MÊS DA BÍBLIA
2012
DISCÍPULOS MISSIONÁRIOS
A PARTIR DO EVANGELHO
DE MARCOS
“CORAGEM,
LEVANTA-TE!
ELE TE CHAMA!”
(Mc 10,49)
Movimento Boa Nova
Equipe Missionária, SDN
Discípulos Missionários
a partir do
Evangelho de Marcos
“Coragem, levanta-te! Ele te chama!”
(Mc 10,49)
Mês da Bíblia 2012
www.mobon.org.br
1
Apresentação
Temos a alegria de apresentar o belíssimo trabalho para
o mês da Bíblia deste ano com o tema: “Discípulos e missionários
a partir do Evangelho de Marcos” e com o lema: “Coragem:
Levanta-te, Ele te chama!” (Mc 10, 49). Nosso Irmão Mariano
conduz a temática em sete encontros, apresentando algumas
perguntas como chave de leitura, a partir do texto proposto;
desenvolve magistralmente o tema e termina cada encontro
com um aporte das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora
da Igreja do Brasil com suas cinco urgências, deixando no
final uma pergunta para aprofundamento.
Bases do discipulado missionário é o primeiro encontro
com o texto de Mc 3, 13-35, onde Jesus forma uma nova família,
independente dos laços de sangue, para estar com Ele e enviá-
los em missão. O chamado, a formação e a missão são a
identidade do discípulo missionário. Com o texto de Mc 4, 33-
41: Jesus caminhando sobre as águas – é apresentado o
segundo encontro intitulado: Desencontros no discipulado
missionário. Os discípulos se entusiasmam com a novidade de
Jesus, mas não o entendem. Acontecem muitos desencontros e
Jesus é obrigado a questionar os discípulos: “Então, vocês não
têm fé? Jesus percebe que o coração dos discípulos está
endurecido e sua inteligência limitada. Isto serve de
questionamento para nós hoje também.
Os desencontros levam a uma crise no discipulado
missionário. Este terceiro encontro é apresentado com o texto
de Mc 8, 10-21, que traz duas perguntas: uma dos fariseus
pedindo sinal do céu, a outra de Jesus aos discípulos: Por que
discutis sobre o fato de não terdes pães? Os discípulos não
compreendem a identidade de Jesus. A crise aumenta quando
Jesus faz os três anúncios da paixão. Eles esperavam um
Messias diferente. O quarto encontro – “Coragem para ser
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Discípulo Missionário” é a propósito da cura do cego Bartimeu
(Mc 10, 46-52) – o ideal do discípulo. O episódio recolhe todos
os temas do verdadeiro chamado a ser discípulo. Os discípulos
precisam enxergar o caminho da cruz e ter a coragem de
Bartimeu. O quinto encontro – Discípulado Missionário exige
rupturas se fundamenta no diálogo amistoso de Jesus com um
escriba (Mc 12, 28-40). Na verdade, Jesus provoca uma série
de rupturas com os donos da religião e do poder. Que rupturas
precisamos fazer hoje para sermos verdadeiros discípulos
missionários de Jesus?
A perseverança mesmo diante das crises é fundamental
ao verdadeiro discípulo. Este é o tema do penúltimo encontro:
“Discípulo Missionário é ir até o fim”. Embora Jesus mostre
muitos sinais de esperança para os discípulos, celebrando a
ceia com eles, todos o abandonam no momento crucial. Aqui
se desenvolve o tema da morte de Jesus na cruz, o abandono e
a fuga dos discípulos. A cruz porém não é o fim. Quando Jesus
morre, o centurião – romano, portanto, um pagão – professa
que Jesus é de fato o Filho de Deus. A cruz aponta para um
futuro novo, para a vida plena. Jesus vence a morte. Com este
pensamento chega-se ao último tema: “Discipulado Missionário
é vitória sobre a morte”. A chave de leitura é Mc 16, 1-8, que
fala sobre a ressurreição de Jesus. A cruz não tem a última
palavra, mas é a expressão máxima do amor de Deus por nós.
Na cruz de seu Filho, Deus se dá inteiramente a nós. Depois da
morte, o Pai ressuscita seu Filho e Ele se encontra com seus
discípulos na Galileia. A ressurreição gera o tema da missão e
do testemunho.
Parabéns, Mariano! O texto ficou muito bom e vai
enriquecer muito os grupos de reflexão e todos os que
participarem destes cursos. O evangelho de Marcos, com a
sua contribuição, ficou muito mais acessível aos queridos
discípulos missionários de Jesus.
+ Dom Emanuel Messias de Oliveira
Bispo Diocesano de Caratinga
Junho de 2012
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Introdução:
Mais uma vez a Igreja nos convida a nos debruçarmos
gostosamente sobre a Palavra de Deus para conhecer e me-
lhor viver esta Palavra, com vistas a uma animação bíblica de
toda a Pastoral. Neste ano, o tema do mês da Bíblia é Dicípulos
missionários a partir do Evangelho de Marcos. Cada encontro procu-
ra fortalecer o sentido deste discipulado missionário. O lema:
“Coragem, levanta-te! Ele te chama!” (Mc 10,49), quer nos ajudar a
ter em nós a atitude de Bartimeu: abrir os olhos para a reali-
dade, sair do comodismo e assumir, verdadeiramente, o se-
guimento a Jesus.
O Evangelho de Marcos foi escrito na Galileia por volta do
ano 70 d.C. É o primeiro anúncio mais estendido sobre a vida
de Jesus. Por isso, alguns fatos como a infância, o nascimento
e outros não aparecem neste Evangelho. Por causa das
perseguições, alguns discípulos morreram, outros negaram a
fé, outros traíram (Mc 14,10.45), fugiram (Mc 14,50) ou se
dispersaram. Muita gente estava desanimada. Havia
problemas internos, ciúmes e brigas entre a liderança (Mc 9,34-
37). Era difícil acreditar que um condenado à morte, tido como
“madito” (Dt 21,23) pudesse ser, o Messias, o Filho de Deus.
