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Published by dsieq, 2019-12-19 05:29:51

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BOLETIM DO ARQUIVO

DISTRITAL DE ÉVORA

NÚMERO 8 | JULHO 2019

ÍNDICE

Editorial
Notícias
Exposições
Documentos do mês
Documentos em destaque
Entrevistas
Rede de Arquivo do Alentejo (RAA-DE)

• A Estratégia de Salvaguarda do Património Arquivístico do
Distrito de Évora

Estudos

• Relações entre a Catedral de Évora e a Colegiada de Santo
Antão no final do século XVIII: o caso do cantor José da Costa

• Elementos biográficos de compositores eborenses do final do
século XVIII e início do XIX: contributos do Arquivo Distrital de
Évora

• O ofício de Guadamecileiro
• Câmara Eclesiástica de Évora: Os róis de confessados
• Contributos para a história do património religioso da Arqui-
diocese de Évora com o Decreto de 30 de maio de 1834

Ofertas de publicações

EDITORIAL

Índice

Caros leitores, Naturalmente que não será Um Olhar sobre o Passado” no
possível manter este ritmo de âmbito das comemorações dos
O Arquivo Distrital de Évora, crescimento nos próximos anos, 70 anos da Declaração Universal
cada vez mais em parceria com até porque o projeto de dos Direitos Humanos e dos 40
outras entidades da região, está a digitalização da Family Search anos de Adesão de Portugal à
produzir valor para o público, está a chegar ao fim, secando a Convenção Europeia dos
seja o que nos visita torrente de imagens, e porque Direitos Humanos, a exposição
presencialmente, seja quem, à precisamos de organizar os "40 Profissões Antigas” e a
distância de um clique, fundos documentais intocados exposição “Ibero América no
acompanha as nossas atividades para poderem ser tratados. Neste Alentejo: Margens da Memória",
e consulta os nossos momento, dos mais de 4 integrada no programa do Ano
documentos. quilómetros de documentação Iberoamericano dos Arquivos
do Arquivo Distrital apenas 30% para a Transparência e
Nos últimos 5 anos apostámos está tratada e só 11% está Memória. Realizámos, ainda, a
fortemente na disponibilização disponível na Internet. De forma apresentação do livro de José
de imagens (mais de 2 milhões), desigual, haverá avanços nestas Calado “Apontamentos para a
de registos descritivos (quase duas dimensões, prevendo-se História da Vinha e do Vinho no
100 mil), em atividades de que a disponibilização de Alentejo – legado de uma
divulgação (Rota dos Arquivos, imagens comece a reduzir família a produzir desde 1667”.
exposições, documento do mês, substancialmente mas que a E participámos novamente na
profissão do mês, conferências), descrição arquivística continue a Feira do Livro de Évora.
nas incorporações (mais de meio subir paulatinamente.
quilómetro) e no apoio às No âmbito da Rede de Arquivos
entidades da região através da A fruição do património
Rede de Arquivos do Alentejo. arquivístico pelo nosso público é os progressos têm sido
um objetivo que nos mobiliza e
Muito se tinha feito antes de nos motiva, pese embora os aparentemente menos visíveis
2014. Mas a partir daí o escassos meios postos à nossa
caminho fez-se mais em diposição. Porém, acreditamos mas, em nosso entender,
conjunto com a comunidade que que a nossa função cultural
nos rodeia, pois é para ela que contribui para uma sociedade apresentam-se bastante
trabalhamos todos os dias. Em mais justa e conhecedora da sua
linguagem do New Public identidade. Por isso, temos consistentes. E se-lo-ão ainda
Manegement, ou da Nova publicado regularmente o
Gestão Pública, orientámo-nos Documento do Mês, a Profissão mais no futuro. A estratégia
para o cliente e para os do Mês e outra documentação.
resultados. Do mesmo modo, promovemos seguida assenta em grandes
em 2018 e em 2019 a mostra
Esse rumo tem sido documental “Diálogos da Arte linhas mas as várias entidades
consistentemente seguido e os Cristã na Documentação do
resultados alcançados demons- Arquivo Distrital de Évora”, por vão trilhando individualmente o
tram-no. No ano de 2018 ocasião do Dia Nacional dos
disponibilizámos 740 mil Bens Culturais da Igreja, a seu caminho. O AtoM é já uma
imagens e quase 18 mil registos mostra documental “Quanto
e este ano ultrapassaremos o mais velho melhor”: Contributo aposta ganha, pois passou a ser
meio milhão de imagens e os 20 dos arquivos para o estudo da
mil registos. vinha e do vinho no Alentejo”, a amplamente utilizado, o que
mostra documental “Direitos
Humanos no Distrito de Évora – permitiu ultrapassar a

inexistência de financiamento

para adquirir outro tipo de

sistemas. Esta realidade faz com

que, futuramente, possam vir a

ocorrer adesões à Rede

Portuguesa de Arquivos (RPA),

se essa for a vontade das

entidades. O Modelo de

Regulamento da Rede foi

adaptado à Lei n.º 31/2019, de 3

de maio, e elaborou-se uma

"Estratégia para a Salvaguarda

do Património Arquivístico" que

Página 4 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

se espera vir a ser gradualmente
implementada. Em 2019 a Rede
organizou a 2.ª Edição da Festa
dos Arquivos, destinada a
comemorar o Dia Internacional
dos Arquivos (9 de junho), que
decorre em 5 entidades de 4
concelhos (Estremoz, Évora,
Redondo e Vila Viçosa). A
DGLAB tem sido o catalisador
destas mudanças, designada-
mente, ao ter promovido as
ações de divulgação da RPA e da
Salvaguarda do Património
Arquivístico em março. As bases
estão lançadas e os frutos do
trabalho que começou na RAA-
DE em 2016 estão a começar a
aparecer. Mas muito mais há
para fazer, tanto no Arquivo
Distrital como na região. O
tempo corre contra nós, pelo que
temos de continuar a trabalhar
para salvar, tratar e
disponibilizar mais arquivos.

Neste número do boletim
divulgamos mais documentação
do Arquivo Distrital através de
cinco estudos, a cujos autores
agradeço a disponibilidade para
apresentarem os seus trabalhos.

Boas leituras!

Jorge Janeiro
Diretor do Arquivo Distrital de Évora

Página 5 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

NOTÍCIAS

Índice

Disponibilização de registos descritivos on-line

Em 2018 foram disponibilizados 17.688 registos de diferentes fundos: Tribunais das Comarcas de Elvas,
Évora, Estremoz, Redondo e Fronteira, Cartórios Notariais de Vila Viçosa e de Estremoz, Santa Casa da
Misericórdia de Évora, Governo Civil de Évora, Paróquia da Sé e Câmara Eclesiástica de Évora.

Fundo Registos colocados em
Tribunal da Comarca de Elvas linha

15

Tribunal da Comarca de Estremoz 995

Tribunal da Comarca de Redondo 52

Tribunal da Comarca de Fronteira 26

Cartório Notarial de Vila Viçosa 19

Cartório Notarial de Estremoz 4
3.049
Santa Casa da Misericórdia de
Évora 94

Governo Civil de Évora

Paróquia da Sé 77

Câmara Eclesiástica de Évora 9.598

Tribunal da Comarca de Évora 3.759

Total 17.688

Página 7 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

Disponibilização de imagens digitais on-line

Em 2018 foram disponibilizadas 740.158 imagens dos seguintes grupos de fundos: Paroquiais, Notariais,
Câmara Eclesiástica de Évora, Governo Civil de Évora, Conservatórias do Registo Civil, Administração
Local, Santa Casa da Misericórdia de Évora, Coleção de Testamentos e Casa Pia de Évora.

