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Published by , 2017-05-19 13:43:58

Revista Consumo

Revista Consumo

No.01
MARÇO 2017
UEPB

EDIÇÃO ESPECIAL SOBRE CONSUMO INFANTIL

PAIS, FILHOS E
A PROPAGANDA:

COMO LIDAR?
CRIANÇAS:

O QUE PENSAM SOBRE
CONSUMO?

PSICOLOGIA E
COMPORTAMENTO:

ENTENDENDO UMA
CRIANÇA CONSUMISTA

EDITORIAL
Ao leitor,

Orientador: Mídia & Propaganda: edição especial sobre consumo infantil é uma
Raul Augusto Ramalho de Mello revista criada especialmente para veiculação impressa e voltada para a
realidade da cidade de Campina Grande, na Paraíba. A revista é o produ-
Repórteres e Editoriais: to midiático utilizado como trabalho de conclusão do curso de Comuni-
Amanda Nunes, cação Social - habilitação em Jornalismo, da Universidade Estadual da
Évila dos Santos Rodrigues e Paraíba (UEPB), das alunas Amanda Nunes, Évila Rodrigues e Mariana
Mariana Araújo Dantas Araújo.
O objetivo desta revista é discutir de maneira aprofundada questões
Projeto Gráfico e Diagramação: relacionadas a como a propaganda pode in uenciar as crianças no ato
João Miguel de Farias da compra, como isso pode afetar o desenvolvimento delas como
cidadãs e como consumidoras, abordando ainda como os meios de
Repórteres fotográficos: comunicação de massa podem chegar a esse público de forma tão
Amanda Nunes, impactante.
Évila dos Santos Rodrigues, O assunto é relevante, pois segundo especialistas, a exemplo da douto-
Mariana Araújo Dantas e ra em antropologia e conselheira da Aliança pela Infância, movimento
Renaly Oliveira internacional por uma infância digna e saudável, Adriana Friedman, o
consumismo infantil pode desencadear doenças como alergias e
Endereço para contato: depressão, como também certo grau de hiperatividade, ansiedade,
Departamento de Comuni- agressividade, além de irregularidades no sono. A criança controlada
cação Social - Universidade pelo consumo, segundo Friedman, torna-se angustiada, possui pouca
Estadual da Paraíba paciência para lidar com problemas que envolvam frustração, e quer
Rua Baraúnas, 351 - Bairro possuir vontade própria, desejando que as coisas se resolvam rapida-
Universitário - Campina mente.
Grande-PB, CEP 58429-500 A intenção desta publicação é que o debate seja feito sob as perspectiv-
as psicológica, econômica, social e comunicacional. A revista dispõe de
Fone: matérias que ajudarão a entender um pouco mais sobre o consumo que
(83) 98827-3694 engloba o público infantil. Pais, lhos e a propaganda: como lidar?
(83) 98830-8283 Desenvolvida com informações que ajudarão a família a lidar com
(83) 98611-9950 crianças que estão passando por esse momento. Ainda nesta edição, a
gerente comercial Ângela Grangeiro no texto Lojas Direcionadas:
Estratégias para atrair o público infantil, fala sobre suas experiências e
suas opiniões sobre o assunto, explicando como o comércio atua na
atração das crianças.
Seguindo a revista, o texto A propaganda direcionada à criança, expõe
estratégias de meios que ganham espaço na persuasão da publicidade
diante do público infantil. Dicas para um consumo infantil é um texto
com orientações direcionadas aos pais na hora da compra para a
criança. Já na reportagem Crianças: O que pensam sobre consumo?,
ouvimos opiniões do próprio público infantil sobre suas vontades e
desejos na hora da compra. Por m, ainda nesta edição: Psicologia e
comportamento: entendendo uma criança consumista, matéria desen-
volvida através de uma entrevista com a psicóloga Karla Carolina, revela
os motivos de comportamentos de algumas crianças quando o assunto
se trata do consumo.
Com isso, pretendemos oferecer à comunidade acadêmica e ao público
em geral um olhar ampliado, crítico e que aponte soluções, sobre uma
realidade que permeia fortemente a vida das famílias no mundo todo.

