The words you are searching are inside this book. To get more targeted content, please make full-text search by clicking here.

Catálogo da Exposição Podium lançado em 25 de julho de 2023. A exposição foi realizada no segundo semestre de 2022 na Casa de Cultura Mario Quintana.

Discover the best professional documents and content resources in AnyFlip Document Base.
Search
Published by Casa de Cultura Mario Quintana, 2023-07-31 16:26:05

Podium - Catálogo

Catálogo da Exposição Podium lançado em 25 de julho de 2023. A exposição foi realizada no segundo semestre de 2022 na Casa de Cultura Mario Quintana.

Keywords: CCMQ,Podium

49 CONVERSA COM OS CURADORES E RICARDO RESENDE Antecedendo a abertura de “PODIUM”, no dia 7 de outubro, foi realizado um encontro entre Edson Luiz André de Sousa e Elida Tessler, curadores da mostra, e Ricardo Resende, curador do Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea – RJ, do Rio de Janeiro. Na ocasião, Resende abordou em sua fala aspectos da vida e obra de Bispo do Rosário. Ricardo Resende é mestre em História da Arte pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP), tem carreira centrada na área museológica.Trabalhou de 1988 a 2002, entre o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo e o Museu de Arte Moderna de São Paulo, quando desempenhou as funções de arte-educador, produtor de exposições, museógrafo, curador assistente e curador de exposições. Desde 1996, coordena o Projeto Leonilson. Foi diretor do Museu de Arte Contemporânea do Centro Cultural Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza, no Ceará. Em 2007 participou de residência artística, como crítico convidado do Lugar a Dudas, em Cali, Colômbia. Dirigiu o Centro de Artes Visuais da Fundação Nacional das Artes, do Ministério da Cultura, e o Centro Cultural São Paulo, em São Paulo. Atualmente é curador chefe do Museu Bispo do Rosário no Rio de Janeiro, desde 2014.


50 OFICINA DE ESCRITA CRIATIVA ANTICOLONIAL Construída com base no papel do corpo no ato da escrita insubmissa e na potência do olhar sobre identidade e nossas marcas no cotidiano, a oficina “Escrita Criativa Anticolonial” pousou um olhar atento sobre a célula inicial do texto – a PALAVRA – partindo de algumas premissas: Corpo, Cotidiano, Cosmologias e Identidade. Esta interação do “eu tocando e experimentando”, o “encadeamento da vida” , a “feitura dos nossos mundos” mais o “eu respondendo e se reconhecendo” guiou a produção de texto. O termo “Anticolonial” estabelece-se como essencial à medida que a história pessoal ancestral de cada existência encontra espaço para performar pela palavra, partindo do princípio de entendimento da colonialidade como amarra estrutural de nosso lugar no mundo. Entendendo a escrita como poderosa ferramenta de descoberta, afirmação, expressão e interação, a oficina operou com a força da palavra e o que dela pode nascer. MINISTRANTE: Caelí da Silva Gobbato é formada em Artes e Culturas Comparadas (Atual Estudos Comparatistas) na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Está finalizando o roteiro da animação AFRUS, sobre história e contexto afro-brasileiro, e vem publicando textos de ficção, ensaios, opinião e matérias sobre cultura e negritude. foto: @midianinja Estudou e praticou teatro por 4 anos com Os Satyros, Luís Melo e Nena Inoue e, ao lado do ofício de escrita, atuou como gestora e produtora cultural nos últimos 20 anos. Acaba de lançar sua crônica Jogo de Dentro na coletânea Carolinas - A Nova Geração de Escritoras Negras Brasileiras e assinar o Roteiro Original da Nebulosa Websérie, de Giovani Cidreira. Ministrou esta oficina no espaço cultural Chão, em São Luis/MA e Biblioteca Estadual do Ceará.


51 A atividade incentivou os participantes a entrar em contato com suas ancestralidades e subjetividades, tendo como ponto de partida as fotografias de seus álbuns de família. O bordado entrou como elo para a criação de narrativas visuais, costurando questões sobre identidade, pertencimento e afetividade. Conduzidos pela artista têxtil Mitti Mendonça, os encontros abordaram as potencialidades das memórias pessoais, coletivas e afetivas no campo das artes visuais, trabalhando de forma coletiva para a concepção de um objeto de instalação, fazendo com que os participantes façam um exercício de expografia. MINISTRANTE: Mitti Mendonça é artista têxtil e ilustradora. Sua prática instiga as potencialidades das técnicas têxteis como narrativas visuais, principalmente através do bordado e da tapeçaria. Desde 2017, articula seu selo criativo “Mão Negra”, elaborando trabalhos artísticos sobre ancestralidade, afeto e memória, principalmente motivada por seus álbuns de família. Participa do circuito de mostras de arte, com exposições na Galeria Ecarta, GoetheInstitut, Museu de Arte do Rio Grande do Sul e na Pinacoteca Ruben Berta. Além disso, em 2020, foi vencedora do segundo lugar do Prêmio Aliança Francesa de Arte Contemporânea. E, como ilustradora, colabora criativamente para editoras, marcas e projetos culturais como Festipoa Literária, Intrínseca, Hershey`s, Natura, Telecine e Youcom. É natural de São Leopoldo e atualmente vive e tem ateliê em Porto Alegre. OFICINA ANCESTRALIDADE BORDADA


52 O QUE PODE CABER EM UMA CAIXINHA DE FÓSFOROS? A obra “Coisas que cabem em uma caixinha de fósforos” (2014), da artista Amanda Teixeira, foi o ponto de partida para a oficina “O que pode caber em uma caixinha de fósforos?”. Conduzida pela mediadora Anna Laura Schepp, a atividade incitou uma reflexão sobre a dimensão subjetiva dos objetos e a possibilidade de apreender materialmente o intangível. A oficina ocorreu no dia 14 de dezembro. MINISTRANTE: Anna Laura Schepp é dramaturga e pesquisadora das dramaturgias criadas a partir de fontes reais. Foi destaque no XXXIV Salão de Iniciação Científica da UFRGS com o trabalho “Entre a fala e o silêncio: os registros de memória na confecção de uma dramaturgia investigativa”, que analisa a elaboração da memória nos registros de escrita coletados na na Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro, para fins da confecção de uma dramaturgia. Por força das circunstâncias, tornou-se parte da luta antimanicomial e pensa que todo mundo tem o direito de se expressar.


53 AMANDA TEIXEIRA Coisas que cabem em uma caixinha de fósforos, 2013 Vídeo, cor e som | 3’50”


54 Amanda Teixeira (Porto Alegre/RS, 1991) é artista visual. Sua produção tem desdobramentos em vídeo, fotografia, objetos e instalação, abordando percepções sobre o cotidiano e suas transformações. Através de um processo de longa duração de coleta, acumulação e deslocamento de objetos cotidianos, a artista questiona como os sistemas são construídos. É mestranda em Artes Visuais na CalArts (Valencia/EUA). Teve passagem pelas universidades UBA (Argentina, 2012) e KHM (Alemanha, 2016-2017) e é bacharel em Artes Visuais pela UFRGS (Brasil, 2015). Expõe desde 2010, tendo participado de diversas exposições e feiras de livro de artista no Brasil, Estados Unidos, Islândia, Alemanha, França, Portugal, Uruguai e Argentina. Já recebeu sete prêmios por sua produção, sendo o mais recente o Açorianos de Artes Plásticas, por sua segunda exposição individual, no Instituto Goethe, com curadoria de Eduardo Veras, em 2021. Integra o coletivo de produção de arte Vinco estúdio e a editora Azulejo Arte Impressa, além de ter participado do projeto AVSD entre 2013 e 2019. Arthur Bispo do Rosário (Japaratuba/SE, 1909–1989), ao ingressar na Marinha, em 1926, foi transferido para o Rio de Janeiro, onde iniciou também a carreira de boxeador. Após ser expulso da corporação, começou a trabalhar como lavador de bondes na Viação Excelsior, subsidiária da empresa Light & Power. Em 1936, sofreu um acidente de trabalho que levou ao esmagamento de seu pé direito. Pouco tempo depois, foi demitido da empresa. Com a ajuda do advogado José Maria Leone, deu entrada em uma ação indenizatória. Após esse contato, tendo ganhado a simpatia dos Leone, Bispo foi trabalhar como empregado doméstico na casa da família. Na noite de 22 de dezembro de 1938, Bispo teve a revelação de que seria o filho de Deus, o próprio Jesus Cristo, e saiu a perambular pelas ruas do Rio de Janeiro. Foi preso em frente a uma igreja no centro da cidade e encaminhado para o Hospital Nacional de Alienados. Em 1939, foi transferido para a Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, onde passou internado cerca de 50 anos não consecutivos. Durante este período, recebeu a missão de reconstruir o mundo para apresentar a Deus no dia do Juízo Final, missão esta que proporcionou a realização de sua obra. Com o início da abertura democrática do País, no final dos anos 1970, diversos movimentos sociais passaram a reivindicar a redemocratização também das instituições psiquiátricas. Neste contexto, em 1980, uma reportagem exibida SOBRE OS ARTISTAS


55 no programa “Fantástico”, da Rede Globo, revelou ao público a cruel realidade daqueles que viviam na Colônia Juliano Moreira. Alguns minutos foram dedicados a Bispo, um curioso paciente que bordava, colecionava objetos e esculpia outros em madeira. Foi por meio desta reportagem que o crítico e curador de arte Frederico Morais conheceu o artista, levando seus trabalhos para a exposição coletiva “À Margem da Vida”, realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1982. Com o falecimento de Bispo, em 1989, uma grande exposição individual foi montada no Parque Lage, também no Rio de Janeiro. Esta mesma exposição itinerou por São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte e Curitiba. Em 1992, o conjunto da obra foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro (INEPAC). A consagração internacional da obra de Bispo do Rosário, no campo da arte, deu-se com a participação de seus trabalhos na 46ª Bienal de Veneza, em 1995. Hoje, o acervo do Museu Bispo do Rosário é tombado também pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Eduardo Montelli (Porto Alegre/RS, 1989) é artista visual, professor de Arte e Mídia na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e doutor em linguagens visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em sua pesquisa artística e teórica, investiga o entrecruzamento entre modos de “inscrição de si” com diferentes formas de vida e reconhecimento social. Em seu trabalho com vídeo, fotografia, performance, objeto e internet, produz imagens entre ficção e realidade que materializam experimentações com a própria identidade. Suas obras foram exibidas em instituições como a Oficina Cultural Oswald de Andrade, São Paulo (2021); Instituto Tomie Ohtake, São Paulo (2016); Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre (2015); e Centro Cultural Banco do Nordeste, Fortaleza (2014). Evgen Bavcar (Lokavec/SI,1946) é fotógrafo franco-esloveno. Vive entre Paris e Liubliana, Eslovênia. Evgen Bavcar ficou cego aos 12 anos, em decorrência de dois acidentes consecutivos. Começou a fotografar aos 16 anos, como uma forma de continuar pertencendo ao universo das imagens. Através da escrita e da fotografia, vem trabalhando as relações entre a fotografia conceitual, o visível e o invisível em um mundo saturado de imagens. Realizou Doutorado na Universidade de Paris 1- Panthéon Sorbonne em Filosofia Estética e tornou-se pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) na França. Publicou inúmeros livros e artigos em revistas internacionais. Também realizou exposições individuais e participou de importantes coletivas em diferentes países da Europa e América Latina. Em Porto Alegre, apresentou a exposição individual “A noite, minha cúmplice” no MARGS (2001). Evgen Bavcar é fundador do Laboratório do Invisível no 17, Instituto de Estudos


