foi a feira que at-

traíu ali aquella chusma, e alguns dos que também in-

festam as ruas de Lisboa. Ao passo que nos iamos

retirando ao longo das barracas acotovelava-nos a

—fortuna com duas espécies de tentação o ouro d'este

mundo, e a salvação do outro; a primeira tentação

era reprezentada por gaiatos que vendiam cautelas

daloteria, aconselhando-nos a que não perdêssemos

o lanço de apanhar a sorte grande a outra tentação
;

fígurava-se nos mendigos que nos pediam encareci-

damente que salvássemos as nossas almas depozi-

tando alguns vinténs n'elles.

Em um edifício grande e solido, ou vasta co-

cheira, na calçada da Ajuda, por traz do Paço de

ir \ r FhlTORA

POETA OCCIDENTAL DA EGREJA DOS JERONYMOS, EM BELÉM.



IXCKXDIUS, EXÉQUIAS, COCHES DE ESTADO V,VA

Bclem, existem trinta o nove cari'uagens de estado

antigas. E um dos objectos mais cuimosos e interes-

santes que Lisboa offerece. São o remanecente da
gi*ande collecção, que a magnificência e prodigali-
dade dos successivosmonarchasportuguezes reuni-
ram no precui'so de trezentos ou quatrocentos annos.
Perderam-se algumas pelo terramoto que destruiu o
paço; mas, á vista das vicissitudes que a realeza tem
experimentado n'aquelle paiz, admira que ainda exis-
tam tantas relíquias das suas antigas pompas.

O mais antigo dos coclies data do dominio dos
reis castelhanos em Portugal. (•) Os chamados car-

ros de jornada são como saletas, com cadeiras, par-
sevão, meza no centro e pavimento axadrezado de
ébano e marfim. Ha alguns curiozissimos vehiculos
de uma e duas pessoas : parecem uns pequenos

gigs; são forrados de velludo cai^mezim, e têm varias
pinturas allegoricas. Alguns mais ricos pertenceram

Vao mais extravagante dos reis portuguezes, D. João

— —o Magniftco cuja ambição era rivalizar Luiz XIV

(•) Andou lady Jackson avizadamente, desviando-se das indicações do
príncipe Lichnowsky, acerca dos coches da caza real. Escreve elle nas Re-

cordações de Portugal que viu o coche de gala de D. Afibnso Henriques, viu

também o de D. Diniz, e outro de D.Manuel. Viu couzas que ainda não exis-
tiam no mundo dos vehiculos, porque a França conheceu os carros no rei-
nado de Henrique IV, a Inglaterra no século XVI, e Portugal no mesmo século.

o cardeal-rei D. Henrique, nas solemnidades, era levado em andas, e fora

d'isso cavalgava machos ou mulas. ,0 traductor do livro do principe prus-

siano deixou passar incorrecta uma aluvião de necedades que lhe cumpria

corrigir para declinar o seu quinhão de ignorância das couzas portuguezas.
Os snrs. Vilhena Barbosa e Innocencio Francisco da Silva asseveram que

28

434 A FORMOSA LUSITÂNIA

na prodigalidade dos gastos e sumptuoso estylo de

viver.

Em cazamentos, baptizados, mortuorios reaes,

ou grandes solem nidades saíam os coches de ri-
quíssima talha, apainelados definas pinturas emble-
máticas, forrados, estofados e afofados de sedas e

velludos cozidos em ouro. O forte e largo correame

que suspende os coches é dourado e esmaltado a co-
res; as rodas têm adornos semelhantes. São enor-
mes, comparados aos nossos carros modernos ; e,
puxadas a trez ou quatro parelhas bizarramente

Vajaezadas, as (ícarrocas de triumpho^y de D. João

devem de ser couza muito para se ver.