SUMÁRIO

04PAIS , FILHOS E A PROPAGANDA: COMO LIDAR?
06LOJAS DIRECIONADAS: ESTRATÉGIAS

PARA ATRAIR O PÚBLICO INFANTIL

08A PROPAGANDA DIRECIONADA À CRIANÇA.
10DICAS PARA CONSUMO INFANTIL MAIS

CONSCIENTE.

12CRIANÇAS: O QUE PENSAM SOBRE CONSUMO?
14PSICOLOGIA E COMPORTAMENTO: ENTENDENDO

UMA CRIANÇA CONSUMISTA.

PAIS , FILHOS E A PROPAGANDA:
COMO LIDAR?

Quando o assunto é o consumo na infância, a influên- incentivamos”, explica Andréa.

cia e o exemplo dos pais são fundamentais no que diz ´´Não existem crianças consumistas, existem pais

respeito à formação das crianças enquanto consumi- consumistas, o exemplo tem que vir de nós. Ela gosta de

dores. tudo rosa, se ela ver qualquer coisa rosa, ela quer que eu

É necessário compreender que a propaganda voltada compre``, colocou Sávio.

ao público infantil não atua individualmente. As A questão do “não” na hora certa é primordial para que

crianças também estão expostas a outros tipos de a criança tenha a noção de que não se pode ter tudo na

influência, sejam elas na escola, na internet, nas vitrines hora que deseja.A relação da criança com a mídia e com

dos shoppings, nas relações com outras crianças e etc. a propaganda deve ser acompanhada pelos pais, pois as

Uma pesquisa divulgada pelo Conselho Nacional de crianças tendem a seguir os exemplos dos adultos.

Autorregulamentação (Conar) e a Associação Brasile- ´´Os canais para crianças tem muita propaganda de

ira de Anunciantes (ABA) em 2015, mostra que em brinquedo, né? É uma enxurrada. As propagandas são

canais da TV aberta nos quais a audiência infantil bem chamativas, coloridas, bem apelativas, então a

representa 50% do total, apenas 0,1% das inserções criança fica impressionada com aquilo.Tem uma propa-

publicitárias é direcionada ou protagonizada por ganda de uma boneca chamada Baby Alive, que custa R$

crianças. Já em emissoras em que o público infantil 400, e eu já disse a ela, que é muito cara e a mamãe e o

responde por 35% da audiência, esse índice sobe para papai não concordam em comprar uma boneca desse

0,5%. Na TV por assinatura, 7,5% dos anúncios são preço”, pontuou Andréa.

direcionados diretamente às crianças. Ao ser questionada sobre como pedir aos pais algum

Para os pais, esse é um assunto muito delicado. O brinquedo, Beatriz foi bem consciente na resposta,

casal Sávio da Silva Nunes, policial militar, e Andréa mesmo com a sua pouca idade: ´´quando quero algum

Batista de Môra, dona de casa, que mora em Campina brinquedo pergunto a minha mãe se ela pode comprar,

Grande, na Paraíba, mostra rigidez quanto à ela também faz brinquedos para eu me divertir em

problemática. Eles têm uma filha, a pequena Beatriz de casa``.

Môra Nunes, cinco anos. A presença dos pais nas questões que envolvem os filhos

´´Eu me considero uma mãe consciente e Sávio ajuda a evitar futuros desconfortos. Exemplos como o

também, o conceito de liberal é um pouco confuso, de Sávio e Andréa, que parecem funcionar no sentido de

mas a gente não permite tudo, e procuramos impor não incentivar o consumismo, poderiam ser seguidos em

limites. Quando ela quer alguma coisa ela pergunta, outras famílias, ajudando assim a formar novos cidadãos

mamãe quanto custa? Não consideramos Beatriz mais conscientes em relação à compra de produtos.

como uma criança consumista, justamente porque não

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05

LOJAS DIRECIONADAS:

ESTRATÉGIAS PARA ATRAIR O PÚBLICO INFANTIL.

