7 DE MARÇO DE 2022 RELATÓRIO
História da Moeda e da Estatística
TRABALHO INDIVIDUAL – Módulo 3: Estatística Aplicada
Escola Secundária de Estarreja
Cálculo Financeiro e Estatística Aplicada
Curso Profissional de Gestão
ELABORADO POR DOCENTE
Diana Pinto Silva - nº5, 12ºH Professora Rosário Santos
7 DE MARÇO DE 2022 RELATÓRIO
Citação
"O consumo é a única finalidade e o único
propósito de toda produção."
Adam Smith
Formando:
Diana Silva
Índice
1 - Introdução 01
2 - Capitulo I (história da Origem do papel/moeda) 02
03
2.1 Noção de Papel/Moeda 04
2.2 A Origem do Papel/Moeda 05/06
2.3 História da Origem do papel/moeda 07
08
2.3.1-Ourives 09
2.3.2-Marco Polo e o Livro 10
2.3.3-Stockholms Banco 11
2.4 História do Papel/Moeda em Portugal 12
2.5 Noção de Moeda 13
2.6 Funções da Moeda 14/15
História do Comércio Antigo para o Comércio Atual 16
2.7 História do Comércio 17
2.8 Sistema de Trocas 18
2.9 A Importância dos Produtos para o Comércio 19
2.10 Noção de Dinheiro 20
2.11 O Surgimento da Moeda (dinheiro) 21
2.12 Comércio na Idade Moderna 22
2.13 Comércio Mediterrâneo e Nórdico 23/24
2.14 HISTÓRIA E ORIGEM DO DINHEIRO 25/28
29/31
2.14.1 - História da Moeda Antiga 32/33
2.14.2 - Difusão da Moeda Grega 34/37
2.14.3 - China: uma história alternativa das origens 38/39
2.14.4 - Moeda do Ocidente e do Oriente 40/41
2.14.5 - Cultura, ideologia, política e propaganda
2.14.6 - Acultura da Moeda
2.14.7 - Moeda no Ocidente Peninsular antigo
Índice
2.14.8 - A queda do Império do Ocidente e os povos 42/44
germânicos 45/46
47/50
2.14.9 - Moeda Islâmica
2.14.10 - A Moeda Portuguesa 51/52
2.14.11 - Política monetária medieval: o caso de
Afonso III 53/56
2.14.12 - Crises monetárias: ocaso da libra e 57/61
nascimento do real
2.14.13 - Do cruzado ao justo 62/66
2.14.14 - Português, tostão e a projecção
internacional da moeda portuguesa 67/69
2.14.15 - O século XVII: custos da independência, 70/71
oportunidades do império 71/78
2.14.16 - João V e o ouro do Brasil
2.14.17 - República, real e escudo 79
3 - Capítulo II (história da Estatistica em Portugal e 80
no Mundo) 81
3.1 O que é a Estatistica 82
3.2 Áreas de aplicação da Estatistica 83
3.3 Etimologia de Estatistica 84
3.4 Origem da Estatística 85
Livro Digital 86/87
Conclusão
Webgrafia/Bibliografia
1-Introdução
Este projeto foi nos proposto pela Professora Rosário Santos, da
disciplina de Cálculo Financeiro e Estatística Aplicada.
Neste projeto, tenho como objetivo dar a conhecer informações e
curiosidades sobre os temas (Capítulos I e II); estes são:
- A História da origem do papel/moeda;
- História da Estatistica no mundo e em Portugal.
01
2-
Capítulo I
História da Origem do Papel/Moeda
02
2.1-Noção
de Papel/Moeda
O Papel-moeda é o dinheiro oficial de um país, ou seja,
representa uma Nação. Este é impresso na forma de papel,
emitido por um banco denominado como Central, autorizado pelo
governo e distribuído pelos restantes bancos da rede oficial de
crédito nacional.
O papel-moeda tem as mesmas finalidades que a moeda
metálica e a moeda escritural representada pelo cheque e o
cartão de crédito, mas este tem a garantia do governo se a nota
for autêntica, com traves de segurança.
03
2.2-A Origem do
Papel/Moeda
O Papel/moeda foi originalmente criado a partir do final da
Dinastia Tang (618-907) até a Dinastia Song (960-1279) Este
fenômeno econômico foi um processo lento e gradual. Esta foi
criada para que, principalmente os comerciantes, não tivessem
carregados com grandes quantias de moedas de metal de tão
pouco valor.
Os moldes utilizados para a impressão do papel-moeda eram
criados em tabuleiros de madeira ou bambu, sobre as quais era
aplicada uma pasta especial, esta sendo feita de polpa vegetal
amolecida. A madeira era pintada com tinta e os desenhos e textos
gravados eram passados para o papel.
Esta criação permaneceu escondida durante séculos. Visto que
era uma criação bastante importante, os chineses erguiram um
templo em homenagem ao inventor dessa técnica.
Na Europa, o papel-moeda foi introduzido pela primeira vez na
Suécia em 1661.
1368 China Dinastia Ming 1 Guan Papel Moeda
04
2.3-História da
Origem do
papel/moeda
A ideia do papel-moeda nasceu no dia em que um indivíduo, que
precisava de moedas correntes, entregou a outro indivíduo um
vale para troca de mercadorias ou metais como o ouro, prata,
ferro ou cobre.
Com função semelhante, circularam na Idade Média recibos de
depósitos de ouro em pó, que circulava como moeda-corrente,
pois era facilmente divisível, mas difícil de ter a sua pureza
garantida. Esses comprovantes chamava-se recibos de ourives,
pois eram neles que certos comerciantes confiavam, graças à sua
idoneidade e cuja assinatura garantia os valores apresentados.
