Ano XIII | Nº 171 | Novembro de 2019
REVISTA DA ARQUIDIOCESE DE VITÓRIA – ES
Somos chamados a colaborar para a construção do bem comum,
para o avanço da fraternidade republicana,
porque somos marcados pela mística da alteridade.
pág. 05
EDITORIAL
SER REPUBLICANO
Dizer-se republicano virou quase um modismo,
principalmente nos meios políticos institucionais.
Virou quase sinônimo de Estado de Direito e até mesmo de
diálogo sobre cargos eletivos, e isso, é um desvio no verdadeiro
significado que é sobre o exercício da cidadania
com instrumentos democráticos e que
atendam aos interesses da maioria.
No mês em que comemoramos a implantação da República a
Revista Vitória traz um texto do prof. Gilbraz sobre o assunto e
sua relação com os princípios da Igreja Católica.
Não deixe de ler também outras matérias como o
resultado do Sínodo para a Amazônia e cooperativismo.
Boa leitura!
Maria da Luz Fernandes
Editora
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Publicação da Arquidiocese de Vitória / ES • ISSN 2317-4102
Novembro de 2019
28 ENTREVISTA 05 18
Justiça restaurativa: a escuta para a paz ATUALIDADE VIVER BEM
A fraternidade Você sabe o que
41 ARQUIVO E MEMÓRIA republicana e a são alimentos
alteridade cristã
Livros de registros de sacramentos de escravos processados?
32
46 ACONTECEU 44
IDEIAS
Benção dos animais, Dia da juventude e mais. Pensar os prejuízos FAZER BEM
As paróquias
15 Pensar e compensações
20 Caminhos da Bíblia à vida que fazem
23 Lições de Francisco o bem
24 Palavra do Arcebispo
27 Flashes do Cotidiano 09 SÍNODO PARA AMAZÔNIA
35 Mundo Litúrgico Reportagem
39 Economia Política
43 Espiritualidade 16 COOPERAÇÃO E MÃOS À OBRA
Especial
“Quando acenderem as fogueiras,
eu quero estar ao lado das bruxas” 42 FINADOS E AS VISITAS AOS CEMITÉRIOS
Pauta Livre
FERNANDA MONTENEGRO
38 SUGESTÕES
ASPAS 37
Um espaço da cultura afro
no Centro de Vitória.
O Museu Capixaba do Negro é um
espaço onde é possível encontrar cultura
negra, história, lazer, arte e gastronomia.
Arcebispo Metropolitano: Dom Dario Campos • Arcebispo Emérito: Dom Luiz Mancilha Vilela • Editora: Maria da Luz Fernandes / 3098–ES •
Repórter: Andressa Mian / 0987–ES • Conselho Editorial: Alessandro Gomes, Edebrande Cavalieri, Vander Silva, Milena Cabral • Colaboradores:
Pe. Andherson Franklin, Arlindo Vilaschi, Dauri Batisti, Giovanna Valfré, Fr. José Moacyr Cadenassi • Revisão de Texto: Yolanda Therezinha
Bruzamolin • Publicidade e Propaganda: [email protected] – (27) 3198-0850 • Fale com a Revista Vitória: [email protected]
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ATUALIDADE
A FRATERNIDADE REPUBLICANA
E A ALTERIDADE CRISTÃ
Oconceito de República, às vezes, O termo vem do la- parlamento e no poder
se confunde com o de democracia tim “res publica”, ou seja, dos magistrados. Com
(governo em que o povo exerce a bem comum, coisa pú- a redemocratização do
soberania) ou de liberalismo (ideologia blica, aquilo que diz res- Brasil, em 1995, inaugu-
que enfrentou o absolutismo monár- peito ao interesse públi- rou-se a Nova República
quico com os pensadores iluministas e co de todos os cidadãos. ou Sexta República bra-
as revoluções que propagaram os direi- Hoje, entre a gente, Re- sileira, com a Constitui-
tos humanos e os princípios de liberda- pública diz respeito ao ção Cidadã de 1988, que
de, igualdade e fraternidade; passando sistema de governo ba- institui um Estado de
a eleger o presidente do executivo, que seado na liberdade do Direito e uma República
vai conviver com os poderes legislativo povo, na autoridade do presidencialista.
e judiciário na condução do Estado).
ATUALIDADE
Mas nossa convivência com os outros, outras gerações Em nossa mais genuína es-
republicana ainda é e gêneros, outras culturas e clas- piritualidade, a humanização
muito frágil, instável ses, com os bens da natureza. dos humanos supõe a constru-
ção de identidades abertas à
e contraditória. Há, de A humanidade, e nossa so- transformação criativa atra-
fato, pouca democracia, ciedade brasileira em especial, vés da presença da alteridade,
continua marcada por injusti- esperando-se que o “eu” esteja
pouca justiça e ças escandalosas, com multi- voltado ao reconhecimento do
respeito aos princípios dões sendo privadas do acesso “outro”, ao respeito da diver-
liberais, e sobra muito ao atendimento de suas neces- sidade e à promoção da inter-
sidades básicas. São crescen- culturalidade, tendo em vista o
autoritarismo. tes as ameaças à vida e o atu- bem comum cada vez mais am-
al modelo de desenvolvimento plo e inclusivo.
Foi assim desde o começo, neoliberal segue gerando gran-
praticamente um golpe das des desigualdades sociais, pro- Há quem se pergunte co-
elites através dos militares. “O cessos perversos na política e mo respeitar a diversidade cul-
amor por princípio, a ordem por na cultura, bem como agres- tural e defender os direitos hu-
base e o progresso por fim” era sões devastadoras à natureza, manos, mas na perspectiva de
a divisa de Augusto Comte que à água e à terra. encontrar normas mais aper-
os oficiais que proclamaram a feiçoadas dentro do sistema
República copiaram em nossa Frente a esses desafios, a vigente. A ética da alteridade
bandeira, deixando o amor ecologia integral e a justiça so- nos convoca a transitar para
de fora. E mais divididos dele cioambiental devem ser promo- fora “deste mundo” estabeleci-
estamos agora, com a ideologia vidas através de um conjunto do, recriando então a vida co-
neoliberal que se apropriou de relações que perpassam os munitária a partir da palavra
da bandeira e quer brasileiros diferentes níveis do convívio, de quem já não tem mais direi-
treinados para a produção e não dentro da nossa grande Casa tos ou valores reconhecidos. A
formados para a convivência Comum: relações que envolvem perspectiva da alteridade nos
libertária e solidária. o reconhecimento profundo da convida, então, a transformar
dignidade de todos os seres hu- as relações sociais a partir dos
Então, nós cristãos somos manos, buscando formas de es- excluídos do sistema, cujos ros-
chamados a colaborar para a tabelecer o diálogo, o valor da tos revelam um princípio cria-
construção do bem comum, pluralidade e a dinâmica da re- dor e misterioso da realidade.
para o avanço da fraternida- conciliação; relações que envol-
de republicana, porque somos vem a efetivação de políticas de Essa ética nos abre para tal
marcados pela mística da alteri- superação das desigualdades princípio transcendente, que
dade: do cuidado ao outro como sociais e o acesso universal aos questiona quem absolutiza a
irmão, por respeito ao Grande direitos básicos de trabalho, imanência das nossas relações,
Outro que nos criou. Na estei- assistência social, previdência, quem afirma a cotidianidade
ra do ensino social da Igreja, o saúde, moradia, educação e ali- vivida como sendo a totalidade
Papa Francisco em sua encícli- mentação; relações que envol- absoluta. Muitos textos sagra-
ca Laudato Si diz que existe um vem a conservação e preser- dos referem a pretensão huma-
clamor por justiça envolvendo vação dos “dons da criação” ou na de ocupar o lugar do divino
nosso convívio na Casa Comum, bens naturais, em vista de um como sendo a negação teórica
com o convite para um processo ecossistema saudável e de vida de uma prévia negação práti-
urgente de reconciliação e cons- para o futuro do planeta Terra ca do outro, do irmão a quem se
trução de relações mais inclu- e seus habitantes. despreza e exclui. Dessa manei-
sivas e íntegras, com o divino e
06 novembro 2019
ra, há quem se ocupe de absolu- animais para poder prognosti- mas, em primeiro lugar, da afir-
tizar o sistema do capitalismo car o futuro, mas o correto mes- mação analética do outro real.
dominante, no plano-social; do mo é, como pregava (no Sermão Ana (do grego) quer dizer um
machismo, no plano erótico; da da Terceira Dominga do Adven- “mais além” do horizonte do
dominação ideológica, no plano to do ano de 1655), consultar as sistema, “mais além” ou trans-
pedagógico; da idolatria, enfim, barrigas dos pobres e daqueles cendental “ao que existe”. E o
em todos os níveis - que são que se sacrificam, se empobre- mistério da realidade, Grande
sempre, também, religiosos. cem, pelos outros. Observando Outro anterior ao que “está aí”,
as tripas dos empobrecidos e tem sua face de “carne”, ou seja,
Mas há também pessoas sacrificados é que podemos sa- histórica, política, erótica.
com uma fé antropológica ou co- ber os planos divinos do futu-
munidades de fé religiosa cons- ro, é que podemos aprender a O cuidado cristão para com
ciente de que “mais além” desta transformar em vida a presen- essa alteridade é o maior servi-
totalidade de vida se encontra a te situação de morte: “Se que- ço que os cristãos podem pres-
alteridade. Isso leva à procura reis profetizar os futuros, con- tar para a renovação da política
solidária do outro, do “diferen- sultai as entranhas dos que se e a construção de uma verda-
te” na história e na sociedade, sacrificaram e dos que se sacri- deira República.
do rosto desfigurado dos exclu- ficam; e o que elas disserem, is-
ídos e marginalizados, onde in- to se tenha por profecia”. Gilbraz Aragão
clusive encontramos acesso a
uma imagem mais autêntica da Esse encontro com o ou- Teólogo e professor da UNICAP
divindade, o Grande Outro. tro, revelação da misteriosa al-
teridade de vida em relação ao
Na relação mais elementar “mesmo” ou “já dado”, exterior
entre as pessoas, o “outro” é o e anterior ao “mundo” ou sis-
homem para a mulher e a mu- tema estabelecido, leva-nos a
lher para o homem ou ambos buscar outra maneira de con-
frente aos outros gêneros sexu- viver: rompendo com o sistema
ais, o filho ou a filha para o pai em que a alteridade é negada
ou a mãe, e daí por diante: um e não apenas procurando hu-
grupo para outro grupo, um po- manizá-lo ou tomá-lo virtuoso.
vo para outro povo, uma igreja Trata-se de um compromisso
para outra igreja, uma religião com a palavra viva das crianças
para outra religião. No plano desprezadas, dos pobres explo-
das relações sociais, o “outro”, rados, devotos populares, raças
para quem se situa mais perto e culturas discriminadas, de
do centro do sistema, são os po- mulheres e lgbts violentados,
bres, sobretudo em nossa socie- em função do mundo novo pe-
dade marcada por desigualdade. lo qual eles clamam.
Os oprimidos encarnam em sua
própria condição a palavra que Essa afirmação dos valo-
julga o sistema e é capaz de in- res e dos sentidos do outro vem
dicar os rumos da transcendên- fundar, por seu turno, a possi-
cia, como experiência concreta. bilidade de novas relações. E
não se trata apenas de negar
Já o missionário Antônio dialética e utopicamente a ne-
Vieira contava que os antigos gação dos outros no sistema,
consultavam as entranhas dos
REPORTAGEM
PROPOSTAS QUE BROTARAM
DA MENTE E DO CORAÇÃO
DE QUEM VIVE OS DESAFIOS DA AMAZÔNIA
Omês de outubro foi, na Igreja Católica, forte-
mente marcado pelo Sínodo para a Amazônia.
Semanalmente o site da Arquidiocese publicou
uma reflexão de autoria do Prof. Edebrande Cavalie-
ri que, aos poucos, foi convidando a acompanhar as
discussões, propostas e, principalmente, as preocu-
pações dos participantes.
