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Oficina de Escrita

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Published by dora.ferreira, 2022-07-02 12:57:20

Revista

Oficina de Escrita

Keywords: Revista,Oficina de Escrita,Escola Secundária Dr. João Lopes de Morais,Escola Básica 2,3 Dr. José Lopes de Oliveira,Agrupamento de Escolas de Mortágua,Biblioteca Municipal de Mortágua

1

Ficha técnica Oficina de Escrita

Rede de Bibliotecas de Mortágua 2021/2022 Na oficina, a escrita e a interpretação são
Agrupamento de Escolas de Mortágua apresentadas como instrumentos de
Turmas: 6os. A, B e C. 7os. A, B e C. 10os. A, autonomia, reflexo de nós mesmos, a que
B e C/D importa dar a maior atenção. As sessões
Textos de Adriana Abreu, Afonso Mateus, poderão ser vistas como uma experiência
Afonso Rodrigues, Ana Luiza Rodrigues, Anita de viagem, diferente do habitual, há
Brito, Adriana Abreu, Ana Margarida André, Bia alguma coisa nova que chega e fica,
Pereira, Bruna Matos, Carolina Costa, Cláudia enriquecendo. No percurso, utilizamos
Pereira, Daniela Soares, Daniel Cadete propostas de várias correntes artísticas,
Santos, Débora Lopes, Dinis Carvalho, Dinis tanto quanto possam ser úteis ao
Silva, Diogo Martins, Edgar Duarte, Eva propósito e contexto. O riquíssimo
Abrantes, Francisco Rosa, Gabriela Neves, universo de Tomás da Fonseca foi
Gabriela Pereira, Gabriela Ruas Lopes, Gil da evocado num dos exercícios,
Silva Jorge, Guilherme Martins, Guilherme abundantemente aqui reproduzidos.
Rodrigues, Isabely Brito, Jéssica Pereira, Finalizada cada etapa da viagem,
Joana Loureiro, Joana Rocha, João Simões, partilhamos a experiência de cada um
José Soares, Lara Almeida, Lara Oliveira, através da leitura dos exercícios ou da
Leonor Ribeiro, Lara Silva, Lucas Ferreira apresentação das colagens. Mais tarde, a
Rodrigues, Maria Costa, Maria Gaspar, Maria partilha alarga­se à comunidade, sabendo
Frade Mendes, Maria Oliveira Curto, Maria que o mais importante foi cada um ter
Mendes, Mariana Costa, Mariana Neto, percorrido o caminho.
Mariana Rodrigues, Marta Silva, Matilde O critério utilizado para a escolha dos
Castanheira, Matilde Morais, Matilde dos Reis exercícios aqui apresentados, face ao
Martins, Matilde Martins, Mónica Ribeiro, espaço disponível, foi o de uma seleção
Rafael Gomes, Rafael Lobo, Rafaela Mendes, representativa das turmas participantes,
Rúben Almeida, Sandra Silva, Tiago Almeida, sem perder de vista a ideia de unidade e
Tiago Dinis Bino e Tiago Silva de identidade editorial. Os exercícios
Coordenação editorial: Luís Neves Chaves realizados pelos alunos estão disponíveis
Paginação e capa: Dora Ferreira na Internet.
Revisão: Maria da Encarnação Rodrigues e Tanto quanto possível, a edição, quando
Maria Lisete Pais foi necessária, procurou intervir com o
Impressão e financiamento da Oficina de mesmo material de que era feito o texto,
Escrita: Município de Mortágua em diálogo com o imaginário evocado.
Endereço eletrónico com os conteúdos da O processo de interação e recolha dos
oficina: https://padlet.com/ textos, edição, revisão, paginação, tal
doraferreira1/2f5tkepu20johft1 como acontece nos fechos de edição com
data marcada, não é indiferente ao
2 resultado final.
As sessões da oficina decorreram em
ambiente gratificante de criação e partilha.
O trabalho, em cooperação com as
equipas da rede de bibliotecas e as
respetivas coordenações, professores,
Agrupamento Escolar e Biblioteca
Municipal, se pudesse traduzir­se numa
imagem seria a dos jardins imensos da
escola.
Quanto à riqueza de imaginários que
percorrem as próximas páginas, o sumário
apenas insinua uma aproximação.
Boas leituras!

Luís Neves Chaves

Sumário

Uma árvore suspensa, plana na parte superior, onde se formou um jardim.
Dois participantes que afirmam terem visto o personagem num Titanic mais pequeno.
A estrela da maior aventura.
Um cão que continua com antenas e de cor azul.
Frases voando ao som do vento.
Ir a Lisboa sem saber bem como.
Acordar e ver um elefante com asas.
O Donald que acorda sem a pata.
A Rapariga da Selva.
Uma idosa que seguia o noticiário em casa.
Um gato preto que simplesmente pergunta se ele estava à espera de algo acontecer.
Um cão que corre monte abaixo em direção à casa da Luísa.
Risco de a eletricidade ser cortada.
Numa noite, cheias de saudade do mar.
Três cavadelas num terreno.
Cores que desaparecem de uma camisola.
Uma árvore dragão do luar e um pirata numa constelação de estrelas.
Atrair um grupo de lontras até ao rio para que se embrulhem com os jacarés.
Sair do jogo e voltar ao normal.
A melhor amiga, Débora, a alforreca.
Ruas molhadas ou as cadeiras de uma esplanada a arder.
Neblina ao longe, sobre os palheiros da Torreira.
Adormecer aos poucos com o barulho, o cheiro e a brisa do mar.
— Ó Ana, decide­te! Ou vens ou ficas?
Situando­se, agora, as luas no céu, e deitar­se satisfeito.
Encontrar o dono da fada.
Uma lente que se levantou às 8h00.
Ir parar acima de um armário cheio de pó.
Engenheiros que não querem ir embora da Lua.
Um pastorinho que vivia na cidade de Toronto.
Fazer pão para ele e para o cão.
Acordar estranhamente leve, branca e feita de penas.
Mandar bocas e recados.
Ironia picante como o espinheiro bravo.
Lançar migalhas de broa.
Ouvir uma voz sair do alçapão.
Ligar totalmente carregado e cheio de notificações.
Uma clareza e uma graça que encantam.
Cinco extraterrestres a descer de uma bola.
Perseguir com uma motorizada Sachs V5.
Escapar à polícia numa quinta de trator.
Pneu ferido por um poste.
Nascer uma macieira ao pé de casa.
Ser livre.
Dar conta de dois folhetos de cordel em dois serões.

...Tinta que corre pincel abaixo em direção à pintura.

Magazines chiques e importantes como o “Daily Mail” e o “Tea is with Us”.

3

Aventura a como ultrapassar o obstáculo, lembrámo­
quatro nos de que os jacarés têm medo das
lontras, e de que estas dificilmente atacam
No início de uma tarde obscura, nós os os humanos, visto a sua dieta ser à base
quatro, o Rúben, o Afonso, o Guilherme e de peixe e répteis. Depois, foi só atrair um
o Tiago, estávamos a andar na rua e grupo de lontras até ao rio e, enquanto
encontrámos um monitor estranho, que elas se embrulhavam com os jacarés, nós
nos despertou imensa curiosidade. Logo atravessámo­lo rapidamente, sem um
nos apressámos a ir para casa dos único beliscão.
gémeos, Guilherme e Afonso, para o ligar. Então, só faltava encontrar a joia.
Já em casa, ligámos o monitor à televisão Avistámo­la mal entrámos na gruta, e
e, como que por magia, começámos a corremos para a apanhar. Assim que lhe
entrar num jogo lentamente e... tocámos, saímos do jogo e voltámos ao
adormecemos. normal. Tinham decorrido apenas quarenta
Quando acordámos, éramos peças do e oito horas.
jogo, estávamos no meio de um imenso Agora, só pensamos: «Terá sido isto
campo, onde apareceu um homem. “Têm realidade?», «Terá sido um sonho, que os
setenta e duas horas para voltar à quatro tivemos em simultâneo?» ou...
realidade!”, avisou, em tom de ameaça. «Terá sido uma magia lançada sobre nós,
Durante esse tempo, precisávamos de para nos apercebermos do valor da
aceitar um desafio e encontrar uma joia entreajuda?».
escondida numa gruta. Para além disso,
durante a procura teríamos de enfrentar Afonso Rodrigues, Guilherme Rodrigues,
diferentes obstáculos. O primeiro era o Rúben Almeida e Tiago Almeida, 6º B
facto de cada um de nós ter três vidas
virtuais e, caso as perdêssemos ou Olá, o meu nome é Riscas Manel
deixássemos que um dos outros as Alcino Pereira. Hoje, vou contar­
perdesse, nunca mais voltaríamos ao
normal. vos o dia em que eu desapareci. Então, de
Então, lá fomos os quatro, destemidos, manhã, quando a minha mãe abriu a porta,
rumo à aventura. Passadas umas horas, saí logo sem ela perceber. Fui ter com o meu
apareceram cinco “zombies” mortinhos amigo Gambuzino e fomos passear. Ensinei­
para nos devorarem. Arremessámos lhe um caminho que a minha avó e o meu avô
abóboras, batatas e beterrabas, que havia sempre fizeram, mas perdemo­nos e fomos
ali à volta, e, enquanto eles devoravam a parar a um rio. Como eu odeio água!
comida, aproveitámos para fugir. De Voltámos para trás, mas já não nos
repente, o Tiago escorregou, caiu e quase lembrávamos do caminho.
perdeu uma vida, mas, como somos um Agora fomos para a Lisboa, ainda não sei
grupo de entreajuda, corremos em seu bem como. Por aqui, as coisas são muito
auxílio, e ele escapou sem um arranhão. diferentes, mas tenho adorado.
Continuámos a nossa jornada em direção Estou com saudades da minha mãe, se eu
à gruta. Do nada, apareceram muitos pudesse voltava para casa.
pássaros, que nos queriam picar.
Baixámo­nos ao pé dos troncos das Ana Margarida André, 6º A
árvores e, enquanto isso, o Rúben, que
corre bastante rápido, foi em direção a
uma plantação de milho, atraindo os
pássaros para o local. Escapámos, mais
uma vez, à perda de uma vida.
Prosseguimos em busca do nosso
objetivo, até que avistámos a gruta. No
entanto, para a alcançar, tínhamos de
passar um rio cheio de jacarés
aterrorizadores. Enquanto pensávamos

4

E, numa noite, cheias de saudade do mar Olívia. – Esse tão importante livro que te faz tão
sábia, minha querida, a virtude do saber é tão
a que pertencem, embarcaram no navio que por maravilhosa que nunca é demais.
muito já navegou, perto de campos e edifícios, ilhas E então, quando Olívia e Leonor se retiraram, os
e portos. companheiros cochicham e discutem o que haveriam
E, agora, acompanhadas de longe pelo relato das de fazer, pois haviam descoberto que estas duas
notícias nos aparelhos televisivos e das revistas jeitosas jovens eram duas bruxas. A melhor opção
modernas, tais como os magazines chiques e era devolver o livro de feitiçaria e a água benta, que
importantes das imprensas nacionais, como o “Daily acharam dentro de um frasco no chão, mas, após
Mail” e o “Tea is with Us”, fala­se das duas raparigas longos minutos de ponderação, eles pegaram nos
em alto mar. objetos e atiraram­nos ao mar, visto que não
Este mundo de água, ondas e animais marinhos vai passavam de simples instrumentos profanos.
pisoteando tudo o que vem a caminho, as almas dos No dia seguinte, sem saber muito bem onde se
peixes, os lixos que flutuam e as redes de pesca situava, Olívia sai do quarto enfurecida e, quando
perdidas. E, então, com uma reviravolta que nada se repentinamente abre a porta, encontra a Dona Rosa
esperava, gritos, bofetadas e um sermão de uma voz no corredor de sua casa, com o cesto de roupa suja
aguda e irritante, feito na presença de membros da debaixo de um braço e um espanador na outra mão,
corte, que se encontravam na mesma embarcação, constatando que tudo não passava de um sonho.
foi descoberta a mentira dos tiranos, que até aqui E a vida continuou, ela permaneceu a fazer tarô, já
eram simples membros da embarcação, mas que era a sua vocação, mas agora não pescava, não
também a das raparigas, que afinal utilizavam navegava a bordo de um navio, não reclamava com
objetos malignos. tiranos e nem andava em alto mar a apreciar a vida
­ Leonor, aqueles cretinos são tiranos! Monstruosos! das águas coloridas e relaxantes.
Horríveis! ­ exclamava uma. – Roubaram­me o meu
livro sagrado, o meu diário, a minha preciosidade! Mónica Ribeiro, 10º B
­ Bom olho que tu tens, Olívia. Acho que os marujos
apanharam o teu livro, se é que me entendes. – diz
Leonor, enquanto pisca um olho discretamente a

No noticiário, avança o pivô:

­ Agora mesmo chega­nos a comunicação do professor americano Urey, Prémio Nobel em 1934, sobre
o nascimento da Terra.
­ Já sabem? Chegaram anteontem as andorinhas ­ diz euforicamente o galardoado.
O comentador em estúdio, distraído, vaticina:
­ Sim, é bom que venha, e não o de Barrô. É sabedor, tem longa prática, mas o João Lopes está uns
furos acima. Basta ser Lente de Coimbra. Certeza relativa? Absoluta? As gazetas não entram em
detalhes. De tudo, porém, o que mais me surpreende é a notícia vinda de Barcelona, anunciando que
certo clube da cidade tinha mandado um dos sócios à República da Argentina para comprar
futebolistas!
Uma idosa, que seguia o noticiário em casa, vendo senhores tão asseados e notícias tão chocantes,
escondeu o púcaro desbeiçado por onde bebia toda a gente e chamou o sacristão.
O sacristão limpou o suor, enquanto via as notícias e as estropiava de sapatos, pensando nos
tamancos que indicavam o levante geral.
Dirigiram­se para o coro da igreja, que atravessaram, depois de se ajoelharem no altar do Sacramento,
e saíram.