Fundo Imagens disponibilizadas

Paroquiais (ADE) 62.327

Notarial Montoito (ADE) 1.139

Notarial de Terena (ADE) 524

Notarial de Pavia (ADE) 2.797

Notarial de Vila Viçosa (ADE) 4.114

Câmara Eclesiástica de Évora (FS) 90.881

Governo Civil de Évora (FS) 51.403

Conservatórias (FS) 95.512

Adminstração Local (FS) 48.685

Coleção de Testamentos (FS) 72.442
293.572
Santa Casa da Misericórdia de 16.762
Évora (FS)

Casa Pia de Évora

Total 740.158

Página 8 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

Números do ADE – 2018

Leitores: 586
Documentos consultados: 6.878
Certidões emitidas: 60
Imagens disponibilizadas on-line: 740.158
Registos disponibilizados on-line: 17.688
Visitantes: 344
Pedidos de reprodução (imagens): 8.363
Pedidos de reprodução (fotocópias): 151
Pedidos de pesquisa: 166

Página 9 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

Mostra documental e apresentação de livro sobre a História da Vinha e
do Vinho no Alentejo

No dia 26 de novembro, no Arquivo
Distrital de Évora, teve lugar a
inauguração da mostra documental “
Quanto mais velho melhor”: Contributo
dos arquivos para o estudo da vinha e do
vinho no Alentejo”. No dia 17 de janeiro
pelas 18 horas, no Arquivo Distrital de
Évora, realizou-se a apresentação do livro
de José Calado “Apontamentos para a
História da Vinha e do Vinho no Alentejo –
legado de uma família a produzir desde
1667”.
A apresentação ficou a cargo do autor, José
Calado, e do promotor da obra, Luís
Serrano Mira, proprietário da Herdade das
Servas.
O Presidente da Comissão Vitivinícola do
Alentejo, Francisco Mateus, fez uma
introdução sobre a importância do setor
vitivinícola para a região e sobre a
relevância de estudos históricos para o
conhecimento do passado desta atividade.
A apresentação foi também abrilhantada
pelas modas alentejanas cantadas pelo
Grupo de Cantares Feminino de
Alcáçovas.
O livro teve por base alguns dos
documentos inseridos na mostra
documental, que pôde ser visitada até ao
final de janeiro.

Página 10 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

Apresentação de livro sobre a História da Vinha e do Vinho no Alentejo, com a participação do Grupo de
Cantares Feminino de Alcáçovas

Página 11 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

Dia Nacional dos Bens Culturais da Igreja 2018

O Arquivo Distrital de Évora associou-se, mais uma vez, à iniciativa através da realização da mostra
documental intitulada “Diálogos da Arte Cristã na Documentação do Arquivo Distrital de Évora”. A
mostra esteve patente ao público de 18 de outubro a 9 de novembro de 2018 nas nossas instalações.

Mostra Documental “Direitos Humanos no Distrito de Évora
Um Olhar sobre o Passado”

No dia 26 de novembro, no Arquivo Distrital de Évora, teve lugar a inauguração da mostra documental “
Direitos Humanos no Distrito de Évora – Um Olhar sobre o Passado” no âmbito das comemorações dos
70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e dos 40 anos de Adesão de Portugal à
Convenção Europeia dos Direitos Humanos. A exposição esteve patente ao público até 31 de janeiro.

Página 12 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

Exposição "A Escola na Cidade"

No âmbito da comemoração do seu Centenário a Escola Secundária Gabriel Pereira organizou uma
exposição evocativa do seu percurso intitulada “A Escola na Cidade”. A mostra resultou da parceria entre
a Câmara Municipal de Évora, a Universidade de Évora (CIDEHUS.UÉ) e a Escola Secundária Gabriel
Pereira e esteve patente ao público entre os dias 16 de maio e 7 de junho de 2019 na biblioteca da Escola
Secundária Gabriel Pereira e, a partir do dia 21 de junho, na Feira de S. João.

Página 13 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

Exposição "50 Capas: 50 Anos"

O Diário do Sul, no âmbito das comemorações dos 50 anos deste jornal, organizou a Exposição "50
Capas: 50 Anos", que esteve patente entre os dias 13 e 19 de maio na Loja W52, na Praça do Giraldo.

Exposição "100 Anos de História, 100 Anos de Gratidão"

O Arquivo Distrital de Évora
associou-se às comemorações do
1º centenário do clube Juventude
Sport Clube (1918-2018) através
da presença do diretor na Sessão
Solene do Centenário (5 de
dezembro) e da participação na
Exposição do Centenário "100
Anos de História, 100 Anos de
Gratidão", que esteve patente ao
público entre o dia 8 de dezembro
de 2018 e o dia 12 de janeiro de
2019, no INATEL.

Página 14 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

“A Educação no período do Estado Novo”

Entre 20 de janeiro e 1 de março esteve patente no Centro Cultural de Redondo a exposição “A
Educação no período do Estado Novo”. No mesmo local, no dia 16 de fevereiro, teve também lugar uma
conferência sobre o sistema educativo no Estado Novo, que contou com a presença de professores e de
investigadores.

Feira do Livro

O Arquivo Distrital de Évora
participou, mais uma vez, na Feira
do Livro de Évora, intitulada
"Livros à Rua" que decorreu no
Largo da Sé entre os dias 17 e 26
de maio. Tratou-se de mais uma
oportunidade para divulgar o
nosso trabalho junto da população.
Realizou, ainda, uma Oficina de
Genealogia (dia 18) e uma Oficina
de Pesquisa de Documentos (dia
26).  

Página 15 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

“Ibero América no Alentejo: Margens da Memória"

No dia 06 de junho pelas 18 horas, no Arquivo
Distrital de Évora, teve lugar a inauguração
da exposição “Ibero América no Alentejo:
Margens da Memória", integrada no programa
do Ano Iberoamericano dos Arquivos para a
Transparência e Memória.

"40 Profissões Antigas”

No dia 06 de junho pelas 18 horas, no Arquivo Distrital de Évora, teve lugar a inauguração da exposição "
40 Profissões Antigas”, integrada nas comemorações do Dia Internacional dos Arquivos.

Página 16 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

Festa dos Arquivos

Para assinalar o Dia Internacional dos Arquivos a Rede dos Arquivos do Alentejo - Distrito de Évora,
realizou em 2019 a 2ª edição da Festa dos Arquivos, com iniciativas em 5 entidades de 4 concelhos
(Estremoz, Évora, Redondo e Vila Viçosa).

Página 17 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

Atividades da RAA-DE

A Rede dos Arquivos do Alentejo - Distrito de Évora (RAA-DE) realizou 6 reuniões entre novembro de
2018 e junho de 2019, dinamizando vários projetos em simultâneo:

- Organizou-se a 2ª edição da "Festa dos Arquivos", destinada a comemorar o Dia Internacional
dos Arquivos (9 de junho), que decorreu em 5 entidades de 4 concelhos (Estremoz, Évora,
Redondo e Vila Viçosa);
- Discutiu-se o Plano de Intervenção no Sistema de Arquivo Organizacional, destinado a apoiar
os responsáveis a qualificarem os respetivos sistemas de arquivo;
- Esclareceram-se dúvidas sobre o AtoM;
- Harmonizou-se a descrição e a indexação de documentação no sistema AtoM;
- Preparou-se a adesão à Rede Portuguesa de Arquivos (RPA) pelos membros da RAA-DE;
- Definiram-se os temas e discutiu-se a estrutura dos roteiros de fontes;
- Aprovou-se a "Estratégia para a Salvaguarda do Património Arquivístico" (ESPA);
- Aprovou-se a 2ª versão do "Modelo de Regulamento do Arquivo".

