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Published by Raquel Maciel, 2020-11-11 16:59:45

PASTA - 07

PASTA - 07

Keywords: GETÚLIO,POLÍTICA,DITADURA,CONSTITUIÇÃO,SUICÍDIO,JÂNIO,QUADROS

(Parte 2)

.

CARLOS HEITOR CONY

A última visão de Getúlio Vargas: o corpo morto, no peito o.sangue

que a bala suicida derramou. Na semana passada, Carlos Heitor

Cony apresentou uma história introspectiva de romancista: como o

próprio Getúlio viu e sentiu a crise que o levou à morte. Agora, é_o

próprio suicídio, como Getúlio o morreu (ou viveu?). ''Saio da vídà'

para entrar na História.'' •

Dossiê ma velha praxe de reuniões minis- sabiam da situação, a única dúvida exis-
terais dá o p,rimeiro lugar" à pasta . tente· limitava-se ao exato número de-
• da Justiça. E o setor do governo
teoricamente mais bem-informado so- signatários do memorial dos generais e
• bre os acontecimentos políticos. Con- em apoio aos brigadeiros revoltados. legal do país não sofrera em continui-
tudo, a crise daquela noite já não era
.. . mais política, mas militar. Como sem- Adramática reunião dade. A crise militar, decorrente da agi-
pre , as raposas atiçavam os brios das ' .... tação política dos últimos dias, era, as-
forças armadas, conspiravam, faziam es- ministerial · sim, impertinente. O governo nada tinha
quemas e suposições. Deflagrada a crise • do que se envergonhar. Se aparecessen1
militar, retiravam-se a casa de amigos, . soldados para depor o presidente, a solu-
para aguardar os acontecimentos, os Alguns diziam que apenas 17 generais ção era resistir. Ele estava disposto a
quais se limitavam a urna alternativa: ou isso. Nem todo homem merece a oportu-
tomavam o poder ou embarcavam para o haviam assinado, outros não estavam a nidade de morrer em defesa de uma cau-
exílio. par d'ê nada, vinha Zenóbio e declarava sa justa. Como amigo de Getúlio e como
Crise militar, e não mais política, o que eram 37, as cifras eram importantes, ministro de um governo ameaçado _de
primeiro a falar naquela noite foi o Ge- os golpes de força se resolviam e sempre deposição, ele optava pela resistência
neral Zenóbio: resolveram à base de cálculos análogos, pessoal. O Almirante Guilhobel, mais
- Dos 80 generais que servem no Rio, tantos canhões, tantos tanques, tantos ambíguo do que medroso, disse a sua
com efetivo comando de tropas, 37 já generais- e um presidente é deposto ou verdade:
assinaram um manifesto de solidarie- mantido. De qualquer forma, sendo 17
dade aos brigadeiros que estão contra o ou 37 o número de generais solidários - A Marinha não pensa em levantar-
governo. Acredito que a maior parte da com os brigadeiros já ostensivamente su- se, nem em depor o presidente. Mas já se
tropa não está disposta a combater a blevados, sobravam muitos generais
Aeronáutica e a Marinha .- De. minha para manter a ordem constitucional. O
parte, estou disposto a resistir. Vim da número era importante, mas não era o
Vila, onde tomava as últimas providên- dado principal.
cias para a resistência. Agora, parares-
salvar futuras responsabilidades, comu- Tancredo Neves, ministro da Justiça,
nico a todos os presentes que, desta vez, falou em seguida. Foi o mais franco pos-
a resistência vai provocar derramamento sível. Manifestava-se pela resistência, o
de sangue. governo fizera e continuava fazendo
As palavras de Zenóbio não consti- tudo o que se tornava necessário ao es-
tuíam uma novidade em si. Todos ali clarecimento do crime. O inquérito con-
tinuava, os inquisitores do ·Galeão não
sofriam nenhuma pressão, os criminosos
envolvidos já estavam presos, a ordem

'

r

,

.- mesma sugestão dos adversários de Var-
gas: a renúncia. José Américo não che-
- gou a falar em renúncia - palavra que
andava no cabeçalho dos jornais . Falou
em ·'grande gesto" e longe estava de 1

supor que Getúlio responderia a todos,

mesmo a José Américo. com un1 grande

gesto.
Os outros m inistros sentiram-se alivia-

dos. Diviclirarn-se an1otfamente e ntre a

renúncia ou a resistê ncia. mas era evi-
dente que a idéia da renúncia e ra a n1e-
lhor. não apenas para a nação. ,nas para
aqueles homens preocupados agora cn1
sobreviver. até que novos ventos sopras-
sem e eles pudessem, de uma forrna ou
outra. influir no poder outra vez.

n1anifestou em favor da Aeronáutica. Os demais ministros deverian1 ser con- Café, charuto e Silencioso. astuto no olhar. sutil no -.
Lamento verificar, presidente , que o se- sultados por mera forn1alidade. Não ti- ouvido, Getúlio examinava não apenas o
nhor seja sempre traído por seu ministro nham tropa nas mãos e o pouco poder de o que não se '
da Guerra. que dispunham era inócuo para a oca- vê mas a sentido de cada fala. mas seus gestos. o
sião. Seria natural que acompanhassen1 1
O Brigadeiro Epaminondas dos San- o pronunciamento de Tancredo, minis- História deixa tom de suas vozes, o movimento de suas
tos, non1eado para a pasta da Aeronáu- tro tambén1 civil e que se mostrara leal
tica em plena crise e sem ter conseguido não apenas a um chefe, mas a um princí- sentir: em seus mãos. Antes mesmo de ouvir a todos, já
ton1ar posse efetiva do cargo, limitou-se pio: só os ratos abandonam o navio na havia tomado a sua decisão. Por isso. a
a informar o óbvio: hora do naufrágio. Mas José Américo de últimos dias,
reunião era-lhe protocolar, mera corte-
- Não oculto as dificuldades en1 que Almeida abriu as cancelas da deban- Getúlio Vargas sia política. Mais trágico ai nda era o
me encontro em face da unanimidade da dada: exortou que o presidente "afugen- fato: ele sabia o que cada n1inistro re al-
.:\.eronáutica em oposiçáo ao governo. tasse os espectros sombrios e an1eaça- mergulhado no mente pensava e o que realmente dese-

dores com um grande gesto". O antigo insondável .

hon1en1 de 30, o candidato de 37. o presi- mundo interior Java.
dente do partido da oposição em 45. tra- Súbito. a porta se abriu e entraram na
zia agora, para o seio do governo. a que o levaria a
sala diversas pessoas que se mantinha1n
um gesto de à espera, do lado de fora. Não trazian1
nenhun1a notícia irnportante. antes,
grandeza que queriam saber o que se passava. De un1a
forma geral , o que se passava-ou o que
onsa-oinimigos se passara - já era do conhecimento de
todos. Alzira Vargas. uma das prirneiras
1• mag1• navam. a entrar, interpelou tuden1ente o rninis-
tro da Guerra:

- General Zenóbio, isto aqui não é
uma simples manobra política. São vidas
que estão em jogo, inclusive a n1inha , e
por isso dou-1ne o d ireito de falar. Isto
não passa de uma conspiração ele gabi-
nete e não é um movin1ento que atinja as
forças armadas. O senhor sabe tão bem
quanto eu que na Vila Militar nada foi
alterado. E sem a Vila, pode alguén1
pretender dar golpes neste' país?

Zenóbio aparteoli-a, afobadamente ,
mas Alzira não o ouviu. Dirigiu-se ao
Almirante Guilhobel e ao Brigadeiro
Epaminondas. interpelando-os com a
n1esn1a aspereza. A intromissão da filha
do presidente na reunião ministerial de-
sencadeou o bate-boca. quebrou o gelo
protocolar da última sessão de um go-
verno em morte. A própria A lzira, de-
pois do desabafo, virou-se para Getúlio:

- Desculpe, papai.
Mas os n1inistros, notaclamente os
militares, discutian1 agora entre si. Ze-
nóbio elevava a voz, batia no peito onde
as cartucheiras demónstrava1n que ele
estava disposto à luta:
- Vou botar a Vila na rua!

I

ii ► 1 J b>f.'- 14wo ■ e+ @Cii - "t<e:,:+ • • .. , -4 WC'(/ i f E SC ) ♦•

• ' •

•• •

1 ROU BARAT INHO ,.

1 A VIDA DE NINGUEM .

violência física. Mas sini resultado de roubo em que a violência

. pode te,,. significado até o assassinato de uma pessoa inocente.

'r

' Ag,~ada a você terparticipação, ainda que indireta, em algu1n

,r~ ".,.,. ;: ~: ~,y,Jl!ll '"~-= ,.,.,., ~~t desses c1~imes? 0 s furtos sempre f ora111

e1n niaior número que os roubos.
Entreta11to essa tendê11cia ve111 se
inve11endo e nos últimos anos houve
u1n au111ento de 125% no registro de
roubos. Os lad1~ões estão cada vez·
mais violentos. Mas só p1;4ossegitirão assini se tivere1n mercado

.

pa,~a vender ba1~ato o fntto de um cri1ne que pode te1~citstado

1nitito caro.

Fenaseg

.

Ape o gatilho. <
Alguma coisa \ ~. ~...~:- . -.v,•
treme em seu ...'.'t:4,""'•'~".
peito, como se um • ':I."~. ~ 1
raio o tivesse ' .. '\
penetrado
• ;i- . :.;. !-,,J ~._i.,:~,~-::_~•"1!
ão chegou a dormir. Os pensa-
mentos iam e vinham, metade so- I • •• • .'i,s."'
nho, metade recordação. Obti- '
vera o domínio sobre si mesmo através I . :... , ... ,. ..
de longo aprendizado humano. Conse-
guia, agora, o domínio sobre o seu des- \ ' ~• ) -'f..
tino. Sente no braço a mão que o sacode. l :\ ~ ~
Sem levantar-se, olha para a mão e reco• .. ..,.J ~• .
nhece Benjamin. A notícia que o irmão
traz é importante, mas para ele nada .•
mais importa. Benjamin fora ·convocado
a depor no Galeão; isso significava que a 1 Aúltima imagem de Getúlio, o buraco
crise, apesar da licença, ameaçava pros- ··
seguir. Benjamin quer um conselho,
uma solução. O conselho não chega a ser da bala, o revólver que ele usou. A
uma solução.
- Se querem ouvi-lo, que venham morte foi o preço da libertação. .•
aqui ao Catete.
A economia de palavras, a ausência de a Vila Militar permanecia fiel ao go- Firma bem, usando as duas mãos para
qualquer emoção surpreende o irmão, verno, era o trunfo decisivo para desfe- impedir que o impacto do disparo desvie
homem que o conhecia bem. Duas horas char o contragolpe. Alzira pede que o o cano do alvo exato. Não precisa de
mais tarde, Benjamin entra novamente pai indique a senha que só Getúlio e coragem: aquele gesto é tão decorrente
no quarto e diz que os generais, reunidos Zenóbio conheciam, a única que seria de si mesmo que mais parece um final
no Ministério da Guerra, foram infor- obedecida pelos generais da Vila. Sopra-: afago a_ que se julgava com direito.
mados por Zenóbio de que a licença não da ao telefone, a senha colocaria os tan~
era para valer; o que havia, realmente, ques nas ruas e a situação se inverteria. Aperta o gatilho. Alguma coisa treme
era uma deposição. Ele nem precisaria sair do leito, bastava em seu corpo, como se um raio o tivesse
- Então estou deposto? dar a senha à filha e poderia voltar a penetrado, levando-lhe calor e clari-
- Não sei: Sei apenas que é o fim. dormir. Quando acordasse, estaria se- dade. Por um instante não sente nada.
nhor absoluto da situação. As mãos queimam - é a única dor que
· A·última palavra · sente. Há uma dormência no peito que
pertencia a ele Ele olha a filha - tão antiga de re- não chega a doer.
pente, tão de um outro mundo e de ou-
O irmão retira-se, crente que havia tras preocupações. Não pode fraquejar Depois, sim. Há o gosto que esperava:
dito a última palavra. Mas a última pala- diante da possibilidade de vencer por sangue na garganta e, mais tarde, na
. vra pertencia a ele. Quem decidiria a ·mais um pouco. Quer vencer para sem- boca. Sente-se fraco, procura encostar a
hora do fim seria ele. Aceitara a idéia da pre e até o fim. Desconversa: cabeça, mas o corpo não mais obedece
lice.nça sob a condição de que a ordem ao seu comando. Tomba na cama, mal
constitucional fosse mantida. Ora, a or- - Não adianta. O Zenóbio já foi con- deitado, a perna esquerda pendente do
.dem era violada, os generais só se amai- vidado para ser ministro do novo go- leito. Vê agora o teto branco do quarto.
nariam diante de sua-deposição. Não ti- verno. Vê mais além e ainda: acaba de atraves-
nha, pois, mais nada a esperar: as cir- sar o gargalo. Aproxima-se da eterni-
cunstâncias haviam fechado, nova- - Por que não me avisou antes? dade- ou do nada- e sente-se íntegro,
mente,· o ciclo. Ele decidiu: era a hora. Ele dá de ombros:
• . Vai levantar-se, mas Alzira entra no - Não adiantava. Deixe-me dormir. uammoe·rnti.egcmoaromaaa.isouraeemniagi.ms ásetiuc.a vida com
· quarto. A filh'a traz informação de que Mal Alzira fecha a porta, ele se le-
· alguns generais estão dispostos a resistir, vanta. Não desejava prolongar a mes- Percebe que_há pessoas à sua vdlta.
quinha lutà contra mesquinhos adver-
sários. Tudo já fora feito, ele imprimira Procura olhar para aqueles rostos, mas
àsua vida a marca de um destino podero- não consegue reconhecer ninguém. O
so . .Tem, realmente, elementos físicos sangue aumenta na garganta e na boca.
para a resistência, há a senha que será Um gosto_áspero e voluptuoso de vida
obedecida na Vi~a, mas de que adianta obriga-o a fechar os olhos. -A luz não
derramar sangue? foge abruptamente diante das pálpe6ras
Atravessa o corredor e vai ao pequeno que não consegue cerrar. Ao irivés , co-
gabinete do terceiro andar. Apanha uma meça a escoar-se, a tornar-se distante,
das cópias da carta-testamento que havia cada vez mais distante.
assinado antes da reunião ministerial.
Dera uma cópia a seu amigo João Gou- Não tem agonia: o ar não falta aos
lart. a outra ficara naquele gabinete. poucos. Subitamente, ele pá~a de res-
No corredor, o velho Zaratini levanta- pirar. Sente uma tonteira maior e mais
se à sua passagem. Cumprimenta o mor- pro,funda. Invade· o nada.
domo com a cabeça e fecha-se no quarto.
Logo batem: é Barbosa, o barbeiro, que E agora um objeto, um cadáver. Cid,
vem perguntar se o presidente precisa à sua maneira: vencera mesmo_depois de
dele. Não, o presidente não precisa de morto. Daquele cadáver em diante, ha-
ninguém. Não diz isso ao barbeiro, ape- verá em seu povo um limite de tolerância
nas o dispensa com um gesto. Coloca a e de decisão. Um preço de libertação,
. cópia da carta em cima da mesinha de . uma senha de vitória.
cabeceira e senta-se no leito. Apanha a
arma. Não treme quando sente, de en-
contro ao peito, o cano do revólver.

'' .forças fiéis ao governo para rechaçar bém sem qualquer vacilação. Ninguém
militarmente qualquer tentativa contra a ficou estupefato nem desiludido ·com
''Se quiserem Constituição. Finalmente, resta a solu-
impor a violência ção da renúncia, mas esta seria uma deci- aquele breve discurso. O presidente, ao
e chegar até o são do foro íntimo e e1'} cuja apreciação que todos compreenderam, aceitava a
catete, daqui não nos cabe entrar. fórmula da licença, desde que a ordem e
levarão apenas o o respeito à Constituição fossem manti-
meu cadáver'' - Os dois homens de 30 - Aranha e · dos. Estava finda a última reunião de um
José Américo - , os mais antigos ali na- governo.
Brigadeiro Epaminondas, livre quela sala, os que mais conheciam Ge-
agora de sua incômoda responsa- túlio, haviam ferido a corda no mesmo Getúlio apanhou os papéis à sua
bilidade de ministro recente, tam- ponto sensível. José Américo falara em frente, deu um boa-noite geral e subiu
bém desabafou a seu modo: para o seu quarto, no terceiro andar. Os
-A solução é mandar prender o Jua- grande gesto. Aranha falava em foro ín- ministros, sozinhos agora, tinham no
rez e o Eduardo Gomes. Acabamos logo timo. Não eram palavras brilhantes nem que pensar. Necessitavam redigir um co-
com a crise! municado oficial da reunião, dando co-
Zenóbio provoca: hábeis, embora sensatas, a seu modo. nhecimento à nação de que o presidente
- E por que você não os prende? Não podiam eles, contudo, adivinhar resolvera solicitar licença do cargo. Tan-
- Não tenho mais tropa! Forneça que, no foro íntimo daquele homem tido credo redigiu a nota:
.você os homens e o local da prisão, que como frio, calculista e senhor de suas
eu vou lá e prendo os dois! emoções, a calma e a decisão já tinham - "O presidente dá República reuniu
penetrado, não através de um grande hoje o ministério para o exame da situa-
• ~,,.:..;.~tr1.. -- gesto, mas simplesmente através de um ção político-milftar criada no país. Ouvi-
. ,, , gesto: doara a caneta a um amigo e au- dos os ministros, cada um de per si,
' xiliar. Era mais do que um símbolo: era foram debatidos longamente os diversos
uma retirada_. Ao dar a caneta a Tancre- aspectos da crise e suas graves conse-
lt • • do, ele se despia de um poder: não assi-
naria mais nada, pois já assinara tudo o qüências. Deliberou o))residente da Re-
Nos tempos em Os ministros se dispensavam o trata- que deveria ter assinado durante o go-
verno e a vida. Inclusive uma carta que, pública, com integral solidariedade de
que o riso era m• ento de excelência e se tratavam de · horas mais tarde, seria lida emocionada- seus ministros, entrar em licença, pas-
possível, os . mente por todo o povo. sando o governo a seu substituto legal,
você. Era um sintoma. Osvaldo Aranha, desde que seja mantida a ordem, respei-
Mas a reunião prosseguia. Amaral tados os poderes constituídos e honrados
carinhos com ,fechando o ciclo dos ministros (sentava- Peixoto, com a responsabilidade de os compromissos solenemente assumi-
parente próximo e político chegado ao dos perant~ a nação pelos oficiais-
Alzira Vargas. A se .na outra ponta da mesa, em frente a presidente, trouxe a habilidade pesse- generais de nossas forças armadas. Em
dista ao debate: a fórmula contempori- caso contrário, persistiria inabalável no
fllha queria os Tancredo, e também ao lado de Ge- zadora. Nem resistência armada, nem · seu propósito de defender as suas prer-
renúncia. Nem o desespero, nem a hu- rogativas constitucionais~com o sacrifí- .
tanques na rua. túlio), resumiu os fatos e opiniões: milhação. Antes, o meio-termo, digno cio, se necessário, de sua própria vida."
para ambas as partes em jogo: a licença.
- Vejo três soluções: a primeira seria A palavra, lançada no ar com segurança As mesquinhas preocupações com a_
e cálculo, pegou. elaboração do documento e a sua .divul-
.. a resistência pessoal , ao preço da própria gação ocuparam o pensamento de todos.
·Avoz -serena dos E até às oito horas e vinte minutos da-
vida e à qual me declaro solidário desde momen~os agudos quela manhã ninguém pensaria mais em
Getúlio. O solitário, que sempre vivera
logo. A segunda seria um balanço das Era uma saída, não apenas para o go- no meio de tanta gente , conseguia,
verno, mas para aqueles homens que agora, a solidão, também exata para a
não sabiam até então se estavam sendo sua extrema decisão.
temerários ou covardes para consigo
mesmos e para com a história. A aceita- Foi uma estranha sensação aquela:
ção da fórmula foi imediata e. quase to- voltar novamente ao quarto, ficar mais
tal. Mas, antes que as discussões e os
bate-bocas pessoais recomeçassem, Ge- uma vez sozinho. Sua solidão, agora, era
túlio resolveu encerrar a reunião, ao me- mais densa e calma: já não era o respon-
nos no que lhe dizia respeito. sável pela complicada trama que a vida e
os homens haviam armado em torno
A voz pausada, serena, a voz dos mo- dele, mas não dentro. Continuava presi-
mentos mais agudos, anunciou: dente da República, mas aceitara a su-
gestão da licença. Não era bem um alívio
- Já que os senhores não decidem, eu o que sentia, mas uma pausa incômoda,
vou decidir. Minha determinação aos embora pausa. Se dependesse exclusiva-
· ministros militares é no sentido de que mente dele, a solução teria sido outra.
mantenham a ordem e o respeito à Cons- De há muito fatigara-se do poder - e , ó
tituição. Nestas condições, estarei dis- que era pior, fatigara-se da vida. Conhe-
posto a solicitar uma licença, até que se cia os homens - o suficiente para mais
apurem as responsabilidades. Caso con- nada esperar deles. Mas conhecia-se
trário, se quiserem impor a violência e bastante bem - e por isso sabia que
chegar até o Catete, daqui levarão ape- apegaria não mais à vida ou à carne, mas
nas o meu cadáver. aos cpnceitos que haviam formado e fir-
mado a ·sua responsabilidade, o seu
A palavra cadáverfoi soprada como as gosto de homem. Um desses conceitos, o
mais inamovível, o mais impenetrável,
demais, sem qualquer emoção, sem era o da dignidade pessoal. E era justa-
qualquer vestígio de ameaça, mas tam- mente neste território, impermeável a
qualquer concessão, que ele te1nia so-
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âsit:-· Um livro-reportagem de Cláudio Lacerda tenta-levantar os véus do atentado gpe ,.

