PATRIMÔNIO
INSTITUTO AMIGOS DO PATRIMONIO CULTURAL
ANO I - NÚMERO I - EDIÇÃO SEMESTRAL – 2020
PORTO DA ESTRELA
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PORTO DA ESTRELA
No século XIX, os portos fluviais da Baixada Fluminense
tornaram-se de grande importância econômica e social para o
Rio de Janeiro, sede do Império Brasileiro. Mas foi no século
XVIII que o Porto da Estrela, localizado às margens do Rio
Inhomirim, hoje pertencente à cidade de Magé, tornou-se
referencia no transbordo do ouro e pedras preciosas que
desciam de Minas Gerais.
Entretanto, a gestação da monocultura cafeeira no século
seguinte, delineou o rumo da principal atividade econômica da
Capitania que se fortaleceu com a chegada da Família Real.
Através do Porto da Estrela, as grandes fazendas de café do
vale do Paraíba passaram a exportar sua produção e importar
junto com quinquilharias europeias: máquinas a vapor para
moverem engenhos de açúcar, artefatos de cobre e vidro,
colchões, sapatos, escopetas, garruchas, roupas de lã, chapéus,
instrumentos óticos, louças etc. No lombo das tropas subiram
os primeiros pianos e cravos “para deleite das moças
langorosas e prendadas, e de bacharéis de punhos rendados,
frequentadores de saraus familiares”.
Através desse porto, o Brasil começava a ser descoberto
por viajantes; propagadores do exótico, do tropical, do
amálgama que iria formar a nossa cultura. Mesmo não se
destacando pela qualidade literária, deixaram fartos
testemunhos para reconstruirmos hoje, traços significativos da
formação de nossa sociedade.
Hoje, só o abandono das ruínas relembra a grandiosidade
de outrora, perpetuado nos desenhos de Victor Barrat e
Maurício Rugendas, ou nos seus apontamentos que diziam:
“Porto da Estrela seja a um só tempo, muito animado e
industrial. Os estrangeiros e principalmente os pintores devem
visita-lo, mesmo se não estiver no seu caminho. É um lugar de
reunião de todas as Províncias do interior; aí se encontra gente
de todas as condições sociais e podem-se observar suas
vestimentas originais e suas atividades barulhentas. Aí se
organizam as caravanas que partem para o interior e, somente
aí, o europeu depara com os verdadeiros costumes do Brasil”.
Guilherme Peres
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INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
RANGEL PESTANA
PROF. ELIETE FERNANDES ANGELO
O Instituto de Educação Rangel Pestana, da
Rede Estadual de Ensino, situado no
Centro, no município de Nova Iguaçu, no
Estado do Rio de Janeiro, nem sempre foi
do jeito que é hoje.
Na verdade, atualmente, ele é a unificação de duas
escolas distintas, que foram construídas no mesmo
terreno: o Grupo Escolar Rangel Pestana e o Instituto de
Educação de Nova Iguaçu.
Cerca de duas décadas é o total de tempo que se
passou entre as construções dessas duas escolas.
Durante um período de quase de 10 anos conviveram
com harmonia, com apenas um muro separando-as. As
duas escolas ministravam cursos distintos e foram
unificadas na década de 70, no século XX.
Como se pode ver a história do Instituto de
Educação Rangel Pestana começou, na verdade, há
muitos anos atrás. O início de tudo foi o ato de criação,
através do Decreto nº 2676, conforme D.O. de 17 de
novembro de 1931, do então Grupo Escolar de Nova
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Iguassú (nessa época, se escrevia com essa grafia – só
depois de 1945 a palavra Iguaçu passou a ser grafada
com ç e sem assento agudo).
Esse ato de criação ocorreu durante o primeiro
governo do presidente Getúlio Vargas. Ele assumiu o
governo brasileiro após a Revolução de 1930, através da
tomada do poder depois de sua derrota nas urnas da
eleição presidencial, ocupando o cargo por um tempo
que durou cerca de 15 anos, passando inicialmente por
um governo provisório (1930/1934), por outro dito
constitucionalista (1934/1937) e pelo momento drástico
do período conhecido por Estado Novo (1937/1945), um
sistema de governo ditatorial.
