101 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
89
O FRACASSO DE PEDRO
“E Pedro o seguiu, de longe, até ao pátio do sumo
sacerdote e, entrando, assentouse entre os criados para ver o
fim.”
(MATEUS, 26: 58)
O fracasso, como qualquer êxito, tem suas causas positivas.
A negação de Pedro sempre constitui assunto de palpitante interesse nas
comunidades do Cristianismo.
Enquadrarseia a queda moral do generoso amigo do Mestre num plano de
fatalidade? Por que se negaria Simão a cooperar com o Senhor em minutos tão
difíceis?
Útil, nesse particular, é o exame de sua invigilância.
O fracasso do amoroso pescador reside aí dentro, na desatenção para com
as advertências recebidas.
Grande número de discípulos modernos participam das mesmas negações,
em razão de continuarem desatendendo.
Informa o Evangelho que, naquela hora de trabalhos supremos, Simão
Pedro seguia o Mestre “de longe”, ficou no “pátio do sumosacerdote”, e “assentou
se entre os criados” deste, para “ver o fim”.
Leitura cuidadosa do texto esclarecenos o entendimento e reconhecemos
que, ainda hoje, muitos amigos do Evangelho prosseguem caindo em suas
aspirações e esperanças, por acompanharem o Cristo a distância, receosos de
perderem gratificações imediatistas; quando chamados a testemunho importante,
demoramse nas vizinhanças da arena de lutas redentoras, entre os servos das
convenções utilitaristas, assestando binóculos de exame, a fim de observarem como
será o fim dos serviços alheios.
Todos os aprendizes, nessas condições, naturalmente fracassarão e chorarão
amargamente.
102 – Fr ancisco Cândido Xavier
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ENSEJO AO BEM
“J esus, porém, lhe disse: Amigo, a que vieste? — Então,
aproximandose, lançaram mão de J esus e o prenderam.”
(MATEUS, 26: 50)
É significativo observar o otimismo do Mestre, prodigalizando
oportunidades ao bem, até ao fim de sua gloriosa missão de verdade e amor, junto
dos homens.
Cientificarase o Cristo, com respeito ao desvio de Judas, comentara
amorosamente o assunto, na derradeira reunião mais íntima com os discípulos, não
guardava qualquer dúvida relativamente aos suplícios que o esperavam; no entanto,
em se aproximando, o cooperador transviado beijao na face, identificandoo perante
os verdugos, e o Mestre, com sublime serenidade, recebelhe a saudação
carinhosamente e indaga: Amigo, a que vieste?
Seu coração misericordioso proporcionava ao discípulo inquieto o ensejo ao
bem, até ao derradeiro instante.
Embora notasse Judas em companhia dos guardas que lhe efetuariam a
prisão, dálhe o título de amigo. Não lhe retira a confiança do minuto primeiro, não
o maldiz, não se entrega a queixas inúteis, não o recomenda à posteridade com
acusações ou conceitos menos dignos.
Nesse gesto de inolvidável beleza espiritual, ensinounos Jesus que é
preciso oferecer portas ao bem, até à última hora das experiências terrestres, ainda
que, ao término da derradeira oportunidade, nada mais reste além do caminho para o
martírio ou para a cruz dos supremos testemunhos.
103 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
91
CAMPO DE SANGUE
“por isso foi chamado aquele campo, até ao dia de hoje,
Campo de Sangue.”
(MATEUS, 27: 8)
Desorientado, em vista das terríveis conseqüências de sua irreflexão, Judas
procurou os sacerdotes e restituiulhes as trinta moedas, atirandoas, a esmo, no
recinto do Templo.
Os mentores do Judaísmo concluíram, então, que o dinheiro constituía
preço de sangue e, buscando desfazerse rapidamente de sua posse, adquiriram um
campo destinado ao sepulcro dos estrangeiros, denominado, desde então, Campo de
Sangue.
Profunda a expressão simbólica dessa recordação e, com a sua luz, cabenos
reconhecer que a maioria dos homens continua a irrefletida ação de Judas,
permutando o Mestre, inconscientemente, por esperanças injustas, por vantagens
materiais, por privilégios passageiros. Quando podem examinar a extensão dos
enganos a que se acolheram, procuram, desesperados, os comparsas de suas ilusões,
tentando devolverlhes quanto lhes coube nos criminosos movimentos em que se
comprometeram na luta humana; todavia, com esses frutos amargos apenas
conseguem adquirir o campo de sangue das expiações dolorosas e ásperas, para
sepulcro dos cadáveres de seus pesadelos delituosos, estranhos ao ideal divino da
perfeição em Jesus Cristo.
Irmão em humanidade, que ainda não pudeste sair do campo milenário das
reencarnações, em luta por enterrar os pretéritos crimes que não se coadunam com a
Lei Eterna, não troques o Cristo Imperecível por um punhado de cinzas misérrimas,
porque, do contrário, continuarás circunscrito à região escura da carne sangrenta.
104 – Fr ancisco Cândido Xavier
92
MADALENA
“ Disselh e J esu s: Ma r ia ! — Ela , volta n dose, disselh e:
Mestre!”
(JOÃO, 20: 16)
Dos fatos mais significativos do Evangelho, a primeira visita de Jesus, na
ressurreição, é daqueles que convidam à meditação substanciosa e acurada.
Por que razões profundas deixaria o Divino Mestre tantas figuras mais
próximas de sua vida para surgir aos olhos de Madalena, em primeiro lugar?
Somos naturalmente compelidos a indagar por que não teria aparecido,
antes, ao coração abnegado e amoroso que lhe servira de Mãe ou aos discípulos
amados...
Entretanto, o gesto de Jesus é profundamente simbólico em sua essência
divina.
Dentre os vultos da Boa Nova, ninguém fez tanta violência a si mesmo,
para seguir o Salvador, como a inesquecível obsidiada de Magdala. Nem mesmo
“morta” nas sensações que operam a paralisia da alma; entretanto, bastou o encontro
com o Cristo para abandonar tudo e seguirlhe os passos, fiel até ao fim, nos atos de
negação de si própria e na firme resolução de tomar a cruz que lhe competia no
calvário redentor de sua existência angustiosa.
É compreensível que muitos estudantes investiguem a razão pela qual não
apareceu o Mestre, primeiramente, a Pedro ou a João, à sua Mãe ou aos amigos.
Todavia, é igualmente razoável reconhecermos que, com o seu gesto inesquecível,
Jesus ratificou a lição de que a sua doutrina será, para todos os aprendizes e
seguidores, o código de ouro das vidas transformadas para a glória do bem. E
ninguém, como Maria de Magdala, houvera transformado a sua, à luz do Evangelho
redentor.
105 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
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ALEGRIA CRISTÃ
“Mas a vossa tristeza se converterá em alegria.”
Jesus (JOÃO, 16: 20)
Nas horas que precederam a agonia da cruz, os discípulos não conseguiam
disfarçar a dor, o desapontamento.
Estavam tristes. Como pessoas humanas, não entendiam outras vitórias que
não fossem as da Terra. Mas Jesus, com vigorosa serenidade, exortavaos: “Na
ver dade, na ver dade, vos digo que vós chor ar eis e vos lamentar eis; o mundo se
alegr ará e vós estareis tr istes, mas a vossa tr isteza se conver ter á em alegria.”
Através de séculos, viuse no Evangelho um conjunto de notícias dolorosas
— um Salvador abnegado e puro conduzido ao madeiro destinado aos infames,
discípulos debandados, perseguições sem conta, martírios e lágrimas para todos os
seguidores...
No entanto, essa pesada bagagem de sofrimentos constitui os alicerces de
uma vida superior, repleta de paz e alegria. Essas dores representam auxílio de Deus
à terra estéril dos corações humanos. Chegam como adubo divino aos sentimentos
das criaturas terrestres, para que de pântanos desprezados nasçam lírios de
esperança.