56 Críticos na cidade do México. No Brasil, tem um livro sobre a sua obra publicado pela Cosac Naify (Memórias do Brasil, 2003), organizado por Elida Tessler e João Bandeira. É também um dos entrevistados do documentário “Janela da Alma” (2001), dirigido por João Jardim e Walter Carvalho. Letícia Bertagna (Porto Alegre/RS, 1983) é artista e professora do Instituto de Artes e Design (UFJF). Doutora em Artes (UERJ) e mestre em Poéticas Visuais (UFRGS). Sua prática artística gravita em torno da fotografia, vídeo, ações performáticas e objetos, com interesse nas relações entre palavra e imagem, linguagem e lugar, experiência e modos de viver. Entre as mostras coletivas mais recentes estão: “O dia em que as corujas caíram do céu”, “Plataforma Verter” (2021); “Experiência n.14”, “A Mesa” (2017); “Fala”, Galeria Ecarta (2017); “Testemunhos possíveis”, Museu de Arte Murilo Mendes (2016) e as exposições individuais: “Trabalho do tempo”, com curadoria Gabriela Motta, Galeria Guaçuí (2022), “Lugar de passagem”, Goethe Institut (2012) e “Fundo do fora”, CCBM (2016). Luiz Silveira Guides (Rio Grande/RS, 1922–2010) foi internado no Hospital Psiquiátrico São Pedro em 1950. Frequentou a Oficina de Criatividade do referido hospital desde 1990 até sua morte no ano de 2010. Com seus trabalhos, participou da exposição “Quatro x Quatro”, em 1998, na Pinacoteca Barão de Santo Ângelo. Com curadoria de Blanca Brites, seu trabalho foi apresentado em uma exposição individual no Museu de Arte do Rio Grande do Sul/MARGS, em 2003, integrando o evento “Corpo, Arte e Clínica”. Em 2009 participou na “V Bienal de Las Artes y La Salud Mental”, realizada na cidade de Havana, em Cuba, e em 2010 na exposição “Eu sou você”, com curadoria de Blanca Brites e Tania Galli Fonseca, uma parceria do HPSP com o Museu da UFRGS. Participou ainda da exposição “Lugares do Delírio”, no Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR-RJ), em 2017, e no SESC Pompeia (São Paulo), em 2018, ambas com curadoria de Tania Rivera. Luiz Guides deixou um acervo de cerca de 6 mil obras. Maria Ivone dos Santos (Vacaria/RS, 1958) é artista plástica e professora. Entre 1979 e 1987, dedica-se à gravura em Porto Alegre, com estâncias em Lima, no Perú e Potosi, na Bolívia. Viveu entre 1987 e 1994 na França, onde graduou-se em Joalheira pela École Supérieure des Arts Décoratifs de Strasbourg. Obtem a “Licence en Arts” na Université des Sciences Humaines de Strasbourg, (1991), e o Mestrado (1994) e Doutorado em Artes (2003), na Université Paris 1, Panthéon-Sorbonne, França. Desde 1998, atua como professora do Instituto de Artes da UFRGS. Sua prática artística transita pela escultura, fotografia, vídeo e texto, explorando eixos conceituais em torno do corpo,


57 espaço e memória. Produz peças gráficas articuladas com instalações, intervenções urbanas e publicações. Vem apresentando sua produção em exposições individuais e coletivas dentre as quais se destacam: “En Quête d’Espace”, Galeria Ipsofakto, “Lausanne”, Suíça; “Extensiones Lejanas”, Galeria da Casa do Brasil, Madrid, Espanha (1992); “Duplo Pousar”, Museu de Arte Contemporânea, Porto Alegre (1995); “Remetente”, Espaço da ULBRA, Porto Alegre (1998); “Rumos Visuais”, Itaú Cultural, São Paulo (2000); “Plasticidade”, CEMIG, Belo Horizonte (2004); “O Corpo na Arte Contemporânea”, Instituto Itaú Cultural, São Paulo (2005); “Prosa de Jardim II”, Museu de Arte de Joinville (2008); “//22°S.-50°N”, Musée des Beaux Arts de Verviers, Bélgica, Museu de Artes de Campinas (2009); “Cabe a Alma”, Museu da Gravura Cidade de Curitiba (2013); Bienal de Yakutsk-BY14, Rússia (2014); Local Extremo, ESPM, Porto Alegre (2016); “Zona de escuta”, Galeria da Pinacoteca Barão de Santo Ângelo, Porto Alegre (2018). Natália Leite (Santo Ângelo/RS, 1943–2022) ingressou no Hospital Psiquiátrico São Pedro em 1956. Frequentou a Oficina de Criatividade de 1990 até seu falecimento em 2022. Natália produziu cerca de 14 mil trabalhos entre pinturas, desenhos, esculturas e bordados. Seus trabalhos estiveram presentes na exposição “Quatro x Quatro”, em 1998, na Pinacoteca Barão de Santo Ângelo; na mostra “Eu sou você”, no Hospital Psiquiátrico São Pedro, em parceria com o Museu da UFRGS, em 2010; na mostra “Lugares de Delírio”, no Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR-RJ), no ano de 2017; e no SESC Pompeia, em São Paulo, no ano de 2018. Otacílio Camilo (Porto Alegre/RS, 1959–1989) iniciou seus estudos em artes visuais no final da década de 1970 e desenvolveu sua prática na década de 1980 até sua morte precoce. Artista intermídia, realizou experimentos interdisciplinares no campo das artes visuais, da música e do teatro. Também utilizou diferentes técnicas e linguagens artísticas, como gravura, performance, videoarte, poesia, colagem, fanzine, objetos e livros de artista. Suas proposições são permeadas por uma ironia fina e humor irreverente, a partir dos quais o artista desenvolveu muito cedo uma expressão visual singular. Adepto do movimento anarcopunk, Otacílio é autor de uma produção de caráter existencialista e de problematização política e social. Com traços por vezes extremamente carregados, e por outras totalmente econômicos, Otacílio desenvolveu uma obra, cuja precariedade dos meios dialoga com uma ideia de autogestão, o “Do it yourself”, ambos elementos próprios do punk.


58 Regina José Galindo (Guatemala, América Central, 1974) é artista visual e poeta, que utiliza a performance como principal expressão. Galindo vive e trabalha na Guatemala, utilizando seu próprio contexto como ponto de partida para explorar e denunciar as implicações éticas da violência social e das injustiças relacionadas à discriminação racial e de gênero, assim como os abusos aos direitos humanos provenientes das desigualdades endêmicas nas relações de poder das sociedades contemporâneas. Galindo recebeu o prêmio Leão de Ouro como Melhor Artista Jovem na 51ª Bienal de Veneza (2005) por seus trabalhos “¿Quién puede borrar las huellas?” e “Himenoplastia”, duas obras cruciais em sua trajetória que criticam a violência guatemalteca. Em 2011, recebeu o Prêmio Príncipe Claus, nos Países Baixos, por sua capacidade de transformar a injustiça e a indignação em atos públicos que exigem respostas. Regina participou das Bienais de Veneza nas edições 49, 53 e 54; da 14ª Documenta de Kassel; da 9ª Bienal Internacional de Cuenca; da 29ª Bienal de Artes Gráficas de Ljubljana; da Bienal de Shanghai (2016); da Bienal de Pontevedra (2010); da 17ª Bienal de Sidney; da 2ª Bienal de Moscou; da 1ª Trienal de Auckland; da 1ª Bienal de Arte e Arquitetura das Ilhas Canárias; da 4ª Bienal de Valência; da 3ª Bienal de Albânia; da 2ª Bienal de Praga; e da 3ª Bienal de Lima. Vivi Pasqual (Caxias do Sul/RS, 1966) é artista e musicista. Entre 2000 e 2015, foi membro da Orquestra Municipal de Sopros de Caxias do Sul tocando flauta transversa. Sua prática artística desenvolve-se sobretudo em desenho em diferentes suportes, placas, bordados, papelão, bandeiras, camisetas, restos de tecido. São desenhos feitos a partir de vivências em diferentes cidades, correlacionada a seus modos intuitivos de organização social e sinalização. Como artista plástica, participou de diversas exposições coletivas e individuais, entre as quais destacam-se as coletivas “Matéria Difusa – um olhar sobre a coleção MACRS” (2022), na Galeria Xico Stockinger, MACRS, Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre; “O Avesso do avesso do avesso” (2016), com Mara de Carli, na Galeria Municipal Gerd Bornheim, em Caxias do Sul; “Volúpia Construtiva” (2014), no MACRS, em Porto Alegre. Dentre as individuais, destacam-se “Parente é comida no Dente” (2021), em Olinda, PE. “Projeto Vitrine, Casa M”, como parte da programação da 8ª Bienal do Mercosul (2011). Eduardo Montelli (Porto Alegre/RS, 1989) Fundos, 2013 Vídeo, cor e som 24’17”


59


60 TEXTOS EN ESPAÑOL PO DI UM curaduría EDSON LUIZ ANDRÉ DE SOUSA Y ELIDA TESSLER DEL 07 DE OCTUBRE AL 18 DE DICIEMBRE DE 2022, EN EL ESPACIO MARIA LÍDIA MAGLIANI, 5º PISO DE LA CASA DE CULTURA


61 HAGO UN NOMBRE, COSAS AQUÍ, OTRAS ALLÍ. Y DE ACUERDO CON EL TIEMPO QUE TENGO. - ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO PO DI UM EDSON LUIZ ANDRÉ DE SOUSA ELIDA TESSLER Bispo do Rosário nació en Sergipe en 1909. Era de una familia con pocos recursos y pasó gran parte de su vida internado en el Hospital Psiquiátrico Colonia Juliano Moreira en Río de Janeiro. Construyó una obra inmensa, porque creía haber sido el enviado de Dios para registrar, anotar y guardar la memoria del mundo para presentarla el día del juicio final. Así, convirtió su vida en un trabajo conmovedor de archivista y creó en torno de sí una especie de museo de todo. Seguía de esta forma, intuitivamente, lo que el filósofo Ludwig Wittgenstein propuso al escribir que imaginar un lenguaje significa imaginar una forma de vida. En estos espacios de olvidos de los hospitales psiquiátricos, Bispo reinventa, con su arte, un lenguaje de memoria del mundo. El reconocimiento de su trabajo fue tardío, pero hoy es considerado uno de los grandes artistas brasileños, habiendo participado de importantes exposiciones, entre ellas la Bienal de Venecia, en 1995, ocasión en la que representó a Brasil. El eje de la exposición PODIUM parte de un trabajo de Bispo, un minúsculo y monumental podio, objeto icónico de estos lugares reservados a los vencedores. Sin embargo, este podio está seccionado como si desmontara el objeto para interrogarnos sobre la lógica del poder del “UM” (UNO). ¿Puede uno? Él recorta la palabra, y su PO – DI – UM nos evidencia la fuerza del arte al abrir nuevas significaciones. Esa obra nos hace pensar sobre quién va a escuchar las historias de los vencidos. El arte redibuja