Tanto em explendor como em interesse histórico,

as carruagens de Versailles não lhe podem ser com-

paradas os dous coches offerecidos por Luiz XIV
;

são magnificentes. (•) Ha um primorosamente escul-

pido de grinaldas de rozas e Ijrios que cercam as ar-

mas e a inicial da archiduqueza Maria de Áustria: (••)

Vfoi dadiva do rei de França quando D. João es-

os primeiros coches vieram a Portugal com Fiiippe II. Não é isto perfeita-
mente exacto. D. Sebastião foi brindado por seu tio Fiiippe de Castella com
o primeiro coche que entrou em Portugal ; mas o neto de D. João III nunca
saiu a publico de coche, receando que o seu exemplo desse azo á importação

de taes locomotivas e afrouxasse o exercício da equitação. É o que se depre-
hende de uma lei sumptuária do principio do século XVII, e de uma repre-
sentação feita a Fiiippe III de Portugal contra o uso das carruagens em

menospreço do exercício de cavalgar.

(•) Não ha coches alguns em Portugal que viessem como dadiva de
Luiz XIV. Apenas têm de França o haverem sido lá fabricados.

(••) AliAs Maria Anna de Áustria.

INCÊNDIOS, EXÉQUIAS, COCHES DE ESTADO 435

posou aquella princeza. É toda dourada; e ain-

da agora parece que foi ha pouco cinzelada n'uma

grande barra de ouro estreme. O outro coche pre-
zenteado pelo mesmo monarcha a D. João tem pin-

turas relevantissimas, obra dos superiores artistas

francezes d'^aquella época. Nas costas de espaldar,

está um retrato de Luiz XIV que passa por excel-
lente. O papa Clemente XI também o galardoou com
outro specimen de escopro e pincel distincto, em re-

compensa da especial delegação enviada pompo-

samente a Roma por D. João V a cumprimentar

S. Santidade na sua eleição.

—Todavia, as mais antigas das quaes me infor-
—maram escassamente apezar da belleza e opulên-

cia das modernas, excedem-nas na magestade da
forma, e perfeição dos adornos: os grupos allegori-

cos das figuras, todas em estatura natural, ã volta

da caixa, na almofada do cocheiro, no tejadilho, e
nos quatro ângulos de cada vehiculo são realmente

maravilhas, tanto no dezenho como na execução.
As cortinas de velludo bordadas que ainda existem,
os coxins, os persevãos franjados e passamanes at-

testam qual foi a sumptuozidade d'estes coches. São

prodigiosamente grandes. Uma dúzia de cavallos ou

— —de bois é provável que se uzassem bois (•) se-

ria preciza para as moverem na Íngreme Lisboa e

(•) Os cocbes da caza real puxados a bois ! D. João IV ou D. Pedro II
atravessando o Terreiro do Paço n'aquellas gentilissimas salas de ouro ti-
radas por 12 bois ! Que esquizitice de senhora !

436 A FORMOSA LUSITAXIA

nos arrabaldes como elles eram quando os hms se

transportavam n'aquellas locomotivas.

Esta singular collecção de coches de estado não

é tratada com o desvelo que merecem tam preciosas

Arelíquias do antigo brilho dos reis portuguezes.

caza onde estão é um alpendre vasto, alto e escuro.

Estão descobertos. Põem-lhe os dedos sobre as pin-

turas, e mechem-as e palpam-as de maneira muito

nociva á sua conservação. Contou-me o empregado

da caza que uns vizitantes inglezes, ha pouco tempo,

cortaram duas borlazinhas de oui'0 da carruagem

fabricada para o baptizado de D. José. Teve elle de

as substituir, para evitar consequências desagradá-

veis, com outras de ouropel que lá estavam alinha-

vadas estupidamente com retroz amarello.

Agora vi eu dous ou trez hediondos nomes in-

glczes nas rodas de um coche. Os meus amigos por-

tuguezes pareciam desgostosos. Senti-me aviltada,

e não pude deixar de exclamar: «Oli! os viajantes

meus patricios ! sempre vândalos ! » (•) O referido em-

pregado instou para que eu entrasse nos coches,

cuidando talvez que eu me orgulharia de sentar-me

Vno coxim em que D. João se i*efestelára. Ora eu,

como este coche balanceava bastante, cuidei que tives-

se as correias partidas, e indiscretamente talvez en-

umtrei n'um cari*o-viajeiro de Filippe II, dos ainlru-

sos)y como os portuguezes, sempre ciosos da sua

(•) A auctora cuidou que eram de viajantes os nomes dos artifices in-

glezos q'ue construiram os peores coclies da caza real.

