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Published by António Araújo, 2022-12-30 12:04:58

Boletim O SUBMARINISTA 05 final

Boletim O SUBMARINISTA 05 final

BOLETIM INFORMATIVO

O SUBMARINISTA

ASubPOR Ano I - Número 5 - Setembro a Dezembro 2022

Editorial Neste número…

A nossa Associação está de PARABÉNS pela celebração do primeiro aniversá- Editorial
rio, apresentando-se saudável e determinada. Notícias
Caminhada Herdade da Gâmbia
Saudável, na medida em que a Direção tem vindo a desenvolver um trabalho de Sardinhada na Gâmbia
grande mérito, ao dar corpo aos obje%vos propostos, através de variadas a%vi- Aniversário da ASubPOR
dades que foram sendo concre%zadas ao longo do ano; determinada, porque o XIX Almoço de Submarinistas
caminho até aqui percorrido tem sido consistente com os pressupostos e ideais Informação aos sócios
presentes à data do seu nascimento. Concorrentes com este sen%r, sem deméri- O Lugar ao poeta…
to das outras a%vidades concre%zadas, destacam-se as visitas efetuadas a an%- Associações congéneres
gos submarinistas que, por uma ou outra razão, ainda que presentes no nosso Quem sou eu?
pensamento, se têm man%do afastados do contacto deste grupo de homens do
mar, que um dia ousaram descer às profundezas do mar, em máquinas dignas
dos contos de Júlio Verne. Foi como que um abraço geracional entre amigos das
mesmas experiências.

Releva igualmente todo o trabalho desenvolvido em prol da musealização do Submarinistas em destaque
BARRACUDA, colaborando em diversas ações tendentes à visão de, num futuro Novelas Submarinas
próximo, este submarino, poder ser aberto a visitas, dando assim corpo a uma
história que este ano contará com 110 anos. Mas se neste primeiro ano o traba- Histórias de Submarinos e Sub-
lho desenvolvido foi notório, na medida em que a musealização do BARRACUDA marinistas
se tornar uma realidade, exis%rá a perspe%va de uma maior necessidade de par- Patrulha Eterna
%cipação.

Postal de Natal
Mas como em todos os processos de crescimento, neste nosso segundo ano de
vida, ainda que num contexto de sen%da evocação, não poderá deixar de exis%r um sólido sen%do de entreajuda e de uma
enorme vontade de par%cipação, com ideias e com a presença próxima, quer isoladamente, em contactos com os elemen-
tos dos órgãos sociais, em par%cular com a direção, quer em conjunto, nas assembleias gerais, dever primeiro de todos nós
como sócios.

Na certeza de que o caminho faz-se caminhando não quero deixar de desejar a todos os submarinistas e, naturalmente,
aos respe%vos familiares, BOAS FESTAS e um ANO DE 2023 cheio de saúde, paz e prosperidade.

José Campos

Bole%m da ASubPOR nº5

Notícias

SARDINHADA NA GÂMBIA

A 17 de Setembro de 2022, pelas 09h30, na Herdade da Gâmbia em Setúbal, juntaram-se quarenta
submarinistas e suas famílias, numa caminhada, passando por vinhas, salinas, viveiros e Sapal da Her-
dade da Família Borba na zona das praias do Sado à saída de Setúbal a Sul.

Após a caminhada, os convidados juntaram-se nas instalações da Associação Cultural e Recreativa da
Gâmbia para uma Sardinhada.

XIX Almoço de Submarinistas

Mais uma vez, e cumprindo o que já é uma tradição, realizou-se a 26 de novembro úl%mo, o XIX Almoço de Subma-
rinistas, tendo decorrido em excelente clima de convívio e com um excelente repasto.
Foi prestada homenagem aos camaradas em patrulha eterna, através da execução de um minuto de silêncio.
Foi “botado” discurso, par%do o bolo e executado um brinde à saúde de toda a Família Submarina.
Aos camaradas organizadores o nosso muito obrigado!
A AsubPOR, conforme publicitado, aliou-se a este evento, tendo colaborado a%vamente na sua divulgação e mar-
cando presença efe%va no mesmo.
Para o ano há mais!

2Associação de Submarinistas de Portugal

Bole%m da ASubPOR nº5

Notícias

A ASubPOR fez um ano

No Passado dia 10 de Dezembro, no Clube do Sargento da Armada, es%veram reunidos 50 Submarinistas e suas
Famílias nas celebrações do nosso primeiro aniversário.

Durante a manhã até às 11H30 decorreu a Assembleia ordinária para aprovação do Plano de A%vidades e
Orçamental para 2023.

Assim, as celebrações do aniversário iniciaram-se às 12h00 com a apresentação de uma retrospe%va da nossa
a%vidade em 2022. Na parte final da apresentação passaram imagens das visitas efetuadas pela Direcão a alguns
submarinistas enfermos, ou mais idosos, impossibilitados de sair de perto das suas casas.

Seguiu-se depois um almoço organizado pela Direção da Associação, o qual foi abrilhantado pelo Grupo de Cantares
“Velhos são os Trapos”, grupo sediado na Associação do Bairro São João que também tem colaborado com a nossa
Associação.

Durante o almoço, o Submarinista Filipe (MQ)
presenteou a todos com um fado de sua autoria, a que
chamou o Fado do Submarinista.

3Associação de Submarinistas de Portugal

Bole%m da ASubPOR nº5

Informação aos sócios

Aprovado Plano de Ac&vidades para 2023

Tendo no passado dia 10 de Dezembro decorrido a assembleia ordinária, ficou aprovado o Plano de Ac%vidades
para 2023 que aqui se resume:

Calendário de Eventos Previstos

1º Trimestre FEV - Apresentação do Relatório e Contas de 2022
2º Trimestre
Participação na inauguração das visitas ao Barracuda.

Evento Pôr do Sol para Submarinistas e Familiares
(Na Fragata Dom Fernando, com Organização da Associação e Apoio
da CCM). Verbas resultantes para apoio à Musealização.

ABR - Participação no Dia da Esquadrilha de Subsuperfície.

MAI – Participar no dia da Marinha

JUN – Sardinhada com as Famílias

3º Trimestre JUL – Caminhada com Almoço
SET – Jantar a Cantar

11 NOV – Magusto de Partilha

4º trimestre 25 NOV – Participação no Almoço dos Submarinistas

10 DEZ – Assembleia durante a manhã;
Sessão solene do Aniversário e almoço de confraternização com só-
cios e familiares.

