Fraternidade e
Tráfico Humano
É para a liberdade
que Cristo nos
Libertou
(Gl 5,1)
Equipe Missionária, SDN
Fraternidade
e
Tráfico Humano
“É para a liberdade
que Cristo nos libertou”
(Gl 5,1)
Campanha da Fraternidade 2014
www.mobon.org.br
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Um pouco da história do Mobon
O Mobon, Movimento da Boa Nova surgiu na década de 60. Era uma influên-
cia do movimento bíblico pré-conciliar. A atividade católica na diocese de
Caratinga que deu origem ao movimento foi a instituição de cursos sobre
Bíblia para os leigos líderes das comunidades eclesiais.
Essas comunidades foram se solidificando através de reuniões semanais
para a continuidade dos estudos fomentados pelos cursos. Nas décadas
posteriores, o movimento foi atingindo toda a diocese formando lideranças
com impacto religioso, social e políticos nos municípios e paróquias que
compõem a diocese.
Na década de 70, o movimento ganhou sede própria na cidade de Dom Ca-
vati. A casa de cursos de temática bíblico-catequética oferece seus estudos
periodicamente até hoje.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_da_Boa_Nova_(Mobon)
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Apresentação
O método da Ação Católica Operária tornou-se
praticado em todas as pastorais: ver, julgar e agir. Tam-
bém este Curso da Campanha da Fraternidade 2014,
sintetizado pelo nosso irmão João Resende, segue por
este caminho: VER o problema do Tráfico Humano,
JULGÁ-LO à luz da Palavra de Deus, e dar pistas para o
AGIR libertador.
Nas duas primeiras reuniões, busca-se uma visão
do Tráfico Humano e do Trabalho Escravo. Aconteceu e,
infelizmente, acontece ainda: o aliciamento de pessoas,
com promessas de bom emprego e o trabalho escravo
em canaviais, carvoarias, construções, meretrícios...
Nas três reuniões seguintes, a Palavra de Deus vai
jorrar luz para julgar esses problemas. As instituições do
Sábado, do Ano Sabático e do Ano Jubilar, no Primeiro
Testamento, bem como os gritos dos profetas contra a
escravidão. E, no Segundo Testamento, a ação libertado-
ra de Jesus e da sua Igreja, sua compaixão e misericórdia,
para que todos tenham vida, isto é, tenham respeitada
a sua dignidade humana.
Nos dois encontros finais, o foco é a ação, através do
Ensino Social da Igreja, desde o Papa Leão XIII, ensino
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que tem como centro a dignidade humana, no caminho
do bem comum e da Fé. E, finalmente, o convite para
todas as Comunidades, todos nós, nos envolvermos,
como Igreja, nos trabalhos pastorais sugeridos pela CPT
e pelo GT Tráfico Humano.
Junto com minhas felicitações pelo belo trabalho,
deixo aqui a minha bênção ao nosso querido João Re-
sende e a todos os que vão dirigir ou participar deste tão
importante trabalho eclesial, pedido pela Igreja no Brasil,
na CF 2014: “Fraternidade e Tráfico Humano”, iluminados
pela Palavra de Deus: “É para a liberdade que Cristo nos
libertou” (Gl 5, 1).
Dom Emanuel Messias Oliveira
Bispo Diocesano de Caratinga
20/09/2013
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Introdução:
A Campanha da Fraternidade (CF) é uma proposta da
Igreja do Brasil para melhor vivenciarmos o mistério da
morte e ressurreição de Jesus, diante de uma realidade
de nossos dias.
Neste ano de 2014 a CF nos convida a reconhecer
Jesus sendo perseguido, crucificado e morto no mundo
do Tráfico Humano. “Fraternidade e Tráfico Humano”
é o tema deste ano. Seu lema: “É para a liberdade que
Cristo nos libertou” (Gl 5,1).
O objetivo da CF 2014 é “identificar as práticas de
tráfico humano em suas várias formas e denunciá-las
como violação da dignidade e da liberdade humanas,
mobilizando cristãos e pessoas de boa vontade para er-
radicar este mal com vista ao resgate da vida dos filhos
e filhas de Deus” (TB...). Este objetivo visa identificar os
rostos das diversas vítimas do Tráfico Humano motivado
pela sede do lucro.
A Palavra de Deus que sempre ilumina todos os tra-
balhos da CF nos recorda que somos responsáveis uns
pelos outros. Ela retoma as perguntas de Deus: Primeiro
para Adão: “Onde está você?” (Gn 3,9). No caso da CF
2014 esta pergunta é feita da seguinte maneira: Qual
a nossa responsabilidade diante das diversas manifes-
tações do Tráfico Humano? Segundo para Caim:“Onde
está teu irmão?”(Gn 4,9). Como nos situamos diante do
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Tráfico Humano e de suas causas? É problema nosso?
Por fim, a pergunta de Deus para Elias: “O que está
fazendo aqui?” (1Rs 19,3.17). Qual tem sido o nosso
envolvimento diante das Campanhas da Fraternidade?
Um envolvimento passageiro ou permanente?
A CF é uma semeadura. Devemos sempre levantar
esta bandeira. Não deixar que sejamos levados pelo
desânimo. É preciso semear. A semente ainda não é a
planta. Ela tem o potencial da planta. Nem todas nascem
e crescem, mas é semeando que muitas vingam e dão
frutos. Hoje já temos muitas plantas de cuidado com as
pessoas, com as juventudes e com o planeta, frutos das
Campanhas da Fraternidade.