De modo a preparar a adesão à RPA, no dia 12 de março de 2019, na CCDR Alentejo foi
realizada a “Ação de divulgação da Rede Portuguesa de Arquivos", pela Dra. Lucília Runa, técnica
superior da Direção de Serviços de Inovação e Administração Eletrónica da DGLAB. E, para concretizar
a ESPA foi realizada a "Ação de divulgação das Políticas e Estratégias de Salvaguarda do Património
Arquivístico" a cargo do Dr. Pedro Penteado, diretor de Serviços de Arquivística e Normalização, e da
Dra. Catarina Guimarães, coordenadora do Gabinete de Salvaguarda do Património, da DGLAB. Estas
duas ações tiveram um total de 39 participantes provenientes da RAA-DE, do Grupo de Trabalho dos
Arquivos da CIMBAL, da Rede de Arquivos do Alentejo Litoral e dos municípios de Gavião e de
Sesimbra.

A RAA-DE participou também no II Encontro de Arquivos do Alentejo Litoral, organizado pela
Rede de Arquivos do Alentejo Litoral em Santiago do Cacém no dia 12 de outubro de 2018, com a
comunicação apresentada por Jorge Janeiro “Ir mais longe: divulgação do trabalho colaborativo da Rede
de Arquivos do Alentejo - Distrito de Évora”, e no VI Encontro de Arquivos do Algarve, organizado pela
Rede de Arquivos do Algarve, em Alcoutim, nos dias 24 e 25 de maio, com a comunicação "A
infraestrutura da informação do Alentejo Central: um processo incremental", apresentada por Jorge
Janeiro, Maria do Rosário Martins e Sílvia Arvana Russo.

Em abril de 2019 foi também formalizada a adesão do Município de Portel à RAA-DE, que conta
agora com 16 membros.

Página 18 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

EXPOSIÇÕES

Índice

“Quanto mais velho melhor”: Contributo dos arquivos para o estudo
da vinha e do vinho no Alentejo

A atividade vitivinícola no Alentejo desde a época medieval e, Deste modo, e aproveitando este
é muito antiga remontando, pelo sobretudo, desde a época moderna. ensejo, o Arquivo Distrital reco-
menos, aos Fenícios. Seriam, no lheu mais alguma documentação e
entanto, os Romanos quem Daí o título desta exposição, pois expõe-a para que o público possa
exploraria em larga escala as quanto mais velho o documento aperceber-se da relação intensa e
condições existentes na região para melhor a compreensão do longínqua dos alentejanos com o
a produção de uva e de vinho. fenómeno vitivinícola da região na vinho e com a vinha. Entre os
Aliás, são inúmeros os vestígios linha do tempo. E, efetivamente, no documentos divulgados salien-
arqueológicos que comprovam Arquivo Distrital de Évora existe tamos: os inventários orfano-
essas práticas. Mas persistem ainda documentação, alguma dela lógicos, pela riqueza descritiva que
bem vivos em certas povoações os aproveitada por José Calado, autor oferecem, inclusivamente, sobre os
ritos associados à produção do do livro “Apontamentos para a utensílios utilizados para a
vinho da talha, herdado História da Vinha e do Vinho no produção de vinho; os relatórios
diretamente dos Romanos. Essa Alentejo – legado de uma família a sobre experiências realizadas por
cultura, material e imaterial, que se produzir desde 1667”, que revela a um produtor no século XIX contra
prolongou até aos nossos dias, está presença constante da vinha e do as doenças das videiras; e uma
hoje em processo de revalorização vinho na sociedade alentejana petição a contestar a aplicação do
com a candidatura a património desde a Idade Moderna. De imposto ao vinho de talha de forma
cultural da UNESCO promovida testamentos a escrituras, de semelhante ao do vinho do Porto,
por várias entidades do Alentejo. É relatórios para o governador civil a na qual se explica o método de
difícil aos arquivos estabelecerem inventários orfanológicos, tudo produção do vinho de talha nos
um elo de ligação assim tão antigo serviu para enquadrar o vinho e a meados do século XIX, e que até
mas conseguem, efetivamente, vinha na ambiência social, hoje se mantém praticamente
documentar as várias dimensões da económica e cultural em que esses inalterado.
presença do vinho na sociedade documentos foram produzidos.

Página 20 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

Desdobrável da Mostra Documental
Página 21 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

Direitos Humanos no Distrito de Évora
Um Olhar sobre o Passado

A luta pela defesa dos Direitos Direitos Humanos e os 40 anos de nossa realidade. Ou seja, as
Humanos atravessa hoje um novo e Adesão de Portugal à Convenção declarações e convenções produ-
difícil capítulo. Mas não é nova. Europeia dos Direitos Humanos zidas em países distantes, e com
No passado a evolução no sentido não se resume a assinalar duas um âmbito internacional, não nos
da proteção dos direitos dos datas mas a reafirmar a são estranhas. Têm, afinal, um
indivíduos foi lenta e gerou importância de continuar a lutar enquadramento no nosso País e na
brechas nas sociedades. A para que esses direitos sejam nossa região, uma vez que os
escravatura, o trabalho infantil e a concretizados onde ainda não o são documentos do Arquivo Distrital
emancipação das mulheres, apenas e reafirmados para o futuro. comprovam que o desrespeito
para citar três exemplos, foram pelos Direitos Humanos estava
campos de disputa onde diferentes Nesta exposição procurou-se entranhado na nossa sociedade.
forças se digladiaram durante elencar os vários direitos humanos Felizmente, e em comparação com
séculos até que resultados positivos previstos na Declaração Universal os casos evidenciados pela
fossem finalmente atingidos. Mas e na Convenção Europeia e documentação, a situação
nunca completamente afirmados, demonstrar, através de documentos modificou-se e hoje vivemos um
pois os retrocessos ocorrem e existentes no Arquivo Distrital, a País onde o respeito pelos Direitos
persistem, infelizmente, zonas do pertinência da exigência do Humanos se encontra num nível
planeta onde estes direitos nunca respeito por esses direitos. Assim, bastante elevado.  
foram efetivados. para cada direito apresenta-se um
documento que o contraria,
Por essa razão, comemorar os 70 aproximando aquilo que aparente-
anos da Declaração Universal dos mente está num plano longínquo à

Página 22 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

Cartaz da Mostra Documental
Página 23 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

Inauguração das Mostras Documentais
Página 24 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

Reportagem do Diário do Sul
Página 25 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