Os inquietos salvadores da política e da ciência, na Crosta Planetária,
receitam repouso e prazer a fim de que o espírito chore depois, por tempo
indeterminado, atirado aos desvãos sombrios da consciência ferida pelas atitudes
criminosas. Cristo, porém, evidenciando suprema sabedoria, ensinou a ordem
natural para a aquisição das alegrias eternas, demonstrando que fornecer caprichos
satisfeitos, sem advertência e medida, às criaturas do mundo, no presente estado
evolutivo, é depor substâncias perigosas em mãos infantis. Por esse motivo, reservou
trabalhos e sacrifícios aos companheiros amados, para que se não perdessem na
ilusão e chegassem à vida real com valioso patrimônio de estáveis edificações.
Eis por que a alegria cristã não consta de prazeres da inconsciência, mas da
sublime certeza de que todas as dores são caminhos para júbilos imortais.
106 – Fr ancisco Cândido Xavier
94
AO SALVARNOS
“Salvate a ti mesmo e desce da cruz.”
(MARCOS, 15: 30)
Esse grito de ironia dos homens maliciosos continua vibrando através dos
séculos.
A criatura humana não podia compreender o sacrifício do Salvador. A
Terra apenas conhecia vencedores que chegavam brandindo armas, cobertos de
glórias sanguinolentas, heróis da destruição e da morte, a caminho de altares e
monumentos de pedra.
Aquele Messias, porém, distanciarase do padrão habitual. Para conquistar,
dava de si mesmo; a fim de possuir, nada pretendia dos homens para si próprio; no
propósito de enriquecer a vida, entregavase à morte.
Em vista disso, não faltaram os escarnecedores no momento extremo,
interpelando o Divino Triunfador, com mordaz expressão.
Nesse testemunho, ensinounos o Mestre que, ao nos salvarmos, no campo
da maldade e da ignorância ouviremos o grito da malícia geral, nas mesmas
circunstâncias.
Se nos demoramos colados à ilusão do destaque, se somos trabalhadores
exclusivamente interessados em nosso engrandecimento temporário na esfera carnal,
com esquecimento das necessidades alheias, há sempre muita gente que nos
considera privilegiados e vitoriosos; se ponderamos, no entanto, as nossas
responsabilidades graves no mundo, chamanos loucos e, quando nos surpreende em
experiências culminantes, revestidas da dor sagrada que nos arrebata a esferas
sublimes, passa junto de nós exibindo gestos irônicos e, recordando os altos
princípios esposados por nossa vida, exclama, desdenhosa: — “Salvate a ti mesmo
e desce da cruz.”
107 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
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O AMIGO OCULTO
“Mas os olhos deles estavam como que fechados, para
que o não conhecessem.”
(LUCAS, 24: 16)
Os discípulos, a caminho de Emaús, comentavam, amargurados, os
acontecimentos terríveis do Calvário.
Permaneciam sob a tormenta da angústia. A dúvida penetravalhes a alma,
levandoos ao abatimento, à negação.
Um homem desconhecido, porém, alcançouos na estrada. Oferecia o
aspecto de mísero peregrino.
Sem identificarse, esclareceu as verdades da Escritura, exaltou a cruz e o
sofrimento.
Ambos os companheiros, que se haviam emaranhado no cipoal de
contradições ingratas, experimentaram agradável bemestar, ouvindo a
argumentação confortadora.
Somente ao termo da viagem, em se sentindo fortalecidos no tépido
ambiente da hospedaria, perceberam que o desconhecido era o Mestre.
Ainda existem aprendizes na “estrada simbólica de Emaús”, todos os dias.
Atingem o Evangelho e espantamse em face dos sacrifícios necessários à eterna
iluminação espiritual. Não entendem o ambiente divino da cruz e procuram
“paisagens mentais” distantes... Entretanto, chega sempre um desconhecido que
caminha ao lado dos que vacilam e fogem. Tem a forma de um viandante
incompreendido, de um companheiro inesperado, de um velho generoso, de uma
criança tímida. Sua voz é diferente das outras, seus esclarecimentos mais firmes,
seus apelos mais doces.
Quem partilha, por um momento, do banquete da cruz, jamais poderá
olvidála. Muitas vezes, partirá mundo a fora, demorandose nos trilhos escuros; no
entanto, minuto virá em que Jesus, de maneira imprevista, busca esses viajores
transviados e não os desampara enquanto não os contempla, seguros e livres, na
hospedaria da confiança.
108 – Fr ancisco Cândido Xavier
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A COROA
“E vestiramno de púrpura, e tecendo uma coroa de
espinhos, lha puseram na cabeça.”
(MARCOS, 15: 17)
Quase incrível o grau de invigilância da maioria dos discípulos do
Evangelho, na atualidade, ansiosos pela coroa dos triunfos mundanos. Desde longo
tempo, as Igrejas do Cristianismo deturpado se comprazem nos grandes espetáculos,
através de enormes demonstrações de força política. E forçoso é reconhecer que
grande número das agremiações espiritistas cristãs, ainda tão recentes no mundo,
tendem às mesmas inclinações.
Individualmente, os prosélitos pretendem o bemestar, o caminho sem
obstáculos, as considerações honrosas do mundo, o respeito de todos, o fiel
reconhecimento dos elevados princípios que esposaram na vida, por parte dos
estranhos. Quando essa bagagem de facilidades não os bafeja no serviço edificante,
sentemse perseguidos, contrariados, desditosos.
Mas... e o Cristo? Não bastaria o quadro da coroa de espinhos para atenuar
nos a inquietação?
Naturalmente que o Mestre trazia consigo a Coroa da Vida; entretanto, não
quis perder a oportunidade de revelar que a coroa da Terra ainda é de espinhos, de
sofrimento e trabalho incessante para os que desejem escalar a montanha da
Ressurreição Divina. Ao tempo em que o Senhor inaugurou a Boa Nova entre os
homens, os romanos coroavamse de rosas; mas, legandonos a sublime lição, Jesus
davanos a entender que seus discípulos fiéis deveriam contar com distintivos de
outra natureza.
109 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
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AMAS O BASTANTE?
“Perguntoulhe terceira vez: Simão, filho de J onas,
amasme?”
(JOÃO, 21: 17)
Aos aprendizes menos avisados é estranhável que Jesus houvesse indagado
do apóstolo, por três vezes, quanto à segurança de seu amor. O próprio Simão Pedro,
ouvindo a interrogação repetida, entristecerase, supondo que o Mestre suspeitasse
de seus sentimentos mais íntimos.
Contudo, o ensinamento é mais profundo.
Naquele instante, confiavalhe Jesus o ministério da cooperação nos
serviços redentores. O pescador de Cafarnaum ia contribuir na elevação de seus
tutelados do mundo, ia apostolizar, alcançando valores novos para a vida eterna.
Muito significativa, portanto, a pergunta do Senhor nesse particular. Jesus
não pede informação ao discípulo, com respeito aos raciocínios que lhe eram
peculiares, não deseja inteirarse dos conhecimentos do colaborador, relativamente a
Ele, não reclama compromisso formal. Pretende saber apenas se Pedro o ama,
deixando perceber que, com o amor, as demais dificuldades se resolvem. Se o
discípulo possui suficiente provisão dessa essência divina, a tarefa mais dura
convertese em apostolado de bênçãos promissoras.
É imperioso, desse modo, reconhecer que as tuas conquistas intelectuais
valem muito, que tuas indagações são louváveis, mas em verdade somente serás
efetivo e eficiente cooperador do Cristo se tiveres amor.
110 – Fr ancisco Cândido Xavier
98
CAPAS
“E ele, lançando de si a sua capa, levantouse e foi ter
com J esu s.”
(MARCOS, 10: 50)
O Evangelho de Marcos apresenta interessante notícia sobre a cura de
Bartimeu, o cego de Jericó.