Os dois primeiros encontros deste trabalho vão nos
ajudar a fazer uma leitura e uma reflexão do Tráfico
Humano e do Trabalho Escravo. O terceiro, quarto e
quinto querem nos ajudar a iluminar esta realidade à luz
da Palavra de Deus e dos valores da dignidade humana.
O sexto e o sétimo encontros querem nos incentivar na
prática de ações permanentes, tendo por base o Ensino
Social da Igreja e a participação em atividades que estão
respondendo aos Gritos em favor da Vida.
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1º Encontro:
TRÁFICO HUMANO
Chave de Leitura: Gênesis 37,12-30
1. Por que os irmãos de José projetaram a sua morte?
2. Como José foi traficado por seus irmãos?
3. Como este texto ilumina nossa realidade de hoje?
Os irmãos de José estavam apascentando o rebanho da
família longe de casa. O pai Jacó manda José, o filho mais
novo, que estava em casa saber notícias de seus irmãos.
Estes já estavam de “pé atrás” contra o caçula por causa de
seus sonhos. Ao vê-lo chegar decidiram matá-lo por inveja.
Rubém sugere colocá-lo num poço vazio, com a intenção
de salvá-lo depois. Mas a intenção da maioria dos irmãos
era mesmo matá-lo. No entanto, Judá sugere não matar o
irmão por que “ele é da mesma carne que nós” (Gn 37,27).
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José é vendido aos comerciantes madianitas que o levam
para o Egito.
A partir deste texto, podemos ver um pouco do trabalho
das redes de tráfico. A pessoa vai passando de um grupo
a outro, como se fosse uma mercadoria. Quando Rubém
constata a venda de José coloca uma pergunta para os seus
irmãos, e que vale para nós hoje diante do tráfico humano:
“E eu, para onde irei” (Gn 37,30)? Como ficamos nós cris-
tãos diante do tráfico humano tão movimentado nos dias
de hoje? Qual foi a nossa reação diante da visibilidade do
tráfico humano na novela “Salve Jorge”?
O tráfico de pessoas e o trabalho escravo é uma prática
muito antiga no mundo. No passado, os escravos eram
capturados por grupos inimigos e vendidos como merca-
doria. Hoje, a pobreza que gera populações socialmente
vulneráveis garante a oferta de mão-de-obra para o tráfico.
Sustenta o comércio de pessoas que atrai intermediários,
como os “gatos” (que aliciam pessoas para serem explora-
das em fazendas e carvoarias); os “coyotes” (especializados
em transportar pessoas pela fronteira entre o México e os
Estados Unidos e hoje os haitianos para entrar no Brasil nas
fronteiras da Amazônia) e outras atividades, que lucram
sobre os que buscam uma vida melhor. O aliciamento de
pessoas para o tráfico é feito através de promessas de um
emprego bem remunerado ou oportunidades de uma nova
vida nos países ricos. É bom lembrar que o consentimento
da vítima em seguir viagem não exclui a culpabilidade do
traficante ou do explorador, nem limita o direito da vitima
de proteção oficial.
Na raiz do tráfico humano está a sede do lucro. O tráfico
é um instrumento muito importante para a expansão do
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capitalismo. É o terceiro negócio mais rentável do planeta,
só perdendo para o tráfico de drogas e o contrabando de
armas. Ele movimenta no mundo em torno de 32 bilhões
de dólares por ano. Por isso mesmo sua erradicação não
virá apenas com a libertação das pessoas. Isto é importante.
Mas, a luta completa contra o tráfico deve incluir também
uma mudança profunda do nosso atual modelo de desen-
volvimento que coloca o lucro acima de tudo. Por causa do
lucro, pessoas e o meio ambiente são depredados.
A Comunidade Internacional tem promovido Conferên-
cias sobre o Tráfico Humano. No ano 2000 foi assinado o
Protocolo de Palermo que caracterizou o Tráfico de Seres
Humanos como: “recrutamento, o transporte, a transferên-
cia, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo
à ameaça ou uso da força ou a outras formas de coação,
ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou
à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação
de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento
de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para
fins de exploração...” No ano de 2004, o Brasil reconhece
oficialmente este Protocolo.
A maior parte das pessoas traficadas é proveniente da
Ásia, África, América do Sul e Leste Europeu) e são enca-
minhadas preferencialmente para os países desenvolvidos
(Estados Unidos, Europa Ocidental, Israel e Japão). As
mulheres e os adolescentes são as grandes vítimas. Um
balanço divulgado pela Secretaria da Justiça e da Defesa
da Cidadania referente ao primeiro quadrimestre de 2013
aponta um crescimento de 106% no número de vítimas de
tráfico de pessoas para a exploração sexual ou para trabalho
em condições análogas à escravidão.
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O sonho das pessoas vítimas do tráfico termina em
pesadelo. Na maioria dos casos, elas acabam trabalhando
em bordéis, sendo sexualmente exploradas ou obrigadas
a trabalhos forçados sob condições de semi-escravidão.
O retorno das vítimas do tráfico às suas origens é muito
difícil, pois os traficantes criam situações de endividamento
permanente da vítima, retém seus passaportes ou outros
documentos e jogam com ameaças pesadas, sobretudo
sobre seus parentes e familiares.
A quinta urgência das Diretrizes Gerais da Ação Evan-
gelizadora da Igreja no Brasil (DGAE) – 2011-2015 fala de
uma Igreja a serviço da vida plena para todos. Este serviço
“começa pelo respeito à dignidade da pessoa humana”(-
DGAE nº 107), com especial atenção para “as vítimas do
tráfico de pessoas seduzidas por propostas de trabalho
que levam à exploração também sexual ...trabalhadores
explorados vítimas de atravessadores de mão de obra ...
migrantes estrangeiros em situação de trabalho escravo”
(DGAE nº 111). A CF 2014 está em continuidade com as
Diretrizes Gerais da Igreja no Brasil.
