E D I Ç Ã O N°4 A B R I L / 2 0 2 3 uMtos J Subversivos. Fotografia: Tadeu Augusto
IDEALIZAÇÃO ISA FAUEGI EDIÇÃO MARCELO COSTA DIREÇÃO CRIATIVA JÚLIA CARVALHO DIREÇÃO DE EVENTOS IVENS NETO REDAÇÃO ARIEL VON OCKER KELLY CRISTINA DA COSTA BEZERRA DE MENEZES MAMEDES MARIA LUIZA MOURA RHAFAELLY MELLO THAYNARA ANDRADE VICTOR AZAMBUJA ARTISTAS CONVIDADOS JOTA VÊNUS ARRUDA PARCEIROS KRISLAINE SHOES REVISTA IKEBANA PAIS & FILHOS MODAS TK CLEAN CONTATOS SITE revistajumtos.com E-MAIL [email protected] INSTAGRAM @revistajumtos EDIÇÃO N° 4 - SUBVERSIVOS CAPA KAUÊ BLENO TADEU AUGUSTO YARA PARADISE 2
A Revista Digital , publicada trimestralmente, é uma iniciativa de uma equipe de jovens mato-grossenses, estudantes, LGBTQIA+, periféricos e subversivos. Tem a finalidade de publicar e divulgar as atuações de diversos setores sociais, fomentar leitura nos tempos atuais e estimular o protagonismo, buscando enriquecer culturalmente, atualizar e complementar a formação de todos os leitores. uMtos J ESCOPO 3
Que não se passe um só dia sem questionar o estabelecido. Que não se passe um só dia sem questionar o estabelecido. Que não se passe um só dia sem questionar o estabelecido.
Fotografia: Tadeu Augusto
Com a origem nos Estados Unidos, nos anos 70, o hip hop nasceu em bairros periféricos onde a realidade eram os altos índices de violência, o descaso de autoridades que eram consequência do racismo totalmente instaurado no Estado, a falta de educação, lazer e inserção de pessoas negras em espaços culturais fez com que a população desses bairros confrontassem essa exclusão com recursos próprios. Por isso, o hip hop, como todo movimento que surge de uma minoria, antes de ser um gênero musical reconhecido e ouvido mundialmente, passou por inúmeras formas de silenciamento e tentativas de apagamento. Dessa forma, para muito além de apenas um gênero musical, o hip hop é, primordialmente, uma forma de manifestação cultural que nasce da luta que a periferia tem diariamente pela sua sobrevivência. Mas também uma vivência artística que abrange a música (o rap), a dança, o grafite e até mesmo o modo de se vestir e o estilo como o streetwear. O hip hop no Brasil começa a crescer nos anos 80, em um cenário de pósditadura e abertura política. Da mesma forma que o país pioneiro, no Brasil a realidade da cena não era diferente dos Estados Unidos, pois era um som que não haveria de ser aceito por retratar a realidade periférica, sem palavras bonitas, sonoridade erudita e cheia de metáforas como os estilos musicais em alta na época. A realidade dura agregada com a violência, principalmente policial, que eram cantadas por rappers nas favelas e nas ruas de São Paulo e Rio de Janeiro se funde com a luta pela sobrevivência de pretos e favelados que se veem fadados ao descaso do Estado, que é o principal responsável da exclusão e até mesmo o silenciamento por meio da violência contra os mesmos. LUTA, R E S I S T Ê N C I A E S O B R E V I V Ê N C I A M A R I A L U I Z A M O U R A M A R I A L U I Z A M O U R A
A subversividade vista no movimento partia do preconceito. Preconceito com a cor, com a realidade cantada por artistas vindo do gueto, de periferias, de favelas. Eram chamados de bandidos, impedidos de cantar sua realidade, de usufruir e de disseminar sua cultura. Entretanto, com a popularização do rap, e automaticamente do hip hop como movimento social, é possível afirmar que como consequência disso, adota-se uma causa política e social, mas também como uma forma de arte e cultura desconfortável e realista. SUBVERSIVOS: CARACTERÍSTICA DO QUE DESTRÓI; DAQUILO QUE PROVOCA SUBVERSÃO: PROPÓSITOS SUBVERSIVOS. QUE CAUSA OU MOTIVA SUBVERSÃO; QUE SE OPÕE A NORMAS, AUTORIDADES, INSTITUIÇÕES, LEIS. 7