Comissões de Divulgação e Solidariedade

A Direção nomeou, após aceitarem o convite, os seguintes sócios como representantes das Comissões de Solidariedade e Di-
vulgação, cumprindo com o estabelecido nos Estatutos:

Comissão de Solidariedade: Pinho, Moura, Fernandes e Valido
Foram definidas as seguintes responsabilidades para a Comissão de Solidariedade:
- Levantamento de Situações Financeiras, que indiciem necessidade de apoio;
- Levantamento de Situações de Saúde que aconselhem acompanhamento e apoio;
- Manter uma preocupação estreita com os que residem mais longe, os mais velhos e os mais debilitados

Comissão de Divulgação: Araújo, Branco, Clemen&no e Capitão.
Foram definidas as seguintes responsabilidades para a Comissão de Divulgação:
- Contribuição para os Bole%ns, com angariação e elaboração de ar%gos;
- Fazer levantamento das en%dades que deverão receber os Bole%ns, em formato digital e papel;
- Divulgar o mais possível a Associação a todos os Submarinistas;
- Manter contactos com a Comunidade de Submarinistas Internacional através das Associações;
- Manter contacto com a Revista da Armada;
- Manter contactos com outras Associações Militares, dentro dos 3 Ramos, e com Associações locais;

4Associação de Submarinistas de Portugal

Bole%m da ASubPOR nº5

Lugar ao poeta...

Fusão de Almas – Eu e o Mar

Aquele encontro ansiado,
Sem ser combinado,
Foi num dia de verão:
Numa tarde calma
E rejuvenesceu-me a alma...
E o coração!
Encontro sadio,
Mas tão tardio
E tão desejado;
Com carícias ternas
Afagaste-me as pernas,
Fiquei extasiado.
Soltámos risadas
E lágrimas salgadas,
Tudo misturado!
Quase enlouqueci,
Tuas lágrimas bebi...
Fiquei engasgado!
As minhas lavaste,
Depois me abraçaste
E todo me envolveste;
Sen&-me tão leve,
Foi tão bom e tão breve,
O bem que me fizeste!
Soltei-me de &,
Afastei-me e sorri,
Ouvindo-te chorar!
Sen&-me na "lua":
Levava comigo a tua
―Alma de Mar.

António Ma as Luz

Associações de Submarinistas pelo Mundo

SAA

SUBMARINES ASSOCIATION AUSTRALIA

Formada nos anos 30 do sec. XX (já com uns aninhos…), na sua pági-
na de apresentação podemos ler o seguinte:

Bem-vindos
Submarinistas em todo o mundo são uma raça especial, raramente
compreendida por meros mortais e nunca compreendida por skim-
mers (marinheiros da super cie). Os submarinistas de todas as na-
ções entendem isso e mostram respeito uns pelos outros, sabendo
das dificuldades e perigos que cada um enfrentou para conseguir a
adesão ao clube de elite ao qual pertencem.

Podem saber mais em
h(ps://www.submarinesaustralia.com/index.html

5Associação de Submarinistas de Portugal

Bole%m da ASubPOR nº5

Quem sou eu?

Quem sou ? Nasci há 65 anos, o único Acabado o curso fui novamente fazer uma comissão, na João
rapaz de três irmãos e o mais novo. Foi Belo, onde anteriormente (SMO) %nha sido feliz. Considero
num lugar simpá%co, situado em terras ter sido o melhor período da minha vida, embora, por vezes,
do “demo”, com nove meses de inverno e ter que comer o pão que o diabo amassou.
três de inferno. Avistavam-se terras de
Espanha com mais facilidade que lugares Muitas milhas, muitos portos, muitos camaradas, muitos ami-
de Portugal. Isolado pela orografia e falta de acessibilidades gos, muitos países, muitas culturas, muita loucura, muitos
era o meu mundo. O nosso mundo até um dia … exageros, muito trabalho, muita disciplina, muitos medos,
alguma injus%ça de anais. Foi aí que aprendi a respeitar a dife-
Fui educado ao colo da minha mãe, com o meu pai, militariza- rença, a nivelar a igualdade, a aceitar e temer a força e supre-
do, a ganhar o sustento num controle de fronteira, a uma dis- macia da natureza. Foi aí que cresci.
tância de 10 km, ou seja, não muito presente no lar familiar. Os
seus regressos a casa eram feitos a pé, de espingarda às costas, Finda a comissão, guia de marcha para a Rádio Naval da Apú-
para eventual aproveitamento de uma ou outra peça de caça. lia (norte). Já com casa montada, na margem sul, era compli-
cado estar destacado tão longe, num regime de três divisões.
Tinha muitos amigos, pois eram todos os meninos da aldeia, Então, por sugestão de outro camarada, (destacado na ilha
onde só a telefonia, a pilhas, nos ligava ao resto do país. Assim, das Flores), concorremos aos Submarinos, por ser uma forma
não fora algum brinquedito trazido da feira anual, da cidade razoável de estar perto de casa. E assim foi. Em outubro de
mais próxima, pela minha mãe, a navalha (canivete) era indis- 1984 comecei o percurso submarinista e por lá andei até ju-
pensável à feitura dos mesmos. Tudo %nha u%lidade até à nho de 1998, altura que passei à Reserva.
exaustão. Não havia o lixo que hoje conhecemos.
Aqui encontrei uma marinha diferente em quase tudo. No
Embora a minha família não es%vesse diretamente ligada à tempo, no espaço, no grupo, ou seja; tudo era formatado es-
agricultura, eu assis%a e par%cipava em todos os trabalhos, por sencialmente ao espaço disponível, às limitações de recursos
jarolda (convívio). Altura para por à prova tudo o que nos é, e ao tempo de missão. Aprendes a par%lhar (sem alterna%va)
acauteladamente, proibido. Escaladas perigosas, mergulhos o teu espaço, e a entender que toda a gente depende do la-
não recomendáveis, ninhos inacessíveis, pássaros diQceis de bor do outro. Um lugar onde não se levam as medalhas, por-
apanhar, … é claro que muitas vezes corria mal, pois não havia que toda a gente sabe o valor do outro, reconhece-o e respei-
forma de esconder os rasgões nas calças. ta-o. Uma máquina com engrenagens bem estruturadas, que
falhando o empenho de um, pode afetar o trabalho de todos.
Aí fiz a escola primária e com onze anos fui estudar para a capi- Soube moldar-me, fiz alguns amigos, acho que dei o meu con-
tal de distrito. Abandonei os estudos, com proveito a quatro tributo para uma conVnua melhoria social e técnica. Da vivên-
disciplinas (de seis), do an%go 7º Ano (12º ano atual), aos 19 cia a bordo recordo inúmeras situações muito posi%vas, e
anos. Aluno não muito dedicado, embora mediano, bebi de algumas menos. Das nega%vas não reza a história, mas das
uma escola de juventude, um pouco nada rebelde (no bom posi%vas irão eternamente ficar gravadas no meu inconscien-
sen%do). Não descartei de nada a que %nha acesso e direito. te, não fossem elas protagonizadas por alguns camaradas,
Como para isso era necessário algum dinheiro, fui trabalhar, ícones eternos, dos submarinos.
nas férias, como maquinista, para a construção da estrada,
para a minha terra. Dei o meu contributo para por a minha Já que estamos a falar disso, lembro-me da estória do “melão
aldeia, no mapa. Como me dei bem, fui ficando, até a marinha roubado”. Foi assim; o meu quarto, ao jantar, conseguiu pou-
me chamar para cumprir o serviço militar obrigatório, aos 20 par um melão, que ficou decidido guardar para comer quando
anos. Gostei da ideia. Conhecer outros mundos. saíssemos de quarto à meia-noite. O cujo dito melão desapa-
receu do sí%o onde %nha ficado e lá se foi o suplemento. De-
Depois de 10 horas de caminho, %ve o meu ba%smo de mar. O dução lógica… o quarto do cobrinha está implicado (como
atravessamento do Mar da Palha, a bordo da velhinha vedeta sempre). Depois de uma busca mais exaus%va conseguimos
da marinha, rumo ao Alfeite. Uma tempestade de aconteci- encontrá-lo. Ai é !!!, temos que os tramar…, não vamos comê-
mentos, uma troca de iden%dade, uma pena ao sabor de ven- lo, mas sim armadilhá-lo. Meu dito meu feito. Seringadas de
tos desconhecidos. sabonária lá para dentro, que foi um mimo. Às 4 da manhã,
saída de quarto dos ar%stas, o resto tudo a dormir (?), faca em
Com a especialização em comunicações, fui riste e toca a par%r o melão, num silêncio quase absoluto.
embarcado a bordo da icónica João Belo até ao “Parece meio mole” … “é pá está picante e amargo” …“mas
fim SMO. Como, na altura, havia uma enorme para mim não está mau” … O cobrinha, perspicaz, notou al-
crise no emprego, levou-me a optar por inte- guns risos, impossíveis de conter, por trás das cor%nas dos
grar os quadros permanentes, e assim foi. beliches … “cabrões… pessoal, os cabrões mafiaram o melão.

