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revista vitoria –– agosto - issuu

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Published by Site Mitra, 2019-08-05 09:34:03

Revista Vitória - Agosto 2019

revista vitoria –– agosto - issuu

Ano XIII | Nº 168 | Agosto de 2019

REVISTA DA ARQUIDIOCESE DE VITÓRIA – ES

estado
depressivo

A pessoa nesse estado
joga a sua confiança,

a solução dos seus
problemas em alguém.
Ela busca uma solução em Deus,
no padre ou em quem quer que seja.

pág. 05



EDITORIAL

DEPRESSÃO NÃO É ‘FRESCURA’

A depressão será a doença mais comum no mundo até 2030, apontam dados
da OMS, Organização mundial da Saúde, e já é considerada o novo mal do

século. Abordamos o assunto nesta edição na perspectiva da fé, uma forma de
provocar a reflexão sobre o assunto e, também por sabermos que muitas pessoas

depressivas, buscam junto aos padres ajuda para enfrentar essa situação.

Trazer este tema como Atualidade, a partir do testemunho de um padre que
frequentemente acolhe essas pessoas, significa dizermos que depressão não é

‘frescura’ ou ‘doença de preguiçoso’, depressão é uma doença que precisa de
tratamento, de cuidados e de atenção. Não deixe de ler.

Boa leitura!

Maria da Luz Fernandes

Editora

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Publicação da Arquidiocese de Vitória / ES • ISSN 2317-4102

Agosto de 2019

24 ESPECIAL 1 11 22

Vocação Sacerdotal e seu Amadurecimento REPORTAGEM IDEIAS
Pessoas felizes O cinismo
25 ESPECIAL 2 em profissões como modo

Discernimento vocacional exigentes de vida

28 VIVER BEM 37 41

Alimentos funcionais: ESPIRITUALIDADE MUNDO LITÚRGICO
o segredo da prevenção e tratamento de doenças João Batista, O mistério
o profeta do
05 Atualidade altíssimo celebrado: fonte
16 Entrevista da vida pastoral
27 Economia Política
31 Catequese 42 ARQUIVO E MEMÓRIA
34 Caminhos da Bíblia
39 Flashes do Cotidiano Seminário Nossa Senhora da Penha,
44 Fazer Bem mais de 60 anos de história em favor
46 Aconteceu das vocações sacerdotais

15 AMAZÔNIA, QUAL O SEU FUTURO? “São José de Anchieta não pode
Lições de Francisco ser usado com fins ideológicos”.

21 RUA DE LAZER ASPAS 33
Sugestões

Arcebispo Metropolitano: Dom Dario Campos • Arcebispo Emérito: Dom Luiz Mancilha Vilela • Editora: Maria da Luz Fernandes / 3098–ES •
Repórter: Andressa Mian / 0987–ES • Conselho Editorial: Alessandro Gomes, Edebrande Cavalieri, Vander Silva, Milena Cabral • Colaboradores:
Pe. Andherson Franklin, Arlindo Vilaschi, Dauri Batisti, Giovanna Valfré, Fr. José Moacyr Cadenassi • Revisão de Texto: Yolanda Therezinha
Bruzamolin • Publicidade e Propaganda: [email protected] – (27) 3198-0850 • Fale com a Revista Vitória: [email protected]
• Diagramação: Paulo Arrivabene • Impressão: Gráfica e Editora GSA – (27) 3232-1266

ATUALIDADE

PESSOAS EM PROCESSOS
DE DEPRESSÃO E A FÉ

Escutar, acolher e amar são as palavras que
padre Genilson Dellapicola (Pe. Nite) afirma
serem necessárias para o atendimento re-
ligioso a pessoas depressivas. Ele conversou
sobre o atendimento religioso a essas pessoas.
Confira.

agosto 2019 05

ATUALIDADE

Sentimentos e expectativas de pessoas em estado depressivo

As pessoas chegam cotidia- tou triste”, “não estou conse- Em todos os casos é preci-
namente e trazem diversos ti- so muita sensibilidade, respei-
pos de problemas em busca de guindo mais fazer as minhas to e cuidado, principalmente
auxílio e ajuda e, muitas vezes, com o que se fala com a pessoa
esperam além daquilo que po- tarefas”, “acho que isso é de- nesse estado.
demos oferecer. A pessoa no es-
tado depressivo ou no estado de pressão”, “já procurei o médi- É preciso prudência e a pru-
carência psíquica ou emocional co” “fiquei desempregado e não dência é o cuidado com aquilo
muito grande, joga a sua con- estou conseguindo dar conta”, que a gente fala. A pessoa que
fiança, a solução dos seus pro- procura um padre, que está de-
blemas em alguém, ela está bus- “perdi alguém da família”. Po- primida, que está sofrendo al-
cando uma solução, ou em Deus, gum transtorno psicológico,
ou no padre, ou em quem quer rém, tem pessoas que confun- que já passou pelo psiquiatra
que seja. Ela chega com uma ou pelo hospital e foi medica-
carga de ansiedade enorme em dem. Dependendo do grupo da da, a pessoa nesse estado está
relação ao resultado que vai totalmente vulnerável do pon-
conseguir com aquele encontro, eclesialidade a que pertencem. to de vista afetivo, do ponto de
com aquele diálogo, com aquela vista sexual, do ponto de vista
ajuda. Então, é preciso ter muito Por exemplo, algumas pesso- emocional, psicológico, espiri-
cuidado ao acolher, sempre com tual, é a pessoa num estado de
amor, caridade e respeito. São as ligadas à linha da espiritua- extrema carência, então é pre-
situações muito delicadas, a in- ciso, nesse momento, todo cui-
timidade do ser humano é algo lidade carismática, confundem dado do mundo, cuidado com o
sagrado e a gente tem que pisar que se diz, o cuidado com a ex-
nesse terreno, tirando a sandá- problemas emocionais, afeti- pressão facial e até corporal, a
lia e com muito cuidado na es- maneira como a gente acolhe,
cuta, e principalmente naquilo vos, psíquicos, sexuais, com como a gente escuta, e, princi-
que orientamos. questões religiosas. Acham que palmente, cuidado ao dar su-
é por falta de fé, por falta de gestões. É muito difícil saber o
Geralmente a pessoa sabe força de vontade, de determi- que é melhor para a pessoa. A
que sua situação não é um pro- nação ou porque Deus não es- mente da pessoa é um misté-
blema relacionado à fé, mas tá ouvindo as suas preces, de- rio, a nossa própria mente, para
procura por meio da fé a supe- vido a um tipo de pregação que nós mesmo, é um mistério. Nós
ração, é essa a motivação que a ouvem, porque a abordagem não nos conhecemos na nos-
leva a procurar o padre. Qua- sa complexidade. É sempre me-
se sempre chegam dizendo, que se faz nesses encontros sob lhor nesses casos, ouvir mais
“eu estou deprimida”, “eu es- certas questões psicológicas, do que falar.
atribuindo-as, ou ligando-as a
06 agosto 2019 questões de fé, muitas vezes,
não são corretas.

A gente, no
discernimento, na
escuta e no diálogo vai
ajudando a pessoa a
entender que aquilo

é um problema
emocional, psíquico,
que às vezes demanda

um tratamento
psiquiátrico, um
acompanhamento
psicológico, unido
e integrado ao
processo de fé.

ATUALIDADE

O papel da religião tá-la espiritualmente, como da pela mãe. Eu ouvi, acolhi e
ela não falava o que era, ela só
Os campos da fé e da ciên- irmão da fé, mas devo aconse- chorava. Depois de alguns en-
cia são separados e, por isso,
têm que ser tratados separada- lhar a que procure um trata- contros, ela continuou me pro-
mente, se a pessoa tem um pro-
blema psíquico, ela tem que tra- mento médico, e depois acom- curando. Um caso de violência
balhar com um profissional da
área, com médico ou com psi- panhá-la na parte espiritual, sexual contra mulher ou ho-
cológico e associar a esse tra- ajudando-a com a oração, su- mem, ainda quando criança,
tamento a fé, a fé atinge todas gerindo passos a serem feitos, não se apaga da memória, não
as dimensões do ser humano, a tem como apagar, a pessoa leva
pessoa que crê, que tem fé, não no nível de espiritualidade que
consegue fazer nada sem que aquilo para o resto da vida e às
a fé a acompanhe em todas as possam agregar ao tratamen-
dimensões, também nessa di- to médico, psicológico e ajudá- vezes, passa uma vida toda sem
mensão do sofrimento emocio- -la a superar o momento. Mas,
nal e psíquico. A fé ajuda, mas nós não podemos tratar ques- superar. Essa pessoa, em espe-
nós, como padres, não pode- tões médicas e psíquicas, com
mos, querer resolver sozinho o fórmulas de fé somente, isso é cial, ia tentar namorar, como
que não é de nossa competên- algo insensato e irresponsável todas as moças, mas depois não
cia. Se a pessoa tem um pro- conseguia, ia bem até quando
blema psíquico, eu posso orien- e pode ser até criminoso. não começasse uma intimida-
de. Ela conseguiu superar coi-
Teve um caso de uma pes-
sas que eu não imaginava ja-
soa que havia sido abusada se-
mais, pelo tamanho do drama
xualmente por um parente du-
rante um tempo. Ela ficou com que ela viveu. Tem coisas que
trauma e me procurou força-
a gente não consegue explicar

ATUALIDADE

e eu atribuo isso a Deus, à for- junto de coisas que a gente vai dimento de confissão, da escu-
ça que tem a fé, para nos aju- aprendendo ao longo do tem- ta, do aconselhamento, é mui-
dar a superar situações que às po. Nessas ocasiões eu faço a to exigente, mas muito bonito
vezes nem com um terapeuta seguinte pergunta “O que Jesus também, e muito sagrado. É um
falaria para essa pessoa”? Sem- sacramento lindo pelo qual
se consegue superar. As vezes pre, somos guiados pelos va- Deus age e a gente se deixa con-
lores que a gente tem, mas na- duzir por Ele.
em conversas com o padre, que quele momento de escuta, eu
não é psicólogo, mas em quem me pergunto sempre, o que Je- Outro elemento que preci-
a pessoa deposita confiança sus faria... é um delineador que samos levar em conta é que a
e por estar ligado à religião, à vai apontando para gente o ca- pessoa em estado de depressão
minho, conduzindo a relação, sente-se culpada. A culpa per-
fé, a Deus, a pessoa obtém êxi- como é que Jesus agiria... En- passa toda a nossa vida e mes-
tão, eu me coloco em uma atitu- mo quando a pessoa é vítima,
to. A fé abre portas, e nesse ca- de de caridade, de amor, de es- quase sempre ela procura al-
cuta e isso geralmente facilita guma razão para se sentir cul-
so tem um poder muito grande muito. Eu gosto muito do aten- pada. Ou culpada porque não
reagiu, ou culpada porque não
de ajudar. falou, ou culpada porque acha
que provocou aquilo, princi-
Por isso, temos que estar palmente no campo da sexua-
lidade, as pessoas quase sem-
serenos, numa uma atitude de pre pensam ter alguma culpa.
oração, escuta e isso estimula Também em relação ao relacio-
a pessoa a falar. Mas é um con- namento pais e filhos a sempre
um sentimento de culpa da par-
te dos pais ou dos filhos. O nos-
so papel é ajudar a pessoa a se
perdoar, a não julgar o passado
com a consciência que tem hoje,
com idades diferentes, tempos
diferentes. Para ser pecado tem
que ter algumas característica:
A pessoa tem que ter consciên-
cia que é errado, poder não er-
rar, conhecer as consequências
do erro, ter consciência das
consequências do erro, e, en-
tão, pode-se dizer que é pecado.
A maioria dos casos nem peca-
do é, mas a pessoa está se cul-
pando, às vezes, uma vida toda
por isso.