Negro drama, entre o sucesso e a lama Dinheiro, problemas, invejas, luxo, fama Negro drama, cabelo crespo e a pele escura A ferida, a chaga, à procura da cura Negro drama, tenta ver e não vê nada A não ser uma estrela, longe, meio ofuscada Sente o drama, o preço, a cobrança No amor, no ódio, a insana vingança Negro drama, eu sei quem trama e quem tá comigo O trauma que eu carrego pra não ser mais um preto fudido O drama da cadeia e favela Túmulo, sangue, sirene, choros e velas -Negro Drama, Racionais (1997) 8
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por: Jota 10
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Rhafaely Mello QUANDO ÉRAMOS JOVENS SAÍMOS PELAS RUAS PARA LUTAR POR NOSSA LIBERDADE LUTAMOS TAMBÉM PARA QUE A NOSSA GERAÇÃO PUDESSE VIVER EM UM PAÍS MELHOR QUANDO ÉRAMOS JOVENS ENFRENTAMOS COM MUITA CORAGEM AQUELES QUE USAVAM MUITA VIOLÊNCIA PARA NOS DETER MUITOS DE NÓS FORAM PRESOS E ATÉ MESMO MORTOS TUDO ISSO PARA QUE A GERAÇÃO FUTURA PUDESSE TER SEUS DIREITOS RESPEITADOS E VIVER EM UM PAÍS MAIS LIVRE QUANDO ÉRAMOS JOVENS MUITOS NOS CHAMAVAM DE "A GERAÇÃO DE VAGABUNDOS" "ANARQUISTAS" MAS NÓS SOMOS NA VERDADE A GERAÇÃO QUE COM A NOSSA LUTA MARCAMOS A HISTÓRIA QUEM SOMOS NÓS? PRAZER, GERAÇÃO DA REVOLUÇÃO. 12
Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética. Che Guevara 13
Os subversivos e as mudanças possíveis Msª Kelly Cristina da Costa Bezerra de Menezes Mamedes Professora Unifacc/ MT Teologia e Direito e Doutoranda em História PPGHIS/UFMT, membro do grupo de pesquisa Vivarium (Laboratório de Estudos da Antiguidade e do Medievo). Podemos dizer que o pressuposto das mudanças das ordens cotidianas, das condições vigentes em uma sociedade, tidas como imutáveis, é a necessidade de que haja uma força mobilizadora capaz de questionar e tensionar o estabelecido. É preciso subverter os sistemas impostos e buscar o estabelecimento de novas propostas. A palavra subversão vem do latim subversio, que significa o ato de destruir ou derrubar alguma coisa. Em latim, subversio tem o sentido de uma ação que provoca destruição ou a inversão da ordem. A palavra subversio vem da raiz subvertere, que significa virar de cabeça para baixo. Podemos ainda ponderar que subvertere é se rebelar e derrubar a ordem estabelecida. Diante disto, através da subversão quem estava no topo da hierarquia cai para baixo e quem estava em baixo é elevado. Isso causa desordem e confusão, até que a nova ordem se estabeleça. Subversão pode ser conceituada como uma ação contra a ordem social, política, cultural, econômica, religiosa definida. Pode-se manifestar tanto sob a forma de uma oposição aberta e declarada, como sob a forma de uma oposição sutil e prolongada no tempo. Um sujeito subversivo, como diria Focault, é aquele que contesta os sistemas hegemônicos de poder que, por sua vez, representam saberes prontos e inquestionáveis. Um sujeito que para sua construção, reinventa-se, sem precisar de tutelas. 14
Desta forma, apresentar, propor, exercer transformações na ordem social nos parece algo positivo e necessário uma vez que as próprias sociedades e os que nela vivem são por natureza contraditórios e mutáveis. Não estamos dizendo que toda mudança necessariamente é para melhor, mas elas fazem parte da lógica dos movimentos sociais. Poderíamos citar vários exemplos de condutas, questionamentos e práticas que foram combatidas, condenadas e perseguidas sob a acusação de subversão. Mas, o centro da nossa narrativa está em pensar como as mulheres ao longo da história foram vistas como elementos subversivos e como a sua luta foi e ainda é tão necessária na construção de uma sociedade que seja mais igualitária. Na construção das sociedades patriarcais o lugar da mulher foi relegado a segundo plano, sua função primordial era procriação, o cuidado da prole e dos afazeres domésticos, limitadas em seus direitos enquanto indivíduos públicos. Nesta construção histórica as mulheres eram vistas muitas vezes como seres temíveis, movidos meramente pelas paixões mundanas e incapazes de conduzir o destino de um dado povo, por isso mesmo deveriam cumprir o papel social determinado pela voz masculina para que fosse assegurada