O Evangelho mostra um caminho formativo para seguir Jesus.
A comunidade dos discípulos torna-se a nova família de Jesus
(Mc 3,35), a casa tem uma grande importância. Estar dentro de
casa significa abraçar a proposta de Jesus, estar fora de casa
significa recusa-la. A multidão ocupa um papel importante. Ela
segue, adere e reconhece que Jesus tem mais autoridade que
os escribas (Mc 1,27). Porém, no momento da dificuldade, da
cruz, “todos” o abandonaram (Mc 14,50-52).
Em cada encontro haverá uma referência às últimas
Diretrizes de Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil com suas
cinco urgências que devem ser abraçadas em seu conjunto.
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1º Encontro:
Bases do Discipulado Missionário
Chave de Leitura: Marcos 3,13-35
1. Quem Jesus chamou para seguí-lo e para que os
chamou?
2. O que os parentes de Jesus pensam dele?
3. Quem são os verdadeiros parentes de Jesus?
No texto acima, Jesus sobe à montanha e chama os
discípulos. É o primeiro ato de Jesus em seu ministério.
O chamado acontece na Galileia que é o lugar do começo
do ministério de Jesus e do envio para a missão. Na
tradição judaica, a montanha é o lugar da comunicação
entre Deus e o povo.
Para formar a comunidade de discípulos missionários,
Jesus chamou quem ele quis. Isto revela a independência,
a autonomia e a autoridade de Jesus em formar o grupo
de seus discípulos missionários. Por isso Jesus pôde
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chamar publicanos como Levi e pescadores como Pedro,
André, Tiago e João. Esse gesto também dava
independência ao seu grupo de seguidores.
Jesus é quem chama e constitui o seu grupo, não são
eles que se escolhem. Ele os “fez”. No Antigo Testamento
eram doze tribos, agora, os doze discípulos formam um
novo jeito de ser povo de Deus. Esse grupo é convocado
no início da missão a fim de conhecer a quem estavam
seguindo e aprender dele como fazer.
A grande tensão que se dá na obra de Marcos é a
posição dos parentes, amigos e compatriotas de Jesus
que se opõem ao seu projeto e com isso, os que deveriam
estar mais próximos se tornam os mais distantes. Só pode
saber quem é Jesus quem está caminhando com ele.
Aqueles que aparentemente estão longe (o
endemoninhado e o centurião romano) podem
aproximar-se e fazer parte definitiva da nova família,
estando dentro de casa (Mc 3,31-35).
Mas Jesus os chamou com uma finalidade especial:
estar com Ele e enviá-los em missão (Mc 3,14). “Estar com
Ele”, esta é a primeira e a mais forte exigência da
convocação e da preparação. Conviver com ele para
conhecer os seus projetos, a sua mensagem, a sua visão.
Estar com Jesus e ser dele é uma decisão pessoal e livre
que exige maturidade e capacidade de aceitação e
convivência, não apenas com a pessoa, mas com suas
ideias e ideais. Eles precisavam estar com Ele para
aprender d’Ele. Jesus é alguém que vai iniciando os
discípulos no projeto de Deus. O objetivo não é aprender
idéias, mas viver com Jesus a acolhida do Reino.
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No entanto, eles não formavam uma associação de
pescadores, de agricultores, ou uma organização política.
Jesus tinha uma proposta de vida comunitária. Os doze
receberam o nome de apóstolos. Eles deviam se
comprometer com a mensagem de Jesus; precisavam
entender, corretamente, a missão que lhes era confiada.
A nova comunidade tinha uma finalidade muito clara e
específica: ser preparada para ser enviada a anunciar uma
Boa Notícia. Para isto Jesus dá autoridade aos discípulos
superior à dos mestres da época (Mc 1,21-22). Impor-se
aos espíritos imundos era ter uma autoridade maior que
a dos escribas e fariseus. Jesus quer de seus discípulos
um envolvimento de corpo e espírito no “fazer a vontade
do Pai” (Mc 3,35).
Vocação, formação e missão são as bases do
discipulado missionário, são os elementos que
identificam o discípulo. Alguém se torna discípulo de
Jesus ao acolher o seu chamado, ao abrir o coração para a
formação e, finalmente, ao sair de si mesmos para a
missão. Assim, pelo batismo nos tornamos missionários
e precisamos cultivar estas bases do discipulado
missionário em nossas comunidades: ter momentos
fortes de encontro com o Senhor através da leitura orante
da Bíblia; nos atualizamos através de cursos e encontros
de formação; ser mais missionários assumindo melhor
os trabalhos em nossas comunidades.
As últimas DGAE, (Doc 94 da CNBB) nos lembram as
Marcas do Nosso Tempo e afirmam no n.º 17 que “O
discípulo missionário sabe que, para efetivamente
anunciar o Evangelho, deve conhecer a realidade à sua
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volta e nela mergulhar com o olhar da fé, em atitude de
discernimento”.
No nº 21 “Os critérios que regem as leis do mercado,
do lucro e dos bens materiais regulam também as relações
humanas, familiares e sociais, incluindo certas atitudes
religiosas. Crescem as propostas de felicidade, realização
e sucesso pessoal, em detrimento do bem comum e da
solidariedade. Não raras vezes, o individualismo
desconsidera as atitudes altruístas, solidárias e fraternas.
Por vezes, os pobres são considerados supérfuos e
descartáveis.”
E ainda, no nº 24 “ Tempos de transformações tão
radicais, por certo, nos afligem, mas também nos desafam
a discernir, na força do Espírito Santo, os sinais dos
tempos.” (...)Esta é a grande diretriz evangelizadora (...):
não colocar outro fundamento que não seja Jesus Cristo,
o mesmo ontem, hoje e sempre (cf. Hb 13,8).”
