The words you are searching are inside this book. To get more targeted content, please make full-text search by clicking here.

Esta obra é a primeira da “Coleção Fonte Viva”, fundamentada nos textos do Evangelho.
É um livro excelente para a reflexão e a meditação diárias que pode ser lido na ordem das mensagens ou abrindo ao acaso as páginas para esclarecer dúvidas e questões do dia a dia.

Discover the best professional documents and content resources in AnyFlip Document Base.
Search
Published by Evoluir, 2017-03-23 22:24:47

Caminho, Verdade e Vida

Esta obra é a primeira da “Coleção Fonte Viva”, fundamentada nos textos do Evangelho.
É um livro excelente para a reflexão e a meditação diárias que pode ser lido na ordem das mensagens ou abrindo ao acaso as páginas para esclarecer dúvidas e questões do dia a dia.

Keywords: Emmanuel,Chico Xavier,Renovação Epiritual,Espiritismo,Evangelho,Jesus de Nazaré

101 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel) 

89
O FRACASSO DE PEDRO 

“E  Pedro  o  seguiu,  de  longe,  até  ao  pátio  do  sumo­ 
sacerdote  e,  entrando,  assentou­se  entre  os  criados  para  ver  o 
fim.” 

(MATEUS, 26: 58) 

O fracasso, como qualquer êxito, tem suas causas positivas. 
A  negação  de  Pedro  sempre  constitui  assunto  de  palpitante  interesse  nas 
comunidades do Cristianismo. 
Enquadrar­se­ia a queda moral do generoso amigo do Mestre num plano de 
fatalidade?  Por  que  se  negaria  Simão  a  cooperar  com  o  Senhor  em  minutos  tão 
difíceis? 
Útil, nesse particular, é o exame de sua invigilância. 
O  fracasso  do  amoroso  pescador  reside  aí  dentro,  na  desatenção  para  com 
as advertências recebidas. 
Grande número  de  discípulos  modernos  participam  das mesmas negações, 
em razão de continuarem desatendendo. 
Informa  o  Evangelho  que,  naquela  hora  de  trabalhos  supremos,  Simão 
Pedro seguia o Mestre “de longe”, ficou no “pátio do sumo­sacerdote”, e “assentou­ 
se entre os criados” deste, para “ver o fim”. 
Leitura  cuidadosa  do  texto  esclarece­nos  o  entendimento  e  reconhecemos 
que,  ainda  hoje,  muitos  amigos  do  Evangelho  prosseguem  caindo  em  suas 
aspirações  e  esperanças,  por  acompanharem  o  Cristo  a  distância,  receosos  de 
perderem  gratificações  imediatistas;  quando  chamados  a  testemunho  importante, 
demoram­se  nas  vizinhanças  da  arena  de  lutas  redentoras,  entre  os  servos  das 
convenções utilitaristas, assestando binóculos de exame, a fim de observarem como 
será o fim dos serviços alheios. 
Todos os aprendizes, nessas condições, naturalmente fracassarão e chorarão 
amargamente.

102 – Fr ancisco Cândido Xavier  

90
ENSEJO AO BEM 

“J esus, porém, lhe disse: Amigo, a que vieste? — Então, 
aproximando­se, lançaram mão de J esus e o prenderam.” 

(MATEUS, 26: 50) 

É  significativo  observar  o  otimismo  do  Mestre,  prodigalizando 
oportunidades  ao  bem,  até  ao  fim  de  sua  gloriosa  missão  de  verdade  e  amor,  junto 
dos homens. 

Cientificara­se  o  Cristo,  com  respeito  ao  desvio  de  Judas,  comentara 
amorosamente  o  assunto,  na  derradeira  reunião  mais  íntima  com  os  discípulos,  não 
guardava qualquer dúvida relativamente aos suplícios que o esperavam; no entanto, 
em se aproximando, o cooperador transviado beija­o na face, identificando­o perante 
os  verdugos,  e  o  Mestre,  com  sublime  serenidade,  recebe­lhe  a  saudação 
carinhosamente e indaga: Amigo, a que vieste? 

Seu coração misericordioso proporcionava ao discípulo inquieto o ensejo ao 
bem, até ao derradeiro instante. 

Embora  notasse  Judas  em  companhia  dos  guardas  que  lhe  efetuariam  a 
prisão, dá­lhe o título de amigo. Não lhe retira a confiança do minuto primeiro, não 
o  maldiz,  não  se  entrega  a  queixas  inúteis,  não  o  recomenda  à  posteridade  com 
acusações ou conceitos menos dignos. 

Nesse  gesto  de  inolvidável  beleza  espiritual,  ensinou­nos  Jesus  que  é 
preciso  oferecer portas ao bem, até à última hora das experiências terrestres, ainda 
que, ao término da derradeira oportunidade, nada mais reste além do caminho para o 
martírio ou para a cruz dos supremos testemunhos.

103 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel) 

91
CAMPO DE SANGUE 

“por isso foi chamado aquele campo, até ao dia de hoje, 
Campo de Sangue.” 

(MATEUS, 27: 8) 

Desorientado, em vista das terríveis conseqüências de sua irreflexão, Judas 
procurou  os  sacerdotes  e  restituiu­lhes  as  trinta  moedas,  atirando­as,  a  esmo,  no 
recinto do Templo. 

Os  mentores  do  Judaísmo  concluíram,  então,  que  o  dinheiro  constituía 
preço  de  sangue  e,  buscando  desfazer­se  rapidamente  de  sua  posse,  adquiriram  um 
campo destinado ao sepulcro dos estrangeiros, denominado, desde então, Campo de 
Sangue. 

Profunda a expressão simbólica dessa recordação e, com a sua luz, cabe­nos 
reconhecer  que  a  maioria  dos  homens  continua  a  irrefletida  ação  de  Judas, 
permutando  o  Mestre,  inconscientemente,  por  esperanças  injustas,  por  vantagens 
materiais,  por  privilégios  passageiros.  Quando  podem  examinar  a  extensão  dos 
enganos a que se acolheram, procuram, desesperados, os comparsas de suas ilusões, 
tentando  devolver­lhes  quanto  lhes  coube  nos  criminosos  movimentos  em  que  se 
comprometeram  na  luta  humana;  todavia,  com  esses  frutos  amargos  apenas 
conseguem  adquirir  o  campo  de  sangue  das  expiações  dolorosas  e  ásperas,  para 
sepulcro  dos  cadáveres  de  seus  pesadelos  delituosos,  estranhos  ao  ideal  divino  da 
perfeição em Jesus Cristo. 

Irmão em humanidade, que ainda não pudeste sair do campo milenário das 
reencarnações, em luta por enterrar os pretéritos crimes que não se coadunam com a 
Lei Eterna, não troques o Cristo Imperecível por um punhado de cinzas misérrimas, 
porque, do contrário, continuarás circunscrito à região escura da carne sangrenta.

104 – Fr ancisco Cândido Xavier  

92
MADALENA 

“ Disse­lh e  J esu s:   Ma r ia !   —  Ela ,  volta n do­se,  disse­lh e:  
Mestre!” 

(JOÃO, 20: 16) 

Dos  fatos  mais  significativos  do  Evangelho,  a primeira  visita  de  Jesus, na 
ressurreição, é daqueles que convidam à meditação substanciosa e acurada. 

Por  que  razões  profundas  deixaria  o  Divino  Mestre  tantas  figuras  mais 
próximas de sua vida para surgir aos olhos de Madalena, em primeiro lugar? 

Somos  naturalmente  compelidos  a  indagar  por  que  não  teria  aparecido, 
antes,  ao  coração  abnegado  e  amoroso  que  lhe  servira  de  Mãe  ou  aos  discípulos 
amados... 

Entretanto,  o  gesto  de  Jesus  é  profundamente  simbólico  em  sua  essência 
divina. 

Dentre  os  vultos  da  Boa  Nova,  ninguém  fez  tanta  violência  a  si  mesmo, 
para  seguir  o  Salvador,  como  a  inesquecível  obsidiada  de  Magdala.  Nem  mesmo 
“morta” nas sensações que operam a paralisia da alma; entretanto, bastou o encontro 
com o Cristo para abandonar tudo e seguir­lhe os passos, fiel até ao fim, nos atos de 
negação  de  si  própria  e  na  firme  resolução  de  tomar  a  cruz  que  lhe  competia  no 
calvário redentor de sua existência angustiosa. 

É  compreensível  que  muitos  estudantes  investiguem  a  razão  pela  qual  não 
apareceu  o  Mestre,  primeiramente,  a  Pedro  ou  a  João,  à  sua  Mãe  ou  aos  amigos. 
Todavia,  é  igualmente razoável  reconhecermos  que,  com  o  seu  gesto inesquecível, 
Jesus  ratificou  a  lição  de  que  a  sua  doutrina  será,  para  todos  os  aprendizes  e 
seguidores,  o  código  de  ouro  das  vidas  transformadas  para  a  glória  do  bem.  E 
ninguém, como Maria de Magdala, houvera transformado a sua, à luz do Evangelho 
redentor.

105 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel) 

93
ALEGRIA CRISTà

“Mas a vossa tristeza se converterá em alegria.” 

Jesus (JOÃO, 16: 20) 

Nas horas que precederam a agonia da cruz, os discípulos não conseguiam 
disfarçar a dor, o desapontamento. 

Estavam tristes. Como pessoas humanas, não entendiam outras vitórias que 
não  fossem  as  da  Terra.  Mas  Jesus,  com  vigorosa  serenidade,  exortava­os:  “Na 
ver dade, na ver dade, vos digo que vós chor ar eis e vos lamentar eis; o mundo se 
alegr ará e vós estareis tr istes, mas a vossa tr isteza se conver ter á em alegria.” 