IXCKXDIOS, IvXKíJI IAS, ("OCIIKS Dl', EST.M)0 437

independência, denominam os Filippes castelhanos,

não os acceitando como reis de Portugal, posto que

admittam que a nação gemeu sessenta annos de-

baixo do jugo d'elles.

Antes de concluido o nosso exame d'aque]les

curiosos e interessantes carros, chegou um rancho
de hespanhoes para os ver. O encarregado, incan-

sável tagarella, segredou-nos que o desculpássemos

de nos deixar, porque ia attender excluzivamente

aos hespanhoes. Elle tinha recebido apertadas or-

dens de os vigiar de perto, desde que tentaram pe-

gar fogo ao paço. Suppunha-se que elles tinham

Umquerido incendiara Ajuda! cego accendera o

lume com cavacos, que arderam e alimentaram a

lavareda. Houve grande motim e alardo. Dous ou

trez soldados, na excitação do momento, foram in-

juriados, não á conta do fogo, mas porque não che-

garam a tempo de estorvar que elle se espalhasse.

Depois d'isto, circulam umas vagas atoardas que

dão o fogo como rezultado de substancias inflam-

maveis derramadas no paço pelos internacionalistas

hespanhoes.

Os hespanhoes pouco se detiveram a ver os co-
ches. Eil-o comnosco o nosso homem, dando á ca-

beça e sorrindo-nos com uns ti-egeitos e olhares de

espertalhão. Pensou que os impontáracom ainsisten-

cia dos seus olhos perspicazes. Contou-nos que não
deram importância ao que se lhes mostrou senão

—ecos Filippes )) os coches-Filíp, e que isto era si-

gnal de que elles não vinham com boas tenções. Ao

sairmos, disse-lhe F. que vigiasse cuidadosamente

as pessoas que vinham armadas de lápis e canive-

438 A FORMOSA LUSITÂNIA

— —tes. Sim, sim, excellencia respondeu elle Estes

são os inglezes.

Seguindo para Alcântara, d'onde parte um barco
a vapor de meia em meia hora, encontramos gran-

de chusma de mendigos. «Estava escripto que hoje

—se desfizessem as minhas illuzões todas ! disse eu.
— Principiara a crer que os mendigos eram agora

menos em Lisboa do que n'outro tempo em que

—estive aqui». «E são menos, muito menos», ex-
—clamou o meu amigo. «Então aquelles que são?»

e podia accrescentar sem mentir «tam escalavrados

e hediondamente vestidos».

Collecçâo assim de encarquilhadas bruxas, de

velhorras aleijadas, de capotes em frangalhos, de

calças esfarrapadas, de cabeças encanecidas, sujas

e esguedelhadas, nunca meus olhos ainda tinham

visto. E não cifrava n'isto o espectáculo. Estavam

lá duas ou trez seges anachronicas, obsoletas ; mas
douradas e pintalgadas tam garridamente, e até não

sei se artisticamente, que pareciam coches de esta-

do do lord maior. Quem diria que aquelle apparato

Áera um transporte de clérigos e defuntos ? volta

d'isto apinhava-se a canalha sedenta de ver ; os si-

nos tangiam clangorosamente n'aquelle ulular que

lá chamam dobrados: tudo, pois, annunciava que se

finara um homem rico, a quem iam enterrar. Logo

que o cadáver se mette no franjado carro funerário,

distribuem-sc esmolas pelos pobres, por alma do de-

funto. E que uns sujeitos, a quem já pertencia o rei-
no do ceu, compram passaporte para lá aquelles que

foram defraudados do seu quinhão de prazer na vi-
da. Disse-me E. que isto, na verdade, é artigo de fé

INCÊNDIOS, EXÉQUIAS, COCHES DE ESTADO 439

para muita gente. Dizem lá «que não só os pedintes,
mas os que trabalham, e que difficilmente, á custa

de grande lida, podem cuidar ao mesmo tempo do

corpo e da alma, lá na outra vida trocam a sua po-

zição com os ociosos d'esta)). Bem. Esta doutrina ó
consoladora ; andam á vez ; e isto convém pura e
razoavelmente aos que acceitam cá em baixo a capri-
chosa repartição do bem e do mal da existência.