Os comerciantes, preocupados com a coação do ouro das
moedas, eram obrigados a pesar as peças e a verificar o teor de
metal fino. Para evitar este tempo gasto, eles passaram a guardar
o dinheiro em bancos de depósitos que surgiram na Itália e alguns
outros países do século XII ao XV. Eles recebiam um certificado
de depósito, do qual constava a promessa de devolução ao
portador da quantia entregue. Esse bilhete deu início ao que
conhecemos hoje como moeda de papel ou representativa, que
contava, assim, com um lastro de metal nobre.
05
2.3-História da
Origem do
papel/moeda
Como já referido anteriormente os mercadores chineses
começaram a usar dinheiro de papel na dinastia Tang. No Séc.
XIII, o famoso navegador veneziano Marco Polo levou a cabo sua
aventura pela China. Os seus registos contém as primeiras
descrições ocidentais com relação ao papel-moeda de uma forma
monetária que os europeos daquele tempo nunca
compreenderam, devido à falta de um valor especifico e real
como o lastro.
Essa forma de papel-moeda desenvolveu-se por si própria,
inicialmente como dinheiro de emergência e depois como forma
legal.
Foram emitidas as primeiras cédulas sem lastro na Europa pelo
Stockholms Banco, na Suécia, em 1661, devido à falta das moedas
de baixo valor em cobre e a escassez de prata.
A ideia de papel-moeda lastreado por um metal nobre manteve-
se firme até à Segunda Guerra Mundial, época na qual vários
países tiveram economias completamente modificadas. As
recentes teorias e observações económicas deram novo formato e
função ao papel-moeda, transformando-o numa representação da
saúde económica de um país.
06
2.3.1-Ourives
Ourives eram os responsáveis pela criação dos Bancos e as
primeira cédulas. Na Idade Média estes tiveram um papel
importante na Sociedade, sendo assim considerados Homens de
Confiança, ondenaquele tempo o povo depositava os seus bens
preciosos ou algo de valor. Os Ourives tinham o papel de manter
os bens das pessoas em segurança e prometiam devolve-los aos
seus donos quando precisassem novamente desses bens.
"Ourives" Recibo dado pelos Ourives
07
2.3.2-Marco Polo e o
Livro
Marco Polo foi um mercador,
embaixador e explorador veneziano
cujas aventuras estão registadas no
livro As Viagens de Marco Polo, que
descreve para os europeus as
maravilhas da China, da sua capital
Pequim e de outras cidades e países
da Ásia.
Marco Polo Uma página de "As
viagens de Marco Polo"
Livro das maravilhas do mundo;
Descrição do Mundo ou Oriente
Poliano mas mais conhecido como As
viagens de Marco Polo, é um livro
escrito por Rusticiano de Pisa.
Este é baseado nas histórias que
Rusticiano ouviu de Marco Polo
quando ambos estavam presos em
Gênova, descrevendo as viagens do
mesmo pela Ásia entre 1271 e 1295, e as
suas experiências na corte de Kublai
Khan. O livro foi escrito em Francês
Antigo.
Rusticiano de Pisa
08
2.3.3-Stockholms
Banco
O Stockholms Banco, foi o primeiro banco europeu a imprimir
notas . Foi fundado em 1657 por Johan Palmstruch em Estocolmo,
este começou a imprimir notas em 1661, mas enfrentou algumas
adversidades financeiras e foi liquidado em 1667.
O Stockholms Banco foi o precursor imediato do banco central da
Suécia, fundado em 1668 como Riksens Ständers Bank e
renomeado em 1866 como Sveriges Riksbank , que é o banco
central sobrevivente mais antigo do mundo .
Stockholms Banco Johan Palmstruch
09
2.4-História do
Papel/Moeda em
Portugal
A história do papel-moeda em Portugal, desde os chamados
escritos da Casa da Moeda, de 1687 até às notas emitidas em 1996.
Pode consultar a descrição técnica e ver a reprodução das "apólices
pequenas", das notas do Banco de Lisboa, do papel-moeda emitido
no séc. XIX por entidades não bancárias, das notas dos bancos
emissores do Norte, das cédulas da Casa da Moeda, de câmaras
municipais e outras entidades e das notas do Banco de Portugal. A
obra inclui ainda um capítulo relativo a aspectos da estampagem e
emissão.
As notas do Banco de Portugal são objecto de um tratamento
exaustivo, incluindo dados sobre chapas, características técnicas,
papel, dimensões, assinaturas, emissões e circulação.
Esta 2.ª edição inclui, para além do material publicado na 1.ª edição,
novos exemplares de notas emitidas por outras entidades, nos finais
do séc. XIX e a mais recente emissão do Banco de Portugal.
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2.5 Noção de Moeda
Uma moeda é uma forma de dinheiro que é, normalmente,
emitida pelas competências públicas numa determinada
jurisdição.
A moeda tem três funções - é uma unidade de conta, uma
reserva de valor e um meio de troca, permitindo assim com o
facto de empresas e lares a aceitarem para pagamento de dívidas.
Uma moeda é uma denominação monetária, como por exemplo
o dólar, o euro ou a libra.
Esta denominação monetária é aceite como pagamento numa
determinada área ou entre um grupo específico de pessoas. A
moeda apenas tem um valor devido à sua aceitação geral pois,
devido à cunhagem de ouro, a moeda perde o seu valor.
Tal como o papel/moeda, a moeda é normalmente fornecida
por uma entidade pública, como um banco central, seja dinheiro
de alta tecnologia como os bitcoin ou dinheiro emitido
localmente.
11
2.6 Funções da
Moeda
A moeda tem como funções básicas as seguintes:
Instrumento de trocas: essa é a função primordial da moeda.
Ela foi criada para ser um mecanismo de facilitação das trocas
entre os diversos agentes da atividade econômica.
