DIREITOS DAS
MULHERES
Um guia para investidores sociais privados e
organizações filantrópicas iniciarem estratégias
de apoio aos direitos das mulheres
DIREITOS DAS
MULHERES?
Um guia para investidores sociais privados e
organizações filantrópicas iniciarem estratégias
de apoio voltadas aos direitos das mulheres
São Paulo | 2020
1ª impressão
Supervisão geral: José Marcelo Zacchi
Coordenação: Erika Sanchez, Gustavo Bernardino e Ricardo Batista
Parceiro técnico responsável pela publicação: Move Social
Pesquisa e redação: Gabriela Brettas
Relatoria e sistematização: Walquíria Tiburcio
Projeto gráfico e diagramação: Lúcia de Menezes e Daisy Biagini Porto
Realização: GIFE
Correalização: Instituto Avon e Fundação Tide Setubal
Promoção: Instituto Avon, Fundação Tide Setubal,
Agora É Que São Elas e Fundo ELAS
© 2020 GIFE - Grupo de Institutos Fundações e Empresas
GIFE
Conselho de governança
Américo Mattar – Fundação Telefonica Vivo
Átila Roque – Fundação Ford
Fábio Deboni – Instituto Sabin
Giuliana Ortega – Instituto C&A
Guilherme Coelho – Instituto República
Inês Lafer – Instituto Betty e Jacob Lafer
Leandro Pinheiro – Fundação FEAC
Luís Fernando Guggenberger – Instituto Vedacit
Maria Alice Setubal – Fundação Tide Setubal (Presidente)
Maria de Lourdes Nunes – Fundação Grupo Boticário
Mônica Pinto – Fundação Roberto Marinho
Virgílio Viana – Fundação Amazonas Sustentável
Conselho fiscal
Andrea dos Santos Regina – Serasa Experian
Cibele Demetrio Zdradek – Instituto Grupo Boticário
Odair Barros da Silva – Fundação Telefonica Vivo
Secretário-geral
José Marcelo Zacchi
Agradecimentos
Agradecemos a toda equipe do GIFE,
em especial a Aline Rosa, Andréa Almeida, Carolina Magosso,
Giovana Bianchi, Graziela Santiago e Thaís Rodrigues.
Às organizações copromotoras do tema
direitos das mulheres neste projeto: Instituto Avon,
Fundação Tide Setubal, Agora É Que São Elas e Fundo ELAS.
A todos os participantes do workshop que, gentilmente,
contribuíram com o processo de pesquisa e produção de
conteúdo deste guia: Aline Cardoso (Secretaria Municipal
do Trabalho de São Paulo), Amália Fischer (Fundo ELAS),
César Muñoz (Human Rights Watch), Claudia Luna
(Comissão da Mulher da OAB/SP), Débora Garcia (Sarau
das Pretas), Fabíola Sucasas (Promotoria de Justiça do
Ministério Público/SP), Giselle Santos (CEERT), Giuliana
Ortega e Luciana Campello (Instituto C&A), Guilherme
Valadares (Papo de Homem), Irina Cezar (Uber), Ivone
Assis Dias (CDCM Cidinha Kopcak), Jacira Melo (Agência
Patrícia Galvão), Kelly Baptista (Gerando Falcões), Mafoane
Odara (Instituto Avon), Manoela Miklos (Agora É Que
São Elas), Mariana Almeida e Viviane Soranso (Fundação
Tide Setubal), Patrícia Ellen (Secretaria de Estado
de Desenvolvimento Econômico de São Paulo), Selma
Moreira (Fundo Baobá), Semayat Oliveira (Nós, Mulheres
da Periferia), Sérgio Barbosa (Tempo de Despertar).
Realização Correalização Promoção
Sumário
APRESENTAÇÃO..................................................................................... 5
1. Direitos das mulheres: do que estamos falando?........................... 6
2. Desvendando o problema: quais são os principais
desafios envolvidos?...........................................................................14
3. Caminhos de atuação: como o investimento social
privado pode contribuir?.....................................................................16
a. I nclusão transversal da perspectiva de gênero
na atuação das organizações.................................................................................19
b. F ortalecimento de lideranças e organizações
de defesa dos direitos das mulheres..................................................................22
c. Enfrentamento à violência contra as mulheres..............................................27
d. Equidade de gênero no mercado de trabalho...................................................32
e. Sensibilização da sociedade e mudança
cultural para a equidade de gênero.......................................................................41
4. Recomendações finais para atuação do ISP..................................46
apresentação
O projeto O que o Investimento Social este. Todo o material produzido é reunido
Privado pode fazer por...? é uma em uma plataforma online: isppor.gife.org.br.
iniciativa do GIFE que tem intenção
de ampliar a atuação dos Institutos, Para desenvolver cada uma das temáticas
Fundações e Empresas para diversificar do projeto, o GIFE conta com a parceria de
e expandir as temáticas da agenda pública organizações copromotoras, reconhecidas
contemporânea trabalhadas pelas organizações por sua atuação, experiência ou investimento
da filantropia no Brasil. O projeto busca fomentar nos assuntos abordados, sendo pelo menos
o engajamento dos investidores sociais privados uma delas caracterizada como investidora
em assuntos ainda pouco explorados pelo social privada e pelo menos uma organização
campo, com o objetivo de refletir sobre quais da sociedade civil referência no tema.
são as contribuições potenciais para as diversas No caso de direitos das mulheres, a iniciativa
temáticas da agenda pública e seus desafios. é desenvolvida com a participação e a
Temas como cidades sustentáveis, mudanças curadoria do Instituto Avon e Fundação Tide
climáticas, água, gestão pública, equidade racial, Setubal (ambos também como financiadores),
direitos das mulheres, migrações e refugiados, do Agora É Que São Elas e do Fundo ELAS.
segurança pública e justiça criminal, dentre
outros, serão abordados nesta iniciativa. Para apoiar investidores sociais privados
que tenham interesse em iniciar ou fortalecer
Conheça mais sobre os temas na série sua atuação no tema direitos das mulheres,
sobre o projeto no canal do Youtube do GIFE este guia inclui: subsídios básicos relacionados
ou no site do projeto. ao tema (incluindo conceitos e informações
sobre panorama, contexto e tendências);
Com isso, além da diversificação da atuação desafios envolvidos; e, em especial,
do ISP, a iniciativa pretende identificar caminhos caminhos e possibilidades de atuação
possíveis de intervenção, fomentar parcerias, de organizações do ISP nesse campo.
contribuir com a articulação entre organizações Os conteúdos abordados foram produzidos
investidoras e outros atores importantes em a partir de entrevistas, de pesquisa
cada tema e reforçar o engajamento do campo bibliográfica e das contribuições do workshop
com pautas da agenda pública contemporânea, sobre o tema realizado com especialistas.
promovendo também o diálogo com o
cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Com isso, esperamos chamar Acesse o site
Sustentável (ODS) na Agenda 2030. a atenção de atores do campo do projeto
social para a importância dessa
Assim, para cada temática, o projeto inclui agenda, além de disponibilizar
as seguintes etapas: pesquisa de conteúdo insumos e inspirar formas
e contexto; escuta de interlocutores de inovadoras e relevantes
referência; realização de workshop com pessoas de intervir na realidade social
e organizações especialistas; produção de em direção a uma sociedade
vídeos temáticos; e elaboração de um guia como mais justa e democrática.
direitos das mulheres 5
1 Direitos das R$ 2.579 100%
mulheres:
do que 79,5R$ 2.050%
estamos
falando?
A s pautas relacionadas aos direitos das mulheres es- Em 2018, o rendimento
tão cada vez mais em evidência em nossa sociedade, médio das mulheres
atravessando diversos temas e esferas – saúde, educação, ocupadas (R$ 2.050) equivalia
segurança pública, cultura, economia, educação, sexuali- a 79,5% do recebido pelos
dade, políticas públicas, diversidade, representatividade. homens (R$ 2.579). (IBGE, 2019)
Essa visibilidade das temáticas de gênero enquanto tema
transversal é fruto da mobilização e de conquistas histó- A taxa de desemprego
ricas do movimento feminista no Brasil e no mundo. é maior entre
mulheres (13,4%) do que
Dentro deste debate, dois conceitos são centrais, e envolvem
diversas interpretações e usos, inclusive políticos e entre homens (10,5%), sendo que
ideológicos. Em primeiro lugar, destaca-se o termo gênero, há uma diferença expressiva
que está relacionado às construções sociais atribuídas aos quando sobreposta a
homens e mulheres, ou seja, aos papéis, comportamentos dimensão racial: o desemprego
e atividades que uma determinada sociedade espera e afeta 15,9% das mulheres
valoriza nas pessoas com base em seu sexo biológico. negras, taxa que cai para
Considerando que as concepções de gênero estão inseridas 10,6% no caso das mulheres
em contextos socioculturais (e que, portanto, se modificam brancas. (IBGE, 2017)
ao longo do tempo e dentre os diferentes grupos sociais), 13,4% 10,5% 10,6% 15,9%
esta é uma categoria útil e dotada de sentido positivo
– ainda que comumente seja condenada e utilizada de XX
modo confuso no debate público – e da qual derivam
outros conceitos importantes, como identidade de gênero,
igualdade de gênero, e assim por diante.
As mulheres Em 2017, o Brasil caiu 11 Metade das
apresentam índices posições em relação ao mulheres que
mais elevados de trabalham e se
frequência escolar ano anterior no ranking tornam mães é
e percentual de de Desigualdade Global demitida no período
conclusão em todas de até dois anos
as etapas de estudo e de Gênero, passando depois da licença-
faixas etárias. (IBGE, 2017) a ocupar a 90ª posição. maternidade.
(Fórum Econômico Mundial, 2017) (Machado; Neto, 2016)
6 direitos das mulheres
O tempo médio 96,9Em 2016,% 39,4%
dedicado pelas
mulheres dos postos de delas são
ocupadas aos trabalho doméstico da mensalistas
afazeres Região Metropolitana com carteira
domésticos de São Paulo foram assinada.
é de ocupados por mulheres,
sendo que apenas (SEADE, 2017)
18,1
horas semanais
enquanto, dentre homens NO LEGISLATIVO
ocupados, esse tempo é de
Apenas
10,5 horas. (IBGE, 2017)
NAS EMPRESAS 10,5% 16%
31Apenas % Considerando das cadeiras dos assentos do
que tendência da Câmara dos Senado Federal
análoga também Deputados e são ocupados
é observada dentre por mulheres.
profissionais
(IBGE, 2018)
dos cargos negros, no caso
13%de gerência e das mulheres 40%
negras, a condição das mulheres acima 4,7Em um ano,
do quadro é ainda mais de 16 anos relatam milhões
executivo das desfavorável: já terem sido
500 maiores apenas vítimas de assédio, de mulheres foram
empresas do em situações que vítimas de agressão
Brasil são 8,2% física, o que
ocupados incluem comentários
por mulheres, dos cargos 536corresponde a
resultado de um de supervisão, desrespeitosos,
claro afunilamento casos
hierárquico por 1,6% cantadas na rua ou no
meio do qual
a inclusão de dos cargos trabalho, assédio físico
mulheres diminui de gerência e
à medida que no transporte público,
aumentam as 0,4%
atribuições de dentre outros. Os casos
do quadro são mais frequentes
executivo são
entre jovens de 16
a 24 anos e entre
ocupados por elas. mulheres negras. a cada hora.
comando.
(Instituto Ethos, 2016) (Instituto Ethos, 2016) (IPEA; FBSP, 2017) (FBSP; Datafolha, 2019)
direitos das mulheres 7
1 Direitos das As consequências da violência contra a mulher
mulheres: acarretam perda anual de quase R$ 1 bilhão por
do que
estamos ano à economia do país, no que diz respeito
falando? aos impactos no mercado de trabalho e na
produtividade das mulheres. (Carvalho; Oliveira, 2017).
Em 2018, foram Outro conceito fundamental é o de feminismo. De modo
abrangente, o feminismo pode ser entendido como um
66 milregistrados conjunto de movimentos políticos, sociais, ideologias e
filosofias orientados à igualdade de oportunidades e di-
estupros, reitos entre homens e mulheres. Se a partir do século 18 já
é possível identificar uma série de movimentos e iniciati-
o que corresponde vas importantes voltadas aos direitos das mulheres (como
mostra a linha do tempo mais abaixo), o feminismo ga-
180a uma média de nhou um forte impulso no período recente, sobretudo em
função das formas de produção, disseminação e troca de
casos conhecimentos e experiências que vêm com as redes so-
ciais. Em um cenário de posicionamentos cada vez mais
por dia. polarizados, muitas vezes o feminismo e os direitos das
mulheres acabam adquirindo uma conotação negativa no
(FBSP, 2018) debate público, como se estivessem relacionados a posi-
ções contrárias à família, ao casamento e a filhos ou, ain-
42% da, à supremacia do gênero feminino sobre o masculino
(em uma inversão simplista e equivocada do machismo).
dos casos de situação de
violência contra mulheres Muitos são os debates e posicionamentos envolvidos nesse
ocorreram na própria tema. Um primeiro destaque é a importância de haver mu-
casa das vítimas e lheres de referência nas diversas áreas do conhecimento
e das esferas pública e privada: a existência de lideranças
76,4% de mulheres tem um papel político importante de insta-
lar a questão da representatividade feminina e de gerar
dos agressores eram movimentos positivos e inspiradores em relação a outras
alguém conhecido. mulheres; além disso, garante que as soluções para as ne-
cessidades e desafios vivenciados por elas sejam propostos
(FBSP; Datafolha, 2019) e desenvolvidos por elas mesmas – que são quem melhor
conhece suas próprias realidades, possibilidades e limites.
