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Published by geral, 2019-11-18 13:07:56

CRACHA

CRACHA

ÓRGÃO DE INFORMAÇÃO #1
ASSOCIAÇÃO SINDICAL
39
DOS PROFISSIONAIS
DA POLÍCIA revista aspp

novembro2019

Reforma. Nutrição
E agora? Alimentação saudável (e boa)
para quem trabalha por turnos
Descubra o antídoto Luta Sindical
nesta edição. Leia a carta aberta
que entregámos
ao primeiro-ministro

LISBOA, 1989
30 ANOS DE "SECOS E MOLHADOS"
CONHEÇA TODA A HISTÓRIA
POR QUEM A VIVEU.

#2

#7

"Somos agredidos, somos maltratados,
não há condições de trabalho,
não há grandes expectativas
ao nível da carreira, ou seja,
há uma desmotivação grande,
uma instabilidade grande
e uma revolta grande"

PAULO RODRIGUES, PRESIDENTE ASPP/PSP

#12

Secos & Molhados.
Uma luta de 30 anos

#6

Entregámos uma
carta aberta ao
primeiro-ministro
e ao diretor nacional

#32 #38

O fim da carreira Um olhar
não é o fim sobre Setúbal.
da vida. A realidade da cidade
Pelo contrário e o trabalho policial

nnºo3v9embro/2019 PROPRIEDADE IMPRESSÃO

Publicação disponível em Associação Sindical Tipografia Beira Alta
dos Profissionais da Polícia
www.aspp-psp.pt NIPC 502 551 720 DISTRIBUIÇÃO

DIRETOR CONTACTOS Gratuita aos associados

Paulo Rodrigues Avenida Santa Joana Princesa, 2 PERIOCIDADE
1700-357 Lisboa - Portugal
COORDENAÇÃO EDITORIAL +351 213 475 394 / 5 Trimestral
[email protected]
Agostinho Pinto www.aspp-psp.pt Nº REGISTO DGCI
Cristiano Correia
Gabinete de Comunicação DESIGN EDITORIAL 115869/91
[email protected]
Napperon DEPÓSITO LEGAL

74228/94

TIRAGEM

3000 exemplares

#3

Briefing EDITORIAL 21 de abril de 1989 significou
POR PAULO RODRIGUES para os polícias em particular,
#3 o mesmo que a revolução
21.abril.1989 de abril significou para todos
BRIEFING + EDITORIAL os portugueses. Foi este
Muitos pensarão que a caminho que a ASPP/PSP
#4 ASPP/PSP nasceu uns dias trilhou ao longo dos anos.
antes do 21 de abril de 1989, Queremos que os nosso
NOTÍCIAS NO CACIFO dia em que se realizou a direitos sejam respeitados e
manifestação de polícias lutaremos com todas as nossas
#8 que ficou conhecida pelos forças para o garantir, porque
“secos e molhados”. só assim conseguiremos
BATALHA SINDICAL Na verdade a pró-associação respeitar os princípios da nossa
sindical dos profissionais missão e criar condições para
Novos tempos, novas lutas! da polícia (designação com servir com qualidade todos
a qual se identificava o grupo os cidadãos.
#10 que iniciou a luta pelo
sindicalismo na polícia) nasceu Esta luta pode
FAÇA-SE JUSTIÇA pouco tempo depois da ter-se iniciado
revolução de abril. E os nos anos 70 mas
Paguem o que nos devem! propósitos eram os mesmos. o atual contexto
Lutava-se por uma polícia já nos provou que
#12 democrática aos serviço está longe de acabar.
do cidadão, por uma polícia
DESTAQUE aberta à sociedade que se É precisamente por isso
libertasse dos resquícios que temos de unir nesta
"Secos & Molhados" da ditadura. Mas para isso organização sindical todos
Uma luta de 30 anos era necessário, primeiro, que os polícias - sejam agentes
a polícia respeitasse os direitos ou chefes, oficiais de carreira
#28 que a própria revolução de abril ou do ISCPSI, mais antigos
tinha conquistado com os seus ou mais novos - porque é neste
VER DE FORA próprios funcionários, os reforço e união que reside a
polícias. Foi difícil, foi nossa força. Podemos estar a
Portugal, um país para viver dramático, mas a luta séria, lutar contra gigantes, podemos
responsável, coerente ser poucos ou estar
#32 e determinada deram condicionados na nossa ação,
ainda mais força à razão mas a nossa união e a razão
TEMPO LIVRE do que se propunha alcançar. da luta será a nossa arma
imbatível.
Reforma. E agora?

#38

RONDA

Um olhar sobre Setúbal

#42

ESTAR BEM PARA SERVIR MELHOR

Alimentação
e trabalho por turnos

#44

AS VERDADES SÃO PARA SE DIZER

Como viver acima
das possibilidades

#46

MEMÓRIA FUTURA

Somos ASPP/PSP

novembro/2019

#4

cacifoNOTÍCIAS NO

Nova imagem para
continuar a história


Em ano de celebração
dos 30 anos dos “secos
e molhados”, em momento
de reflexão e renovação
interna para enfrentar novos
desafios, revitalizámos não
só a nossa imagem, mas
também a nossa comunicação.

A força do crachá


Esta atualização
comunicacional, para
além de simbólica, recupera
a força da nossa grande
revista, que é o nosso grande
escrito histórico, surge
agora mais interessante
e apelativa, com foco nos
interesses dos nossos
associados.
Motivos não faltam
para acompanharem
e participarem na vida
do nosso sindicato que
é a marca do sindicalismo
policial, desde 1989.
Contruímos o nosso futuro.

Aposta no digital


Os nossos associados podem agora dispor
de um novo “site”, totalmente remodelado,
onde é estruturada toda a comunicação digital
e atualizado todo o trabalho desenvolvido
pela ASPP/PSP. Deve ser visita assídua
de todos nós.

#5

Resolver o que foi prometido "Não há cada vez mais
[elementos agredidos].
↓ Felizmente Portugal é cada
Paulo Rodrigues, dirigente da ASPP/PSP vez mais um país seguro.
– a propósito da recondução de Eduardo Cabrita Em 2014 éramos o décimo
para o MAI, pelo primeiro-ministro, António oitavo país mais seguro
Costa – afirmou que "o facto de continuar do mundo. Fomos esta semana
o mesmo ministro vem de alguma forma reconhecidos como o terceiro
beneficiar aquilo que é a ação do Governo", país mais seguro do mundo.
pois "como já conhece os problemas da polícia Há cada vez mais proatividade
tem agora todas as condições para começar e capacidade operacional das
imediatamente a resolver aquilo que foi nossas forças e serviços de
prometido". segurança. E os portugueses
"Parece-me que neste momento o Governo fica são devedores de um grande
sem argumentos para dizer que desconhece reconhecimento, de uma
os problemas da polícia, porque teve tempo profunda admiração por uma
para perceber quais eram os problemas, este atividade que, pela sua
ministro é o mesmo, portanto tem todas as natureza, comporta riscos"
condições de iniciar já a resolução de alguns
problemas que ficaram só por promessas 16.JUN.2019. EDUARDO CABRITA AOS JORNALISTAS,
no anterior Governo", vincou. QUANDO CONFRONTADO COM DADOS DO RASI

AGENTES AGREDIDOS Polícias sem equipamentos

391 ↑
Após o jogo entre o Vitória de Guimarães e o Eintracht
— Frankfurt a contar para a Liga Europa, em outubro,
Foram registados 391 polícias feridos a ASPP/PSP denunciou falta de meios e equipamentos de
em serviço no primeiro semestre de 2019. proteção dos agentes que faziam o policiamento desta partida.
Há também registo de mais de 40 GNR A direção desta associação sindical assinou um comunicado
agredidos durante o mesmo período. onde considerou que as imagens dos incidentes divulgadas
A Associação Sindical dos Profissionais nas redes sociais servem para demonstrar uma falta
da Polícia já tinha lamentado, em junho, de investimento em meios e equipamentos.
que o ministro da Administração Interna “Não é concebível, numa polícia que se pretende moderna
"esconda a realidade" sobre os polícias e eficaz, constatar que há agentes a levar com cadeiras
agredidos em serviço, considerando arrancadas das bancadas, durante vários minutos, com
que estes profissionais "merecem apenas um capacete de proteção”, pode ler-se no comunicado.
mais por parte do poder político". Ainda antes do apito inicial, os adeptos alemães arremessaram
cadeiras e agrediram alguns agentes, provocando ferimentos
ligeiros em dois operacionais.

#6

Carta aberta Os polícias exigiram ao diretor da PSP um papel
«mais interventivo» e «mais claro junto do
↓ poder político» porque, alertou Paulo Rodrigues,
O presidente da ASPP/PSP, Paulo Rodrigues, a continuar neste caminho, a instituição
integrou, em finais de setembro, uma arrisca-se a não conseguir cumprir o seu papel.
concentração de polícias em Lisboa. O
objetivo foi entregar uma carta aberta ao Paulo Rodrigues lamentou ainda que, em
primeiro-ministro e ao diretor-nacional da PSP período de campanha eleitoral, o tema da
Segundo Paulo Rodrigues, «houve um conjunto segurança não tenha estado na mesa dos
de promessas, que o Governo fez no início debates e frisou que, a manter-se a situação, os
desta legislatura, que não foram cumpridas», polícias estão preparados para prosseguir a luta.
colocando em risco o funcionamento da
instituição e a integridade dos profissionais.
frisou que, a manter-se a situação, os polícias
estão preparados para prosseguir a luta.

#7

"Somos agredidos, somos
maltratados, não há
condições de trabalho,
não há grandes expectativas
ao nível da carreira, ou
seja, há uma desmotivação
grande, uma instabilidade
grande e uma revolta
grande"

"Houve um conjunto de
promessas, que o Governo
fez no início da anterior
legislatura, que não
foram cumpridas"

PAULO RODRIGUES, PRESIDENTE ASPP/PSP

#8

BATALHA SINDICAL

Novos
tempos,
novas
lutas!

A história ensina-nos que as Não existem trabalhadores por conta de ou-
relações entre empregadores trem sem empresários, como não existem em-
e trabalhadores, sempre presas que funcionem sem pessoas. É necessário
foi uma relação de conflito. que ambos os lados consigam conviver, mesmo
Não há como evitar. que muitas vezes os interesses conflituem.

POR JOSÉ CHAVES, O fim último da atividade empresarial é co-
VICE-PRESIDENTE ASPP/PSP mum aos dois lados da relação laboral, ambos
querem o sucesso da empresa e com isso melho-
S e de um lado quem é empreendedor e res condições para todos ganharem mais e, con-
assume riscos próprios da atividade, sequentemente, melhor qualidade de vida.
com isso quer, muito legitimamente,
retirar os devidos dividendos desse mesmo O empresário, por definição, pretende obter
risco, do outro está quem participa e contri- o máximo de lucro da empresa, qualquer empre-
bui decisivamente para que a atividade tenha sário não se conforma apenas com um simples
sucesso. lucro, pretende obter o máximo que puder, pois
só assim se justifica a sua opção pelo risco. Já o
trabalhador quer ver reconhecido o seu trabalho
e com isso que o empregador lhe pague o melhor
possível. E é exatamente neste ponto que o con-
flito aparece. De um lado o empresário a querer
obter o máximo de lucro e do outro o trabalhador
a querer o máximo de retribuição.