Para receber a bênção da divina aproximação, lança fora de si a capa,
correndo ao encontro do Mestre, alcançando novamente a visão para os olhos
apagados e tristes.
Não residirá nesse ato precioso símbolo?
As pessoas humanas exibem no mundo as capas mais diversas. Existem
mantos de reis e de mendigos. Há muitos amigos do crime que dão preferência a
“capas de santos”. Raros os que não colam ao rosto a máscara da própria
conveniência. Alegase que a luta humana permanece repleta de requisições
variadas, que é imprescindível atender à movimentação do século; entretanto, se
alguém deseja sinceramente a aproximação de Jesus, para a recepção de benefícios
duradouros, lance fora de si a capa do mundo transitório e apresentese ao Senhor,
tal qual é, sem a ruinosa preocupação de manter a pretensa intangibilidade dos
títulos efêmeros, sejam os da fortuna material ou os da exagerada noção de
sofrimento. A manutenção de falsas aparências, diante do Cristo ou de seus
mensageiros, complica a situação de quem necessita. Nada peças ao Senhor com
exigências ou alegações descabidas. Despe a tua capa mundana e apresentate a Ele,
sem mais nem menos.
111 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
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PROMETER
“Prometendolhes liberdade, sendo eles mesmos servos
da corrupção.”
(I PEDRO, 2: 19)
É indispensável desconfiar de todas as promessas de facilidades sobre o
mundo.
Jesus, que podia abrir os mais vastos horizontes aos olhos assombrados da
criatura, prometeulhe a cruz sem a qual não poderia afastarse da Terra para
colocarse ao seu encontro.
Em toda parte, existem discípulos descuidados que aceitam o logro de
aventureiros inconscientes. É que ainda não aprenderam a lição viva do trabalho
próprio a que foram chamados para desenvolver atividade particular.
Os fazedores de revoluções e os donos de projetos absurdos prometem
maravilhas. Mas, se são vítimas da ambição, servos de propósitos inferiores,
escravos de terríveis enganos, como poderão realizar para os outros a liberdade ou a
elevação de que se conservam distantes?
Não creias em salvadores que não demonstrem ações que confirmem a
salvação de si mesmos.
Deves saber que foste criado para gloriosa ascensão, mas que só é fácil
descer. Subir exige trabalho, paciência, perseverança, condições essenciais para o
encontro do amor e da sabedoria.
Se alguém te fala em valor das facilidades, não acredites; é possível que o
aventureiro esteja descendo.
Mas quando te façam ver perspectivas consoladoras, através do suor e do
esforço pessoal, aceita os alvitres com alegria. Aquele que compreende o tesouro
oculto nos obstáculos, e dele se vale para enriquecer a vida, está subindo e é digno
de ser seguido.
112 – Fr ancisco Cândido Xavier
100
AUXÍLIOS DO INVISÍVEL
“E, depois de passarem a primeira e segunda guarda,
ch ega r am à por ta de fer r o, qu e dá pa r a a cida de, a qu a l se lhes
abriu por si mesma; e, tendo saído, percorreram uma rua e logo
o anjo se apartou dele.”
(ATOS, 12: 10)
Os homens esperam sempre ansiosamente o auxílio do plano espiritual. Não
importa o nome pelo qual se designe esse amparo. Na essência é invariavelmente o
mesmo, embora seja conhecido entre os espiritistas por “proteção dos guias” e nos
círculos protestantes por “manifestações do Espírito Santo”.
As denominações apresentam interesse secundário. Essencial é
considerarmos que semelhante colaboração constitui elemento vital nas atividades
do crente sincero.
No entanto, a contribuição recebida por Pedro, no cárcere, representa lição
para todos.
Sob cadeias pesadíssimas, o pescador de Cafarnaum vê aproximarse o anjo
do Senhor, que o liberta, atravessa em sua companhia os primeiros perigos na prisão,
caminha ao lado do mensageiro, ao longo de uma rua; contudo, o emissário afasta
se, deixandoo novamente entregue à própria liberdade, de maneira a não
desvalorizarlhe as iniciativas.
Essa exemplificação é típica.
Os auxílios do invisível são incontestáveis e jamais falham em suas
multiformes expressões, no momento oportuno; mas é imprescindível não se vicie o
crente com essa espécie de cooperação, aprendendo a caminhar sozinho, usando a
independência e a vontade no que é justo e útil, convicto de que se encontra no
mundo para aprender, não lhe sendo permitido reclamar dos instrutores a solução de
problemas necessários à sua condição de aluno.
113 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
101
TUDO EM DEUS
“Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma.”
Jesus (JOÃO, 5: 30)
Constitui ótimo exercício contra a vaidade pessoal a meditação nos fatores
transcendentes que regem os mínimos fenômenos da vida.
O homem nada pode sem Deus.
Todos temos visto personalidades que surgem dominadoras no palco
terrestre, afirmandose poderosas sem o amparo do Altíssimo; entretanto, a única
realização que conseguem efetivamente é a dilatação ilusória pelo sopro do mundo,
esvaziandose aos primeiros contactos com as verdades divinas.
Quando aparecem, temíveis, esses gigantes de vento espalham ruínas
materiais e aflições de espírito; todavia, o mesmo mundo que lhes confere pedestal
projetaos no abismo do desprezo comum; a mesma multidão que os assopra
incumbese de repôlos no lugar que lhes compete.
Os discípulos sinceros não ignoram que todas as suas possibilidades
procedem do Pai amigo e sábio, que as oportunidades de edificação na Terra, com a
excelência das paisagens, recursos de cada dia e bênçãos dos seres amados, vieram
de Deus que os convida, pelo espírito de serviço, a ministérios mais santos; agirão,
desse modo, amando sempre, aproveitando para o bem e esclarecendo para a
verdade, retificando caminhos e acendendo novas luzes, porque seus corações
reconhecem que nada poderão fazer de si próprios e honrarão o Pai, entrando em
santa cooperação nas suas obras.
114 – Fr ancisco Cândido Xavier
102
O CRISTÃO E O MUNDO
“Primeiro a erva, depois a espiga e, por último, o grão
cheio na espiga.”
Jesus (MARCOS, 4: 28)
Ninguém julgue fácil a aquisição de um título referente à elevação
espiritual. O Mestre recorreu sabiamente aos símbolos vivos da Natureza,
favorecendonos a compreensão.
A erva está longe da espiga, como a espiga permanece distanciada dos
grãos maduros.
Nesse capítulo, o mais forte adversário da alma que deseja seguir o
Salvador, é o próprio mundo.
Quando o homem comum descansa nas vulgaridades e inutilidades da
existência terrestre, ninguém lhe examina os passos. Suas atitudes não interessam a
quem quer que seja. Todavia, em lhe surgindo no coração a erva tenra da fé
retificadora, sua vida passa a constituir objeto de curiosidade para a multidão.
Milhares de olhos, que o não viram quando desviado na ignorância e na
indiferença, seguemlhe, agora, os gestos mínimos com acentuada vigilância. O
pobre aspirante ao título de discípulo do Senhor ainda não passa de folhagem
promissora e já lhe reclamam espigas das obras celestes; conservase ainda longe da
primeira penugem das asas espirituais e já se lhe exigem vôos supremos sobre as
misérias humanas.
Muitos aprendizes desanimam e voltam para o lodo, onde os companheiros
não os vejam.
Esquecese o mundo de que essas almas ansiosas ainda se acham nas
primeiras esperanças e, por isso mesmo, em disputas mais ásperas por rebentar o
casulo das paixões inferiores na aspiração de subir; dentro da velha ignorância, que
lhe é característica, a multidão só entende o homem na animalidade em que se
compraz ou, então, se o companheiro pretende elevarse, lhe exige, de pronto,
credenciais positivas do céu, olvidando que ninguém pode trair o tempo ou enganar
o espírito de seqüência da Natureza.
Resta ao cristão cultivar seus propósitos sublimes e ouvir o Mestre:
Primeiro a erva, depois a espiga e, por último, o grão cheio na espiga.