Gabriela Neves, 10º A

5

Sandra Silva, 6 ºA
6

Ele, Max, também considerava este pedi­lhes notícias da viagem. Porque iam e
tinham vindo este ano, assim tão cedo e com
como o pior dos mundos. Tão cheio de tal frio?
imperfeições e desníveis por toda a superfície, Tinha perdido o sono e, por isso, fiquei mais
que o votou ao total extermínio pelo fogo, em um bocado a tagarelar com elas, que
menos tempo do que levava a acender um expunham as coisas com uma clareza e uma
cigarro. graça que me encantavam e prendiam, a ponto
Lauren, aí estava ela, com um copo de vidro, de sentir que, no meu coração, iam subindo um
transparente como um cristal, e a canequinha carinho e uma ternura que, dia a dia, se
branca a transbordar de água límpida como os tornavam mais vivos, tornando­me também
olhos daquela que a estava ofertando. mais calma a vida.
­ E que fresquinha! ­ observou Max, enquanto E, uma tarde, mortas de saudade pelas lindas
bebia. aventuras que tiveram, elas embarcaram nos
Respeitador, como fui sempre, dos preceitos mastros dos navios que, longo tempo,
que nos conservam a saúde e o bom humor, navegaram, longe do porto da terra natal.
deitei logo as vistas para a orla do mar. Praia Frequentador habitual do porto, Max sentou­se
que dê saúde, bom humor, repouso espiritual … num dos banquinhos de cortiça da esplanada,
Não hesito. junto ao cais de embarque. Os olhos dele
A atenção que o desconhecido, Max, me tinha examinavam aspetos novos, que, todavia,
prestado num encontro fortuito, animou­me a confirmavam, melhorando a maravilha que ali
juntar dados concretos, que melhor definissem havia descoberto, há muito.
a personalidade. «Que faria se lhe saísse a sorte grande?»
Levantou­se, e, dando as boas­tardes, partiu Deitou­se numa das espreguiçadeiras da
lombas abaixo, como um galgo, visto que o sol esplanada, e, voltando­se de lado, foi
já se escondera atrás da neblina que, ao longe, adormecendo aos poucos com o barulho, o
sobre os palheiros da Torreira, forma a cheiro e a brisa do mar. Afinal, talvez este
cercadura com que, todas as tardes, nos mundo não fosse assim tão mau.
esconde o mar.
Dirigi­me a um vapor. Matilde Martins, 10º A
Lá estavam elas, aquelas duas aventureiras,
velhas amigas, Jessie e Meddy, sobre as
cordas e velas flutuantes, olhando o sol
poente.
Saudei­as com ternura, enviando­lhes beijos. E

7

A Árvore do amor A lenda
do elefante com asas
Uma árvore suspensa, plana na parte superior, onde
se formou um jardim, com um tronco alto e resistente, Há muito tempo, havia um carpinteiro muito
é conhecida como a “A Árvore do amor”. Nem com habilidoso, que vivia numa cidade muito
uma lupa se consegue ver o que está no interior dela. distante, e tinha por companhia um elefante de
Diz­se que aqui está uma outra árvore do amor, com madeira todo construído por si. Ele tinha o
todo o seu amor. sonho de poder voar sobre as nuvens com o
Certo dia, um mendigo deslocou­se a Coimbra para seu elefante.
procurar insistentemente suplementos de Numa manhã, bem cedo, acordou e viu que
sobrevivência, acabando por os encontrar em casa de tinham nascido asas ao elefante. Como era de
uma senhora já idosa. manhã, esfregou os olhos, pensando estar a
Quando se preparava para recolher o alimento sonhar, mas ao aperceber­se de que era real,
fornecido, pago com o pouco dinheiro que lhe de tanto espanto, desmaiou.
restava, ouviu como resposta se já tinha ouvido falar Passadas algumas horas, o carpinteiro acordou,
da “Árvore do amor”. A senhora acabaria por desafiá­ já a voar sobre as nuvens. Nem queria
lo a subir à árvore, logo no dia seguinte, cumprindo as acreditar, gritava de alegria por estar a realizar o
indicações que lhe daria. seu sonho. Quando o dia terminou, regressou a
Assim, depois de passar ali a noite, o mendigo ouviu casa com o elefante.
a idosa a explicar­lhe que tinha de subir à árvore e Alguns dias depois, o governo foi bater­lhe à
encontrar um buraco no tronco onde introduzir uma porta, pois queria o elefante e em troca dava ao
maçã do amor feita por ela, com chocolate. “Esta carpinteiro imenso poder, tornando­o assim num
maçã há­de caber no buraco, mas só a deves colocar dos homens mais poderosos do país. Ele
lá dentro quando chamares pela árvore do amor e rejeitou, explicando que o elefante era o seu
dentro te respondem.” sonho e nunca trocaria o sonho por nada do
Ocorreu tal como disse a senhora. O homem subiu à mundo.
árvore, colocou a boca junto ao orifício e chamou: A lenda diz que o elefante, depois do carpinteiro
­ Árvore do amor! morrer, ainda anda por aí à solta, à procura de
Só à terceira lhe responderam. um dono sonhador.
­ Trouxestes notícias sobre a minha ama?
­ O que te trago aí vai… ­ introduziu a maçã no Afonso Rodrigues, 6º B
buraco, mas, atrapalhado como era, partiu­lhe o
píncaro. Ouviu um grito e a árvore do amor a
reclamar:
­ Desastrado! Destruíste­me o encanto e perdeste
todo o meu amor! Mas dou­te um coração da
amizade.
O mendigo recebeu o coração e foi embora.
Prontamente, gastou­o para fazer amizades.
Voltou à árvore, mas a árvore do amor não
respondeu, nem lhe deu mais nada.

Carolina Costa, 6º A

8

Jilge e o sonho de voar

Eu, Jilge, estava a nadar no mar à procura da Parecia uma garrafa de água a boiar e, tal como
minha amiga baleia Bolinha, até que ouvi umas era esperado, não resultou. Só fiquei a flutuar
vozes na superfície. Decidi ir averiguar, mas como durante algumas horas, a única coisa boa é que
não conseguia respirar ar, só consegui ver uma eu estava tão alto que conseguia ver a minha
águia a voar livremente para além das nuvens. cidade inteirinha. Depois de outra tentativa
Quando vi a águia voar, pensei o quanto seria falhada, Stacy disse­me para pedir ajuda ao
bom ter tanta liberdade, ir além e voltar como se Bernardo, o tubarão mais forte de todos.
nada fosse. E foi aí que tomei a decisão de que Quando a Stacy disse que o Bernardo era forte,
queria aprender a voar, mas, como eu sei que pôr pensei logo em procurá­lo no ginásio, mas não o
um animal aquático a voar não é tarefa fácil, fui encontrei, e fui ver a casa. Lá estava ele no
pedir ajuda o meu amigo Otávio, o cavalo marinho terraço a fazer exercício. Mal lhe contei o
mais inteligente. Depois de várias horas de problema, ele agarrou­me e atirou­me com toda a
conversa, ele descobriu a solução, disse para força possível para ver se eu voava, mas, como o
voltar lá, depois de três dias. mar é gigante, nem sequer me aproximei da
Passou um dia, dois dias, três dias e eu regressei superfície.
a casa do Otávio. Quando entrei, reparei Já farta de tentar, fui ter com a minha melhor
imediatamente num engenho. Ele disse que era amiga, Débora, a alforreca. Quando lá cheguei,
para eu conseguir ir para a superfície, era como expliquei o que me tinha acontecido e que ela era
um submarino, mas para voar. Cá para mim, a minha última opção. Mal acabei de falar, a
aquilo era mais uma vaca aquática, mas pronto. Débora começou a rir­se e explicou que eu
Depois de ver a vaca, expliquei ao Otávio que eu conseguia voar, bastava só sair do mar, secar­me
queria voar e não conduzir um submarino, mas, bem e respirar como se nada fosse.
para não parecer ingrata, experimentei! No início, Depois dessa conversa, fui então fazer o que ela
parecia estar a dar certo, mas depois voltámos a disse. Tu não acreditas, deu certo, eu finalmente
afundar. Então, ele disse­me para pedir ajuda à consegui voar!
Stacy, a estrela­do­mar que era a melhor vidente e Consegues descobrir que animal eu sou, depois
bruxa de todo o mundo. desta aventura? Se pensas que sou uma
Já na casa da Stacy, bebi um copo de chá mágico, andorinha acertaste!
que, segundo ela, fazia ficar mais leve. Bebi um
golo e não aconteceu nada, dois golos e estava Jéssica Pereira, 6º A
tudo na mesma, ao terceiro, já estava a flutuar.

Isabely Brito, 6º A
9

Mariana Rodrigues, 7º C

Donald e a pata perdida

Olá, hoje vou falar­vos de um pato que perdeu a sua a Madalena e perguntei­lhe o que tinha acontecido.
pata. Donald: O que é que ela disse?
Donald: Oh não! Hoje acordei e apercebi­me que não Minnie: Ela disse que estava farta de ti, que tu eras
tinha a pata. um malandro, não a ajudavas a cuidar dos filhos e
Mickey: Qual pata, Donald? estavas sempre a irritá­la e a provocá­la.
Donald: A minha pata, Mickey!! Donald: A Madalena ainda há alguns dias me disse
Mickey: Mas perdeste a Madalena, ou as patas com que não me trocava por ninguém, que eu era a
que te movimentas? pessoa ideal para ela, não a entendo; enfim.
Donald: Eu não consigo andar, mas a Madalena Minnie: Pois, mas foi a escolha dela.
costuma dormir comigo e esta noite nem a casa foi. Donald: Mas eu levava o Donaldezinho aos treinos de
Mickey: Ah, então traíste a Madalena ou ela deixou de futebol, jogava vários jogos com ele e com a
gostar de ti! Madalenazinha, tentava ser meigo para ela. Não sei o
A Minnie, que andava ali por perto a juntar sementes, que lhe passou pela cabeça!
tenta aclarar a situação... Mickey: Donald, não batas mais no ceginho, esquece
Minnie: Eu acho que ele ficou sem andar e devido a essa situação e segue a vida em frente que irás
essa condição tem de andar de muletas. encontrar outra pata.
Donald: Pois, a Madalena não me atende o telefone e Donald: Mas o problema da situação é que fiquei sem
não me responde às mensagens. Minnie, podes uma pata e sem a minha namorada.
tentar ligar­lhe? Como ela é a tua melhor amiga Passados alguns anos, Donald encontrou uma
poderá responder­te. companheira linda e perfeita para ele, que o ajudou,
Minnie: Ok, vou tentar, mas o Mickey também pode dando­lhe algum dinheiro, para ele colocar uma
tentar, caso eu não consiga. prótese na pata, para se sentir como dantes, um pato
Mickey: Ok. normal sem qualquer problema.
Passados 15 minutos...
Mickey: Donald, lamento, mas não consegui entrar Matilde Martins, 7º B
em contacto com a Madalena.
Donald: Ora bolas! E tu, Minnie?
Minnie: Tenho ótimas notícias, entrei em contacto com

10

Castelo Branco: Ataque falhado a ourivesaria churrasco, então decidiram continuar as buscas,
Assaltante atingido a tiro acabando por encontrar o fugitivo gravemente ferido,
Um agente da PSP de Castelo Branco foi dentro de uma casa abandonada, com a namorada, a
surpreendido, ontem, por um ladrão violento, que cozinhar.
tentou assaltar uma ourivesaria na Rua dos Ladrões, A tentativa de assalto ocorreu pelas últimas horas da
com um cúmplice. O assaltante foi atingido por uma tarde, quando a ourivesaria Ricos e Pobres ainda se
bala da polícia numa perna ao sair da ourivesaria, encontrava aberta. Nesta, estavam presentes a
fugindo da autoridade. empregada e a proprietária. O assaltante ordenou
Este conseguiu fugir, mesmo estando com a perna que lhe dessem o dinheiro, bem como todas as
gravemente ferida. Pelo caminho, voltou a ser caixas de "Xanax" que havia disponíveis na loja. A
atingido, mas desta vez no braço, o que provocou um empregada apressou­se a ir buscar os
grande buraco. Quanto ao cúmplice, foi apanhado medicamentos. Entretanto, a proprietária reconheceu
pela PSP sentado num banco, próximo da a voz do ladrão, era o seu ex­namorado. Ela deu­lhe
ourivesaria, a fazer um direto para mostrar às o dinheiro todo, mas entretanto as autoridades
pessoas o que estava a acontecer. chegaram e ele fugiu.
O assaltante gravemente ferido conseguiu escapar à A proprietária, de nome Custódia, chorava a implorar
polícia numa quinta, com um trator, continuando a para não lhe fazerem nada, pois ela ainda o amava.
grande perseguição no meio de terrenos, de florestas Com isto, acabou por ser internada num hospício.
e de aldeias abandonadas. No caminho para estabelecimento de saúde, ela só
Entretanto, já eram 23h00, numa altura em que já não sabia dizer que o assalto “foi o destino”.
se via nada no meio do espaço rural.
Os agentes sentiram um cheiro parecendo a Cláudia Pereira, 10º B

Normalmente por cá aparece um poeta, que sempre ao inclinar a cabeça, o rapaz

despega o chinó. É sempre um novo espanto, por ver um senhor tão bem apresentado, ter uma grande
calva.
Ele, um dia, passou na aldeia para comprar a um quinquilheiro, que vendia folhetos de cordel, a “Princesa
Magalona” e o “Vicente Marujo”, de que deu conta em dois serões.
O quinquilheiro, tentando arrecadar mais algum dinheiro vindo dele, sugere­lhe comprar também prosa.
Ouvindo tal sugestão, insultado se sente o calvo poeta, que indignado sai a estourar gentilmente essas
portas tão bem polidas. Quando saiu, os companheiros poetas cochichavam se deveriam ou não retribuir
os insultos.
Porém, por não querer perder o seu tempo com algo imudável, ele segue em frente, continuando o seu
dia. Então, como de costume, tirou do bolso a fatia de broa e começou a esmigalhá­la e a lançar às
raparigas chiques e meninas modernas, de tal forma que muitas delas já resolveram deitar fora o cigarro
e a cigarreira.