Foram dois anos de preparação para que o Sínodo da
Amazônia acontecesse, tendo por base a escuta do
povo amazônico nos nove países que o integraram,
e três semanas de assembleia em Roma. O sínodo
terminou no dia 27 de outubro, mas a entrega do Docu-
mento Final ao Papa Francisco e a posterior (prová-
vel) Exortação Apostólica não encerram o caminho.
Sabemos que o que consta no Documento não são
determinações, decisões ou leis a serem cumpridas,
são propostas que estão na mente e no coração
de quem vive os desafios da Amazônia e que
o Papa Francisco avaliará e as terá como
base para as decisões que cabem
apenas ao Sumo Pontífice.
novembro 2019 09
REPORTAGEM
Dom Cláudio Hummes, re- Foto: Guilherme Cavalli/Cimi suas vidas, esperanças, gritos
lator-geral, no encerramento e alegrias, para continuar a ca-
da Assembleia, dizia que a fa- entre os participantes. E espe- minhada sinodal, tecendo um
se posterior do Sínodo é a mais ram que “diante do documento novo caminho missionário nas
importante. É preciso retornar final, o Papa tenha uma palavra terras amazônicas, e incultu-
àqueles que vivem e esperam em defesa de nosso território, rando a liturgia.
no território. O que a Igreja es- nosso autogoverno, nossa edu-
tará disposta a oferecer a essas cação, nosso sistema de saúde, Novos desafios se apresen-
pessoas? Que novas perspecti- que a Igreja nos acompanhe em tam nessa direção, bem como a
vas se abrem a partir de ago- nossas lutas”. Uma Igreja que formação de um clero indígena,
ra? Ao mesmo tempo é preci- caminha junto de seu povo! a ordenação de homens casados,
so considerar que as questões o diaconato e uma maior leveza
apresentadas não estão desli- A escuta sincera e autênti- no tratamento dos ministérios
gadas de um contexto mais am- ca desse povo leva sempre a um com a inclusão das mulheres.
plo de América Latina. compromisso, a um risco. O Pa-
pa Francisco no encerramen- Alguns comentários já fo-
Tudo está interligado. Es- to dizia que “tivemos a graça ram tecidos e entre eles nos
sa parece ser a nova consci- de escutar as vozes dos pobres chama a atenção o da biblista
ência que vai se desenvolven- e refletir sobre a precariedade Marinella Perroni, publicada
do nos ambientes cristãos. Os das suas vidas, ameaçadas por no Jornal Italiano La Stampa.
gritos que ecoaram e continu- modelos de progresso predató- Toda a mídia não católica di-
am ecoando daquelas matas e rios”. Agora de volta para casa vulgou expansivamente alguns
populações chegam a cada co- é preciso retomar o que essas desses desafios, que se torna-
munidade dos países na região pessoas testemunharam com
amazônica. Os diagnósticos são
bem claros: a Amazônia está
sob todo tipo de injustiça.
As diversas falas dos in-
dígenas na Sala Sinodal fo-
ram muito marcantes. Elas ex-
primem uma grande confiança
na Igreja conduzida pelo Pa-
pa Francisco. Para eles, o Pon-
tífice vai se arriscar de al-
guma maneira. Segundo
eles, ele demonstrava ser
a pessoa mais lúcida aí
10
REPORTAGEM
“Tivemos a graça de Quanto à ordenação de mu- não estava pronto, mas, talvez
escutar as vozes dos lheres, a biblista respondeu nem a Igreja estivesse pronta”.
pobres e refletir sobre com uma pergunta “o texto final O que esperar então do Sínodo
a precariedade das pede a revisão de um documen- para a Amazônia?
suas vidas, ameaçadas to (Ministeria quaedam, 1972)
que excluía as mulheres de qual- O documento final está divi-
por modelos de quer ordenação e que elas pos- dido em 5 capítulos onde estão
progresso predatórios” sam receber o ministério do Lei- colocados os desejos dos sino-
torado e Acolitado e se crie um dais após refletirem, escutarem
Papa Francisco novo ministério ‘ad hoc’ para as e deixarem-se iluminar pelas lu-
mulheres, o de mulher dirigen- zes da fé e inspiração divina.
ram conhecidos pelas aborda- te de comunidade, isso signifi-
gens polêmicas com que foram ca reconhecer uma realidade de No capítulo I o documen-
tratados, por conta das diver- fato, mas, mais uma vez, à luz, to fala da necessidade de uma
gências existentes com relação senão de uma discriminação, de conversão integral por parte
a eles, especialmente à ordena- uma tendência ao apartheid: as da Igreja, descrita como adoção
ção de homens casados e orde- lideranças de comunidade não de uma vida simples e sóbria ao
nação de mulheres. deveriam ser homens e mulhe- estilo de São Francisco de Assis
res?”. Ao término de sua análi- e comprometida harmoniosa-
De maneira bastante ob- se, Perroni referiu-se ao Papa mente com a casa comum. Além
jetiva Perroni disse sobre or- Francisco: “o Papa encerrou o disso, cita os desafios específi-
denação de homens casados: seu discurso final desejando um cos da Amazônia: grupos arma-
“se foram necessários mais de caminho de sinodalidade para dos, desmatamento, privatiza-
1.100 anos para que, como diz a Igreja. Talvez quando os Síno- ção de bens naturais, tráfico de
o Segundo Concílio Lateranen- dos voltarem a ser como no pas- pessoas, mudanças climáticas,
se (1139), a ordenação sacerdo- sado, Sínodos de Igrejas, e não ataques a lideranças e migra-
tal se tornasse definitivamente de bispos, as mulheres também ção, entre outros. E desde o pri-
um impedimento ao matrimô- poderão decidir”. meiro capítulo o sentido mis-
nio, também podemos aceitar sionário vem bem acentuado
que seja necessário mais de um Marinella Perroni aponta quando diz “há necessidade de
século para que o matrimônio que talvez as decisões não avan- uma conversão pessoal e comu-
não seja mais um impedimento cem tanto quanto os sinodais nitária que nos compromete a
à ordenação”. gostariam ou a realidade exija, relacionar-se harmoniosamen-
mas também justifica a lentidão te com a obra criativa de Deus,
da Igreja ao dizer que quando O que é a “casa comum”; uma con-
Papa Paulo VI bloqueou a orde- versão que promove a cria-
nação de homens casados “ele ção de estruturas em harmo-
nia com o cuidado da criação;
11
uma conversão pastoral baseada na sinodali- o Documento de Puebla (401) a
dade, que reconhece a interação de tudo criado. evangelização não é um proces-
Conversão que nos leva a ser uma Igreja em sa- so de destruição, mas sim a con-
ída que entra no coração de todos os povos da solidação e fortalecimento dos
Amazônia” (cap. I, 17). valores e uma contribuição ao
crescimento dos germes do Ver-
O capítulo II, continua falando de conver- bo, presentes nas culturas.
são na dimensão pastoral e lembra os márti-
res da Amazônia. No Espírito Santo temos o ca- O Evangelho deve ser apre-
so de irmã Cleuza, Agostiniana, vítima de um sentado de uma maneira que o
ataque enquanto dedicava sua vida ao servi- torne compreensível àqueles a
ço da região, mas acompanhamos as histórias quem o próprio Deus o destina,
de mortes e perseguições de outros missioná- de acordo com os meios pró-
rios vítimas dos interesses capitalistas. Ten- prios de cada civilização. Isso
do como referência esses irmãos, o documento estava claro já nos tempos apos-
afirma que há urgência em se estabelecer uma tólicos quando Paulo partiu pa-
pastoral indígena “uma opção preferencial pe- ra terras de cultura helênica.
las populações indígenas”, fortalecer a pastoral
urbana e o cuidado das famílias. Este capítulo No Sínodo da Amazônia foi
alerta para o cuidado com as pessoas e insti- a primeira vez que os povos
ga as Comunidades Eclesiais de Base para que que vivem nas margens, nas
exerçam a solidariedade fraterna. periferias de todo tipo, tive-
ram voz na Sala Sinodal. No co-
O capítulo III fala da conversão cultural e meço dedicaram seu tempo ao
a define como processo que leva o cristão a ir ver como funcionava a assem-
ao encontro do outro para aprender com ele e bleia, ouvindo tudo e tentan-
expõe os desafios para um trabalho ecumêni-
co, inter-religioso e intercultural. Sugere diá- No Sínodo da Amazônia
logo, conhecimento mais aprofundado das re- foi a primeira vez que
ligiões indígenas e afrodescendentes sempre a os povos que vivem nas
partir da experiência com Deus e respeito à pie- margens, nas periferias
dade popular. Neste capítulo os sinodais suge- de todo tipo, tiveram
rem duas propostas concreta: 1. Que imagens, voz na Sala Sinodal.
símbolos, tradições, ritos, danças e outros sacra-
mentais (procissões, festas de padroeiros) se-
jam apreciadas, acompanhadas, promovidas e
em alguns casos purificadas, pois como já dizia
12 novembro 2019
REPORTAGEM
do entender, para no final se- tegral é a única forma possível
rem uma voz muito importante de salvar a Amazônia e os po-
a ser ouvida naquele lugar. Le- vos indígenas vivem a harmo-
varam sua cultura e sua arte, e nia com toda a criação de ma-
foram incompreendidos de ma- neira natural, eles sabem das
neira intolerante por um gru- inter-relações, conhecem os re-
po que pegou suas esculturas cursos naturais, sabem respei-
em madeira representando in- tar e conviver de maneira ami-
dígenas grávidas jogando-as no gável com toda a criação.
Rio Tibre. O próprio Papa viu
nesse gesto de intolerância o Defender a vida é uma ne-
grande pecado dos dias de hoje cessidade da fé, por isso agentes
e pediu perdão publicamente. pastorais e ministros ordena-
2. Criação de uma rede escolar dos precisam ter sensibilidade
bilíngue que articule propostas para cuidar e defender o am-
educativas que respondam às biente. Diz sobre isso o Portal
necessidades das comunidades, A12 “Conversão ecológica e de-
respeitando, valorizando e inte- fesa da vida na Amazônia se tra-
grando nelas a identidade cultu- duzem para a Igreja em um cha-
ral e a linguística. Ainda no ca- mado a desaprender, aprender
pítulo III, o Portal A12 da Rede e reaprender para superar qual-
Aparecida citou a sugestão pa- quer tendência a assumir mo-
ra que os Centros de Pesquisa delos coloniais que tenham cau-
da Igreja estudem e recolham as sado danos no passado”.
tradições, as línguas, as crenças
e as aspirações dos povos indí- Neste capítulo o documen-
genas, encorajando o trabalho to sugere a criação de um fundo
educativo a partir de sua pró- mundial que proteja as comuni-
pria cultura (A12, síntese do Sí- dades amazônicas da ganância
nodo para a Amazônia). pelo lucro e insiste em modelos
de sustentabilidade, harmonio-
Já no capítulo IV o tema é sos. Os modelos também devem
a conversão ecológica. São du- levar em conta a construção
as as palavras/expressões-cha- da cultura da paz, papel que a
ve: ecologia integral e conver- Igreja não abre mão e por essa
são ecológica. A conversão faz- razão sempre apoiará projetos
se necessária porque obriga a que proponham uma economia
buscar novos modelos para o solidária e sustentável, circular
desenvolvimento que sejam jus- e ecológica. Para que a necessi-
tos e solidários. A ecologia in- dade da conversão seja melhor
entendida, o documento define
novembro 2019 13
REPORTAGEM
pecado ecológico como “ação Também com base na sabe- dições, os símbolos e os ritos
ou omissão contra Deus, con- doria dos povos ancestrais on- originários e criando assim um
tra o próximo, a comunidade e de a terra tem um rosto femini- rito amazônico que seria acres-
o ambiente”, e acrescenta “é um no e as mulheres indígenas um centado aos 23 ritos já presen-
pecado contra as futuras gera- papel importante na promoção tes na Igreja Católica.
