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Published by Luiz Gabriel da Silva, 2019-05-07 09:46:54

Sociologia - Segmento 4_Novo

Sociologia - Segmento 4_Novo

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AULA 04 – CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS

1. O QUE SÃO MOVIMENTOS SOCIAIS

Movimentos Sociais x Manifestações
Sociais

A primeira orientação teórica a respeito
dos movimentos sociais é o de separá-lo das
manifestações sociais. Embora as
manifestações sociais sejam formas de ações
coletivas utilizadas também pelos movimentos
sociais, as manifestações sociais podem ocorrer
sem necessariamente serem parte de
movimentos sociais organizados. As
manifestações sociais possuem caráter
efêmero, isto é, iniciam-se com uma velocidade
surpreendente, mas possuem uma duração
reduzida. Uma das explicações para isso é o fato
delas não se apoiarem em estruturas e
organizações permanentes.

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Para Alan Touraine,

os movimentos sociais

possuem como elementos

básicos: 1) identidade:

possuem laços de

sentimento ou

pertencimento que unem

os indivíduos (demandas

comuns), 2) opositor: isto

Alain Touraine (1925-atual). é, possuem um
Disponível em adversário que detém o
http://twixar.me/bS0K monopólio do poder

social, geralmente, o Estado, 3) projeto de

sociedade: ajuda a conscientizar a sociedade,

com um ideal de sociedade democrática,

inclusiva.

Nesse sentido, os movimentos sociais
podem ser propositivos, isto é, podem propor
mudanças, novos direitos e políticas públicas;

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ou reativos, ou seja, buscar evitar a perda de
direitos e de políticas públicas (GOHN, 2010).

Características movimentos sociais
Os movimentos sociais são divididos em

tradicionais e novos movimentos sociais. Os
movimentos sociais tradicionais são os que se
constituíram da luta dos trabalhadores por
melhores condições de trabalho. Os chamados
novos movimentos sociais são aqueles
constituídos por grupos identitários, como
mulheres, negros e LGBts, buscam acima de
tudo a transformação da cultura e dos valores.

 Identidade comum: solidariedade.
 Modos de ação coletiva: manifestações de

rua, ocupações, “tuitaços”, ações de
divulgação nas redes sociais.
 Organizados: possuem direção, estrutura,
liderança e são contínuos ao longo do tempo.
 Adversários definidos: Estado e a cultura.

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 Transformam a sociedade: Inovam o debate
político e pressionam a sociedade por
mudanças sociais.

Movimento social clássico.

Conforme observamos no início do estudo,
percebemos que as manifestações sociais são
diferentes de movimentos sociais. Esse último
tem regras de institucionalização (organização),
além da permanência, já que as manifestações
populares normalmente são esporádicas.

Consideramos que o sindicalismo foi o
primeiro movimento social institucionalizado.
Em um contexto de livre mercado e
praticamente nenhuma intervenção do Estado
na economia, as altas jornadas de trabalho e os
baixos salários eram comuns no período pós
revolução industrial.

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Surgem então,

reivindicações dos

trabalhadores que se

uniram para uma

melhoria significativa

da renda e das

Trabalhadores em protesto. Disponível condições laborais. O
em http://twixar.me/fS0K

sindicalismo fica

conhecido então como o primeiro movimento

social de fato, inspirando outras lutas populares

que surgiram desde então.

Novos movimentos sociais.

Após a primeira onda, advinda de
demandas dos trabalhadores por melhores
salários e condições laborais, novas
reivindicações e movimentos tomaram as ruas
e espaços em busca de direitos.

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Um exemplo brasileiro recente é o
protagonismo dos estudantes. Observe o
infográfico na sequência:

Ocupações na escola em 2018. Disponível em http://twixar.me/pS0K

O movimento estudantil expressa suas
demandas através da ocupação pacífica de
prédios públicos como escolas e secretarias de
educação.

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A ferramenta de mobilização mais útil dos
novos movimentos é a internet: através das
redes sociais são articuladas ações, discursos e
objetivos em comum que congregam interesses
nas mobilizações que podem ser online, off-line
ou ambos.