6Associação de Submarinistas de Portugal

Bole%m da ASubPOR nº5

Não o comam. Eles não perdem pela demora…”. É claro que da, dois netos do coração (gémeos), uma mudança de zona
foi uma risada geral, no posto avante. No dia seguinte, a sopa geográfica aos 60 anos, um corte radical com o SG Gigante, a
que o nosso quarto comeu estava com sabor estranho. “Deve aquisição de uns belos 10 quilos de massa corporal, um pro-
ser das depressões…” Veio mais tarde a saber-se que foram blema oncológico (totalmente resolvido), algumas viagens a
diluídos alguns “pombinhos” (enjomim, para o enjoo), na ter- complementar as feitas pela marinha, outras coisas mais, com
rina da nossa sopa, o que provocou uma sonolência invulgar a menos importância.
quem a comeu e teve que entrar de quarto, até à meia-noite.
Enfim… par%das com algum/muito veneno. Hoje ando por aí em autogestão, dando apoio aos mais chega-
dos, regressando á infância interagindo com os netos, desco-
Assim passei 500 dias, em imersão, distribuídos pelos 8 anos bri que tenho jeito para lhe fazer carrinhos, de madeira, co-
em que es%ve embarcado. O meu porto de abrigo foi sempre meço a conhecer decore os caminhos para os supermercados,
o Barracuda, embora %vesse feito diligências no Albacora e no para a farmácia, para o hospital, enfim …. Cheguei aos 65.
Delfim. Muito mar nas entranhas do Neptuno, algum trânsito,
viagens até à Madeira (no meu curriculum marinheiro tenho Abraço a todos os camaradas submarinistas
13), Açores, portos do sul de Espanha, Inglaterra, Escócia,
Holanda.

Em 92 passei ao centro de comunicações da Esquadrilha, até
passar á reserva.

Na passagem para a vida civil, fui de imediato trabalhar, numa
área ligada à segurança rodoviária. Adaptei-me com bastante
facilidade, fiz alguma formação e progressão nos vários esca-
lões até à direção técnica. Em 2014 decidi "nom fari nien<”.

No meio disto tudo, dois casamentos, sem filhos, uma entea-

Submarinistas em destaque

Capitão do Porto da Póvoa do Varzim; Comandante Bruno Teles
(Alerta de 25 de Novembro)

No dia 25 de Novembro e seguintes, pudemos assis%r aos esclarecimentos do
Capitão de Porto da Póvoa de Varzim, CFR Bruno Teles, Oficial de Marinha, Sub-
marinista, perante as Câmaras, na sequência de um alerta em que oito jovens
militares do exército foram apanhados por uma onda na praia da Lagoa, que
teve como consequência a morte de uma Jovem Militar.

O Comandante Bruno Teles, exerce as funções de Capitão de Porto e Coman-
dante Local da Polícia Marí%ma da Povoa do Varzim e de Vila do Conde desde
Setembro de 2020.

No âmbito deste alerta, transcreve-se o seguinte da página da AMN:

“Em 25 de Novembro, na sequência de um alerta recebido pelas 04h48, através
do Centro de Coordenação de Busca e Salvamento Marí<mo de Lisboa (MRCC
Lisboa) a dar conta que uma pessoa se encontrava desaparecida na praia da
Lagoa, foram a<vados de imediato para o local os elementos da Polícia Marí<-
ma, militares da Capitania e da Estação Salva-vidas da Póvoa de Varzim. Para o
local deslocaram-se ainda os Bombeiros Voluntários da Póvoa de Varzim e foi
a<vada uma aeronave da Força Aérea Portuguesa para par<cipar nas buscas.

As operações de busca estão a ser coordenadas pelo Capitão do Porto, e Comandante-local da Polícia Marí<ma da
Póvoa de Varzim e Vila do Conde.

Segundo foi possível apurar, a jovem, acompanhada por mais sete pessoas, todos miliares em formação na Escola
dos Serviços da Póvoa de Varzim, encontrava-se junto à linha de água da praia da Lagoa. Os sete militares foram
transportados para uma unidade hospitalar pelos Bombeiros Voluntários da Póvoa de Varzim.”