Gil da Silva Jorge, 10º B

11

Um dia liguei totalmente Lenda da
caixa e do palhaço
carregado e cheio de notificações, calculei
Um palhaço vivia num circo abandonado, tendo por
logo que ia ser um dia para gastar única companhia o seu gato. O palhaço contemplava
o horizonte e o seu coração enchia­se de esperança
energia. A humana acordou, agarrou­me de um dia poder viajar além das árvores que
rodeavam o circo.
para ver as horas, eram 7:50. Começou a Numa noite estrelada, apareceu à sua frente uma
pequena caixa com uma manivela dourada brilhante,
reclamar comigo por não ter tocado, sendo que, quando rodada, fazia aparecer um palhaço a
sorrir. Estava ali para o guiar para onde quisesse ir. A
que ontem ela desligou­me o som; estava partir de então, a caixa nunca mais o abandonou,
aguardando­o, lado a lado, noite após noite.
atrasada para a escola. Enquanto comia, Até que chegou o dia em que o palhaço tomou a
decisão de partir e chamou a caixa.
esteve a ver “tikloks”, mas depois tive de ir Ele partiu e caminhou durante intermináveis anos. O
gato, que o acompanhou, acabou por sucumbir a tão
para o bolso abafado dela. dura jornada. O homem chorou, mas, apesar da
tristeza, teve de continuar em busca do destino.
Chegamos à escola e tive de ir para o O rei da região, ao tomar conhecimento da história,
mandou emissários com promessas de poder e
cesto dos telemóveis. A Iphone 12 é linda fortuna em troca da caixa.
O palhaço respondeu­lhes que a caixa não era dele,
e simpática, já o Samsung M12… uma mas do mundo, e que nunca a abandonaria.
A lenda diz que, ainda hoje, naquelas terras, se vê a
cópia minha, com mais espaço e luz brilhante da manivela dourada da caixa.

egocêntrico, que está sempre a gabar­se Sandra Silva, 6º A

de ter 128 GB; enfim, sinto­me bem, sou

um A12.

Na hora do almoço, saí do modo avião e

caí no chão, por culpa da minha humana

admiradora, talvez porque está sempre de

olho em mim.

Um tempo depois, uma pessoa chamada

“mãe” ligou e disse que nos vinha buscar

às 16:00. Minutos mais tarde, fomos

gravar “tikloks”, ficaram horríveis, por isso

bloqueei e apaguei porque o mundo não

precisa de ver tremenda desgraça.

Tirámos umas fotos, ficaram

consideráveis, só por eu ter uma boa

câmara. Depois, voltei para o modo avião

e aterrei de novo no cesto dos telemóveis.

No fim das aulas, vimos “lives” no

“Facebook Gaming”. A minha dona jogou

umas partidas de “Free Fire” e trocou­me,

de seguida, pelo computador para jogar

“Fortnite”.

Às 21:15, quase na hora de carregar,

fomos jogar "Bit Life" e trocar mensagens.

Quando chegaram as 22:00, eu desliguei,

acabou­me a bateria.

Joana Rocha, 7º A

12

Já faz quantos anos Dos tesouros mais humildes,

desde que não vejo a luz? A lâmpada nunca mais qual lhe inspira mais simpatia? Ao ler este quesito,
acendeu. Até agora. Ouço passos. Sempre ouvi pensei que a melhor aplicação a dar à riqueza e à
passos durante anos, nenhuma novidade. Mas, desta sorte grande seria torná­las tão pequenas que,
vez, alguém está a subir ao escadote. É a Dona? encontrando masmorras, espiões, extorsões e
Então alguém chega ao fim do escadote. A madeira vitupérios, veria agora liberdade, franqueza e
range. Vejo o alçapão a abrir. Não. Não é a Dona. moderação. Há coisas que, vistas superficialmente,
É Alguém. têm todo o aspeto da mais banal futilidade.
Alguém dirige­se à janela, retirando os pesados Encaradas, porém, de olhos abertos, passam logo a
cobertores que a cobrem para o chão, levantando ser dignas da maior atenção.
uma nuvem de pó acumulada por tantos anos que já A liberdade é um exemplo disso mesmo.
perdi a conta. Alguém também abre, a muito esforço, Ser livre é um dever cívico, direi até mesmo sagrado.
a janela. Está mesmo imunda! Não me vou alongar mais.
Este Alguém é novidade. Nunca vi um Alguém tão A questão da liberdade, exige largos comentários,
baixo. Não é a Dona a vir buscar os seus preciosos mas não os faço com receio de agravar ainda mais o
discos, como os gloriosos de “jazz”, “rock” ou, os conflito. Pois não diz certo adágio latino que o silêncio
mais recentes, que chamava de discos de “disco”. é mais eloquente do que a palavra?
Não é a Dona a escolher entre as suas cassetes,
“que contavam histórias coloridas no televisor”, qual Joana Loureiro, 10º B
deveria rever. Tanto as que foram feitas por ela com
por outros alguéns (uns tais de “amigos”), ou que ela 13
comprava dentro de caixas de plástico. Não é a Dona
a vir remexer nos baús pela enésima vez, mesmo que
saiba tudo o que está lá.
É Alguém.
Alguém dirige­se às caixas e baús. Que ousadia!
Mexer nas coisas da Dona!? Quando ela reparar que
não estão na ordem específica em que sempre as
deixou vai ficar fula!
Alguém diz: ­Encontrei, avó!
Ouço uma voz a sair do alçapão. É levemente
familiar: ­Incrível! Traz para aqui. Tenho muitas coisas
para te mostrar...
Alguém começa a pegar na caixa dos discos. Sai
pelas escadas. Volta sem a caixa. Pega noutra. Faz o
mesmo. Repetiu isto até não sobrar nada. Levou
tudo. A muito esforço, Alguém fecha a janela. Volta a
colocar os pesados cobertores a tapá­la, levantando
outra nuvem de pó. Sai pelo alçapão, fechando­o.
Ouço Alguém a descer o escadote. A lâmpada
apagou­se. Nunca mais acendeu.

Maria Costa, 10º A

Mariana Neto, 6º C

Débora Lopes, 7º C
14

A lente que Um pastor chamado Eduardo
não encontra os óculos
Era uma vez um pastor chamado Eduardo. Vivia feliz,
Num dia de segunda­feira, uma lente levantou­se às tinha por único companheiro um gato.
8h00 para ir para a escola. Quando se levantou e Quando contemplava o horizonte, o seu coração
espreguiçou, ao mesmo tempo, reparou que tinha enchia­se de esperança de um dia poder vir a ser
saltado dos óculos. Depois de estar mesmo acordada professor.
é que começou a procurar, a procurar, a procurar os Numa noite, em que olhava para o céu estrelado,
óculos... Num determinado momento, fartou­se de fechou os olhos por um instante. Quando os voltou a
procurar, porque já estava muito cansada. abrir, reparou que ali ao pé estava um trevo de quatro
O dono dos óculos teve que passar o dia inteiro sem folhas.
ver nada. A primeira coisa que teve de fazer sem O Eduardo percebeu que era um sinal para agarrar o
óculos foi vestir­se e, como não via nada, deixou tudo sonho, mais do que nunca.
desarrumado. Depois de se vestir, foi tomar o A partir de então, o trevo passou a estar sempre
pequeno­almoço, deixou cair todas as bolachas e o presente, dia após dia, semana após semana, mês
leite também. Foi­se arranjar, lavar os dentes, a cara... após mês.
Deixou a casa de banho toda desarrumada e também Até que chegou o dia em que o pastor tomou a
toda molhada. A seguir, foi para a escola e, ao sair do decisão de partir.
carro, foi contra a porta. Quando chegou à escola, ao Os pastores da aldeia reuniram­se e apoiaram­no no
passar o cartão foi contra o portão. Ao entrar na sala sonho, que tinha desde pequeno, de um dia poder vir
de aulas, apercebeu­se de que não via o quadro. Mais a ser professor.
tarde, foi para a cantina, não via nada para poder O pastor partiu, guardando cuidadosamente o trevo no
passar o cartão; quando foi para lavar as mãos, não bolso, e foi até a cidade mais próxima, à procura de
via nada. Por exemplo, em vez de lavar as mãos alguém que o pudesse ajudar.
lavava os pés. Ao pegar no tabuleiro, não via nada e O gato, que o acompanhou na jornada, acabou por
deixava­o cair no chão; quando ia para pegar num fugir antes de chegar à cidade. É claro que o pastor
copo, deixava­o cair; depois, quando pegava nos Eduardo chorou, mas teve de continuar em frente para
talheres, deixava­os cair. Quando ia a pegar num pão, seguir o sonho. No entanto, prometeu, a si mesmo,
deixava­o cair; quando pegava no prato principal, que mais tarde iria à procura dele.
deixava­o cair; quando pegava na sobremesa, Foi envelhecendo, sentia­se sempre sozinho, desde
deixava­a cair. Depois, ia sentar­se e deixava cair que o gato desapareceu.
tudo. Quando voltava para casa e fazia os trabalhos, Até que um dia, alcançou o objetivo. Foi a uma escola
fazia tudo mal. Depois, quando ia tomar banho, não se para acertar as coisas e tornar­se oficialmente
lavava bem. Quando ia jantar, comia com os pés; em professor, mas, calma, vocês pensam que ele deixou
vez de lavar os dentes, lavava os olhos e, por fim, a vida do campo, de pastor?
quando foi para a cama, deitou­se no chão. É claro que não deixou, quando tinha tempo livre
ocupava­o no campo com a vida de pastor.
Afonso Mateus, 7º B Então, esta história ensina que deves seguir os teus
sonhos, porque, um dia, quando menos esperares,
vais abrir os olhos e pensar: eu consegui realizar o
sonho! Se uma pessoa disser que tu não vais
conseguir, é mentira, basta lutares e esqueceres as
pessoas que dizem isso.

Rafaela Mendes, 6º B

15

A rapariga selvagem

Um dia, uma rapariga pobre, que vivia em Moçambique uma fêmea tigre, que estava a dar comida às crias,
e era conhecida como a Rapariga da Selva, devido a virou­se e fitou­a. Ela ficou como que hipnotizada e
ter apanhado vários animais selvagens e perigosos, foi com pena delas. Experimentada como era, conseguiu
chamada pelo escudeiro do rei. Apesar de aproximar­se, lentamente, acabando por conseguir
surpreendida, não lhe restou outra alternativa senão fazer festinhas ao animal; parecia até que havia uma
responder à ordem. conexão entre as duas.
Na tarde daquele dia, uma cobra grande e bastante A rapariga estava muito pensativa, porque tinha de
venenosa tentara atacar a família real, durante um escolher entre a tigre, de quem ela cada vez mais
safári. Então, foram­lhe dadas indicações precisas gostava, e o dinheiro de que precisava bastante para
sobre o local do incidente. A Rapariga da Selva poder alimentar os pais, que já eram de uma idade
estabeleceu um perímetro e começou a caça. Depois avançada e não podiam trabalhar para meter comida
de colocar um isco, aguardou. Não foi preciso muito na mesa. Ela, depois de bastante tempo a pensar
tempo para ter sucesso na tarefa... como podia solucionar o problema, resolveu tentar
Como recompensa, o escudeiro apresentou­a ao rei. O cortar o pelo da tigre­fêmea. Apesar de algo irrequieto,
monarca decidiu, então, fazer um banquete para o animal, como se percebesse o propósito, não
celebrar e honrar a coragem da rapariga, mas não só, ofereceu resistência, permitindo a recolha de pelo
ofereceu­lhe também um lugar ao lado do escudeiro. suficiente, para que ela pudesse ser convincente. A
Passado algum tempo, o rei partiu em passeio, com a Rapariga da Selva levou, então, a prova ao rei, dizendo
esposa, pelo reino, acompanhados pela guarda real. que era tudo o que tinha sobrado do tigre. O rei
Quando chegaram à zona da savana, depois de agradeceu­ lhe bastante e, para além da recompensa
percorridos vários quilómetros, avistaram tigres. monetária, fez­lhe uma homenagem, perante as
Tentaram aproximar­se, mas os felinos sentiram­se pessoas do reino.
ameaçados por um grupo tão numeroso, ripostando Ela ficou bastante feliz, não só por conseguir meter
com um ataque. Só a custo da perda da vida de dois comida na mesa dos familiares, mas também por salvar
guardas, escaparam. Então, o rei decidiu, logo ali, a vida dos animais, que apenas tinham querido
oferecer uma grande recompensa monetária à defender­se de uma ameaça.
Rapariga da Selva, se ela conseguisse matar os tigres
e trazer uma prova do êxito da missão. Lucas Rodrigues e Tiago Bino, 10º C/D
Ela partiu à caça dos tigres e, pela savana, andou,
andou e andou. Passados dois dias, conseguiu
encontrá­los, e, quando estava pronta para os matar,