Imagine que, desfarte philosophando, naveguei
rio acima, desembarquei no Cães do Sodré, e sof-
frivelmente cançada das devoções e prazeres do dia,

lhe disse um adeus desde a rua do Alecrim.



CONCLUSÃO

— —Soulhamplon Outubro. O despedip-mo da for-

mosa terra de Portugal, não o fiz sem lagrimas, sem

suspiros, c hezitações do coração.

Cinco dias ha que saí de Lisboa iio South Ame-
rican Royal Mail boat Lifjey. Tivemos de o deman-

dar perto do Lazareto, porque estava de quaren-

tena, por cauza da febre amarella do Brazil. Ps. ma-
nhã estava lindissima. Distinguiam-se perfeitamente

Cascaes, a serra de Cintra, e lá no seu pináculo a

—Penha. Depois, [a nebrina ás vezes muito cerra-

—da continuou até passarmos para além das Need-

les. Depois, como se uma cortina se levantasse, sú-
bito se aclarou tudo, avistando-se a ilha de Wight

e a costa Hampshire, ridente, luminosa e verde-

jante.

Entre os passageiros ia um hespanhol idoso que

se declarara official carlista, mas en relraite. Fez-

me recordar muitissimo Castella. Não fallavainglez;
mas em francez e hespanhol era fecundo em boni-

tos palavreados gallans, e entretinha-se a ensinar

dous passaritos d'uma dama. Doeste cazo inferi eu,
lembrando-me do discurso de Castella a respeito da

!

442 CONCLUSÃO

Índole hespanhola, que elle tinha um bom pedaço

de D. João, e que a porção de Quichote não era pe-

quena também. Ia com ares de mysterio a Irlanda,

e depois iria ã Rússia, dizia elle.
Preoccupava-o a chimera, para alguns bcspa-

nhoes tam afflictiva, de que D. Carlos goza na Ingla-
terra extrema popularidade e que elle provavelmente

sairá em breve victorioso da sua actual empreza em

se apossar de Hespanha.

Mal desembarcamos em Southampton que um

espesso nevoeiro envolveu terra e mar. Começou a

chuviscar, e as ruas da sórdida cidade encheram-se
de fumaça e lama.

Que clima ! que mudança ! Senti-me gelar a um
tempo, em corpo e alma. Accenda-se uma boa fo-

gueira, desçam-se os transparentes, e que não entre
aqui esse ambiente de chumbo. Ah! saudades! sau-
dades 'profundas d'aquelle sereno azul do ceu da
formosa Lusitânia

FIM

índice

PAO.

Advertência do traductor •• ^
IntroducçÃo
'

CAPITULO I 21

A VIAGEM

—O cabo da Roca— Uma tradição Passagem da Barra— Lisboa vista
—ao luar O Tejo

(CAPITULO II 25

o DESEMBARQUE

— — —Camas de cortiça Alfandega As stges antigas Conducção de

— — ....bagagens Uma prophecia franceza Carros a bois

CAPITULO III

A SUBIR

—Rua do Alecrim Lisboa, vista do Passeio de S. Pedro de Alcântara
— — — —O jardim Os gerânios Uma entrevista clandestina

— ....e modernos nomes das ruas Praça do Príncipe Real
Antigos

31

CAPITULO IV 41

A DESCER

— — —Praça de Camões A estatua O aguadeiro Companhia das aguas
— — — —Chafarizes Mendigos Cegueira A moda das lunetas . .