• é irmão do presidente, eJe·caL Nos Est!1- 1
dos Unidos, o Watergate foi muito me- ·
a madrugada de 5 de agosto de prio atentado: seu planejan1ento, execu- nos grave do que isso. Aqui, .como não l
te,n instituição, o presidente não cai. Por
1954 um tiro feriu Carlos Lacerda ção, investigação e julgan1ento. Antige- outro lado, não havia condições dele l
. continuar'' - diz Cláudio.
e matou o Major Rubem Vaz. tulista por excelência, contesta a idéia de f
Mas o que o sobrinho de Lacerda la-
Quarenta anos depois, o livro Uma Crise que o ex-presidente teria se matado ví- menta é a desinformação a respeito do i
assunto: "Infelizmente, não se quer es-
de Agosto: o Atentado da Rua Tone/e- . tin1a da alta burguesia nacional e do in1- tudar isso direito. Vi uma reportagem •
co,n a autora de A Carta Testamento
ros procura esclarecer este crime e todas perialis1no americ,ano: " A história real dizendo bobagens que uma pessoa que j
não tem charme. E um velho presidente junta sujeito com predicado não pode
HISTORIA as articulações que levaram ao suicídio dizer. Ela afirma, por exemplo, ·que o l
de Getúlio Vargas. isolado, que foi traído pelas pessoas de Alcino havia sido contratado pelo Ben-
jamin Vargas (Bejo) para seguir Carlos •
Movido pela '•necessidade de apre- sua confiança e se mata." .Lacerda. -Ora, você. quandó contrata
para seguir, é para matar, para dar uma 1
sentar uma versão diferente para essa Para Cláudio, a história acabou trans- surra ou para espionar. Para seguir meu
tio, bastava ter acionado o DOPS." 1'
velha e cruel lenda". Cláudio Lacerda, formando Getúlio nun1a coisa que não
Cláudio acredita ainda que outra bes- l
sobrinho de Carlos, concentra-se no pró- era: "Fascista, de direita. de repente teira que as pessoas repetem é que um
tiro de 45 teria estraçalhado o pé do seu \
passou a ser de es- tio, ao invés de tê-lo simplesmente que-
brado: ''Ora, foi um tiro de revólver, 1
querda. O que mos- não de canhão.
i
i tramos no livro - e Havia alguém
acima de Gregório?- '
eu acho fundamental
Amaral Peixoto declarou, inclusive, i
- é que . o ex- que Lutero teria afirmado não se enges-
sar ferimento a bala. Uma das entrevis- !
"e' presidente era um tadoras do Cpdoc assume isso como ver-
dade. O que me irritou muito porque, ao 1
<t contrário de todo o resto do livro, me
deu trabalho. Tive de ligar para o mé- ,1
hon1e1n desacostu- dico que atendeu Lacerda no Miguel
Couto e ele ~e garantiu que não há jeito 1
mado à democracia. de se tratar fratura de. outra maneira.
Então, no livro, procuro desfazer todas j
Ao reassumir - o essas e outras lendas que foram criadas." l

que foi un1 erro gra- Na verdade, ao longo de toda a "re- !
"'- v1,; ss.uno e a pro,pr1.a portagen1" que constitui a obra de Cláu-
dio Lacerda, Carlos e Getúlio são perso- 1
. .-,. ~ família reconhece - nagens secundários, A narrativa trata
~~.~.-=\. \: principalmente do processo em s, i. E não J.
não estava acostu- chega a nenhuma conclusão: ''E impos-
;>,,olll!I, i, mado co1n liberdade sível saber se acima do Gregório havia l
ÍK,..~ ~ alguém. Eu acho que presumivelmente
sim, já que era uma responsabilidade
;1,ti;;,:;] ,,,~..,_,.v;_:.:r;'::11 ..,~ - ~ muito grande para assumir sozinho.
..__.. ',"\ Mas, com a n1orte de Getúlio, as investi-
de i,nprensa, con1 gações pararam. No entanto, n1eu tió
'•. .7~ morreu con1 a intuição de que teria sido

.- Câmara. corn Con- o Beja. A viúva do Vaz também. E,
gresso. E quando co-
• 1neçou a levar pau comprovadamente, a primeira pessoa a
quem Gregório confessou o crime foi a
dos jornais, con1eteu Benjamin Vargas.

1 .. ., outro erro grande, A' época do atentado, Cláudio tinha 14
anos e ficou profundamente marcado
I .' ~.. que foi financiar o com tudo. Lembra que, mesmo sendo
-------.:qrJ1al Ulthna Hora. um homem corajoso, Lacerda passou a
,I ' •:. temer pela segurança da família desde
.. ·- ··,v~s de cair então, proibindo-a de sair no seu carro.
• ' A morte do Major Rubem Vaz tan1bém
~,.,muel o abalou muito: "Ele pouco falava sobre
./
.'tdo - isso, mas nós sentíamos e percebíamos
,. '' .'
.. ;. ,1 ao tudo de uma forma mais química do que
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.. ld '
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, -·- ---~ - - -------....·. --·· -·. 'I: ..
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~•._.._ __:'•:_~.."..:"..."...:!:'..!.i~ :!...:

24 'DE AGOSTO DE 19940 Palácio do Catete, local do suicídio de Vargas, foi o ponto central das solenídades que
marcaram o 40? aniversário da sua morte. Um Beechcraft 1945 do Correio Aéreo Nacional

(fundado no governo Vargas) chamava a atenção. OMuseu da Repú~lica, que funciona no palácio, fez uma retrospectiva, mostrando fotos de
t::-~~1tores como Francisco Alves, lembrando a campanha OPetróleo ENosso e outros aspectos do governo Vargas. Nos corações, Getúlio vive.

fís ica. Além disso , durante toda a sua con1 essa notícia do que com a do aten- políticos, ela vinha a reboque dos acon-
vida, sentiu dores no pé atingido pela tado. tecimentos: " Porque, para co1neçar, a
bala." pessoa fica se1n vida pública. Não pode ir
Tendo convivido de perto com Carlos, à rua, fica todo o mundo olhando -
A cuidadosa investigação de Cláudio trabalhando ao seu lado na imprensa e metade odiando e metade amando . E le
levou a descobertas que o fizeram sentir no Pa lácio do Governo. Cláudio não es- me con tou que un1a vez vie ra1n lhe dizer
conde a ad1ni ração pelo tio,: "Sen, dú- que tinha sido visto co,n uma n,eninin ha,
até mesmo pena de Vargas: "En1 sua vida, ele foi uma grande fjg ur a. Como tomando chá nun, a casa em Ipanen, a.
solidão, várias vezes saiu para passear de homen, público. há quem diga que tinha Irritadíssimo, garantiu que a tal men ini-
automóvel com o cozinheiro. Descobri algun, a coisa parecida com Brizola. T al- nha era Cristina, sua filha, adolescente
também que Getúlio estava no seu se- vez tivesse a liderança. o hábito de deci- na época ."
gundo governo completamente aéreo, dir tudo sozinho. Mas , e1n relação a to-
desligado. As pessoas q ue lidavam com das essas pessoas, possuía un,a carac- Mas isto não está no livro . Urna Crise
o presidente, que ficavam perto dele , terística pecu liar: era o antipolítico. o de A gosto: O Atentado da R ua Tonele-
são unânimes em dizer que estava em anti-T ancredo Neves."
outra.'' Nos arquivos de Gregório, apre- ros é o resultado de um minucioso traba-
endidos pela Aeroná utica, por exemplo, No que diz respeito à família, Cláudio lho de pesquisa. Co1no diz Luiz Garcia ,
apareceu um recibo do filho de Getúlio acha que , a exemplo de n1u itos outros na quarta página da obra, o autor "lança
ve ndendo uma fazenda de seu pai para o
próprio Gregório . O ex-presidente des- no ar , em parte como pergunta, e,n parte
cobriu isso pelos papéis e mandou cha- co1n o repto, uma das cruciais indagações
mar o fi lho, que estava na Europa. Nos da História do Brasil na segunda metade
depoimentos de Tancredo Neves e de do século: quem mandou matar Carlos
Melo Moura, que estão no Cpdoc, am- Lacerda?"
bos afirmam que Getúlio sofreu mais
DEBORAHBERMAN

IM;;]3 DE SETEMBRO DE 1994
29

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1 - ,assim fo t ogra-

fara~, ~ela primeira

vez n'a h1stór1a da In-

glaterra. um dôs po_li-.

. ciais incumbidos- de

1 patrulhar a-resídêncía
1
1 do priineiro-mini,stro,
1
que;alén1 do-revólver
1
1 Srriith & Wesson ,

1 usam coletes à prova
1
de balas. Para comba- •

, .ter a violência, aScot-

1 lan-d. Yard informa:

-do_ravante , o polici~- ·
men.•t...e~ sera,. mai•s. -o. stensi..vo.

AFRANÇA, .'

1

VISTA DO SATELITE OS HOMENS ~ A·BO.LSA
DO ARCO EFLECHA
e Esta. imagem computadorizada, un1 .DEELIZABETH·.
• Estes tranqüilos arqueiros ingleses
verdadeiro quebra-cabeça de informá- alimentam uma tradição que vem do sé- e O assunto já levantou mais palpites
tica montado, é na verdade a soma de 40 culo XV. Formam um estranho, tradi-
clichês diferentes mostrando um bom cionalíssimo e fechado clube. Wood- do que a dúvida: quem fo.i mais·.culpado
pedaço da França iluminada pelo sol de men, de Arden, fundado em 1785. Em na sep~raçãg q,e...C. harle-5·e Dianà? O que
verão,.tal como seri.a visto por um passa- agosto foi o mês de seu torneio anual, a rainha êostuma levar dentro de sua
geiro imaginário a bordo do satélite mó- regido por uma norma que é rigorosa e valise de mão sempre 'foi. na verdade ,
vel de observação americano Landsat. imutável: cada flecha é feita de madeira
Cada fotografia tirada do satélite per- de cedro e pesa, na balança, o equi- um dos segredos mais bem·guardados do
mite cobrir l/40 do território francês e valente a 3 xelins e 6 pence.
exibe detalhes de até 30 metros de diâ- Reino Unido. Pois. a revelaç_ão acaba áe
metro. INOSSAURO ser feita:' não há -lá dentro nada daquilo

MAM DE SAN FRANCISCO OPARQUE DOS '
EM CASA NOVA DINOSSAUROS MINEIRO
QUAND, O A, NOIVA
e Projetado pelo suíço Mario Botta, o • Jurassic Park começa a tornar-se rea- TAMBEM ENOIVO
lidade em Minas. O maior sítio paleon-
novo prédio do Museu de Arte Moderna tológico da América Latina , entre Peiró- • Dois autores
de San Francisco, no bairro de Yerba polis e Uberaba, possui um M.useu dos (Tess Ayers e Paul
Buena Gardens. abrirá suas portas em Dinossauros, e um Clube do Dinossau- Bro\vn) que aca-
janeiro. Sua construção saiu por US$ 60 ro,. que organiza excursões escolares. bam de lançar o
milhões. Terá não só mais espaço para Em breve, haverá um dinossauro e1n ta- Guia Essencial
obras de arte como um anfiteatro de 299 manho original exposto ao ar livre e, Paril C',1sa111entos
lugares para conferências. E os visitan- assim que houver patrocínio, um Parque de Lésbicas e
tes terão à disposição programas educa- dos Dinossauros. Gays. dão nesse
tivos em vários idiomas, em áudio e em manual os seguin-
vídeo. tes conselhos: 1)
para a lua-de-n1el ,
escolha locais que
não sejam homó-
fobos, como Paln1 Springs, na Califór-
nia, Copenhague ou o l-Iavaí; 2) se esti-
ver louca para carregar un1 buquê, vá
em frente: 1nais vale um gosto que seis
pruridos; 3) lojas que não se incomo-
dam cm receber listas de presentes:
Bloomingdale's e Tiffany's; 4) os bolos
co1n duas figurinhas unissex podem ser
enco1nendados à firma Shocking Gray,
de San Antonio; 5) o n1ais importante:
convide apenas quem você acha que
vai gostar de estar presente, não há a
JJriori obrigação de convidar ninguén1
ern particular.







l Município de Vassouras assina acordo
com aCaixa Econômica

■ A Prefeitura Municipal de Vassouras e
,• a Caixa Econômica assinaram um
acordo de parcelamento, em quinze
, ' • • anos, dos débitos daquele município
com a CEF, relativos ao Fundo de Garan-
Homenagem ao Embaixador David Ephrati, de Israel tia. Nenhum prefeito anterior havia pago
essas contribuições. Na foto, o superin-
■ Num almoço realizado na Casa da Manchete, em Brasília,_o grupo parlame~!ar tendente regional da Caixa, Airton Al-
Brasil-Israel homenageou o embaixador de Israel, David Ephrat1. Falaram, na ocas1ao, varenga Xerez, e o prefeito de Vassou-
o jornalista Zevi Ghivelder e a Deputada Sandra Cavalcanti, que destacou as bem- ras, Severino Dias , que assinaram o
sucedidas experiências israelenses nos campos da agricultura, educação e tecnolo- acordo.
gia. Compareceram, entre outros, os congressistas lbsen Pinheiro, Roberto Campos,
César Maia e Vitor Faccioni. Almoço oferecido pelos bancos ao
presidente do Banco Central
Prêmio Mauá
concedido pela ■ Presidentes e diretores de bancos
brasi leiros oferece ram um almoço e m
terceira vez àWhite homenagem ao Sr. Francisco Gros, pre- \
sidente do Banco Central, que se vê n.,..;
Martins foto, ladeado pelos Srs. Theophi lo d e ,

■ O Sr. Félix Bulhões, Azeredo Santos, presidente do Sindica~..i
presidente da White
Martins, recebeu o to de Bancos do Rio de Janeiro, e Léo ·
Prêmio Mauá, conce- Cockrane Júnior, presidente da Federa-
., dido pe la terceira vez ção Nacional de Bancos.
à sua empresa, como
companhia de capital
aberto que se des-
taca por manter o me-
lhor re lacionamento
com seus ac ionistas
e com profissionais
do mercado de capi-
tais. Esse prêmio é
concedido pela Bolsa
de Valores, com
apoio dç, Jornal do
Brasil, da Abrasca e
da Associação Co-
m e rcial.

OPresidente Collor ·! Gerente do Banco
recebe cumprimentos no i Pontual em visita
·1 às Empresas Bloch
Palácio d0 Planalto
1 ■ O Sr. Alexandre
■ Ourante recente audiência
concedida no Palácio do Pla- Manfredi de Souza,
nalto, o Presidente Fernand? gerente operacional
Collor recebeu os cumpri-
mentos de Roberto Wagner, ! .· do Banco Pontual no
da Sucursal de Bloch Editores
em Brasília. 1

: Rio de Janeiro , es-
teve em visita ao edi-

j fício sede das Empre-

sas Bloch, onde foi
receb ido pelos nos-
sos diretores.

~88 28 DE SETEMBRO DE 1991

~
~- - - - · ~ . . . j .
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. -

' ..

~ara que o Deputado Barreto Pinto Fazia questão apenas de man- lbrahlm Sued cessor, ao apoiar o Sr. Christiano

obtivesse do Tribunal Superior Elei- ter-se atualizado sobre elas. Diver- documentou para Machado, derrotado exatamente

toral a cassação do registro e dos tia-se quando as reproduzia para a história o pelo Sr. Getúlio Vargas em 1950.

15 rnandados parlamentares do os amigos. Não cortejava o aplauso · discutido gesto do Exatamente às 15 horas do dia

Partido Comunista: do próprio do povo, mas era torcedor fanático Deputado Otávio 18 de setembro de 1946 - há 45
do Flamengo, do qual veio a · ser Mangabeira anos, portanto - , o Senador Fer-
Prestes, de Maurício Grabois, Car- sócio-benemérito. beijando a mão do nan~o de Mello Vianna, presidente
da Assembléia Nacional Consti-
los Marighella, João Amazonas; Esse cuiabano desconfiado e es- General
quivo fez toda a sua carreira no Eisenhower. O tuinte e .que logo em seguida seria
Claudino Silva, Jorge Amado, Alci- Exército, visitando a FEB na Europa Presidente José eleito presidente do Senado, pro-
Linhares colocou mulgou a Constituição dos Estados
des Sabença, Gregório Bezerra, e permanecendo como ministro d9- a faixa Unidos do Brasil e o Ato das Dispo-
sições Constitucionais Trans itórias.
Trifino Corrêa, Agostinho Oliveira, Guerra desde 1937, quando foi tido presidencial no
como o Condestável do Estado General Dutra, Ele foi o primeiro a assinar o do-
Alcedo Coutinho, José Crispim, Os- Novo, até 1945, quando ajudou a cumento, que depois recebeu a as-
depor o Sr. Getúlio Vargas no d ia 29 vendo-se atrás o
waldo Pacheco da Silva e Milton de outubro, embora tendo recebido sinatura do 1? Secretário, Georgina
logo a seguir o apoio getulista para ex-Deputado José Avelino; do 2?Secretário, Lauro Lo-
Cayres de Brito. a sua candidatura presidencial. Alves Linhares. O
Senador Nereu pes; do 3?, Lauro Montenegro; e do
O próprio Presidente Outra afir- 4?, Ruy de Almeida . A última assina-

a maria depois sobre a cassação:
9 - Com aquela resposta, Prestes

provou que era presidente de um
~ ~ partido estrangeiro. Ele e o partido

mereciam -mesmo ser cassados.

Houve ainda na Constituinte uma overnou durante cinco anos, Ramos, //der do tura foi do Deputado Raul Pilla. •
Sobre essa Constituição, assim
longa discussão sobre a duração apoiado por quase todos os PSD na

do mandato presidencial do Ge- partidos, através do Minis- Constituinte, num disse o Deputado Otávio Manga-

neral Eurico Outra. Seus correligio- tério de Coalizão Nacional, momento mais beira: ·

nários do PSD e do PTB queriam com a participação da UON - Mi- descontraído. - Não sabemos ·se ela é boa ou

dar-lhe seis anos. Mas seus adver- nistros Clemente Mariani (Educa- má. Se contempla o futuro ou se

sários da UON, do PR e do PL que- ção) e Raul Fernandes (Relações retrocede ao passado. Importa é

riam apenas quatro. Adotou-se a Exteriores); do PTB - Ministro Oc- . que, com ela, se enterraram o Es-

solução salomônica: c inco anos. tacílio Negrão de Lima (Trabalho, tado Novo, a " polaca" de 1937 e a

O Presidente Outra diria no fim do Indústria e Comércio); e do PR - longa noite de trevas em que o·Bra-

seu governo; Ministro Daniel de Carvalho (Agri- si l esteve mergulhado.

- Governei sempre com ela. Ao cultura) . Inaugurou Volta Redonda E o Deputado Arruda Câmara:

meu lado, onde estivesse, estava e a CSN em 1946; criou o Conselho - Como Adão, as Constit_uições

sempre um livrinho, com encader- Nacional de Economia (CNE) e o também são feitas de barro frio e

nação vermelha : a Constituição. Se Tribunal Federal de Recursos (TFR) mudo. Precisamos dar-lhes um so-

ela permitia, eu fazia. Se não, não. ern 1948. Construiu a Hidrelétrica p ro de vida, que infelizmente não

Forte anedotário circulou sobre a de São Francisco. Proibiu o jogo e sai .dos deuses, mas sim dos nos-

t ) pessoa de Outra durante seu go- ordenou o fechamento dos cassi- sos humanos pu lmões.
verno, o que não o aborrecia nerr:i o
nos. Lançou o Plano SALTE, que foi A Constituição de 18 de setem-

magoa.va, porque encarava as pia- o primeiro e grande projeto de go- bro de 1946 sobreviveria mais de .

~ - , das como uma prova do carinho · verno no Brasil, com as metas prio- 20 anos, até ser revogada pela de

·. · , -~ popul?r:· _ ritárias de sua sig la: Saúde, Alimen- 15 de março de 1967, já em pleno

""""""" E bem poss1vel que escon- tação, Transporte e Energia. reinado dos militares.

·da_m de mim as mais pesadas. Não conseguiu eleger o seu su-

28 DE SETEMBRO DE 1991 -~ 87

,.,

ACONSTITUI AO DE 1946

• SOBREVIVEU MAIS DE

• 20 ANOS, ATÉ SER

REVOGADA, EM 1967

s graves incidentes ocorri-

dos no d·ia 1? de maio no

Largo da Carioca, com mui-

tas vítimas, repercutiram in-

tensamente no plenário da Consti-

tuinte, com a bancada do PCB fa-

zendo pesadas acusações ao Sr.

Pereira Lira, chefe de polícia.