Denominador comum de valores: por meio da moeda é
possível comparar os valores de diferentes mercadorias. Tudo
em nossa sociedade, que é objeto de compra e venda, tem o
seu valor quantificado em unidades monetárias. Até mesmo o
PIB, que mensura a produção total de bens e serviços ao longo
de um ano, é quantificado em unidades monetárias.
Reserva de valor: a moeda também pode cumprir a função de
reserva de valor, embora ela não cumpra essa função de
maneira ideal. Quanto maior for a inflação de um país, mais
rapidamente a moeda perde valor; consequentemente, pior
será a sua capacidade de reserva de valor. Porém, mesmo
assim, pelo fato de ter liquidez imediata, ou seja, por sua
capacidade de ser universalmente aceita e trocada por outro
produto, as pessoas decidem manter parte de sua renda na
forma de moeda.
12
História do
Comércio Antigo
para o Comércio
Atual
13
2.7 História do
Comércio
Como sabemos, o comércio vai-se expandindo e tornando mais
comum, à medida que as tecnologias avançam.
O comércio começou na altura dos hominídeos, quando estes
viviam em pequenos grupos e eram nómadas, assim, com o
sedentarismo dos grupos a quantidade do que produziam
aumentou,a produção de alimentos passou a ser maior do que a
necessidade dos grupos que os produziam. Então com o que
sobrava, esses grupos passaram a trocar esses alimentos e outros
produtos com outros grupos humanos, surgindo, assim, o
comércio.
Com o passar do tempo, as trocas comerciais começaram a
aumentarar e diversos povos passaram a praticá-las. Mais tarde,
quando o trabalho com os metais passou a ser feito, surgiram
objetos metálicos que começaram a ser valorizados e usados nas
trocas comerciais. Posteriormente, no período conhecido como
Antiguidade, o comércio entre alguns povos tornou-se mais bem
estruturado. Alguns deles, inclusive, viajavam longas distâncias
para realizar trocas comerciais.
Troca de Produtos
14
2.7 História do
Comércio
(continuação)
A valorização do trabalho com metal fez surgir várias réplicas de
objetos em tamanho pequeno que eram utilizadas em trocas
comerciais.
As moedas como as conhecemos atualmente, com peso e
tamanho exatos e cunhadas, passaram a ser produzidas somente
por volta de 2600 anos atrás. Um exemplo é o do povo fenício,
que viveu na região do atual Líbano, no Oriente Médio, e que foi
responsável pelo comércio entre vários povos ao longo do Mar
Mediterrâneo.
Como a região que ocupavam não era muito extensa e o solo não
era fértil, os fenícios não conseguiram praticar a agricultura.
Acabaram então por desenvolver técnicas para a construção de
navios e iniciaram o comércio entre povos diferentes.
Alguns dos profutos que "forneciam" eram os tecidos e o cedro,
e madeiras típicas.
Outro povo que também se destacou na Antiguidade e na
realização de trocas comerciais foram os chineses, os produtos
que mais chamava a atenção de outros povos era a seda.
O comércio desenvolveu-se no Oriente Médio e na Ásia, mas
também na Europa, havia povos comerciantes, como os romanos.
Os vikings, povos guerreiros e comerciantes que viveram,
principalmente, nos atuais territórios da Noruega, Suécia e
Dinamarca, desenvolveram avançadas técnicas de navegação, o
que lhes possibilitou tornarem-se famosos comerciantes.
15
2.8 Sistema de
Trocas
O sistema de trocas, é considerada a primeira forma de
comércio, ou seja, apenas as pessoas de uma determinada
comunidade realizavam essas trocas.
Cada família possuía uma determinada habilidade, entre as
quais: pesca, agricultura, pecuária etc. Para garantir o sustento e
uma boa produtividade, essa ascendência ocupava-se apenas com
essa única tarefa.
Acabaram por perceber que produziam mais do que consumiam,
e começaram assim, a armazenar. Mas os produtos estragavam-
se, e, além disso, a casa precisava de outros itens fora os que
eram feitos por eles. Daí apareceu a necessidade da troca.
Esse sistema permitia que as pessoas não sofressem tanto com
o desperdício das suas mercadorias e ainda obtivessem outras.
Assim, um produtor de trigo, trocava o expediente de seu
trabalho por feijão, arroz, peixes e carnes. Como as trocas eram
diretas e sem preços específicos, negociar era a forma de se
conseguir um bom negócio.
Com o passar do tempo, os comércios começaram a tornar-se
cada vez mais complexos, pois um grande número de pessoas foi
sendo acrescentado ao que logo se estendeu para além das
comunidades.
Foi em decorrência dos problemas com a comunicação que
surgiu a necessidade do alfabeto e dos números.
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2.9 A Importância
dos Produtos para o
Comércio
Já desde o inicio da atividade comercial que um dos grandes
problemas era a definição do valor de um produto, ou seja, para
dar um preço ao produto, este tinha que ser avaliado dependendo
da quantidade de trabalho realizada na fabricação do produto.
Outro fator que influenciava o preço do produto eram as
dificuldades a que este estava sijeito.
Hoje em dia, esta definição tem algumas atualizações, como por
exemplo, agora é também avaliado o transporte, o salário dos
funcionários, impostos e outros gastos que o produtopode passar
durante a sua produção.
