Fraternidade e Vida
Dom e Compromisso
“Viu, sentiu compaixão e cuidou dele”
(Lc 103,533-34)
Equipe Missionária, SDN
Fraternidade
e Vida
Dom e
Compromisso
“Viu, sentiu compaixão e cuidou dele”
(Lc 10,33-34).
Campanha da Fraternidade 2020
Dom Cavati - 2020
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Ficha Técnica:
Texto: Denilson Mariano e João Resende
Diagramação: Denilson Mariano
Revisão: João Resende e Mariano
Imagens: Reprodução / Max Gonçalves
Capa: CF 2020 - CNBB
Impressão: Gráfica AGEP - Eng. Caldas - MG
Pedidos: Casa do Mobon
Rua Santa Maria, 346 - Serapião II
Dom Cavati - MG
Fone: (33) 3357-1348
Visite nossso site: www.mobon.org.br
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Apresentação
A Campanha da Fraternidade de 2020 terá como
tema: “Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso”.
Será toda ela pautada na parábola do Bom Samari-
tano, com o lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou
dele” (Cf. Lc 15, 33-34).
Este Curso do MOBON sobre a CF 2020 consta
de 7 encontros: 1. Os três olhares (do sacerdote, do
levita e do samaritano); 2. A quebra da fraternidade
(Caim); 3. A solidariedade e a justiça (revendo nosso
agir); 4. Superar as desigualdades, valorizar a vida,
partilha fraterna; 5. Sentir compaixão, rompendo a
indiferença; 6. Ter os sentimentos de Cristo; 7. Com-
promisso com a vida humana e a vida do planeta:
pessoal, familiar, comunitário e social.
Como o bom samaritano permanece junto ao
assaltado e lhe garante acolhimento e cuidado, “VER,
SENTIR COMPAIXÃO e CUIDAR serão os verbos de ação
que nos conduzirão no tempo quaresmal” (Texto-Base
da CF 2020, nº 25).
O cartaz da CF 2020 traz a figura da Santa Dulce
dos Pobres, a primeira santa brasileira, rodeada de
3
seus pobres. Vejam o que nos disseram, sobre Santa
Dulce, Dom Walmor e os demais diretores da CNBB,
comentando o cartaz: “Santa Dulce dos Pobres, mu-
lher frágil no corpo, mas fortaleza peregrinante pelas
terras de São Salvador da Bahia de Todos os Santos.
Dulce, presença inquestionável do amor de Deus pelos
pobres e sofredores. Dulce, incansável peregrina da
caridade e da fraternidade. Dulce, testemunho irrefu-
tável de que a vida é dom e compromisso. Dulce, que
via, se compadecia e cuidava. Dulce que intercede por
nós no céu!” (Manual CF 2020, p. 9).
Nossa bênção aos organizadores deste curso,
a todos e todas que irão aplicar este curso e a todos
e todas que irão dele participar, bem como às suas
famílias e comunidades: por intercessão da Virgem
Maria, nossa Mãe querida, e de Santa Dulce dos
Pobres, o Senhor Deus, bondoso e misericordioso,
vos abençoe, em nome do † Pai, e do † Filho, e do †
Espírito Santo. Amém.
Caratinga, 17 de novembro de 2019.
+ Dom Emanuel Messias de Oliveira
Bispo Diocesano de Caratinga
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Introdução:
Mais uma vez, a Igreja do Brasil nos convida
a aprofundar a experiência de conversão quaresmal
através da Campanha da Fraternidade (CF). Trata-se
de contemplar os mistérios da Paixão, Morte e Res-
surreição do Senhor de frente para a realidade que
nós vivemos. Viver a Quaresma não é apenas recordar
os sofrimentos de Jesus Cristo, que sofreu e foi injus-
tiçado. Mas, diante dos sofredores e injustiçados de
nossa história, recriar as suas atitudes de compaixão e
misericórdia que recuperam a vida e a esperança. Daí o
tema: “Fraternidade e vida: Dom e Compromisso” e o
lema que nos motiva: “Viu, sentiu compaixão e cuidou
dele” (Lc 10,33-34).
O Objetivo Geral desta CF é: conscientizar, à luz
da Palavra de Deus, para o sentido da vida como dom e
compromisso, que se traduzem em relações de mútuo
cuidado entre as pessoas, na família, na comunidade,
na sociedade e diante do planeta, nossa casa comum.
Seguindo de perto a parábola do Samaritano, que viu,
sentiu e moveu-se por compaixão, vamos procurar ver
a nossa realidade, iluminá-la com a Palavra de Deus
e buscar pistas para nosso agir “fraterno e solidário”.
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Ver, sentir Compaixão e Cuidar apresentam-se
como um Programa Quaresmal: 1. Escuta da Palavra
que converte o coração; 2. Verdadeira atenção aos
outros; 3. Rompimento da indiferença diante do sofri-
mento; 4. Disponibilidade para o serviço. “Somos todos
irmãos” (Mt 23,8), somos todos inter-dependentes, co-
-responsáveis pela vida humana e pela vida no planeta.
Quaresma exige de nós fraternidade. Assim,
apesar de muitas críticas, injustas e desonestas, feitas
à Campanha da Fraternidade, às CEB´s e à CNBB, nós,
por fidelidade a Jesus Cristo e a seu Evangelho, somos
convidados a abraçar com carinho e dedicação esta CF
2020. Somos chamados a valorizar, divulgar e fortalecer
as inúmeras iniciativas já existentes em favor da vida;
conscientizar para a vivência de uma ecologia integral
que desperte o compromisso de cuidado para com o
planeta terra, nossa casa comum; fortalecer a cultura da
fraternidade e a revolução do cuidado como caminho
de superação da indiferença e da violência.
