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Published by Revista O Lutador, 2019-04-05 17:05:46

REVISTA O LUTADOR 3907 DEZEMBRO 2018

Missão é esperançar

Keywords: Revista Católica O Lutador,Revista O Lutador,Jornal O Lutador,Revista Católica,Catholic Magazin

Patronato Santa Maria [ 75 anos...

ANO LXXXX / Nº 3907
DEZEMBRO / 2018
olut dor.org.br

[Deus
me quis
missionário
sacramentino
[Uma vida
a serviço da missão
[Coragem de falar,
humildade
de escutar

R$9,90 Missão é esperançar

(31) 3209-0750 (31) 3469-2549
americabh.com.br tvhorizonte.com.br
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A cada ano, a Rede Catedral de Comunicação
Católica renova seu compromisso de proclamar

boas novas e levar o amor às famílias. Toda a
nossa equipe deseja um feliz Natal e muitas

bênçãos em 2019!

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e se inscreva no nosso canal do Youtube.
Acesse: youtube.com/tvhorizonte

Religião [ A juventude e o pluralismo religioso Espaço do Leitor [ Escreva, envie seu e-mail, comente
[ O Lutador e a questão racial [ Romper a corrente do ódio
Parabéns aos aniversariantes
ANO LXXXIX / Nº 3906 do mês de dezembro!
NOVEMBRO / 2018
olutador.org.br Mais um ano chega ao fim e com certeza te-
mos muito a celebrar. O Natal de Jesus nos
Em defesa da vida, aponta a esperança, e o Ano Novo começa
R$9,90 da família e da fé com os anseios de paz e fraternidade. Viva-
mos com intensidade esse tempo da graça de
Ó Trindade Santa, vós que sois a fonte Deus em nossa vida: Feliz Natal e abençoa-
de toda santidade, nós vos louvamos do Ano Novo a todos os nossos assinantes,
por vosso servo o Pe. Júlio Maria De Lombaerde, colaboradores, amigos e a seus familiares!
que, assemelhando-se ao Cristo Eucarístico,
cuidou do vosso rebanho com amor, Com carinho agradecemos a Deus os pas-
zelo e doação. E, deixando-se guiar pelo sos dados em 2018 e, em ação de graças, no
Espírito Santo, assim como a Virgem Maria, dia 25/12/2018, será incluída, na missa de
testemunhou a ternura missionária da Igreja. Natal, uma intenção por todos os assinan-
Concedei-me, ó Trindade Santa, pela intercessão tes e familiares de O Lutador. Deus abençoe
do Pe. Júlio Maria, a graça que vos suplico a todos! Muita saúde e paz! [Caso seu nome
[pedir a graça]. E, se for de Vossa santa vontade, não apareça na lista, entre em contato com
dai que Pe. Júlio Maria alcance a honra nosso setor de assinaturas:

