De um outro
lugar.
Wania Andrade
1
De leve
A questão aqui não é saber “o que é que se passa em lá
sei onde ou com sei lá quem?”
Isto sabido é até por quem tem meio dedo de testa e
franja. E, com toda a sinceridade, já não interessa nada.
O que faz cócegas no pensamento é o repentino “re-
apego”, a repentina lembrança diária e madrugadora e
seus post-its de graça pouco súbtil.
É de salientar que nada, mesmo nada, trará de volta
qualquer tipo de enternecimento já sentido em algum
outrora desfeito e deitado fora.
A questão aqui é o abalo cruel e a inevitável ruptura de
um sentimento, o triste reconhecimento de que a
confiança, fundamento base de uma amizade, uma vez
perdida…
Porque amigo há que ser inteiro, do avesso e do direito
(teu e dele), amigo é superlativo de união, certeza,
respeito e afeto.
O amigo (o teu amigo) te abrange, não toma partidos, ou
pior e mais triste ainda, não toma todos os partidos, só
porque tem que sair bem em todas as fotos.
E mais do que isso, amigo, amigo mesmo, fica,
independente da situação, do tempo, do tamanho da tua
carteira, do quebra-quebra ou do que irão falar.
2
Portanto, a leveza da vida só se torna nome próprio se
não houver meneios para suposições, porque amigo,
amigo a sério, amigo do peito não dá motivos para
perguntas, amigo é e sempre será a resposta. A melhor
resposta.
WAndrade – 29/04/2019
Re-verso
7
3
Plácido, plácido
Sucesso
E então, a moça, que nem o era e agora rebola sabe-
se lá por qual esfera, prometeu à velhota, na altura
combalida, uma vida nova, sua vida de volta, ora que
sim. Jurou premência e instilou suas encarnadas
subverdades com tamanho afinco, que até quem se lhe
compartilha lá os sangues fez vênia, embora de ruga
na testa.
E então, a moça, que nem o era e agora sabe-se lá
onde o coiro refestela, marcou dia, mês e cálices de
vitórias para a velhota, na altura combalida, reverter o
4
mau suposto feito. Os da ruga, sim, os dos sangues,
ainda assim afiançaram o sucesso da empreitada, já
que a moça (que nem o era, afinal) bradou, deu da
cintura e bateu com o pé, grande demais (aliás) para as
figuras delicadas que intentava mitigar (sem sucesso,
sorry).
De tudo isso, sabe-se que a velhota combalida, há
muito deixou de o ser, querida, ah, querida... está
nova, de bem com a vida, inteira e risonha; da moça (?)
diz-se que Caronte* apresentou-se-lhe galante e
como a pobre pouco percebia de versos ou verbos, ali
aninhou-se (isto sabia, óh dó!) sem nem dispensar um
tostão que fosse. Nem foi preciso.
*Caronte, o barqueiro do submundo, cujo trabalho era levar os
mortos à sua morada final: o submundo.
WAndrade - 06 outubro 2020
Ah, ri-te, vá lá, diz se não é divertido brincar. Ué?
5
Sobre isso...
Sempre tem assunto...aliás, não precisa falar é mais
nada!
WAndrade, em 16.11.19
Há Malta
WAndrade - 21/04/2018
6
Líchia
Nem chateação, nem aborrecimento. Nem pena, nem
dó. Talvez compaixão, que é de ter.
Bárbaro, em anseios das pratas, idolatra o fidalgo,
aliciando-lhe as benes, os apoios e a própria
desgraça.
Alma acanhada assim definha, coitada, nem sonha o
que lhe ceifa o arbítrio, apenas zonza pelos cantos da
vida, encalhada numa estância alquebrada e fria;
incônscia e sem forças, deriva em si mesma…tonta…
Num escambo medonho e murcho, partilham-se
sombras e foices…, delusões…delírios entre
aparências e bongôs.
Os descaminhos rebentam (aquilo que malgrado
nasce…) neste estirão sem norte, já vazio de figurantes
(desandos não rendem plateia, amor!!!).
Arrastos de um desenredo inanimado.
WAndrade-27/12/2014
então era isso?