Houve uma acalorada e violenta

discussão em torno do "escândalo

do algodão", quando a UDN e o

Deputado Aliomar Baleeiro acu-

saram os Deputadós Hugo Borghi e

Souza Costa, ex-ministro da Fa-

zenda, que se defenderam brilhan-

temente.

Velhos e antigos adversários não

perderam aquela oportunidade de Jorge Lacerda, Horácio Láfer, Al-
berto Torres, Hamilton Nogueira,
acertar suas contas. munhas do período áureo da de- Aureliano Leite, Paulo Sarasate,
mocracia brasileira, com um inten- José Augusto Bezerra de Medei-
O ex-Presidente Getúlio Vargas so exercitamento de inteligência e ros, Barbosa Lima Sobrinho, Dario
de talento oratórios, quando se tra- Cardoso, Aluizio Alves, Marcondes
havia sido eleito, ao mesmo tempo, varam duelos inesquecíveis, nos Filho, Eusébio Rocha, Daniel Fara-
quais se destacaram, entre outros: co, João Villas-Boas, João Mendes
senador e deputado federal por Alcides Carneiro, Luís Vianna Filho, e Tarcilo Vieira de Melo.
Gilberto Freyre, Café Filho, Cle-
vários estados brasileiros. Não op- mente Mariani, Milton Campos, Ga- O Deputado Café Filho costu-
briel Passos, Samuel Duarte, Rui mava subir à tribuna quase todos
tou por nenhum delés, permitindo Palmeira, Christiano Machado, Ge- os dias com os jornais na mão, ex-
túlio Moura, Manuel Novaes, José plorando as notícias diárias. Certa
que a Justiça Eleitoral lhe determi- Bonifácio, Argemiro de Figueiredo, tarde, explorou o noticiário sobre
Miguel Couto Filho, Bias Fortes, um escândalo que envolvia o
nasse para cumprir a senatória José Maria Alkmim, Deoclécio todo-poderoso Correia e Castro,
Duarte, Odilon_Braga, Ruy Santos, ministro da Fazenda, e conseguiu
pelo·Rio Grande do Sul e deixando derrubá-lo com um só discurso.

que suplentes do Partido Trabalhista Ainda me ressoam aos ouvidos
os sons de memoráveis debates
Brasileiro ocupassem as vagas da travados entre esses grandes par-
lamentares.
legenda com as suas sobras elei-
ouve o famoso beija-mão do
torais, do que resultou a ida para a Deputado Otávio Mangabei-
ra, na homenagem ao Ge-
Constituinte, entre outros, de Barreto neral Eisenhower, em visita
oficial ao Brasil após ter coman-
Pinto, eleito com apenas 400 votos. dado vitoriosamente as tropas alia-
d~s na \nvasão d_a Alemanha e quf3
Tendo participado na Consti- o Jornalista lbrah1m Sued, então no
início de sua carreira, documentou
O Senador tuinte sdeesrsaor-íesssi,- numa fotografia hoje histórica.
mas O Deputado Juracy ·Magalhães
Prestes
participou do numa delas o ex- Qconseguiu apanhar de surpresa o
tumultuado
comício do Presidente Ge- Senador Luís Carlos Prestes,
Partido ,.., quando o interpelou se, na even- .
túlio Vargas viu- tualidade de uma guerra entre o . 1
Comunista no Brasil e a Rússia, com qual dos dois . -~ ...
Largo da se desafiado p-elo países ele ficaria, recebendo a in-
Carioca, com feliz resposta de que ficaria com a
Deputado Eucly- Rússia.

d es Figueiredo Essa declàração fói suficiente

para um desforço

pessoal, "lá fora".

Ele foi o único dos

. muitas vítimas, 320 parlamen-

e fez pesadas tares que não as-

acusações ao sinou a nova

Sr. Pereira Lira, Constituição.

chefe de Além do traba-

polícia. lho de elaborar a

nova. Carta, os

.. constituintes tra-
varam ásperos e

candentes deba-

. tes no plenário do

Palácio Tiraderi-

te~, com a pre-

sença de galerias

. não raro repletas,

· ,. que foram teste-

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86 ~ ,~28 DE ~ETEMBRO l?E 1991'"

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Bernardes, Nereu Ramos, Eurico Outra, Cirilo Júnior, Mel/o Vianna, Etelvina Lins e Soares Filho, líderes da Constituinte, foram ao Palácio do Catete para entregar a nova

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28 DE SETEMBRO DE 1991 [Maochett] 85



.· -_--.\. Que tal visitar o pai,s -~
- ...,,

latino-americano que está na moda e deu certol
,u
=~ pra variar ?
••




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• -.

. ,",'.t,i,:,~,..... cf0~0_,w~ - -·--· . .

•í

. Muril Melo Filho · Eles foram eleitos no dia 2 de dezembro de 1945,
juntamente com o presidente da República, General
.,
Eurico Outra, o maior surpreso com essa vitória:
t.,.__:rec.onstitui os debates recebera 3.251.507 votos (55,3%) contra 2.039.342
· da Assembléia Nacional
(34,7) dados ao Brigadeiro Eduardo Gomes, ga-
Constituinte de 1946 nhando a eleição em 15 dos 20 estados brasileiros.

Eram 320 parlamentares_, entre senadores e deputa-

dos, que se reuniram 60 dias depois, a2 de fevereiro,

Há45anos transformados em constituintes. AAssembléia Nacio-
nal Constituinte, no prazo de 7 meses e 16 dias, iria

·DEPOIS promulgar a 18-de setembro de 1946 - exatamente .
há 45 anos - a V Constituição brasileira: as outras
quatro haviam sido elaboradas anteriormente em

1824 (no Império), em 1891, 1934 e1937 (na Repú:.

DA DITADURA -blica). ODeputado Prado Kelly opinaria depois:

- ~ .· •

~• - Aquela Constituição talvez não tenha sido a

ideal, mas foi a única possível de ser feita, éntão.
Se não tivesse sido revogada por outras, aConsti-

tuição de 18 de setembro de 1946 estaria comple-

tando esta semana 45 anos de vida.

J_L. t e·"-:... • ,1 Constituinte começou orga- dagou se o professor Sá Nunes ha-
' nizando e escolhendo uma via realmente lido o texto:
Comissão Constitucional,
sob a presidência do Sena- - Porque, só por alto, eu já des_-
cobri 25 atentados contra a gramá-

DOCUMENTO dor Nereu Ramos, tendo como vi- tica, o léxico, a sintaxe e a concor-
ce-presidente o Deputado Prado dância.

Kelly, como relator-geral o Depu- A inclusão do nome de Deus no

tado Benedito Costa Neto e como preâmbulo da nova Constituição

vogais, pelo PSD: Adroaldo de suscitou muitos debates. Mas foi fi-

Mesquita Costa, Magalhães Bara- nalmente aprovada, graças ao tra-

ta, Cirilo Júnior, Benedito Vala- balho dos Deputados-Padres Arru-

dares, Acúrcio Torres, Clodomir da Câmara e Medeiros Netto,

Cardoso; Silvestre Péricles de quando derrotaram a oposição da

Góes Monteiro, Flávio Guimarães, bancada comunista e dos Deputa-

Valdemar Pedrosa, Ivo de Aquino, dos Hermes Lima, Domingos Vel-

Agamenon Magalhães, Gustavo lasco, João Mangabeira e Nestor Benedito Valadares1 Prado Kelly; Arthur

Capanema, Ataliba Nogueira, Sou- Duarte, que achavam mais conve- Constituição ao presidente da República.
,
za Costa, Graco Cardoso e Atílio niente não misturar o nome de Deus
•.,
Vivacqua; pela UDN: Ferreira de com uma lei dos homens.
..
Souza, Mário Masagão, Flores da
_- _.__,___. _._________
ODeputado Cunha, Aliomar Baleeiro, Hermes obre a Carta anterior, de
Lima e Soares Filho; pelo PTB: Gua- 1937, que havia estabele-
Café Filho, com racy da Silveira e BaetaNeves; pelo cido o Estado Novo, travou-
um discurso, PDC: Arruda Câmara; pelo PL: Raul se também acirrada discus-.
Pilla; pelo PCB: Milton· Cayres de são. O Senador Nereu Ramos sus-
derrubou o Brito e pelo PR: Arthur Bernardes. tentava a tese segundo a qual to-

todo-poderoso

ministro da As outras três Constituições anteri- dos os parlamentares ali presentes,

Fazenda, ores haviam tido suas origens em an- quando se empossaram perante o

Correia e teprojetos remetidos pelo governo. Tribunal Superior Eleitoral, haviam

Castro. O Esta seria a primeira Carta Magna se comprometido a respeitar a

plenário do oriunda _e gerada rio próprio ventre Constituição então vigente, que era

Palácio . do Congresso, e que tomou como exatamente a de 1937.

Tiradentes foi base e modelo o texto de 1934. O Deputado Aureliano Leite

palco de Organizaram-se 1O subcomis- aparteou: ·

.· 1mneemsqoureácv1e,vies1.se sões: Poder Judiciário; Poder Exe- - Co.m perdão de Vossa Ex-
cutivo; Poder Legislativo; Discrimi-
debates, nos nação de Rendas; Organização Fe- celência, devo esclarecer que nos-
deral; Declaração de Direitos; Se-
quai•s se gurança Nacional; Família, Educa- so compromisso foi o de respeitar o
ção e Cultura; Ordem Econômica e
--,xercitavam a Social e Disposições Transitórias. regime democrático.

,.,_ • "'ct Essas subcomissões exami- E o D·eputado Otávio Mangabeira

ef.. · inteligência o acrescentou:

~~ talento oratórios; - Quem não respeitou a Consti-

tuição, por ele mesmo outorgada em

naram 4.21 O emendas, das quais 1937, foi o seu próprio autor, Getúlio

se aprovaram 315. .· Vargas, ao golpeá-la várias v~zes.

... Um professor de português, Sá Muito controvertida foi igual-
Nunes, foi convocado para rever a mente a primeira tentativa do Depu-

redação final e evitar erros ou incor- tado Raul Pilla para instaurar o par-

. . reções gramaticais. Mas o depu- 1ame n ta ris mo no Brasil: sua
tado baiano Altamirando. Requião, emenda parlé?mentarista viu-se

tido também como intelectual, in- derrotada por 150 a 71 votos.
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Testemunha dos '. e costas para a vida,
de longe para a His-
acontecimentos de tória, Getúlio Var-

1954 que abalaram gas planejava uma longa
viagem, "para fugir ao
oBrasil, MUPJLO ,/ tiroteio", nos dias que an-
tecederam a tragédia. Mas
MELO FILIIO ~ a hora se precipitou, pres-
narra os sionada por Carlos L.a-
~ ,. ...... cerda, pelos generais e
políticos que exigiam sua
~ - 1 renúncia, principalmente
dramáticos últimos • •• \~ depois do atentado da Rua
.. Tonelero, em que o Major
.dias de vida de -·'\. · Rubens Vaz morreu e La-
Getúlio Vargas •r cerda levou um tiro no pé.
-- 1v1urilo Me lo Filho, que
'
l' • então trabalhava na Tri-
buna da Imprensa, teste-
r •• ..,'
munhou ao vivo os aconte-
'-• ' 1 cimentos - até acompa-
nhou Lacerda numa con-
1• ' ' versa com Café Filho, em
que o vice-presidente deci-
-. diu assumir, caso Getúlio
renunciasse. Aqui, o rotei-
•. ro dos dramáticos últimos
• dias de Getúlio.

.• .• ~ •





1• •

••

.

~4 DE SETEMBRO DE 1993 31

.,· ' ,·'1; / ·1 r..·•,1,~,1 •.•Jj :
o Major·Rubins
~.1 -i

Vaz tentou a n1adrugada de 5 de agosto
de 1954. segundo descreve o
apanhar o jornalista Carlos 1-leitor
Cony. o então n1inistro da Justiça ,
pistoleiro à unha. 1·ancredo Neves. havia voltado para
casa quando o telefone tocou. Era o
Foi fuzilado à Coronel Milton Gonçalves, do gabi-
nete do Chefe de Polícia, General
quei•ma-roupa Morais Âncora. que lhe co1nuni-
cava:
O Jor11alista Carl<>s /;ace1·da Jazi.,, - Deram u1n tiro no Carlos La-
cerda, que está ferido leven1ente.
' atr,n·és da re<·é111-i11stalada Rede - Só isso? Podia ter sido pior.
1·11pi de Televisão, u111a - fvlas o pior tambén1 aconte-
J'Íolentíssü11a can1p:u1h,1 <·011tr:1 o ceu. Matara,n un1 tal de Vaz, n1ajor
Sr. Getúlio Vargas, acusa11do-o de da Aeronüutica, que acompanhava
ter ajudado o jor11a/ista Sa11111el Lacerda.
J.Vai11er a f1111dar a Ultin1a llora, - Então, nada podia ser tão
l'tn11 ,,erbas do 11,uu:o do Bra.,;il. pior.
O f)reside11te <la República estava Na véspera. o jornalista fora fazer
co111 seus poderes sensiveh11e11te un1a conferência no Externato Siio
alJalados 1111 :irca polític:a por 11111a José. na Rua Barão de fvlesquita.
relorn1a no 111i11istério; 11a 1írea Estava en1 con1panhia do seu filho
111ilitar, pelo fan10s0 l\'1e111orial dos Sérgio e do Major Rubens Vaz, que
C<>ro11éis contra a 110111e11ção do Sr. naquela noite substituía o Gustavo
João Goulart p:1ra o l\1i11istério do Borges, con1pro1netido e,n fazer
TralJalho: e 1111 opini1fr, pública por u111a hora de vôo. 1-Iavia n1uita gente
11111:1 Cl'l da Cít111ara, que ap11r:1,•a
os lina11cia111entos iiquele jornal. ~
Ccrt:1 noite, na Rádio Tupi,
aprcsent,1rn111-se 110 Jor11alista e os pistoleiros acharan1 ,nelhor não
Carlos Lacerda quatro rapazes, consun1ar o atentado naquele local.
11111 deles co111 11111a 111oça g1·úvid11. deslocando-se para a parte fronteira
outro c:0111 sua 11111/her e outros dois ao edifício do jornalista Carlos La-
sozinhos. Era111 os l\•Iajores cerda. que ali chegou quando já pas-
(;11s1;1,•o Borges, A111érico sava da 1neia-noite.
J~11tt•11ellc, l\'1011c:rr dei Tedesco L'
Rube11s J•'lore11ti11a l 1az, todos da O edifício era o de n:· 180 na Rua
f i \B. Ser,•ia111 1111 J)iretoria dL• 1·onelcro, que tinha urna pequena
calçada con1 dois canteiros. e un1a
Rotas ""\ért•as: subida para pcnnitir aos auton1óvcis
- Est11111os 11<·0111pn11ha11do a sua parar ben1 e,n frenle ú porta central.
Juta. 'fc1110.'i alg11111as horas de folga O jornalista n1orava ali. nu,n aparta-
t' decidi,nos oferc(·e,·-lfte alg1111n1
proteçlio. n1c,nto de fundos do IO:· andar. ·
- Os s1:•11horcs 111e clcsculp,•111, 11111s
E o próprio Lacerda que1n faz a
t•u 11iio estou prt•<·isando de reconstituiçáo do atentado no seu

c;1p1111gas. Oepoin1ento:

- 1\ ';io nos lei'e a ,uai. 1\ ':ia s0111os - Fica,nos conversando os três
no auton1óvel. Eu e o Vaz na frente
L'11pa11gas, n1as acharnos de 11osso e o Sérgio atrás. Por unu1 dessas iro-
de,·t•r prt•star-lhe cstt• ser,·iço.
,\cha111os qut• o senhor a11d:1 11111ito ~

sozi11ho. nias. o Vaz era u1n dos 1nais n1oclera-
J)ai 1u1sc:e11 o /11ibito dt• esst•s dos, se,npre n1e aconselhando con-
ofil'ii1is :u·o111pa11hare111 Carlos tra os exageros e as exaltações nos
Lacerda. todas as noites. ataques. A certa altura nos despe-
din1os:

- An1anhâ. tenho n1uito o que
fazer e você ta111bén1.

- É. a1nanh,i. tenho de voar.
Quando 111c voltei para trüs. a fi111
d1: dizer adeus ao Vaz. vi u,n sujeito
con1 chapéu desabado (era o Alcino)
atravessar a rua. Estava parado na
calçada da frente e surgiu por trás do
auto,nóvel a uni.1 distância de três
metros. ;,\chei n1uito cslranho aque-
le negócio. úqucla hora da noite.
tvlns foi un1a ,·oisa instantânea. mui-

~32 4 DE SETEMBRO DE 1993

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A bala no pé de

to rápida. l1nediatan1ente, ele abriu Sérgio. Subi unia escadinha e saí Lacerda tinha armado e deve ser eli1ninado antes
o paletó. sacou uma anna e con1eçou pela porta ela frente. co,n o revólver. endereço errado. de 1nais nada. Depois é que atira,n
a atirar. O bandido estava j,\ a· uma certa dís- O pistoleiro no outro.
queria matar,
- Eu tinha un1 revólver de cano
curto, para tiros à queima-roupa. t,incia, na esquina da Rua Paula primeiro, o Major Vaz correu para cirna dele . a fin1
Não gostava de andar armado, ,nas
naquela época era preciso. Eu o le- Freitas com Tonelero. Co,necei a Rubens Vaz (foto de segurá-lo, mas estava desar-
vava no bolso da calça. porque era atirar nele , mas a tal arma não tinha mado , queria apanh:í-lo à unha e o
pequeno e cabia ali. Na hora , pensei rnuito alcance e eu não tinha muita pequena), como bandido o fuzilou à queima-roupa.
nele, mas o Sérgio se agarrou em n1ira. Entrou uma bala na biblioteca acabou fazendo, direto, quase no coração'.
mim. E o assassino atirando. Eu jo- do Baráo de Saavcdra, que ali ,no,:a-
gava o Sé rgio para trás do muro da va. De repente, quando olho, atrás para só depois Dois jornalistas do Diário Curíoc11
garagem , 1nas ele vinha de novo e se
atirar em - Armando Nogueira e l)eodato
,.c"'·.\~arrava em mim. Nessa altura,
Lacerda.
, 'i,Jnti um negócio no pé esquerdo.
dó automóvel , vejo um corpo caído. Maia - que regressavam àquela ho-
pesando. unia dor violenta. Quando
olhei, estava s:iindo sangue pelo cor- Era o Vaz. ra da redação e que se encontravan1
dão do sapato. E não vi mais o Vaz.
Depois, no inquérito , apurou-se na esquina fron teira, presenciaram a
- Entrei correndo na garagem.
para buscar socorro e para livrar o que o Vaz avançou para o sujeito, cena.

que atirou nele primeiro, segundo O Brigadeiro Eduardo Gomes,

ele próprio confessou. Os pistoleiros que acorreu ao 1-Iospital Miguel

profissionas, quando têm de matar Couto , onde o Major Vaz já chegara

alguém , atiram primeiro naquele 1norto,.declarou enfaticamente:

que julgam ser o capanga. porque - Para honra da nação. este cri-

esse é que é perigoso, deve estar .me não ficará impune.

IM:;;!4 DE SETEMBAO OE 1993 33

A prisão de .. ""'~'

Climério, Alcino e ~ - ~~ ·.:
Gregório conduziu
as investigações
ao Palácio do
Catete

' passividade da polícia era fla- ''). l,~..
grante. Un1 delegado apare-
~[UlJJ ceu na casa do jornalista Car- '}
los Lacerda e co,neçou a fazer per-
@Í2) guntas tüo estranhas que, a certa al- . ..,,,,.,.. ... '
@Í2) tura, o i_nterrogado se irritou e pôs o
policial para fora de casa.
©
Adauto: inquérito
(ri') policial-militar

no Galeão policial-militar, sob a presidência çatla, feita por oficiais da FAB e da
qual- participaram. entre outros, o
O delegado saiu 111uito contrafeito dos Coronéis Adil de Oliveira e então Coronel Délio J,1rdi1n de Mat-
~ Adhe,nar Scaffa e com a presença tos e Carlinhos Niemeyer. Climério
do futuro Ministro Cordeiro Guer- foi preso numa touceira de inato.
e o Deputado Adauto Cardoso fez a ra, entüo promotor e representante perto de ltaguaí.
seguinte sugestüo: do Ministério Público.
Ele era compadre de Gregório.
- A arma usada no crime é de O motorista de táxi Nélson Rai- chefe da guarda pessoal de Getúlio.
calibre 45, de uso privativo das For- n1undo. que conduzira os assassinos Fechava-se assiln o círculo que COf.:'.'1
ças 1\nnadas. Assim, o inquérito e que fazia ponto e1n frente ao Palá- duzia as investigações ao Palíicio ~ -
deve ser policial-n1ilitar. cio do Catete, denunciou Alcino e Catete.
Climério. Após tuna dra,nática ca-
Foi pedida , entüo. a ajuda do Bri- Uma edição falsa da Trihuna da
gadeiro Eduardo Gon1es que inter- Imprensa foi iinpressa com uma
feriu junto à AerOné.íutica e conse- grande manchete na primeira píi-
guiu a instauração de u1n inquérito gina: Beijo fugiu para Montevidéu,

abandonando os seus amigos na hora

do perigo.