dos altares, para Vossa glória Fone: 0800-940-2377
e para o bem de tantas almas. E-mail: [email protected]]
Por Cristo, Nosso Senhor Amém.
Dia 01 - ANTONIO AGOSTINHO DA FONSECA / HARRY HANG / ISABEL BRAZ DE ANDRADE / JOSE MAURO BATISTA - EMM / SILVIA
INES SOLIGO PIZETTA / VALDIR JESUS ANDRADE / VICENTE DE PAULA FERREIRA DOS SANTOS. Dia 02 - MARCOS ALFREDO
COIMBRA DE OLIVEIRA / MARIA ESTELA BRONDI PUGINI / SHIRLEY AMORIM JABOUR. Dia 03 - CARLA REGINA PAZ DE FREITAS /
FRANCISCA PEREIRA GOMES / GENI DAS GRACAS COSTA / JONAS FARIAS DA SILVA / MARIA LUIZA AZEVEDO DE GODOY / EM MEMORIA.
Dia 04 - AKIM DE OLIVEIRA BARROS NETO / ANTONIO ORESTES GREIN / MARCIO DO CARMO PEIXOTO / PEDRO FERREIRA LIMA-
EMM / RUBENS CURY/ MARCIA - EMM / THEREZA BARBARA LEAO. Dia 05 - IRMA MARIA CRISTINA FERREIRA DA SILVA / MARIA DA
PENHA SOARES FORTES / MARIA JOSE A. TORRES / MARIA JOSE VIEIRA / MEROMELINA GONZAGA DE SOUZA (LINA) / QUEMEL CALIL
CANFUR. Dia 06 - FABIANA APARECIDA DE PAULO / JOSE BRUM DE PAULA JUNIOR / LUIZ GONZAGA TEIXEIRA/MARIA ONDINA
CARVALHO TEIXEIRA / MARIO CLEITON DE OLIVEIRA MAIA - EMM / REGINA BATISTA CHIARELLO / ROBERTO BORGES NUNES COELHO.
Dia 07 - EDSON JOSE RIBEIRO DE SOUZA / IRMAO JOSE DE ARRUDA [C] / JORGE LUIZ SOARES BARBOSA / NEUZA DIAS CUSTODIO
/ PADRE MARCELO DO CARMO FERREIRA. Dia 08 - DELORME PIRES SORAGGE DE LIMA / GERALDO DA CONCEICAO REIS / GILBERTO
PEREIRA SILVA/SILVIA APARECIDA DA SILVA / JOAO MARCELINO / MARCIO DE SOUZA / MARIO DOS REIS QUEIROZ / PADRE CLARO
ANTONIO JACOMO / SEBASTIAO RODRIGUES DE OLIVEIRA / VILMA MARIA ROCHA / Dia 09 - GILSON TEIXEIRA COELHO / ILSON ROSA
DE SOUZA / NEUZA EMIDIA ROSA DE GODOI / ZENI RIBEIRO HAMDAN. Dia 10 - NILZA AID COSTA / PADRE JOSE FREITAS CAMPOS.
Dia 11 - JOSE FLAUSINO FERREIRA / LUCIA CARVALHO MOSTARO / LUIZ ANTONIO DA SILVA. Dia 12 - EVARISTO FIDELIS DE OLIVEIRA /
FELIPE CAVINI PENUELA ORTEGA / JUDITH ABUNAHMAN / LUIS ALBERTO BASSOLI / MARIA CONCEICAO OLIVEIRA LATINI / MARIA ELY PERES
DE MELO / MARIA TERESINHA DE SOUZA / MARIO LUIZ DE CAMARGO / PAULO MARCIO PINTO. Dia 13 - ANNA FRAGA ALMEIDA / LUZIA DE
FATIMA RODRIGUES FERREIRA / MAXIMO MALVAR SOBRINHO / OSCAR JOSE RAMOS / PAULO MARCOS MARTINS / ROBERTO DE SOUZA FALCI.
Dia 14 – ANIBAL SILVA / ELOIZIO GARCIAS / FERNANDA DUARTE GONCALVES / PAULO ROBERTO CALMON DE ALMEIDA PINHEIRO.
Dia 15 – ALINE MEDEIROS DE SOUSA / JOSE ZANINA DA COSTA / MARIA GORETE SEGATO RAPANELLI / MARIA PORCINA FERREIRA
GERALDINI / PADRE DAUDT CORDEIRO / REGIANE CARVALHO DE SOUSA OLIVEIRA / VALERIANO RAMOS. Dia 16 – ALVARO FERREIRA /
MARILIA BRESSAN. Dia 17 – ADHEMAR FARIA DE MOURA / ANGELA APARECIDA CASSEMIRO DEL REY / MARIA AUXILIADORA ANDRIGUETTO
ALVARENGA / MARILDA GAIPO LACERDA VIEIRA / PADRE JOSE CARLOS DE SOUZA REIS / PAROQ. NOSSA SENHORA DE FATIMA A/C
PADRE JOAO JUVENCIO ALVES PEREIRA. Dia 18 – CECILIA SILVA MOURA / DOROTILDES ANTONIO DE SOUZA FILHO/JAIZA BUENO DE
SOUZA / MARIA DAS GRAÇAS DE OLIVEIRA VIEIRA. Dia 19 – FERNANDO MORATTI MOREIRA / MARIA DA CONCEICAO ALVES DOS SANTOS
/ MARIA DA CONCEICAO RIBEIRO / MARIA DAS GRACAS MARTINS / PAULO ALESSANDRO AMARAL ALVES. Dia 20 – FRANCISCO DE
ASSIS PEREIRA / HAIDE CONCEICAO ASSIS DE RESENDE / MARIA DAS GRACAS ROCHA C. BRANT / MARIA DO CARMO CARDOZO COUTO.
Dia 21 - AGNALDO RIBEIRO SILVA / ANA MARLY MOREIRA ROCHA / AUREA MARIA DE ABREU GUERRA / FRANCISCO DE OLIVEIRA CORREA
NETO / JARBAS ANTONIO CLARET LINO DA SILVA / LAURO BENEDITTI - A/C LUZIA LOURDES / MARIA APARECIDA DE MORAES / PAROQUIA
CONCEIÇÃO DE NOVA APARECIDA - PE. MANOEL MESSIAS. Dia 22 – ADALBERTO CARLOS FONTES / CICERO CARLOS OUVERNEY /
MARIA APARECIDA MOREIRA. Dia 23 - FRANCISCO CORREA DO AMARAL / MARIA APARECIDA S. OLIVEIRA / MARLENE DE ARAUJO /
VICENTE FRANCISCO DA SILVA CARREIRO. Dia 24 – ARACY MOTTA BORGES - EM MEMORIA / JOSE NASCIMENTO DA SILVA / MAGDA MARA
ASSIS / MARIA DE OLIVEIRA PIRES / MARIA INES NOVAES BONDAN / NEWTON FERREIRA DA SILVA - EMM / ZILDA ARAUJO DOS SANTOS.
DIA 25 – NASCIMENTO DE JESUS / EVELINE APARECIDA MACHADO BRITO / FRANCISCO FERREIRA DA COSTA / JOSE
RUIVO DA SILVA / MARIA ELISABETH MASSAHUD RODRIGUES / NATALINO DE JESUS CHIRELLI. Dia 26 – JOSE CALAIS REZENDE
FILHO / NEUZA TEIXEIRA DA SILVA- EM MEMORIA. Dia 27 – ALICE DA SILVA MENDES / DEUSDEDIT LEAO MONTEIRO DE RESENDE.
Dia 28 – BENEDITO URSULINO BARBOSA / EUFEMIA SOUZA DE FARIAS / LUIZ FERNANDO CHAGAS / MARCELO DINIZ NASSIF.
Dia 29 – DELFINA MACEDO WERNECH / DOM JOSE BELVINO DO NASCIMENTO / ITAMAR BATISTA FERREIRA / JAKSON MOREIRA
DE ALMEIDA / MARIA DE FATIMA C. DA SILVA. Dia 30 - BENEDICTO ERNESTO ALVES DE MORAES / ELIANA SILVA / GRACIANO
CARLOS PIROVANI / JOAO CEZARIO SOBRINHO / JUDITH DA CONCEICAO SILVA RIBEIRO / SELMA RODRIGUES MARIANO.
Dia 31 - HELENA DE ANDRADE / JOAO MARCELLO TOREZIN / MARIA APARECIDA PEREIRA QUINTAO / SILVESTRE ANTONIO SCHMITT.