40 Profissões Antigas

As sociedades, desde muito cedo, grande interesse por parte dos destos, a investir na difusão do
nossos seguidores. As profissões conhecimento que formata a nossa
sentiram necessidade de identificadas nos mais variados identidade.
documentos foram objeto de
aperfeiçoar competências para análise e de alguma investigação
para que se pudesse, em alguns
assegurarem a sua subsistência. À casos, compreender com exatidão o
que eram e quais as atividades que
medida que os grupos de desenvolviam em concreto. Nós, como arquivistas, transpor-
Noutros houve menos dificuldade.
caçadores-recoletores se foram tamos connosco esse "lugar da
Todavia, este exercício possibilitou
sedentarizando surgiram novas que se alargasse o conhecimento memória" que é o arquivo, e
não apenas dos técnicos do
profissões, numa divisão do Arquivo Distrital sobre as ajudamos o público a viajar para
Profissões Antigas mas, sobretudo,
trabalho que ultrapassava a já que essa informação fosse outros lugares através das 40
difundida junto do público em
tradicional divisão de tarefas entre geral, contribuindo para o reforço profissões antigas que
do nível cultural da região.
sexos. A especialização foi-se selecionámos para que cada pessoa
A fruição do património
acentuando, embora, ao longo dos arquivístico é um fator estruturante as possa apreciar e situar no
da política de memória do nosso
séculos, certas profissões se País, pelo que continuamos, contexto em que nos são
embora com meios muitíssimo mo-
mantivessem praticamente inal- apresentadas pelos documentos.

teradas. Ainda hoje existem

profissões que proveem desde os Relativizar o tempo presente no
confronto com as realidades do
tempos mais remotos. Outras, por passado é um esforço que nos
enriquece como seres humanos.
via da evolução tecnológica ou de Esse confronto gera uma reflexão
que pretendemos ser vantajosa por
imposições legais, acabaram por aumentar o nosso conhecimento
sobre o passado mas, sobretudo,
soçobrar. por nos revelar as conquistas e as
perdas do presente.
Ao longo dos últimos 3 anos o
Arquivo Distrital de Évora tem
vindo a divulgar mensalmente a
"Profissão do Mês" no site e no
Facebook, iniciativa que despertou

Página26 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

Cartaz da Exposição
Página 27 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

Ibero América no Alentejo: Margens da Memória

O Arquivo Distrital de Évora, dizimaram as populações indíge- viram profundamente alteradas as
através da Exposição “Ibero genas, e os Portugueses são acusa- suas culturas e as suas perspetivas
América no Alentejo: Margens da dos de serem os grandes políticas, económicas e militares
memória", associa-se ao Ano responsáveis pelo tráfico de em termos geoestratégicos. Os dois
Iberoamericano dos Arquivos escravos. Já na historiografia lados mudaram para sempre em
para a Transparência e Memória. ibérica não é difícil encontrar função deste encontro mútuo. Os
Esta iniciativa dos países que elogios à humanidade com que documentos que divulgamos, como
integram a Ibero-América trata-se tratou os colonizados e, sobretudo, passaportes, processos de
de mais um esforço no sentido de à valentia dos colonizadores. habilitações "de genere", requi-
reforçar a transparência nos vários Temos, portanto, visões irremedia- sitórias e processos de inquirições,
estados e de recuperar as memórias velmente inconciliáveis. evidenciam como os Portugueses
dos tempos negros das ditaduras foram deixando testemunhos da
experienciadas nos dois lados do Se bem que existe um fundo de sua permanência no mundo e como
Atlântico. Para que não se repitam verdade nestas duas imagens, há as culturas com as quais
nunca mais. que aprofundar o conhecimento contactámos nos influenciaram. O
científico sem que fique Alentejo não viveu à margem deste
A procura da verdade tem sido um previamente condicionado por processo de globalização, pois
recurso amplamente utilizado por preconceitos ou por interesses daqui partiram muitos alentejanos
estes países para desvendar os alheios ao saber. que no Brasil fundaram povoações,
desmandos e atrocidades cometidas exerceram importantes cargos e se
durante as ditaduras. Mas não Por essa razão, a pequena internaram pelo sertão em busca de
podemos esquecer a verdade exposição que agora trazemos ao riquezas. O Alentejo recebeu
histórica em que as colonizações vosso encontro desvenda alguns também sul-americanos, em
portuguesa e espanhola assentam. dos documentos que se especial brasileiros, acolhendo-os
Essa verdade tem sido conjuntural identificaram neste Arquivo no seu seio. Muitos vieram estudar,
e parcial, servindo interesses Distrital que ora envolvem os trabalhar ou ingressar em
antagónicos. Assim, as narrativas Portugueses que buscaram na conventos e por aqui ficaram.
desencontram-se e contam histórias América novas perspetivas, ora Outros regressaram à sua terra
diferentes sem que haja um esforço demonstram que muitos sul- natal.
sério ao nível científico de americanos fizeram o trajeto
caracterização do legado colonial inverso e nos deixaram um pouco É essa memória comum que
ibérico nas Américas. Aos olhos de si. celebramos para que no futuro
das historiografias anglo- continue bem viva porque, desde
saxónicas, os Conquistadores O encontro entre a Ibéria e a que o Atlântico nos uniu, nunca
Espanhóis comportaram-se como América não deixou nada como mais nos separamos.
criminosos sedentos de ouro que dantes. Mesmo Portugal e Espanha

Oratório da Cruz de Pascoal, em Salvador da Baía,
dedicado a Nossa Senhora do Pilar, foi mandado
edificar em 1743 por Pascoal Marques de Almeida,
nascido em Portugal, exerceu o oficio de tesoureiro
da Dízima da Alfândega da Baía e foi recebedor do
rendimento do Trapiche.

Página 28 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

Cartaz da Exposição
Página 29 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

Inauguração das Exposições
Página 30 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

Reportagem do Diário do Sul
Página 31 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

DOCUMENTO
DO MÊS 2018
Índice

No mês de agosto destacamos a sitas nos coutos e na dita na mesma herdade.
relação dos rendimentos do ano localidade, terrenos na aldeia de
económico de 1822/1823 do Barro Branco e umas casas sitas na Na lista dos rendimentos consta
Convento de Nossa Senhora da Luz Herdade de Travassos. No também o dinheiro que era cobrado
dos religiosos da Ordem de São documento consta que o convento, pelo produto das rendas das
Paulo, o Primeiro Eremita, e a cerca dele, se situava na portagens das herdades, outras
localizado em Montes Claros, no Herdade de Travassos, que fora miudezas que lhes eram pagas,
termo de Borba, também doada ao convento e outra parte foros e o capital de dinheiro dado a
denominado Convento de Nossa dela comprada pelos religiosos, e juro de 5% pertencentes a diversas
Senhora da Luz de Montes Claros, também na Herdade das Nogueiras. capelas que administravam.
elaborada em conformidade com as
instruções da portaria expedida a 1 Em Estremoz possuíam a Herdade A relação foi assinada por Frei
de Junho de 1823 pela comissão dos Sandes, a Horta das Nogueiras Francisco de Santo Tomás Vigo,
encarregada do lançamento da de Cima, a Horta das Nogueiras de Frei Manuel de Santa’ Ana
coleta eclesiástica, aplicada para a Baixo, a Herdade das Nogueiras, Clavario e Frei José de Jesus Maria
amortização da dívida pública, e na qual possuíam uma pedreira, e a Macedo Clavario (cujo nome foi
segundo as cláusulas de uma outra Azenha da “Alagoa”. riscado).
portaria de 3 de novembro de 1821.
Na relação estão compreendidas Em Elvas possuíam a Herdade das No final consta uma nota referindo
todas as receitas arrecadadas entre Caldeirinhas, a Herdade do que o convento não possuía a
o dia de São João de 1822 e o dia Freixial, a Herdade dos Serrões, o maior parte dos contratos dos bens
de São João de 1823. Moinho dos Azeredos, olivais e arrendados por serem muito
casas em Elvas. antigos, que muitas das escrituras
As propriedades pertencentes, ou dos foros tinham ficado no Erário
administradas, pelos religiosos Em Juromenha possuíam a Régio quando se calcularam as
situavam-se nos termos de Borba, Herdade da Abrunheira e em terças ou então que a letra das
Elvas, Estremoz, Juromenha, Monforte possuíam a Herdade da escrituras era tão antiga que não se
Monforte e Vila Viçosa. Carrajola e a Herdade da Torre das podiam copiar.
Figueiras.
Em Borba os religiosos possuíam a Célia Malarranha
Herdade das Oliveiras, uma azenha Na freguesia de Pardais, concelho Assistente Técnica
e dois serrados na Ribeira de de Vila Viçosa, possuíam um Arquivo Distrital de Évora
Borba, uma azenha na Herdade da serrado, a Herdade da Almagreira,
Alcaraviça, olivais, vinhas e casas uma azenha e uma pedreira situada