Pergunta para o aprofundamento:
O que podemos fazer, concretamente, para fortalecer
e ampliar a nossa missão de discípulos missionários?
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2º Encontro:
Desencontros no Discipulado Missionário
Chave de Leitura: Marcos 4,33-41
1. Qual a atitude dos discípulos diante das ondas
fortes?
2. O que Jesus pergunta aos discípulos?
3. O que Jesus perguntaria à nossa liderança hoje?
Os discípulos começam a seguir Jesus, deixam sua
profissão, sua família, amigos e começam a formar uma
nova comunidade. Eles O acompanham por todo canto,
entram na sinagoga (Mc 1,21) e nas casas, comem com
pecadores (Mc 2,15), andam pelos campos e arrancam
espigas (Mc 2,23). A liberdade de ação de Jesus lhes dá
um novo olhar sobre a realidade da época. Eles comem
sem lavar as mãos e já não insistem no jejum (Mc 2,18),
por isso são criticados pelos fariseus (Mc 2,16.18.24) e
defendidos por Jesus (Mc 2,19.25-27; 7,6-13).
“Todos te procuram” (Mc 1,37). Jesus começa a se
tornar conhecido, isso deixa os discípulos animados.
Quando não entendem algo, Jesus lhes explica, em casa
(Mc 4,11). Os discípulos participam também da dureza da
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nova caminhada, eles já não tinham tempo pra comer
(Mc 3,20). Cuidavam de Jesus para não ser esmagado
pelo povo (Mc 3,9). A convivência se torna mais íntima e
familiar. Jesus acende nos discípulos o fogo que ardia em
seu coração. Tudo ia muito bem, era uma “comunidade
modelo”, mas não demorou a surgir os desencontros.
Era grande o entusiasmo nos discípulos, mas eles
ainda não sabiam bem a quem estavam seguindo. Surge
uma diferença entre o “retrato” de Messias que eles
traziam dentro de si e aquilo que viam em Jesus. Eis os
desencontros: os discípulos não compreendem as
parábolas (Mc 4,13;7,18), revelam fraqueza na fé (Mc
4,40), não entendem a multiplicação dos pães (Mc 6,52;
8,20-21), convivem com Jesus, não sabem bem quem Ele
é (Mc 4,41). Antes eles expulsavam os demônios (Mc
6,13), depois, já não conseguem mais (Mc 9,18).
No texto acima, diante das ondas do mar, o medo fez
com que os discípulos acordassem Jesus: “não te importa
que pereçamos?” (Mc 4,38). Jesus estranhou a reação
deles e rebateu: “então, vocês não tem fé?” (Mc 4,40).
Jesus parecia um estranho para eles: “Quem é este que
até o mar e o vento lhe obedecem? (Mc 4,41).
Na casa de Jairo, uma mulher que sofria de uma
hemorragia há doze anos, tocou em Jesus e ficou curada.
(Mc 5,27-28). Jesus tinha sensibilidade, mas os discípulos
não percebiam isso “como pode perguntar quem foi que
me tocou?” (Mc 5,31). No deserto, os discípulos queriam
que Jesus despedisse a multidão para irem comprar pão.
Jesus rebate: “Vocês é quem de lhes dar de comer” (Mc
6,37). Eles não compreendiam nada. Ao ver Jesus sobre
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as águas, os discípulos tem medo, pensam que é um
fantasma (Mc 6,48-50). Tem o coração endurecido, Jesus
chega a chamá-los de pessoas sem inteligência (Mc 7,8).
O discipulado missionário parecia enfraquecido.
Esta série de desencontros serve de espelho para
refletir sobre nossas posições e atitudes no seguimento
a Jesus. Servem para nos animar diante dos desencontros
que acontecem hoje. E, assim como Jesus estava sempre
pronto para acolher novamente os discípulos e chamá-
los de novo ao seguimento, hoje precisamos
desenvolver esta atitude em nossas comunidades. Maior
compreensão, maior solidariedade e unidade entre os
dirigentes e entre todos os participantes. Assim é bom
ter presente a 1ª Urgência na Ação Evangelizadora da
Igreja do Brasil:
Uma Igreja em Estado Permanente de Missão: As
últimas DGAE, no nº 30, nos recordam que: “Jesus Cristo,
o grande missionário do Pai, envia, pela força do Espírito,
seus discípulos em constante atitude de missão. Quem se
apaixona por Jesus Cristo deve igualmente transbordar
Jesus Cristo, no testemunho e no anúncio explícito de sua
Pessoa e Mensagem. A Igreja é indispensavelmente
missionária. Existe para anunciar, por gestos e palavras,
a pessoa e a mensagem de Jesus Cristo. Fechar-se à
dimensão missionária implica fechar-se ao Espírito Santo,
sempre presente, atuante, impulsionador e defensor.
Pergunta para o aprofundamento:
Diante dos desencontros que acontecem hoje, as
pessoas continuam firmes na missão ou se afastam dela?
O que fazer?
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3º Encontro:
Crise no Discipulado Missionário
Chave de Leitura: Marcos 8,10-21
1. Quem discute com Jesus e qual o motivo da
discussão?
2. Quais os questionamentos de Jesus aos discípulos?
3. Quais os questionamentos de Jesus para nós, hoje?
Os gestos de Jesus de curar, expulsar o mal e
comunicar a salvação, provavelmente, inquietava a
quase todos. Jesus parecia um profeta “perigoso”. Seus
discípulos se sentiam também “deslocados”. Tinham
abandonado suas seguranças (casa, família, lugar social),
agora eram “caminhantes”, já não estavam sujeitos a
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César, não temiam os cobradores de impostos, pois não
tinham terra, nem negócios de pesca.