115 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
103
ESTIMA DO MUNDO
“Se chamaram Belzebu ao pai de família, quanto mais
aos seus domésticos?”
Jesus (MATEUS, 10: 25)
Muitos discípulos do Evangelho existem, ciosos de suas predileções e
pontos de vista, no campo individual.
Falsas concepções ensombramlhes o olhar.
Quase sempre se inquietam pelo reconhecimento público das virtudes que
lhes exornam o caráter, guardam o secreto propósito de obter a admiração de todos e
sentemse prejudicados se as autoridades transitórias do mundo não lhes conferem
apreço.
Agem esquecidos de que o Reino de Deus não vem com aparência exterior;
não percebem que, por enquanto, somente os vultos destacados, nas vanguardas
financeiras ou políticas, arvoramse em detentores de prerrogativas terrestres,
senhores quase absolutos das homenagens pessoais e dos necrológios brilhantes.
Os filhos do Reino Divino sobressaem raramente e, de modo geral, enchem
o mundo de benefícios sem que o homem os veja, à feição do que ocorre com o
próprio Pai.
Se Jesus foi chamado feiticeiro, crucificado como malfeitor e arrebatado de
sua amorosa missão para o madeiro afrontoso, que não devem esperar seus
aprendizes sinceros, quando verdadeiramente devotados à sua causa?
O discípulo não pode ignorar que a permanência na Terra decorre da
necessidade de trabalho proveitoso e não do uso de vantagens efêmeras que, em
muitos casos, lhe anulariam a capacidade de servir.
Se a força humana torturou o Cristo, não deixará de torturálo também. É
ilógico disputar a estima de um mundo que, mais tarde, será compelido a regenerar
se para obter a redenção.
116 – Fr ancisco Cândido Xavier
104
A ESPADA SIMBÓLICA
“Não cuideis que vim trazer a paz à Terra; não vim
trazer a paz, mas a espada.”
Jesus (MATEUS, 10: 34)
Inúmeros leitores do Evangelho perturbamse ante essas afirmativas do
Mestre Divino, porquanto o conceito de paz, entre os homens, desde muitos séculos
foi visceralmente viciado. Na expressão comum, ter paz significa haver atingido
garantias exteriores, dentro das quais possa o corpo vegetar sem cuidados, rodeando
se o homem de servidores, apodrecendo na ociosidade e ausentandose dos
movimentos da vida.
Jesus não poderia endossar tranqüilidade desse jaez, e, em contraposição ao
falso princípio estabelecido no mundo, trouxe consigo a luta regeneradora, a espada
simbólica do conhecimento interior pela revelação divina, a fim de que o homem
inicie a batalha do aperfeiçoamento em si mesmo. O Mestre veio instalar o combate
da redenção sobre a Terra. Desde o seu ensinamento primeiro, foi formada a frente
da batalha sem sangue, destinada à iluminação do caminho humano. E Ele mesmo
foi o primeiro a inaugurar o testemunho pelos sacrifícios supremos.
Há quase vinte séculos vive a Terra sob esses impulsos renovadores, e ai
daqueles que dormem, estranhos ao processo santificante!
Buscar a mentirosa paz da ociosidade é desviarse da luz, fugindo à vida e
precipitando a morte.
No entanto, Jesus é também chamado o Príncipe da Paz.
Sim, na verdade o Cristo trouxe ao mundo a espada renovadora da guerra
contra o mal, constituindo em si mesmo a divina fonte de repouso aos corações que
se unem ao seu amor; esses, nas mais perigosas situações da Terra, encontram,
n’Ele, a serenidade inalterável. É que Jesus começou o combate de salvação para a
Humanidade, representando, ao mesmo tempo, o sustentáculo da paz sublime para
todos os homens bons e sinceros.
117 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
105
NEM TODOS
“E aconteceu que, quase oito dias depois destas
palavras, tomou consigo a Pedro, a J oão e a Tiago, e subiu ao
monte a orar.”
(LUCAS, 9: 28)
Digna de notarse a atitude do Mestre, convidando apenas Simão e os filhos
de Zebedeu para presenciarem a sublime manifestação do monte, quando Moisés e
outro emissário divino estariam em contacto direto com Jesus, aos olhos dos
discípulos.
Por que não convocou os demais companheiros?
Acaso Filipe ou André não teriam prazer na sublime revelação? Não era
Tomé um companheiro indagador, ansioso por equações espirituais? No entanto, o
Mestre sabia a causa de suas decisões e somente Ele poderia dosar,
convenientemente, as dádivas do conhecimento superior.
O fato deve ser lembrado por quantos desejem forçar a porta do plano
espiritual.
Certo, o intercâmbio com esse ou aquele núcleo de entidades do Além é
possível, mas nem todos estão preparados, a um só tempo, para a recepção de
responsabilidades ou benefícios.
Não se confia, imprudentemente, um aparelho de produção preciosa, cujo
manejo dependa de competência prévia, ao primeiro homem que surja, tomado de
bons desejos. Não se atraiçoa impunemente a ordem natural. Nem todos os
aprendizes e estudiosos receberão do Além, num pronto, as grandes revelações.
Cada núcleo de atividade espiritualizante deve ser presidido pelo melhor
senso de harmonia, esforço e afinidade. Nesse mister, além das boas intenções é
indispensável a apresentação da ficha de bons trabalhos pessoais. E, no mundo, toda
gente permanece disposta a querer isso ou aquilo, mas raríssimas criaturas se
prontificam a servir e a educarse.
118 – Fr ancisco Cândido Xavier
106
DAR
“ E dá a qu alqu er que te pedir ; e, a o que toma r o qu e é
teu, não lho tornes a pedir.”
Jesus (LUCAS, 6: 30)
O ato de dar é dos mais sublimes nas operações da vida; entretanto, muitos
homens são displicentes e incompreensíveis na execução dele.
Alguns distribuem esmolas levianamente, outros se esquecem da vigilância,
entregando seu trabalho a malfeitores.
Jesus é nosso Mestre nas ocorrências mínimas. E se ouvimolo
recomendando estejamos prontos a dar “a qualquer” que pedir, vemolo atendendo a
todas as criaturas do seu caminho, não de acordo com os caprichos, mas segundo as
necessidades.
Concedeu bemaventuranças aos aflitos e advertências aos vendilhões.
Certo, os mercadores de máfé, no íntimo, rogavamlhe a manutenção do “statu
quo”, mas sua resposta foi eloqüente. Deu alegrias nas bodas de Caná e repreensões
em assembléias dos discípulos. Proporcionou a cada situação e a cada personalidade
o que necessitavam e, quando os ingratos lhe tomaram o direito da própria vida, aos
olhos da Humanidade, não voltou o Cristo a pedirlhes que o deixassem na obra
começada.
Deu tudo o que se coadunava com o bem. E deu com abundância,
salientandose que, sob o peso da cruz, conferiu sublime compreensão à ignorância
geral, sem reclamação de qualquer natureza, porque sabia que o ato de dar vem de
Deus e nada mais sagrado que colaborar com o Pai que está nos céus.
119 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
107
VINDA DO REINO
“O reino de Deus não vem com aparência exterior.”
Jesus (LUCAS, 17: 20)
Os agrupamentos religiosos no mundo permanecem, quase sempre,
preocupados pelas conversões alheias. Os crentes mais entusiastas anseiam por
transformar as concepções dos amigos. Em vista disso, em toda parte somos
defrontados por irmãos aflitos pela dilatação do proselitismo em seus círculos de
estudo.
Semelhante atividade nem sempre é útil, porquanto, em muitas ocasiões,
pode perturbar elevados projetos em realização.
Afirma Jesus que o Reino de Deus não vem com aparência exterior. É
sempre ruinosa a preocupação por demonstrar pompas e números vaidosamente, nos
grupos da fé. Expressões transitórias de poder humano não atestam o Reino de Deus.