Que a exemplo de Jesus, o Bom Samaritano,
sejamos capazes de ver, ter compaixão e cuidar da
vida humana e da vida do planeta. Este é o fruto que
desejamos colher de nossa caminhada quaresmal ao
caminhar com Jesus, seguindo de perto Mistério Pascal
de sua Paixão, Morte e Ressurreição.
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1º Encontro: Rever o nosso olhar
Chave de Leitura: Lucas 10,25-33
1. O que é preciso fazer para herdar a vida eterna?
2. Qual a diferença entre o olhar do sacerdote, do
levita e do samaritano?
3. Nosso olhar é mais semelhante a qual destes três?
Dentro do Evangelho de Lucas, a parábola do sa-
maritano aparece no contexto da subida de Jesus a
Jerusalém (Lc 9,51 –19,27), ela nos coloca diante do
mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Aí
surge uma explicação do que é necessário fazer para
entrar na vida eterna. Já que existiam mais de 613 leis
7
e prescrições a serem cumpridas. Diante da dificuldade
de cumprir fielmente todos os mandamentos, o doutor
da lei, com a intenção de testar Jesus, o questiona sobre
o que fazer para herdar a vida eterna.
Jesus responde com outra pergunta: “Que está es-
crito na Lei? Como lês?” Neste questionamento, Jesus
vai além da letra das Escrituras. Ele coloca a questão da
interpretação que se dá ao texto. A Palavra de Deus não
deve ser apenas lida como o fazem os fundamentalistas.
Ela deve passar também pelo crivo da interpretação. A
interpretação da Palavra deve ser feita de frente para
vida, de olhos abertos à realidade. Procurando sempre
a vontade de Deus diante de cada situação que viven-
ciamos. Por isso, Jesus propõe ao doutor da Lei uma
parábola para ajudar a aproximar a Lei e a vida; a teoria
e a prática; a fé e a vida; a oração e a ação; o amor a
Deus e o amor aos irmãos.
O sacerdote era o responsável pelos sacrifícios
no templo de Jerusalém e o levita responsável pela
animação da liturgia. Tanto um como o outro agiram
com indiferença diante do necessitado à beira da
estrada. Eles viram, mas se desviaram e não o socor-
reram. Essa indiferença poderia ter motivos culturais,
religiosos - se fossem contaminados com o sangue ou
o homem viesse a morrer, ficariam impuros (Lv 15;
Lv 21,11) – ou simplesmente não quiseram atrasar a
viagem. No entanto, o samaritano, ao ver o homem,
sentiu compaixão. Esta compaixão nasce do seu modo
diferente de olhar, leva-o a se aproximar do homem,
gastar tempo, modificar um pouco sua viagem... Ele
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não cai na indiferença diante do necessitado e sofredor.
Ele oferece os cuidados emergenciais: limpa as feridas,
alivia a dor, leva o homem até a hospedaria e paga as
despesas de sua estadia.
Próximo não é apenas alguém com quem possuímos
vínculos, mas todo aquele de quem nos aproximamos.
É todo aquele que sofre diante de nós. Não é a lei
que estabelece prioridades, mas é a compaixão que
impulsiona a fazer pelo outro aquilo que é possível,
rompendo assim com a indiferença. A fé leva neces-
sariamente à ação, à caridade e à fraternidade. Jesus
é o verdadeiro bom samaritano que se aproxima dos
homens e das mulheres que sofrem e, por compaixão,
lhes restitui a dignidade perdida.
Diante do convite para vivermos uma profunda
conversão temos diante de nós duas maneiras de olhar
que são apresentadas por Jesus na parábola do bom
samaritano: um olhar que vê e passa adiante, vivido
pelo sacerdote e pelo levita, e um olhar que vê e se
faz próximo, se envolve, se compromete, vivido pelo
samaritano. Diante desses olhares, há uma vida em
jogo, em perigo, necessitada e vulnerável. Para uma
verdadeira conversão, para uma mudança de vida,
precisamos rever o nosso olhar. Aprender com Jesus a
ter o olhar do Bom Samaritano.
“Somente um olhar interessado pelo destino do
mundo e do ser humano permitirá experimentar a dor
pela situação que rege a história, mas que é superada
pelo amor de Deus que a envolve. Somente contem-
plando o mundo com os olhos de Deus é possível
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perceber e acolher o grito que emerge das várias faces
da pobreza e da agonia da criação” (DGAE, Nº 102). A
partir do modo de olhar se desdobra um jeito de agir.
Se não aprendemos a olhar como Jesus, não agiremos
como Ele. Não seremos, de fato seus seguidores, pois só
se torna seguidor quem faz a vontade do Pai.... O Papa
Francisco, quando visitou a ilha de Lampedusa (julho de
2013), convocou toda a Igreja e todos os cristãos vencer
a “globalização da indiferença”. Se já não somos mais
capazes de perceber a desumana dor ao nosso lado,
também nós nos tornamos desumanizados. É por isso
que a Campanha da Fraternidade de 2020 proclama:
Seu sentido consiste em ver, solidarizar-se e cuidar.
APROFUNDAMENTO: Diante dos sofredores e ne-
cessitados nosso olhar é de indiferença, de curiosida-
de ou de solidariedade? Em que precisamos crescer?
“Se Deus viesse à nossa porta,
como seria recebido?