Essa edição foi levada à prisüo
para leitura do Tenente Gregório. E
ele finalmente resolveu abrir a boca.
incrin1inando Benja,nim, Luthero,
Danton. Euvaldo Lodi e Mendes de
Moraes, que reagiram violenta-
mente contra as incriminações, pro-
testando sua inocência no caso.

Oencontro de -• •
Carlos Lacerda
com Café Filho

Cafê Filho e Getúlio Vargas. Ovice não queria assumir, mas Lacerda o convenceu. Jíi então, a campanha para a re-
núncia de Getúlio estava nas ruas,
agitada pela UDN. Os estudantes do
Centro Acadên1ico XI de Agosto
desenharan1 um grande R na facha-

~34 4 OE SETEMBRO DE 1993

- Como é. o general se encontra

co,nigo?

- Sim, às 14 horas. no Hotel Ser-

rador.

- Estamos con1 uma fo1ne da-.

nada. Vamos lü e,n casa. na l'onele-

ro, comer alguma cQisa.

' Lá. já estavam vários jornalistas.

. entre os quais R.aul Brunini, da Rá-

/ dio Globo, para gravar entrevista .

V• Quando já eran1 14 horas, liguei

para Olavo, pedindo-lhe d~sculpas

pelo ntraso:

J.ª, - Pois é. rvturilo , o meu hon1cm
est</1. aqui..

Quando lá chegnmos, estacionei o

carro en1 frente ao Serrador , fui

multado e o Carlos saiu amparado

no ombro, pulando numa perna só

(porque a outra estava engessada) e

depois de pararrnos em vários an-

dares para despistar, chegamos ao

15 '.'.

A porta do apartamento l.510 se

' abriu e eu vislumbrei lá no fundo o

Vice -Presidente Café Filho, sen1

paletó. corn uma calça de linho

branco e suspensórios pretos. (Sete

da da faculdade e usavam um R na faço quest:io de honrar ·essa leal- C/ímério, Alcino meses depois, quando Café já era
dade. e Gregório no
lapela. banco dos réus. presidente, Carlos n:io se conteve e
- Eu então volto e dou essa res- Aprisão só foi
O Deputado Afonso Arinos pro- posta ao Carlos. possível depois escreveu um artigo sob o título O

nunciou na C,imara um discurso - Não, espere um pouco. Com o que a I-lome111 de Suspensórios Pretos, em
Carlos eu me encontro. Tudo de- Aeronáutica
emocionante. em que apelou para pende do local. No meu a·parta- entrou na que contava toda a conversa).
rnento e no dele não pode, porque
que o Presidente Vargas renunciasse esteio muito visados. E no seu? caçada, pois a No diálogo então travado, o Sr.

-ao seu carfc!O, co1no única fórmula - No 1neu. tamhém não pode. polícia não agiu Carlos Lacerdn perguntou ao Sr.
presidente, porque eu 1noro num
capaz de pacificar a naçáo. npartamento modesto , com um ca- eo inquérito Café Filho se, na hipótese de Ge-
A' s 11 horas tia manhã de 11 de sal de tios velhos. passou para a
área militar. túlio ser derrubado, ele assumiriu.
- Eu tenho u1na idéia: está aqui
G1osto, eu estnva na Trihunn da /111- no Rio. hospedado no Hotel Serra- Recebeu a resposta de que preferia
dor, apt. l .510, um amigo comum e
prensa. quando Carlos Lacerda 1ne conterrâneo nosso líi do Rio Grande antes sugerir a renúncia dupla , dele
do Norte, o Olavo Medeiros, diretor
telefonou: do Banco tio Nordeste . Eu vou para e de Getúlio.
lá, converso com Carlos e de lá
- Estou precisando muito falar mesmo vou para o Senado , ali em Carlos Lncerda respondeu que o
com Café Filho. seu conterrâneo e frente.
~i vice tinha esse direito, mas devia
Eu saí correndo para dar essa res-
1 amigo. posta ao Carlos, que estava aca- ponderar-lhe que ele havín sido elei-
1 bando de sair do quartel da Polícia
Militar. na Rua Salvador de Sá. to para suceder o titulur em todos os
1 - Vejn be,n. Carlos, desde que onde terminara de fazer uma tenta-
tiva de reconhecimento da guarda seus i1npedimentos. Inti1nou-o en-
1 Café deixou de ser deputado e assu- pessoal de Getúlio. que desfilara em
frente dele. teio a assumir. caso Getúlio renun-
miu a vice-presidência , nunca mais
Do auto,nóvel en1 que saía acom- ciasse ou tirasse uma licença, pois
eu falei com ele. Mas se você est,í panhado de dois coronéis da Aero-
náutica, Lacerda passou-se para o nmbas as hipóteses estavam previs-
apgrei.rc.isando desse encontro. eu vou meu carro, um Opel Olympia, e foi
Mandei-me para o Ministério do logo perguntando: tas na Constituição.

Toda a conspiração esbarrava _jus-

Trabalho, onde Café tinha um gabi- tamente naquela incógnitn: a de sa-

nete. Estavam na ante-sala os Senn- ber se, com a derrubada de Getúlio,

dores Dinarte Mariz e Dix-Huit Ro- o vice-presidente concordava em

sado. O chefe de gabinete era o jor- substituí-lo. Daquela data e1n

nalista Ozéas Martins. que logo me diante , Café Filho entrou na cons-

introduziu nn sala: piraçeio. E, uma semana depois. fez
~ - Presidente, o Carlos Lacerda
no Senado um patético discurso em

está precisando n1uito falar com o que sugeria a renúncia dupla. para

senhor. pacificar o país. Getúlio 1160 aceitou

- Meu caro Murilo. eu estou evi- a sugestão e.preferiu ir a Belo Hori-

tando qualquer contato que pareça zonte para ina.ugurar a Manesmann,

urna conspiraçeio 1ninhn contra o Dr. atendendo a um convite do Gover-

Getúlio. Sou grande amigo dele e nador Juscelino Kubitschek.

~4 DE SETEMBRO DE 1993 35

'

Com um tiro no ' ~,t', .
peito,
serenamente, . ••~-,_',.jt ' -.,•i.
Getúlio Vargas Y ). •
saiu da vida para , .·•:( ,
entrar na História
1 • '
mportantes reuniões realizavam-
, ,
' se no Rio, nos Clubes Militar.
Naval e da Aeronáutic~1. Divul- Inimigo do Brigadeiro Eduardo tensa movin1entação militar. Depois
gou-se un1 Manifesto dos Generais. Gomes: nomeado de sucessivas reuniões, já à noite, oQ
exigindo a renúncia, con1 as assina-
turas. entre outras, de Fiúza de Cas- Almirantes e brigadeiros também Generais Mascarenhas de Morais.
tro. Canrobert Pereira da Costa. Ni- clivulgara,n manifestos de solidarie- Zenóbio da Costa e Odílio Denys
canor Guin1arães de Souza, Juarez dade aos generais. cla,nando pelo
Távora, Alcides Etchegoyen, afastan1ento de Getúlio, que acirrou foran1 ao Pahício do Catete, onde se
En1ílio Ribas Jr., Edgar Amaral , Al- ainda mais os ânimos, ao nomear o encontraram co,n os Ministros Os-
tair de Queiroz, tvlachado Lopes. Brigadeiro Epaminondas Gomes
Pcri Constant Bcvilacqua, Hun1- dos Santos, inin1igo pessoal do Bri- \Valdo Aranha, Renato Guilhobel.
berto Cc1stelo Branco. Paulo Krugcr gadeiro Eduardo Go,nes, para 1ni-
da Cunha, Jgntício José Veríssi1110. nistro da Aeronáutica, em substitui- Epaminondas Go1nes dos Santos,
João Batista Rangel, Nilo Horácio ção a Nero Moura.
de Oliveira Sucupira. Antônio Coe- Antônio Balbino. José Américo e
lho dos Reis, Delso Fonseca, Henri- Uni tanto inconsciente quanto ú
que Teixeira Lott , Otávio Saldanha Tancredo Neves.
tvlazza. José Daudt Fabrício. Nestor ggorauviadapdreodgarasmituaar çuãon,iaGve1.túagleio1nchaeo-
Souto de Oliveira. Nilo Guerreiro Zenóbio fez , logo em seguida, um
Li,na, Nestor Penha Brasil e Jair Pará e ao A1napá, dizendo:
Dantas Ribeiro. - Esta viagem me fará n1uito reltito a Getülio:

be111. porque vou sair un1 pouco do - Dos 80 generais sediados no
n1eio do fogo.
Rio, quase a 1netade já assinou o
O dia 23, segunda-feira. foi de in- manifesto. Se ele for divulgado,

terei de prender todos os signatários
e aí será o co1neço de uma guerra

civil. Resistirei, se V. Ex!', determi-
nar a resistência. Mas eles estão su-

gerindo também a hipótese de sua

licença ou renúncia. ( ) ,:

,,·;".1; • Vrn 1ínicojorna/istn esta,,a presente no Presidente Getúlio, que descill llS escadas
f'nlácio do Catete quando o Pre.5idente
o~ • Getúlio l'argas·se suicidou: Jnder Neves, cm L'Ompnnhia do General Zen6bio, de
que nesse ten1po lrabnlh;n•n para n Ul- D. DarCJ', de D. Alzira edo General Caia-
~.. do. Eram 5 e meia da 111a11hã. Ouviu-se
1inta Hora, n,as depois integraria então o esp,,car de 11111a bo,nba. Assus-
n. durante n111itos anos n equipe de A'1Al\'- tado e visivc/me11te 11er1·oso, o Presidente
CH1':1'E. É ele que111 reconstitui: l1arpt1s perguntou:
~"'
- Naquela 11oite, eu estara no Cale/e - Estão atirando? O General Caiado
Jader Neves, junto à cama onde Getúlio morreu, e, obedt·cendo a instruç,ies de Sn111uel tranqüilizou-o:
Jt'ainer, colnrn no 1\-finistro Tnn('redo
(hoje conservada cuidadosamente no Museu da i\ 'e,·es e ne> cheft' de> seu gabinete, Os- - Não. São fogos de artifício.
waldo Penido. Era,,, 9 horas da noite, na O General Zenóbie> i11ter1·cio na con-
República), lamenta a foto que não póde fazer. ,·éspera, quando D. Dnrc)' apareceu cho- versa:

~3 6 4 OE SETEMBRO DE 1993 r11ndo nt1 ,·arandn. Os fotógrafos corre- - Se o Presidente Vargas quiser, eu
rn111 para fotografá-la. Foi llÍ que o Ge- desço con, a Vila e acabo com tod,'1 essa
11er11I Caiado, para protegê-la, 111nndou bader11a.
evacuar o Plll;icio, deter111in1111do a todos
E Getúlio:
os jornalistas que se retirassen,. Eu fi-
quei, porque esta1•J1 con, Tancredo e Pe- - Não quero un,a só gota de SJ111g11e. /;. ~
nido. Saí para to111ar 11n1 lanche e encon- Nem de n,ilitar, nen, de ci1•i/, O S(•11hor vá'V '
trei-n,e con, Gama Filho, que esta,•n à para a l'ila elá agullrdcnsmi11hasinstru-
frente de 11111 grupo soltando foguetes.
çoes. .
- Quando 1•0/lt•i, deparei-n,e co,n o Zen6bio despediu-se. e Getúlio cha-

n,ou o General Caiado e renovou essas
instruções. l'l/isto, o rádio de un,a ante-

Por isto. convido o General Zcnóbio

acn.pseô.r a tropa na rua e a debelar a

l Otiro que entrou

para a História

O Sr. Getúlio Vargas falou a se-

guir. Estava visiveln1ente árrasado.

pálido e sonolento:

- Jtí que os senhores não deci-

dcn1. cu vou decidir. Minha deter-

minação aos ministros militares é no

sentido de que mantenhan1 a orde1n

e respeiten1 a Constituição. Nestas.

condições. estarei disposto a solici-

tar uma licença. até que se apuren1

Ministros depõem no Catete Ogabinete onde as responsabilidades. Caso contrá-
perante Getúlio
Getúlio ouviu as rio. se os insubordinados quiseren1

notícias que o impor a violêncin e chegarem até o

Coube depois ao General fvlas- levaram ao Catete, levanio apenas o n1eu ca-
suicídio. O rosto, dtíver.
carenh.as dar o seu depoin1ento: quando já entrara
an1plo o movi.mento na História, e a Usando a caneta que o prúprio
- E muito arma utilizada. A
presidente lhe acabara de dar, o Mi-
nas Forças Armadas contra o atual Ultima Hora, um nistro Tancredo Neves redigiu a
dos pivôs da nota irradiada para todo o país às
governo e a perrnanência do presi- tragédia, abriu 4h45rnin da rnadrugada , em que se
suas manchetes. cornunicava o pedido de licença .
dente no poder.
Novamente sozinho, no seu
Getúlio resiste à idéia da renúncia

e da licença , convocando então uma

reun_ião do ministério para aquela quarto de donnir, Getúlio recebeu

1nadrugada. Cada ministro dá sua as visitas de Alzira, que lhe trouxe a

opinião pessoal sobre a situação: nota ministerial, e de Bcnja1nim,

Osiv,1/do Aranha - Esta é unia que lhe con1unicou a convocação

questão de foro ínti,no, que só o pre- para depor no Galeão, dizendo-lhe:

sidente pode resolver. - Por enquanto, vou eu . O pró-

Guilhobel- Os almirantes estão xi1no poderá ser você.

solidários com os generais. con1 os - Quer dizer que estou no fim?

4 rigadeiros , é a triste constatação Quando Benjamim saiu, ele re-

""fue faço. tirou cio cofre a carta-testarnento e

Epa1ninond,1s - Estou enfren- da gaveta o revólver. Com um tiro
tando sérias dificuldades para con- no peito, screna1ncntc , saiu da vida
trolar a situaçlio. para entrar na Hist6ria.

Zenóbio- Se resistirn1os, haverá

sala estJ1v11 transn,itindo aquelejornlll da derramamento de sangue.

Tupi O Galo Informa t' tro111l1etcou a José Américo.-Acho que o pre- MUAILO MELO FILHO

notícill: • sidente deve afugentar os espectros

- O Presidente G(•túlio Vargns acaba e os fantasmas co1n um grande

de pedir 11ni;1 licença.

Ao ouvir aquela notícia, o Presidente gesto.

l'argas passou a rnão na cabeça e esfre- Tancredo - Se vierem depor o

gou o dedo a11ularcontra a n,esa, co1110 se presidente, a sol ução é resistir.

estivesse apaga11do 11111 cigarro. Era111 Como seu an1igo e como rninistro de

Sh45min daquela ,nanhã. D. Dllrcy cho- um governo ameaçado, sou pela re-

r:1va aos prantos. Getúlio subiu a escada

n111p:1rado por ela e por D. Alzirll. sistência pessoal. Afinal de contas,

Eram 6h30111i11 011 6h35n1in, quapdo se não é .a todo instante que temos

ouviu um csta111pido, vi11do do quarto do oportunidade de provar fide lidade e

presidente. O GenL•ral Caiado e eu corre- lealdade .

. ,nos para lá. Quando o General empur-

~ ·011 a porta, o l'resid(•nt~ ~argas _estava A1naral Peixoto - Ncrn resistên-

n,orto. co,11 e> brJ1ç<1 d,re,to caido da cia. nem renúncia. Nem humilha-

cama. Eu. infeliz111enle, estava con1 uma ção, nem desespero.

Ro/leiflex, d11tadJ1 de 11111 ílash enor111e e Alzira-Acho que isto aqui não é

peslldO. Se estivesse con, uma Nikon, uma brincadeira e que tudo nüo pas- Benjamim Vargas foi o último a ver Getúlio com

terill feito a mai11r foto de 11,inhll ~•ida.

sa ele uma conspiração de gabinete. vida. Pouco depois de o deixar, ouviu-se o tiro fatal.

~4 OE SETEMBRO OE 1993 37

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meni•no que nasceu
entre golfinhos

G F:11111lia llol'll' •:lllll·r i,·a n a l'S lahe kt·irla na

( ·u,ta l{il'a !k, eh· l')li7. Touro Sentado
muda-se para os Alpes
l'n•11rit•(};11/t· - ::; c,n IH·ctan·, cl i, ididos l' l11 11·i·.,
Q '/'1·il,11 rll' fran,·l·,,·, (l lll' , i, l'lll no l·,slilo do, índios
pr11p1·it"dadrs 1lifr1T11h·s. r o111 c1patazt·s ros- 11111·1,•-anll'ri.-:111os 1111 Sul el a França ek seh- l '175 .
l'n,pril't/;11/t• - l)j I l'r·~a, :1/tlci:r.,. -100 herla n·s d l' llo-
l:1 -riqlll'llho, p rol ,')!l' llcl o as ( r1111tciras. Sl·is n·s lasl 11111a rl·giao rira 111:11la Fronl l'ri·d,· . l'l·clidos ill'Sdl•

an o, atras l':lda hlTtarl', alia apro:1.i1n:11lan1l'llll' 1990 por 11111 fat.l·111kiro cio inll·rior dl' i\ k,·. 11nix i1110 a
l'ollo11g11l'S, nos Alpes t\ larili11111s. l-1 htclarl·s na Flo -
l 'S$ -1-10 111 , al111· a111:1I tlohro n l.
rl·., la dl' ll 01·1l•. pn,x i,11 0 de Sl·rs . l'III ( ·11ar,·11lts. f(·di•
// ;1/Jital - Cahanas r,•ita , 11,· 1na1ki 1·as lropi- dos l'lll 191)1 po1· 11111 d ono til· 11111 l:rhor alorio . .-\11l,·r i-
or11a ·11ll', a lriho 1·i1 ia l'III \'ar , na Flon•sta d,• \ ' illt• -
l'ais. r,,IH·rla s n>111 piara, cl ,· f't·rTo 0111l11 l:1tl11 l' 1-ro1.1· .
//11hit;1I - Te111l:rs l'o 111 esl rnhrra cl,· 111;11lcira l' hurr:1-
sa pe·. llolij .-.,·s <k ga,. agua l·11ra11:1da das n1t111- rha. ('hou1J;111:r, rohl'rl:r, dl' lo na l' prntt·ça o d,· f)l'•

ta11has r11111 p1·,·,, :"111 d a gr:" idad1·, gd a dl'i ras a ,Iras . i\:ro l"Xi.sll' ga, 1111 ,· klril·id:rcil-. .-\ ro111ida é f'l'ic a

gas. ll'l'S pai1H·i, ,olan·s 1h· 12 1u lls q11,· rt·l'al'l'l'· nu fogo a knha. ,.\ tri/10 ,,·11111r,· :rc:1111pa perlo de u111
riarh11.
g:1111 a s hatt·ri:1s . 11111 p,·1111,·1111 g,·radur d,· 110 '/'r;111sport 1·- ..\ t ri/,,,,. 11 ú111a d e. ,,·11, 11H·111hros r:1111i-
11ha111 ,. dispi,,·111 dl· 11111 \l'a·11l0 ,,ara o lransporlt· 1k
,·o lt., H!lll' f'a t. f1111rio11ar a., l111t•s da ras;i. :1k111
haga~l·ns.
dl' 11111 , ·id,·11,·a,,l·tl· 1l' 11111 r:id io \' li F 1k pilha. •\/Ít ii/;uh•s - i\':1 parh· da 111:1111r:·,. p q,::1111 111ackira
pa ra o fol,!n. fazl·111 111anut,·nç;i11 da., c,•,ula, ,. d:·,o a ulas
,ll,·ios til' lr:111., porll' - ( ·:1111i11hada. l':I\ alo.
:is c-r ianças. ,\ tarei,·. lra halho arll·s anal. prod11çúo ,1 ,·
h:1t'l'O a 11111t11r ,. .-:1i:111 lll' . :irligos. li \' ros ,. d11.-111nt·nl:irios " ' br,· a, ida na lrihu.
uq,:ani1.:1,·;10 cl l· pal1·,1r:rs para ll" ''"ªs inlt·r,·s"ul as .
-\ti, idad,·, - t\la1111ll' l1t;:"111 da propr-i,·d a1k . l'rorlu ç;io- f{u11pas dt· ro11rn l' 11111rassi11, 1111 111.-lhn1·

p,•sra. ,·:1.plora,·ao s11h1na ri11a , ohs,·r 1a,·au d ,· l'Slilo indi)!l'll:I.
• ·/111p11rt:1r1it'S" - ( ·111npran1 Ioda a alin1t·11la1_-;°1n dl'
J!Oll'ính o,. d,·,ra11 so soh as so111hra., dos ro - fatl'nclas ,·i1.i11ha,: '" '"· ll·il,·. frulas. k g11111,·s, , er•
dura,. gal inha, . r:rntt·. p :it·,. ri nh o . <..'0 1nh11s111·t·I
q11t·u·o~. para 11111:1 canlionl·la. fl·rran 1t 11tas. lila, eh· \' Ídro, jor-
11ais. li, rt1' par:l :IS l'l'i an,:b l ' l'Olll'O.
l'r11d11r:io- .-\har:,,i.s. rorus . .-aju.<. rinro tipos

d,· ha11a11:1 . 111ar:1<·11ja . c 1r:1 11 . b a unilha. frutas

e11ri,:a~. 111:1,n;u,. goiah:1 . rnan ga . lontah·, fl·i •

j:111. 111ilho. '" º' · pl'Í\ l·, . ra111arú11. '"ll·a,.