7
Anda cá!
Olha, escusas de assustar!
Só fiz um carinho, uma delicadeza, coisas de mim.
Meu caminho é apreciar o que vejo e…só.
Quero-te como quero às estrelas, o sol, minhas
caminhadas e meus estudos.
Nada vai além de um bem-querer, imenso, é verdade,
e uma vontade sem tamanho de abraçar teu momento
triste, ou o alegre de ti, conversar da vida e enviar-te
beijos.
Meu caminho e apreciar o que vejo e…só!
Amo-te.
WAndrade-14/01/2015
Gracinha
Quer dizer, a pessoa escolhe o lado borbulhante da
vida, esculhamba com todo o afeto que você sente por
ela, não te dá um telefonema, muda de país, não te diz
um “ai ”, durante anos, não quer saber se você está
vivo, não te manda uma bosta de um sms sequer.
Aí, você melhora, levanta, melhora mais, revive,
mostra a cara de novo, refaz a vida.
8
Aíí, sabe-se lá porque, a “maravilha” resolve,
escrever no dia do teu aniversário, reclamando que
você “nunca mais disse nada”
e ainda querendo te dar lição de vida!
Aííí, você manda ela t- - - - n - c -.
E aí, você é mal-educado.
WAndrade-28/12/2014
Feio
Ai que me me gusta bailar… la bamba,
espalhar os pés no chão que se curva. Isso sim é viver!
Veias saltadas, alma alterada, semba, semba,
obá,obá,obá!
“La bamba epopeia”, descamba, desanda, diz sim ao
arauto do fundo, ê bumbo, ê bumbo, ê limbo, ê boi !
Seguro morreu de…scabido, fez feio sentido naquilo
que pensava ser.
E morreu sem saber que bastava um psiu, socorro,
sou eu… que no bambo da corda não tenho mais vez.
WAndrade-13/01/2015
Pago.
9
Apanha
Sem ter o que fazer, o tempo permitiu-se um prazer,
esparramou-se na praia e tirou um cochilo.
Espreitava de longe… marujos desabençoados e
zonzos, brindavam desfeitos e mazelas, numa
algazarra abatida e agastada. Sem norte.
Deixou-se ali ficar... estava sol... via e dormia, via e
dormia. Tinha…tempo.
Fazia o que melhor sabe fazer, passava; navios
passam, arrepios também, febres idem.
O tempo? Ah, esse passa e repassa na frente o que
atrás foi semente…
Os marujos? Já devem ter dado com o tempo e suas...
conversas.
Agorinha ele acordou.
WAndrade-09/01/2014
Curso
É encantador.
O ser humano e suas essências que não mudam.
Uma vez nobres, para sempre nobres.
Tão consolador ver uma pessoa com carácter, haja o
que houver.
10
Dá sentido à vida conhecer gente com fibra, aquelas
que não se vergam, seja o vento que for.
Até porque, como se sabe, o vento que venta lá, venta
cá, ou ainda, o vento muda, invariavelmente.
Pessoas que enfrentam suas vicissitudes com garra e
olho no olho dão-nos uma aula de vida.
É o céu, sim senhor!
Aquelas que, independente da malha (ou do malho),
têm a retidão de dizer errei, desculpe, não posso,
quero ir…, socorro, me ajuda…
estas então são um aprendizado para o restante dos
dias. Sempre a aprender!
E sim, não há nada mais animador do que ver uma
pessoa a desfrutar da sua própria essência!
Bom, não é?
WAndrade-28/12/2014
lindo, hein?
Carnério
Ai, e não é que estava mesmo certo.
Eu posso fazer absolutamente tudo o que eu quiser.
Mentir, sacanear, iludir, ludibriar, enganar, passar a
perna, puxar tapetes...
11
É claro que eu posso! Eu posso!
O que eu não devo (não é?) é me aborrecer, me irritar,
ficar de bico, dizer que é fofoca, quando aquilo que eu
fiz vier ao de cima, ficar a descoberto, quando a minha
máscara cair e todos perceberem quem eu realmente
sou, indubitavelmente.
E, principalmente, quando a vida ...