Aquele que bate à nossa porta,
em busca de conforto para a sua dor,
para o seu sofrimento,
é um outro Cristo que nos procura”
Santa Dulce dos Pobres
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2º EncoRnterov:er a nossa Fraternidade
Chave de Leitura: Gênesis 4,1-16
1. Porque Deus não gostou da oferta de Caim?
2. O que Deus pergunta a Caim?
3. Como Deus pune o mal praticado por Caim?
Depois de tratar da criação do mundo e da huma-
nidade, o livro do Gênesis traz à tona a quebra da fra-
ternidade. Deus nos criou para vivermos como irmãos
uns dos outros. A atitude de Caim revela a quebra da
fraternidade. No versículo 7, aparece, pela primeira
vez, a palavra “pecado” na Bíblia. Tudo aquilo que fere
o irmão, que fere a fraternidade, fere o relacionamento
com Deus, por isso é pecado. Deus quer que aprenda-
11
mos a viver como irmãos. Por isso ele pergunta a Caim:
“onde está o seu irmão Abel?” (v. 9). A vida, dom de
Deus, é também tarefa, é compromisso de cuidar dos
irmãos (TB nº 24-25). A indiferença de Caim expressa
a indiferença que atinge a sociedade de hoje.
O egoísmo e o individualismo têm levado as pes-
soas a não se importarem com os outros. Vivemos
em uma sociedade que cria as vitimas: os sem teto,
os migrantes, os desempregados, as prostitutas, os
menores abandonado, a violência, etc. Cria as vítimas
e em seguida as ignora. Assume uma atitude de total
indiferença diante dos irmãos, vítimas de um agir mal,
do pecado que nos espreita. Por isso a CF 2020 nos
convida a olhar para nossa realidade a fim de rever
nossa fraternidade.
No Brasil, 22,6% das crianças e adolescentes com
idade entre 0 e 14 anos vivem em situação de extrema
pobreza. Isto corresponde a 9,4 milhões de menores.
2,5 milhões de crianças e adolescentes até 17 anos
trabalham; 11,7 mil crianças e adolescentes foram
vítimas de homicídios, em 2017; mais de 3 milhões de
domicílios estão em favelas; 16,4% das adolescentes
são mães antes dos 19 anos.
O aborto é também uma realidade que ameaça a
vida desde o ventre materno (TB nº 33-34). A criança
inocente e vulnerável torna-se vítima cruel de uma
sociedade que descarta gerações inteiras, desde o
uso de embriões para pesquisas e o seu descarte em
clínicas de reprodução assistida até a total liberação
do aborto provocado. Esse é o olhar perverso, de
indiferença, que não consegue perceber a dignidade
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da pessoa desde a fecundação. O desprezo pela vida
se manifesta, também, por projetos que regularizem
a eutanásia e o suicídio assistido, garantindo o direito
da antecipação da morte.
Milhares de crianças órfãs perderam seus pais ou
suas famílias, permanecem invisíveis na sociedade do
espetáculo e do consumo. Também o desemprego
agride a vida humana. No 1º trimestre de 2019 a taxa
de desemprego atingiu 12,7% da população. Segundo
o IBGE A população desocupada (13,4 milhões) cresceu
10,2%. Além disso, o número de pessoas desalentas
(4,8 milhões) continua subindo (TB nº 36). Cresceu
o número de pessoas com depressão. Segundo a Or-
ganização Mundial da Saúde, nos últimos dez anos, o
número de pessoas com depressão aumentou 18,4% o
que corresponde 322 milhões de indivíduos. No Brasil
5,8% dos habitantes sofrem este mal, é a maior taxa
do continente latino-americano. A depressão atinge
pessoas de todas as idades e classes sociais, mas o risco
se torna maior na presença de pobreza, desemprego,
morte de um ente querido, ruptura de relacionamento,
doenças e uso de álcool e de drogas.
A automutilação tem crescido entre os jovens.
Consiste em agredir o próprio corpo, provocando
ferimentos com o objetivo de aliviar alguma dor emo-
cional ou angústia (TB nº 38-39). Estima-se que 20%
dos jovens praticam a automutilação e o bullying nas
escolas estaria entre as principais causas do problema.
Atitudes agressivas, sejam elas físicas ou verbais, são
sinais de indiferença e ferem a dignidade humana. De
acordo com o Ministério da Saúde, os jovens, entre 15
13
e 29 anos, estão entre as maiores vítimas do suicídio
que é considerada a quarta causa de morte nessa faixa
etária, ficando atrás de violência e acidente de trânsito.
No Concílio Vaticano II, na Constituição sobre a Ale-
gria e Esperança, aponta os perigos dessa mentalidade
que gera uma cultura de morte: “Tudo quanto se opõe
à vida, como seja toda a espécie de homicídio, genocí-
dio, aborto, eutanásia e suicídio voluntário; tudo o que
viola a integridade da pessoa humana [...] corrompem a
civilização humana, desonram mais aqueles que assim
procedem, do que os que padecem injustamente; e
ofendem gravemente a honra devida ao Criador” (GS,
27). De muitas e variadas formas, Deus continua a nos
perguntar: “Onde está o teu irmão?”
APROFUNDAMENTO: Nossos cultos, missas, ora-
ções e devoções estão nos fazendo mais fraternos
e solidários aos necessitados? Em que precisamos
crescer?
“No coração de cada homem,
por mais violento que seja,
há sempre uma semente de amor
prestes a brotar”.
Santa Dulce dos Pobres
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3º Encontro: Rever o nosso agir
Chave de Leitura: Levítico 19,9-18.
1. Que atitudes de solidariedade o Senhor pede?
2. Que atitudes de justiça o Senhor exige?
3. Como devemos amar o próximo?
O nome Levítico é, certamente, devido à importân-
cia da função litúrgica desempenhada pelos levitas.
Levi era um dos filhos de Jacob (Ex 1,2), cuja tribo foi
escolhida para o serviço religioso e sacerdotal do tem-
plo (Dt 10,8-9). Trata-se do livro de culto do povo da
aliança. Os acontecimentos narrados situam-se durante
a grande viagem desde o Egito até à terra de Israel,
no ambiente da aliança do Sinai. No entanto, apenas
algumas tradições antigas devem pertencer ao tempo
15
histórico da travessia do Sinai, pois toda a estrutura do
culto ali regulamentada supõe um povo já assentado
na terra e o culto do templo bem organizado. Trata-
-se, talvez, de uma recolha feita pelos sacerdotes de
Jerusalém, já depois do Exílio (séc.VI).