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ERA 8 DE JANEIRO DE 1953. Frei Hermano, Deus
propagandista d’O LUTADOR, surpre- mmeissqiuoinsário
endeu minha família. Chegou em sacramentino
nossa casa (em Cajuri, quando Em Carangola, pude realizar o so-
ainda distrito de Viçosa), trazendo um o caminho! Obrigado, colegas, profes- nho de traduzir para o povo a mensa-
recado urgente do Pe. Geraldo Silva, sores e padres sacramentinos que me gem dos principais documentos do Va-
sobrinho de meu avô materno. Pe. Silva, ajudaram muito a fazer esse itinerário ticano II. Em abril de1969, nasceu o pri-
ao saber que eu fora convidado pelo Pe. e me preparar para a missão! meiro curso, “A Igreja” – sobre a Cons-
Arlindo Vieira para ser jesuíta, pediu a tituição Lumen Gentium. Pouco depois,
Frei Hermano que convencesse a meus Tive o privilégio de iniciar o Curso de o Curso “Igreja no Mundo” – uma ver-
pais de deixá-lo me trazer logo para o Teologia antes de se encerrar o Concí- são popular da Constituição Gaudium
seminário sacramentino de Manhumirim. lio Vaticano II (1965), verdadeiro Pente- et Spes. Com a ajuda do Movimento de
O Frei acabou convencendo a mim e a costes do século XX. Fui ordenado padre Cursilhos, tanto da Diocese de Caratin-
meus pais. pouco depois de concluída a Conferên- ga quanto da Diocese de Cachoeiro do
cia de Medellín, “tradução” do Vaticano Itapemirim, os cursos se espalharam
Cinco dias depois, partimos. Viçosa, II para a América Latina. pelo Brasil.
Ponte Nova, Raul Soares, Caratinga e Ma-
nhuaçu formaram o caminho percor- Pela graça de Deus, Dom Oscar Oli- Por onde passei, o povo me ajudou a
rido. Às 6h30 de 15 de janeiro, pelo trem veira, Arcebispo de Mariana, me orde- viver meu ministério. Carangola, Espe-
da Leopoldina, chegávamos a Manhu- nou padre em 22 de dezembro de 1968, ra Feliz, Manhumirim, Manhuaçu, Alta
mirim. Coincidentemente, uma hora no Santuário de Santa Rita, em Viçosa. E Floresta (MT), Belo Horizonte, Manaus e,
depois, iniciava-se, na Matriz do Bom com muito entusiasmo, iniciei minha novamente, Espera Feliz e Manhuaçu.
Jesus, a missa festiva da posse do Pe. caminhada presbiteral em Carangola,
Antônio Miranda como primeiro Supe- MG, aonde cheguei no começo de 1969, Obrigado, Senhor, por tudo! Obrigado,
rior Geral eleito da Congregação. E no para compor, com os padres Leo Din- senhores bispos, padres e povo de Deus
dia seguinte, 16 de janeiro, eu comple- kelborg e Sebastião Braz, a comunida- pela solidariedade e amizade! Obrigado
tava 11 anos. de sacramentina. assinantes e leitores d’O LUTADOR pelo
constante incentivo! Obrigado a todos os
O longo tempo de formação e de dis- que ajudaram a levar adiante a bandei-
cernimento, o aprofundamento do mis- ra da FAMÍLIA! Obrigado, irmãos sacra-
tério eucarístico, a devoção a Nossa Se- mentinos e povo de Deus pelos 58 anos
nhora, o encantamento com a Pala- de profissão religiosa e pelos 50 anos
vra de Deus, o deslumbramento com de ordenação presbiteral! Obrigado a
a vida missionária do Pe. Júlio Maria Deus e a todos vocês por tudo!
e o crescente contato com o povo me
ajudaram a me empolgar com a vida Agora, um CONVITE e um pedido
e missão dos missionários sacramen- As duas principais celebrações euca-
tinos. Aqui encontrei minha identida- rísticas de ação de graças pelo Jubileu
de: me convenci de que quanto mais de Ouro Sacerdotal estão assim pro-
sacramentino eu for, melhor Sebas- gramadas: no dia 22 de dezembro, sá-
tião Sant’Ana serei; quanto melhor Se- bado, às 15h, na Matriz do Bom Pastor
bastião Sant’Ana eu for, melhor sacra- em Manhuaçu, MG; e no dia 23, domin-
mentino me tornarei. go, às 15h, no Santuário Santa Rita de
Cássia, em Viçosa, MG. Aos que pude-
Obrigado, Senhor, pelo chamado a vi- rem vir rezar comigo, desde já meus
da missionária sacramentina! Obriga- agradecimentos. Aos que não pude-
do, Pe. Geraldo Silva e Frei Hermano, por rem estar presentes, peço que orem
me terem surpreendido e reorientado para que eu seja o padre do jeito que
Deus quer e do jeito que o povo preci-
sa. Que em tudo Deus seja glorificado!]

[ Expediente [ Editorial

O LUTADOR é uma publicação mensal Esperançar é nossa missão!
do Instituto dos Missionários
ONATAL, embora desfigurado pelo consumismo desenfreado e alie-
Sacramentinos de Nossa Senhora nante, é sempre um convite à esperança. Não a uma atitude passi-
olutador va, que vem do verbo esperar, mas de uma atitude ativa, propositi-
va, que vem de esperançar, muito frisada pelo grande educador Pau-
ISSN 97719-83-42920-0 lo Freire. Esperançar vem de dar esperança; vem de animar(-se), de
Fundador estimular(-se).
É neste sentido que celebramos o Natal, reacendemos em nós
Pe. Júlio Maria De Lombaerde a missão do Filho de Deus que veio ser esperança para o seu povo.
Superior Geral Veio nos animar a buscar o Reino de Deus, veio nos estimular a ser-
vir Deus e aos irmãos... Decididamente, esperança não é uma atitude
Pe. José Raimundo da Costa, sdn passiva, é antes engajamento a serviço da vida, a serviço do amor. A
Diretor-Editor missão do Filho de Deus é também nossa missão: “Eu vim para que
todos tenham vida e vida em abundância”. (Jo 10,10.)
Ir. Denilson Mariano da Silva, sdn O presente momento histórico é marcado pelo fortalecimento
Jornalista Responsável das forças e regimes ditatoriais que crescem no mundo. O discur-
so do ódio, da intolerância e da violência encontram fácil respal-
Pe. Sebastião Sant’Ana, sdn (MG086063P) do e adesão nas diferentes camadas populares. Os empobrecidos e
Redatores e Noticiaristas marginalizados encontram-se ainda mais vulneráveis. Neste ce-
nário, não cabe a nós, cristãos, a atitude de espera passiva, nem de
Pe. Marcos A. Alencar Duarte, sdn acomodação à situação. Cabe a nós a atitude Paulina de quem as-
Pe. Sebastião Sant’Ana, sdn sumiu com solicitude o projeto de Deus: “Não se amoldem às estru-
turas deste mundo, mas transformem-se pela renovação da men-
Frt. Matheus R. Garbazza, sdn te, a fim de distinguir qual é a vontade de Deus: o que é bom, o que é
Frei Patrício Sciadini, ocd, Frei Vanildo Zugno, agradável a ele, o que é perfeito”. (Rm 12,2.)
Dom Paulo M. Peixoto, Antônio Carlos Santini A exemplo de Jesus, que se encarnou em um momento crítico
da história do povo de Israel, cabe assumir a Sua atitude de solida-
e Dom Edson Oriolo riedade e misericórdia aos mais sofridos, aos últimos da socieda-
Colaboradores de. Pois esta é a única forma de fazer o Reino de Deus chegar a todos.
Vários Decididamente somos levados a buscar em Jesus a força para nos
Redação animar diante das adversidades, a intrepidez para nos estimular a
seguir os Seus passos na história de hoje.
[email protected] Por isso esta edição de O Lutador vem marcada por testemu-
Correspondência nhos de quem empenha a vida em esperançar, dar esperança, ani-
mar, encorajar... Traz experiências de vida proativas de quem acre-
Comentários sobre o conteúdo de olutador, dita na força da Palavra de Deus, na força do povo, na força do amor
sugestões e críticas: [email protected] que é mais forte que a violência e a morte. Com isso acreditamos que
Cartas: Praça Padre Júlio Maria, 01 / Planalto Natal não é tanto uma festa a ser celebrada exteriormente. Natal é
CEP 31730-748 / Belo Horizonte, MG / Brasil ocasião para acordar em nós a intrepidez missionária de Jesus. Na-
tal é oportunidade de vencer as amarras, de fazer a luz brilhar nas
Assinaturas e Expedição trevas, acordar o amor que vence a violência e a dor.
Maurilson Teixeira de Oliveira Por isso, desejar Feliz Natal, ensejar um Ano Novo de saúde e
Assinaturas paz, não é ficar esperando, como se não dependesse de nós. É espe-
rançar, é buscar em Jesus a força motivadora e propulsora para um
R$80,00 / Brasil - www.olutador.org.br mundo novo que nasce das nossas atitudes a serviço da vida, con-
[email protected] tra tudo aquilo que fere os irmãos e a natureza. Um Feliz Natal e um
abençoado Ano Novo começam a acontecer quando descobrimos que
0800-940-2377 - De 2ª a 6ª das 7 às 19 horas nossa missão é esperançar, é ser causa de esperança, é ser o come-
Outros países ço da mudança que desejamos que aconteça.
R$ 80,00 + Porte E isso é pra começo de conversa e de um Feliz Natal pra todos!]

