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Published by dsieq, 2019-11-12 05:32:51

700 Anos da Instituição da Ordem de Cristo Torre do Tombo

Nos 700 anos da Criação da Ordem de Cristo / 1319 – 2019


Arquivo Nacional da Torre do Tombo

Exposição

Outubro 2019 – Janeiro 2020



















1. Introdução; 2. a criação pontifícia da Ordem: os documentos datados de Avinhão de 14 a 16 de Março
de 1319; 3. da vinda das bulas e da sua régia aceitação e da ratificação dos compromissos delas constantes
assumidos pelos seus procuradores à instituição canónica da Ordem (5 Abr./Maio-18 Nov.); 4. a instituição
canónica da OC em 18 Nov.; os instrumentos públicos da instituição canónica requeridos pelo prior e pelo
abade de Alcobaça; 5. Dois documentos da semana seguinte à instituição: a quitação de D.Dinis e a primeira
Ordenação da Ordem (20 e 26 Nov.); 6. a pública forma da tradução em versão oficial portuguesa das bulas Ad
ea ex quibus e Desiderantes ab intimis feita, em 11 de Maio de 1320, pelo tabelião público Domingos Eanes por
ordem de D.Dinis.



1. Assinalados já que foram, em 14 de Março, os 700 anos da bula fundacional da Ordem
de Cristo, incumbe agora rememorar a instituição da mesma Ordem em 18 de Novembro, data
que assim se tornou o primeiro dia da sua existência.
Foi, com efeito, nesta data, que D.Dinis instituiu canonicamente a Ordem de Cristo e
que o primeiro mestre desta prestou homenagem de fidelidade ao monarca intuitu personae e
juramento ao papa nas mãos do prior de Alcobaça.
Tinham sido morosas, difíceis e delicadas as negociações, que mediaram entre a
perseguição dos Templários por Filipe o Belo e a extinção da Ordem por Clemente V, em 3 de
Abril de 1312, e a outorga em 14 de Março de 1319 pelo papa João XXII da bula Ad ea ex
quibus, pela qual erigia a Ordem da Cavalaria de Jesus Cristo, consagrando-lhe o património da
extinta Ordem do Templo.

A bula, negociada tenazmente pelos procuradores régios Pedro Peres e João Lourenço,
nomeados em 14 de Agosto de 1318, correspondia aos desejos de el-Rei D.Dinis, que em
estratégia longamente conjugada com os monarcas de Castela e Aragão, almejara que os bens da
Ordem do Templo em Portugal convergissem para uma Ordem nacional.

Mas, mediariam, ainda, sete meses e quatro dias entre a outorga da bula em Avinhão em
14 de Março e a sua concretização com a instituição da Ordem em Santarém em 18 de
Novembro, em percurso cujos principais passos, de Avinhão a Santarém, passamos a recordar.


 Documento exposto:

Nos 700 anos da Criação da Ordem de Cristo / 1319 – 2019
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Concórdia feita entre D. Dinis e D. Fernando de Castela pela qual ajustaram que querendo o
Papa dispor dos bens dos Templários e tirá-los da sua jurisdição e senhorio, obrigavam-se a
defendê-los e que nem um nem outro fariam avença com o dito Papa sem ambos serem ouvidos.
Serra sobre Aljezira, 21 de Janeiro de 1310 (Expositor 1)



2. Em três dias, 14 a 16 de Março de 1319, em Avinhão, João XXII, entre outras bulas
com que encerra a questão templária na Península, ultima o processo da criação da Ordem de
Cristo.

Três documentos em três dias concluem a acção papal no longo processo desta criação:
No dia 14 a bula Ad ea ex quibus, a instituidora; no dia seguinte a bula Desiderantes ab íntimis,
que nomeia D.Gil Martins, então mestre de Avis, mestre da Ordem de Cristo, que lhe ordena
preste juramento de fidelidade à Santa Sé nas mãos do abade de Alcobaça, e o dispensa da visita
de três em três anos a Roma; e por fim, no dia 16, as letras Venientes ad presentiam
comunicando ao rei ter tratado com os procuradores régios o negócio dos templários, tendo
acedido aos desejos do monarca, “quanto lhe foi possível”, conforme podia ver pela nota que
enviava pelo cavaleiro João Lourenço, para o monarca aprovar, e ratificar os seus
compromissos, enquanto o cónego Pedro Peres ficava na Cúria até à remissão ao papa da dita
ratificação.