Este conjunto de leis referentes aos cultos colo-
cadas diante do Monte Sinai, no contexto da Aliança
de Deus com seu povo, quer indicar que o culto não
pode limitar-se apenas aos ritos litúrgicos. Também
Jesus não destruiu este culto (Mt 5,17-20); mas aponta
para um culto que nasça do coração e esteja sempre
comprometido com a sua vida concreta e a do mundo
que o rodeia (Mt 5,21-48; Mc 7,1-23; Jo 4,20-21). Hoje,
continuamos a ler este livro para encontrar as raízes
do verdadeiro culto cristão. O culto Cristão deve ser
seguido de atitudes de justiça, de solidariedade e de
misericórdia como nos revela o texto acima.
A CF 2020 continua nos convidando a um processo
de conversão que nos faça rever nosso modo de ser e
de agir como cristãos na sociedade de hoje. Por isso ela
volta nossa atenção para a realidade que nos desafia:
A desigualdade é um triste distintivo da sociedade
brasileira. Em 2017, o Brasil era o 9º país mais desigual
do Planeta em distribuição de renda. Dados do IBGE re-
velam que, os 50% mais pobres da população brasileira
sofreram uma retração de 3,5% nos seus rendimentos
do trabalho, enquanto os 10% de brasileiros mais ricos
tiveram crescimento de quase 6% em seus rendimen-
tos (TB nº 31). Neste cenário, percebemos que o olhar
do descarte e da indiferença gera um sentimento de
desprezo sobre a vida.
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O Papa Francisco nos ajuda a enxergar melhor essa
situação: Ele aponta que o mandamento não matar põe
um limite claro para assegurar o valor da vida huma-
na. Mas é preciso também dizer não a uma economia
da exclusão e da desigualdade social. Esta economia
mata. Não é possível que a morte de um idoso causa-
da pelo frio, sem abrigo não seja notícia, enquanto o
é a descida de dois pontos na Bolsa de Valores. Isto é
exclusão. Não se pode tolerar o fato de se jogar comida
no lixo, quando há pessoas que passam fome. Isto é
desigualdade social. O ser humano é reduzido a um
bem de consumo que se usa e depois joga fora. Isso é
a cultura do “descartável”. Os excluídos não são apenas
explorados, mas descartados (EG 53).
A CF 2020 nos revela que se trata de uma mentalida-
de que vai assumindo com naturalidade a relativização
da vida, o enfraquecimento do conceito de pessoa e
até a justificativa legal de modalidades de homicídios
e extermínios humanos, sob a alegação de “conquista
de direitos”. Uma série de ameaças à vida chega a nós,
através dos meios de comunicação, das redes sociais,
confundindo os cristãos, iludindo as famílias, atraindo
os jovens, para uma mentalidade permissiva disfarçada
de progresso científico. As redes sociais têm funcionado
como uma caixa amplificada que faz parecer normal
todos os tipo de violência, causando grande mal à vida
(TB nº 48).
Cresce a banalização da violência, favorecida pelo
mundo virtual, por meio das fake news, dos perfis falsos
e da disseminação de notícias caluniosas e raivosas
sem nenhuma preocupação em verificar a veracidade
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do que se compartilha e se curte (TB nº 49-50). Isto faz
crescer a violência por meio de agressões físicas, ho-
micídios, feminicídio, drogas, desrespeito no trânsito,
passando pela agressão psicológica, verbal e simbólica.
O Estado que tem o papel de ser o guardião da vida,
em muitas situações, apenas administra a morte. A
incapacidade do Estado de frear a violência também
contribui para a banalização do mal na medida em que
as milícias e grupos de extermínio determinam os que
devem viver e os que devem morrer (TB nº 56-57). Os
que assim pensam fazem coro a ditados como “bandido
bom é bandido morto”. Isto está longe do sentido de
ser cristão. Temos que rever nosso jeito de cultuar a
Deus, de pensar e, sobretudo, nosso jeito de agir.
APROFUNDAMENTO: Nossas reações diante da
situação de ódio e violência testemunham que somos
verdadeiros cristãos? Dê exemplos?
“Habitue-se a ouvir a voz do seu coração.
É através dele que Deus fala conosco
e nos dá a força que necessitamos
para seguirmos em frente,
vencendo os obstáculos
que surgem na nossa estrada.”
Santa Dulce dos Pobres
18
4º Encontro:
Vida é Dom e Compromisso
Chave de Leitura: Lucas 4, 14-29.
1. Qual a missão dada pelo Espírito?
2. Como o povo reage ao enviado de Deus?
3. O que o texto nos diz para a realidade que vivemos?
Lucas nos apresenta Jesus como o Bom Samaritano
que passou pelo mundo fazendo o bem, promovendo a
justiça, a solidariedade e a paz. A raiz dessa ação sama-
ritana de Jesus está no projeto de Deus. Ele enviou seu
Filho ao mundo com a missão de anunciar o Reino. Ao
ler e reler os profetas Jesus compreende a vontade do
Pai e o compromisso que lhe foi dado. A vida de Jesus e
a vida de cada pessoa é um dom, um presente gratuito
de Deus. Mas, ao mesmo tempo, é um compromisso,
uma missão a ser realizada no mundo. A nossa vida é
dom e compromisso.
Em sua peregrinação terrena, Jesus está sempre
crescendo na compreensão dos mistérios do Reino.