Neste conflito não podemos perder de vista
que todo o poder está do lado do empresário, que
o trabalhador só pode equilibrar esse poder com
uma organização que o defenda. Esta organiza-
ção está desde há cerca de 150 anos confiada aos
sindicatos, que com mais ou menos eficácia tem
garantido melhores condições de vida para os
trabalhadores. Se hoje os direitos sociais são uma
realidade que cada um de nós encara como nor-
mal, estes só foram possíveis pelo extraordinário
papel de perseverança e determinação que tive-
ram os sindicatos ao longo da história recente da
humanidade.

#9

Também não é novidade que os empregado- sociais, contribuíram decisivamente para a des-
res tentaram sempre descredibilizar os sindi- credibilização do movimento sindical. Os empre-
catos, pois para obterem o máximo de lucro era gadores quando antes tinham um interlocutor
preciso “minar” internamente as organizações que conheciam bem, que são claros os seus inte-
que defendiam os trabalhadores, e é por isso resses, que sabiam do seu sentido de responsabi-
que os trabalhadores mais atentos sabem disso, lidade, têm agora movimentos de trabalhadores
encaram como fazendo parte do processo, ten- que desconhecem até onde podem ir e que inte-
tando por todos os meios que isso não aconteça. resses – alguns obscuros - estão por detrás de
Todavia, esta é uma luta de David contra Golias. um súbito apoio a uma classe que sempre esque-
De um lado está quem tem todos os poderes e ceram, pois sabemos bem no que pode resultar
que consegue influenciar a opinião pública e do dinâmicas grupais desta natureza.
outro está quem tem apenas poder se estiverem
unidos na luta. A desunião, conseguida das mais Estes novos movimentos, onde se incluem
variadas formas, é pois a estratégia de quem está os novos sindicatos que aglutinam trabalha-
disposto a tudo para garantir máximos lucros. dores mais radicais e extremistas e por con-
seguinte mais facilmente manipuláveis, que
Posto isto importa reportar todas estas ques- podendo pontualmente resolver questões de
tões aos últimos tempos. Se de um lado temos a ordem laboral, também podem desencadear
tentativa de descredibilização sindical, muitas situações muito desconfortáveis para os tra-
vezes feita, naturalmente com muita manipula- balhadores, que sirvam de aprendizagem para
ção, pelos próprios trabalhadores, que se auto- que os empregadores passem a dar a devida im-
-mutilam em matérias que deviam estar unidos, portância ao movimento sindical que ao longo
outras vezes é o próprio controlo da comunicação de décadas já deu mostras de responsabilidade
social que os leva para esse grau de manipulação. e determinação na defesa dos trabalhadores.
É um paradoxo que só se entende pelo grau de
manipulação quando são os próprios trabalhado- Para terminar e reportando toda esta di-
res a descredibilizarem quem os defende. nâmica aos problemas no seio da PSP, refiro
este, como poderia referir muitos outros, em
DEFENDER QUEM TRABALHA que não nos esquecemos, das negociações em
sede da alteração do estatuto da PSP, que foi
Alguns (infelizmente cada vez mais) emprega- acordado a passagem para a pré-aposentação
dores, numa visão curta do conflito laboral, tudo automática a partir de 2020, bastando para isso
fazem para retirar poder a quem represente os reunir os dois requisitos de tempo de serviço
trabalhadores, seja através de negociações falha- e idade. Caso a tutela e a administração não o
das, seja também através de negociações que se cumpram, mais uma vez fica o sindicato e neste
estabelecem e depois não são cumpridas, levan- caso a ASPP/PSP que negociou, fragilizada, com
do a que o descrédito nos sindicatos seja cada vez as consequências que tudo isso acarreta, não só
maior. A tudo isto não é estranho o aparecimen- para quem negociou e esteve de boa-fé, como
to de fenómenos que surgem espontaneamente, também para todo o movimento sindical e o
muito deles manipulados e manietados por inte- crescente descrédito para a classe política. Não
resses obscuros, mas sempre como pano de fun- se admire o Governo e toda a classe política que
do a defesa dos direitos dos trabalhadores e com este descrédito do sindicalismo na PSP, tendo
a possibilidade de destabilizar completamente o sido feito pelos próprios polícias, foi sempre
Estado de Direito com repercussões até na pró- induzido e alimentado por uma hierarquia cuja
pria democracia. É inevitável, como tem ensina- visão apenas alcançava o seu próprio umbigo e
do a história, que os trabalhadores se organizem por uma classe política que tal como Pilatos, la-
por melhores condições de vida. Pode demorar, vou sempre as suas mãos e que hoje se arrisca a
pode ser difícil, pode resistir mais ou menos tem- ficarem manchadas de sangue, pois as dinâmi-
po a manipulações ideológicas e até a ameaças cas que se avizinham e que já há sinais claros,
com despedimentos, mas o medo e a mentira não para além de mostrarem toda a indignação da
resistem eternamente. classe – e que se entende muito bem –, podem
desencadear situações muito graves para a pró-
Estes movimentos só aparecem porque os pria democracia.
empregadores na tal visão curta das dinâmicas

#10

FAÇA-SE JUSTIÇA

Paguem
o que nos
devem!

Quando a ASPP decidiu propor Com essa opção, conseguiu-se num espa-
no Tribunal Administrativo ço de tempo relativamente curto, percorrer
de Círculo de Lisboa uma acção todas as instância judiciais administrativas e
contra o Ministério da obter uma decisão judicial definitiva (do STA).
Administração Interna tendo
em vista a sua condenação Por outro lado, o fundamento do direito ao
no pagamento do suplemento pagamento em férias do Suplemento Especial
especial de serviço durante de Serviço mantém-se plenamente válido em
o período de férias, deu início relação aos demais suplementos remunerató-
a uma batalha jurídica que, como rios, pelo que o êxito naquela acção permitiria
é sabido, teve como desfecho dar suporte à exigência junto do MAI para o
o acórdão do Supremo Tribunal pagamento a todos os polícias de todos os su-
Administrativo, de 15 de março plementos.
de 2018.
E a realidade veio dar-nos razão. Com efei-
POR RICARDO GUEDES COSTA, ADVOGADO to, o MAI confrontado com o acórdão do STA,
e com a pressão da acção sindical, viu-se obri-
O Supremo Tribunal Administrativo gado a reconhecer, através do seu despacho
(STA) veio reconhecer o que sempre de 2 de janeiro de 2019, o direito de todos os
a ASPP havia sustentado e reclama- polícias a auferirem os correspondentes su-
do junto da Direcção Nacional da PSP e do MAI: plementos remuneratórios durante as férias.
o direito de os polícias auferirem, no período Porém, o MAI não foi tão longe quanto deve-
de férias, os suplementos remuneratórios. ria ter ido, ou seja, determinar o pagamento
dos suplementos desde 2010, pois que foi des-
Na referida acção, em vez de se peticionar de então que o mesmo foi omitido.
o pagamento a todos os polícias associados da
ASPP de todos os suplementos remunerató- Por isso, o caminho iniciado pela ASPP só
rios, o que daria à acção uma grande dimen- estará concluído quando aos policias for pago
são com efeitos nefastos na celeridade de de- tudo quanto a título de suplementos remune-
cisão pretendida, apenas se suscitou o direito ratórios lhes foi sonegado desde 2010. E, as-
ao Suplemento Especial de Serviço de quatro sim, já no início do corrente ano nova acção
associados da ASPP que nela figuraram como deu entrada nos tribunais administrativos
interessados. visando o pagamento de suplementos desde
2010. E, naturalmente, outras darão entrada
na altura certa, sem outro propósito que não
seja o de fazer funcionar a Justiça na defesa
dos direitos dos polícias.

#11

"O caminho iniciado
pela ASPP só estará
concluído quando
aos policias for pago
tudo quanto a título
de suplementos
remuneratórios
lhes foi sonegado
desde 2010."

STEVE BUISSINE @ PIXABAY

#12
Lisboa, 21 de abril
de 1998. Um dia
de muitas
memórias.

#13

UMA LUTASECOS & MOLHADOS
DE 30 ANOS

#14

#15

Como vem sendo habitual lá dirigentes da ASPP/PSP, muitos deles partici-

se viveu de novo a célebre pantes e com forte ligação ao trabalho que nos
data do episódio que ficou conduziu até ao dia 21 de abril de 1989.
para sempre conhecido pelos
A comunicação social, tal como era espera-
do, também desta vez deu grande relevo a este

“Secos e Molhados”. Desta episódio da nossa história contemporânea. No
vez, e porque passaram dia 14 de abril de 2019, o histórico jornalista
da Lusa, Fernando Peixeiro, fez uma larga re-

30 anos sobre este episódio, portagem diretamente da Praça do Comércio,
a ASPP/PSP, decidiu dar reconstituindo os acontecimentos ocorridos
no dia 21 de abril de 1989, com o contributo de

um enfoque maior aos alguns dos seus protagonistas. Este trabalho
acontecimentos que estiveram foi um dos destaques no telejornal da SIC do
dia 20. No dia 21 de abril de 2019 esta repor-

na origem deste segundo tagem passou de forma contínua ao longo do

encontro nacional de Polícias, dia na SIC Notícias, sendo também notícia em
vários jornais.
pelo que realizou duas
O vídeo que a ASPP/PSP reconstruiu, ba-

cerimónias alusivas seado em imagens reais dos acontecimentos,
ao evento, uma no Porto e que serviu de abertura a ambas as conferên-
cias, deixou a assistência contida em emoções

e outra em Lisboa. muito fortes por ser profundamente demons-
trativo de todo um processo histórico de ine-

POR ÁLVARO DA SILVA MARÇAL gável relevo para todos, quantos, de uma for-

ma direta ou não tanto, estiveram envolvidos

neste acontecimento.