08 agosto 2019

Causas que levam à depressão

O número de casos de pes- tarefas, na classe média, os pais não sabem dizer não, não sa-
põem as crianças na escola, de-
soas com depressão aumentou pois é aula de judô, de dança, bem o que fazer em uma rela-
de música, de inglês... A crian- ção de conflito com o filho, por-
muito. No início do meu minis- ça não tem tempo para brincar. que tudo é permitido. Existem
Existe uma sobrecarga de tare-
tério eram casos isolados, pro- tantas modas, tendências e ma-
fas, de expectativas, de cobran-
blemas de família. Mas hoje ças e isso é estressante para o neiras de viver, que as pessoas já
adolescente para a criança e
aumentou muito e, o pior, au- causa muito mal. perderam as referências e sim-

mentou muito entre jovens, Há uma confusão de valo- plesmente não sabem mais o que
adolescentes e crianças. Na mi- fazer, nem com a própria vida e
nha antiga paróquia, que dei- res, hoje. Há poucos anos, algu- menos ainda os pais com os fi-
xei recentemente, tinha várias lhos. Tudo é permitido, tudo é
crianças e adolescentes com mas décadas atrás, a sociedade
problemas graves, emocionais, tinha suas dificuldades, porém possível, tudo é legal. Falta cla-
normalmente as pessoas sa-
de relacionamento, casos gra- biam a direção a seguir, os pais reza para fazer as escolhas cor-
geralmente sabiam como edu-
víssimos de isolamento, de so- retas, os passos melhores a dar
car, discernir o que era correto em cada situação. Vivemos uma
lidão, por conta da questão para educar os filhos e hoje to- confusão ideológica, uma con-
dos os valores foram jogados no fusão de valores e isso prejudi-
familiar, da família desagrega-
chão, os pais permitindo edu- ca muito.
da, desestruturadas, por con- car os filhos de qualquer manei-
ta de problemas físicos, às ve- ra, os pais já não sabem o que Acredito que a maior cau-
zes o bullying. A não aceitação
no meio de convivência, por que é melhor e o que que não é, sa para a depressão é a falta
uma série de razões tem torna-
do muitas crianças sofredoras, não conseguem colocar limites, de referências, de convivência
com problemas de depressão e
social, de valores na socieda-
ansiedade. Por conta do ritmo
de, essa é a maior causa de de-
da vida atual, ou por excesso de sorientação das pessoas, tanto
crianças, quanto adultos.

O que fazer? bons, isso é fundamental. Quem a escolha que a gente fez é uma
tem uma família estruturada, na escolha boa, tem bons valores,
É preciso priorizar a famí- qual se sente amado e acolhi- inspirados pela fé, pelos valo-
lia, porque hoje, as pessoas são do, por mais diferença ou difi- res sociais, pela democracia, pe-
tomadas por excesso de indi- culdade que tenha, tem capaci- lo respeito ao próximo, pela jus-
vidualismo. Às vezes na famí- dade de superar os problemas tiça, pela ética, pela moralidade,
lia, o pai ou mãe, cada um está com muito mais facilidade que quando você tem essa seguran-
pensando no seu projeto pes- o outro que não tem. Acredito ça, sabe qual o caminho e a me-
soal, em fazer uma especializa- que é preciso investir na famí- ta fica mais fácil.
ção, em cuidar do seu negócio, lia e tentar, junto à família, fazer
cada um pensando em si, mas as escolhas, traçar os valores, o O problema hoje é que as
convivendo juntos. Valorizar a tipo de pessoa que queremos pessoas não conseguem ter cla-
família em que sentido? Estar ser, que tipo de valores quere- reza sobre isso, às vezes nem
junto, momento de escuta, de mos. Quando a gente sabe que individualmente, nem no âmbi-
valorizar, de educar com qua- to familiar.
lidade de vida, com momentos
Pe. Genilson Dellapicola

Pároco na Sagrada Família,
Praia do Morro, Guarapari



REPORTAGEM

PESSOAS FELIZES

EM PROFISSÕES EXIGENTES

Certamente você já ouviu ou já disse “essa pessoa não tem vocação para o que
faz” ou “essa pessoa tem vocação”. O que significa isso? Podemos definir
que são duas dimensões: a vocação humana, relacionada a uma profissão
para a qual a pessoa tem capacidades físicas, técnicas e/ou intelectuais e lhe dá
um retorno, e, a vocação divina na qual a pessoa se entrega por um amor desin-
teressado e gratuito.

Independentemente dos resultados Esta pode ser uma maneira simplificada
ou do desfecho do tratamento, ou simplista de entender as duas dimensões
se eu me dedico inteiramente, da vocação. Mas, na prática, conversando com
sinto-me realizado e feliz. pessoas de profissões diversas, percebe-se que
muitos profissionais entendem a sua profissão
Dr. Tiago Bissoli como uma vocação divina ou a exercem com
Médico socorrista do SAMU uma intenção e convicção espiritual.

A Revista Vitória procurou pessoas que
exercem profissões, aparentemente difíceis
e desafiadoras, e se sentem felizes. Constatou
também quanto as duas dimensões (vocação
humana e divina) se entrelaçam. Imagine um

médico socorrista, também professor, em sa-

la de aula, tomar conhecimento que uma aluna

grávida acaba de falecer. O que fazer? O médi-

co não hesitou, constatou a morte da mãe e ar-

riscou-se na tarefa de salvar o bebé. “Foi Deus

quem fez o parto”, diz o Dr. Tiago Bissoli, o mé-

dico socorrista do Samú, protagonista dessa

experiência que lembra esse momento como o
mais marcante em sua profissão.

Para Dr. Tiago a definição para sua profis-
são é: “uma cachaça! Gosto muito”. Quando per-

guntamos como enfrenta uma agenda sem pau-

ta, sem previsão, sem planejamento respondeu

que procura se atualizar e estudar diariamente

para estar preparado para o que surgir.

agosto 2019 11

REPORTAGEM

Floriza Ribeiro de Souza, Servir e ver o outro feliz, é o Gosto e dom é também o
trabalha em serviços gerais na que eu gosto. Eu ouço muito que Célia Cabral da Silva consi-
Mitra Arquidiocesana de Vitó- dera em sua profissão. Para ela
ria. Cuida da limpeza, faz café e que sou boba por querer que fabrica e vende pão caseiro
garante que sua profissão não é agradar, mas eu não acho
difícil. Ela chega antes dos de- isso, eu tento fazer o ambiente em sua residência “fazer pão é
mais funcionários, prepara o dom e vocação. É muito bom ver
café e começa a limpar as sa- ficar mais agradável. o produto que você fez pronto,
las. A recompensa vem do sor-
Floriza Ribeiro de Souza mas é muito bom ver a alegria e
riso, do acolhimento que outros Auxiliar de Serviços Gerais realização do outro ao receber
o pão que ele quer”. Célia optou
lhe prestam e, principalmente, mas eu não acho isso, eu ten- por priorizar o ser mãe, espo-
to fazer o ambiente ficar mais sa e filha, então por algumas
quando o outro manifesta estar agradável. Aprendi isso com a razões de saúde ou necessida-
minha primeira patroa. Eu che- des relacionadas a suas opções
feliz com o que ela faz. Agradar gava envergonhada, não olha- interrompeu sua fabricação de
va nos olhos das pessoas e fica- pães, mas sempre volta. “Sem-
o outro é o que ela faz com ale- va triste e ela me dizia que eu
estava ganhando meu dinheiro pre gostei de cozinhar e adap-
gria também. “Desde pequena com dignidade e que o que eu
fazia era necessário e os outros tei meu horário para acompa-
eu aprendi a organizar a casa e precisavam. Eu fui aprendendo nhar meu filho, cuidar dos pais
e hoje faço tudo na maior ale- e atender o cliente às 15h”.
cozinhar, então para mim é fá- gria”. Mas ela também poderia
ser piloto de avião e com as ra- Tal como Célia, Jonas Fran-
cil, acho muito bom e gosto do zões para essa escolha, acentua cischini também faz pão, mas
que faço. O difícil às vezes é en- novamente sua preferência pe- ele trabalha em panificadora e
tender como a pessoa gostaria la organização e apresentação: não tem liberdade para escolher
que fizesse. Eu gosto quando “gosto do uniforme e da postu-
percebo que estou agradando. ra do piloto”. o horário. Para ele essa é a pior
Chegar aqui e você ficar feliz,
dizer ‘ah, a Flor chegou agora parte “a gente acaba perdendo
vai ficar tudo limpo’. Eu perce-
bo que a pessoa está feliz pe- a convivência familiar porque

lo sorriso. Eu tento perceber o precisa dormir cedo para le-

que a pessoa gosta, não posso vantar de madrugada”. Às vezes
Jonas sente sono e até cansaço,
entrar do mesmo jeito em to- mas quando espreita os primei-
das as salas”. Interrompi a em-
polgação e perguntei se ter que ros clientes segurando o pão
se adaptar ao jeito de cada um
ainda quente com carinho e um
a incomoda e ela respondeu:
sorriso no rosto, acaba o cansa-
“não, de forma alguma”, e con- ço. “Às vezes eu venho até à loja
só para ver a alegria dos clien-
tinuou dizendo que mesmo co- tes. É muito bom poder alegrar

zinhar não ser uma ativida- o dia das pessoas logo cedo, isso
de de serviços gerais, ela gosta
muito de cozinhar e, de vez em me faz sentir importante na vi-
da delas e fico até com vontade
quando, faz alguma coisa para de voltar no dia seguinte”.

ver a alegria das pessoas: “ser- E ficar longe de casa, dormir
na beira da estrada ou no ban-
vir e ver o outro feliz, é o que
eu gosto. Eu ouço muito que
sou boba por querer agradar,