Mas o tema da representatividade evoca diretamente
uma pergunta sobre de que mulher estamos falando. E
daí emerge a importância de um olhar amplo que consi-
dere as especificidades dos diferentes grupos de mulhe-
res: mulheres brancas, negras, indígenas, periféricas, lés-
bicas ou trans as quais têm vivências e realidades muito
distintas umas das outras. Nesse debate é fundamental
considerar o tema da interseccionalidade, isto é, o modo
como diferentes desigualdades – por exemplo, de gênero,
8 direitos das mulheres
O Brasil é o quinto país com 55,3%
maior taxa de feminicídio dos assassinatos de
(assassinato de pessoas mulheres ocorrem no
devido à sua condição de ser universo doméstico,
mulher) do mundo. (ACNUDH/ONU)
50,3%
raça, renda e território – se sobrepõem em nossa socieda- são cometidos
de. Dessa forma, reconhecendo que pessoas brancas e ne- por familiares e
gras ou homens e mulheres partem de lugares de privilé-
gio distintos nas relações sociais, políticas e econômicas, 33,2%
as mulheres negras, por exemplo, ocupam um lugar social dos algozes são
marcado por essas diferentes desigualdades estruturan- o marido,
tes – que se desdobram em diversos desafios que perpe- namorado ou ex.
tuam esse lugar, como de acesso à renda, à possibilidade (WAISELFISZ, 2015)
de educação de qualidade, aos serviços públicos, aos espa-
ços de poder e de tomada de decisão, e assim por diante. 12 mulheres
Outra questão que vem chamando a atenção no debate foram assassinadas
em torno dos direitos das mulheres é a importância de por dia no Brasil
envolvimento e participação dos homens nele. A premis-
sa fundamental é de que se os problemas relacionados às aproximadamente
desigualdades e violências contra as mulheres têm os ho- no ano de 2015, sendo
mens como protagonistas, então o caminho em direção à 8 delas negras.
equidade de gênero envolve soluções das quais, necessa- Em uma década (entre
riamente, eles também precisam ser parte. Dessa forma, 2005 a 2015), enquanto
é fundamental que, por meio de uma linguagem e forma o número de homicídios
de diálogo próprios, os homens sejam aproximados de te- de mulheres
mas como paternidade, violência, autonomia, prevenção
de gravidez, sexualidade, saúde, afetividade, cuidado, 7,4não negras caiu
dentre muitos outros, de modo que possam conversar so- %
bre eles e, dessa forma, caminharem no sentido de assu-
mirem um lugar de agentes da mudança de cultura que o mesmo número
favoreçam relações mais saudáveis.
22%cresceu em
Em 2020, as propostas da Plataforma de Ação de Pequim, a
mais importante plataforma de direito das mulheres, com- no caso de mulheres
pletam 25 anos. Apesar de ser possível constatar alguns negras. (WAISELFISZ, 2015)
progressos, a produção de mudanças reais na vida de me-
ninas e mulheres ainda segue um ritmo lento. Para atingir direitos das mulheres 9
a igualdade de oportunidades, a esfera privada deve assu-
mir o compromisso de promover os direitos das mulheres e,
como será possível observar ao longo deste guia, há diversos
potenciais de contribuição do ISP nessa agenda, que pas-
sam por estratégias de intervenção, fomento de parcerias e
articulação entre organizações investidoras que reforcem o
engajamento do campo com pautas de igualdade de gênero.
O tema direitos das
mulheres na agenda
dos Objetivos de
Desenvolvimento
Sustentável
Os Objetivos de formas de discriminação
Desenvolvimento de gênero, à eliminação
Sustentável (ODS) são de violências e práticas
uma agenda global adotada nocivas (como o tráfico
em 2015, durante a Cúpula e exploração sexual, os
das Nações Unidas sobre casamentos prematuros,
o Desenvolvimento forçados e de crianças,
Sustentável. Os ODS são as mutilações genitais
compostos por 17 objetivos femininas, dentre
e 169 metas, que devem tantas outras formas),
ser atingidos até 2030 e ao reconhecimento e
incluem ações relacionadas valorização do trabalho
a diversos temas voltados de assistência e doméstico
a quatro dimensões não remunerado, à
principais: social, ambiental, participação e igualdade
econômica e institucional. de oportunidades para
Para que os ODS sejam mulheres no mercado de
alcançados, é fundamental trabalho e na esfera pública
o diálogo, compromisso e ao acesso universal à
e envolvimento de saúde sexual e reprodutiva
diversos setores, incluindo e os direitos reprodutivos.
os governos nacionais
e locais, a sociedade civil Saiba mais
(as organizações, coletivos sobre os ODS
e movimentos sociais), o e a Agenda 2030
setor privado e a academia. na Plataforma
O tema direitos das da Estratégia ODS
mulheres ganha destaque e na Plataforma de
no Objetivo 5 – Igualdade Filantropia dos ODS do Brasil.
de gênero: “Alcançar
a igualdade de gênero
e empoderar todas
as mulheres e meninas”.
Dentre outros tópicos,
este objetivo inclui
metas relacionadas ao
enfrentamento das diversas
10 direitos das mulheres
1 Direitos das
mulheres:
do que
estamos
falando?
Declaração dos Declaração de Legalização do I Conferência
Direitos da Mulher e Seneca Falls (ou voto feminino no Internacional da Mulher
da Cidadã: em resposta “Declaração de Reino Unido: depois
à Declaração de Direitos sentimentos”): de 21 anos desde (ONU) (México):
do Homem e do Cidadão resultado da com o lema “Igualdade,
(elaborada dois anos Convenção de a fundação da
antes, no contexto da Seneca Falls, a União Nacional pelo Desenvolvimento e
Revolução Francesa), primeira convenção Paz”, esta foi a primeira
a dramaturga Olympe sobre os direitos Sufrágio Feminino conferência internacional
de Gouges, junto com da mulher realizada por Millicent organizada pelas Nações
outras mulheres, nos Estados Unidos, Unidas sobre os direitos
organizou a elaboração este documento Fawcett, esta vitória das mulheres, voltada
desta Declaração, que denunciou esteve fortemente
tinha como pontos as restrições relacionada à para a eliminação da
centrais os pedidos às quais as participação ativa discriminação da
de direito ao voto e mulheres estavam das mulheres na
à propriedade e de submetidas 1ª Guerra Mundial, mulher e o seu avanço
acesso às instituições (incluindo de que lhes gerou mais social. Neste encontro,
políticas. De Gouges foi direito ao voto, espaço e respeito
guilhotinada em 1793, de ocupação de na sociedade da que contou com a
sob a acusação de cargos públicos, de época. No ano participação de 133
traição da natureza participação política, seguinte, os delegações, foi aprovado
de seu sexo. e assim por diante). Estados Unidos
também passaram o plano de ação a
a permitir que ser norteador das
diretrizes de governos
mulheres votassem. e da comunidade
internacional no decênio
1976-1985.
1791 MUNDO 1848 1918 1932 1975
BRASIL
Marcos Legalização do
importantes direito ao voto
no debate de
direitos das por mulheres
mulheres no Brasil: neste
ano, apenas
mulheres solteiras
e viúvas com
renda própria e
mulheres casadas
com permissão
do marido podiam
votar. Foi apenas
dois anos depois,
em 1934, que
o voto feminino
foi de fato
regulamentado no
país para mulheres
de todas as
rendas, origens ou
estado civil.
direitos das mulheres 11
1 Direitos das Declaração e Princípios de
mulheres: Plataforma de Ação Empoderamento
do que de Pequim: frutos
estamos da IV Conferência das Mulheres
falando? Mundial sobre (WEPs): criado pela
I Encontro as Mulheres: Ação
Feminista Latino para Igualdade, ONU Mulheres e
Americano e do Desenvolvimento o Pacto Global da
Caribe (Colômbia): e Paz, realizada ONU, este conjunto
reunindo cerca em Pequim,
de 300 mulheres essas iniciativas de 7 princípios
de diferentes estabeleceram uma buscam fomentar
partes do agenda visionária para
continente, dentre o empoderamento de nas empresas a
outras coisas, mulheres e meninas adoção de políticas
neste encontro no mundo todo,
foi declarado o 25 traduzida em doze e o investimento
de novembro como áreas prioritárias, com na promoção da
o Dia Internacional a intenção de incidir igualdade de gênero
de Não Violência diretamente sobre no ambiente de
contra as Mulheres a legislação e as trabalho, em sua
(em memória políticas públicas cadeia produtiva
das irmãs Mirabal, nos países-membros. e nas comunidades
três ativistas
políticas assinadas em que está
na República presente. Eles já
Dominicana foram assinados por
em 1960). quase 2 mil empresas
em todo
o mundo (sendo
mais de 170 delas
com atuação no
Brasil, o terceiro país
com maior número
de signatárias).
1981 MUNDO 1995 2004 2006 2009 2010
BRASIL
I Conferência Nacional Lei Maria da Penha (Lei Lei nº 12.034: prevê cota
de Políticas para as nº 11.340): principal de 30% para candidaturas
de mulheres nas eleições
Mulheres: organizada marco jurídico na defesa proporcionais (deputada/o
pela então Secretaria da mulher no país, esta
Especial de Políticas lei tem como objetivo federal, estadual ou
para as Mulheres, em estipular punição distrital e vereador/a),
parceria com o Conselho adequada e coibir atos
Nacional dos Direitos de violência doméstica por meio da indução
contra a mulher. Ao aos partidos políticos
da Mulher, esta foi a estabelecer que todo a terem programas de
primeira conferência do caso de violência promoção e difusão da
tipo realizada em âmbito participação política das
doméstica e intrafamiliar mulheres. Observando que
nacional e teve como é crime, que deve ser muitos partidos lançavam
objetivo propor diretrizes apurado por meio de candidaturas de mulheres
inquérito policial e apenas para preencher
para a fundamentação
do I Plano Nacional de remetido ao Ministério a cota, sem investir
Políticas para as Mulheres. Público, a lei assegura, em suas campanhas, a
como dever do Estado, Resolução nº 23.553 de
Este foi o primeiro 2017 do Tribunal Superior
conjunto de políticas atuar para proteger Eleitoral, estabeleceu
públicas articuladas as mulheres vítimas
em um plano voltado à desses crimes. Além que os partidos
efetivação dos direitos disso, a lei trata de modo políticos, nas eleições
das mulheres, estruturado abrangente e tipifica de 2018, destinassem
em cinco eixos temáticos as formas de violência no mínimo 30% do total
(mundo do trabalho; contra a mulher, incluindo de recursos do Fundo
educação; saúde das tanto a violência física Partidário utilizado nas
como a psicológica (como campanhas eleitorais
mulheres, direitos calúnia, difamação ou
sexuais e reprodutivos; injúria contra a honra ou a para o financiamento
enfrentamento à violência reputação da mulher). de campanhas de suas
contra as mulheres; e candidatas.
participação política).
12 direitos das mulheres
Convenção e O que o feminismo pode
Recomendação é transformar a sociedade
sobre Trabalho em bases abertas e ao
Decente para as mesmo tempo revolucionárias
Trabalhadoras e na direção de um mundo
os Trabalhadores de direitos assegurados,
Domésticos de respeito à diferença
(Convenção nº 189 e à singularidade.
da Organização Esse poder do feminismo
Internacional do é o próprio feminismo.
Trabalho – OIT): fruto
da 100ª Conferência Márcia Tiburi – filósofa
Internacional do
Trabalho (CIT), este
é um instrumento
internacional de
proteção aos
trabalhadores
domésticos, a ser
ratificado pelos países
que, soberanamente,
optarem por
aderirem a ele.
2011 2015 2017 2018 2019
Lei do Feminicídio (Lei nº Ratificação da Importunação Apreensão da arma de fogo
13.104): tipifica o feminicídio Convenção 189 da OIT Sexual (Lei nº (Lei nº 13.931): Um agressor
(Decreto Legislativo nº 13.718): Esta lei com posse ou porte de arma a
como homicídio, tornando o tipifica os crimes
assassinato de mulheres em 172/2017): seis anos de importunação partir de agora perde
depois da publicação o direito em caso
função do gênero – quando da Convenção, o Brasil sexual e de
envolve violência doméstica adere a este tratado divulgação de de violência doméstica.
internacional da OIT, cena de estupro, O agressor banca o
e familiar, menosprezo ou torna pública
discriminação à condição tornando-se o 25º incondicionada a tratamento (Lei nº 2438):
país signatário, bem natureza da ação Quem comete violência
de mulher – um crime como à Recomendação penal dos crimes
hediondo. Essa lei altera o contra a liberdade doméstica ou psicológica
artigo 121 do Código Penal sobre o Trabalho contra as mulheres vai arcar
Brasileiro e torna mais severa Doméstico Decente sexual e dos com os custos do tratamento
para as Trabalhadoras crimes sexuais
a punição para este tipo contra vulnerável, médico, inclusive
de crime, que parte de 12 e os Trabalhadores se feito no SUS.
anos de reclusão (enquanto Domésticos (nº 201 estabelece
um homicídio comum tem causas de Medida Protetiva Facilitada
como pena mínima 6 anos). da OIT). Com isso, (Lei nº 13.827): Delegados e
Para ser reconhecido como cerca de sete milhões aumento de policiais de cidade sem comarca
pena para esses
feminicídio, de trabalhadoras crimes e define podem emitir medida
a Justiça brasileira e trabalhadores como causas de protetiva urgente. Até então
investiga as características aumento de pena
relacionadas ao contexto domésticos no Brasil o estupro coletivo apenas juízes poderiam
em que o crime ocorre, (maior número conceder a proteção.
como as circunstâncias e o estupro
e as formas de violência do mundo) passaram a corretivo. Filhos tem prioridade (Lei nº
empregadas que resultaram contar com todas 13.882): A mulher que sofreu
na morte da mulher. as proteções no agressão tem prioridade para
âmbito das leis matricular o filho em escolas
de ensino básico. As crianças
trabalhistas no país. também podem ser transferidas
para outra escola mais perto da
mãe, mesmo sem vaga.
direitos das mulheres 13
Desvendando o
problema: quais
são os principais
2 desafios
envolvidos?