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2.10 Noção de
Dinheiro
O dinheiro é na sua aparência mais imediata o meio usado na
troca de bens, podendo fazê-lo na forma de moedas (pedaços de
metal amoedados e cunhados, isto é, marcados por desenhos,
letras e números), notas (cédulas de papel, igualmente
desenhadas e escritas), ou, como atualmente, sinais elétricos
carregados de informação, chamados bits. Vê-se assim como
dinheiro e moeda se confundem; sendo que as moedas - quando
mais físicas são - mais obscurecem que esclarecem o que este é
realmente. Isso porque o que o dinheiro é essencialmente é um
signo. E um signo representativo de valores, que é a informação
que este signo carrega. Estes valores representados no dinheiro
são os das coisas (bens e serviços) que se desprendem dos
homens nos impessoais mercados, mas também e principalmente
os valores dos compromissos, dívidas e créditos, que os homens
estabelecem entre si desde sempre, ou desde muito antes dos
mercados.
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2.11 O Surgimento da
Moeda (dinheiro)
O primeiro produto a ter o lugar do dinheiro foi a comida, pois
todos queriam comida, e todos sabiam como era difícil a sua
produção.
A primeira moeda existente foi o sal, até que se pretarem
atenção, vão repara que a palavra Salário tem origem em sal.
Depois usaram como moeda as conchas.
Com o evoluir do tempo começaram a criar algo mais
semelhante ao dinheiro, como já referido interiormente,
começaram a ver os fatores e a colocar um preço ao invés da
troca de produtos.
A moeda foi também criada porque era um objeto mais fácil de
transportar, seguro de esconder e guardar e tinha uma duração
mais longa.
Com o passar do tempo chegamos ao comércio atual onde, com
a ajuda da técnologia, criámos várias formas de moeda, como:
- Papel/Moeda (dinheiro);
- Cartão de crédito;
- Cartão de Débito;
- Cheques;
- várias moedas de nações diferentes como o euro, o Dólar,
o Real, etc.
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2.12 Comércio na
Idade Moderna
O renascimento comercial da Idade Média ocorreu por causa da
ampliação das rotas comerciais e do estabelecimento de feiras
anuais, que atraíam inúmeros comerciantes interessados na
venda e troca de produtos. Uma consequência desse fenômeno
foi o retorno da utilização da moeda.
O renascimento comercial está diretamente ligado ao
renascimento urbano. Atribui-se o renascimento do comércio ao
crescimento populacional e ao aumento da produção agrícola,
que proporcionou um excedente que pôde ser comercializado.
O desenvolvimento das cidades a partir do século XI gerou uma
necessidade de mercadorias, que só era suprida a partir do
comércio. Com essa demanda, começaram a se estabelecer
comerciantes em determinadas cidades europeias. Além disso,
muitos mercadores passaram a sedentarizar-se, pois, as rotas
comerciais terrestres na Europa eram muito precárias e
inseguras. Apesar desse processo de sedentarização, o comércio
europeu dependia, principalmente, das rotas marítimas, que eram
consideradas mais baratas que as rotas terrestres.
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2.13 Comércio
Mediterrâneo e
Nórdico
Com o crescimento das rotas marítimas, foram estabelecidos
dois grandes eixos comerciais na Europa: o eixo do mediterrâneo,
dominado pelas cidades italianas de Veneza e Gênova, e o eixo
nórdico, conhecido como Liga Hanseática.
Atribui-se o impulso de Veneza e Gênova ao fato de a produção
agrícola de ambas ter sido pequena. Assim, no século XI, essas
cidades apoiaram o início das Cruzadas, com o interesse de obter
mercadorias de luxo existentes no mercado oriental, que havia
sido fechado desde a conquista muçulmana. Também ficaram
conhecidas por incentivar a Quarta Cruzada, com o objetivo de
expandirem seus negócios para as terras do Império Bizantino.
A Liga Hanseática dominou o mercado no norte europeu. Era
formada por um grupo de cidades germânicas que se aliaram e
conseguiram exercer o controle sobre o mercado em regiões que
iam do leste europeu até a Islândia.
21
2.14 HISTÓRIA E
ORIGEM DO
DINHEIRO
22
2.14.1
História da Moeda Antiga
A moeda evoluiu a partir de duas inovações básicas, que
ocorreram por volta de 2.000 a.C. Originalmente, o dinheiro era
uma forma de recebimento, representando grãos estocados em
celeiros de templos na Suméria, Antigo Egito.
No final da Idade do Bronze, uma série de tratados
internacionais estabeleceram uma passagem segura para os
mercadores ao redor do Mediterrâneo oriental, espalhando-se a
partir da Creta minoica e Micenas no noroeste de Elam e sudeste
de Bahrein.
É sabido que o aumento da pirataria e invasões associadas ao
colapso da Idade do Bronze, possivelmente produzidas pelos
Povos do Mar, trouxeram esse sistema comercial ao fim. Foi
apenas com a recuperação do comércio fenício no séculos IX e X
a.C. que houve um retorno à prosperidade, e o surgimento da
cunhagem real, possivelmente primeiro na Anatólia, por Creso, rei
da Lídia, e subsequentemente pelos gregos e persas.
Os anéis de manilla da África Ocidental foram uma das moedas
usadas a partir do século XI em diante para comprar e vender
escravos. A moeda africana ainda é notável por sua variedade,
sendo que em muitos lugares diferentes formas de escambo ainda
existem.
23
2.14.1
História da Moeda Antiga
A antiga moeda de Yap era composta
por pedras gigantes, denominadas rai.
24
2.14.2
Difusão da Moeda Grega
Esta moeda é um elemento típico da cultura Grega, apesar desta
moeda ter, muito provavelmente, origem Lídia. Na verdade, os
gregos foram o principal fator de desenvolvimento e difusão da
moeda.
Em meados do século VI a.C., a moeda metálica de tipo grego já
estava em utilização na Grécia continental em cidades como Egina
e Atenas, com preferência pela prata.