Mas isso tinha seu preço. Ao entrar num povoado,
podiam ser acolhidos ou rejeitados. O novo estilo de
vida era profético e desafiador. Eles haviam se tornado
“pescadores de homens”. Nada deviam levar consigo,
nem sandálias, nem túnicas de reserva. Libertados das
amarras e das posses, deviam confiar inteiramente em
Deus e na acolhida fraterna.
Com sua prática de vida, Jesus desperta receio e
desconfiança nos dirigentes de Jerusalém. Ele entra em
conflito com os fariseus, um dos grupos mais entendidos
nas leis e os mais influentes na vida do povo. Eram cheios
de hipocrisia e maldade, “guias cegos” que se esqueciam
da misericórdia e da fé. Em Mc 12,1-8, aparece o relato
dos “vinhateiros homicidas” que apresenta uma forte
crítica de Jesus às autoridades religiosas de Jerusalém
por não saberem cuidar do povo e por pensar apenas em
seus próprios interesses. Jesus e seus discípulos corriam
um grande perigo.
Os discípulos custam a se acostumar com o jeito novo
de Jesus ser e agir. Chega a um ponto em que eles tem o
coração endurecido (Mc 8,17), tem olhos e não vêem,
ouvidos e não ouvem (Mc 8,18), tinham uma visão
distorcida sobre o Messias. E, quanto mais Jesus explicava,
menos entendiam. Em geral, o povo e também os
discípulos esperavam um Messias Rei (cf. Mc 15,9.32),
um Messias General Militar (cf. Lc 23,5; Mc 15,6; 13,6-8),
um Messias Doutor (cf. Jo 4,25; Mc 1,22.27), um Messias
Juiz (cf. Mc 1,8; Lc 3,5-9), um Messias Profeta (cf. Mc
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6,4;14,65). Eles não esperavam um Messias Servo, que
iria sofrer muito e ser rejeitado pela sociedade (Mc 8,31-
32), como era anunciado por Isaías (cf. Is 42,1; 49,3; 52,13).
Quando Jesus alerta aos discípulos para tomarem
cuidado com o fermento dos fariseus e de Herodes, Ele
adverte para o perigo de ceder à ideologia (propaganda)
dominante. Ela leva as pessoas a pensarem com a cabeça
dos outros. Em Marcos 8,27-29, Jesus faz duas perguntas
aos discípulos: a. Quem dizem os homens que eu sou? b.
E vós, quem dizeis que eu sou? Nem todos aprovavam
Jesus, muitos criticavam a sua forma de agir e falar. Jesus
quer saber se eles estão preparados para enfrentar
oposições e confusões, por causa dele. Exige deles a
capacidade de discernimento e maturidade da fé para
avançar no discipulado missionário.
A confissão de fé de Pedro “Tu és o Messias” (Mc
8,29) é o centro do Evangelho de Marcos. Os anúncios da
Paixão colocam os discípulos em crise. Por isso ele fala
firme com Pedro: “fique longe de mim, satanás! Você
não pensa as coisas de Deus, mas as coisas dos homens”
(Mc 8,33). A fidelidade de Jesus ao projeto do Pai fez
aparecer o desencontro entre Ele e os seus discípulos. A
atitude de Pedro revela, na verdade, o parecer de todo o
grupo dos doze. Se antes Jesus não diz que Ele é o messias
(segredo messiânico) daqui para frente ele não vai negar
seu messianismo, porém logo que Pedro afirma que ele
é o Ungido de Deus, Jesus começa a anunciar
abertamente a sua paixão.
Somente depois da cruz, sob a luz da ressurreição é
que esta atitude de Jesus será melhor compreendida
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pelos seus discípulos. Somente quem caminhar até a cruz,
quem permanecer firme na fé, na comunidade, poderá
dizer: verdadeiramente este era o Filho de Deus. Em
nossas comunidades aparecem momentos de crise e
decepções, é preciso discernimento para não abandonar
o seguimento a Jesus. Neste sentido aparece a 2ª
Urgência na Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil:
Uma Igreja Casa de Iniciação à Vida Cristã. As últimas
DGAE, no nº 37, nos recordam que: “A fé é dom de Deus!
“Não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou
uma grande ideia, mas pelo encontro com um
acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo
horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva”.
Por sua vez, este encontro é mediado pela ação da Igreja,
ação que se concretiza em cada tempo e lugar, de acordo
com o jeito de ser de cada povo, de cada cultura. A
descoberta do amor de Deus manifestado em Jesus Cristo,
dom salvífco para toda a humanidade, não acontece sem
a mediação dos outros (Rm 10,14).”
Pergunta para o aprofundamento:
Nossa forma de catequizar e de evangelizar leva a um
encontro profundo com a pessoa de Jesus? O que fazer
para melhorar?
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4º Encontro:
Coragem para ser Discípulo Missionário
Chave de Leitura: Marcos 10,46-52
1. Quais as atitudes do Cego?
2. Quais as atitudes da multidão?
3. Quais as atitudes de Jesus?
“Se alguém quer vir em meu seguimento, renuncie a
si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.” (Mc 8,34-38). O
discipulado missionário é uma opção radical, exige
coragem e dedicação.
No Evangelho de Marcos, a cura do cego é o último
milagre de Jesus. Esse cego se chamava Bartimeu (filho
de Timeu), estava sentado à beira do caminho,
mendigando. É possível que em virtude da sua cegueira
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ele tivesse sido excluído de seu lar e vivesse das esmolas,
por isso ele estava à beira do caminho. Jesus abre os
olhos e o coração dele. “Coragem, levante-se porque
Jesus está chamando você!” (Mc 10, 49). Ele reconhece
Jesus como o Messias, dá um salto e se põe no
seguimento a Jesus como verdadeiro discípulo
missionário.
“Que queres que eu te faça?” O verbo querer indica
uma vontade e ao mesmo tempo um desejo possível.