7Associação de Submarinistas de Portugal

Bole%m da ASubPOR nº5

Novelas Submarinas (continuação)

Nesta parte do nosso Bole<m iremos par- O almôço seguia os seus usuais trâmites,
<lhar trechos escolhidos, enviados pelo e os dois criados, bem fardados, serviam
Sar Montes, re<rados de um livro fasci- em tôrno da mesa, por ordem, as iguari-
nante e de apela<va leitura para qualquer as frugais e ricas em temperos, confor-
submarinista, onde se torna inevitável me manda a cozinha tradicional do país.
estabelecer comparações, sempre curio- Conforme é também uso, alguns pu-
sas, entre esquadrilhas tão distantes e nham defeitos nos pratos que se apre-
díspares, mas sempre tendo com o guião sentavam, surgindo por vezes algumas
máximo da segurança. exclamações em calão marí%mo, naque-
le usado a bordo, e que por muito carac-
Trata-se do Livro “Novelas Submarinas”, terís%co é em terra desconhecido.
que relata episódios históricos de Subma- O rancheiro, quer dizer, o oficial que
rinos Portugueses e Aliados Durante a naquele mês estava encarregado de
Grande Guerra. Coleção de narra<vas his- dirigir e administrar o rancho, para não
tóricas da autoria do Comandante Fernan- fugir à regra, ouvira de um tenente mais
do Branco, Comandante de submarinos na novo e mais sem-cerimonioso, os ata-
Marinha de Guerra Portuguesa durante a ques cerrados contra a qualidade da
I Guerra Mundial e um dos iniciadores na manteiga e a quan%dade do açúcar do
navegação submarina no nosso país. doce.
O rancheiro, defendia-se do ataque con-
UM CARDUME DE SUBMARINOS!! forme podia e sabia, parando os golpes, e despedindo-os por
seu turno sôbre o dispenseiro, que, junto do "guichet", por
2ª Parte onde surdia a comida vinda da cozinha, ruborizando e retor-
cendo entre os dedos as pontas de um guardanapo, rugia por
Num dêsses portos aliados tudo estava a postos. Tudo isso se entre os dentes.
fazia. O almôço estava quási no seu têrmo.
Havia as rêdes; havia as baterias. Tinha-se chegado ao café, e, como sempre a conversação, que
Lá estavam fora os barcos patrulhas, e sem descanso ronda- se %nha animado e crescido em entusiasmo e em diapasão de
vam, arrastando os seus grossos cabos de rocega, com os cé- vozes, alcançava o auge.
lebres papagaios caprichosos, os beneméritos caça-minas. O comandante que presidia, discu%a acaloradamente com o
Os submarinos de serviço, também andavam fora na sua in- seu engenheiro-maquinista, a vantagem económica do em-
grata labuta, fugidos de todos, à espera de um imprudente prêgo de um determinado combusVvel, que se estava experi-
colega inimigo. mentando.
Na base dos submarinos, lá dentro do pôrto, os restantes, O seu imediato, teimava com um colega de outro submarino,
aqueles que estavam de folga, preparavam-se para o seu cru- que a sua bateria de acumuladores estava em melhor estado
zeiro, trabalhando o seu pessoal para que no dia em que devi- de conservação do que a dêle.
am par%r para render os que fora andavam, êles es%vessem A seguir, outros dois, já um tanto abespinhados, contrariavam
afinados, limpos, preparados para um possível combate, com -se denodadamente, na apreciação do que cada um %nha fei-
todas as suas reservas e energias refeitas. to no úl%mo cruzeiro.
Todos estavam contentes e descansados. Um outro, teimava com o oficial da Administração Naval, que
Na "mess" dos oficiais, como era a hora do almôço, todos os as contas que êle %nha feito para o seu úl%mo pagamento,
comandantes, imediatos e maquinistas dos submarinos que estavam erradas, e que %nha por isso recebido a menos uma
estavam de folga, abancavam em redor da mesa, nos lugares certa quan%a.
que lhes compe%a conforme as suas graduações e an%guida- O médico discu%a literatura com um tenente que adorava o
des. teatro, e dizia que Ibsen, o seduzia até ao ín%mo, pela grande-
No tôpo da mesa estava o oficial mais an%go, comandante de za e alta proficiência com que o grande dramaturgo tratava os
um dos submarinos, que presidia àquela refeição. intrincados temos fisiológicos, demonstrando, por seu turno,
Conversava-se animadamente sôbre as úl%mas noVcias do o médico, que alguns dêles eram inverosímeis e exagerados.
"front", a respeito dos úl%mos comunicados dos estados- A atmosfera da "mess" era densa e pesada. Podia-se cortar à
maiores das fôrças em operações. faca.
Cada um dizia a sua cousa, e nesta reünião, como sucede Todos fumavam cigarros, charutos e até cachimbos, porque
sempre, as opiniões divergiam, aventando um a ideia de que como a bordo dos submarinos não se fuma, vingavam-se em
seria bom, determinado bloqueio,, contrariando outro de que terra.
êle seria inú%l. A animação era grande, e o barulho ensurdecedor.
Nisto, na porta do lado da secretaria, alguém bateu três pan-
Alguns falavam de polí%ca, outros de mulheres, como sem- cadas sêcas com a mão, repe%ndo-as passados instantes.
pre sucede, e num canto da mesa, dois oficiais mais novos, - "Entre" , disse o comandante mais an%go.
rindo a bandeiras despregadas, cri%cavam os superiores, me- Como por encanto todos se calaram e se voltaram para a por-
tendo a ridículo um vélho comandante que para cúmulo de ta.
infelicidade possuia um qualquer defeito Qsico. Esta abrindo-se, deixou entrar um cabo-marinheiro muito

8Associação de Submarinistas de Portugal

Bole%m da ASubPOR nº5

Novelas Submarinas (continuação)