CAPITULO V

o CHIADO

— —Altos e baixos de Lisboa Grémio litterario Egrejas da Encarna-
— —ção, Loreto e Martyres A Eejent Slreet de Lisboa Rivalida-

— — Ades As senhoras e as suas loikttes mantilha hespanhola. , 49

444 índice

CAPITULO VI 59

NA PLANEZA

— —Conventos extinctos Rua nova do Almada As lojas da rua nova
— — —do Carmo Cães Providenciaes varredores das ruas Caza da
— — — —hydropliobia Preconceito Kocio O imperador do Brazil A
— —vidraria da Marinha Grande Um entendido Theatro de D.Ma-
— —ria II A praça Rolly Pooly Ruinas da egreja gothica da Se-
— — —nhora do Carmo Largo do Carmo Galope cantante O Pas-

— — ....seio publico Diversões amorosas Couzas de Lisboa

CAPITULO VII 77

DULCAMARA

— — —Agua fresca Instrumento de tortura Realejo Espécie genuina
— —de magica Uma corrente de ouro por cento e cincoenta reis O

ultimo segredo arrancado á natureza pela sciencia

CAPITULO VIII 83
103
UUAS E PRAÇAS
117
— — —l'raça do Cuinmercio Rua do Ouio Rua Augusta Rua da Pra-
— — —ta Pregues nas ruas A roda da Fortuna Cautíilas da lote-
— — — —ria Praça da Figueira Velha uzança O grande terramoto
— —Os Gallegos —Estatua de D. José Largo do Pelourinho Atra-
— —vancamentos á porta do Arsenal Prejuizos nacionaes Os hes-

— ...—panhoes em Lisboa Cães do Sodré Um telegramma.

CAPITULO IX

EM CAZA

— —A sesta A litteratura ligeira da actualidade Uma scena na rua
— — —do Alecrim Rua das Flores O terraço Os carrilhões de Lis-
— — — —boa Incêndios Petrolistas Meza redonda Vinho puro . .

CAPITULO X

UM PASSEIO DE CAKRUAGEM Á TARDE

— —O Aterro da Boa-Vista Quartéis de Alcântara Miniatura de Man-
— — —chester Fadistas Alcântara nos dias fuscos de Lisboa En-
— —contro com um ladrão Formosa perspectiva Cemitério dos Pra-
— — —zeres As Necessidades S. Bento — Archivos nacionaes A Biblia
— — —dos Jeronymos Jardim da Estrclla A capella ingleza Aven-

—tura carnavalesca O Grémio

CAPITULO XI

UJNIA CAl-ELLA E UMA CORRIDA DIO TOUROS

— — —S. Roque Desprotecção ás mulheres A Santa-Caza Capella de

— —UmS. Joào BapUsta
amador de corridas de touros Toureiros

ivhici'. 445

— — —liospanhocs Campo de SantWima O curro A companhia dos PAO.
— — —toureiros El Pôllo Pega de cara Enthusiastno dos espectado-
141
— — — ....res Salto do touro A feira da Ladra líogresso

CAPITULO XII 157

FESTEJOS DE 23 E 24 DE JUl.IIO

— —Commemora-se a queda do tyranno Suffragios pelos martyres
— —Discurso no j;-izigo de D. Pedro IV Desharmonia com Hespanlia
— —Duque da Terceira Entrada no dia 24 Turba-multa pittoresca
— — —Te-Deum ein S. Domingos Tropa portuguoza Os lieroes de
— —1833 Lisboa illuminada Os derradeiíos murmúrios de um lon-

go dia de jul)ilo

CAPITULO XIII 17'J

PARA CINTRA, NO LARMANJAT

— — —Enchente de liespanhoes A via-Larmanjat Um dia agradável
— — —Estrada de Cintra Santa Estophania Os lioteis O selvático.

CAPITULO XIV 195
213
o CASTELLO DA PENA, ETC.

— — —Burrinhos Passeio á serra Bellezas de Cintra Partida de liespa-
— — —nhoes Guias Jardins e pradarias do Castello O terrapleno do
— — —Castello A antiga egreja e o claustro Clialet de Madama O

Castello dos Mouros

CAPITULO XV

QCINTAS, SANTA CRUZ, ETC-

— —Quintas dos marquezes de Vianna e Vallada Palácio Marialva A
— — —convenção de Cintra A Penha Verde Estrada de CoUares Mou-
— — —serrate Santa Cruz Tentação de Santo Honório Quinta do
— — — —Dias O Fojo Uma lenda A Pedra de Alvidrar De CoUa-

res a Cintra

CAPITULO XVI

PALÁCIO REAL niPPODROMO MAFRA

— — —Origem sarracena do palácio Sala das pegas D. João I Sala
— — —dos brazues Chaminé de Miguel Angelo Banho mourisco
— — — —Atibnso VI As cozinhas O guia O burriqueiro O hippodro-
— — — —mo Villa de Cintra Mendigos Amadores A cadeia e os pre-
— — —zos Mafra O voto de D. João V Assento da primeira pedra
— — —Umde Mafra
exercito de obreiros Os frades arrabidos Pre-

