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Published by juangrifone, 2021-04-22 10:56:14

PORTFOLIO_JUAN _ULTIMO_AL22-04

PORTFOLIO_JUAN _ULTIMO_AL22-04

ÍNDICE

RESUMO ........................................................................................................................ 5
INTRODUÇÃO................................................................................................................ 6
PERCUSSO NA PINTURA NA ESCOLA GUIGNARD ................................................. 10
A PINTURA COMERCIAL ............................................................................................ 16
OS MATERIAIS ............................................................................................................ 18
TÉCNICA ...................................................................................................................... 21
ESTADO DE ARTE....................................................................................................... 23
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................... 25
ANEXOS....................................................................................................................... 26
REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 32

RESUMO
O texto a seguir apresenta o meu memorial de percurso no campo das artes abordando
desde o momento da minha decisão em cursar a Faculdade de Artes de Córdoba -
Argentina, aos meus dias como aluno da Escola Guignard e minha escolha pela
habilitação em Pintura.
Discorro sobre minha pesquisa com materiais diversos, a evolução do processo técnico
e os artistas que me fornecem referencias. Nas aulas com o Professor Sebastião Miguel
desenvolvi os trabalhos intitulados: TORSO BELVEDERE, O LUXO É VULGARIDADE,
PATTERNS, CAMUFLAGEM e CAMUFLAGEM:O NEUTRO e no momento de
orientação pude refletir sobre meu processo de criação, sua gênese e percurso.
Palavras-chave: Processo de criação. Técnica Mista. Migração.

5

INTRODUÇÃO

Lembro-me de estar no campus da Faculdade de Engenharia (UTN), pensando em meus
próximos três anos (que me faltavam para ser Engenheiro de Sistemas), estava pronto para
entrar em uma sala cheia de equações, probabilidade, os limites racionais quando chegou
na minha cabeça o pensamento que mudaria o rumo de minha vida a partir daquele
momento. Porque eu vou terminar uma carreira (Engenharia de Sistemas) na qual o objetivo
final é resolver problemas, quando soluções não existem? Eu queria criar problemas.
Naquela época, eu disse adeus a essas construções carnívoras para entrar em um mundo
alternativo que, naquele momento, não conhecia: a Faculdade de Artes de Córdoba.

Aprendi a desenhar observando a realidade, a primeira vez foi um retrato da minha família
não muito bem construído, mas 100% original. Com a influência do meu irmão (que
desenhava muito bem) consegui ganhar alguma habilidade. Por outro lado, a carreira de
Engenharia de Sistemas havia sido pelo interesse dos meus pais desde a infância, quando
eles mudaram-me de escolas diferentes oito vezes por eu ser "inapropriado", ter um
comportamento "mal adaptado". A balança estava desequilibrada, a Engenharia de
Sistemas caiu por terra e a Faculdade de Artes parecia a única saída possível para uma
mudança de cenário.

O curso foi mágico, novas técnicas que eu não conhecia surgiram e pessoas
completamente diferentes a que eu estava acostumado. Lembro-me muito bem, o me
primeira aula de aquarela em sala de aula, quando foi introduzido em nossas cabecinhas a
ideia de Tao, Yin/Yang do equilíbrio e os paralelos que esta filosofia tinha com a aquarela.
A convivência com outras pessoas interessadas em artes foi fantástica. Como minha casa
era em outra cidade (40 km), normalmente durante todo o dia eu estava na faculdade, que
me permitiu saber sobre museus ou pintar algumas paredes na rua.

6

Foto da 1era Exposição na Universidade Nacional de Córdoba, 2010

Nesses primeiros anos de faculdade, aprendi muita história da arte, aprendi a não ter medo
da pintura, aprendi a esculpir, aprendi a conviver com outras pessoas, aprendi a amar, a
desejar, a chorar, a fumar, a beber e a não dormir.

Assim, com a pele efervescente com o que eu estava aprendendo na PINTURA I, a
importância do Atelier, e a importância das diferentes realidades de cada um se
confabulando para criar outro ser, a 1ª exposição de pintura na Universidade Nacional de
Córdoba, na Argentina se gestou.

Assim foi entre amigos criamos um Coletivo de instalações: Rodrigo Paz, Nicolás Castillo
Villada, eu e as vezes com a participação de Aldo Scagliarini.