A amplitude do debate em torno do tema de direitos
das mulheres traz consigo uma diversidade de
desafios. Ter clareza das questões presentes nesse
campo é fundamental para pensar caminhos de atuação
legítimos e alinhados aos problemas reais da sociedade.
A seguir, são destacados alguns desses desafios, a partir
do que vem sendo mais enfatizado por especialistas nos
diálogos atuais em torno dessa temática.
Compreensão do debate público (“em Aparato
social do tema briga de marido e mulher, Institucional
ninguém mete a colher”).
• Confusão conceitual • Legislação e aparato
e disputa política em • Pouca visibilidade institucional que assegura
torno dos significados à dimensão racial no os direitos das mulheres
de feminismo e machismo. debate sobre gênero. distantes das necessidades
e situações reais (por
• Conjuntura • Posicionamentos exemplo, não contemplam
nacional caracterizada que afastam os homens a violência virtual).
pela ampliação do debate sobre direitos
do conservadorismo das mulheres, em função • Ações afirmativas
na esfera pública. de uso de linguagem e voltadas à equidade
abordagens com pouco de gênero insuficientes.
• Baixa compreensão espaço ao diálogo.
da sociedade, de maneira • Sub-representação
geral, sobre questões das mulheres (sobretudo,
relacionadas à violência das mulheres negras) em
contra a mulher, marcada todas as esferas políticas
por estereótipos e (casas legislativas,
entendimentos que ainda secretarias e ministérios,
as vinculam à esfera governos municipais,
privada – e, portanto, fora estaduais e federal).
14 direitos das mulheres
• Redução dos • Maior instabilidade Mercado
investimentos no mercado de trabalho de trabalho
públicos nas políticas de mulheres vítimas
para mulheres. de violência doméstica, • Dificuldade de autonomia
em função dos prejuízos econômica para que
• Descontinuidade das em sua capacidade mulheres conquistem
políticas públicas voltadas laboral, concentração, sua independência.
às questões de gênero. produtividade e
capacidade decisória, • Desigualdade de
• Direitos sexuais além do alto nível condições das mulheres
e reprodutivos não de stress e de faltas. no mercado de trabalho
garantidos e dificuldade formal, incluindo
de acesso à informação • Falta de preparo no diferenças salariais para
e aos serviços públicos atendimento às mulheres cargos equivalentes e
relacionados a eles. vítimas de violência, o a dificuldade de ascensão
que leva à subnotificação e ocupação dos espaços de
Violência contra e revitimização poder e decisão (liderança).
as mulheres de mulheres que
sofrem violências. • Diversas dificuldades
• Alto índice para mães no mercado
de feminicídio e • Necessidade de trabalho, incluindo
assassinato de mulheres. de ampliação a de acesso a crédito, a
e aprimoramento ausência de rede de apoio,
• Taxa crescente de da rede de atendimento poucas vagas em creches
homicídios de mulheres à mulher, que impacta públicas e o alto índice
negras (e muito diretamente na qualidade de demissão após a volta
mais acentuada de acompanhamento da licença maternidade.
quando comparada das vítimas, bem
com as brancas). como em seu papel na • Empreendedorismo
prevenção da violência de mulheres (em especial,
• Flexibilização do uso contra a mulher. mães e pobres) envolvendo
de armas no país como um situações complexas
agravante para o índice de • Crescentes ameaças e muito precarizadas,
crimes contra as mulheres. (virtuais e reais) sem garantia de acesso
a mulheres ativistas ao sistema tributário
• Violência contra e defensoras dos e dos direitos sociais.
mulheres lésbicas e trans. direitos humanos.
• Situações de assédio
• Alto índice de estupros • Desconhecimento moral e sexual, desde
no país, sendo grande sobre as diferentes microagressões até
parte deles cometidos formas de violência. violações mais graves,
por pessoas próximas como problema cotidiano
ao convívio das vítimas e persistente na vida
(familiares, companheiros de muitas mulheres em
e conhecidos). seus locais de trabalho.
direitos das mulheres 15
Caminhos de
atuação: como
o investimento
3 social privado
pode contribuir?
C onsiderando a complexidade, abrangência e urgência do
debate sobre direitos das mulheres e dos desafios nele en-
volvidos, diversas são as possibilidades de atuação que podem
contribuir para alterar esse cenário. Nesse horizonte, ao lado
de outros atores – como o poder público, a sociedade civil ou a
academia –, o ISP pode ter um papel estratégico em diferentes
frentes: sua atuação pode ser mais focada no tema – por exem-
plo, tendo direitos das mulheres como linha temática priori-
tária de investimento – ou se dar de modo mais transversal a
outros temas já desenvolvidos pelas organizações.
Também é possível que, além da dimensão programática, na
perspectiva de equidade de gênero, as organizações do ISP de-
senvolvam estratégias internas, voltadas para suas próprias prá-
ticas institucionais e das organizações às quais estão vinculadas.
A partir desse panorama mais amplo sobre as possibilidades de
direcionamento da atuação do ISP, algumas linhas de atuação
têm destaque. Os caminhos são diversos e podem ir desde o
apoio financeiro a iniciativas de mulheres até a produção de
conhecimento. A tabela a seguir sintetiza as possibilidades
abordadas neste guia, que são detalhadas em seguida.
Saiba mais
Veja o vídeo com a fala de Renata Rodovalho,
do Instituto Avon, sobre as possibilidades de atuação
das organizações do ISP no tema de direitos das mulheres.
16 direitos das mulheres
Linhas de atuação Objetivos O QUE O ISP PODE FAZER? CASES
• Inclusão a
a\ perspectiva de Enfoque de gênero Projeto “Educar para
gênero em outras em projetos de diversas a Igualdade Racial
Inclusão áreas ou temas áreas de atuação e de Gênero” (CEERT)
transversal que as organizações Inclusão da perspectiva “Elas nas Exatas”
da perspectiva já desenvolvam de gênero nas ferramentas (Fundo ELAS, Instituto
de gênero seus trabalhos de gestão da organização Unibanco, Fundação Carlos
na atuação das Chagas e ONU Mulheres)
organizações Justiça de gênero
na teoria de mudança
b\ da Laudes Foundation
Fortalecimento • Fortalecer Apoio institucional Mulheres em Movimento
de lideranças lideranças, a organizações e coletivos (Fundo ELAS)
e organizações organizações que incidem no campo Edital Elas Periféricas
de defesa e movimentos da promoção da (Fundação Tide Setubal)
dos direitos sociais já existentes equidade de gênero Programa de aceleração
das mulheres e consolidados Formação e suporte do desenvolvimento
a lideranças mulheres de lideranças femininas
c\ Inclusão de mulheres negras: Marielle Franco
na esfera pública (Fundo Baobá)
Enfrentamento Linha de atuação de
às violências Liderança e Participação
contra as Política da ONU Mulheres
mulheres
• Construir Campanhas Campanha “Você Não Está
oportunidades educativas Sozinha” (Instituto Avon)
para a prevenção Instrumentalização Workshop de Acesso
e enfrentamento dos operadores à Justiça do Programa
da violência de políticas públicas Respostas Eficazes às
contra as mulheres Desenvolvimento de Violências contra Mulheres
soluções inovadoras e Meninas (Instituto Avon)
voltadas à segurança “Trabalho sem Assédio
das mulheres Sexual” (Governo do Estado
Financiamento de de São Paulo, Instituto
equipamentos públicos Avon e Vetor Brasil)
voltados ao cuidado Aplicativo Juntas (Geledés)
de mulheres vítimas Mapa do Acolhimento
de violência Casa da Mulher Brasileira
Produção de dados de São Paulo (Prefeitura
abertos sobre violência de São Paulo em parceria
contra a mulher com Instituto Avon)
direitos das mulheres 17
D\ • Contribuir para Inclusão das mulheres Projeto Empoderando
que as práticas e no mercado de trabalho Refugiadas (Pacto Global,
Equidade relações do mundo Mudanças nas políticas ACNUR e ONU Mulheres)
de gênero do trabalho sejam e práticas relacionadas Política de igualdade
no mercado mais equitativas a questões de gênero de gênero da Natura
de trabalho • Dar visibilidade dentro das empresas Coalizão empresarial pelo
às desigualdades Fomento ao fim das violências contra
E\ de gênero e suas empreendedorismo mulheres e meninas
implicações, de mulheres Canal de enfrentamento
Sensibilização contribuindo Desconstruções à violência (Magazine Luiza)
da sociedade para uma mudança culturais para Movimento Mulher 360
e mudança na compreensão equidade gênero Iniciativa de gestão de
cultural cultural sobre Produção e empreendimentos populares
para a equidade o lugar da mulher disseminação (Consulado da Mulher)
de gênero na sociedade de conhecimento Entusiasta (Rede Asta)
Desenvolvimento
de iniciativas Projetos “Escola de
de comunicação Liderança para Meninas” e
Engajamento e “A Revolução das Princesas”
envolvimento dos homens (Plan International Brasil)
na reflexão sobre as Pesquisa sobre o
relações de gênero impacto dos estereótipos
na equidade de
gênero (Unilever)
Plataforma Violência contra
as Mulheres em Dados
(Instituto Patrícia Galvão,
Instituto Avon
e ONU Mulheres)
Revista AzMina (apoio da
Open Society Foundations)
Gênero e Número
(apoio da Ford Foundation)
Movimento ElesPorElas
(HeForShe) (ONU Mulheres)
Pesquisa e documentário
“O Silêncio dos Homens”
(Papo deHomem,
ONU Mulheres, Natura
Homem e Reserva)
18 direitos das mulheres
3 Caminhos de
atuação: como
o investimento
social privado
pode contribuir?
A Inclusão transversal
da perspectiva de gênero
na atuação das organizações
É possível que o tema de direitos das mulheres seja, em
si, uma área de atuação para a qual as organizações
do ISP optem por investir seus recursos e iniciativas.
Entretanto, outra possibilidade é a consideração desta
perspectiva nas temáticas em que as organizações já de-
senvolvam seus trabalhos, entendendo as questões de gê-
nero como estruturantes das relações sociais e, portanto,
importantes de serem fomentadas em iniciativas sociais
das mais diversas temáticas.
Enfoque de gênero em Saiba mais
projetos de diversas Veja o vídeo com a fala de Margareth
áreas de atuação Goldenberg, do Movimento Mulher
360 e consultora em Diversidade
Se uma organização do ISP direciona sua & Inclusão, sobre a transversalidade
atuação para a área educacional – como do tema de direitos das mulheres
é o caso de 80% dos respondentes na atuação das organizações do ISP.
à última edição do Censo GIFE (GIFE,
2019) –, da saúde ou da cultura, apenas direitos das mulheres 19
para citar alguns exemplos, podem ser
desenvolvidas estratégias para privilegiar
o olhar para as questões de gênero dentro
dessas linhas. Inúmeros são os caminhos
para isso, desde a adoção de direitos
das mulheres como tema orientador
das atividades dos projetos realizados,
até a formação sobre relações de gênero
para as e os profissionais neles envolvidos
(como educadoras e educadores, agentes
de saúde ou mediadoras e mediadores
culturais), ou, ainda, adotar o recorte
de gênero para a seleção e inclusão
do público atendido nos programas.
3 Caminhos de A Inclusão transversal
atuação: como da perspectiva
o investimento de gênero na atuação
social privado das organizações
pode contribuir?
inspire-se! inspire-se!