12 agosto 2019

A gente acaba perdendo a que quando o cliente liga dizen- A imprensa fala que
convivência familiar porque do que a mercadoria já está em caminhoneiro é imprudente
falta ele percebe que se chegar
precisa dormir cedo para rápido vai ajudar muita gen- e dirige cansado, mas a
levantar de madrugada. te que precisa, “quando consi- gente pensa em quem está
go adiantar a chegada me sinto esperando e tem vontade de
Jonas Francischini quase um enviado para atender
Padeiro aquelas pessoas e isso me deixa chegar logo.
muito feliz”.
co do caminhão, é difícil? Não João Vieira
para João Vieira, ele diz que o Uma atitude interessante Caminhoneiro
caminhão e a estrada viraram que surgiu durante as conver-
seu lugar preferido e nada o im- sas com os profissionais foi a Sol ou chuva, pessoas sofrendo,
pede de sentir alegria em po- da alegria que vai além dos re- levantar cedo, limpar o que
der carregar alimentos para o sultados. O primeiro a falar so- outros sujam ou cozinhar
Norte do Espírito Santo e o Sul bre isso foi o dr. Tiago “inde- para os outros, entregar algo
da Bahia. “Não importa se es- pendentemente dos resultados indesejado ou no momento
tou com dor nas costas ou se o ou do desfecho do tratamento, inoportuno pode ser tarefa
trânsito está lento, fico o tem- se eu me dedico inteiramente, difícil, desconforto? Sim, mas
po todo pensando em quem es- sinto-me realizado e feliz. Cla- a dificuldade da tarefa não é
tá esperando a mercadoria e te- ro que quando o paciente rea- determinante para provocar
nho vontade de chegar logo. Às ge bem a um cuidado ou inter- tristeza ou alegria e menos
vezes a imprensa fica falando venção a alegria é maior, mas se ainda impedir alguém de se
que caminhoneiro é impruden- o paciente falecer e eu tiver fei-
te e dirige cansado, mas a gen- to tudo que podia também me sentir realizado ou feliz. Dom,
te pensa em quem está espe- sinto bem com meu trabalho”. vocação humana ou divina?
rando e tem vontade de chegar Juliana Takina que entrega jor- Classificações desnecessárias
logo”. A vontade de chegar não nais em semáforos de Vitória porque a vocação humana
pode permitir imprudências ou tem um sentimento bem seme- exercida com responsabilidade
justificar agir contra as leis de lhante quando afirma: “nem
trânsito ou mesmo ir além da sempre a pessoa quer receber o e respeito já carrega
capacidade física. A pressa po- jornal ou às vezes recebe, mas naturalmente a marca de
de trazer consequências graves nem agradece ou dá um sorri- Deus: servir na alegria.
e João sabe disso, mas ele diz so, mas mesmo assim eu sin-
to alegria por estar oferecen- Maria da Luz Fernandes
do a ela alguma coisa que pode
interessar. Quando o carro ar- Jornalista
ranca eu olho para o céu e con-
tinuo com a mesma disposição.
Às vezes até penso que a pessoa
pode estar preocupada com al-
guma coisa ou atrasada para o
trabalho, aí eu desculpo e pen-
so que cumpri a minha missão”.



LIÇÕES DE FRANCISCO

AMAZÔNIA, QUAL O SEU FUTURO?

Em outubro acontecerá o Sínodo da Amazônia que Desta forma, não nos é per-
objetiva buscar “novos caminhos para a Igreja e mitido ficar em silêncio ou in-
diferente diante desta situação
para uma economia integral” tendo como cená- que o Sínodo da Igreja deve-
rio esta região complexa, desafiadora e cobiçada pe- rá refletir. Conforme nos diz o
lo “comportamento predatório com o qual o homem se Papa: “O que está acontecen-
relaciona com a natureza” - chama-nos a atenção o Pa-
pa Francisco. E só para exemplificar essa cobiça, no pe- do na Amazônia terá repercus-
sões em nível planetário, mas
ríodo de junho de 2018 a junho de 2019, foram desma- já desiludiu milhares de ho-

tados 920 km quadrados da Amazônia. mens e mulheres que perderam
seus territórios, tornaram-se
O Papa Francisco apresen- residem no sul e sudeste do pa- estrangeiros na própria terra,
ís não parece ser isso. Nossos empobrecidos da própria cul-
tou seu Programa de Refor- meios de comunicação não di- tura e das próprias tradições”.
vulgam quase nada do que está
ma em três documentos funda- acontecendo na região amazô- O Papa é o grande timonei-
nica. Quanto menos falar, me- ro desta Barca chamada Igreja
mentais: Laudato Si, Evangelii lhor para a “mentalidade cega e e nele expressamos nossa fide-
destruidora que privilegia o lu- lidade e unidade. As canoas fu-
Gaudium e Amoris Laetitia. É cro sobre a justiça”.
radas andam aos montes por
na Encíclica Laudato Si, toda ela Tem-se falado muito da
escrita de próprio punho, que o questão ética no mundo atual. aí, como nos diz o Arcebispo
Papa mostra que a destruição Para o Papa Francisco, a crise de Vitória, Dom Dario Campos.
da natureza equivale à destrui- ética por que passa a humani- Diante da realidade da Amazô-
ção do homem. Não haverá pro- dade somente será resolvida na
teção do homem sem a respec- medida em que se integre es- nia não podemos nos distrair
tiva proteção ambiental. A essa ses três fundamentos de nos- com discussões ideológicas e
forma de entender a “nossa ca- sa casa comum: Deus, Homem e alimentadoras da destruição
Mundo. E nos alerta seriamen- desta nossa casa comum - Pla-
sa comum” ele dá o nome de te: “não se pode permanecer
Ecologia Integral. Então, não há na condição de espectador in- neta Amazônia. Assim a região
como separar a justiça social da diferente diante dessa destrui- foi denominada no fórum de es-
ecologia; ambas estão profun- ção e nem a Igreja deve ficar em tudo que aconteceu na Itália re-
silêncio”. centemente. E nós, brasileiros,
damente interconectadas. como estamos nos comprome-
O caminho da salvação não
O Papa de maneira insis- se reduz à frequência aos cul- tendo com o futuro deste Pla-
tos religiosos.
tente está chamando os cris- neta também chamado de pul-
tãos para olharem as questões
que o Sínodo irá refletir. Recen- mão do mundo?
temente disse que “a situação
da Amazônia e dos povos da re- Edebrande Cavalieri

gião é grave e não mais susten- Doutor em Ciências da Religião

tável”. Para os brasileiros que

agosto 2019 15

ENTREVISTA

LEMBRANÇAS DA MISSÃO EM LÁBREA

APrelazia de Lábrea foi assumida pela Arquidiocese rio sobe e leva a casa, por is-
de Vitória como Igreja-Irmã, um projeto lançado so que ela chama flutuante. E
pela CNBB, Conferência Nacional dos Bispos do ali, eu já vi história de crianças
Brasil em 1972. No mês de agosto fazemos uma campanha que morreram afogadas, por-
que a mãe não prestou atenção
em prol de Lábrea, mas a Arquidiocese também se faz e criança caiu no rio, pessoas
epiléticas que morreram afoga-
presente enviando missionários durante alguns períodos das também.
ou em projetos específicos de curta duração. O seminarista
Ricardo Petroni Smiderle Passamani esteve lá quando Então é um tipo de vida bem so-
cursava Filosofia e conversou com a Revista Vitória. frida que essas comunidades ri-
beirinhas têm lá.
O que você lembra da sua ex- Fale-nos de um desses detalhes.
periência em Lábrea, o que es- Além dessa condição física, de
tá mais forte em você dessa O que mais me marcou foi ver falta de estrutura, de casa que
experiência? as pessoas morando nas casas não está assentada, quais são
flutuantes, isso aí é realmente os desejos daquelas pessoas, o
Na verdade, eu lembro de bas- uma coisa diferente que a gen- que elas anseiam?
tante coisa, foram dias mui- te não tem aqui. Na verdade, é
to marcantes, então, quando a uma coisa sofrida, o rio sobe e Na verdade, eu não posso dizer
experiência é marcante a gen- desce em uma velocidade mui- isso certamente, porque não
te dificilmente esquece, lembra to grande, então as casas acom- vou fazer uma leitura psicoló-
até os detalhes. panham a subida da maré, o gica das pessoas daquele lugar,
mas eu vi pessoas que recla-
mam menos do que aquelas que
eu conheço aqui em Vitória. En-
tão eu posso dizer que aqui os
anseios são mais explícitos do
que lá. Claro que eles têm de-
sejos lá também, expectativas,
mas não externam muito isso
não, é uma população resigna-
da, feliz, sem muitas demandas.

Ver pessoas com quase nada
e felizes, lembrar que aqui as
pessoas nunca parecem feli-
zes com o que têm, o que isso

16 agosto 2019

te diz para sua caminhada pa- Tem a força dos vínculos entre Se um dia Lábrea tivesse
ra o sacerdócio? as pessoas e as comunidades. tudo financeiramente, ela

Isso me diz muita coisa, mas Você me falou que quando foi também encontraria os
na verdade aquela população, lá ainda estudava filosofia, mesmos problemas que
é uma população que convive hoje está terminando a teolo- nós temos aqui hoje e não
com a família o tempo inteiro, gia. A realidade que você viu bastaria para ela. Lábrea
não há dispersões. Como não lá com relação à constituição precisa não só de ajuda
tem muita televisão, até tem, da família te leva a questio- financeira, Lábrea precisa
mas a energia é difícil, então nar os seus estudos?
são poucos recursos que pos- de Jesus Cristo.
sam dispersar na vida e eu acho Não me leva a muitos questio-
que existe um contato mais for- namentos, não. Eu acho que es- narista. Um exemplo simples,
te, de pessoa a pessoa, o rela- sas famílias com uma vida cris- muitas pessoas tinham mui-
cionamento mais próximo, isso tã mais forte, a frequência dos ta dor de coluna, é o que todo
favorece uma vida mais feliz. sacramentos, esses vínculos só mundo questiona e todo mun-
E aqui não. Nós temos uma fa- teriam a ganhar, não vejo que a do reclama. Então naquele dia
mília reunida em uma sala, por chegada dos sacramentos seria que eu fui, elas tinham anti-in-
exemplo, vendo televisão, todos prejudicial para essa realidade, flamatório, mas nos outros dias
estão se relacionando com a te- por exemplo, ou estranha para do ano elas não têm. Qual é re-
levisão, mas não se relacionan- eles. Na verdade, se o sacramen- almente a eficácia da medicina
do entre si. Eu acho que a força to, se a vida da Igreja tivesse cientifica numa realidade como
dos vínculos entre as pessoas é mais presente naquelas comu- essa? É de se questionar, eu fi-
mais forte lá e o padre poderia nidades, elas seriam ainda mais quei avaliando se o meu traba-
ser uma pessoa para ajudar a exemplares. É o que eu penso. lho naquele momento estava
construir vínculos mais fortes sendo benéfico para a comuni-
entre as pessoas, também aqui Você é médico formado. Seu dade ou se estava criando uma
na cidade. “lado” médico apareceu nessa expectativa que antes eles não
experiência? tinham e passariam a ter e re-
Você acha que as famílias lá clamar da falta de anti-inflama-
são mais fortalecidas? Como é Na realidade eu até fui parti- tório. Por outro lado, houve si-
a estrutura familiar? cipar como médico lá no bar- tuações de pessoas que tinham
co hospital, e estavam comi- problemas cardíacos e que não
A estrutura familiar lá é um pou- go dois seminaristas, que hoje tratavam e que passaram a tra-
co prejudicada porque também já são padres, que são o Padre tar dali pra frente. Se for uma
a vida sacramental lá é defi- Evandro e o Padre Ronaldo, doença crônica, que tem que ter
ciente, e como o padre só visi- mas eu mesmo estava no con- um acompanhamento, elas vão
ta essas comunidades raramen- sultório atendendo, então pra
te, muitas pessoas são juntadas, mim, na verdade, me levou até
não são casadas, outras nem mais questionamentos pelo la-
chegam a casar ou morar junto. do médico do que como semi-