7

“Juntabamos um monte de lixo e o pintávamos” BITACORA,
ano 2010

Instalamos uma série de robôs feitos de televisões antigas, computadores, terra, plantas,
queríamos ser uma planta, queríamos viver nesse ritmo, mas o robô de computador não
permitia.

Aos 26 anos, eu tinha um pequeno ateliê em um apartamento, com muitas pinturas, mas
ainda faltava alguma coisa. Se você falar com um argentino, com certeza, ele dirá que já
esteve viajando e/ou que está planejando uma viagem. E assim foi com todos os meus
amigos, eles estavam indo em uma viagem de mochileiros pela América Latina ou Europa,
eu senti como se estivesse ficando preso. Foi assim que um dia, entre cervejas e porro1
(como qualquer bom encontro), decidimos fazer uma viagem pela América Latina fazendo
murais. Nós éramos quatro amigos e achamos que seria uma boa ideia ter algum registro
da viagem para escrever, colocar fotos e gravar um rádio (?). Mas precisávamos de um
nome. Assim, surgiu a ideia do TRIP ROLL, seria uma rádio de viajantes e um blog que
registraria todas as aventuras desse grupo. Nos primeiros três dias de viagem a pessoa
que seria nossa locutora de rádio online não queria continuar a viagem talvez porque
éramos fãs do caos, mais anarquistas:

Deitado nas areias da conformidade, um dia seu calor começou a nos atormentar,
decidimos nos exilar de morrer cozidos. Pare de observar os eventos pela janela para ver
o alvorecer dos augúrios.
Estamos indo para uma viagem "não-retornável" das garras do inferno moderno. 2

Depois de passar por vários estados do Rio Grande do Sul pedalando na bicicleta. Em
outubro de 2013, havíamos chegado a Curitiba, também tínhamos um espaço para nos
acomodar. O dono do estabelecimento (BACKPACKERS) me permitiu fazer uma escultura
em troca de hospedagem. "A flor" era composta de vários tipos de sucata (folhas de zinco,
cadeiras, cabos de metal) que foram desmontados e logo montados no chão.

1 De acordo com o dicionário online da Real Academia Espanhola, porro é um cigarro, marijuana ou haxixe misturado com tabaco.
Acesso http://dle.rae.es/?id=TiRpTAC|TiSoRZJ|TiVcija|TiXVxcf em 31/10/2018 as 13:14.
2 5 DE MARZO de 2013. Disponível em: <http://triproll.blogspot.com/2013/03/martes-5-de-marzo-de- 2013.html?view=sidebar>.
Acesso em: 17 agosto 2018.

8

LA FLOR, Instalação, Curitiba, 2013

Quando conheci um anexo da Faculdade de Letras de Curitiba, mais uma vez senti o
cheiro da escola matinal. Tive oportunidade de trabalhar alguns dias na faculdade, mas
continuei a viagem.
Em 2016 me matriculei na Escola Guignard - UEMG–com aproveitamento das disciplinas
que trouxe da Argentina dentro do currículo da escola onde frequentei.
Finalmente, retornei à academia como um camuflado, como um infiltrado.

9

PERCUSSO NA PINTURA NA ESCOLA GUIGNARD
Não queria fazer arte figurativa, na época (2016) a pintura era abstrata e alguns cortes
já estavam permeando. Assim em Processos Expressivos I (disciplina do primeiro
período) o suporte era papelão, a pintura era no chão e usava ferramentas como o
estilete.
Nos primeiros momentos, encontrei-me com um material problemático para tornar
matéria. Queria cavar em caixas (usadas, achadas), usei um estilete para cortar e
lentamente estava rasgando a pele de papel. Com o passar das horas, contornos,
formas foram formadas, todo o material foi apreciado, por dentro e por fora.
No ano de 2017 nas salas de aula do Prof. Renato Madureira essas composições
gráficas aparecem porque as caixas (que costumava apoiar) vieram com marcas e as
marcas comerciais vieram nas caixas, então foi muito fácil misturar esses elementos
para criar uma composição harmoniosa.

10

Juan GRIFONE,Sem título, Técnica Mista, 130cm x
40cm, Belo Horizonte, 2016

11

Juan GRIFONE, Estudo de material 01, esmalte queimado, lápis, carimbo de placa mãe sobre papelão, 30cm x
50cm, 2017

Neste momento meu lapso foi porque eu estava pensando binário. Isso significava que a
tinta e o suporte eram partes diferentes. Agora não penso mais nisso. Então, eu pintava
com muita matéria, colocava muito verniz, usava muito carvão. Lembro-me de ver Ed
Paschke3, aquela pintura ("Red Boxer") e pensei na figura e no fundo. Esse eterno conflito,
batalha inquebrável, romance rigoroso. O mesmo pensamento duas coisas opostas, o
binário4. Por que não colocar uma realidade paralela ou várias? Como escapar do binário?