Projeto “Educar “Elas nas Exatas”,
para a Igualdade Racial uma parceria entre Fundo
e de Gênero”, do CEERT ELAS, Instituto Unibanco,
Fundação Carlos Chagas
Realizado a cada dois anos desde 2002, e ONU Mulheres
o Projeto Educar para a Igualdade Racial
e de Gênero: experiências de promoção O edital “Gestão escolar para a equidade:
da igualdade étnico-racial em ambiente Elas nas Exatas” é uma iniciativa do
escolar busca identificar, difundir, Fundo ELAS, em parceria com o Instituto
reconhecer e apoiar boas práticas Unibanco, a Fundação Carlos Chagas e a
pedagógicas e de gestão escolar ONU Mulheres, que visa aproximar meninas
alinhadas com a garantia de uma educação das ciências exatas e tecnologias.
de qualidade para todas e todos e com Com a intenção de promover a equidade
a promoção, reconhecimento e valorização de gênero e reconhecendo a escola como
da diversidade étnico-racial e de gênero. um espaço estratégico na promoção dessa
transformação, o programa apoia iniciativas
O projeto é uma iniciativa do Programa elaboradas em parceria por organizações
de Educação do Centro de Estudos das feministas e associações de pais e mestres
Relações de Trabalho e Desigualdades que promovam ações que favoreçam
(CEERT) – uma organização da sociedade a inserção das meninas nas áreas
civil que produz conhecimento, de ciências tecnológicas e exatas.
desenvolve e executa projetos voltados
à promoção da igualdade de raça e de Com duas edições já realizadas, cada
gênero – e, em sua última edição, contou uma delas com 10 projetos selecionados,
com a parceria com Instituto Unibanco, são fomentadas iniciativas que promovem,
Ford Foundation, Fundação Vale, por exemplo: capacitações em robótica,
Unesco, Ministério da Educação e SESC. programação e desenvolvimento de games
e aplicativos; construção de protótipos
A 7ª edição passou a incorporar de geração de energia elétrica; aulas
a perspectiva de gênero ao foco anterior e debates sobre história de mulheres
nas relações raciais, com especial cientistas; observações astronômicas;
interesse em práticas pedagógicas oficinas de mídias digitais e software livre;
que abordassem a temática de gênero experimentos com plantas medicinais;
interseccionada a raça e etnia. Nesta dentre muitas outras propostas.
edição, foram inscritas 643 iniciativas Além do recurso financeiro, os projetos
de 24 estados brasileiros e foram dadas selecionados têm a oportunidade
premiações a 14 educadoras e educadores de trocar experiências e conhecimentos
e gestoras e gestores escolares que nos encontros “Diálogo ELAS nas Exatas”.
protagonizaram ricas experiências O programa também realiza um evento
de promoção da igualdade racial e de mais amplo, o “Seminário ELAS Nas Exatas”,
gênero em todos os níveis da educação que reúne especialistas, estudantes e
básica. Além de um valor em dinheiro gestores em educação para dialogarem
para professoras professores (R$ 5.000) sobre a importância da promoção
e para as escolas (R$ 10.000), o prêmio da equidade e do enfrentamento
oferece curso de formação, notebooks das desigualdades e das discriminações
e um acompanhamento de até 12 de gênero como elementos fundamentais
meses para duas escolas contempladas a serem considerados nas políticas
em cada etapa (educação infantil, públicas educacionais.
ensino fundamental e ensino médio).
20 direitos das mulheres
Inclusão da perspectiva
de gênero nas ferramentas
de gestão da organização
Ainda nessa perspectiva de tratar os
direitos das mulheres de modo transversal
às organizações, o investimento social privado
também pode incorporar essa prática de modo
mais estruturante em suas ferramentas de
planejamento, gestão e avaliação. Assim, o foco
em gênero pode ser explicitado em suas teorias
de mudança, planos estratégicos, indicadores
de seleção, acompanhamento e avaliação
de projetos apoiados, e assim por diante.
inspire-se!
Inclusão do princípio Além disso, foi elaborada uma compreensões e assume
de justiça de gênero teoria de mudança específica uma série de compromissos.
na teoria de mudança sobre justiça de gênero, que No mesmo ano, foi
da Laudes Foundation explicita o desafio, estratégia encomendado um relatório
(Instituto C&A) de atuação e resultados de benchmarking para apoiar
almejados em relação a este o desenvolvimento de uma
A Laudes Foundation é uma tema; neste caso, declara-se abordagem abrangente
organização empresarial a intenção de que todo e holística sobre gênero,
vinculada à varejista global o trabalho desenvolvido pela equidade e inclusão.
C&A e que tem como propósito organização esteja orientado A partir disso, vem sendo
transformar a indústria da moda. a: igualdade de gênero implementado um Plano
Tendo em vista a importância na liderança e em processos de Ação de Gênero, Equidade
das mulheres neste setor, decisórios da cadeia de e Inclusão nas operações
o Instituto incorporou o princípio fornecimento da indústria e políticas internas e também
de justiça de gênero à sua teoria da moda; e trabalhadoras nas concessões de apoios
de mudança organizacional, e trabalhadores da indústria da organização. Em 2019,
o que orienta toda a sua atuação: da moda livres de violência foi estabelecida uma Parceria
por exemplo, dentre os princípios- de gênero no local de trabalho. de Aprendizagem sobre
chave declarados na teoria Justiça de Gênero, para que
de mudança como orientadores Para passar a compreender e diferentes equipes dentro
da abordagem proposta abordar gênero, a organização do Instituto fossem capazes de
está o de “promover os direitos passou por uma longa jornada, entender melhor sobre justiça
da mulher é fundamental para a partir da publicação, em de gênero – por meio de
a transformação da indústria”. 2018, da “Declaração sobre workshops com especialistas,
igualdade e inclusão”, visitas a campo com parceiros
na qual explicita algumas e outras atividades.
direitos das mulheres 21
3 Caminhos de
atuação: como
o investimento
social privado
pode contribuir?
B Fortalecimento de lideranças
e organizações de defesa
dos direitos das mulheres
R econhecendo que a mobilização da sociedade civil É muito importante
exerce um importante papel de controle social e que as empresas
que as lideranças, organizações e movimentos sociais comecem a fazer
que a constituem detêm um amplo acúmulo de conhe- fomento a terceiros,
cimento e experiência, as organizações do ISP podem e que apoiem
direcionar sua atuação para fortalecer essas iniciativas organizações
já existentes e consolidadas. Nesse sentido, o ISP pode de mulheres
realizar aportes de diferentes tipos: que trabalhem
com direitos
Apoio das mulheres.
institucional a Porque são elas
organizações que têm aportado
e coletivos conhecimento e
que incidem experiência, ou seja,
no campo o capital imaterial
da promoção delas, por muitos
da equidade anos, a serviço das
de gênero mulheres do Brasil.
Uma primeira forma de contribuir com o papel da Amália Fischer
sociedade civil na defesa e promoção dos direitos – Fundo ELAS
das mulheres é a destinação de recursos (financeiros
e técnicos) para organizações que atuam no tema, visando Saiba mais
sua sustentabilidade e fortalecimento institucional. Veja o vídeo com a fala de
Nesse sentido, é de grande relevância o investimento Amália Fischer, do Fundo ELAS,
em organizações de mulheres que dialogam com sobre a importância do apoio
o poder público, monitoram as políticas públicas a organizações de mulheres.
voltadas à equidade de gênero e incidem e promovem
a agenda relacionada aos direitos das mulheres.
22 direitos das mulheres
inspire-se! inspire-se!
Mulheres em Movimento, Edital Elas Periféricas,
uma grande aliança uma iniciativa da
em defesa dos direitos Fundação Tide Setubal
das mulheres
O edital Elas Periféricas é um projeto da
Fruto de uma parceria entre diferentes Fundação Tide Setubal que tem a intenção
organizações da sociedade civil e de fortalecer iniciativas de mulheres
do ISP – Fundo ELAS, British Council, negras periféricas na cidade de São Paulo,
Open Society Foundations, ONU bem como os territórios periféricos em que
Mulheres, Global Fund for Women, essas iniciativas estão inseridas, por meio
OAK Foundation, Instituto Ibirapitanga, de apoio técnico e financeiro. A partir
Fundação Ford e Women’s Foundation de uma chamada exclusiva de projetos
of Minnesota – o projeto Mulheres que sejam liderados por mulheres
em Movimento: building movements negras – que são os que costumam ter
tem como base estratégias de maior dificuldade de acessar os recursos
fomento e trabalho em rede, buscando –, busca-se potencializar as narrativas
fortalecer institucionalmente grupos periféricas com recorte de gênero
e organizações de mulheres e “LGBT's” e raça e contribuir para o desenvolvimento
que desenvolvam iniciativas com das iniciativas apoiadas.
enfoque na mobilização para defesa
de direitos, formação política, O projeto já está em sua segunda edição
ação feminista coletiva e criação (lançada em 2019, sendo a primeira,
de alianças internacionais, piloto, realizada em 2018). Com gênero,
intergeracionais e intermovimentos. raça e território como temas norteadores,
a chamada é direcionada a coletivos
Por meio de um edital público, são e organizações sem fins lucrativos,
selecionados e apoiados projetos formalizados ou não, que tenham origem
de grupos de mulheres em todo o Brasil. e atuem em territórios periféricos do
Além do apoio financeiro, as iniciativas município de São Paulo, tenham alguma
selecionadas recebem capacitação experiência na execução e implementação
e acompanhamento. Na edição de de projetos e mulheres negras no quadro
2019, foram recebidos 335 projetos de liderança. Após um processo de seleção
de 25 estados e foram selecionados 36 com diversas etapas, são selecionadas
projetos liderados por mulheres negras, até seis organizações para receber até
indígenas, lésbicas, trans, de terreiro, R$ 40 mil e apoio técnico durante um ano.
de favelas e periferias. No total, serão A partir de formações, capacitações para
investidos, direta e indiretamente, mais lideranças e gestoras, mentorias, atuação
de 2 milhões de reais nestes projetos. em rede e contatos com especialistas,
pretende-se que as organizações
Além disso, a iniciativa promove e coletivos fortaleçam sua atuação
encontros internacionais – que reúnem e aprimorem esferas como gestão
lideranças para debater o contexto financeira, mobilização de recursos,
da luta por direitos e traçar estratégias gestão e monitoramento de projetos,
conjuntas para a agenda de movimentos comunicação institucional, planejamento
liderados por mulheres – e estimula estratégico, entre outras.
intercâmbios globais – fomentando
alianças entre grupos e redes do direitos das mulheres 23
Brasil, de outros países da América
Latina e do Reino Unido. O III Diálogo
Mulheres em Movimento – Fortalecendo
Alianças Globais reuniu 110 ativistas
de diferentes países, contando com a
presença de 100 organizações e redes
nacionais e 17 internacionais.
3 Caminhos de B Fortalecimento de
atuação: como lideranças e organizações
o investimento de defesa dos direitos
social privado das mulheres
pode contribuir?
Formação inspire-se!
e suporte a
lideranças Programa de Aceleração do
mulheres Desenvolvimento de Lideranças
Femininas Negras – Marielle
As organizações do ISP Franco, do Fundo Baobá, com
também podem reconhecer apoio do Instituto Ibirapitanga,
e apoiar o desenvolvimento Fundação Ford, Open Society
de mulheres – em especial, Foundation e Kellogg Foundation
negras, indígenas, periféricas
e trans – que sejam O Programa de aceleração do desenvolvimento
referências na produção de lideranças femininas negras: Marielle Franco
de conteúdo, ativismo e é um projeto de investimento na formação
posicionamento político, técnica e política de lideranças femininas negras
financiando diretamente brasileiras e no aprimoramento das capacidades
essas lideranças ou de organizações da sociedade civil, grupos
contribuindo com sua e coletivos liderados por mulheres negras.
formação – por meio de
premiações, capacitações, O investimento se dá por meio de apoio financeiro
intercâmbios, e assim por e institucional para cerca de 20 organizações
diante. Nesse sentido, além da sociedade civil, grupos e coletivos liderados
de formações estratégicas por mulheres negras, além da concessão de bolsas,
relacionadas a controle social formação política, coaching e construção de redes de
ou incidência política, por relacionamento para as 120 beneficiárias individuais.
exemplo, também podem
ser propostas iniciativas Espera-se que, ao final de cinco anos, mulheres
voltadas à garantia da negras que já atuam e assumem papel de liderança
integridade e segurança em diversas áreas possam ter seu desenvolvimento
(física e digital) dessas acelerado, acessar espaços estratégicos de tomada
lideranças – sobretudo, em de decisão, transformar o mundo a partir de suas
contextos de restrição dos experiências e mobilizar mais pessoas para a luta
espaços democráticos. antirracista, por justiça e equidade social e racial.
24 direitos das mulheres A iniciativa contou com três apoiadores iniciais:
Instituto Ibirapitanga, Fundação Ford, Open
Society Foundation. Juntos, eles doaram
US$ 3 milhões. Desse recurso, US$ 2,7 milhões
(mais de R$ 10 milhões) serão aplicados no
apoio às organizações da sociedade civil, grupos
e coletivos liderados por mulheres negras e
também no apoio individual às 120 beneficiárias.
Ao receber essa doação, o Fundo Baobá contou
com um novo aporte da Kellogg Foundation,
no valor de mais de R$ 12 milhões, a serem
empregados em atividades programáticas
relacionadas ao Programa de Aceleração
e a outros projetos, além de também poderem
ser utilizados para alavancagem do próprio Fundo.
Inclusão de mulheres Além da inserção em si (ocupação da
na esfera pública esfera política), é importante criar também
condições para que as mulheres permaneçam
Outro caminho de atuação compreende no poder e tenham êxito nessa empreitada,
iniciativas voltadas a fortalecer a presença inclusive, enfrentando situações de violência
e o papel das mulheres em espaços de poder, política de gênero – estratégia que visa
o que contribui no sentido de ampliação da desestimular a candidatura de mulheres
representatividade e de desenho de políticas a cargos públicos e criar obstáculos
e programas a partir das perspectivas e aos mandatos já ocupados por elas.
necessidades das mulheres. Além da participação
política de mulheres como um todo, é Nesse sentido, as possibilidades de iniciativas
fundamental entender a diversidade existente podem envolver, dentre muitas outras:
dentre as mulheres e, assim, considerar
a representatividade de mulheres negras, desenvolvimento de ferramentas
indígenas, periféricas, LBTs, e assim por diante.
e canais digitais para disseminação de
projetos e conteúdos produzidos por mulheres;
desenvolvimento de capacitações e
metodologias voltadas à formação política
para mulheres, no sentido de contribuir
com sua capacidade de comunicação
e posicionamento público;
fomento a fóruns e coletivos relacionados
aos direitos das mulheres – inclusive, criando
condições objetivas para que possam,
sobretudo as mães, participar
deles (como espaços de cuidado
para crianças, por exemplo);
e advocacy voltado à criação
de políticas afirmativas de equidade
de gênero nas esferas pública e privada.
direitos das mulheres 25
3 Caminhos de B Fortalecimento de
atuação: como lideranças e organizações
o investimento de defesa dos direitos
social privado das mulheres
pode contribuir?