agosto 2019 17

ENTREVISTA

Ricardo e a mãe Cristiane estranhei aquilo porque espe- Como é a acolhida das pessoas,
rava encontrar mais presença aos médicos e os missionários?
até à cidade. Então, para es- dessa medicina natural.
se grupo pequeno de pessoas, É uma acolhida muito boni-
houve benefício. A própria po- Agora, essas comunidades que ta e a beleza dessa acolhida fi-
pulação em geral, eu acho que nós visitamos são pessoas que ca mais visível na saída. Depois
questionava ali a eficácia disso. vieram do Ceará em geral, no de ter passado o dia inteiro
tempo do ciclo da borracha e com a comunidade e ter atendi-
Os ribeirinhos têm um jeito se instalaram ali. Não são indí- do todo mundo, porque mesmo
diferente de cuidar da saú- genas. Então a cultura indígena quem não está doente quer ser
de com remédios naturais e provavelmente é diferente. atendido e termos celebrado a
crenças que também ajuda, missa, todos se juntam na bei-
isso te assustou? Morando em casas flutuantes ra da praia para ver o barco ir
como eles buscam comida? e as crianças choram, de escor-
Na verdade, vou dizer uma coisa rer lágrimas, e apesar de sofri-
que vocês vão se surpreender, o O movimento da maré, atrapa- do é bonito porque é um afeto
que me assustou foi a falta dis- lha o cultivo, então, não existe muito candente.
so, porque eu trabalhei aqui em muito o costume de ter hortas;
Itaúnas no Espírito Santo e aqui atrapalha a criação de ani- Você tinha vontade de fazer o
tem muito costume do pessoal mal domésticos, galinha, essas que por esse povo?
fazer remédio caseiro, chá, mas coisas.
lá não. Eu perguntava, como é Eu sou uma pessoa que tem di-
que você faz quando aqui não A alimentação lá é à base de ficuldade de ter uma visão da
tem remédio? – “Não faço nada, peixe e farinha. Você não en- coletividade. É uma dificuldade
não” eles respondiam. Mas não contra famílias que comam ou- minha, eu geralmente enxergo
tem um chá de alguma coisa? – tras coisas. mais a necessidade da pessoa,
“Não conheço esse chá, não”. Eu do individuo. Então das coisas
que eu me lembro de Lábrea,
foram pessoas que eu que-
ria, se eu pudesse, trazer co-
migo para tratar aqui, vítimas
de queimaduras, por exemplo,
que lá nunca vai ter o recurso
para melhorar, aquele aspec-
to prejudicado pela queimadu-
ra. Eu vi até mesmo uma moça
com raquitismo, deformidades
do raquitismo, má alimentação
na infância e coisas que aqui a
gente não vê. Então a vontade
que eu tinha era trazer essas
pessoas comigo. Quando eu vol-

18 agosto 2019

ENTREVISTA

tei, a gente pernoitou em Porto muito deficiente. Precisamos da não bastaria para ela. Lábrea
Velho e por acaso tinha lá nessa colaboração de vocês para que precisa não só de ajuda finan-
casa um Bispo Emérito de Gipa- os sacramentos possam chegar ceira, Lábrea precisa de Jesus
raná e esse Bispo entregou um a essas pessoas. A maioria das Cristo.
livro de um dos primeiros mis- comunidades não tem sacrário,
sionários de Lábrea. não tem ministro da comunhão. Como é o lazer nas comuni-
As pessoas recebem a Eucaris- dades ribeirinhas? Existe ou
Folheando o livro, vi uma his- tia uma vez no ano, se falta ga- não existe?
tória que naquele tempo os pa- solina para esse barco, elas vão
dres levavam pessoas das co- ficar sem receber até mais tem- Existe. Cada comunidade tem
munidades, que eles julgavam po, então é importante a contri- um campinho de futebol, ruim,
mais necessitadas, e formava, buição, porque a manutenção com muita lama mesmo, mas
por exemplo um professor para desse sistema eu sei que é mui- tem. É um jeito diferente, mas
entregar depois à comunidade, to cara. eu joguei bola lá com eles, na-
formava algumas crianças, tec- quela época era copa do mundo
nicamente, algumas coisas que Você acha que Lábrea precisa de 2014 e botaram o meu apeli-
fosse beneficiar a comunida- mais de religião ou ajuda fi- do de Neuer, que é o goleiro da
de, era o próprio padre que as nanceira e humana? Alemanha e imagina eu sou até
preparava. Isso me deu muita pequeno, mas perto deles eu
vontade de fazer se fosse pos- Eu acho que Lábrea precisa era grande.
sível. Sei que a Igreja hoje tem mais de religião do que de ajuda
mais dificuldade, que você car- financeira e humana. Claro que Além do futebol tem outras
rega uma pessoa, ainda mais essa ajuda financeira e humana iniciativas recreativas?
se for criança, logo pode sur- entra também dentro da missão
gir suspeita, outros problemas. religiosa, que a religião se in- Eu acho que a recreação deles
Eram outras épocas. Mas eu ve- teressa pelo progresso dos po- é mais ligada à natureza mes-
jo mais dessa maneira, eu acho bres, com certeza, e também o mo. Por exemplo, a pescaria, o
que deve ter alguma coisa a ser inverso, a religião necessita do banho de rio, coisas desse tipo.
feita a nível social, mas eu real- recurso para desempenhar as Também não tive uma experi-
mente não sou capaz de dar es- suas funções, mas eu creio que ência tão profunda com eles
sa resposta. a principal necessidade do po- para identificar outras formas
vo de Lábrea é Jesus Cristo na de lazer.
Nós vamos fazer a campa- Eucaristia e nos sacramentos,
nha de Lábrea agora no mês porque é isso que desenvolve a Tomou banho de rio?
de agosto, o que você diz para pessoa, é isso que é realmente a
sensibilizar as pessoas sobre necessidade de todos nós. Tomei, mas eu entrava e saía
essa realidade? porque eu tinha medo de jaca-
Se um dia Lábrea tivesse tudo ré. Eles falavam: “não tem jaca-
Você precisa contribuir com Lá- financeiramente, ela também ré aqui não”, mas na dúvida...
brea, o quanto puder, porque a encontraria os mesmos proble-
evangelização naquela região é mas que nós temos aqui hoje e Maria da Luz Fernandes

Jornalista

agosto 2019 19



SUGESTÕES

RUA DE LAZER

Ao invés de carros circulando, adultos e crian-
ças de Vitória transformam ruas em espaços
de lazer.

Já foi o tempo em que as As crianças maiores que já
andam de skate, patinete e bi-
ruas eram usadas apenas co- cicleta, dividem o espaço com
mo espaços para circulação a garotada menor em seus car-
de carros e outros veículos. Os ros de controle remoto, contro-
moradores de Vitória que o di- lados pelos responsáveis, ou
gam, pois aos domingos e feria- se divertem com brincadeiras
dos têm a opção de andar de bi- que, possivelmente, não teriam
cicleta, fazer exercícios físicos, espaço para as fazer em casa,
caminhar e até brincar com os em especial aquelas que mo-
filhos no meio da rua. ram em apartamentos, como é
o caso da maior parte dos mo-
A iniciativa da Prefeitura de radores das redondezas.
Vitória foi batizada como Rua
de Lazer e um dos locais esco- O Centro de Vitória tam-
bém ganhou um espaço para
lhidos para o projeto é a orla de os moradores se divertirem.
Camburi, na faixa que margeia Quem mora na região pode op-
o calçadão da praia, que aliás já tar pela avenida Beira-Mar, que
é ponto de encontro para mui- funciona nos mesmos moldes
da avenida Dante Micheline, em
ta gente. Camburi.

Além da ciclofaixa, que já Se você ainda não conhe-
ce o local ou se interessou pa-
funciona todos os domingos e ra saber mais sobre esse point
de lazer alternativo da nossa
feriados de 07h às 15h, a rua capital, dê uma passadinha lá
na praia de Camburi. Eu acho
Rua de Lazer “trouxe mais op- que você não vai se arrepen-
ção e liberdade para as famí- der. As vias ficam fechadas pa-
lias aproveitarem as belezas da ra o trânsito de veículos entre
ilha”, como afirmar a servido- 07h e 15h.
ra pública Edna Lima, que em-

purrando um carrinho de bebê,
onde estava o seu filho de on-
ze meses de idade, caminhava

acompanhada do marido e de

mais duas amigas.

Alessandro Gomes

Mestre em Ciências das Religiões

IDEIAS

O CINISMO COMO MODO DE VIDA

Eis que seguimos vivendo, mas afastados do que A maquina social é, portan-
somos. E o que somos? Somos uma realidade, to, produtora e promovedora
não uma idealização. Somos um mundo, não dessa vida em que nos vamos
uma abstração. Somos um corpo, não uma névoa. afastados de nós mesmos e da
A vida assim, real, vibrante, feita mais de confrontos realidade. A ilusão e a mentira
já não podem ser apenas anali-
e adversidades do que de facilidades e felicidades - o sadas como de responsabilida-
que nos desafia a cada momento - é a presença mais de do sujeito. Quase não é mais
imediata da verdade. uma questão de escolha ser ca-
paz de dar às coisas os nomes
Quase nunca suportamos percebamos isso. Ela em si mes- que elas têm. Quase não é mais
o que acontece. Quase nunca ma é desvalorizada em função uma questão de escolha ser ca-
damos às coisas os nomes que das idealizações que fazemos, paz de mentiras ou verdades.
elas têm. Buscamos mil for- donde surge um cultivo natura- Como nos é difícil reconhecer
mas para escapar do que se nos lizado da ilusão, da mentira. as mentiras que nos governam e
apresenta. Surgem as idealiza- das quais somos mantenedores,
ções e mentiras que nos conso- Este cultivo se dará dentre damos o passo seguinte: criar
larão. Mas, afastados da vida e outros modos, especialmente para elas uma roupagem de ver-
da realidade enfrentaremos sé- na contemporaneidade, pela dade. Tornamo-nos cínicos.
rias dificuldades, e perderemos expectativa de uma felicidade
a experiência da vida como ela que se embutiu como desejo no O cinismo contemporâneo
é, com suas contradições, am- coração de todos e que propõe se mostra, então, como o opos-
biguidades e fragilidades, mas a posse e o consumo das coi- to do que a antiga escola gre-
também com suas belezas e sas como maneiras de se obter ga propunha. Resumidamente o
forças. Que pena não termos a esse estado. Trocamos a vida kinismo propunha: 1. Atyphia.
coragem para ver a realidade, por coisas que queremos pos- Ter sempre os olhos e as men-
para nos darmos à vida, para suir. Criamos assim todo um tes desanuviados. Ver as coisas
que a reconheçamos como ver- jeito de existir em que acredi- nelas mesmas. 2. Autarkeia.
dade! O que a vida não é? Não tamos que viveremos, e vivere- Recorrer às próprias forças, en-
é mentira. Mesmo que a cubra- mos bem e felizes se nos apos- frentar com base nelas as ad-
mos de mentiras. sarmos das coisas. versidades. 3. Parrhesia. Ter a
coragem da verdade. Ser capaz
Essa maneira de viver im- Ou seja, mentimos para nós de dizer a verdade. Chamar as
plica por consequência em ne- mesmos ao colocarmos na ilu- coisas pelo seu nome.
gação da vida mesmo que não são da posse das coisas o des-
frute da vida. Contemporaneamente te-
22 agosto 2019 mos o seguinte como cinismo:

IDEIAS

1. Ter lentes para ver apenas o
que interessa. 2. Sentir-se me-
recedor sem esforço. Abomi-
nar as adversidades. Passar por
cima de tudo para ter uma vi-
da de facilidades. Não enfren-
tar as desventuras, e quando
elas vierem encontrar culpados.
3. Mentir de tal modo que a
mentira ganhe caras de ver-
dade. O absurdo é naturaliza-
do: negar a vida para afirmar a
mentira.