ções e manifesta-se em hábitos humana, o documento pede voz
de contaminação e destruição para as mulheres, espaço nos Os sinodais terminaram o
da harmonia ambiental, trans- conselhos e nas instâncias de evento renovando o pacto das
gressões contra os princípios governo e pede especificamen- catacumbas em missa presidia
de interdependência e a ruptu- te o ministério de mulheres di- pela Cardeal Claudio Hummes.
ra das redes de solidariedade rigentes de comunidade, que A Arquidiocese de Vitória atra-
entre as criaturas (Catecismo foi criticado pela biblista Mari- vés do então arcebispo, Dom
da Igreja Católica, 340-344)”. nella Perroni e citado no início João Batista da Mota e Albu-
desta reportagem. querque, participou do primei-
O capítulo V discorre so- ro Pacto realizado em 1965 du-
bre a conversão sinodal e co- Para os diáconos também rante o Concílio Vaticano II. Na
meça falando de superar o cle- é sugerido mais formação e co- época mais de 500 padres con-
ricalismo abrindo espaço para nhecimento sobre ecologia in- ciliares assinaram o compro-
a discussão sobre ordenação tegral, envolvimento da família misso por uma Igreja ao servi-
de homens casados e mulheres, na ação pastoral e que os for- ço dos pobres e pediram a Deus
ministérios leigos, diaconato e madores sejam padres e leigos a Graça de serem fiéis a esse
novas adequações dos ritos. para que o curriculum inclua compromisso. Dom João Batis-
diálogo ecumênico, inter-reli- ta assinou o documento e trou-
O documento propõe que a gioso e intercultural, história xe o espírito conciliar para a
participação do laicato na toma- da Igreja na Amazônia, afetivi- Arquidiocese de Vitória. Des-
da de decisões seja reforçada e dade e sexualidade, cosmovisão ta vez 40 bispos renovaram es-
ampliada e utiliza uma expres- indígena e ecologia integral. se compromisso com o nome de
são nova “promoção e concessão Pacto das Catacumbas pela Ca-
de ministérios a homens e mu- Para os sacerdotes também sa Comum. Mas desta vez além
lheres de modo équo”. Sabendo algumas recomendações que se- dos 40 bispos, todos os partici-
tratar-se de uma proposta ousa- jam pastores que vivem o Evan- pantes assinaram o novo Pacto.
da e coerente com as críticas de gelho, sejam compassivos e pró-
análise à presença dos padres, o ximos, capazes de escutar, curar, Maria da Luz Fernandes
documento sugere que os car- consolar sem impor, mas mani-
gos sejam ocupados em forma festando a ternura de Deus. Jornalista
de rodízio para evitar ‘persona-
lismo’ e que seja feito investi- Um pedido encerra o texto Edebrande Cavalieri
mento em vocações autóctones. final: adaptar a liturgia valori-
zando a visão do mundo, as tra- Doutor em Ciências da Religião
14 novembro 2019
Foto: Andressa Mian
PENSAR
ESPECIAL COOPERAÇÃO E
16 novembro 2019 MÃOS À OBRA
João tem 45 anos de idade, dos quais
trabalha como pedreiro profissio-
nal há mais de 20. Colocar a mão na
massa é com ele mesmo, assenta cerâmi-
ca, bate laje, constrói e conserta, mas o
nosso personagem sempre se embolava
se tivesse que fazer a rede elétrica. Na-
queles momentos ele dizia que se espe-
cializou em ser pedreiro, por isso sempre
chamava o eletricista Jair para conduzir
essa parte do serviço.
João e Jair já formavam uma boa du-
pla, pois quando o eletricista precisava
de um pedreiro sempre chamava o par-
ceiro de trabalho.
Certo dia os dois estavam fazendo
uma obra mais complexa e precisaram
de mais dois profissionais craques em
outras áreas da construção civil: pintura
e encanamento de água. Jair conhecia o
bombeiro hidráulico Jonair, e João o pin-
tor de paredes Janderson. Por sinal dois
jovens de vinte e poucos anos, com me-
nos experiência, mas tão bons quanto os
outros amigos.
Depois de fazerem várias obras tra-
balhando juntos, os quatro resolveram
abrir uma empresa, foi quando um ami-
go de Janderson os orientou a montarem
uma cooperativa de trabalho, e explicou
como o negócio funcionava.
- Vocês se juntam, passam a ser só-
cios do negócio, e do dinheiro que ganha-
rem com o trabalho de vocês uma parte
A palavra cooperado
deriva do Latim cooperari,
que significa trabalhar junto.
será aplicada para a cooperati- elas passaram a ter vida pró- Voltando à história dos 7
va se manter e crescer, e a outra pria, ou seja, trabalharem sem amigos, eles entenderam que o
parte é revertida em créditos a interferência do Estado. cooperativismo é uma manei-
para vocês. ra de valorizar o trabalho pro-
O setor cooperativo que fissional, sair da informalida-
Logo Janderson reuniu os mais se escuta falar é o de cré- de, aumentar a possibilidade de
sócios informais e contou a con- dito, porém existem muitos ou- ganho financeiro e de investi-
versa que tivera com o amigo. tros, em especial no ramo da mento no negócio próprio.
Todos eles se interessaram e re- agricultura, onde podem ser
solveram chamar mais profis- encontradas cooperativas de Quando os 7 se reuniram
sionais para se associarem à fu- avicultores, de piscicultores, pela primeira vez para tratar
tura cooperativa. Daí vieram o entre outras. sobre a implantação da coope-
azulejista Juarez, o marceneiro rativa, Jair, o mais resistente de-
Jeremias e o motorista Januário. As pessoas associadas a coo- les, resolveu buscar em seu ce-
perativas já somam mais de 5% lular o que significava ser um
A partir do momento em da população brasileira e, além cooperado. Ele descobriu que a
que eles abriram a Cooperati- dos sócios, elas geram muitos palavra deriva do Latim coope-
va de Construção e Reparação empregos. Sendo um modelo de rari, que significa trabalhar jun-
de Imóveis, os serviços aumen- negócio voltado para o desen- to. Foi aí que ele entendeu que
taram e, consequentemente, os volvimento social, as coopera- trabalhar em cooperação é unir
lucros subiram. tivas podem ser um importante forças pelo mesmo objetivo.
instrumento de inclusão social
Ao tomarem a decisão de e de fomento da economia. Juarez logo percebeu que a
trabalharem conjuntamente, se medida que a cooperativa fos-
ajudando e ofertando serviços Até o final de 2019 a Orga- se crescendo novos sócios po-
de qualidade e mais baratos pa- nização das Cooperativas do deriam se juntar a eles e pro-
ra os clientes, eles se juntaram Brasil – OCB trabalhará com pôs que outros profissionais
a mais de 11 milhões de outros 13 ramos diferentes de servi- conhecidos fossem convidados
cooperados de vários setores e ços cooperados, mas a partir a participar.
a cooperativa montada por eles de 2020 serão apenas 7 (agro-
está entre as mais de 7 mil ou- pecuário, consumo, crédito, in- Ah! Você deve estar se per-
tras já existentes no Brasil. fraestrutura, saúde, trabalho, guntando sobre a coincidência
produção de bens e serviços e dos nomes dos 7 primeiros só-
As primeiras cooperativas transporte) fato que proporcio- cios começarem com a letra J.
do nosso país datam do sécu- nará mais proximidade e mais Eu também não sei, mas numa
lo XIX, porém só foram regula- facilidade de gestão por parte próxima oportunidade eu te
mentadas em 1971, mas foi com da OCB. explico.
a Constituição Federal de 1988
Alessandro Gomes 17
Mestre enmoCvieêmncbiaroda2s0R1e9ligiões
VIVER BEM VOCÊ SABE O QUE SÃO
18 novembro 2019 ALIMENTOS
PROCESSADOS ?
Antigamente, mas muito antigamen-
te mesmo, nós mulheres éramos
responsáveis pelo cuidado domés-
tico dos nossos lares. Isso significava co-
midinha caseira, bolo fresco, pães e biscoi-
tos artesanais todos os dias à mesa. Com
a nossa entrada no mercado de trabalho e
a industrialização do país, a realidade mu-
dou e, pela falta de tempo, muitas famílias
começaram a optar por alimentos prontos.
Afinal, não é fácil após uma longa jornada
de trabalho enfrentar os afazeres domés-
ticos à noite.
Isso é um fenômeno que vem acontecendo ao
longo de muitos anos. Dados recentes da Pesquisa
de Orçamento Familiar realizada em mais de 57 mil
famílias brasileiras em 2017, avaliando o consumo
e disponibilidade de alimentos, demonstrou que as
despesas com cereais e leguminosas vêm caindo ao
longo do tempo, passando de 10,4% em 2003 para
5% nessa última pesquisa. O grupo de óleos e gor-
duras que em 2003 contribuía com 3,4% das des-
pesas com alimentação, agora chegou a 1,7%. Por
outro lado, o grupo de alimentos prontos subiu de
2,3% para 3,4%.
A questão preocupante é que o consumo desses
alimentos prontos tem associação com diversas do-
enças incluindo a obesidade, o diabetes e o câncer.
Esses alimentos incluem um grupo que chamamos
de alimentos processados.
Existe uma classificação que divide esses alimentos em quatro grupos de
acordo com o nível de processamento e técnicas usadas pela indústria
para transformar os alimentos frescos em produtos alimentícios:
GRUPO 1 alimentos. Como exemplos ci- GRUPO 4
tam-se o sal, açúcar, melado,
Inclui alimentos in natura ou rapadura, mel, óleos, manteiga, Inclui alimentos ultraproces-
minimamente processados: são creme de leite, banha, vinagre e sados, que são formulações in-
aqueles alimentos in natura e amido de milho. dustriais feitas tipicamente
que foram submetidos a algum com cinco ou mais ingredien-
processo de industrialização GRUPO 3 tes, incluindo aditivos que si-
como desidratação, pasteuri- mulam atributos sensoriais e
zação, refrigeração ou congela- Inclui alimentos processados, aumentam a palatabilidade.
mento e foram embalados. Não são os produtos fabricados com
possuem adição de aditivos. a adição de sal ou açúcar, óleo, As embalagens são atrativas e
Nesse grupo estão presentes os vinagre ou outra substância, apresentam um forte marke-
legumes, frutas e verduras em- sendo em sua maioria produtos ting, muitas vezes com alega-
baladas, arroz, feijão, lentilha, com dois ou três ingredientes. ções de saúde.
frutas secas, cogumelos secos, O objetivo desse processamen-
oleaginosas, especiarias, fari- to é aumentar o prazo de vali- Incluem nesse grupo refrige-
nha, carnes congeladas, leite dade dos alimentos in natura rante, pós para refresco, sal-
pasteurizado, chá e café. ou modificar seu sabor. gadinhos de pacote, sorve-
tes, chocolates, biscoitos, pães
GRUPO 2 Exemplos: conservas, carnes de forma, mistura para bo-
salgadas, peixes conservados los, achocolatados, maionese,
Inclui ingredientes culinários no óleo ou sal, frutas em calda, molhos prontos e macarrão
processados, que são os pro- queijos e geleias. instantâneo.
dutos utilizados para cozinhar
Realmente é muito difícil exemplos temos conservas so-
ter uma vida livre de alimentos mente com sal, molho de to-
processados hoje em dia, pois mate, catchup, leite de saqui-
eles estão muito inseridos na nho, tapioca e alguns biscoitos.
nossa rotina. Mesmo assim po- Preste atenção a lista de ingre-
demos habituar a ler os rótulos dientes, sua saúde agradece.
e optar por produtos sem aditi-
vos. Hoje já conseguimos com- Mariana Herzog
prar vários produtos sem adi-
tivos e a indústria alimentícia Nutricionista e
tem se adequado a isso. Como Sócia proprietária da Dietética Refeições
novembro 2019 19
CAMINHOS DA BÍBLIA
A CONFIANÇA NA
MISERICÓRDIA DIVINA
No Evangelho de Lucas, no capitulo dezoito, encontra-se uma conhecida
parábola de Jesus, na qual a cena apresenta a oração de dois homens
no Templo de Jerusalém. Um deles é fariseu, exímio observador e cum-
pridor da Lei de Deus e o segundo um cobrador de impostos, reconhecido
como pecador público pelo seu ofício. Ambos são apresentados em seu mo-
mento de oração no Templo, e a questão que se levanta diz respeito à justiça
de Deus. Isto é, qual dos dois, após apresentarem suas orações ao Senhor, sai-
ria do Templo justificado, tocado e marcado pela misericórdia divina.