As lojas de brinquedos são conhecidas como grandes Os brinquedos de personagens infantis, segundo a
fatores influenciáveis no consumo infantil, por atrair as comerciária, são os mais procurados. As bonecas de
crianças e atender os seus desejos de acordo com o novelas direcionadas ao público infantil acabam ganhan-
que elas querem no momento. do espaço nas vendas. Porém, a boneca Baby Alive e o
De acordo com Ângela Grangeiro, gerente da loja Rio Homem Aranha superam as vendas de outros
do peixe, localizada na rua Semeão leal, no centro de brinquedos pelo fato de estarem sempre na mídia, não
Campina Grande, a empresa faz o uso de algumas apenas em um horário. Assim, acabam chamando mais
estratégias que acabam influenciando as crianças a ainda atenção das crianças.
realizarem as compras. A loja está sempre colorida e Ângela revela ainda que os preços dos brinquedos
com brinquedos que fazem parte da publicidade muitas vezes já são tabelados pelos fornecedores, a
televisiva, que acabam espontaneamente encantando exemplo da Mattel, que não permite que a loja venda
as crianças. A dirigente ainda revela que a empresa por um preço diferente, com exceção das épocas
têm uma forte atenção sobre os brinquedos que comemorativas, quando acontecem as promoções.
estão em alta nos meios de comunicação. Falando sobre a concorrência que a Rio do Peixe possui,
“Possuímos um contato direto com a publicidade, pois a responsável afirma que as lojas Americanas e o Hiper
geralmente quando os fornecedores lançam os Bompreço (grandes lojas de departamentos), são os
brinquedos, eles acabam fazendo um trabalho de principais rivais por possuírem uma grande quantidade
marketing bastante pesado. Então, temos que fazer a de variedade de brinquedos com preços mais acessíveis.
nossa parte e automaticamente eles fazem a deles. Mesmo assim, ela garante que a loja tem se sustentado
Geralmente eles nos enviam emails com idéias ou bem no mercado campinense, por ser um estabeleci-
fotos de produtos que vão ser lançados juntamente mento com direcionamento de estratégias específicas
com a data de lançamento. Depois disso, realizamos os para o público infantil.
pedidos”, explica a gerente.
Ela diz que de acordo com as experiências na loja, as
crianças na faixa etária de seis meses a três anos não
possuem um querer próprio na hora de comprar e os
pais acabam tomando essa decisão de acordo com o
valor que cabe no bolso. Mas as crianças mais velhas
são mais seguras.“As crianças de cinco a oito anos já
chegam à loja sabendo o que querem comprar”, revela
Ângela.

06

Ângela Grangeiro 07

Gerente do Rio do Peixe

A PROPAGANDA DIRECIONADA
À CRIANÇA.

Um bate-papo sobre e publicidade e consumo infantil com a equipe da
agência Com Tudo Propaganda

Desde a infância somos impulsionados para o basicamente. Mas também fazemos outdoors e cartazes.

consumo. O consumismo é uma espécie de doutrina Quando um trabalho é voltado para as crianças, há cores

em nossa sociedade.A criança, por não ter o discerni- específicas para serem utilizadas?

mento de um adulto, é a primeira a ser bombardeada Carlos Alberto: Depende da campanha. No carnaval trabalha-

pelos meios de massa, e por isso o marketing utiliza mos com amarelo e vermelho, mas de forma geral para as

todas as suas estratégias para esse tipo de público. crianças é tudo bem mais colorido. Se tratando de uma

Para entender melhor esses artifícios, conversamos empresa específica, costumamos usar as cores da própria

com os publicitários da Com Tudo Propaganda: Carlos empresa porque lembra as cores da marca.

Alberto Cruz Filho diretor de arte, Iara Soares, Sobre o marketing direcionado ao público infantil, quais são as

redatora, e Mariângela Araújo, social-mídia. medidas solicitadas pelas empresas e marcas para conquistar

Qual a especialidade da agência? esse tipo de consumidor?