Cota: Convento de Nossa Senhora da Luz de Montes Claros de Borba, cx. 2, doc. 34.
Página 33 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

No mês de setembro destacamos No caso dos trabalhadores civis mo Joaquim Carrasquinho e outro
documentos relativos a obras constam nas relações: os nomes, os que assinava Rolando.
efetuadas nas fortificações da ofícios, o número de dias que
cidade de Évora. trabalharam na obra, o vencimento O Governador Militar encarregou o
diário e o total referente aos dias de porta-bandeira e alferes do
Escolhemos alguns mapas de trabalho. No caso dos Batalhão da Guarda Municipal de
despesas com o pagamento dos trabalhadores militares constam, Évora, Manuel Maria Pereira
salários dos trabalhadores civis e também, as companhias a que Lobato, de receber o dinheiro para
militares, estes últimos perten- pertenciam, o número e os postos pagar aos operários.
centes ao Batalhão Provisório de que ocupavam nas mesmas e o
Infantaria de Évora, que traba- trabalho que efetuaram nas obras. Célia Malarranha
lharam nas obras para a defesa da Assistente Técnica
cidade. As obras ocorreram na As declarações das despesas foram Arquivo Distrital de Évora
Porta do Rossio, na Porta de Avis e efetuadas e conferidas por Joaquim
na Porta da Lagoa, entre os dias 6 e Miguel de Andrade, Governador do
9 de setembro de 1837, envolvendo Quartel Militar de Évora, e pelos
mais de 100 trabalhadores. encarregados dos trabalhos, Jeróni-

Cota: Governo Civil de Évora, Gestão de Recursos Financeiros, Contabilidade, Receitas e despesas, Cx. 33, doc. 6.
Página 34 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

Hoje, dia 1 de outubro, O documento em destaque é o dos os seus bens enquanto vivesse.
comemora-se o Dia Internacional contrato celebrado no Cartório Quando falecesse, ficaria o casal
do Idoso. Instituído pelas Nações Notarial de Estremoz, do tabelião beneficiário de todo o seu
Unidas em 1991, tem como José Maria Correia, a 9 de março património.
objetivo sensibilizar a sociedade de 1838, entre, por um lado, o
para as questões do envelhe- Padre Joaquim da Mãe dos Célia Malarranha
cimento e alertar para a Homens Cavaco e, por outro, o Assistente Técnica
necessidade que os idosos têm de senhor Jacinto José Vidigal e sua Arquivo Distrital de Évora
ser protegidos e não negligenciados mulher Ana Rita.
pelas gerações mais novas.
O padre, achando-se desamparado,
O documento que destacamos no contratou o casal para que o
mês de outubro é o exemplo da recolhesse em sua casa, o
preocupação demonstrada por um alimentasse, lhe desse cama e mesa
padre que, provavelmente pela sua com decência, roupa lavada e
avançada idade, decidiu tomar amanhada, e que, no início de cada
providências para assegurar o seu mês, lhe dispensasse 800 réis para
futuro e poder viver com dignidade o tabaco e calçado. Tudo na
até ao fim dos seus dias. condição de ser usufrutuário de to-

Cota: Cartório Notarial de Estremoz, liv. 317, f. 49 v.º e 50.
Página 35 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

Luís Manuel Rodrigues, um Em homenagem a todos aqueles Prússia Renana, a 15 de Agosto de
soldado alentejano que perdeu a que perderam a vida na 1ª Guerra 1918.
vida na 1ª Guerra Mundial Mundial destacamos como
documento do mês de novembro o No processo consta a certidão de
No dia 11 de novembro de 2018 processo de inventário óbito do inventariado, passada e
comemora-se o centenário da orfanológico, que decorreu no assinada pelo presidente da
assinatura do Armistício, acordo Juízo de Direito da Comarca de Comissão Portuguesas dos
que pôs fim ao conflito entre os Estremoz, por falecimento de Luís Prisioneiros de Guerra, comissão
Aliados e as Potências Centrais, Manuel Rodrigues, morador na criada com o apoio da Sociedade
colocando, oficialmente, um ponto freguesia de Santo António dos Portuguesa da Cruz Vermelha,
final na Primeira Guerra Mundial Arcos, soldado da 3ª Companhia segundo a informação que constava
iniciada em 1914. do Regimento de Infantaria nº 1. O da Lista oficial P.P. 936, organizada
inventariado deixou viúva Ana de pelo Ministério da Guerra
No dia 11 de novembro de cada Jesus Tempero e órfã uma filha de prussiano em 26 de setembro de
ano, em vários países, presta-se dois anos de idade. 1918.
homenagem a todos os que
combateram na Primeira Guerra O inventariado faleceu, como Célia Malarranha
Mundial e aos que perderam a vida prisioneiro militar dos alemães, no Assistente Técnica
nos campos de batalha. hospital permanente de Colónia, Arquivo Distrital de Évora

Cota: Tribunal da Comarca de Estremoz, Cx. 184, doc. 1897
Página 36 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

No mês de dezembro de 2018 O artigo nº 13 da Declaração
divulgamos a “Relação dos Universal dos Direitos Humanos
cidadãos nacionais a quem foram refere que “Toda a pessoa tem o
conferidos e visados passaportes direito de livremente circular e
para se deslocarem dentro do país”, escolher a sua residência no
datada de 3 de junho de 1835. Este interior de um Estado”. Contudo,
documento integra a mostra em Portugal houve épocas em que
documental intitulada “Direitos não era possível transitar
Humanos no Distrito de Évora – livremente no espaço nacional sem
Um Olhar sobre o Passado”, obter autorização.
realizada no âmbito das
comemorações dos 70 anos da Célia Malarranha
Declaração Universal dos Direitos Assistente Técnica
Humanos e dos 40 anos de Adesão Arquivo Distrital de Évora
de Portugal à Convenção Europeia
dos Direitos Humanos, patente no
Arquivo Distrital de Évora entre 26
de novembro de 2018 e 31 de
janeiro de 2019.