Através de séculos, viu­se no Evangelho um conjunto de notícias dolorosas 
—  um  Salvador  abnegado  e  puro  conduzido  ao  madeiro  destinado  aos  infames, 
discípulos  debandados,  perseguições  sem  conta,  martírios  e  lágrimas  para  todos  os 
seguidores... 

No  entanto,  essa  pesada  bagagem  de  sofrimentos  constitui os  alicerces  de 
uma vida superior, repleta de paz e alegria. Essas dores representam auxílio de Deus 
à  terra  estéril  dos  corações  humanos.  Chegam  como  adubo  divino  aos  sentimentos 
das  criaturas  terrestres,  para  que  de  pântanos  desprezados  nasçam  lírios  de 
esperança. 

Os  inquietos  salvadores  da  política  e  da  ciência,  na  Crosta  Planetária, 
receitam  repouso  e  prazer  a  fim  de  que  o  espírito  chore  depois,  por  tempo 
indeterminado,  atirado  aos  desvãos  sombrios  da  consciência  ferida  pelas  atitudes 
criminosas.  Cristo,  porém,  evidenciando  suprema  sabedoria,  ensinou  a  ordem 
natural para a aquisição  das alegrias  eternas,  demonstrando  que  fornecer  caprichos 
satisfeitos,  sem  advertência  e  medida,  às  criaturas  do  mundo,  no  presente  estado 
evolutivo, é depor substâncias perigosas em mãos infantis. Por esse motivo, reservou 
trabalhos  e  sacrifícios  aos  companheiros  amados,  para  que  se  não  perdessem  na 
ilusão e chegassem à vida real com valioso patrimônio de estáveis edificações. 

Eis por que a alegria cristã não consta de prazeres da inconsciência, mas da 
sublime certeza de que todas as dores são caminhos para júbilos imortais.

106 – Fr ancisco Cândido Xavier  

94
AO SALVAR­NOS 

“Salva­te a ti mesmo e desce da cruz.” 

(MARCOS, 15: 30) 

Esse  grito  de ironia dos  homens maliciosos  continua  vibrando  através  dos 
séculos. 

A  criatura  humana  não  podia  compreender  o  sacrifício  do  Salvador.  A 
Terra  apenas  conhecia  vencedores  que  chegavam  brandindo  armas,  cobertos  de 
glórias  sanguinolentas,  heróis  da  destruição  e  da  morte,  a  caminho  de  altares  e 
monumentos de pedra. 

Aquele Messias, porém, distanciara­se do padrão habitual. Para conquistar, 
dava de si mesmo; a fim de possuir, nada pretendia dos homens para si próprio; no 
propósito de enriquecer a vida, entregava­se à morte. 

Em  vista  disso,  não  faltaram  os  escarnecedores  no  momento  extremo, 
interpelando o Divino Triunfador, com mordaz expressão. 

Nesse testemunho, ensinou­nos o Mestre que, ao nos salvarmos, no campo 
da  maldade  e  da  ignorância  ouviremos  o  grito  da  malícia  geral,  nas  mesmas 
circunstâncias. 

Se  nos  demoramos  colados  à  ilusão  do  destaque,  se  somos  trabalhadores 
exclusivamente interessados em nosso engrandecimento temporário na esfera carnal, 
com  esquecimento  das  necessidades  alheias,  há  sempre  muita  gente  que  nos 
considera  privilegiados  e  vitoriosos;  se  ponderamos,  no  entanto,  as  nossas 
responsabilidades graves no mundo, chama­nos loucos e, quando nos surpreende em 
experiências  culminantes,  revestidas  da  dor  sagrada  que  nos  arrebata  a  esferas 
sublimes,  passa  junto  de  nós  exibindo  gestos  irônicos  e,  recordando  os  altos 
princípios esposados por nossa vida, exclama, desdenhosa: — “Salva­te a ti mesmo 
e desce da cruz.”

107 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel) 

95
O AMIGO OCULTO 

“Mas  os  olhos  deles  estavam  como  que  fechados,  para 
que o não conhecessem.” 

(LUCAS, 24: 16) 

Os  discípulos,  a  caminho  de  Emaús,  comentavam,  amargurados,  os 
acontecimentos terríveis do Calvário. 

Permaneciam sob a tormenta da angústia. A dúvida penetrava­lhes a alma, 
levando­os ao abatimento, à negação. 

Um  homem  desconhecido,  porém,  alcançou­os  na  estrada.  Oferecia  o 
aspecto de mísero peregrino. 

Sem  identificar­se,  esclareceu  as  verdades  da  Escritura,  exaltou  a  cruz  e  o 
sofrimento.

Ambos  os  companheiros,  que  se  haviam  emaranhado  no  cipoal  de 
contradições  ingratas,  experimentaram  agradável  bem­estar,  ouvindo  a 
argumentação confortadora. 

Somente  ao  termo  da  viagem,  em  se  sentindo  fortalecidos  no  tépido 
ambiente da hospedaria, perceberam que o desconhecido era o Mestre. 

Ainda  existem  aprendizes  na  “estrada  simbólica  de  Emaús”,  todos  os  dias. 
Atingem  o  Evangelho  e  espantam­se  em  face  dos  sacrifícios  necessários  à  eterna 
iluminação  espiritual.  Não  entendem  o  ambiente  divino  da  cruz  e  procuram 
“paisagens  mentais”  distantes...  Entretanto,  chega  sempre  um  desconhecido  que 
caminha  ao  lado  dos  que  vacilam  e  fogem.  Tem  a  forma  de  um  viandante 
incompreendido,  de  um  companheiro  inesperado,  de  um  velho  generoso,  de  uma 
criança  tímida.  Sua  voz  é  diferente  das  outras,  seus  esclarecimentos  mais  firmes, 
seus apelos mais doces. 

Quem  partilha,  por  um  momento,  do  banquete  da  cruz,  jamais  poderá 
olvidá­la. Muitas vezes, partirá mundo a fora, demorando­se nos trilhos escuros; no 
entanto,  minuto  virá  em  que  Jesus,  de  maneira  imprevista,  busca  esses  viajores 
transviados  e  não  os  desampara  enquanto  não  os  contempla,  seguros  e  livres,  na 
hospedaria da confiança.

108 – Fr ancisco Cândido Xavier  

96
A COROA 

“E  vestiram­no  de  púrpura,  e  tecendo  uma  coroa  de 
espinhos, lha puseram na cabeça.” 

(MARCOS, 15: 17) 

Quase  incrível  o  grau  de  invigilância  da  maioria  dos  discípulos  do 
Evangelho,  na  atualidade,  ansiosos  pela  coroa  dos  triunfos  mundanos.  Desde  longo 
tempo, as Igrejas do Cristianismo deturpado se comprazem nos grandes espetáculos, 
através  de  enormes  demonstrações  de  força  política.  E  forçoso  é  reconhecer  que 
grande  número  das  agremiações  espiritistas  cristãs,  ainda  tão  recentes  no  mundo, 
tendem às mesmas inclinações. 

Individualmente,  os  prosélitos  pretendem  o  bem­estar,  o  caminho  sem 
obstáculos,  as  considerações  honrosas  do  mundo,  o  respeito  de  todos,  o  fiel 
reconhecimento  dos  elevados  princípios  que  esposaram  na  vida,  por  parte  dos 
estranhos.  Quando  essa  bagagem  de  facilidades  não  os  bafeja no  serviço  edificante, 
sentem­se perseguidos, contrariados, desditosos. 

Mas... e o Cristo? Não bastaria o quadro da coroa de espinhos para atenuar­ 
nos a inquietação? 

Naturalmente que o Mestre trazia consigo a Coroa da Vida; entretanto, não 
quis  perder  a  oportunidade  de  revelar  que  a  coroa  da  Terra  ainda  é  de  espinhos,  de 
sofrimento  e  trabalho  incessante  para  os  que  desejem  escalar  a  montanha  da 
Ressurreição  Divina.  Ao  tempo  em  que  o  Senhor  inaugurou  a  Boa  Nova  entre  os 
homens, os romanos coroavam­se de rosas; mas, legando­nos a sublime lição, Jesus 
dava­nos  a  entender  que  seus  discípulos  fiéis  deveriam  contar  com  distintivos  de 
outra natureza.

109 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel) 

97
AMAS O BASTANTE? 

“Perguntou­lhe  terceira  vez:  Simão,  filho  de  J onas, 
amas­me?” 

(JOÃO, 21: 17) 

Aos aprendizes menos avisados é estranhável que Jesus houvesse indagado 
do apóstolo, por três vezes, quanto à segurança de seu amor. O próprio Simão Pedro, 
ouvindo  a  interrogação  repetida,  entristecera­se,  supondo  que  o  Mestre  suspeitasse 
de seus sentimentos mais íntimos. 

Contudo, o ensinamento é mais profundo. 
Naquele  instante,  confiava­lhe  Jesus  o  ministério  da  cooperação  nos 
serviços  redentores.  O  pescador  de  Cafarnaum  ia  contribuir  na  elevação  de  seus 
tutelados do mundo, ia apostolizar, alcançando valores novos para a vida eterna. 
Muito  significativa,  portanto,  a  pergunta  do  Senhor  nesse  particular.  Jesus 
não  pede  informação  ao  discípulo,  com  respeito  aos  raciocínios  que  lhe  eram 
peculiares, não deseja inteirar­se dos conhecimentos do colaborador, relativamente a 
Ele,  não  reclama  compromisso  formal.  Pretende  saber  apenas  se  Pedro  o  ama, 
deixando  perceber  que,  com  o  amor,  as  demais  dificuldades  se  resolvem.  Se  o 
discípulo  possui  suficiente  provisão  dessa  essência  divina,  a  tarefa  mais  dura 
converte­se em apostolado de bênçãos promissoras. 
É  imperioso,  desse  modo,  reconhecer  que  as  tuas  conquistas  intelectuais 
valem  muito,  que  tuas  indagações  são  louváveis,  mas  em  verdade  somente  serás 
efetivo e eficiente cooperador do Cristo se tiveres amor.