A realização divina começará do íntimo das criaturas, constituindo gloriosa luz do
templo interno. Não surge à comum apreciação, porque a maioria dos homens
transitam semicegos, através do túnel da carne, sepultando os erros do passado
culposo.
A carne é digna e venerável, pois é vaso de purificação, recebendonos para
o resgate preciso; entretanto, para os espíritos redimidos significa “morte” ou
“transformação permanente”. O homem carnal, em vista das circunstâncias que lhe
governam o esforço, pode ver somente o que está “morto” ou aquilo que “vai
morrer”. O Reino de Deus, porém, divino e imortal, escapa naturalmente à visão dos
humanos.
126 – Fr ancisco Cândido Xavier
114
AS CARTAS DO CRISTO
“Porque já é manifesto que sois a carta do Cristo,
ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito
de Deus Vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne
do coração.”
Paulo (I CORÍNTIOS, 3: 3)
É singular que o Mestre não haja legado ao mundo um compêndio de
princípios escritos pelas próprias mãos.
As figuras notáveis da Terra sempre assinalam sua passagem no planeta,
endereçando à posteridade a sua mensagem de sabedoria e amor, seja em tábuas de
pedra, seja em documentos envelhecidos.
Com Jesus, porém, o processo não foi o mesmo.
O Mestre como que fez questão de escrever sua doutrina aos homens,
gravandoa no coração dos companheiros sinceros. Seu testamento espiritual
constituise de ensinos aos discípulos e não foram grafados por ele mesmo.
Recursos humanos seriam insuficientes para revelar a riqueza eterna de sua
Mensagem. As letras e raciocínios, propriamente humanos, na maioria das vezes
costumam dar margem a controvérsias. Em vista disso, Jesus gravou seus
ensinamentos nos corações que o rodeavam e até hoje os aprendizes que se lhe
conservam fiéis são as suas cartas divinas dirigidas à Humanidade.
Esses documentos vivos do santificante amor do Cristo palpitam em todas
as religiões e em todos os climas. São os vanguardeiros que conhecem a vida
superior, experimentam o sublime contacto do Mestre e transformamse em sua
mensagem para os homens.
Podem surgir muitas contendas em torno das páginas mais célebres e
formosas; todavia, perante a alma que se converteu em carta viva do Senhor, quando
não haja vibrações superiores da compreensão, haverá sempre o divino silêncio.
127 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
115
EMBAIXADORES DO CRISTO
“De sorte que somos embaixadores da parte do Cristo.”
Paulo (I CORÍNTIOS, 5: 20)
Na catalogação dos valores sociais, todo homem de trabalho honesto é
portador de determinada delegação.
Se os políticos e administradores guardam responsabilidades do Estado, os
operários recebem encargos naturais das oficinas a que emprestam seus esforços.
Cada homem de bem é mensageiro do centro de realizações onde atende ao
movimento da vida, em atividade enobrecedora.
As ruas estão cheias de emissários das repartições, das fábricas, dos
institutos, dos órgãos de fiscalização, produção, amparo e ensino, cujos interesses
conjugados operam a composição da harmonia social.
É necessário, contudo, não esquecermos que os valores da vida eterna não
permaneceriam no mundo sem representantes.
Cristo possui embaixadores permanentes em seus discípulos sinceros.
Importa considerar que na presente afirmativa de Paulo de Tarso não vemos
alusão ao sacerdócio presunçoso.
Todos os colaboradores leais de Jesus, em qualquer situação da vida e no
lugar mais longínquo da Terra, são conhecidos na sede espiritual dos serviços
divinos. É com eles, cooperadores devotados e muita vez desconhecidos dos
beneficiários do mundo, que se movimenta o Mestre, cada dia, estendendo o
Evangelho aplicado entre as criaturas terrestres, até a vitória final.
Entendendo esta verdade, consulta as próprias tendências, atos e
pensamentos. Repara a quem serves, porque, se já recebeste a Boa Nova da
Redenção, é tempo de te tornares embaixador de sua luz.
128 – Fr ancisco Cândido Xavier
116
AGIR DE ACORDO
“Confessam que conhecem a Deus, mas negamno com
a s obr a s, sen do a bomin áveis e desobedien tes, e r epr ova dos pa r a
toda boa obra.”
Paulo. (TITO, 1: 16)
O Espiritismo, em sua feição de Cristianismo redivivo, tem papel muito
mais alto que o de simples campo para novas observações técnicas da ciência
instável do mundo.
A Terra, até agora, no que se refere às organizações religiosas, tem vivido
repleta dos que confessam a existência de Deus, negandoO, porém, através das
obras individuais.
O intercâmbio dos dois mundos, visível e invisível, de maneira direta
objetiva esse reajustamento sentimental, para que a luz divina se manifeste nas
relações comuns dos homens.
Como conciliar o conhecimento de Deus com o menosprezo aos
semelhantes?
As antigas escolas religiosas, à força de se arregimentarem como
agrupamentos políticos do mundo, sob o controle do sacerdócio, acabaram por
estagnar os impulsos da fé, em exterioridades que aviltam as forças vivas do
espírito.
A doutrina consoladora da sobrevivência e da comunicação entre os
habitantes da Terra e do Infinito, com bases profundas e amplas no Evangelho,
floresce entre as criaturas com características de nova revelação, para que o homem
seja, nas atividades vulgares, real afirmação do bem que nasce da fé viva.
129 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
117
TERRA PROVEITOSA
“Porque a terra que embebe a chuva, que cai muitas
vezes sobre ela, e produz erva proveitosa para aqueles por quem
é lavrada, recebe a bênção de Deus.”
Paulo (HEBREUS, 6: 7)
Os discípulos do Cristo encontrarão sempre grandes lições, em contacto
com o livro da Natureza.
O convertido de Damasco referese aqui à terra proveitosa que produz
abundantemente, embebendose da chuva que cai, incessante, na sua superfície,
representando o vaso predileto de recepção das bênçãos de Deus.
Transportemos o símbolo ao país dos corações. Somente aqueles espíritos,
atentos aos benefícios espirituais, que chovem diariamente do céu, são suscetíveis de
produzir as utilidades do serviço divino, guardando as bênçãos do Senhor.
Não que o Pai estabeleça prerrogativas injustificáveis. Sua proteção
misericordiosa estendese a todos, indistintamente, mas nem todos a recebem, isto é,
inúmeras criaturas se fecham no egoísmo e na vaidade, envolvendo o coração em
sombras densas.
Deus dá em todo tempo, mas nem sempre os filhos recebem, de pronto, as
dádivas paternais. Apenas os corações que se abrem à luz espiritual, que se deixam
embeber pelo orvalho divino, correspondem ao ideal do Lavrador Celeste.
O Altíssimo é o Senhor do Universo, sumo dispensador de bênçãos a todas
as criaturas. No planeta terreno, Jesus é o Sublime Cultivador. O coração humano é
a terra.
Cumprenos, portanto, compreender que não se lavra o solo sem retificálo
ou sem ferilo e que somente a terra tratada produzirá erva proveitosa, alimentando e
beneficiando na Casa de Deus, atendendo, destarte, a esperança do horticultor.
130 – Fr ancisco Cândido Xavier
118
O PARALÍTICO
“E não podendo aproximarse dele, por causa da
multidão, destelharam a casa onde Jesus estava e, feita uma
abertura, baixaram o leito em que jazia o paralitico.”
(MARCOS, 2: 4)
Muitas pessoas confessam sua necessidade do Cristo, mas freqüentemente
alegam obstáculos que lhes impedem a sublime aproximação.
Uns não conseguem tempo para a meditação, outros experimentam certas
inquietudes que lhes parecem intermináveis.
Todavia, para que nos sintamos na vizinhança do Mestre, como legítimos
interessados em seus benefícios imortais, fazse imprescindível estender a
capacidade, dilatar os recursos próprios e marchar ao encontro d’Ele, sob a luz da fé
viva.