20 novembro 2019
CAMINHOS DA BÍBLIA
a Confiança no Senhor é a marca que distingue
a postura de vida dos que conhecem o Senhor e
fazem a experiência de sua misericórdia.
No decorrer da cena é pos- sua própria justiça. Do mesmo A Confiança retratada na
sível entrar na oração e no cora- modo que um “copo cheio” não parábola, nasce no coração da-
ção de ambos e perceber aqui- pode receber nada mais, assim quele que faz a experiência de
lo que pensam de si e de como o fariseu, pleno de si mesmo e sua fragilidade e, por isso, de
se colocam diante do Senhor. A de suas boas obras, não tinha forma humilde se deposita nas
oração do fariseu não é vazia de mais lugar para ser tocado pe- mãos do Senhor. Ela é reconhe-
verdade e não é também total- la misericórdia de Deus que lhe cida na vida daqueles que não
mente absurda; pelo contrário, era oferecida. podem mais recorrer a nin-
os fariseus eram conhecidos guém, isto é, os pequenos e po-
pela sua radical fidelidade à Lei O cobrador de impostos, bres, os pecadores e excluídos
e, por vezes, seu exagero nessa por sua vez, ciente de sua con- que depositam toda a sua es-
observância. Por vezes, encon- dição e marcado pela consciên- perança naquele que os ouve e
tram-se na Sagrada Escritu- cia de suas faltas, apresenta-se vêm em sua direção. Desse mo-
ra passagens que contêm ora- com toda humildade e confian- do, a Confiança no Senhor é a
ções similares à do Evangelho, ça diante de Deus. O simples fa- marca que distingue a postura
que expressam a forma como to de não possuir nada a ofe- de vida dos que conhecem o Se-
os que oram se colocam diante recer além de sua presença nhor e fazem a experiência de
de Deus (Sl 26). fragilizada e de seu pedido de sua misericórdia.
perdão sincero, fruto da vida
A oração do fariseu apre- vivida, faz com que ele seja jus- Por isso, que a experiência
senta o seu desejo de unir-se a tificado pela misericórdia de da Misericórdia Divina está in-
Deus pela prática da Lei, mas, Deus que pôde atingi-lo total- timamente ligada ao crescimen-
ao mesmo tempo, revela a sua mente. Deste modo, a experiên- to da Confiança e do Abandono
grande autossuficiência. Aqui cia da misericórdia divina está no coração dos discípulos. Algo
se coloca o ponto da relação en- unida à confiança no perdão e que os torna capazes de viver
tre a misericórdia e a confian- na acolhida de Deus, isto é, o fa- as dificuldades da vida cheios
ça, visto que só pode fazer a riseu não pôde recebê-la e ex- da Esperança de serem sempre
experiência da misericórdia di- perimentá-la, pois, colocava a acompanhados pela Bondade
vina, aquele que se deposita, de sua confiança em si mesmo; já Divina.
forma confiante, nas mãos de o cobrador de impostos foi to-
Deus. No caso do fariseu, a sua mado pela misericórdia divina, LPuesAtnozdahedresSoonuFzraanklin
confiança não está pousada na uma vez que só poderia ofere-
infinita misericórdia de Deus, cer a si mesmo em toda a sua Professor de Sagrada Escritura no CECATES
mas em seu modo de vida e em fragilidade. e Doutor em Sagrada Escritura
Imagem: O Fariseu e o Publicano - Afresco na Abadia de Ottobeuren, Alemanha. novembro 2019 21
LIÇÕES DE FRANCISCO
O MINISTÉRIO
É UM DOM
Essa afirmação do Papa ce cargos na Igreja, porque se tos sacerdotes deixam o minis-
Francisco foi tirada da trata de uma dádiva concedi- tério. São atropelados nas “fun-
primeira Carta a Timóteo da por Deus independente de ções”, deixando até de viver
(1 Tm 4, 14) e aplicada a uma ho- qualquer tipo de merecimento. como pessoa.
milia feita na celebração na Casa O ministro existe para a Igreja
Santa Marta no mês de setem- e por esse motivo não se refere O Papa Francisco em sua
bro passado. Há ministros que a poder. É a comunidade ecle- reflexão realiza uma prece pe-
transformam as celebrações em sial que vem em primeiríssimo dindo “ao Senhor que nos ajude
verdadeiros shows; outros pa- lugar e o ministério ordenado é a não nos tornar ministros em-
recem exercer uma função cum- um dos componentes da diver- presários”, onde se perde a pro-
prindo uma tarefa contratual; e sidade de carismas com que se teção do dom e sua contempla-
outros mais ficando numa posi- nutre essa mesma comunidade. ção. Em primeiro lugar está o
ção de cargo hierárquico. Ainda dom, e depois o serviço. Muitos
bem que há uma imensidão de O Papa traz à reflexão a pa- ministros estão mais na função
ministros santos que encarnam lavra de Paulo a Timóteo para de executores de tarefas ecle-
o ministério como um dom. Es- que ele não descuide do dom siais e assim se perdem quan-
sa reflexão não deveria servir da graça que possui. O minis- do deveria se encontrar no co-
apenas aos ministros ordena- tro deve antes de tudo cami- ração do ministério.
dos, mas todos os que exercem nhar na contemplação do dom
algum tipo de função litúrgica para que não se caia na re- O texto bíblico ainda cha-
numa celebração. gra do “devo fazer”, ou seja, da ma Timóteo para que cuide de
função. Quando o ministro es- si e daquilo que ensina, mos-
No meio sócio político en- tá mais preocupado com o “fa- trando-se perseverante, para
contramos a palavra ministé- zer” que com a “contemplação”, que ele e todos aqueles que o
rio significando um cargo ou ele perde o “coração do minis- ouvem se salvem. E o Papa con-
uma função e quase sempre de- tério”. Não é o fazer que deve clui sua homilia falando direta-
corrente de algum benefício aparecer em primeiro lugar na mente para bispos e padres: “Se
concedido a alguém em cam- vida do ministério, mas con- nós nos apropriamos do dom
panhas eleitorais. Na teologia templar e proteger. O dom pre- de Deus e o transformamos em
dos ministérios, esse sentido cisa ser protegido, caso contrá- função, perdemos o olhar de
é completamente desconheci- rio ele se perde no corre-corre Jesus. Peçamos ao Senhor que
do e deplorável. Não se exer- do fazer. Por esse motivo mui- nos ajude a proteger nosso mi-
nistério como dom”.
Edebrande Cavalieri 23
Doutor em Ciências da Religião
novembro 2019
PALAVRA DO ARCEBISPO
TRECHOS DAS HOMILIAS
DE DOM DARIO
Homilia do dia 09 de outubro de Jesus sentem, pois eles viam o “Os que vivem a fé, nós discípu-
exemplo dos discípulos de João. Os los do Senhor, somos chamados a
“A oração é algo que tem que discípulos observam que Jesus re- anunciar Jesus de Nazaré, a exem-
fazer parte da nossa vida, assim za, mas não o incomodam. Ao tér- plo de Paulo, que levou a palavra
como a respiração, a alimenta- mino da oração, um dos discípulos de Deus aos que ainda não O co-
ção. Qualquer atividade missioná- pede que Ele os ensine a rezar, co- nheciam, ou que procediam como
ria, qualquer coisa que a gente for mo João havia ensinado aos seus se não a conhecesse. Que possa-
realizar, por mais simples que se- discípulos. Jesus os ensina a rezar mos lapidar o dia de hoje, a nossa
ja, um pequeno bom dia, uma vi- de maneira diferente, ensina o es- conversão, e nos jogar nos braços
sita, se não tiver base na oração, sencial de uma oração. Muitas ve- de Deus, mesmo que não tenha-
torna-se vazia, caindo no que po- zes a gente imagina que é a quan- mos ou não percebamos os sinais
demos chamar de ativismo. Vamos tidade de palavras, de gestos, mas que esperamos. Eles estão por to-
fazendo, vamos fazendo, mas sem Jesus mostra que não é bem as- da parte, crendo ou não, bastando
sentindo. Numa linguagem nossa, sim. A oração eficaz, que coloca a apenas que contemplemos a Cruz.
bem capixaba, esse saco “poca”, pessoa que reza em sintonia com Somente com fé e esperança pode-
fura, e aí é tudo derramado.” Deus, vem do fundo do coração.” remos ser verdadeiros discípulos e
missionários, e anunciar com fir-
“A oração do Pai Nosso foi en- Homilia do dia 14 de outubro meza a palavra de Deus. Que San-
sinada por Jesus aos seus discípu- ta Dulce dos Pobres nos ajude nes-
los diante da necessidade de orar, “Mesmo tendo recebido infini- sa missão.”
antes de agir e agir ter uma pos- tas graças de Deus, nós ainda somos
tura orante. Essa oração nasce a uma geração má. Mas como Dom Homilia do dia 16 de outubro
partir de três situações fundamen- Dario? Uma geração que não res-
tais: primeiro, o exemplo de Jesus, peita o semelhante, nem o meio am- “Jesus questiona o modo de
o testemunho, a prática dos discí- biente que vive. É claro que não são viver dos fariseus. Quando Jesus
pulos de João, e a necessidade de todos, mas ainda há uma multidão questiona, quando Jesus fala tan-
orar dos discípulos. Veja que coi- que não assimilou os ensinamentos to dos fariseus, parece que Ele ti-
sa interessante, primeiro o exem- de Jesus, os mandamentos de Deus. nha um ódio dos fariseus, mas não.
plo de Jesus, a prática de Jesus, se- Em consequência disso procede co- Ele teve muitos amigos fariseus,
gundo, as práticas dos discípulos mo se Deus não existisse e como se inclusive foi jantar na casa de um
de João, eles rezavam, e depois. sua criação também não existisse, fariseu. Apesar de cumprir rigo-
as necessidades que os discípulos aí agride a criação de Deus.” rosamente as obrigações religio-
24 novembro 2019
PALAVRA DO ARCEBISPO
sas, os fariseus deixavam de lado “São Paulo, em sua Carta aos nário de Jesus Cristo. Lucas era
a justiça e o amor a Deus. Na ver- Romanos, mostra que não deve- médico e fez da profissão uma mis-
dade, quando os fariseus viam Je- mos julgar os outros em hipóte- são, por isso foi muito querido por
sus, ficavam apavorados e Jesus se alguma e muito menos apon- todos. Por que podemos dizer que
percebe que aquilo tudo não pas- tar-lhes as falhas. Quantas vezes ele era querido por todos? São Pau-
sava de uma aparência, de um de- apontamos os defeitos, as falhas e lo na Carta aos Colossenses, no ca-
sejo de aparecer. Esse perigo nós os procedimentos inadequados dos pítulo 4, versículo 14, chama Lucas
temos. Quantas e quantas vezes outros, mas esquecemos e escon- de meu querido médico. Foi médi-
nós queremos ser elogiados, que- demos os nossos próprios defeitos. co não apenas do corpo, mas tam-
remos ser reconhecidos. Jesus cri- Paulo chama a atenção para esse bém da alma, numa estreita sinto-
tica profundamente essa situação. tipo de procedimento, que em na- nia com aquilo que Jesus pede no
No fundo Jesus quer dizer para os da contribui para o crescimento Evangelho, no relato do próprio
fariseus, vocês são como túmulos, pessoal, e muito menos para com Lucas, sua missão que Jesus o con-
ou seja, escondiam dentro de si os a comunidade. Quem age assim fiou: Quando entrar em uma cidade
horrores da morte. O verdadeiro revela ser uma pessoa de coração curai os doentes que nela houver.”