Mariangela Araújo: Mídias online e off-line. Trabalha- Iara Soares:A publicidade infantil já possui todo um conjunto

mos com rede sociais como: Facebook e Instagram, de regras sobre o que pode e o que não deve ser feito. Um

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brinquedo sempre irá chamar a atenção de uma criança, pois Em algumas situações a criança atua como quem decide na
ele em si já é apelativo, digamos assim. Quando vamos pensar hora da compra, mas em outros momentos vemos que são os
em algo que é para ser vendido, pensamos até mesmo na pais os tomadores da decisão final. O que eles buscam em
posição que o produto será colocado, que brinquedo está produtos e marcas para seus filhos?
mais na moda, desde observar se há um filme infantil no Mariângela Araújo: Nós temos clientes de loja de roupas e no
cinema que chame atenção das crianças, para que assim caso da moda infantil observamos que é bem mais fácil atrair
também possa ser usado por nós. Ou seja, todas essas os pais porque roupa é uma coisa que para a criança precisa
medidas são tomadas para divulgar e atingir o nosso público se comprar sempre, pois ela está sempre crescendo, além do
alvo. O preço de um brinquedo às vezes não é colocado por que é bem mais durável e mais barato que vários brinquedos.
ser muito caro, e isso é pensando também estrategicamente Sendo assim promoções chamam mais atenção, principal-
porque “fisga” um pouco a criança e os pais, porque se lhe mente quando têm descontos de 20%, 30%, então os pais se
causam interesse irão diretamente à loja e lá a própria decidem sempre mais com base nos preços do qualquer outra
empresa tem sua estratégia de vendas. Nosso papel é planejar coisa.
a ida dos pais e das crianças ao local que venda o produto, Na publicidade e propaganda o que é mais eficaz: insistir ou
dizer a característica dele, assim como os seus valores, não surpreender?
seriam mais da nossa competência, nossa intenção é fazer Carlos Alberto: Eu como diretor de arte vou sempre falar que
com que chame atenção do cliente e assim lhe faça ir à procu- é surpreender visualmente, embora por muitas vezes o
ra. público alvo seja vencido pela insistência.
Carlos Alberto: Buscamos sempre utilizar cores chamativas Iara Soares: Tanto a publicidade quanto a propaganda tem o
aos olhos das crianças. Para vocês terem uma ideia fizemos intuito de fazer com que alguém compre algo, e elas são
uma campanha para o Game Station (no Partage Shopping), compostas por etapas.A primeira etapa é atrair o público alvo.
em que na arte criamos uma animação, e o áudio remete a E a segunda é fazer com o que o cliente queira o produto, e
jogos de vídeo game, brincadeira de crianças, enquanto o embora durante esse processo ele acabe por perder o
texto vai mostrando as vantagens daquela promoção em si. interesse, cabe ao vendedor insistir, falando de suas qualidades.
Ou seja: se tem bem mais texto do que é percebido, mas o O dever da agência é sempre surpreender e atrair, e a empre-
visual sempre fala mais alto. sa que nos contratou faça o resto.]

09

DICAS PARA UM CONSUMO
INFANTIL CONSCIENTE.

H ábitos são difíceis de mudar, ainda mais quando Logo, o consumismo infantil deve ser o foco em debates de
toda a sociedade. Uma atitude que deve ser tomada pelos
somos atingidos pela mídia desde a infância até a fase pais ou responsáveis e por professores, sobre a importância
adulta. Com isso, ao invés de opor-nos à realidade, de moderar e ponderar vontades, gerando assim menos
devemos colocar nossos olhares em volta das crianças, gastos.
pois estes serão os futuros adultos. Empresas procur-
am com suas diretrizes investir no público infantil e A revista Mídia & Propaganda: edição especial sobre
isso dá ao Brasil o título do segundo país mais consum- consumo infantil conversou com especialistas sobre o
idor de produtos infantis na faixa etária de 0 a 10 anos, assunto: a psicóloga Francilene Morais e o economista Felipe
segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Bezerra. Apresentamos abaixo algumas dicas de como é
Estatística), no censo de 2010. possível um consumo infantil saudável e mais consciente.