Edições anteriores [DENILSON MARIANO
Tel.: 0800-940-2377
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Projeto gráfico e diagramação

Valdinei do Carmo
Revisão

Antônio Carlos Santini
Impressão e Acabamento
Gráfica e Editora O Lutador, Certificada / FSC®,
Praça, Pe. Júlio Maria, 01 / Planalto
31730-748 / Belo Horizonte, MG / Brasil

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Tiragem desta edição
4.200 exemplares
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F/doxologia.ro
As matérias assinadas
são da responsabilidade

de seus autores, não expressam,
necessariamente, a opinião de olutador. ]

|S U M Á R I O OLUTADOR • REVISTA MENSAL • ANO LXXXX • Nº 3907 • DEZEMBRO • 2018 •

6Uma vida 8Coragem
a serviço da de falar,
missão humildade
de escutar...

12Patronato 14O pecado 16A Igreja
Santa Maria: continua escutou
75 anos a matar os jovens
os filhos
de Deus

22Amoris 24O olhar de Deus
Laetitia 25O ciclo do Natal
e o Encontro
Matrimonial e o “hoje” da Liturgia

18A volta 23Gratidão 26Aquilo que Deus não tinha...
dos 27Há vagas!
pastores 28Crônica: Natal Antigo
30Eu também sou
20Jovens
da Amazônia, uma criança
muito
obrigado! 31Roteiros Pastorais
32A Palavra se fez carne
33A escolha da nora
43Escola em casa: uma

opção para as famílias

44Crianças refugiadas:
uma situação de alto risco

46O Ano Nacional do
Laicato chegou ao fim?

47Natal – sinais do nascer
e renascer

48ADCE Minas Gerais

Capa [ Um profundo amor à Palavra de Deus e um

NESTE ANO DE 2018, João aUsmmervaiisçvsoidãdoaa
Resende, Missionário Sa- acadêmicas, mas que a gente que- pois engatar ali. Aos poucos a gente
cramentino de Nossa Se- ria esticar mais... Tinha também foi aprimorando o jeito, encontran-
nhora, completa 50 anos de um trabalho no mês de maio, que do maneira de tornar aquilo mais
missão nos trabalhos da Boa trabalhava Nossa Senhora a par- acessível à compreensão do povo.
Nova e 40 anos de presença tir do Evangelho, a mulher que ti- Não tanto vulgarizando, mas na bus-
missionária no Mato Grosso. Um nha pressa... Tudo muito prelimi- ca daquela fidelidade e da simplici-
homem de Deus, com gran- nar, mas que deixava uns “amar- dade que são justamente o atribu-
de sensibilidade pastoral, um rios”, assim como na construção a to de Deus: como ser simples sem
profundo amor à Palavra de gente deixa um vergalhão para de- vulgarizar. Aos poucos, a gente foi
Deus e um grande incentiva-
dor dos Grupos de Reflexão. [6 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2018
A Revista O Lutador, aprovei-
ta a oportunidade para uma
entrevista com ele, deixando
anotado um pouco de seu tra-
balho e de sua grande con-
tribuição no serviço de evan-
gelização na Igreja do Brasil.

O Lutador: Como se deu o seu en-
gajamento no trabalho do MOBON -
Movimento da Boa Nova e como foi o
despertar para esta linguagem mais
simbólica?
João Resende (JR): Eu terminei a teo-
logia em 1969 e estava com a ideia de
ser um religioso missionário. Não
houve um pedido formal, mas eu
fui enviado para compor a comu-
nidade de Vargem Grande (Alto Je-
quitibá, MG), junto com Padre Ge-
raldo Silva e o Alípio. Eu gostava do
trabalho, naquele tempo ainda era
o MAPE – Movimento de Apostola-
do dos Pioneiros do Evangelho. Ti-
nha os cursos de base – o Pré Boa
Nova e o Boa Nova – que o Alípio ti-
nha elaborado a partir da experiên-
cia dele, no Chile. Mas a gente vi-
nha da teologia com muita coisa na
cabeça. Uma teologia feita a partir
da realidade, ainda sob o impacto
da prisão dos padres franceses. No
começo havia o curso “Fidelidade
ao Evangelho”, um curso que du-
rou pouco. Eram ideias ainda meio

grande incentivador dos Grupos de Reflexão...