Logo após a chamada Revolução de 1930, Getúlio
Vargas entre tantas medidas, nomeou interventores nos
estados brasileiros. No Estado do Rio de Janeiro quem
assumiu o cargo foi o professor, magistrado e político Plínio
de Castro Casado.
Como líder na Revolução de 1930, em Nova Iguaçu,
Getúlio Barbosa de Moura depôs o prefeito da cidade e
assumiu o cargo, tomando-o para si. Algum tempo
depois, ele teve um desentendimento com o governo
federal e a cidade foi ocupada por tropas do Exército.
Getúlio Barbosa de Moura foi então afastado do cargo,
sendo anistiado pelo presidente Getúlio Vargas, no ano
seguinte, em 1931.
Ainda em referência à esfera municipal, no caso de Nova
Iguaçu, podemos perceber em sua monografia de
conclusão do Curso de História, Revolução de 30 na
terra da laranja: uma leitura a partir do Correio da
Lavoura, onde Marlene Nascimento diz:
“Assim como Getúlio Vargas é referência da
Revolução de 30 no Brasil, Getúlio de Moura foi o
principal nome da Revolução em Nova Iguaçu.”
O político Manoel Reis, que também teve participação na
Revolução de 1930, indicou o professor Sebastião de Arruda
Negreiro para ser o novo interventor municipal. Nessa época
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pertenciam ao município de Nova Iguaçu os territórios de
Nilópolis, São João de Meriti, Duque de Caxias, Japeri,
Queimados, Belford Roxo, assim como Mesquita. Atualmente,
cada um desses antigos distritos são também municípios que
conquistaram suas emancipações graças à plebiscitos
realizados nas décadas de 40 e depois na de 90, do século XX.
Em junho de 1931, Getúlio Vargas esteve presente
em Nova Iguaçu, junto ao já prefeito (interventor)
Sebastião Arruda Negreiros, na ocasião da solenidade
de lançamento da pedra fundamental do Hospital de
Iguassú. Verificamos que a data é anterior ao decreto de
criação do Grupo Escolar de Nova Iguassú.
A vinda de Getúlio Vargas foi uma maneira de
também se aproveitar para comemorar o quadragésimo
ano de fundação do município. A inauguração do
Hospital de Iguassú, no entanto, só se concretizou anos
depois, no dia 31 de março de 1935.
Na verdade, em relação ao hospital era importante a
sua construção, não só como uma necessidade de se
criar um espaço de atendimento à população, mas
também como uma forma de proporcionar o
reconhecimento de Nova Iguaçu, enquanto um
município com um comprometimento urbano. Vale
destacar que Nova Iguaçu, nesse período, passava por
um processo de urbanização importante, em seu
chamado distrito sede, hoje Centro da cidade.
DR. ARRUDA NEGREIROS
Nessa época da formação inicial do Grupo Escolar
de Nova Iguassú, ainda sem ocupar o espaço territorial
que hoje ocupa (o prédio só foi construído na década de
40), quem exercia o cargo de prefeito, em Nova Iguaçu,
era justamente o interventor Sebastião de Arruda
Negreiros. Ele ocupou o cargo no período compreendido
de 1930 a 1935. E no final da década de 50 acabou por
exercer mais uma vez o mesmo cargo.
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A gestão de Sebastião Arruda Negreiros notabilizou-se,
principalmente, pela construção de rodovias. Era muito
importante esse empreendimento, pois, afinal, facilitaria o
escoamento da produção agrícola, principalmente da laranja,
que já era cultivada e apontada como um grande destaque
comercial.
Em função do crescimento da comercialização da
laranja para abastecer o mercado interno e de
exportação, a administração local realizou melhoria das
estradas existentes, assim como criou novas, acabando
por modificar a estrutura urbana em função da
citricultura.