a ordem social e universal de uma dita sociedade. Aquelas que subverteram essa ordem, que tentaram atuar na esfera daquilo que era visto como própria dos homens, foram legadas à história como transgressoras, sediciosas, inescrupulosas, imorais, demonizadas de diferentes formas, sendo muitas vezes, punidas, exiladas e até assassinadas, ou ainda invisibilizadas e esquecidas. A eterna representação da Eva pecadora que condenou toda a humanidade pela sua natureza pervertida. Em geral a história foi construída e contada pelos homens, por isso considerada como a história de todos, como uma história total, mesmo que para isso tenha ocultado, silenciado e manipulado a metade do gênero humano, as mulheres. 15
16 Apesar de tudo isso, ao olharmos para o passado, analisando os fatos, é possível perceber que diversas mulheres romperam com as imposições sociais e acabaram desempenhando um papel que lhes era vetado, seja nas pequenas ações do dia a dia, seja se colocando como agentes das mudanças sociais, atuando em espaços de poder masculino;. É claro que, romper as amarras, subverter a ordem, muitas vezes constituía, e ainda se constitui um preço alto a se pagar, por isso mesmo muitas mulheres foram e ainda são vistas como ameaças a serem eliminadas, párias sociais a serem excluídas. As diversas formas de discriminação e de violência contra as mulheres são manifestação de relações de poder historicamente desiguais. As violências de gênero sempre estiveram estampadas como marcas da hegemonia do poder masculino. Não obstante a todas essas dificuldades, foi graças às ações subversivas de mulheres, sejam elas figuras públicas ou meras desconhecidas, que conquistas e mudanças foram alcançadas e é por meio delas que as mulheres vêm cada vez mais se afirmando enquanto sujeito social. Porém, a conquista dos direitos não significou o fim da opressão feminina. Por isso mesmo, essas ações têm de servir de maneira positiva, como norteadoras do caminho a seguir. A luta por igualdade, a resistência a opressão é ainda um continuum, pois, ainda há muito a se conquistar, a se transformar, um processo incessante e inesgotável de construir e reconstruir a mulher, suas escolhas, seus desejos como um sujeito social ativo e consciente.
“Revolução é igualdade e liberdade plenas, é ser tratado e tratar os demais como seres humanos, é emanciparmos por nós mesmos e com nossos próprios esforços” Fidel Castro
REJEIÇÃO Ariel Von Ocker Eu rejeitei o amor. Rejeitei de Deus o filho crucificado. De minha mãe rejeitei os beijos Tépidos de amanhecer e partida. Do meu pai, os elogios Rejeitei sorrindo. O mundo inteiro, eu deixei de lado. De valeu-me o panegírico De mascarados. Pinturas de banquete não Me saciaram a fome; nem palavras De vazio amor bastaram para Fazer-me sentir que alguém me amava. Rejeitei o fado; o belo; o bom e o justo. Sozinha trilhei o meu caminho E sozinha achei-me: eu dormia. Me acostei quieta. Abracei o Eu Que um mundo rejeitara E amei como só eu me amava... 18
Em 2022, publicou os livros Poemas de Ariel (TAUP), Sínteses: Entre o Poético e o Filosófico (Worges Ed.) e Ensaios Sobre o Relativismo Linguístico (Arche). Além disso, atua como professora bolsista de língua espanhola na UFMT. Também coordena o Projeto Ikebana Cultural, do qual foi membrofundadora. riel Von Ocker reside em Cuiabá- MT. Pessoa trans nonbinary, é psicanalista e professora. A 19