62 los espacios de poder, mostrando la potencia de lo que escapa al sentido común y a las ideologías conservadoras del progreso. Abre, así, espacios para lo incontenible, lo inalcanzable y lo inaceptable, como nos sugiere la canción “Metáfora” de Gilberto Gil. Una lata existe para contener algo, Pero cuando el poeta dice: lata Puede querer decir lo incontenible Una meta existe para ser un blanco Pero cuando el poeta dice: meta Puede querer decir lo inalcanzable Por eso, no intente exigir del poeta Que determine el contenido en su lata En la lata del poeta todo, nada cabe Porque es el poeta quien debe hacer Que lo inaceptable quepa en la lata. Las obras de los artistas integrantes de esta exposición abrieron metáforas inéditas, ampliando la gramática tejida por Bispo do Rosário. Luiz Guides y Natália Leite vivieron la mayor parte de sus vidas internados en el Hospital Psiquiátrico São Pedro. Encontraron allí una oportunidad de construir nuevos lenguajes con los trabajos producidos en el Taller de Creatividad del HPSP, que recientemente se transformó en museo estadual, el MEOC – HPSP. Luiz Guides dibuja relojes para desmontar el tiempo en sus cuadrantes de color. Trabajo minucioso, lento y preciso. Los relojes se diluyen en las capas de pigmento y permanecen allí pulsando, casi en silencio, debajo del velo cromático que él inventa. Estamos delante de un silencio elocuente de alguien que pasó prácticamente toda su vida dentro del hospital sin casi nunca hablar. Sus pinturas son las palabras vivas que dejó para el mundo: lo indecible. Natália Leite abre agujeros en la tela de su memoria para señalar todo lo que quedó afuera de su historia de sufrimiento psíquico. Redibuja sus mundos con líneas coloridas: 14 casas situadas en una especie de fluctuación junto a algunos pájaros que guían la dirección del vuelo.


63 ¿Dónde buscar las palabras que todavía faltan en la experiencia de su refugio hospitalario? Punto a punto, la narrativa de Natália crea una suspensión: lo innominable. Amanda Teixeira acciona nuestros inventarios íntimos que coleccionamos a lo largo de la vida. Tensiona la escala de las cosas en sus proximidades y distancias en los encuadramientos inusitados que construye. La artista pregunta sobre lo que cabe en una caja de fósforos o en un pedazo de cielo: lo imposible. Eduardo Montelli crea un podio de palabras al retirar objetos abandonados de un galpón en el fondo. Reinstaura una melodía de las cosas al nombrar cada una de ellas. El desplazamiento que produce con su gesto reanima estos objetos olvidados dándoles nuevamente voz y morada: lo inconmensurable. Maria Ivone dos Santos convierte su cuerpo en una geografía. Manos y pies como continentes de nuevos gestos poéticos. Materia moldeable que llena vacíos junto a nuestro cuerpo y al borde de un espacio infinito: lo ineludible. Otacílio Camilo produce narrativas inquietas en micro grabados pegados em cajas de fósforos, atento a lo que queda en el margen. Imágenes, página, todo es libro. Los dibujos pegados en objetos ordinarios recuperan el calor de un pensamiento crítico y reivindican tomar una posición. El juicio final está en nuestras manos. Una situación de giro y de riesgo: lo indefinible. Leticia Bertagna instaura el fondo de lo de afuera en el mapa de su mano y recorta un fragmento de cielo dentro de una tarjeta de registro. La presencia del aquí y ahora se realiza en la acción de la artista de fijar un clavo en la pared durante la abertura de la exposición. Busca un punto, una punta, un agujero, un registro: lo inalcanzable. Vivi Pasqual sube en su podio a personajes inquietos como si estuvieran fuera de lugar. Recrea de forma insólita zonas de ironía. La insistencia de los fondos y el juego de


64 ángulos desobedientes en la construcción del espacio: lo inaceptable. Evgen Bavcar imagina un mundo a partir del paisaje esloveno y de la oscuridad de su ceguera. Sus fotografías evidencian que toda imagen es una construcción mental, como una cámara oscura atrás de otra cámara oscura. Desde la ventana de su casa de infancia, nos llega la mirada de un voyeur absoluto, como él mismo se define. Abre, así, otro espacio: lo invisible. Regina José Galindo desafía la ferocidad de la máquina del poder cuando establece una pequeña isla de tierra a partir de la resistencia de su cuerpo desnudo, evocando el genocidio de la población indígena en Guatemala: lo inconcebible. PODIUM genera una conversación inédita entre Arthur Bispo do Rosário y estos diez artistas, ampliando los espacios de dentro y de afuera que el lenguaje del arte pone en escena. Elida Tessler es artista e investigadora. Doctora en Historia del Arte por la Universidad de París I, Sorbona. Fue profesora en el Instituto de Artes de la UFRGS. Fundó y coordinó junto con Jailton Moreira, el “Torreão” (1993 a 2009) en Porto Alegre/RS. Realizó estudios posdoctorales en la EHESS- Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales y en la Universidad de París I, Sorbona. Entre sus exposiciones individuales más recientes se encuentran “Gramática intuitiva”, en la Fundación Iberê Camargo (2013); “365”, en la Galería Bolsa de Arte de Porto Alegre (2015); “Recortar Copiar Colar”, en la Bolsa de Arte de São Paulo (2017); y “Palavrar” en tres espacios de Porto Alegre: Centro Cultural UFRGS, Biblioteca Pública del Estado y Galería Bolsa de Arte (2022). Su producción se centra en las relaciones entre arte y literatura y ha sido presentada en exposiciones colectivas como “Língua Solta”, Museu da Língua Portuguesa, en São Paulo, (2021); “Rétour à l’Afrique, Bandjoun Station, Bandjoun”, Camerún (2019); “Ecos Mecânicos: A máquina de escrever e a prática artística”, Museo de Arte Contemporáneo MAC-USP (2018); “James Joyce & Company”, Moufflon Bookshop - House HadjigeogakisNicosia, Chipre (2014); “The Storytellers - Narratives” en International Contemporary Art. , Museo Stenersen, Oslo, Noruega (2012). Participó en la 2ª y 8ª Bienal del Mercosur en Porto Alegre. Edson Sousa, psicoanalista, miembro de la Asociación Psicoanalítica de Porto Alegre (APPOA). Fue profesor titular del Instituto de Psicología de la UFRGS. Doctorado y posdoctorado por la Universidad de Paris VII. Posdoctorado por la EHESS (Ecole des Hautes Etudes en Sciences


65 Sociales, Paris). Coordinador, junto con Maíra Brum Rieck, del Museo de las Memorias (im)posibles de APPOA. Publicó, entre otros, “Furos no Futuro: psicanálise e utopia” (Editora Artes& Ecos); “Imaginar o Amanhã”, en coautoría con Abrão Slavutzky (Editora Diadorim); “Uma Invenção da Utopia” (Editora Lumme); “Freud: Ciência, arte e política”, en coautoría con Paulo Endo (LP&M); y “Freud” (Editora Abril).


66 NO ES QUE EL PASADO ARROJE SU LUZ SOBRE EL PRESENTE O QUE EL PRESENTE ARROJE SU LUZ SOBRE EL PASSADO; SINO QUE LA IMAGEN ES AQUELLO EN QUE LO OCURRIDO ENCUENTRA EL AHORA EN UNA CHISPA, FORMANDO UNA CONSTEL ACIÓN. WALTER BENJAMIN EXPOSICIÓN PODIUM: EL MONTAJE COMO MEMORIA ELISANDRO RODRIGUES Una pequeña pieza en el medio de una habitación. Esa es la imagen inicial de la exposición PODIUM. Al entrar en el 5º piso de la Casa de Cultura Mario Quintana, en el Espacio Maria Lídia Magliani, a camino del Jardín Lutzenberger, somos lanzados a un universo sostenido por un hilo de memoria. En el camino que se abre para el jardín, un “PO DI UM”. Una pequeña pieza del universo de obras de Arthur Bispo do Rosário. La obra de Bispo do Rosário es el hilo conductor que Edson Sousa y Elida Tessler, curadores de la exposición, utilizan para coser una conversación con otros 10 artistas. En el texto que abre la exposición, Edson y Elida escriben sobre “el minúsculo y monumental podio, objeto icónico de esos lugares reservados a los vencedores. Sin embargo, ese podio está seccionado como si desmontara el objeto para interrogarnos sobre la lógica del poder de “um” (uno). ¿Puede uno?”. Bispo do Rosário desmonta la palabra “po-di-um” como quien desmonta la memoria, abriendo un agujero en el futuro, una utopía. Utopía como un corte, como una borradura en la imagen que nos coloca en movimiento de memoria e imaginación. Durante una conversación en la inauguración de la ex-


67 posición, realizada el día 7 de octubre, Ricardo Resende, curador del Museo Arthur Bispo do Rosário, hizo mención sobre un comentario del artista. Cuando le preguntaron si podría cambiar una de sus obras por la de otro, expresó: – Si retiro una pieza de aquí, desarmo el universo. Quien sabe esta cisura, esta deconstrucción de la palabra, pueda hablar de la abertura de posibles brechas hacia otras constelaciones, como memoria del mundo, que se nos presentan en esta exposición de forma a no desarmar el universo de Bispo do Rosário, sino manteniendo ese universo conectado por un hilo. Hilos innombrables que abren agujeros en la tela de las obras de Natalia Leite, que, como Luiz Guedes, que teje hilos incontables sobre el tiempo, vivieron internados durante la mayor parte de sus vidas en el Hospital Psiquiátrico São Pedro (HPSP), en Porto Alegre. Línea que se conecta con la vida de Bispo do Rosário, que vivió, también, gran parte de su vida en el Hospital Psiquiátrico Colonia Juliano Moreira, de Río de Janeiro. En los bordados de Natalia Leite, sus hilos coloridos dibujan memorias en varios formatos: casas, personas, animales, objetos. En un breve ensayo llamado “En la cuerda floja”, Georges Didi-Huberman escribe que “el hilo es algo muy simple: apenas una línea en el espacio. Pero es también algo muy complejo: un novillo, un enmarañado”. Enmarañados de líneas es lo que vemos en el “reverso” de la obra de Natalia Leite, el reverso de la imagen, las tramas del tiempo en 14 casas a la espera, así como los 22 y 23 relojes en las imágenes dibujadas de Luiz Guedes. Una espera que es “la esperanza que nos hace luchar”, como escribía Lydia Francisconi, interna del HPSP y, así como Natalia y Luiz, participante de la oficina de creatividad que hoy tiene status de Museo Estadual Oficina de Creatividad (MEOC-HPSP). Didi-Huberman comenta que el hilo conecta, y dice que “el hilo está siempre por un tris. Esa es su belleza – su bello riesgo – y su fragilidad”. La obra Tierra, de la artista visual


68 y poeta guatemalteca Regina José Galindo, presenta ese bello riesgo, lo inconcebible de un cuerpo que funda una pequeña isla utópica resistente al borrado de la memoria. El universo de “po-di-um”, como imagen, arde indefinible por la memoria de las pequeñas narrativas de Otacílio Camilo grabadas en cajitas de fósforo. Nos moja, creando un islote en medio a la geografía corporal, en la obra ineludible de Maria Ivone Santos. Nos pone a buscar un lugar en lo inhabitable del podio y de las casas de Vivi Pasqual. Destella pequeños puntos de luz, con la imaginación de lo invisible, en las fotos de Evgen Bavcar. El hilo archivista y coleccionador del mundo de las cosas, de Bispo do Rosário, es representado por Amanda Teixeira, de forma imposible, en los 26 botones y en las 22 piedritas que caben dentro de una caja de fósforos o en la colección inconmensurable de objetos abandonados, en el fondo de una casa de Eduardo Montelli, que hace su hogar en el Jardín Lutzemberger. Letícia Bertagna teje el hilo que dibuja lo inalcanzable de esa constelación, en un punto que determina el “aquí”, al transformar la palabra en un objeto personal, en las líneas que bifurcan los caminos. Edson y Elida realizaron un montaje em torno a la memoria que conecta el hilo del universo alrededor de una obra de Arthur Bispo do Rosário, con una constelación de artistas que destellan posibles, como pequeñas brasas, donde basta un soplo para reavivarlas en la oscuridad de nuestro tiempo. Elisandro Rodrigues es licenciado en Pedagogía y doctor en Educación. Actualmente trabaja como profesor e investigador junto al Grupo Hospitalar Conceição. También actúa como vice líder del Grupo de Investigación “Narrativas en Salud”, además de integrar el Núcleo de Investigación en Psicoanálisis, Educación y Cultura - NUPPEC, Eje 2. En los últimos años se ha dedicado a la investigación sobre el montaje de la escritura y de la lectura.