gordo e já pesado, que em terra fazia o serviço de ordenança os que julgar convenientes, a melhor forma de, seguindo para
da secretaria, e que muito respeitador e perfilado, endo aquele local durante a noite de hoje, atacar a referida esqua-
avançado dois passos dentro do compar%mento e virado para drilha ao nascer do Sol de amanhã.
presidente da mesa, disse em voz rouca:
Qualquer demora ou inconveniente é considerada fatal,
- "V. Ex.ª dá licença , meu comandante?"... porque um grande combóio de tropas aliadas deve amanhã
- Então, o que é? ao meio dia passar nesse local.
Aquele avançou mais, e entregou-lhe um grande envelope
todo %mbrado, que a êle próprio era dirigido, recuando nova- (Assinado) Almirante C."
mente, conservando-se direito e perfilado, aguardando or- Finda esta leitura, um grito de entusiasmo saíu de todas as
dens. bôcas, com excepção do tal tenente, que era, por acaso o
O comandante, um pouco nervosamente, rasgou por todos imediato do submarino "X" e a quem a ordem que acabava
os lados o envelope misterioso, tal era a pressa com que esta- de ser lida, transtornava completamente os seus planos para
va de saber do que se tratava, emquanto todos os outros, esta noite.
que se %nham calado completamente e que estavam arden-
do em curiosidade, debruçavam-se uns sôbre os outros, com Era bem outra a batalha que êle tencionava combater nessa
os olhos fitos nêle, esperando ansiosamente pela noVcia. noite!...
Um silêncio prometedor de grandes emoções reinava então,
ouvindo-se apenas ao longe, a sineta da estação bater as ho- O entusiasmo recrudescia, à medida que as impressões vá-
ras e em seguida o corneteiro tocar para o almôço das guarni- rias se trocavam, e a par dos projectos guerreiros que se fazi-
ções. am.
O dispenseiro %nha fechado o "guichet" e %nha já re%rado,
emquanto um dos criados levantava ainda de sôbre a toalha, O comandante, imediato e maquinista do submarino "X",
maculada aqui e além com algumas nódoas de vinho e café, e sem tempo a perder, levantaram-se imediatamente, e, segui-
agora quási cheia de migalhas e de cinza, os restos de copos e dos entusiàs%camente por todos os outros oficiais dos vários
chávenas. submarinos dirigiram-se para bordo.
Um tenente imediato mais novo e que %nha a rebeldia das
situações diQceis, dizia quási em segredo para o seu vizinho O submarino estava, é claro, pronto, porque era êle a quem
do lado: compe%a efec%vamente sair à primeira voz, caso fôsse neces-
- "Aposto que já estou enrascado e me estragaram esta sário, como foi.
noite!..."
O comandante que já %nha lido o oQcio, uma grande fôlha de Foi chamado o pessoal, e, quando todos a bordo nos seus
papel, também %mbrada e toda da%lografada, mandou re%- postos, o comandante deu a voz de "largar", um tremendo
rar o criado, e dizendo à ordenança, "que estava bem", des- "viva" ecoou pelas docas, que encheu de júbilo todos os do
pediu-o igualmente. "X", e de uma pon%nha de inveja, todos os dos outros subma-
Sen%u-se então um pequeno arrastar de cadeiras no sobrado, rinos.
alguns pequenos pigarros, afinando as gargantas, movimen-
tos de rec%ficação de posições, como que preparando-se to- Que felizes marotos, os que finalmente iam, caçar um sub-
dos para ouvir e se deliciarem na apreciação da noVcia. marino inimigo!
A expressão do comandante era evidentemente a de contra-
riado, e mais contrariado ficou ainda, quando o tal tenente, Como seria momentosa a chegada do "X" com uma caterva
corajoso em extremo, de lá do fundo da mesa, arrostando de prisioneiros inimigos a bordo, e, quem sabe se com o sub-
contra o perigo de uma reprimenda, disse em voz muito alta: marino inimigo, êle próprio já todo estrompado, a reboque!
- "Já sei, é a noVcia da tomada de Londres pelos submarinos
alemães e aviões austríacos?..." Com os olhos meio arremelgados, viram todos o "X", levan-
O comandante obrigou-o a calar-se com um gesto impera%vo tando cachão à proa, afastar-se, orgulhoso da sua missão,
de muito aborrecimento, emquanto os úl%mos ecos de uma para o lado do mar.
gargalhada geral reboavam ainda pela sala.
Então êle, com o sôbre-ôlho carregado e voz pausada, leu o A bordo do "X" tudo era prepara%vos.
tremendo documento confidencial. À lufa-lufa, todos sem excepção, se ocupavam minuciosa-
Rezava assim; mente, cada um dos seus encargos, de forma a ter tudo em
ordem e no maior estado de eficiência possível.
UrgenJssimo Navegava-se a toda a fôrça, a terra esfumava-se, e a distân-
cia via-se já o navio-patrulha, com quem o "X" devia comuni-
"Ao comando da esquadrilha de... car.
Entretanto, todos nervosos, trabalhando afincadamente,
Do almirantado. como se fôsse para um concurso, esforçavam-se por fazer
cada um, melhor que o outro.
NoJcias acabadas de chegar dos postos de vigilância do Todos estavam verdadeiramente entusiasmados, e sem
dizerem nada uns aos outros, sem mesmo trocarem impres-
sul, dizem que uma grande esquadrilha composta de numero- sões, faziam já os seus projectos, e imaginavam já o que seria
a sua entrada triunfal no pôrto, de regresso da operação, com
sos submarinos inimigos, cruza nas imediações de..., e que os vivas estridentes, o acompanhamento numeroso e luzido,
e o acolhimento fervoroso e grandioso e depois... os louvo-
muitos barcos de pesca e traineiras foram já afundados. res, as promoções por dis%nção, as pensões de sangue, as
cruzes de guerra e... nomeados beneméritos da Pátria!
O submarino "X" - que era exactamente o dêle - deverá pre-
9Associação de Submarinistas de Portugal
parar-se imediatamente e sair com a máxima urgência, diri-

gindo-se para... onde combinará com o patrulha "Y", e mais

Bole%m da ASubPOR nº5

Histórias de Submarinos e Submarinistas

Algumas notas sobre a história dos

submarinos na Bulgária

O país

A Bulgária é uma nação balcânica, com cerca de sete
milhões de habitantes e situada no sudeste da Europa.
Tem fronteiras com a Roménia, Sérvia, Macedónia do
Norte, Grécia, Turquia e Mar Negro a leste.

A sua situação geográfica levou-a a alianças com a

Alemanha nas duas guerras mundiais. A mesma

situação, deixou-a no campo sovié%co em 1946,

tornando-se um estado socialista de par%do único, cujo

Par%do Comunista apenas se viu obrigado a deixar o

poder após as “revoluções de 1989”. A Bulgária passou a

democracia após 1991. Pertencendo naturalmente ao

Pacto de Varsóvia durante o período sovié%co, o seu

equipamento militar era na essência desta origem.

Nesse campo, incluem-se os seus submarinos, pós 2ª

Guerra Mundial. O Podvodnik Nº.18

O primeiro submarino búlgaro O “Podvodnik Nº.18”, ex UB-8 alemão, era um

Compara%vamente à marinha portuguesa, a história submarino do Tipo UB-1 da série inicial de oito. Como

submarinista búlgara é muito pobre. O primeiro tal, foi construído pela Germaniawer` de Kiel, de um

submarino búlgaro foi adquirido à Alemanha apenas em total de 20 navios que seriam por este estaleiro e pelo

1916. Tratou-se do SM UB-8 (o SM significa “Seiner AG Weser de Bremen. Foram navios projectados e

Majestät”; em português, “Sua Majestade”) um construídos em tempo recorde, cujas dimensões e

submarino do Tipo UB-1, que passou a ser o “Podvodnik deslocamento ficaram condicionados à premissa de

Nº.18”. Foi integrado na marinha búlgara a 25 de Maio serem possíveis de transportar de comboio até ao local

de 1916. A sua missão principal foi a patrulha do Mar onde actuariam, ou seja, na Flandres. Porém, seriam

Negro, junto à costa búlgara. Todavia, teve uma carreira essas limitações nas dimensões e deslocamento, que os

operacional muito curta. Quando a guerra terminou, foi tornariam capazes de operar junto à costa e perto de

entregue à França a 23 de Fevereiro de 1919 pelo portos, zonas inacessíveis a outros submarinos de

Tratado de Neuilly-sur-Seine, pelo qual

a Bulgária ficava doravante impedida

de possuir submarinos. Por sua vez, a

França teria procedido ao seu

desmantelamento em Bizerta, em

Agosto de 1921. Esta foi a versão do

des%no do Podvodnik Nº.18 durante

muitos anos. Porém, o submarino

acabou descoberto em 2010 por

mergulhadores búlgaros, no fundo do

mar perto de Varna. Não houve dúvidas

na confirmação da sua iden%dade,

nomeadamente através da peça de

47mm que foi montada no convés do

UB-8, só após a sua cedência à marinha

búlgara. Nenhum outro submarino

alemão do Tipo UB-1 possuía tal arma.