Cota: GCEVR/H/D/003, Cx. 1, mç. 1, doc. 16
Página 37 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

DOCUMENTO

DO MÊS 2019

Índice

Para recordar o esforço Geral do Arcebispado de Évora Paulina Araújo
concretizado para o aumento da aludisse às Preladas dos conventos Técnica Superior
criação do bicho-da-seda de religiosas para nas respetivas Arquivo Distrital de Évora
destacamos, como documento do cercas plantarem amoreiras, tal
mês de janeiro, um ofício da como tinham feito as recolhidas do
repartição dos Negócios Ecle- Convento de Odivelas, em Lisboa.
siásticos com uma ordem datada de
10 de janeiro de 18431, do Durante a segunda metade do
Ministério do Reino. Através desta século XIX houve um elevado
é ordenado a todos os governadores crescimento de plantação de
civis dos distritos administrativos amoreiras em Portugal, tendo como
do Reino que incentivassem a principal objetivo a criação do
plantação de amoreiras e que bicho-da-seda. Este aumento esteve
notificassem as câmaras muni- ligado à doença que afetou o bicho-
cipais para o fazerem nos terrenos da-seda em França e Itália, razão
da sua administração. Nela consta pela qual estes países passaram a
ainda que o Vigário abastecer-se do fio da seda em
Portugal (Matos, 2002)2.

Cota: Câmara Eclesiástica de Évora. Correspondência. 1843 (dc.2; mç. 11; cx. 2).

1Arquivo Distrital de Évora. Câmara Eclesiástica de Évora. Correspondência. 1843 (dc.2; mç. 11; cx. 2). In Araújo,
Paulina. Câmara Eclesiástica de Évora: Inventário. Tese de Mestrado em Ciências da Informação e da Documentação.
Universidade de Évora. Évora.2013.
2 Matos, Ana Cardoso. Indústria e ambiente no século XIX. Ler História 42. 2002. [em linha] [Consultado em 04 de janeiro
de 2019] Disponível na internet: https://dspace.uevora.pt/…/Indústria%20e%20ambiente%20no%20século%20XIX.pdf

Página 39 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

Para o documento do mês de onde faleceu estaria localizada em de Oliveira, e aos seus
fevereiro destacamos o livro de Castela ou em território descendentes. Segundo as notas do
registo dos autos de contas da pertencente ao império de D. provedor Bernardo José de Lemos,
receita e despesa da Capela Carlos V. O testador menciona ser a capela de Álvaro Rodrigues fazia
instituída pelo Deão Álvaro “ …vezinho da Villa de Estremoz parte das Capelas da Coroa,
Rodrigues, que tomaram André que he no Rejno de Portugal…”. provavelmente pela inexistência de
Machado, Estêvão Fragoso sucessores legítimos do testador e,
Ribeiro, Valério Galvão de Uma das disposições do testador como o mesmo determinara, “…e
Quadros, João de Sequeira e Sousa, foi que o seu corpo fosse sepultado he minha vontade e mando que
Custódio Gomes Monteiro, Miguel na Igreja de São Salvador da villa fique aprover dos Reis de
Lopes Caldeira Artur, José António de Sevollo mas que, mais tarde, os Portugal…”.
Calado, João Inácio de Brito e seus restos mortais fossem
Abreu e Bernardo José de Lemos trasladados para Portugal e Outra referência interessante é o
Viana, provedores das Comarcas de depositados na capela que mandava facto de Álvaro Rodrigues
Évora e Estremoz, referentes aos edificar e ornamentar, com mencionar que possuía quatro
anos de 1741 a 1780. invocação de Nossa Senhora da igrejas em Portugal, possivelmente
Conceição, na primitiva Igreja de ligadas ao padroado real, sendo a
Álvaro Rodrigues foi capelão da Santo André na vila de Estremoz. Igreja de Santa Maria de
corte de D. Manuel I e de D. João Para a concretização da capela Rebordões, a Igreja de São
III, mentor da educação literária e mandou que dos seus bens e Martinho dos Moutais, a Igreja de
religiosa da Infanta D. Isabel de fazendas se retirassem mil São João de Parada e a Igreja de
Portugal, filha de D. Manuel I e de cruzados, que os mesmos fossem São Miguel de Vila Boa, que lhes
D. Maria. Após o casamento da empregues na compra de “… deixava “vestimenta de damasco
infanta com o Imperador Carlos V fazendas de raiz…” e que os negro com suas sanefas de veludo
(Carlos I de Espanha) acompanhou rendimentos delas perpetuassem a negro ou de cores com suas Alvas e
a comitiva da jovem imperatriz dita capela. O testador deixa todo seu aparelho”.
para Castela. expresso que na capela se rezassem
missas pela sua alma, pela alma Álvaro Rodrigues, também
No testamento, que se encontra dos seus familiares, pela alma da denominado nos autos de contas
transcrito no início do livro, refere imperatriz e dos seus ancestrais. como Álvaro Rodrigues Canelas,
ter sido “…Deão e esmoller que fui nomeou sua herdeira de universal e
da Imperatriz …Mestre dos Delegou ao Dr. Jorge de Oliveira, usufrutuária de todos os bens sua
Infantes de Castela…”. O seu sobrinho, que mandasse fazer a irmã Brites Rodrigues, moradora
testamento foi redigido a 12 de obra e que fosse o “Patrão” da dita no termo de Estremoz.
junho de 1540, na “…villa de capela, que nomeasse o capelão e
Sevollo…” (no documento também que mandasse rezar missas Nos autos de contas consta o nome
aparece manuscrito villa de segundo a sua disposição, o mesmo das propriedades que foram
Savollo), pressupondo-se que a vila pedia ao filho do mesmo, Rodrigo adquiridas para patronear a capela
instituída. Pela breve análise que se
fez nas contas tomadas pelos
provedores ao longo de 39 anos
constatou-se que as propriedades
foram bem administradas pelos
seus donatários, que aumentaram o
seu património e os rendimentos
foram sempre superiores à despesa
das mesmas.

Célia Malarranha
Assistente Técnica
Arquivo Distrital de Évora

Cota: Provedoria da Comarca de Évora e

Estremoz, Capelas, Estremoz, cx: 6,
doc. 1.

Página 40 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

Para documento do mês de março, ranca do seio de uma família um Célia Malarranha
mês em que se comemora o “Dia pai querido, um benfeitor Assistente Técnica
do Pai”, destacamos uma carta extremoso e um amigo sem Arquivo Distrital de Évora
pessoal pertencente à Sociedade igual.”“Neste lance aflitíssimo,
Vianense. A missiva foi dirigida quasi que o crente se torna em
aos sócios da sociedade por Inácio sceptico, o homem religioso em
Avelino Gomes, sócio efetivo da irreligioso, não lembrando, que
mesma, na qual agradeceu o apoio tudo neste mundo não é mais do
dos consócios pela homenagem que um bem transitório, uma
prestada em honra de seu pai felicidade apparente…”.
Neutel Gomes, sócio fundador da
sociedade, falecido a 9 de julho de Através da interpretação da escrita
1867. cuidada e culta do autor percebe-se
que obteve uma boa educação
Inácio Avelino Gomes utiliza no escolar e religiosa. Salientamos
texto palavras emotivas, repletas de que o ADE possui o processo de
dor, de mágoa e de revolta pela habilitação de Inácio Avelino
perda do pai, chegando mesmo a Gomes, que ingressou na vida
questionar a própria fé. religiosa no ano de 1859 e ficou
apto para presbítero em 1863. No
“(…) Neste grande turbilhão de final da carta o autor não assinou
ideias sinistras só se me apresenta como padre, possivelmente por se
a morte, esse monstro horrível, que dirigir ao seu círculo de amigos.
com as sanguinolentas garras ar-
Data: 15 de julho de 1867