Bom, de cega a vida não tem nada.
WAndrade - 06/01/2014
Passas
Óh, arfante peito carecido...afinal o rubi, que não
passa de um calhau vago, desmantela-se pelas
arábicas terras das... estratégias, arfante, as
estratégias…
Cintilâncias do olhar...engodos, arfante, nada mais do
que engodos de um pacóvio que se sonha sultão, triste
de alma, dá-se à ficção…
Sempre assim vive, correndo atrás de si mesmo para
espantar seus calafrios e tormentas.As “estratégias”?
Ah, sim, caiu em todas, pato que é; agora resvala aqui
e ali sua pequenina existência, ainda delirando-se
grande, astuto e reinante.
12
Sevilha
Não adianta não falar, desconhecer, ignorar, silenciar
e fazer esta figura tão triste de quem agora combalid
est.
Apenas olha, atreve-te sinceramente a olhar ao teu
redor, uma vez que seja, um momento apenas e vê no
que os teus olhos sangram, um breu tão intenso que
esquiva de ti a verdade e o senso.
Não adianta provar-se de contrários se até os de
dentro já deram conta do “ouro” perdido e aforam-se,
lentos e corteses, como quem foge à maleita, ao
malsão.
Aller, aller, cuida! O tino, se um dia o tiveste, hoje é um
pobre desconvexo de ti, quenturas que te desarranjam
a cabeça e a lida. Ou seriam as lides?
Fracos desagem, desatuam, desrealizam e perdem-se
irremediavelmente.
A arrogância dos tolos. E não será o orgulho mal
nutrido que irá desaborrecer o teu hoje alienado e só.
Mas cabem recursos, há quem siga com terços,
quartas e cestas.
Ainda que não fales, desconheças, ignores e silencies.
WAndrade-28/12/2014
13
Trízporum
Os que aplaudiram a tua entrada triunfal são os
mesmos
que ovacionam a tua saída cabisbaixa.
Eles gozam é do espetáculo, baby, do espetáculo…
Somente as almas ralas deixam-se subornar por
encantos factóides, é disso que ele vem falando há
tempos e tu não suportas dar conta.
O que mais falta acontecer?
Mais um desmoronamento e vais ao fundo do mundo
(como dizia o poeta), sem volta, sem salvação que seja.
O que conta sabes bem o que é.
O sentes na carne talvez como em nenhum outro
alvoroço destes.
A cortina começa a se fechar, corre daí que ainda é
tempo de apanhares o bonde da “Boa Trilha”.
Há quem não tenha mãos a medir para estancar tais
desassossegos.
WAndrade – 21/12/2014
14
Pelo caminho
Não sou perfeita... às vezes, penso que falo grego,
penso em sânscrito e amo em galês.
Mas aceito outro copo, outro trago.
Não sou perfeita...tenho dias maus, bad days, I have…
e um inglês sofrível, como a alma vezes sem conta.
É que, para mim, o amor tem que ser explícito, o dito
faz diferença, o amor vive de palavras, sim, de
admiração e de exclusividade.
O ser amado precisa saber que é especial, que é ouro,
que difere dos outros porque é único.
É, talvez eu dê demasiada importância a essa coisa de
amar... coisa de poeta, de compositor.
Mas, por minha conta, não sou perfeita...
não aceito outro corpo...
WAndrade, PT - 26/10/2006
15
Entenda*
*A pessoa vê uma foto minha e comenta que ficou
satisfeita com o meu semblante "feliz".
Então, tá, obrigada!
WAndrade-06/11/2014
16
Preocupação
A tua alma boa não permite, ainda bem, que percebas
os meandros abandonados dos corações que são
tristes mas não o admitem.
A coisa toda é muito simples, ontem eu acordei com
saudades tuas, preocupada, sem saber bem porquê
(depois o soube). O que eu fiz?
Te procurei, mandei mensagem, liguei e conversamos
(uma conversa de afetos e carinhos e muito riso, como
sempre).
É isso, quem se preocupa, procura, simples assim.
Rotas palavras de impressionar são apenas o que são,
não valem o dízimo; descartáveis, deixam apenas um
rasto… de sombra.