Foi também recuperado o seu pequeno

hélice de três pás. Esses elementos

figuram hoje no Museu Naval de O “Podvodnik Nº.18” em doca seca. Torna possível a observação das suas dimen-

Varna. sões, rela<vamente aos homens da sua guarnição que se encontram junto.

10Associação de Submarinistas de Portugal

Bole%m da ASubPOR nº5

Histórias de Submarinos e Submarinistas (continuação)

maiores dimensões. O “Projecto 34” que delineou estes Poderá dizer-se que naquela ocasião a aquisição do
submarinos, previa que fossem construídos em 15 Podvodnik Nº.18, foi compensadora para os búlgaros,
secções, de modo a caberem em oito vagões porque a 6 de Setembro expulsou das suas águas dois
ferroviários. Isso impôs limites nas referidas dimensões navios russos e a 16 de Dezembro, ajudou a quebrar a
(28,10m de comprimento, 3,15m de largura e 3,03m de inves%da russa em Balchik. A re%rada russa da 1ª.
altura) e limites no deslocamento (cerca de 125ton. à Guerra Mundial viria a acontecer pouco depois e o
superQcie e 140ton. em imersão). Podvodnik Nº.18 “ficou sem trabalho”.
Após a perda do “Podvodnik Nº.18” em 1919, pelos
Como demais caracterís%cas, estes submarinos mo%vos já atrás referidos, a marinha búlgara só voltaria
possuíam um motor Diesel Daimler de 4 cilindros, 59cv, a ter novamente submarinos apenas em 1972, quando
um motor eléctrico Siemens-Schuckert e um pequeno recebeu os dois primeiros de quatro submarinos da
hélice de três pás. Diz-se que mergulhavam “Classe Romeu”, ex-sovié%cos.
completamente em 33 segundos e estavam
classificados para profundidades de mergulho até aos A foto mostra a peça de 47mm e o hélice do “Podvodnik”,
50m! Possuíam dois tubos lança-torpedos à proa e uma recuperados do mar em 2010 e expostos no “Museu Naval”
metralhadora de 8mm na torre. O Podvodnik foi o único
submarino deste %po que foi equipado com uma peça em Varna.
de 47mm no convés, mas só após entrar ao serviço da
marinha búlgara. A guarnição era composta por 14 A “Classe Romeu”, ou “Projecto 633”
homens. Apesar das limitações operacionais que as suas O “Projecto 633” sovié%co resultou numa “Classe”de
dimensões impunham, estes navios revelaram-se submarinos que eram designados pela NATO como
manobráveis e aptos para a missão para que foram “Classe Romeu” (Tipo Varshavyanka, na linguagem
idealizados. Projectados e construídos em menos de um búlgara). Este %po de navios foi a consolidação sovié%ca
ano, revelaram a capacidade técnica da Alemanha dos ensinamentos colhidos com a “Classe Zulu” (um
daquele tempo. verdadeiro Tipo XXI equipado com “snorkel”) e a
“Classe Whiskey”. Teve 20 submarinos, construídos
Em Abril de 1915, o ainda UB-8 foi transportado entre 1957 e 1961. O programa sovié%co previa
desmontado por via férrea, não para a Flandres, mas inicialmente a construção de 56 navios, mas foi
para a Base Naval de Pola, da Marinha Austro-Húngara, necessário libertar recursos para a construção de
onde foi montado por técnicos alemães em duas/três submarinos nucleares que se iniciava em força. Na sua
semanas. Aí, em Maio, chegou também o UB-7. quase totalidade, os navios foram sendo transferidos
Supostamente, os dois navios seriam integrados para as frotas de outros países. Dois foram
naquela marinha. Porém, tal acabou por não acontecer transformados na variante 633PB, outra na variante
e os dois submarinos foram enviados para Varna 633L e outro, ainda, na variante 633KS. Para além dos
(Bulgária) no mês de Setembro. Em Outubro, os russos quatro que foram para a Bulgária, o Egipto recebeu seis,
lançaram um ataque à costa búlgara. O UB-7 chegou a Síria três e a Argélia dois. Entretanto, os sovié%cos
mesmo a lançar um torpedo contra um dos navios passariam à China toda a informação necessária para a
russos, mas não a%ngiu o alvo. Todavia, terá sido produção local da Classe, após a construção
suficiente para estes re%rarem. propositada de mais 12 submarinos. Desse total, diz-se
que três foram totalmente construídos na URSS e nove
Este episódio naval terá feito com que os búlgaros se
apercebessem do valor militar que poderiam ter os
submarinos para afastarem possíveis novas inves%das
russas. Iniciaram, então, negociações com os alemães
para a aquisição de ambos os submarinos (UB-7 e UB-
8). Chegados a acordo, duas equipas de técnicos
búlgaros foram enviadas de imediato para Kiel, para
treinarem nos equipamentos, enquanto os marinheiros
búlgaros começaram a treinar com os marinheiros
alemães nos dois submarinos. A transferência do UB-8
para a marinha búlgara veio a acontecer efec%vamente
a 25 de Maio de 1916. Desconhece-se o mo%vo porque
o UB-7 não foi também transferido na mesma data.
Posteriormente, desapareceria no mar a 27 de
Setembro de 1916.

11Associação de Submarinistas de Portugal

Bole%m da ASubPOR nº5

Histórias de Submarinos e Submarinistas

foram “montados” na China, com peças idas da URSS. Sendo assim, como os submarinos possuíam 55 camas,
Estes navios foram designados na China pelo Tipo 031. não era necessário o sistema de “cama-quente”. A
Seguiu-se localmente o Tipo 033, com melhoramentos profundidade máxima normal era de 270m, com o limite
chineses, sobretudo ao nível dos sistemas de operacional máximo fixado nos 300m.
refrigeração e ar condicionado, necessários para
navegações mais “confortáveis”, no clima chinês. Os Os quatro submarinos búlgaros, “Classe Romeu”,
chineses construiriam 84 unidades de 1962 a 1984. ex-sovié&cos
Construiriam, ainda, mais sete unidades para a Coreia
do Norte e seis para o Egipto. Mais 16 seriam Foi apenas em 1972, mais de 50 anos após a perda do
construídos na Coreia do Norte, sob assistência chinesa. “Podvodnik Nº.18” em 1919, que a marinha búlgara
voltou a ter submarinos. Tratou-se de dois submarinos
Enquanto na marinha sovié%ca a “Classe Foxtrot” ex-sovié%cos da “Classe Romeu”. Nessa ocasião,
sucedeu à “Classe Romeu”, na marinha chinesa, seguiu- comparando o facto com os nossos “Classe Albacora”,
se o “Tipo 035”, uma evolução chinesa do “Tipo 033”. adquiridos novos e que estavam com 5/6 anos de

A silhueta/diagrama inconfundível de um submarino “Classe Romeu”.