Concepção de direitos.

Os movimentos sociais articulados
cunharam na prática o conceito de direitos –
sem participação popular e apenas contando
com a boa atuação do Estado, certamente o
escopo de garantias de cidadania que temos
hoje seria muito mais modesto.

Através da ação popular organizada foi
possível expandir o conceito de direitos civis,
sociais e políticos e incluí-los como uma
obrigação do Estado, que deve reconhecer no
ser humano garantias naturais e essenciais à sua

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existência. Podemos definir então os direitos
em seções distintas e interligadas.

No Brasil, os direitos passaram por
momentos de instabilidade e foram inspirados
pelos movimentos sociais. Desde a proclamação
da República, passamos pelas aberturas de
direitos civis para escravos alforriados, criação
de estruturas e instituições de suporte à
democracia na década de 1930, e o ponto mais

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alto com o reconhecimento dos direitos sociais
como dever fundamental do Estado com a
promulgação da Constituição de 1988 – não por
acaso chamada de Constituição Cidadã.

Pensadoras contemporâneas.

A pesquisadora brasileira Maria da Glória
Gohn é uma das maiores expoentes no estudo
sobre os movimentos sociais no contexto
contemporâneo. Estudiosa desses fenômenos
na sociedade latina americana, podemos
considerar que seus escritos são fundamentais
para compreender as causas e efeitos dos
movimentos.

Novos e antigos atores sociais fixarão suas
metas na conquista de espaços na sociedade
política, especialmente nas parcerias que se
abrem entre governo e sociedade civil
organizada, por meio de políticas públicas. Por
tanto, ampliou-se o leque de atores sociais,

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assim como o campo da sociedade civil. Isso
resultou um descentramento dos sujeitos
históricos em ação, antes focado nas classes
sociais e nos movimentos populares. Surgiram
novas facetas à cidadania, como o exercício da
civilidade, a responsabilidade social do cidadão
como um todo etc. (GOHN, 2013:61).

Quando a autora discorre sobre ‘atores
sociais’, ela está se referindo a pessoas que
destacam-se como protagonistas de
reivindicações e pautas sociais.

Isso significa que as estruturas
democráticas se tornaram mais efetivas em
convidar o cidadão a participar da vida pública
ainda que não seja em um movimento de rua. O
orçamento participativo, em que o cidadão é
convidado pelas instâncias de governo para
opinar sobre investimento do dinheiro público.

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Concordando com a existência de uma
ampla diversidade nas formas de manifestação
de demandas sociais, a filósofa estadunidense
Nancy Fraser, divide essas em dois grupos:

 Luta por redistribuição: que concentra
esforços para corrigir ou eliminar injustiças
sociais. Geralmente econômicas, visam
reduzir a distancia da qualidade de vida
entre as classes mais pobres e mais ricas.

 Luta por reconhecimento: visam corrigir
desigualdades culturais e resgatar a
cidadania de grupos que são segredados
e/ou alvo de violência, como o movimento
LGBT, negro, de mulheres e demais pautas
identitárias.

Não é raro, portanto, que existam grupos que
atuem em ambas as frentes ao mesmo tempo.
A própria autora ilustra o exemplo com o
Feminismo – que é um movimento de busca de
igualdade de direitos e liberdades entre homens

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e mulheres – pelo fim da opressão patriarcal.
Portanto, o feminismo demanda igualdade
salarial no âmbito econômico e o fim do
feminicídio no âmbito sociocultural.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GOHN, Maria da GLÓRIA. Teoria dos
movimentos sociais: paradigmas clássicos e
contemporâneos. São Paulo. Loyola, 2014.

FRASER, Nancy. From Redistribution to
recognition: Dilemmas of justice in a
Postsocialist Age. New Left Review, 1/212, jul-
aug., 1995.

MARSHALL, T. H. Cidadania, classe social e
status. Rio de Janeiro. Zahar, 1967.

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