A mesma que escolta o abatido caminhar de agora.
Não o sabes, é claro, pois há quem sorva o orgulho
como a uma sopinha farta e quente num dia de frio e
chuva forte. Há quem encapote os próprios
desassossegos, oferecendo silêncio
e dessaber, acreditando doer menos.
Há aqueles que acreditam que o amanhã só chega para
os outros.
A arrogância dos desabitados.
WAndrade – 17/10/2014
17
Oriente
Daqui ainda vejo o mar, acredita.
E acredita também que, neste momento, é impossível
não lembrar teus olhos, os infantes de mel, como
querias, quando te fosses embora.
Que eu nunca mais pudesse abrir a janela.
WAndrade - 29/10/2014
Sem stress
E sem tabaco, que parei de fumar, olha só!
Não, caríssimo, não preciso de ajuda. É interessante
como aprendemos a não precisar de nada e nem de
ninguém.
É num estalar de dedos…doemos e, por nós mesmos, à
nossa custa, desdoemos, que a vida é curta e há que
seguir.
Acreditamos e, num átimo, já nada lá há para nossa
estima, era já tudo imenso engodo, ainda quando
éramos tolos, aliás por isso mesmo.
E aí, desafligimos, que a vida é isso, é tempo de tempo
dar…e rimos… de quem ficou na esteira de que, para
sempre, seríamos tontos, para sempre.
18
Gosto tanto, hoje gosto, de instigar os sábios…de me
fazer a de ontem, quando ainda era a que chora, a que
assenta.
Gosto muito, ai que gosto, quando exibo a que é(ra)
triste…óh!
E os sábios, por serem sábios, afagam-me…
de longe desejam-me sorte e me querem bem…de
longe… “que hoje não posso, que não estou muito bem,
que a visita chegou, que a família chamou"...
É mesmo interessante como aprendemos a não
precisar de nada e nem de ninguém.
WAndrade – 26/03/2016
quer dizer, alguém aí tem uma pastilha elástica para emprestar?
Acrescento?
Olá!
Tenho recebido convites seus para as diversas redes
sociais, com um enorme ponto de interrogação.
Não percebo, eu não possuo conhecimentos de vasta
importância, nem amigos influentes, os meus são
pessoas grandes, sim, grandes em carinho, apoio,
carácter e na arte de ficarem junto a mim em todos os
momentos, principalmente os difíceis.
19
Meu carro não é último tipo, apesar de servir a todos
os fins de que necessito.
Minha carteira não é recheada, mas é basta para que
eu tenha o necessário para uma vida digna, reta, sem a
necessidade de pedir nada a ninguém.
Minha casa é linda e positiva e de bons augúrios,
porém nada tem de castelar.
Eu transformei-a num lar do bem e para o bem, sem
ajuda ou atenção de quem quer que fosse, onde divido
alegrias com um cãozinho doce, amigo, engraçado,
porém sem “nobreza”. Nem o cão, nem a casa.
Não sirvo bebidas importadas nem acepipes de fino
gosto; alimento-me bem, é verdade, mas tudo do
comum, daquilo de que se alimentam os meros
mortais.
Também não sirvo jantares à larga; como já citei
acima, minha carteira carrega mais é dignidade.
Minhas viagens são para dentro de mim mesma ou
para o jardim aqui ao pé de casa; ao sol, o meu veículo
mais divertido é a minha bicicleta e à chuva, sonho
mesmo aqui da minha janela.
Portanto, não entendo a insistência em ter-me como
“amiga”, nas faces da vida; perante a vossa magnitude,
não sei o que eu poderia acrescentar.
WAndrade – 10/10/2016
20
Sapeca iaiá
Pois que nos propósitos da esquina, as certezas, já em
cócegas, ofegam é pelos fandangos do largo… e não?
E quem zela por aquela? Quem?
Ó rima, já ninguém… achas?
É que, com a gamela bem nutrida e a boniteza em fim
de linha, vai mais é aos cobres de outro leigo, amanhar
estrados novos, percebes?
Sequilhos mais frescos, sabes?
Mas e quem zela por aquela? Quem?
Mas ó rima, sossega!!!