110 – Fr ancisco Cândido Xavier  

98
CAPAS 

“E  ele, lançando  de  si  a  sua  capa,  levantou­se  e foi  ter 
com J esu s.”  

(MARCOS, 10: 50) 

O  Evangelho  de  Marcos  apresenta  interessante  notícia  sobre  a  cura  de 
Bartimeu, o cego de Jericó. 

Para  receber  a  bênção  da  divina  aproximação,  lança  fora  de  si  a  capa, 
correndo  ao  encontro  do  Mestre,  alcançando  novamente  a  visão  para  os  olhos 
apagados e tristes. 

Não residirá nesse ato precioso símbolo? 
As  pessoas  humanas  exibem  no  mundo  as  capas  mais  diversas.  Existem 
mantos  de  reis  e  de  mendigos.  Há  muitos  amigos  do  crime  que  dão  preferência  a 
“capas  de  santos”.  Raros  os  que  não  colam  ao  rosto  a  máscara  da  própria 
conveniência.  Alega­se  que  a  luta  humana  permanece  repleta  de  requisições 
variadas,  que  é  imprescindível  atender  à  movimentação  do  século;  entretanto,  se 
alguém  deseja  sinceramente  a  aproximação  de  Jesus,  para  a  recepção  de  benefícios 
duradouros, lance fora de si a capa do mundo transitório e  apresente­se ao Senhor, 
tal  qual  é,  sem  a  ruinosa  preocupação  de  manter  a  pretensa  intangibilidade  dos 
títulos  efêmeros,  sejam  os  da  fortuna  material  ou  os  da  exagerada  noção  de 
sofrimento.  A  manutenção  de  falsas  aparências,  diante  do  Cristo  ou  de  seus 
mensageiros,  complica  a  situação  de  quem  necessita.  Nada  peças  ao  Senhor  com 
exigências ou alegações descabidas. Despe a tua capa mundana e apresenta­te a Ele, 
sem mais nem menos.

111 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel) 

99
PROMETER 

“Prometendo­lhes  liberdade,  sendo  eles  mesmos  servos 
da corrupção.” 

(I PEDRO, 2: 19) 

É  indispensável  desconfiar  de  todas  as  promessas  de  facilidades  sobre  o 
mundo. 

Jesus,  que  podia  abrir  os  mais  vastos  horizontes  aos  olhos  assombrados  da 
criatura,  prometeu­lhe  a  cruz  sem  a  qual  não  poderia  afastar­se  da  Terra  para 
colocar­se ao seu encontro. 

Em  toda  parte,  existem  discípulos  descuidados  que  aceitam  o  logro  de 
aventureiros  inconscientes.  É  que  ainda  não  aprenderam  a  lição  viva  do  trabalho 
próprio a que foram chamados para desenvolver atividade particular. 

Os  fazedores  de  revoluções  e  os  donos  de  projetos  absurdos  prometem 
maravilhas.  Mas,  se  são  vítimas  da  ambição,  servos  de  propósitos  inferiores, 
escravos de terríveis enganos, como poderão realizar para os outros a liberdade ou a 
elevação de que se conservam distantes? 

Não  creias  em  salvadores  que  não  demonstrem  ações  que  confirmem  a 
salvação de si mesmos. 

Deves  saber  que  foste  criado  para  gloriosa  ascensão,  mas  que  só  é  fácil 
descer.  Subir  exige  trabalho,  paciência,  perseverança,  condições  essenciais  para  o 
encontro do amor e da sabedoria. 

Se  alguém  te  fala  em  valor  das  facilidades,  não  acredites;  é  possível  que  o 
aventureiro esteja descendo. 

Mas  quando  te  façam  ver  perspectivas  consoladoras,  através  do  suor  e  do 
esforço  pessoal,  aceita  os  alvitres  com  alegria.  Aquele  que  compreende  o  tesouro 
oculto nos  obstáculos,  e  dele  se  vale  para  enriquecer  a  vida,  está  subindo  e  é  digno 
de ser seguido.

112 – Fr ancisco Cândido Xavier  

100
AUXÍLIOS DO INVISÍVEL 

“E,  depois  de  passarem  a  primeira  e  segunda  guarda, 
ch ega r am  à  por ta  de  fer r o,  qu e  dá   pa r a   a   cida de,  a  qu a l  se  lhes 
abriu por si mesma; e, tendo saído, percorreram uma rua e logo 
o anjo se apartou dele.” 

(ATOS, 12: 10) 

Os homens esperam sempre ansiosamente o auxílio do plano espiritual. Não 
importa o nome pelo qual se designe esse amparo. Na essência é invariavelmente o 
mesmo,  embora  seja  conhecido  entre  os  espiritistas  por  “proteção  dos  guias”  e  nos 
círculos protestantes por “manifestações do Espírito Santo”. 

As  denominações  apresentam  interesse  secundário.  Essencial  é 
considerarmos  que  semelhante  colaboração  constitui  elemento  vital  nas  atividades 
do crente sincero. 

No entanto, a contribuição recebida por Pedro, no cárcere, representa lição 
para todos. 

Sob cadeias pesadíssimas, o pescador de Cafarnaum vê aproximar­se o anjo 
do Senhor, que o liberta, atravessa em sua companhia os primeiros perigos na prisão, 
caminha ao lado do mensageiro, ao longo de uma rua; contudo, o emissário afasta­ 
se,  deixando­o  novamente  entregue  à  própria  liberdade,  de  maneira  a  não 
desvalorizar­lhe as iniciativas. 

Essa exemplificação é típica. 
Os  auxílios  do  invisível  são  incontestáveis  e  jamais  falham  em  suas 
multiformes expressões, no momento oportuno; mas é imprescindível não se vicie o 
crente  com  essa  espécie  de  cooperação,  aprendendo a  caminhar  sozinho,  usando  a 
independência  e  a  vontade  no  que  é  justo  e  útil,  convicto  de  que  se  encontra  no 
mundo para aprender, não lhe sendo permitido reclamar dos instrutores a solução de 
problemas necessários à sua condição de aluno.

113 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel) 

101
TUDO EM DEUS 

“Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma.” 

Jesus (JOÃO, 5: 30) 

Constitui  ótimo  exercício  contra  a  vaidade  pessoal  a  meditação  nos  fatores 
transcendentes que regem os mínimos fenômenos da vida. 

O homem nada pode sem Deus. 
Todos  temos  visto  personalidades  que  surgem  dominadoras  no  palco 
terrestre,  afirmando­se  poderosas  sem  o  amparo  do  Altíssimo;  entretanto,  a  única 
realização que conseguem efetivamente é a dilatação ilusória pelo sopro do mundo, 
esvaziando­se aos primeiros contactos com as verdades divinas. 
Quando  aparecem,  temíveis,  esses  gigantes  de  vento  espalham  ruínas 
materiais  e  aflições  de  espírito;  todavia,  o  mesmo  mundo  que  lhes  confere  pedestal 
projeta­os  no  abismo  do  desprezo  comum;  a  mesma  multidão  que  os  assopra 
incumbe­se de repô­los no lugar que lhes compete. 
Os  discípulos  sinceros  não  ignoram  que  todas  as  suas  possibilidades 
procedem do Pai amigo e sábio, que as oportunidades de edificação na Terra, com a 
excelência  das  paisagens,  recursos  de  cada  dia  e  bênçãos  dos  seres  amados,  vieram 
de  Deus  que  os  convida,  pelo  espírito  de  serviço,  a  ministérios  mais  santos;  agirão, 
desse  modo,  amando  sempre,  aproveitando  para  o  bem  e  esclarecendo  para  a 
verdade,  retificando  caminhos  e  acendendo  novas  luzes,  porque  seus  corações 
reconhecem  que  nada  poderão  fazer  de  si  próprios  e  honrarão  o  Pai,  entrando  em 
santa cooperação nas suas obras.

114 – Fr ancisco Cândido Xavier  

102
O CRISTÃO E O MUNDO 

“Primeiro a  erva,  depois  a  espiga e,  por  último,  o  grão 
cheio na espiga.” 

Jesus (MARCOS, 4: 28) 

Ninguém  julgue  fácil  a  aquisição  de  um  título  referente  à  elevação 
espiritual.  O  Mestre  recorreu  sabiamente  aos  símbolos  vivos  da  Natureza, 
favorecendo­nos a compreensão. 

A  erva  está  longe  da  espiga,  como  a  espiga  permanece  distanciada  dos 
grãos maduros. 

Nesse  capítulo,  o  mais  forte  adversário  da  alma  que  deseja  seguir  o 
Salvador, é o próprio mundo. 

Quando  o  homem  comum  descansa  nas  vulgaridades  e  inutilidades  da 
existência terrestre, ninguém lhe examina os passos. Suas atitudes não interessam a 
quem  quer  que  seja.  Todavia,  em  lhe  surgindo  no  coração  a  erva  tenra  da  fé 
retificadora, sua vida passa a constituir objeto de curiosidade para a multidão. 

Milhares  de  olhos,  que  o  não  viram  quando  desviado  na  ignorância  e  na 
indiferença,  seguem­lhe,  agora,  os  gestos  mínimos  com  acentuada  vigilância.  O 
pobre  aspirante  ao  título  de  discípulo  do  Senhor  ainda  não  passa  de  folhagem 
promissora e já lhe reclamam espigas das obras celestes; conserva­se ainda longe da 
primeira  penugem  das  asas  espirituais  e  já  se  lhe  exigem  vôos  supremos  sobre  as 
misérias humanas. 