N a capital, a celebração UM DIA A NÃO ESQUECER
desta data realizou-se
nos dias 24 e 25 de abril Polícias muito jovens, corajosos, determinados
e teve como ponto alto e destemidos, não olharam aos prejuízos que,
uma conferência na Voz desta luta, adviriam para as suas carreiras pro-
do Operário, local de onde, no dia 21 de abril fissionais, para a estabilidade das suas famílias
de 1989, os Polícias partiram em desfile até e decidiram agigantar-se, perante um poder
ao Ministério da Admini stração Interna no que teimava em reconhecer-lhes a razão.
Terreiro do Paço. Esta conferência foi su-
bordinada ao tema: “Comemoração dos 30 De facto, 30 anos são 30 anos, uma dis-
anos de Secos e Molhados – O 21 de abril de tância que nos permite ver cada vez melhor o
1989 e os Novos Desafios do Sindicalismo”. alcance desta luta e o significado daquele dia
Do cartaz alusivo à iniciativa fizeram parte 21 de abril de 1989. A este propósito, são inú-
reputadas figuras históricas do sindica- meras as perspetivas sobre as quais se pode
lismo policial das quais destacamos, o Dr. analisar este acontecimento todas legítimas,
Bernardo Colaço – Juiz Conselheiro Jubila- todas pertinentes e, sobretudo, muito oportu-
do do STJ (Supremo Tribunal de Justiça) e, nas para o enriquecimento da nossa história e
a nível europeu, Gérard Grenerón – Conse- do nosso progresso.
lho Europeu Assuntos Segurança.
Não é difícil recuperar a memória dos acon-
No Porto, as celebrações desta data de- tecimentos que ocorreram ao longo do dia 21
correram ao longo do dia 17, com a realiza- do mês de abril de 1989. Não é difícil, porque
ção de uma conferência sobre “Secos e Mo- os acontecimentos vividos essencialmente nes-
lhados”, em que participaram destacados sa tarde, marcaram para sempre um momento
decisivo e memorável na história da Polícia e do
sindicalismo das Forças de Segurança em Por-
tugal e, em particular, nas pessoas diretamente
envolvidas nesse acontecimento. →

#16

→ Efetivamente, são muitos os significados "Hoje, 30 anos depois,
que se podem associar à data em que ocorreu percebemos ainda
o episódio dos Secos e Molhados, a partir do melhor que este
qual muita coisa mudou, sobretudo no que se acontecimento honrou
refere ao ambiente que se vivia em Portugal a nossa história,
em torno de uma questão que nos envergo- a história de uma
nhava na Europa. Quinze anos depois do 25 de jovem democracia que
Abril de 1974, perdurava um clima de enorme assim dava mais um
tensão no interior da Polícia, e mais uma vez, passo."
foi a razão, a força dos homens e das mulheres,
que já há cerca de 10 anos antes trabalhavam processos disciplinares e processos-crime, por
no sentido de inscrever os Polícias portugue- algo que a maioria da população portuguesa e
ses nas páginas da democracia, reconhecendo- a Europa há muito reconheciam e que os Polí-
-lhes direitos legítimos, constitucionalmente cias, em particular, sentiam como uma neces-
consagrados e clamados aqui e além-frontei- sidade, e a população em geral também reco-
ras, que venceu. nhecia como um direito.

Hoje, 30 anos depois, percebemos ainda Esta data é e será sempre um hino e uma
melhor que este acontecimento honrou a nos- homenagem a esses homens e mulheres, que,
sa história, a história de uma jovem democra- em circunstâncias muito difíceis, pagaram um
cia que assim dava mais um passo, reconhe- preço muito elevado por uma liberdade que
cendo o direito de associação aos Polícias. O ainda não tinham, por uma liberdade que che-
direito destes profissionais se poderem mani- gou mais tarde e, para alguns, tarde de mais
festar, reivindicar os seus direitos, participar porque já não estão entre nós para testemu-
na negociação dos seus estatutos, o direito a nhar que, afinal, olhando agora para o 21 de
poderem manifestar o seu descontentamento, abril de 1989, se torna cada vez mais evidente
o seu direito de opinião e de poderem exercer que esta data foi efetivamente um marco mui-
os seus direitos de cidadania sem serem pu- to importante, que o seu trabalho valeu por
nidos por tal. Em síntese, chegava o momento tudo, pois os Polícias estavam incontornavel-
dos Polícias poderem finalmente contribuir mente do lado da razão.
para a melhoria do seu estatuto profissional
e para o progresso da Polícia através de uma Honremos a nossa história e façamos jus-
participação democrática e responsável. tiça ao saber, à inteligência, à coragem e à de-
terminação de Homens como o Senhor Comis-
HONRAR A HISTÓRIA sário Joaquim Bandeira Santinhos e a tantos
outros que, com ele, deram o impulso inicial a
Portugal e os portugueses foram reconhecidos este movimento, força e expressão a esta cau-
além-fronteiras e enaltecidos por este feito. sa. Assim como ao nosso líder do momento, o
Os acontecimentos deste dia e o trabalho que Chefe José Manuel dos Santos Carreira, presi-
nos levou até ali, são bem demonstrativos da dente do nosso sindicado na altura, bem como
inteligência, coragem, tenacidade, persistên- a todos os membros da sua direção, alguns
cia, solidariedade e responsabilidade - adjeti- dos quais foram detidos em plenos aconteci-
vos com que tantas vezes coroamos a nossa mentos. Mas honremos também o movimen-
história -, que estiveram sempre na base da to sindical, a maioria dos partidos políticos e
construção de uma solução que ultrapassasse as diversas personalidades que, muitas vezes,
aquele impasse. de forma mais explícita, outras vezes de for-
ma mais discreta ou anónima foram também,
E afinal que mal havia nisto? Que justifica- afinal, a essência de todo o processo que havia
ção havia para este adiamento, que tantos pre- de levar ao dia 21 de abril de 1989 e à mudança
juízos provocou e que tantos fantasmas criou, do paradigma na evolução da nossa Polícia. →
para se escamotear um direito e uma realida-
de incontornável.

Pagou-se uma fatura muito pesada e foi
pena, porque não deveria ser necessário que
tantos colegas tivessem que ser punidos com

#17

#18

→ É muito justo reconhecer nas pessoas por eles que nos silenciamos e refletimos num
dos nossos presidentes, dos seus executivos e gesto de merecido respeito e profunda home-
órgãos sociais da ASPP/PSP este trabalho que nagem.
há 30 anos, por vezes em circunstâncias mui-
to difíceis, temos vindo a desenvolver. Tive o Muito obrigado!
privilégio e uma enorme honra de conhecer 21 de abril de 1989 não é apenas sinónimo
muito bem todos os nossos presidentes, de de largas centenas de Polícias corajosos e de-
trabalhar com todos e de todos guardar uma terminados. Representa, também, um amplo
imagem de elevado profissionalismo, dedica- movimento da sociedade que nos honrou e
ção, sentido de missão, capacidade de análise honra como povo, pelo seu saber, persistência,
e de visão contextualizada dos acontecimen- solidariedade e coragem.
tos. Uma forma singular de olhar tantas difi- Esta data marcou efetivamente um ponto
culdades mas, sobretudo, um enorme méri- de viragem, como largamente se noticiou na
to e admiração por essa capacidade que lhes altura, na história da Polícia e, a partir daqui,
reconheci e reconheço de interpretar e saber assistiu-se a uma progressiva evolução no seu
enquadrar as dificuldades em múltiplas pers- ambiente interno. Acabaram, finalmente, as
petivas, sem deixar de reconhecer a pertinên- perseguições e os processos disciplinares por
cia e a razão de todas e de todos quantos se tudo e por nada, a respeito do associativismo.
dirigem à ASPP/PSP para, a partir de nós, da- A tensão enorme e o clima de “cortar à faca”,
rem corpo à sua insatisfação. Mas também à caracterizado pelo medo, pelas perseguições
sua capacidade de reconhecer as fronteiras e constantes e por desconfianças sobre associa-
os parâmetros em que deve ser exercido esse dos e simpatizantes da Pró-Associação Sindical
direito e poder, no estreito limite do respeito dos Profissionais da PSP, como era designada
pelas normas formais e informais que devem na altura, foi-se desvanecendo. Pouco a pouco,
nortear as nossas condutas numa das Institui- foi-se instalando um clima de diálogo e de con-
ções mais prestigiadas e reconhecidas da nos- fiança, uma relação pautada pela salutar fronta-
sa organização social. lidade que deve caracterizar a convivência das
pessoas nas suas instituições e, sobretudo, na
CORAGEM E DETERMINAÇÃO capacidade de respeitar a diferença de opinião.
A Polícia moderna que somos, o enorme pro-
Do histórico e lendário Comissário Joaquim gresso que fizemos, o prestígio que granjeámos
Bandeira Santinhos, passando pelo Chefe José e a credibilidade que todos os dias ganhamos
Manuel dos Santos Carreira, aos Agentes Prin- também é fruto desta fratura com o passado,
cipais Alberto Ribeiro Torres e Paulo Jorge Pires deste movimento, da nossa participação res-
Rodrigues, a todos, sem exceção, reconheço ele- ponsável e da aprendizagem que soubemos
vado mérito na condução dos destinos do maior fazer do nosso passado e do presente cada vez
sindicato da Polícia em Portugal e na Europa. mais exigente.
Fruto do seu sábio talento, do seu persistente Esta data celebra também a maturidade
trabalho e da colaboração das suas equipas, pro- de uma instituição que evoluiu no sentido do
jetaram, ao longo destes 30 anos, uma imagem reconhecimento de direitos, dos direitos dos
de elevado prestígio, aqui e além-fronteiras, da seus próprios profissionais, numa atitude que
ASPP/PSP, dos Polícias, da Polícia e de Portugal. engrandeceu e reforçou a sua missão e os seus
princípios. De uma instituição que, apesar de
Quando revisitamos esta história de 30 anos, tudo, num dado momento soube fazer a sua
através das imagens do vídeo que foi apresenta- transição para uma Polícia moderna, dinâmica,
do em cada conferência, percebemos e sentimos inconformada no seu progresso, aberta ao diá-
a razão de todas aquelas emoções e dos olhares logo e ciente da importância do contributo de
mais humedecidos dos colegas e convidados. todos, na busca de melhores soluções.
Somos inevitavelmente tocados pelas memó- Esta data marcou também uma nova exi-
rias dessas centenas de homens e mulheres, gência na forma de se fazer sindicalismo, tema
maioritariamente anónimos, que fizeram cada amplamente desenvolvido nestas duas confe-
um daqueles instantes e que contribuíram para rências. Chegava ao fim um longo período de
o nosso progresso com um passo sábio e largo. É

#19

tempo, marcado pela coragem, capacidade de "Esta data marcou
afirmação e competência dos polícias, onde o efetivamente um ponto
vínculo efetivo ou apenas o sentimento de per- de viragem, como
tença ao movimento sindical que germinava, largamente se noticiou
era por si só, muitas vezes, sinal de vitória. na altura, na história
da Polícia."
Daqui para a frente, o trabalho do sindicato
passou a incluir outros papéis onde a capacida- sindical foi e é cada vez mais, um exercício que
de de negociação e de apresentação de propos- começa a ficar fora do mero voluntarismo cir-
tas passou a fazer toda a diferença. Este novo cunstancial, de algum oportunismo, de uma cer-
papel que está conferido ao sindicalismo, con- ta cultura populista, exigindo um fôlego maior,
tém naturalmente, como princípio essencial, a uma visão para além das circunstâncias, uma vi-
luta pelas questões corporativas que são legí- são do todo, em ordem ao desenvolvimento e ao
timas e conferem o sentido da eleição dos seus progresso sustentável, uma visão dirigida para
órgãos, as escolhas dos seus associados. Mas, as pessoas entendidas nas suas especificidades
não se esgotam nessa dimensão estritamente individuais, mas integradas num todo de que
corporativa. O seu novo posicionamento, como queremos, cada vez mais, fazer parte.
parceiros autênticos na mesa das negociações,
passa a exigir uma constante visão estratégica, UM LONGO CAMINHO
uma responsabilidade diferente e um desempe-
nho baseado em critérios de elevada competên- Passados estes 30 anos, o percurso honro-
cia e responsabilidade. so da ASPP/PSP, na forma como vem fazendo
o seu caminho, constitui uma referência no
Este novo posicionamento do movimento cenário do sindicalismo policial que entretan-
sindical e, em concreto, dos seus interlocutores, to, pela proliferação de sindicatos, se desca-
tem subjacentes múltiplas exigências e respon- racterizou e fragilizou. Instituição de enorme
sabilidades que exigem, uma visão e um conhe- responsabilidade no cenário sindical Portu-
cimento concreto dos problemas num contex- guês, em especial nas Forças de Segurança e,
to mais alargado na busca de equilíbrios nem em particular, na PSP, a ASPP/PSP, continua a
sempre fáceis de encontrar. Na conferência de merecer a confiança da maioria dos Polícias,
Lisboa, os nossos convidados, Bernardo Cola- constituindo-se como um parceiro de reco-
ção e Gérard Grenerón, passaram em retros- nhecido sentido de responsabilidade, credibi-
petiva estes 30 anos de trabalho em contextos lidade, capacidade e respeito.
e conjunturas muito diferentes, enfatizando o
papel responsável da ASPP/PSP, na construção A sua longa história está repleta de momen-
de soluções para desafios cada vez mais exigen- tos que lhe conferem uma elevada maturidade,
tes. credibilidade e respeito por todos. Desde o se-
nhor Comissário Joaquim Bandeira Santinhos,
Os oradores e os participantes destas con- passando pelo nosso estimável Chefe José Ma-
ferências não deixaram de reforçar o papel do nuel dos Santos Carreira, pelos Agentes Princi-
sindicato na credibilização dos seus papéis, na pais Alberto Torres e, agora, pelo Paulo Rodri-
responsabilização dos poderes que represen- gues, todos, sem exceção, procuram seguir este
tam e, acima de tudo, na exigência cada vez caminho com reconhecida sabedoria, conferin-
maior do papel que cabe a cada um dos seus do assim acrescido mérito, prestígio, confiança
representantes, sejam dirigentes, delegados ou e sustentabilidade a este projeto.
associados.
O 21 de abril de 1989, por força da razão, pe-
O sentido da responsabilização individual, las inúmeras etapas deste longo caminho terá
corporativo e institucional, muitas vezes di- de constituir enorme referência, em primeiro
fícil de conciliar entre as pressões mais inter- lugar, por parte dos Polícias e, simultaneamen-
nas e as conjunturas externas, é um trabalho te, por parte de qualquer instituição e, em geral,
permanente e nunca acabado e, neste sentido, por todos. →
nem sempre coincidem estes dois calendários.
Aos dirigentes cabe a difícil tarefa de decidir em
conformidade e, por esse motivo, ser dirigente