Mas se os tempos são difí-
ceis também eles, bem ou mal,
nos apelam para buscarmos ou-
tros modos de viver e que seja-
mos capazes de reconhecer a vi-
da como verdade.

Como diria
Michel Foucault
ela é a presença
imediata, brilhante,
selvagem da verdade.
De onde, então, surge
uma urgência: exercer a
vida, e por ela exercer o
escândalo da verdade.

Dauri Batisti

Padre, Psicólogo e
Mestre em Psicologia Institucional

agosto 2019 23

ESPECIAL

VOCAÇÃO SACERDOTAL E SEU AMADURECIMENTO

AVocação Sacerdotal nas- a vocação sacerdotal. Não será o ambiente de uma casa de fa-
ce, cresce e amadurece diferente o momento no qual se mília. A Casa de Formação de-
numa profunda relação ve favorecer um ambiente de li-
de amor entre Jesus Cristo, o dará seu coroamento: a Orde- berdade responsável para que
Bom Pastor, que chama, e aque- nação Sacerdotal. o aspirante ao sacerdócio pos-
sa desenvolver suas aptidões e
le que se sente amado e chama- Nas palavras de um bispo, dar a sua resposta de amor, li-
“a ordenação de um sacerdote vre e consciente, ao Senhor que
do: o jovem vocacionado. Trata- é um dos momentos de maior o chama a consagrar toda a sua
-se de uma relação misteriosa vida ao Reino de Deus, no servi-
de amor entre Deus e o homem, alegria na vida de um Bispo, de ço à Igreja.
seu Presbitério e de toda a Igre-
entre o divino e o humano. ja”. Acredito que estas mesmas Para o ambiente formati-
vo, as orientações de São Pau-
A vocação Sacerdotal, co- palavras podem brotar do co- lo aos Filipenses são oportu-
mo todas as vocações, nasce na ração de um pai e de uma mãe nas. E essas mesmas palavras
fonte batismal. A criatura en- no dia do batismo do filho. do Apóstolo também são recor-
volvida pelos braços e mãos hu- dadas na Exortação Apostólica
manos é acolhida pelos Braços Estão intimamente relacio- Pós-Sinodal, Sobre a Formação
e Mãos Divinos, mediante a fé nadas: a família, a fé, a Igreja dos Sacerdotes, “Pastores Dabo
da Igreja. É um chamado a ar- e a relação de amor. A vocação Vobis”, de São João Paulo II, no
riscar-se, a mergulhar no mis- deve crescer e ser alimentada capítulo sobre as Dimensões da
Formação. Trata-se de “um pro-
tério da Santíssima Trindade, neste ambiente de amor, de en- grama simples e empenhativo”
no Mistério da Igreja. trega e de celebração. Portan- para aqueles que se colocam na
to, o vocacionado encontra no escola de discípulos missioná-
A Trindade Santa e Indivisa rios: todos devem ocupar-se de
se abre para a criatura que traz ambiente familiar e no ambien- “tudo que é verdadeiro, nobre,
te de Comunidade de Fé (a Igre- justo, puro, amável, honrado,
em si as consequências do pe- ja e o Seminário) a terra fértil o que é virtude e digno de lou-
vor, é o que deveis ter no pensa-
cado herdado de seus primei- para discernir e amadurecer na mento” (Fl 4,8).
ros pais: Adão e Eva. Contudo,
pela insondável e misteriosa resposta ao chamado de Deus. Padre Jorge Campos Ramos
Misericórdia Divina esta mes-
ma criatura deseja retornar Os ambientes familiar e comu- Vigário Geral da Arquidiocese de Vitória
ao estado original de graça. É nitário, por mais conflitantes do Espírito Santo, Reitor do Seminário
nesse contexto profundamen- e desafiadores que sejam, são Arquidiocesano Nossa Senhora da Penha
os ambientes e os espaços mais
te relacional – de experiência adequados para nascer, crescer
e desenvolver uma vocação; es-
de amor humano e misté- pecialmente nos dias atuais.

rio de amor divino carrega- O ambiente formativo do
da de ternura, de oblação e de
graça – que nasce e amadurece Seminário busca reproduzir,
não obstante suas limitações,
24 agosto 2019

DISCERNIMENTO VOCACIONAL

Todo sacerdote da Igreja Aquele que se percebe minarística: pastoral-missioná-
é um vocacionado, isto chamado por Deus costuma ria, espiritual, comunitária, hu-
é, um convocado à uma buscar ajuda com alguém que mano-afetiva e intelectual.
missão especial, feita pela voz já vivenciou algo semelhante:
de Deus, que chama a cada um um padre. Busca abrir seu Transcorrido este período,
pelo próprio nome (cf. Is 43, 1). coração para compreender os ajudados pela equipe de padres
Assim, tal como cada pessoa verdadeiros sinais de Deus. formadores, o jovem poderá ser
possui um nome diferente, Ele acolhido no Seminário, em que
chama a cada um de maneira sas, para atrair-nos a Ele. Nesse durante sete anos aprimorará a
particular, por meio de sinais sentido, um acompanhamento vivência das dimensões citadas
delicados como de um Pai. da vida e participação na co- acima e buscará, com auxílio de
munidade pode ser um meio Deus e da Igreja, dar um segu-
Porém, nem sempre é pos- para relembrar esses momen- ro “Eis-me aqui”, como Samuel.
sível discernir com clareza a tos de encontro com Deus. Uma
vontade de Deus, afinal, os si- verdadeira tomada de consci- Findado o período de for-
nais podem ser tão sutis, que ência sobre o caminho eclesial mação, a Igreja de Cristo é quem
precisamos de auxílio de pes- vivido e quais os projetos de terá o grave dever de confirmar
soas mais experientes. Assim Deus desejamos assumir como o chamado de Deus, conceden-
aconteceu com Samuel quan- também nossos. do- não como honraria, mas co-
do, ainda jovem, foi chamado mo dom de Deus-, os graus do
por Deus. Por três vezes, Deus Após esse momento, busca- sacramento da ordem (diaco-
chamou-o, mas foi somente por -se então, por meio dos servi- nato e presbiterado). Contu-
orientação de Eli que pôde res- ços vocacionais da Igreja, o pro- do, mesmo após receber a gra-
ponder de maneira adequada: cesso de amadurecimento da fé ça da ordenação presbiteral, o
“Fala, Senhor, que teu servo es- e das motivações vocacionais sacerdote continuará um voca-
cuta” (cf. 1 Sm 3, 1-10). que se dão em encontros peri- cionado de Deus que, tal como
ódicos feitos, ao menos, duran- num matrimônio, deverá dizer
Aquele que se percebe cha- te um ano para que, em caso de seu “sim de cada dia”, manten-
mado por Deus costuma, como admissão nesse processo, o jo- do sempre essa relação amoro-
o jovem Samuel, buscar ajuda vem ingresse no Propedêutico, sa com esse Deus que nos cha-
com alguém que, certamen- período inicial em que se deseja ma e diz: “...és precioso a meus
te, já vivenciou algo semelhan- a inserção e um aprofundamen- olhos, porque eu te aprecio e te
te: um padre. Busca, pois, abrir to e de desprendimento pasto- amo...” (Is. 43, 4).
seu coração para compreender ral, numa dinâmica preliminar
e esclarecer os verdadeiros si- das dimensões da formação se- Jonatan Rocha do Nascimento
nais de Deus, que se utiliza de
acontecimentos, pessoas e coi- Seminarista do 1º ano de Teologia

agosto 2019 25



ECONOMIA POLÍTICA

TECENDO O REEXISTIR

Os humanos no século XXI bre armas atômicas; as inicia- reanima com movimentos de
ainda vivem sob três adolescentes que têm privilé-
ameaças herdadas dos tivas de envolver empresas em gios econômicos, sociais e cultu-
últimos 50 anos do milênio an- rais mas que os rejeitam porque
terior. Cinquenta anos de am- programas de responsabilida- sabem de sua inutilidade diante
pliação destruidora que a ativi- de social e ambiental; os fóruns da iminência do colapso climáti-
dade humana impõe aos demais mundiais de direitos humanos, co e de confrontos atômicos.
seres viventes e que coloca em
risco a vida de boa parte de sua dentre tantas outras, contribu- Adolescentes que entendem
própria espécie. que o exercício da individuali-
íram pouco para a reversão de dade só é possível em relações
São elas: a. O poder destrui- sociais, econômicas e políticas
dor da corrida armamentista riscos apontados por estudos que respeitem todos os seres vi-
atômica desde o final da II Guer- ventes. Adolescentes, principal-
ra Mundial. b. A saga irrespon- elaborados por cientistas mun- mente de países avançados eco-
sável para com a sustentabilida- nomicamente, que reconhecem
de ambiental e social promovida do afora. o poder destruidor do individu-
pela produção globalizada em alismo a eles imposto por adul-
busca do lucro imediato a qual- Apesar do mérito de todas tos governantes, empresários,
quer custo. E c. a ideologia ne- essas iniciativas, a situação de- mídia e educadores apologistas
oliberal que busca legitimar e plorável como migrantes; o des- do deus mercado financeiro.
valorizar em humanos, compor-
tamento ético e moral como se respeito recorrente de direitos Adolescentes - em grande
empresas fossem. número de cabelos lisos e olhos
de nativos, negros, mulheres, claros - que se somam à resis-
Diante do poder do capital LGBTs, crianças e idosos; a imi- tência milenar de nativos da
improdutivo que se amplia a ca- nência de guerras atômicas; os maioria das etnias espalhadas
da dia e que se legitima através mundo afora. A combinação de
da mídia e da academia, apoia- crimes ambientais cometidos resistentes históricos com jo-
doras acríticas dos interesses vens que se recusam a aceitar
do mercado financeiro, pouco por empresas com a conivência confortos baseados na produ-
pode surpreender a pouca efeti- ção insustentável de riquezas,
vidade das tentativas institucio- de governos, dentre tantos ou- pode ser a fibra, a partir da qual,
nais até agora feitas. tros, só se aceleraram nos últi- surja um outro possível mundo.
mos anos.
Tentativas como as confe- Arlindo Villaschi
rências sobre o meio ambiente As tentativas de resistên-
e sobre o clima; os acordos so- Professor de Economia
cia pelos que veem no respei- [email protected]

to a todos os seres viventes o agosto 2019

símbolo maior de humanidade
têm sido insuficientes para se
manter a esperança em um fu-
turo melhor. Esperança a que
tem direito quem se indigna
contra injustiças sociais e cri-
mes ambientais. Esperança de-
vida a quem se colocam ao lado

de excluídos sociais, políticos e
econômicos. Esperança que se

27

VIVER BEM

ALIMENTOS FUNCIONAIS:

O SEGREDO DA PREVENÇÃO
E TRATAMENTO DE DOENÇAS

“Que seu alimento seja o teu remédio
e teu remédio seja o teu alimento”

Hipócrates

Já dizia Hipócrates, no século V a.C., “que seu Sendo assim, esses alimen-
alimento seja o teu remédio e teu remédio tos e ingredientes são definidos
seja o teu alimento”. Considerado o pai da como capazes de proporcionar
benefícios além dos nutrien-
medicina da época, praticara cuidados em saú- tes tradicionais que eles con-
de com importância relevante na história.
têm. Ou seja, além de nutrir,
De fato, ao longo dos anos algo que era su-
bliminar passou a ter comprovação cientifica. podem reduzir o risco de ocor-
rência de doenças, aumentar o
Os estudos foram evoluindo e a baixa incidên- bem-estar e a saúde, aumen-
cia de doenças em algumas populações cha-
mou atenção dos cientistas para estudarem e tar a qualidade de vida, o de-
assim fazerem associações da dieta com ausên- sempenho físico, psicológico e
cia de doenças. comportamental.