 Documentos expostos:

Bula Ad ea ex quibus (Expositor 1, versões digitais da bula original e da sua transcrição no
Livro das escrituras da Ordem de Cavalaria de Nosso Senhor Jesus Cristo). A bula original
não pode ser exposta pela sua excessiva dimensão em relação às vitrines: 980 X 730 mm

Bula desiderantes ab intimis, de 15 de Março de 1319, remetida a Gil Martins (Expositor 2,
versão digital)


3. Partido de Avinhão, seguramente sem demora, o cavaleiro e procurador e emissário
João Lourenço, cavaleiro de Monsarás, chegou a Santarém onde se encontrava D.Dinis, com a
notícia dos termos da negociação e com a bula.
Em 5 de Maio, sábado, aceita D.Dinis a bula e ratifica, não esta como tem sido
afirmado, mas as doações e concessões feitas em seu nome pelos seus procuradores, na presença
do bispo de Évora D.Giraldo, de Afonso Sanches, senhor de Albuquerque e mordomo do rei (e
seu filho bastardo), e de João filho do sereníssimo senhor Afonso de Espanha, e doutras
personagens para o efeito chamados.

Recebida a bula fundacional e ratificados os compromissos régios dela constantes
impunha-se cumprir o primeiro passo para a erecção da nova Ordem. A entrega, por D.Dinis
dos bens que lhe estavam pontificiamente atribuídos: o castelo de Castro Marim, que o monarca
dera à nova ordem para sua sede, e todos os todos os outros “castelos, fortalezas, lugares e bens
e direitos”, provindos da Ordem do Templo, incluindo aqueles sobre os quais, tendo sido
objecto de litígio, o procurador régio “ganhara sentença”.



Diligenciará D.Dinis sequentemente o cumprimento do acordado pelos seus
procuradores. Em 28 de Outubro, ordena aos seus oficiais que façam um levantamento dos bens


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da Ordem do Templo para serem devidamente entregues: “Sabei que eu mando entregar todos
esses bens a D.Gil Martins, Mestre da Cavalaria da Ordem de Jesus Cristo […] e porque ele não
sabe onde esses bens são mando vos que façais saber ao mestre ou a quem ele vos mandar onde
são esses bens, e em que lugares”.



4. Concretizadas estas diligências, chegava a hora de dar início formal ao
funcionamento da Ordem com a sua instituição canónica. Aliás, quatro meses antes, no
Domingo 22 de Julho, Jaime II de Aragão fizera concorrer ao seu palácio de Barcelona o bispo
da cidade e várias personagens para dar princípio à Ordem de Montesa, cuja bula fundacional
era já de Junho de 1317. Talvez em Portugal o processo tivesse sido ainda mais célere, não
tivessem sido tão árduos para D.Dinis os meses seguintes com a dissensão de seu filho herdeiro.

A cerimónia veio a realizar-se no Domingo, 18 de Novembro, no paço real da Alcáçova
Nova de Santarém, onde hoje se ergue a igreja da Companhia adoptada no século passado para
Sé da diocese de Santarém. Perante quatro dos nove bispos portugueses – os de Évora, Guarda,
Viseu e Lamego – e outras categorizadas testemunhas, o confessor régio e prior do mosteiro
dominicano de Lisboa, leu as bulas Ad ea ex quibus e Desiderantes ab intimis. Depois Gil
Martins despiu o hábito de Avis e vestiu o de Cristo, assinalado com uma cruz, no altar da
capela régia, e prestou homenagem de fidelidade ao rei, intuitu personae como bem expressa a
tradução oficial dionisiana da bula: “E o juramento, e menagem sobreditos, queremos que
se façam ao dito rei, não por razão dos bens sobreditos, mais por razão da pessoa que o
juramento fizer, não ganhando o dito rei, pela dita menagem, nenhum direito nos ditos
bens;”, e, seguidamente (em ordem inversa ao disposto pontificiamente), prestou juramento ao
papa, tocando os Santos Evangelhos seguros pelas mãos do prior de Alcobaça e recitando a
fórmula prescrita no final da bula Ad ea ex quibus.