#20

→ O 21 de abril de 1989 decorreu num con- "O 21 de abril
texto muito próprio, típico do culminar dos de 1989 decorreu
processos que deixam de ter condições para se num contexto
susterem a si próprios. Portugal e os seus go- muito próprio,
vernos deixaram de ter condições para suster típico do
a marcha da verdade, da razão e do progresso culminar dos
neste domínio muito particular da consagra- processos que
ção do associativismo nas Forças de Segurança. deixam de ter
Não era possível conter por mais tempo a lega- condições para
lização de um processo de luta que a maioria se susterem
dos cidadãos considerava absurdo, sem expli- a si próprios."
cação e, sobretudo, que a Constituição previa.
Por que motivo não haviam os Polícias de ter,
à semelhança de todos os restantes cidadãos, a
sua organização representativa?

O acontecimento que marcou esta transi-
ção entre a clandestinidade e a legalidade do
movimento sindical na Polícia, ficou marcado, e
posteriormente conhecido, pelo incidente ocor-
rido na tarde do dia 21 do mês de abril de 1989,
no Terreiro do Paço, entre Polícias que se reu-
niam em frente ao Ministério da Administra-
ção Interna, depois de desfilarem até ali desde
a “Voz do Operário” e os seus colegas do Corpo
de Intervenção, que aguardavam pelo desenro-
lar dos acontecimentos na Praça do Município.

REFORMAS E MUDANÇAS dical dos Profissionais da PSP.
Uma das questões, naturalmente muito per-
“Secos e Molhados”, é assim que as pessoas
recordam aquele dia, expressão que pretende tinente, que por vezes se coloca, é saber que tipo
simbolizar os Polícias que pertenciam ao movi- de reivindicações os defensores do associativis-
mento e que ali se concentravam e os Polícias mo faziam antes do dia 21 de abril de 1989.
que foram chamados a dispersar os colegas. Os
primeiros foram inicialmente atingidos com ca- De forma muito resumida, podemos elencar
nhões de água, provenientes de potentes carros como grandes questões da altura a luta pela
de água do Corpo de Intervenção. Mais do que legalização da sua associação representativa
molhados, ficaram totalmente encharcados por a ASPP/PSP (Associação Socio-Profissional da
resistirem corajosamente a este primeiro ata- Polícia da Polícia de Segurança Pública), pelo
que, demonstrando assim que, com água, jamais direito a uma folga semanal, por melhores con-
dali dispersariam. Os segundos, os elementos do dições de trabalho, pela construção de uma
Corpo de Intervenção, que receberam ordens do Polícia profissional e pelo fim da presença de
governo para dispersar os “manifestantes”, fica- militares, em comissão de serviço, a comandar
ram conhecidos como “os secos”, os Polícias que a Polícia.
molharam os colegas, que atiçaram cães para
os atacar, tendo-se efetivamente concretizado O caminho não podia ser efetivamente ou-
este ataque e que, por último, utilizaram os seus tro. Volvidos 30 anos não há comparação possí-
bastões para obrigar os seus colegas a desfazer a vel quanto à melhoria das nossas condições de
concentração e a abandonar o local em frente ao trabalho e ao grau de profissionalização da Po-
Ministério da Administração Interna, dando as- lícia. São, de facto, inúmeras as reformas e mu-
sim por cumprida a missão que culminou com a danças que se fizeram, muitas das quais com
detenção de seis colegas da Pró-Associação Sin- elevado impacto estrutural e influência no sen-
tido de preparar os Polícias e a Polícia para no-

#21

vas realidades que se aproximavam como era, éramos muito jovens. Até àquela data, eu tinha
por exemplo, o caso da abolição das fronteiras inscrito 221 operacionais do Corpo de Interven-
e de um conjunto de novos e muito exigentes ção nas listas clandestinas da Pró-Associação
desafios, que na altura fizeram também parte Sindical dos profissionais da PSP.
das nossas preocupações.
A larga maioria manifestava interesse em
Este processo evolutivo não pode deixar de também se associar ao movimento, mas recea-
ter presente a importância do papel da ASPP/ va fazê-lo devido ao clima de enorme tensão e
PSP como, aliás, é constantemente reconheci- medo que reinava na instituição e, em particu-
do. Volvidos 30 anos sobre o episódio dos “Secos lar, muito compreensivelmente, numa Unidade
e Molhados” retomemos, então, os aconteci- Especial de Polícia com aquelas características.
mentos vividos naquele dia por um polícia que
esteve de ambos os lados. Um mês depois do 21 de abril, éramos já 487
associados, num total de cerca de 800 homens
Foi efetivamente uma tarde muito difícil daquela Unidade Especial de Polícia. O ambien-
para ambos os lados, para todos. O confronto te dentro da unidade era de uma enorme coesão
entre Polícias é, por si só, algo impensável e e compreensão pela luta que se vinha travando
inquestionavelmente muito violento, tal como em prol da legalização do movimento. Não es-
foi, na altura, largamente desenvolvido pelos tive sozinho neste trabalho, por vezes difícil.
media, aqui e além-fronteiras. Recordo, com emoção, uma boa dúzia de gran-
des operacionais, pela sua valentia, coragem,
Mas, visto por dentro, por alguém que es- determinação e inteligência, que me apoiaram
teve dos dois lados, que se sentiu simultanea- na construção cuidadosa e responsável, de um
mente “molhado e seco”, não é menos doloroso. ambiente de aceitação, compreensão e perten-
Na altura, a média das idades dos operacionais ça ao movimento que, cá fora, aumentava. →
do Corpo de Intervenção, rondava os 27 anos,

#22

#23

"A TSF, no noticiário uma hora depois estavam a chegar. Eu dirigi-
das 08h00, fez uma -me para o bar onde discretamente continuava
ampla divulgação a acompanhar as notícias. Os colegas começa-
do nosso encontro ram a chegar para o reforço alimentar da ma-
marcado para as 14h30 nhã, após a instrução. O bar era um local muito
na Voz do Operário." confortável, aprazível e elegante.

→ Neste contexto, facilmente se depreende O sol que entrava pelas janelas projetava-se
que, também por este motivo, a participação nas madeiras castanhas de forma muito suave
dos elementos do Corpo de Intervenção foi um criando uma atmosfera muito confortável.
acontecimento duplamente violento, porque a
maioria daqueles operacionais eram associa- Olhando disfarçadamente para os jornais
dos e simpatizantes da Pró-Associação Sindical, e revistas que não lia, apercebia-me de que a
percebiam a justeza daquela luta e não viam por rádio estava a fazer uma grande divulgação
que motivo, teriam de ser chamados para uma do nosso encontro. Fomos à sala de aulas para
intervenção daquele género, pois não lhes pa- pequenos acertos de férias e folgas e voltámos
recia ilegal e a razão da sua intervenção tinha para o nosso descanso. Regressei ao bar, ago-
que ter este requisito, como justificação do uso ra quase sem ninguém. Sentei-me no grande
da sua força. e confortável sofá e por momentos fechei os
olhos tentando imaginar os colegas, até me
O ambiente na unidade era, naturalmente, perder num horizonte de limites indefinidos
muito pesado. Naquele dia cheguei ao Corpo de e imprevisíveis. Nada sabia para lá de um en-
Intervenção às 04H25 devido a tarefas em que contro e de uma eventual deslocação até junto
tinha estado envolvido para a preparação dos do MAI – Ministério da Administração Interna.
trabalhos da Pró-Associação Sindical. Levan- Essa eventual deslocação seria posta à discus-
tei-me muito cedo para poder ser o primeiro são da assembleia-geral e votada pelos colegas.
a chegar ao bar da messe de Chefes, localizada A minha filha Alexandra tinha quatro anos de
no topo da parada sul, porque queria ouvir as idade, o Bruno iria nascer em setembro.
notícias num rádio que alguém ligava muito
cedo, assim como apreciar o ambiente entre UM DIA ESPECIAL
os graduados. A TSF, no noticiário das 08h00,
fez uma ampla divulgação do nosso encontro À hora do almoço a televisão deu largo desta-
marcado para as 14h30 na Voz do Operário, que à mobilização dos Polícias. A sala de tele-
deixando no ar a probabilidade dos Polícias se visão, junto à messe e bar de Chefes, estava
deslocarem depois até junto do Ministério da repleta de gente que, em silêncio, procurava
Administração Interna onde pretendiam en- perceber o que se iria passar naquela tar-
tregar uma moção. de. Procurei um lugar na última fila de onde
apreciei este estranho silêncio. O telejornal da
Pouco depois, na messe, enquanto tomáva- RTP não deixou ninguém indiferente e pouco
mos o pequeno-almoço, reparei que o nosso ha- a pouco a sala foi ficando vazia com os colegas
bitual falatório era mais reduzido. Passávamos a saíam cabisbaixos.
uns pelos outros e ficávamo-nos quase pelos
simples cumprimentos. Depois do pequeno-al- Dentro da unidade, as poucas palavras que
moço seguiu-se a habitual formatura e, segui- se ouviam, andavam à volta da questão “Eles
damente, o meu pelotão ficou imediatamente vão descer até ao Ministério?”. Fui informando
disponível, por ser naquele dia o PAM (Pelotão que tal dependia da decisão tomada pelos cole-
de Alerta Máximo), ou seja, estava dispensado gas em plena reunião na Voz do Operário, mas
da instrução, que também demorou pouco tem- que era provável. Tudo indicava que os Polí-
po para os restantes camaradas, pois menos de cias se encaminhariam para uma decisão, no
sentido de acompanhar os colegas da direção
a entregar uma moção no Ministério da Admi-
nistração Interna. Rádios, jornais e televisões,
davam destaque ao acontecimento e mobiliza-
vam as suas máquinas na cobertura do mes-
mo, instalando-se no Terreiro do Paço. →