Pergunta para aprofundamento: O Tráfico Humano está
longe ou perto de nós? O que acontece?
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2º Encontro:
TRABALHO ESCRAVO
Chave de Leitura: Jeremias 22,13-19
1. Quais os sinais de trabalho escravo que aparecem
no texto?
2. Qual é atitude de quem promove trabalho escravo?
O que vai acontecer com ele?
3. O que este texto tem a dizer para a nossa realidade?
O profeta Jeremias denunciava o que estava errado em
seu tempo e apontava as responsabilidades. Neste texto ele
fala diretamente para o rei Joaquim.O país estava vivendo
grandes dificuldades e povo sofria muito. Mesmo assim o
rei estava preocupado em construir um luxuoso palácio,
às custas de um trabalho escravo porque os operários não
recebiam seus pagamentos. O rei derramava o sangue ino-
cente e praticava a opressão e a violência. Jeremias lembra
que a missão de uma autoridade é administrar a justiça e
o direito e defender a causa dos pobres.
O que vemos através do relato bíblico não está muito
longe de nós. Há 125 anos foi declarada a abolição da es-
cravidão no Brasil. No entanto, ainda é grande a quantidade
de pessoas escravizadas nos trabalhos de desmatamento,
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carvoarias, canaviais, nas grandes lavouras. Não só na área
rural, mas também nos canteiros de obras, na construção da
casas, em oficinas de confecção nas grandes cidades como
São Paulo, envolvendo trabalhadores latino-americanos.
A escravidão acontece também nas casas de prostituição.
O trabalho escravo fere dois princípios essenciais da
pessoa: o primeiro deles é a DIGNIDADE HUMANA que é
ferida pelos alojamentos precários, falta de assistência mé-
dica, alimentação de baixa qualidade, falta de saneamento
básico e higiene, maus tratos e violência, ameaças físicas
e psicológicas, jornada exagerada de trabalho. O segundo
princípio ferido pelo trabalho escravo é LIBERDADE. Isto
acontece na dívida ilegal ou servidão da dívida, isolamento
geográfico, retenção de documentos e salários, maus-tratos
e violência, encarceramento e trabalho forçado.
A dívida ilegal é uma armadilha usada para manter a
pessoa no trabalho escravo. O “gato” busca o trabalhador
em seu local de origem, em alguma pensão ou em cidades
de passagem. Paga o transporte até o local do serviço e a
conta nas pensões. Chega mesmo a oferecer um “adianta-
mento” para deixar com a família. Assim, quando a pessoa
chega ao local do serviço, já está devendo. Tudo o que ela
usa: alojamento, comida e instrumentos para o trabalho, é
anotado em cadernos, a preços bem mais altos do que os
praticados no comércio. No final do mês, o salário não é su-
ficiente para cobrir os gastos “inventados” pelo patrão. A falsa
dívida se torna impagável e a pessoa fica presa ao trabalho.
É a chamada servidão por dívida. Essa dívida é ilegal. Ficando
“sem saldo”, o trabalhador não deixa o local de trabalho, pois,
mesmo que não sofra ameaças, sente-se humilhado de voltar
para casa sem dinheiro e sem quitar a “dívida”. A vergonha
acaba sendo maior que a coragem para escapar.
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O trabalho escravo rebaixa a pessoa a uma condição
desumana. Faz dela um objeto, coisa sem muito valor, sub-
metida a uma grande humilhação. Por isso o trabalho escravo
é uma grave violação dos direitos humanos. Uma pessoa
sem dignidade não pode ser livre. E sem liberdade não é
possível viver com dignidade. Quem tem feito um trabalho
constante e profético nesta área da Erradicação do Trabalho
Escravo é a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Ela desenvolve
o projeto “De Olho Aberto para não virar escravo” que é
uma campanha permanente de Erradicação do Trabalho
Escravo.A Proposta de Emenda Constitucional (PEC 438),
conhecida como PEC do Trabalho Escravo, circula há dez
anos no Congresso Nacional sem uma aprovação definitiva.
A Erradicação do Trabalho Escravo é um d os grandes
desafios para a nossa CF 2014. Sua erradicação só será
viável através de políticas públicas de qualificação do traba-
lhador, de uma reforma agrária sustentável. Através de uma
educação de base que nos ajude a entender que o trabalho
escravo faz parte de um sistema que tem raízes profundas
num modelo de desenvolvimento que tem na ganância um
critério básico geradora da miséria que alimenta a ideia:
“Qualquer trabalho é melhor do que nenhum”. É um siste-
ma que alimenta e gera um conformismo. A terceirização
, em muitos casos, acontece para diminuir custos e não ter
responsabilidades com os funcionários. Enquanto a jornada
de trabalho do funcionário contratado é de oito horas diárias,
a dos terceirizados chega a até 15 horas, o que faz com que
cresça o número de acidentes de trabalho. É preciso extinguir
o trabalho escravo no País, para coibir os abusos promovidos
pelas empresas de terceirização de serviços.
Pergunta para Aprofundamento: Em nossos municípios
existe algum sinal de trabalho escravo? Qual?