Amália Dias em seu livro Entre laranjas e letras:
processos de escolarização no distrito sede de Nova
Iguaçu (1916-1950) e Maria Theresinha Segadas Soares
em seu artigo Nova Iguaçu: absorção de uma célula pelo
grande Rio de Janeiro publicado na Revista Brasileira de
Geografia comentam que:
“O núcleo urbano estava sendo construído com
intuito de facilitar o comércio e a produção da laranja,
logo a cidade se constituía como um espaço de
interação entre o urbano e rural, e nesse período,
grupos vinculados à atividade procuram reordenar as
funções do município, a ocupação e os usos do espaço,
em função da citricultura . . .”
“. . . e assim estabelece na cidade uma relação
íntima entre o núcleo urbano e o meio rural circundante,
crescendo aquele em função, principalmente, das
necessidades desse”.
Em relação à citricultura, é importante ressaltar que a
laranja chegou à Nova Iguaçu, no final do século XIX,
vinda de São Gonçalo, município do Estado do Rio de
Janeiro. E o seu conhecido ciclo teve seu
desenvolvimento e apogeu no período compreendido
entre 1920 e 1940.
Nova Iguaçu possuía o codinome de “Cidade
Perfume”, nesse período da primeira metade do século
XX, tal era o odor exalado das flores dos laranjais
cultivados praticamente em todo o município.
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FAZENDA SÃO BERNARDINO
PATRIMÔNIO HISTÓRICO
BREVE ANÁLISE DE USO DE SUAS
INSTALAÇÕES
JOSÉ LUIZ TEIXEIRA
A PREÂMBULO
tendendo solicitação dos estudantes de
arquitetura Danielle Almeida, Patrícia
Vettorazzi, Cecília Trindade, Carla Gomes e
Gabriel Amaral, que buscam conhecer e identificar as
funções dos diversos cômodos da Fazenda São
Bernardino, para instruir trabalho que vem
desenvolvendo durante seu curso, tentaremos
responder aos mesmos, seguindo a ordem da
numeração que foi colocada no desenho da planta da
referida fazenda, obtida nos arquivos do IPHAN.
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Entretanto, necessário se faz um ligeiro resumo
introdutório que permita inserir referida edificação no
contexto do século XIX, considerando ainda sua
localização e seus fins, segundo objetivos de seu
proprietário, além de breve reflexão sobre seu abandono
até o presente estado de ruína.
A CASA GRANDE
Construção de estilo neoclássico, em forma de "U",
com três pavimentos na sua parte central, edificada
sobre um pequeno outeiro, situada do lado direito da
estrada que de Vila de Cava segue para Tinguá,
denominada atualmente Estrada Zumbi dos Palmares, nº
2023, anteriormente denominada de "Estrada Federal",
muito embora seja uma Rodovia Estadual (RJ 111),
situada no distrito de Vila de Cava, no município de
Nova Iguaçu, ficando localizada no extinto território da
Vila de Iguaçu, no lugar hoje conhecido como Iguaçu
Velha.
À sua frente, um majestoso renque de palmeiras
imperiais, conduz o caminho entre a fazenda e a antiga
Parada São Bernardino, da antiga e hoje extinta Estrada
de Ferro Rio D`Ouro, emoldurando o belo conjunto
arquitetônico que ainda hoje comove aquele que a visita,
possuindo em plano inferior, que se acessa por alta
escadaria, um amplo terreiro de secagem de café,
contornado pelas ruínas da antiga senzala e do que
sobrou do engenho.
Seu fundador foi o Comendador Bernardino José
de Souza e Mello, que depois do casamento com
Cipriana Maria Soares, passa a ser sócio de vários
negócios com o sogro, o também Comendador
Francisco José Soares, na Villa de Iguassu, reunia com
suficiência todas as possibilidades para construir a
Fazenda São Bernardino, assim se referindo a ele o
relatório existente no IPHAN, quando da iniciativa de se
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levar avante a implantação do Parque de Múltiplo Uso
São Bernardino, no ano de 1974, pela Prefeitura de Nova
Iguaçu, com recursos da FUNDREM - Fundação para o
Desenvolvimento da Região Metropolitana do Estado do
Rio de Janeiro:
"Os negócios em que os Soares e Melo estiveram à
frente, juntos ou separados, tomando por base o ano em
que a cólera-morbo atingiu a Vila de Iguaçu (1855), e dai
por diante, foram os seguintes: Melo & Irmão, Melo &
Souza (comércio); Soares & Melo (arrematante de
barreira e "venda de bilhetes" para passageiros nos
"ônibus" de Joaquim Gonçalves Bastos); Moura, Filhos
Soares & Cia. (frete, ensaque e exportação de café);
Veiga & Cia. (idem)
Não foi sem razão que foi classificada em dito
relatório como:
"Exemplar de elevado valor monumental do
patrimônio histórico e artístico do país."