3 Edward Francis Paschke é um pintor americano de ascendência polonesa. Seu interesse de infância em animação e desenhos
animados, bem como a criatividade de seu pai na escultura e construção de madeira, o levou a uma carreira na arte. Acesso
https://en.wikipedia.org/wiki/Ed_Paschke em 31/10/2018 ás 13:21.
4 Nota Do Autor (N. do A.): bem e mal, energia e matéria, homem e mulher

12

Ed Paschke, RED BOXER, Oil on linen, 50 cm X 60 cm.,2004

Lembro-me das salas de aula de História da Arte com Alexandre, falando sobre Albert
Eckout (c.1610-1665), lembrei-me das salas de aula de Curadoria em Arte contemporânea
e lembrei-me de uma longa palestra de Jeff Koons. Até que comecei a escrever um projeto
curatorial que se chamava: Onde se esconder da arte contemporânea? Na verdade, a
pintura pode formar um espaço.

13

18
Então, pensei no meu projeto, sobrepor partes, cortei justapostos na Pintura II com
Sebastião Miguel, aparecem essas colagens digitais, uma mistura de torsos, talvez objetos
de conforto. Essas imagens redundantes parecem ser reinstaladas como novas tentativas.
Em esses momentos trabalhava com Massa Corrida com a qual preparava o suporte,
cimento, cola, látex, tingir o tecido. Eu consegui fazer vários cavaletes (chassis) de várias
pinturas. O líquido aparece de novo, essa visão da pintura de Ed Paschke ainda estava na
minha cabeça. Por que os padrões?

Juan Grifone, Torso Belvedere, 30x70cm, 2017, Técnica Mista e Collage.

A primeira pintura se chama “O torso Belvedere”, em ela aparece esta obra
clássica quase fantasmagórica se desfazendo sobre um sofá retro. A primeira
premissa que tinha descoberto das minhas pinturas ate este momento era a
acumulação, desde que cheguei ao Brasil fiquei surpreso pelas aglomerações: de
pessoas, de bens; ao qual o brasileiro estava plenamente acostumado e
normalizado. 5

5 Escritos para a matéria Pintura II na Escola Guignard: TORSO OBJETO, 2017

14

A experimentação dos primeiros dias na faculdade começou com colagens. Nas primeiras
imagens eu colocava pedaços de papel de jornal, e pintava sobre ele, cortava as caixas
com tons terra: verde não saturado. Na época, eu era bolsista "PROEX" da UEMG. Isso me
permitiu ter a oportunidade de atuar na área de Ensino de Arte na Escola Municipal Filinha
Gamma, para a COPASA. Foram escritórios trabalhados, com dois meses de duração e
destinados a crianças de 8 a 15 anos. Foram pequenas doses de Arte Educação, visando
a preservação do meio ambiente, onde trabalhamos temas de arte contemporânea como
INSTALAÇÃO, COLAGEM, VÍDEO.

15

A PINTURA COMERCIAL

Quatro amigos argentinos, quatro bicicletas e um sonho em comum: atravessar o
continente latino-americano sobrevivendo de arte, de música e de pedaladas.
Assim nasceu o projeto Trip&Roll, que caiu na estrada há cerca de quatro meses
com destino incerto.
Para sobreviver, Juan, Nícolas, Gastón e Rodrigo trocam um teto, comida e
demais itens essenciais – como garrafas de vinho Malbec, por exemplo – por
pinturas, esculturas ou apresentações musicais que são capazes de produzir.6

.

Depois de um tempo sabíamos que a pintura lentamente seria valorizada, mas a primeira
grande obra não era pintura, mas um mosaico. Um animal de 2 x 3 metros, com uma
quantidade aproximada de 5000 peças cortadas de diferentes telhas. Foi uma das primeiras
obras vendidas, com um comprador exigente, mas gentil. Isso permitiu que vivêssemos
onde produzíamos.