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6 DICAS

1-O não na hora certa
Não se pode ceder a 100% da vontade das crianças. Devemos sempre nos perguntar: meu filho apenas quer
ou precisa? E com a resposta para essa pergunta podemos chegar à conclusão mais sensata para o momento.
“Não é simplesmente dizer um não a uma criança e sim procurar ser transparente sobre o porquê. Não adianta
os pais ou responsáveis fazerem um esforço e comprarem o produto desejado pela criança e com isso acabar
comprometendo o salário, podendo também acarretar dívidas sem necessidade”, diz Francilene Morais, Mestre
em Psicologia Social pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

2-O valor do dinheiro
As crianças devem crescer sabendo da importância do dinheiro e que não se pode comprar tudo. É preciso deixar
claro o que é de mais importante e com isso evitar o consumo excessivo. “Algumas crianças não compreendem um
cartão de crédito e já ouvi casos em que a criança falava:“mamãe está sem dinheiro, mas pode passar o cartão”. Não é
simplesmente passar o cartão, pois deve se ter sempre um planejamento. Quando a criança aprende a participar dos
gastos da família, você acaba a conscientizando e a ajudando a lidar com suas necessidades, promovendo assim uma
educação financeira”, relata Francilene.

3-Planejar o mês
Programar o orçamento para que durante trinta dias não haja o sentimento de culpa caso o dinheiro seja
obrigado a ser diminuído ou controlado.“Primeiramente, tem que se prestar atenção na questão da receita, que
é o dinheiro que entra em uma residência. Deve-se ter cuidado com as contas que são primordiais: alimentação,
energia, água, gás que são as mais fundamentais em questão de moradia. No final de cada mês seria importante
planejar um orçamento no lápis de tudo o que será gasto, para que assim o valor recebido não exceda por conta
de gastos paralelos. Por último, seria ideal também programar uma parte do salário do provedor da família e
reservar em uma poupança, pois caso ocorra alguma despesa inesperada como problemas de saúde, por exemp-
lo, isso não acabe afetando o dinheiro disponível daquele mês”, explica Felipe Bezerra.

4-Não confundir lazer com precisar gastar
Passeios com toda a família não se englobam apenas em gastos. O ideal seria a ida a parques, jogar bola na rua e as
crianças aproveitarem brinquedos que já possuem.“Deve ser visto a questão financeira em primeiro lugar. Hoje em dia
o lazer muitas vezes está ligado em ir ao cinema, shopping etc..As pessoas ainda acham que sair de casa para se divertir
deve envolver dinheiro, porém é importante ressaltar que existem diversos meios de diversão, como ir a um parque com
a família, andar de bicicleta, brincar na frente de casa dentre outros. Coisas que demandem pouco dinheiro, consequente-
mente evitam uma necessidade de consumo”, diz o economista Felipe Bezerra”.

5-Evitar mais a exibição da publicidade para as crianças
Segundo a psicóloga Francilene Morais, existem coisas a cerca da publicidade que vem a despertar desejos em
horas inesperadas para as crianças. “A criança tem que ser criança e na minha opinião, ela deve viver esta fase,
não tem porque despertar relacionamentos, namoros antes da hora e até mesmo serem expostas à violência,
quando muitas vezes uma novela ou filme incitam isso”, afirma. Muitas vezes pais e responsáveis pelas crianças
decidem privá-las, porém não podem controlar o acesso que as mesmas terão à publicidade dentro de um
shopping e na escola.“Acho que não se deve privar, e sim monitorar. Não se pode esquecer que a criança aprende
por imitação: aquilo que ela vê ela imita. Com isso, o dever de quem cuida é monitorar, começando dentro da
própria casa”, relata Francilene Morais.

6-Doação e troca de brinquedos
Existe sempre algum brinquedo que não é mais usado pelas crianças como antes e este pode ser o novo brinquedo
de alguém. A troca também de brinquedos é a melhor maneira de perceber que se pode ter algo novo sem precisar
gastar e ao mesmo tempo evita consumos desnecessários. “A criança deve crescer com uma visão crítica, e seria ideal
que os pais ou responsáveis por ela a ensinem o quão é importante é a doação ou troca de brinquedos, roupas etc. que
não utilizem mais.Tudo isso acaba estimulando o desapego, e pode incentivar a criança a ser um adulto altruísta”, segundo
Francilene Morais.

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CRIANÇAS: O QUE PENSAM
SOBRE CONSUMO?