Algumas pessoas inspire-se!
me perguntam: ‘Por
Linha de atuação
que usar a palavra de Liderança e Participação
feminista? Por que Política da ONU Mulheres
não dizer que você
acredita nos direitos Baseada na perspectiva da democracia paritária –
um regime democrático justo e inclusivo que permite
humanos, ou algo às mulheres liderar e participar de forma substantiva
parecido?’ Porque e igualitária da tomada de decisão, junto com os
homens, para contribuir com a agenda pública com
seria desonesto. perspectiva de gênero – a ONU Mulheres desenvolve
O feminismo faz, uma série de iniciativas voltadas a fomentar
obviamente, parte a liderança e participação política das mulheres
dos direitos humanos em espaços de poder, formais e não formais,
de uma forma geral garantindo a sua diversidade e o fortalecimento
- mas escolher uma dos movimentos de mulheres e feministas.
expressão vaga como
‘direitos humanos’ é Dentre os vários projetos que fazem parte deste
negar a especificidade trabalho, pode ser destacado o apoio da organização
e particularidade à Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo
e a Violência e pelo Bem Viver e à articulação política
do problema de das mulheres negras contra o racismo, o sexismo
gênero. Por séculos, e de todas as formas de discriminação. Esse apoio
é direcionado à consolidação da presença em fóruns
os seres humanos internacionais, ao fortalecimento da representação
eram divididos em em redes e articulações regionais, à produção
de conhecimento, estudos e debates sobre
dois grupos, um feminismos negros e à plataforma política da
dos quais excluía e Rede de Mulheres Negras na América Latina e Caribe.
oprimia o outro. É no
mínimo justo que a Nessa mesma linha, a ONU Mulheres apoia
solução para esse a articulação política de trabalhadoras rurais,
problema esteja no do campo, da floresta e das águas pelo
desenvolvimento sustentável, valorização
reconhecimento da agricultura familiar, soberania alimentar,
desse fato. relações de trabalho justas e empoderamento
das mulheres – sendo a Marcha das
Chimamanda Ngozi Adichie Margaridas uma das ações fomentadas.
– No livro “Sejamos todos
feministas” Ainda com intenção de formação política, o Jovens
Mulheres Líderes: Programa de Fortalecimento
26 direitos das mulheres em Questões de Gênero e Juventude, realizado
em parceria com a Secretaria Nacional de Juventude,
oferece mentoria política, troca de informações
e de perspectivas entre as quinze jovens, de 18 a
29 anos, com experiência em liderança comunitária
e ativismo pelos direitos das mulheres, que foram
selecionadas por meio de um edital público.
3 Caminhos de
atuação: como
o investimento
social privado
pode contribuir?
C Enfrentamento
às violências contra
as mulheres
A ssegurar os direitos das mulheres implica, neces- Campanhas
sariamente, no combate às situações de violência e educativas
iniciativas privadas podem ter um papel importante na
construção de oportunidades para a prevenção e enfren- Considerando que a violência
tamento deste problema complexo. relacionada a gênero tem
como base fundamental
Lidar com a violência relacionada a questões de gênero pas- compreensões culturais
sa pela conquista da autonomia (pessoal e econômica) das machistas sobre o lugar
mulheres. Nesse sentido, o trabalho ocupa um lugar impor- das mulheres na sociedade,
tante de gerar renda para mulheres vítimas de violência. a prevenção dessas situações
pode envolver iniciativas
É importante considerar que esse tema envolve dinâmicas educativas diversas –desde
complexas e interrelacionadas, de modo que é possível atuar o trabalho com crianças
de diferentes maneiras e em momentos distintos do ciclo de (de ambos os sexos) em
enfrentamento à violência: de modo mais centrado na pre- organizações de educação
venção dessas situações, as iniciativas podem estar mais formal e não-formal até
voltadas ao trabalho educativo e à promoção da autonomia; a sensibilização de adultos
já as ações para lidar com situações de violência já ocorridas em empresas e comércio
envolvem aspectos relacionados ao acesso à justiça, acolhi- (o que pode ser feito, inclusive,
mento, punição dos agressores, acolhimento das vítimas com as próprias redes de
(sobretudo, no caso de mulheres em situações de vulnerabi- funcionárias e funcionários,
lidade), e assim por diante. Nesse espectro, diversas possibi- clientes e fornecedores
lidades de atuação se abrem às organizações do ISP: das organizações do ISP).
É possível desenvolver ações
Saiba mais de comunicação e formação
para serem veiculadas
Veja o vídeo com a fala de Jacira Melo, na grande mídia (televisão
do Instituto Patrícia Galvão, sobre o papel do ISP e rádio), redes sociais, jogos,
no enfrentamento à violência contra as mulheres. aplicativos, flashmobs,
e assim por diante.
direitos das mulheres 27
3 Caminhos de C Enfrentamento
atuação: como às violências contra
o investimento as mulheres
social privado
pode contribuir?
inspire-se! Instrumentalização
dos operadores de
INSPIRE-SE!: políticas públicas
Campanha “Você
Não Está Sozinha”, A qualidade no atendimento de mulheres
do Instituto Avon vítimas de violência passa pelo preparo
e sensibilidade dos profissionais
Desenvolvida pelo HUB AVON responsáveis pelos serviços de
(Wunderman Thompsom, identificação, atendimento, acolhimento
Mutato e I-Cherry), com forte e encaminhamento das vítimas e de
protagonismo do Instituto denúncia, punição e acompanhamento
Avon, a campanha Você dos agressores. Nesse sentido, as
Não Está Sozinha traz um organizações do ISP podem apoiar a
conjunto de sete histórias qualificação dos serviços da área de
inspiradas em casos reais saúde, educação, assistência social,
de violência doméstica delegacias da mulher, órgãos do
sob a perspectiva da única Sistema de Justiça etc., por exemplo,
testemunha presente: por meio de estratégias de formação
um objeto da casa onde de seus profissionais, de revisão dos
elas aconteceram. As protocolos e fluxos de atendimento, ou
histórias foram pautadas do monitoramento e controle social da
nos cinco tipos de violências implementação das políticas públicas.
caracterizadas pela Lei
Maria da Penha: física,
sexual, psicológica,
moral e patrimonial.
O projeto busca ampliar
o debate sobre o
enfrentamento à violência
contra mulheres e
meninas, além de mostrar
a importância de apoiar
as mulheres a fazerem
denúncia. O objetivo
é reforçar que a mulher
não está sozinha e destacar
o Instituto Avon e seus
parceiros como uma rede
de apoio às vítimas.
A campanha foi ganhadora
de cinco prêmios em 2019,
dentre os quais um Leão
de Cannes de bronze, dois
prêmios no Clio Awards
e uma Estrela Verde
do Clube dos Criativos.
28 direitos das mulheres
inspire-se!
Workshop de Acesso à Justiça e integração do suporte às vítimas de violência.
do Programa Respostas Eficazes Um de seus pilares é o Workshop de Acesso
às Violências contra Mulheres à Justiça, que entre 2015 e 2019, passou
e Meninas, do Instituto Avon por 10 edições, envolvendo mais de 500 líderes
estratégicos da rede de proteção às mulheres em
Em 2010, a Vital Voices, em parceria com situação de violência – agentes públicos, policiais,
a Avon Foundation, desenvolveu uma metodologia membros do Ministério Público e das Defensorias
para enfrentar a violência contra as mulheres e Públicas, magistradas e magistrados federais
meninas no mundo, consolidada em um programa e estaduais, psicólogas e psicólogos, assistentes
multidisciplinar que conecta especialistas sociais e representantes de organizações da
de muitas partes do mundo que se dedicam sociedade civil, bem como de órgãos governamentais
a erradicar a violência contra as mulheres. que atuam na defesa das mulheres. O treinamento
– que já passou pelos estados de São Paulo, Goiás,
Com base nos aprendizados e sucessos dessa Pará, Paraíba, Roraima, Ceará e Bahia, além
experiência, o Instituto Avon criou o Programa do Distrito Federal – ensina as e os participantes
Respostas Eficazes a Violência contra Mulheres como identificar, investigar e processar casos
e Meninas, que tem como objetivo ampliar a eficácia de violência contra as mulheres, além de porque
é importante fazê-lo colaborativamente.
inspire-se!
“Trabalho sem Assédio Sexual”, de formalização da denúncia, oferecendo
uma iniciativa do Governo do acolhimento e segurança para que as
Estado de São Paulo, com apoio notificações possam acontecer. A partir da
do Instituto Avon e Vetor Brasil denúncia, a conduta do agente público deve ser
apurada e, quando comprovado o assédio sexual,
A Corregedoria Geral da Administração é um o agressor é responsabilizado.
órgão subordinado à Secretaria de Estado de
Governo que tem como função proteger as quase Para garantir que este fluxo fosse efetivo e que
600 mil pessoas (das quais 340 mil são mulheres) as denúncias de fato se concretizassem, o Instituto
que atuam na administração direta e indireta Avon e a Vetor Brasil apoiaram a Corregedoria
vinculada ao Governo do Estado de São Paulo. na reestruturação da política interna voltada
ao tema do assédio, revendo fluxos e processos
Dentre as principais dificuldades identificadas e buscando acelerar as denúncias. A iniciativa se
para enfrentar o assédio sexual entre os concretizou na campanha “Trabalho Sem Assédio
servidores públicos está a subnotificação Sexual” – que integra as ações do “Fórum Fale
dos casos, vinculada à dificuldade das vítimas Sem Medo”, do Instituto Avon –, que também prevê
em romperem com o silêncio e pedirem ajuda. a abertura dos canais da Corregedoria para que as
Neste tema, a Corregedoria tem o papel de servidoras possam denunciar situações de assédio
ajudar as vítimas a superarem essa barreira com segurança, ações de comunicação impressa
e virtual, formação dos profissionais e da equipe.
direitos das mulheres 29
3 Caminhos de C Enfrentamento
atuação: como às violências contra
o investimento as mulheres
social privado
pode contribuir?
Desenvolvimento de inspire-se!
soluções inovadoras
voltadas à segurança Mapa do
das mulheres Acolhimento,
uma plataforma
Em articulação com empresas e outros atores no campo de suporte a
da tecnologia e inovação, as organizações do ISP podem mulheres vítimas
fomentar iniciativas inovadoras que contribuam para de violência
antecipar e solucionar problemas relacionados a assédio
moral e sexual, violência doméstica e feminicídio. O Mapa do Acolhimento
Soluções que utilizem inteligência artificial, análise é uma plataforma que
de comportamento em redes sociais ou aplicativos conecta mulheres que
para notificação e encaminhamento de denúncias e apoio sofreram violência de
às vítimas de violência são alguns exemplos de iniciativas gênero a uma rede de
que podem ser empreendidas com apoio do ISP – setor terapeutas e advogadas
que tem grande potencial de direcionar recursos, dispostas a ajudá-las
mais flexíveis, à inovação no campo do impacto social. de forma voluntária.
A operação do projeto é
inspire-se! centrada em uma rede de
solidariedade com escala
Aplicativo “Juntas” nacional, organizando
de proteção e de empoderamento profissionais habilitadas
para mulheres, do Geledés a prover apoio psicológico
e jurídico a mulheres
Desenvolvido pelo Geledés Instituto da Mulher Negra, em situação de risco.
o “Juntas” é um aplicativo que possibilita criar uma
rede de proteção e de empoderamento para mulheres, Em operação desde 2016,
ao conectar potenciais vítimas a pessoas de sua o Mapa já cadastrou mais
confiança que podem ser acionadas em situações de de 4.500 voluntárias em
perigo – as usuárias podem cadastrar previamente essas todas as regiões do país,
pessoas que, quando necessário, recebem um sinal alerta estando presente em cerca
no celular, com uma mensagem com um pedido de socorro de 800 cidades. Neste
e a exata localização da vítima. Também é possível período, mais de 3.000
escolher as pessoas as quais se quer dar proteção. mulheres foram acolhidas.
Além do "match" entre
A versão inicial do aplicativo (PLP 2.0), voltada a interligar voluntárias e mulheres,
a mulher em situação de violência (com medida protetiva) o projeto faz mapeamento
com os órgãos de Segurança Pública e Polícia Militar, contínuo da rede pública
foi desenvolvida pelo Geledés, em parceria com a de acolhimento em
organização Themis Gênero e Justiça, a partir de um edital todo país, identificando
lançado pelo Google: o projeto foi o vencedor do concurso e disponibilizando
“Desafio de Impacto Social Google”, que premiou informação sobre CRAS,
iniciativas de organizações não governamentais nas quais CREAS, delegacias,
a tecnologia é utilizada para melhorar a vida das pessoas. hospitais e CRMs
de todos os estados,
tanto publicamente via site
quanto nos atendimentos
para os quais não há
voluntárias próximas.