Francisco Rosa, 6º C
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Numa esquina de ruas do distrito Quando abri os olhos estava tudo escuro,

de Coimbra para Viseu e de Mangualde para Lisboa, como se toda a luz do mundo tivesse desaparecido.
havia antigamente uma pequena Serra do Buçaco. Tentei procurar o meu par, mas não conseguia ver.
Era um sítio muito perigoso e próprio para alimentar Senti­me perdido, quase nunca ficamos separados,
muitas zebras malvadas, bem como a natureza de mas agora não o consigo encontrar.
inimigos, doentes e de salteadores incapazes de De repente, parecia­me ter visto alguma coisa, como
pegar na vida toda, mas sedentos por uma mala de uma luz, talvez fosse uma lanterna que iluminou todo
dinheiro. aquele lugar. E foi aí que percebi onde é que eu
Com esse dinheiro todo, não queriam o sítio, que estava: no lugar onde nada nem ninguém desejaria
tinha um pátio quadrado, até porque sabiam que um estar, debaixo da cama.
homem chamado Zé estava a avaliar a possibilidade Foi então que tive uma ideia. Iria tentar chamar a
de enviar para ali uma cruz. atenção de alguém. Mas, quando tentei falar, não
Foi feita uma limpeza do terreno, sem mexer no consegui, como se a voz me tivesse sido roubada.
pátio, bem como ardido o tempo para que partissem Foi aí que me lembrei, eu não tenho uma boca, claro
daí os medos, mas ainda não abandonaram o lugar. que não ia conseguir falar.
Uma cruz foi mencionada ao nosso homem Zé. Naquele momento, comecei a desesperar, pois para
Falava­se de que no segundo domingo de maio de além de não conseguir falar, percebi também que
1984, um homem Capelinho da Vida manifestou a não me conseguia mexer. Subitamente, só para
intenção de ver uma cruz no referido lugar. Conta­se aumentar esse meu sentimento, senti algo a arrastar­
também que durante a celebração da missa deu me, como se estivesse a puxar­me em direção a si.
conta de que não havia água. Chamou então uma Foi então que fechei os olhos, pensando que nunca
das irmãs religiosas ali presentes e perguntou se se mais os iria voltar a abrir, mas, quando decidi arriscar,
podia arranjar. "Pode ser que uma pessoa tenha lá estava ele, o meu par. E, agora, sinto­me completo
trazido uma garrafa. Vou indagar...”, respondeu. Mas, outra vez, junto do meu par, enquanto viajo pelo
nem sequer uma poça. mundo.
As religiosas estavam ali, além de assistir à Sapato perdido.
celebração, para mandar dizer uma missa no
segundo domingo de cada mês pelos corações das Bia Pereira, 10º A
irmãs vivas e das defuntas.
A referida irmã continuou a procurar a água.
Encontrou uma enxada e, entoando uma canção,
pegou nela: "Se o nosso Senhor da Cruz quiser, bem
pode fazer rebentar aqui uma fonte!" Ao dar três
cavadelas no terreno, logo nasceu uma maçã de
água perene, que dava e continuou a dar sempre.
Essa fonte de água está no alpendre destinado à
cruz.

Afonso Mateus, 7º B

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O Vento Que Tudo Contou olhos, a voz soa mais alto. Com sono e um pouco
irritado, Fenrir desloca­se para a sala,
Um solitário eremita de Ams, uma grande cidade apressadamente. Desta vez, mais cauteloso, ele
montanhosa nas terras de Vartnir, também conhecida aproxima­se da janela semiaberta, põe­se em pé, e
como “O país Boreal”, encontrou um pequeno filhote então vê, através da abertura, frases voando ao som
de lobo, perto de um rochedo, enquanto saía, para do vento. Era como ver inúmeras serpentes negras,
fazer queijo de cabra. Pensando nos perigos e no numa brilhante abóbada celeste. De repente, uma
seu próprio egoísmo, sem pestanejar, acolheu­o na dessas barulhentas serpentes passa pela brecha,
sua humilde fortaleza. Por uma questão de revelando com a voz de Njord: “O segredo desse
comunicação e de tradição, ele deu­lhe um honroso conceito chamado tempo é que ele nunca para, por
nome, o apelido escolhido foi Fenrir. Fê­lo na ter medo de ficar sem tempo…”. Ouvindo isso, ele
esperança de que ele florescesse grandioso e lembra­se de um dos segredos de Zéfiro ditos pelo
robusto. Orgulhoso com a sua ótima escolha de eremita. Explicava que o vento era o vasto
nome, o velho chamado Njord, gargalhou e sentou­se conhecimento do mundo, que, sedento, procura o
ao pé da lareira de brilhantes chamas cor de céu. saber desconhecido das coisas, para então guardar
Njord então começou por contar os mais inéditos, os conhecimentos na grande Biblioteca de
inacreditáveis, extraordinários segredos e contos Alexandria. Então, ele, finalmente, entende o que
sobre o mundo, o cosmos, a magia, os ventos, os acabara de acontecer, o vento tinha aprendido a
mares e, até mesmo, o segredo da humanidade e falar. Fenrir supõe que talvez isso se fique a dever à
respetiva desumanidade. A nossa bola de pelos, grande quantidade de tempo que o vento ficou a
mesmo não compreendendo essa língua tão ouvir o velho Njord. Isso também explicaria a
complicada, ouviu­o atentamente, com certa ventania que estava sempre à volta da casa. Para
curiosidade. resolver a situação e não ter todos os segredos de
Certo dia, o velho sorridente, de barbas e olhos Njord revelados, ele resolve inspirar todo o vento e
azulados, decide partir em mais uma das suas depois soltá­lo para dentro da sala. Com o plano
aventuras e deixa, então, a Fenrir o cargo de posto em prática, agora as serpentes estão a
proteger a montanha, durante a sua ausência, agora desarrumar a sala e a deitar tudo ao chão. Fenrir
já como um grande lobo, que tinha aprendido a suspira e pensa na possibilidade de poder ensinar ao
língua outrora difícil. Ele sente­se ligeiramente vento algo diferente para ele falar. “Já que o vento
injustiçado, por não poder seguir o seu sábio aprendeu a falar, ao ouvir o mestre, porque não
salvador, mas concorda em cumprir a tarefa. Agora, tentar também? Mas não pode ser uma mentira, pois
sozinho, Fenrir encontra­se como um eremita, o coração é algo muito ingénuo e facilmente
apenas acompanhado do irrequieto vento acreditará. Também não poderá ser uma verdade,
desnorteado, que bate em todas as janelas e portas, pois ela será distorcida até se tornar uma mentira…
mas, apesar disso, não desanima. Alegre e agitado, Então, o que me resta?”, pergunta o lobo para si
passa o tempo a contar e a ler os incontáveis mesmo. “Ah! Já sei! E se eu o ensinar a assobiar?”
segredos que conhece, para si mesmo até ao Fenrir começa a assobiar, variando os assobios para
anoitecer. Situando­se, agora, as luas no céu, ele não ficar entediado, por minutos, horas, dias, sem
deita­se satisfeito na cama do dono. parar. Apenas ao comer, o lobo interrompe a tarefa.
Nessa mesma noite, acorda a ouvir o que parece ser As serpentes, com Fenrir, começam a rodopiar e o
a voz de Njord, contando um dos seus sigilosos vento a soprar. Os dois, em harmonia, cantam um
mistérios, no entanto, algo não lhe parece certo. “Ele réquiem, o segredo que agora os ventos irão levar.
demorou tão pouco tempo? Como é que eu não senti Após um tempo, num certo anoitecer, Njord parecia
o seu cheiro? E, além disso, para quem está ele a estar a chegar, já que Fenrir detetou o odor. Então,
falar?” antes do solitário aventureiro aparecer, ele abriu a
Cheio de dúvidas, dirige­se à sala de estar, que é de janela e, do mundo, este segredo escondeu.
onde o murmúrio aparenta estar a vir, mas, ao chegar
lá, nada encontra a não ser a janela ligeiramente Gil da Silva Jorge, 10º B
aberta e uma suave e fria brisa lunar.
Confuso, volta a deitar­se na cama fofa do Njord,
porém, no mesmo momento em que ia fechar os

18

Ataque falhado a casa Férias no campo

do José acaba em A casa onde nascera tinha quatro paredes sem
reboco, dentro das quais havia uma saleta, a
perseguição cozinha, e, à retaguarda, dois quartos iluminados por
janelas de madeira.
Um agente da PSP de Penacova foi baleado, Quando começavam as férias, era ali onde passavam
ontem, por um ladrão que, momentos antes, o tempo, tudo tão lavado e fresco.
tentou assaltar uma habitação, no Silveirinho, O quarto onde dormem os dois é lá em cima, dá para
com um cúmplice. contemplar a vista da aldeia.
O assaltante, após o disparo, fugiu de bicicleta Quando entravam de férias, já as plantações
motorizada e refugiou­se num parque infantil, estavam feitas. A Alice ajudava a avó no campo,
onde, momentos depois, foi encontrado pela faziam a ceifa do trigo e do centeio, e também a
polícia a jogar ao berlinde. limpeza dos regos.
Quanto ao seu cúmplice, escapou de mula pela Durante a noite, a chuva, que pouco a pouco
Nacional Dois, entregando­se, mais tarde, às abrandara, acabou por suspender­se de todo, e o
autoridades. Os feridos foram levados para o nevoeiro dissipou­se. O sol nasceu, deixando o céu
hospital. sem nuvens.
A tentativa de assalto à residência aconteceu A avó começou a ensinar a Alice a estender a roupa,
pelas 19h00, numa altura em que se encontrava passo a passo.
parcialmente vazia. Ao entrarem, os assaltantes O João e o avô vão para os campos de cultivo.
depararam­se com o proprietário, fugindo de Todas as quartas­feiras, o rapaz tinha de ir à Rua da
imediato, um deles com recurso a uma mula que Fotografia (chamava­se assim porque era um local
se encontrava na casa. Já na via pública, o muito famoso para tirar fotos), levava um poceiro em
senhor José, o visado pelos meliantes, decidiu cima da cabeça cheio de lã.
persegui­los na sua motorizada Sachs V5. Rua acima, o João conversava com toda a gente. A
Durante a perseguição, o proprietário feriu a Dona Alberta, todas as vezes, tinha um problema.
mula, que transportava o assaltante, com Desta vez, o trator tinha avariado. Foi dar uma vista
recurso a uma forquilha que tinha na de olhos, não era nada de grave: um fio desligado.
motorizada, provocando assim um acidente. Quando o voltou a ligar, pondo o tratar em marcha, a
Logo após o acidente, o assaltante fugiu a pé, Dona Alberta não o queria deixar sair dali sem pagar,
entregando­se momentos depois à PSP no mas o João não aceitou. Retomou o percurso, rua
mesmo parque onde o outro assaltante foi acima, quando chegou a casa da dona Celeste,
encontrado. entregou a lã e recebeu o pagamento.
A mula usada pelo assaltante na fuga foi Regressou a casa e foi com a irmã comprar comida
acolhida por uma cooperativa agrícola. para o jantar. À mesa, a Alice e a avó contam como
correu o dia, tal como o João e o avô.
Rafael Lobo, 10º C/D À noite, costumam sair de casa para olhar as
estrelas, há uma constelação deles os quatro.