#24

→ Durante a manhã, foi visível um movi- largamente aumentada com os colegas dos ser-
mento estranho e inédito na unidade. Pela pri- viços de manutenção e apoio. Estavam ali todos
meira vez, os colegas dos serviços de manuten- os carros de água e, pouco depois, chegavam os
ção e apoio preparavam os seus equipamentos e colegas do Grupo Operacional Cinotécnico com
materiais de intervenção. Nunca tinha visto es- os cães.
tes colegas (que há alguns anos tinham deixado
de integrar as companhias operacionais), vesti- O Américo Mateus Amaro, destacável ope-
dos com os fatos operacionais que envergavam racional com quem momentos antes me cruzei
os elementos que pertenciam aos PAM, ou seja, junto à messe de graduados, sorriu confortavel-
os elementos que, numa situação de emergência, mente e eu achei aquele gesto estranho. Segura-
têm um grau máximo de prontidão na resposta. mente dispunha de alguma informação que me
Naquele dia, por grande coincidência, eu inte- escapava, pensei na altura.
grava um PAM. Do interior das camaratas saíam
cada vez mais elementos vestidos a rigor com Depois de sermos informados que nos iría-
estes fatos. mos concentrar em frente à Câmara Municipal
de Lisboa onde se previa que, nas imediações, de-
Os operacionais olhavam-se com ar de sur- corresse uma concentração de Polícias da Pró-
presa ao verem estes seus camaradas vestidos -Associação Sindical, recebemos a ordem para
de igual, esboçando aqui e acolá um sorriso pela entrar para as carrières, as carrinhas que eram
oportunidade que lhes era dada. usadas para transporte nas operações de ordem
pública.
O Candeias Cordeiro e o Sousa, em passo de
corrida, subiram a parada sul, ultrapassaram Sentámo-nos nos nossos lugares do costume
vários companheiros e, ao chegarem ao cimo da e, até chegarmos à Praça do Município, prati-
parada, ofegantes, perguntaram-me: “Marçal, o camente não se falou. Olhávamos em frente ou
que vai acontecer?". Olhámos a parada sul, onde para o chão, um olhar baixo com a respiração
o ambiente era assustador. contida e o peito menos esticado.

Tinha acabado de ir à parada norte, onde vi Ao chegarmos junto da Praça do Município,
os carros da água todos perfilados e as equipas fiquei surpreendido e contente com a quanti-
da sua manutenção a fazer os últimos preparati- dade de pessoas ali presentes e dei conta que,
vos. Olhando para os canhões de água, recordei durante o dia, não me tinha apercebido do real
uma experiência que tivera quando comandei a impacto que a reunião dos Polícias tinha provo-
tripulação de um destes carros que integrou um cado na população.
dos momentos do filme “Ruas sem Saída", que
rodou na Rua Augusta, em Lisboa. O domínio do AMBIENTE PESADO
comando dos canhões do carro de água não foi
fácil. Só à terceira vez é que o realizador deu a Algumas pessoas voltavam-se para nós, sor-
nossa intervenção como perfeita pois, na primei- riam, e com os dedos faziam-nos o V da vitória.
ra vez, não conseguimos apontar devidamente As câmaras dos operadores de televisão procu-
os canhões de água aos figurantes, “prevarica- ravam filmar esses gestos e as nossas reações
dores da ordem pública”, e a água lançada com do interior das carrinhas.
pressão máxima, como nos tinham solicitado,
ficou a alguns metros de os alcançar. Na segun- O ambiente era muito difícil e, num dado
da vez, foi excessivo e, só na terceira tentativa, momento, apercebemo-nos de que os colegas
conseguimos um jato à distância correta para os da Pró-Associação Sindical tinham chegado.
objetivos da realização franco-americana. À sua chegada, ouviram-se imensas palmas.
Transeuntes e jornalistas movimentavam-se
Nos momentos seguintes, o ambiente era de num rodopio na Praça do Comércio para verem
uma tensão enorme, já não se falava e temia-se o os Polícias concentrados e a Praça do Municí-
pior. Chegou-nos a ordem de formatura na pa- pio onde estavam estacionadas as carrinhas do
rada norte e a calma com que tudo se pretendia Corpo de Intervenção. Os minutos dentro das
fazer, era uma ilusão difícil de conter. Formámos carrinhas pareciam eternos, em silêncio, todos
sem pressas, de modo a que tudo se processas- pensávamos o mesmo, que tudo se resolvesse
se da forma mais discreta. A companhia estava sem ser preciso sairmos para a rua. Mas o mo-
mento indesejado chegou. “Vamos sair!” orde-
nou o comandante do PAM.

#25

"Atrás dos carros palmas, gritos a apelar à nossa calma, um ba-
de água, e já numa rulho ensurdecedor parecia abafar e confundir
segunda tentativa para o ambiente de elevada tristeza, indecisão, an-
dispersar os Polícias gústia e violência que ali se tinha instalado.
que resistiam aos canhões
de água, apercebi-me Foi um momento de enorme indecisão e
da ação dos cães." dificuldade, pois a missão que nos levara ali
parecia impossível. Era impossível saber o que
Já na rua, o meu pelotão alinhou na frente de facto estava a acontecer. O comandante do
da companhia, com a minha secção em pri- Corpo de Intervenção, voltando-se para mim,
meiro lugar. O comandante do Corpo de Inter- e vendo que eu não tinha retirado o meu bas-
venção, senhor General Fernando Governo dos tão do coldre gritou-me num tom ameaçador
Santos Maia, devidamente equipado, coman- “Para que quer o bastão? Não entra na uni-
dava naquele dia o dispositivo de ordem públi- dade!” Nem tinha dado por tal, olhei-o e nada
ca. À sua ordem, iniciámos lentamente a pro- disse. Tive a sensação de que algo de grave me
gressão e, à medida que deixávamos a Praça poderia agora acontecer e não estava engana-
do Município e entrávamos na Rua do Arsenal, do porque, pouco tempo depois destes acon-
assistíamos à projeção dos canhões de água tecimentos, o comandante transferia-me do
sobre os colegas. Muitos dos que estavam nos Corpo de Intervenção para o Comando Geral.
comandos desses canhões não tinham expe-
riência neste trabalho, era a primeira vez que o SENTIMENTO DE REVOLTA
faziam e a instrução recebida era insuficiente.
Fosse por este motivo ou por outro, muitos dos Face ao ambiente que se instalou, foi muito
jatos de água não incidiam sobre os colegas, difícil reunir o dispositivo e reconstruir as for-
passavam-lhes muito por cima, provocando mações táticas, situação que efetivamente se
sobre eles um efeito de chuva intensa. Outros, impunha. Na minha cabeça, e seguramente na
atingiam-nos com elevada violência. da maioria dos meus camaradas, perdurava a
ideia de que a nossa intervenção poderia ter
Atrás dos carros de água, e já numa segun- sido evitada e tudo aquilo nos parecia inútil.
da tentativa para dispersar os Polícias que re-
sistiam aos canhões de água, apercebi-me da Entretanto, apercebi-me da chegada de
ação dos cães que os tratadores, com muita uma outra companhia que estava de reser-
dificuldade, atiçavam contra os Polícias mas va na unidade. Estes operacionais reagiram
que os pobres bichos, confusos por verem as mais a frio, pois não tinham estado envolvidos,
mesmas fardas, teimavam em agredir. como nós, nos acontecimentos iniciais. Che-
garam ali e progrediram rapidamente contra
Conhecia todos aqueles camaradas, eram os colegas, conseguindo assim desfazer alguns
companheiros de profissão, companheiros das grupos que ainda resistiam.
mesmas causas. Resistiam corajosamente a
tudo aquilo, de tal maneira que, num momen- Pelas 00H25 do dia seguinte, já dentro da
to, fui tomado pelos acontecimentos e fiquei unidade, fomos chamados ao grande refeitório
impávido perante aquele cenário. Do outro dos agentes onde o nosso Comandante Ge-
lado, alguns gritavam o meu nome, dei um ral, senhor General Amílcar Morgado, se nos
passo atrás e os meus colegas obedeceram- dirigiu para enaltecer a missão muito difícil
-me, a secção recuou, apercebi-me de que este que o Corpo de Intervenção e os seus opera-
gesto tinha sido captado pelos média e estava cionais tinham levado a cabo. Esse momento
agora a ser o alvo das atenções. Foi a confusão foi igualmente muito difícil. O Senhor General
total. teve dificuldade em falar sob um sussurrar dos
agentes e graduados ali presentes, envolvidos
Envolvemo-nos todos num ambiente de nos acontecimentos iniciais.
tamanha confusão; abraçaram-me, ouviam-se
O sentimento era de revolta pela situação
em que tínhamos estado envolvidos. Nada nos
parecia justificar tal situação, nem mesmo
após as palavras simpáticas que o nosso Co-
mandante-Geral nos tentava dirigir. →

#26

#27

AGRADEÇO À MINHA AMIGA ALICE LIMA SANTOS O SEU "A minha atitude Esta data marca uma fratura com o passa-
PRECIOSO TRABALHO DE REVISÃO DO TEXTO. nos acontecimentos do. Criou-se um clima de desanuviamento, de
viria a custar-me diálogo saudável entre as diversas categorias.
a saída da Unidade, Abriu-se o caminho à constituição de uma ple-
algum tempo depois." na cidadania e à afirmação dos direitos. Alar-
gou-se profundamente a capacidade autocríti-
→ Na unidade, os dias que se seguiram fo- ca da instituição, começaram a desenvolver-se
ram igualmente de tensão entre quem tinha diversos movimentos de opinião e aumenta-
atuado e quem se tinha abstido. Lá fora, nas ram progressivamente os trabalhos e os estu-
esquadras, perdurou por algum tempo, um dos críticos em relação ao trabalho da Polícia e
ambiente de certa animosidade em relação aos dos Polícias. O processo de evolução da Polícia
colegas do Corpo de Intervenção, apesar da tornou-se muito dinâmico e mais atrativo.
Pró-Associação Sindical se desfazer em inicia-
tivas e em comunicados apelando à compreen- Todos os processos de mudança que se
são de todos os Polícias para entenderem o pa- encetaram depois de 21 de abril de 1989, e são
pel que tinha sido atribuído aos companheiros muitos, requerem alguma prudência na sua
do Corpo de Intervenção. avaliação. Trinta anos depois, as mudanças
são incontornavelmente muito assinaláveis,
A minha atitude nos acontecimentos viria mas muito haverá sempre para fazer e por
a custar-me a saída da Unidade, algum tempo fazer. Se as reformas entretanto realizadas
depois. Percebo que não foi um momento fá- tivessem sido acompanhadas pelo correspon-
cil para ninguém, mas foi um momento muito dente e necessário investimento, grande parte
importante para todos. das nossas atuais e legítimas preocupações
estariam hoje centradas em áreas diferentes,
QUEBRA COM O PASSADO mas não menos importantes.