Com a chegada dos clientes que queriam pagar pelos nossos trabalhos, começamos a
investir no projeto e compramos computadores. Os próximos trabalhos seriam trabalhados
no PC, para que se pudesse misturar e justapor imagens, modificar as composições
rapidamente; foi uma ferramenta que deu velocidade e, claro, a velocidade é lucro dentro
da máquina capitalista.

Na pintura, quando se pensava que uma obra indicava para cada espaço escolhido pelo
cliente, a peça (de arte) era adaptada a diferentes superfícies como o revestimento.
Algumas pitadas das instalações do passado apareceram.

Na Argentina, havia feito algumas performances de pintura ao vivo, então pensei em pintar
como um registro da ação. Eu queria fazer uma pintura com tudo que eu tinha aprendido
que era bem visto (estética) e eu tinha lido um livro do Kitsch. É assim que os primeiros
trabalhos aparecem em suportes pictóricos como telas ou madeira. Em meus escritos
desde o mesmo ano (2014) a ideia de ornamentação aparece. Eu havia lido o livro O
Espiritual na Arte de Kandinsky, assim ele fala da força ornamental:

6 Acesso https://www.gazetadopovo.com.br/blogs/ir-e-vir-de-bike/argentinos-fazem-arte-enquanto-pedalam-pela-america-latina/ em
18/08/2018 as 22:53.

16

Pero aun admitiendo que no ha existido otra fuente que la naturaleza en los
mejores ornamentos, las formas y colores naturales no han sido utilizados de un
modo puramente externo sino más bien como símbolos que con el tiempo
adquieren un valor casi jeroglífico, haciéndose lentamente tan incomprensibles
lo que hoy no sabemos descifrar su valor interno […]7 (KANDINSKY,1911, p89-
90)

O grupo (o coletivo) foi desmembrado e com a minha esposa decidimos colocar um stand
nas feiras de artesanato, não foi fácil vender, mas sempre fizemos bons contatos,
raramente investíamos e o dinheiro não voltava. Decidimos criar uma serie esteticamente
comercial e fortemente contemporânea que falava dos temas que eram de nosso interesse.
Então nós tivemos uma nova série de pinturas. A LOVE RETRO.

A partir dessa materialidade que a múltipla distribuição do mosaico aceita para
criar uma obra. O artista entra no desafio da superposição e nova formulação de
realidades com a série “Love Retrô”.
Partindo do conceito de empoderamento feminino, aparecem imagens
recorrentes da luta por igualdade de gênero. Pensando as estruturas da imagem
feminina como retrato. E reinterpretando-as adicionando um toque de ironia. Uma
enfermeira surpreendida, uma atriz de filmes românticos, uma escritora de livros.
Estas pessoas que tem a potencialidade de ser, elas são mulheres sem corpo,
são sublimes identidades paradoxais de gênero. Os clássicos ícones já não são
suficientes para enfrentar a vida contemporânea; será que ícone está morto? Será
que a hegemonia caucásica masculina terminou?
Sobrepondo às obras já concebidas e em exposição, o artista, buscando
constantemente a conexão do real e do abstrato, enquanto realidades
sobrepostas

CURADORIA LOVE RETRO, Nunes Alcantara, 2017

Neste texto de Nunes Alcantara, para a exposição, esta questão aparece novamente no
sublime da identidade e na abstração / realidade.

7 Mas mesmo admitindo que não houve outra fonte além da natureza nos melhores ornamentos, as formas e cores naturais não foram
usadas de um modo puramente externo, mas como símbolos que ao longo do tempo adquirem um valor quase hieroglífico, tornando-se
lentamente incompreensíveis. . O que hoje não sabemos como decifrar seu valor interno [...] (KANDINSKY, 1911, p89-90)

17

OS MATERIAIS
Quando entrei na Escola Guignard-UEMG, já usava tinta acrílica, em uma variedade que
é para piso. Na Bahia, consegui experimentar várias tintas diferentes em tela, porque
trabalhei para um cliente que recebeu grandes quantidades de óleo, acrílico, látex,
gesso. Mas o que realmente interessa eram as paredes, assim levei essa tinta para o
tecido. A tinta acrílica para piso8, deixava as superfícies mais ásperas, mas aderia como
um simbionte, e o melhor era que secava rápido (mais rápido que o acrílico profissional).

Juan GRIFONE, Sem-título, vidro, objeto queimado, cimento branco, esmalte, giz, massa, látex, esmalte queimado, e carvão sobre
papelão, 20cm x 30cm, 2017

8 Resina à base de dispersão aquosa de copolímero estireno acrílico, pigmentos isentos de metais pesados, cargas minerais inertes,
hidrocarbonetos alifáticos, glicóis e tensoativosetoxilados e carboxilados.