69 ES MI TROFEO, ES LO QUE RESTÓ. ES LO QUE ME ABRIGA SIN DARME CALOR. SI NO TENGO MI AMOR, TENGO MI DOLOR. [...] EL DOLOR ES MÍO, EL DOLOR ES DE QUIEN LO TIENE. ARNALDO ANTUNES & MARISA MONTE ES MI TROFEO, ES LO QUE RESTÓ: POSIBILIDADES ARTÍSTICAS PARA PENSAR SOBRE EL RECHAZO DEL AGONISMO EN PODIUM GUILHERME MAUTONE En el centro del espacio expositivo, un objeto intrigante se levanta del pedestal protegido por un sarcófago de acrílico. Al acercarnos, vemos que, bajo su base simple de cuero o papel acartonado, se equilibran, desalineados, tres cilindros cuyo tamaño y cuyas inscripciones sugieren, en la iconicidad del signo – o por fuerza de su semejanza – el podio, estructura en la forma de una plataforma que ordena el final de una disputa a través de ciertos lugares. Finalizado el certamen, al subir al podio, el vencedor ocupa la posición de destaque: la primera, la del medio, la más elevada. Producido por Arthur Bispo do Rosário, el pequeño objeto que ocupó la parte central del espacio expositivo Maria Lídia Magliani de la Casa de Cultura Mario Quintana (Porto Alegre, RS) en la exposición PODIUM, con curaduría de Elida Tessler y Edson Sousa, se presenta, de acuerdo con los curadores, como un “eje”; o sea, como un dispositivo que organiza, pero que también permite el giro y el movimiento. Resta, sin embargo, investigar y especular sobre cuáles serían las razones por las cuales ese objeto – “minúsculo y monumental”, como escriben los curadores


70 – organiza alrededor de sí más de veinte obras de otros diez artistas. ¿Qué tipos de pensamientos se encuentran allí confinados bajo el acrílico transparente, recordando aquí a James Joyce y los pensamientos en sarcófagos [“coffined thoughts around me, in mummycases”] de Ulysses (¿1920?) ¿Y cómo esos pensamientos giran, entonces, bajo su propio eje, moviendo las singulares reflexiones disparadas por el arte, haciéndonos avanzar? Una explicación trivial – pero, aun así, una explicación posible – para el objeto producido por Bispo do Rosário sería que su productor no fuera totalmente indiferente a la conocida lógica de la disputa, habiendo sido él mismo boxeador por muchos años hasta que un accidente en 1936 pusiera fin a su carrera deportiva, tres años después de haber sido licenciado oficialmente de la Marina de Brasil por “indisciplina” ¹. De marinero solo – en su insurgencia a la sumisión – a lo inevitable de una derrota vivida en la realidad contundente del cuerpo, Bispo do Rosário habría, así, supuestamente tematizado con Pódium (sin fecha) algún tipo de ajuste de cuentas con la lógica del perder y del ganar. Ese seductor tipo de explicación – que se remonta a las concepciones filosóficas del biografismo de Sainte- -Beuve, duramente criticado por Marcel Proust y retomado años después por Ernst Gombrich en su conocida conferencia delante de la Sociedad Psicoanalítica Británica en 1953² – aunque da cuenta de la naturaleza del arte a partir de la idea de “significado personal”, parece, sin embargo, ignorar el hecho de que los significados personales son, a lo sumo, epifenómenos de significados contextuales, amparados por el lenguaje, por la memoria colectiva y transmitidos trans generacionalmente. Habría, pues, que especular más allá de las intenciones – es decir, planes y mezclas de creencias y deseos – desde su punto de vista subjetivo y estrictamente personal, entendiéndolas sobre todo como oriundas, antes, de la cultura y del lenguaje. Esta es, en gran medida, la lección


71 de Wittgenstein en Investigaciones Filosóficas (1953) y su idea de lenguaje como la forma de vida humana³ y de la intencionalidad humana como siempre enraizada en contextos, costumbres e instituciones4. De este modo, cuando Gombrich cuestiona a los psicoanalistas sobre si el “significado personal” importa tanto para la explicación del arte frente a la secular tradición de prácticas, costumbres, formas de hacer y de pensar (es decir, cosas que instituyen las condiciones de posibilidades para una historia del arte y, también, para una historia de la humanidad), entonces está, precisamente, problematizando el tipo de explicación biográfica del arte como la explicación más adecuada o, todavía más fuerte, como la única explicación verdadera. ¿Dónde están, en el “minúsculo y monumental” objeto de Bispo do Rosário, las marcas de la cultura, del arte y del pensamiento que los humanos hemos dedicado durante milenios a todo aquello que inventamos, creamos y transmitimos? ¿Dónde estarán esas señales colectivas, aparte de la idiosincrasia de nuestra melancolía, manía, neurosis o locura? Creo que es en esa dirección – y también en el reconocimiento de cómo la explicación biográfica se agota en su peculiar solipsismo – que Tessler y Sousa proponen la exposición PODIUM. El podio de Arthur Bispo do Rosário ocupa el centro de la exposición y, de esa forma, organiza los demás trabajos precisamente porque es la lógica de la disputa, de perder y de ganar, la lógica del poder y, por lo tanto, la lógica occidental del agonismo5, o de la competición y de la rivalidad, que están siendo allí discutidas y, en cierta medida, criticadas como la única herencia cultural posible. De este modo, es por medio del arte que esa lógica, pero también sus particularidades e implicaciones, podrán ser reordenadas, experimentadas en el horizonte de la libertad y de la autorreflexión poética. Y así vemos la infinita capacidad de la obra de arte, sobre todo de su creación y de sus prácticas diversas, en retomar todo aquello que


72 se nos escapa diuturnamente, dándole, ahora, aquí (como en uno de los trabajos de la exposición, producido por Letícia Bertagna, un insidioso clavo fijado en una salida y en el cual se lee, grabada en su cabeza, la palabra ‘aquí’), lugar, espacio y, por tanto, visibilidad. Delante de las herencias seculares de una cultura capturada por la lógica triunfalista, en que apenas los vencedores aparecen y en que el progreso es comprendido como una dinámica teleológica rumbo a las victorias, el arte emerge como oportunidad de elaboración y como testimonio insistente de una pérdida, sea cual sea. Como se pierden, recordando otro trabajo, ahora el de Eduardo Montelli, llamado Fundos (2013) – un video donde el artista retira de un depósito en el fondo de la casa de su familia cada uno de los muchos objetos allí acumulados, restituyéndoles la existencia por medio de la palabra, sacándolos, así, simbólicamente del olvido. Vencer, perder; recordar, olvidar; dicotomías verbales que, más allá de nuestro uso cotidiano de las palabras, establecen relaciones profundas con el arte, la subjetividad y, sobre todo, la historia. Tal vez una de las reflexiones más contundentes sobre el par dicotómico – e inalienable, puesto que inter definible – formado entre ‘perdedor’ y ‘vencedor’ esté en Walter Benjamin, cuando el pensador encamina a través de él una meditación sobre nuestra concepción occidental de historia y sobre la tarea de los historiadores frente a la barbarie y la previsión crítica del triunfo historicista del fascismo de su propio tiempo. Al preguntarse con quién, propiamente, el historiógrafo tiene empatía, él mismo responde: La respuesta es inevitable: con el vencedor. Los que ahora dominan son herederos de todos los que han vencido. Por tanto, la empatía con los vencedores siempre beneficia a los que ahora dominan. Eso lo dice todo para el materialista histórico. Todos los que hasta ahora han sido


73 vencedores acompañan el cortejo triunfal de los dominadores, que desfilan sobre los [perdedores] que hoy yacen en el suelo. El botín, como de costumbre, se lleva en la procesión triunfal. Son los llamados bienes culturales […] No hay ningún documento de cultura que no sea al mismo tiempo un documento de barbarie. Y del mismo modo que la cultura no está exenta de barbarie, tampoco lo está el proceso de su transmisión, en el que se transmite. Por eso, en la medida de lo posible, el materialista histórico [...] considera que su tarea es cepillar la historia a contrapelo6. ¿Cómo narrar, por tanto, no sólo la historia a partir de los vencedores? Y, sobre todo, ¿qué tipo de efecto, ahora en el plano de la cultura, se engendra subjetiva, política y artísticamente cuando vislumbramos la posibilidad de una historia a partir de los vencidos, de lo que se olvida, de quien pierde y de lo que se pierde? Pienso que la exposición PODIUM, a su manera, nos ayuda a visitar esas cuestiones, haciendo de ellas también un proyecto para el futuro. Por tanto, esperanza y utopía. Como en el choro-canção contemporáneo de Monte y Antunes, éxito radiofónico que ese género musical ganó en Brasil7, es preciso reconocer la capacidad singular del arte en, mediante curiosas inversiones, transformar el perder-algo en ganar-otro, cambiando señales, deslizando por significantes, dando secuencia al movimiento incesante del pensamiento, de la sensación y de la creación. Además, la canción, como también la exposición, nos recuerdan que reconocer o inventar (o reconocer inventando e inventar reconociendo) alguna victoria posible delante del fondo ruidoso de la derrota pasa, necesariamente, la asunción existencial de un cierto dolor de perder, comprendiéndola entonces como un trazo de la cultura y, por tanto, como posibilidad de exploración de un nuevo campo de acción y de pensamiento que se despliega, subsumiendo el espectro estrictamente subjetivo. Ya sea en la reivindicación del amor o en la reivindicación de la política, el inconformismo con la “derrota”