Por volta de 500 a.C., o raio de difusão da moeda tinha atingido a
escala mediterrânica graças à multiplicidade de estabelecimentos
resultantes da colonização grega, sobretudo no Egeu, Mar Negro e
Mediterrâneo Central e Ocidental, mas também à circulação de
mercadores e mercenários gregos nas áreas do Mediterrâneo
Oriental (p. ex. Fenícia, Palestina, Egipto).
Óbolo, Massália, c. 495-470 a.C
Estáter, Síbaris, c. 525-510 a.C.
25
2.14.2
Difusão da Moeda Grega
Entretanto, por influência grega, a moeda metálica foi também
cunhada pelos persas aqueménidas na Anatólia, pelos cartagineses
no Norte de África e só mais tarde pelos fenícios.
Siclo, Dario I, c. 515-486 a.C
Dishekel, Biblos, c. 400-370 a.C.
É através de gregos e cartagineses que as primeiras moedas
chegarão à Península Ibérica. Nos séculos V-IV a.C., os
tetradracmas de Atenas impuseram-se como grande moeda de
comércio, circulando um pouco por todo o Mediterrâneo oriental.
Estas moedas dão origem a imitações locais nalgumas regiões e
chegam mesmo a atingir o sul da Arábia.
Tetradracma, Arábia, séc. IV
Tetradracma, Atenas, c. 465-460 a.C
26
2.14.2
Difusão da Moeda Grega
É também por influência grega, nomeadamente dos
estabelecimentos gregos do Sul de Itália, que Roma adopta a
moeda metálica no século IV a.C. Da utilização de troços de bronze
e cobre a peso (aes rude) durante a 1.ª metade do I milénio a.C., os
romanos foram adoptando formas mais padronizadas de dinheiro,
nomeadamente barras de bronze com diversas marcas (aes
signatum) e finalmente, nos inícios do século III a.C., discos de
bronze, as primeiras moedas romanas (aes grave). Se não anterior,
a introdução destas pesadas moedas de bronze coincidirá com a
introdução das primeiras moedas de tipo grego em Roma.
Triente, Roma, c. 280-276 a.C
Didracma, Roma, c. 269-266 a.C
27
2.14.2
Difusão da Moeda Grega
Nos finais desse século, a moeda metálica de tipo grego utilizada
em Roma estava já perfeitamente incorporada quer na economia,
quer na cultura romana. É aliás nesta época, no âmbito da 2.ª
Guerra Púnica, que surge uma das moedas mais influentes na
história monetária do Ocidente: o denário. A expansão político-
militar de Roma nos séculos seguintes seria responsável pela
massificação das emissões de moeda e pela intensificação da
monetarização dos territórios mediterrânicos. Voltaremos a este
tema mais adiante.
Denário, Roma, 208 a.C
Regressemos ao século IV a.C. Com as campanhas militares e o
império de Alexandre III da Macedónia (o Grande), desencadeia-se
novo impulso expansivo da moeda para Oriente. As avultadas
despesas militares de Alexandre e dos seus sucessores, por si só,
terão sido responsáveis pela injecção de toneladas de metais
preciosos amoedados — principalmente prata — nas economias
orientais a partir das últimas décadas do século IV a.C. Nos finais
do século, a moeda tinha já atingido a Índia e regiões da Ásia
Central, conquanto a sua utilização fosse ainda pouco corrente.
28
2.14.3
China: uma história
alternativa das origens
O surgimento da moeda metálica na China terá decorrido pouco
depois da sua aparição no Ocidente, porém com um percurso
especial e diferenças de fundo que favoreceram a prevalência de
uma concepção de moeda distinta. Os metais terão sido
igualmente usados a peso, nomeadamente o bronze, e também
terão sido utilizados os caurins (cujo caracter veio a significar
«dinheiro»); mas a tradição que mais nos importa é a da utilização
de utensílios de bronze como meio de troca. À medida que a
função monetária de pás e facas de bronze se sobrepõe à sua
função utilitária, esses utensílios vão sendo estandardizados e
miniaturizados até se transformarem completamente em formas
de moeda metálica desprovidas da sua utilidade primitiva. A moeda
chinesa distingue-se da ocidental, de tipo grego, não só pelo
formato, mas também pela matéria, uma vez que, contrariamente à
prevalência dos metais preciosos no Ocidente, as pás e facas
monetárias chinesas eram produzidas em bronze. Há ainda uma
outra diferença significativa: enquanto no Ocidente a cunhagem
manual é a técnica dominante, com a circunscrição da fundição ao
fabrico dos discos, na China a técnica de fabrico prevalecente até
aos inícios do século XX é a fundição, através de moldes de pedra,
argila ou metal
29
2.14.3
China: uma história
alternativa das origens
Faca monetária, Estado de Qi, c. 400-220 a.C.
As emissões são efectuadas por vários Estados regionais e
adquirem uma importância crucial no financiamento dos
frequentes conflitos militares interestatais que caracterizam a
situação política da China entre os séculos V e III a.C.. As emissões
massificaram-se neste período, conhecido como Período dos
Reinos Combatentes (481-221 a.C.) e a utilização da moeda
expandiu-se geograficamente e intensificou-se, em coexistência
com outros meios de pagamento de utilização generalizada como
os tecidos de seda e o ouro. Na verdade, os diferentes meios de
pagamento tendiam a circular em estratos diferentes e de forma
complementar, tal como no Ocidente a utilização de moeda de
ouro, prata e metais ou ligas pobres servia as necessidades de
diferentes agentes, desde a população comum, passando pelos
comerciantes de retalho e mercadores, até aos cambistas,
banqueiros e grandes contratadores do Estado. No século IV a.C.,
no Estado de Wei (China ocidental), às pás e facas monetárias
juntam-se pequenos discos de bronze com um furo no meio, uma
forma de moeda muito semelhante à ocidental mas que se terá
desenvolvido de modo aparentemente independente de
influências ocidentais
30
2.14.3
China: uma história
alternativa das origens
Disco monetário, Estado de Wei, séc. IV-III a.C.