21 de abril de 1989 é um marco entre uma Po- De forma resumida podemos elencar um
lícia excessivamente fechada, uma instituição vasto conjunto de iniciativas que, após 1989,
profundamente militarizada, com um ambien- produziram importantes alterações em toda a
te interno assente numa total incomunicabili- estrutura de organização e funcionamento da
dade entre as diversas categorias. Uma Polícia Polícia, de que destaco: a criação da Inspeção-
de natureza estritamente reativa, voltada para -Geral da Administração Interna; a criação dos
si mesmo, completamente isolada, assumindo vários programas de Policiamento de Proximi-
a realidade de forma estática. Era uma insti- dade, com destaque para o Programa Escola
tuição sem margens para a crítica de qualquer Segura; a criação do ISCPSI-Instituto Superior
género, parada no tempo, longe dos seus cida- de Ciências Policiais e Segurança Interna; as
dãos e completamente impreparada para os Polícias Municipais; a atribuição de competên-
desafios enormes que se avizinhavam. cias de investigação criminal à Polícia; a con-
sagração da natureza civil da PSP; a regulação
Sem este processo de ruptura histórica, da liberdade sindical na PSP; a elaboração de
sinalizado pelos acontecimentos do dia 21 de um Código Deontológico do serviço policial; a
Abril de 1989, divulgados aqui e além frontei- chegada ao topo da Direção da Polícia (01-02-
ras como o confronto de Polícias contra Polí- 2012) do primeiro-oficial de polícia formado no
cias ou “secos e molhados”, a Polícia teria de- ISCPSI, senhor Superintendente-Chefe Paulo
morado muito mais tempo a integrar-se nas Jorge Valente Gomes.
dinâmicas da sociedade. Este processo de luta
e em concreto este acontecimento acentuou a Em resumo, as dinâmicas políticas, sindicais,
necessidade de mudança e integração da Polí- organizacionais, comunitárias e sociais sofre-
cia no processo democrático abrindo-se, assim, ram alterações muito significativas no Portugal
à sociedade, rumo à sua profissionalização. pós 25 de abril de 1974 e, no caso da Polícia, tais
mudanças chegaram mais tarde e são, por essa
razão, ainda muito jovens, mas já de visibilidade
e efeito também muito assinaláveis.

VER DE FORA

Portugal,
um país
para viver

POR JUANMA AZNÁREZ CHACÓN

E m Toledo, Espanha, encontrei-me há al- É precisamente esse sangue, essa alma, DANIEL CANON @ UNSPLASH
guns meses com alguns polícias portu- que distingue e dignifica um corpo policial.
gueses. Um seminário europeu trouxe-os Podemos contar com os melhores meios, mas
à cidade e ficámos amigos. Voltámos a encontrar- não tenhamos ilusões. Não são os funcionários
-nos novamente em Cracóvia, na Polónia, num públicos que olham para o outro lado ou espe-
outro encontro apoiado pela União Europeia. ram que seus problemas sejam resolvidos por
outros que singram.
Em Espanha caminhando pelas ruas da
histórica cidade falamos sobre o que significa Os meus interlocutores representavam
ser polícia, a responsabilidade que represen- policias portugueses especificamente mem-
ta e o quão difícil pode ser o trabalho. Muitos bros da Associação Sindical dos Profissionais
pensam que os polícias, bem como os milita- da Polícia - ASPP/PSP.
res, são iguais em toda a parte, mas isso não
é verdade. O reconhecimento do sindicato na polícia
portuguesa não foi um caminho fácil. Na po-
Entende-se a qualidade deste tipo de ser- lícia espanhola também não, mas os desafios
viço público ao entrar numa esquadra de polí- devem ser enfrentados. Não se podem destruir
cia ou ao observar a uniformidade, ou os meios as ambições dos profissionais que lutam para
disponíveis para saber se estamos perante au- oferecer um serviço moderno, eficiente e de
toridades de qualidade, ou não. qualidade aos cidadãos.

A Europa está a ajudar as nossas forças Estar na Europa obriga os governos a cum-
policiais a estabelecer padrões aceitáveis de prir os requisitos que determinam e legitimam
qualidade, sem que isso signifique o fim das a pertença ao grupo de países que integram a
características específicas de cada país. União Europeia. Muitas vezes penso que, se
não fosse por essa pressão exercida sobre os
No meu trabalho, como repórter, acompa- países, muitas estruturas não teriam sido mo-
nhei de perto casos em Espanha e em Portugal dernizadas, mas também estou convencido de
nas quais as forças policiais tiveram que tra- que nada disso seria possível sem o esforço
balhar em colaboração. determinado dos profissionais que estão em-
penhados em oferecer um serviço digno aos
Aproveitei a oportunidade que me propor- cidadãos. →
cionou a situação de estar com dois agentes
lusos para perguntar-lhes como tinha sido fei-
ta a passagem de uma força policial do século
passado para o modelo que hoje conhecemos
e compreendi que havia muito da sua partici-
pação nessa mudança. Estava à conversa com
dois sindicalistas, dois agentes jovens que
contam com uma sólida formação académica
e profissional. Notava-se uma vocação para a
missão policial, pelo que senti de imediato o
reconhecimento e honra na atividade policial
que exercem.

#29

O autor.
Juanma Aznárez Chacón
nasceu em Ceuta em 1959.
Estudou direito, mas
optou pelo jornalismo
que exerceu em várias
rádios. Trabalhou nas
emissoras Rato, Antena 3,
Radio España e Cadena
Ser. Aznárez foi
jornalista televisivo
e diretor de vários
jornais digitais e em
papel. Trabalhou também
em campanhas políticas,
fundações, organizações
não-governamentais
e em publicidade.
Como professor ministrou
cursos de comunicação
e protocolo e ocupou
cargos de responsabilidade
na Administração Geral
do Estado como repórter,
escritor e divulgador
independente.

#30

→ Os sindicalistas portugueses enfati- Os governos devem saber que segurança,
zaram que esse trabalho deve ser levado a paz e socorro - quando alguém pede ajuda - é
sério. Muitas pessoas dependem da "paz so- essencial para a construção da sociedade. Vi-
cial" para realizarem os seus sonhos. O res- ver numa comunidade amigável não é o mes-
peito pela propriedade privada e a própria mo que se esconder em um bunker. Um local
segurança pessoal dependem muito de uma em que você desfrute de segurança para si e
polícia de qualidade. Tenho o prazer de saber para a sua família pode ser o começo de um
que profissionais como eles velam pela segu- longo caminho de progresso e prosperidade.
rança das nossas cidades. Portugal oferece esse cenário.

O facto de ser jornalista permitiu-me Também falamos sobre modelos policiais
conhecer realidades diferentes e é por isso que não são criados ou planeados a partir do
que valorizo o fato de me encontrar com nada, mas, como toda a instituição social, es-
técnicos bem preparados e comprometidos tão sendo configurados paulatinamente, em
com a sua missão. Nos Estados Unidos, por consonância com a estrutura social na qual
exemplo, são habituais condutas impróprias ela necessariamente precisa estar incluída.
e disparos polémicos. Às vezes é fácil esque- Discutimos também assuntos pendentes que
cer que noutros países a polícia não atira nas ainda não foram aprovados e é aí que encontro
pessoas com tanta ligeireza. Embora não estes dois sindicalistas a apontar males endé-
neguemos que no nosso ambiente europeu micos da nossa sociedade.
a polícia também tenha estado envolvida em
controvérsias e polémicas, mas a taxa de dis- Deveríamos ter uma polícia mais bem paga
paros e mortes devido à ação policial é infini- e com mais recursos. Falamos, entre outros
tamente menor. aspetos, do envelhecimento da força de traba-
lho, da necessidade de incorporar mais mulhe-
O POLÍCIA EUROPEU res na polícia, bem como de envolver os mais
jovens nos órgãos de tomada de decisão e es-
Ser europeu é algo que marca a diferença se tratégia dos diferentes departamentos.
nos compararmos com outras comunidades
ou organizações de Estados. É verdade que Durante as conversas que tivemos, repa-
temos mais garantias que outros países, mas ro na personalidade dos meus interlocutores.
isso não significa que nossas forças policiais Eles são portugueses, eu espanhol e viemos de
sejam menos eficazes. Estados com uma longa história no que se re-
fere ao modelo policial.
Portugal é um dos lugares mais seguros
do mundo para se viver. Este sentimento de Espanha e Portugal têm sido o berço de
segurança, não é algo que determinado pela grandes modelos de organização policial que
situação geográfica, gastronomia ou clima. se espalharam pela maior parte do resto dos
Possivelmente é devido - entre outros fato- países do mundo, uma vez que foram estes Es-
res - à personalidade dos portugueses, ao tados que, desde os séculos XV e XVI, tiveram
seu modelo de sociedade, às suas leis e, é cla- a maior influência em todos esses territórios
ro, à sua polícia. que eram suas colónias e que, com os proces-
sos de independência, se constituíram países.
Um cidadão que queira passear à noite No entanto, conservavam as formas e os pro-
sem medo de ser atacado e, caso necessite cedimentos de organização administrativa de
de ajuda, sabe que pode contar com a rápida quem um dia foram os seus poderes ou metró-
ajuda da polícia. Podemos dizer que estamos poles colonizadoras.
num país verdadeiramente civilizado e mo-
derno. Podemos colocar um preço em nossa O futuro está a um passo e vemos como
segurança? A segurança é um ativo social uma boa estratégia consolidar a paz que Por-
de valor inquestionável e, juntamente com a tugal desfruta se estiver mais comprometido
saúde e a educação, é um pilar fundamental com uma polícia melhor equipada, bem trata-
para uma sociedade avançada. Portanto, o da, reconhecida e devidamente incentivada.
Estado, como garante do bem-estar social,
deve articular todos os mecanismos neces- Eu acho que com sindicatos tão profissio-
sários para que a sociedade como um todo se nais quanto a ASPP/PSP, houve um longo ca-
qualifique como segura. minho percorrido.

RED CHARLIE @ UNSPLASH #31

Deveríamos ter uma
polícia mais bem
paga e com mais
recursos. Falamos,
entre outros aspetos,
do envelhecimento
da força de trabalho,
da necessidade
de incorporar mais
mulheres na polícia,
bem como de envolver
os mais jovens
nos órgãos de tomada
de decisão e estratégia
dos diferentes
departamentos.

ALAN BISHOP @ UNSPLASH

#32

#33

TEMPO LIVRE

Reforma.
E agora?

Muitas vezes a entrada na reforma ou na
pré-aposentação foi idealizada durante anos.
Passámos os nossos dias de trabalho a contar
os dias para a reforma e de tantas vezes que
dissemos “mais um dia para a reforma” em jeito
de resposta a quem nos perguntava como ia o
dia, que nos esquecíamos de pensar que afinal

de contas era “menos um dia para viver”.

POR MARISA DOLORES, PSICÓLOGA CLÍNICA
DIRIGENTE ASPP/PSP

C om o aproximar do final da vida profissional, a
reforma parece-nos um sonho, mas se não for
planeada e sentida como uma nova etapa de vida,
esta mudança da vida ativa para a passiva pode
tornar-se num sonho amargo e vazio. Se nos pri-
meiros meses andamos radiantes e sentimos uma enorme ale-
gria em não cumprir ordens e horários, a médio-longo prazo a
reforma pode ter um impacto social e psicológico não desejado.