 Documentos testemunhais:
Não se encontram expostas
- nem o Instrumento notarial da fundação da Ordem da Milícia de Jesus Cristo por el-rei
D.Dinis, em Santarém, e do juramento prestado por seu primeiro Mestre, Gil Martins, redigido
por requisição do prior de Alcobaça e por mandado do rei, cuja cópia mais antiga (1439 ou
1440) se encontra na Alcobacense da BNP,
- nem a Carta do Abade de Alcobaça em que dá conta ao pontífice do ocorrido, datada de
Alcobaça, 20 de Fevereiro de 1320,
mas no colóquio que no dia 18 de Novembro ocorrerá na Torre do Tombo será particularmente
relembrada esta cerimónia.


5. Instituída a Ordem, dois e oito dias depois, a 20 e a 26, dois documentos datados das
casas na Alcáçova Velha de Santarém, outrora pertencentes à Ordem do Templo, vêm
complementar todo este processo:

- a carta de quitação, dada pelo Mestre e convento da Ordem de Nosso Senhor Jesus
Cristo, naquele que é presumivelmente o primeiro capítulo da mesma, a el-rei D.Dinis,
de todos os bens que este recebera da Ordem do Templo, agora doados à de Cristo pelo
papa, dados os grandes encargos que aquele assumira no processo de conversão da
Ordem do Templo em Ordem de Cristo: manutenção dos antigos mestre e freires
templários; as diligências diplomáticas junto da Santa Sé para a obtenção da nova
Ordem; a doação do castelo e vila de Castro Marim para cabeça da Ordem, a renúncia




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às pretensões de que obtivera sentença favorável de várias vilas e lugares outrora
pertencentes à Ordem do Templo.

- a primeira ordenação da Ordem de Cristo, sobre o “estado e regimento” da dita
Ordem, feita pelo recém-empossado mestre e pelo convento, que será “outorgada e
consentida” no mesmo dia pelo rei. Foi a primeira das ordenações, que seria seguida por
uma outra do mesmo mestre, datada de Lisboa, 11 de Junho de 1321, e por duas do seu
sucessor e sobrinho, que antes de eleito fora comendador mor, D.João Lourenço,
outorgadas pelo monarca respectivamente em Lisboa, 11 de Junho de 1321, Santarém, 1
de Fevereiro de 1323 e de Lisboa, 16 de Agosto de 1326.


 Documentos expostos:


Primeira ordenação da milícia feita ler e publicar por D. Gil Martins, mestre da Ordem e
convento, e outorgada e consentida por D. Dinis em 26 de Novembro de 1319 (Expositor 3,
vitrine)

Ordenação da Ordem de Cristo feita pelo mestre D. João Lourenço, pelo comendador mor,
cavaleiros e freires, e aprovação régia da mesma, em instrumento público notarial, datado de
Lisboa, 16 de agosto de 1326 (Expositor 3, versão digital)




6. Não nos parece inoportuno acrescentar ao referido que em 11 Maio, em
Santarém, na chancelaria do rei D.Dinis, na presença de Domingos Eanes, tabelião
delrei, Francisco Domingues, prior de Santa Maria da Alcáçova e chanceler do rei,
mostra um privilégio com fios de seda vermelhos e amarelos e com bola de chumbo do
papa João XXII, no qual se continha como o papa fez e ordenou a nova Ordem de
Cristo.