Por exemplo, o índice de doenças cardio- O governo japonês foi o pri-
vasculares em esquimós e franceses é baixo,
meiro a incentivar essa linha
assim como câncer de mama em orientais. Es-
sa conexão foi elucidada conhecendo a ação do de pesquisa porque tinha inte-
ômega 3 dos peixes, resveratrol do vinho e fito-
estrógenos da soja. Por conta disso, descobriu- resse de desenvolver alimen-
tos para uma população que
-se que os alimentos além de nutrir têm a fun- envelhecia e apresentava uma
ção de atuarem preventivamente.
grande expectativa de vida. As-

sim surgiram os alimentos fun-

28 agosto 2019

cionais, os quais fazem parte lulas contra os radicais livres. lácteos fermentados eram utili-
de uma nova concepção de ali- Níveis sanguíneos altos desses zados na época em pessoas com
mentos lançados inicialmente compostos são associados com gastroenterite. Hoje as pes-
pelo Japão na década de 80. menor risco de infarto do mio- quisas estão muito avançadas
cárdio, incidência de diabetes, comprovando ação preventiva
Aqui no Brasil o primeiro hipertensão e doença degene- em uma série de doenças como
rativa macular do olho. diabetes, alergias, doenças au-
alimento funcional categoriza- to-imunes, doenças cardiovas-
do pela ANVISA foi a aveia, em Os fitoesteróis são outra culares, aterosclerose, Alzhei-
1999. A aveia tem propriedades classe de compostos encontra- mer, hipertensão, síndrome
funcionais atuando na redução dos em plantas e que têm um metabólica, depressão e câncer.
dos níveis de colesterol e glice- efeito maravilhoso na redução
do colesterol sanguíneo. Es- Todos esses fatos são com-
mia, sendo excelente alimento ses compostos são adicionados provados por uma série de es-
intencionalmente pela indús- tudos e pesquisas bem conduzi-
para pessoas acometidas por tria em alguns alimentos, por das. Entretanto não pense que
exemplo, em algumas margari- se trata de um milagre, pois as
diabetes e dislipidemia. nas ou encontrado na forma de doenças são multifatoriais. O
suplementos. entendimento que precisamos
Podemos citar ainda como ter é que a alimentação é re-
funcionais os carotenóides li- Também estão inseridos almente um pilar muito rele-
copeno, luteína e zeaxantina, nessa condição de funcionais, vante dentre outros que atuam
os probióticos. A utilização des- em conjunto na prevenção de
são os corantes naturais dos sa classe de bactérias é bem re- doenças.
mota, desde 76 a.C., produtos
alimentos variando do verme- Mariana Herzog

lho ao alaranjado, encontrados Nutricionista e
Sócia proprietária da Dietética Refeições
em tomate e molho de tomate,
goiaba, melancia, cenoura, abó-
bora e mamão. Têm ação an-
tioxidante e protegem as cé-



CATEQUESE

PEDAGOGIA DA FÉ

Um dos desafios perma- Cristo chamando os homens A pedagogia da fé
nentes na história do para que empreendessem com estruturada na Escola
cristianismo foi a trans- Catequética de Alexandria
missão dos ensinamentos de decisão o caminho da verdade. mantém sua atualidade
Jesus Cristo. A Igreja primitiva como caminho pedagógico.
logo procurou cuidar desta ta- Assim Pedro escutou as pala- Não se destina apenas
refa com muito empenho, pro- para a educação das
duzindo catecismos como a Di- vras de Jesus, viu a pesca mila- crianças, mas sobretudo
daqué e organizando escolas de
catequese. Exemplo concreto grosa e então acontece o cha- para a formação e
presente no século II foi a Esco- desenvolvimento da
la de Catequese de Alexandria, mado – “vem e segue-me, e te pessoa humana em
que teve como diretor Clemen- plenitude, tendo Jesus
te de Alexandria, considera- farei pescador de gente”. Então, Cristo como modelo para
do um dos primeiros sábios do o chamado, modelo de
cristianismo. Ali ele estruturou o primeiro passo da catequese Educador e modelo de
um caminho catequético que se é um chamado, uma exortação. Mestre. Os três momentos
tornou exemplar. essencial desta pedagogia
O próprio Jesus, após o cha- são exortação, educação
Esse caminho toma o con- mado, torna-se Pedagogo (Edu- e ensinamento. Essa deve
texto cultural em que estão si- ser a ordem no caminho.
tuadas as pessoas, a cultura do cador). É o momento em que Iniciar a catequese
povo, numa espécie de diálo- pelo ensinamento
go com o mundo em volta. Es- aqueles que responderam à dificilmente se chega a
sa preocupação já está presen- exortação são conduzidos para algum resultado positivo.
te no trabalho missionário de o batismo e se convertem em fi- Quem sabe o desafio
São Paulo quando se encontra lhos de Deus. Dizemos hoje que da perseverança na
com povos não judeus. Igreja não decorre desta
é o “discipulado”. A imagem do inversão de momentos na
Clemente de Alexandria
deixou uma trilogia de textos pedagogo como aquele que pe- pedagogia da fé?!
fundamentais onde é possível ga o outro (a criança) pela mão
percorrer o caminho pedagógi- e conduz para a escola. Jesus Edebrande Cavalieri
co da fé, que se inicia com a pes- Cristo é o Pedagogo por exce-
soa que busca o caminho da fé e, lência. Assemelha-se a outra Doutor em Ciências da Religião
por isso mesmo, não se trata de
nenhum ensinamento, mas de imagem, a do Bom Pastor que
uma exortação. O modelo pe-
dagógico de exortação é Jesus carrega a ovelha nos ombros.

Por fim, o terceiro momen-
to da catequese: o ensinamen-
to. Jesus se põe na condição de
mestre e propõe a seus segui-
dores ensinamentos mais pro-

fundos. A catequese então é o

caminho de acompanhamen-

to do catecúmeno e do batiza-

do para que as duas asas – da

fé e da razão – conduzam ao en-
contro da Verdade, Jesus Cristo
o Verbo de Deus.

agosto 2019 31



ASPAS

“São José de Anchieta não pode
ser usado com fins ideológicos”.

(Carta dos padres jesuítas - Comunidade de Anchieta, ES)

Os tempos atuais são es- do patronato da educação bra- tal para o processo educacional
tranhos e complexos. sileira e substituí-lo por São Jo-
Misturam-se a serieda- sé de Anchieta. e deixou um legado religioso e
de e o compromisso de alguns,
com o individualismo, o ideolo- Em que pese a importância cultural de grande importân-
gismo, o ódio, o radicalismo e e o legado religioso, cultural e
o preconceito de outros. As re- educacional de Anchieta, sabe- cia para a igreja e para o Brasil.
des sociais dão a exata dimen- -se que por trás dessa propos-
são. Grupos e indivíduos criam ta está um objetivo puramen- Além de padre Jesuíta, foi his-
narrativas complexas, e se não te político/ideológico radical, toriador, gramático, teatrólogo,
conseguem fazer com que to- uma vez que, para muitas pes- poeta e merece todo o nosso re-
dos acreditem em suas “ver- soas da chamada “direita bra-
dades”, ao menos plantam uma sileira” (especialmente aqueles conhecimento. Por outro lado,
dúvida na cabeça das pessoas. que jamais leram um artigo de
Paulo Freire e, muito menos, co- um personagem tão importan-
Estampados em nossas “te- nhecem a sua obra), ele seria te para a história do país e da
linhas” estão todos os tipos de um comunista e sua influência igreja não pode ser usado para
absurdos e a ignorância parece na educação brasileira seria a
se expandir a olhos vistos. causa dos graves problemas do satisfazer objetivos meramen-
nosso sistema educacional. te políticos e ideológicos.
Como escreveu o filóso-
fo espanhol Daniel Innerarity: Freire é um dos grandes Caso venha a ocorrer a
“o grande inimigo que é preci- nomes da história da educa- substituição, além de usar a
so combater não é tanto a mi- ção brasileira, sendo respeita- memória de alguém tão impor-
séria e o medo, mas, sobretudo, do e estudado em cerca de uma tante quanto São José de An-
a ignorância”. Demonizar e des- centena de países e nas prin- chieta para fins ideológicos,
qualificar aqueles que pensam cipais universidades do globo. ainda pode agravar as rivalida-
diferente é o esporte preferi- Sua obra traz reflexões funda- des e a polarização entre gru-
do de muitos. Na esteira de um mentais para o processo educa- pos políticos.
turbilhão de absurdos que sur- cional num país tão desigual e
gem constantemente, aparece excludente como o Brasil. São A Igreja e os católicos pre-
a ideia de destituir Paulo Freire José de Anchieta foi fundamen- cisam se posicionar contra tal

possibilidade e ajudar a unir e
pacificar a população brasileira,
como disse o Santo Padre Fran-

cisco na mensagem do Dia Mun-

dial da Paz deste ano: “Duma

coisa temos a certeza: a boa po-
lítica está a serviço da paz”.

Sergio Majeski 33

Deputado estadual

agosto 2019

CAMINHOS DA BÍBLIA Christ in the house of Martha and Mary, 1656, Johannes Vermeer.

“Colocar-se aos pés do Senhor” (Lc 10,39)

34 agosto 2019

CAMINHOS DA BÍBLIA

No Evangelho de Lucas, no escolha, isto é, do reconheci- rão o serviço e a missão na Co-
capitulo dez, encontra-se munidade e no Mundo. Pois,
mento de um caminho que de- somente por meio de uma ín-
o relato da cena, na qual tima união com o Senhor, re-
veria ser percorrido por ele. conhecendo o que o movia em
Jesus que é acolhido na casa de suas escolhas e atitudes, como
No caso de Maria, afirma Paulo aos Filipenses (Fl
Lázaro, Maria e Marta. Este tre- não é diferente, pois 2,5), é que o cristão será capaz
cho do Evangelho tem um propó- a vemos aos pés do de se tornar um sinal do Reino
sito bastante claro, que deve ser Mestre, na escuta de de Deus. Sendo assim, é papel
Sua Palavra, isto é, da Comunidade Eclesial de Ba-
bem compreendido, partindo das o autor quer indicar se criar espaços que possibili-
que ela fez a escolha tem tal encontro com o Senhor,
palavras nele encontradas. seja pela reflexão e o estudo da
pelo Discipulado Palavra, quanto também pelas
Quando o autor descreve a Missionário. Um oportunidades de se exercer o
caminho de união com serviço missionário e da Cari-
cena, faz questão de dizer que o Senhor, no qual seria dade. Pois, é no encontro com
formada como uma a Palavra de Deus e no Serviço
Maria se encontrava aos pés de verdadeira discípula, aos irmãos e irmãs, principal-
dentro da Comunidade mente, os que mais precisam,
Jesus, escutando a sua Palavra. dos Discípulos que o Senhor se revela e chama
Uma descrição muito român- a todos ao seu seguimento.
tica e até bonita, porém, mui- Missionários.
to mais simbólica do que re- Os discípulos missionários
al, ou seja, revela uma escolha De fato, a Primeira Comu- sempre serão formados pela
nidade, segundo os Atos dos Palavra, alimentados pela mes-
e uma atitude de vida. De fato, Apóstolos, era o lugar da par- ma e, também, por meio dela,
tilha e da escuta da Palavra, enviados para a Missão e para
tal expressão é utilizada em ou- da Fração do Pão, das Orações o Serviço Fraterno. Desse mo-
e da Comunhão Fraterna, que é do, é indispensável que as Co-
tra passagem bíblica que trata o Serviço concreto aos irmãos. munidades Eclesiais de Base
do apóstolo Paulo e a sua esta- Sendo assim, a escolha de Ma- sejam espaços fecundos de en-
dia em Jerusalém, antes de seu contro com o Senhor que a to-
ria deve ser a escolha de todos dos revela as Escrituras, como
encontro com o Senhor, na es- fez com os discípulos de Emaús.
os que desejam aprofundar a A fim de que todos sejam capa-
trada de Damasco. O Livro dos zes de viverem plenamente a
Atos dos Apóstolos (At 22,2) in- experiência de Fé, não somen- sua vocação, como sinais claros
dica que Paulo foi à Cidade San- do Reino de Deus, construtores
ta para se colocara aos pés de te uma experiência intimista e da Paz, Justiça e Fraternidade.