Caracterís&cas gerais da “Classe Romeu” serviço, aqueles que passaram para a Bulgária já iam nos
11/12 anos de serviço. Tratou-se do S-57 e S-212
Eram navios com duplo casco. Tinham dimensões sovié%cos, que tomaram a “numeração” búlgara 81 e
próximas da “Classe Whiskey” e contornos exteriores 82. O S-57 %nha sido o úl%mo da classe a entrar ao
mais próximos da “Classe Zulu”. Deslocavam 1.475ton à serviço da marinha sovié%ca. Lançado à água a
superQcie e 1.839ton em imersão, com 76,6m de 20/08/1961, entrou ao serviço a 27/12/1961. O S-212
comprimento. O casco era dividido em sete %nha sido lançado à água a 31/05/1960 e entrou ao
compar%mentos, por seis anteparas estanques. serviço a 21/12/1960.
Possuíam oito tubos lança-torpedos: seis à proa e dois a
ré. Dois motores Diesel Kolomna 37D desenvolviam Esta dupla viria a ser reforçada com mais dois
cerca de 2000hp, cada. Dois motores eléctricos, um para submarinos do mesmo “lote” sovié%co, mas apenas nos
cada linha de veios, accionavam hélices de seis pás, anos oitenta, mais de dez anos depois. Com efeito, o ex-
passo variável, com 1,6m de diâmetro e carenados. Os sovié%co S-38 chegaria à Bulgária a 20/01/1983. Tinha
sovié%cos experimentaram a u%lização de hélices de sido lançado à água a 30/11/1959 e %nha entrado ao
quatro pás no submarino S-351, mas os resultados não serviço da marinha sovié%ca a 23/09/1960. Passaria,
foram considerados sa%sfatórios. A guarnição era então, a ser o “83” búlgaro. Aquele que seria o quarto e
normalmente de 54 homens (dos quais 10 oficiais). úl%mo submarino da marinha búlgara, demoraria ainda

12Associação de Submarinistas de Portugal

Bole%m da ASubPOR nº5

Histórias de Submarinos e Submarinistas

mais dois anos a chegar. Chegou a 28/12/1985. Tratou- encontrava parado há dez anos pela simples falta de

se do ex-sovié%co S-36, que %nha sido lançado à água a baterias. Foi ele que se tornou na primeira opção da

27/09/1959 e que %nha entrado ao serviço a Marinha Búlgara para navio-museu. Isto em Abril de

30/09/1960 na marinha sovié%ca. 2009. Porém, nada foi feito, e o submarino ficou

simplesmente atracado ao lado do

“Slava” (Glória) na Base Naval de Varna,

apenas para ser consumido pela corrosão.

Entretanto, o relógio avançava também

contra o “Slava”. Fez a sua úl%ma navegação

em 2010 e foi aba%do ao serviço da marinha

búlgara a 01/11/2011, com um úl%mo arriar

da bandeira carregado de simbolismo, pois

isso representava o fim da força submarina

búlgara. Depois de vinte e cinco anos ao

serviço da marinha sovié%ca, o “Slava”

encerrava também a sua segunda vida

operacional de mais 26 anos, neste caso ao

O “Slava” (Glória) nos seus tempos de plena operacionalidade serviço da marinha búlgara.

ao serviço da marinha búlgara.

Passaria a ser o “84” da Bulgária. Como

curiosidade, refira-se que aquele que passou

a ser o “83” búlgaro, teve inicialmente como

nome “Dimitrovski Komsomol” (“Organização

Social e Polí%ca da Juventude” do Par%do

Comunista búlgaro), enquanto o “84” se

chamou “Leninsky Komsomol” (Liga

Comunista Jovem Leninista” da União

Sovié%ca). Eram nomes vulgares em navios

civis ou militares do chamado “bloco

socialista”. Foi o caso do K-3, aquele que foi o O “Slava” durante os prepara<vos da cerimónia da re<rada de serviço da

primeiro submarino nuclear sovié%co que marinha búlgara, a 01/11/2011. De notar que no seu lado exterior ainda
também %nha o nome “Leninsky Komsomol”. permanecia o “Nadezhda” (Esperança), que já estava fora de serviço des-

de 27/06/2008.

O período coincidente com a chegada dos

seus úl%mos submarinos entre 1983-1985, é O 84 “Slava” (Glória) como “submarino-museu”
para os submarinistas búlgaros considerado o mais

importante, pois conseguiram ter por uma única vez os O fim dos submarinos fez crescer naturalmente entre os

quatro submarinos operacionais. Entretanto, após as membros da sua comunidade, algum sen%mento de

“revoluções de 1989” e consequente queda do regime nostalgia, pois facilmente eles recordar-se-ão dos

comunista na Bulgária, os submarinos receberam longos momentos de navegação e camaradagem

nomes femininos “tradicionais”. Ou seja, do 81 ao 84, vividos. Certamente, com algumas semelhanças em

passaram a ser designados por “Pobeda” (Vitória), algumas vivências idên%cas aquelas experienciadas

“Viktoriya” (Vitoriosa/Vencedora), também pelos submarinistas portugueses. É de notar,

“Nadezhda” (Esperança) e “Slava” (Glória). contudo, que no caso búlgaro não há, de momento,

Por outro lado, %nha começado a contagem submarinistas. São todos ex-submarinistas, pois até à
decrescente da arma submarina búlgara, por falta de data a marinha búlgara ainda não conseguiu restaurar a
meios. O 81 e o 82, respec%vamente “Pobeda” (Vitória) componente submarina. Este sen%mento levou à
e “Viktoriya” (Vencedora), há mais tempo ao serviço da criação da “União dos Submarinistas Búlgaros”, que
marinha búlgara e também os mais necessitados de passou a ser mais uma força empenhada na
melhoramentos/grandes reparações, foram re%rados transformação em museu do seu úl%mo submarino.
de serviço pouco depois da queda do regime comunista. Porventura, algumas das suas inicia%vas/acções terão
E, a 27/06/2008, chegou a vez de ser aba%do ao serviço algumas semelhanças, pela sua própria natureza de
o “Nadezhda” (Esperança), que na ocasião já se organização e voluntariado, com a nossa “Associação

13Associação de Submarinistas de Portugal

Bole%m da ASubPOR nº5

Histórias de Submarinos e Submarinistas

dos Submarinistas de Portugal”. submarino em museu, mas de modo a poder “explorar”
a sua imagem/atracção junto às suas instalações do
Voltando ao submarino “Slava” (Glória), ele acabou “Museu do Vidro”, a cerca de 20km de Varna, em
doado ao Município de Varna (após o seu abate ao Beloslav. Seguiram-se, então, cerca de nove meses de
serviço da marinha búlgara em 2011), muito por trabalho árduo para se conseguir a recuperação possível
inicia%va da “União dos Submarinistas Búlgaros”, que do submarino bastante deteriorado, de modo a poder
concre%zar-se a sua abertura ao público no dia 18 de
Agosto de 2020, porque nesse dia se comemorava
também o “Dia do Submarinista Búlgaro”.