Relatanos o Evangelho de Marcos a curiosa decisão do paralítico que,
localizando a casa em que se achava o Senhor, plenamente sitiada pela multidão,
longe de perder a oportunidade, amparouse no auxílio dos amigos, deixandose
resvalar por um buraco, levado a efeito no telhado, de maneira a beneficiarse no
contacto do Salvador, aproveitando fervorosamente o ensejo divino.
Recorda o paralítico de Cafarnaum e, na hipótese de encontrares grandes
dificuldades para gozar a presença do Cristo, pelos teus impedimentos de ordem
material, dirigete para o Alto, com o amparo de teus amigos espirituais, e deixate
cair aos seus pés divinos, recebendo forças novas que te restabeleçam a paz e o bom
ânimo.
131 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
119
GLÓRIA CRISTÃ
“Porque a nossa glória é esta: o testemunho da nossa
consciência.”
Paulo (I CORÍNTIOS, 1: 12)
Desde as tribos selvagens, que precederam a organização das famílias
humanas, tem sido a Terra grande palco utilizado na exibição das glórias
passageiras.
A concorrência intensificou a procura de títulos honoríficos transitórios.
O mundo desde muito conhece glórias sangrentas da luta homicida, glórias
da avareza nos cofres da fortuna morta, do orgulho nos pergaminhos brasanados e
inúteis, da vaidade nos prazeres mentirosos que precedem o sepulcro; a ciência
cristaliza as que lhe dizem respeito nas academias isoladas; as religiões sectaristas
nas pompas externas e nas expressões do proselitismo.
Num plano onde campeiam tantas glórias fáceis, a do cristão é mais
profunda, mais difícil. A vitória do seguidor de Jesus é quase sempre no lado inverso
dos triunfos mundanos. É o lado oculto. Raros conseguem vêlo com olhos mortais.
Entretanto, essa glória é tão grande que o mundo não a proporciona, nem
pode subtraíla. É o testemunho da consciência própria, transformada em
tabernáculo do Cristo vivo.
No instante divino dessa glorificação, deslumbrase a alma ante as
perspectivas do Infinito. É que algo de estranho aconteceu aí dentro, na cripta
misteriosa do coração: o filho achou seu Pai em plena eternidade.
132 – Fr ancisco Cândido Xavier
120
ZELO PRÓPRIO
“Olhai por vós mesmos, para que não percais o vosso
trabalho, mas antes recebais o inteiro galardão.”
(II JOÃO, 1: 8)
A natureza física, não obstante a deficiência de suas expressões em face da
grandeza espiritual da vida, fornece vasto repositório de lições, alusivas ao zelo
próprio.
A fim de que o Espírito receba o sagrado ensejo de aprender na Terra,
receberá um corpo equivalente a verdadeiro santuário, Os órgãos e os sentidos são as
suas potências; mas, semelhante tabernáculo não se ergueria sem as dedicações
maternas e, quando a criatura toma conta de si, gastará grande percentagem de
tempo na limpeza, conservação e defesa do templo de carne em que se manifesta.
Precisará cuidar da epiderme, da boca, dos olhos, das mãos, dos ouvidos.
Que acontecerá se algum departamento do corpo for esquecido?
Excrescências e sujidades trarão veneno à vida.
Se o quadro fisiológico, passageiro e mortal, exige tudo isso, que não
requer de nossa dedicação o Espírito com os seus valores eternos?
Se já recebeste alguma luz, desvelate em não perdêla.
Intensificaa em ti.
Lava os teus pensamentos em esforço diário, nas fontes do Cristo; corrige
os teus sentimentos, renova as aspirações colocandoas na direção de Mais Alto.
Não te cristalizes.
Movimentate no trabalho do zelo próprio, pois há “micróbios intangíveis”
que podem atacar a alma e paralisála durante séculos.
133 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
121
ESPINHEIROS
“Nem se vindimam uvas dos abrolhos.”
Jesus (LUCAS, 6: 44)
O cristão é um combatente ativo.
Despertando no campo do Senhor, aturdeselhe a visão com a amplitude e
complexidade do trabalho.
Dificuldades, tropeços, cipoais, ervas daninhas...
E o Evangelho, com propriedade de conceituação, elucida que não se pode
vindimar nos espinheiros.
Entretanto, teria Jesus assumido a paternidade de semelhante afirmativa
para que cruzemos os braços em falsa beatitude?
Se o terreno permanece absorvido pelos abrolhos, o discípulo recebeu
inúmeras ferramentas do Mestre dos mestres.
Indispensável, pois, enfrentar o serviço.
O Cristo encarou, face a face, o sacrifício pela Humanidade inteira.
Será a existência de alguns espinheiros a causa de nossos obstáculos
insuperáveis?
Não. Se hoje é impossível a vindima, ataquemos o chão duro. Lavremos o
solo árido. Adubemos com suor e lágrimas.
Haverá sempre chuvas fecundantes do Céu ou generosos mananciais da
Terra, abençoandonos o esforço.
A Divina Providência reside em toda parte. Não olvidemos o imperativo do
trabalho e, depois, em lugar dos abrolhos, colheremos o fruto suave e doce da
videira.
134 – Fr ancisco Cândido Xavier
122
FRUTOS
“Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.”
Jesus (MATEUS. 7: 20)
O mundo atual, em suas elevadas características de inteligência, reclama
frutos para examinar as sementes dos princípios.
O cristão, em razão disso, necessita aprender com a boa árvore que recebe
os elementos da Providência Divina, através da seiva, e converteos em utilidades
para as criaturas.
Convém o esforço de autoanálise, a fim de identificarmos a qualidade das
próprias ações.
Muitas palavras sonoras proporcionam simplesmente a impressão daquela
figueira condenada.
É indispensável conhecermos os frutos de nossa vida, de modo a saber se
beneficiam os nossos irmãos.
A vida terrestre representa oportunidade vastíssima, cheia de portas e
horizontes para a eterna luz.
Em seus círculos, pode o homem receber diariamente a seiva do Alto,
transformandoa em frutos de natureza divina.
Indiscutivelmente, a atualidade reclama ensinos edificantes, mas nada
compreenderá sem demonstrações práticas, mesmo porque, desde a antigüidade,
considera a sabedoria que a realização mais difícil do homem, na esfera carnal, é
viver e morrer fiel ao supremo bem.
135 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
123
ESPERAR EM CRISTO
“Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais
miseráveis de todos os homens.”
(I CORÍNTIOS, 15: 19)
O exame do versículo fornece ao estudioso explicações muito claras.
É natural confiar em Cristo e aguardar n’Ele, mas que dizer da angústia da
alma atormentada no círculo de cuidados terrestres, esperando egoisticamente que
Jesus lhe venha satisfazer os caprichos imediatos?
Seria razoável contar com o Senhor tãosó nas expressões passageiras da
vida fragmentária?
É indispensável descobrir a grandeza do conceito de “vida”, sem confundi
lo com “uma vida”.
Existir não é viajar da zona de infância, com escalas pela juventude,
madureza e velhice, até ao porto da morte; é participar da Criação pelo sentimento e
pelo raciocínio, é ser alguém e alguma coisa no concerto do Universo.
Na condição de encarnados, raros assuntos confundem tanto como os da
morte, interpretada erroneamente como sendo o fim daquilo que não pode
desaparecer.
É imprescindível, portanto, esperar em Cristo com a noção real da
eternidade. A filosofia do imediatísmo, na Terra, transforma os homens em crianças.
Não vos prendais à idade do corpo físico, às circunstâncias e condições
transitórias. Indagai da própria consciência se permaneceis com Jesus. E aguardai o
futuro, amando e realizando com o bem, convicto de que a esperança legítima não é
repouso e, sim, confiança no trabalho incessante
136 – Fr ancisco Cândido Xavier
124
FIRMEZA DE FÉ
“E os que estão sobre a pedra, estes são os que, ouvindo
a palavra, recebemna com alegria; mas, como não têm raiz,
apenas crêem por algum tempo, e, na época da tentação, se
desviam.”