··/111port;1rtic., ·· - \rnJ/.. ,ill·o. 1,·rd11ras. kg11-

111<·,., das. l'l"llll'di o,. p :qll'I hi giênil'o . ral'lll' ' "'

p:1ra os ,·al· h 11rro,1 , ,·01nh11,1i1,·1 para o harro ,.

,·urlador <li' gran1a,. ronpas .
rss( Jry:1111c11fo - l '111:1 ll ll'd ia rh ·
75 pnr 'l"·

,nana par a 11111 r:1,al ,. 11111 hd ,i· d,· Sl·is 111,·s,·s.

~o ÍM~ .1 o E SE TEMBRO OE 199_1

'l Adão e Eva no Cartel
de Medellín
!
,\tla11ti.,· - Co11111nidadl' a ngl o-irlandesa cs la-
l
hclci.: ida na Colú111hia d esde 1989.
·~----.·.-... , \ propric<ludc - 200 hcc1,1rcs de le rras 11H1nla-
nhosa s, a 2.000 1nrlrus d e allíludc, ton1prada
por aproxi111 ada111 c11lt· US$ 400 o hectarl' . Para

srr 111n propr ielúd o dt ll'1-ras na Coli1111hia r

ll l'l'tss.íriu un1 visto de rt"sidí·ni.:ia. Com islo,
alguns ntl·rnhros de Atlanlis casaran1-sc, por
con,·l'nií-ncia, co111 n1 ulhcr t~ colo1nhianas.
c ·1111dir1ies ,h· 11111r:ulia - Ca hanas de 111adcira,
toherlas po r leios <k ac;n lc\'e e acrílico. N:'io
,·xis l l• c h,tr icidadl' 011 ):!:is. Toda ro111ida t Íl•ila
en1 l'oj:!:io a lenha . A :ig11a disponi\'cl ,·cn1 dr 11111

poço e ek urn riad10 pr(l xi11111.
1,lci11.,· dt· tn111SJJ11rf(· - C :nnin hadas, ca\'alos.
,\ti,·id:ides - Cuidar da ~ planla\·úcs, das 15
\'acas t· dos cinn, ta\'al1.t\. Con~tr\'ar o conrple-
xo n :sidenc ial. Carpin laria, nrrisica, lcalrn. ha-
nho de rio.
l'r11ú11rúo - Cana-dt·-:u;úcar·, ea f(·, ch:is d(• er -
vas, n1ilho, b ana n a, hatal.;1-doce, an1 ora, aha-

cax i, l'.irios lipos dt !'ruias cílrica s , n1anga, m:J-

n1ão, goiaha , er vi lha, rtpolho, O\'os , ld le, n1an•

l eiga, qu1·ijo, pão, li core~.
/11r[J11rtur1ic.1 - Ahacah:~. halal:,~. íarinha de
trigo. sa l, arncn doirn, chocolah:, óleo, sabão,

vela s, rtnttdios, papel hi):!iénico , pilha ~ 11ara o

r:'1di o . hui as de borra cha , fcrr:Hncn las , altn1 de

unia a~s inat11ra da r e1'isla '/'irnc· entregu e na

aldeia nu1 is próxim a.

( ;;i,çfos - () tquil·alcnte a US$ 80 semanais

para sei~ adu h os t sele crianças.

~4 DE SETEMBRO DE 1993 41



''Vivemos ao ar
livre, acordamos
pcoa, mssaoracsa.nto dos
Realizamos nossos
sonhos''

filosofia de vida dos novos .~~•/va- 1
gens é beni res u,nida por A niy
Klochko. u111a canadense que 1
vive nunia tribo do Golfo Doce. Costa
Rica. lado do Pacífico: ' ·Na cidade 1
grande. voc0 trabalha coni o objetivo
Cavalo-em-Pé: os siou~ dos Alpes ,
de ganhar dinheiro para fazer tudo o 1
~ ,:\ co111u11i1ad~ lidcru~a p or Michel Adjin1un, o Cavalo-cm-Pé, puxu carroça e
que sonhou. Aqui , tudo o que fa zenios l"n ·e co~110 os 111d10s :1111er1~a110s nos Alpcs_fri1nccscs. A rotin11 c111 suu.ç tend:1s nada(~
já é parte dos nossos sonhos. Viven1os ft•n1 a icr con, o mundo 111oderno. Fogue1r11.ç de lenha co,nbatcm u frio dc - 20•.~ ·
ao ar livre. acorda n1os con1o canto dos
p;issaros, to n1anios banho de 111ar todos (;1stor, que, apesar ele ter ape nas 26 sun1árias. nun,a zona controlada ta1n-
os dias. bebenios ,ígua cristalina direto anos. é uni dos ntais antigos guerreiros bén1pela guerrilha coniunista. A co,nu-
da tríbn. nidade é con1posta de três honiens. três
..da fonte . pescan1os o peixe que co- niulheres e sete crianças de 4 a 14 anos.
Ning.ué,n 1nais na pequena Collon- ingleses na rn.1ioria. Leva-se aproxinia•
nl Cn1os ... gues se nios1ra surpreso ao ver Cavalo- da n1ente duas horas e nieia para atra•
fvlas ninguén1 pense que eles tên, c111-Pée os outros (11dios co,n seus trajes vcssar toda ;i propriedade. N;i verdade.
sinux. No início. o era11de chefe era sornc:ntc 25 hectares de tcrr;i sào explo-
n,uito a ver con1 os hippie5 dos anos 60. cha1nado de índio pel~t populaçüo. l-lo: rados. Antes de n1ais nada. a preocupa•
je é conhecido siniples1nente conio Ca- ç,io n1aior é salvar a floresta do apetite
Se algun1 híppic voltar no tcn1po - e 1':ilo. A in1prcnsa regional. respcitosa- insaci.ívcl cios niaclcireiros.
nas idéias - e pedir achniss,"io e,n t11n a n1ente. charna-o de Sr. C,1valo.
tribo esperando urna existência refle- "Se alg.uni dia cu fo r niordid;i por
xiva. sent esforços. pode: ir procurando , un,a cobra e os outros adultos foren1
out ra praça. " Aqui. quen, nfto trabalha incapazes de eurnprir con1 suas tarefas,
, OPARAISO NUMA as crianças. sozinhas, podcni fazer a fa-
n.io co1ne e a1ne,u;a a estabilidadt: d1.· AREA DE GUERRILHA zcnda funcionar". assegura Jenny Ja•

todos". diz fvlichcl Adjin1an. o C:iv;1/o- COMUNISTA n1es, fundadora e unia espécie de abe-1&
cn1-Pc:. chefe ele unia tribo quc tenta
viver con1n ns índios sioux 1.· os arapoe A con,unidade dc Atlantis vive nas lha rai nha desta co/111éi:i produtiva.~
a,nericanos eni plenos Alpes l'v1arítinios n1ontanhas Tolinia. unu1 regiúo cravada "Este é o n1clhor presente que pode,nos
da França. Con1 uni acréscin10: as dro- nos ,-'\1_1clcs. a 300 quilôn1etros de Bo-
got.í. E tc:rritório do Cartel de t'vlcdcl- ..d.ar ús crianças: cnsin.í-las a sobre-
-gas. as bebidas a\cocilicas e os ho1nosse-
~ V J\ " e í .
xuais tan1hén1 s,io excluídos da cornuni-
clade - n que talvcz ncn1 se1npre agra- lín. dos narcotraficantes. das execuções Golfo Doce, na Costa Rica. é un1
daria n1uito os bravos guerrciros do ve-
lho 1-ouro Sentado.

A triho de Cuvalo-c111-J)é vivc perto
de Collongucs. u111 vilarejo no interior
de Nice. Nurn pc:qucno vale IÓcalizado
no coraç.io de un, territó rio cercado de
rochas e pinheiros, 12 /ndios caras-p.íli-
das arrnarn sua :ildeia. en, nieio a urn
frio que .'1s vezes desce a 20 graus ncgati-
\·os. Os cantos cios p.íssaros ecoarn de
1u11a n1ontanha vizinha. e a serenidade é
celebrada con1 c,inticos eni sioux e ara-
pne. Q uatro honiens. barbados con10
os desbravadores brancos do Novo
fvl undo. trabalhani cortando niadeira
para as fogueiras da noite. Su.is roupas

-de couro . ic,uais ;'1s dos índios. s.io niais
,

do que si111ples caractc:rizaç,io. "E a n1e-
lh(1r prott•ç;io contra o frio" . explica

~42 4 DE SETEMBRO DE 1993

-.... .T•. ".t

1•

Golfo Doce: a vida nasce no mar Atlantis: Robinson Crusoé na selva

• An1y Kluchko cat;i cocos na ,nata lci·a11do o 11111c11''0 110 0111bro, 111as sua 1111:lho1· • A c·,11nu11idadt• Atla11fis l'Í'VCc,n tcrrífório do l ·nrtc•I de Mede/li11 , 1111
exp.1.ncia foi u,11 parlo n_o rnar, de barco. O 111_ar ido, Ray111ond, e11ca11ta-se C'ofô1nbia. Os h(1n1c11s tru/Jalhan1 duro para tcre111 auto-sulic·iê11ci11 à 111c•s:1 .
1 de1Wde casa ,·endo, da 1anela , os golfi11hos 1Jr111ca11do no Golfo Doce. u11de todosco1nc111ii luz de i·elas. A pr eocupação é prcscr,·:,r a floresta.

cantinho do paraíso se1n acesso por ter- selvagem. onde os golfin hos possan1 scr lações n1ais cordiais cntre as pessoas.
ra (lev;:-se urna hora de barco para al- est udados e observados. T udn isto apcsa r dos violentos conllitos
cançar a aldeia mais próxirna. Golfito). que cclodeni e1n todo n n1undo. Mui-
Rcyrnar llaphael. seu fi lho, nasceu tos, corno a-fa niília Klochko, escolhe-
OMUNDO PODE con10 uni golfinho. no o,eano . no pri- rani o estilo 1>0111 st•/v;,gctn sob os co-
RECOMEÇAR NU!'JI NOVO 1neiro de janeiro do ano passado, sob queiros de urna praia. Outros. corno os
uni arco-íris, An,y. a niiie ela <.:riança. Atlantis, optaram pela vida dura de un1
JARDIM DO EDEN núo teve qualquer problcn1a de parto. Robinson Crusoé nas profundezas tia
Deu i1 luz eni rnar aberto. nu,n barco. selva. A tribo de Cuv:i/u-c111-J'é julga
Foi l;í que o a1nericano Ra yrnond com ajuda do n1arido e da 111.ie. E tern ter cncont raclo nos nativos do Novo
Klochko . 39 . resolveu pendurar sua planos de participar do projeto de vida Mundo o supra-sun10 da sabedoria e do
rede. Por poucos milhares de dóla res. alternativa do 1narido . organizando un1 ben1-viver. 7"odos tc'.:111 cn1 cornu n1 o
con1prou 240 hectares t.le un1 terreno centro de parto no n1ar. rornpintcnto co1n o pass;:do e corn vidas
que vai da praia ao topo de unia n1ont;i- profissionais quase se1npre hcni-suec.:di-
!)ha. onde riachos e cachoc::iras garan- Coisa típica das trihos dos novos scl- das no Pri1n eiro t'v1 undo. O ,nuncto
te,n a ,igua pot.ível. l'v1ais tan.le. con1- l'ilf.t:JJS, que sflo frutos da at ua lidade. pode estar dcsn1oronando. A civiliza-
prou outros lotes. ·'O 1neu objetivo" . Enquanlo os anos 80 re prcsentararn o ç.io, à bcira da ruí')ª· Mas sempre exis-
conta, "era ver. das janelas do nieu niorncnto de liberaçüo do individua- tirá uni Jardim do Edcn para reeon1cçar
quarto. os golfi nhos em seu an1bientc lismo. d.i preocupaç.io global pelo eres- tudo .
natural'". H.ayrn ond é absolutarn cnte ci,ncnto económico e pela cornpetitivi-
louco por golfinhos. e luta pelo esta- dade. os anos 90 cst.io se caracterizando GILLES KRAEMER
belecimento de um centro ecológico con10 urna época ele reflex,io, ,naior cui-
dado com o meio arnbicntc. uma dcdi- FOTOS: PIERR E PERRINJSYGM A
caçüo rnaior ú cducaçflo dos jovens. re-

IM1~4 DE SETEMBRO DE 1993 43

.

!

'

;QMPORTAMENTO

Maria Paula é
radical e chie
não apenas na
TV, mas também
na vida. Como a
atleta Fernanda
Keller (à direita),
ela acredita que
a mulher dos
anos 90 já não
tem medo de
rimar
inteligência com
charme e beleza.
"Ela está pronta
para viver o
futuro."

.

rimeiro, elas tor.ceram o

, nariz ao velho ·ró. tulo ·tle
''carinhas .bo'nitas'' :

'

Foram à luta em vários se-·

tores, chegaram às universi-

dades e galgaram postos :im-

portantes no mercado de tra-

balho. Ao m~smo tempo, at-

rancaram o vermelho das
'

unhas, armaram barricadas e

queimaram sutiãs em praça

pública. Hoje, muito mais ma-

duras, as mulheres abando-

naram os preconceitos das pri~ •·

meiras batalhas e se mostrain

novamente femininas, elegan-

tes e... vencedoras. A guerra

,~.,-a·~,:.b, ou, ~ insegurança tam-

;, é o trabalho e na vida,

em q;ue são
'

MULHER .• P rovar que não é apenas um ( jsão . Vaidosa, Maria Paula adora s~
rostinho bonito niio é niais
fundamenta l para a nova produzir e acha que a exploração da
beleza' fc111inina pode
gcraçiio de n1ulheres cultuadas (ou ser encarada ele •
u111a forn1a positiva. "Eu sou urna

A beleza, antes náo) pela rnídia. Nos anos 90, a bele- apreciadora do belo. !vias,.desde que
za não atrapalha - ne,11 esconde -
coniecci a ,ninha carreira, mostrei

depreciada, o talento das legítin1as representnn- algo mais do que beleza'', acredita.
tornou-se uma tes do sexo forte . Ao contrário. As-
Criada cn1 unia fa111ília classifi-
su,nir a beleza e saber explorú-la
cada por ela nics,na de convencio-
con1 inteligência é uni dos n1anda-
1nentos das beldades da atualidade. nal. aos 17 nnos Maria Paula resol-

veu sair de casa e nunca mais voltou

rande aliada do que estão n1uito longe das fnígeis a 111orar con1 os pais em Brasília,
~~
o nde nasceu. Passou urn ternpo e n1
bonequinhas que povoavarn as telas

lento, da fama e de cinen1a e televisão, ns púginas de Londres. voltou para o Brnsil e foi
da inteligência revistas, as passarelas da nioda e os
sonhos 1nasculinos . nu,n passado niorar cni São Paulo. Casou, for-
nüo muito distante.
1nou-sc cni psicologia. descasou e
Durante rnuito
trocou a MTV, onde iniciou a carrei-

ra, pela Globo. ''Acho que sou L11na

te111po, o precon- pessoa forte. já vivi urna porç,io .de

ceito in1pediu que coisas. lvloro sozinha no Rio. 1neu na- \,.1.\..1,
morado estü nos Estados U nidos,
inte li gência e

talento riniasseni ,neus pais en1 Brasília. O que segura a

corn beleza. Não minha barra são os a1nigos e o traba-

fora,n poucas as lho, fundan1entais na ,ninha vida. "

vezes e rn que se

ouviu dizer que ''A mulher ficou
de saco che1.0...''
toda rn ulher bo-
Ela niio terne o fu turo, nem a ve-
nita é burra. Ern- lhice: "f\cho que a rnulher dos anos
-90 estü n1uito bern preparada para
bora esse ti po de conquistar seu espaço. pois apren-
deu a ser fort e e fe,ninina ao niesmo
comentürio ainda te111po, se 1n se preocupar co111 a
beleza. Ela jü passou por vürias eta-
ecoe eni alguns pas, se libertou . assu1niu lugares an-
tes reservados aos hon1ens. ficou de
guetos inconfor- saco cheio disso tudo , e achou c1ue
estava sc111 tempo para si e para os ~ -
n1ados con1 a afir- fi lhos. r\gora, porérn. j,í aprendeu a
lidar con1 tudo... conclui.
1naçüo do talento e
Fernanda Keller é outro cxc,nplo
da segurança da
de n1ulhcr bonita que sua a ca1nisa.
mulher niodcrna.
Integrahnente dedicada ao tri,ít lon.
a beleza transfor- e la acredita que a exploraç.io da
i111agen1 , no seu caso, só pode acon-
rnou-se eni grande tecer se isso tiver relação con1 sua
atividade profissional. '·O atleta vai
aliada do sexo fe- ser sen1pre bonito e estar ligado a
unia image,11 de saüdc . Eu faço es-
n1inino. quando se porte porque sou atleta, an10 o tri.í-
tlon e tenho que tonlar cuidado para
trata de buscar a ns pessoas n,io pensare,n que quero
usnr n n1inha profissão para virar a
f.una, o sucesso e o gostosinha da praia, sentencia .

recon hcci 1nento. Apesar das preocupações . Fer-
nnnda achn naturnl ser solicitada para
Afinal. retocando fazer fotos e campanhas publicitürias, ~
e jü fez u1n l>ook para a agência Elite.
o que disse o s:íbio ·'Eu encaro isso co1110 conseqüência
da nlinha profissão. J,í fui convidada
poeta. beleza pode para posar nua e 11110 aceitei , porque

ser fundarnental. -isso não tcn1 nada a ver cornieo.''

n1as sern culpas.

É o caso da jo-

vern, bonita, talen-

tos a e hem-

sucedida tvlnria

Paula. de 22 anos.

Apresentadora do

prograrna l?adicul

Chie. da G lobo ,

ela criou u1n estilo.

abriu uni canal de

co111unicaç,io dire-

a, . ... _,.,... - ta com o público

Georgia Wortmann não abre mão de nada: quer ser cortejada, adolescente e con-
quer um príncipe encantado, filhos, trabalho e independência. quistou uni espaço
Letícia Spiller quer ser reconhecida como atriz. importante para o
jovc n1 na te levi-

~4ô .1 OE SETEMBRO OE 1993

~ -.;

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l ~4 DE SETEMBRO DE 1993,., 47

lú] MULHER é. para ela, apenas uma forma mais põe mesa. pelo 1nenos ajuda a ab~ir ,
fácil de abrir certas portas. "Se eu o apetite. ou melhor, ajuda a criar•
Nos anos 60 e 70,
a .ordem era não tivesse fé , determinação e von- mil oportunidades. "Sempre estou
contestar. Ser
·bela era como ser tade de me aprimorar. nüo adian- em busca de outras opções, não que,
tada nada, seria um corpo burro." ro ser só modelo. Abri u,na loja e
breuarcr1a.oonua,r1.a estou tenninando o curso de Jor-
Por amor à arte, Letícia participa nalismo, pois quero apresentar tele-
' ' ou atleta e, no caso de tra- de um grupo de teatro há dois anos, jornais. Recentemente. descobri
balhar como modelo. só aprimorando a técnica e fazendo lei- que ta1nbém tenho um certo jeito
quero fazer coisas relacio- tura de textos. Atualmente, está em para ser atriz. Mas sei que ainda
nadas à saúde e ao esporte... cartaz na peça O Despertar da Pri- existe preconceito contra modelos
niavera e faz Querêncía, persona- que viram atrizes..."
Trican1peã brasileira de triatlon gem de um quadro de Os Trapa-
lron Man. categoria com as mais lhões. Há quatro meses. resolveu Georgia acredita que a mulher
longas distâncias (quatro quilô1ne- cortar o cabelo curtinho. "Encerrei dos anos 90 conquistou espaços defi-
tros de natação. 180 de bicicleta e 42 um ciclo da minha vida. Quis rom- nitivos, é batalhadora e concorre em
de corrida). Fernanda treina diaria- per definitivamente com o estereó- igualdade de condições com os ho-
1nente e consegue estar entre as dez tipo da 1nenininha bonitinha-paqui- n1ens. "Hoje em dia. assuntos que
prin1eiras colocadas nas provas 1nais tinha." Ligada à Agência Ford, o antigamente eram exclusivos do
i1nportantes do mundo. Aos 28 Clube do Bolinha, como o desempe-
anos. forn1ada cm Educação Física. interesse de Letícia não é trabalhar nho sexual. já são livremente discu-
ela 1nora co1n os pais e encara o fu- como modelo, mas atuar em comer- tidos pelas mulheres. Talvez, dess:!<G
turo com tranqüilidade. ' 'Nüo penso ciais como atriz. "Não tenho nada ameaça que elas representam para
em parar tüo cedo. Meu projeto de contra a carreira de modelo, adoro alguns h'Omens venha a mágoa e a
vida está co1npleta1nente ligado ao fotografar. Acho que saber explorar necessidade de ainda dizer que as
esporte. Penso em casar. n1as nüo a beleza e a sensualidade de forma mulheres bonitas são burras. Eu
co,no ob_jetivo de vida. Isso acon- natural, se1n ser vulgar, é um dom acredito que é possível conciliar ro-
tece. Acho que se pensasse mes1no. 1naravilhoso. Mas a minha grande mantis1no con1 independência: acho
náo casava. O sonho da vida de un1a paixão é trabalhar como atriz. Que- que a mulher deve ser cortejada,
pessoa n,io pode ser baseado e1n re- ro aproveitar todas as oportunida- acredito em príncipe encantado e
lacionamentos. A única certeza que des que tiver neste sentido." quero muito ser mãe. Mas tenho mi-
cu tenho é que o meu futuro estü nha carreira e sou independente.''
ligado ao esporte." Já Georgia Wort1nann , 22 anos,
modelo e pequena e1npresária. tem LUCIANE SAINTIVE
''Desempenho sexual razões de sobra para demonstrar
já é tema de mulher'' que, se é verdade que beleza não

E há quc1n esteja louca para que ''Ele. já . sabe que ela é mais forte'' ·
as pessoas deixen1 de cha1ná-la de .
ex-paquita e passe1n a dizer sin1ples-
1nente que ela é atriz. Letícia Spiller. • A ,nulher <1ue ho- tenha vencido o preconceito cm relação à
20 anos. é apaixonada pela profissüo je se dil·ide entre as l'aidade e à beleza. Un, dos n1elhores
desde criança. Os três anos traba- t:lrefus do lar e o tra- exemplos é uma médi,·a que posou nua
lhando no )(ou da )(uxa contribuí- balho J>rofissional para uma revista 111asculina. ,1ssisti à en-
n1111 n1uito para au,nentar essa pai- nada ten, a ver co111 trevista e, quando ela abriu a boca, era
xüo. ,nas ela quer n1ostrar que sabe uquelu que co111eçou uma mulher falando. Unia mulher com
fazer n1uito 1nais do que cantar e a rc1·olução sexu:,I, postura de n1ulhcr.: não uma mulher pre-
dançar. "A experiência con1 a Xuxa nu década de 60, ocupada cm co111petir co,n o homem o
foi n1aravilhosa e fundan1ental. Mas garante a psica- te,npo todo."
eu quero ser reconhecida conto atriz nalista l\1aria da
e estou batalhando muito para isso'' , Graça Ivo. "Aquela Ton,ar consciência de sua importância
diz. Ser dona de belos olhos azuis 11111lher que partici- e vencer as limitações físicas foi, segundo
e1noldurados por u,n rosto perfeito pou de mOl'illlClltos
COIIIO O hippic, un- W·a psicanalista, uma das armas mais im- ,
dava d<• sandália
rasteira e n:io ia ;} portantes para transformar a mulher no
111anic11re, queria, acima de tudo, ro111- sexo forte. "Os próprios homens reco-
per co111 unia conjuntura que, no Brasil, 11hece111 que ela é o sexo forte. Ela está
incluía a ditadura n,ilitar. Por isso, ela mais preparada para o amor e para a
fazia questão de exorcizar qualquer tipo dor."
de ,·aidudt•. 1-loje, isso n:io faz ,nais parte
d:1 nossa realidade. A 111ulher ron,peu ANA GAIO
co111 111uitos preronceitos e hoje já não
ten,e ser chan,ada de burra só por ser
bonita."