O “Slava” no dia 01/11/2011, momentos antes do arriar da ban-
deira que marcaria o seu fim ao serviço da marinha búlgara.

O “Slava” no dia 18 de Agosto de 2020, aquando da sua inaugu-
ração como museu, no “Dia do Submarinista” búlgaro.

O arriar da bandeira búlgara no submarino “Slava”, ex-sovié<co
S-36, no dia 01/11/2011. Ao seu lado, o “Nadezhda”, ex-
sovié<co S-38.

O “Slava” no local onde o público o pode visitar e onde deverá
permanecer durante cerca de dez anos, em Beloslav, a cerca de

20km de Varna.

Pormenor da torre do “Slava”, durante a passagem do elemento O acordo com a referida fundação prevê a permanência
da sua guarnição que recolheu e transporta a bandeira no dia do navio naquele local durante dez anos, juntando
01/11/2011. vários interesses: os da própria Marinha Búlgara, da já
referida “União dos Submarinistas Búlgaros e do
sempre pretendeu salvá-lo como museu. Infelizmente, “Museu Marí%mo Nacional” de Varna. Esta úl%ma
o submarino ainda iria passar por um longo tempo de en%dade, de quem depende agora e em úl%ma análise o
degradação. A “sorte” acabou por bater lhe à porta, submarino, espera vir a conseguir durante estes dez
mas apenas em 2019, quando a fundação privada anos de “exposição” do mesmo e através dos bilhetes
“Beloslav Glass” sugeriu a ansiada transformação do de ingresso, as verbas necessárias que venham a
permi%r a sua total recuperação e a sua posterior
14Associação de Submarinistas de Portugal colocação numa doca seca que venha a ser construída
especialmente para o efeito. Por agora, as visitas ao
interior do submarino são guiadas por ex-submarinistas,
pois o projecto pretende aproveitar esta “mais valia”
enquanto exis%r quem navegou neste ou nos outros

Bole%m da ASubPOR nº5

Histórias de Submarinos e Submarinistas

submarinos semelhantes, de modo a passar uma ser uma opção válida durante alguns anos. Todavia, essa
mensagem única a todos os visitantes interessados. intenção tem barrado com várias dificuldades, que vão
desde a possível existência no mercado de navios nessas
O futuro da arma submarina na Bulgária condições, até às dificuldades económicas da frágil
democracia búlgara, país cujo PIB (Produto Interno
O Par%do Comunista Búlgaro perdeu o monopólio Bruto) foi o mais baixo da EU em 2021. À data, não se
polí%co a 10 de Novembro de 1989. Após esse conhece ainda nenhuma opção firme sobre tal
acontecimento, foi natural o afastamento da Bulgária possibilidade de concre%zação de aquisição.
do Pacto de Varsóvia. Isso veio a permi%r a sua junção à
NATO em 2004, apesar de alguns observadores olharem José Branco
para esse movimento como um possível cavalo de Tróia
russo dentro da Aliança, referindo-se ao Nota: o autor não adota o novo Acordo Ortográfico.
comportamento búlgaro durante a guerra fria, em que
parecia ser a 16ª república da URSS. E, para se “alinhar” Sobre o autor
com a NATO de modo a poder par%cipar de imediato
em acções conjuntas, a Bulgária necessitou de alterar/ Foi voluntário do Curso de Alistamento
actualizar certa organização interna. Na época, de Maquinistas Navais para a frequên-
começou por adquirir as fragatas belgas “Classe cia do Curso de Especialização em Sub-
Wielingen” em 2005. E, logo em 2007, ano em que o marinos Classe Albacora, acabando
país aderiu também à EU, o chefe da marinha búlgara por ser a Esquadrilha de Submarinos a
manifestou publicamente na ocasião e pela primeira Unidade onde permaneceu durante mais tempo do seu servi-
vez o desejo da compra de dois submarinos usados, de ço a%vo.
modo a poder con%nuar a modernização e renovação
da envelhecida frota búlgara. Ele esperava ver esse seu Enquanto modelista, fez parte do grupo fundador da AMA
desejo concre%zado até 2012. Porém, tal nunca foi (Associação de Modelismo de Almada).
possível verificar.
Mais recentemente, colaborou com a "Revista de Marinha"
Neste ano de 2022, após os acontecimentos com o ar%go "O primeiro submarino com baterias de lí-
desencadeados com a recente invasão russa da Ucrânia %o" (Nº. 1011, Setembro/Outubro 2019).
em Fevereiro e consequente desestabilização
internacional, a marinha búlgara voltou a sen%r a
necessidade de voltar a possuir submarinos, devido à
sua par%cular situação geográfica. Tem tentado a
aquisição de dois submarinos usados, que ainda possam

Patrulha Eterna

Par&ram em patrulha eterna os camaradas submarinistas:
14nov2022 — SAJ T REF Manuel José Soares
02dez2022 — SCH ARE Rafael Ferreira Franco

Às famílias enlutadas sen&das condolências!
Que descansem em paz!

15Associação de Submarinistas de Portugal

Bole%m da ASubPOR nº5

A Associação de Submarinistas de Portugal (ASubPOR) deseja a todos
os submarinistas e seus familiares, os desejos de Paz, Saúde e muitos
Sucessos para toda a Família Submarina, a quem dedicamos o presente
cartaz que ilustra grande parte da atividade da Associação em 2022.

.

Sempre ao vosso dispor com a mais elevada estima!

FICHA TÉCNICA

Coordenação: Paulo Pinho • Verificação e revisão: José Campos
Grafismo/paginação: António Araújo
Colaboraram nesta edição: Paulo Pinho, José Campos, Francisco Montes, António Araújo, Paulo Louzeiro, José Branco
Fotografias: gentilmente cedidas por vários sócios e amigos
Periodicidade: Trimestral • Contacto: e-mail: [email protected] • Rua das Hortenses no 13, 2815-743 • Sobreda

16Associação de Submarinistas de Portugal


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