Muitos aprendizes desanimam e voltam para o lodo, onde os companheiros 
não os vejam. 

Esquece­se  o  mundo  de  que  essas  almas  ansiosas  ainda  se  acham  nas 
primeiras  esperanças  e,  por  isso  mesmo,  em  disputas  mais  ásperas  por  rebentar  o 
casulo das paixões inferiores na aspiração de subir; dentro da velha ignorância, que 
lhe  é  característica,  a  multidão  só  entende  o  homem  na  animalidade  em  que  se 
compraz  ou,  então,  se  o  companheiro  pretende  elevar­se,  lhe  exige,  de  pronto, 
credenciais positivas do céu, olvidando que ninguém pode trair o tempo ou enganar 
o espírito de seqüência da Natureza. 

Resta  ao  cristão  cultivar  seus  propósitos  sublimes  e  ouvir  o  Mestre: 
Primeiro a erva, depois a espiga e, por último, o grão cheio na espiga.

115 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel) 

103
ESTIMA DO MUNDO 

“Se  chamaram  Belzebu  ao  pai  de  família,  quanto  mais 
aos seus domésticos?” 

Jesus (MATEUS, 10: 25) 

Muitos  discípulos  do  Evangelho  existem,  ciosos  de  suas  predileções  e 
pontos de vista, no campo individual. 

Falsas concepções ensombram­lhes o olhar. 
Quase  sempre  se inquietam  pelo reconhecimento  público  das  virtudes  que 
lhes exornam o caráter, guardam o secreto propósito de obter a admiração de todos e 
sentem­se  prejudicados  se  as  autoridades  transitórias  do  mundo  não  lhes  conferem 
apreço. 
Agem esquecidos de que o Reino de Deus não vem com aparência exterior; 
não  percebem  que,  por  enquanto,  somente  os  vultos  destacados,  nas  vanguardas 
financeiras  ou  políticas,  arvoram­se  em  detentores  de  prerrogativas  terrestres, 
senhores quase absolutos das homenagens pessoais e dos necrológios brilhantes. 
Os filhos do Reino Divino sobressaem raramente e, de modo geral, enchem 
o  mundo  de  benefícios  sem  que  o  homem  os  veja,  à  feição  do  que  ocorre  com  o 
próprio Pai. 
Se Jesus foi chamado feiticeiro, crucificado como malfeitor e arrebatado de 
sua  amorosa  missão  para  o  madeiro  afrontoso,  que  não  devem  esperar  seus 
aprendizes sinceros, quando verdadeiramente devotados à sua causa? 
O  discípulo  não  pode  ignorar  que  a  permanência  na  Terra  decorre  da 
necessidade  de  trabalho  proveitoso  e  não  do  uso  de  vantagens  efêmeras  que,  em 
muitos casos, lhe anulariam a capacidade de servir. 
Se  a  força humana  torturou  o  Cristo, não  deixará  de  torturá­lo  também. É 
ilógico disputar a estima de um mundo que, mais tarde, será compelido a regenerar­ 
se para obter a redenção.

116 – Fr ancisco Cândido Xavier  

104
A ESPADA SIMBÓLICA 

“Não  cuideis  que  vim  trazer  a  paz  à  Terra;  não  vim 
trazer a paz, mas a espada.” 

Jesus (MATEUS, 10: 34) 

Inúmeros  leitores  do  Evangelho  perturbam­se  ante  essas  afirmativas  do 
Mestre Divino, porquanto o conceito de paz, entre os homens, desde muitos séculos 
foi  visceralmente  viciado.  Na  expressão  comum,  ter  paz  significa  haver  atingido 
garantias exteriores, dentro das quais possa o corpo vegetar sem cuidados, rodeando­ 
se  o  homem  de  servidores,  apodrecendo  na  ociosidade  e  ausentando­se  dos 
movimentos da vida. 

Jesus não poderia endossar tranqüilidade desse jaez, e, em contraposição ao 
falso princípio estabelecido no mundo, trouxe consigo a luta regeneradora, a espada 
simbólica  do  conhecimento  interior  pela  revelação  divina,  a  fim  de  que  o  homem 
inicie a batalha do aperfeiçoamento em si mesmo. O Mestre veio instalar o combate 
da redenção  sobre  a  Terra.  Desde  o  seu  ensinamento  primeiro,  foi  formada a  frente 
da batalha sem sangue, destinada à iluminação do  caminho humano. E Ele mesmo 
foi o primeiro a inaugurar o testemunho pelos sacrifícios supremos. 

Há  quase  vinte  séculos  vive  a  Terra  sob  esses  impulsos  renovadores,  e  ai 
daqueles que dormem, estranhos ao processo santificante! 

Buscar a mentirosa paz da ociosidade é desviar­se da luz, fugindo à vida e 
precipitando a morte. 

No entanto, Jesus é também chamado o Príncipe da Paz. 
Sim,  na  verdade  o  Cristo  trouxe  ao  mundo  a  espada  renovadora  da  guerra 
contra o mal, constituindo em si mesmo a divina fonte de repouso aos corações que 
se  unem  ao  seu  amor;  esses,  nas  mais  perigosas  situações  da  Terra,  encontram, 
n’Ele,  a  serenidade  inalterável.  É  que  Jesus  começou  o  combate  de  salvação para  a 
Humanidade, representando, ao  mesmo  tempo,  o  sustentáculo  da  paz  sublime  para 
todos os homens bons e sinceros.

117 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel) 

105
NEM TODOS 

“E  aconteceu  que,  quase  oito  dias  depois  destas 
palavras,  tomou  consigo  a Pedro,  a  J oão  e  a  Tiago,  e  subiu  ao 
monte a orar.” 

(LUCAS, 9: 28) 

Digna de notar­se a atitude do Mestre, convidando apenas Simão e os filhos 
de Zebedeu para presenciarem a sublime manifestação do  monte, quando Moisés  e 
outro  emissário  divino  estariam  em  contacto  direto  com  Jesus,  aos  olhos  dos 
discípulos. 

Por que não convocou os demais companheiros? 
Acaso  Filipe  ou  André  não  teriam  prazer  na  sublime  revelação?  Não  era 
Tomé um companheiro indagador, ansioso por equações  espirituais? No entanto, o 
Mestre  sabia  a  causa  de  suas  decisões  e  somente  Ele  poderia  dosar, 
convenientemente, as dádivas do conhecimento superior. 
O  fato  deve  ser  lembrado  por  quantos  desejem  forçar  a  porta  do  plano 
espiritual. 
Certo,  o  intercâmbio  com  esse  ou  aquele  núcleo  de  entidades  do  Além  é 
possível,  mas  nem  todos  estão  preparados,  a  um  só  tempo,  para  a  recepção  de 
responsabilidades ou benefícios. 
Não  se  confia,  imprudentemente,  um aparelho  de  produção  preciosa,  cujo 
manejo  dependa  de  competência  prévia, ao  primeiro  homem  que  surja,  tomado  de 
bons  desejos.  Não  se  atraiçoa  impunemente  a  ordem  natural.  Nem  todos  os 
aprendizes e estudiosos receberão do Além, num pronto, as grandes revelações. 
Cada  núcleo  de  atividade  espiritualizante  deve  ser  presidido  pelo  melhor 
senso  de  harmonia,  esforço  e  afinidade.  Nesse  mister,  além  das  boas  intenções  é 
indispensável a apresentação da ficha de bons trabalhos pessoais. E, no mundo, toda 
gente  permanece  disposta  a  querer  isso  ou  aquilo,  mas  raríssimas  criaturas  se 
prontificam a servir e a educar­se.

118 – Fr ancisco Cândido Xavier  

106
DAR 

“ E  dá   a   qu alqu er   que  te  pedir ;   e,  a o  que  toma r   o  qu e  é 
teu, não lho tornes a pedir.” 

Jesus (LUCAS, 6: 30) 

O ato de dar é dos mais sublimes nas operações da vida; entretanto, muitos 
homens são displicentes e incompreensíveis na execução dele. 

Alguns distribuem esmolas levianamente, outros se esquecem da vigilância, 
entregando seu trabalho a malfeitores. 

Jesus  é  nosso  Mestre  nas  ocorrências  mínimas.  E  se  ouvimo­lo 
recomendando estejamos prontos a dar “a qualquer” que pedir, vemo­lo atendendo a 
todas as criaturas do seu caminho, não de acordo com os caprichos, mas segundo as 
necessidades. 

Concedeu  bem­aventuranças  aos  aflitos  e  advertências  aos  vendilhões. 
Certo,  os  mercadores  de  má­fé,  no  íntimo,  rogavam­lhe  a  manutenção  do  “statu 
quo”, mas sua resposta foi eloqüente. Deu alegrias nas bodas de Caná e repreensões 
em assembléias dos discípulos. Proporcionou a cada situação e a cada personalidade 
o que necessitavam e, quando os ingratos lhe tomaram o direito da própria vida, aos 
olhos  da  Humanidade,  não  voltou  o  Cristo  a  pedir­lhes  que  o  deixassem  na  obra 
começada. 

Deu  tudo  o  que  se  coadunava  com  o  bem.  E  deu  com  abundância, 
salientando­se  que,  sob  o  peso  da  cruz,  conferiu  sublime  compreensão  à  ignorância 
geral,  sem  reclamação  de  qualquer  natureza,  porque  sabia  que  o  ato  de  dar  vem  de 
Deus e nada mais sagrado que colaborar com o Pai que está nos céus.

119 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel) 

107
VINDA DO REINO 

“O reino de Deus não vem com aparência exterior.” 