procedimento religioso não deve duro, que carece ainda de conver-
se basear nas aparências. Quantas são. Que o nosso comportamento “Lucas foi um verdadeiro por-
e quantas vezes a gente erra pelas na comunidade seja pautado pe- tador da paz, aprendeu com Paulo
aparências.” lo amor, pela caridade, sem julgar e outros discípulos a lidar com ela,
a ninguém, mas ajudando aqueles mesmo quando o campo missioná-
“Devemos cumprir fielmente e aquelas que precisam de auxílio rio se revela carente de paz.”
com as nossas obrigações religio- em seu crescimento pessoal e espi-
sas, tais como frequentar assidua- ritual, para que sejamos ajudados “Nos Atos dos Apóstolos en-
mente as nossas missas, as nossas também em nossas falhas, nas nos- contramos uma das mais belas ex-
orações, participar de alguma ati- sas fraquezas. Cada um de nós sa- pressões de comunidade. Comuni-
vidade pastoral, de alguma obra be o seu limite, sabe a sua grande- dade o lugar de partilha, de amor
de caridade ou realizar trabalhos za, sabe o seu poder, sabe do seu e de solidariedade. Que São Lucas
sociais. Não saiba a nossa mão es- relacionamento junto a Deus. Que nos ajude, nos dê força, que rea-
querda o que fez a direita. Não po- Santa Edwiges nos ajude a cami- nime o nosso trabalho na missão,
demos, porém, esquecer de pra- nhar na simplicidade da vida.” que reanime as nossas comunida-
ticar a justiça. Amar a Deus e ao des e que anime cada vez mais ca-
próximo. Se não fizermos isso, to- Homilia do dia 17 de outubro da um de nós e nossos irmãos a vi-
das as demais ações esvaziam. ver em comunidade, na partilha,
Devemos também ser coerentes e “Os escritos de São Lucas são
cumprir com aquilo que falamos. um legado para a fé cristã. Por no amor e na solidariedade.”
Temos que viver o que pregamos meio de suas palavras e ações, co-
ao invés de criar normas para que nhecemos mais Jesus, daí a sua im- Dom Dario Campos, ofm
apenas os outros cumpram.” portância como discípulo missio-
Arcebispo Metropolitano de Vitória
novembro 2019 25
FLASHES DO COTIDIANO
SOBRE O TEMPO
Hoje tive uma conversa bem proveitosa com a minha avó. O tema desta vez foi
o tempo. Estava chegando em casa, à noite, já pensando nas atividades do dia
seguinte, nem pensava em comer nada, só tomar aquele banho e dormir.
- Benção vó! Tudo bem? (antes que ela respondesse já emendei) já vou me preparar para deitar
que o dia amanhã vai ser tenso...
- Pode parar (já me cortando). Aqui virou pensão?
- Rs... que isto vó? Claro que não.
- Então você pode sentar um pouco e conversar com a sua vó, não?
- Tem razão, me desculpe... é que os dias parecem menores do que antes... sobra tempo para nada.
- Já parou para pensar que quem faz o tempo é a gente?
- (na verdade não) Pelo que sei, os nossos compromissos acabam ditando o tempo que a gente
tem. (não sei porque tem hora que a gente pensa uma coisa e acaba dizendo outra)
- Mas não é a gente que inventa estes compromissos? Na sua agenda lotadíssima (olha a ironia)
não consegue separar tempo para você e para a sua família?
- Eu atento, mas sempre surge algo.
- Então o problema não é tempo, é prioridade. Temos que dar a mesma importância
para a família que a gente dá para o trabalho, para os estudos ou sei lá o que você
chama de compromisso.
- Mas não tenho que trabalhar, não tenho que estudar?
- E viver? Tem não?
- E eu não vivo?
- Neste ritmo não. Você sobrevive.
- Lembra de quando você entrava na cozinha chorando com o joelho ralado e a gente parava
tudo o que estava fazendo para, além de passar merthiolate, controlar o drama que você fazia
porque ardia um pouquinho?
- Pouquinho? Aquilo era pior que o machucado...
- E quando em vez de fazer as minhas coisas eu me sentava com você para ajudar nas
lições de casa?
- Pelo menos agora não dou mais trabalho, né?
- Quem disse? Quando não está todo estressado por excesso de coisas para fazer, parece que
está tentando inventar algo mais.
- O que fazer então?
- Ai, o trabalho de uma vó nunca acaba... (risos). Olha aqui menino, a vida passa rápido e se
você não aprender a usar o tempo a seu favor, ela passa toda na sua frente e você não vê.
- É, a senhora tem razão.
- E esta conversa toda não durou cinco minutos. Viu como o tempo funciona? Agora pode ir...
fechei expediente (risos).
Ela tinha razão, nem levantei para ir para o quarto depois desta conversa.
Estava muito gostoso ali onde a gente estava e quis aproveitar mais.
ENTREVISTA
JUSTIÇA RESTAURATIVA:
A ESCUTA PARA A PAZ
No mês de setembro foi realizada na Arquidiocese de Vitória uma
capacitação para facilitadores da Justiça Restaurativa, ministrada
pelas irmãs Bárbara Kiener e Imelda Maria Jacobye, do Rio Grande
do Sul, que nos contou um pouco sobre essa metodologia.
Como a Pastoral Carcerária Quando a Justiça Restaurati- lência gera violência” e é mui-
iniciou o processo da Justiça va pode ser aplicada? to importante que se entenda
Restaurativa? isso. Dentro da metodologia da
A Justiça Restaurativa pode ser Escola do Perdão e Reconcilia-
A partir de 2005, a Pastoral aplicada para ajudar na trans- ção, nós conhecemos um dia-
Carcerária Nacional começou a formação de conflitos, preve- grama que foi feito pela psicólo-
perceber que somente o enten- nindo e superando a violência, ga Olga Botcharova. O diagrama
dimento religioso e o encarce- mas ela só poderá acontecer nasceu num contexto pós-guer-
ramento não eram suficientes. quando, de fato, a pessoa que ra, quando se percebeu que não
A Pastoral necessitava fazer al- está no processo formativo pa- dava mais para conviver em um
go mais intenso diante de uma ra se tornar um facilitador, se ambiente tão hostil, de tanta
Justiça que só pune, que não torna uma pessoa restaurativa. punição, tanto ódio, de tanta se-
restaura, que não reintegra, O que significa ser uma pessoa de de vingança, de tanta doença
não ressocializa. restaurativa? É a pessoa que decorrente da falta de perdão.
acolhe a dor do outro, ouve sem
Então, a Pastoral, buscou como julgar. A Justiça Restaurativa é Como funciona a dinâmica des-
alternativa a Justiça Restaura- para todos. se diagrama?
tiva. Foi através do Centro de
Direitos Humanos e Educa- Existe ainda em nossa socie- Olga Botcharova, junto com sua
ção Popular (Cedep), de Campo dade uma sede por punição? equipe, começou a fazer um
Limpo, em São Paulo, que nós trabalho de escuta de todas as
da Pastoral conhecemos essa Existe. É uma ânsia em punir, pessoas que estavam sofrendo,
metodologia, baseada na Esco- e se pensa que é exatamente quer sendo vítima de violência,
la do Perdão e Reconciliação, através da punição que se cor- quer sendo autor da violência.
que nasceu em Bogotá, na Co- rige alguém que errou. Quan- O diagrama então começa num
lômbia, num contexto de pro- do se percebe que não é assim. círculo fechado: violência gera
funda violência. A punição como tal, só aumen- violência.
ta a sede de vingança. “A vio-
passos da vingança para a reconciliação
O círculo da Agressão Me feriram. Fiquei com uma gança. Surge uma sede de se vin-
marca. ”. Toma consciência da gar, até mesmo em coisas mui-
A dor, o choque e a negação. perda e aí chega o pânico: “E to pequenas do nosso dia a dia.
agora? Como será minha vida? ” Expressões como: Deus é justo.
A pessoa foi agredida, o ato de “Deus tarda, mas não falha. Uma
agressão: neste momento co- A repressão da dor e dos medos. hora vai chegar”... passam a fa-
meça o círculo fechado da ví- zer parte de seus pensamentos,
tima: toda pessoa que sofre A vergonha que vai acompa- porque a sede de vingança es-
agressão, nos mais diversos ní- nhando a vítima, a dor profun- tá entranhada em nós. Isso vai
veis, inicia um processo de dor, da que vai oprimindo, passa pa- crescendo, crescendo…
entra em choque, quer negar, fi- ra outro nível: a pessoa começa
ca com vergonha e isso a acom- a reprimir a dor, tenta escon- Cria a “história certa” – a jus-
panha dia e noite. der, deixar para lá. “Vou fazer de tificativa – agressão.
conta que não tem nada. ”… E fi-
A consciência. ca engolindo. Não fala para nin- A próxima fase é criar a “his-
guém, fica remoendo sozinho. tória certa”; criar a história de
Depois de um tempo, que po- acordo com seu ponto de vis-
dem ser dias, semanas, meses, Raiva, ira – desejo de justiça, ta, algo que justifique seu senti-
anos, a pessoa agredida passa de vingança. mento e tudo isso é alimentado
para outro momento: a consci- por parentes, vizinhos, conheci-
ência da perda. De repente ela Na fase seguinte, a pessoa se dos, que por conhecerem a “his-
se dá conta da agressão: “Mas e questiona: “Por que comigo? ” E tória” ajudam a inflar esse sen-
agora, como vai ser? Eu fui ca- aí se enraivece, sobe uma ira e timento. A vítima agora comete
luniada, me desrespeitaram. passa a se preparar para a vin- um ato de agressão justificado.
Existe a possibilidade de se que-
brar esse ciclo da agressão?
Sim. Em seu trabalho de obser-
var a dor da vítima e do agres-
sor, Olga Botcharova, coloca a
forma de como sair desse cír-
culo de agressão:
O círculo da Reconciliação
Expressão da dor, do luto.