74 atestigua una posición de sometimiento y alienación que, mal conducida, alcanza también sus propios paroxismos. Y, ciertamente, secuestran cualquier posibilidad de asumir la continuidad a través de la elaboración y aceptación de lo nuevo. O, como pensaba Arendt, con la creación de lo nuevo, reconociendo la capacidad típicamente humana de la natividad.8 PODIUM, con curaduría de Elida Tessler y Edson Sousa – y con obras de Luiz Guedes, Natália Leite, Amanda Teixeira, Eduardo Montelli, Maria Ivone dos Santos, Otacílio Camilo, Letícia Bertagna, Vivi Pasqual, Evgen Bavcar y Regina José Galindo – nos invita a percibir, a través de las simplicidades del arte y de la creación artística, la posibilidad de apuntar a nuevas formas de posición subjetiva y colectiva que ya no estén capturadas por la alienación de la victoria omnipotentemente animada por el ansia de ganar: siempre ganar, por cualquier medio y cueste lo que cueste. Pero la exposición da cabida, en su escenario y en sus obras, a una reflexión detenida, impregnada de la concreción y la densidad metafórica del arte, sobre uno de los rasgos más destacados y más insidiosos de nuestra cultura -el agonismo- y cómo nos marca subjetiva y colectivamente. Y es precisamente a partir de esta visitación y reflexión sobre la reestructuración de lugares, posiciones, legados y lógicas que ofrece la producción artística que se podrá soñar con otras, organizándose para finalmente materializarlas. NOTAS: 1 • Marta Dantas, Arthur Bispo do Rosário: a poética do delírio, São Paulo: Editora UNESP, 2009. 2 • Marcel Proust, Contra Sainte-Beuve, Belo Horizonte / Venecia: Âyiné, 2017 Y Ernst Gombrich, El Psicoanálisis y la Historia del Arte, 1935, in Ernst Gombrich, Meditaciones sobre un caballito de madera, 1999, p. 31. São Paulo: EDUSP. 3 • Para la formulación clásica sobre la noción de forma de vida, véase Ludwig Wittgenstein, Philosophische Untersuchungen - Investigaciones filosóficas, 2009, §19, p. 11e. Pero también, Ibidem, §241, p. 222e. Aún más contundente es


75 la formulación en la que Wittgenstein afirma que lo que hay que aceptar -es decir, lo dado- es precisamente el hecho sobre la existencia de una forma de vida humana que es esencialmente lingüística: “Das Hinzunehmende, Gegebene - könnte man sagen - seien Lebensformen” (Ludwig Wittgenstein, Philosophische Untersuchungen -Investigaciones filosóficas-, 2009, §345, p. 238. Traducción de G. E. Anscombe, P. Hacker & J. Schulte. Oxford: Basil-Blackwell.) 4 • Y sobre la intencionalidad necesariamente como un producto subjetivo del contexto (lingüístico, cultural, social, etc.), aunque modificado, consultar: Ludwig Wittgenstein, Philosophische Untersuchungen –Philosophical Investigations, 2009, §337, p. 115. Traducción de G. E. Anscombe, P. Hacker & J. Schulte. Oxford: Basil-Blackwell, 2009. 5 • Una perspectiva interesante sobre el agonismo (disputa, competición) como marca del pensamiento occidental puede ser encontrada en Gilles Deleuze y Félix Guattari, ¿O que é a filosofía?, págs. 11, 12 e 13. São Paulo: Editora 34. 1992 6• Walter Benjamin, Sobre o conceito de história, p. 116-117. São Paulo: Editora Alameda. 2020. 7 • Cf. José Tinhorão, Pequena história da música popular segundo seus gêneros, p. 119 Y Cf. Bruno Kiefer, Música e dança popular, 1979, p. 8. São Paulo: Editora 34. 8 • Hannah Arendt, La condición humana, 1958. Guilherme Mautone es licenciado, máster y doctor en Filosofía por la UFRGS, con investigaciones en Filosofía del Arte y Estética, centradas en el arte contemporáneo, el contextualismo, las relaciones sistémicas y las teorías del arte. Realiza actualmente una pasantía posdoctoral en la misma universidad. Es editor de PHILIA | Revista de Filosofía, Literatura y Arte de la UFRGS, y coordinador del Colegiado Sectorial de Artes Visuales del RS (Sistema Estatal de Cultura), donde también coordina el Comité Científico del Mapeo Sectorial de Artes Visuales en RS. Fue profesor invitado en la Casa de Cultura Mario Quintana, en el Atelier Livre Xico Stockinger y en Casamundi Cultura. Es profesor, investigador y crítico de arte. Vive y trabaja en Porto Alegre, RS, Brasil.


76 SI PUEDES MIRAR, OBSERVA. SI PUEDES OBSERVAR, REPARA. LIBRO DE LOS CONSEJOS NO HABITAR LA CIMA: TOPOGRAFÍAS POSIBLES POR MEDIO DEL ARTE ANDREI MOURA El epígrafe que abre la magistral novela Ensayo sobre la Ceguera, del escritor portugués José Saramago, encaja como un guante para dar inicio al pensamiento crítico sobre la exposición colectiva PODIUM, que ocupó el espacio Maria Lídia Magliani, en la Casa de Cultura Mario Quintana, de octubre a diciembre de 2022. En la obra literaria, con intrépida y, a veces, cruel honestidad, Saramago presenta al lector lo que sucedería si una ceguera epidémica, instantánea y sin precedentes, contagiara un grupo de personas. Asumiendo aires distópicos, el texto posibilita una reflexión acerca de la capacidad sensible humana de ver; siendo la visión, en sentido polisémico, no restricta a la capacidad congénita y fisiológica de ver, decodificar e interpretar las imágenes en el cerebro. Así, estar súbitamente ciego es, en este universo ficcional armado por Saramago, antes una metáfora para referirse a un sentir herido, condicionado, selectivo y, por tanto, mutilado de sus potencialidades recónditas, inventivas y venideras. La ceguera blanca del libro (los ciegos siempre han estado rodeados de una resplandeciente blancura, como un sol dentro de una niebla¹) surge como una alegoría de un estado de desánimo de las sensaciones, de los afectos; de una percepción estética del mundo y de la vida, que le proporciona al ser humano no solo un encuentro con lo que él es, sino con todo lo que él puede ser.


77 La profusión de imágenes que rodea a la contemporaneidad nos ha legado una no-visión, que no corresponde a la ceguera literal. En este sentido, la pensadora italoamericana Camille Paglia nos alerta sobre los riesgos de la futilidad y el vaciamiento de sentidos consecuentes del frenesí de imágenes en que estamos enredados, encontrando en el arte una instancia legítima de “educación estética”: ¿Cómo sobrevivir en esta era de vértigo? Precisamos reaprender a ver. En medio a tanta y neurótica contaminación visual es esencial encontrar el enfoque, la base de la estabilidad, de la identidad y de la dirección en la vida. [...] La única manera de enseñar el enfoque es ofrecer a los ojos oportunidades de percepción estable – y el mejor camino para eso es la contemplación del arte. Ver el arte exige quietud y receptividad, pero es una jornada que restaura nuestros sentidos y produce serenidad mágica2 . Demostrando a partir de la captación de sus llamadas imágenes interiores, el fotógrafo Evgen Bavcar (Eslovenia, 1948), en las fotografías Casa y Camino (s/f), de la serie “Eslovenia”, comprueba que la producción de imágenes no es exclusividad de los videntes. En estas imágenes, luz y sombra adensan la relación entre lo que se ve y lo que no se ve, oposiciones que crean matices y sutilezas visuales, intrigando la mirada, incitándola a trazar un vigoroso camino a través de esa atmósfera misteriosa, que invita al espectador a la más íntima meditación. La sensibilidad del artista esloveno, ciego desde los 12 años, encuentra en la fotografía una manera de captar espesas imágenes que interrogan sobre la fabricación y las posibilidades de relacionarse con ellas, no únicamente por medio de los ojos, sino a partir de una sensibilidad más profunda y menos obvia, que no se forma a partir de aquello que se encuentra afuera, sino que gana contornos a partir de aquello que está dentro de cada uno de nosotros.


78 La expresión de una interioridad es el arco trazado y tocado por diferentes manifestaciones creativas; sin embargo, en PODIUM la dialéctica dentro-fuera parece ser el punto clave de la exposición. Lo que está dentro y lo que está fuera en las subjetividades, en las escalas de criterios, preceptos y conceptos que constituyen la trama que forma y conforma las relaciones sociales es una de las principales líneas que entrelaza los diferentes trabajos reunidos en esta muestra, cosida por el psicoanalista Edson Luiz André de Sousa y por la artista Elida Tessler, curadores de PODIUM. Tales condicionantes y restricciones son los instrumentos por los cuales el capitalismo neoliberal reconoce, clasifica y condecora vencedores apartándolos de los perdedores, definiendo quienes estarán dentro o fuera del sistema. De esta forma, el diminuto y expresivo podio construido por Arthur Bispo do Rosário, artista de profusa y contundente producción — singularísimo en la historia del arte realizado en Brasil —, ocupa posición central en la exposición. Su obra da nombre a la exposición y es a su alrededor que se sitúan los trabajos que componen esta textura expositiva. Curiosamente, en el piso de la sala Maria Lídia Magliani, se dibujan líneas cruzadas y en paralelo, formando el diseño de un gran tablero de ajedrez, que, a su vez, evocan las ideas de juego y disputa. Como axis y como presencia, físicamente ocupando el centro del espacio expositivo, su podio condensa gran parte de los debates (y embates) sobre visibilidad e invisibilidad, interioridad y exterioridad, suscitados por la exposición. Su obra es provocadora y ciertamente nos cuestiona sobre nuestra ceguera. Si él y su obra pudieron emerger de los cuartos insalubres de un hospital psiquiátrico, tenemos la responsabilidad de intentar comprender la historia de esta obra. Insisto: la voracidad del olvido es cruel e incluso lo que se destaca y brilla ni siempre merece el destino de la invisibilidad3 (el grafismo es mío).


79 Como un ícono visual, la palabra “podio”, en su descomposición silábica, abre la palabra a una aventura semántica, sugiriendo otras lecturas y significados para este momento de gloria, de conquista del primer lugar. El material ordinario con el que está construida la obra, tres cilindros de madera, parece devolver al espectador la impresión de la precariedad de nuestro tiempo, que insiste en jerarquizar, ordenar, excluir y discriminar a muchos para la exaltación de unos pocos: los vencedores. Todo podio es una mentira o una verdad momentánea que, para constituirse como tal, deja un rastro de borraduras y sustracciones. Lo cómico y lo risible que subsiste en la elección de un podio se manifiesta materialmente en la obra Pódio (2015) de Vivi Pasqual, con el grafismo de las figuras divertidas, que están dispuestas en el orden de un podio. La pintura remite espontáneamente a la falta de pretensiones de los juegos infantiles y a la libertad gráfica de los grafitis de los espacios públicos urbanos, síntoma de irreverente acontecimiento expresivo. Por otra parte, Maria Ivone dos Santos presenta en “Power-podium” (1994), compuesta por objeto y fotografía, una sugerencia de las posibilidades e imposibilidades de ocupar ese espacio de poder que representa el podio; la mano del artista agarra con fuerza una materia maleable que, al mismo tiempo que se amolda al gesto, parece a punto de escapar. Una relación que reverbera en otra obra del artista en la muestra, Abreuvoir (Açude) (1992), en la que el encuentro de los pies genera un espacio que será llenado por el elemento agua, altamente simbólico y de connotaciones variadas, que alude a la formación y mantenimiento de la vida y a la capacidad potencial de la materia para transformarse. En estas obras, una vez más se establece una relación entre continente y contenido, en otras palabras, se abordan los vínculos entre lo interior y lo exterior, conexión visualmente explorada con consistencia también en el video