Gamaliel, dando continuidade solitária com o Senhor, mas, ao Pe Andherson Franklin
ao seu processo de formação e Lustoza de Souza
estudo. Desse modo, a expres- contrário, uma verdadeira ex-
periência de união a Cristo que Professor de Sagrada Escritura no IFTAV e
são: “colocar-se aos pés”, que- a todos confia a Sua Palavra e Doutor em Sagrada Escritura
ria indicar que o apóstolo teria envia para a Missão.
escolhido a escola de formação
de Gamaliel, como estrada a ser A imagem de Maria, pro-

percorrida por ele, em sua for- posta pelo Evangelho, deve le-
mação e aprofundamento da Fé var à reflexão sobre o tempo
judaica, de maneira especial, que deve ser aplicado na for-
mação daqueles que exerce-
seguindo o caminho do farisa-

ísmo. Sendo assim, ela não deve

ser interpretada literalmente,

mas, deve ser colhido o seu sen-

tido mais profundo, no qual en-

contramos a expressão de uma



ESPIRITUALIDADE

JOÃO BATISTA, O PROFETA DO ALTÍSSIMO!

Amigo, este profeta tem fogo. Ele tem a pá na mão e lim- João Batista acreditou e fi-
muito a nos ensinar. Ne- pará sua eira, recolherá o trigo cou consolado na prisão. Estava
le se aplica o texto de em seu celeiro, mas queimará pronto para imolar-se em favor
Isaias 40, 3-5: “Uma Voz clama as palhas num fogo inextinguí- do Evangelho. Logo em seguida
no deserto; preparai o cami- vel”. (Lc 3,16-19). João sabia qual foi decapitado.
nho do Senhor, endireitai as su- era o seu lugar. Não se anuncia-
as veredas”. va. Anunciava o Messias Jesus, 4O QUE JESUS DIZ SOBRE
o Salvador! JOÃO?
João Batista é a voz. Jesus é
a Palavra que se faz humanida- 2O QUE JOÃO BATISTA NOS Jesus fala sobre João Batis-
de preparada pela Voz que cla- EXORTA ta depois de seu terceiro encon-
ma no deserto. A Voz é, apenas, tro com ele. O primeiro encon-
instrumento que colabora pa- “Convertei-vos”. “Fazei pe- tro se deu na visita de Maria a
ra que a Palavra se encarne na nitencia porque está próximo o Isabel. O segundo encontro se
Realidade Humana e a trans- Reino dos céus” (Mt 3,2). “Dai, deu quando João batizava os pe-
forme. A Voz clama no deserto pois frutos de verdadeira pe- nitentes no rio Jordão. Sua ati-
convocando à penitencia, à con- nitencia. Não digais dentro de tude penitencial expressava a
versão! A Palavra vem, encar- vós: nós temos Abraão por pai! concretude de nossa redenção
na-se e produz frutos, trans- Pois eu vos digo: Deus é podero- culminada mais tarde na cruz.
formando “ossos ressequidos so para suscitar destas pedras Mas João estranhou esta atitu-
em corpos viventes” (Ezequiel, filhos a Abraão”. (Mt 3,8-10ss). de de Jesus: João recusava-se:
37, 1-14). A Voz convoca ao Ba- “Eu devo ser batizado por ti e tu
tismo na penitência. A Palavra 3JOÃO BATISTA FOI UM vens a mim”. Mas Jesus lhe res-
realiza o Batismo no Espírito PROFETA FIEL pondeu: “deixa por agora, pois
Santo! A Voz prepara o Cami- convém que cumpramos a jus-
nho e a Palavra traz Vida Nova Foi preso por Herodes. No tiça completa”. No terceiro Jesus
pelo Espirito que renova a face cárcere mandou dois dos seus se dirige ao povo: “Que fostes
da terra! discípulos perguntar a Jesus: ver no deserto? um caniço agi-
“Es tu que hás de vir ou deve- tado pelo vento [...] um profeta?
1O QUE JOÃO BATISTA DI- mos esperar por outro? Res- Sim, digo-vos mais do que pro-
ZIA DE SI MESMO pondeu-lhes ele: “Ide anunciar feta. Este é aquele de quem está
a João que tendes visto e ouvi- escrito: Eis que envio meu men-
João Batista diz de si mes- do: os cegos veem, os coxos an- sageiro ante a tua face; ele pre-
mo: “Eu vos batizo com água, dam, os leprosos ficam limpos, parará o teu caminho diante de
mas eis que outro mais pode- os surdos ouvem, os mortos res- ti. Pois vos digo: entre os nasci-
roso do que eu, a quem não sou suscitam, aos pobres é anuncia- dos de mulher não há maior do
digno de lhe desatar a correia do o Evangelho; e bem-aventu- que João. Entretanto, o menor
das sandálias; ele vos batiza- rado é aquele para quem eu não no Reino de Deus é maior do
rá com o Espírito Santo e com o for ocasião de queda!” que ele.” (Lc 7,24-28).

Dom Luiz Mancilha Vilela, sscc

Arcebispo emérito



FLASHES DO COTIDIANO

NADA DE POLÍTICA
O ASSUNTO HOJE FOI FUTEBOL

Enquanto todo mundo discutia sobre os vazamentos das mensagens do Moro,
no ônibus surge um assunto muito diferente:

- Não vou acompanhar mais futebol este negócio de árbitro de vídeo tirou a graça.
- Como assim? Ele não foi criado para evitar injustiças?
- Mas o futebol sem estas injustiças fica sem graça.
O legal é no dia seguinte dizer que o arbitro foi tendencioso e prejudicou o meu time.
- Nossa, está parecendo política...
- Nada a ver.
- Não? Então me responda, o juiz de futebol deve ser parcial ou imparcial?
- Imparcial é claro.
- E um juiz de direito?
- Também, né?
- O que você acharia se soubesse que o juiz do jogo estava ajudando o time adversário
dando conselhos táticos aos jogadores e treinador.
- Safadeza, mas isto não existe.
- Parece que na Lava Jato sim.
- Ih... chama o árbitro de vídeo
- Chamaram, mas era só de áudio.
- E o que disseram?
- Colocaram a culpa no árbitro de vídeo (na verdade de áudio).

Imagino isto no futebol, o juiz dizendo que não se lembra de ter dado as instruções, mas pedindo
desculpa pelo o que aconteceu. Aí fica tudo resolvido. Esperto foi o meu sobrinho:

- João o síndico ligou reclamando que você apertou todos os botões do elevador.
- Não fui eu vó.
- Ele me mostrou a gravação da câmera de segurança, como você me explica isto?
- Só pode ter sido uma coisa... hacker!
- Joãozinho...
- Se fui eu, não estou dizendo que foi, não me lembro. Afinal uso o elevador várias vezes
por dia e não dá para lembrar de tudo o que acontece sempre.
- Joãozinho, você fazendo isto pode prejudicar quem for usar o elevador depois.
Já pensou se acontece uma emergência?
- Nossa, desculpa vó, não queria prejudicar ninguém.
- Então foi você?
- Não, vó.
- Por que pediu desculpas?

- Não fui eu, mas vai que provam que foi? Aí já é bom pedir desculpas de uma vez.

39



MUNDO LITÚRGICO

O MISTÉRIO CELEBRADO: A liturgia da Palavra e a li-
FONTE DA VIDA PASTORAL turgia eucarística formam a uni-
dade de culto. Na liturgia euca-
Omistério de Cristo, ce- celebram o mistério da fé, for- rística, comer e beber o Corpo
lebrado liturgicamen- e Sangue de Cristo significa as-
talecendo-os para a vida tes- sumir os sentimentos e as atitu-
te, é a fonte e a conver- des do Mestre - reveladas pela
temunhal do Evangelho, como Palavra – em sinal de comunhão
gência de todos os que vivem atualização da ação salvífica de com a causa do Reino de Deus.
Cristo. Tal ação é visibilizada e
a fé no seguimento do Filho de experimentada na apostolici- O princípio de todos os en-
contros e trabalhos pastorais
Deus. Bem expressa o proêmio dade dos batizados que se lan- deve sempre dar ênfase à pro-
da Constituição Sacrosanctum çam no caminho da vida, parti- clamação da Palavra, na atitude
Concilium: “A liturgia, com efei- cularmente nas suas periferias de acolhê-la e integrá-la como
to, mediante a qual, especial- presença de Cristo, o Bom Pas-
mente no divino sacrifício da e nos seus desertos, fazendo tor que, por meio dos agentes
eucaristia, ‘se atua a obra da valer a máxima de Cristo: a vi- reunidos, quer estender o seu
nossa redenção’ contribui su- da plena e abundante para to- ministério vivificador e trans-
mamente para que os fiéis ex- formador na diversidade dos
primam em suas vidas e mani- dos (cf. Jo 10,10). contextos e das urgências des-
te tempo, em consonância com
festem aos outros o mistério de Em todos os atos litúrgicos o específico de cada pastoral.
Cristo e a genuína natureza da
verdadeira Igreja...” (SC 2). a Palavra de Deus é propícia a Que sempre seja aprofun-
despertar nos fiéis a sensibili- dado, ressignificado e até re-
O caminho pastoral da Igre- dade e a escolha pela vida, con- descoberto o sentido e o valor
ja é o desdobramento e a ex- da liturgia na vida e missão da
frontando as realidades huma- Igreja: fonte e princípio, parti-
pansão das experiências vividas da e chegada, “para que Deus
nas com a originalidade da vida seja tudo em todos” (cf. 1Cor
comunitariamente nas liturgias, e ação do Criador. É pela escu- 15,24-28).
ta, meditação e discernimento
particularmente na eucaristia. da Palavra que renovados ciclos Fr. José Moacyr Cadenassi
ampliam o caminho vivificador
A tônica da fé e da vida eclesial dos cristãos e a eficácia de sua OFMCap, letrista, cantor, consultor de liturgia,
ação no mundo. apresentador de rádio e agente de ecumenismo
está na culminância de toda a e diálogo inter-religioso
revelação: Jesus Cristo e o seu As particularidades das
mistério pascal. Por isso, a mis- ações de Cristo contidas no
Evangelho e proclamadas em
são pastoral tem a essencialida-
âmbito litúrgico são inspirado-
de de divulgar e promover a vi-
vificação das criaturas segundo ras para todos os trabalhos pas-
o Cristo Ressuscitado, pois ele é
“o primogênito de toda a cria- torais, os quais, inspirados, mo-
ção” (Cl 1,15). tivados e fortalecidos pela ação
criadora e transformadora da
O Espírito potencializa to-
dos os sentimentos, intenções e Palavra, são resposta aos cla-
gestos dos que, em assembleia, mores do Espírito na história.