Maria Oliveira Curto, 6º A

19

Domingo uma filha sozinha é o dobro do trabalho.
Depois da missa, o almoço é em casa da senhora
Depois de uma longa semana, chega o domingo, dia Carlota e não apenas para esta mãe e filha, mas sim
de missa na aldeia. para quase toda a aldeia. Estes almoços parecem
Por casa da dona Luísa e da Ana, mãe e filha, aquelas festas populares, que acontecem no verão,
instala­se o caos. Trinta anos separam as duas. mas, em vez de serem no verão, são ao longo de
A dona Luísa é muito humilde, simpática e todo o ano, em casa da senhora Carlota. Se há coisa
extremamente religiosa, tal como a sua mãe. É mãe que mais se ouve, durante estes almoços, é:
solteira, dona de casa e ainda empregada doméstica — Ana! Podes ir buscar mais cadeiras? Está a chegar
da senhora Carlota, a senhora mais rica e mais velha mais gente e já não há onde se sentarem. Aproveita e
da aldeia. Por mais velha que fique, não deixa de ter traz bebidas, por favor.
um espírito muito jovem, adora conversar, E enquanto a Ana vai buscar as cadeiras, aparece
principalmente com a gente mais nova, com o sempre alguém com o mesmo paleio:
objetivo de saber as diferenças entre as gerações — Menina, quem te meteu a fazer esse trabalho tão
que as distinguem. duro? A menina é fraca e frágil demais para isso. Vá
Por sua vez, a Ana é uma jovem adolescente, mas é para a cozinha ajudar a sua mãe.
acabada de entrar na “fase complicada”, como dizem A Ana faz pouco caso ao comentário e continua a
os pais. Ao contrário da mãe, não tem muito interesse ajudar a mãe no que lhe é pedido.
pela religião. Todos sentados à mesa, começam a contar histórias
Agora, voltando atrás na história, acho que já de quando eram crianças. É o momento que a
perceberam o porquê do caos aos domingos. Não senhora Carlota mais gosta, pois, relembra­se do
perceberam? Então eu passo a explicar. quão feliz era em pequena. Ainda durante o almoço,
Todos os domingos de manhã se ouve: também se cantam músicas, recitam­se poesias e
— Ó Ana, decide­te! Ou vens ou ficas? ouvem­se muitas risadas.
— Já vou, mãe! — responde a Ana do andar de cima. Depois, o entretenimento é mais para as crianças.
—Sei bem que, se disser que não vou, vai dar­me um Elas correm, dançam, jogam futebol, fazem
sermão maior do que o da semana passada. cambalhotas, saltam à corda, fazem bolas de sabão.
— Não te entendo! A igreja é um local tão calmo, tão Enquanto isso, os restantes continuam na mesa a
sereno. Lá podemos pensar sobre o que temos feito petiscar, a cantar, a falar e alguns até a jogar às
de bem ou de errado, falar com Deus e quem sabe se cartas.
não vai alguma amiga tua… Com tudo isto, chega o final do dia e todos têm de se
— Pois, mãe, o problema é esse. Sou sempre eu no retirar. Em breve, começará uma nova semana.
meio de inúmeras cinquentonas.
A Ana acaba sempre por ceder e ir à missa, pois sabe Mariana Costa, 10º A
que é muito importante para a mãe. Durante a missa,
a dona Luísa faz sempre o mesmo pedido, pede
sempre a Deus que dê a bênção à sua filha. Educar

Guilherme Martins, 6º A
20

Um grupo de cinco estudantes Vejam todos…
Que lindeza
de 13 anos, em Nairóbi, Quénia, após o uso Sem igual!
de substâncias ilícitas e depois de ouvirem a
banda “Pink Floyd”, decidiu convocar Lúcifer, Não há outros, com certeza,
usando uma estrela desenhada no chão com No reino de Portugal.
giz, um livro de rimas infantis e luzes Isto passou­se há mais de um século, quando a
vermelhas. arte de transformar o físico humano, com
Segundo o que um dos participantes relatou à vestidos e drogas, estava muito longe do que é
polícia, o mais velho, após várias tentativas hoje.
sem sucesso, ouviu um som agudo e Nós, porém, continuaremos a receber a luz até
apareceu num dos cantos do quarto em que ao derradeiro clarão e durante mais 50 milhões
estavam presentes, o personagem principal do de anos após a sua morte.
jogo eletrónico “Goat Simulator”, que afirmou P.S. ­ Estas respostas podem não ser
que “Deus é um reptiliano e o demónio tem debicadas aqui.
uma barca e que, antes de morrer, todos Importância relativa? Absoluta? As gazetas não
deviam ter duas moedas para não morrerem entram em detalhes, mas citam a história de
nas mãos de um segundo deus, que escreve o uma certa cortesã chamada aos tribunais por
teu nome num caderno transformando­te crime de sedução.
numa alma perdida”. Tudo muito bem escovado, dobrado e
Dois dos participantes afirmam terem visto o arrumado, e cada coisa no lugar que lhe era
personagem também, mas que este vinha num próprio, tornaram possível a liberdade de
Titanic mais pequeno e afirmava que todos consciência e no ensino. Até houve um que
deviam entrar, pois um meteoro estava a chegou mesmo a colocar intertítulos num dos
aproximar­se e todos tinham de se esconder seus livros.
antes de uma velha os usar para fazer uma Foram, portanto, quatro meses de perfeita e
sopa. completa anarquia. Quer dizer, ninguém ter
Outro afirma ter visto um gato preto que desobedecido. Abraçado finalmente o mundo.
simplesmente perguntou se ele estava à
espera de algo acontecer, e depois Gabriela Pereira, 6º A
transformou­se no mesmo personagem que os
outros participantes afirmam terem visto.
O último participante, segundo os vizinhos,
saltou pela janela e está desaparecido.

Maria Costa, 10º A

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Luísa e o Pato Intensa luz. Já não via este tipo de claridade

Conta­se que um pato foi ameaçado por um cão. Na há anos, demasiados anos.
altura, o pato temeu o pior, pois o cão corria monte Após habituar­me à luminosidade da lâmpada,
abaixo em direção à casa da Luísa. Em grande avistei uma cara familiar, aquela face tão…
sobressalto, o pato precipitou­se para dentro da casa reconfortante. Mas não era a mesma cara que
e foi logo prometido, entre ele e a Luísa, que seria enchia os meus dias, quer estivessem as ruas
construída uma parede no local preciso em que o cão molhadas ou as cadeiras de uma esplanada a
parasse. O cão acabou por cessar a marcha feroz, arder, quer estivessem os pássaros a cantar ou o
que tudo comia, antes de chegar a casa dela. céu a estrelar. Aquela cara era completamente
Findo o sobressalto, a Luísa e o amigo trataram de diferente, mas, ao mesmo tempo, tão semelhante.
cumprir a promessa. Mas havia uma dificuldade: o Ao ser retirada da caixa, espreguicei­me toda. Fui
local era demasiado inclinado, o que dificultava a tocada e esticada em tudo o que era sítio. E, por
subida dos patos, principalmente dos mais idosos. fim, dobrada de novo. Apertada, senti­me outra
Foi então decidido construir o muro mais abaixo, no vez. Metida num saco de papel, em conjunto com
sopé da casa, pois o mais importante era ter um outras parecidas comigo, mas nunca iguais, a
muro que cumprisse a promessa e onde os patos se menina levou­nos. Não sei para onde. Não me
pudessem proteger do cão. movimentava assim há uma eternidade, ou melhor,
Depois de erguido o muro e colocada uma réplica de ninguém me movimentava assim há uma
pato­real em cerâmica, no cimo, ocorria um estranho eternidade.
fenómeno que a todos deixava boquiabertos: o pato Por fim, chegámos. Conseguia ouvir vários sons.
fugia para o outro lado do muro e ia ter ao sítio onde Os únicos que reconhecia eram o frigorífico e o
o cão parava. E isto aconteceu tantas vezes, quantas miar de um gato. “Será que ainda utilizam o
as que a Luísa o recolocou do lado certo do muro, mesmo frigorífico”, pensei eu para mim mesma. De
até que um dia o cão lhe comeu o pato. Entretanto, o seguida, ouvi uma voz, aquela voz tão calma e tão
muro edificado no sopé da casa acabou por ficar delicada. Sentia tantas saudades desta voz.
para outro pato. As duas conversavam sobre nós. A menina dizia
que nos tinha encontrado na cave e queria
Diogo Martins, 10º A experimentar­nos. Estava nervosa, não era
experimentada assim há demasiado tempo.
Retirada fui. Com a maior das delicadezas, como
se fosse valiosa. E, de novo, esticada. Por fim,
metida. Senti­me como nova.
Subitamente aparece a mulher que eu estava à
espera. Tantas memórias.
­ Ficam­te tão bem! Sabes, eu costumava usá­las
sempre, para qualquer sítio que fosse: uma festa,
ao supermercado, a um piquenique. Eram as
minhas preferidas. – Exclamou a mãe da menina,
eu supus.
­ Então porque é que deixaste de as usar? – Quis
perceber a menina.
­ Simplesmente deixaram de me servir, depois de
eu te ter.
Culpa. Sinto­me tão culpada por ter pensado que
ela me tinha trocado por aquelas mais magrinhas.
Mas, afinal, simplesmente deixei de servir….

Adriana Abreu, 10º A

22

Gabriel Silva, 10º A
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O talhante e o Corvo

Numa pequena aldeia viviam dois talhantes, o Miguel bastantes semelhanças com o “seu” corvo.
e o Cristóvão. O Cristóvão tinha imensos clientes e Desconfiou, mas pensou: “Não, isto não faz qualquer
era bastante popular na aldeia, já o Miguel tinha sentido, devo estar maluco. Lá estou eu com as
poucos e nenhum sucesso na venda das suas minhas especulações!” Então, ignorou, esquecendo
carnes. completamente a ideia, que pensava ser absurda.
Um dia destes, estava o Miguel sentado à frente da Certo dia, o Miguel estava a descansar em casa,
sua loja cabisbaixo, quando ouve um som nunca quando ouviu um sussurrar: “Sou eu, Miguel, ouves­
antes escutado. Curioso como era, levantou­se muito me?”. Miguel acorda sobressaltado, levanta­se e vai
rapidamente e foi tentar descobrir de onde vinha. O rapidamente, sem pensar duas vezes, em direção ao
som tinha algo de muito diferente, quase mágico. De corvo, olhando­o nos olhos. Ele tinha um olhar tão
repente, no fim de já andar algum tempo, avistou um familiar, tão confortante, que o Miguel caiu em
pequeno corvo numa laranjeira, algo nada habitual lágrimas, tinha, finalmente, percebido quem era este
naquela zona. Não só o cantar, mas também o olhar corvo e o porquê de lhe ser tão familiar. Por mais
do corvo tinha algo de especial. tonto que parecesse, mas como os milagres muitas
O Miguel, como se sentia sempre muito sozinho na vezes acontecem, a mãe de Miguel havia­se tornado
sua loja e como achou aquele corvo tão especial e no seu corvo de infância, vindo ajudá­lo, então, no
tão diferente (apesar de não saber bem porquê), seu negócio e na sua vida.
decidiu levá­lo consigo. O que pensava ser uma
tarefa difícil, visto não ser um animal doméstico, nem Marta Silva, 10º B
nada que se pareça, foi, no entanto, bastante fácil, o
corvo era meigo, dócil, quase como se já conhecesse Com um cesto no braço e uma foice na
o Miguel.
No dia seguinte, o Miguel, agora acompanhado pelo mão, passou a Florinda que, vendo Manuel, foi
corvo, foi abrir, como habitualmente, a loja. Para seu sentar­se junto dele, a fim de o ouvir acerca duma
espanto, estava já uma fila enorme à porta, os olhos troca em que andava empenhado.
de Miguel brilharam, habitualmente recebia quatro e Como ultimamente costumava, tirou do bolso uma
cinco clientes por dia. Neste dia, foi diferente e fatia de broa e começou a esmigalhá­la.
começou então a virar rotina para o Miguel. Ele, Estas ações não podiam vir mais a propósito.
apesar de estar imensamente feliz com tudo isto, ­ Ó rapaz, desce ao rio e esfrega essa língua com
questionava­se bastante sobre o porquê agora. “Será areia e carqueja… ­ disse Florinda.
que é o corvo?”. Foi então que começou a observar Manuel ouvia o que Florinda lhe dizia e, levando­a
com mais afinco aquele pássaro tão peculiar, à letra, dirigiu­se ao rio; ali permaneceu, deixou os
acabando por chegar à conclusão que já o havia peixes disputar as migalhas da broa que ia
visto, não sabendo bem onde, nem quando, mas lançando sempre.
aquele corvo era­lhe familiar.
Foi então que, num destes dias, enquanto o Miguel Tiago Silva, 10º B
via fotografias antigas, sentado no sofá ­ a sua mãe
havia falecido há cerca de um ano e o Miguel sentia
muito a sua falta ­ numa delas, de quando a mãe era
jovem, ele reparou num pequeno corvo no seu
ombro. Achou bastante estranho, pois este tinha

24

O mundo sem sentido Hoje acordei estranhamente leve,

Em casa, nos cafés, nas pastelarias, nos teatros… continuava branca e feita de penas, claro.
fumo, fumo e mais fumo! É claro que estão no seu Mas algo me faltava… Estava sozinha e não
direito, desde que não fumeguem para a cara da acompanhada.
gente. Eu para fugir do fumo vou andando. Mas, se O que será que se tinha passado?
fosse só isto... Ainda recentemente, ao passar por Normalmente, acordo tão pesada que hoje até senti
um carrossel, um alto­falante gritava tão aflitivamente falta de algo que tanto me desagradava, dia após
que julguei ser fogo em igreja ou asilo de velhos, dos dia: acordar sufocada, desarrumada e, por vezes, até
que alojam alguns sábios que não param com os babada, vejam bem!
seus cálculos e espantosas descobertas em todos os Será que não têm respeito por ninguém?
ramos de atividade humana. Pior, pior é quando eu penso que já estou livre e
Um dos rapazes que ali estava junto das diversões, descansada e vem aquela bola de pelo imunda, lá de
sendo licenciado em letras, aproveitou a deixa, fora, da rua; enrola­se, enrola­se, aconchega­se,
entrando também na liça com o seu vasto saber: deita­se na minha cara e ainda me deixa toda suja…
­ E muito aturei eu. Não nasci para aquilo… Antes E lá vou eu, por fim, para aquela geringonça que
andar ao sol e à chuva, nos serviços do campo, ou a tanto roda que até fico zonza, enjoada, mas ao
guardar cabras na serra. De resto, eu só dou fé menos fui lavada; estou tão limpa e cheirosa que até
daquelas coisas que os meus olhos contemplam, as me sinto poderosa.
minhas mãos apalpam e aos meus ouvidos soam, A seguir, vêm os brincos que me seguram na corda,
como diria João Pamos, se escrevesse um novo gostava de me sentir segura, como era suposto, mas
Apocalipse. não consigo. Estou de novo tão pesada e agora,
ainda por cima, encharcada. E só de imaginar que
Anita Brito, Ana Luiza, Eva Abrantes e Dinis Silva, posso cair!…
10º C/D Ai! Que angústia! Os meus companheiros e
companheiras nesta jornada estão tão descansados!
Será que não se preocupam com nada?
Não! Dizem que eu é que sou a stressada…
Ufa! Até que enfim, ela vem aí; de facto, já me sinto
de novo leve tal como as penas que em mim moram.
Já não era sem tempo!
Tristemente já não me lembro da última vez em que
estive tão serena, alegre e calma, como agora, no fim
desta tão longa aventura, por mim já antes
conhecida. Regresso ao meu armário, a minha casa
para, o que eu espero que seja, uma longa pausa.