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Ao retomar o eixo missionário de Isaías nas Escrituras,
Jesus o atualiza em sua vida. “O Espírito do Senhor está
sobre mim... Ele me ungiu para pregar a boa nova aos
pobres. Enviou-me a proclamar a boa nova aos pobres,
a liberdade aos presos, recuperar a vistas dos cegos,
libertar os oprimidos e anunciar o ano da graça do Se-
nhor” (Lc 4,18-19). A vida de Jesus, e também a nossa,
implica um compromisso como os pobres e sofredores,
Ele veio para libertá-los. Como discípulos missionários
de Jesus, também nossa vida é dom e compromisso.
Temos a missão de recriar, na nossa história, as ações
libertadoras de Jesus. Temos a missão de agir como
bons samaritanos no mundo de hoje.
A CF 2020, ao tratar da vida como dom e compro-
misso, nos leva a uma conversão pessoal, comunitária
e também social (TB nº 112). O Papa Francisco aponta
as desigualdades sociais como raiz de muitos males que
desumanizam e desfiguram a dignidade do homem e
da mulher, criados à imagem e semelhança de Deus. Se
não focarmos na busca de soluções para este mal que
atinge os mais fracos, jamais viveremos a verdadeira
compaixão que transforma e reconstrói a dignidade
perdida pela injustiça social.
“A necessidade de resolver as causas estruturais da
pobreza não pode esperar; [...]. Enquanto não forem
radicalmente solucionados os problemas dos pobres,
renunciando à autonomia absoluta dos mercados e da
especulação financeira e atacando as causas estruturais
da desigualdade social, não se resolverão os problemas do
mundo e, em definitivo, problema algum. A desigualdade
é a raiz dos males sociais” (EG, 202) (TB nº 113).
20
Para superar as desigualdades, é fundamental
aprendermos a valorizar a vida humana e a vida no
planeta. Tudo o que está à nossa disposição no mundo,
tudo o que gera a vida é dom de Deus, mas é também
um compromisso de preservação. Para se ter uma ideia,
o Brasil é o campeão mundial no uso de pesticidas na
agricultura. O feijão, base da nossa alimentação, tem
nível de resíduo de inseticida 400 vezes maior do que
é permitido pela União Europeia (TB nº 65). Valorizar
a vida em primeiro lugar é um ato de fé, pois ela é um
dom de Deus.
São João Paulo II nos lembra que às antigas formas
de pobreza e de miséria, se juntam as novas formas,
como o “desespero da falta de sentido”, a “tentação da
droga”, a “solidão na velhice ou na doença”, a “margi-
nalização ou discriminação social”. É hora duma nova
“caridade”, que se manifeste não só na eficácia dos
socorros prestados, mas na capacidade de pensar e
ser solidário com quem sofre, de tal modo que o gesto
de ajuda seja sentido, não como esmola humilhante,
mas como partilha fraterna” (NMI,50). “O Evangelho
da vida está no centro da mensagem de Jesus.” (EV,1).
“Hoje se cumpriu essa passagem da Escritura que vocês
acabaram de ouvir” (Lc 4,21). Eis aí o caminho a ser feito
nesta CF 2020, colocar em prática o que nos pedem as
Escrituras. Traduzir a Palavra em atos que recuperam
a vida e a esperança, que nos façam mais solidários,
fraternos e verdadeiramente humanos.
APROFUNDAMENTO: O que podemos fazer para
reforçar as ações de defesa da vida humana e do pla-
neta em nossa comunidade? Dê exemplos.
21
5º ETnecroCntorom: paixão: romper a indiferença
Chave de Leitura: Lucas 10,33-37.
1. Quais as atitudes do Samaritano?
2. O que Jesus pede ao doutor da Lei?
3. O que Jesus espera de seus seguidores hoje?
Já vimos acima que o sacerdote e o levita permanece-
ram indiferentes frente à situação do homem ferido à beira
da estrada. Eles não foram capazes de ver a realidade com
os olhos de Deus. A atitude deles denuncia a prática de
um culto a Deus longe da realidade da vida. O verdadeiro
culto a Deus nos aproxima da realidade, não se descola da
vida concreta que vivemos. O culto verdadeiro faz recriar
em nós, as atitudes de fraternidade, de misericórdia, de
justiça, solidariedade e de paz, praticados por Jesus. O
culto deve nos ajudar a abrir os olhos para as realidades da
vida. A glória de Deus é a vida dos homens (Santo Irineu).
A liturgia, a participação na Eucaristia devem nos ajudar
a enxergar as realidades da vida com “os olhos de Deus”.
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A surpresa vem do terceiro homem, um samaritano,
desprezado pelos judeus e tratado como pessoa de uma
raça inferior. Desde a destruição da Samaria e do reino de
Israel (2Rs 17), a Samaria passou a ser considerada pelos
judeus, como um local de sincretismo ou seja de uma
mistura, de junção do culto de seu Deus com deuses de
outros povos. Ben Sirac, descreve os samaritanos como “o
povo insensato que habita em Siquém” (Eclo 50,28). Para
melhor entender, como eram desprezados os samaritanos,
na tradição judaica, os judeus eram proibidos de dizer
“amém” em uma oração proferida por um samaritano.
Porém, foi um samaritano que rompeu a indiferença.
Foi ele que se aproximou do homem ferido, moveu-se de
compaixão – ele participou das dores daquele homem,
sentiu com ele sua situação, teve compaixão e misericór-
dia, deu àquele homem, em situação de extrema miséria,
o seu coração –, dedicou-lhe tempo curando suas feridas,
com o que tinha, óleo e vinho. A compaixão fez com que
mudasse seus planos, atrasasse sua viagem. Ele colocou
o homem ferido em seu próprio animal e o levou a uma
hospedaria. O amor leva ao comprometimento. No sama-
ritano, podemos ver a Palavra de Deus interiorizada, trans-
formada em misericórdia, em gesto concreto, em atitude
de defesa da vida do necessitado. O Samaritano tem olhos
abertos à realidade, coração sensível ao sofredor e mãos
generosas para ajudar o necessitado. Ele se fez próximo...