sentindo que o pessoal ia entrando Alguns companheiros tiveram di- chegar perto das pessoas e de es-
na jogada, ainda que devagarzinho, ficuldades. Porém, os mais novos cutá-las, de querer aprender, que
de forma progressiva. Isso deu fir- fizeram a passagem. Isso foi uma nos encantava mais. Por exemplo:
meza não só para a gente, mas pa- coisa muito bonita. É a partir daí a ideia que ele passou de Jesus Cris-
ra o próprio trabalho da Boa Nova. que vai descortinando-se um pou- to como um “aprendiz”, como “alu-
Adquirimos uma certa consistên- co mais a questão do leigo, enquan- no dos fatos”, deu muito “sururu”
cia e credibilidade. to aquela pessoa que se sente com- na época. A gente foi entendendo
prometida. A formação dos leigos que era por ali o caminho a ser fei-
O Lutador: Como era o trabalho com foi uma coisa mais lenta. De fato, o to. Essa influência dele foi mais na
os leigos e como se deu o despertar Concílio tinha redescoberto o leigo. metodologia, com aquele jeito de-
para a dinâmica de leigos evangeli- Mas entre a redescoberta teórica e a le... Depois, com o conteúdo bíbli-
zarem outros leigos? concretização disso, na prática, foi co, com a leitura popular da Bíblia,
JR: Essa passagem não foi muito um trabalho que durou tempo e se- que nos entusiasmou muito. Aque-
tranquila, pois a turma que foi for- gue até hoje. Só agora a gente perce- le tipo de leitura bíblica era não só
mada naquele sistema mais apolo- be que há um grupo de pessoas que agradável, mas acessível a nós. A
gético não agradou da busca de mu- têm certa consciência de ser mis- gente que não tinha uma especia-
dança. O jeito de formar comunida- sionário e que precisa desenvolver lização, mas nos sentíamos mui-
de, como apontava o Concílio Vati- essa vocação que o batismo lhe deu. to à vontade dentro da Bíblia. No
cano II, tirava a segurança inicial E nisso aí, eu acho que hoje a gente ano de 1978, veio a formação do CE-
daqueles “pregadores”. Eles tinham tem avançado mais. Buscando des- BI – Centro Ecumênico de Estudos
certeza de que “era aquilo e acabou”. cobrir como esse leigo vai ser o “su- Bíblicos, com aquela animação de
Apesar daquela autonomia ser al- jeito eclesial”. Isso não é uma coi- tudo o que está no começo. E a gen-
go importante na época, eles não sa clara ainda. A palavra é bonita, te participou em Angra dos Reis de
acreditavam em outra coisa, por- emblemática. Porém, na hora de uma reunião de formação promo-
que aquilo dava segurança. O novo destrinchar essa palavra, tem mui- vida pelo CEBI. Os mais arrojados
jeito de trabalhar, a partir da nova ta coisa ainda pra gente descobrir. pegavam a Palavra de Deus, ao nos-
so modo de ver, fazendo uma cer-
João Resende no Encontrão dos Grupos de Reflexão em Caratinga, MG - 2015 ta instrumentalização mais social.
Chegamos a procurar o Frei Carlos
proposta do Alípio, implicava uma O Lutador: Comente um pouco sobre para falar deste incômodo que es-
certa insegurança na caminhada. a influência do Frei Carlos e do CEBI távamos sentindo. Ele partilhou co-
Não foi algo muito tranquilo, não. no Trabalho da Boa Nova. nosco um sentimento semelhan-
Tanto é que o próprio Pe. Geraldo Sil- JR: Frei Carlos é uma figura que sur- te, mas a conversa nos tranquili-
va morreu sem compreender mui- ge por volta de 68, na nossa vida de zou... Porém, o Boa Nova era visto
to isso: “Esse negócio de vocês não estudo. Ele influenciou muito no como muito rezador. Para alguns
doutrina... não traz conhecimentos. nosso trabalho, mais pela atitude era uma espécie de “carta fora do
É preciso esclarecimentos bíblicos!” que tinha. De fato, a Bíblia é mara- baralho”. No entanto, Deus nos aju-
- dizia ele. Essa dialética foi longe... vilhosa, mas era a sua atitude de dou a superar essas barreiras e Frei
Carlos sempre nos olhou como in-
DEZEMBRO 2018 [ OLUTADOR]7 centivadores dos círculos bíblicos:
“Eles tem 5.000 grupos de reflexão”.
Tínhamos uma fidelidade em ler os
escritos do Frei Carlos – “Deus onde
estás?”, “Abraão e Sara”, “Flor sem
defesa”, e seus textos no “Por trás
das Palavras” do CEBI. Chegaram a
falar que nós éramos fiéis ao Frei
Carlos, mas não ao CEBI”.

O Lutador: E qual a influência de Pau-
lo Freire no trabalho da Boa Nova?
JR: A “Pedagogia do oprimido” es-
tava no auge e aquela dinâmica -
“antes de ensinar matemática ao

[▶

Capa [ Uma vida a serviço da missão...

[▶ Pedro, conheça o Pedro” - foram re- mas se perguntava: “O que a fé pe- Alguns membros
ferenciais que nos marcaram mui- de de nós?” Com ajuda do Raul Mes- da Equipe Interdiocesana
to. Ele foi o grande inspirador para sias, filósofo, que ia na raiz das coi-
a sistematização do trabalho que sas, passou-se a perguntar como o dos Roteiros de Reflexão
fazíamos. Tanto na importância de Evangelho podia ajudar o agricultor e Novena do Natal
procurar conhecer as pessoas an- a vencer na vida, a descobrir-se. Aí
tes de iniciar o trabalho de evan- surgem as associações de compra zador deve estar atento, deve saber
gelização, quanto na importância e venda, de compra em conjunto e escutar. Por exemplo: o curso “A for-
ça do restolho”. O restolho é a últi-
João Resende no Encontro de Revisão – Rio Branco, MT - 2018 ma coisa que fica no paiol de mi-
lho. Ele é que vai servir para tirar o
da simplicidade da linguagem para também o cooperativismo. Inclu- “aguamento” dos bichos (gado) na
ser acessível a elas. A importância sive, a Cooperativa de Espera Feliz, época da seca. Então, o que é o po-
também das “palavras geradoras” MG, é fruto do curso “O Evangelho vo sofredor? É justamente o que so-
própria de seu método, que nos le- do Agricultor”. O grande inspirador brou do paiol da vida, nem rato está
va à cultura das pessoas, na qual o do Evangelho do Agricultor foi o pro- querendo, mas tem a missão de ti-
educador como que vai “sumindo” e feta Isaías. Posteriormente, veio a rar o aguamento da indiferença en-
o cidadão, a pessoa se torna o agen- questão sindical e só depois a ques- caminhando de novo para replan-
te principal. Assim eu vejo a educa- tão do engajamento político. Nisso tar. Trata-se do tema bíblico traba-
ção popular: vem de “Educere”, que tudo o grande desafio sempre foi o lhado a partir de uma simbologia,
significa “tirar de dentro”. cultivo da espiritualidade, pois não é não usada por usar, mas para des-
fácil, neste vai e vem, a pessoa sen- pertar um processo pedagógico. Aí
O Lutador: Como se deu a passagem tir e conjugar os apelos da realida- é preciso estar atento, pois o parti-
do Mobon considerado mais “reza- de e os apelos de Deus. cipante vai além da gente. Eu perco
dor” para a dimensão mais social da o domínio, o que é profundamente
evangelização? O Lutador: Como se deu o despertar educativo. Não posso ter medo de
JR: O trabalho da Boa Nova come- para o uso da linguagem simbólica? perder autonomia. Quando eu per-
çou com a parte bíblica, religiosa, JR: No começo, não tínhamos tanta co a autonomia, é porque alguém a
mas nos encontros realizados sem- ligação com a Campanha da Frater- alcançou e, assim, minha missão
pre tinha uma pergunta que inquie- nidade. Nós organizávamos o Cur- de educador está concluída. O edu-
tava: “O que fazer?” Isso é um da- so da Semana Santa. No início, era cador é um despertador, um partei-
do importante, pois as coisas novas uma motivação para o Tríduo Pas- ro das ideias, conforme a “maiêu-
na vida surgem não tanto a partir cal, mas para não cair na repeti- tica socrática”. Outro desafio é co-
de respostas prontas, mas a partir ção, passou-se a dedicar esse cur- mo provocar nas pessoas o interesse
de perguntas. O curso “Evangelho so para o estudo de um texto bíbli- por aquilo que estamos trabalhan-
do Agricultor” surge como uma res- co, um profeta. O uso das compa- do. Meu entusiasmo, meu envolvi-
posta a um dado de fé. Não se usa- rações surgiu da escuta e da obser- mento, meu compromisso vão falar
va falar “consequência social da fé”, vação da vida do povo. O evangeli- muito para ajudar o outro a admi-
rar, gostar, encantar-se, empolgar-
[8 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2018 se e apaixonar-se por aquilo. Exige
um lado pessoal muito importante,
é o compromisso. A diferença entre
colaborador e comprometido. O co-
laborador dá algo de si. Como a va-
ca que dá o leite para fazer o queijo.
Já o comprometido expõe a vida, le-
va ao martírio. É como o porco que,
para tornar-se bacon, tem que em-
penhar a vida.]