Jesus (LUCAS, 8: 13)
A palavra “pedra”, entre nós, costuma simbolizar rigidez e impedimento;
no entanto, convém não esquecer que Jesus, de vez em quando, a ela recorria para
significar a firmeza. Pedro foi chamado pelo Mestre, certa vez, a “rocha viva da fé”.
O Evangelho de Lucas falanos daqueles que estão sobre pedra, os quais
receberão a palavra com alegria, mas que, por ausência de raiz, caem, fatalmente, na
época das tentações.
Não são poucos os que estranham essa promessa de tentações, que, aliás,
devem ser consideradas como experiências imprescindíveis.
Na organização doméstica, os pais cuidarão excessivamente dos filhos, em
pequeninos, mas a demasia de ternura é imprópria no tempo em que necessitam
demonstrar o esforço de si mesmos.
O chefe de serviço ensinará os auxiliares novos com paciência e, depois,
exigirá, com justiça, expressões de trabalho próprio.
Reconhecemos, assim, pelo apontamento de Lucas, que nas experiências
religiosas não é aconselhável repousar alguém sobre a firmeza espiritual dos outros;
enquanto o imprevidente descansa em bases estranhas, provavelmente estará
tranqüilo, mas, se não possui raízes de segurança em si mesmo, desviarseá nas
épocas difíceis, com a finalidade de procurar alicerces alheios.
Tudo convida o homem ao trabalho de seu aperfeiçoamento e iluminação.
Respeitemos a firmeza de fé, onde ela existir, mas não olvidemos a
edificação da nossa, para a vitória estável.
137 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
125
FILHOS E SERVOS
“Ora, o servo não fica para sempre na casa; o filho fica
para sempre.”
Jesus (JOÃO, 8: 35)
Na sua exemplificação, ensinounos Jesus como alcançar o título de filiação
a Deus.
O trabalho ativo e incessante, o desprendimento dos interesses inferiores do
mundo, a perfeita submissão aos desígnios divinos, constituíram traços
fundamentais de suas lições na Terra.
Muitos homens, notáveis pela bondade, pelo caráter adamantino, sacerdotes
dignos e crentes sinceros, poderão ser dedicados servos do Altíssimo. Mas o Cristo
induziunos a ser mais alguma coisa. Convidounos a ser filhos, esclarecendo que
esses ficam “para sempre na casa”.
E os servos? Esses, muita vez, experimentam modificações. Nem sempre
permanecerão, ao lado do Pai.
Mas, não é a Terra igualmente uma dependência, ainda que humilde, da
casa de Deus? Aí palpita a essência da lição.
O Mestre aludiu aos servos como pessoas suscetíveis de vários interesses
próprios. Os filhos, todavia, possuem interesses em comum com o Pai. Os primeiros,
servindo a Deus e a si mesmos, porque como servidores aguardam remuneração,
podem sofrer ansiedades, aflições, delírios e dores ásperas. Os filhos, porém, estão
sempre “na casa”, isto é, permanecerão em paz, superiores às circunstâncias mais
duras, porquanto reconhecem, acima de tudo, que pertencem a Deus.
138 – Fr ancisco Cândido Xavier
126
ÍDOLOS
“Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos Ídolos.”
(ATOS, 15: 29)
Os ambientes religiosos não perceberam ainda toda a extensão do conceito
de idolatria.
Quando nos referimos a ídolos, tudo parece indicar exclusivamente as
imagens materializadas nos altares de pedra. Essa é, porém, a face mais singela do
problema.
Necessitam os homens exterminar, antes de tudo, outros ídolos mais
perigosos, que lhes perturbam a visão e o sentimento.
Demorase a alma, muitas vezes, em adoração mentirosa.
Referese o versículo às “coisas sacrificadas aos ídolos”, e o homem está
rodeado de coisas da vida.
Movimentandoas, a criatura enriquece o patrimônio evolutivo. Ë
necessário, no entanto, diferenciar as que se encontram consagradas a Deus das
sacrificadas aos ídolos.
A ambição de alcançar os valores espirituais, de acordo com Jesus, chama
se virtude; o propósito de atingir vantagens transitórias no campo carnal, no plano da
inquietação injusta, chamase insensatez.
Os “primeiros lugares”, que o Mestre nos recomendou evitemos,
representam Ídolos igualmente. Não consagrar, portanto, as coisas da vida e da alma
ao culto do imediatismo terrestre, é escapar de grosseira posição adorativa.
Quando te encontres, pois, preocupado com os insucessos e desgostos, no
círculo individual, não olvides que o Cristo, aceitando a cruz, ensinounos o recurso
de eliminar a idolatria mantida em nosso caminho por nós mesmos.
139 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
127
ENQUANTO É DIA
“Convém que eu faça as obras d’Aquele que me enviou,
enquanto é dia.”
Jesus (JOÃO, 9: 4)
Sabemos que o labor divino do Mestre é incessante e efetuase num dia
perene e resplandecente de oportunidades; no entanto, para gravarnos no
entendimento o valor real da passagem na Terra, falanos Jesus de sua conveniência
em aproveitar o ensejo do contacto direto com as criaturas.
Se semelhante atitude constitui motivo de preocupação para o Mestre, que
não dizer de nós mesmos, nos círculos carnais ou nas esferas que lhes são imediatas,
dentro das obrigações que nos competem na sagrada realização do bem eterno?
Cristo não se refere à necessidade de falar das obras de Deus, mas, sim, de
construílas a seu tempo.
Não ignoramos que, sendo Ele o Enviado do Altíssimo no mundo, os
discípulos da Boa Nova são, a seu turno, os mensageiros do seu amor, nos mais
recônditos lugares do orbe terrestre. Os que vibram de coração voltado para o
Evangelho são, efetivamente, emissários da Divina Lição entre os companheiros da
vida material, onde quer que estejam, e bemaventurados serão todos aqueles que
aproveitarem o dia generoso, realizando em si próprios e em derredor de seus passos
as obras santificadas d’Aquele que os enviou.
Jamais desdenhes, desse modo, a posição em que te encontrares. Busca
valorizála, através de todos os meios ao teu alcance, a fim de que teu esforço seja
uma fonte de bênçãos para os outros e para teu próprio círculo. Nunca te esqueças de
aproveitar o tempo na aquisição de luz, enquanto é dia.
140 – Fr ancisco Cândido Xavier
128
DÁDIVAS ESPIRITUAIS
“E, descendo eles do monte, J esus lhes ordenou,
dizen do: A n in gu ém con teis a visã o, a té qu e o F ilh o do h omem
ressuscite dentre os mortos.”
(MATEUS, 17: 9)
Se o homem necessita de grande prudência nos atos da vida comum, maior
vigilância se exige da criatura, no trato com a esfera espiritual.
É o próprio Mestre Divino quem nolo exemplifica.
Tendo conduzido Tiago, Pedro e João às maravilhosas revelações do Tabor,
onde se transfigurou ao olhar dos companheiros, junto de gloriosos emissários do
plano superior, recomenda solícito: “A ninguém conteis a visão, até que o Filho do
homem seja ressuscitado dos mortos.”
O Mestre não determinou a mentira, entretanto, aconselhou se guardasse a
verdade para ocasião oportuna.
Cada situação reclama certa cota de conhecimento.
Sabia Jesus que a narrativa prematura da sublime visão poderia despertar
incompreensões e sarcasmos nas conversações vulgares e ociosas.
Não esqueçamos que todos nós estamos marchando para Deus, salientando
se, porém, que os caminhos não são os mesmos para todos.