30 direitos das mulheres
Financiamento inspire-se!
de equipamentos
públicos voltados Casa da Mulher
ao cuidado de Brasileira,
mulheres vítimas um equipamento
de violência público apoiado
pelo Instituto Avon
As organizações do ISP também podem aportar
recursos diretamente à criação e qualificação A Prefeitura de São Paulo
de espaços públicos ou privados, de base inaugurou, em novembro de 2019,
comunitária, direcionados ao acolhimento as instalações da Casa da Mulher
e cuidado das mulheres em situação de violência. Brasileira. O espaço concentra no
No caso de serviços públicos de acolhimento, mesmo local os principais serviços
por exemplo, o ISP pode apoiar a disponibilização especializados e multidisciplinares
de materiais, equipamentos e atividades de atendimento à mulher vítima
complementares que qualifiquem o atendimento de violência, funciona 24 horas
realizado. Além disso, é possível fomentar por dia e presta serviços integrais
a criação de espaços alternativos de autocuidado e humanizados para mulheres
para mulheres, sobretudo nas periferias, de modo e crianças em situação de violência.
a democratizar o acesso a serviços que promovam
sua sociabilidade e sua saúde mental (como A Casa da Mulher Brasileira faz
meditação, terapias convencionais e alternativas, parte de um dos eixos do programa
atividades corporais, e assim por diante). “Mulher Viver sem Violência”,
coordenado pela Secretaria Nacional
Produção de de Políticas para as Mulheres
dados abertos do Ministério da Mulher, Família
sobre violência e Direitos Humanos, e, desde março
contra a mulher de 2018, está sob a responsabilidade
da Secretaria Municipal
Contribuir com produção e disponibilização de Direitos Humanos e Cidadania
de dados agregados ou parametrizados sobre da Prefeitura de São Paulo.
violência contra a mulher é uma estratégia
fundamental para se avançar no desenho, Além de treinamento a diversos
implementação e monitoramento de políticas para profissionais das equipes
mulheres em situação de risco – considerando- de atendimento, na etapa final
se que, atualmente, os dados são restritos e das obras, o Instituto Avon
precariamente coletados. Assim, organizações estabeleceu uma parceria para
do ISP podem, em parceria com universidades, equipar os espaços de atendimento
centros de pesquisa ou poder público, psicossocial, de forma a garantir
desenvolver pesquisas, sistemas de análise um atendimento ainda mais
e processamento de dados, ferramentas de humanizado e acolhedor.
disponibilização dos dados, e assim por diante. Dentre o conjunto de contribuições,
a brinquedoteca, por exemplo,
foi desenhada e projetada
por educadoras especializadas
no atendimento e cuidado de
crianças e adolescentes (incluindo
a disponibilização de livros em três
línguas e brinquedos pedagógicos
e educativos); já as salas
de atendimento e recepção
das mulheres foram adesivadas,
cada uma delas com mensagens
e cores que tinham o intuito de
apoiar as mulheres nas diferentes
fases do seu processo.
direitos das mulheres 31
3 Caminhos de
atuação: como
o investimento
social privado
pode contribuir?
D Equidade de gênero
no mercado de trabalho
C omo destacado nos desafios sobre as relações As mulheres
desiguais de gênero no mundo do trabalho, do mundo ainda
as mulheres lidam com grandes discrepâncias sofrem violência,
salariais e dificuldades de ascensão e ocupação dos são sobrecarregadas
espaços de poder e decisão – quando comparadas de trabalho e ganham
com os homens –, situações que são acentuadas no um salário menor.
caso daquelas que se tornam mães e de mulheres Percorremos um
pobres, negras, migrantes e refugiadas. longo caminho na
conscientização
Muitas vezes, o empreendedorismo se apresen- e fizemos muitos
ta como uma alternativa para mulheres peri- progressos, mas
féricas ou de classe média, sobretudo as mães. esse é só o começo.
Se, por um lado, esta é uma saída para se gerar
renda e autonomia financeira para mulheres Gloria Steinem, jornalista,
empreendedoras, por outro, há o dilema de que em entrevista à revista
por esta via a exclusão das mulheres do merca- Forbes (2011)
do formal de trabalho acaba sendo ainda mais
reforçada. Além disso, a opção de empreender o
próprio negócio – que muitas vezes é apresen-
tada como uma escolha, enquanto, para as mu-
lheres mais vulneráveis, é um caminho força-
do pela necessidade e pela falta de alternativas
– também envolve uma série de dificuldades,
incluindo o acesso a capital e a conhecimentos
para gestão do negócio.
Em um cenário de grande desemprego, a vulne-
rabilidade econômica de mulheres leva muitas
delas a atuarem no mercado informal de traba-
lho, caracterizado pela falta de regulação, o que
pode submetê-las a outros níveis de violações,
de diferentes tipos – salariais, ausência de se-
guridade social, jornadas exaustivas e condi-
ções inadequadas e insalubres de trabalho.
Guardando relação com o debate anterior, o empo-
deramento econômico de mulheres tende a fortale-
cer sua autonomia e se constitui como pilar funda-
mental para a superação de situações de violência.
32 direitos das mulheres
Além disso, alguns estudos já mostram que Princípios de
o empoderamento econômico das mulheres Empoderamento
gera retornos financeiros diretos para as cor- das Mulheres
porações e para a sociedade como um todo: de (ONU Mulheres
acordo com o Instituto Global McKinsey, se as e Pacto Global)
mulheres desempenhassem o mesmo papel dos
homens no mercado, quase US$ 28 trilhões po- 1. Estabelecer liderança
deriam ser adicionado ao PIB global até 2025 corporativa sensível
(ONU Mulheres, 2019). Outra pesquisa, reali- à igualdade de gênero,
zada pela consultoria McKinsey and Co. com no mais alto nível.
mais de mil empresas em 12 países, mostra 2. Tratar todas as
que as empresas com times de executivos com mulheres e homens de
maior variedade de perfis são mais lucrativas: forma justa no trabalho,
no caso das empresas com maior diversidade respeitando e apoiando
de gênero, há 21% mais chances de se obter re- os direitos humanos
sultados acima da média do mercado do que e a não-discriminação.
as empresas com menor diversidade do grupo; 3. Garantir a saúde,
esta probabilidade sobe para 33% nos caso de segurança e bem-estar
empresas com maior diversidade cultural e ét- de todas as mulheres
nica (Hunt; Yee; Prince; Dixon-Fyle, 2018). e homens que
trabalham na empresa.
Por outro lado, para além da dimensão econô- 4. Promover educação,
mica, a inserção e permanência da mulher com capacitação e
o mundo do trabalho evoca uma série de outras desenvolvimento
questões que influenciam essa relação. Nesse profissional
sentido, é fundamental considerar e buscar es- para as mulheres.
tratégias para enfrentar os desafios persisten- 5. Apoiar
tes que mulheres enfrentam no mercado de tra- empreendedorismo
balho, como as discriminações e assédio moral de mulheres
e sexual de diferentes tipos, que incluem desde e promover políticas
microagressões até violações mais graves. de empoderamento
delas através das
Como é possível perceber, o debate sobre cadeias de suprimentos
as questões de gênero no campo do e marketing.
trabalho é complexo e envolve uma série 6. Promover a igualdade
de desdobramentos. Como consequência, de gênero através
também são inúmeras as possibilidades de de iniciativas voltadas
atuação do ISP nesta área, dentre as quais à comunidade
algumas são destacadas a seguir. e ao ativismo social.
7. Medir, documentar
e publicar os progressos
da empresa na promoção
da igualdade de gênero.
direitos das mulheres 33
3 Caminhos de D Equidade de gênero
atuação: como no mercado de trabalho
o investimento
social privado
pode contribuir?
Inclusão das
mulheres no mercado
de trabalho
A simples entrada no mercado de iniciativas voltadas a: formação;
trabalho pode ser um grande desafio criação de programas de contratação
para muitas mulheres, em especial voltados à seleção de perfis
no caso de grupos mais vulneráveis específicos (por exemplo, de grupos
(como negras, indígenas, migrantes e minoritários ou mulheres em situação
refugiadas). Apoiar o desenvolvimento de violência); orientação profissional;
de capacidades e instrumentalizar desenvolvimento de ferramentas
essas mulheres para que elas tenham e parcerias que articulem demanda
condições de acessar e conseguir e oferta de trabalho; ou, ainda,
se inserir no mercado é uma linha concessão de bolsas no período de
de atuação muito relevante e que capacitação e preparo até a obtenção
pode incluir, dentre muitas outras, de um trabalho.
inspire-se!
Projeto brasileiro, além do engajamento Já foram concluídas
Empoderando de empresas e organizações três edições do projeto
Refugiadas, para priorizarem a contratação em São Paulo, pelas quais
do Pacto Global, de refugiadas e migrantes. foram atendidas cerca de
ACNUR e ONU Mulheres 110 mulheres, com outras
O projeto oferece, às mulheres 50 participantes da quarta
Fruto da iniciativa conjunta participantes, workshops edição, em andamento.
de Rede Brasil do Pacto Global, e mentorias individuais Em 2019, também foi criada
Agência da ONU para Refugiados que funcionam como uma nova turma em um
(ACNUR) e ONU Mulheres, o um espaço para que tirem projeto-piloto em Roraima
projeto Empoderando Refugiadas dúvidas pessoais e recebam (que recebe um grande
é voltado à empregabilidade orientações direcionadas fluxo de venezuelanas
de mulheres em situação com profissionais e venezuelanos buscando
de refúgio. O foco da iniciativa do mercado de trabalho. refúgio), formada por
está na capacitação profissional, Ao final do ciclo de encontros, 30 mulheres, que receberam
integração cultural e facilitação as participantes são um treinamento intensivo
do acesso ao mercado de trabalho certificadas e encaminhadas a de um mês em técnicas
dinâmicas de contratação com de empregabilidade
representantes de empresas. e cultura brasileira.
34 direitos das mulheres
Mudanças nas políticas Criação de protocolos e políticas
e práticas relacionadas
institucionais: Implementar mudanças
a questões de gênero internas no próprio instituto ou fundação
dentro das empresas ou influenciar implementação de novas
práticas na empresa à qual se vincula
Uma vez que as mulheres, em especial as e em suas cadeias produtivas (no caso de
mais vulneráveis, conseguem se inserir no organizações empresariais do ISP), tais como:
licença-maternidade e paternidade estendidas;
mercado de trabalho, muitas vezes a sua implantação de creches corporativas;
permanência, bem-estar e ascensão atendimento pré e pós-natal para
colaboradores; jornadas de trabalho flexíveis;
profissional são influenciados por práticas estabelecimento de metas de gênero
discriminatórias e até violentas. Assim, (de percentual de lideranças femininas
qualificar o ambiente e as relações de ou equiparação salarial, por exemplo) e planos
trabalho, fomentando o olhar atento às para implementá-las em um horizonte temporal
definido; capacitações ou campanhas
questões de gênero dentro das instituições, sobre redução de vieses; criação de canal de
é um campo de atuação fundamental. denúncia e acolhimento para casos de assédio
Nesse sentido, as organizações do ISP e violência; e assim por diante. (Veja mais sobre
mudanças dentro das próprias organizações
podem contribuir de maneiras distintas: do ISP no box: “Iniciativas voltadas à equidade
de gênero nas práticas institucionais
das organizações do ISP”).
Divulgação de boas práticas de
empresas em equidade de gênero:
As organizações do ISP também podem
contribuir para mudanças em relação às
questões de gênero no campo corporativo
de modo mais abrangente, fomentando
que outras empresas adotem políticas
voltadas a isso. Para tanto, o próprio exemplo
de empresas que já o fazem pode ter um
importante papel de inspirar e incentivar
outras organizações: é possível realizar
eventos tratando do tema, lançar
plataformas ou publicações com boas
práticas, criar coalizões ou articulações
empresariais voltadas à troca de
experiências, desafios e soluções
a essas questões, e assim por diante.
direitos das mulheres 35
3 Caminhos de D Equidade de gênero
atuação: como no mercado de trabalho
o investimento
social privado
pode contribuir?
inspire-se! inspire-se!
Política de igualdade de Coalizão empresarial
gênero da Natura pelo fim das violências
contra mulheres
Dentro de sua política de igualdade de e meninas
gênero, a Natura declara como uma de
suas prioridades a promoção de lideranças Em um contexto de ampliação da
femininas da empresa, no Brasil e no percepção das empresas sobre
mundo. Dessa forma, a empresa vem sua responsabilidade no fim da
orientando os processos de preenchimento violência contra as mulheres –
de cargos (recrutamento e seleção) e compreendendo que ela perpetua
as oportunidades de desenvolvimento a disparidade entre os gêneros
profissional em todos os setores para que e afeta a produtividade das
os objetivos de estabelecer uma liderança colaboradoras, traduzindo-se
corporativa de alto nível para a igualdade na perda de qualidade de vida e
de gênero e de promover um ambiente também em prejuízos financeiros
com igualdade de oportunidades, inclusivo –, a Coalizão Empresarial pelo Fim
e não discriminatório sejam reforçados da Violência Contra Mulheres e
sistematicamente. Em 2014, a Natura Meninas foi criada com a intenção
assinou um compromisso público de de criar ambientes de trabalho
alcançar, até 2020, 50% de mulheres seguros para todas as mulheres.
nos cargos de liderança. Coordenada pela Avon, Instituto
Avon e ONU Mulheres, com o
Outra iniciativa interessante da empresa é apoio técnico da Fundação Dom
a adoção da licença-paternidade de 40 dias, Cabral, a iniciativa reúne mais
que busca contribuir com a equidade de de 100 empresas em um esforço
gênero, empoderando pais e minimizanado colaborativo de mobilização para
as dificuldades da mulher e do bebê no construir práticas que coíbam o
puerpério. Além da licença em si, os pais assédio sexual e moral no ambiente
também são convidados a participar de trabalho e que eduquem
do curso para gestantes que também é colaboradores para o fim de todas as
oferecido para as colaboradoras e esposas formas de violência.
dos colaboradores, e do Programa de
Atendimento Pessoal. Uma ação dessa Coalizão que pode
ser destacada é a campanha “Entre
sem Bater! Violência contra mulher
é da nossa conta”, que busca
engajar as empresas signatárias
na urgência do tema da violência
contra a mulher, aumentando a
conscientização, conhecimento e
informação para que colaboradores
saibam reconhecer e o que fazer
diante das violências sofridas por
mulheres e meninas. A iniciativa teve
a adesão de mais de 50 empresas,
com impacto direto em mais de 600
mil colaboradores.