Caminhar por suas ruínas desperta a imaginação. E
logo nos vem os ecos do passado, como a sugerir de
que maneira se vivia ali no tempo de fastígio e
opulência, do ir e vir das pessoas, o canto melancólico
de algum escravo, a sonhar com a liberdade ou sua terra
natal, as mocinhas casadoiras contando os dias para a
festa da matriz ou curiosas a respeito de algum visitante
moço, que não podia ultrapassar a ala social da casa.
O poeta mineiro Emílio Moura, amigo e conterrâneo
de Drummond, no seu livro A Casa, define melhor esse
sentimento com seus versos:
"Abro os olhos à memória: a Casa salta do tempo.
Ah, cheiro de outrora, cheiro de relva, de terra úmida...
A vida, ao redor, tão clara, tão segura de cada hora."
"Transbordamos para o pátio, vencemos, céleres, ..."
"... áreas sem limites. Que áureo mundo!"
"Há valos, córregos, moitas e, ah, segredos!..."
"Em cada ritmo, um modo de ser e sonhar..."
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Idealizada e construída pelo Comendador
Bernardino José de Souza Mello a partir do ano de 1862,
só veio a ser concluída no ano de 1875, segundo data
que até há poucos anos se via em sua fachada, além do
monograma BJSM, alusivo ao seu fundador. Foi
edificada na nova área surgida a partir da junção de
duas propriedades:
"Em 1861, a 13 de outubro, a firma Soares & Mello,
como cessionária da viúva Moreira, de Luiz Manoel
Bastos, José Joaquim Gonçalves, Manoel José Ferreira,
Manoel de Moura Alves e Barão de Guandu (credores de
José Frutuoso Rangel, inventariante de sua mulher
Antonia de Moura Rangel), adquire terras do citado
inventariante, após o pagamento das dívidas do casal.”
Tratava-se de um "sítio" de florestas, em terras
próprias, com trezentas e oitenta e sete braças e sete
palmos de testada e fundos, um quarto de légua, mais
ou menos, com todas as benfeitorias e onze escravos
(pelo valor de três contos de réis). Tudo registrado no
cartório do tabelião José Manoel Caetano dos Santos
(processo nº 2.252, existente no Cartório do 1º Ofício de
Nova Iguaçu).
O sítio de floresta, com benfeitorias e escravos é
posteriormente comprado por Bernardino José de Souza
e Mello, por dois contos de réis.
A 3 de junho de 1862, Bernardino José de Souza e
Mello adquire o "sítio Bananal", que era de propriedade
de Francisco de Paula e Silva e sua mulher - Maria
Maciel Rangel da Silva.
Esse sítio media 434 braças de testada e 603 de
fundos, confrontando-se ao norte, com José Gonçalves
Bastos; aos sul, com José Frutuoso Rangel; fundos,
com os herdeiros do capitão Joaquim Mariano de
Moura; frente, com Fortunato José Pereira. O objeto
desta compra estava hipotecado a Francisco José
Soares e Luisa Joaquina da Costa Neves "que abriram
mão da hipoteca em favor de Bernardino José de Souza
e Mello".
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Os dois "sítios" são anexados e formam o primeiro
núcleo territorial para compor as terras da futura
“Fazenda São Bernardino."