O furo é outra característica distintiva da moeda chinesa. Já as
facas tinham uma argola na ponta do cabo. A função deste furo
permitia juntar as peças em fiadas de modo a perfazer o valor de
unidades de conta maiores de utilização corrente e mais prática,
dado o valor de circulação supostamente reduzido destas moedas.
Em 221 a.C., a finalização do processo de unificação política da
China sob o Estado de Qin significou também a imposição da
moeda circular com o furo ao centro como instrumento monetário
universal. A moeda metálica chinesa, circular e com um furo
central, manteria essencialmente a mesma forma até aos inícios do
século XX.
31
2.14.4
Moeda do Ocidente e do
Oriente
Há uma outra razão pela qual a história monetária antiga da
China é muito relevante. É que, contrariamente ao Ocidente, a
moeda era vista essencialmente como um mediador e facilitador
de trocas, algo que a utilização de elementos naturais — os caurins
— e ligas de baixo valor — o bronze — muito favorecera. Por outro
lado, uma tradição política forte e centralizadora atribuía ao
Estado o poder indisputado de conferir valor à moeda ou torná-la
inútil.
O que não significa que, no Ocidente antigo, não se tenham
efectuado emissões de verdadeira moeda fiduciária, cujo valor
repousava na garantia do Estado. Refira-se o caso de Atenas
durante o final da Guerra do Peloponeso, em 406/405 a.C., quando
o governo da cidade decidiu emitir tetradracmas de bronze
prateados como medida de emergência, pressionado pelas
urgentes necessidades financeiras da cidade e pela escassez de
prata. Por outro lado, as denominações de cobre e bronze de
pequeno valor foram-se tornando cada vez mais frequentes a
partir do século V a.C., p. ex. na Sicília Grega, representando
moedas de trocos de natureza fiduciária, i.e. cujo valor facial seria
relativamente superior ao intrínseco.
32
2.14.4
Moeda do Ocidente e do
Oriente
– Tetradracma forrado, Atenas, 406/405 a.C
A diversidade de denominações monetárias e metais, assim como
a sua evolução, sugerem por si só a existência de uma consciência
bastante estruturada sobre os efeitos económicos da moeda e dos
fenómenos monetários; portanto, de políticas monetárias. Não
obstante, conservaram-se testemunhos desse pensamento, tanto
no Ocidente como no Oriente. No Ocidente, Aristóteles foi um dos
pensadores que, ainda no século IV a.C., produziu reflexões sobre
o assunto. Para o filósofo, a moeda era essencialmente um meio de
troca e uma unidade de medida, estabelecidos por convenção
social — daí chamar-se nomisma à moeda, de nomos, «lei»,
«norma».
33
2.14.5
Cultura, ideologia, política e
propaganda
A moeda não se transformou apenas num instrumento bem
adaptado às necessidades económicas e financeiras das
sociedades. Tornou-se rapidamente, também, num suporte e
veículo de expressão identitária, política, religiosa, ideológica,
assim como num instrumento propagandístico ao dispor dos
Estados. Na moeda grega, as representações de divindades
adquiriram grande protagonismo (Atena, Zeus, Apolo, etc.), mas os
símbolos dinásticos e cívicos perderam espaço para os retratos de
governantes e soberanos, possivelmente logo a partir da 1.ª metade
do século IV a.C. e sobretudo com os sucessores de Alexandre III
da Macedónia (Alexandre morre em 323 a.C.). Os romanos vão dar
especial continuidade ao aproveitamento propagandístico da
moeda a partir do século I a.C., com o recrudescimento dos
conflitos internos e a eclosão de várias guerras civis que
desembocariam no estabelecimento do Império Romano, com
Augusto. São vários os líderes militares, nos finais do período
republicano, que se fazem representar ou são representados em
moedas através dos seus retratos: refiram-se apenas Gneu
Pompeu, Júlio César, Marco António e Augusto. A imagem dos
imperadores será, a partir de Augusto, o elemento dominante na
iconografia monetária romana, com múltiplos casos de extensas
titulaturas imperiais rodeando os retratos soberanos dos
imperadores e enumerando todas as magistraturas e títulos
assumidos pelos imperadores.
34
2.14.5
Cultura, ideologia, política e
propaganda
Áureo de Augusto, c. 18 a.C
Denário, 44 a.C.
Refira-se o caso dos tetradracmas de prata de Lisímaco, um dos
sucessores de Alexandre, cunhados c. 297-281 a.C. em Lâmpsaco,
no noroeste da actual Turquia.
Tetradracma de Lisímaco, c. 297-281 a.C
35
2.14.5
Cultura, ideologia, política e
propaganda
No anverso, surge um retrato idealizado de Alexandre III, ornado
com um diadema e com um corno de carneiro. O diadema
significava o seu estatuto real e era também frequentemente
utilizado na representação de divindades. A carga simbólica do
corno é, porém, mais densa. Trata-se de um atributo de Amun,
uma divindade de topo do panteão egípcio equacionada com Zeus,
e, dessa forma, estamos perante uma clara alusão à filiação divina
de Alexandre, que alegadamente lhe fora revelada aquando da sua
visita ao templo de Amun no oásis de Siwa, no Egipto. No reverso
da moeda, surge-nos uma representação guerreira da deusa Atena
(Nicéfora, «portadora da Vitória»), com elmo, escudo e lança,
sustendo na sua mão direita uma figura alada — Nikê, «Vitória» —
que deposita uma coroa de louros sobre o nome de Lisímaco. O
reverso apresenta ainda uma legenda grega, que declara:
ΒΑΣΙΛΕΩΣ ΛΥΣΙΜΑΧΟΥ («[Moeda] do rei Lisímaco»). A escolha
destes elementos não é acidental, nem inconsequente. Através
deles, Lisímaco afirma o seu estatuto e poder real, e reitera
duplamente a sua legitimidade política. O rei, membro do círculo
próximo de Alexandre, apresenta-se como seu sucessor, sucessor
do filho de Zeus-Amun, o Alexandre deificado, cujo culto se
estruturava por então. Mas Lisímaco era também rei por valor
próprio, e a imagem de Atena Nicéfora parece ser uma alusão ao
sucesso obtido na batalha de Ipso, em 301 a.C., em coligação de
forças com Seleuco e Cassandro, dois outros sucessores de
Alexandre. O resultado dessa batalha permitiu-lhe expandir o seu
território e reconfirmar o seu poder efectivo.