Sossega que a vigia não assenta poiso.
Verás.
WAndrade – 02/10/2106
Pitadas de Inferno - Select
Vai que…
WAndrade - 17/04/2017
21
Educaçãozinha
Legado
22
Pois...
WAndrade, em 28.01.17
Só diversão!
Opção
23
Decente
Escola
Coisa bonita alguém fiel…a si mesmo,
às suas próprias convicções e ideias;
imparável nas metas traçadas… em proveito próprio;
alguém que tem objetivos claros e luta por eles…
quando são para o seu exclusivo ganho;
alguém que não se desvia de seus horizontes,
mesmo quando se depara com algum mau momento…
dos outros;
24
Coisa bonita alguém fiel, mas tão fiel... a si mesmo,
que segue em frente, rijo e altaneiro,
sem que lhe cause qualquer espécie o como ou a
quem, irá ferir.
Bonito mesmo!
WAndrade - 02/11/2017
"Estampas Eucalol*"
Gosto tanto dessa coisa de dar corda e apreciar… é
muito divertido.
Imagino os sibilos dos pares aquando do achincalhe
quanto às novidades sabidas a custa de chamadas de…
saudades… ai, quantas saudades!
25
Si, mi amor, habré salario fijo, não te preocupes, o teu
vasto amealhamento não será sequer lembrado, ainda
que eu fosse ao pão e tão somente ao pão. Descansa.
Olha, ao enviares a patuscada à fonte, insere na pauta
que a vida vai muito bem, melhor, muito melhor do que
a de quem quer saber. Vive-se paz, verdade e alegria.
Vive-se uma casa abençoada e do bem. Prevalece é o
carácter limpo e não a carteira que “apaixona
demais”… (risos altos).
Oh. cambio de coche? Cuanta amabilidad tuya…
Ora que esta nem me passou pela cabeça, mas
assentei, com a boca a explodir quase em gargalhadas
às escondidas…
Enfim… noticias dadas (...as saudades, mais risos) e
recebidas, como visto, com total atenção, o que cada
vez mais cativa e acalenta.
Bom carnaval, mi amor! WAndrade - 11/02/2018
*Imagem e título: Eucalol foi uma empresa de produtos de higiene
pessoal brasileira, fundada no Rio de Janeiro pelos irmãos alemães
Paulo e Ricardo Stern.
Paulo
Quando a lágrima brilhou no olho miúdo, toda a mágoa
se desfez em vontade de abraço.
26
Em pegar na mãozinha e chamar de meu bem, bem
apertado.
Aquela tristeza toda não lhe gabava o gosto, brotava
era afeto e confeitos de acalantos. Mimos para uma
alma em queda…talvez.
Era agora livre para decidir, escolher e caminhar.
As pedras afinal servem para que?
Apenas deixou a porta aberta.
E mais não fez.
WAndrade – 13/05/2015
Caríssimo
Aprecie! O baile sempre segue, sempre.
Vezes morno, vezes arretado, noutras chumbado,
sempre segue.
Sendo o baile do vizinho, que não nos incomode, que
siga!
Mas…quando o baile é nosso, ah, camarada, aí a coisa
muda de figura, não é mesmo?
O queremos animado, musical e fervente, anunciado e
declarado, até inesquecível.
E se assim não for, cala no peito um tumtumtum de
lamúria quieta e só, somente nossa.
27
É, o baile do outro que se dane, se não nos é de
serventia.
Mas o nosso, dói quando começam descompassos e
desafinos, hein?
Dói?
WAndrade – 13/05/2015
Encanto
Agora não. Já não preciso d’alguma alma que te
impure o solo.
Não, já não quero balbúrdias que nos impeçam o sono
apaziguado.
Nem carrancas ou fragrâncias insolentes que te
chamusquem a boniteza.
És minha e somente minha, feita de mim a todo o meu
custo, a toda a dor que ora já não pratico.
Desdoí dentro de ti para me entregar aos teus cantos
ora rubros, ora silentes, sempre meus, sempre meus.
Em ti toda a minha dolência de aprender a ser só,
contigo e bem assim.