— —Umciosos ornamentos de egreja
grande monarcha A frontaria, o

interior, etc, da basílica e palácio de Mafra— Os seus dias de festa 237

446 índice

CAPITULO XVII

—o OMNIBUS SETÚBAL ALFAMA

— — —Saída de Cintra O omnibus e os seus passageiros Setúbal A
— — —estalagem Egrejas e praças O setubalense Os apertos de mão
— — — — —UmAlfama
negreiro opulento Idéa brilhante Melòes Lis-

— — Aboa antiga As saloias estação central da via- férrea . , . 255

CAPITULO XVIII 271

PELA VIA-FEEREA AO PORTO

— — —Carruagens Companheiros de viagem Margens pittorescas O
— — —valle de Santarém Uma tirade eloquente O Entroncamento
— — —Thomar Uvas Miniatura de Veneza — Subsistência barata
— — —Caracter geral do scenario Coimbra Novo itinerário Dous
— — ——gigantes Alfandega Oporto O hotel de suas excellencias
— —O meu estalajadeiro Estranhos sócios da cama Uma vista en-

cantada

CAPITULO XIX

DO PORTO Á FOZ 291

— — —Um inglez impertinente Praça Nova Rua dos Clérigos Dia de
— — —feira Uns pittoreseos noivo e noiva Carros a bois Primeira
— — —vista do Douro Navios e barcos Cazas e jardins Mulheres e
— — —crianças Estaleiros portuenses Os cabouqueiros O chafariz
— — —e as lavandeiras Os Americanos Praia S. João da Foz . .

CAPITULO XX 305

AMERICANOS SERRA DO PILAR VALLE d'aMORES, ETC

— —Americanos e trens Arrabaldes do Porto Mosteiro e fortaleza da
— — — —Serra do Pilar Avintes Marechal Soult D. Pedro IV Festi-
—vidade de Nossa Senhora da Serra do Pilar Portuguezes da ve-
— — —lha cunha O Valle de Amores A praia Soturna magestade

da noute

CAPITULO XXI 319

MATHOZINHOS HOTEL DA FOZ, ETC.

— — —O banho Barra do Porto Mathozinhos e Leça Lenda de Nosso
— — ——Senhor de Mathozinhos A roviaria Mindello Os carros
— — —Uma pitada de rapé Hotel na Foz Famílias hespanholas O
— —jardim do hotel Mendigos melodramáticos Miscellanea de incon-

gruências

——

ixDiCE 447

CAPITULO XXII PAa.

HESPANHOES, PALÁCIO DE CRYSTAL, THEATRO 335

— —Encontro com os hespauhoes O snr. Rivas e Doila Rita O

— — —museu Palácio de Ciystal Vista da Tone de Marco Theatro
—de S. João Vistas do Douro dos pontos culminantes do Porto .

CAPITULO XXIII

EGKEJAS, MERCADOS, RUAS

A — A —<' terra clássica da liberdade e industria»
oathodral Claus-

— — —tros de S. Vicente de fora S. Bento Coração de D. Pedro
— — —S. Francisco Fogo posto ao convento O Banco As manhas do
— — ——sabbado no Porto Os tamancos Cedofeita Feira do Anjo
— —Factoria ingleza Fundação da Mizericordia Rua das Flores
—Ourives, chapeleiros, alfaiates, sapateiros e ourives da prata La-

