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Published by Luiz Gabriel da Silva, 2019-04-11 10:50:12

Sociologia - Segmento 2_Novo

Sociologia - Segmento 2_Novo

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AULA 02 – CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS

1. CULTURA E SOCIEDADE

A cultura é um tema de enorme relevância
para as ciências sociais, pois ela é que separa a
condição humana dos demais animais que
vivem em natureza. A nossa racionalidade
advém do contato com os demais seres
humanos, e que nos dá a capacidade de criar,
transformar e preservar hábitos. Já pensou que
praticamente tudo o que nós fazemos é
resultado da cultura? Nos vestir, comer, dormir,
falar... ações que parecem necessidades
puramente biológicas, mas que são carregadas
de hábitos. Nesse capítulo vamos compreender
o valor da cultura para a humanidade.

Afinal, o que é cultura?

Para chegar a uma resposta curta para a
questão acima, poderíamos afirmar que cultura
é tudo o que não é natureza. A afirmação

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demonstra que tudo que vai além do instinto é
resultado de uma produção humana, e que essa
experiência é transmitida de geração para
geração.

Mas, sem dúvida, é difícil categorizar a cultura
em apenas uma definição. Existem diversas
abordagens para o mesmo assunto, e eles estão
igualmente corretos. Cultura é arte? Sim. São
tradições? Sim. Resulta nas ideias religiosas?
Sim também! Observe duas concepções sobre o
tema: A partir da visão de teóricos renomados,
duas perspectivas diferentes e igualmente
corretas. A cultura é a bagagem de
comportamentos e hábitos que recebemos da
nossa família e da sociedade que estamos
inseridos, e a partir dela moldamos nossa visão
de certo e errado, de belo e feio, de aprovável
ou reprovável.

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Os fenômenos culturais são essencialmente
conectados com a história de uma comunidade.
A forma de se alimentar, por exemplo, conta
uma história que vai além da seleção de
determinados ingredientes. Comer é um ato de
identidade.

Para Boas, o ser humano apreende o mundo
sob a ótica de sua cultura, a famosa “lente” já
citada anteriormente que de alguma forma
molda nossa visão de tudo o que vemos. A
segunda teoria, denominada de cognitiva,
veria a cultura como uma síntese dos
conhecimentos que são compartilhados
pelos membros de uma determinada
sociedade e que lhes servem de parâmetros
para interagir entre si e também para
apreender o mundo à sua volta. Disponível em

https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/20657/20657_4.PDF

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Identidade cultural

Disponível em: www.umsabadoqualquer.com. Acesso em 10 abr. 19

Construímos nossa identidade cultural a
partir do confronto com identidades culturais
diferentes, por exemplo, “ser brasileiro” só tem
sentido quando em relação a “ser argentino”. É
a partir da diferença que construímos nossa
identidade.

A identidade cultural é formada a partir do
conjunto de elementos culturais
compartilhados pelos indivíduos pertencentes a
um mesmo grupo social, como músicas,
comidas, tradições e outras manifestações

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culturais, esse processo se dá através da
valorização da memória e da transmissão
cultural ao longo do tempo. Nesse sentido, a
identidade cultural é o que torna um grupo
social único, exclusivo, diverso, isto é, diferente
dos demais grupos sociais.

A diversidade cultural é o nome dado a
essa grande variabilidade de identidades
culturais. A importância da identidade cultural é
que é ela que une o indivíduo ao grupo social do
qual faz parte. É por meio da identidade cultural
que se constrói o sentimento de pertencimento
social no indivíduo,
em que o mesmo
se sente acolhido e
parte integrante
de um todo maior.

Disponível em: https://www.almalondrina.com.br.
Acesso em 10 abr. 19

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Um dos conceitos fundamentais dos
estudos culturais é alteridade. Alteridade é um
exercício, uma prática, requer que sejamos
capazes de reconhecer o outro na sua diferença,
sem que o julguemos a partir de nossos próprios
valores. Exercitar a alteridade nos leva a ver o
outro em sua completude e ao mesmo tempo
nos ajuda a nos compreendermos. Isso ocorre
porque entender o modo de vida dos outros
serve como forma comparativa para
entendermos nossos modos de vida que
aparentemente são “naturais”, mas que no
fundo são tão sociais quanto os costumes dos
outros.

Cultura Material e Imaterial

Tradicionalmente, a cultura foi dividida a
partir dos seus aspectos materiais e imateriais.
A cultura material diz respeito ao conjunto de
artefatos reais, concretos e palpáveis de

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determinada cultura. A cultura material é muito
mais que apenas os objetos materiais, ela tem
uma importância significativa para
determinados povos, como objetos sagrados
que possuem funções específicas, como
proteção e dádivas.

Ciclogravura. Disponível em Cultura material
https://www.visiteobrasil.com.br.
Acesso em 10 abr. 19 É a representação física
da cultura – que pode
ser expressa através do
artesanato (foto), da
culinária, de roupas e da
arte, por exemplo.

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Cultura imaterial Frevo em Pernambuco. Disponível em
http://www.brasil.gov.br, acesso em 11 abr. 19
São costumes,
hábitos, danças e
o conhecimento
popular como um
todo.

Etnocentrismo

Etnocentrismo é um termo composto por
duas palavras – ‘Etno’, que se refere à cultura
e/ou etnia e centrismo, que remete à posição
central de um indivíduo ou forma de
pensamento. É um fenômeno facilmente
detectável no comportamento humano, e que
se verifica pela impossibilidade ou incapacidade
de conviver com as diferenças.