Olga concluiu que em vez de re-
primir a dor, os medos, é pre-
ciso expressar a dor, falar dos
sentimentos. Isso só é possível
quando a pessoa realmente é
escutada. A escuta é fundamen-
tal. Escuta sem julgamentos,
sem interferência, sem acon-
selhamentos, apenas ouvir e
novembro 2019 29
ENTREVISTA
acolher, ter empatia. É desta fo- dessa carga, é possível. Quando Como o convite chegou à Ar-
ram que podemos sair desse ci- há uma escolha, uma decisão, quidiocese de Vitória?
clo da agressão, passando a ou- quando se quer perdoar aí exis-
tro, o ciclo da reconciliação. te uma possibilidade de restau- A irmã Bárbara Kiener conhe-
ração. Justiça Restaurativa. ceu os fundamentos da Justiça
Nomear, enfrentar os medos e Restaurativa em 2011 em Goiâ-
aceitar a perda. Estabelecer a Justiça: admi- nia, e em 2017, durante um en-
tir a responsabilidade, pedir contro da Pastoral Carcerária,
Então, sentindo-se acolhida, a desculpas. ela apresentou a proposta para
pessoa já tem possibilidade de o Pe. Paulo Sérgio Vailant e pa-
falar, de nomear aquilo que es- Quando alguém faz o proces- ra os agentes, que sentiram um
tá sentindo, de falar sobre o so de autoconhecimento, per- grande interesse por esta ferra-
que aconteceu. De “enfrentar cebe as fragilidades, as violên- menta do perdão. Em 2018 fo-
os medos e aceitar a perda”. É cias que estão nela também. ram organizados dois cursos de
isso! Isso vai acontecendo. Ela vai compreendendo o ou- Fundamentos da Justiça Restau-
tro. Por isso fazer, assumir res- rativa e desta vez, a formação é
Re-humanizar o inimigo. Por ponsabilidade. “De repente isso para pessoas que já participa-
que ele/a faz o que faz? aconteceu, mas eu tenho parte ram de uma das duas forma-
também, eu dei uma oportuni- ções inicias e sentiram a vonta-
O passo seguinte, agora, não é dade, eu também tive uma ati- de de se tornarem facilitadores
mais “porque eu?” Quando se tude que foi de ameaça.” da Justiça Restaurativa.
faz todo esse processo, de re-
pente a pessoa muda seu olhar. Estabelecer a Justiça: rever a A partir de agora eles serão
“ Poxa, mas essa pessoa ela deve história, negociar soluções. multiplicadoras do curso dos
ter tido muitos círculos, muitas Fundamentos da Justiça Res-
violências. O que será que acon- Depois que a pessoa fez todo taurativa na Arquidiocese e
teceu na vida dessa pessoa pa- o processo da saída do círculo poderão seguir aprofundando
ra ter uma postura assim, uma da agressão, é possível estabe- os conhecimentos pelo Cedep,
atitude dessa? Por que será que lecer a justiça, rever a história passando por uma outra etapa
ela me agrediu? Ela foi agredi- e negociar soluções. Aqui nes- ainda, a das práticas restaura-
da? Ela carrega traumas?” A se momento pode-se fazer, e tivas, na qual se estuda e pra-
pessoa começa a olhar diferen- é importante que isso aconte- tica as diferentes modalida-
te. E aí ela vai mudando. ça, a reconexão, a restauração, des de Círculos de Construção
a reconciliação. É importan- da Paz.
Rendição, escolher perdoar. te, claro, ser estabelecido esse
Compromisso de assumir riscos. retorno, a relação com a outra Andressa Mian
pessoa, mas não necessaria-
A pessoa que agrediu nem pre- mente comunhão perfeita, são Jornalista
cisa saber desse processo. A ví- passos gradativos.
tima se rende, e escolhe per-
doar. O perdão é uma decisão.
A vítima quer ou não quer per-
doar. Não depende da outra
pessoa, depende único e exclu-
sivamente de quem sofreu a
agressão. Se ela tem abertura,
se ela realmente quer se libertar
30 novembro 2019
IDEIAS
PENSAR OS PREJUÍZOS E
COMPENSAÇÕES À VIDA
32 novembro 2019
Avida anda muito prejudicada. A vida se vai prejudicada e di-
minuída em nós, no mundo, em todos. A vida soma prejuízos
ao norte e ao sul do planeta, no mar e nas florestas, no corpo,
na mente e no coração das pessoas. A vida tem sido menos, bem me-
nos do que poderia ser, infelizmente, porque separada do que pode.
Para onde fugir de modo a danças, desde que não nos ti- dirá compensações cada vez
ficar livre desses prejuízos? Pa- rem as compensações. Quere- maiores. E para que compre-
ra onde correr e encontrar a vi- mos o Reino de Deus, desde que mos compensações ao valor do
da em toda a sua força e beleza? não nos tirem a possibilidade sangue, a vida precisa ser pro-
Como resgatá-la em sua intei- de consumir e consumir. A pala- duzida como carência. Ela pre-
reza e beleza? Algo precisa ser vra nos discursos corriqueiros cisa ser esburacada, sem gra-
feito. Queremos mudanças. da necessidade de mudanças, ça, cheia de crateras para que,
passa de instrumento de orga- o tempo todo, nos coloque-
Queremos mudanças, mas nização do pensamento para o mos na faina árdua e ilusória
não queremos, de fato, mudan- seu contrário. Passa a impedir de preenchê-la.
ças. Estamos insatisfeitos, mas o pensamento. Mas, como su-
nos agarramos às migalhas de portamos essas contradições? O uso continuado das com-
vida e passamos a defender es- O que nos bloqueia a ousadia e pensações enfraquece o desejo
se “sistema” que nos oferece a coragem de buscar mudanças por mudança. Cada vez mais fi-
migalhas. E como fazemos pa- de fato já que ela se faz presen- caremos distantes do que pode-
ra nos darmos por contentes te em nossos discursos? O que mos, porque distantes do pró-
com as migalhas? Que meca- segura-nos e prende? O que nos prio desejo, essa força de viver e
nismo poderoso é esse que nos prende são as compensações. gostar de viver. O desejo apare-
faz pedir mudanças, mas nos Somos capturados pelas com- ce, mas sucumbe. Ele vem, é ge-
convence a aceitar as migalhas pensações. Elas corroem nosso nuíno, vai na direção da saúde,
que nos oferecem sob a forma desejo e nos mantém cativos. da vida inteira, mas sucumbe. A
de compensações? Que meca- Elas nos mantém cativos com a compensação é como um cupim
nismo poderoso é esse que nos sensação de que somos livres. sobre o desejo. O desejo co-
faz elaborar discursos tão bem mo expressão de vida que quer
articulados e emocionalmente E o que são compensações? continuar sendo vida é deixado
densos sobre a importância de São todas aquelas coisas que de lado para que seu lugar seja
mudanças, mas nos convence a colocamos no lugar da vida, ocupado por compensações.
defender os modos de vida que mas que precisam de reposição
exatamente nos impedem de constante, pois que seu efeito Mas, a despeito de tudo, so-
viver o que a vida pode? é extremamente breve. Produ- mos convocados a uma genero-
tos, títulos, importâncias se ins- sidade para pensar: não vive-
Parece que esse mecanismo crevem como exemplo no hall mos inteiros, mas não estamos
primeiro produz vidas fracas e das compensações. Caímos em ainda proibidos de pensar a vida
carentes e com base nas carên- um círculo vicioso. Literalmen- como experiência boa para além
cias nos oferece compensações, te. Uma vida de frustrações pe- das compensações. Pensemos.
muitas, e nos incentiva a pedir- dirá clamorosamente por com-
mos mudanças e defendermos pensações. Uma vida fraca pe- Dauri Batisti
as compensações. Pedimos mu-
Padre, Psicólogo e
Mestre em Psicologia Institucional
MUNDO LITÚRGICO
ESPIRITUALIDADE DO ADVENTO • Na verdade, é justo e neces-
ATRAVÉS DOS TEXTOS EUCOLÓGICOS sário, é nosso dever e salva-
ção dar-vos graças, sempre e
Conhecer e aprofundar um ciência, desejo, oração, alegria e em todo lugar, Senhor, Pai san-
tempo litúrgico através solidariedade fraterna são ati- to, Deus eterno e todo-poderoso,
da eucologia é ter acesso tudes próprias para este tempo por Cristo, Senhor nosso. Predi-
direto ao conteúdo da espiritu- de preparação da solenidade do to por todos os profetas, espe-
alidade, pela forma ritual. Euco- Natal e sua extensão como tem- rado com amor de mãe pela Vir-
logia – do grego, euche (oração) po litúrgico. Os textos eucológi- gem Maria, Jesus foi anunciado
e logia (ciência, estudo) – é o es- cos selecionados abaixo apre- e mostrado presente no mundo
tudo da oração, como também o sentam tais referências: por São João Batista. O próprio
conjunto de orações de um livro Senhor nos dará a alegria de en-
litúrgico ou de uma celebração • Ó Deus todo-poderoso, tendo nós trarmos agora no mistério do
litúrgica. Em suma, são as ora- recebido o penhor da eterna re- seu Natal, para que sua chegada
ções que a Igreja, enquanto as- denção, fazei que, ao aproximar- nos encontre vigilantes na ora-
sembleia reunida, dirige a Deus -se a festa da salvação, nos prepa- ção e celebrando os seus louvo-
pela mediação de Cristo. remos com maior empenho para res. Por essa razão, agora e sem-
celebrar dignamente o mistério pre, nós nos unimos aos anjos e a
As orações litúrgicas nas- do vosso Filho. Que vive e reina todos os santos, cantando a uma
cem da experiência com a Pa- para sempre. (Oração depois da só voz: (Prefácio do Advento, II –
lavra de Deus, a qual é a fonte Comunhão – 4º Domingo – A e C) A dupla espera de Cristo).
de inspiração para a liturgia e
para toda forma de oração cris- • Ó Deus todo-poderoso, conce- Para aprofundar o sentido
tã, comunitária e pessoal. A Pa- dei a vossos fiéis o ardente dese- dos elementos eucológicos aci-
lavra é a comunicação de Deus jo de possuir o reino celeste, pa- ma, como de todos os outros
para com o seu povo, e dela ori- ra que, acorrendo com as nossas do referido Advento, é oportu-
ginam a prece e o culto, como boas obras ao encontro do Cristo no seguir o método da leitura
respostas do povo no diálogo que vem, sejamos reunidos à sua orante da Palavra (leccio divi-
da Aliança. direita na comunidade dos jus- na), com os seguintes passos:
tos. Por nosso Senhor Jesus Cris- 1. Leitura (O que diz o texto em
O Tempo do Advento mar- to, vosso Filho, na unidade do Es- si?); 2. Meditação (O que diz o
ca o início de uma nova etapa da pírito Santo. (Oração do Dia – 1º texto para mim?); 3. Oração
caminhada cristã, na progressi- Domingo – A, B e C) (O que o texto me faz dizer a
va consciência de perceber e ce- Deus?); 4. Contemplação (Olhar
lebrar a vinda de Jesus Cristo na • Alegrai-vos sempre no Senhor! a vida com os olhos de Deus).
história, como Verbo Encarna- De novo eu vos digo: alegrai-vos!
do. Vigilância, fé, silêncio, cons- O Senhor está perto! (Antífona da Um fecundo e decisivo Ad-
Entrada – 4º Domingo – A, B e C) vento para todos!
Fr. José Moacyr Cadenassi
OFMCap, letrista, cantor, consultor de liturgia,
apresentador de rádio e agente de ecumenismo
e diálogo inter-religioso
ASPAS
“Quando acenderem as fogueiras, eu quero estar ao lado das bruxas”
Fernanda Montenegro
DE BRUXAS, FOGUEIRAS E
LEITURA COMO PRÁTICA DA LIBERDADE
Em capa recente da Revis- ta sobre a leitura, nos presen- afirmativamente era a elimi-
ta Quatro Cinco Um, Fernanda teou com o conto “Um General nação da diferença, e a instau-
Montenegro encarna uma bru- na Biblioteca”, em que a repres- ração de uma nova forma de
xa medieval prestes a ser quei- são efetuada pelo escrutínio do hierarquia, a serviço do pensa-
mada junto de centenas de li- acervo de uma biblioteca defla- mento único, que garantiria o
vros. “Quando acenderem as gra a potência transformadora controle, rumo a um modo de
fogueiras, eu quero estar ao la- da relação dialética entre tex- produção fabril, assalariado e
do das bruxas”, foi a legenda to e leitor. opressor, o capitalismo.
da publicação, feita após a ten-
tativa malfadada, do prefeito Na medida em que possibi- Estar ao lado das bruxas se-
do Rio de Janeiro, Marcelo Cri- lita nosso deslocamento da po- rá jamais resignar-se a um sis-
vella, de censurar um livro com sição que ocupamos, a leitura tema que nos avilta e mata, ja-
conteúdo homoafetivo, na Bie- nos instala em realidades, mo- mais prescindir da crítica e
nal do Rio. dos de vida, sistemas de valo- do vislumbre de uma socieda-
res, percepções do mundo com- de no porvir, processo em que
Semelhante tentativa de pletamente diferentes, senão a leitura – do livro, do mun-
cerceamento aconteceu em São antagônicos, aos nossos. A lei- do, do outro, de nós mesmos
Paulo, quando o governador tura opera em nós a humani- – é a própria crítica e criação.