— —byrintlio de ruas na parte mais alta da cidade Caleiros As

—iras do Douro Uma cheia 345
3G1
CAPITULO XXIV 387

UMA EXCURSÃO PELO MINHO

— —Os meus amigos hespanhoes Villa do Conde Uma cavalgata a
— —Barcellos Aventuro-me á sorte dos carlistas Magestosa vista
— — —do Cavado Nossa Senhora da Franqueira Arrebatamentos
— — — —UmSnr. Castella
bailado Barcellos D. Carlos O exercito
— — —Acarlista
Índole bespanhola Los Inglezes Passeio a Pon-
— — — —te de Lima Conhecimento novo Lethes Ponte da Barca
— — —Uma centenária Jornada a Braga A Sé O guerreiro-arce-
—bispo de Braga Lavagem do rosto dos santos — Bom Jesus
— —do Monte Guimarães Espinho e Granja

CAPITULO XXV

COIUBRA, BUSSACO

— — —Mealhada Estação de Coimbra Hotel central do Mondego Os
—amores de D. Pedro I e D. Ignez de Castro Explosões poéticas
— — — —A festa Nào fumar Os estudantes Sé Velha Santa Cruz
— — — —Allbuso Henriques A alameda Ataque de somno A uni-
— — — —versidade A bibliotheca Jornada ao Bussaco Luzo Rival de
— — — —Cintra Batalha de 1810 Subida á serra A matta Os frades
— — — —A fonte fria Perspectivas grandiosas Hotel projectado

Grandeza soleinne do Bussaco

CAPITULO XX VI

BATALHA ALCOBAÇA LEIRIA

— — —Regresso a Coimbra Diligencia para Leiria Local da Batalha
— —Bellezas exteriores Naves e claustros Tecto da caza capitular

448 ixDicK

— — —ACapolla imperfeita
Batalha n'outros tempos Subida aos

— —pináculos Da Batalha a Alcobaça A mulher do padeiro de Al-
— — —jubarrota A estalagem Os monges bernardos de Alcobaça
—Descrijjçào da sua cozinha por Bcckford Aposentos do dom ab-
— —bade Fundação do mosteiro Jazigos de D. Pedro I e D. Ignez
— — — —de Castro A livraria Leiria Os seus pinheiraes Aguas mi-

iieraes, etc 407

CAPITULO XXVII 421

INCÊNDIOS EXÉQUIAS COCHES DE ESTADO, ETC.

— —Saída para Badajoz Mudança de plano Despedida aos meus
— —amigos hespanhoes Regresso a Lisboa— Incêndios Scena na rua
— — —do Alecrim Triste eatastrophe Infernacionalitifas Exéquias
— — —na Sé -«Demónios azues-) Decorações da egreja Explosões
— — —de lealdade Scena galante Embarque Tejo abaixo Torre de
— — —Belém A feira Santa Maria de Belém Portas ao meio dia e
— —ao poente Sepulchros e claustros Cegos, coixos e mutilados
— — —Antigos coches hespanhoes e portuguezes Fogo na Ajuda
— —Lápis e canivetes O funeral de um ricasso Passaporte para o

ceu

CONCLUSÃO

— — UmAdeus a Portugal Nevoeiro fora da barra vellio official car-

— —lista Desembarque em Southampton Seraiva, nevoeiro e lama 441

— Saudades da Formosa Lusitânia

ERRATAS ESSENGIAKS

PA»,

COLLOCAÇÂO DAS ESTAMPAS

Estatua de Luiz de Camões , PA«I.
Theatro de D. Maria II, no Rocio ou Praça de D. Pedro . .
Barra de Lisboa, vista do Cães do Sodré . 42
Aqueducto das Aguas livres ^ , 69
Castello da Pena, Cintra
Castello de Mouros 101
Estrada de Collares 183
Palácio e basílica de Mafra 195
Torre dos Clérigos 209
219
O Douro visto do passeio das Fontainhas 237
O Douro visto do antigo Seminário 294
298
Ponte pênsil entre o Porto e Villa Nova de Gaya 299
309
O Douro e suas margens vistas do ponto mais elevado do Porto . 340
364
Vista do Cavado, em Barcellos . 396
Frontaria da egreja de Santa Cruz, em Coimbra 405
409
Fonte fria, no Bussaco 428
Claustro de Santa Maria da Victoria, Batalha 430
Torre de S. Vicente de Belém . 430
Frontaria da egreja dos Jeronymos em Belém
Porta Occidental da egreja dos Jeronymos em Belém, . . .

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