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3º Encontro:
DEUS VÊ, OUVE, CONHECE E DESCE
Texto bíblico: Êxodo 3,7-10
1. Quais são as atitudes de Deus?
2. O que Deus faz?
3. Como este texto ilumina nossa realidade de hoje?
A Bíblia Sagrada nos mostra a presença de um Deus que
se volta sempre para a defesa dos que sofrem violência e
injustiça. A sua identidade “Eu Sou aquele que Sou”(Ex 3,14)
manifesta-se na libertação da escravidão sempre ligada à
promessa de uma terra com vida e liberdade. Ele sente a
situação de seu povo e desce para tirá-lo do Egito para uma
terra fértil e espaçosa (cf.Ex 3,7-8). Ele desperta no meio
do povo um líder chamado Moisés que vai motivar o povo
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para desencadear uma caminhada de saída da escravidão.
Libertação é um processo coletivo em que Deus, através
de pessoas concretas, faz com que o povo mantenha vivo
o compromisso com a liberdade e rejeite todas as formas
de escravidão.
A libertação vivida e celebrada na ceia Pascal é um
“memorial” da libertação da escravidão (cf. Ex 12,14).
Memorial não é uma simples lembrança saudosa. É uma
celebração que nos torna participantes do mistério celebra-
do. É recordar, para não reproduzir as antigas práticas de
opressão. Eu sou Javé que fiz você sair da casa da escravidão
(cf. Ex 20,2). A memória histórica é uma forma concreta de
denunciar e combater as formas de opressão. “Povo que
ignora sua história comete os mesmos erros do passado”.
Nossa celebração da semana santa não poderia perder este
sentido de memorial. A CF quer nos ajudar neste sentido
fazendo uma leitura de nossa realidade.
A Bíblia faz referências ao trabalho escravo e ao tráfico
humano. Estas alusões não querem dizer que Deus apro-
vava estas situações. Elas devem ser entendidas dentro do
contexto de um povo que vinha de um mundo pagão e que
praticava a escravidão. A libertação da escravidão vai se
dar dentro de um processo de caminhada libertadora. De
modo geral, a escravidão existente entre o povo hebreu era
proveniente de dívidas ou prisioneiros de guerra. O escravo
não era visto tanto como mercadoria com fins lucrativos.
A lei de Deus que ia sendo revelada ao povo minava as
bases da prática da escravidão. Logo no início, o Decálogo
reflete um projeto social de liberdade e aponta um caminho
para uma convivência livre de opressões. Se houver no meio
de vocês um pobre, não endureça o coração e nem feche
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a mão para ele (cf. Dt 15,7). Não explore o migrante, você
também foi migrante no Egito (cf. Ex 22,20). O manda-
mento “Não roubar”(Ex 20,15) inclui também roubar uma
pessoa para lucrar com sua venda. O rapto de uma pessoa
era punido com a pena de morte (Ex 21,16).
Entre as diversas leis da Bíblia em favor da libertação
destacam-se: o dia de sábado, o ano sabático e o ano jubi-
lar. O dia de sábado(Ex 20,8-11) prescrevia o repouso não
só em vista do culto a Deus, mas era também uma defesa
do pobre, visando humanizar o trabalho.O ano sabático
(Dt 15,12-15) lembra que a escravidão, embora naquele
tempo fosse permitida entre os israelitas não era para a
vida toda.No sétimo ano o escravo deveria ser libertado.
“Quando você o deixar que vá em liberdade, não o des-
peça de mãos vazias... Dê-lhe de acordo com a bênção
que Javé seu Deus tiver concedido a você”(Dt 15,13-14).
O Ano Jubilar (Lv 25,8-55) estabelecia que se o resgate
das dívidas e das pessoas não tivesse acontecido no ano
Sabático deveria ser concretizado no ano jubilar. O qüin-
quagésimo ano era um tempo santo, quando se deveria
proclamar a libertação para todos os moradores do país.
Cada um deveria recuperar sua propriedade e voltar para
a sua família(cf. Lv 25,10).
Estas normas da lei nem sempre foram levadas a sério
no meio do povo. Surgem então os profetas que falavam
em nome de Deus, a favor dos injustiçados. Eles denunciam
a violência contra os indefesos e apontam as suas causas
(cf. Is 59,3-15). Denunciam o tráfico humano e o trabalho
escravo como desumanos e uma forma de idolatria. “Assim
fala o Senhor: Por três crimes de Gaza e pelo quarto, eu
não vou perdoar: porque fizeram cativo um povo inteiro
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para entregá-los nas mãos dos edomitas”(Am 1,6). Para
Jeremias o tráfico escravo é fruto da idolatria: “Ai daquele
que constrói sua casa sem justiça e seus aposentos sem
direito, que faz o próximo trabalhar por nada, sem dar-
lhes o pagamento... Mas você não vê outra coisa e não
pensa a não ser no lucro, em derramar o sangue inocente,
em praticar a opressão e a violência”(Jr 22,13.17). Para os
profetas, uma sociedade indiferente à compra e venda de
pessoas está condenada à destruição.
A CF 2014 está nos convidando a ter a atitude de Deus:
ver, ouvir, conhecer e descer para vermos de perto a situa-
ção do tráfico humano e o trabalho escravo feitos de uma
maneira meio encoberta, mas com tão graves conseqüên-
cias. Ela repete para nós a ordem de Deus para Moisés: “Por
isso, vá” (cf. Ex 3,10) eu envio vocês a estes dois “faraós”.
Pergunta para aprofundamento: Nossas Campanhas
da Fraternidade têm ajudado as nossas comunidades a
ver, ouvir, conhecer a realidade do jeito de Deus? Temos
descido das “igrejas” para ouvir as “vozes das ruas” Como?