18

Neste mesmo ano (2017) experimentei pigmentos naturais, misturas do tipo: pigmento +
tinta acrílica, pigmento + óleo de linhaça, pigmento + cola, pigmento + cimento, pigmento +
enduido (massa corrida). Nestes experimentos, a melhor maneira de obter uma boa cor de
alto contraste foi com o óleo de linho. Mas não obtive a saturação que precisava, que só
encontraria em corantes industriais.

No trabalho Torso Belvedere utilizei tinta para piso, que cria uma superfície suficientemente
porosa para o lápis pastel criar pequenos pontos como crachis 9 técnica que também
aparece neste quadro. Os fundos com figuras geométricas em cores planas são de
tonalidades contíguas, com um começo de tonalidade em degradê.

Neste percurso me reencontro com o suporte, fazendo o chassi10, todas as obras no
momento as faço de um modo caseiro

Antes os suportes eram materiais que recolhia ou deixados à proteção do tempo. Isso
permitiu que a aplicação de tinta no suporte fosse sem uma base. Misteriosamente esta
fórmula funciona, ao colocar o esmalte para cobrir e arrematar no lado oposto do Eucatex
aparece uma superfície porosa. A limpeza do pincel geralmente é feita nesses poros
abertos.

Para formar os gradientes que fazem parte da composição tonal geralmente se deixa a tinta
(acrílico ou esmalte) sobre o suporte com escovas ou espátulas, assim, o desprendimento
da tinta acontece através da porosidade. Portanto, este jogo entre tinta e suporte permite
criar uma união.

Por outro lado, na pintura se trabalha com paletas descartáveis, já que uma vez que este
tipo de tintas industriais seca não permite a sua reutilização ao contrário da tinta a óleo.

9 “As impressões de Lautrec frequentemente exibem efeitos técnicos deslumbrantes, já que as novas inovações em litografia durante o
século XIX permitiram impressões maiores, cores mais variadas e texturas diferenciadas. O artista freqüentemente usou a técnica de
tinta respingada conhecida como crachis”. Acesso https://www.metmuseum.org/toah/hd/laut/hd_laut.htm em 30/10/2018 ás 23:22
10 Chassi (do francês chassis) é uma estrutura de suporte para outros componentes que pode ser feita de aço, alumínio, ou qualquer
outro material rígido. Acesso https://pt.wikipedia.org/wiki/Chassi em 31/10/2018 ás 14:09.

19

Na área da diluição se trabalha com três recipientes com água, o primeiro servirá para cores
claras, o segundo para cores escuras e o terceiro para a mudança entre cores saturadas.
O prazer de estar no meu ateliê em minha casa me permitiu misturar alguns itens do dia a
dia, como detergente para lava-louças, cera, para funcionar como diluente. No caso de
detergente para louça, comporta-se como óleo de linhaça para pintura a óleo, criando
esmaltes e esticando a pincelada. Graças a este mecanismo, pequenos detalhes
inconclusos na pintura podem ser facilmente resolvidos.

20

TÉCNICA

Na maioria das pinturas, começo com uma ideia desenhada ou montada como uma
colagem no computador. Muitas vezes eu tento desgastar a imagem por métodos digitais
fazendo três, quatro ou cinco projetos no Photoshop. Depois um será escolhido para fazer.
A imagem é projetada rapidamente no suporte. Neste momento, é aplicada uma camada
de tinta ou lápis que demarca onde as formas e composição serão organizadas.

[...] compreendemos que a história se faz por imagens, mas que essas imagens
estão, de fato, carregadas de história. Ela é uma construção discursiva que
obedece a duas condições de possibilidade: a repetição e o corte. Enquanto
ativação de um procedimento de montagem, toda imagem é um retorno, mas
ela já não assinala o retorno do idêntico. Aquilo que retorna na imagem é a
possibilidade do passado. Nesse sentido [...], visamos ultrapassar o círculo da
subjetividade, potencializando, ao mesmo tempo, a receptividade, que mostra
de que modo as formas do passado podem ainda ser novamente equacionadas
como “problema”. O inacabamento de uns remete-nos às outras, mas a
impotência delas carrega-se de renovadas forças de sentido. São essas as
“Potências da imagem”
(ANTELO, 2004, p. 9-12)

O estêncil possibilita a reprodutibilidade já que

começa a partir de um módulo da mandala inicial:

isso significa, que se desenharmos uma linha reta no

centro da imagem e perpendicularmente cortarmos o

centro da primeira linha, nossa figura será dividida

em quatro módulos. Este módulo pode ser replicado,

espelhado, invertido horizontalmente ou

verticalmente.