Leonor Ribeiro, 10º B

25

Mona Lisa,
a salvadora

Acredita­se que a Galeria foi ameaçada e amaldiçoada usava uma motosserra também vermelha, mas não era
pelas tintas sagradas de um pincel. Naquele tempo, Da apenas uma motosserra, era a arma que ela usava para
Vinci temeu o pior, pois a tinta corria pincel abaixo em tirar as almas do corpo.
direção à pintura mãe. “E não seria divertido tirar­nos a diversão, especialmente
Em grande espanto, a maioria dos artistas acorreu à quando eu queria dar uma boa gargalhada, hihihihi! Ah,
Galeria e foi prometido, entre lápis e aguarelas, que eu sou Undertaker, um Shinigami, por outras palavras,
seria construída uma escultura em honra de Mona Lisa, sou aquele que guia as pobres almas humanas à
no preciso local em que a tinta parasse. A cor viva morte.", ironizou um homem de cabelo cinza, que lhe
acabou por parar a coloração excessiva, antes de tapava os olhos, coberto com uma veste preta bastante
chegar à pintura. comprida e de chapéu.
Visto tal ilusão, os artistas trataram de cumprir o “Podemos despachar isto? Estou com sono.”, comentou
prometido. Mas Manto (deus do azar), aquele que outro elemento do grupo. Ele tinha cabelo preto e
amaldiçoou estas terras, tinha outros planos, cicatrizes por todo lado.
transformou o lugar da construção prometida num “Dabi, tem paciência, isto não vai demorar muito”,
buraco de areia movediça. Foi então decidido que seria garantia a pessoa ao lado. Esta parecia uma das mais
melhor construir num local mais seguro, pois Donatello calmas, tinha cabelo branco, um olho cinza e o outro era
considerou que o mais importante seria concretizar a preto, com a íris vermelha; já a roupa era normal.
escultura que cumprisse a promessa e onde desse para "A sério, vocês não têm educação nenhuma, este é
glorificar Mona Lisa. Kaneki, por favor, não pensem que ambos são os mais
Depois de esculpida, algo totalmente inesperado normais porque o Dabi controla fogo e o Kaneki é
aconteceu: um portal aparece e saem sete pessoas, metade demónio! Ups, imensa desculpa, devia ter­me
cada uma delas diferente da outra. Tintoretto, que apresentado: prazer, o meu nome é Shalltear Bloodfallen
também estava presente, ganha coragem e pergunta: e sou uma vampira”, explicava uma mulher que parecia
“Quem são vocês e o que querem?”. Entre as estranhas bastante nova. Ela tinha cabelo branco apanhado e com
figuras, uma dá uns passos em frente. Era relativamente um laço, olhos vermelhos, um vestido de baile, preto
assustadora, tinha quase dois metros de altura, quatro macio, com uma saia grande e pesada.
braços, marcas por todo corpo e cara, cabelo rosa e Da Vinci coloca­se em posição de defesa, com os
olhos de cor amarela, que metiam medo a quem olhasse pincéis e a paleta na mão, logo seguido pelos outros
diretamente. Parou e disse: “Nós? Nós somos os BlackV pintores do grupo. Mas porquê, perguntam vocês? O que
e viemos destruir e roubar tudo o que for do nosso ninguém sabia era que, apesar de estarem em território
agrado, começando por essa estátua. Ah! Chamo­me amaldiçoado, os pintores tinham sido abençoados com a
Sukuna: Rei das Maldições!”. técnica do pincel, uma bênção dada por Apolo (deus das
''Ah, parece divertido! Posso ir primeiro?”, pergunta uma artes), por se terem aventurado e conseguido fazer arte
rapariga do grupo, de cabelos loiros, relativamente suficientemente boa para o que o deus gostasse. Então,
pequena se comparada com os outros. Vestia uma assim começa a luta. Só se conseguia ver os pintores a
roupa parecida com um uniforme escolar e tinha olhos desenhar e a dar vida a objetos ou até criaturas que os
cor de ouro. Parecia apenas uma rapariga normal, ajudassem; os BlackV a lutarem com tais criaturas, seja
inocente, que foi ali parar por acaso, mas da energia que com o fogo azul escaldante do Dabi, com os poderes de
emanava percebia­se que a única coisa que a manipulação de sangue da Toga e da Shalltear, com a
interessava era destruir. ceifadora de almas do Grell, com a superforça do
“Não, Toga, se tu fores não vais deixar nada para nós! Kaneki, seja com a foice caçadora de humanos do
Saudações, eu sou Grell Sutcliff, mas tratem­me por Undertaker, ou até com os poderes de demónio do
Grell, sou um Ceifador de Almas”, disse um homem de Sukuna. Apesar de parecer meio desproporcional, os
estatura alta, com cabelo comprido vermelho, olhos pintores estavam ao nível do poder dos BlackV. Depois
verdes, dentes afiados, roupa de mordomo, com de umas horas de luta, já estavam os pintores e alguns
exceção do casaco, que em vez de ser preto era dos tipos esquisitos, que vieram do portal, no chão,
vermelho, a combinar com o cabelo, e, não esquecer, exaustos de usarem os seus poderes. Foi, então, que

26

Donatello decidiu dar o golpe final, o seu maior trunfo, o Pneu em fuga fere carro
poder de dar vida a Mona Lisa. Gioconda, tal como com gravidade
também é conhecida, vai em direção aos BlackV com tal
velocidade que só se via um fio de luz. Ela prepara­se Um pneu, que fugiu de um camião, feriu gravemente
para atacar, eles já não têm muita força, mas mesmo um carro, ontem à tarde, em Santa Comba Dão.
assim juntam os poderes e atacam­na com tudo. O No sinistro, o pneu também ficou ferido, após um poste
choque dos dois ataques foi tão intenso que criou uma ter caído exatamente no momento em que este se
explosão enorme. No fim do fumo ter desaparecido, via­ preparava para descansar.
se o que todos os pintores desejavam, Mona Lisa em pé, Após duas horas de sofrimento, o carro ferido foi
e os vilões no chão derrotados. rebocado, cortando por completo a estrada.
Já todos festejavam e, antes que alguém pudesse notar, A fuga do pneu ocorreu numa altura em que circulava
Sukuna abre um portal e fogem dali com a pintura mãe. na Nacional 2, sentido Chaves­Faro.
Ao fim de uns minutos, já Mona Lisa tinha voltado ao A viatura que circulava em sentido contrário era um
normal. Rafael é o primeiro a dar conta da falta da pintura Fiat Panda do senhor Valvulina, que no momento do
mãe, bem como dos BlackV. Todos ficam chocados com a acidente levava a tração 4x3 ligada.
notícia, mas Michelangelo lembra: “Mais vale termos o O poste, ao ver a situação, desmaiou, encontrando­se
que nos salvou a vida e o vilarejo do que uma pintura feita a ser reparado pela EDP, mas os técnicos dizem que
pelo criador do nosso lar.”. tem um prognóstico muito reservado e corre o risco de
O povo concorda e, em vez de colocarem a escultura no a eletricidade ser cortada até o mesmo ser arranjado.
sítio onde a tinta tinha parado, decidiram colocá­la no No local do acidente, foi montado um grande aparato,
local onde estava antes a pintura mãe, para que toda a que contou com o apoio dos Bombeiros Voluntários de
gente pudesse glorificar e agradecer a Gioconda, aquela Santa Comba Dão, Mortágua, Carregal do Sal e
que salvou a Terra das artes amaldiçoadas. Tondela, e ainda com cinco carros da GNR e Polícia
Judiciária.
Daniela Soares, 10º B Neste momento, o trânsito está restabelecido e a
estrada limpa. Quanto aos três acidentados, dois
encontram­se num sucateiro da região e o outro está
ainda no local a ser reparado, mas com um
prognóstico muito reservado.

Dinis Carvalho, 10º C/D

Daniela Soares, 10º B
27

O menino e a árvore

Era uma vez um menino chamado José, a família era eles, ali mesmo, no alto. Primeiro, construíram uma
muito pobre, por isso não tinha muitas condições de casa muito simples, mas muito bonita, depois
vida. decidiram ir mostrar ao menino as suas ovelhas.
José andava pelas ruas descalço, com a roupa rota e Tempos depois, já habituado àquela vida maravilhosa,
suja e o cabelo por lavar. Quando chegava a casa, nasceu uma macieira ao pé da sua casa.
tinha de ir ajudar no campo a tratar da horta e dos Ao longo dos anos, a macieira foi crescendo,
animais, só tinha mesmo tempo para ele quando ia crescendo e ia ficando cada vez mais bonita, até que,
dormir. um dia, o José reparou que aquela árvore era muito
Todos os dias, à noite, antes de se deitar, o menino ia parecida com a sua antiga, antes do abate. A macieira
ao jardim da sua casa ver a majestosa macieira de sussurrou­lhe: “Ei, voltei! Não pensaste que me ia
que tanto gostava. embora, pois não?”. Ao ouvir aquelas palavras, o
A árvore era mesmo única, tinha uma copa larga e José apercebeu­se que era a sua árvore e que
acolhedora, ramos grandes e extensos, que lhe parecia ter renascido noutro lugar. Agora, podia fazer
permitiam neles baloiçar, mas a característica mais tudo como sempre quis, mas da maneira correta.
mágica era a imensa disponibilidade que tinha para
ele. Sempre que quisesse falar com ela, estava Maria Gaspar, 6º A
disposta a ouvi­lo e a responder às suas questões.
O menino costumava chamar­lhe “a minha macieira”, Ser livre
porque podia estar em casa, ou do outro lado da rua,
que parecia sempre que a árvore ouvia o que ele Livre, um dever cívico, direi mesmo sagrado. Estas
dizia e respondia­lhe. Era como se fosse magia. coisas, claro está, só perturbam enquanto a gente
Certo dia, quando chegou a casa, viu vários homens não se acostuma. Uma nova, porém, chegou­lhes lá:
em torno da macieira e, preocupado, quis saber o que É livre a terra onde nascestes!!
se passava. O chefe dos lenhadores aproximou­se do Há coisas que vistas superficialmente têm todo o
menino e explicou­lhe que iam cortar a árvore. O aspeto da mais banal futilidade, encaradas, porém, de
José, todo indignado, quis saber o motivo de a irem olhos abertos, passam logo a ser dignas da maior
cortar, mas ninguém lhe respondeu. atenção.
O menino, chateado com os trabalhadores, jurou que, Isto exigia largos comentários, mas não os faço com
se a cortassem, fugiria para o cimo de uma montanha receio de agravar ainda mais o conflito. Pois não diz
e nunca mais voltaria. Ninguém se importou com o certo adágio latino que o silêncio é mais eloquente do
que ele disse e por isso cortaram a árvore, mas, que a palavra?
também como prometido, o menino fugiu e nunca
mais regressou. Daniel Cadete Santos, 10º C/D
Muitos anos depois, o José, que já tinha 18 anos, foi
encontrado no topo da montanha mais alta do mundo,
por uns pastores muito amigáveis. O rapaz achou­os
muito amáveis e decidiu criar uma nova vida com

Gil da Silva Jorge, 10º B
28

João Simões, 10º C/D

Lenda da Serra e da Estrela ou do Pastor e da Estrela

Um pastor pobre vivia numa aldeia triste e só tinha língua que ninguém percebia. Mas o pastor estava a
um cão para lhe fazer companhia. adorar a aventura!
O pastor olhava para o horizonte e o seu coração Depois de dias a dançar, cantar e a ver coisas de
tinha esperança de um dia sair dali e conhecer o outro mundo, o pastor pediu para o deixarem na
mundo. serra mais alta, pois assim ele e o seu cão poderiam
Numa noite de luar, olhou para o céu e viu uma ver melhor o céu e recordar a melhor experiência de
estrela muito brilhante, mas por detrás da estrela sempre.
descia uma grande bola redonda às cores. Qual o A grande bola colorida parou no cimo da montanha
seu espanto, quando vê cinco extraterrestres a mais alta. O pastor e o cão desceram por um enorme
descer da bola. escorrega e ficaram sentados no pico da serra!
O pastor e o cão nem queriam acreditar no que Então, olharam para o céu e viram uma estrela que
estavam a ver, até o cão já tinha umas antenas brilhava mais do que todas as outras. E essa seria a
coloridas na cabeça e estava azul. estrela da maior aventura deles! Ah! E o cão
Estava lindo! continuou com antenas e de cor azul, pois assim
O pastor pegou no cão e juntou­se ao grupo dos estava muito mais bonito.
extraterrestres.
Eles eram loucos! Dançavam e cantavam numa Lara Almeida, 7º A

29

Um pirata sonhador Hoje acordei... ou melhor dizendo, nasci.