36
2.14.5
Cultura, ideologia, política e
propaganda
O poder da imagem é manifestamente mais eficaz que o da
escrita. Mas quando a escrita transporta uma mensagem de teor
político de grande extensão ou que ocupa uma parte apreciável da
face de uma moeda, a função propagandística da moeda torna-se
ainda mais evidente. Veja-se o caso de vários denários e áureos de
Augusto em que a legenda OB CIVIS SERVATOS («por ter salvado
os cidadãos») ocupa uma posição proeminente numa das faces,
acompanhada pela coroa de louros, numa alusão clara às honras
concedidas a Augusto pela recuperação, em 20 a.C., de parte dos
prisioneiros romanos tomados pelos partos no Oriente em
conflitos militares. Veja-se ainda a extensão das legendas nalguns
sestércios e dupôndios de Trajano de 103-111, envolvendo o busto
imperial e registando uma longa titulatura imperial: imperador,
Augusto, Germânico, Dácico, pontífice máximo, tribuno da plebe,
cônsul e pai da pátria
– Denário, Augusto, 19-18 a.C.
Sestércio, Trajano, 103-111
37
2.14.6
Acultura da Moeda
Embora fosse um produto cultural essencialmente grego, a
moeda foi sendo imposta e foi-se impondo pela sua utilidade a
múltiplas sociedades. Foi-se também infiltrando nas culturas e
mentalidades locais, no modus vivendi: e foi-se aculturando. O que
acaba por ser revelador do potencial universal da moeda, pelas
vantagens e possibilidades económicas e financeiras que a sua
utilização implica, virtualmente independentes das especificidades
de qualquer sociedade complexa. Foquemos a evolução cultural da
moeda metálica a oriente, num território alargado que abrange,
grosso modo, parte da Ásia Central, Afeganistão, Paquistão e
Noroeste da Índia. Quando a moeda de tipo grego chega, é um
dado cultural totalmente estranho. As elites greco-macedónicas
que permaneceram no Oriente e ocuparam o poder deram
continuidade à utilização da moeda e à sua utilização política e
ideológica, conservando a língua e a religião: as moedas continuam
gregas. Quando olhamos para as emissões indo-gregas do século I
a.C., o alfabeto e as divindades gregas continuam presentes, mas
coexistem com um alfabeto regional — o kharosthi — e uma língua
regional — o sânscrito, ou prácrito. É o caso, por exemplo, do
tetradracma de Azes I (58-12 a.C.), em cujo anverso surge Zeus,
figurado de corpo inteiro e rodeado por uma legenda em grego
com a titulatura de Azes, ao estilo persa. No reverso, inscreve-se a
figura clássica de Nikê, alada, mas agora envolvida por uma
legenda em kharosthi, embora com a mesma mensagem do
anverso.
38
2.14.6
Acultura da Moeda
Tetradracma, Azes I, 58-12 a.C.
Avançando alguns séculos, vemos a moeda já perfeitamente
assimilada. Um estáter de Vasudeva I (c. 200-225), rei dos
Kushanas, um povo da Ásia Central, mostra-nos uma figura régia
de corpo inteiro envergando uma armadura oriental, e junto a um
altar, representado uma vez mais ao estilo persa. A figura é
rodeada por uma legenda escrita num alfabeto derivado do grego
mas em língua bactriana, com o título imperial, também ele ao
estilo persa. No reverso, já não é um deus grego que surge, mas
sim indiano: Xiva, associado ao touro Nandi.
Estáter, Vasudeva I, c. 200-225
39
2.14.7
Moeda no Ocidente Peninsular
antigo
Na 1.ª metade do século II a.C., a moeda metálica seria um
instrumento quase totalmente irrelevante nas economias locais do
Sudoeste peninsular. A intensificação da presença militar romana,
as colonizações e o incremento das trocas comerciais, com o
desenvolvimento de pequenas indústrias locais e a importação de
produtos de outras zonas mediterrânicas, promoveram a
monetarização progressiva das economias urbanas de cidades
como *Beuipo/Salacia (Alcácer do Sal), Ossonoba (Faro), Baesuri
(Castro Marim) e Myrtilis (Mértola). As emissões locais ocorreram
apenas em cidades no Sul do território hoje nacional, exactamente
onde a influência cultural e económica romana foi mais longa e
intensa. Provavelmente para satisfação de necessidades locais de
moeda, estas cidades começaram a emitir moeda de trocos de
influência romana — asses, semisses, trientes e quadrantes — em
ligas de cobre, mas também em chumbo. As emissões mais antigas
serão as de *Beuipo/Salacia, um antigo estabelecimento
frequentado por fenícios/cartagineses, cuja influência se nota
quer no alfabeto utilizado nas moedas, quer na representação de
Héracles-Melkart, típica das moedas cartaginesas.
Asse, *Beuipo/Salacia (Alcácer do Sal), séc. II-I a.C.