80 Fundos (2013), de Eduardo Montelli. En la obra, el artista parte de un proceso de observación de un galpón en el fondo de la casa de su familia, donde fueron guardados los más diversos objetos por cerca de cuatro décadas. Como una metáfora de la mente humana, este depósito puede ser comprendido como una representación del inconsciente, al igual que los sótanos y los desvanes, donde se guardan las cosas que quedan fuera del uso cotidiano doméstico y/o que salen a la luz del día apenas ocasionalmente. En este ejercicio de sacar a la superficie todos estos guardados, el artista crea una especie de precaria “escultura” formada de improviso, insertando digitalmente el nombre de cada objeto en la pantalla, lo que crea una “nube fantasmagórica” (en las palabras de Montelli), una especie de inventario mnemónico de una vida. El fenomenólogo francés Gaston Bachelard escribe que “La casa, como el fuego, como el agua, nos permitirá evocar, [...] fugaces luces de devaneo que iluminan la síntesis de lo inmemorial con la memoria. En esa región lejana, memoria e imaginación no se pueden disociar4” (2012, p.25). En la instalación de PODIUM, el trabajo fue exhibido en una televisión dentro de una sencilla cabaña de madera, construida con listones de maderas desechados, en el Jardín Lutzenberger; por tanto, fuera del espacio expositivo. El nexo íntimo entre lo que se resguarda y la interioridad de un objeto es el tema del video “Coisas que cabem numa caixinha de fósforos” (2013), de Amanda Teixeira. En la obra, la artista consigue un raro lirismo al enfocar objetos mínimos que caben en las restringidas dimensiones de una caja de fósforos, recordando los versos de un poema de Manoel de Barros, en el cual el yo-lírico se define como “un recogedor de desperdicios”. Después de todo, ¿qué se guarda?, ¿qué se pierde? ¿Qué subjetividades — gestos, emociones, memorias — son encajonadas o deformadas de acuerdo con estructuras coercitivas? En


81 un trabajo similar al de Montelli, aquí, Amanda introduce en el pequeño espacio de una caja de papel las minucias memorables. Nueve cajas de fósforos sirven como soporte para los pequeñitos grabados del artista Otacílio Camilo (1959– 1989). La impresión en esas dimensiones revela un artificio adoptado por el artista para eludir los dispendiosos costos de producción y promover una circulación más libre de su obra, con autonomía respecto a los obtusos dictámenes del mercado de arte. Negro, pobre, vinculado al movimiento anarco punk, homosexual y seropositivo; la breve vida de Otacílio reunía todas las condiciones para dejarlo fuera de los espacios de prestigio social. Rescatado con justicia del olvido historiográfico por la historiadora de arte Izis Abreu5, Otacílio reúne, en la colección de cajas de fósforos, refinado humor, riqueza conceptual y concisión visual, cualidades que enfatizan la originalidad de su obra producida en el sur de Brasil, en la década de 1980. También presente en la exposición, como objeto y video, su libro de artista “Una Carrera Brillante” (1984) juega con dos sentidos habituales de la palabra “carrera”, relacionada a la profesión o a la cocaína, dando forma a una corrosiva crítica en relación con la competitividad en el mundo laboral, estimulada por el capitalismo; así como un ácido comentario sobre los obstáculos, los placeres y los infortunios a los cuales los artistas están sometidos. En la serie Fundo do fora, las fotografías “Mapa” (2015) y “Mãos à obra” (2016), de Letícia Bertagna, la inusitada aproximación entre los títulos, las imágenes y las manipulaciones realizadas en los elementos, como el trazado en la mano y el recorte en una tarjeta de registro, desorienta al espectador, incitando una transfusión de sentidos que solo el arte es capaz de operar. La aparente incompatibilidad entre los términos “fondo” y “afuera”, que articulados dan nombre a la serie, es una invitación al devaneo y a la imaginación. Ese inusitado encuentro entre las palabras


82 aparece positivamente como medio de dar forma a lo deforme — y, así, crear lenguaje — y, al mismo tiempo, proporcionar material para la generación de las más insólitas percepciones de los espectadores, rescatadas o emergidas del fondo de afuera. Todavía en el ámbito de lo de afuera, pueden considerarse las obras de Luiz Guides (1929–2010) y Natália Leite (1943–2017), artistas cuya producción está inserida en la experiencia del confinamiento en una unidad psiquiátrica, al igual que Bispo do Rosário. Elaborados en el Taller de Creatividad del Hospital Psiquiátrico São Pedro, los trabajos reverberan el deseo vertiginoso de expresión de personas privadas de la sociabilidad habitual. En Natália, el colorido de las líneas, escogido a partir de la economía de recursos disponibles en el taller, forma sus bordados y magnetiza la atención del espectador, guiándolo a acompañar, sensiblemente, por la superficie del lienzo, sus contornos y cruces, conexiones e interferencias de las formas, transportándolo a una experiencia de desbordamiento. Más allá de una lectura interpretativa, accionada por el rastro del intelecto, esos trabajos parecen instigarnos a sentirlos y experimentarlos con el coraje de fluir en un sueño, sin temer una posible ilógica entre las partes. Mientras Natália entrelaza, por medio de su bordado, las instigadoras figuras sin fondo que se sobreponen, entre las muchas casas y los animales nacidos menos de la observación empírica y más como productos de la imaginación y de las memorias afectivas, Luiz Guides presenta, en las obras escogidas para la exposición, la presentificación de un acúmulo de tiempo, o temporalidades, al compás del acúmulo de capas de tinta témpera, que velan el lienzo, entre círculos, punteros y números. A partir de una superficie obstinadamente plana, sin respiro perspectivo, Guides alude al contaje temporal, instituyendo en el lienzo una vibración de vida, que nos comunica todo aquello que


83 la palabra no dice, por no poder decir; pero que existe como un lenguaje en búsqueda de significantes. Finalmente, la desafiadora artista y poeta guatemalteca Regina José Galindo, en “Tierra” (2013), presenta una traducción visual de un terrible acontecimiento de su país: el genocidio de indígenas del pueblo Maya Ixil, bajo el régimen dictatorial de José Efraín Ríos Montt. Cobardemente asesinadas por el Estado, las víctimas fueron enterradas en una fosa común, cavada por una excavadora. Así, la acción performática de Regina presenta la confrontación entre diferentes fuerzas: de un lado el cuerpo desnudo de la artista, de pie e impasible, sin ninguna protección; de otro, el poder de la imponente máquina, que excava una fosa a su alrededor. La obra refleja la capacidad de resistir de aquellos que no están en la cima de las relaciones de poder, cuyos índices se manifiestan en las intersecciones entre etnia y género que marcan el cuerpo de Regina: índices de quienes no suelen alcanzar el primer lugar en un podio. Aunque Galindo rechace el apodo de activista, la política en su poética surge como deseo de movilizar al espectador: “Abrir los ojos y ver – con la fuerza de reflejarse en el otro –, eso, para mí, es empatía, ese es el origen del cambio y del movimiento, eso significa también conexión en vez de separación”6, declara la artista en una entrevista. Tal vez sea esta mi consideración final al término de este encuentro con la exposición PODIUM, circularmente volviendo al inicio de este texto: si tenemos el poder de mirar, por tanto, veamos. Si podemos ver, es aconsejable que nos dediquemos a reparar. NOTAS: 1• SARAMAGO, José. Ensayo sobre la Ceguera. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. (p.94). 2•PAGLIA, Camille. Imágenes Centellantes: Un viaje a través del arte desde


84 Egipto a Star Wars. Rio de Janeiro: Apicuri, 2014. (p. VII) 3•SOUSA, Edson Luiz André. Um pódio de palavras. Ide (São Paulo) v.31 n.47. São Paulo, dic. 2008 4• BACHELARD, Gaston. La poética del Espacio. São Paulo: Martins Fontes, 2008. 5 • La investigación de Izis Abreu sobre Otacílio Camilo destaca entre otras iniciativas a favor de la memoria del artista. En 2019, el Museo de Arte de Rio Grande do Sul Ado Malagoli (MARGS) exhibió la exposición “Estética da rebeldia”, con curaduría de la citada investigadora, con motivo del 60 aniversario del nacimiento del artista y de los 30 años de su muerte. 6 • WALDMANN, Judith. Conversa con Regina José Galindo: “No soy una mujer vulnerable”. In: Contemporary and: América Latina. [S. l.], 9 mar. 2018. Disponible en: https://amlatina.contemporaryand. com/pt/editorial/regina-jose- -galindo/. Acceso el: 28 feb. 2023 Andrei Moura es licenciado en Letras – Lengua Portuguesa y Literatura por la Universidad de Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) y graduado en Historia del Arte por el Instituto de Artes de la Universidad Federal de Rio Grande do Sul (UFRGS). Trabajó en Comunicación de la Fundación Vera Chaves Barcellos, entre 2013 y 2018, y participó del equipo educativo de la 7ª, 8ª y 9ª ediciones de la Bienal del Mercosur. En 2012, integró la acción educativa de Santander Cultural como mediador. En 2018, trabajó en Casa Baka en la programación de talleres y producción de exposiciones, siendo responsable por la divulgación de las actividades de la Casa. Actualmente, coordina el programa Educativo de la Casa de Cultura Mario Quintana.


85 ACTIVIDADES PARALELAS La obra “Podium”, del artista brasileño Arthur Bispo do Rosário, uno de los creadores más instigadores del arte contemporáneo producido en Brasil, fue el eje conceptual a partir del cual la exposición del mismo título presentó diferentes obras de diez artistas contemporáneos, entre brasileños y extranjeros, abarcando un arco temporal de los años ochenta hasta las dos primeras décadas del siglo XXI. La muestra colectiva, a partir del diálogo entre las obras exhibidas y del conjunto resultante de su reunión, propuso una reflexión acerca de la producción artística como potencia de vida, enfrentamiento de las adversidades y organización simbólica del mundo y de la propia existencia. Con la finalidad de demarcar e instigar la percepción y el pensamiento crítico de distintos públicos, fue realizada una programación integrada a la exposición, incluyendo encuentros con curadores, talleres de escritura y de bordado, además de una proposición del Educativo de la Casa de Cultura Mario Quintana, pensado a partir de la obra de Amanda Teixeira, una de las artistas participantes. “PODIUM” también contó con una amplia visitación, gracias al trabajo de los agentes del Educativo, abarcando a estudiantes de los niveles primario, secundario y académico, además del público espontáneo.