Cota: F: Cartório Notarial de Viana do Alentejo, Sr: 012, UI: 0040 – Documentos da Sociedade Vianense,
Pt. 120, mç. 164, doc. 12

Página 41 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

O documento em destaque no mês – Francisco Guedes de Carvalho e – Fernando António Rodrigues
Menezes da Costa, 1º Visconde de Teixeira Mourão e Luís Augusto
de abril é a escritura que efetivou a Guedes, como presidente da Pimentel Pinto, como vogais
Assembleia Geral da Companhia efetivos do conselho fiscal da
constituição da sociedade anónima Eborense; companhia;

de responsabilidade limitada – João Baptista Rolo, como vice – José Maria de Sousa Matos,
presidente da companhia; Gaspar Falcão Costa de Bourbon e
denominada “Companhia Menezes, Gaspar Teixeira de Sousa
– Dr. Henrique da Cunha Pimentel de Magalhães e Lacerda, como
Eborense”, fundadora do Teatro e Leopoldo César de Noronha vogais suplentes do conselho fiscal
Gouveia, como secretários da da companhia;
Garcia de Resende. A escritura foi assembleia geral da companhia;
– Dr. Francisco Inácio da Calça e
redigida pelo tabelião Joaquim – Joaquim Avelino Machado, como Pina, Dr. José Francisco da Gama
tesoureiro da companhia; Freixo e Manuel José Carreta,
Maria Pinto a 1 de abril de 1881 na como vogais efetivos do conselho
– José Maria Ramalho Dinis dramático;
Rua Vasco da Gama, nas Perdigão, Dr. Tomás Fiel Gomes
Ramalho, Joaquim Sebastião – Gabriel Victor do Monte Pereira,
instalações do Círculo Eborense. Limpo Pimentel e Inácio da Jerónimo José de Sales Lobo e
Conceição Ferreira, como diretores Augusto Cândido de Campos Enes,
Foram outorgantes um grupo de efetivos da companhia; como vogais suplentes do conselho
cidadãos eborenses, pertencentes à dramático.
elite local, que se uniram para – Augusto César Franco,
fundar um teatro em Évora. Os Domingos António Fiúza, Dr. João Célia Malarranha
mesmos cidadãos, com autorização António de Carvalho, Simão da Assistente Técnica
dos acionistas da companhia e Fonseca Lemos Monteiro, Arquivo Distrital de Évora
porque estavam reunidas todas as Francisco Xavier Rosado, como
condições exigidas no art.º 4º da vogais suplentes da direção da
Lei de 22 de junho de 1867, lei que companhia;
estabeleceu em Portugal a
regulamentação das sociedades
anónimas de responsabilidade
limitada, quiseram através de
escritura pública legalizar os
estatutos da “Companhia
Eborense”.

Os membros da companhia que no
final da escritura assinaram foram:

Cota: Cartório Notarial de Évora, liv. 1957, f. 93vº a 97 vº
Página 42 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

O documento em destaque no mês Senhora do Monte, a Freguesia de Paulina Araújo
Santa Maria do Castelo, matriz da Técnica Superior
de maio é um trabalho efetuado em vila de Alcácer do sal e a Freguesia Arquivo Distrital de Évora
de Santiago
1873, por José Quaresma de Paula,
No referido questionário os
Vigário da Vara de Alcácer do Sal e párocos tinham de responder a
questões sobre as confrontações de
dedicado ao Doutor Abel Martins cada freguesia, se tinham
residência paroquial e o seu estado,
Ferreira, Cónego da Sé de Évora. se tinham cemitério, quantos e
quais os altares que existiam nas
Este livro a que deu o nome de paróquias, quantas irmandades
havia, que livros faziam parte do
Noticiário, é o resultado de uma registo paroquial e o seu estado,
descrições dos paramentos e
preocupação do Prior e Vigário da alfaias, o número de fogos e de
indivíduos, o número de ermidas
Vara José Quaresma de Paula, para anexas e as festas que se
celebravam em cada paróquia e,
que ficasse registado para os ainda, descrever os emolumentos
pagos aos párocos, aos sacristães e
futuros párocos os emolumentos, aos tesoureiros pela realização de
missas, por repiques e sinais, por
usos e costumes praticados nas batizados, por funerais e por
casamentos descrevendo a quantia
paróquias e ainda, segundo ele, em dinheiro e em géneros (milho,
trigo ou centeio, vinho, azeite,
para servir de norma e também galinhas e gado).

para prestar esclarecimentos às

autoridades eclesiásticas,

administrativas, civis e judiciais

quando fossem necessários.

Tendo por base essas razões enviou

um questionário a todos os párocos

da sua vigararia, da qual faziam

parte: a Freguesia de São Romão

do Sado, a Freguesia de São João

Batista de Palma, a Freguesia de

Santa Susana, a Freguesia de São

Martinho, a Freguesia de Santa

Catarina de Sítimos, a Freguesia de

Montalvo, a Freguesia de Nossa

Cota: F: Arquivo Distrital de Évora. Câmara Eclesiástica de Évora. Correspondência. 1873.
Página 43 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

Neste mês de junho destacamos as músicos e personagens a pé e a das questões sociais que interessam
comemorações do 7º Centenário cavalo; o cortejo fluvial no Tejo; o às classes operárias e às
das Festas de Santo António de arraial no Terreiro do Paço, desfavorecidas da fortuna, segundo
Lisboa (1195-1895) às quais se decorado para receber as os princípios do Evangelho e
associou o Congresso Católico filarmónicas, coros, danças e ensinos do Sumo Pontífice
Internacional de Lisboa, realizado estudantinas, entre outros Romano, o Vigário de Cristo”.
nos dias 25 a 28 de junho1. divertimentos; uma regata
internacional; festa veneziana no Mas, de acordo com António
As festas foram organizadas pela Tejo; corridas de touros na Praça
Grande Comissão Central de de Algés e na Praça do Campo Ventura2 “um programa com tal
Lisboa, criada para o efeito e Pequeno; espetáculo de gala no
instalada a 13 de junho de 1894. Teatro D. Amélia; batalha de magnitude não deixaria de suscitar
Tinha como presidente honorária a flores; festa da infância, onde foi
rainha D. Amélia, como presidente inaugurado o Asilo-oficina de reações desencontradas na
a marquesa de Fronteira e de Santo António (Bairro Andrade);
Alorna e como secretário António inauguração da Vila de Santo sociedade portuguesa”. Desde logo
J. Simões de Almeida. Desta António (situada entre a Junqueira
comissão faziam parte muitas e Santo Amaro); e fogos de houve um ataque anticlerical por
individualidades da aristocracia artifício.
como, por exemplo, os duques de parte da imprensa e foi até
Palmela, a duquesa de Ávila e de A par destas festividades realizou-
Bolama e o duque de Loulé e, se em São Vicente de Fora, entre os realizado um congresso anticlerical
ainda, políticos, religiosos e outras dias 25 e 28 de junho, o Congresso
personalidades como Feliciano Católico Internacional, enquadrado que decorreu na Federação das
Bordalo Pinheiro. na dinâmica de fortalecimento do
movimento católito inspirado na Associações de Classe, na rua
As festas dispunham também de incíclica Rerum Novarum do Papa
uma comissão executiva formada Leão XIII. A comissão Benformoso. A maioria eram
pelo marquês de Pombal, como organizadora foi presidida pelo
presidente, pelo conde de Ávila, Cardeal Patriarca, D. José socialistas aos quais se juntaram,
como secretário, e pelo conde de Sebastião de Almeida, e teve como
Burnay, como tesoureiro, e, ainda, vice-presidente o Arcebispo de segundo António Ventura, “órgãos
pelos vogais, marquês de Fronteira, Mitilene. Integraram-na outras
Júlio Augusto de Oliveira Pires, e individualidades como o marquês de imprensa aderentes como a
Carlos da Silva Pessoa. de Pombal, o duque de Ávila e o
duque de Burnay. Vanguarda, A Batalha, onde
Desde o dia 12 até ao dia 30 de
junho, de acordo com o programa, Para o congresso foi criado um pontificava Heliodoro Salgado, O
desenrolam-se um leque de Regulamento. O seu artigo 1º
iniciativas, tais como: um Grande definia os objetivos, a saber: Dia, animado pelo republicano e
Cortejo em homenagem a Santo “reunir os católicos de boa vontade
António com carros alegóricos para acordarem nos meios de maçon Gomes das (sic) Silva, A
sobre Virtudes, Ciências, Belas arraigar a fé, e desenvolver as
Artes, Exército, Marinha, Colónias, obras de religião, caridade, Federação, porta-voz do grupo de
Imprensa, Comércio, Agricultura, educação, associação e liberdade
Pesca e outros, acompanhados por cristã, bem como para se ocuparem Azedo Gneco, e dos jornais