A primeira estranheza que se impõe a quem estuda
a fazenda é o fato da mesma ter sido iniciada e
concluída sua construção já em plena era de decadência
da vizinha Villa de Iguassú, que desde 1858, com a
chegada da Estrada de Ferro Dom Pedro II a
Maxambomba (atual centro de Nova Iguaçu), iniciara o
lento processo de esvaziamento econômico em favor do
citado lugarejo, que deixara a Villa apenas com a
animação artificial que lhe proporcionava a vida
administrativa do município, que ali ficou até o ano de
1891, quando se transfere em definitivo para
Maxambomba.
Com efeito, na medida que a Estrada de Ferro Dom
Pedro II, se interiorizava em direção ao Vale do Paraíba e
posteriormente em direção as províncias de São Paulo e
Minas Gerais, decaia dia a dia o movimento de tropas na
Estrada Real do Comércio, que ligando a antiga Villa de
Iguassu, ao interior das antigas províncias do Rio de
Janeiro e Minas Gerais, foram a razão de sua existência
como uma das muitas Vilas de Comércio, que haviam no
chamado Recôncavo da Guanabara, citadas por Alberto
Ribeiro Lamego no seu livro "O HOMEM E A
GUANABARA"
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GUIA DOS BENS CULTURAIS DE ALGUNS
MUNICÍPIOS DA BAIXADA FLUMINENSE
PAULO CLARINDO
580 × 377
DUQUE DE CAXIAS
Conjunto Arquitetônico da Fazenda São Bento do
Iguassú (casa grande e capela).
O conjunto arquitetônico está localizado à Rua
Benjamim da Rocha Júnior, nº 6, bairro de Campos
Elíseos. Data de 1612. Foi tombado pelo IPHAN em julho
de 1957 e transformado há pouco tempo em Museu Vivo
de São Bento. Há evidências do início de recuperação
desse precioso exemplar da arquitetura religiosa
colonial, que é composto pela Casa Grande e Capela de
Nossa Senhora do Rosário, datando aproximadamente
de 1612. Sua capela (N. S. do Rosário, que já fora
vinculada à Freguesia de N. S. do Pilar) foi recuperada,
muito embora já não possua mais o seu retábulo.
Atualmente, é utilizada pela comunidade local, além do
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conjunto arquitetônico servir de sede para o Centro de
Referência do Patrimônio Histórico de Duque de Caxias
(CRPHDC).
Igreja de Nossa Senhora do Pilar de Iguassú (1612)
Está situada esse belíssimo monumento à Avenida
Presidente Kennedy, no bairro do Pilar, Duque de
Caxias. Tombada pelo IPHAN em maio de 1938, a Igreja
do Pilar – como é mais conhecida – está parcialmente
restaurada, necessitando de recuperação interna.
Lamentavelmente, teve há alguns anos suas imagens
roubadas. Pela sua importância histórica, artística e
cultural necessita de mais atenção por parte das
autoridades e do IPHAN para que sua restauração seja
levada a efeito. Este belíssimo exemplar da arquitetura
religiosa colonial da Baixada Fluminense é muito
querido e admirado pelos moradores do seu entorno.
Quem ainda não a conhece, não deve deixar de visitá-la,
pois representa um dos ícones do Patrimônio Cultural
da região.
Museu Duque de Caxias (Sítio Histórico a céu
aberto)
Está situado à Avenida Automóvel Clube, bairro da
Taquara. Na verdade, trata-se das ruínas do que fora a
Fazenda São Paulo, do século XVIII, onde nasceu e viveu
Luís Alves de Lima e Silva, futuro Duque de Caxias.
Apesar da sua importância histórica, o referido sítio
histórico e arqueológico nunca foi contemplado com o
tombamento.
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NILÓPOLIS
Seguindo nossa viagem pelo turismo cultural na
Baixada Fluminense, nos dirigimos agora ao município
de Nilópolis para lá encontrarmos os seguintes bens
culturais:
Capela de São Matheus (1637)
Situada numa elevação próxima ao Centro do
município de Nilópolis, esta capela pertencera à antiga
Fazenda São Matheus, que dera origem ao município. A
capela ainda mantém suas linhas originais. Foi tombada
pelo Poder Público local
Sinagoga de Nilópolis
Construída em 1928, em estilo holandês, por um
grupo de imigrantes judeus, entre eles, o rabino Moshe
Yehuda Grynberg, avô do Sr. Xie Goldman.. Cerca de
trezentas famílias viviam em Nilópolis na década de
1920.