subVERSIVAS... versando sobre histórias Ancestrais ste é um texto teatral de resgate a narrativas ancestrais do povo Iorubá. O foco são as mulheres e a intersecção entre, epistemologia, escrevivência e atemporalidade. Logo, quatro mulheres contemporâneas se reúnem em um palco para experienciar a rotina e, por meio de fatos corriqueiros, apresentam os reflexos das reminiscências (in)conscientes do universo feminino. O texto é organizado em torno das conversas entre a matriarca, as memórias ancestrais e a relação atual com as filhas. A personagem em questão, descreve sonhos e expectativas cronologicamente: crescer, namorar, casar, ser mãe, avó... Por outro lado, a memória exerce um papel de narrador – mediador, com flashbacks contínuos na tentativa de despertar a matriarca à noção de que o tempo tem um papel didático na vida humana. Portanto, anuncia e previne a prática de novas e velhas escolhas, bem como, consequências. Vale dizer que as filhas da matriarca também se apresentam como etapas da vida, organizadas pelas diferentes fases da mulher. Cada uma, com um estilo e personalidade próprios, desafia a mãe, dificultando a concretização do propósito de vida da matriarca: o combate solidão! A filha mais velha, Borboleta, desafia a mãe com a liberdade! Quem segura Borboleta? Nem o vento. Omi, segunda filha, água em Iorubá se torna indispensável à vida da mãe. Doce, amorosa e presente, em um primeiro momento, demonstra que nasceu para realizar o sonho da matriarca. Mas com tantas qualidades e beirando à perfeição, desperta muitos olhares e logo, casa-se com um rei. Como Omi é ligada aos encantos e beleza, antes de partir, motiva a mãe a namorar novamente, a casar, a ser mãe de novo. Tudo isso acontece e nasce Guerra, a caçula. Entre as brigas e disputas, Guerra sempre volta para casa. Mas ao ficar adolescente, como as irmãs, ela também sente necessidade de trilhar o próprio caminho. E Escrevivências por: Isa Fauegi 20
Em tal contexto, solidão e liberdade são as estratégias para falar de questões femininas intergeracionais, recorrentes e que em 2023, ainda, merecem reflexão. Matriarca fica sozinha? Guerra trilha seu próprio caminho? As filhas voltam para casa? Essas e outras perguntas que surgem ao longo da leitura desta resenha são respondidas com na apresentação da esquete: ...subVERSIVAS...versando sobre histórias Ancestrais... Porque não há nada mais subversivo que (re) pensar a (s) nossa(s) história (s)... FICHA TÉCNICA DURAÇÃO: 5 MINUTOS CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: 14 ANOS DIREÇÃO E ROTEIRO: ISA FAUEGI MATRIARCA: MATILDA BORBOLETA: ELLA COOPER OMI: ISA FAUEGI GUERRA: KARINA KING MEMÓRIA: ZURI KALANI 21
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por: Vênus Arruda 23
17 ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ mais de 100 mil manifestantes e foi nomeado “Passeata dos Cem Mil’, o que é considerado um marco do período. Além disso, houve os movimentos guerrilheiros emergentes, que representavam a força da militância de esquerda, que ainda resistia el lutava por liberdade nas conjunturas expostas. A “Guerrilha do Araguaia” foi uma ação revolucionária com inspiração em movimentos comunistas que se desenvolveu no norte do Brasil com objetivo de tomar o poder do país através da luta armada.Por seu pequeno número de guerrilheiros, e consequentemente, sua força reduzida, a guerrilha foi desmantelada pelos militares ao longo do tempo, resultando em mortes, tortura e desaparecimentos. Assim como o dicionário nos diz que resistência é “recusa de submissão à vontade de outrem”, os integrantes dos movimentos opositores se recusaram a serem submissos às vontades do governo ditatorial implantado pelo golpe. Desse modo,manifestações pacíficas, movimentos armados, culturais e populares, são reminiscências que trazem fragmentos importantes da identidade do Brasil. Essas memórias incorporam histórias reais e carregam dores que não podem ser esquecidas, servindo como alerta para todo e qualquer sinal de nova repressão. subversiva socialista em um de seus álbuns. Mas houve quem, ao invés de microfones e violões, pegou em armas e foi às ruas. O movimento estudantil da época organizou uma manifestação popular que reivindicava a redemocratização da nação, tal ato contou com 25
Que não se passe um só dia sem questionar o estabelecido. Que não se passe um só dia sem questionar o estabelecido. Que não se passe um só dia sem questionar o estabelecido.
Fotografia: Tadeu Augusto
Fotografia: Tadeu Augusto