Jesus (LUCAS, 17: 20) 

Os  agrupamentos  religiosos  no  mundo  permanecem,  quase  sempre, 
preocupados  pelas  conversões  alheias.  Os  crentes  mais  entusiastas  anseiam  por 
transformar  as  concepções  dos  amigos.  Em  vista  disso,  em  toda  parte  somos 
defrontados  por  irmãos  aflitos  pela  dilatação  do  proselitismo  em  seus  círculos  de 
estudo. 

Semelhante  atividade  nem  sempre  é  útil,  porquanto,  em  muitas  ocasiões, 
pode perturbar elevados projetos em realização. 

Afirma  Jesus  que  o  Reino  de  Deus  não  vem  com  aparência  exterior.  É 
sempre ruinosa a preocupação por demonstrar pompas e números vaidosamente, nos 
grupos da fé. Expressões transitórias de poder humano não atestam o Reino de Deus. 
A  realização  divina  começará  do  íntimo  das  criaturas,  constituindo gloriosa  luz  do 
templo  interno.  Não  surge  à  comum  apreciação,  porque  a  maioria  dos  homens 
transitam  semi­cegos,  através  do  túnel  da  carne,  sepultando  os  erros  do  passado 
culposo. 

A carne é digna e venerável, pois é vaso de purificação, recebendo­nos para 
o  resgate  preciso;  entretanto,  para  os  espíritos  redimidos  significa  “morte”  ou 
“transformação  permanente”.  O  homem  carnal,  em  vista  das  circunstâncias  que  lhe 
governam  o  esforço,  pode  ver  somente  o  que  está  “morto”  ou  aquilo  que  “vai 
morrer”. O Reino de Deus, porém, divino e imortal, escapa naturalmente à visão dos 
humanos.













126 – Fr ancisco Cândido Xavier  

114
AS CARTAS DO CRISTO 

“Porque  já  é  manifesto  que  sois  a  carta  do  Cristo, 
ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito 
de Deus Vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne 
do coração.” 

Paulo (I CORÍNTIOS, 3: 3) 

É  singular  que  o  Mestre  não  haja  legado  ao  mundo  um  compêndio  de 
princípios escritos pelas próprias mãos. 

As  figuras  notáveis  da  Terra  sempre  assinalam  sua  passagem  no  planeta, 
endereçando à posteridade a sua mensagem de sabedoria e amor, seja em tábuas de 
pedra, seja em documentos envelhecidos. 

Com Jesus, porém, o processo não foi o mesmo. 
O  Mestre  como  que  fez  questão  de  escrever  sua  doutrina  aos  homens, 
gravando­a  no  coração  dos  companheiros  sinceros.  Seu  testamento  espiritual 
constitui­se de ensinos aos discípulos e não foram grafados por ele mesmo. 
Recursos humanos seriam insuficientes para revelar a riqueza eterna de sua 
Mensagem.  As  letras  e  raciocínios,  propriamente  humanos,  na  maioria  das  vezes 
costumam  dar  margem  a  controvérsias.  Em  vista  disso,  Jesus  gravou  seus 
ensinamentos  nos  corações  que  o  rodeavam  e  até  hoje  os  aprendizes  que  se  lhe 
conservam fiéis são as suas cartas divinas dirigidas à Humanidade. 
Esses  documentos  vivos  do  santificante  amor  do  Cristo  palpitam  em  todas 
as  religiões  e  em  todos  os  climas.  São  os  vanguardeiros  que  conhecem  a  vida 
superior,  experimentam  o  sublime  contacto  do  Mestre  e  transformam­se  em  sua 
mensagem para os homens. 
Podem  surgir  muitas  contendas  em  torno  das  páginas  mais  célebres  e 
formosas; todavia, perante a alma que se converteu em carta viva do Senhor, quando 
não haja vibrações superiores da compreensão, haverá sempre o divino silêncio.

127 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel) 

115
EMBAIXADORES DO CRISTO 

“De sorte que somos embaixadores da parte do Cristo.” 

Paulo (I CORÍNTIOS, 5: 20) 

Na  catalogação  dos  valores  sociais,  todo  homem  de  trabalho  honesto  é 
portador de determinada delegação. 

Se  os  políticos  e  administradores  guardam responsabilidades  do  Estado,  os 
operários recebem encargos naturais das oficinas a que emprestam seus esforços. 

Cada homem de bem é mensageiro do centro de realizações onde atende ao 
movimento da vida, em atividade enobrecedora. 

As  ruas  estão  cheias  de  emissários  das  repartições,  das  fábricas,  dos 
institutos,  dos  órgãos  de  fiscalização,  produção,  amparo  e  ensino,  cujos  interesses 
conjugados operam a composição da harmonia social. 

É necessário, contudo, não esquecermos que os  valores da vida eterna não 
permaneceriam no mundo sem representantes. 

Cristo possui embaixadores permanentes em seus discípulos sinceros. 
Importa considerar que na presente afirmativa de Paulo de Tarso não vemos 
alusão ao sacerdócio presunçoso. 
Todos  os  colaboradores  leais  de  Jesus,  em qualquer  situação  da  vida  e no 
lugar  mais  longínquo  da  Terra,  são  conhecidos  na  sede  espiritual  dos  serviços 
divinos.  É  com  eles,  cooperadores  devotados  e  muita  vez  desconhecidos  dos 
beneficiários  do  mundo,  que  se  movimenta  o  Mestre,  cada  dia,  estendendo  o 
Evangelho aplicado entre as criaturas terrestres, até a vitória final. 
Entendendo  esta  verdade,  consulta  as  próprias  tendências,  atos  e 
pensamentos.  Repara  a  quem  serves,  porque,  se  já  recebeste  a  Boa  Nova  da 
Redenção, é tempo de te tornares embaixador de sua luz.

128 – Fr ancisco Cândido Xavier  

116
AGIR DE ACORDO 

“Confessam que conhecem a Deus, mas negam­no com 
a s  obr a s,  sen do  a bomin áveis  e  desobedien tes,  e  r epr ova dos  pa r a  
toda boa obra.” 

Paulo. (TITO, 1: 16) 

O  Espiritismo,  em  sua  feição  de  Cristianismo  redivivo,  tem  papel  muito 
mais  alto  que  o  de  simples  campo  para  novas  observações  técnicas  da  ciência 
instável do mundo. 

A  Terra,  até  agora,  no  que  se  refere  às  organizações  religiosas,  tem  vivido 
repleta  dos  que  confessam  a  existência  de  Deus,  negando­O,  porém,  através  das 
obras individuais. 

O  intercâmbio  dos  dois  mundos,  visível  e  invisível,  de  maneira  direta 
objetiva  esse  reajustamento  sentimental,  para  que  a  luz  divina  se  manifeste  nas 
relações comuns dos homens. 

Como  conciliar  o  conhecimento  de  Deus  com  o  menosprezo  aos 
semelhantes? 

As  antigas  escolas  religiosas,  à  força  de  se  arregimentarem  como 
agrupamentos  políticos  do  mundo,  sob  o  controle  do  sacerdócio,  acabaram  por 
estagnar  os  impulsos  da  fé,  em  exterioridades  que  aviltam  as  forças  vivas  do 
espírito. 

A  doutrina  consoladora  da  sobrevivência  e  da  comunicação  entre  os 
habitantes  da  Terra  e  do  Infinito,  com  bases  profundas  e  amplas  no  Evangelho, 
floresce entre as criaturas com características de nova revelação, para que o homem 
seja, nas atividades vulgares, real afirmação do bem que nasce da fé viva.

129 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel) 

117
TERRA PROVEITOSA 

“Porque  a  terra  que  embebe  a  chuva,  que  cai  muitas 
vezes sobre ela, e produz erva proveitosa para aqueles por quem 
é lavrada, recebe a bênção de Deus.” 

Paulo (HEBREUS, 6: 7) 

Os  discípulos  do  Cristo  encontrarão  sempre  grandes  lições,  em  contacto 
com o livro da Natureza. 

O  convertido  de  Damasco  refere­se  aqui  à  terra  proveitosa  que  produz 
abundantemente,  embebendo­se  da  chuva  que  cai,  incessante,  na  sua  superfície, 
representando o vaso predileto de recepção das bênçãos de Deus. 

Transportemos  o  símbolo  ao  país  dos  corações.  Somente  aqueles  espíritos, 
atentos aos benefícios espirituais, que chovem diariamente do céu, são suscetíveis de 
produzir as utilidades do serviço divino, guardando as bênçãos do Senhor. 

Não  que  o  Pai  estabeleça  prerrogativas  injustificáveis.  Sua  proteção 
misericordiosa estende­se a todos, indistintamente, mas nem todos a recebem, isto é, 
inúmeras  criaturas  se  fecham  no  egoísmo  e  na  vaidade,  envolvendo  o  coração  em 
sombras densas. 

Deus  dá  em  todo  tempo,  mas  nem  sempre  os  filhos  recebem,  de  pronto,  as 
dádivas  paternais.  Apenas  os  corações  que  se  abrem  à  luz  espiritual,  que  se  deixam 
embeber pelo orvalho divino, correspondem ao ideal do Lavrador Celeste. 

O Altíssimo é o Senhor do Universo, sumo dispensador de bênçãos a todas 
as criaturas. No planeta terreno, Jesus é o Sublime Cultivador. O coração humano é 
a terra. 

Cumpre­nos, portanto, compreender que não se lavra o solo sem retificá­lo 
ou sem feri­lo e que somente a terra tratada produzirá erva proveitosa, alimentando e 
beneficiando na Casa de Deus, atendendo, destarte, a esperança do horticultor.

130 – Fr ancisco Cândido Xavier  

118
O PARALÍTICO 

“E  não  podendo  aproximar­se  dele,  por  causa  da 
multidão,  destelharam  a  casa  onde  Jesus  estava  e,  feita  uma 
abertura, baixaram o leito em que jazia o paralitico.” 