saiu da aldeia tristonha, onde vivia, com o seu Rapidamente percebi que não o devia ter feito, pois
esquilo. Ele queria ir em busca de aventuras, não esta vida é… digamos, demasiado curta e fatiada.
queria viver o resto da vida num lugar triste e sem Tenho de confessar que os meus primeiros dias de
esperança. vida nem eram assim tão maus, só mamava e dormia
Numa noite de luar, em que estava um lindo céu no quentinho, ao pé da minha mãe. Mas, apenas com
estrelado, desceu até ele um dragão muito cintilante, duas semanas de vida, comecei a perceber o meu
que o avisou dos perigos do oceano, dizendo­lhe destino, ao nascer neste mundo. Não era o que eu
ainda que estava ali para o ajudar quando precisasse. pensava, os humanos dizem­se tão ecologistas, mas
Todas as noites estreladas, o dragão do luar descia os atos mostram totalmente o contrário.
do céu, com um brilho feito de pó de estrelas, que No dia em que fiz duas semanas de vida, fui, pela
concedia proteção ao pirata. Por onde passava, primeira vez, separada da minha mãe, e nunca mais a
sentia­se seguro, ninguém chegava perto do seu vi. Nesse mesmo dia, levei uma tal chamada de
barco, ninguém conseguia perceber o porquê, mas vacina, dada pelos humanos, para não ficar doente,
tinham ouvido que, se alguém se aproximasse, seria mas mais doente do que eu já estava, por ter sido
amaldiçoado. separada da minha mãe, não podia ficar. No dia
O homem continuou a navegar por tenebrosos mares, seguinte, fui levada para pastar e conheci muitos
com muitas recordações, durante anos e anos. O amigos, um deles passou mesmo a ser o meu melhor
esquilo, numa lamentável despedida, deixou o pirata amigo. Fizemos coisas incríveis juntos, mas, para
para ir viver na Ilha das Nozes e das Avelãs, onde mim, das mais inesquecíveis foi termos recebido
teve uma linda família. brincos ao mesmo tempo. Ficámos tão felizes, agora
O corsário continuou rumo ao desconhecido com o tínhamos brincos com números que eram o nosso
dragão, acabando por envelhecer, o que não nome, eu era a 4020 e ele o 4021.
aconteceu à sua inseparável companhia. Tudo na nossa vida estava indo bem, comíamos
Um dia, o homem, já muito cansado, parou na Ilha ração de manhã, ao acordar, depois íamos para o
das Cerejeiras. Naquela época, era primavera, a ilha pasto, e intercalávamos a pastagem com umas belas
estava magnífica. Agradeceu ao dragão por ter­lhe de umas sestas. À noite, regressávamos ao estábulo
concedido proteção, durante tantos anos, e assim, o para dormir.
pirata acabou por …, voltar à vida, de uma forma No dia em que fazia nove meses, chegou um camião.
muito estranha, o dragão com as suas lágrimas de Pensei que vinha trazer mais ração, mas estava
luar deu a vida pelo pirata. totalmente enganada. Era tão ingénua que não
Agora, na Ilha das Cerejeiras, há uma árvore azul percebi que a minha felicidade acabava umas horas
brilhante. Por mais que a tentem cortar, não após ter sido carregada, naquele mesmo camião, com
conseguem. A árvore é o dragão do luar e o pirata o meu melhor amigo.
está numa constelação de estrelas, por cima do seu Uns tais de humanos, que se dizem tão sustentáveis
azul brilhante. Um dia, a constelação transformar­se­á e ecologistas, são felizes a deliciarem­se com a minha
num lindo dragão de estrelas. carne. Sofri, na pele, a própria hipocrisia humana.

Matilde Martins, 10º A Maria Mendes, 10º A

30

Três pessoas brancas puxam uma mulher negra do topo de uma árvore.
Maria Frade Mendes, 10º A

Kim Kardashian a esconder­se debaixo de uma mesa numa festa popular portuguesa.
Mariana Costa, 10º A
31

João Balão atirar batatas de mau cheiro às janelas. A criança de
olhos vermelhos desceu, enfurecida, e transformou­
e a Fada perdida se num gigante horripilante, maior que os pinheiros
de Wollemi existentes naquela zona. Os Goblins, num
Um idoso de Beja, conhecido como João do Balão, instinto protetor, chegaram­se à frente e começaram a
devido à sua forma, metade vermelho e metade falar com a criança­gigante, numa linguagem de
amarelo, encontrou uma fada a vaguear nos seus grunhidos e rosnados, e esta voltou, assim, ao seu
campos e decidiu apanhá­la. Sem saber a quem tamanho normal. Depois de explicarem o motivo da
pertencia, levou­a para casa e deixou­a livre num dos visita e o que sabiam sobre a fada, só existia um
seus barracões. único objetivo: o seu resgate.
O vizinho, que avistara a chegada dos dois, pôs­se a Os Goblins, as duas crianças e o senhor Balão
tagarelar com a esposa sobre a companhia nova que chegaram a casa do vizinho, onde o encontraram já
o senhor Balão tinha arranjado. Conversa vai e na companhia dos monstros do mar, e, como aquela
conversa vem, com o entusiasmo e o tom a subirem, era uma rua só de seres excecionais, nem se
acabou o senhor João por ouvir o vizinho dizer que ia preocuparam em esconder­se. Entraram, agarraram­
roubar a fada para poder fazer uma jantarada digna no imediatamente e prenderam­no dentro da gaiola
para os seus monstros do mar. de papel, de onde retiraram a fada. Entretanto, a
Perante a ameaça do vizinho, o João Balão pensou gaiola já estava na cozinha com o fogão preparado.
numa forma de alterar o que poderia vir a acontecer. Com o desespero nítido na voz, pedia que o
Chegou, então, a uma ideia que pensou ser genial: soltassem e tentava rasgar a gaiola com as suas
encontrar o dono da fada. Após uma semana inteira longas unhas, o que não funcionava. As crianças não
de procura pelo bairro, pelos campos e pela floresta, o soltaram; pelo contrário, colocaram­no de forma a
descobriu que os únicos que possuíam fadas, na ter uma boa visão do que estaria prestes a acontecer.
região, eram duas crianças, uma de olhos rosa e a Pegaram nos monstros do mar, cortaram, cozinharam
outra que os tinha vermelhos, que viviam numa casa e deram de comer à fada. O que sobrou foi atirado
suspensa do céu. pela janela aos animais, que aguardavam no exterior,
Chegou então o momento de decidir o que fazer. Sem atraídos pelo cheiro da cozinha.
mais demoras, foi falar com os Goblins da floresta, Para agradecer ao senhor João Balão por ter ajudado
localizada ao lado dos seus campos. Estes, após o a localizar a fada, pela gentileza em a manter consigo
relato, propuseram­lhe de imediato a criação de uma e por desvendar os planos absurdos do vizinho, as
armadilha para o vizinho. crianças ofereceram­lhe um tesouro muito especial da
Sorrateiramente, o senhor Balão, com os seus longos sua família. Uns dizem que é dinheiro e pedras
e bicudos sapatos, que lhe permitiam saltar bastante preciosas, outros que são frascos de poções e pós
alto, acompanhado dos Goblins, saltou para cima do mágicos, mas só o senhor João sabe
telhado da casa do vizinho. Os Goblins, com a sua verdadeiramente o conteúdo do baú.
magia, criaram uma jaula de papel, onde colocaram a
fada, e levaram­na para um quarto no segundo andar Mónica Ribeiro, 10º B
da casa do vizinho, enquanto o senhor João vigiava,
lá nas alturas. Deixaram ali a fada ao abandono, pois
sabiam que o dono da casa subiria a qualquer
instante, uma vez que eles haviam feito barulho. De
seguida, os protetores da fada dirigiram­se para a
casa das crianças. Como não sabiam de que forma lá
chegariam à casa, já que era suspensa, começaram a

Lara Almeida, 7º A
32

O Lua

Um cavalo suspenso, curvo na parte inferior da pata, que
forma uma espécie de lua, com uma cicatriz profunda
sensivelmente a meio do corpo, é conhecido como Lua.
Através do olho humano, é quase impercetível o que está
no interior da sua crina. Conta­se que aqui está escondida
uma pedra preciosa.
Certo dia, um mendigo, com o pouco dinheiro que lhe
restava, deslocou­se a uma quinta à procura trabalho.
Quando se preparava para bater à porta, pareceu­lhe ouvir
um cavalo falar.
Pensou que estava doido, mas, logo de seguida, voltou a
ouvir o mesmo. Decidiu, então, averiguar do que se
tratava.
Uma senhora, que o vira junto da porta da quinta, foi ter
com ele e perguntou se precisava de ajuda. Ele respondeu
que necessitava muito de um emprego. Ela,
compreendendo o desespero, respondeu que lhe daria
uma oportunidade. Nesse mesmo dia, mostrou­lhe a quinta
e todas as instalações.
Depois de passar ali o dia, quando se preparava para ir
jantar, ouviu de novo o falar do cavalo.
Inquieto, perguntou à senhora o que era afinal aquele falar,
ao que ela respondeu que tinha um cavalo valioso,
chamado Lua. Hesitante, acabou por lhe confiar o segredo
da quase impercetível pedra preciosa guardada na crina,
alertando, porém, que ele não podia visitar o animal, pelo
menos por enquanto, só o tempo demonstraria se era
digno de confiança.
No dia seguinte, quando o mendigo foi trabalhar,
aproveitando a ausência da senhora, deslocou­se
cautelosamente até ao estábulo. Colocou os olhos no
buraco da fechadura e chamou pelo Lua. Só à terceira lhe
respondeu:
­ Quem é?
­ Sou o teu novo veterinário ­ respondeu.
­ Podes entrar.
O mendigo abriu a porta do estábulo e deparou­se com um
lindo cavalo branco, com uma crina preta, muito diferente
dos outros. Assim que o Lua se apercebeu de que o
mendigo não era veterinário, tentou chamar alguém, mas
antes que conseguisse, ele pegou numa pá e golpeou­lhe
a cabeça. Com a ajuda da pá, conseguiu retirar a pedra
preciosa da crina, fugindo apressadamente de seguida. O
Lua ficou estendido no chão do estábulo.
Graças à pedra preciosa, o homem conseguiu fugir para
muito longe. Apesar das várias tentativas, ainda ninguém o
conseguiu encontrar e fazê­lo pagar pelo que fez.

Bruna Matos, 10º C/D

Eva Abrantes, 10º C/D
33

O Vento que Soa Anita Brito, 10º C/D

Havia um pastorinho que vivia na cidade de Toronto, o amigo entendia tudo distorcido e compreendeu que
no Canadá. Ele chamava­se Samuel. Era desatento, o Samuel tinha matado um gatinho que andava
resmungão e muito trabalhador nos campos, mesmo desaparecido.
vivendo numa cidade onde não havia muitos. No outro dia, ele acordou bem­disposto, mas, quando
Havia uma coisinha que ele não conseguia cumprir: saiu de casa, parecia que todas as pessoas lhe
“guardar segredos”. Sempre que via alguém faziam cara feia. Ele não entendia a reação.
conhecido, contava um. Era quase meio­dia, uma vizinha chegou junto dele e
Vivia com o pai e a sua madrasta, pois, infelizmente, disse:
a mãe tinha falecido há três anos. Esta sempre lhe ­ Como é que tiveste coragem de matar um
dissera: animalzinho tão fofinho, que não faz mal nem a uma
­ Se tiveres um segredo, que não queiras ver mosca?!
espalhado pelo vento que soa, não o contes a ­ Mas eu não matei ninguém! ­ respondeu,
ninguém. Não o contes seja a quem for! Guarda­o, surpreendido, o Samuel.
porque um verdadeiro segredo guarda­se no ­ Então, porque é que o teu amigo Zé andou a
coração. espalhar que tu tinhas matado um gatinho procurado
Mas ele nunca aprendeu a fazer isso. pelos donos?
O Samuel tinha uma vida muito difícil, não sabia ler, ­ Isso é mentira, eu disse que tinha encontrado um
nem escrever, o que era um segredo. Teve também gatinho desaparecido e que estava a cuidar dele, não
de superar sozinho a morte da mãe, o pai nem se disse que o tinha matado. Ah, é verdade, ele entende
importou com ele. tudo ao contrário!
Certo dia, o menino foi dar uma volta pela cidade. O Samuel levou, então, a vizinha à cave, onde tinha
Encontrou vários papéis espalhados pela rua a dizer: o gato. De imediato, ela prontificou­se para ajudar a
“Gatinho desaparecido desde ontem à noite! Por contactar os donos e começou a dizer a toda a gente
favor, se o encontrar, contacte este número. Tem que o gatinho estava vivo.
pelo branquinho e é muito, muito fofinho. Quem o No dia seguinte, conseguiram alcançar o seu
devolver, vai receber uma boa recompensa.”. O objetivo. Marcaram uma hora para o devolver, mas,
pastorinho ficou interessado, arrancou o papel e no fundo do coração, ele não o queria entregar.
levou­o para casa. Tinham criado tantas memórias em tão pouco tempo!
Ele tinha um pequeno campo, ao pé de casa, que Nunca o conseguiria esquecer. Chegou a hora de se
era só dele. Às cinco horas da tarde, era hora de ir encontrarem para entregar o gatinho. Quando o
para lá. Arrumou­se e foi para o seu momento devolveu aos donos, as lágrimas começaram a cair­
preferido. Passados alguns minutos, ouviu um som lhe dos olhos. Os donos, enternecidos, deram­lhe
suave vindo de longe, mas, simplesmente, ignorou e uma recompensa muito boa por ter cuidado tão bem
continuou o trabalho. Depois, foi ouvindo cada vez do gato: um gatinho pequenino e uma matrícula
mais perto, olhou para o chão e até se assustou. Era numa escola privada. Para ele, era a realização de
o gatinho desaparecido! No início, foi difícil apanhá­ um sonho.
lo, mas acabou por conseguir. Era, realmente, igual à A partir desse dia, nunca mais contou um segredo a
foto que aparecia no papel. ninguém, confiou nas palavras da mãe e guardou os
O rapaz queria tratar dele, até o conseguir devolver segredos muito bem, no coração. Agora, dizia
aos donos. Não contou a ninguém que tinha o sempre: “Os meus segredos estão dentro de uma
gatinho, porque receava que lhe fossem pedir parte caixinha, aqui muito bem guardados, sem chave para
da recompensa. Entretanto, foi cuidando muito bem abrir”.
dele.
Um dia, encontrou um amigo. Sempre que Gabriela Lopes, 6º C
encontrava alguém conhecido, apesar de tentar
resistir, contava um segredo. Fez muito esforço, mas
não aguentou e contou o segredo; só que, por vezes,