36 direitos das mulheres
inspire-se! inspire-se!
Criação de um canal Movimento
de enfrentamento Mulher 360
à violência no
Magazine Luiza Alinhado com os Princípios de Empoderamento
da ONU Mulheres, o Movimento Mulher 360
Provocada por um caso propõe uma visão 360 graus do empoderamento
de feminicídio com uma econômico da mulher. A iniciativa foi criada em
colaboradora de uma loja, 2011 pelo Walmart e, em 2015, ganhou força
a empresa Magazine Luiza e se tornou uma associação independente
resolveu criar um disque sem fins lucrativos tocada por doze empresas
denúncia para funcionárias – Bombril, Cargill, Coca-Cola, DelRio,
que estejam em situação de Diageo, Johnson&Johnson, Natura, Nestlé,
violência doméstica e familiar. PepsiCo, Santander, Unilever e Walmart.
Assim, as mais de 11 mil
colaboradoras passaram Sua atuação se dá por meio do fomento, da
a ter acesso ao Canal sistematização e da difusão de avanços nas
da Mulher, um sistema de políticas e nas práticas empresariais e do
denúncia voltado ao apoio engajamento da comunidade empresarial
e acolhimento interno de brasileira e da sociedade em geral. Além
mulheres que estejam em de diálogos entre associados, café com CEOs,
situações como essas. assessorias entre pares, divulgação
de conteúdos, realização de eventos,
Além disso, foi criada uma o projeto desenvolveu um banco de boas
campanha (lojas físicas e no práticas empresariais e publicações a respeito
site) voltada ao enfrentamento do tema e dos aprendizados adquiridos.
da violência contra a mulher.
Com a venda de uma colher Dessa forma, espera-se engajar as
especial com os dizeres empresas em ações concretas com seu
“Em briga de marido e mulher, público interno e, gradualmente, expandir
tem que meter a colher, sim. essa atuação para mulheres nas
Ligue 180 e denuncie” comunidades e cadeia de suprimentos,
– no valor de R$ 1,80, (em até que possa contribuir com mudanças
referência ao Ligue 180). Com na sociedade de uma forma mais ampla.
a Central de Atendimento à
Mulher, além de sensibilizar os direitos das mulheres 37
consumidores e funcionários
para o tema, a empresa também
reverte o dinheiro arrecadado
com a venda para duas
organizações que atuam na
área: o Instituto Patrícia Galvão
e a rede colaborativa
Mete a Colher (que funciona por
meio de um aplicativo mobile
que conecta mulheres vítimas
de violência com outras
que podem oferecer apoio).
Iniciativas voltadas à equidade de gênero nas
práticas institucionais das organizações do ISP
A lém da inclusão do tema de atuarem com a causa. Dessa forma,
equidade de gênero em suas ter ações afirmativas para garantir
linhas de atuação e eixos igualdade de acesso e ascensão
programáticos, as organizações do ISP de mulheres nas próprias equipes
também podem atuar no sentido de dessas organizações, em diferentes
rever suas relações e práticas internas. níveis hierárquicos, é importante
Essa reflexão parece ser fundamental, do ponto de vista ético e político,
inclusive, no sentido de fortalecer a mas também para qualificar sua
capacidade, coerência e legitimidade atuação no tema. Para tal, algumas
dos institutos e fundações para iniciativas podem ser adotadas:
Realizar um diagnóstico interno: um Rever valores, políticas e
passo importante é compreender como a práticas institucionais: finalmente,
desigualdade de gênero se manifesta na é fundamental realizar mudanças
organização. Para isso, é possível realizar concretas no sentido de implementar
rodas de conversa e entrevistas com a políticas institucionais voltadas ao
equipe, aplicar ferramentas já existentes cotidiano organizacional – por exemplo,
(como indicadores, guias, questionários voltadas à inclusão de mulheres
etc.) ou, ainda, contar com a assessoria em cargos de liderança, equiparação
de consultoras e consultores ou salarial entre homens e mulheres para
organizações especializadas no tema mesmo cargo, políticas antiassédio,
para conduzirem esse processo. jornadas de trabalho flexíveis, e
assim por diante. Movimentos como
Sensibilizar os grupos gestores: esses tendem a envolver desafios
para que as mudanças necessárias e gerar resistências das equipes
sejam efetivadas, é fundamental haver e grupos gestores. Portanto,
apoio e envolvimento das lideranças da contar com orientação especializada
organização. Assim, é possível realizar pode contribuir com esse processo.
apresentação de resultados de estudos,
capacitações, benchmarking com outras Revisão dos mecanismos
instituições que tenham desenvolvido institucionais: repensar os dispositivos
iniciativas interessantes no tema, internos (manuais, vocabulário, espaços
oficinas ou workshops, etc. de convivência, cadeia de fornecedores
etc.) para aumentar a retenção
Disponibilização interna de de profissionais mulheres.
informação: também é importante
envolver a equipe mais ampliada, Definir indicadores para olhar esse
preparando-a e a implicando no tema periodicamente: além de um
processo de compreensão dos movimento inicial de implementação
mecanismos internos que perpetuam de mudanças organizacionais,
práticas de desigualdade de gênero é importante que os institutos e
na organização e na busca por soluções fundações se mantenham atentos
para isso. Com isso, amplia-se o sentido às questões de gênero e acompanhem
político e a adesão institucional o desenvolvimento e efeitos
às iniciativas propostas. das iniciativas propostas.
38 direitos das mulheres
3 Caminhos de D Equidade de gênero
atuação: como no mercado de trabalho
o investimento
social privado
pode contribuir?
Fomento ao Qualificar a situação e ampliar a chance
empreendedorismo de sucesso de empreendimentos
individuais ou grupos produtivos
de mulheres formados por mulheres também
pode ser uma possibilidade de atuação
de organizações do ISP, interessadas
em diversificar as alternativas de
autonomia financeira de mulheres,
com a preocupação de garantir a elas
condições dignas e sustentáveis
de trabalho. Nessa linha, podem ser
desenvolvidas capacitações, mentorias
e assessorias técnicas para as mulheres
empreendedoras, em especial com foco
em gestão (de pessoas, financeira,
contábil) e na estratégia do negócio
(comunicação, vendas, desenvolvimento
de produtos, etc.). Outras iniciativas
interessantes podem estar voltadas
à dimensão humana, ao acolhimento
emocional e à ampliação do capital social
dessas mulheres, por exemplo, por meio
da criação de redes de apoio ou outros
espaços para troca de experiências e
ampliação das redes de relacionamento
(como hubs, laboratórios etc.).
direitos das mulheres 39
3 Caminhos de D Equidade de gênero
atuação: como no mercado de trabalho
o investimento
social privado
pode contribuir?
inspire-se! inspire-se!
Iniciativa de gestão Entusiasta, uma
de empreendimentos escola de negócios
populares do para mulheres
Consulado da Mulher artesãs da Rede
Asta, com apoio da
Voltado ao empreendedorismo feminino, Fundação Volkswagen
o Instituto Consulado da Mulher é uma
organização fruto de uma ação social A Rede Asta é um negócio social
da marca Consul, que atua com foco fundado em 2005 voltado para o
na capacitação e acompanhamento de fomento ao empreendedorismo
“nano” empreendedoras, mulheres que, de artesãs, com foco na criação
em sua maioria, não tiveram oportunidade e desenvolvimento de soluções
de terminar os estudos e que vivem sustentáveis e criativas de
em locais socialmente vulneráveis. reaproveitamento de resíduos.
Com a intenção de fortalecer a confiança Em 2016, o projeto “Costurando
dessas mulheres, para que elas se sintam o Futuro” foi criado a partir de
capazes de empreender ou de ampliar uma parceria com a Fundação
seus negócios e gerar renda, Volkswagen, com a intenção
a organização utiliza uma metodologia de reaproveitar as sobras
de gestão de empreendimentos de uniformes, dos cintos de
populares, desenvolvida pelas próprias segurança e de tecido automotivo
empreendedoras assessoradas, junto usados pela Volkswagen, criando
a equipe do Consulado da Mulher e um portfólio de presentes
alunos da empresa júnior pública da corporativos que pudessem ser
Fundação Getúlio Vargas. O processo revendidos e gerando renda para as
de assessoria inclui apoio na criação e costureiras atendidas pelo projeto.
elaboração de plano de negócios, oficinas
e treinamentos sobre áreas específicas Diante do acúmulo de
para o negócio (como formação de preços, conhecimentos da Rede Asta
público alvo, controles financeiros, a partir do investimento em
etc.), um investimento (que consiste na vendas de produtos artesanais
doação de eletrodomésticos da Consul brasileiros, foi criada a Entusiasta,
e de recursos pontuais para melhoria uma Escola de Negócios voltada
do negócio) e acompanhamento das a mulheres artesãs, com a
mulheres empreendedoras (visitas aos intenção de contribuir com
empreendimentos para planejamento a sua organização e habilidade
de ações e análise de resultados). comercial – formalização
de seus negócios, articulação em
rede entre elas, gerenciamento,
comunicação e vendas. O início
desse novo projeto contou
o apoio da Fundação Volkswagen,
que fomentou a formação
da rede de empreendedoras
para 17 grupos produtivos.
40 direitos das mulheres
3 Caminhos de
atuação: como
o investimento
social privado
pode contribuir?
E Sensibilização da
sociedade e mudança cultural
para a equidade de gênero
U m campo de atuação transversal a todos os outros inclui
iniciativas que busquem dar visibilidade aos padrões
de exclusão que atingem as mulheres. Considerando que,
em nossa sociedade, as desigualdades de gênero são estru-
turantes, suas manifestações nas formas como nos organi-
zamos e nos relacionamos são naturalizadas e amplamente
aceitas. Assim, mostrar como as mulheres ocupam espaços
restritos de poder, material e simbólico, e todas as implica-
ções desse cenário, é um passo fundamental na busca por
uma sociedade com mais equidade. Nessa linha, alguns di-
recionamentos para institutos e fundações interessados em
contribuir com o processo de mudança cultural em relação
às questões de gênero são identificados a seguir.
Desconstruções Uma primeira possibilidade de meio de campanhas de
culturais para atuação envolve a dimensão comunicação, programas
equidade gênero simbólica, relacionada aos educativos, projetos culturais
estereótipos de gênero, – relacionados à produção
em especial no sentido de artística, literária e musical
ampliação da visibilidade feita por mulheres ou que
e representatividade de abordem as questões de
mulheres em áreas nas gênero – ou, ainda, ações de
quais são tradicionalmente incentivo e reconhecimento
excluídas e de desconstrução a meninas e mulheres com
de visões machistas atuação de destaque em
reproduzidas culturalmente. áreas do conhecimento ou
Para tal, é possível profissionais que,
desenvolver narrativas que em geral, são ocupadas por
fortaleçam a identidade e homens (como as exatas
equidade de gênero, por ou a política, por exemplo).
direitos das mulheres 41
3 Caminhos de E Sensibilização da
atuação: como sociedade e mudança
o investimento cultural para a
social privado equidade de gênero
pode contribuir?
inspire-se! Produção e
disseminação
“Escola de Liderança para Meninas” de conhecimento
e “A Revolução das Princesas”,
da Plan International Brasil Para ampliar a compreensão
social e fomentar o debate
A Plan International Brasil é uma organização humanitária público em torno das questões
e de desenvolvimento, que promove os direitos das de gênero, tem sido de grande
crianças e a igualdade para as meninas. Seus programas importância a produção de
e projetos buscam capacitar e empoderar crianças, pesquisas e outros estudos
adolescentes e suas comunidades, para que adquiram que contribuam para ampliar
competências e habilidades que os/as ajudem a e aprofundar informações e
transformar suas realidades. Estão organizados em torno conteúdos sobre temáticas
de três eixos: progredir (que tem como foco a prevenção como violência contra a mulher,
da violência baseada em gênero); liderar (ampliação concepções dos homens
da participação e influência das meninas nas decisões sobre papéis e relações de
públicas e de seu papel de agente de mudança); e decisão gênero, mulheres no mercado
(sobre os próprios corpos e vidas). Com foco mais voltado de trabalho, e assim por diante.