[Continua no próximo número...]

Igreja Hoje [ Não posso começar sem vos dizer obrigado!...
Coragem O ENTRAR neste Audi-
de falar, tório para falar dos
jovens, já se sente a
força da sua presen-
ça, que exala positi-
vidade e entusiasmo

Acapazes de invadir e
alegrar não só este
Auditório, mas toda a Igreja e o
mundo inteiro.
Por isso mesmo, não posso co-

humildade meçar sem vos dizer obrigado!
Obrigado a vós que estais pre-
sentes; obrigado a tantas pes-
soas, que ao longo dum cami-
nho de preparação de dois anos
– aqui na Igreja de Roma e em

de escutar... todas as Igrejas do mundo –, tra-
balharam com dedicação e pai-
xão para nos fazer chegar a este
momento[...]

Desejo também
agradecer
vivamente aos
jovens que neste
Discurso do momento estão
Papa Francisco na abertura da conectados
conosco e a todos
XV Assembleia Geral Ordinária os jovens que
do Sínodo dos Bispos fizeram ouvir,

de muitos modos,
a sua voz.

Agradeço-lhes por terem querido
apostar que vale a pena sentir-
se parte da Igreja ou entrar em
diálogo com ela; vale a pena ter
a Igreja como mãe, como mes-
tra, como casa, como família, ca-
paz – não obstante as fraquezas
humanas e as dificuldades – de
fazer resplandecer e transmitir
a mensagem sem ocaso de Cris-
to; vale a pena agarrar-se à bar-
ca da Igreja que, mesmo através
das tempestades implacáveis do
mundo, continua a oferecer a to-
dos refúgio e hospitalidade; vale

DEZEMBRO 2018 [ OLUTADOR]9 [▶

Igreja Hoje [ Discurso do Papa Francisco na abertura da XV Assembleia Geral

[▶ a pena colocar-se à escuta uns dos àquilo que ouviu dos outros. Isto é apreender o que mais o impressio-
outros; vale a pena nadar contracor- importante para o Sínodo. na. Esta atenção à interioridade é
rente e aderir a valores altos, como a chave para se efetuar o percurso
a família, a fidelidade, o amor, a fé, Muitos de vós já prepararam, an- reconhecer, interpretar e escolher.
o sacrifício, o serviço, a vida eterna. tes de vir, a sua intervenção – e agra-
A nossa responsabilidade aqui, deço-vos por este trabalho –, mas Sejamos sinal duma
no Sínodo, é não os desmentir; an- convido a sentir-vos livres para con- Igreja à escuta e em caminho
tes, é demonstrar que têm razão em siderar aquilo que preparastes co- A atitude de escuta não se pode li-
apostar: verdadeiramente vale a pe- mo um projeto provisório aberto a mitar às palavras que trocaremos
na, verdadeiramente não é tempo eventuais acréscimos e alterações entre nós nos trabalhos sinodais.
perdido! que o caminho sinodal possa sugerir O caminho de preparação para es-
E, de modo particular, agradeço a cada um. Sintamo-nos livres pa- te momento destacou uma Igreja
a vós, queridos jovens presentes! O ra aceitar e compreender os outros com déficit de escuta inclusive pa-
caminho de preparação para o Sí- e, consequentemente, para mudar ra com os jovens, que muitas ve-
nodo ensinou-nos que o universo as nossas convicções e posições: é zes se sentem não compreendidos
juvenil é tão variado que não pode sinal de grande maturidade huma- pela Igreja na sua originalidade e,
estar aqui totalmente representa- na e espiritual. por conseguinte, não aceites pelo
do, mas vós sois seguramente um que são verdadeiramente e, às ve-
sinal importante daquele. A vossa Um exercício de discernimento zes, até rejeitados.
participação enche-nos de alegria
e esperança. OSínodo é um exercício ecle- Este Sínodo possui a ocasião, a
sial de discernimento. Fran- tarefa e o dever de ser sinal da Igre-
Partilha com liberdade, queza no falar e abertura na ja que se coloca verdadeiramente à
verdade e caridade escuta são fundamentais para escuta, que se deixa interpelar pe-
O Sínodo que estamos a viver é um que o Sínodo seja um proces- las solicitações daqueles que encon-
momento de partilha. Assim, no iní- so de discernimento. O discer- tra, que não tem uma resposta pré-
cio do percurso da Assembleia sino- nimento não é um slogan pu- confeccionada sempre pronta. Uma
dal, a todos desejo convidar a fala- blicitário, não é uma técnica Igreja que não escuta mostra-se fe-
rem com coragem e parresia, isto é, organizativa, nem uma mo- chada à novidade, fechada às sur-
aliando liberdade, verdade e carida- da deste pontificado, mas um presas de Deus, e não poderá ser
de. Só o diálogo nos pode fazer cres- procedimento interior que se credível, especialmente para os jo-
cer. Uma crítica honesta e transpa- enraíza num ato de fé. vens, os quais, em vez de se aproxi-
rente é construtiva e ajuda, ao con- mar, afastar-se-ão inevitavelmente.
trário das bisbilhotices inúteis, das O discernimento é o método e, si-
murmurações, das ilações ou dos multaneamente, o objetivo que nos Deixemos para trás preconceitos
preconceitos. propomos: baseia-se na convicção de e estereótipos. Um primeiro passo
que Deus atua na história do mun- rumo à escuta é libertar as nossas
E à coragem de falar deve corres- do, nos acontecimentos da vida, nas mentes e os nossos corações de pre-
ponder a humildade de escutar. Co- pessoas que encontro e me falam. conceitos e estereótipos: quando
mo dizia aos jovens na Reunião Pré- pensamos já saber quem é o outro
sinodal, «se [alguém] falar de algo Por isso, somos chamados a co- e o que quer, então teremos verda-
que não gosto, ainda o devo ouvir locar-nos à escuta daquilo que nos deiramente dificuldade em escu-
melhor; pois cada um tem o direito sugere o Espírito, segundo modali- tá-lo seriamente. As relações entre
de ser ouvido, como cada um tem o dades e direções muitas vezes im- as gerações são um terreno onde
direito de falar». Esta escuta aberta previsíveis. O discernimento pre- preconceitos e estereótipos pegam
requer coragem para tomar a pala- cisa de espaços e tempos próprios. com facilidade proverbial, a ponto
vra e fazer-se voz de tantos jovens Por isso estabeleço que, durante os de muitas vezes nem nos darmos
no mundo que não estão presen- trabalhos tanto na assembleia ple- conta disso. Os jovens são tentados
tes. É esta escuta que abre espaço nária como nos grupos, depois de a considerar ultrapassados os adul-
ao diálogo. O Sínodo deve ser um cada cinco intervenções se obser- tos; os adultos são tentados a jul-
exercício de diálogo, antes de mais ve um tempo de silêncio – cerca de gar os jovens inexperientes, a saber
nada entre os que participam ne- três minutos – para permitir que ca- como são e sobretudo como deve-
le. E o primeiro fruto deste diálogo é da um preste atenção às ressonân- riam ser e comportar-se. Tudo is-
cada um abrir-se à novidade, estar cias que as coisas ouvidas suscitam to pode constituir um forte obstá-
pronto a mudar a sua opinião face no seu coração, para aprofundar e culo ao diálogo e ao encontro entre
as gerações.
[10 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2018