34

A Terra e a Lua devido à falta de alimento. Não desistiram e
continuaram em busca do objetivo, mesmo vendo o
Dois engenheiros ricos viviam numa cidade alegre, tempo passar tão devagar.
tendo por companhia imensas pessoas. Até que um dia, chegaram à tão esperada e ansiada
Os dois homens contemplavam o horizonte e os seus Lua, vendo de lá um imenso horizonte.
corações enchiam­se de esperança de um dia O rei de Marte, planeta ali ao lado, observou umas
poderem viajar para além do planeta Terra. coisinhas que mais lhe pareciam grãozinhos de arroz,
Numa noite clara, em que olhavam insistentemente mas que, na verdade, eram humanos. Ao ver aquilo,
para a Lua, ela desceu até eles, muito brilhante e contactou de imediato com o planeta Terra. Ao terem
cintilante, pois sabia do desejo de saírem da Terra. conhecimento da história, os terráqueos enviaram
Estava ali para os guiar para onde quisessem ir. foguetões e médicos para resgatar os dois
A partir de então, a Lua nunca mais os largou, aventureiros.
sorrindo­lhes da sua casa, no céu, dia e noite. Até Os engenheiros, prontamente, disseram que não
que chegou uma certa hora, em que os dois queriam ir embora, queriam ficar na Lua até ao resto
engenheiros tomaram a decisão de partir com destino das suas vidas e que nunca mais a abandonariam.
ao satélite natural da Terra. Os familiares e amigos Ainda hoje, podemos ver uma estátua, no Rossio, em
concordaram plenamente com a ideia, considerando, homenagem aos dois homens que sobreviveram na
porém, que era uma tremenda loucura. Lua durante imensos anos.
Partiram em viagem, que durou três anos, mas antes
tinham elaborado um plano para garantir que tudo Laura Oliveira, 6º A
corresse às mil maravilhas. Acompanhou­os um gato
chamado Kiko, que acabou por não sobreviver,

Lara Silva, 6º C
35

Um rapaz chamado João vivia sozinho num Hoje acordei como em todos os outros

lugar remoto. Ele era um sonhador, ambicioso e dias, apesar de estar a sentir­me apertado pelos
tinha muitos objetivos, que desejava cumprir. Para livros de físico­química e matemática, dentro de
tal, ansiava sair do pequeno vilarejo, onde desde uma mochila pequena. Já estava mais que
pequeno vivia. Era o único lugar que conhecia. habituado. Porém, algo de inesperado
Ele queria ver para além do horizonte, queria ir para aconteceu, comecei a sentir­me húmido e, a
além das montanhas, que observava de casa. Mas, cada segundo que passava, ficava ainda mais;
para isso, necessitava de deixar a sua pequena apesar de estar com sono, abri os olhos.
tartaruga, que dormitava numa bacia amarela com Deparei­me com um cenário aterrador. Uma
água, guardada em cima de uma das cómodas, enorme garrafa de água cor­de­rosa estava
junto de um retrato seu. aberta mesmo em cima de mim! Ainda tentei
O João estava extremamente receoso do que fechá­la, mas não consegui, pois estava muito
aconteceria ao animal, se partisse. Era esse medo pesado, cheio de canetas, borrachas,
que o impedia de explorar o mundo com que tanto sublinhadores e outras coisas mais. Sendo
sonhava. Porém, certo dia, de manhã, após uma assim, fiquei todo encharcado.
noite bem dormida, ele foi alimentar a tartaruga com Quando cheguei à escola, senti que alguém me
pequenos camarõezinhos, como sempre fazia. estava a esvaziar completamente. Fiquei mais
Esperava pacientemente que a tartaruga se magro... mas não era a melhor sensação do
mexesse e fosse petiscar o pequeno­almoço, mundo. Porque será que me estavam a fazer
quando reparou em algo preocupante. A pequenina aquilo?
tartaruga não se mexia de todo. Estava imóvel. Bem, isso percebi eu depois...
Estava morta! Parecia­se com aquelas folhas das Começaram a atirar­me de um lado para o outro
árvores que caem murchas e com cores frias no da sala de aula, passei por muitas mãos, mas o
inverno. Era também como uma dessas árvores, que aconteceu de seguida foi ainda pior. Algum
sem folhas, acabadas de cair, que ele se sentia. Ao miúdo me atirou demasiado alto e fui parar
aperceber­se de tal coisa, sentiu também que as acima de um armário cheio de pó. Como devem
cores da camisola que trazia vestida tinham imaginar, fiquei com o pó todo agarrado a mim.
desaparecido, tornando­se agora cinzentas. Tal e Quando cheguei a casa, ainda tive que estar a
qual da cor do céu quando está para haver uma ouvir os gritos da mãe da minha dona, a dizer­
tempestade. O rapaz andou cabisbaixo durante lhe que era irresponsável e a ordenar que me
alguns dias, até um determinado momento. fosse lavar.
Encontrava­se ele a ver a “National Geographic”, Ela assim fez e secou­me com todo o cuidado;
quando começou um documentário sobre a vida senti­me bem melhor.
natural das tartarugas. Aí, o João lembrou­se Depois fui dormir. Foi um dia em cheio!
imediatamente do seu querido animal. Não o
lembrava com tristeza, mas sim com saudade e Matilde Castanheira, 7° A
curiosidade. E, nesse momento, com uma súbita
clarividência, realmente entendeu que se saísse do
vilarejo, poderia então ver os rios, as cidades
coloridas e todo o género de pessoas, que se
encontravam do outro lado das montanhas. Mas,
mais importante do que tudo isso, pensou que
poderia observar mais tartarugas como a dele, ou
como aquelas, junto à costa, que tinha visto no
programa.
Podemos agora dizer que o João já não tinha nada,
nem ninguém, que o impedisse de ir para além do
que conhecia. O rapaz deixou o vilarejo e partiu. Foi
ver o céu brilhante e colorido, que se encontrava nos
confins da Terra.

Joana Loureiro, 10º B

36

O agricultor e o mistério Matilde Morais, 10º A

Na primavera, o agricultor ia até ao campo e semeava o Menina chique, de grande
trigo. Por volta do mês de julho, ceifava­o. Repetia este fortuna, bem­falante, mas cheia de mimos e
procedimento, de plantar e colher, ora no inverno, ora na
primavera. Porém, nem sempre corria bem. No meio do de nicas. O meu serviço era vesti­la, quando se
ano, por vezes, o trigo parecia ser comido por um levantava; despi­la e tornar a vesti­la, à hora de
animal. almoço; tornar a despi­la e vesti­la, para ir tomar
O agricultor, desta vez, decidiu perguntar a todos os o chá ao Estoril; no regresso, despi­la e voltar a
moradores da aldeia se sabiam a razão, mas ninguém vesti­la para o jantar.
se tinha apercebido. Pensou, pensou e pensou até que Assentei que o melhor seria nunca mais ajudar.
teve a ideia de passar a noite no campo. No primeiro Cairia numa das três seguintes desventuras:
dia, adormeceu; no segundo dia, não apareceu nada, usuário, idiota chapado, ou...é melhor não dizer,
nem ninguém. Só ao fim do terceiro dia, é que ele pois é longa a série de bilhetes e cartas que
conseguiu ver uma espécie de cão; parecia o dele. Até tenho recebido. Ainda por cima, a menina chique
que se lembrou do que a sua avó Alzira tinha só dizia mal dos empregados. Gostava de
aconselhado: “Tenta não deixar os animais mandar bocas e recados; alguns até eram
aproximarem­se dos cereais, principalmente do trigo, cheios de graça, outros, porém, de ironia, umas
pois contém fibra, proteína e sais minerais.”. vezes simulada, outras picante, como o
Resolveu, então, experimentar dar trigo ao cão, para ver espinheiro bravo.
como reagia.
Ele saltava para cima dele de contentamento, Edgar Duarte, 7º A
parecendo pedir mais.
No dia seguinte, o agricultor foi ao campo e construiu 37
uma cerca à volta do trigo, mas não deixou o cão de
parte e fez uma pequena vedação para ele.
De vez em quando, ia ao moinho e transformava o
cereal em farinha para fazer pão para ele e para o cão.
O povo da aldeia quis fazer­lhe uma homenagem, mas
ele, agradecendo, recusou­a, dizendo que as ações de
cada um seriam a melhor maneira de o homenagear.

Maria Oliveira Curto, 6º A

Longínqua Nem sabem a aventura que tive,

O mocinho, mal voltou a última folha do dei por mim pendurado num bengaleiro com
“Enciclopédico”, folheou outros manuais, onde novos outros chapéus , um boné e um cachecol.
horizontes se lhe abriram, mormente quando lhe De repente, um senhor pegou­me, pôs­me na
chegou à mão um resumo das teorias de Laplace, no cabeça e saímos para a rua.
qual o príncipe Ali Ben­Bekar, das “Mil e uma Noites”, Depois de caminharmos muito, parámos num
cita: “Neste mundo cada coisa tem um fim. Ai daquele café e eu fiquei pendurado no cabide a
que o não atingir em amor: só lhe resta morrer”. Quer o conversar com outros chapéus.
sábio dizer que há quatro biliões de anos já o nosso O que aconteceu é que o senhor esqueceu­se
planeta rolava na sua órbita, redondinho e sólido, como de mim. Nisto, vem outra pessoa, que estava
se encontra hoje. quase a tirar­me do cabide, quando o meu
Simpatia e pena é a dos servos da gleba (e tantos são dono apareceu e me pegou.
ainda em todo o Mundo!) porque lutam e sofrem sem Já na rua, eu estava a ter muita dificuldade em
esperança, como se estivessem já no Inferno. segurar­me na cabeça porque estava muito
Imaginem, portanto, se tal notícia devia ou não vento.
impressionar o moço. Tanto que correu logo aos cais Até que, veio uma rajada tão forte que me pôs
de desembarque a saber se tinham vindo já alguns dos a voar, e fui aterrar mesmo em cima de um
filantropos. Nenhum tinha chegado ainda! E voltou para carro.
casa para reler a notícia, que receou não vir a O carro arrancou e eu via o meu dono a correr
confirmar­se. atrás de mim, mas não podia fazer nada.
Mas o que mais o irritava e abatia era a memória Eu não sei como ele ficou, mas eu fiquei muito
daquele incêndio pavoroso que abrasou as montanhas triste porque não sabia se o voltaria a ver.
onde tanto sonhou, tanto semeou e plantou; onde a Depois de andar por várias ruas, o vento
tanta sombra se acolheu, alheio às vaidades do atirou­me para cima de um autocarro. Já tinha
mundo, escutando os longos e profundos silêncios da andado várias vezes de autocarro, mas nunca
floresta. Tinha perdido o sono nessa noite e por isso no tejadilho.
ficou mais um bocado a tagarelar com ela, que Pouco tempo depois, o autocarro parou, e eu
expunha as coisas com uma clareza e uma graça que fui atirado para o passeio com a manobra.
o encantavam e prendiam, a ponto de sentir que no Fiquei ali por alguns instantes, até que vi
seu coração iam subindo um carinho e uma ternura alguém a aproximar­se. E sabem que mais?
que, dia a dia, se tornavam mais vivos, tornando­lhe Era o meu dono, ele ficou muito contente por
também mais calma a vida. me ver. E lá fomos os dois juntos para casa.
As andorinhas são a personificação, o símbolo ideal da
liberdade. Lembravam­no dela. Nascidas nos beirais José Soares, 6º A
do nosso lar, na paz da nossa aldeia, onde voaram
livres, onde cantaram livres na livre comunhão do seu
amor.
Que dezembro passou há quatro meses? E viram que
foi em dezembro que deixou de haver autoridade nesta
terra e observaram e notaram que precisamente nesse
mês deixou de haver aqui qualquer espécie de
desordem?

Adriana Abreu, 10º A

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Rafael Gomes, 10º B
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As viagens

Antes seja afastado do que já alcancei
que o seja daquilo para que vou.

A posse é um declínio.

Antes um pássaro a voar
que dois na mão.
Dois pássaros na mão
são o que já não falta.

Um pássaro a voar:
é ir com os olhos a voar com ele;
ir sobre os montes, sobre os rios,
sobre os mares;
dar a volta ao mundo e continuar;
é ter um motivo de viver
­ é não ter chegado ainda!
Branquinho da Fonseca, 1928

António José Branquinho da Fonseca
Laceiras, Mortágua, 4 de maio de 1905
­ Cascais, 16 de maio de 1974

Acervo da exposição itinerante “Uma Vida a Fazer Ler”
do Município de Mortágua ­ Biblioteca Branquinho da
Fonseca

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