Mudar radicalmente de uma vida ativa, com rotinas defini-
das e um estatuto profissional para o papel de reformado pode
parecer fácil e simples, mas nem sempre o é. Existe todo um
contexto familiar e social que é afetado com esta mudança e
é aqui necessário um processo de adaptação. Entramos numa
fase antagónica. Se por um lado deixamos as funções profissio-
nais dispondo de mais tempo livre e menos responsabilidades,
por outro lado também temos menos poder socioeconómico e li-
mitamos os nossos contactos sociais que tivemos durante anos.
Quase que nos sentimos como se tivéssemos a alegria de emi-
grar e começar uma nova vida num outro país mas ao mesmo
tempo a tristeza de deixar amigos, rotinas e hábitos para trás. →

#34

TESTEMUNHO
DE ADÃO VAZ
A P O S E N TA D O

"Serei polícia até morrer"

31 Anos de serviço efectivo na instituição
Polícia Segurança Pública, onde aprendi
cada dia no exercício das minhas funções
como Agente e também como activista
sindical/dirigente e associado desde
sempre à ASPP/PSP, pautado pelas minhas
convicções na defesa da classe policial
e pelo bem estar de todos aqueles que
privaram comigo durante a minha longa
carreira policial.

Todavia o tempo passa, chegou a hora
da minha aposentação, uma nova etapa
na vida de um Polícia, que dedicou e
conviveu a sua maior parte do tempo no seio
policial e sindical, agora com uma vida
sem horários para cumprir, sem pressão
e o stress constante que a própria vida
de um policial vem adquirindo ao longo
do tempo onde esteve inserido, terá de se
adaptar a esta nova realidade, a vida muda
cem por cento, o peso de se vestir uma
farda é muito pesado e fica sempre em nós
para toda a vida, temos de encontrar na
família e nos amigos esse conforto que
ao longo de muitos anos foram passados
em constante inquietação do perigo
iminente, do desgaste físico e psicológico
que a nossa profissão provoca em nós e em
todos que nos rodeia. É pena a instituição
PSP, após a nossa saída do activo não ter
o cuidado de dar um apoio aos homens que
juraram pela sua própria vida defender
os altos valores de uma sociedade.

Afinal serei sempre polícia até morrer…
… Assim como na luta sindical!

AAN LIZAL @ UNSPLASH #35

→ A nível social deixamos de ter um contacto regular
com as pessoas no nosso local de trabalho ou dos estabele-
cimentos das imediações que habitualmente frequentava-
-mos (café, restaurante, o Sr. do quiosque ou mesmo aque-
les conhecidos do comboio ou autocarro que apanhamos
todos os dias). Ficamos mais restritos aos contactos
do dia-a-dia. As rotinas mudam e as pessoas que farão
parte delas também mudarão. Com esta mudança vem
também mais tempo em casa e com a família. Importa
aqui ter uma base sólida e emocionalmente confortável,
com relações familiares harmoniosas. Isto irá permitir
aumentar substancialmente o prazer de passar mais
tempo em casa.

Assim, a passagem à situação de reformado também
altera a forma como nos integramos, tanto na socieda-
de como em família, pois passamos a desempenhar di-
ferentes papéis. Se antes eramos policias operacionais,
hoje somos polícias reformados. Perde-se aqui a força
da imagem profissional. E tudo isto tem um impacto a
nível psicológico.

SEDENTARISMO NÃO É BOM

Com o objectivo de verificar a relação entre a adaptação
à reforma e a satisfação com a vida, o Instituto Universi-
tário de Lisboa inquiriu 11514 indivíduos de norte a sul do
país com idades compreendidas entre os 55 e os 75 anos.

Os resultados obtidos revelaram que quanto maior
o nº de anos na reforma menor a satisfação sentida com
a vida, ou seja a satisfação diminui gradualmente à me-
dida que estamos mais anos na reforma. Verificou-se
também, que os indivíduos mais satisfeitos em idade de
reforma são aqueles que mais estão envolvidos em ati-
vidades sociais e práticas desportivas ou comunitárias,
comparativamente às pessoas reformadas que tinham
um estilo de vida mais sedentário e isolado socialmente.

Deste modo, pode-se concluir que os novos papéis
sociais adotados na passagem para a reforma e a tipo-
logia de ocupação dos tempos livres é crucial para au-
mentar a satisfação sentida com a vida nesta nova e tão
desejada etapa.

E como fazer uma transição saudável da vida profis-
sional para a reforma? Deixamos nas próximas páginas,
4 dicas que o podem ajudar a preparar.

#36

TESTEMUNHO por ter acompanhado, paralelamente,
até hoje, excelentes lideres
DE ADRIÃO RODRIGUES sindicais ASPP, cujo carácter,
honra e responsabilidade é digna
DA SILVA de ser tida como exemplo.
O relógio não pára, como em tudo
SÓCIO N.O 6 – ASPP/PSP na vida, e existem metas; chegado
aos sessenta (60) anos passei
Deste lado - com o sentimento à situação de pré-Aposentação.
do dever cumprido - está-se O que mudou na minha vida ?
bem! Trinta e oito (38) anos ao activo
numa Instituição tão Nobre deixou/a
Sou profissional da Policia de Segurança marcas profundas das quais me
Púbica e encontro-me há três anos orgulho. Mas “carregando docemente
na situação de Pré-Aposentação. esse orgulho” é tempo de dedicar-me
Como tudo começou: Ingressei na PSP a mim e aos meus. Socialmente
em Outubro de 1978, quando ainda sinto-me bem. Tenho a sorte de ser
se cavavam os alicerces da democracia, oriundo de Nobres progenitores que
tendo frequentado a Escola de Formação deixaram uma vasta prole, cujos
de Guardas em Torres Novas. Tempos valores familiares são vivenciados.
difíceis se comparado com a atualidade. Mantive sempre uma excelente
No meu percurso profissional passei pelas relação com os meus amigos
carreiras de : Guarda/Agente, Subchefe, de infância e juventude e,
Chefe de Esquadra/Subcomissário, consequentemente, com os seus
Comissário, terminando a carreira policial mais próximos. Isto sem menosprezar
no Posto de Subintendente, como Comandante todas as amizades que tive o
de Divisão Metropolitana (COMETPOR). privilégio de construir ao longo
Neste percurso de trinta e oito (38) anos da vida profissional/pessoal
- menos uns dias - passei por vários e que também fazem parte
comandos e estabelecimentos de ensino. da minha peregrinação terrena.
Tendo como base o COMETPOR, comando de Agora é a mim e ao meu núcleo
residência, passei pelo COMETLIS, Aveiro, familiar mais próximo que
Leiria e CE-Angra do Heroísmo, bem como me dedico, tentando “compensar
EPP/Lisboa (frequentei ali o ultimo Curso e retribuir” o tempo que antes
de promoção a Subchefe), agora ISCPSI. não foi possível.
Passei pelo ISCPSI mais duas vezes A transição para a actual situação
frequentando Cursos de Promoção e duas foi agradável. Estava preparado
vezes na actual EPP como monitor e
Instrutor, além de outras vezes em ações
de formação. Sempre que concorri ao posto
imediato também me habilitei a andar
com as malas às “costas”, nada que não
estivesse mentalizado para assumir.
Paralelamente fiz percurso semelhante,
temporal, ligado à ASPP/PSP, podendo
recuar aos anos 79/80, quando se esboçavam
as primeiras ideias. Inabalavelmente
comprometido com a Instituição Policial
e seus mais Nobres ditames, sinto orgulho

#37

4 Dicas

Como ocupar
o tempo na reforma

e sinto-me bem com isso, conquanto 1. Tempo para ler e viajar
mantenho saudável relação com
os camaradas ainda no activo, Na reforma o tempo não lhe vai faltar. Se adora viajar e
na vertical, quer a nível pessoal, não disponibilidade, agora é a hora. Se lhe falta conhe-
quer institucional. Os homens cer alguns recantos de Portugal e arredores então par-
passam, as Instituições ta à descoberta. Se preferir, aproveite os dias para ler,
permanecem. estar com os amigos ou simplesmente relaxar numa
É assim que tem de ser. esplanada. O mais importante é fazer apenas o que
Neste momento conto 41 anos lhe dá prazer sem que tenha a sensação de que passa o
de carreira contributiva (tenho tempo a cumprir horários ou determinações.
mais 8 de Seg. Social). Por isso
camaradas, estou deste lado 2. Momentos de família e amigos
(Pré-Aposentação), mas com o
sentimento do dever cumprido, Agora pode compensar o tempo perdido no trabalho
sem nostalgia, mas atento a tudo com a família e amigos. Se não conseguiu ser um pai
o que possa bulir, ou afectar, ou uma mãe presente como tanto teria apreciado,
a Instituição PSP - o meu sistema pode sempre compensar sendo avô ou avó presente e
cardíaco ainda reage a algumas a tempo inteiro. Tem aqui uma ótima oportunidade.
situações - pelo que e por Ter família e amigos é um privilégio. Conviva com eles
direito procuro disfrutar da e passem momentos de qualidade juntos. Faça novos
vida, usufruindo dos prazeres amigos e não perca o contacto com os de longa data.
inerentes à mesma, assim não me
falte saúde e demais substratos. 3. Cuide de si. Olhe pela sua saúde
Existe uma evidência: É imperativo
combater o sedentarismo Aproveite para rever a sua condição física e mental.
e obrigatório manter hábitos Pode ainda adotar um estilo de vida mais saudável com
saudáveis de vida. a prática de exercício físico regular e uma alimentação
Exorto-vos que a par do apego equilibrada. Não pode correr ou ir ao ginásio? Isso não
à profissão, mantenham as melhores é desculpa. Caminhe, dance, levante-se e deixe o sofá.
relações familiares e de amizade,
de plena vivência social, se 4. Escreva as suas memórias
possível, com intervenção
cívica compatíveis com o Estatuto Não queremos fazer de si um escritor, mas… quanta
profissional. Em todas as histórias interessantes não viveu? Quantas vidas não
profissões sempre se poderá dizer: mudou? Quantas pessoas não ajudou?
Há vida para além “disto”. Pode fazer um apanhado de tudo isto e escrever a sua
biografia revivendo e recordando as suas memórias.
Deixe um legado para a sua família e os seus amigos.
Se não escrever as suas histórias e aventuras então
partilhe-as em conversas e momentos de convívio.
Afinal de contas, qual é o polícia que não tem uma boa
história para contar?