João Dória determinou o reco- zação, confirma-nos em nossa Eis o “perigo” que as bruxas re-
lhimento de livros didáticos humanidade, como disse Antô- presentam para os donos dos
que tratam da imprescindível nio Cândido, para quem litera- meios de produção. Matam-nas,
distinção entre sexo biológico, tura é “o sonho acordado das queimam seus livros, mas suas
identidade de gênero e orienta- civilizações.” ideias, a memória da luta tra-
ção sexual. vada por um horizonte utópico
O que é ‘estar ao lado das restam vívidas. Suas cinzas fer-
Mas por que livros são con- bruxas’, então? O contexto me- tilizam novos atos nascentes de
siderados tão perigosos por al- dieval em que se deu a perse- um modo de vida comum e não
guns governantes? Crivella guição às mulheres pode fa- cessam de sussurrar pelas flo-
e Dória têm os nazistas co- zer pensar que se tratava de restas densas, mangues, cacho-
mo precedentes históricos, no exclusivo combate ao suposto eiras e paragens mais recôndi-
maior ritual público de queima obscurantismo religioso, mas tas: Bruxas de todo o mundo,
de livros considerados inconve- o que estava em jogo, além do uni-vos!
nientes ao regime de Hitler, em domínio de seus corpos, da de-
maio de 1933. Foi Ítalo Calvi- sautorização social para que Junia Zaidan
no que, em sua constante escri- ocupassem espaços públicos
Linguista, professora da UFES e membro
do Coletivo Professores em Movimento
SUGESTÕES
CULTURA AFRO
NO CENTRO DE VITÓRIA
OMuseu Capixaba do Ne- nhor João, uma simpatia de vi- Andressa Mian
gro “Verônica da Pas”, gilante que com um sorriso no
o Mucane, é um espaço rosto, encaminha os visitantes Jornalista
onde, além da cultura negra, é para que sejam acompanhados
possível encontrar história, la- durante o passeio pelo local.
zer, arte e gastronomia. Loca-
lizado na Avenida República, As visitas individuais não
no Centro de Vitória, o museu precisam necessariamente ser
é instalado em prédio históri- agendadas, mas as escolas po-
co construído em 1912. Res- dem marcar os grupos de estu-
taurado e modernizado, o edi- dantes para visita guiada com
fício que tem dois pavimentos, algum colaborador. As infor-
é equipado com auditório, bi- mações sobre a programação
blioteca, área de eventos, mu- mensal do museu ficam expos-
seu, mezaninos e também com tas em um mural, na recepção.
a lanchonete e cafeteria Ubun-
tu Quitutes. Delícias da culinária afro
podem ser experimentadas na
Oficinas de violão, cavaqui- Ubutu Quitutes, um espaço co-
nho, dança, percussão, tambo- lorido, aconchegante e com um
rim e contação de histórias são cheirinho de comida gostosa,
ofertadas por semestre e as ins- que dá água na boca. Um acer-
crições para 2020 estão previs- vo com fotos antigas de Vitó-
tas para iniciarem em fevereiro. ria ficam expostas em uma das
Quem se interessar tem que ficar paredes da lanchonete e dão ao
atento, pois as vagas são dispu- loca um charme bucólico. Lá os
tadas. Além das oficinas, acon- pratos são variados e podem
tecem no espaço, eventos como ser degustados de terça a sex-
ensaios da escola Unidos da Pie- ta. Além do almoço, também é
dade, ensaios da companhia afro servido café, tortas e salgados
Negraô e apresentações cultu- deliciosos.
rais que atraem bastante públi-
co aos finais de semana.
Quem visita o Museu, que fi-
ca aberto ao público das 12 às
19 horas de terça a domingo
(quando são agendados eventos
culturais), é recebido pelo se-
38 novembro 2019
ECONOMIA POLÍTICA O entendimento das
interligações entre a
PAPA FRANCISCO salvaguarda do meio
E ECONOMIA ambiente, a justiça
para como os mais
Oportuno o chamamento Para essa empreitada, a pobres e a solução dos
feito pelo Papa Francis- prioridade dada é para acadê- problemas estruturais
co feito a “…quem hoje micos e empreendedores com da economia mundial, já
está se formando e está inician- menos de 35 anos de idade. foi registrado pelo Papa
do a estudar e praticar uma Mesmo contando com a parti- Francisco em sua Carta
economia diferente, que faz vi- cipação de detentores de Nobel Encíclica Laudato si.
ver e não mata, inclui e não ex- em Economia como Muhammad
clui, humaniza e não desuma- Yunus e Amatya Sen e outros “… para colocar em prática um
niza, cuida da criação e não a que propugnam por uma outra novo modelo econômico, fruto
depreda”. O evento intitulado economia, o chamamento para de uma cultura da comunhão,
“Economia de Francisco será a ‘Economia de Assis’ é para jo- baseado na fraternidade e na
realizado de 26 a 28 de março vens “…capazes de escutar com equidade.”
de 2020 e acontecerá em Assis, o coração o grito sempre e ca-
Itália, terra de São Francisco, da vez mais angustiante da ter- Por em prática um novo
pioneiro na crítica a regimes ra e dos pobres na busca de aju- modelo econômico que reflita a
econômicos pautados na exclu- da de responsabilidade, isso é, urgência de todos entenderem
são dos humanos mais pobres e de alguém que responda e não a necessidade de revisão de es-
dos demais seres viventes. vire o rosto para o outro lado”. quemas mentais e morais. Re-
visão necessária para que ca-
Vista de forma ampla, a O entendimento das inter- da um viva em conformidade
convocação está voltada pa- ligações entre a salvaguarda com as exigências do bem co-
ra mudar a economia atual e do meio ambiente, a justiça pa- mum. Bem comum no sentido
dar um espírito à economia do ra como os mais pobres e a so- literal da palavra, longe daque-
amanhã, condizente com sua lução dos problemas estrutu- le desconsiderado, desprezado
função social e ambiental. Vai rais da economia mundial, já foi e debochado pelos poucos que
além daqueles que têm o dom registrado pelo Papa Francis- se beneficiam da acumulação
da fé para abranger homens e co em sua Carta Encíclica Lau- de riquezas conquistadas atra-
mulheres de boa vontade que dato si. Por isso, a agenda para vés da exploração do trabalho
são chamados a se conhecerem o encontro em Assis prioriza a de gente mundo afora e da sub-
melhor; a fazerem um pacto co- superação da surdez ao apelo missão da natureza aos inte-
mum e a promoverem um pro- para tomar consciência da gra- resses do ganho imediato.
cesso de mudança global na for- vidade dos problemas da eco-
ma e no conteúdo da economia. nomia mundial e acima de tudo, Interesses de ganhos finan-
ceiros imediatos por poucos
que coloca em risco a própria
existência de boa parte da es-
pécie humana.
Arlindo Villaschi
Professor de Economia
[email protected]
40 novembro 2019
ARQUIVO E MEMÓRIA
LIVROS DE REGISTROS DE SACRAMENTOS DE ESCRAVOS
Livro de Registros de batismos de pessoas cativas da Paróquia tentaram sobreviver a dura ex-
Nossa Senhora da Vitória, Catedral, dos anos de 1845 a 1856 periência do cativeiro, e pode-
mos considerar a contribuição
Na segunda metade do século XVI teve início a escravi- que a vida comunitária com a
dão africana no Brasil e consequentemente também inserção na religião cristã e em
na Capitania Hereditária do Espírito Santo. Consta suas irmandades, foi fundamen-
que em 1580 nosso estado tinha mais ou menos 200 escra- tal para essa sobrevivência.
vos, um número considerado pequeno em relação as outras
Capitanias da Colônia Portuguesa. No século XIX esse núme- Os registros preservados fo-
ro aumentou consideravelmente e a população do Estado, so- ram escritos à mão, em livros de
mando cativos e homens livres, chegou a 35 mil habitantes. assentamentos dos sacramen-
Os escravos negros que desembarcaram nos portos de Vitó- tos da Igreja Católica, e hoje, es-
ria e São Mateus foram traficados principalmente da Angola. ses são umas das poucas fontes
primárias possíveis de pesquisa
A Igreja Católica no Brasil, sa dos seus pais. Logicamente para resgatar a história. Preser-
no período Colonial e Imperial, a escolha pelo batismo católico var e permitir o acesso a esses
funcionava como cartório ao nem sempre era a escolha de- documentos é fundamental pa-
registrar os nascimentos (Ba- les, mas naquele momento e na- ra que a sociedade conheça sua
tismos), casamentos e óbitos de quele contexto, para a Igreja, o história e evite a negação dos
todas as pessoas que nasciam importante era tirá-los do pa- erros do passado.
nessas terras. Crianças, livres ganismo e fazê-los parte da re-
ou escravizadas eram registra- ligião do Estado. Na Arquidiocese de Vitó-
das na Igreja Católica, indepen- ria estão sob a guarda do Ar-
dentemente da crença religio- A maioria dos negros es- quivo Histórico – CEDOC, vários
cravizados e seus descendentes livros de registros de sacramen-
tos, principalmente batismos e
óbitos, de pessoas escravizadas.
O Centro de Documentação da
Arquidiocese trabalha incansa-
velmente para que esses docu-
mentos, bem como todos os que
estão no arquivo, sejam preser-
vados e conservados, e mais do
que isso, sejam dados a eles pu-
blicidade e acesso aos que se in-
teressam por conhecer sua árvo-
re genealógica, a história de suas
famílias e a história da escravi-
dão negra no Espírito Santo.
Giovanna Valfré 41
Coordennoavçeãmo dboroCe2d0o1c9
PAUTA LIVRE
A SIMBOLOGIA DAS VISITAS
AOS CEMITÉRIOS NO DIA DE FINADOS
ODia de Finados é uma festa religiosa na qual as pesso- nou costume da Igreja recolher
as lembram de forma especial àqueles seres queridos os restos mortais dos mártires e
que partiram. Dentro da tradição católica se realizam sepultá-los com veneração; com
diversos ritos que possuem um profundo sentido religioso e o passar do tempo, sepultar as
relacional. A visita aos cemitérios é um desses ritos, clássi- pessoas foi considerado uma
co e antigo, marcado pela oração, pelo silêncio e por gestos obra de misericórdia; o direito a
muito especiais próprios desse dia, como deixar flores, acen- um digno sepultamento e a um
der velas ou pronunciar o nome da pessoa querida na Missa. espaço no cemitério, se torna-
ram norma obrigatória na socie-
A Igreja afirma que a morte de nós. Mas, além disso, esses dade a partir do cristianismo.
não é o final do caminho, mas gestos apontam a algo muito
a passagem para a vida plena mais profundo que está inscri- Também foi se tornando
em Deus. São João o expressa to em cada ser humano: o ‘prin- próprio da Igreja rezar pelos fa-
de forma preciosa: “sabemos cípio esperança’, como eixo ver- lecidos. Rezamos pelos mortos
que passamos da morte pa- tebral da existência humana. por compreender a oração co-
ra a vida porque amamos” (1Jo mo um ato de caridade para as
3,14); da fé brota a certeza (sa- A inclinação à esperança é pessoas que passaram da Igre-
bemos) que a morte é uma pas- uma tendência inata em todo ja Peregrina para a Igreja Celeste.