Sua última restauração ocorreu em 1949. A
sinagoga era administrada pala Sociedade Tifereth
(glória, em hebraico) Israel de Nilópolis, que tinha como
objetivo principal a restauração e revitalização da
sinagoga e foi fundada pelo Sr. Xie Goldman,
nilopolitano nascido em 1927 e já falecido. Em agosto de
1999 o Poder Público Municipal efetuou o seu
tombamento pelo Decreto nº 2435, de 12/8.
Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição.
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SÃO JOÃO DE MERITI
Casa da Grota (1880)
Localizada no bairro da Venda Velha, em São João
de Meriti, foi residência da família Telles Barreto de
Menezes. Apesar de não ter sido tombada, está em
razoável estado de conservação.
Igreja Matriz de São João Batista de Meriti (1875)
Está localizada na Praça Getúlio Vargas (mais
conhecida como Praça da Matriz), no Centro. Está em
bom estado de conservação, mas sofreu algumas
reformas e acréscimos. Não é tombada, apesar de já ter
sido inventariada pela municipalidade. Representa o
marco de ocupação do município. A antiga matriz da
freguesia de mesmo nome estava localizada em terras
hoje pertencentes ao município vizinho: Duque de
Caxias. Esta, por sua vez, teve sua origem numa ermida
em Trairaponga.
Atualmente, a Praça Getúlio Vargas está prestes a
ser reinaugurada, depois de meses de obras visando
sua revitalização. É da intenção da prefeitura local
promover também a revitalização da Igreja Matriz com a
sua iluminação externa e repintura. Para tanto, a Câmara
Municipal de São João de Meriti estuda um projeto de lei
que prevê o TOMBAMENTO daquele monumento.
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GUAPIMIRIM
CAPELA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO
(1713)
Está situada na Subsede do Parque Nacional da
Serra dos Órgãos, no Soberbo. Encontra-se em bom
estado de conservação e foi tombada pelo Estado em
janeiro de 1989.
Sobre esta capela, o pesquisador e escritor Edson
Ribeiro está desenvolvendo uma pesquisa a respeito da
sua verdadeira origem. E promete para breve publicá-la.
Igreja Matriz de Nossa Senhora da Ajuda de
Guapimirim (1755)
É bem cultural tombado pelo Estado desde 1989.
Apesar de algumas descaracterizações, está em bom
estado de conservação.
PARACAMBI
Conjunto Arquitetônico da Companhia Têxtil Brasil
Industrial (Século XIX)
Está localizado no 1º Distrito do município. Em bom
estado de conservação, foi tombado pelo Estado em
junho de 1985. Atualmente está sediando Instituto
Superior de Tecnologia de Paracambi.
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QUEIMADOS
Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição (1878)
Sofreu algumas descaracterizações, mas está em
bom estado de conservação. Foi tombada pelo Estado
em junho de 1989.
JAPERI
Estação Ferroviária de Japeri (prédio da Agência)
Data o referido bem cultural do século XIX.
Necessita de restauração e não é tombada.
ITAGUAÍ
Igreja Matriz de São Francisco Xavier (1718)
ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE ITAGUAÍ (1926)
Foi recuperada pela municipalidade, que lá
implantou uma biblioteca municipal, um centro de
memória e o Departamento de Cultura. Foram feitos
alguns acréscimos sem comprometer sua visibilidade.
Não é tombada.
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UMA VISITA À MAGÉ NO FINAL DO
SÉCULO XIX
GUILHERME PERES
Alfredo Moreira Pinto, autor do “Dicionário
Geographico do Brazil” escrito entre 1867 e
1889, realizou uma visita a Magé, que ele
registra em uma reportagem publicada no
“Jornal do Commercio”, do Rio de Janeiro,
em 1898.