ARQUIVO E MEMÓRIA

SEMINÁRIO NOSSA SENHORA DA PENHA,
MAIS DE 60 ANOS DE HISTÓRIA EM FAVOR
DAS VOCAÇÕES SACERDOTAIS

No ano 1951 o Bispo da Dio- Com recursos em caixa, os dois
cese do Espírito Santo, Dom padres começaram a procurar um
terreno onde pudesse ser constru-
Luiz Scortegagna, preocupa-
do em fomentar as vocações na Dio- ído o seminário. Tomaram conhe-
cese, nomeou o padre Franz Victor
Rúdio, como diretor da OVS (Obra cimento da venda de uma chácara
das Vocações Sacerdotais). Seu ob- da família do sr. Aristóbulo Barbo-
jetivo era promover vocações e an- sa Leão, na Praia de Santa Helena
gariar recursos para a fundação de em Vitória. Dom Luiz Scortegag-
um seminário. O padre Franz Victor na, apesar de preferir um seminá-
realizou um excelente trabalho nas
paróquias e pediu a ajuda do padre rio no interior do Estado, gostou
Acácio Valentim de Moraes em uma
campanha financeira para fundar o muito da propriedade e aprovou a compra do
seminário.
terreno, onde já estava erguido um casarão. No
início do mês de março de 1951 padre Acácio e
padre Franz Victor, tendo como testemunhas,
Cônego Maurício de Matos Pereira, Monsenhor
Custódio Bandeira e autoridades civis, fecha-
ram o negócio e marcaram a inauguração pa-
ra o dia 04 de abril do mesmo ano. Era neces-

sário, em pouco tempo, reformar e adaptar o

casarão existente na propriedade para abrigar

os seminaristas da Diocese. Os padres que es-

tavam a frente da obra entusiasmaram muitas

pessoas que se dispuseram a colaborar e entre
elas destacamos, Dr. Dório Silva e Dr. Jair Etiene
Dessaune e suas esposas. E assim no dia 31 de
março de 1951 a obra foi concluída e inciou-se a
arrumação da casa. Por sugestão de Cardeal do
Rio de Janeiro D. Jaime de Barros Câmara e do

Na página ao lado: Na foto abaixo:
O casarão que abrigou os seminaristas por
muitos anos e foi demolido recentemente. Dom Luiz Scortegagna e
Monsenhor João Batista da
Na foto abaixo: Mota e Albuquerque no dia da
Um dos primeiros seminaristas da inauguração do Semnianário
Arquidiocese de Vitória, Arnóbio Passos Cruz Menor Nossa Senhora da Penha.
(o segundo da esquerda para a direita).

Reitor do Seminário São José do Seminário foi inaugurado com O nome faz referência a
Padroeira do Espírito Santo,
Rio de Janeiro, Monsenhor João uma missa presidida pelo Bispo cujo Convento, situado em
Diocesano com a presença dos Vila Velha, abrigou no início
Batista da Mota e Albuquerque, seminaristas, grande número do século XX um seminário.
de fiéis, do Reitor do Seminário
o seminário foi chamado de Se- São José do Rio de Janeiro, Mon- Outra motivação para o
nome é que o prédio fica
minário Menor Nossa Senho- senhor João Batista da Mota e no alto de uma colina e
de frente para o Convento
ra da Penha. O nome faz refe- Albuquerque, que em 1958 se da Penha, naquela época
separados apenas pelo mar.
rência a Padroeira do Espírito tornaria o sexto bispo da Dio-
Santo, cujo Convento, situado Giovanna Valfré
em Vila Velha, abrigou no início cese do Espírito Santo e tam-
do século XX um seminário e bém do Padre Valdir Calheiros Coordenação do Cedoc
também outra motivação para representante do clero da Ar-
a escolha do nome é que o pré- agosto 2019
quidiocese do Rio de Janeiro.
dio que vai abrigar os vocacio-
nados fica no alto de uma coli- Vale lembrar que nessa épo-
na e de frente para o Convento ca a Diocese do Espírito Santo
da Penha, naquela época sepa-
fazia parte daquela Província
rados apenas pelo mar. Eclesiástica. Ao final da mis-
sa Dom Luiz Scortegagna fa-
Dia 1 de abril de 1951, as se-
lou de sua alegria e gratidão a
nhoras voluntárias ainda esta- Deus pela fundação do Seminá-
rio Diocesano em Vitória. E as-
vam arrumando a casa quando sim nasceu o nosso Seminário
Nossa Senhora da Penha. Como
chegaram os primeiros semi- primeiro Reitor foi nomeado o
Padre Franz Victor Rúdio, que
naristas, fruto do trabalho vo- inicialmente acumulou também
as funções de Diretor Espiritual
cacional incansável realizado e Confessor dos seminaristas.

na Diocese. Entre eles estava
Arnóbio Passos Cruz, o nosso
querido Cônego Arnóbio, com
apenas 11 anos de idade e mais

17 adolescentes. Dia 4 de abril o

43

FAZER BEM

CABELEIREIRAS DEDICAM SEU DIA DE FOLGA NO CUIDADO DOS IDOSOS

O único dia de folga, elas Mattos contou a Revista Vitória,
doam para quem precisa. O Asi- que os idosos ficam ansiosos es-
lo dos Idosos de Vitória, recebe perando chegar o dia da visita
todo mês a visita de um grupo do Tesourinha do bem, e quan-
de cabeleireiras, com o intuito do essa segunda-feira chega, ela
de cuidar da aparência e traba- e as outras voluntárias são aco-
lhar a autoestima dos vovôs e lhidas com muito carinho.
vovós que ali residem.
“É uma alegria poder
O Projeto é conhecido co- estar lá com eles e doar um
mo o “Tesourinha do bem”. Mas pouquinho do nosso tem-
além dos cortes, elas escovam po, na verdade eles que nos
os cabelos, colorem e também fazem bem. Tenho muita
cuidam das unhas de cada ido- gratidão à Deus em poder
so. O grupo é formado por 5 vo- fazer parte desse projeto
luntárias, e todas elas são pro- lindo”, ressaltou Susana.
fissionais da área da beleza.
O desejo do grupo é conse-
Esse trabalho acontece há 4 guir atender a mais instituições.
anos e a coordenadora Susana

CAMPANHA DA CÁRITAS #EUMIGRANTE AJUDA VENEZUELANOS
A INGRESSAR NO MERCADO DE TRABALHO DO BRASIL

Com a crise político-eco- neste mês a segunda etapa da pessoas se encontram, ainda
nômica na Venezuela, que per- campanha #EuMigrante. Foi nessa página é possível colo-
dura desde 2015, muitos vene- disponibilizada uma página na car vagas de emprego para es-
internet com o curriculum de sas pessoas.
zuelanos buscam reconstruir venezuelanos que buscam em-
prego e as cidades onde essas “Peçamos ao Senhor
a vida no Brasil, pensando nis- que inspire e ilumine as
so a Cáritas Brasileira lançou partes em causa, para
que possam o quanto an-
tes chegar a um acordo
que coloque fim aos sofri-
mentos das pessoas pe-
lo bem do país e de toda a
região”, disse o Papa ao final

do Angelus no dia 14 de julho,
em referência à crise vivida na
Venezuela.

44 agosto 2019

FAZER BEM

JOGADOR CAPIXABA ARRECADA 6 TONELADAS DE ALIMENTOS

Richarlison num ato de soli- “Foram 6,4 toneladas
de alimentos arrecadados.
dariedade e gratidão, o jogador Se existe a chance de fa-
zer uma pequena diferen-
que recentemente foi campeão ça na vida de alguém, não
da Copa América com a Seleção pense duas vezes. Obriga-
Brasileira, voltou a Nova Vené- do, mais uma vez, Nova Ve-
cia, sua cidade natal e promoveu nécia e toda região!” Escre-
um jogo beneficente que arreca-
dou 6,4 toneladas de alimentos. veu o jogador em sua conta no
Instagram.
Os alimentos foram desti-

nados a famílias mais necessi-
tadas de Nova Venécia.

COMERCIANTE VENDE COCADAS PARA FAZER PERUCAS
PARA MULHERES COM CÂNCER

Com a venda de cocadas, estão em tratamento no Hos-
Elenilson José da Silva, com- pital de Câncer de Pernambuco
pra máquinas de costura pa- (HCP), em Recife.
ra a confecção de perucas, que
são doadas a mulheres em tra- Elenilson ficou sabendo que
tamento do câncer. o hospital precisava de pelo

Há três anos, o comercian- menos duas máquinas de cos-
te perdeu sua esposa, que tinha tura profissionais para confec-
câncer de mama. A forma que cionar perucas e a partir daí ele
ele encontrou para seguir a vi- começou a vender as cocadas
da foi ajudando mulheres que para ajudar a levantar a auto-

estima das pacientes.

ACONTECEU

VICARIATO PARA A AÇÃO RETIRO ANUAL DOS PADRES
SOCIAL DEU INÍCIO A DA ARQUIDIOCESE DE VITÓRIA
SUAS ATIVIDADES
Os padres da Arquidiocese para que a missão seja também
O Encontro do Vicariato pa- de Vitória reuniram-se em Do- uma ação de Deus agindo atra-
ra a Ação Social, Política e Ecu- mingos Martins de 22 a 26 de vés dos padres, e, afirmou que
mênica que aconteceu no dia 27 “a vocação ao sacerdócio supõe
de julho, assumiu a articulação julho para o retiro anual. um permanente viver em Cris-
das pastorais sociais, movimen- to”, e que “a missão e o aposto-
tos e Igrejas para definir ações A semana foi intercalada en-
que abarquem as diversas re- tre momentos de oração indivi- lado não acontecem sem a co-
presentações e lutas em defesa dual e comunitária e espaços
dos mais pobres e marginaliza- de reflexão, propostos por dom munhão com o Senhor”.
dos. Este compromisso é antes Paulo Roberto Beloto, bispo de
com a Palavra de Deus “que se Os padres retornaram às
revela capaz de sentir as dores Franca, São Paulo. Dom Paulo
mais profundas de seu povo”, suas comunidades agradecidos
conforme proferiu Dom Dario acentuou a importância da co-
Campos, Arcebispo de Vitória. pela experiência e fortalecidos
munhão e intimidade com Deus
O evento reuniu cerca de na fé.
500 pessoas e durou de 8h às
17h. Contou com momentos de
espiritualidade, falas espontâ-
neas, propostas de reflexão do
Arcebispo, a profª Marlene de
Fátima Cararo e o profº Joceli-
no Junior, e, propostas de conti-
nuidade formuladas nas discus-
sões dos grupos.

As propostas ainda serão re-
tomadas, mas no final do dia, pe.
Kelder Brandão, Vigário para a
Ação Social. Política e Ecumê-
nica comprometeu-se em man-
ter vivo o desejo já manifesto de
continuar os encontros e articu-
lar ações que possam fortalecer
as lutas de cada grupo.

O Arcebispo de Vitória aco-
lheu cada um e cada grupo e
abençoou os trabalhos.

46 agosto 2019




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