Se guardas contigo preciosa experiência espiritual, indubitavelmente
poderás usála, todos os dias, utilizandoa em doses apropriadas, a fim de auxiliares
a cada um dos que te cercam, na posição particularizada em que se encontram; mas
não barateies o que a esfera mais alta te concedeu, entregando a dádiva às
incompreensões criminosas, porque tudo o que se conquista do Céu é realização
intransferível.
141 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
129
ORIGEM DAS TENTAÇÕES
“Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado
pela sua própria concupiscência.”
(TIAGO, 1: 14)
Geralmente, ao surgirem grandes males, os participantes da queda imputam
a Deus a causa que lhes determinou o desastre. Lembramse, tardiamente de que o
Pai é TodoPoderoso e alegam que a tentação somente poderia ter vindo do Divino
Desígnio.
Sim, Deus é o Absoluto Amor e tanto é assim que os decaídos se
conservam de pé, contando com os eternos valores do tempo, amparados por suas
mãos compassivas As tentações, todavia, não procedem da Paternidade Celestial.
Seria, porventura, o estadista humano responsável pelos atos desrespeitosos
de quantos inquinam a lei por ele criada?
As referências do Apóstolo estão profundamente tocadas pela luz do céu.
“Cada um é tentado, quando atraído pela própria concupiscência.”
Examinemos particularmente ambos os substantivos “tentação” e
“concupiscência”. O primeiro exterioriza o segundo, que constitui o fundo viciado e
perverso da natureza humana primitivista. Ser tentado é ouvir a malícia própria, é
abrigar os inferiores alvitres de si mesmo, porquanto, ainda que o mal venha do
exterior, somente se concretiza e persevera se com ele afinamos, na intimidade do
coração.
Finalmente, destaquemos o verbo “atrair”. Verificaremos a extensão de
nossa inferioridade pela natureza das coisas e situações que nos atraem.
A observação de Tiago é roteiro certo para analisarmos a origem das
tentações.
Recordate de que cada dia tem situações magnéticas específicas. Considera
a essência de tudo o que te atraiu no curso das horas e eliminarás os males próprios,
atendendo ao bem que Jesus deseja.
142 – Fr ancisco Cândido Xavier
130
TRISTEZA
“Porque a tristeza, segundo Deus, opera arrependimento
para a salvação, o qual não traz pesar; mas a tristeza do mundo
gera a morte.”
Paulo (II CORÍNTIOS, 7: 10)
Conforme observamos na advertência de Paulo, há “uma tristeza segundo
Deus” e outra “segundo a Terra”. A primeira soluciona problemas atinentes à vida
verdadeira, a segunda é caminho para a morte, como símbolo de estagnação, no
desvio dos sentimentos.
Muita gente considera virtudes a lamentação incessante e o tédio
continuado. Encontramos os tristes pela ausência de dinheiro adequado aos
excessos; vemos os torturados que se lastimam pela impossibilidade de praticar o
mal; ouvimos os viciados na queixa doentia, incapazes do prazer de servir sem
aguilhões. Essa é a tristeza do mundo que prende o Espírito à teia de reencarnações
corretivas e perigosas.
Raros homens se tocam da “tristeza segundo Deus”. Muito poucos
contemplam a si próprios, considerando a extensão das falhas que lhes dizem
respeito, em marcha para a restauração da vida, no presente e no porvir. Quem
avança por esse caminho redentor, se chora jamais atinge o plano do soluço
enfermiço e da inutilidade, porque sabe reajustarse, valendose do tempo, a golpes
benditos de esforço para as novas edificações do destino.
143 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
131
HOMENS E ANJOS
“Enquanto os anjos, sendo maiores em força e poder,
não pronunciam contra eles juízo blasfemo diante do Senhor.”
(II PEDRO, 2: 11)
É lastimável observar o grande número de pessoas que estão sempre
dispostas a proferir sentenças blasfematórias, umas para com as outras. A leviandade
dominalhes as conversações, a mesquinhez corrompelhes as atividades nos mais
diversos setores da vida.
Exceção feita aos sinceros cultivadores da luz religiosa, quase todos os
homens se conservam à porta de situações ásperas em que o esforço difamatório lhes
envenena a vida. Alimentam antipatias injustas para com os irmãos de atividade
profissional, pelo próximo que lhes não aceita as idéias, pelos companheiros que se
não afinam com os seus princípios. E como a lei é de compensação e troca,
receberão dos colegas e dos vizinhos as mesmas vibrações destruidoras.
Guerras silenciosas, nesse sentido, têm, por vezes, secular duração.
Entretanto, o homem jactancioso está sempre rodeado pela ação benéfica de
Espíritos iluminados e generosos, que, quanto mais revestidos de poder divino, mais
se compadecem das fragilidades humanas, estendendolhes mãos acolhedoras para o
caminho e jamais pronunciando juízos condenatórios diante do Senhor.
Toda vez que fores compelido a analisar os esforços alheios, recorda a
palavra de Pedro. Não te esqueças de que as entidades angélicas, mananciais vivos e
sublimes de força e poder, nunca enunciam sentenças acusatórias contra ti, diante de
Deus.
144 – Fr ancisco Cândido Xavier
132
SEMPRE ADIANTE
“Porque de quem alguém é vencido, do tal fazse
também escravo.”
(II PEDRO, 2: 19)
O Espírito encarnado, a fim de alcançar os altos objetivos da vida, precisa
reconhecer sua condição de aprendiz, extraindo o proveito de cada experiência, sem
escravizarse.
O dinheiro ou a necessidade material, a doença e a saúde do corpo são
condições educativas de imenso valor para os que saibam aproveitar o ensejo de
elevação em sua essência legitima.
Infelizmente, porém, de maneira geral, a criatura apenas reconhece
semelhantes verdades quando se abeira da transformação pela morte do corpo
terrestre.
Raras pessoas transitam de uma situação para outra com a dignidade
devida. Comumente, se um rico é transferido a lugar de escassez, dáse a tão
extremas lamentações que acaba vencido, como servo miserável da mendicância; se
o pobre é conduzido a elevada posição financeira, não raro se transforma em
ordenador insensato, escravizandose à extravagância e à tirania.
É imprescindível muito cuidado para que as posições transitórias não
paralisem os vôos da alma.
Guarda a retidão de consciência e atirate ao trabalho edificante; então, a
teus olhos, toda situação representará oportunidade de atingir o “mais alto” e o
“mais além”.
145 – CAMINHO, VERDADE E VIDA (pelo Espírito Emmanuel)
133
HEGEMONIA DE JESUS
“Disselhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo
que, antes que Abraão existisse, eu sou.”
(JOÃO, 8: 58)
É impossível localizar o Cristo na História, à maneira de qualquer
personalidade humana.
A divina revelação de que foi Emissário Excelso e o harmonioso conjunto
de seus exemplos e ensinos falam mais alto que a mensagem instável dos mais
elevados filósofos que visitaram o mundo.
Antes de Abraão, ou precedendo os grandes vultos da sabedoria e do amor
na História mundial, o Cristo já era o luminoso centro das realizações humanas. De
sua misericórdia partiram os missionários da luz que, lançados ao movimento da
evolução terrestre, cumpriram, mais ou menos bem, a tarefa redentora que lhes
competia entre as criaturas, antecedendo as eternas edificações do Evangelho.
A localização histórica de Jesus recorda a presença pessoal do Senhor da
Vinha. O Enviado de Deus, o Tutor Amoroso e Sábio, veio abrir caminhos novos e
estabelecer a luta Salvadora para que os homens reconheçam a condição de
eternidade que lhes é própria.
Os filósofos e amigos ilustres da Humanidade falaram às criaturas,
revelando em si uma luz refratada, como a do satélite que ilumina as noites terrenas;
os apelos desses embaixadores dignos e esclarecidos são formosos e edificantes;
todavia, nunca se furtam à mescla de sombras.
A vinda do Cristo, porém, é diversa. Em sua Presença Divina temos a fonte
da verdade positiva, o sol que resplandece.