(MARCOS, 2: 4) 

Muitas  pessoas  confessam  sua necessidade  do  Cristo, mas freqüentemente 
alegam obstáculos que lhes impedem a sublime aproximação. 

Uns  não  conseguem  tempo  para  a  meditação,  outros  experimentam  certas 
inquietudes que lhes parecem intermináveis. 

Todavia,  para que nos  sintamos na  vizinhança  do  Mestre, como  legítimos 
interessados  em  seus  benefícios  imortais,  faz­se  imprescindível  estender  a 
capacidade, dilatar os recursos próprios e marchar ao encontro d’Ele, sob a luz da fé 
viva. 

Relata­nos  o  Evangelho  de  Marcos  a  curiosa  decisão  do  paralítico  que, 
localizando  a  casa  em  que  se  achava  o  Senhor,  plenamente  sitiada  pela  multidão, 
longe  de  perder  a  oportunidade,  amparou­se  no  auxílio  dos  amigos,  deixando­se 
resvalar  por  um  buraco,  levado  a  efeito  no  telhado,  de  maneira  a  beneficiar­se no 
contacto do Salvador, aproveitando fervorosamente o ensejo divino. 

Recorda  o  paralítico  de  Cafarnaum  e,  na  hipótese  de  encontrares  grandes 
dificuldades  para  gozar  a  presença  do  Cristo,  pelos  teus  impedimentos  de  ordem 
material,  dirige­te  para  o  Alto,  com  o  amparo  de teus  amigos  espirituais,  e  deixa­te 
cair aos seus pés divinos, recebendo forças novas que te restabeleçam a paz e o bom 
ânimo.

131 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel) 

119
GLÓRIA CRISTà

“Porque  a  nossa  glória  é  esta:  o  testemunho  da  nossa 
consciência.” 

Paulo (I CORÍNTIOS, 1: 12) 

Desde  as  tribos  selvagens,  que  precederam  a  organização  das  famílias 
humanas,  tem  sido  a  Terra  grande  palco  utilizado  na  exibição  das  glórias 
passageiras. 

A concorrência intensificou a procura de títulos honoríficos transitórios. 
O mundo desde muito conhece glórias sangrentas da luta homicida, glórias 
da avareza nos  cofres  da  fortuna morta,  do  orgulho nos  pergaminhos  brasanados  e 
inúteis,  da  vaidade  nos  prazeres  mentirosos  que  precedem  o  sepulcro;  a  ciência 
cristaliza  as  que  lhe  dizem respeito  nas  academias  isoladas;  as religiões  sectaristas 
nas pompas externas e nas expressões do proselitismo. 
Num  plano  onde  campeiam  tantas  glórias  fáceis,  a  do  cristão  é  mais 
profunda, mais difícil. A vitória do seguidor de Jesus é quase sempre no lado inverso 
dos triunfos mundanos. É o lado oculto. Raros conseguem vê­lo com olhos mortais. 
Entretanto,  essa  glória  é  tão  grande  que  o  mundo não  a  proporciona, nem 
pode  subtraí­la.  É  o  testemunho  da  consciência  própria,  transformada  em 
tabernáculo do Cristo vivo. 
No  instante  divino  dessa  glorificação,  deslumbra­se  a  alma  ante  as 
perspectivas  do  Infinito.  É  que  algo  de  estranho  aconteceu  aí  dentro,  na  cripta 
misteriosa do coração: o filho achou seu Pai em plena eternidade.

132 – Fr ancisco Cândido Xavier  

120
ZELO PRÓPRIO 

“Olhai  por  vós  mesmos,  para  que  não  percais  o  vosso 
trabalho, mas antes recebais o inteiro galardão.” 

(II JOÃO, 1: 8) 

A natureza física, não obstante a deficiência de suas expressões em face da 
grandeza  espiritual  da  vida,  fornece  vasto  repositório  de  lições,  alusivas  ao  zelo 
próprio. 

A  fim  de  que  o  Espírito  receba  o  sagrado  ensejo  de  aprender  na  Terra, 
receberá um corpo equivalente a verdadeiro santuário, Os órgãos e os sentidos são as 
suas  potências;  mas,  semelhante  tabernáculo  não  se  ergueria  sem  as  dedicações 
maternas  e,  quando  a  criatura  toma  conta  de  si,  gastará  grande  percentagem  de 
tempo  na limpeza,  conservação  e  defesa  do  templo  de  carne  em  que  se  manifesta. 
Precisará cuidar da epiderme, da boca, dos olhos, das mãos, dos ouvidos. 

Que  acontecerá  se  algum  departamento  do  corpo  for  esquecido? 
Excrescências e sujidades trarão veneno à vida. 

Se  o  quadro  fisiológico,  passageiro  e  mortal,  exige  tudo  isso,  que  não 
requer de nossa dedicação o Espírito com os seus valores eternos? 

Se já recebeste alguma luz, desvela­te em não perdê­la. 
Intensifica­a em ti. 
Lava  os  teus  pensamentos  em  esforço  diário,  nas  fontes  do  Cristo;  corrige 
os teus sentimentos, renova as aspirações colocando­as na direção de Mais Alto. 
Não te cristalizes. 
Movimenta­te no trabalho do zelo próprio, pois há “micróbios intangíveis” 
que podem atacar a alma e paralisá­la durante séculos.

133 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel) 

121
ESPINHEIROS 

“Nem se vindimam uvas dos abrolhos.” 

Jesus (LUCAS, 6: 44) 

O cristão é um combatente ativo. 
Despertando no campo do Senhor, aturde­se­lhe a visão com a amplitude e 
complexidade do trabalho. 
Dificuldades, tropeços, cipoais, ervas daninhas... 
E o Evangelho, com propriedade de conceituação, elucida que não se pode 
vindimar nos espinheiros. 
Entretanto,  teria  Jesus  assumido  a  paternidade  de  semelhante  afirmativa 
para que cruzemos os braços em falsa beatitude? 
Se  o  terreno  permanece  absorvido  pelos  abrolhos,  o  discípulo  recebeu 
inúmeras ferramentas do Mestre dos mestres. 
Indispensável, pois, enfrentar o serviço. 
O Cristo encarou, face a face, o sacrifício pela Humanidade inteira. 
Será  a  existência  de  alguns  espinheiros  a  causa  de  nossos  obstáculos 
insuperáveis? 
Não.  Se  hoje  é  impossível  a  vindima,  ataquemos  o  chão  duro.  Lavremos  o 
solo árido. Adubemos com suor e lágrimas. 
Haverá  sempre  chuvas  fecundantes  do  Céu  ou  generosos  mananciais  da 
Terra, abençoando­nos o esforço. 
A Divina Providência reside em toda parte. Não olvidemos o imperativo do 
trabalho  e,  depois,  em  lugar  dos  abrolhos,  colheremos  o  fruto  suave  e  doce  da 
videira.

134 – Fr ancisco Cândido Xavier  

122
FRUTOS 

“Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.” 

Jesus (MATEUS. 7: 20) 

O  mundo  atual,  em  suas  elevadas  características  de  inteligência,  reclama 
frutos para examinar as sementes dos princípios. 

O cristão, em razão disso, necessita aprender com a boa árvore que recebe 
os  elementos  da  Providência  Divina,  através  da  seiva,  e  converte­os  em  utilidades 
para as criaturas. 

Convém o esforço de auto­análise, a fim de identificarmos a qualidade das 
próprias ações. 

Muitas  palavras  sonoras  proporcionam  simplesmente  a  impressão  daquela 
figueira condenada. 

É  indispensável  conhecermos  os  frutos  de nossa  vida,  de  modo  a  saber  se 
beneficiam os nossos irmãos. 

A  vida  terrestre  representa  oportunidade  vastíssima,  cheia  de  portas  e 
horizontes para a eterna luz. 

Em  seus  círculos,  pode  o  homem  receber  diariamente  a  seiva  do  Alto, 
transformando­a em frutos de natureza divina. 

Indiscutivelmente,  a  atualidade  reclama  ensinos  edificantes,  mas  nada 
compreenderá  sem  demonstrações  práticas,  mesmo  porque,  desde  a  antigüidade, 
considera  a  sabedoria  que  a  realização  mais  difícil  do homem,  na  esfera  carnal,  é 
viver e morrer fiel ao supremo bem.

135 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel) 

123
ESPERAR EM CRISTO 

“Se  esperamos  em  Cristo  só  nesta  vida,  somos  os  mais 
miseráveis de todos os homens.” 

(I CORÍNTIOS, 15: 19) 

O exame do versículo fornece ao estudioso explicações muito claras. 
É natural confiar em Cristo e aguardar n’Ele, mas que dizer da angústia da 
alma  atormentada  no  círculo  de  cuidados  terrestres,  esperando  egoisticamente  que 
Jesus lhe venha satisfazer os caprichos imediatos? 
Seria  razoável  contar  com  o  Senhor  tão­só  nas  expressões  passageiras  da 
vida fragmentária? 
É indispensável descobrir a grandeza do conceito de “vida”, sem confundi­ 
lo com “uma vida”. 
Existir  não  é  viajar  da  zona  de  infância,  com  escalas  pela  juventude, 
madureza e velhice, até ao porto da morte; é participar da Criação pelo sentimento e 
pelo raciocínio, é ser alguém e alguma coisa no concerto do Universo. 
Na  condição  de  encarnados,  raros  assuntos  confundem  tanto  como  os  da 
morte,  interpretada  erroneamente  como  sendo  o  fim  daquilo  que  não  pode 
desaparecer. 
É  imprescindível,  portanto,  esperar  em  Cristo  com  a  noção  real  da 
eternidade. A filosofia do imediatísmo, na Terra, transforma os homens em crianças. 
Não  vos  prendais  à  idade  do  corpo  físico,  às  circunstâncias  e  condições 
transitórias. Indagai da própria consciência se permaneceis com Jesus. E aguardai o 
futuro, amando e realizando com o bem, convicto de que a esperança legítima não é 
repouso e, sim, confiança no trabalho incessante

136 – Fr ancisco Cândido Xavier  

124
FIRMEZA DE FÉ 

“E os que estão sobre a pedra, estes são os que, ouvindo 
a  palavra,  recebem­na  com  alegria;  mas,  como  não  têm  raiz, 
apenas  crêem  por  algum  tempo,  e,  na  época  da  tentação,  se 
desviam.” 