“Meu Senhor, que eu veja”. No sentido teológico, ver é
buscar o entendimento é, acima de tudo, discernir o que
está acontecendo. Os discípulos chegam a ter atitudes
semelhantes à dos inimigos de Jesus. Mas Jesus, não os
abandona, procura meios para abrir os olhos deles e
vencer a cegueira. Jesus começa a falar abertamente
sobre a cruz e sobre o Messias Servo que vai sofrer e
morrer por causa da sua fidelidade ao Plano do Pai.
O Evangelho de Marcos, de 8,22 a 10,52, mostra uma
longa instrução sobre a cruz. No início desta parte há a
cura de um cego sem nome (Mc 8,22-26) e no fim, a cura
do cego Bartimeu (Mc 10,46-52). Esta cegueira indica, na
verdade, a situação dos discípulos de Jesus. Eles tinham
olhos, mas não enxergavam (Mc 8,18). No meio do relato
aparece Pedro que só enxerga a metade da realidade:
vê Jesus como o Messias, Filho de Deus, mas não
consegue encarar a cruz e o sofrimento é como o cego
curado em duas etapas (Mc 8,24).
O cego Bartimeu mostra mais coragem que Pedro (Mc
8,32) e mais coragem que jovem rico (Mc 10,22). Ele grita,
“Jesus, filho de Davi”, não faz exigências como Pedro e
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aceita seguir Jesus no caminho da cruz sem impor
condições. Sua fé é maior ele segue a Jesus no caminho
para a morte. Demonstra coragem para ser discípulo
missionário. Torna-se modelo do verdadeiro discípulo.
Entre as duas curas, acontece uma longa instrução que
mostra o sentido da cruz e indica o que significa ser
discípulo missionário:
a) é ter o máximo de abertura no relacionamento com
aqueles que não são da comunidade: “quem não é contra
nós é a nosso favor” (Mc 9,38-40);
b) é ter acolhimento aos pequenos e excluídos, não
ser causa de escândalo, pois, eles são de Cristo
(Mc 9,41-50);
c) é buscar a igualdade no relacionamento entre
homem e mulher (Mc 10,1-12);
d) é agir com ternura no relacionamento com as
crianças, carinho e afeto, sem medo (MMc 10,13-16);
e) é ter generosidade ao lidar com os bens materiais:
“vai, vende o que tens e dá aos pobres” (Mc 10,17-27-);
f) é desenvolver o dom partilha no relacionamento
entre os irmãos de comunidade: “quem deixar seu irmão,
sua mãe, seu pai, filhos, terra, por causa de Jesus,
receberá cem vezes mais (Mc10,28-31).
Nós, os discipulos missionários de hoje, a exemplo
do Bartimeu, devemos dar o salto e converter-nos. O
Evangelho de Marcos nos ajuda a abrir os olhos para ver
a realidade concreta da vida e perceber que não há como
seguir Jesus sem encarar a cruz. Vamos ver assim, a 3ª
Urgência na Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil:
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Uma Igreja Lugar de Animação Bíblica da Vida e da
Pastoral: As últimas DGAE, no nº 46, nos recordam que:
“Não se trata, por certo, de nos voltarmos para a Palavra
de Deus como atitude momentânea, fruto do atual
período da história. Trata-se de redescobrir, mais ainda,
que o contato profundo e vivencial com as Escrituras é
condição indispensável para encontrar a pessoa e a
mensagem Jesus Cristo e aderir ao Reino de Deus. Deste
modo, iniciação à vida cristã e Palavra de Deus estão
intimamente ligadas. Uma não pode acontecer sem a
outra, pois “ignorar as Escrituras é ignorar o próprio
Cristo”. Este é um tempo muito rico para que cada pessoa
seja iniciada na contemplação da vida, à luz da Palavra e
no empenho para que ela seja efetivamente colocada
em prática (Tg 1,22-25)..
Pergunta para o aprofundamento:
Quais as cegueiras que nos afetam hoje como
discípulos missionários? Como vencê-las?
Possível divisão do Evangelho de Marcos
1,1–13 – Ministério de João Batista;
1,14–8,23 – Ministério junto ao Lago da Galileia;
7,24–30 – Primeira missão fora = Em Tiro.
7,31–8,26 – Segunda etapa da missão junto ao Lago;
8,27–38 – Missão na Cesareia de Filipe;
9,1–50 – Terceira etapa da missão nos arredores da Galileia;
10,1–52 – Missão a caminho de Jerusalém;
11,1–15,47 – Missão e Paixão em Jerusalém;
16,1–20 – Confirmação da Ressurreição Lago da Galileia.
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5º Encontro:
Discipulado Missionário exige rupturas
Chave de Leitura: Marcos 12,28-40
1. Porque aquele doutor da Lei não estava longe do
Reino?
2. Por que Jesus recomenda cuidado com os doutores
da Lei?
3. Hoje, Jesus recomendaria cuidado com quem? Por
que?
Vemos no texto acima que Jesus recomenda aos
discípulos terem cuidado com os doutores da Lei, pois
tem a aparência de serem muito religiosos, mas exploram
o povo. No decorrer do Evangelho de Marcos, fica claro
que, para se manter fiel no serviço ao Reino, Jesus precisa
romper com as estruturas sociais de seu tempo.
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Ele rompe com o Templo (Mc 11,12-26) pois ele tinha
se tornado uma fonte de poder e riqueza para uma
pequena minoria às custas da exploração dos mais fracos.
Assim, ao expulsar os vendedores e cambistas e ao
proclamar que a Casa do Pai deve ser uma casa de oração
e não um covil de ladrões (Mc 11,17), atrai sobre si a
revolta as autoridades que procuram agora um meio de
matá-lo. Os discípulos devem ser capazes de fazer esta
ruptura.
Jesus rompe com os Sumos Sacerdotes, com escribas
e anciãos (Mc 11,27-12,12). Ao ser interrogado sobre com
que autoridade Ele fazia aquelas coisas, Jesus não
responde e deixa claro que suas ações não dependem
da licença deles (Mc 11,33). Também estes decidem
matar Jesus e só não o fazem de imediato porque tem
medo do povo (Mc 12,12). Seus discípulos também
correm o risco de serem perseguidos pelas autoridades.