86 CONVERSACIÓN CON LOS CURADORES Y RICARDO RESENDE Antes de la abertura de “PODIUM”, el día 7 de octubre, se realizó un encuentro entre Edson Luiz André de Sousa y Elida Tessler, curadores de la exposición, y con Ricardo Resende, curador del Museo Bispo do Rosário Arte Contemporáneo – RJ, de Río de Janeiro. En esa ocasión, Resende abordó aspectos de la vida y obra de Bispo do Rosário. Ricardo Resende es máster en Historia del Arte por la Facultad de Comunicación y Artes de la Universidad de São Paulo (USP), con una carrera centrada en el ámbito museístico. Trabajó entre 1988 y 2002, en el Museo de Arte Contemporáneo de la Universidad de São Paulo y el Museo de Arte Moderno de São Paulo, desempeñando las funciones de educador de arte, productor de exposiciones, museógrafo, conservador adjunto y curador de exposiciones. Desde 1996, coordina el Proyecto Leonilson. Fue director del Museo de Arte Contemporáneo del Centro Cultural de Arte y Cultura Dragão do Mar, en Fortaleza, Ceará. En 2007, participó en una residencia artística como crítico invitado de Lugar a Dudas, en Cali, Colombia. Ha dirigido el Centro de Artes Visuales de la Fundación Nacional de las Artes del Ministerio de Cultura, y el Centro Cultural de São Paulo, en São Paulo. Actualmente es curador jefe del Museo Bispo do Rosário, en Río de Janeiro, desde 2014. TALLER DE ESCRITURA CREATIVA ANTICOLONIAL Construida con base en el papel del cuerpo en el acto de la escritura insumisa y de la potencia de la mirada sobre la identidad y nuestras marcas en la vida cotidiana, el taller “Escritura Creativa Anticolonial” colocó una mirada atenta sobre la célula inicial del texto - la PALABRA - a partir de algunas premisas: Cuerpo, Vida Cotidiana, Cosmologías e Identidad. Esta interacción del “yo tocando y experimentando”, el “encadenamiento de la vida”, la “construcción de nuestros mundos”, más el “yo respondiendo y reconociéndome” guiaron la producción del texto. El término “Anticolonial” se establece como esencial a medida que la historia personal ancestral de cada existencia encuentra espacio para realizarse a través de la palabra, partiendo


87 del principio de entender la colonialidad como una atadura estructural de nuestro lugar en el mundo. Entendiendo la escritura como una poderosa herramienta de descubrimiento, afirmación, expresión e interacción, el taller operó con el poder de la palabra y lo que puede nacer de ella. MINISTRADORA: Caelí da Silva Gobbato es graduada en Artes y Culturas Comparadas (Actual Estudios Comparatistas) en la Facultad de Letras de la Universidad de Lisboa. Actualmente está terminando el guion de la animación AFRUS, sobre la historia y contexto afro-brasileño, además de la publicación de textos de ficción, ensayos, opinión y materias sobre cultura y negritud. Estudió y practicó teatro durante 4 años con Os Satyros, Luís Melo y Nena Inoue y, paralelamente al oficio de escritura, actuó como gestora y productora cultural en los últimos 20 años. Acaba de lanzar su crónica Jogo de Dentro en la colectánea Carolinas - La Nueva Generación de Escritoras Negras Brasileñas y escribió el Guion Original de la Nebulosa Websérie, de Giovani Cidreira. Impartió este taller en el espacio cultural Chão, en São Luis/MA y Biblioteca Estadual de Ceará. TALLER ANCESTRALIDAD BORDADA La actividad incentivó a los participantes a entrar en contacto con sus ancestralidades y subjetividades, teniendo como punto de partida las fotografías de sus álbumes de familia. El bordado sirvió como enlace para la creación de narrativas visuales, cosiendo cuestiones sobre identidad, pertenencia y afectividad. Conducidos por la artista textil Mitti Mendonça, los encuentros abordaron las potencialidades de las memorias personales, colectivas y afectivas en el campo de las artes visuales, trabajando de forma colectiva para la concepción de un objeto de instalación, haciendo que los participantes realizaran un ejercicio de expografía. MINISTRADORA: Mitti Mendonça es artista textil e ilustradora. Su práctica incentiva las potencialidades de las técnicas textiles como narrativas visuales, principalmente a través del bordado y de la tapicería. Desde 2017, articula su sello creativo “Mão Negra”, elaborando trabajos artísticos sobre ancestralidad, afecto y memoria, principalmente motivada por sus álbumes de familia. Participa del circuito de muestras de arte, con exposiciones en la Galería Ecarta, Goethe-Institut, Museo de Arte del Rio Grande do Sul y en la Pinacoteca Ruben Berta. Además, en 2020, ganó el segundo lugar del Premio Alianza Francesa de Arte Contemporáneo.


88 Y, como ilustradora, colabora creativamente para editoras, marcas y proyectos culturales como Festipoa Literária, Intrínseca, Hershey`s, Natura, Telecine y Youcom. Nació en São Leopoldo y actualmente vive y tiene su atelier en Porto Alegre. ¿QUÉ PUEDE CABER EN UNA CAJITA DE FÓSFOROS? La obra “Coisas que cabem numa caixinha de fósforos” (2014), de la artista Amanda Teixeira, fue el punto de partida del taller “¿Qué puede caber en una cajita de fósforos?”. Dirigida por la mediadora Anna Laura Schepp, la actividad propició la reflexión sobre la dimensión subjetiva de los objetos y la posibilidad de aprehender materialmente lo intangible. El taller tuvo lugar el 14 de diciembre. MINISTRADORA: Anna Laura Schepp es dramaturga e investigadora de las dramaturgias creadas a partir de fuentes reales. Se destacó en el XXXIV Salón de Iniciación Científica de la UFRGS con el trabajo “Entre el habla y el silencio: los registros de memoria en la elaboración de una dramaturgia investigativa”, que analiza la elaboración de la memoria en los registros de escritura recogidos en el Taller de Creatividad del Hospital Psiquiátrico São Pedro, con el fin de realizar una dramaturgia. Por fuerza de las circunstancias, se tornó parte de la lucha anti manicomios y piensa que todo el mundo tiene derecho de expresarse.


89 LOS ARTISTAS Amanda Teixeira (Porto Alegre/RS, 1991) es artista visual. Su producción se desarrolla en video, fotografía, objetos e instalaciones, abordando percepciones sobre la vida cotidiana y sus transformaciones. A través de un largo proceso de colección, acumulación y desplazamiento de objetos cotidianos, la artista cuestiona cómo se construyen los sistemas. Es estudiante de máster en Artes Visuales en CalArts (Valencia/ EEUU). Pasó por las universidades UBA (Argentina, 2012) y KHM (Alemania, 2016-2017) y es licenciada en Artes Visuales por la UFRGS (Brasil, 2015). Expone desde 2010, habiendo participado en varias exposiciones y ferias de libros de artistas en Brasil, Estados Unidos, Islandia, Alemania, Francia, Portugal, Uruguay y Argentina. Ha recibido siete premios por su producción, siendo el más reciente el Açorianos de Artes Plásticas, por su segunda exposición individual, en el Instituto Goethe, con curaduría de Eduardo Veras, en 2021. Forma parte del colectivo de producción artística Vinco Studio y de la editorial Azulejo Arte Impressa, además de haber participado en el proyecto AVSD entre 2013 y 2019. Arthur Bispo do Rosário (Japaratuba/SE, 1909–1989), Cuando ingresó en la Marina, en 1926, fue trasladado a Río de Janeiro, donde también comenzó su carrera como boxeador. Tras ser expulsado del cuerpo, empezó a trabajar como lavador de tranvías para la Viação Excelsior, filial de la compañía Light & Power. En 1936 sufrió un accidente laboral que le provocó el aplastamiento del pie derecho. Poco después fue despedido de la empresa. Con la ayuda de su abogado José Maria Leone, presentó una demanda para obtener una indemnización. Tras este contacto, y habiéndose ganado la simpatía de los Leone, Bispo pasó a trabajar como empleado doméstico en la casa familiar. En la noche del 22 de diciembre de 1938, Bispo se reveló como el hijo de Dios, Jesucristo en persona, y salió a vagar por las calles de Río de Janeiro. Fue detenido frente a una iglesia del centro de la ciudad y llevado al Hospital Nacional de Alienados. En 1939, fue trasladado a la Colonia Juliano Moreira, en Jacarepaguá, donde pasó casi 50 años no consecutivos. Durante este período recibió la misión de reconstruir el mundo para presentarlo a Dios en el Día del Juicio. Con el inicio de la apertura democrática del país, al final de la década de 1970, varios movimientos sociales comenzaron a reivindicar la redemocratización también de las instituciones psiquiátricas. En este contexto, en 1980, un reportaje exhibido en el programa “Fantástico”, de la Red Globo, reveló al público la cruel realidad de los que vivían en la Colonia Juliano Moreira. Se dedicaron unos minutos a Bispo, un curioso paciente que


90 bordaba, coleccionaba objetos y tallaba otros en madera. Fue a través de este reportaje que el crítico de arte y curador Frederico Morais conoció al artista, llevando sus obras a la exposición colectiva “Al margen de la vida”, celebrada en el Museo de Arte Moderno de Río de Janeiro en 1982. Cuando Bispo murió en 1989, se montó una gran exposición individual en el Parque Lage, también en Río de Janeiro. Esta misma exposición viajó a São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte y Curitiba. En 1992, la obra fue declarada monumento nacional por el Instituto Estatal de Patrimonio Cultural de Río de Janeiro (INEPAC). El reconocimiento internacional del trabajo de Bispo do Rosário en el campo del arte llegó con la participación de sus obras en la 46ª Bienal de Venecia, en 1995. En la actualidad, la colección del Museo Bispo do Rosário forma parte del Instituto de Patrimonio Histórico y Artístico Nacional (IPHAN). Eduardo Montelli (Porto Alegre/RS, 1989) es artista visual, profesor de Arte y Medios de Comunicación en la Universidad Federal de Campina Grande (UFCG) y doctor en lenguajes visuales por la Universidad Federal de Río de Janeiro (UFRJ). En su investigación artística y teórica, investiga la intersección entre los modos de “inscripción del yo” con diferentes formas de vida y reconocimiento social. En su trabajo con video, fotografía, performance, objeto e internet, produce imágenes entre la ficción y la realidad que materializan experimentos con la propia identidad. Sus obras han sido expuestas en instituciones como Oficina Cultural Oswald de Andrade, São Paulo (2021); Instituto Tomie Ohtake, São Paulo (2016); Fundación Iberê Camargo, Porto Alegre (2015); y Centro Cultural Banco do Nordeste, Fortaleza (2014). Evgen Bavcar (Lokavec/SI,1946) es un fotógrafo franco-esloveno. Vive entre París y Liubliana (Eslovenia). Evgen Bavcar se quedó ciego a los 12 años debido a dos accidentes consecutivos. Empezó a fotografiar a los 16, como forma de seguir perteneciendo al universo de las imágenes. A través de la escritura y la fotografía, ha trabajado sobre las relaciones entre la fotografía conceptual, lo visible y lo invisible en un mundo lleno de imágenes. Se doctoró en Filosofía Estética en la Universidad de París 1- Panteón Sorbona y se convirtió en investigador del Centro Nacional de Investigación Científica (CNRS) de Francia. Ha publicado numerosos libros y artículos en revistas internacionales. También ha realizado exposiciones individuales y participado en importantes muestras colectivas en distintos países europeos y latinoamericanos. En Porto Alegre, presentó la exposición individual “La noche, mi cómplice” en MARGS (2001). Evgen Bavcar es profesor del Laboratorio de lo Invisible 17, Instituto de Estudios Críticos en la ciudad de Méjico. En Brasil hay un libro sobre su obra, publicado por Cosac