A colagem começa a partir da base do decoupage11, Exemplo de módulos, Juan Grifone, 2018

que é uma técnica ornamental de revestimento em

papel ou tecido. O Claro- Escuro aparece como uma técnica predominante para resolver

temas com figuras realistas. Estes serão organizados de modo a criar uma conversa com

as partes adjacentes e não figurativas. Essa conversa pode ser traduzida em um declínio

no qual Georges Mathieu declara, como a dissolução das formas:

11 N. do A.: Decoupage é a arte de cobrir uma superfície com recortes de jornal, revista, papel, dando a aparência de uma delicada
incrustação.

21

Em todos os períodos, o declínio da civilização resultou em três fases:
esclerose, inchaço e, finalmente, a dissolução das formas. Do ponto de vista
existente, a mesma coisa acontece com a arte, e é a sua causa que, numa
embriologia de signos, depois do estágio de encarnação de qualquer estilo, [...]
se passa pelo estágio do academicismo, do barroco e do de destruição, antes
de voltar ao caos, que seria o caos inicial [..] (MATHIEU, 1973, p.91)

Desta maneira peças de massa corrida e argamassa aparecem como elementos dotados
da matéria. Em "Camuflagem 01" a madeira é coberta irregularmente por argamassa AC I,
o que permite a valorização do suporte. Em "Camuflagem: O neutro", um imponente bloco
de massa branca alivia a camada de tinta feita em esmalte industrial sobre madeira.
Também grandes espaços planos coloridos são usados como elementos autoconclusivos.

A primeira camada de tinta é normalmente trabalhada com tinta para pavimentos devido à
reduzida opacidade deste material. A segunda camada é trabalhada em esmalte sintético
para criar um conjunto de reflexões. Agora a inserção do terceiro material será novamente
opaca para estimular a retina do espectador.
O suporte é montado especificamente para cada peça e outras vezes os suportes são
achados na rua, meu interesse é na busca pelo portátil e robusto. Ao mesmo tempo, posso
garantir um tecido produzido no momento em que preciso e da forma que desejo. Na
maioria das vezes este suporte já tem uma história que pode entrever-se nos vestígios, em
mínimos detalhes que deixo aparecer. Muitas vezes é preciso utilizar um suporte mas rígido
pela pressão das marcas ou pela necessidade de fazer cortes ou utilizar como apoio.

22

ESTADO DE ARTE12
No início, nos corredores da faculdade, encontro a referência de Antoni Tapies. Comecei a
procurar mais informações sobre ele, a abundância de materiais e o sustento filosófico do
qual ele mesmo fala no documentário TE de TAPIES de 2009, arrepia a pele. Por outro
lado, Jasper Johns com sua encáustica e formas da sociedade da acumulação, pareceu-
me um reflexo sincero da hiper estimulação do dia a dia. Então, Martin Kippenberger,
parecia o mais próximo do artista não ícone, já que Martin trabalhava nas ruas fazendo
murais em restaurantes e com uma produção prolífica, ele levantou a bandeira do produtor
e pintor artísticos Em "Luxo é vulgaridade" esta referência é muito clara.

KIPPENBERGER, Self-Portrait, 1988.

12 É o mapeamento (uma pesquisa) que possibilitará o conhecimento e/ou reconhecimento de estudos que estão sendo, ou já foram
realizados no Brasil ( em alguns casos no mundo) com temáticas, ou linhas de pesquisa , iguais ou parecidas a que você está
estudando. Geralmente, a pesquisa é realizada apenas dentro de sua área de estudo, pois além de reconhecer o que está , ou foi
investigado, você poderá usar posteriormente os materiais encontrados para sua revisão de literatura. Acesso
https://www.nucleodoconhecimento.com.br/blog/videos/o-que-e-o-estado-da-arte em 31/10/2018 ás 14:06.