Jesus rompe com os fariseus e os herodianos (Mc
12,13-17). Eles provocam Jesus sobre a questão de pagar
ou não o imposto a César. Jesus não cai na armadilha
deles. Antes, ao afirmar: “dêem a César o que é de César
e a Deus o que é de Deus”, Jesus sinaliza para que eles
devolvam a Deus o povo por eles desviado. Aqui é muito
significativo a questão da imagem: se o imposto pertence
a César, assim no dinheiro tem-se a figura do Imperador
César. O ser humano pertence a Deus porque somos a
imagem de Deus.
Jesus rompe com os saduceus, representantes da
classe alta dos sacerdotes, latifundiários e comerciantes
da época (Mc 12,18-27). Estes eram contrários à fé na
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ressurreição e são criticados por Jesus por não
entenderem nada sobre Deus e sobre as Escrituras. Estar
do lado deles significava estar contra Deus.
Jesus rompe com os escribas, os responsáveis pelo
ensinamento oficial da religião da época (Mc 12, 28-40).
Eles espalharam a ideia de que Jesus era um possesso
(Mc 3,22), Jesus condena o comportamento ganancioso
e mentiroso deles. Eles falavam certo, mas seu agir não
era correto. Os discípulos devem ter uma capacidade
crítica para seguir o que eles dizem sem fazer o que eles
fazem.
Jesus mostra ainda que a vontade de Deus acontece
em pequenos gestos que às vezes não são notados pela
maioria das pessoas. É o caso da viúva pobre (Mc 12,41-
44) que ao lançar uma moedinha no cofre do Templo dou
mais que todos os outros que depositavam lá grandes
quantias. Os discípulos de Jesus devem ter os olhos
abertos para perceber estes sinais do Reino manifestados
nos pobres e pequenos.
Deste modo, toda nossa ação eclesial deve brotar de
Jesus Cristo. Nisto se manifesta nosso discipulado
missionário: contemplamos Jesus Cristo presente e
atuante em meio à realidade. Nosso olhar, ser e agir,
devem ser reflexos do seguimento fiel, ao Senhor. Não
há, pois, como executar planejamentos pastorais sem
antes pararmos e nos colocarmos diante de Jesus Cristo.
Em atitude orante, contemplativa, fraterna e servidora.
Vamos rever a 4ª Urgência na Ação Evangelizadora da
Igreja do Brasil:
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Uma Igreja Comunidade de Comunidades: As últimas
DGAE, no n. 58 “A busca sincera por Jesus Cristo faz surgir
a correspondente busca por diversas formas de vida
comunitária. Articuladas entre si, na partilha da fé e na
missão, estas comunidades se unem, dando lugar a
verdadeiras redes de comunidades” e no nº 60, nos
recordam que:“No caminhar em busca de vida
comunitária, constata-se a presença das comunidades
eclesiais de base, as CEBs, que, alimentadas pela Palavra,
pela fraternidade, pela oração e pela Eucaristia, são sinal,
ainda hoje, de vitalidade da Igreja. São também presença
eclesial junto aos mais simples, partilhando a vida e com
ela se comprometendo em vista de uma sociedade justa
e solidária. Veem-se atualmente desa?adas a não
esmorecer, mas a discernir, na comunhão da Igreja,
caminhos para enfrentar os desa?os oriundos de um
mundo plural, globalizado, urbanizado e individualista.”
Pergunta para o aprofundamento:
Como discípulos missionários, quais as rupturas
precisamos fazer hoje para sermos fiéis a Jesus? Por quê?
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6º Encontro:
Discipulado Missionário é ir até o fim
Chave de Leitura: Marcos 15,33-47
1. Quais as últimas palavras de Jesus? O que elas
significam?
2. Jesus morre na cruz, o que diz o oficial do exército?
3. Hoje, o que significa seguir Jesus até o fim?
Os últimos acontecimentos até a morte de Jesus na
cruz revelam fraquezas em meio aos seus discípulos de
Jesus, escolhidos, desde o começo, para segui-Lo até o
fim. Judas vende Jesus por algumas moedas e com um
beijo lhe entrega aos inimigos (Mc 14,17-21); Pedro, que
exerce uma liderança no meio do grupo, nega Jesus três
vezes seguidas (Mc 14,29-31.66.-72). Três dos mais
próximos a Jesus, na hora em que precisam vigiar com
Ele, dormem (Mc 14,37.40). Por fim, no momento da
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crucificação, todos fugiram deixando Jesus sozinho (Mc
14,50). Estas atitudes revelam a fragilidade humana,
somos fracos e limitados. Também os escolhidos de Deus
correm o risco de fracassar na missão. Não é fácil ir até o
fim, não é fácil encarar a cruz. Como diz uma fala popular.
“Difícil não é carregar uma cruz de Jesus no peito, mas ter
peito para seguir o Jesus da cruz”.
Por outro lado, aparecem outros que, mesmo não
fazendo parte do grupo dos seguidores de Jesus,
manifestam sua fidelidade. A mulher de Betânia unge
Jesus (Mc 14,3-9) e manifesta que o aceita como o
Messias da Cruz, Servo Sofredor. Simão Cirineu, faz o que
os discípulos não tiveram coragem de fazer: ajuda Jesus
a levar a cruz (Mc 15,21-22). Um oficial do exército,
centurião romano, pagão, faz sua profissão de fé aos pés
da cruz e reconhece que o crucificado, considerado
maldito pela Lei dos judeus, é, de fato o Filho de Deus
(Mc 15,33-39). Se durante a maior parte do Evangelho de
Marcos faz-se um segredo sobre quem é Jesus, agora, já
no final do evangelho, Jesus proclama publicamente que
ele é o Messias, mas um messias na perspectiva do Filho
do Homem, perseguido, humilhado e depois glorificado
(14,61-62). Marcos responde a interrogação do seu
evangelho de forma clara: Jesus é o Messias, porém um
messias diferente das expectativas humanas.