à questão da representatividade e mudanças culturais, As organizações do ISP podem
dois projetos podem ser destacados: financiar pesquisas que
estiverem sendo desenvolvidas
A Escola de Liderança para Meninas se propõe a apoiar por universidades ou
o empoderamento das meninas para a prevenção das centros de pesquisas, por
violências baseadas em gênero, desenvolvendo suas exemplo, mas também propor
habilidades para a vida, seus conhecimentos sobre projetos próprios a partir
seus direitos e incentivando sua participação cidadã. da identificação de lacunas
A “Escola” tem duração de quase 80 horas, que incluem e perguntas em aberto no
encontros presenciais semanais e visitas a espaços campo de atuação. Além
como a assembleias legislativas, ao ministério público disso, é importante pensar em
e prefeituras. A organização também criou o portal estratégias de disponibilização
Meninas Líderes, um espaço virtual que permite o acesso do conhecimento produzido,
a conhecimento, a troca de opiniões e a participação de por meio de publicações,
grupos de discussão em diversos assuntos relacionados plataformas, eventos e outros
ao empoderamento feminino. Este projeto é desenvolvido meios para que as informações
com a doação de pessoas físicas e com recursos sejam disseminadas e possam
provenientes de parcerias e da venda de produtos (em São influenciar discussões
Paulo conta com o financiamento da Fundação Mapfre). e proposição de soluções
para os desafios percebidos.
Já a Revolução das Princesas é uma coleção de livros
infantis, que são releituras de histórias clássicas – com
o Rapunzel, Pequena Sereia, Aurora ou Cinderela –, com a
intenção de atualizá-las para que as princesas assumam
um papel de heroínas corajosas, fortes e que salvam
os príncipes (que precisam de ajuda). Para a produção
dos livros, foram convidadas escritoras e ilustradoras
de destaque, que propuseram as novas narrativas
para cada história. Os livros são vendidos no site da
organização (com o recurso gerado revertido a outros
projetos voltados à equidade de gênero), mas, também,
doados para escolas e bibliotecas.
42 direitos das mulheres
inspire-se! informações e análises que contribuam
para identificar tendências relevantes
Plataforma digital com estatisticamente e essenciais para decodificar
dados sobre violência contra a complexidade da violência contra as mulheres
as mulheres, uma parceria no Brasil, gerando insumos para exigir respostas
entre Instituto Patrícia Galvão, do Estado e da sociedade e construir meios
Instituto Avon e ONU Mulheres para as transformações necessárias.
Realizada pelo Instituto Patrícia Galvão, com apoio O Instituto Patrícia Galvão é responsável
do Instituto Avon e da ONU Mulheres, a plataforma por projetar a plataforma, assim como pelo
digital Violência contra as Mulheres em Dados monitoramento e curadoria de seus dados;
reúne pesquisas e dados recentes relacionados já o Instituto Avon busca potencializar
às violências contra as mulheres no Brasil a utilização da plataforma, em especial
– com foco na violência doméstica, sexual e online, para qualificar o debate no setor público e
no feminicídio e na intersecção com o racismo privado sobre questões críticas relacionadas
e a LGBTTfobia. A iniciativa busca proporcionar à violência contra as mulheres no Brasil.
inspire-se! Desenvolvimento
de iniciativas
Pesquisa sobre o impacto de comunicação
dos estereótipos na equidade
de gênero da Unilever Voltado tanto para homens
com para mulheres, o apoio ou
Com a intenção de entender como as convenções sociais realização de campanhas sobre
interferem no desenvolvimento econômico da mulher, temas relacionados à equidade
a Unilever realizou, em parceria com a The Female de gênero em veículos
Quotient (TQF), o estudo “The Unstereotyped Mindset” tradicionais de comunicação
(“Pensamento Livre de Estereótipos”), que envolveu mais ou nas redes sociais, pode ser
de 9 mil pessoas em oito países de diferentes continentes um caminho interessante de
(dentre eles, o Brasil). A pesquisa mostra que os atuação do ISP. Nesse sentido,
estereótipos de gênero, as convenções sociais e os vieses uma estratégia interessante
inconscientes são os principais obstáculos para acelerar é apoiar veículos, coletivos
o processo de igualdade entre homens e mulheres e, de comunicação e grupos
ainda, sugere que é preciso repensar a divisão de trabalho de mídia de mulheres.
doméstico, rever as atitudes no mundo dos negócios
e revolucionar a comunicação de marcas e produtos. direitos das mulheres 43
O tema deste estudo já vinha sendo trabalhado pela
Unilever em ações voltadas para dentro e para fora da
empresa – por exemplo, no movimento #Unstereotype,
um compromisso global para combater os estereótipos
na comunicação das suas marcas.
3 Caminhos de E Sensibilização da inspire-se!
atuação: como sociedade e mudança
o investimento cultural para a Gênero e Número,
social privado equidade de gênero apoiada pela
pode contribuir? Ford Foundation
inspire-se! A Gênero e Número é uma
startup e organização de
Revista AzMina, apoiada pela mídia independente voltada
Open Society Foundation a dar visibilidade a dados e
evidências relevantes para
O AzMina é um instituto sem fins lucrativos que o debate sobre equidade
desenvolve jornalismo, tecnologia e informação de gênero, em especial por
contra o machismo. Com a missão de promover meio da produção jornalística
a equidade de gênero por meio da informação baseada em fatos e dados
e da educação, considerando especificidades abertos. Valorizando
de raças, classe e orientação sexual, a organização a inovação nas práticas
produz uma revista digital, um aplicativo e na forma de se relacionar
de enfrentamento à violência doméstica, além com as audiências, o trabalho
de campanhas, palestras, eventos e consultorias. abarca plataformas online
e presenciais e formatos
A Revista AzMina é mantida com doações de diversos para expandir
pessoas físicas e também de fundações privadas debates e narrativas.
nacionais e internacionais, dentre as quais A iniciativa é apoiada
estão a Open Society Foundation. pela Ford Foundation.
Engajamento Em uma perspectiva de mudança humanizada e estratégias voltadas
e envolvimento cultural rumo à equidade de gênero, ao acolhimento e equilíbrio emocional
é fundamental o envolvimento dos – sem cair em tons acusatórios
dos homens homens. O machismo não é, e não que acabam por afastar os homens
na reflexão pode ser visto, como um “problema desse debate. Mais especificamente,
das mulheres”; muito pelo nessa linha de atuação, é possível
sobre as contrário, os homens precisam desenvolver ou apoiar campanhas,
relações de começar a se entender como grupos reflexivos e outros projetos de
parte de um problema complexo transformação das masculinidades,
gênero e estruturante da nossa sociedade em especial nas periferias. No atual
para também se verem como parte momento, há muitas iniciativas desse
das soluções para enfrentá-lo. tipo sendo criadas, porém sem apoio,
Assim, um caminho de atuação estruturação ou recursos financeiros.
extremamente relevante e que Dessa forma, as organizações do ISP
vem ganhando destaque envolve podem potencializar esse movimento,
iniciativas direcionadas ao diálogo criando fundos específicos voltados
com e entre homens. Nessa linha, à transformação das masculinidades
é importante que a abordagem e fortalecendo a gestão e escala
utilizada busque instalar espaços desses projetos (financiando
de transformação para as encontros e debates para que
masculinidades, enfatizando o ampliem sua quantidade e alcance
papel dos homens como agentes territorial, em especial para que
de mudança e utilizando linguagem cheguem a comunidades e periferias).
44 direitos das mulheres
inspire-se! inspire-se!
Movimento Pesquisa e
ElesPorElas (HeForShe), documentário “O
da ONU Mulheres Silêncio dos Homens”,
do PapodeHomem
Desenvolvido como uma estratégia em parceria com ONU
global, o Movimento ElesPorElas Mulheres, Natura
(HeForShe), da ONU Mulheres, Homem e Reserva
tem como objetivo engajar
homens e meninos para novas Uma iniciativa liderada pelo Instituto
relações de gênero sem atitudes e PdH – braço de pesquisa do site
comportamentos machistas. Dessa PapodeHomem – e da Zooma Inc,
forma, o projeto propõe a difusão de com apoio institucional da ONU
mensagens voltadas para a equidade Mulheres e viabilizada pela Natura
de gênero a partir da voz dos homens, Homem e Reserva, a pesquisa
de modo a ampliar este debate. “O Silêncio dos Homens” escutou
mais de 40 mil pessoas no país inteiro
Utilizando estratégias de educação, com a proposta de compreender o
sensibilização e conscientização, que é ser homem no Brasil, incluindo
este movimento reforça uma as dores, qualidades, omissões e
abordagem inclusiva, ao convocar processos de mudanças relacionadas
homens e meninos como parceiros. às masculinidades. O estudo também
A meta ousada é garantir o se desdobrou em um documentário,
compromisso de 1 bilhão de homens que leva o mesmo título.
apoiando a igualdade de gênero
e o empoderamento das mulheres, Além da disponibilização de toda
começando com uma mensagem a base de dados, o projeto ainda
positiva simples e rumo ao inclui, com acesso gratuito, um
envolvimento mais profundo por meio livro-ferramenta com mapeamento
da adoção de medidas específicas das principais iniciativas que
que contribuam para a mudança social. trabalham com a transformação
Os homens podem aderir ao movimento das masculinidades e um guia
por meio de interações online de como criar um grupo de homens.
e da participação em eventos rurais A iniciativa é passo importante na
e urbanos e suas histórias são reunidas aspiração do PapodeHomem de
e compartilhadas para inspirar outros criação de grupos de transformação
a seguirem o mesmo caminho. das masculinidades – espaços que
encorajem homens a acessarem
Dentro do projeto, há a proposta seus sentimentos e assumirem
dos eventos da Barbearia, que buscam a responsabilidade por um futuro
incentivar homens e meninos mais igualitário, saudável e benéfico
a um maior entendimento sobre como – em todos os municípios do país.
a desigualdade limita a capacidade de
indivíduos, negócios e comunidade de direitos das mulheres 45
alcançar a plenitude de seu potencial
humano, econômico e social. Esses
encontros fornecem aos participantes
diversas ferramentas para lidar
com essa desigualdade e se tornarem
agentes de mudança, assumindo
responsabilidade pelas suas ações
a partir de seu próprio comportamento.
A iniciativa disponibiliza um kit de
ferramentas com o passo-a-passo
para quem quiser mobilizar homens
e meninos em eventos como estes.
4
Recomendações
finais para
atuação do ISP
Como é possível • Reconhecimento de pessoas, projetos
inferir da seção inovadores e organizações referenciadas
por suas atuações na promoção e defesa
anterior, as dos direitos das mulheres;
possibilidades de
atuação do ISP no • Apoio financeiro e institucional
a iniciativas de mulheres;
tema de direitos
das mulheres são • Iniciativas educativas ou comunicativas
(voltadas a profissionais que atuam
diversas e, nos serviços públicos, ao mundo
em síntese, corporativo e à sociedade em geral);
incluem linhas de:
• Mudanças institucionais para inclusão
e criação de oportunidades para mulheres
em espaços nos quais são tradicionalmente
mais restritos à sua participação
(mercado de trabalho, posições de
liderança, política, áreas específicas
do conhecimento, e assim por diante);
• Produção e disseminação de
conhecimento (apoio à pesquisa,
disponibilização de dados públicos,
sistematização e disseminação de práticas);
• Sensibilização da sociedade para
mudanças na compreensão sobre papéis
e relações de gênero.
46 direitos das mulheres
Além das estratégias
específicas abordadas,
alguns direcionamentos
gerais de atuação
e pontos de atenção
transversais para
a atuação do ISP no tema
de direitos das mulheres
podem ser destacados:
• O ISP tem um forte potencial de • A reflexão sobre as questões de gênero
multiplicar conhecimentos existentes ganhou espaço no debate público no
e desenvolver ferramentas inovadoras. período recente, o que traz uma grande
oportunidade de atuação, ao mesmo tempo
• As organizações do ISP dispõem que, em um cenário polarizado, demanda
de conhecimento e experiência posicionamentos orientados ao diálogo
em diferentes formas de atuação e à construção de pontes.
em articulação com outros atores e
setores, tendo o importante papel de criar • Por outro lado, o desenvolvimento
arranjos entre instituições para ampliar de iniciativas nesta temática deve
a escala e relevância dos resultados considerar e dialogar com o acúmulo de
alcançados pelas iniciativas sociais. conhecimentos e experiências do movimento
de mulheres no Brasil e no mundo, em um
• As iniciativas privadas têm lugar processo histórico de luta pela conquista
privilegiado e potente na busca de direitos e pela equidade de gênero.
por soluções que contribuam para o
desenvolvimento sustentável e o alcance • Os temas destacados neste guia
da Agenda 2030: em parceria com o setor – como o enfrentamento à violência
público e sociedade civil, o setor privado contra as mulheres, relações no
pode desenvolver mecanismos voltados mercado de trabalho, representatividade
à construção de uma sociedade mais ou importância do envolvimento dos homens
justa e democrática, inclusive do ponto no debate de gênero, apenas para citar alguns
de vista das relações de gênero. – não esgotam a reflexão sobre as questões
de gênero e, tão pouco, as possibilidades
de atuação das organizações do ISP
interessadas em somar esforços rumo
a uma sociedade mais justa e equitativa, em
particular no tocante às questões de gênero.
REFERÊNCIAS
Para acessar as referências dos conteúdos citados neste material, acesse
www.isppor.gife.org.br/referencias-direitos-das-mulheres
direitos das mulheres 47
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