Ordinária do Sínodo dos Bispos...

A maioria dos presentes não per- das ou então ignorá-los é índice de presente, mesmo da Igreja, aparece
tence à geração dos jovens, pelo que cedência à mentalidade do mundo carregado de canseiras, problemas,
devemos claramente ter cuidado so- que está a devorar as nossas casas a pesos. Mas a fé diz-nos que é tam-
bretudo com o risco de falar dos jo- partir de dentro. Negligenciar o te- bém o kairos no qual o Senhor vem
vens a partir de categorias e esque- souro de experiências que cada ge- ao nosso encontro para nos amar e
mas mentais já superados. Se souber- ração herda e transmite à outra é chamar à plenitude da vida. O futuro
mos evitar este risco, então contri- um ato de autodestruição. não constitui uma ameaça que de-
buiremos para tornar possível uma vemos temer, mas é o tempo que o
aliança entre gerações. Os adultos Por conseguinte, é preciso, por Senhor nos promete para podermos
deveriam superar a tentação de su- um lado, superar decididamente experimentar a comunhão com Ele,
bestimar as capacidades dos jovens o flagelo do clericalismo. De fato, a com os irmãos e com toda a criação.
e de os julgar negativamente. Uma escuta e o abandono dos estereóti- Precisamos reencontrar as razões
vez li que a primeira menção deste pos são também um forte antídoto da nossa esperança e sobretudo de
fato remonta a 3000 a.C., tendo si- contra o risco do clericalismo, ao as transmitir aos jovens, que estão
do encontrada num vaso de barro qual uma assembleia como esta, in- sedentos de esperança. Como jus-
dependentemente das boas inten- tamente afirmava o Concílio Vati-
da antiga Babilônia, onde está es- ções de cada um de nós, está inevi- cano II, «podemos legitimamente
crito que a juventude é imoral e que tavelmente exposta. O clericalismo pensar que o destino futuro da hu-
os jovens não são capazes de salvar nasce duma visão elitista e exclu- manidade está nas mãos daqueles
a cultura do povo. É velha tradição dente da vocação, que interpreta que souberem dar às gerações vin-
nossa, dos idosos! o ministério recebido mais como douras razões de viver e de esperar».
um poder a ser exercido do que co- (Const. past. Gaudium et spes, 31.)
Por sua vez, os jovens deveriam mo um serviço gratuito e generoso
superar a tentação de não prestar a oferecer; e isto leva a julgar que Oencontro entre as gerações
ouvidos aos adultos e considerar os se pertence a um grupo que possui pode ser extremamente fe-
idosos «coisa antiga, passada e cha- todas as respostas e já não preci- cundo para gerar esperança.
ta», esquecendo-se que é insensato sa de escutar e aprender mais na-
querer partir sempre do zero, como da, ou então finge escutar. O cle- Assim no-lo ensina o profeta Joel
se a vida começasse apenas com ca- ricalismo é uma perversão e é raiz naquela que considero – lembrei-o
da um deles. Na realidade, apesar de muitos males na Igreja: destes também aos jovens da Reunião Pré-
da sua fragilidade física, os idosos devemos pedir humildemente per- sinodal – ser a profecia dos nossos
permanecem sempre a memória dão e sobretudo criar as condições tempos: «Os vossos anciãos terão
da nossa humanidade, as raízes da para que não se repitam. sonhos e os vossos jovens terão vi-
nossa sociedade, o «pulso» da nossa sões» (Jl 3,1) e profetizarão. [...]
civilização. Desprezá-los, abando- Mas, por outro lado, é preciso
ná-los, fechá-los em reservas isola- curar o vírus da autossuficiência e Esforcemo-nos, pois, por procu-
das conclusões precipitadas de mui- rar «frequentar o futuro» e por fazer
tos jovens. Diz um provérbio egíp- sair deste Sínodo não só um docu-
cio: «Se não houver um idoso na tua mento – que geralmente é lido por
casa, compra-o, porque ser-te-á de poucos e criticado por muitos – mas
proveito». Repudiar e rejeitar tudo sobretudo propósitos pastorais con-
o que foi transmitido ao longo dos cretos, capazes de realizar a tarefa
séculos leva apenas àquele perigo- do próprio Sínodo, que é fazer ger-
so extravio que está, infelizmente, a minar sonhos, suscitar profecias e
ameaçar a nossa humanidade; leva visões, fazer florescer a esperança,
ao estado de desilusão que invadiu estimular confiança, faixar feridas,
os corações de gerações inteiras. A entrançar relações, ressuscitar uma
acumulação das experiências hu- aurora de esperança, aprender um
manas ao longo da história é o te- do outro, e criar um imaginário posi-
souro mais precioso e fiável que as tivo que ilumine as mentes, aqueça
gerações herdam uma da outra; sem os corações, restitua força às mãos
nunca esquecer a revelação divina, e inspire aos jovens – a todos os jo-
que ilumina e dá sentido à história vens, sem excluir nenhum – a vi-
e à nossa existência. são dum futuro repleto da alegria
do Evangelho. Obrigado!]
Irmãos e irmãs, que o Sínodo des-
perte os nossos corações! O momento