Hora de encantar-te, porto meu, de alfazemas e
manjericão.
Mergulhar, em paz, nesse cantinho de sol que dás-me
pela janela.
Pela tua janela.
WAndrade – 12/05/2015
28
Ciência
Amanhã
Tira os olhos dessa jangada, morena, a maré inda mal
levantou.
Tira o peito dessa moenda, pequena, o calor ainda nem
te alcançou.
Estavas nas alturas, eu sei, funduras tuas onde não te
atreves… e onde eu sempre estou.
Mas não leves isto tão a peito, que isto lá é jeito de
tratar um coração?
29
Fugiste do teu sem tamanho desejo de sentir-se viva.
E daí?
Eu bem que deitava tua vontade envergonhada em
meus abraços e te dava dormida até adormeceres,
morena, até adormeceres…
Amanhã não se sabe se chega, morena…se chega, o
vemos amanhã.
WAndrade – 22/06/2015
Sabiá
Então perguntas-me por ela?
Logo tu, a quem beijei os olhinhos molhados, lágrimas
quentes de pirraça e ciúmes.
Justo tu, a quem guardei as mãozinhas geladas nas
minhas, aquecidas ainda de mistérios.
Então perguntas-me por ela?
Dela não sei.
Mas sei de mim e da minha aflição quando não estás.
Quando não vens.
WAndrade – 15/06/2015
30
Recolha
Eu ia comentar mas acho que não precisa.
Porque era demais, não era? Demais é o que sobra e o que sobra...
pronto, comentei.
WAndrade
Genebra
Pronto. Cirurgia marcada e eu totalmente animada.
E no caminho para a casa, a cabeça lá e cá, lá e cá,
como só eu consigo…a loja, a vida nova, aquela
estrada de sempre… sempre Coimbra…
Lembrei que minha mãe tinha joanete. Minha avó
também.
Minha avó e suas atitudes. Jamais se importou com os
falaricos e os dóidóis mezinhos.
31
Por um amor, um grande amor, largou tudo, o marido
árido, a casa fria, as filhas, levou somente o mais
pequeno pela mão. Consequências? Que viessem!
Lembro-me dela num aniversário meu, sentada na
poltrona da sala, a sorrir, depois das águas passadas.
Minha mãe e suas atitudes. Quando saímos de casa, ela
enfrentou meu pai, disposto a tudo…inclusive a não
deixá-la sair.
Por um amor, um grande amor, vi, pela primeira vez,
minha mãe sem maquilagem, deitadinha no sofá,
completamente precisada de colo. Quieta, quietinha
como pede o coração quando está aos rasgos.
Vinte anos depois este mesmo amor retorna, pedindo
perdão, querendo retomar o romance, dizendo que
nunca a tinha esquecido.
Resposta de minha mãe: “Agora é muito tarde!”
Eu? Ah, eu também tenho joanete.
Eu sou dessa tribo aí.
Quem sai aos seus…. pois é!
WAndrade – 22/07/2015
32
Medra
E foi só um escorregão… mas confesso que doeu.
Não daquelas dores infindas, de cortar os pulsos, foi
mais um incómodo, vontade de ficar quieta, encolhida,
escondida debaixo das cobertas a ouvir um blues bem
baixinho.
Mas passou morena, ah, passou…
Medo é traço que não combina com minhas ideias,
com aquilo que almejo.
Não tenho nem nunca tive medo de nada, é claro que
resguardo-me, mas isto e só.
Já passei o diabo, mas de cara com ele, percebes?
Ali, fuça na fuça, e se alguma vez o dito me venceu foi
por milésimos, morena, por milésimos e muito poucas
vezes, acredita.
O medo só te vai trazer mais querer e mais lembrar,
morena, assimzinho com estás neste momento, só
saudade, só lembrança, só querer.
Pena, sabes? Teus olhos ainda continuavam na minha
cabeça até inda ontem, ou antes, sei lá…
sem medo, tirei-os dali.
Hoje já é amanhã, morena, e o dia está lindo.