40
2.14.7
Moeda no Ocidente Peninsular
antigo
Na 2.ª metade do século I a.C., o número das oficinas hispânicas
foi sendo reduzido e com Augusto apenas três oficinas monetárias
receberam autorização imperial: Liberalitas Iulia Ebora (Évora), Pax
Iulia (Beja) e talvez Baesuri (Castro Marim). Após a morte de
Augusto, terão cessado totalmente as emissões de moeda local no
Sudoeste peninsular, conquanto outras oficinas hispânicas tenham
continuado a emitir moeda durante mais algumas décadas. A
Península Ibérica passou a ser abastecida com numerário imperial
essencialmente de origem itálica, mas as fontes de
aprovisionamento variaram ao longo do período imperial e pelo
menos a partir do século proliferaram as emissões imitativas e não
oficiais de pequenos bronzes.
Asse de Augusto, Ebora, c. 12-11 a.C
41
2.14.8
A queda do Império do Ocidente
e os povos germânicos
No século V, a parte ocidental do Império, governada
independentemente da parte oriental desde 395, sofria uma
pressão crescente dos povos germânicos em migração. Roma foi
saqueada em 410 e viria a sê-lo novamente em 455. Em 409-411,
alanos, vândalos e suevos invadiam a Península Ibérica. Entretanto,
os visigodos tornavam-se federados do Império e estabeleciam-se
na Gália, enquanto os vândalos ocupavam o Norte de África.
Quando o último imperador romano ocidental foi deposto, em 476
a.C., largas parcelas do Império Romano do Ocidente estavam já
sob ocupação e administração germânica. Com o colapso do
Império do Ocidente, o reconhecimento formal da suserania
romana foi mantido e transferido para o imperador romano do
Oriente. O reconhecimento da autoridade e dos modelos romanos
foi bastante significativo e teve reflexos materiais na moeda.
Ostrogodos em Itália, visigodos na Gália e mais tarde na Península
Ibérica, suevos na Península e vândalos no Norte de África, todos
eles deram continuidade à moeda romana da Antiguidade Tardia,
efectuando cunhagens de imitação segundo os modelos romanos
ocidentais e mais tarde bizantinos: sobretudo sólidos e tremisses
de ouro, e também síliquas de prata e suas fracções. Na Península
Ibérica, os suevos cunham imitações fiéis de sólidos de Honório
logo na 1.ª metade do século V, assim como tremisses posteriores.
42
2.14.8
A queda do Império do Ocidente
e os povos germânicos
Sólido de Honório, 402-406
Sólido suevo, séc. V
Os visigodos dão continuidade às cunhagens de imitação em
ouro e prata efectuadas na Gália e continuam a cunhagem de
tremisses, com legendas e desenhos já bastante degenerados
relativamente aos seus modelos bizantinos, até quase aos finais do
reinado de Leovigildo (569-586). No século V, de referir ainda o
surgimento de quantidades significativas de moeda de bronze de
imitação em cidades da costa mediterrânica como Barcino e
Tarraco (Catalunha), uma produção de origem local destinada a
suprir a cada vez maior escassez de moeda imperial.
Tremisse de Justino I, 518-527
Tremisse visigodo, c. 572-579
43
2.14.8
A queda do Império do Ocidente
e os povos germânicos
Os tremisses tornar-se-ão praticamente a única moeda
produzida na Península Ibérica entre o século V e 711. Uma vez que
a moeda visigótica será também ela objecto de outra comunicação
(Francisco Magro), bastarão algumas referências. A partir dos finais
do século VI os visigodos asseguraram o controlo da maior parte
da Península e as suas cunhagens adquiriram um novo aspecto,
com a predominância de representações estilizadas do monarca e
assunção explícita da dignidade régia (fig. 31)ano-bizantino foi
mantida e as representações dos monarcas e de outros elementos
continuavam a inspirar-se em modelos bizantinos.
Tremisse de Recaredo, 586-601
Durante a dominação visigótica, verifica-se uma multiplicação
muito significativa do número de oficinas monetárias, grande
parte das quais concentradas no Noroeste da Península (Norte de
Portugal incluído), embora com produções pouco volumosas.
44
2.14.9
Moeda Islâmica
Em 711, forças árabes e berberes invadem a Península pelo Sul e
em poucos anos provocam o colapso de um Estado visigótico
debilitado, ocupando a maior parte do território. As primeiras
cunhagens islâmicas em território peninsular obedecem ao
modelo dos pequenos sólidos bizantinos cunhados em Cartago e
apresentam legendas exclusivamente latinas, ainda que com
mensagens muçulmanas e próprias da moeda islâmica. A transição
é rápida: as moedas tornam-se bilingues e poucos depois
exclusivamente em árabe.
Dinar, 712-713
Com a estabilização dos poderes islâmicos na Península,
começam as emissões de dinares de ouro, dirames de prata e
felusses de cobre. A característica mais saliente destas moedas,
para além do alfabeto árabe, é o seu aniconismo, i.e. a ausência de
representações humanas ou animais. As faces das moedas são
preenchidas com a profissão de fé islâmica, citações alcorânicas,
mensagens diversas de cariz político-religioso em nome dos
governantes e ainda informações sobre o local e ano de cunhagem.
45
2.14.9
Moeda Islâmica
Dinar de al-Hakam II, 973/974
Do enfraquecimento do Império Almorávida na Península
resultou a fragmentação do poder e o surgimento de múltiplos
reinos regionais — as taifas. No Sul do actual território português,
al-Mundhir, Sidray ibn Wazir e particularmente Ahmad ibn Qasi,
líder de um movimento místico, lideraram a insurreição contra o
poder almorávida. Surgiram então amoedações locais de pequenos
quirates de prata em Beja, Mértola e Silves.
Quirate de Ahmad ibn Qasi, c. 1144
46