/\faria da Gras·a acha. no entanto, que
niio se pode confundir a n1ulher que tra-
balha fora e se preocupa em seapresentar

ben1, co111 aquela que elu chama de mu-

lhcr-Yeada. ''A mulher que se preocupa
en, parecer uma boneca o t,•mpo todo não
ten, nada a ,·er co111 essa 111ulher forte.
Pnr11 ela, o tema 11ú111ero un, éa embala-
gen,. r\ mulher 111oder11a tambérn se pre-
ocupa con, isso. mas niio é só, c111l1ora

~48 4 OE SETEMBRO OE 1993

Os talentos secretos do análogo



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• Ca~uladora - 8 dígitos

l TELEMEMO 50 DATA BANK TELEMEM020

(i1 ~HORA MUNDIAL

j ~ DBF-50W AB-40U AB-30W ·

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RAINHA POR •••••• •••••••••

UMA NOITE BOSSA &ROLL••••••• •••••••••••••

• Enquanto a ;rapaziada• •••••••• •••••••••
carrega nas plumas e paetês ••••••••
para se transformar num·a ••
poderosa drag queen, o
modelo paulista Henrique e Casada com o compositor Danilo Caymmi, nora do patriarca •••••
Kurnnert, 20 anos, prefere
apenas acentuar seus traços Dorival e integrante do coro feminino que acompanha o maestro
naturalmente delicados -
a pele e cabelos claros, Tom Jobim. Simone Caymmi bate as asas no primeiro vôo solo. E
olhos azuis. Raspando as
sobrancelhas, aplican.do surpreende. Ao lado dos clássicos da bossa-nova cantados nas
uma camada de pancake,
pó compacto, cílios posti- , turnês internacionais, Simone ataca com os maiores hits do Rock
ços, batom e peruca ruiva,
Henrique acaba de ser elei- Brasil e do iê-iê-iê. No repertório, Grávida e Pr6xi111a Parada, de
to o mais perfeito andró-
gino da cidade. Nas horas Marina, e o hino da Jovem Guarda, Pode Vir Quente Que eu
vagas, o 1nodelo é hostess
do Sra. Kravíts, u1na das
casas noturnas mais des-
coladas do circuito dos Jar•
dins paulistanos.

-. Estou Fervendo.

. A FACE CRISTO ~ -VERDADEIRA DE

! !e Por profissão, o cirurgião plástico José Humberto Resende,
44 anos, costuma modificar seus pacientes, acentuando ou ate• :

, nuando seus traços. Escultor desde criancinha, José Humberto
:• enfrenta o hobbycom a determinação de sero mais fiel possível

• à realidade, sem se deixar levar peh1 própria criatividade. Um

: problema e tanto, agora que ele resolveu esculpir o rosto de :

~, .1~- ..'íflr : Jesus Cristo. Como modelo, o cirurgifto vem se valendo de fotos :

n.~·-· :• feitas pela NASA do polêmico Santo Sudário encontrado em ::•
Turim. E pro1nete reproduzir até mesmo uma desconhecida e
-•
...: inesperada ferida encontrada na face esquerda de-Cristo.••z.""e, :
l
• •••'•
l •••••'''''

•••• SEDUÇÃO EM. DOSE DUPLA

: • Se a falta de patrocínio privou o festival de Gramado de filmes nacionais. nem por .~ ~•'
· isso faltaram beleza e glamour na serra gaúcha. Representando o vitorioso Sedução, ' -". ' \ •••••••••••'''''
. 1\-taribel Vcrdu justificou o apelido, dado pelos conterrâneos. de "a menina mimada '
: do cinema espanhol". Aos 23 anos e já unia das atrizes mais ben1 pagas de seu país,
: encerrada a maratona. Maribel passou uns dias no Rio. Onde, num ataque de Greta :
: Garbo. preferiu curtir um do/ce far niente longe dos indiscretos olhos da imprensa. O
' kikito de melhor atriz para a mexicana Claudettc l\1aille contemplou uma das cenas

mais sensuais do cinema. Incensada pela comida preparada pela irmft apaixonada,
Claudette/Gertrudes incendeia o banheiro e corre nua prado afora. exalando um forte
odor de rosas até pular na garupa do cavalo de um guerrilheiro. que finalmente

consegue apagar seu fogo .

~50 4 DE SETEMBRO DE 1993

.- Ilis[nR/ iA I

1l

b MURILO MELO FILHO

esde que tomou . . ~ •,~ ~ . ,..,.,\~ , ,
posse, a 31 de
janeiro de 1951, o . ,,~.,.. ~ < ._i._. ,
Sr. Getúlio Vargas não ''. .,. ' ..
teve um só minuto de
sossego: antes mesmo da '',. :
posse e depois dela, a UDN
moveu-lhe uma guerra sem /
trégua nem quartel,
através do problema da ~i.
maioria absoluta, suscitado
'
0 na Justiça Eleitoral.
Depois, sobrevieram as .
agitações no Clube Militar, ..
os escândalos do Banco do
Brasil, a Comissão ..
Parlamentar de Inquérito
sobre a Ultima Hora, a ,.
entrada e a saída de Jango '
do Ministério do Trabalho,
a campanha de Carlos &# 8-t?-"1 l
Lacerda, o atentado da
rua Tonelero, o 2 1!
movimento pela renúncia
e, finalmente, o tiro no i1
coração, a 24 de agosto de
1954. Foram três anos e Os atribulados três anos e
quase sete meses de sete meses do governo de Getúlio,
Ji agitações crescentes,
simplesmente eleito pelo povo
insuportáveis.

..

Getúlio·-voltou -1ao avalancha de votos que despencava •
poder mais velho, de todo o país sobre o seu nome:
mais gordo, mais 3.849.040 (48,7%) contra 2.343.384
triste e desiludido (29,7%) do Brigadeiro Eduardo
com os homens Gomes e 1.697.193 (21,5%) de Cris-
tiano Machado.
o dia 1~ de junho de 1950, lá
Inovava-se o vernáculo com o
' de São Borja , Getúlio ouviu
pelo rádio a Convençáo Na- verbo cristianizar, que queria dizer

' cional do PTB, que no Rio homolo- trair: os pessedistas haviam traído o
candidato do seu partido em favor
gava a sua candidatura. Não pôde do Sr. Getúlio Vargas.
mais resistir e de lá mesmo falou aos
correligionários de todo o país: Esses resultados fora1n proclanta-
dos oficialmente pelo Ministro Ri-
- Levai-me convosco. beiro da Costa, con10 presidente do
Era o "Ele disse'', que se espalha-
ria como um rastilho de pólvora por TSE.
todo o país. Ao longo dos 60 dias Adernar de Barros foi à Estância
seguintes, Getúlio iria percorrer os
20 estados brasileiros, discursando São Pedro buscar Getúlio e o trouxe
em 80 cidades. Depois, recolheu-se para Ca1npos de Jordão , onde ele
a São Borja, onde ficou até o dia 3 de iria formar o seu ministério, a fi1n de
outubro, quando votou, dirigin- e1npossar-se no dia 31 de janeiro de
do-se naquele mesmo dia para a Es- 1951.
tância São Pedro, de propriedade do
seu amigo Batista Luzardo. · Nos braços do povo, Vargas vol-
Aí acompanhou pelo rádio a tava, assim, ao poder. Nesses mes-
mos braços, ele voltaria, três anós
depois, a São Borja, para ser enter-
rado.

A marchinha de Marino Pinto era
o grande sucesso no carnaval daque-

le ano:
"Bota o retrato do Velho
Outra vez.
Bota no mes1no lugar.
O sorriso do Velhinho

Vargas Faz a gente trabalhar."
encontrou em Na voz de Francisco Alves, ela
tomou conta do povo, que a cantava
Adernar de na rua.
Barros um
Getúlio voltava
apoio Imediato.
Eem Samuel ao poder mais
Wainer um velho e 1ordo
amigo
combativo, Getúlio voltava ao poder n1ais ve-
lho, mais gordo (com 30 quilos de
dedicado e excesso), mais triste e, sobretudo,
mais desiludido com os homens e
leal. com as coisas.

O ostracismo de cinco anos, em
meio~ P:ões e estancieiros gaúcho~ ~:
na sohdao _dos Pampas, não lhe fe~
bem: afastara-o da cena política,
tornando-o alheio aos fatos e aos
personagens.

,

Moraes, Alcio Souto, Canrobert,
Etchcgoyen ou mesmo Outra, que o
haviam derrubado héí cinco anos.

Na Aeroniíutica. tinha ntorrido a
figura de Salgado Filho, que criara o
1ninistério. e ainda existia o fan-
tasma do Brigadeiro Eduardo Go-
mes, por ele derrotado, eleltoral-
mente. duas vezes consecutivas.

Ao n1es1no te1npo, a UDN levan-
tava no Tribunal Superior Eleitoral
a tese da maioria absoluta: o Depu-
tado Alio,nnr Baleeiro sustentava
que Vargas não podia ser empos-
sado, porque havia recebido apenas
48% cios votos do eleitorado.

Getúlio tranqüiliza
Outra quanto
asua posse

Por intermédio de sua filha Al-

zira, Getúlio mandou uni recado

tranqüilizador a Outra:

- Diga-lhe que não sou homem

dp. eersveignugi.arnnç1a. nsguee,,nq1u.e não pretendo

D. Alzira foi então ao Presidente

Outra:

- Presidente, n1cu pai pode vol-

tar à presidência da República por

dois caminhos. Ou à frente de uma

revolução branca. pois está eleito,

ou en1<ío com o senhor lhe entre-

-' • gando a faixa de sucessor. Ele não
• quer n1ais encrencas, não tem mais
•,. idade para isto.

- Eu sei, O. Alzira , n1as o que

-~ ,,._ acha que devo fazer?
- O que qualquer pessoa civili-

Ele contrariava, com seu retorno , A rede e o zada faria: cumprin1ent:í-lo pela

o ditado popular segundo o qual o charuto não eleição. Ele irá, então, ao palácio,

,..- ·-. .. governante ou dirigente nunca deve bastaram para agradecer ao senhor.
voltar ao lugar que já ocupou e ao - A senhora tem certeza de que
.. ' ! cargo que J.a, exerceu. reduzir as
,v '" -J1.JP- ele virá?
' Mais do que isso: ele retornava preocupações - Absoluta. E inclusive lhe pe-

.< sem merecer a n1cnor confiança das de Vargas. A dirá conselhos.
...... . Forças Armadas, que se lembravam Getúlio precisava urgentemente
muito bem do golpe que o afastara, nomeação de
"? Estil/ac Leal de apoio militar para organizar seu

para o ntinistério. Ofereceu a pasta da

Ministério da

cinco antes, a 29 de outubro de 1945, Guerra Guerra a seis generais: Canrobert,

t ..,'-~t'5,.:_,~". . e que não se conformavam com sua resolveu uma Denys, Mascarenhas, Fiúza, Zen6-
volta ao poder. Consideravam-se das várias
. simplesmente desmoralizadas pelo crises militares. bio e Estillac.
Deles todos, apenas os dois últi-
veredicto popular e eleitoral.
1nos aceitaram o convite, recaindo a
Atribui-se a uni general, próximo
escolha no General Estillac Leal,
da compuslória, o seguinte desa-
que havia publicamente considera-
bafo: do válida a eleição do Sr. Getúlio
- Não morrerei sem ir à forra.
Vargas, e corn isso resolvia, num
No Exército, ele não podia contar
golpe de espada, o problema da 1nai-
nem cont Góis Monteiro, nem cont
oria absoluta na Justiça Eleitoral.
._.~... Cordeiro de Farias ou Mendes de

tJ =======================;:;;;
~\•
25 DE SETEMBRO DE 1993 31



Acrise militar ia crise entre os chefes do Exército. O rOPerguntado sobre o problema do
num crescendo. O General Estillac Leal. que fora elei-
''Memorial dos to presidente do Clube e era agora petróleo, o General Etchegoyen
Coronéis'' agi u:
denunciava ministro da Guerra, apoiava a posi-
negociatas e - Mas eu fui eleito justamente
desfalques ção nacionalista dos diretores da e n- pelos militares que não queriam
tidade cm favor do "petróleo é nos- mais que se fa lasse neste assunto
f Vargas escolhe seu so··. contra o envio de tropas bra- aqui dentro do clube.
ministério da experiência sileiras à guerra na Coréia e contra o
Acordo Militar Brasil-Estados Enquanto isto. prosseguia na C;'\-
~[UUJ General Zenóbio da Costa Unidos. mara a batalha pela criação da Pe-
trobrás. A UDN. que fazia grande
C02) ~ apoiou O General Estillac No setor adn1inistrativo, Getúlio oposição a Getúlio no plano polí-
C02) , Leal nessa atitude e rece- inovou em matéria de assessoria po- tico, colaborava con1 ele na votação
lítico-econômica. Convocou os eco- do projeto. A ajuda do Deputado
© beu o con1ando da 1? Regiáo Militar. non1istas Rômulo de Alineida, Jesus Bilac Pinto foi funda mental para a
Soares Pereira e Cleantho de Paiva vitória do n1onopólio estatal do pe-
(Cl"') Outros n1inistros escolhidos para O Leite para ajudare1n S,i Freire Al- tróleo, enviado finalmente ao Se-
vim, Almir de Andrade e Lourival nado.
Getúllo charnado Ministério da Experiência. Fontes na Casa Civil.
recebeu o que pelo próprio non1e j,) nascia Depois de sancionado o projeto,
Surgiram aí o Plano do Carvão, ·o seguiu-se o problen1a da escolha do
General n1eio morto, foran1: Fazenda (Horá- Plano de Valorização da Amazônia, primeiro presidente da Petrobrás. ~
Zenóbio da cio Liífer), Relações Exteriores a criação da SPYEA. do Banco Na- escolha recaiu na pessoa do Coron~
Costa para seu cional de Desenvolvimento Econõ- Juracy Magalhães, então presidente
(João Neves da Fontoura), Educa- da Vale do Rio Doce.
primeiro ç,io (Sirnões Filho) . Justiça (Negrão n1ico. do Banco do Nordeste, a nova
despacho em de Lin1a) , Aero11ât1tic.1 (Nero Mou- lei sobre re1nessa de lucros, os proje- Alzira Vargas encontra 0
ra), Trab;ilho (Danton Coelho), tos da Petrobrás, da Eletrobrás, do pai muito deprimido
25 de fevereiro M11ri11ha (Renato Guilhobel). Agri- Serviço Social Rural e do Seguro
culturil (João Clcofas). Vi.1çéio Certa tarde, ao dirigir-se para seu
de 1954. (Souza Lirna), chefe da C,isa Civil Agrícola. gabinete de trabalho, no Catete ,
Zenóbio fez (Lourival Fontes) . chefe da C11sa Getúlio escorregou e caiu, fra-
exigências para fvlilitar (Ciro do Espírito Santo Car- E 'li d . ~ turando urna perna. Sua filha, AI-
doso). chefe de Políci:i (Ciro Re- st1 ac per eaele1çao zira Vargas do Amaral Peixoto, que
aceitar o scnde) e presidente do B,111co do havia sido chamada às pressas do
Ministério da Br.tsi/ (Ricardo Jaffet). no Clube Militar exterior, onde passava férias, narra
que encontrou seu pai numa séria
Guerra. O PTB não ficou No dia 21 de 1naio de 1952, reali- crise de depressão. Ele pensava e1n
zaram-se cleições no Clube Militar. renunciar, passando o governo a
nada satisfeito con1 A chapa da Cruzada De1nocrática, Café Filho, que já então namorava o
encabeçada pelos Generais Alcides Catete , através de Lourival Fonte.
Etchegoye n e Nélson de Melo. ob-
teve 8.288 votos contra 4.489 dados - O gigante. o mágico, estava
à chapa nacionalista , apoiada pelo imobilizado dentro das talas arn1a-
General Estillac Leal, que se dern i- das por meu irmão Luthero, ortope-
tiu en1 seguida do Ministério da
Guerra. onde foi substituído pelo , ./
General Ciro do Espírito Santo Car-
doso. ~-

apenas o Minis-
tério do l'rabalho

para o Sr. Danton ~:~\~ ,;-
Coelho e achou
que Getúlio estava I.'\
ithraau.i,uodrcos.oFs atzreanbdao-
seu pri1ne1.ro dI"S· '\:
curso con10 novo
presidente , no Dia

do 1·rabalho. a 1:·
de n1aio de 1951.
eleconcitou o povo
a fazl.!r justiça pelas
próprias n1ãos.