Jesus (LUCAS, 8: 13) 

A  palavra  “pedra”,  entre  nós,  costuma  simbolizar  rigidez  e  impedimento; 
no entanto, convém não esquecer  que Jesus, de  vez em quando, a ela recorria para 
significar a firmeza. Pedro foi chamado pelo Mestre, certa vez, a “rocha viva da fé”. 

O  Evangelho  de  Lucas  fala­nos  daqueles  que  estão  sobre  pedra,  os  quais 
receberão a palavra com alegria, mas que, por ausência de raiz, caem, fatalmente, na 
época das tentações. 

Não  são  poucos  os  que  estranham  essa  promessa  de  tentações,  que,  aliás, 
devem ser consideradas como experiências imprescindíveis. 

Na  organização  doméstica,  os  pais  cuidarão  excessivamente  dos  filhos,  em 
pequeninos,  mas  a  demasia  de  ternura  é  imprópria  no  tempo  em  que  necessitam 
demonstrar o esforço de si mesmos. 

O  chefe  de  serviço  ensinará  os  auxiliares  novos  com  paciência  e,  depois, 
exigirá, com justiça, expressões de trabalho próprio. 

Reconhecemos,  assim,  pelo  apontamento  de  Lucas,  que  nas  experiências 
religiosas não é aconselhável repousar alguém sobre a firmeza espiritual dos outros; 
enquanto  o  imprevidente  descansa  em  bases  estranhas,  provavelmente  estará 
tranqüilo,  mas,  se  não  possui  raízes  de  segurança  em  si  mesmo,  desviar­se­á  nas 
épocas difíceis, com a finalidade de procurar alicerces alheios. 

Tudo convida o homem ao trabalho de seu aperfeiçoamento e iluminação. 
Respeitemos  a  firmeza  de  fé,  onde  ela  existir,  mas  não  olvidemos  a 
edificação da nossa, para a vitória estável.

137 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel) 

125
FILHOS E SERVOS 

“Ora, o servo não fica para sempre na casa; o filho fica 
para sempre.” 

Jesus (JOÃO, 8: 35) 

Na sua exemplificação, ensinou­nos Jesus como alcançar o título de filiação 
a Deus. 

O trabalho ativo e incessante, o desprendimento dos interesses inferiores do 
mundo,  a  perfeita  submissão  aos  desígnios  divinos,  constituíram  traços 
fundamentais de suas lições na Terra. 

Muitos homens, notáveis pela bondade, pelo caráter adamantino, sacerdotes 
dignos  e  crentes  sinceros,  poderão  ser  dedicados  servos  do  Altíssimo.  Mas  o  Cristo 
induziu­nos  a  ser  mais  alguma  coisa.  Convidou­nos  a  ser  filhos,  esclarecendo  que 
esses ficam “para sempre na casa”. 

E  os  servos?  Esses,  muita  vez,  experimentam  modificações.  Nem  sempre 
permanecerão, ao lado do Pai. 

Mas,  não  é  a  Terra  igualmente  uma  dependência,  ainda  que  humilde,  da 
casa de Deus? Aí palpita a essência da lição. 

O  Mestre  aludiu  aos  servos  como  pessoas  suscetíveis  de  vários  interesses 
próprios. Os filhos, todavia, possuem interesses em comum com o Pai. Os primeiros, 
servindo  a  Deus  e  a  si  mesmos,  porque  como  servidores  aguardam  remuneração, 
podem  sofrer  ansiedades,  aflições,  delírios  e  dores  ásperas.  Os  filhos,  porém,  estão 
sempre  “na  casa”,  isto  é,  permanecerão  em  paz,  superiores  às  circunstâncias  mais 
duras, porquanto reconhecem, acima de tudo, que pertencem a Deus.

138 – Fr ancisco Cândido Xavier  

126
ÍDOLOS 

“Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos Ídolos.” 

(ATOS, 15: 29) 

Os ambientes religiosos não perceberam ainda toda a extensão do conceito 
de idolatria. 

Quando  nos  referimos  a  ídolos,  tudo  parece  indicar  exclusivamente  as 
imagens  materializadas  nos  altares  de  pedra.  Essa  é,  porém,  a  face  mais  singela  do 
problema. 

Necessitam  os  homens  exterminar,  antes  de  tudo,  outros  ídolos  mais 
perigosos, que lhes perturbam a visão e o sentimento. 

Demora­se a alma, muitas vezes, em adoração mentirosa. 
Refere­se  o  versículo  às  “coisas  sacrificadas  aos  ídolos”,  e  o  homem  está 
rodeado de coisas da vida. 
Movimentando­as,  a  criatura  enriquece  o  patrimônio  evolutivo.  Ë 
necessário,  no  entanto,  diferenciar  as  que  se  encontram  consagradas  a  Deus  das 
sacrificadas aos ídolos. 
A ambição de alcançar os valores espirituais, de acordo com Jesus, chama­ 
se virtude; o propósito de atingir vantagens transitórias no campo carnal, no plano da 
inquietação injusta, chama­se insensatez. 
Os  “primeiros  lugares”,  que  o  Mestre  nos  recomendou  evitemos, 
representam Ídolos igualmente. Não consagrar, portanto, as coisas da vida e da alma 
ao culto do imediatismo terrestre, é escapar de grosseira posição adorativa. 
Quando  te  encontres,  pois,  preocupado  com  os  insucessos  e  desgostos,  no 
círculo individual, não olvides que o Cristo, aceitando a cruz, ensinou­nos o recurso 
de eliminar a idolatria mantida em nosso caminho por nós mesmos.

139 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel) 

127
ENQUANTO É DIA 

“Convém que eu faça as obras d’Aquele que me enviou, 
enquanto é dia.” 

Jesus (JOÃO, 9: 4) 

Sabemos  que  o  labor  divino  do  Mestre  é  incessante  e  efetua­se  num  dia 
perene  e  resplandecente  de  oportunidades;  no  entanto,  para  gravar­nos  no 
entendimento o valor real da passagem na Terra, fala­nos Jesus de sua conveniência 
em aproveitar o ensejo do contacto direto com as criaturas. 

Se  semelhante  atitude  constitui  motivo  de  preocupação  para  o  Mestre,  que 
não dizer de nós mesmos, nos círculos carnais ou nas esferas que lhes são imediatas, 
dentro das obrigações que nos competem na sagrada realização do bem eterno? 

Cristo não se refere à necessidade de falar das obras de Deus, mas, sim, de 
construí­las a seu tempo. 

Não  ignoramos  que,  sendo  Ele  o  Enviado  do  Altíssimo  no  mundo,  os 
discípulos  da  Boa  Nova  são,  a  seu  turno,  os  mensageiros  do  seu  amor,  nos  mais 
recônditos  lugares  do  orbe  terrestre.  Os  que  vibram  de  coração  voltado  para  o 
Evangelho são, efetivamente, emissários da Divina Lição entre os companheiros da 
vida  material,  onde  quer  que  estejam,  e  bem­aventurados  serão  todos  aqueles  que 
aproveitarem o dia generoso, realizando em si próprios e em derredor de seus passos 
as obras santificadas d’Aquele que os enviou. 

Jamais  desdenhes,  desse  modo,  a  posição  em  que  te  encontrares.  Busca 
valorizá­la, através de todos  os meios ao teu alcance, a fim de que teu esforço seja 
uma fonte de bênçãos para os outros e para teu próprio círculo. Nunca te esqueças de 
aproveitar o tempo na aquisição de luz, enquanto é dia.

140 – Fr ancisco Cândido Xavier  

128
DÁDIVAS ESPIRITUAIS 

“E,  descendo  eles  do  monte,  J esus  lhes  ordenou, 
dizen do:   A  n in gu ém  con teis  a   visã o,  a té  qu e  o  F ilh o  do  h omem 
ressuscite dentre os mortos.” 

(MATEUS, 17: 9) 

Se o homem necessita de grande prudência nos atos da vida comum, maior 
vigilância se exige da criatura, no trato com a esfera espiritual. 

É o próprio Mestre Divino quem no­lo exemplifica. 
Tendo conduzido Tiago, Pedro e João às maravilhosas revelações do Tabor, 
onde  se  transfigurou  ao  olhar  dos  companheiros,  junto  de  gloriosos  emissários  do 
plano superior, recomenda solícito: “A ninguém conteis a visão, até que o Filho do 
homem seja ressuscitado dos mortos.” 
O  Mestre  não  determinou  a  mentira,  entretanto,  aconselhou  se  guardasse  a 
verdade para ocasião oportuna. 
Cada situação reclama certa cota de conhecimento. 
Sabia  Jesus  que  a  narrativa  prematura  da  sublime  visão  poderia  despertar 
incompreensões e sarcasmos nas conversações vulgares e ociosas. 
Não esqueçamos que todos nós estamos marchando para Deus, salientando­ 
se, porém, que os caminhos não são os mesmos para todos. 
Se  guardas  contigo  preciosa  experiência  espiritual,  indubitavelmente 
poderás usá­la, todos os dias, utilizando­a em doses apropriadas, a fim de auxiliares 
a cada um dos que te cercam, na posição particularizada em que se encontram; mas 
não  barateies  o  que  a  esfera  mais  alta  te  concedeu,  entregando  a  dádiva  às 
incompreensões  criminosas,  porque  tudo  o  que  se  conquista  do  Céu  é  realização 
intransferível.