Mandava el-rei, dado alguns leigos e a maior parte dos freires da dita ordem
(sublinhado nosso) não entenderem latim, traduzi-la em linguagem para o entenderem
todos melhor e para saberem os frades guardar a ele e ao papa as cousas que são
contidas.
Lida aquela “en nossa linguagem”, o chanceler mostrou em seguida, a bula
Desiderantes ab intimis, da qual consta a nomeação do primeiro mestre e o privilégio
pelo qual o papa fez especial graça ao mestre “que hora he” e aos que depois dele
vierem de os dispensar de ir, de três em três anos visitar a corte de Roma, a qual se
impunha também traduzir.
E assim o cumpriu o tabelião Domingos Eanes…


 Documento exposto:


 Pública forma da tradução em versão oficial portuguesa, das bulas Ad ea ex quibus e
Desiderantes ab intimis, datada de Santarém, 11 de Maio de 1320 (Expositor 2)



Madalena e Fernando Larcher






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Nos 700 anos da Criação da Ordem de Cristo / 1319 – 2019
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Bula Ad ea ex quibus, de João XXII, 14 de Março de 1319


ANTT, Gavetas, Gaveta 7, maço. 5, doc. 2






DOCUMENTOS EXPOSTOS





EXPOSITOR 1

Em Vitrine

> Concórdia feita entre D. Dinis e D. Fernando de Castela pela qual ajustaram que querendo o Papa
dispor dos bens dos Templários e tirá-los da sua jurisdição e senhorio, obrigavam-se a defendê-los e que
nem um nem outro fariam avença com o dito Papa sem ambos serem ouvidos. Serra sobre Aljezira, 21 de
janeiro de 1310.

ANTT, Gaveta 7, maço 4, nº 9

Em Versão Digital

> Bula "Ad ea ex quibus" do papa João XXII, pela qual institui a Ordem de Cavalaria de Nosso Senhor
Jesus Cristo / Avinhão, 14 de março de 1319

ANTT, Gavetas, Gaveta 7, maço. 5, doc. 2

> Livro das Escrituras da Ordem de Cavalaria de Nosso Senhor Jesus Cristo, contendo a Bula "Ad ea ex
quibus" (fs. 32-35) e respectiva ratificação régia (f. 35-35v.) / 1560 a 1568


ANTT, Ordem de Cristo e Convento de Tomar, livro 234






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Nos 700 anos da Criação da Ordem de Cristo / 1319 – 2019
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EXPOSITOR 2

Em Vitrine

> Pública-forma da tradução em versão oficial portuguesa, das bulas do Papa João XXII, "Ad ea ex
quibus", bula fundacional da Ordem de Cristo e "Desiderantes ab intimis" bula que nomeia D. Gil
Martins, primeiro mestre da Ordem de Cristo, datadas de Avinhão em 14 e 15 de março de 1319, feita
pelo tabelião público Domingues Eanes a mando de D. Dinis. Santarém, 11 de Maio de 1320 /
Santarém, 11 de Maio de 1320

ANTT, Gaveta 7, maço 8, doc.5, f.1


Em Versão Digital

> Pública-forma da tradução, em versão oficial portuguesa, das bulas do Papa João XXII, "Ad ea ex
quibus", apresentada na vitrine.

> Bula "Desiderantes ab intimis", dirigida a Gil Martins, mestre da Ordem de Avis, nomeando-o mestre
da Ordem de Cristo e ordenando-lhe que ele e seus sucessores prestem juramento de fidelidade à Santa Sé
nas mãos do abade de Alcobaça, dispensando-o como aos seus sucessores da visita a Roma de três em
três anos. / Avinhão, 15 de Março de 1319

ANTT, Gavetas, Gaveta 7, maço 11, doc. 5




EXPOSITOR 3

Em Vitrine

> Primeira ordenação da milícia feita ler e publicar por D. Gil Martins, mestre da Ordem e convento, e
outorgada e consentida por D. Dinis / 26 de Novembro de 1319

ANTT, OC/CT, Documentos Particulares, mç 2, doc.2 (inserto em doc. de 28 de Junho de 1321).

Em Versão Digital


> Ordenação da Ordem de Cristo feita pelo mestre D. João Lourenço, pelo comendador mor, cavaleiros e
freires e aprovação régia da mesma, em instrumento público notarial. / Lisboa, 16 de Agosto de 1326

Pergaminho com os selos do mestre e o do convento, de cera, pendentes de cordão vermelho,
observando-se no meio dos dois a furação correspondente ao desaparecido selo régio

ANTT, Gavetas, Gaveta 7, maço 13, doc.27













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