Por isso somente quem caminha com Jesus até a cruz-
ressurreição poderá compreender que “tipo” de Messias
Ele é. Maria Madalena e muitas outras mulheres vão até
o fim não abandonam Jesus e o acompanham firmes até
à cruz (Mc 15,41). José de Arimatéia, membro importante
do sinédrio arriscou-se pedindo a liberação do corpo de
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Jesus para poder enterrá-lo (Mc 15,40-47). Ao contrário
dos discípulos estes manifestaram atitudes de
missionários que vão até o fim, eles dão continuidade à
boa nova do Reino que não pára.
O Evangelho de Marcos, mostra que as últimas
atitudes de Jesus querem dar esperança e fortalecer seus
discípulos para além do aparente fracasso da cruz. Mesmo
sabendo da traição, da negação e da fuga de seus
discípulos, ele os convida para a Celebração da Páscoa,
para a Eucaristia (Mc 14,22-25). Antes que os fatos
derradeiros aconteçam, Jesus celebra e sacramenta a
Nova Aliança. Ele anima a Ceia transmitindo aos discípulos
a sua esperança.
A morte de Jesus abriria um futuro novo para os
discípulos e para todos. Todos os ensinamentos e sinais
mostrados durante a missão seriam insuficientes para
sustentar a fé diante da prisão e da paixão. A cruz não era
o fim, mas o caminho para desmascarar todo o sistema
desumano e injusto que condena inocentes à morte. Mas
Jesus sabe que Deus escuta o grito do oprimido (cf. Ex
2,23-24). Jesus morre numa solidão total. O seu grito na
cruz é a sua prece para que aconteça a vitória sobre a
morte.
A cruz é consequência de toda uma vida dedicada a
fazer o bem. Quem se coloca a serviço da vida encontra
oposição de todos aqueles que tiram proveito das
situações de morte. Seguir Jesus exige abraçar
sofrimentos e perseguições por causa do Reino. Mas
temos certeza de que, a exemplo de Jesus, esta entrega
total e os sofrimentos que vem através dela não são em
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vão, sinalizam a vida nova que Deus quer para todos.
Vejamos, então, a 5ª Urgência na Ação Evangelizadora da
Igreja do Brasil:
Uma Igreja a Serviço da Vida Plena para todos: As
últimas DGAE, no nº 46, nos recordam que: A Igreja no
Brasil sabe que “nossos povos não querem andar pelas
sombras da morte. Têm sede de vida e felicidade em
Cristo”. Por isso, proclama com vigor que “as condições
de vida de muitos abandonados, excluídos e ignorados
em sua miséria e dor, contradizem o projeto do Pai e
desafiam os discípulos missionários a maior compromisso
a favor da cultura da vida”. Ao longo de uma história de
solidariedade e compromisso com as incontáveis vítimas
das inúmeras formas de destruição da vida, a Igreja se
reconhece servidora do Deus da Vida. A nova época que,
pela graça deste mesmo Deus, haverá de surgir precisa
ser marcada pelo amor e pela valorização da vida, em
todas as suas dimensões. A omissão diante de tal desa?o
será cobrada por Deus e pela história futura.
Pergunta para o aprofundamento:
Como discípulos missionários, a serviço da vida plena,
o que fazer para não desistirmos diante das dificuldades?
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7º Encontro:
Discipulado Missionário é vitória sobre a morte
Chave de Leitura: Marcos 16,1-8
1. Qual a intenção das mulheres naquela manhã?
2. O que o jovem anuncia e qual a reação delas?
3. Como se manifesta, hoje, nossa fé na ressurreição?
A ressurreição é algo que aconteceu a Jesus e não na
imaginação de seus seguidores. É um fato real, não fruto
de uma fantasia. Porém, o sepulcro vazio não é prova da
ressurreição. É um erro procurar Jesus num sepulcro
vazio. Ele ressuscitou e continua guiando seus seguidores.
A ressurreição não é um retorno de Jesus à sua vida
anterior, não é a reanimação de um cadáver. Jesus não
retorna a esta vida, mas entra, definitivamente, na vida
de Deus. Jesus é o mesmo, mas não é o de antes.
Apresenta-se cheio de vida. É alguém real e concreto,
mas com uma existência nova.
Quando Deus ressuscita Jesus, ressuscita sua vida
terrena marcada por sua entrega ao Reino de Deus, seus
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gestos de bondade para com os pequenos, sua
obediência até à morte. Jesus ressuscita com um “corpo”
que recolhe e dá plenitude à sua vida terrena. Para os
que crêem a ressurreição é o fato mais real, importante
e decisivo que ocorreu na história humana, ela é o
fundamento último de toda a esperança. A vida venceu
e sempre vencerá a morte. “Deus que ressuscitou Jesus,
nos ressuscitará também a nós por sua força” (1Cor 6,14).
Jesus vive e está novamente com seus discípulos. Eles
encontram-se com aquele que os chamou ao serviço do
Reino. As mulheres encontram-se com aquele que
defendeu a sua dignidade e as acolheu. O encontro com
o ressuscitado é um dom, é Jesus quem se faz presente
na vida deles. O encontro com Jesus é uma experiência
de perdão. É algo que deve ser comunicado e transmitido
aos outros. “Ide por todo o mundo e proclamai a boa
notícia a toda a criação” (Mc 16,15). A missão de
evangelizar não é exclusiva dos Onze. Todos os que se
encontram com o ressuscitado ouvem o chamado a
transmitir sua própria experiência aos outros.