Essa dificuldade deriva de uma visão do
mundo em que suas escolhas, posturas e
fundamentos são compreendidos como

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principais ou únicos possíveis. O etnocentrismo
é um dilema para a convivência em sociedades
que são representantes da diversidade cultural.
Leia atentamente o trecho a seguir:

Como uma espécie de pano de fundo da
questão etnocêntrica temos a experiência de
um choque cultural. De um lado, conhecemos
um grupo do “eu”, o “nosso” grupo, que come
igual, veste igual, gosta de coisas parecidas,
conhece problemas do mesmo tipo, acredita
nos mesmos deuses, casa igual, mora no mesmo
estilo, distribui o poder da mesma forma,
empresta à vida significados em comum e
procede, por muitas maneiras,
semelhantemente. Aí, então, de repente, nos
deparamos com um “outro”, o grupo do
“diferente” que, às vezes, nem sequer faz coisas
como as nossas ou quando as faz é de forma tal
que não reconhecemos como possíveis. E, mais
grave ainda, este “outro” também sobrevive à

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sua maneira, gosta dela, também está no
mundo e, ainda que diferente, também existe.

Everardo P. Guimarães Rocha – O que é etnocentrismo?, p. 5.

O choque cultural abordado no texto é um
elemento complicador para a convivência do
pensamento etnocêntrico. Afinal, como o outro
consegue existir com escolhas tão diferentes
das minhas?

Podemos considerar então, que o
etnocentrismo é a raiz de preconceitos étnicos
e culturais.

Padrões culturais

Grande parte do comportamento que
temos advém de outros tempos e pessoas. O
ato de se comunicar em língua portuguesa,
obviamente, não surgiu com o nosso
nascimento. Foi criado e transmitido enquanto
um conhecimento válido de geração para
geração.

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Esses são chamados ‘padrões culturais’:
comportamentos que transpassam gerações e
se mostram presentes no imaginário e nas
ações das pessoas de uma sociedade. Os
padrões culturais são formas de rememorar
nossa história coletiva.

Alguns autores e pesquisadores da área da
Antropologia, como Franz Boas e Margaret
Mead (foto) se dedicaram em estudar povos
quase inacessíveis para a população urbana, e
com atitudes bem diferentes dos típicos
encontrados nas cidades.

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Assim surge a

etnografia, que consiste

na observação ativa do

pesquisador para

investigar culturas

diferentes da do

próprio pensador. Essa

experiência se torna

rica quando -

Margaret Mead (centro). Disponível consideramos não se
tratar apenas de assistir
em https://science.sciencemag.org/. a cultura acontecendo,

Acesso em 10 abr. 19

mas fazer parte dela para compreender suas

bases e justificativas.

Indústria Cultural

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Disponível em: https://www.todamateria.com.br/. Acesso em 10 abr. 19

A cultura, segundo a antropologia, é vista
como formadora da identidade humana –
característica que somente seres racionais
podem produzir e reproduzir ao longo do
diferentes tempos e espaços.

No entanto, o conceito de cultura também
é mutável (como a prática é). Ele vem se
moldando de acordo com os novos
comportamentos da sociedade. Com a
constante consolidação do capitalismo, no
Século XX, as relações culturais começam a ser

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interpretadas de novos modos: a visão
mercadológica.

No capitalismo, tudo que está presente no
sistema deve de alguma maneira ter a
capacidade de geração de lucros. Portanto,
além de formador das
nossas preferências, a
cultura é também uma
mercadoria.

Quando aplicamos a

concepção em outras

áreas fica mais fácil

compreender. Uma

indústria de carros produz Disponível em:
veículos visando vender, http://oraculophilosophico.blogsp
certo? Os donos da fábrica ot.com. Acesso em 10 abr. 19

então vão ficar atentos para as necessidades

dos motoristas e produzirão carros que

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despertem a vontade desses em comprar
determinado produto.

A cultura é a mesma coisa: grandes
corporações oferecem seus produtos culturais
(música, cinema, artes, alimentação por
exemplo). Como são detém grande poder
econômico, divulgam massivamente seus itens
na tentativa de padronizar o comportamento e
o consumo.

O cinema é um dos grandes produtores de
lucro para a Indústria Cultural. Já percebeu que
a programação dos cinemas é praticamente a
mesma em todos os lugares? Não é
coincidência, se trata de um planejamento de
grandes corporações de mídia para padronizar
o que se assiste.

A crítica que cabe à Indústria Cultural é
sobre liberdade de escolha. Será que dispomos
de tal possibilidade em um mundo dominado

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por empresas que produzem cultura com a
finalidade do lucro? Ainda que exista a internet,
se não tivermos meios para conhecer
minimamente a cultura de outros países senão
dos Estados Unidos (que domina a Indústria
Cultural), como vamos explorar as diferentes
produções desses lugares?

Então, ainda que mais acessível no mundo
globalizado, é necessário fazer a reflexão sobre
qualidade do que é ofertado e contribuição
desse conteúdo para emancipação humana.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

-GRAMSCI, A. Os Intelectuais e a organização da
cultura . Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1976.
-RAMOS, Marise Nogueira. O projeto unitário
de ensino médio sob os princípios do trabalho,
da ciência e da cultura. 2004, p.37-52.
-FERNANDES, Florestan. A sociologia no Brasil.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1980.

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