O ato de consumir é umas das características propaganda é de algum brinquedo legal chama muito
culturais da nossa sociedade. E um dos problemas é minha atenção”, explica Carollyne.
que as crianças em pleno desenvolvimento e, portan- Camilly é bastante precisa quando fala sobre as suas
to, mais vulneráveis do que os adultos, terminam não vontades relacionadas ao consumo: ´´se eu tivesse uma
escapando dessa lógica. quantia de dinheiro, eu escolheria comprar a boneca
Para Francilene Araújo de Morais, mestre em psicolo- Baby Alive, porque eu sempre quis ter, e um Iphone.
gia social, professora no Centro de Ensino Superior Prefiro vir ao shopping a ir para praia, é bem mais
em Desenvolvimento (CESED), a problemática deve divertido´´.
ser analisada com bastante cautela. Ela ressalta que a É válido ressaltar que é importante a criança ter desejo,
geração atual é catalogada como a geração do ``ter´´. mas ao mesmo tempo é importante se observar que
´´De fato, o consumismo no nosso país é bastante esse tipo de desejo da compra é um desejo implantado
acentuado.Ter roupa, ter sapato e entre outras coisas, nela, não é um desejo real. Para a psicóloga Francilene
se torna algo primordial, mas não podemos esquecer Araújo, o desejo é atribuído a todos, e eles estão ligados
que no caso da criança, e eu me refiro a uma criança não só ao nosso aspecto consciente, mas também ao
de aproximadamente até sete anos de vida, ela ainda nosso aspecto inconsciente. ´´No caso da criança, ela
não tem formado o poder de decisão de sua ainda está em processo de formação, ela não nasce
compra´´, afirma Francilene. formada no ponto de vista de sua psique´´, destaca.
Francilene ainda aponta que por mais que seja forte o Segundo a profissional, é na família e, primeiramente, no
desejo da criança perante a compra, o adulto ainda contato com os pais que a criança vai aprendendo. É na
terá o papel de comprador, sendo assim, tais inconse- escola no segundo momento, em contato com os
quências não podem ser atribuídas às crianças, e sim, agentes socializadores, que ela vai despertando e
aos respectivos responsáveis. criando seus próprios desejos. Na criança, os desejos
É importante que a geração atual saiba discernir seus são muito mais aprendidos do que já nascidos com eles,
próprios hábitos quanto ao ato de consumir.As irmãs então, por exemplo, a criança não nasce com o desejo de
Carollyne Rávila de Oliveira Mendes, de dez anos, e ter um carrinho ou uma boneca, isso desperta a partir
Camilly de Oliveira Mendes, de nove anos, que de uma série de contextos sociais, econômicos e
residem em Campina Grande, na Paraíba, parecem ser familiares.
conscientes quando falam de seus consumos e ´´Gosto mais de assistir televisão do que brincar de
desejos. boneca. Quando eu e a Camilly vamos ao shopping e
´´Quando vejo algo legal na televisão, peço para meus compramos lanches com brinquedo, compramos por
pais, por favor, e digo que estou querendo. Quando a causa do brinquedo e não por causa do lanche, quando

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é brinquedo feio a gente não compra´´, afirma Carollyne.
A idade cronológica e a idade mental da criança entram
em pauta, nem sempre a idade cronológica está de
acordo com a idade mental. Essa conjuntura depende da
educação, do preparo que se dá, enquanto a criança não
comportar autonomia da sua própria opinião sócio
econômica, ela precisa ser guiada por seu responsável.
´´Me considero uma criança que gosta de comprar,
quando saio com meus pais e se for ao shopping, por
exemplo, já vou pensando nas lojas que quero visitar,
gosto de olhar todos os brinquedos ou algo que eu
goste, mesmo não trazendo nenhum para casa, mas eu
gosto mesmo assim´´, ressalta Camilly.
Que as crianças de hoje em dia possam interagir com a
publicidade de maneira mais sóbria, que sejam capazes
de utilizar a publicidade como um meio não só de
ciência, mas também de informação e divertimento. Essa
capacidade critica deve ser estimulada e desenvolvida
com a ajuda dos pais.