Após uma longa descrição da viagem e sua chegada
àquela cidade, onde conta com detalhes a vida
econômica e social de seus moradores, ainda abalados
com os acontecimentos de 1893, quando as forças da
Marinha, a mando do almirante Custódio José de Mello,
“levantadas contra o poder da República”, invadiram a
cidade através do porto da Piedade, sob o toque de
“saque e degola”, implantando o terror, depredando e
saqueando o comércio e residências, estuprando e
“violando donzelas”.
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Ao embarcar na barca “ao lado da Companhia
Ferry”, no centro do Rio de Janeiro, Moreira Pinto
navega em busca do fundo da Baia de Guanabara, e
descreve as várias ilhas que vão desfilando em sua
passagem, detendo-se com comentários na Ilha de
Paquetá, onde lembra que ali foi o lugar de refúgio do
“venerando José Bonifácio, de 1832 a 1838, e do ilustre
Evaristo da Veiga”. Recorda que serviu de cenário ao
romance “A Moreninha, mimoso romance do meu
saudoso mestre Dr. Joaquim Manoel de Macedo”.
Ao se aproximar do porto, descreve-o como um
lugar ermo e “notável pela sua extrema fealdade. Do mar
não se avista o povoado por interpor-se o morro da
Piedade”. Registra a existência das oficinas da Estrada
de Ferro de Teresópolis, “umas três vendas, 37 casas e
uma capelinha da invocação de Sant`Ana. Está edificada
sobre charcos, onde abundam caranguejos, com que se
alimenta a população”.
Ali se iniciava essa Estrada de Ferro, “cujos
trabalhos foram inaugurados em outubro de 1895, sendo
aberto o tráfego da Piedade a Raiz da Serra”,
percorrendo até Magé sobre uma região “ora charcosa,
ora arenosa, abundando nesta, as pitangueiras, as
goiabeiras e os cajueiros”.
Depois de atravessar uma ponte de ferro sobre o
rio Magé, depara com uma cidade “de feio aspecto...
toda cercada de pântanos, o que torna seu clima
insalubre e doentio”. Acha sua topografia irregular
constando de becos e vielas. “Tem apenas três ruas
largas e compridas, sendo as demais pouco extensas e
estreitas todas elas sujas, tortuosas e sem calçamento,
nem iluminação, nem passeios”.
As casas térreas e assobradadas são todas de
“gosto antigo e muito danificadas”. Ao percorrer a Rua
da Matriz, “a principal da cidade, larga e arborizada”,
descreve a cidade como sendo “feia, triste e decadente”.
Sem a presença da fábrica de tecidos “ela seria um
amontoado de ruínas”, justificando seu estado “pelas
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perdas e torturas por que passou com a entrada das
forças legais e dos revoltosos. Importantes casas
comerciais ficaram completamente destruídas, existindo
apenas hoje, os seus vastos armazéns vazios, com a
carcaça das armações deterioradas por incríveis
danificações. Contaram-me fatos horrorosos, cenas
canibais, que por patriotismo não menciono”.
Comenta a ausência de teatros, mercados, esgoto
e água canalizada. “A população é abastecida pela água
conduzida em pipas de duas fontes: do Emiliano e do
Manoel da Costa, pagando-se por barril 60 réis”. Em
relação aos habitantes que “flutuavam” em torno das
ruas, descreve a população masculina como sendo
“dividida em três categorias: operários e comerciantes
pescadores e vagabundos. Estes últimos são
compostos de indivíduos casados ou amasiados, cujas
mulheres ou amantes trabalham na fábrica, enquanto
eles vivem a “flanar” pelas ruas e aglomeram-se nas
vendas a provocar distúrbios, que são frequentes”.
Ainda traumatizados pelos atos de vandalismo que
varreu a cidade pelos revoltosos, e em seguida pelas
forças legalistas que justificaram sua violência
acreditando que com aqueles, teriam sido coniventes;
seus habitantes estavam naquele momento entregues a
própria sorte, tornando-se uma cidade segregada.