socialistas relativamente

equidistantes entre «possibilistas»

e «marxistas», A Voz do Operário e

A Obra. De registar ainda a

presença do jornal anarquista

Propaganda”.

No dia 28 de junho, em simultâneo
com o congresso anticlerical,
foram provocados distúrbios
durante o cortejo quando
anarquistas lançaram centenas de
impressos com o título «Os
Anarquistas ao Povo Trabalhador
— Abaixo a Reacção», Suplemento
do n° 61 do jornal Propaganda.
Tratava-se de um violento artigo
defendendo os princípios
anarquistas3. Dos distúrbios
resultaram várias prisões.

1Arquivo Distrital de Évora. Câmara Eclesiástica de Évora. Paulina Araújo
Correspondência.1895 (mç. 81; cx. 14). Técnica Superior
2António Ventura. A Contestação do Centenário Antoniano de 1895. p. 370 [em Arquivo Distrital de Évora
linha] [consultado em 27-05-2019] na Internet:
https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/4936/1/LS_S2_08-9_AntonioVentu
ra.pdf

3 Ibidem, p. 373.

Página 44 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

Cota: Arquivo Distrital de Évora. Câmara Eclesiástica de Évora. Correspondência.1895 (mç. 81; cx. 14).
Página 45 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

O documento do mês de julho é ria e outros produtos, tais como: barris, latas ou a granel que
dedicado a António Anselmo Dias, algodão para meias, bacalhau, chá abastecia grande parte da
um dos maiores comerciantes da canto, feijão, grão de bico, população, utilizado no uso
cidade de Évora dos finais do séc. manteigas de vaca (de Nandufe, doméstico, nomeadamente nos
XIX. Pioneiro no desenvolvimento Praia d’Ancora, Valpedre, Santo fogões e candeeiros.
das grandes superfícies comerciais, António e Conselheiro de Miguel
tinha o seu estabelecimento, Dantas; fornecidas ao quilo ou em Este estimado comerciante, bem
designado por “Centro Industrial e barris), banha de porco, toucinho e conhecido de todos os eborenses,
Comercial”, sediado no número carnes ensacadas, rebuçados, tripa era natural da freguesia do Cano,
136 da rua João de Deus. de porco e tripa de vaca, farinhas, concelho de Sousel, nascido a 9 de
tabacos, sabão, papelaria, fósforos, janeiro de 1857. Era filho de
Este possuía Fábrica a Vapor de papel para fumar, ferragens (pás e Anselmo António e de Mariana
amêndoas de vários tipos e sabores forquilhas), quinquilharias, louças, Augusta, residente em Évora.
(lisas, com açúcar, aromáticas, vidros, licores, aguardentes, vinho Casou com D. Maria Amália de
torradas, finas, grossas, com cores, do porto, azeite, cereais e legumes. Sousa e Brito Maldonado Bandeira
cruas ou só com açúcar), em 1876, conforme consta no
chocolates (em paus de 40, 50, 100 Num tempo em que poucas eram as processo de casamento do fundo da
e 250 gramas e em rolo de 200 casas que tinham eletricidade, tanto Câmara Eclesiástica. Deslocou-se
gramas, variando o preço na cidade como em povoações várias vezes ao estrangeiro, como é
consoante a qualidade de 1ª até à próximas, salienta-se que António exemplo a viagem em negócios que
6ª), torrefação e moagem de café. Anselmo Dias era Agente da fez a Espanha e a França em 1916,
Dedicou-se ao comércio por grosso Colonial Oil Company, fornecedor conforme passaporte também
e a retalho de todos os artigos de de gasolina para carros e petróleo detido pelo Arquivo Distrital de
mercearia, fabricação de confeita- russo e americano, fornecido em Évora.

Francisca Mendes
Técnica Superior
Arquivo Distrital de Évora

Cota: Fundo da Santa Casa da Misericórdia de Évora, cx. 15, doc. 31.
Página 46 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

DOCUMENTOS

EM DESTAQUE

Índice

Aclamação da Rainha Após a assinatura do diploma D. de aclamação e reconhecimento da
D. Maria II Miguel I foi obrigado a abdicar do Rainha D. Maria II como rainha de
trono e a sair do país. Portugal. No documento constam
A 26 de maio de 1834 foi A 30 de maio de 1834 saiu da as assinaturas do presidente da
assinada, na vila de Évoramonte, cidade de Évora, onde se câmara, José Salema Cabral, dos
a Convenção de Évoramonte, que encontrava desde 21 de maio, com vereadores da câmara e dos
pôs fim à Guerra Civil destino a Sines para embarcar num representantes da nobreza, do clero
Portuguesa entre liberais navio de guerra britânico que e do povo.
(apoiantes de D. Maria II) e seguia para Génova. No mesmo
absolutistas (apoiantes de D. dia, no Senado da Câmara da
Miguel I). cidade de Évora, foi redigido o ato

Cota: AHMEVR, liv. 62, f. 41
Página 48 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

Dia do Artista No âmbito deste dia prestamos
homenagem ao pintor calipolense
Hoje, dia 24 de agosto, comemora- Henrique Pousão, de seu nome
se o Dia do Artista (ou Dia dos completo Henrique César de
artistas). Congratulamos todos Araújo Pousão, nascido a 1 de
aqueles que se expressam através janeiro de 1859, batizado a 15 do
da sua arte, qualquer que seja o mesmo mês e ano na Igreja de Sâo
campo em que se enquadram: Bartolomeu de Vila Viçosa, filho
artesãos, pintores, escultores, do Doutor Francisco Augusto
escritores, poetas, fotógrafos, Nunes Pousão e de Dona Maria
músicos, compositores, dançarinos, Teresa Alves de Araújo. Faleceu
atores, entre tantos outros que precocemente, na sua terra Natal, a
todos os dias deixam, ou deixaram, 20 de março de 1884.
o seu legado à comunidade.
Destacamos o registo de batismo
de Henrique Pousão.

Cota: Paróquia de São Bartolomeu de Vila Viçosa, liv. 23, fólio 34 vº
Página 49 | julho 2019 | Boletim do Arquivo Distrital de Évora

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