#38

#39

RONDA Um olhar
sobre
Setúbal No fundo, estes são conceitos
básicos que resultam ou deveriam
POR ANTÓNIO JOSÉ RUIVO LOURA resultar dos construtores teóricos
das mais diversas religiões, da
FOTOS DR + GUAXINIM / SHUTTERSTOCK.COM justiça, da própria organização
do Estado, das instituições
O Comando Distrital de Setúbal sociais, económicas e políticas,
da PSP é um comando periférico prosseguidos na ação pelos seus
da capital lisboeta e integra mais distintos representantes.
parcialmente a sua grande área
metropolitana. Entre o seu A PSP procura observar o seu
comando-sede e as suas quatro papel, consubstanciado, tanto
divisões, Setúbal, Barreiro, Almada quanto possível num trabalho
e Seixal, contam-se 22 esquadras de pacificação deste território
e um total de 1250 polícias. e no incentivo ao seu mais amplo
desenvolvimento. Isso é algo que
Trata-se de uma área em expansão a Cruz de Santiago bem representa,
económica e sociocultural, dentro daquela que é a sua
apresentando uma imensa simbologia institucional mais
diversidade de culturas, exposta. Existem neste comando
de saberes, hábitos, costumes agentes astuciosos, que se
e entusiasmos. Nesta área reside predispõem a atuar dentro
uma grande parte da população do poder que a Lei configura,
ativa, fixada numa imensa zona a fazê-lo com vigor e com ânimo,
residencial e também em zonas bem cientes do valor das suas
urbanas mais sensíveis. propostas, com fidelidade aos seus
princípios, íntegros, justos
À semelhança do que se verifica e leais no desenvolvimento
um pouco por todo o mundo, o dos seus processos de trabalho,
desafio que se coloca a todos junto das populações.
os cidadãos do Distrito de
Setúbal é poderem de facto No momento atual, o CD de Setúbal
continuar a desenvolver relações tem muitas limitações, quer ao
interculturais construtivas e nível de meios humanos (poucos
sustentáveis, alinhando-se pela operacionais e uma média de
inclusão de todos, pela fomentação idade já envelhecida), quer
dos diálogos, partilha de saberes, ao nível dos meios materiais
construção e desenvolvimento (sobretudo viaturas, instalações,
de um espírito convergente para equipamentos).
colmatar os anseios comuns,
ao mesmo tempo que consigam Esta realidade remete
manter as especificidades e as os profissionais que ainda
identidades individuais, a par permanecem ao serviço, para
das comunitárias conciliando as contextos de desempenho onde
diversas margens de progressão apesar de procurarem fazer o
em torno de um espírito de paz melhor que podem com o que lhes
uns com os outros e em respeito é disponibilizado, podem cada
pelo meio ambiente. vez mais fazer muito menos do
que aquilo que seria expectável,
face aos dinamismos da sociedade
e às exigências dos cidadãos.

#40

Neste sentido, numa análise
muito sucinta, é preciso ter
em conta que a população precisa
de uma polícia que seja fruto
de uma outra política de
investimento, onde haja mais
formação, maior disponibilidade
e operacionalização dos recursos.
Isto se quiser fazer face a um
futuro que perspetiva riscos
e perigos consideráveis ao nível
da segurança das populações.

De outro modo, continuará o CD
de Setúbal com um conjunto
alargado de problemas que são
cada vez mais evidentes e que
parecem não ter solução, tudo por
uma questão de inércia política.

Ao contrário do que os mais altos
representantes do Estado pensam
ou pelo menos parece que pensam,
a polícia está longe de poder
desenvolver o seu trabalho,
como seria suposto que o fizesse.
As carências atuais colocam
em causa a qualidade do trabalho
da polícia e a própria segurança
dos agentes policiais. Neste
sentido é importante estarmos
cada vez mais conscientes,
de uma vez por todas, que só
a boa vontade dos agentes, em
muitos dos cenários, é muito pouco
e, só para quem lá anda e sabe,
às vezes chega mesmo a significar
coisa nenhuma.

Ao nível das precauções e das #41
recomendações a quem nos visita,
embora não tanto como em Lisboa, Setúbal.
dir-se-á que se trata de uma área O território é composto por
muito dinâmica. Assim, tanto inúmeras zonas para relaxar
quanto possível for, é importante e descontrair, bem como para
tentar evitar estacionar viaturas a prática desportiva, com praia
em zonas menos frequentadas, e montanha. São várias as cidades,
circular por zonas menos vilas e aldeias com um valor
vigiadas. É importante vigiar patrimonial, cultural e histórico
os filhos menores. É importante, assinalável, com muitas opções
sobretudo, estar atento para diversão e passeio, bem como
a movimentações de grupos para comer de forma diversificada,
e de pessoas alcoolizadas, com menus para todos os gostos.
aparentemente dispostas
ao conflito, à desordem A melhor época para fazer uma
e à marginalidade, sobretudo visita é no verão, com muitas
em áreas de diversão noturna. festas, inúmeros concertos
Não podemos olvidar que se trata musicais e mais iniciativas
tradicionalmente do terceiro de cariz cultural e desportivo.
comando, logo a seguir a Lisboa
e Porto, com os índices criminais A rede de transportes é uma
mais elevados. das mais completas do país.

#42

ESTAR BEM PARA SERVIR MELHOR

Alimentação
e trabalho
por turnos

Trabalhar por turnos não é fácil, os ciclos de sono estão desre-
gulados e do ponto de vista nutricional também tem consequên-
cias, nomeadamente o aumento da ingestão energética prove-

niente do consumo de alimentos ricos em açúcar e gordura.

POR ANA CATARINA SILVA / NUTRICIONISTA

Alterações do apetite, aumento do Opte por suas refeições num ambiente calmo e rela-
peso corporal, dificuldades em alimentos xado e, acima de tudo, coma devagar. Mas-
adormecer e insónias, fadiga, e ricos tigar bem os alimentos e evitar a entrada de
alterações gastrointestinais como obstipa- em fibra ar são factores importantes para manter e/
ção, flatulência, dispepsia e dor abdominal e hidratos ou potenciar a perda de peso;
são alguns dos problemas associados ao de carbono — Garanta uma ingestão de água adequa-
trabalho por turnos. complexos da. Estar bem hidratado ajuda-o a manter o
como estado de alerta e reduz a sensação de fadi-
Quem trabalha por turnos tem maior leguminosas, ga. Tenha consigo uma garrafa de água e vá
predisposição para desenvolver determi- arroz, bebendo pequenos goles de cada vez.
nadas patologias como obesidade, diabetes massa, pão, — Tenha atenção ao consumo de cafeína! O
tipo II, doenças cardiovasculares, proble- entre café, o chá, as bebidas energéticas e outras
mas digestivos e deficiência em vitamina D outros. bebidas com cafeína contribuem para se
(devido à baixa exposição solar). Esta condi- manter acordado, contudo, afectam o sono
ção deve-se ao facto, não só do estilo de vida e promovem a desidratação. Recomenda-se
e aos hábitos alimentares desregulados, uma ingestão de 400mg de cafeína por dia,
como da alteração no ritmo circadiano nor- o que equivale a 4 ou 5 cafés expresso. Evite
mal do organismo. o consumo de cafeína até 4 horas antes da
hora de deitar.
Algumas medidas que pode adoptar — Opte por alimentos ricos em fibra e hi-
para ajudar a controlar a sua alimentação dratos de carbono complexos como legumi-
passam por: nosas, arroz, massa, pão, entre outros que
são uma fonte de energia prolongada;
— Fazer a refeição principal antes do tur- — Antes de se deitar faça uma refeição li-
no e durante o trabalho fazer pequenas re- geira. Deitar-s e com a sensação de fome
feições, tais como um iogurte magro, uma é um impeditivo para adormecer. Para esta
peça de fruta, meio pão com uma fatia de refeição são boas opções um queijo fresco
queijo ou de fiambre. Assim evita dificulda- ou um queijo quark de tamanho médio, uma
des na digestão e sensação de sono e fadiga; gelatina, um iogurte sólido ou líquido.
— Opte por fazer e levar as suas refeições, — Inclua na sua rotina a prática de activi-
assim consegue garantir refeições equili- dade física. Trabalhar por turnos pode au-
bradas e saudáveis e evitar a compra de ali- mentar os níveis de stress, que serão mais
mentos ricos em açúcar, gordura e sal, que fáceis de controlar com a prática regular
são pouco interessantes do ponto de vista de exercício físico. Além disso, vai ajudar a
nutricional; controlar o seu peso corporal.
— O momento das refeições é bastante im-
portante e não deve ser descurado. Faça as

#43

MARIANA MEDVEDEVA @ UNSPLASH

#44

#45

AS VERDADES SÃO PARA SE DIZER

Dizem que nós, polícias Comprar um carro em terceira mão a pres-
portugueses, andamos há tações estaria fora de causa. Almoçar e jantar
muito a viver acima das nossas todos os dias (ou quase todos) sopa e pratos que
possibilidades. Que temos, desde incluíam carne ou peixe e até fruta era uma
há muito, uma qualidade de vida extravagância! Dar presentes aos miúdos no
superior à maioria da função Natal é outra coisa que sempre fiz e que agora
pública. Os polícias contrapõem reconheço que estava acima das minhas possi-
que não, mas é mentira. bilidades, bem como as festinhas de aniversário
com bolinhos de bacalhau e rissóis de atum fei-
POR LUIS SANTOS tos com amor pela “Maria de Lourdes Modesto”
cá de casa.
P elo menos no meu caso é mentira e
como eu sou uma espécie de protótipo Se eu tivesse vivido dentro das minhas possi-
do polícia da classe média tuga, acredi- bilidades, ou seja, com o dinheiro a chegarsempre
to que seja mentira na maior parte dos casos. à vontade até ao fim do mês e sem ter que fazer
Eu sempre fui um polícia que vivi acima das mi- remunerados, empréstimos múltiplos, cartões
nhas possibilidades. Senão vejamos: de crédito, nem andar a inventar de onde tirar
dinheiro para coisas a que chamam de bens es-
Com a ninharia que ganhava quando come- senciais, a minha vida teria que ser bem diferen-
cei a trabalhar por conta do estado como Guar- te. Os miúdos aprendiam a ler em casa ou então
da de 2ª. Classe da Policia de Segurança Pú- não aprendiam, viam os bonecos na RTP 2 que na
blica, nunca poderia ter sido pai e, mais tarde, altura até tinham qualidade razoável. Comprá-
ter matriculado os putos numa escola pública vamos uma mota Famel Zundapp em segunda
pois nunca teria dinheiro para os livros e res- mão e levávamos os putos no meio tipo sanduí-
tante material escolar. Jamais teria comprado che. Construíamos uma barraca num pinhal com
um apartamento usado, com alcatifas foleiras placas de “lusalite” carregadas de amianto e uma
propício à criação de ácaros e fungos, péssimos puxada de água clandestina e à noite lavávamos
acabamentos, abundantes fissuras nas paredes a cara, as mãos e o pescoço que são as partes que
e tetos e com uma vista panorâmica medíocre andam mais à mostra. Como as crianças não iam
para a EN222. Também nunca teria ido passar mesmo ter nada para fazer podiam sempre ir
(ano sim ano não), uma semanita ao Algarve arrumar carros. Assim, com uns trocos, podía-
com a criançada a casa de amigos para eles te- mos apanhar a camioneta do “Espirito Santo” em
rem a oportunidade de brincar numa praia sem Agosto (pelo menos uma vez ou outra) e ir à praia
vento e em parques aquáticos (cujas entradas a Canidelo ou à Madalena. Tínhamos era que ir
eram já na altura caríssimas). cedinho para apanhar um lugar aconchegadinho
atrás de uma rocha por causa da “ventosga”. Co-
míamos batatas com batatas de segunda a sába-
do e ao domingo comprávamos uma latinha de
salsichas daquelas de marca branca e era uma
festa! Com o dinheirito que nos sobrasse íamos
ao café beber um dito cujo, comprar um chupa
aos garotos e ver a novela.

Por isso está provado, pelo menos eu andei
a viver acima das minhas possibilidades, uma
vida de fazer inveja à maioria dos funcionários
públicos. As verdades são para se dizer!

#46

MEMÓRIA FUTURA

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ASPP/PSP

Parabéns aos nossos associados
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