sagem (passamos) para a vida, ser humano. O homem proje- São João Clímaco, no sec. VII, afir-
porque fomos capazes de amar. ta sua vida além da morte atra- mava que “a oração é mãe e filha
Esse amor guardado no fundo vés de se religar (religare > reli- das lágrimas”. A oração, regada
do coração é o amor expressa- gião) a um princípio maior que de lágrimas e carregando a espe-
do todos os dias, ao pronunciar ele próprio. O ser humano é o rança e o afeto pela pessoa que
o nome da pessoa amada; como único ser que acende fogo e en- partiu, é um bálsamo; tanto para
dizia um poeta: “Em quanto eu terra seus mortos, porque vive a pessoa que reza quanto para a
possa pronunciar teu nome, tu desde a convicção da vida que pessoa por quem se reza. Assim,
nunca morrerás”. supera à morte, e por isso faz a Igreja reverencia a memória
memória dos entes queridos. dos mortos e convida a oferecer
O Dia de Finados é um mo- sufrágios em seu favor, especial-
mento apropriado para rezar Desde os primórdios da mente no Sacrifício da Eucaris-
pelos defuntos, para acender Igreja, os cristãos sepultaram tia para que, purificados, pos-
velas e depositar flores nos tú- seus mortos; assim o atesta o sam alcançar o encontro com
mulos. São gestos que expres- martírio de São Estevão: depois o Amor dos amores. O mesmo
sam afeto, recordação e sauda- de ser lapidado, seus irmãos re- que, um dia, nós esperamos…
des pelas pessoas que partiram colheram seu corpo e lhe de-
ram sepultura (At 8,2). Se tor- Padre José Carlos F. Jorajuria
Pároco da Paróquia São José de Calasanz, Feu Rosa
ESPIRITUALIDADE
NASCEU O SALVADOR
Amigo, contemplemos o da Belém, porque era da casa e significa que você foi batizado.
lindo quadro que o evan- da família de Davi, para alistar- O Batismo fez de você um cida-
gelista Lucas expõe, -se com a sua esposa Maria, que dão não só da terra, mas do céu!
com maestria e arte, aos desti- estava grávida” (Lc 2,4-6). Jo- Na sua cidadania terrestre, pe-
natários do Evangelho que ele sé e Maria eram cidadãos, sim, la Graça do Batismo, pelo seu
noticiou. cidadãos da terra. Contudo, fa- novo modo de viver como discí-
ziam uma nova experiência na pulo de Jesus, testemunha a “ci-
Lucas descreve o nascimen- vida famíliar e pessoal eram dadania do céu”, já, aqui e agora
to de Jesus com detalhes ricos cidadãos do céu! Maria levava na história de todo os dias! Vo-
de sabedoria e ensinamentos. consigo, em seu ventre mater- cê, cidadão da terra recebe uma
Inicia sua narração fazendo no- no, o Filho de Deus! O Verbo de tarefa missionária de ser cida-
tar um evento histórico e polí- Deus se fez cidadão da terra pa- dão do céu, isto é, pés e coração
tico no qual se encontra a Sa- ra ser o Caminho da Humanida- na terra, mas pés e coração que
grada Família. de à Cidadania do céu! José, Ma- santificam a sua realidade ter-
ria e Jesus, a Família sagrada restre, com Jesus e como Jesus.
César Augusto ordena um que vive os dois mistérios, a ci-
recenseamento em toda a ter- dadania da terra e a cidadania Pela graça do Espírito San-
ra. “Naqueles tempos apareceu do céu. Vive o Mistério da Nova to você é convocado e enviado a
um decreto de César Augusto, e Eterna Aliança! ser um cidadão transformador
ordenando o recenseamento de sua realidade terrestre, com
de toda a terra. Esse recensea- Amigo, o que nos cabe cons- Jesus, qual Jesus e por Jesus no
mento foi feito antes do gover- tatar não pode passar sem al- Espírito Paráclito, Consolador e
no de Quirino, na Síria. Todos guma observação de sua par- Força de todo o cidadão do céu
iam alistar-se, cada um na sua te, como discípulo, querendo na terra.
cidade (Lc 2,1-3)”. e buscando ser santo, uma vez
que pretende seguir os passos Faça silêncio em seu cora-
Lucas situa o leitor no fato de Jesus durante toda a sua vida. ção e internalize, sob esta luz,
histórico, o recenseamento de- que a Família Cidadã da terra
terminado por César Augusto. Pois bem, você é um cida- e do céu, a Família de Nazaré
Nestas circunstancias ele in- dão da terra, situado, com so- projeta em sua vida pessoal, fa-
troduz a Família de José e a Vir- nhos de realização humana no miliar e eclesial.
gem Maria. “Também José subiu meio de tantos concidadãos.
da Galileia cidade de Nazaré, a Porém, você é um cristão. Isto Dom Luiz Mancilha Vilela, sscc
Judeia cidade de Davi, chama-
Arcebispo emérito
novembro 2019 43
FAZER BEM
PARÓQUIAS QUE FAZEM O BEM
OPapa Francisco vem sempre enfatizando em seus
discursos a importância da missionariedade do
cristão. Ao longo dos anos, as Paróquias da Arqui-
diocese de Vitória têm colocado esse discurso em práti-
ca, por meio de ações que vão ao encontro do próximo.
Paróquia “Eu acolho esse evento
São João Paulo II como sendo uma permis-
são e um grande presente
Este é o terceiro ano que os de Deus em podermos ale-
fiéis da Paróquia São João Pau- grar os corações daqueles
lo II da Praia de Itaparica, Vi- pequeninos que ali estão.
la Velha se unem para fazer É um momento de muita
um evento no dia das crianças. emoção e alegria para os
Brinquedos foram arrecadados nossos corações também”,
por eles e doados aos peque-
nos que se encontram interna- completou a coordenadora.
dos ou que esperam por aten-
dimento no Hospital Infantil de Paróquia
Vila Velha. São Francisco de Assis
A ação foi iniciada com o A Paróquia São Francisco
Grupo de Oração Imaculada de Assis, no bairro São Francis-
Conceição e hoje membros de co, em Cariacica, realiza no dia
todas as comunidades da paró- 10 de novembro o 2° Almoço
quia apoiam o evento. No último Solidário em prol da Obra So-
12 de outubro, além dos brin- cial Cristo Rei.
quedos, os fiéis prepararam um
lanche especial e fizeram um kit As refeições serão vendi-
higiene para os pais que acom- das no valor de R$ 13,00 e todo
panham os filhos no hospital. o dinheiro arrecadado será do-
ado para a instituição, que vem
Mara Rúbia Madeira, coor- passando por um momento fi-
denadora da ação contou a Re- nanceiro delicado.
vista Vitória que as crianças
recebem o grupo com muita Cerca de 100 crianças e ado-
alegria e é possível notar a lescentes são atendidos pela
emoção no rosto delas. obra social. A entidade oferece
oficinas socioeducativas como
44 novembro 2019
FAZER BEM
artes visuais, apoio e incentivo à equipes é para que nenhuma Paróquia
leitura, artes literárias, musica- pessoa em situação de rua fi- Nossa Senhora das Graças
lização, coral, informática e re- que de fora da ação, mesmo que
creação esportiva. Café da ma- a pessoa esteja fora da rota pre- Na Paróquia Nossa Senho-
nhã, almoço e lanche também viamente traçada. ra das Graças de Vila Velha,
são ofertados. a oferta coletada nas missas
Quando o projeto foi anun- de toda terça-feira é destina-
Paróquia ciado, muitos paroquianos se da a pessoas que estão com di-
Nossa Senhora de Guadalupe colocaram à disposição pa- ficuldade em pagar uma con-
ra aumentar a equipe. Hoje, o ta de luz ou água, um aluguel
A equipe de acolhida da Pa- “Sopão da Mãe” conta com 52 atrasado.
róquia Nossa Senhora de Gua- voluntários.
dalupe de Itaparica, iniciou em O próprio pároco, padre
2017 o projeto “Sopão Mãe”, Para o pároco, padre Hiller Gudialace de Oliveira, é quem
que tem o propósito de ajudar Stefanon Sezini, o “Sopão da acolhe essas pessoas, conversa
pessoas que vivem em situação Mãe” é a presença materna de com cada uma e procura uma
de rua. Nossa Senhora de Guadalupe forma de ajudá-las.
nas ruas da cidade. Da mãe que
A distribuição da sopa vai ao encontro dos seus filhos Também nas missas de ter-
acontece toda quarta-feira e mais necessitados. ça-feira os fiéis são orientados
atende as áreas de Itapuã, cen- a levar alimentos, e com eles,
tro de Vila Velha, Prainha, Gló- “Por meio deste traba- cestas básicas são feitas e doa-
ria e ao redor do Terminal Ur- lho pastoral, nossa comu- das a quem precisa.
bano de Vila Velha. nidade paroquial leva pa-
ra esses irmãos que estão Existe também na paró-
Na primeira noite a equipe nas ruas não só alimen- quia um quadro de oportuni-
entregou 38 sopas, um ano de- to para o corpo, o que é dades. Neste quadro são fixa-
pois 160 refeições foram entre- tão necessário, mas entre- das informações sobre vagas
gues, e atualmente são distri- ga também um pouco de de emprego e cursos gratui-
buídas, em média 200 refeições. amor e o dom precioso da tos que estão sendo ofertados.
fé”, conta. A pessoa que quiser pode usar
Segundo a coordenadora do o espaço para divulgar o seu
“Sopão da Mãe”, Camila Corrêa trabalho.
Xavier, a orientação dada às
novembro 2019 45
ACONTECEU
BENÇÃO DOS ANIMAIS PADROEIRA DO BRASIL
A celebração do Dia de São sasse na sua responsabilida- O dia de Nossa Senhora
Francisco de Assis (dia 04 de de com os seres criados por Aparecida foi celebrado com
outubro) com a tradicional Deus. Cantos e orações envol- procissões, missas e festivida-
Benção dos Animais no Con- veram os donos dos bichinhos e des em diversas paróquias e co-
vento São Francisco, na Cida- todos que estavam no Conven- munidades da Arquidiocese de
de Alta, foi presidida pelo ar- to para assistir e participar da Vitória, em especial por aque-
cebispo Dom Dario Campos. celebração. las que a têm como padroeira.
Gatos, cachorros, passarinhos e Na Paróquia Nossa Senhora da
até um preá foram levados por Pessoas que moram em Conceição Aparecida, em Cobi-
seus donos para receber a bên- prédios das imediações e que lândia, Vila Velha, foi presidida
ção e celebrar a importância do não puderam levar seus ani- por Dom Dario Campos, que du-
cuidado com a criação. mais, colocaram os bichinhos rante sua homilia lembrou so-
nas janelas dos apartamentos bre como a imagem de Nossa
Durante a reflexão, Dom e acompanharam a benção de Senhora Aparecida foi encon-
Dario propôs que cada um pen- longe. trada pelos pescadores. Ele re-
lacionou o fato da imagem ser
MISSÃO JOVEM A programação contou da cor negra e estar quebrada
com missas de envios, visi- com a compaixão que Nossa Se-
Inspirada no Mês Missioná- tas missionárias às famílias nhora queria demonstrar com o
rio Extraordinário, nos dias 19 das comunidades e das paró- povo negro , que naquele tempo
e 20 de outubro (sábado e do- quias, adoração ao Santíssi- e em muitos lugares ainda hoje
mingo), aconteceu na Arqui- mo, celebrações nas comunida- também estava “quebrado”.
diocese de Vitória, a Missão Jo- des, encontros com crianças,
vem. A ação foi uma iniciativa jovens e adolescentes, visitas DIA DA JUVENTUDE
das Comissões para a Juventu- aos enfermos, visitas aos co-
de e Ação Missionária que reu- mércios e missas, entre outras Jovens de várias paróquias
niu mais de 500 missionários, atividades. e comunidades da Arquidioce-
entre leigos e leigas, religiosos se de Vitória celebraram o Dia
(as), seminaristas e padres. Nacional da Juventude (DNJ) no
dia 27 de outubro, na Catedral
Metropolitana de Vitória. Cele-
brar a data, que este ano trouxe
como tema “O jovem no cora-
ção da Igreja, e a Igreja no co-
ração do Jovem”, foi uma opor-
tunidade para aproximar as
várias formas de expressão da
juventude na Arquidiocese, co-
mo a Pastoral da Juventude, Mi-
nistério Jovem da RCC, Novas
Comunidades EJC e Grupos de
Jovens paroquiais.