Uma vez que Deus nos dá a vida, esse dom implica em
responsabilidade pessoal frente a toda a humanidade,
particularmente frente aos pobres e às gerações futuras.
Trata-se de uma verdadeira “responsabilidade pela cria-
ção”, de acordo com a qual, a Igreja não tem o compro-
23
misso de promover apenas a defesa da terra, da água e do
ar. Seu dever sagrado inclui em contribuir para proteger as
pessoas de uma possível destruição de si mesmas.
A inclusão da noção de “ecologia integral” na Doutrina
Social da Igreja, é uma das grandes contribuições do Papa
Francisco. Daí a importância da Encíclica Laudato Si`, que
oferece uma reflexão profunda e abrangente sobre este
tema tão importante. O Papa nos recorda que “o desen-
volvimento de uma ecologia integral é tanto um chamado
como um dever”. “É um chamado a redescobrir a nossa
identidade de filhos e filhas, criados à imagem de Deus e
encarregados de ser administradores da terra, recriados
por meio da morte e ressurreição de Jesus Cristo, santifi-
cados pelo dom do Espírito Santo”. E o desafio a “sermos
mais solidários como irmãos e irmãs e a uma responsa-
bilidade compartilhada pela casa comum, torna-se cada
vez mais urgente”. “Mudar o modelo de desenvolvimento
global, abrindo um novo diálogo sobre o futuro de nosso
planeta”, é a tarefa que está diante de nós” (TB nº 150).
Uma Igreja samaritana, sinal e expressão da caridade
de Cristo, vê além das aparências e para além das circuns-
tâncias. Uma Igreja em saída, hospital de campanha, que
cuida pessoalmente daqueles que estão feridos a beira do
caminho e que não permite que lá permaneçam. “Uma
Igreja das pessoas e não dos papeis e dos poderes.” Em
todo o tempo é tempo de fazer o bem. Para quem vive o
mandamento do amor caridade, sempre é tempo de cuidar,
pois, o próximo é quem cuida com misericórdia. (Lc 10,37)
APROFUNDAMENTO: Que passos precisamos dar para
ajudar os demais cristãos a vencer a indiferença e a ser
mais ativos na defesa e preservação da vida? Dê exemplos.
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6º ETnrcaondturoz:ir o Evangelho na vida
Chave de Leitura: Filipenses 2,1-11.
1. O que Paulo recomenda aos cristãos?
2. Qual a atitude de Cristo?
3. Como recriar as atitudes de Cristo na nossa vida?
Paulo procura ajudar a comunidade de Filipos a cul-
tivar as mesmas atitudes que havia em Jesus Cristo. Ele
exorta cada um a viver em concórdia e humildade. Jesus
é o modelo para toda a comunidade: “Tende em vós os
mesmos sentimentos de Cristo Jesus” (Fl 2,5). Que pode
ser interpretada de duas maneiras: tende interiormente os
mesmos sentimentos de Cristo; ou, mais de acordo com o
texto grego: tende entre vós os mesmos sentimentos de
Cristo. O mais importante é procurar ajustar a própria vida
à maneira como Cristo viveu.
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Este texto é um hino que retrata a encarnação de Cristo
(Fl 2,6-11). Ele pode ser dividido em duas partes: na 1ª parte
mostra a Kênose, o esvaziamento, a humilhação de Cristo
que assume a condição humana (v. 6-8) e que atinge a sua
profundidade maior na morte de cruz; na 2ª parte aparece a
exaltação de Cristo (v. 9-11) que é elevado à glória celeste. O
esvaziamento de Cristo serve de exemplo para nós cristãos:
assumir com todas as forças e de modo humilde e despojado
o serviço na comunidade. Somente quem se esvazia de si
mesmo, abre espaço para a ação de Deus em sua vida.
A CF 2020 nos convida a recriar em nós as atitudes de
Jesus, o Bom Samaritano da história. Somos chamados
por Deus a olhar as pessoas, mover-nos por compaixão e
a cuidar da vida humana e do planeta recriando em nós
as atitudes de Jesus. Neste sentido, A contribuição cristã
mais característica a serviço da vida é o amor. Deus é amor
(1Jo 4,8) Quem quer se descuida do amor, se descuida
dos outros, do ser humano e se torna devastador do meio
ambiente. Veja como São Francisco, tomado pelo amor a
Deus se torna tão pronto a servir aos irmãos e a ter uma
atitude de fraternidade com todos a criação de Deus. O
espírito de ódio e violência que fere a vida humana e a vida
no planeta denuncia uma ausência, um distanciamento
de Deus. Revela que não temos ainda em nós, os mesmos
sentimentos que havia em Cristo. É urgente essa conversão.
As Diretrizes Evangelizadoras da Igreja do Brasil nos rea-
firmam que “A caridade deve animar a existência inteira dos
fiéis leigos e, consequentemente, também a sua atividade
política vivida como ‘caridade social’”. A boa política é um
meio privilegiado para promover a paz e os direitos huma-
nos fundamentais. A caridade, portanto, “é o princípio não
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só das microrrelações [...], mas também das macrorrelações
como relacionamentos sociais, econômicos, políticos. A
omissão dos cristãos nesse campo pode trazer gravíssimas
consequências para a ação transformadora na Igreja e no
mundo”. (DGAE 2019-2023, nº 107 e 182)
Com a Campanha da fraternidade de 2020 queremos
proclamar em todo país que a vida é samaritana! Convertidos
pela palavra de vida e salvação, somos convocados a teste-
munhar e estimular a solidariedade; fortalecer a revolução
do cuidado, da ternura e da fraternidade como testemunho
de vida dos discípulos missionários daquele que oferece vida
em plenitude. Nossa missão evangelizadora brota de um
coração capaz de cuidar e de ser cuidado. “Jesus, o evangeli-
zador por excelência e o Evangelho em pessoa, se identificou
especialmente com os que sofrem (cf. Mt 25, 40). Isto nos
recorda que somos chamados a cuidar dos mais frágeis da
Terra. Mas, no modelo ‘do êxito’ e ‘individualista’ em vigor,
parece que não faz sentido investir para que os lentos, fracos
ou menos dotados possam também singrar na vida” (EG 209).