23

No momento em que conheci o trabalho de Athos Bulcao, meu cérebro foi atualizado com
a informação modular que proporcionou tal feito estético. Com sucesso, na década de 50,
revolucionou a modularidade do revestimento de azulejos.
Por outro lado, David Hockney, com seu documentário O Conhecimento Secreto, me fez
entender a falta de limites de trabalhar com o projetor. Ao mesmo tempo eu entendi que é
uma maneira de ter uma prévia do que será implantado no tecido.
No ano de 2017 eu encontrei Dave Salle, graças ao prof. Sebastião Miguel, eu entendi um
pouco sobre como os artistas propuseram nosso novo multiculturalismo e talvez um modo
de entender a pintura pós-moderna. Bem como este coquetel entre abstrato e real.

24

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pintura foi desde o início levando-me a diferentes momentos e reflexões. No começo eu
tratava a pintura como um objeto de catarse, mas com o passar do tempo eu estava
aprendendo a entender alguns dos diferentes momentos pelos quais ela acontece. Então
eu entendi que o instantâneo pode ser trabalhado na pintura, mas sempre será necessário
um tempo de secagem. Assim como na vida precisamos de tempos para entender e
aprender:
Esses anos de trabalho em pintura me deixaram pensando que se pudéssemos criar a
maior pintura do mundo, nosso maior material seria o tempo. A pintura atua desde as partes
automática, subconsciente, intuitiva e instantânea até as partes mais friamente calculadas.
Como nós mesmos devemos fazer, a pintura é um mundo gigante que pode ser
redescoberto todos os dias. A pintura é coletiva, é uma herança mundial, cada fragmento
que compõe tem um pouco de todos nós ou nada.

25

ANEXOS
26

Juan Grifone, Patterns, Esmalte sobre Eucatex, 30 cm X 60 cm.,2018

27

Juan Grifone, Camuflagem Sem título, Técnica Mista sobre Eucatex, 130 cm X 60 cm.,2018

28

Juan Grifone, Sem título, Técnica Mista, 50 cm X 60 cm.,2018

29

Juan Grifone, Camuflagem: O neutro, Técnica Mista, 90 cm X 130 cm.,2018

30

Juan Grifone, Camuflagem, Técnica Mista, 90 cm X 130 cm.,2018

31

REFERÊNCIAS

ANTELO, Raul. Potências da imagem. Chapecó: Argos, 2004.

HOCKNEY, David. O conhecimento secreto: redescobrindo as técnicas perdidas dos
grandes mestres. São Paulo: Cosac & Naify, 2001.

METROPOLITAN MUSEUM OF ART, “Henri Toulouse-Lautrec (1864-1901)”, 2010.
Disponível em https://www.metmuseum.org/toah/hd/laut/hd_laut.htm . Acesso em:

30/10/2018.

NASCIMENTO, Alexandre Costa. "Argentinos fazem arte enquanto pedalam pela América
Latina". Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/blogs/ir-e-vir-de-bike/argentinos-
fazem-arte-enquanto-pedalam-pela-america-latina/ . Acesso em 31/10/2018.

REAL ACADEMIA ESPAÑOLA, “Porro”, Disponível em

http://dle.rae.es/?id=TiRpTAC|TiSoRZJ|TiVcija|TiXVxcf . Acesso em: 31/10/2018.

REVISTA CIENTIFICA, “O que é o estado da arte?”. Disponível em
https://www.nucleodoconhecimento.com.br/blog/videos/o-que-e-o-estado-da-arte . Acesso

em 31/10/2018.

THEODOR W. ADORNO, PIERRE FRANCASTEL y otros: “El arte en la sociedad industrial”
(traducción de María Teresa La Valle, 1973).

WASSILY KANDINSKY: “De lo espiritual en el arte” (traducción: Elizabeth Palma, 5ta Ed.:
1989)

WIKIPEDIA, “Chassi”. Disponível em https://en.wikipedia.org/wiki/Chassi. Acesso em:
31/10/2018.

WIKIPEDIA, “Ed Paschke”. Disponível em https://en.wikipedia.org/wiki/Ed_Paschke.
Acesso em: 31/10/2018.

32

JUAN GRIFONE

TRIP ROLL
coletivo artistico
Viagem por diferentes estados do Brasil desde Córdoba, Argentina até Salvador.
Sem dinheiro, sem relogios, sem celulares.
NOTA: As datas podem da publicação e dos escritos pode ser diferente, já que era
colocado na internet quando se podia.













Metiendo colores en Florianópolis





















Fotografia: Rodrigo Paz
Texto: Gáston Ovi

Bicicletaria Cultura- Curitiba


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