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PSICOLOGIA E COMPORTAMENTO:

ENTENDENDO UMA CRIANÇA CONSUMISTA

Quando se fala em “Consumo Infantil”, também se é fundamental, mas muitas vezes a relação é mediada por
pensa na influência da família e da sociedade. Será que dispositivos eletrônicos. “Os pais se tornam pessoas
o consumismo engloba apenas os infantes? ou será cansadas. Muitas vezes, passam o dia fora de casa e
que os pais também possuem uma grande partici- quando retornam encontram uma maneira de interagir
pação nessas ações? com a criança, colocando a tecnologia à frente, como
Para Karla Carolina Silveira, doutora e professora de por exemplo, entregando um tablet para a distrair”,
psicologia da Universidade Estadual da Paraíba afirma Karla Carolina.
(UEPB), o consumo infantil está ligado principalmente “Há uma grande diferença entre interagir com os pais e
à família que permite esse processo, pelo fato de a na frente dos pais, pois muitas vezes os adultos acham
compra ser realizada pelos pais e não pelas crianças. que pelo fato de as crianças estarem presentes, eles
Karla ainda ressalta que isso estaria relacionado a um estão mantendo uma comunicação. A TV não pode
fator relevante, à questão da mídia, mas que, segundo substituir um momento familiar, um jantar familiar”,
ela, não seria a principal responsável pela vontade de explica a estudiosa.
comprar das crianças. Diante de pesquisas realizadas e Partindo para a vertente sobre a publicidade direcionada
do conhecimento adquirido pela psicóloga, as às crianças, é importante lembrar que as propagandas
mudanças na década de 1990, o capitalismo, a necessi- são visivelmente apelativas, principalmente pelo fato de
dade de “ter”, os padrões familiares diversos são que atualmente o que é vendido é a imagem e não o
alguns dos fatores que implicam verdadeiramente no produto em si: “Quando você vincula um objeto à uma
quadro de consumo infantil que vivenciamos fantasia, aumenta o desejo da criança em possuir o
atualmente. produto”, salienta Karla Carolina.
A psicóloga afirma que os pais precisam manter uma Ainda de acordo com a psicóloga, de zero aos quatro
atenção em relação ao tempo que os filhos passam anos de idade, o que pesa sobre a criança é o sentimento
diante de uma TV ou de outro dispositivo eletrônico do querer e da emoção:“Os cortes pré frontais que são
como tablets, aparelhos celulares e computadores, ou responsáveis pela questão da consciência, do comporta-
de qualquer outro meio que a possa persuadir. Segun- mento moral e dos valores, ainda estão em desenvolvi-
do a pesquisadora, muitas vezes, a mídia acaba sendo mento”.
uma babá para a criança, um fator de recompensa, já “Se você for ao shopping de Campina Grande com uma
que os pais não têm tempo de estarem com os filhos, criança e passar dez vezes em frente a uma loja de
devido às demandas de trabalho e outras responsabili- produtos infantis, dez vezes ela vai querer comprar. Se
dades da rotina. você prestar atenção, os produtos infantis são coloridos,
Para a psicóloga a comunicação dos pais com os filhos possuem um aspecto do querer e de chamar atenção do

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infante. Mas fica sob a responsabilidade dos pais em Karla Carolina Silveira
decidir se a criança merece o brinquedo ou se é apenas
algo supérfluo”, Complementa Karla Doutora e Professora da UEPB em Psicologia
A questão relevante é que a criança é um ser adaptativo,
e que quando não tem uma relação propícia com os pais,
na qual, por exemplo, o ambiente que vive possui um
conjunto disfuncional, é bem provável que a TV ou
qualquer tipo de mídia venha causar um impacto, o que
leva à conclusão de que a mídia, segundo a psicóloga, não
seria a única culpada por provocar o consumismo
infantil, seria apenas um gatilho ativador.
Para a psicóloga, a família é o principal fator de influência
na questão do consumo infantil, sendo outros aspectos,
mídia e sociedade, secundários nessa problemática: “A
educação infantil se tornou algo secundário. Se você
pensar bem, quem predomina na educação infantil é
muito mais a Barbie, a Peppa Pig, personagens infantis
que acabam sendo reais na mente de um infante. Nós
estamos em um momento de interação que a criança
acaba sendo dominada por essa necessidade onde
muitas vezes está sendo preenchida por esses heróis
imaginários. A criança tem a vontade de interagir e de
sentir apego e quem vai tratar do modo que ela vai está
vinculada é a família. É muito fácil culpar a mídia ou
sistema público e não compreender o real motivo de
acontecer essas lacunas, entender que o público infantil
precisa ser disciplinado”.

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