Há uma íntima conexão entre evangelização e promoção
humana que deve ser desenvolvida em toda a ação evange-
lizadora. Tudo a partir do coração do Evangelho. É preciso
“primeirear”, como nos diz o Papa Francisco, ter iniciativa,
ousar, criar, inventar... Não basta ter sensibilidade diante de
quem sofre. É preciso, à semelhança do bom pastor que sai
em busca da ovelha perdida (Lc 15,1-7), tomar a iniciativa,
não se contentando em atender os que chegam. É preciso sair
em busca dos que não tem mais forças para chegar até nós.
APROFUNDAMENTO: Nas questões políticas e sociais,
nós de Igreja, estamos avançando ou recuando? Por quê?
Em que podemos melhorar?
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7º EncontrCou: idar e restaurar a vida
Chave de Leitura: Mateus 20,1-15.
1. Quantas vezes o dono da vinha saiu para contratar
trabalhadores?
2. Quem reclamou na hora do acerto?
3. Qual a justificativa do acerto?
4. Temos coragem de agir como o senhor? Por quê?
Na hora do acerto, o dono da vinha mostra uma justiça
muito superior à justiça comum. Quem é justo retribui,
a cada um, segundo o esforço ou segundo a produção.
Quem produziu mais recebe mais, quem produziu menos
recebe menos. Na parábola o Senhor da vinha paga a cada
um segundo a sua necessidade. Por isso, quem começou
cedo ou quem chegou ao fim do dia, tem o mesmo salário,
pois todos têm a mesma necessidade. Os que reclamam
estão acostumados com o pagamento segundo a produ-
ção e não conseguem enxergar a necessidade dos outros.
Precisamos aprender a agir conforme o Senhor da vinha.
Com Ele, aprendemos a bem julgar e agir no mundo para
que “todos e tudo tenha vida” (cf. Jo.10,10).
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Mateus 20,1-11 é um exemplo de justiça restaurativa.
Ao chamar os trabalhadores para sua vinha, o patrão olha
o ser humano de forma integral. Ele deseja a restauração
da sua dignidade, corrompida pela falta de trabalho. Cui-
dar da vida, ser justo, é também ter um bom coração. O
Papa Francisco afirma que “a injustiça e a falta de opor-
tunidades tangíveis e concretas são também uma forma
de gerar violência: silenciosa, mas violência.” Segundo
o Papa, um sistema político-econômico precisa garantir
que a democracia não seja somente nominal, mas que
também seja marcada por ações concretas que velem
pela dignidade de todos os seus habitantes. “Não existe
democracia com fome, desenvolvimento com pobreza
nem justiça com iniquidade” (TB nº 131).
A CF 2020 nos recorda que há uma justiça retributiva
e outra restaurativa. A retribuitiva vai na linha da simples
punição. É a concretização da lei de talião: “olho por olho,
dente por dente”. Já a justiça restaurativa nasce de um
novo olhar sobre a pessoa que errou e também sobre o
conflito no qual ela se encontra envolvida. Trata-se de
uma alternativa ao sistema punitivo que apresenta pou-
cos resultados e pouca eficiência no combate à violência.
A CF nos convida a um compromisso com a vida huma-
na e com a vida no planeta. Esse compromisso é pessoal,
familiar, comunitário e social. Em cada um destes setores
de nossa vida é preciso: Primeirear. Ter iniciativa. Ser mais
ousados. Cultivar a beleza do compartilhar a vida (TB nº
214). Envolver: a vida é um intercâmbio de ternura e
cuidado (TB nº 215). Acompanhar: iniciar processos (TB
nº 216). Frutificar: não perder a paz por causa do joio.
É Deus quem tudo conduz! (TB nº 217). Festejar: vida –
dom a ser anunciado e compromisso a ser realizado. E
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ainda, desenvolver nossa colaboração social (TB nº 218).
Acolher: encontrar ações que levem a sociedade mais
humanizadora. Organizar espaços de acolhida, casas pró-
-vida, lugares de escuta e apoio à vida, casas terapêuticas
e de apoio a familiares de dependentes químicos, enfim,
espaços urbanos onde a vida possa ser cultivada e promo-
vida; Criar centros de escuta e programas de prevenção
de suicídio (TB nº 219); Proteger (TB nº 220); Promover
(TB nº 221); Integrar (TB nº 222).
Dar efetivamente voz aos pobres valorizando a iniciativa
do “Dia mundial dos pobres”. Promover: ações que levem
a criar condições de melhor qualidade de vida. Desenvolver
gestos e atitudes que transformam: - assumir um compro-
misso com a justiça e a solidariedade; - apostar na capaci-
dade das pessoas de serem construtoras da vida;- eliminar
todo tipo de exclusão social; - respeitar a vida das diversas
culturas e das diferentes etnias; - ampliar as lutas para a
conquista de direito; Integrar: ações da Igreja em parceria
com outras forças vivas da sociedade. Promover a ecologia
integral cuidando: - da vida no seu conjunto; - dos bens da
natureza; - dos mais pobres; - da justiça entre as gerações.
Enfim, a CF 2020 nos recorda que temos diante de nós
duas bacias: a de Pilatos que é a bacia da indiferença que
favorece a injustiça e continua fazendo vítimas; e a bacia
de Jesus, que se despoja e se coloca a servir, que doa sua
vida para que todos tenham vida? É preciso decidir de
que lado estamos.