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4º Encontro:
DIGNIDADE HUMANA
Texto bíblico: Salmo 8
1. Quem é Deus?
2. Quem é o Homem?
3. Qual o desafio deste salmo diante do tráfico humano?
O salmo que refletimos é um cântico de louvor a Deus
que fez o ser humano à sua “imagem e semelhança” (Gn
1,26). Deus é criador tanto do universo quanto da huma-
nidade. Quando o Homem ocupa seu lugar de criatura
diante da criação ele fica deslumbrado com as grandezas
do mundo. Por isso se torna criança que exulta e louva além
daquilo que as palavras possam expressar. Ele se torna um
contemplativo de Deus através de suas obras. O salmo 8
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destaca toda a dignidade e a grandeza que Deus atribuiu
ao ser humano. Esta dignidade não é conquista sua, mas
dom e partilha de Deus.
O valor da dignidade humana com tudo que ela tem de
sagrado tem suas raízes no coração e na revelação de Deus.
A pessoa tem a forma de Deus. Homem e mulher, criados à
imagem e semelhança de Deus são chamados a serem no
mundo sinal da gratuidade de Deus. Ambos estão a serviço
da vida e são responsáveis um pelo outro. “Ao homem vou
pedir contas da vida de seu irmão” (Gn 9,5). A vida humana
é sagrada e inviolável: “Não matarás”(Ex 20,13).
O direito à vida, à honra, à integridade física e psíquica,
são valores essenciais à dignidade humana. Não podem
ser violados. São universais e inalienáveis. Nenhum ser
humano pode ser tratado como uma propriedade do ou-
tro. Pessoa não é coisa e nem mercadoria. Todo ato que
rebaixa a dignidade humana atinge o cerne da condição
humana. A injustiça cometida a uma pessoa representa
uma ameaça a todos. Dignidade é tudo aquilo que não tem
preço. O filósofo alemão Kant dizia que quando uma coisa
tem preço, pode ser substituída por algo equivalente. Mas
quando uma coisa está acima de todo preço, e portanto,
não permite equivalência, então ela tem dignidade .Um
pensador francês dizia: “Uma sociedade só é democrática
quando ninguém for tão rico que possa comprar alguém
e ninguém tão pobre que tenha que se vender a alguém”.
A Declaração dos Direitos Humanos feita pela ONU
(1949) diz no seu no Art. 1º: “Todos os homens nascem
livres e iguais em dignidade e direitos...” A partir de então
a dignidade humana passa a ser reivindicada como princí-
pio dos sistemas econômicos, sociais e jurídicos. Também
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a Constituição Brasileira coloca como base do Estado De-
mocrático de Direito a dignidade humana (cf. Art. 1º - III).
Hoje o tráfico humano está “patrolando” a dignidade
humana. Transforma o corpo humano e a sexualidade em
objetos de consumo e de lucro. O corpo e o sexo não são
produtos, objetos de compra e venda ou simples instru-
mentos de trabalho e de prazer. O corpo e a sexualidade
são realidades criadas por Deus e oferecidas como dom. A
pessoa deve ser vista em sua totalidade e não em partes.
Ver a pessoa que tem sexo e não que é simplesmente sexo.
A sexualidade é um componente fundamental da persona-
lidade, uma maneira de ser, de se manifestar, de comunicar
com os outros, de sentir expressar o amor.
Pela encarnação, Cristo se uniu a cada ser humano,
homem e mulher. Em Cristo, Deus toca essa humanidade
e manifesta-se em um corpo feito de carne com as suas
fragilidades. Pela encarnação Cristo nos revela o sentido
pleno da dignidade do corpo e da sexualidade. O corpo
se torna o caminho de Deus, lugar de santidade. Por isso
São Paulo conclui: “Vocês não sabem que o seu corpo é
templo do Espírito Santo, que está em vocês e lhes foi dado
por Deus” (1Cor 6,19). “Glorifiquem a Deus no corpo de
vocês”(1Cor 6,20).
A nossa participação nesta CF 2014 nos leva a uma
revisão de vida. Como está sendo tratada a dignidade
humana em nossas casas, famílias, comunidades, nas
campanhas eleitorais tanto da parte do eleitor como da
parte do candidato?
Pergunta para aprofundamento: Nosso voto tem sido
dado com dignidade? Ele tem trazido libertação? Como?
20
5º. Encontro:
JESUS NOS RESGATOU PARA A LIBERDADE
Texto bíblico: Lucas 4,14-21
1. Em que consiste a mensagem libertadora da Boa
Nova de Jesus?
2. Qual foi a atitude do povo diante do anúncio de
Jesus? Por quê?
3. Como este texto pode iluminar o nosso trabalho da
CF 2014?
Em Jesus Cristo se dá, de uma maneira definitiva, a
ação libertadora de Deus profetizada em Isaías 61,1-2.
O ministério de Jesus é um ministério de libertação. No
plano de Jesus, liberdade é deixar de ser escravo; é ter
os olhos abertos para ler os acontecimentos da vida com
olhos novos; é poder ouvir com discernimento; é ter uma
boca que possa se exprimir livremente. Liberdade é fazer
a experiência do “ano da graça” ou “ano jubilar”, onde as
pessoas vivam uma situação de reconciliação e partilha
que tornam possíveis a igualdade e a fraternidade. A Boa
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Nova de Jesus é a libertação de todo tipo de exploração e
injustiça contra os empobrecidos considerados inúteis ou
incômodos para uma sociedade baseada na riqueza e no
poder que escraviza (cf. Mt 5,1-12).
A libertação de Jesus se dá de maneira definitiva na
realização do mistério pascal. O lema da CF 2014 nos
lembra isto: “É para sermos verdadeiramente livres que
Cristo nos libertou”. Por isso São Paulo deixa para nós a
recomendação: “Sejam firmes e não se submetam de novo
ao jugo da escravidão” (Gl 5,1). A liberdade de Jesus nos
fortalece para confiar mais Nele e nos dá a coragem que
vem do Espírito para nos empenharmos na libertação dos
empobrecidos pela exploração e violência. “Onde está o
Espírito do Senhor aí está a liberdade” (2 Cor 3,17).