Quem crer e for batizado será salvo; quem não crer
será condenado” (Mc 16,15)! Quem não receber a boa
nova por omissão do evangelizador, esse tornar-se-á
responsável. Assim, nenhum lugar e nenhuma criatura
pode ficar sem conhecer o Evangelho. Jesus está com
eles, e a missão deve ser continuada pelos discípulos.
É importante lembrar que Jesus iniciou o seu
ministério na Galileia. Se ele manda o discípulos voltarem
para a galileia, isso significa que a missão dos discípulos
de Jesus é a mesma de Jesus. O caminho do discípulo é o
mesmo do mestre, ou seja, o caminho da cruz. É preciso
retornar à Galiléia, ao ardor do chamado inicial para seguir
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seus passos. É preciso viver curando os que sofrem,
acolhendo os excluídos, perdoando os pecadores,
defendendo as mulheres e abençoando as crianças. É
preciso continuar anunciando que o Reino de Deus está
próximo. Com Jesus é possível um mundo diferente,
mais amável, mais humano, mais digno, mais justo, onde
haja mais vida para todos.
Somente o incrível amor de Deus pode explicar o que
aconteceu na cruz. Somente à sombra luminosa da cruz
pôde surgir a verdade cristã de que “Deus é amor” (1Jo
4,8.16). Realmente, como diz Paulo: “O Filho de Deus
me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20). Precisamos
nos descobrir verdadeiramente como filhos e filhas
amados de Deus.
As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja
do Brasil, (Doc 94 da CNBB) no n.º 76 nos apresentam as
Perspectivas de Ação. “A Igreja nasce da missão e existe
para a missão. Existe para os outros e precisa ir a todos.
No processo de evangelização, o testemunho é condição
para o anúncio. A própria comunidade cristã precisa ser
ela mesma anúncio, pois o mensageiro é também
Mensagem. Os mensageiros de Jesus Cristo são, antes
de tudo, testemunhas daquilo que viram, encontraram e
experimentaram. Este fato implica irradiar a presença de
Deus, de Jesus Cristo, Deus-Conosco, e, na força do Espírito
Santo, proclamar com a palavra e com a vida que Cristo
está vivo entre nós.”
Pergunta para o aprofundamento:
Nossas missas e cultos dominicais favorecem nosso
encontro com o ressuscitado? Como temos testemu-
nhado a presença amorosa do ressuscitado no dia a dia?
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Cânticos para animar o encontro
01 – A Palavra do Senhor (mantra) (Dó+)
A palavra do Senhor é viva e eficaz, / é esperança, luz e
amor, é Palavra de paz.
02 – Missionário vai (Fá+)
Missionário vai, missionário vem, / um deles posso ser e
tu também. (bis)
1. Vou vestir a camisa da missão / jogar sempre no time
do Senhor / Pra formar a esquadra da união / fazer
gols de paz e de amor.
2. Nosso campo é imenso e não tem fim, / todo dia é um
dia de treinar./ Só faz parte da nossa seleção / quem
servir aos irmãos e amar.
3. Escalado eu fui não volto atrás / tenho fé e este time é
campeão / Quero ter a coragem de gritar / aos irmãos
vou levar salvação.
03 – Leitura Orante da Palavra de Deus (Dó+)
1. A leitura vou fazer / vou rezar e refletir, / devo, então,
me perguntar: / o que o texto diz em si?
Ler, meditar, rezar e contemplar / Passos tão pequenos,
fazem a vida transformar. (bis)
2. Meditando, passo a passo / vou assim, sem distrair, /
Perguntando, perguntando: / O que o texto diz pra
mim?
3. E agora vou rezar, / por aqueles que são teus / abrirei
meu coração:/ O que vou dizer a Deus?
4. Contemplar, enfim, eu vou, / sem ter pressa e sem
demora / meu senhor já me enviou: / O que vou fazer
agora?
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04 – Vai missionário (Mi+)
Vai missionário, vai evangelizar / de um jeito novo, novo
jeito de amar/ e fazer ressoar a Palavra de Deus na
vida do povo (bis).
1. A Palavra é uma VOZ / que dá vida e tudo cria. / Ela é o
próprio Deus / que nos ama e nos envia. / A Palavra
tem um ROSTO / é Jesus que se encarnou. / Ele é
Palavra viva, / que Deus-Pai nos revelou.
2. A Palavra fez morada / sua CASA é a Igreja. / Viver em
comunidade / é o que o Pai deseja. / A Palavra faz
CAMINHO, / nos envia pra missão. / Ser discípulos
missionários, / pra fazer um mundo irmão.
3. A Palavra é que nos guia, / ilumina sempre mais. / É a
alma que dá vida, / vivifica as Pastorais. / Grupo de
Reflexão é uma forma especial / de dar vida e animar
/ toda a nossa pastoral.
4. E já são cinquenta anos / da Igreja em reunião. / Foi um
novo Pentecostes, / na evangelização. / A Igreja
reunida, redescobre a missão. / O Concílio nos renova,
/ põe a Bíblia em nossas mãos.
05 – Tua palavra é (sol+)
Tua Palavra é! Luz do meu caminho / Luz do meu caminho,
meu Deus! Tua Palavra é! (bis)
1. Tua Palavra está nas ondas do mar! / Tua Palavra está
no sol a brilhar! //: Tua Palavra está no pensamento /
No sentimento tua Palavra está! (bis).
2. Tua Palavra está no som do trovão! / Tua Palavra está
no tom da canção! //: Tua Palavra está na consciência!
/ e na ciência tua Palavra está! (bis).
3. Tua Palavra está na beleza da flor! Tua Palavra está na
grandeza do amor! //: Tua Palavra está na liberdade /
Na amizade tua Palavra está!
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MÊS DA BÍBLIA
2012
DISCÍPULOS MISSIONÁRIOS
A PARTIR DO EVANGELHO
DE MARCOS
“CORAGEM,
LEVANTA-TE!
ELE TE CHAMA!”
(Mc 10,49)
Movimento Boa Nova