WAndrade – 16/07/2015
33
Só isso
Gostava era daquele sorriso, aquele do cantinho da
boca que puxava a bochecha levemente para cima. Um
riso leve, que nada tinha de mais… nada, era apenas
leve, sorriso de quem estava solto e a gozar de boa
saúde. Riso de quem via e…só…ria. Agora era
momento de rir, em paz, em casa, consigo. Entendeu
de ser feliz assim, sem precisar do que fosse, apenas
sorrir. Por vezes até uma compaixão aparecia para
lembrar-lhe das mascarezas que a vida empresta aos
oblíquos, mas era coisa passageira, logo o sorriso
vinha em seu socorro, leve e atencioso.
E se ria. E mais ainda diante do espanto da moça,
quando respondeu a uma pergunta quase aflita, que
estava óptima.
WAndrade – 29/08/2015
34
Teorias...
Ei… olha… descansa que eu não vou falar de amor,
coisa de que aliás nem poderia, não depois deste
último engambelo, do qual, aliás,
livrei-me com o teu abraço.
Não, não vou citar Gardel (de quem tanto gosto) ou
oferecer-te gardénias (a prima-irmã da rosa,
lembras?), para não pensares que dou-me
assim a todas.
Não, vou apenas pedir que releias o teu desabafo.
Estou aqui mas não moverei um cílio para te ir buscar.
Repara na quantidade de “queros, não posso, sinto
muito, socorro” que escreveste.
Meu cavalo alado pediu férias sem vencimentos (e
tempo indeterminado), estou a pé e sem poder andar,
como sabes. Além do mais, aquilo que desarvora os
teus dias de tempos em tempos é o que te faz afastar-
me e isso sabes bem.
Não estou mais para isso, é certo que tenho aqui todos
os alentos de que tanto precisas e foges. Os carinhos
que tanto a ti instigam e afugentas, a gana que os teus
olhos teimosos insistem em deixar de ver (nos meus).
Não, não te vou (mais) falar de amor.
Se o quiseres viver relê a minha última frase.
E pensa no teu final de semana. WAndrade – 13/09/2105
35
Bêbada
Não do carinho desemprumado, assim de soslaio,
quase um afago no cão,
muito menos das flores trôpegas e catadas a preço,
obrigação morna e jargão,
e nem do “lesco-lesco” desenxabido que por vez ronda
as noites líquidas, tão líquidas.
Do que faz lustre, sim, o qual, acredite, não vem de
dentro da carteira e sim da alma enternurada e esta
não vaga por aí na borga, ah não!
Das atitudes, sim, pequenas que sejam, que dão o tom
maior ou menor para seguir
no vai-da-valsa ou abrir a cauda do piano…
Daquilo onde sejas objetivo e não episódio.
Beba da vida, meu bem, beba da vida!
WAndrade – 30/03/2013
36
Possível delicadeza
Escrevo o que é de mim e não só.
Minha poesia tem reversos, que estes dão-me mais
jeito. Meus versos de fanfarra, espreitam aqui e ali
alguma prosa, se assim me convém e se o sentimento
aprova.
Falo da rua naquilo que vejo e ouço. Por vezes acho
piada, noutras encontro dó.
Do amor prefiro não comentar, tenho dele péssimas
impressões.
Também escrevo pessoas, o que nelas me intriga, o
que delas absorvo.
O possível corvo que em cada uma habita, atinge em
cheio minha palavrória.
Pessoas são armas, quase sempre prontas a
disparar…
às vezes um sorriso, quando precisam de algo,
às vezes um silêncio, quando é você que precisa.
às vezes um agrado, quando estão na pior,
às vezes a distância, quando a vida lhes faz uma graça.
Escrevo o que é exangue e o que se faz intenso
se assim o percebo. Porém do que percebo escrevo
menos. Há coisas que não devem sair do pensamento.
Seria indelicado.
WAndrade – 23/03/2013
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A menina que cuidava de mim
Tirei o dia para cuidar dela.
Cortei-lhe os cabelos curtinhos como ela gosta,
raiei-os de amarelo, tirinhas de sol, como ela chama
(não sei onde arruma essas expressões).
Arranjei-lhes as unhas, adorou o creme de mãos.