91 Naify (Memórias do Brasil, 2003), organizado por Elida Tessler y João Bandeira. También es uno de los entrevistados en el documental “Janela da Alma” (2001), dirigido por João Jardim y Walter Carvalho. Letícia Bertagna (Porto Alegre/RS, 1983) es artista y profesora en el Instituto de Artes y Diseño (UFJF), doctora en Artes (UERJ) y máster en Poética Visual (UFRGS). Su práctica artística gravita en torno a la fotografía, el video, las acciones performativas y los objetos, interesándose por las relaciones entre palabra e imagen, lenguaje y lugar, experiencia y formas de vivir. Entre las exposiciones colectivas más recientes se encuentran: “O dia em que as corujas caíram do céu”, “Plataforma Verter” (2021); “Experiência n.14 “, “A Mesa” (2017); “Fala”, Galería Ecarta (2017); “Testemunhos possíveis”, Museo de Arte Murilo Mendes (2016) y las exposiciones individuales: “Trabalho do tempo”, con curaduría de Gabriela Motta, Galería Guaçuí (2022), “Lugar de passagem”, Goethe Institut (2012) y “Fundo de fora”, CCBM (2016). Luiz Silveira Guides (Rio Grande/RS, 1922–2010) fue internado en el Hospital Psiquiátrico São Pedro en 1950. Asistió al Taller de Creatividad de ese hospital desde 1990 hasta su muerte en 2010. Con sus obras, participó en la exposición “Quatro x Quatro” en 1998, en la Pinacoteca Barão de Santo Ângelo. Con curaduría de Blanca Brites, su obra se presentó en una exposición individual en el Museo de Arte del Rio Grande do Sul/MARGS, en 2003, en el marco del evento “Corpo, Arte e Clínica”. En 2009, participó en la “V Bienal de Las Artes y La Salud Mental”, celebrada en la ciudad de La Habana, Cuba, y en 2010 en la exposición “Eu sou você”, con curaduría de Blanca Brites y Tania Galli Fonseca, una asociación entre el HPSP y el Museo de la UFRGS. También participó en la exposición “Lugares do Delírio”, en el Museo de Arte de Río de Janeiro (MAR-RJ), en 2017, y en el SESC Pompeia (São Paulo), en 2018, ambas con curaduría de Tania Rivera. Luiz Guides dejó una colección de cerca de 6.000 obras. Maria Ivone dos Santos (Vacaria/RS, 1958) es artista plástica y profesora. Entre 1979 y 1987, se dedicó al grabado en Porto Alegre, con estancias en Lima (Perú) y Potosí (Bolivia). Vivió en Francia de 1987 a 1994, donde se graduó en Joyería en la École Supérieure des Arts Décoratifs de Estrasburgo. Obtuvo la “Licence en Arts” en la Université des Sciences Humaines de Estrasburgo, (1991), el máster en Artes (1994) y el doctorado en Artes (2003), en la Universidad de Paris 1, Sorbona, Francia. Desde 1998, es profesora en el Instituto de Artes de la UFRGS. Su práctica artística transita por la escultura, la fotografía, video y texto, explorando ejes conceptuales en torno al cuerpo, espacio y memoria.


92 Produce piezas gráficas articuladas con instalaciones, intervenciones urbanas y publicaciones. Ha presentado su producción en exposiciones individuales y colectivas entre las cuales se destacan: “En Quête d’Espace”, Galería Ipsofakto, “Lausanne”, Suiza; “Extensiones Lejanas”, Galería da Casa do Brasil, Madrid, España (1992); “Duplo Pousar”, Museo de Arte Contemporáneo, Porto Alegre (1995); “Remetente”, Espacio de la ULBRA, Porto Alegre (1998); “Rumos Visuais”, Itaú Cultural, São Paulo (2000); “Plasticidade”, CEMIG, Belo Horizonte (2004); “O Corpo na Arte Contemporânea”, Instituto Itaú Cultural, São Paulo (2005); “Prosa de Jardim II”, Museo de Arte de Joinville (2008); “//22°S.-50°N”, Musée des Beaux Arts de Verviers, Bélgica, Museo de Artes de Campinas (2009); “Cabe a Alma”, Museo de la Gravura Cidade de Curitiba (2013); Bienal de Yakutsk-BY14, Rusia (2014); Local Extremo, ESPM, Porto Alegre (2016); “Zona de escuta”, Galería de la Pinacoteca Barão de Santo Ângelo, Porto Alegre (2018). Natália Leite (Santo Ângelo/RS, 1943–2022) ingresó al Hospital Psiquiátrico São Pedro en 1956. Asistió al Taller de Creatividad de 1990 hasta su fallecimiento en 2022. Natália produjo cerca de 14 mil trabajos entre pinturas, dibujos, esculturas y bordados. Sus trabajos formaron parte de la exposición “Quatro x Quatro”, en 1998, en la Pinacoteca Barão de Santo Ângelo; en la muestra “Eu sou você”, en el Hospital Psiquiátrico São Pedro, en colaboración con el Museo de la UFRGS, en 2010; en la muestra “Lugares do Delírio”, en el Museo de Arte de Rio de Janeiro (MAR-RJ), en 2017; y en SESC Pompeia, en São Paulo, en 2018. Otacílio Camilo (Porto Alegre/RS, 1959–1989) comenzó sus estudios de artes visuales a finales de los años setenta y desarrolló su práctica en los ochenta hasta su temprana muerte. Artista multimedia, llevó a cabo experimentos interdisciplinares en el campo de las artes visuales, la música y el teatro. También ha utilizado diferentes técnicas y lenguajes artísticos, como el grabado, la performance, el videoarte, la poesía, el collage, los fanzines, los objetos y los libros de artista. Sus propuestas están impregnadas de una fina ironía y un humor irreverente, a partir de los cuales el artista desarrolló muy pronto una expresión visual singular. Adepto del movimiento anarco punk, Otacílio es autor de una producción de carácter existencialista y de problematización política y social. A veces con trazos extremadamente cargados, y otras totalmente económicos, Otacílio desarrolló una obra cuya precariedad de los medios dialoga con una idea de autogestión, el “Do it yourself”, ambos elementos propios del punk.


93 Regina José Galindo (Guatemala, América Central, 1974) es artista visual y poeta que utiliza la performance como principal medio de expresión. Galindo vive y trabaja en Guatemala, utilizando su propio contexto como punto de partida para explorar y denunciar las implicaciones éticas de la violencia social y las injusticias relacionadas con la discriminación racial y de género, así como los abusos de los derechos humanos derivados de las desigualdades endémicas en las relaciones de poder en las sociedades contemporáneas. Galindo recibió el León de Oro al Mejor Artista Joven en la 51ª Bienal de Venecia (2005) por sus obras “¿Quién puede borrar las huellas?” e “Himenoplastia”, dos obras cruciales en su trayectoria que critican la violencia guatemalteca. En 2011, recibió el Premio Príncipe Claus de los Países Bajos por su capacidad para transformar la injusticia y la indignación en actos públicos que exigen respuestas. Regina ha participado en las Bienales de Venecia en sus ediciones 49ª, 53ª y 54ª; la 14ª Documenta de Kassel; la 9ª Bienal Internacional de Cuenca; la 29ª Bienal de Artes Gráficas de Liubliana; la Bienal de Shanghái (2016); la Bienal de Pontevedra (2010); la 17ª Bienal de Sídney; la 2ª Bienal de Moscú; la 1ª Trienal de Auckland; la 1ª Bienal de Arte y Arquitectura de Canarias; la 4ª Bienal de Valencia; la 3ª Bienal de Albania; la 2ª Bienal de Praga; y la 3ª Bienal de Lima. Vivi Pasqual (Caxias do Sul/RS, 1966) es artista y musicista. Entre 2000 y 2015, fue miembro de la Orquesta Municipal de Soplos de Caxias do Sul tocando la flauta traversa. Su práctica artística se desarrolla principalmente en el dibujo en diferentes soportes, placas, bordados, cartón, banderas, camisetas, retazos de tela. Son dibujos realizados a partir de experiencias en diferentes ciudades, correlacionadas con sus formas intuitivas de organización social y señalización. Como artista, ha participado en varias exposiciones colectivas e individuales, entre las que destacan las colectivas “Matéria Difusa - um olhar sobre a coleção MACRS” (2022), en la Galería Xico Stockinger, MACRS, Casa de Cultura Mario Quintana, en Porto Alegre; “O Avesso do avesso do avesso” (2016), con Mara de Carli, en la Galería Municipal Gerd Bornheim, en Caxias do Sul; “Volúpia Construtiva” (2014), en el MACRS, en Porto Alegre. Entre las individuales, destacan “Parente é comida no Dente” (2021), en Olinda, PE. “Projeto Vitrine, Casa M”, como parte de la programación de la 8ª Bienal del Mercosur (2011).


94 SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL: Eduardo Leite SECRETÁRIA DE ESTADO DA CULTURA DO RIO GRANDE DO SUL: Beatriz Araujo SECRETÁRIA DE ESTADO ADJUNTA DA CULTURA DO RIO GRANDE DO SUL: Gabriella Meindrad DIRETORA DE ARTES E ECONOMIA CRIATIVA: Ana Fagundes DIRETORA DA CASA DE CULTURA MARIO QUINTANA: Germana Konrath ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DA CASA DE CULTURA MARIO QUINTANA Presidente: Liana Zogbi Vice-presidente: Flávio Antônio Camargo Porcello (in memoriam) Tesoureiro: Eduardo Vital Secretária: Evelize Zimmer Neves EXPOSIÇÃO CURADORIA: Edson Luiz André de Souza Elida Tessler COORDENAÇÃO DE PROJETO: Diego Groisman EDUCATIVO: Andrei Moura MEDIAÇÃO: Anna Laura Scheep Cândida Vitória Sue Gonçalves Matheus Larsen MONTAGEM E PRODUÇÃO: Rafael Muniz ccmq.com.br instagram.com/ccmarioquintana Casa de Cultura Mario Quintana Rua dos Andradas, 736 Centro Histórico de Porto Alegre Rio Grande do Sul, Brasil


95 IDENTIDADE VISUAL: Amanda Teixeira PROGRAMAÇÃO PARALELA: Patrícia Rangel PRODUÇÃO AUDIOVISUAL: Kevin Nicolai ASSISTENTES DE PRODUÇÃO: David Ceccon Fernanda Lima Matheus Larsen Vitória Morlin CATÁLOGO ORGANIZAÇÃO EDITORIAL: Diego Groisman FOTOS: Fábio Alt Douglas Barcellos Pamela Zorn (fotos da equipe Educativa) PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: Amanda Teixeira [Vinco Estúdio] TRADUÇÃO: Marcela Miranda Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Aline Graziele Benitez - CRB-1/3129 ------------------------------ Podium / Elisandro Rodrigues... [et al.] ; organização Diego Groisman. -- 1. ed. -- Porto Alegre, RS : Casa de Cultura Mario Quintana, 2023. Outros autores: Guilherme Mautone, Andrei Moura, Elida Tessler, Edson Luiz André de Sousa. ISBN 978-65-980141-0-0 1. Arte contemporânea brasileira 2. Artes visuais - Exposições - Catálogos I. Rodrigues, Elisandro. II. Mautone, Guilherme. III. Moura, Andrei. IV. Tessler, Elida. V. Sousa, Edson Luiz André de. VI. Groisman, Diego. 23-153176 CDD-709.04 Índices para catálogo sistemático: 1. Arte contemporânea : Artes visuais 709.04


96 patrocínio apoio realização Este livro foi composto nas fontes Futura e Alvania e impresso em 2023 pela gráfica Ideograf em Porto Alegre/RS.


PATROCÍNIO APOIO REALIZAÇÃO


Click to View FlipBook Version