A liberdade que Jesus nos veio trazer visa em primeiro
lugar o amor ao próximo (cf.Gl 5,13). Na medida que ama-
mos o próximo passamos da morte para a vida (cf. 1Jo 3,14).
A liberdade de Cristo é a liberdade para o serviço e para o
compromisso do cumprimento de toda a justiça do Reino
(cf. Mt 3,15). Ela promove a dignidade humana.
A prática libertadora de Jesus não começa através de
uma declaração dos direitos das pessoas. Na sua prática
missionária, o fato precede ao anúncio. Jesus realiza sinais
da presença do Reino (Mt 11,4-6). Ele está no trecho. Per-
corre cidades e aldeias. Expulsa demônios, cura doentes,
aleijados e leprosos. Passou a vida fazendo o bem e liber-
tando os oprimidos do mal que os afligia. A ação libertadora
de Jesus vai deixando claro que as forças do mal podem
ser derrotadas. Libertar alguém de um grande mal é devol-
ver-lhe a alegria de viver e a esperança de que é possível
libertar o mundo do poder dos opressores.
O critério da prática libertadora de Jesus é a compaixão
e a misericórdia. Compaixão que não é simples sentimento,
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mas reação firme e eficaz diante da dor alheia. É atitude,
estilo de vida. É também indignação sagrada diante da
indiferença e dureza de coração daqueles que ignoram o
sofrimento dos outros (cf. Mt 3,5). Em Jesus, Deus se dei-
xa tocar pelos sofrimentos e pela dor das pessoas. “Jesus
esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e
tornando-se semelhante aos homens. Assim apresentando-
se como simples homem, humilhou-se a si mesmo, tornan-
do-se obediente até a morte e morte de cruz!” (Fl2,7-8).
Numa época marcada pelo machismo e discriminação,
a prática de Jesus foi decisiva para recuperar a dignidade
da mulher e de seu valor indiscutível. Ele falou com elas (cf.
Jo 4,27), teve misericórdia com as pecadoras (cf. Lc7,36-
50). Curou a mulher doente (cf. Mc 5,25-34). Reivindicou
a dignidade da mulher (cf. Jo 8,1-11). As mulheres foram
as primeiras testemunhas da Ressurreição (cf.Mt 28,9-10).
A prática libertadora de Jesus é que “todos tenham
vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Seu objetivo é
libertar a vida reprimida e oprimida, vida criada por Deus à
sua imagem e semelhança. Jesus retoma o projeto do Cria-
dor: A vida foi criada para ser bendita e não maldita. Onde
a vida não tinha condições de ser bendita e abundante aí
Jesus se compadece e age.
A CF 2014 nos convida a ter a prática de libertadora de
Jesus nos dias de hoje. Ter olhos e ouvidos mais abertos
diante da realidade do trabalho escravo e do tráfico huma-
no. O que podemos fazer para que nossa CF 2014 seja um
“ano de graça” diante de tantas vidas traficadas?
Pergunta para aprofundamento: Nossas CF têm ajuda-
do nossas Pastorais e Movimentos a assumirem compro-
missos concretos e permanentes com as vidas feridas e
ameaçadas? O que está acontecendo?
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6º Encontro:
ENSINO SOCIAL DA IGREJA
Texto bíblico: Mateus 25,31-40
1. Com quem Jesus se identifica?
2. Qual vai ser o conteúdo do juízo final?
3. É possível ser cristão sem a prática do amor fraterno
e o compromisso com a justiça?
Toda Campanha da Fraternidade vem nos lembrar a
dimensão social do Evangelho. Jesus disse que “nem todo
aquele que me diz Senhor, Senhor, entrará no Reino do Céu.
Só entrará aquele que por em prática a vontade de meu Pai
que está no Céu” (Mt 7,21). Só seremos felizes seguidores
de Jesus se colocarmos em prática sua Palavra (Jo 13,17). A
leitura do evangelho que fizemos no início deste encontro
deixou claro que nós seremos julgados pela fé que tivermos
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em Jesus. Fé significa reconhecimento e compromisso com
a pessoa concreta de Jesus e seu projeto. Jesus se identifica
com os pobres e oprimidos. Ter fé significa “cumprir toda
a justiça”(Mt 3,15). A fé tem consequências sociais, deve
ter um compromisso público. Um testemunho credível.
A CF 2014 convida a Igreja a rever sua prática de fé
diante de situação do tráfico e do trabalho escravo que
abafam a dignidade humana. A ação pastoral da Igreja
deve se empenhar para que a pessoa humana seja de fato
imagem de Deus. Deve ter claro que os caminhos da evan-
gelização passam pelos caminhos contraditórios do mundo.
A pessoa humana é o caminho que a Igreja deve percorrer
para desenvolver sua missão. A Igreja deve ser perita em
humanidade (SRS 41). Sem um compromisso concreto de
conversão permanente que se traduza numa transformação
sócio-política a Igreja perde sua credibilidade.
A nossa vida cristã só será sinal da realização do Reino
quando ela andar nos trilhos da fé e do bem comum. Pela
fé ela reforça seu compromisso com Deus e seu projeto
e é animada pela mística e esperança cristãs. O trilho do
bem comum, que é a verdadeira ação política, é a vivên-
cia concreta da fé que coloca o bem coletivo acima de
interesses pessoais. Estes trilhos da fé e do bem comum
estão assentados sobre três dormentes: 1. Vida do povo
que questiona a nossa fé e a nossa ação política. 2. Cons-
cientização da prática de Jesus que constrói a verdadeira
cidadania. 3. Organizações Sociais que organizam e mobi-
lizam o povo para as verdadeiras transformações, a partir
das exigências do Reino.