Mostrando-se intolerante com esse estado de declínio
emocional e econômico, Moreira Pinto registra: “em
geral, pode-se dizer que a população não só da cidade
como do município, é excessivamente indolente”.
A MATRIZ
Surpreso com a Igreja Matriz, a define como “alta e
de bonito aspecto, é um templo grande limpo e
decente”, entretanto, ao tecer detalhes, diz que “sua
fachada não obedece a ordem alguma de arquitetura,
tem três janelas e a porta de entrada. A direita fica-lhe a
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única torre que possui, e abaixo dela uma janela e uma
porta que conduz ao coro”.
Adentrando no seu interior, revela que: “se não é
rico por obras de talha, é, todavia bem ornado e com
altares dourados”. Descreve o altar-mor com a imagem
de N. Sra. da Piedade; e logo abaixo no centro: o
Coração de Jesus. Registra cinco altares com diversas
imagens, e cita outras em seus respectivos nichos.
Os cemitérios mencionados são: um nos fundos da
matriz, e um “na cidade, pertencente à extinta irmandade
de N. Sra. da Piedade”. Das capelas filiais cita apenas a
“do Bom Fim, situada no alto do morro do mesmo
nome”.
FÁBRICA DE TECIDOS
Ao mencionar a fabrica de tecidos existente na
região, chama-a de “importante prédio” situada no “fim
da Rua Dr. Siqueira. É um vasto e belo edifício, com
acomodações apropriadas e vantajosas condições
técnicas”. Contando com 160 teares movidos a vapor, ali
trabalhavam 350 operários produzindo 140.000 metros
de fazenda.
Situada numa “viela curta e estreita”,
impropriamente denominada de Praça Municipal,
achava-se a Câmara Municipal. Alojada em um grande
prédio contendo cinco portas no pavimento térreo “e no
sobrado cinco janelas, acima das quais estão as Armas
do Estado e o monograma da municipalidade. Na sala
das seções existe o retrato do Dr. Siqueira e o busto em
mármore de Aureliano de Souza Oliveira Coutinho,
visconde de Sepetiba, ali colocado em gratidão dos
mageenses, pela construção do canal para a cidade,
quando presidia a então província do Rio de Janeiro”.
Ao lado da Câmara, encontra uma casa que serve
de cadeia chamando-a de “pardieiro imundo e
asqueroso, exalando um cheiro fétido e nauseabundo
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que ameaça desabar”. Surpreendente o registro de duas
linhas de vagões que percorrem a cidade até o porto,
pertencentes a duas empresas, a de Reis & C., e a
Antônio Marques, fazendo ponto final na praça
comendador Guilherme “Onde carregam e descarregam
as lanchas”, provavelmente rodando sobre trilhos e de
tração animal.
Reclamando do calor, diz que: “o clima da cidade
como de toda a Baixada do Rio de Janeiro é insalubre,
reinando em diversos lugares febres intermitentes”,
citando as regiões de “Guapy, Suruy e Raiz da Serra,
onde as febres fazem mais devastações”.
Registra a grande quantidade de “excelente
farinha” que produz o município “cuja principal lavoura
é a da mandioca”, sendo considerável a produção de
“lenha, aves domésticas e ovos, exportados pelo porto
de Suruhy, Guapy, Estrela, Mauá, Magé e Piedade”.
Relaciona três escolas públicas existentes “sendo
duas do sexo feminino, frequentada por 100 alunas e
uma do masculino, freqüentada por 60 alunos. A
população da cidade é de 3.000 habitantes e a dos
distritos de seis a sete mil”.
“Tem a cidade de Magé, 12 ruas, 2 praças, 2
médicos, 1 advogado formado, dois provisionados, 1
pharmácia, 1 hotel, 2 padarias, 1 sapateiro, 15 vendas e
350 prédios”.
Ao término de sua narrativa, Moreira Pinto chama
“a atenção do viajante para três flagelos, que o hão de
atormentar ao procurar esta cidade: o caíque, o hotel e
os mosquitos”
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EM BREVE:
LANÇAMENTO:
AMIGOS DO PATRIMÔNIO
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