O Clube tvlilitar

tran sforn1ava-sc
pouco a pouco no

t·d

!;;;;;;;;;;;;;;=:;=:;=:;=:;;;;;c;=s=o=p=1=n=1==e==n=º ="=ª ============================================

~32 25 DE SETEMBRO OE 1993

••

.,

• dente do PTB. Jango chegava a mi- Ao Inaugurar a se impôe un1 alerta cora-
nistro do ·rrabalho. Diria o General joso.
dista, para salvar-lhe as articula- siderúrgica
ções. As dores e a insônia tinham-no Canrobert: Mannesmann, em Conhecido con10 Me-
tornado derrotista e irritado. Conse- -Aquela era realmente uma pro- João Monlevade, 111orialdos Coronéiscon-
gui levantar-lhe O moral com uma Getúlio tinha ao tra Jango. o documento
simples pergunta: ''O senhor que- vocação difíci l de engolir. seu lado direito o era assinado. entre ou-
brou a cabeça também, ou ela ainda então governador tros, por Amaury Kruel,
funciona?" Só então sorriu. Seu mal A crise sindical e trabalhiStª agra- de Minas Gerais, Antônio l·le nrique de
era a solidão. Juscellno Almeida Morais, Dario
vava a convulsão militar. Após uina Kubltschek de Coelho, Orlando Rama-
Alzira certamente se lembrava de longa greve dos marítirnos, 0 Sr. Oliveira. gem, Sizeno Sarmento,
dois desastres anteriores: um em Joáo Goulart propôs o aun1ento do Souto Malan. Antônio
1933. quando uma pedra rolara na Molina , Jurandir Ma-
estrada de Petró polis, 1natando o ºsalário mínin1o em 100%, passand 1nede, Landry Salles.
'lj udante-de-ordens e ferindo seu Adhen1ar de Qucirqz,
I___Jai e sua mãe, D. Darcy. Outro, em a Cr$ 2.400. João Punaro Bley, Adal-
J942, quando o carro de seu pai foi No dia 15 de fevereiro de 1954, o berto Pereira dos Santos,
trombado no Catete e ele quebrara o Luís l'avares da Cunha
fêmur . General Ciro do Espírito Santo Car- Mello. Antônio Carlos
doso. ministro da Guerra, reuniu o Muricy, Alberto Ribeiro
A crise militar já ia então num Alto-Comando do Exército para Paz, Alfredo A1nérico da
crescendo perigoso. Em março de exa1nina r um documento insóli to: 82 Silva, José Alexinio Bit-
1953. 0 candidato que tinha o apoio co1nandantes de tropas e de esta- tencourt, Antônio Jorge
de Getúlio Vargas a prefeito de São belecimcntos militares da l ~ Região Correia, Walter de Me-
Paulo sofria uma derrota esmaga- Militar (Rio de Janeiro), nas paten- nezes Paes. Araken de
dora do Sr. Jânio Quadros, em plena tes de coronel e tenente-coronel, Oliveira, Barros Nunes,
escalada. dirigiram urn memorial aos seus su- Golbery do Couto e
periores. Silva, Nev,iton de Oliveira Reis, Ra-
Jamnignoi.s,traof'1ndaol·1Ter'aboanlhoov•o 1niro Tavares, Sylvio Frota, Clóvis
- O clima de negociatas, desfal- Brasil, Adauto Esmeralda, Fritz
Em junho, reformava-se o Minis- ques e malversação de verbas que Manso, Ednardo D'Avila, Euler
~ério: Fazenda (Oswaldo A ranha), Sentes e Menezes Cortes.
Viação (José Américo de Almeida), infelizmente vem nos últimos tem- · Para 1ninin1izar as repercussões e
Justiça (Tancredo Nev~s). Educa- conseqüências do 111en1orial, o Ge-
\_t;ão (Antônio Balbino), Relações pos envolvendo o país e até mes1no o neral Ciro do Espírito Santo Car-
Exteriores (Vicente Ráo) , Agricul- Exército está a exigir se oponham doso não pun iu os coronéis, mas pa-
cura (Apolônio Sales) , Trabalho sólidas barreiras que lhe detenham O gou o preço: clernitiu-se do Minis-
transbordamento dentro das classes tério da Guerra, onde foi substituído
l ·(João Goulart). armadas. Em todas as guarnições, pelo General Zenóbio da Costa,
lutam os militares de terra com difi-
culdades cada vez maiores para a que, para assumi r, exigiu a dcn1issão

manutenção de um padrão de vida de Jango. sucedido na pasta do Tra-
compatível com sua posição social. balho por 1-Iugo de Faria.

Os signatários concluem vetando Somente uma promessa fora
1..: · , · c1· d até então cumprida

Das duas promessas n1ais solenes

ede sua campanha eleitoral - carne

mais barata nacionalização dope-
tróleo-, Getúlio só havia consegui-
do cun1prir a segunda. Pois a infla-
ção tornara inexeqüível a sua pro-
messa de dar carne ao preço de 4
cruzGiros o quilo.

Sua base parlamentar era precária
e fraca. Compunha-se quase exclusi-
vamente de parlamentares do P'fB,
pois os do PSD não eram confiáveis
e os da UDN rc_cebiam·o apoio apc-
nas de um pequeno grupo chamado

de chapa brunca e liderado pelo Se-
nador José Cândido Ferraz e pelo
Deputado Edilberto Ribeiro de
Cas tro.

= ': ====A=o=s =35= a=no=:s::d::e:::id=a=d=e=•=c=o=m=o=p=r=e=s=1-===º=n=o=v=o=s=a=a=r=1o= m=1=n=1m:::o:=e=1=ze=n::::o=:q::u:e=====================~~~;;:

[M;;;;i1
, 25 DE SETEMBRO DE 1993 33

''Não uero saber Agora, sentia de perto que as flho , tão sozinho e tão abandonado.
de na a. Só quero an1eaças se avolumavam. Passaria a
dormir'', disse andar arn1ado? Nunca o fizera , nem Aproxin1ou-se dele , visitou-o fre-
Getúlio. Pouco o faria. Prefe ria ter revólveres em qüentemente e nasceu daí a idéia de
depois, ouviu-se várias gavetas. De u1n deles, dis- fundarem uma grande organização
um tiro pararia o tiro fatal no peito. jornalística, que os libertasse da tu-
tela de Assis Chateaubriand e dos
o mesn10 te rnpo, a oposi- Amigos tradicionais co111eçavam a
ção crescia a olhos vistos. evitá-lo e já não ian1 ao Catete, onde Diários Associados.
ele nüo raro jantava sozinho, numa
' A banda de música da das varandas do palácio, da qual - Disse-lhe que a tendência da
UDN - Carlos Lacerda, Adauto gostava de ficar olhando os seus jar- grande in1prensa era ficar contra ele.
Cardoso, Bilac Pinto, Aliomar Bale- dins, enquanto fumava longos cha-
eiro, Oscar Corrêa - encontrava rutos. - N,io preciso dela para ganhar.
respaldo em o utras lideranças da - Mas, para perder, ela ajuda
oposição: Afonso Arinos de Melo Como surgiu orumoroso mu ito .
Franco, José Bonifácio, Guilhern1e caso da Ultima Hora
Machado , Mílton Ca1npos. Herbert - E tu , nunca pensaste em fazer
Le vy , Ha,nilton Nogue ira , Rai- O inquérito do Banco do Brasil, u1n jornal?
111undo Padilha, Brito Velho, Raul feito por Miguel Teixeira, revelara
Pilla, Coelho de Souza, Monteiro de transaçôcs ignóbeis, sobretudo na Wainer fundou , então, a Vltirn;i
Castro, Nestor Duarte. Prado Kelly, Cexin1 - Carteira de Exportação e Hora, mas viu logo depois a Câ-
Ernani Stítiro, Jolio Agripino, Lean- hnportaçào. Os Deputados Alio1nar mara, a requerimento do Deputado
dro Maciel, Luís Garcia, A lberto Baleeiro, Bilac Pinto e José Bonifá- Arn1ando Falcáo, constituir uma
Deodato, Pedro Aleixo . cio haviam se tornado acionistas do Comissão Parlamentar de Inquéri-
Pouco antes da eleição. Getúlio Banco do Brasil e comparecido a
declarara a un, jornal de São Paulo: tuna assemblé ia-geral , onde exi- t),to, presidida pelo peputado Casti-
- Serei eleito, n1as receio que, gira111 a divulgaçáo do inquérito.
pela segunda vez. não chegarei ao Surgiu a negociata do algocl.io, co1n lho Cabral e tendo con10 relator o
fi1n do 1ne u mandato. Te rei de lutar, o choque entre o Ministro l-Iorácio Deputado Frota Aguiar, além dos
se não n1c rnatarem antes. Lafer e o presidente do Banco do Deputados Alio mar Baleeiro e
Brasil, Ricardo Jaffe t, que tenninou Ulysses Guimarães como seus 1nem-
A preocupada sendo substituído pelo General bros. Depuseram perante essa co-
expressão de Anápio Gon1es. missão, entre outros, os Srs. Carl~s
Lacerda, Euvaldo Lodi, Ricardo
Getúlio e o O fi lho, Luthero Vargas, tan1bém Jaffet, Sa111uel Wainer. o Conde
cuidado do seu deputado. preparava um projeto de Matarazzo e Bocaiúva Cunha.
nacionalização dos bancos e era
Anjo Negro, agredido até en1 sua honra parti- Num crescendo, acampanha
que acabou de Lacerda contra Vargas
precipitando o cular. Acusavan1-
final da era no de conspirar A violenta campanha de Carlos
Vargas com o corn Perón contra
atentado da a democracia bra- Lacerda contra o Presidente Vargas
Rua Tonelero. sileira. Fora obri-
gado a denlitir Ba- ia num crescendo in1pressionante .
l tista Luzardo da
"' A en1baixada do Bra- Além da CPI da U/ti,na 1-loru; essa
sil en1 Buenos Ai-
j res. 1-Iavia acusa- can1panha se desdobrava através (\a
ções de contra-
' bando de carne e recém-instalada Rede Tupi de Tele-
J de ciinento.
) 1. vis,io e de comícios em casa. •
li Aconteceu aí o
escàndalo· da UI- Terminado um desses comícios e
tinia Hora. fun-
dada por Samuel quando regressava a sua residência,
Wa iner, co,n di-
nheiro do Banco o jornalista é alvo de um atentado no
do Brasil. Wainer
aproximara-se de qual morre o Major Rubens Vaz:
Getúlio durante o
seu exílio cn1 São - Para honra da nação, esse cri-
Borja. Confessaria
depois que ficou 1ne não ficará in1pune.
cóm pena do ve-
Com esta declaração bombástica,

à beira do túmulo de Rubens Vaz, o

Brigadeiro Eduardo Gomes jogava

a FAB por inteiro na caçada aos cri-

minosos e seus mandantes. Durante

20 dias, entre 5 e 25 de agosto, a

onda anti-varg';}ista tomou conta do

Congresso e invadiu as Forças Ar-

n1adas, que em sucessivos n1anifes-

tos, assinados pela maioria dos ofi-

ciais generais do Exército , Marinha

e Aeronáutica, estavam de acordo

nun1 objetivo comum : o do afasta- 1§,

mento do Presidente Vargas. .._,

Equanto isto, um inquérito poli-

cial-militar, instaurado pela FAB na

Base Aérea do Galeão , ia pouco a

~34 25 DE SETEMBRO DE 1993

r. ~~ • f --' •--.--- ções de voar é a Base de Santa Cruz,
comandada pelo Coronel Osvaldo
-\"•'·.... . '".... J V ·!--'- ' Pamplona . que é fie l a papai.

...t )' 1 ,..J· O Brigadeiro Epaminondas ainda
chegou a declarar que era o Briga-
l / deiro Eduardo Gomes o autor de
toda a agitação na FAB. E pon-
1 derou :

f Í' '. '1 - Eu não tenho condições de
prendê-lo, porque não disponho de
I ,,, •\ 1 I' tropas. Não posso prendê-lo debai-
xo da minha cama, a não ser que o
-L ti " ' ~ ' General Zenóbio dê alguma tropa.

• O Almirante Guilhobel estava co-
chichando no ouvido do Presidente
--/, ,_.... -...- Vargas, quando foi interpelado pelo
General Zenóbio:
i.....- ...-.-
- Que é que o senhor está di-
pouco apertando o cerco em torno tros: A ranha, Guilhobel. Epami- Carlos Lacerda, zendo ao presidente?
nondas , Tancredo, Amaral, José com ope' no
do Palácio do Catete e da guarda An1érico, Edgar Santos, Mário Pi- gesso depois - Eu estou dizendo ao presidente
notti, 1-Iugo de Faria (o único au- do atentado que a sua sina é ser traído pelos seus
1 pessoal de Getúlio, com as prisôes sente era Vicente Ráo), além de (Raul Brunlnl, chefes n1ilitares. Como acontece
de Clin1ério , A lcino e do 1notorista Lourival, Danton, Manoel Vargas, ao lado), põe exatamente agora.
Alzira, D. Darcy, Gen. Caiado, Ma-
Nélson Raimundo. até chegar à pes- jor Fittipaldi, Capitão Dornelles, ainda mais fogo "Precisamos ·salvar o
Marechal Mascarenhas. na fogueira Getúlio." Já era tarde
soa do seu próprio chefe , o Tenente
Falara1n todos os 1n inistros , sendo contra Getúlio. O Sr. Getúlio Vargas encerrou a
l__) regório Fortunato. alguns favoráveis à licença, outros Apartir dai a reunião, comunicando que pediria
pela resistência armada. Quando o onda uma licença. Recolheu-se ao quarto
O Deputado Afonso Arinos pro- General Zenóbio falou dizendo que antlvarguista e recebeu o irmão Beijo, que lhe
tornou-se comunicou a convocação para depor
nunciou na Câmara un1 discurso dos 80 generais sediados no Rio qua- incontrolável. no Galeão:

' e1nocionante , em que apelou para se a metade havia assinado o mani- - Por enquanto, vou eu. O pró-
festo contra Getúlio, foi interrom- xin10 poderá ser tu .
1 que o Presidente Vargas renunciasse pido por Alzira:
- Tu não vás. Se eles quiserem te
ao seu cargo , como única fórmula - Dá licença, papai. O General ouvir terão de vir aqui.
Zenóbio está mentindo. Até agora,
t capaz de pacificar a nação. só treze generais assinaram o rnani- Depois, Alzira entrou no q uarto.
Poucos dia s depo is, o vice- festo . De todos eles, só o General Getúlio tirou uma chavinha que es-
Lott é comandante de tropa. E assim tava no bolso e deu a ela:
Presidente Café Filho, que já tinha mesmo em São Paulo. O Almirante
Guilhobel sabe que os seus navios - Caso me aconteça alguma coi-
sido cooptado por Carlos Lacerda não estão cm condições de sair. O sa, abra este cofre e retire dele al-
Almirante Camargo já me garantiu guns valores que são da Darcy e uns
para auxiliar a conspiração, assu- que os seus fuzileiros só sairão da papéis para você.
ilha se forem atacados. O Brigadeiro
mindo o comprimosso de substituir Epaminondas está ciente também - Ora, não amola, papai. Aqui
de que a única unidade em condi- está a nota da reunião 1nínísterial,
o Sr. Getúlio Vargas caso ele fosse redigida pelo Tancredo. O senhor
não quer ler?
deposto, falou no Senado propondo
- Não quero saber de nada. Só
a renúncia dupla, dele e de Getúlio .
quero dormir. Diz para eles que es•
Alzira contesta Zenóbio
na reunião do Catete tou dormindo .
Do lado de fora do quarto, o Mi-
l Uma dramática reuniáo foi reali-
.lada no Palácio do Catete, na ma- nistro Oswaldo Aranha tomou co-
drugada do dia 24, por convocação nhecimento da recusa do presidente
do presidente da República. Esta- e comentou :
vam presentes quase todos os minis-
-Agora, que já salvan1os o Bra-
sil, precisamos salvar a vida de Ge-
tú lio.

Era um pouco tarde. Justamente
naquele momento, ele acabava de
suicidar-se.

FOTOS: ARQUIVOMANCHETE

A seguir: A CRISE DE NOVEMBRO DE 1955 ~26 DE SETEMBRO DE 1993 35

•. • •

1U;.. '
__.Ji,õ,C . . , . _ .,,,...,,,.,...~

-- -- - . f orn1W'o

T[LEVISÁO PEDRE .IRA tem11dJ

J\,turm11 do C11s,e1a &Planeta 11rapallu1das, 1?1gpcta
,11r(~811-ns TV, ern jornal8 e · de·ltamar:
1rcnsta~ c·tentst agora nota Pedreira t i
C5'rtsd~. Vai gravar un, dl8t:o entlrn' · ·

"Paraíba, terra amada" JOÃO PESSOA, TERÇA-FEIRA, 24 DE AGOSO DE 2004

• AUNIÃO



José Octávio de Arruda Mello ARQUIVO

ESPECIAL PARA A UNIÃO • CRISE QUE RESULTOU NO SUICÍDIO
DO PRESIDENTE FICOU SITUADA NO
ara recorrer a expressão de nos- TERRENO DA GOVERNABILIDADE

P sos dias, a crise que culminou
no suicídio de Vargas e que en-
controu, no gesto supremo, heróica e

calculada resposta, situou-se, tecnica- Enaltecendo a bondade

mente, no terreno da governabilidade.

A contradição consiste em que se

esta, nas expressões de Hélio Jaguari- P asso, por uma questão de justiça, a me
be, reside no d'esempenho do Estado,
referir à fan1ília Palicot, uma amizade i:le 1nais

este último, com Vargas, ·não funcio- de meio século.

nava mal. Bem pelo contrário, e graças Chegado de Natal, residia oa Rua r\.ln1.irante

à performance da Assessoria de Progra- Barroso co1no vizinhança de todos os lados pessoas

mação Econômica da Presidência da Re- da familia Palícor. Uma vez, dei un1a esmola a un1 .

pública, chefiada por Rômulo de Almei- pedinte e como agradecin1enco ouvi: "Deus te

da e integrada por especialistas egressos, livre do mau vizinho". Por coincidência, tenho tido

em sua maior parte do Grupo de ltaci- os melhores vizinhos do n1undo.

.. ai.a, o Estado brasileiro passava por pro- E,u trabalhava na Sul-An1érica como inspetor

e lá enconcrei o médico Pedro Palítot. Não só nos

fundas transformações capazes de torná- entendemos ben1 co!Tio fomos sempre corretos

lo motor do desenvolvimento e execu- amigos. A Sul-América não queria que seus

tor dos projetos derivados da C.omissão funcionários com cargos de direção estudassem:

Mista Brasil/Estados Unidos. Esta con- Mas eu tinha que terminar meu curso de Ciências

duziu ao BNDE, no rastro das elocu- Jurídicas e Sociais. Fazia tudo escondido, inclusi-

brações de Roberto Campos. ve minhas viagens a Recife. Parede e meia con1 a

Tanto é assim que, -intervindo, re- minha casa, morava a senhora !dália Leite

centemente, em reunião anual da So- Meios" o Palitot, de boa amizade com minha esposa.

ciedade Brasileira de Pesquisa Histó~ Eu estava nos primeiros anos de Direito,

rica, fixei-me no mas advogava junto ao escritório do advogado

entendimento de Gentil da Cunha Franca. Embora não tivesse

questão com ninguém, mesmo assim quando

que não se pode o cheguei um dia em casa para almoçar, havia
entender o êxito
de JK, com seus dois investigadores que tenraram me prender.

. ' 50 anos em cinco, Não aceitaram os meus

sem a antécedên- - :-- .argumentos e aí eu disse que Como

eia do triênio var- apenas me dessem tempo para

gw.sta, como ma- que eu trocasse de camisa e eu

eles concordaram. Entrei em demorasse
casa e tranquei a porta. Eu não
triz da maior parte dos projetos exe- lo, cristianizancw seu candidato, o mi- fazia-se cão sensível que, após a renún- tinha telefone. Pulei o muro a sai•r,
neiro Cristiano Machado, Vargas não cia de seu •ministro da Guerra, Esti-
cucados âe 1956 a 61. JK, na verdade, dispunha de supone partidário capaz llac Leal, derrocado no Clube Militar, do vizinho da parte de trás e aumentava
de legitimá-lo, politicamente. · recorreu a um general-de-brigada!...
é Gecúlio Vargas, sem o nacionalismo - Ciro do Espírito.Santo Cardoso, cio fiquei à procura de uma pessoa o
Tanto assim que, ao anunciar seu e não pai de FHC- para chefiar o Exér-
deste, datando daí as concessões jus- primeiro corpo de auxiliares, revelou cito. Foi contra Ciro que se articulou que me ajudasse, já que eu não
tratar-se de "ministério de experiên- o Manifesto dos Coronéis, subscrito
celiniscas ao capital estrangeiro, com •. por chefes militares, vários dos qÚais tinha nenhum crime a ser número de
cia". A alternativa consistiu .em forca- reapareceriam na liderança do golpe
alemães e -franceses·na indústria auto- .apurado. Depois de muito policiais
lecer a Assessoria de Programação militar de 1964. tentar, consegui localizar o
mobilística, belgas em siderurgia, ho- Econômica mas esta, se lbe assegura-
va valioso suporte técnico, não o for- Nesses termos, a ofensiva ancivar-
landeses em eletrônica e japoneses na talecia politicamente. Como o reco- guista dos agro-exportadores da UDN advogado Joacil de Brito
nheceu Cleantho de Paiva Leite, em dispunha de base militar que se trans-
pesca. vári9s depoimentos, o presidente es- feria da Aeronáutica do brigadeiro Pereira, que de logo se comprometeu a ir a
tava ficando isolado em Palácio, até o Eduardo Gomes para o alto com3:0do
O problen1a da s11stentação estatal - horário das refeições realizadas apenas do Exército,_trabalhado pela doutrina minha casa. Chegou primeiro do que eu espera-
com ajudantes de ordens, recrutados de segurança nacional da Escola Supe-
ora, se as coisas assim.se passavam, e às Forças Armadas. va. Eu lhe disse: "Não fiz nada errado, portanto .
rior de Guerra, criada em 1949.
se o segundo Governo Vargas pode ser G11erra Fria, F,orçaJ Ar,nadas e estou sendo vítima de uma injusciçà". C.omo eu -
&ande Imprensa ·- E preciso não per- Tal como a maioria do C.ongresso,
coma.do como um ponto de inflexão der de vista que o segundo Governo as Forças Armadas, caudatárias da lide- demorasse a sair, aumentava o número de
Vargas se processava no auge da Guer- rança americana, não se dispunham a
ra Fria, quando os Estados Unidos, sob aceitar governo que, reagindo, fortale- policiais. Nisso abri a porta e gritei: "Não
o Governo do General Eisenhower, ceu o sindicalismo oficial, com a convo-
do Estado brasileiro, a partir daí defi- avalisavam a cegueira anticomunista cação de João Goulart para o Ministério cometi nenhum crime e vou reagir como
do Departamento de Estado, chefiado do Trabalho. O salário mínimo foi tam-
nitivamente dismarquista-napoleonis- por Foscer Dulles. bém elevado, durante manifestação em homem que sabe se defender!". Eu morava
. que Vargas declarou a seus beneficiários,
ca, como se considerá-lo vícima de uma Tendo aplastado a experiência es- da sacada do Palácio Rio Negro, em Pe- numa casa de dois pavimentos. Eu disse: "Vou
querdizante deJacob Arbenz, na Gua- trópolis: "Hoje, estais com o Governo.
crise de governabilidade? temala, os States não estavam dispos- Amanhã, sereis Governo". subir e lá de cima apanhar o meu rifle e 300
tos a transigir com o nacionalismo de
A questão consiste em que, de- brasileiros e argentinos - logo Vargas José Octãvio de Arruda Mello cartuchos"_ Joacil, que sempre (oi bravo, gritou:
e Perón estariam visados.
tentor da soberania, o Estado não HISTORL\DOR DE CAJU\.EIRA, A11/Al. "E eu estou com você". Na janela de cima
Dentro desse quadro, o compro-
pode ser considerado apenas máqui- metimento da base Militar de Vargas DIRETOR 00 IPHAEP. AUTOR OE NOS coloquei a arma e vi muita gente correr.

na, institucional operante. Visão mais TEMPOSDEFÉLIXARAÚJ0-19)7/47(2003). Chamei minha esposa e a mandei com todos os

ampla haverá de conceituá-lo como sete meninos para a casa de dona !dália, onde

engrenagem sociológica, isco é, articula- ficaram bem guardado_s. Os policiais, temendo

minha reação, terminaram indo embora. A casa

do com suas bases de _sustentação. se encheu então de pessoas para me parabenizar.