A Igreja, procura tirar as consequências socais de sua
prática de fé através da concretização de seu Ensino Social,
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que faz parte de sua natureza e do evangelho. Este ensino
são orientações pastorais, princípios de ação para os cris-
tãos no campo social e político. Ele surge do encontro da
mensagem do evangelho com os problemas que aparecem
na vida da sociedade. “Tudo o que é humano ressoa no
coração da Igreja” (GS 1). O centro da preocupação do
Ensino Social da Igreja é a dignidade humana (Puebla 473).
Nos começos da Igreja não se falava em Ensino Social.
A vida dos primeiros cristãos era um testemunho de que a
fé tinha conseqüências socais. Os Santos Padres, que eram
testemunhas qualificadas da fé, nos transmitiram ensina-
mentos básicos: “Todos os bens da criação destinam-se a
todos”. “Seremos salvos pela solidariedade”. “A proprieda-
de privada sem solidariedade é fonte de egoísmo”. “Amar
os ricos é adverti-los do perigo das riquezas. Amar os po-
bres é libertá-los”. “Os bens recebidos de Deus são mais
para serem distribuídos do que para serem possuídos”. O
ensino social da Igreja começa a tomar corpo a partir da
Encíclica do Papa Leão XIII, (1891) onde ele apresenta um
cenário das coisas que estão surgindo no mundo. Daí o seu
nome Rerum Novarum” quer dizer das coisas novas. Hoje
já temos um Compêndio do Ensino Social da Igreja, que é
decorrência da Palavra de Deus do Magistério da Igreja.
O conhecimento e a prática do Ensino Social da Igreja é
um fundamento para os nossos trabalhos sociais. Dá mais
base e motivação para as pastorais sociais e para nossas
Campanhas da Fraternidade. Tira a ideia de que a Igreja
não pode se envolver com o sócio político.
Pergunta para aprofundamento: Nossas pastorais
sociais conhecem o Ensino Social da Igreja? O que fazer?
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7º Encontro:
UM GRITO PELA VIDA
Texto bíblico: Marcos 10,46-52
1. De onde o cego gritou?
2. O que fez o cego depois que Jesus o chamou?
3. Nesta CF 2014 quais os gritos que estão nos desa-
fiando? Estamos agindo como a multidão ou como Jesus?
O cego Bartimeu gritou para “entrar no caminho”. Gritou
por não se contentar com a condição que lhe fora dada,
de estar à margem da sociedade e da cidadania. O grito de
Bartimeu era um grito de denúncia. A multidão ignora seu
grito, considerando-o inoportuno. Jesus escutou o grito
do cego, faz parar a caminhada e liga a multidão com o
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grito do cego que queria ver de novo. A exemplo de Jesus,
a CF 2014 quer nos sintonizar com o grito silencioso das
vítimas do tráfico humano e do trabalho escravo. Ela nos
convida a tirar os “mantos” de nossas falsas seguranças,
de nossas omissões e dar o nosso pulo para seguir Jesus
na reintegração destas vítimas.
O tráfico de pessoas, sobretudo de mulheres e crian-
ças, que são as vítimas em potencial deste negócio ilícito
e desumano, é hoje um dos mais urgentes apelos para a
Sociedade, e com especial convocação para a Igreja, cuja
missão é cuidar, proteger, defender e promover a vida
ameaçada. Este desafio deve ser enfrentado através de
uma ação articulada entre Poderes Públicos, Sociedade
Civil e Igreja.
Em 2004, o governo brasileiro ratificou e se comprome-
teu com a implantação da “Convenção das Nações Unidas
contra o Crime Transnacional”, chamada Convenção de Pa-
lermo (2000). A partir de então, o Brasil deu início à criação
de mecanismos de vigilância e combate institucionais desse
crime. Em 2006, foi criada a Política de Enfrentamento do
Tráfico de Pessoas. Ela se propõe trabalhar em três níveis:
prevenção, repressão e atendimento às vitimas.
Em 2008 surge o I Plano Nacional de Enfrentamento ao
Tráfico de Pessoas. “Tem como objetivo prevenir e reprimir
o tráfico de pessoas, bem como responsabilizar os seus
autores e garantir atenção e suporte às vítimas”. Em 2011
começa a ser construído o II Plano Nacional de Enfrenta-
mento ao Tráfico de Pessoas. Concentra suas atenções na
redução de vulnerabilidade ao tráfico de pessoas. Capacita-
ção de profissionais, instituições e organizações envolvidas
com o enfrentamento ao tráfico de pessoas. Produzir mais
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informações sobre o tráfico de pessoas. Sensibilizar e mobi-
lizar a sociedade para prevenir a ocorrência do crime. Trata
também do tráfico de crianças para transplante de órgãos.
É claro que ainda há uma distância entre as propostas
destes planos e suas realizações. Mas, não podemos negar
que são ferramentas legais,que mesmo tendo seus oposi-
tores, já conseguiram alguns efeitos. O Grupo Especial de
Fiscalização Móvel tem feito várias autuações e foi vítima
do massacre de Unaí - MG- 2004.