APROFUNDAMENTO: Com qual bacia vamos, de fato
celebrar esta quaresma: com a bacia de Pilatos ou com
a bacia de Jesus? Qual o gesto concreto a ser assumido
a partir desta CF?
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Cânticos para animar o Estudo
01. Eis que vem o Senhor (Abertura)
L. M.: Mínison e Crisógono Sabino
1. Eis que vem o Senhor nosso Deus, está perto a salvação,
/ o Senhor vem ao nosso encontro, é preciso abrir o
coração. / O Senhor é fiel para sempre, faz justiça aos
que são oprimidos, / Ele dá alimento aos famintos, é o
Senhor quem liberta os cativos.
Vem Senhor, vem nos salvar,/ nos mostrar o caminho do
amor, / ó Senhor vem nos libertar (bis).
2. Como o sol ao romper da aurora, de Maria então nascerá,
/ Deus-Conosco, o Emanuel, Deus que vem, conosco
morar./ Alegrai-vos irmãos no Senhor, é o amor que Ele
vem anunciar, / refazer com seu povo a Aliança, a justiça
e a paz nos mostrar.
02. Jesus Cristo bendito (Aclamação)
JLe.seuMs .C:rMisítnois,osnoiesJboeãondMitaorc,o/s o Ungido de Deus Pai (bis).
1º Dom. O homem não vive somente de pão, / Mas de toda
Palavra da boca de Deus.
03. Vidas sofridas (Oferendas / Páscoa) L.
e1.MTu.:dMoínaiqsouniloe PqauuelosoFferleixmDoesle,snpóosstaequi trazemos para ofere-
cer. / Todos os dons que nos destes, e que enriquecem o
nosso viver. / Nós vos bendizemos, vos agradecemos, ó
Deus de bondade. / Vosso amor é sem limites, é sempre
um convite à fraternidade.
Ofertar é também aprender partilhar o pão, / é saber amar
e respeitar os dons da Criação. / É defender a vida,
celebrar a Páscoa, a Ressurreição. //: Ô ô ô ô, recebe
Senhor, / ô ô ô ô, recebe Senhor (bis).
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2. ÉCNorófiesstrvotoafsoqbiuecernutdrcaiiznfeiscmfaodorosm,evao,rqseusasgeurtasucddietoacdereomnnooosv,saé,unónoeLsibnsoeordataemdveoorrr..: ///
Ir ao encontro do povo, anunciar o “novo jeito de viver”.
04. Abraçar a Conversão (Comunhão)
1L..:FPoei.nJuosmé AdnetsôenritoodqeuOelievneicroanetMre.i:/JaokpsoonvMo moreeiurae o chamei /
ao coração eu lhe falei, assim: / Agora é tempo de mudar.
Venham! / Eis o tempo de abraçar a conversão, / buscar a
salvação, / viver a comunhão (bis). No amor.
2.Esteéumtempodeoração,decompromissoecompaixão,pois
derrameinoscoraçõesoamor/prarepartircomteusirmãos.
3. Quem tiver sede venha a mim. Eu sou a água, a fonte, enfim, /
mas tenho sede de amar também. / Foi para isso que eu vim.
4. Tua cegueira, vim curar, / para que possas enxergar / tantos
irmãos que sofrem sem cessar. / E a luz do amor irradiar.
05. Hino da Campanha 2020 (Envio)
L1..:DPeeu. JsodséeAanmtoonrioeddeeOtelirvneiurara, / contemplamos este mundo
tão bonito que nos deste. / Desse dom, Fonte da Vida,
recordamos, / cuidadores, guardiões tu nos fizeste.
Peregrinos, aprendemos nesta estrada o que o “bom sa-
maritano” ensinou: ao passar por uma vida ameaçada,
ele a viu, compadeceu-se e cuidou.
2. Toda vida é um dom e é sagrada, / seja humana, vegetal
ou animal. / Deve sempre ser cuidada e respeitada, /
desde o início até seu termo natural.
3. Tua glória é o homem vivo, Deus da Vida / ver felizes os
teus filhos, tuas filhas; / É a justiça para todos, sem me-
dida, / é formarmos, no amor, bela família.
4. Mata a vida o vírus torpe da ganância, / da violência, da
mentira e da ambição; / mas também o preconceito, a
intolerância. / O caminho é justiça, é conversão.
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Oração da Campanha Fraternidade 2020
Deus Pai, Fonte da vida e princípio do bem viver,
/ criastes o mundo como jardim da vida / a ser
cultivado no amor. / Dai-nos um coração acolhedor /
para reconhecer a vida como dom a ser cuidado / e
compromisso a ser assumido.
Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida, / Filho
amado, vivente no meio de nós, / chama-nos
ao vosso seguimento / como discípulos(as)
missionários(as) / do cuidado e da compaixão. /
Abri nossos olhos para ver / as necessidades dos
nossos irmãos e irmãs, / sobretudo dos mais pobres
e marginalizados. / Ensinai-nos a sentir verdadeira
compaixão / expressa no cuidado fraterno, /
próprio daqueles que vos reconhecem no outro.
Espírito Santo, Senhor que dá a Vida, / inspirai
nossas palavras e ações / para que sejamos
construtores de uma sociedade da ternura, / da
compaixão e do cuidado.
Ó Virgem Maria, Senhora da Conceição Aparecida,
/ intercedei a Deus por nós. / Santa Dulce dos
pobres, anjo bom do Brasil, / Rogai a Deus por nós,
para que sejamos cada vez mais, / comunidades
eclesiais missionárias, / que vejam e cuidem, sintam
compaixão / e se aproximem dos que sofrem.
Amém!
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