Estas compreendem não apenas clas- No dia seguinte, liguei para Joacil pedindo,
que ele viesse a minha casa. Ele perguntou. "E
ses ou frações de classe, situadas por

Marx em O Dezoito do Br11mário de o~tra briga?" Disse que não. Ele chegou de

Luiz Napoleão, mas as in1tit11ições en- imediato e eu expliquei que queria que fosse

carregadas de respaldá-lo. comigo ao delegado, que era o major Fialho.

Ora, foi nesse ponk) que se loca- Quando me avistou de longe, botou a mão na

lizaram os mais agudos problemas cabeça e foi dizendo: "Me perdoe, Barroso! O

do Vargas nacional-desenvolvimen- problema não era com você!

tista de 1.951/54.

Eleito diretamente pelo povo, que Barroso Pontes ÉJORNALISTA EESCREVE ÀS
TERÇASESEXTAS-FEIRASNf~ACOLUNA
forçou ponderável alado PDS a apoia-

- ----------------------------------- ---------------------------------,-- 1
---·- 1

---

\ • "Paraíba, terra amada"

JOÃO PESSQA, TERÇA·F~IRA, 24 DE AGOSTO DE 2004 .. social ,._.·, AUNIÃO

• •

' .. ·.



Hom_enagem no TRF .A

Numa homenagem ao desembargador federal Ridalvo CORREA
Costa, em Recife, na.sede do Thbunal Regional Federal, a
presidente do órgão, çlesembargadora Margarida Cantarelli
fez o lançamento da Revista do TRF/5ª Região. A publica-
.ção traz trabalhos assinados pelos magistrados Napoleão
Nunes Maia, Luiz Alberto Gurgel e Paulo Gadelha.

© STIJOIO ROCHA A força da Caixa COM O TABELIÃO
JADER CARLOS
WILSON PESSOA DA CUNHA (D) ESTARA A Caixa Econômica Federal
ANIVERSARIANDO AMANHÃ. ÉVISTO COM obteve 1,1m saldo de depósitos em COELHO DA FRANCA,
·RENATA-ANTÔNIO EDILIO EJOSIAS GOMES poupança, em julho, superior a CERTAMENTE
RS 47 bilhões. A captação líqui-
Abraços em Dalva ZENEIDE RECEBE
da alcançou R$ 518,7 milhões, MUITAS
Muito bem relacionada na sociedade, a fotógrafa Dalva Rocha
será homenageada hoje com um café da manhã no Palac~ Qrill. o que corresponde a 44% de toda FELICITAÇÕES HOJE
A iniciativa paniu de Fácima Holanda, Roziane Coelho e dá sua a captação líquida do mercado PELA SUA NOVA
comadre Zélia Finizola Araújo, acuai presidente do Jangada nomeAs. IDADE
Çlube. O serviço da manifestação matinal, na base de adesões,
terá início às 8h. Oalva Rocha escá aniversariando. Esta sem_ana, a Caixa anun- Vara do Trabalho
ciou o balanço do primeiro se-
50 anos na i111prensa mestre corri um lucro de mais Através da sua Assessoria de _Comunicação (leia-se jornalista José
Vieira Neto) o 'Ii-ibunal Regional do Trabalho da 13ª Região, pela sua
O jornalista e procurador do " presidente, juíza Ana Maria Ferreira Madruga, envia convite para
.Estado Severino Bíu Ramos solenidade. No dia crês de setembro, às 16h, no Fórum Maximiano .
recebe hoje merecidas homena- de R$ 600 milhões. A CEF diz · Figueiredo, será instalada a 73 Vara do Trabalho de João Pessoa.
gens, destacando-se uma sessão que ainda vai abrir 500 novas-
especial gerriípada entre Assem- agências até 2006.
.bléia Legislativa do Estado e a
. Câmara Municipal da cidade de Visita de recifenses Constitucional
João Pessoa. A reunião será na
..sede da AL, quando as duas casas Llderados pelos professores Fernando Guerra e Ale- O Tribunal de Justiça de Pernambuco será o
~egislativas exaltam as qualidades xandre Amorim, mais de cinqüenta docentes e alunos único do ·País a comemorar o 70º aniversário da
profissionais de Biu Ramos na do Cwso de Arquicerura das Universidades Federal e implantação do Quinto Conscicucional, que·· dc-
ÍJ1?prensa nos úl~imos 50 anos e, Rural de Pernambuco vieram aJoão·Pessoa. Aqui vi- éerminou que os tribunais passassem a ser inte-
aprpveitandó, os seus 66 anos de sitaram a Igreja de São Francisco e o C.entro Histórico. grados por membros do Ministério Público e da
vida completados no último· dia Os pernambucanos foram ciceroneados pelo historia- Ordem dos Advogados do Brasil. O programa,
dor José Ocrávio, diretor do lnsóruco do Patrimônio fest ivo, acontecerá hoje com sessão especial da
19, . Histórico e Artístico da Paraíba Corte da Justiça do vizinho Estado.

©ROCHA Aperitivo de jantar,

HOJE,DALVA O Syrah com Malbec,
· ROCHA elaborado pela família
COMEMORA SEU Zuccardi resulta um vinho
ANIVERSARIO COM consistente e satisfatório.
CAFÉ DA MANHÃ. Enquanto a Malbec lhe dá
COM ELA ESTÃO sabores de frucas silvestres
CARLA BEZERRA, variados, a Syrah empresta
GIOVANA ROLIM E aromas e geléia com
"' LÚCIA PADILHA sabores de ameixa, amo-
SOUZA ras, café e pimenta preca.
Esse biend será servido com
o aperitivo no jantar do
dia 14 de setembro do
Clube dos Amigos do
Vinho.

Hospital R~ l?IDAS - -- - - - -- - -
Santo ·Paula.Ltda.
11 Cerca de 150 embarcações participarão este ano da XVI Regata Reci-
IH<~Í'NCIAS CLiN ll'.;ÃS, C/IR OIOl,ôt';;H'.!A$ 11 (1t! OJl\'rrílÇAS fe/Fernando de Noronha. A Paraíba deve competir.

-7Ji1. ' a Para Carlos Jereissati Filho, da Associação Brasileira de Shopping

Centers, o Natal-2004 será omelhor desde 1966.

Vascular/ Geral/ Uroló(ilca / Glneêológk:a / riOInstituto de Reabilitação Funcional, em Campina Grande, está sob o
risco de intervenção pelo Ministério da Saúde.
Tiróide/ Variztfs/A110111lsmas / Vldeoli'~~a /

. Aparelho Di~vo / Pfáitlca / ca,eça,e'Pesco,;<! /

YTI. N11úro' i:Õurgla /,Caidfovascul11 / Infantil/ Cirúraf?L • e Aniversariando hoje: Ojalma Gusmão, José Bartolomeu Golaço Costa,

'• A:..c - Linduarte Noronha, Paulo Roberto
Freire Corrêa, Tânia Paranhos e
Homodfnlri\lca / c-,ismo) Waleswska Cruz Montenegro. Fale coin lvonaldo
1 Artef~rafia I Angiografia Digffal f
Modléina lritarvencíonlstal Angioplaslia / o Odia de hoje édedicado à Sogra - 246-5253

Stonlà / Radiologia lnÍllrveneionista. A n .J<1iiµ JJfa cl,uc/u, 2 1 2 - fJ'c1,1ru - Jollo P c:.,r11rr / l!H. e a São Bartolomeu. ~ Av.'Seixas Maia, 55 · Eéf.A1Sn3s Pr~ 1
FOIYE: 24,l- S,.IIIJ-( J>ABX)
- Apr< 705 -11.amrra , 1



. ,,.._ ----- ---

,..

Para entender oBrasil/Anatomia da crise @

1

Murilo Melo Filho

impacto do suicídio de ·-1' l ' • r '
Getúlio, com a dramá-
tica leitura da Car- • - .,,.___
ta-Testamento, trouxe o povo,
revoltado, para as ruas. ·....r..
Apanhado de surpresa, o Vi-
ce-Presidente Café Filho, eleito 1 l ai D·• • • -::-:-::-:.::;,.--,:..-:.=,_:-
apesar da oposição da LEC -
Liga Eleitoral Católica -, as- 1
su1n1•u o governo, no seu apar-
tamento de Copacabana, que ' 11111·1 1111 !i
se encheu rapidamente de polí-
ticos udenistas e de líderes da ·jll[«!!f?!!:.'. .
conspiração contra Getúlio.
A UDN, que nunca se confor- 1íí ,• ,_;..J, --- -
mara com a vitória de Vargas 1
em 1950, via agora nesse suicí- ,
dio a grande chance de con-
quistar o poder, com a ascen- -
são de Café Filho.
Seria o governo do ude-
n ismo , n1as de efêmera

duração.
Como se verá a seguir.

~9 OE OUTUBRO DE 1993 31

• ..

Lacerda queria (Amorim do Valle) , Aeronáutíc,1 Acusado ele defender un1 regin1e '
adiar as elei_ções; (Eduardo Gomes), Exército (Henri- de exceção, Lacerda se defendia:
Café Filho nao que Lott), chefe da Casa Militar
deixou. Eos (Juarez Távora), chefe da C<lS,l Civil - O país precisa ser saneado es-
candidatos (Monteiro de Castro) e prefeito do piritual e psicologicarnente. Não há
apareceram Distrito Federal (Alim Pedro). condições para uma eleiçéio verda-
deiramente democrática nunt paí1
' ,na se1nana depois do su icí- A escolha do novo ntinistro da que está s~1indo ele unta cultura au~----'
Guerra foi n1elodra1nática. Após su- toritária. E como se no dia seguinte
• dio. a 1:· de seternbro de 1954. cessivas reuniões, rnarchas e contra- da 111orte de Hitler, no bunker, se
snuugirecrhi.ua:s, o General Juarez T,ívora fizesse urna eleição na Alernanha.
tornava posse o novo 111111,s- ou corno se no dia seguinte ao que
tério: Rc·laçõi::s Exteriores (Raul - Precisa,nos de un1 general pendurararn 1vlussolini nun1 poste
Fcrna neles) . 1ra/J,ilho (;.\lcncast ro npolítico . austero , severo, profissio- ent l\.1ihio. junto a un1 posto de ga-
Guin1arãcs) . Justiç,1(Seabra Fagun- nal e n.io con1pro1netido. Aqui está solina, se realizasse unu, cleiçéio na
des). Fnzcnda (Eugênio Gudin), o aln1anaque do Exército. Proponho ltália.
1--\gricult11ra (Costa Porto). Educa- u,n norne: o do General 1-lenrique
ç:ip tC:indido t,.,Jota Filho), Satíde JK percorreu
(Aran1ys Athaydc). \liaç;io e Obras Duffes Teixeira Lott. _todo opaís
Públicas (Lucas Lopes). 1\1arinha Foi quando o jornalista Carlos La-
Certo dia. o jornalista Carlos La-
cerda conteçou a defender unta tese cerda foi à presença do Presidente
que lhe valeu o título ele fascista e de Café Filho. autor do famoso Le,11-
golpista: a de que a eleição de outu- brai-vos de 37 e que estava n1uito
bro do ano seguinte não podia ser
realizada co,n a lei eleitoral em vi- Lpreocupado corno risco de parecer o
gor. De acordo com essa tese, era
necessürio. antes , fazer uma série de hon1en1 ele um novo golpe ~e estado.
reforntas que desin1oxicassen1 o país Lacerda tentou demove-lo desses
da propaganda getulista . Caso con-
1rário. haveria o retorno dos 1nes- escrúpulos, rnas e,n vão. Café Filho
estava obstinado:
ntos hornens do passado.
- Eu vim para aqui a fim de presi-

~32 9 OE OUTUBRO OE 1993

V

dir as eleições e realizá-las no dia Convenç.io N~cional. Data daí Lacerda tentou nador de Seio Paulo , Sr. JünioQua-
marcado. Não haver:í alterações. aquela sua célebre frase: convencer Café dros. En1 fins de maio, para comple-
tar o quadro de candidatos, o PSP
Desconhecendo apelos do go- - Deus poupou-me o sentimento Filho a adiar as indicou o Sr. Adernar de Barros.
' 1 verno em favor da uniáo nacional, do n1cdo.
eleições. Com Juarcz néio era o 1nclhor nem era o
além ele um manifesto dos três rni- O Sr. Benedito Valadares, consi- pior dos candidatos, ,nas apenas o
® nistros militares, o PSD, en1 feverei - derado u,n dos donos do PSD, era o Café FIiho possível , naquelas circunstüncias.
líder da oposição a JK dentro do doente, Carlos para ser apoiado pela UDN , cn1bora
ro de 1955, lançou a candidatura do partido. Achava-o muito irrequieto, suas raízes , por urna questüo ele
governador de 1vlinas. Juscelino Ku- quase urn doidivanas: Luz assumiu a princípios. fosse,n n1ais vinculadas
bitschek, para presidente da Repú- aos dcrnocratas-cristfios, liderados
blica. cm aliança com o PTB, que - Juscelino quer enforcar-se con1 presidência. ent São Paulo por Franco Montoro,
o pescoço dos outros. Queiroz Filho , Paulo de ·rarso e, no
ipnadriacovur.coe.nome do Sr. Joiio Goulart Depois, foi a Paraná, por Ncy Braga.
No dia da Convenção, cm meio a vez de Nereu
O Sr. Juscelino Kubitschek vinha enorrne cntusiasn10, ele foi acla- Defendia a participação dos ern-
de um be1n-sucedido governo em mado candidato do partido, co,n ex- Ramos. prcgados nos lucros das empresas,
ceção dos votos de três seções duais: vinha dos ternpos da Coluna Prestes
1 Minas. con1 muitas obras realizadas a catarinense , a pernan1bucana e a Juscelino e da revolução dos tenentes, crn
gaúcha. 1930, conspirara contra Getúlio cm
e uma in1agem política de ndminis- empolgou o 1945 e , cm 1954, tinha unia doença
trador vitorioso, com uma oratória A 21 de março, o PRP lançava a Brasil com sua crônicn que afetava duran1cntc o seu
fluente e sin1pática, que crescia nos candidatura do Sr. Plínio Salgado. A simpatia. O dcsernpenho eleitoral e, ainda por
palanques e nos co,nícios. 8 de abril, a UDN. com apoio cm cirna, usava unH1 linguagern pouco
três dissidências do PSD - Sant:, General Loll sin1pütica perante os eleitores, pro-
Seu grande problernn era interno. C,1/arin:1 (Nereu Ramos) , Pern.1111- queria garantir n1ctenclo-lhcs apenas urn governo de
o PSD, cujos caciques nfio querian1 buco (Etelvino Lins) e f~io Granc_/c dureza e restrições. Alén1 do mais,
apoiá-lo e preferian1 prestigiar a do Sul (Walter Jovirn)-, escolhia a a posse de JK. cos1u1nava dar ,nurros na mesa
solução da união nacional defendida candidatura Etelvino Lins, que se diante de perguntas mais i111pcrti-
esvaziou rapidamente , atirando os nentes dos jornal istas.
pelo governo. udcni stas nos braços do General
Juarez Távora, cujo nome fora indi-
@ Juscelino resistiu a todas essas cado , desde o corneço, pelo gover-

pressões. Percorreu como um mas-
cate quase todo o país, visitando
diretórios pcsscdistas e conquis-
tando u,n a uni os seus votos para a

[MmJ9 OE OUTUBRO DE 1993 33

·Aeleição de JK votos,.ou 30.%; Ademar-de-J,arros, cial, como aluno da Escola Superior
do-PSP, 2.222.725 votos, ou 26%; e de Guerra, estava subordinado ao
desencadeou·uma Plínio Salgado, do ,PRP , com chefe do EMFA, e não ao ministro
tempestade 632.848 votos, ou 8%. da Guerra. isto é, a Lott.
oposicionista, que
.Lott enfrentou A• medida que esses votos iam Mais do que essa recusa em con-
sendo apurados, crescia a onda gol- cordar com a punição, o Deputado
e venceu pista, alimentada pela tese da maio- Carlos Luz cometeu um erro ainda
ria absoluta, segundo a qual JK não maior: deixou o General Lott por
uarez Távora não fazi a nenhuma havia recebido a maioria e mais um tempo bastante prolongado (duas
concessão à demagogia e conci- dos votos (50%) e, portanto, ·não horas) na ante-sala do seu gabinete
tava o povo a trabalhar duro podia ser empossado. no Palácio do Catete, e quando o
cada vez mais. recebeu foi para aceitar o seu pedido
O governo Café Filho enredava- Até que, no dia 31 de outubro de de demissão.
se nu1na teia de contradições e con- 1955, morria o General Canrobert
flitos poderosos. Pereira da Costa e, no seu enterro, o Nomeou, então , para substituí-lo,
Chegou-se a pensar na prorroga- Coronel Jurandir Mamede fazia um o General Fiúza de Castro, que já
ção do mandato do Presidente Café discurso altamente provocador con- estava na reserva, e tnarcou a posse
Filho. que recusou a idéia, na pri- tra os políticos e contra o que enten-
meira vez em que ela lhe foi pro- dia ser urna gránde farsa eleitoral. O c)-para o dia seguinte, con,etendo, as-
posta. ministro da Guerra, General Lott,
Enquanto isto, o sr. Juscelino Ku- estava presente e tomou o discurso sim, COITI essa protelação, outro erro
bitschek fazia un1a campanha leve, como um insulto, passando a exigir a crasso de estratégia político-,nilitar.
de bon1-humor, à base do otiinismo, punição do oficial-orador.
prometendo o céu e a felicidade aos O General Lott recolheu-se à sua
1nilhões de eleitores. Venceu a bata- O Presidente Café Filho internou- residência e lá foi procurado, atra-
lha no TSE. presidido pelo l'vlinistro se no Hospital dos Servidores, aco- vés do telefone de campanha , pelo
Edgard Costa, e,n torno da cédula metido de um enfarte , com uma li- General Denys, que morava ao la-
oficial. cença para tratamento de saúde por do, na residência oficial da Rua Ge-
No dia 3 de outubro, as urnas fala- te1npo indeterminado, assinada, en- neral Canabarro:
ram: Juscelino Kubitschek, do PSD- tre outros. pelos rnédicos Aloísio
PTB, 3.077.411 votos, ou 36%; Jua- Salles, Aarão Benchimol, Theo- -Você, Lott, não pode ficardes-
rez Távora. da UDN, com 2.610.462 baldo Vianna e Raimundo-Brito. moralizado neste episódio. Bote a
farda e vamos para o Ministério da
~ Como presidente da Câmara , o Guerra, porque as tropas já estão
Deputado Carlos Luz era o vice- indo para a rua.
presidente da República e coube-lhe
assumir a presidência da República. Lott reassumiu o seu lugar de mi-
Recusou-se a punir o Coronel Ma- nistro da Guerra , recebendo o apoio
mede, sob o pretexto de que o ofi- de vários generais: Olimpio Falco-
niere , Levy Cardoso, Mendes de
\ Moraes, Stênio de Albuquerque Li-
ma, Arthur da Costa e Silva , Edgar
\
Wdo Amaral , Segadas Viana. Coelho
Carlos Luz _--_.-. .
recebe o dos Reis, Maurell Filho . Lima Câ-
Almirante .....,-"-. mara, Augusto Magessi , Nélson de
Amorim do Melo, Azambuja Brilhante, Anor
~--~-··•.--.. .- .~,,-~,.....Teixeira e do Marechal Mascare-
Vale a bordo nhas de Moraes.
do Tamandaré, ' -~

antes da .. . " ..'.. --·~~.".. -..!..
tentativa de
saída. (Carlos ' '
Lacerda

aparece à

esquerda.)

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IMaml34 9 DE OUTUBRO OE 1993


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