Nossa Igreja já tem uma história de envolvimento com
as vítimas do tráfico de pessoas e o trabalho escravo, atra-
vés Comissão Pastoral da Terra (CPT), Cáritas Diocesanas,
Centros de Direitos Humanos, Pastoral do Menor, etc. Atu-
almente a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
reuniu todas as pastorais e organismos envolvidos com o
tráfico de pessoas e trabalho escravo num mesmo grupo:
Grupo de Trabalho (GT) Tráfico Humano. Este GT faz um
trabalho de articulação em nível de CNBB, na interlocução
com todas as esferas envolvidas com o tema, no sentido
de unificar os trabalhos de enfrentamento ao tráfico. A
Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) tem um trabalho
interessante com as vítimas do tráfico humano. Trata-se
da “Rede Um Grito pela Vida”. Desenvolve atividades de
divulgação, de formação de multiplicadores e prevenção
nas comunidades mais vulneráveis ao tráfico de pessoas.
Nosso País vive um momento de redescoberta de sua
força através das manifestações nas ruas buscando melho-
rias para a Saúde, Moradia, Educação e Transportes para
todos. A proposta da CF 2014 deve ser um ato de cidadania
eclesial e cívica. Não podemos ficar indiferentes à esta pro-
posta. A CF 2014 deve ser trabalhada por todas as pastorais,
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uma vez que a “Igreja recebeu de Jesus a missão de cuidar
do ser humano. Ao se fazer humano, Jesus revela o valor
sagrado da pessoa. Tal missão pertence ao mais profundo
de sua consciência evangélica” (Dos 40 – 203-204). “Faz
parte da identidade da Igreja contribuir “com a dignificação
de todos os seres humanos, juntamente com as demais
pessoas e instituições que trabalham pela mesma causa”
(DAp – 398). Nesta CF 2014, qual o grito pela vida está
ecoando com mais força em nossas comunidades?
Pergunta para aprofundamento: Que tipo de trabalho
concreto nossas comunidades podem realizar em favor
das vítimas do tráfico humano e do trabalho escravo?
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Cânticos para animar o encontro
01. Hino da CF 2014
É para a liberdade que Cristo nos libertou, / Jesus liber-
tador! / É para a liberdade que Cristo nos libertou.
1. Deus não quer ver seus filhos sendo escravizados, /
à semelhança e à sua imagem, os criou. / Na cruz de
Cristo, foram todos resgatados / pra liberdade é que
Jesus nos libertou!
2. Há tanta gente que, ao buscar nova alvorada, / sai
pela estrada a procurar libertação; / Mas como é triste
ver, ao fim da caminhada, / que foi levada a trabalhar
na escravidão.
3. E quantos chegam a perder a dignidade, / sua cidade,
sua família, o se valor. / Falta justiça, falta mais frater-
nidade / pra libertá-los para a vida, para o amor!
4. Que abracemos a certeza da esperança, / Que já nos
lança nessa marcha em comunhão. / Pra novo céu e
nova terra da aliança, / de liberdade e vida plena para
o irmão.
02. Palavra do meu Senhor (Aclamação)
Palavra do meu Senhor / Palavra cheia de amor //:Pa-
lavra que me conduz / Palavra cheia de Luz! (bis)
1. Eu vou viver a palavra / levá-la a quem precisar / Pa-
lavra cheia de vida / Palavra sobre o altar. (bis)
03. Frutos do Trabalho (Oferendas)
1. Caminhando para o altar, / vai o irmão compartilhar / Os
seus dons com o Senhor. / Frutos bons do seu trabalho,
/ Conquistados com coragem, / na alegria e com amor.
A oferta que trazemos, / Ó Jesus, ao teu altar / para Te
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oferecer: // E que a paz, a liberdade, / o direito e a
justiça / façam a vida florescer. (bis)
2. A coragem e a atitude dos profetas da verdade, / que
se doam na missão. / É o que vence a maldade, / a
opressão, a injustiça / e anuncia a conversão.
04. Santa Eucaristia. (Comunhão)
1. Bendizemos ao Senhor nosso Deus, / que se doa na
Eucaristia / o pão vivo descido do céu, / alimento que
dá vida e nos guia.
É Jesus este Pão da Salvação, / nesta ceia, tomai e co-
mei. / É Jesus este Cálice da redenção / vinde todos
tomai e bebei.
2. Nesta mesa da fraternidade / comungamos a paz a
esperança / pra viver o Amor, a caridade, / no Deus
Trino a nossa confiança.
3. Comungar é comprometer-se / num projeto de liber-
tação / resgatar os que estão a sofrer / num sistema
de dor e opressão.
4. No banquete da Eucaristia / comungamos o pão da
partilha / que celebra o Amor, a unidade, / o anseio
de uma nova sociedade.
05. Unidos na fé (Envio)
1. Vamos irmãos, juntos, caminhar / seguir em frente
sem olhar pra trás. / Pois, nossa força está na união, /
Nossa missão é construir a paz.
Só assim, nós formaremos comunidade, / Só assim, nós
viveremos em fraternidade.(bis)
2. A nossa fé é uma luz a nos guiar, / pois ilumina todo
o nosso ser. / Ela não pode, nunca, se apagar, / pois
nos sustenta e nos faz crescer.
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Oração da CF 2014
Ó Deus, sempre ouvis o clamor do
vosso povo e vos compadeceis dos
oprimidos e escravizados.
Fazei que experimentem a libertação
da cruz e a ressurreição de Jesus.
Nós vos pedimos pelos que sofrem o
flagelo do tráfico humano.
Convertei-nos pela força do vosso
Espírito e tornai-nos sensíveis às dores
destes nossos irmãos.
Comprometidos na superação deste
mal, vivamos como vossos filhos e
filhas, na liberdade e na paz.
Por Cristo, nosso Senhor.
Amém!
Pedidos:
Gráfica O LUTADOR
Fone: (33) 3341-1900
olutador@sacramentinos.org.br
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