Na banheira, banho de lavanda e hortelã, mistura
inventada por ela, aliás, como todas as maluqueiras.
Almoço de bacalhau, que há tanto já pedia.
Fiz. Com natas, coentro – ai, que combinação - e
carinho.
Tratei-lhe dos pés, cócegas, diversão e aninho.
Depois, vesti-a de azul, não gosta mas fez-me a
vontade, e fomos ao sol.
Brando passeio nos jardins da praça quieta, ela
travessa, eu, um caminho sem pressa.
Mais tarde, deitei-a exausta do dia de mimos, embalei
seu cansaço junto ao peluche marinho e, de olhos
fechados, percebi que a menina que hoje acolhi e fartei
de encantos, esperava por mim em meus olhos,
me cuidando nos meus atarantos.
WAndrade – 01/03/2013
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Como se fosse fácil...
WAndrade, em 21.04.13
Eu e meu menino
Quando fico muito triste
Meu menino maluquinho* entra em cena, em mim.
Deve ser para me proteger, fica com dó e me abraça
Hoje vestiu uma calça larga, uma camisa meio rasgada
Arrepiou os cabelos com gel e foi à vida (?)
Beberá mais do que o normal, assediará meninas com
aquele olhar que nem eu mesma conheço ou provei,
dirá palavrões, impropérios, se calhar coçará o
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“chaveiro”mais um pouco e vai arrumar uma
discussão e dizer um monte...
Irritado, levar-me-á para casa, deitando-me
carinhosamente numa cama de nuvens, aromada de
alfazema e sândalo.
Tem gente que sabe a sândalo, não tem?
WAndrade - 09/07/2011
* o menino maluquinho - personagem literário do escritor
brasileiro Ziraldo
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A autora, o trabalho e o contato
Este é o meu segundo livro. Gosto de escrever,
gosto do que falo, gosto de me ver revelada e de
revelar, sob as palavras e as imagens.
O meu primeiro livro, Umas estórias de amor,
editado em papel, deu-me o gozo de me ver
impressa. Neste, tenho o prazer de mais uma vez
ser criadora e produtora da minha obra on line.
Wania Andrade – escritora, Criadora de
Conteúdo, Formadora e
Terapeuta Floral.
Os textos e imagens deste ebook são criação
minha, sobre o meu blog, “É um Inferno” –
http://euminfeerrno.blogs.sapo.pt
Outubro de 2020 – Coimbra – Portugal
Contato: [email protected]
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Índide
De um outro Lugar Capa ..............................................................1
De leve........................................................................................2
Re-verso....................................................................................3
Plácido, plácido ..........................................................................4
Sucesso......................................................................................4
Sobre isso... ...........................................................................6
Líchia...................................................................................... 7
Anda cá!.....................................................................................8
Gracinha ....................................................................................8
Feio ............................................................................................9
Apanha..................................................................................... 10
Curso ....................................................................................... 10
Carnério.....................................................................................11
Sevilha ......................................................................................13
Trízporum .................................................................................14
Pelo caminho.............................................................................15
Entenda* ....................................................................................16
Preocupação .............................................................................17
Oriente ......................................................................................18
Sem stress.................................................................................18
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Acrescento? ..............................................................................19
Sapeca iaiá................................................................................21
Pitadas de Inferno - Select.........................................................21
Educaçãozinha .........................................................................22
Legado .....................................................................................22
Pois..........................................................................................23
Opção.......................................................................................23
Decente ....................................................................................24
Escola ......................................................................................24
"Estampas Eucalol*" ..................................................................25
Paulo........................................................................................26
Caríssimo ................................................................................. 27
Encanto ....................................................................................28
Ciência .....................................................................................29
Amanhã....................................................................................29
Sabiá....................................................................................... 30
Recolha .....................................................................................31
Genebra.....................................................................................31
Medra ......................................................................................33
Só isso .....................................................................................34
Teorias... ..................................................................................35
Bêbada .....................................................................................36
Possível delicadeza................................................................... 37
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A menina que cuidava de mim ...................................................38
Como se fosse fácil....................................................................39
Eu e meu menino.......................................................................39
A autora, o trabalho e o contato…………………………………………..41
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