141 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel) 

129
ORIGEM DAS TENTAÇÕES 

“Mas  cada  um  é  tentado,  quando  atraído  e  engodado 
pela sua própria concupiscência.” 

(TIAGO, 1: 14) 

Geralmente, ao surgirem grandes males, os participantes da queda imputam 
a  Deus  a  causa  que  lhes  determinou  o  desastre.  Lembram­se,  tardiamente  de  que  o 
Pai  é  Todo­Poderoso  e  alegam  que  a  tentação somente  poderia  ter  vindo  do  Divino 
Desígnio. 

Sim,  Deus  é  o  Absoluto  Amor  e  tanto  é  assim  que  os  decaídos  se 
conservam  de  pé,  contando  com  os  eternos  valores  do  tempo,  amparados  por  suas 
mãos compassivas As tentações, todavia, não procedem da Paternidade Celestial. 

Seria, porventura, o estadista humano responsável pelos atos desrespeitosos 
de quantos inquinam a lei por ele criada? 

As  referências  do  Apóstolo  estão  profundamente  tocadas  pela  luz  do  céu. 
“Cada um é tentado, quando atraído pela própria concupiscência.” 

Examinemos  particularmente  ambos  os  substantivos  “tentação”  e 
“concupiscência”. O primeiro exterioriza o segundo, que constitui o fundo viciado e 
perverso  da  natureza  humana  primitivista.  Ser  tentado é  ouvir  a  malícia  própria,  é 
abrigar  os  inferiores  alvitres  de  si  mesmo,  porquanto,  ainda  que  o  mal  venha  do 
exterior,  somente  se  concretiza  e  persevera  se  com  ele  afinamos, na  intimidade  do 
coração. 

Finalmente,  destaquemos  o  verbo  “atrair”.  Verificaremos  a  extensão  de 
nossa inferioridade pela natureza das coisas e situações que nos atraem. 

A  observação  de  Tiago  é  roteiro  certo  para  analisarmos  a  origem  das 
tentações. 

Recorda­te de que cada dia tem situações magnéticas específicas. Considera 
a essência de tudo o que te atraiu no curso das horas e eliminarás os males próprios, 
atendendo ao bem que Jesus deseja.

142 – Fr ancisco Cândido Xavier  

130
TRISTEZA 

“Porque a tristeza, segundo Deus, opera arrependimento 
para a salvação, o qual não traz pesar; mas a tristeza do mundo 
gera a morte.” 

Paulo (II CORÍNTIOS, 7: 10) 

Conforme  observamos  na advertência  de  Paulo, há  “uma  tristeza  segundo 
Deus” e  outra “segundo a Terra”. A primeira soluciona problemas atinentes à vida 
verdadeira,  a  segunda  é  caminho  para  a  morte,  como  símbolo  de  estagnação,  no 
desvio dos sentimentos. 

Muita  gente  considera  virtudes  a  lamentação  incessante  e  o  tédio 
continuado.  Encontramos  os  tristes  pela  ausência  de  dinheiro  adequado  aos 
excessos;  vemos  os  torturados  que  se  lastimam  pela  impossibilidade  de  praticar  o 
mal;  ouvimos  os  viciados  na  queixa  doentia,  incapazes  do  prazer  de  servir  sem 
aguilhões. Essa é a tristeza do mundo que prende o Espírito à teia de reencarnações 
corretivas e perigosas. 

Raros  homens  se  tocam  da  “tristeza  segundo  Deus”.  Muito  poucos 
contemplam  a  si  próprios,  considerando  a  extensão  das  falhas  que  lhes  dizem 
respeito,  em  marcha  para  a  restauração  da  vida,  no  presente  e  no  porvir.  Quem 
avança  por  esse  caminho  redentor,  se  chora  jamais  atinge  o  plano  do  soluço 
enfermiço e da inutilidade, porque sabe reajustar­se, valendo­se do tempo, a golpes 
benditos de esforço para as novas edificações do destino.

143 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel) 

131
HOMENS E ANJOS 

“Enquanto  os  anjos,  sendo  maiores  em  força  e  poder, 
não pronunciam contra eles juízo blasfemo diante do Senhor.” 

(II PEDRO, 2: 11) 

É  lastimável  observar  o  grande  número  de  pessoas  que  estão  sempre 
dispostas a proferir sentenças blasfematórias, umas para com as outras. A leviandade 
domina­lhes  as  conversações,  a  mesquinhez  corrompe­lhes  as  atividades  nos  mais 
diversos setores da vida. 

Exceção  feita  aos  sinceros  cultivadores  da  luz  religiosa,  quase  todos  os 
homens se conservam à porta de situações ásperas em que o esforço difamatório lhes 
envenena  a  vida.  Alimentam  antipatias  injustas  para  com  os  irmãos  de  atividade 
profissional, pelo próximo que lhes não aceita as idéias, pelos companheiros que se 
não  afinam  com  os  seus  princípios.  E  como  a  lei  é  de  compensação  e  troca, 
receberão dos colegas e dos vizinhos as mesmas vibrações destruidoras. 

Guerras silenciosas, nesse sentido, têm, por vezes, secular duração. 
Entretanto, o homem jactancioso está sempre rodeado pela ação benéfica de 
Espíritos iluminados e generosos, que, quanto mais revestidos de poder divino, mais 
se compadecem das fragilidades humanas, estendendo­lhes mãos acolhedoras para o 
caminho e jamais pronunciando juízos condenatórios diante do Senhor. 
Toda  vez  que  fores  compelido  a  analisar  os  esforços  alheios,  recorda  a 
palavra de Pedro. Não te esqueças de que as entidades angélicas, mananciais vivos e 
sublimes de força e poder, nunca enunciam sentenças acusatórias contra ti, diante de 
Deus.

144 – Fr ancisco Cândido Xavier  

132
SEMPRE ADIANTE 

“Porque  de  quem  alguém  é  vencido,  do  tal  faz­se 
também escravo.” 

(II PEDRO, 2: 19) 

O Espírito encarnado, a fim de alcançar os altos objetivos  da vida, precisa 
reconhecer sua condição de aprendiz, extraindo o proveito de cada experiência, sem 
escravizar­se. 

O  dinheiro  ou  a  necessidade  material,  a  doença  e  a  saúde  do  corpo  são 
condições  educativas  de  imenso  valor  para  os  que  saibam  aproveitar  o  ensejo  de 
elevação em sua essência legitima. 

Infelizmente,  porém,  de  maneira  geral,  a  criatura  apenas  reconhece 
semelhantes  verdades  quando  se  abeira  da  transformação  pela  morte  do  corpo 
terrestre. 

Raras  pessoas  transitam  de  uma  situação  para  outra  com  a  dignidade 
devida.  Comumente,  se  um  rico  é  transferido  a  lugar  de  escassez,  dá­se  a  tão 
extremas lamentações que acaba vencido, como servo miserável da mendicância; se 
o  pobre  é  conduzido  a  elevada  posição  financeira,  não  raro  se  transforma  em 
ordenador insensato, escravizando­se à extravagância e à tirania. 

É  imprescindível  muito  cuidado  para  que  as  posições  transitórias  não 
paralisem os vôos da alma. 

Guarda  a  retidão  de  consciência  e  atira­te  ao  trabalho  edificante;  então,  a 
teus  olhos,  toda  situação  representará  oportunidade  de  atingir  o  “mais  alto”  e  o 
“mais além”.

145 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel) 

133
HEGEMONIA DE JESUS 

“Disse­lhes  Jesus:  Em  verdade,  em  verdade  vos  digo 
que, antes que Abraão existisse, eu sou.” 

(JOÃO, 8: 58) 

É  impossível  localizar  o  Cristo  na  História,  à  maneira  de  qualquer 
personalidade humana. 

A  divina  revelação  de  que  foi  Emissário  Excelso  e  o  harmonioso  conjunto 
de  seus  exemplos  e  ensinos  falam  mais  alto  que  a  mensagem  instável  dos  mais 
elevados filósofos que visitaram o mundo. 

Antes de Abraão, ou precedendo os grandes vultos da sabedoria e do amor 
na História mundial, o Cristo já era o luminoso centro das realizações humanas. De 
sua  misericórdia  partiram  os  missionários  da  luz  que,  lançados  ao  movimento  da 
evolução  terrestre,  cumpriram,  mais  ou  menos  bem,  a  tarefa  redentora  que  lhes 
competia entre as criaturas, antecedendo as eternas edificações do Evangelho. 

A  localização  histórica  de  Jesus  recorda  a  presença  pessoal  do  Senhor  da 
Vinha.  O  Enviado  de  Deus,  o Tutor  Amoroso  e  Sábio,  veio  abrir  caminhos  novos  e 
estabelecer  a  luta  Salvadora  para  que  os  homens  reconheçam  a  condição  de 
eternidade que lhes é própria. 

Os  filósofos  e  amigos  ilustres  da  Humanidade  falaram  às  criaturas, 
revelando em si uma luz refratada, como a do satélite que ilumina as noites terrenas; 
os  apelos  desses  embaixadores  dignos  e  esclarecidos  são  formosos  e  edificantes; 
todavia, nunca se furtam à mescla de sombras. 

A vinda do Cristo, porém, é diversa. Em sua Presença Divina temos a fonte 
da verdade positiva, o sol que resplandece.










Click to View FlipBook Version