DEZEMBRO 2018 [ OLUTADOR]11

Patronato [ O Patronato atende hoje a 80 crianças,

PE. MARCOS ANTÔNIO A. DUARTE, SDN 75 anos

PATRONATO SANTA MARIA do Patronato
é uma obra da Congre- Santa Maria
gação dos Missionários dois religiosos se destacam devido
Sacramentinos de Nos- à sua presença junto às crianças, à O olhar das crianças
sa Senhora. Foi uma das forma como educavam, corrigiam para esta Instituição
e, ao mesmo tempo, ao modo como
Oúltimas ações do Servo transmitiam Deus para os internos. Conversando com as crianças sobre
de Deus Pe. Júlio Maria o Patronato, elas destacam a Insti-
De Lombaerde, em defesa do público Patronato Santa Maria hoje tuição como um espaço de acolhi-
carente de Manhumirim, MG. Ele é O Patronato atende hoje a 80 crian- da, cuidado, aprendizado e de cons-
seu filho caçula. Nasceu da necessi- ças, em dois turnos intercalados com trução de amizade. Deixemos que
dade de acolher, alimentar, educar a escola. O trabalho nesta Institui- elas mesmas falem:
e cuidar das crianças que ficavam ção é desenvolvido através das se-
soltas pelas ruas da cidade. guintes oficinas: artesanato, espor-
Segundo Pe. Demerval Alves Bo- te, música, biblioteca, brinquedote-
telho, na sua obra História dos Mis- ca, vídeo, dança, capoeira, pintura
sionários Sacramentinos de Nossa e crochê. Além dessas oficinas, o
Senhor, Vol I, desde 1941 o poder pú- patronato oferece duas atividades
blico do município, sensibilizado pe- permanentes: reforço escolar, ba-
la situação em que viviam as crian- nho e higiene bucal.
ças e adolescentes, resolvera criar
o “Patronato de Manhumirim”, a [12 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2018
fim de responder a essa situação.
Mas a coisa não passou de discur-
so acalorado, um plano que ficou
apenas no papel.
Pe. Júlio Maria tinha acompa-
nhado desde o início o debate so-
bre a criação de um ambiente de
acolhida para estas crianças e, como
o projeto não se configurava, então
ele mesmo resolveu topar o desafio.
Em novembro de 1943, fundou o Pa-
tronato Agrícola Santa Maria, sob a
coordenação de uma comunidade
de religiosos Sacramentinos, a sa-
ber: Fr. Camilo Estrela [Diretor]; Fr.
Adelino Alves de Oliveira e Fr. Agos-
tinho Adão Silva.

Figuras inesquecíveis no Patronato
Pe. Júlio Maria não teve tempo de
acompanhar esta nova obra, devido
a suas inúmeras funções e a seu fa-
lecimento no ano seguinte da cria-
ção da Instituição. Por isso delegou
esta função aos seus filhos espiri-
tuais. Ao longo da história do Patro-
nato, duas figuras ficaram na me-
mória dos internos: Fr. Paulo Fon-
tes e Ir. Eulina. É comum encontrar
pessoas deste tempo que logo dizem:
“eu sou do tempo do Fr. Paulo”, “eu
sou do período em que a Irmã Euli-
na coordenava o patronato”. Estes

em dois turnos intercalados com a escola...

- “Eu gosto muito do Patronato. Eu conhecida e vivida de perto. Contri- tos outros. Tenho orgulho de fazer
estou aqui desde os 3 anos. Aqui é di- buir com ele é evoluir na vida a cada parte desse serviço.” (Luciléia de Oli-
vertido, tenho amigos para brincar dia, sentindo o chamado de Deus na veira Bernardo - funcionária)
e conversar e tudo...”(E.M. – 11 anos) doação e no amor ao próximo”, diz
Arianna França da Silva Contrim. A presença
- “O Patronato é legal, recebo aten- das Mães dos assistidos
ção e carinho.” (E.D.L. - 6 anos) “Poder desenvolver os talentos re- no patronato
cebidos de Deus e colocá-los a servi- Toda boa mãe procura ou escolhe
- “Muito bom, gosto muito das ço de nossos pequenos é uma satis- para seus filhos aquilo que há de
oficinas e de brincar com os meus fação! Colaborar com esta grande melhor. O amor de mãe é pura doa-
amigos no parque.” (L.F.S.C. - 9 anos) obra, idealizada pelo Pe. Júlio Ma- ção e entrega. É interessante, por-
ria, é uma experiência gratifican- que as mães dos assistidos procu-
- “O Patronato sempre foi mui- te e também uma fonte de aprendi- ram o Patronato.
to bom. Os educadores sempre res- zado sem igual”, comenta Cira Ma-
peitam o jeito das crianças e, se eu ria Silva. - “O Patronato é um lugar de segu-
precisar de ajuda, eles sempre es- rança para minha filha, ela aprende
tão aqui para me ajudar. O Patro- “Para mim, significa colocar em muito com as oficinas oferecidas.”
nato é uma obra voltada para criar prática o segundo mandamento da (Silvana da Silva de Souza)
novas amizades. Aqui no Patronato lei de Deus: ‘amar ao próximo como
você tem grandes oportunidades de a si mesmo’, assim contribuindo - “O Patronato é o lugar onde
conviver com outras pessoas dife- com as sementes do futuro de nos- deixo o meu filho parte do dia pa-
rentes e conhecer uma nova brin- ra que eu possa trabalhar. Se não
cadeira, e eu sei disso tudo porque sa humanidade”, fosse está instituição, onde ele é
afirma Solange da bem acolhido e cuidado, seria mui-
Conceição Eme- to complicado para mim, pois os
rick Rabelo. motivos vocês já sabem quais.”
(Marcos Botelho)
fico há muitos anos aqui no Patro- Ser
nato.” (M.A.O. – 13 anos) educador - “Minha filha é muito feliz aqui.
junto às O que eu tenho para falar é que vo-
A presença dos crianças cês são nota mil. O Patronato é uma
voluntários nesta obra Ser funcionária instituição de grande valor para as
No Patronato Santa Maria, temos vá- nestas intuições famílias e para as crianças, onde to-
rios voluntários que ajudam com sua de assistência e dos têm o carinho de vocês, educa-
dedicação a enriquecer nosso traba- acompanhamen- dores e coordenadores. São muito
lho. Eles destacam não só o trabalho to as crianças e bem alimentados, é tudo de primei-
prestado na Instituição, mas ressal- adolescentes em ra qualidade. Se famílias são bem
tam o bem que recebem ao realiza- estado de vulne- tratadas e, se ela esta feliz, eu tam-
rem suas tarefas em nosso estabele- rabilidade é trei- bém estou. E eu só tenho a agra-
cimento. Aqui se cumprem as pala- nar a atenção e decer. Parabéns para toda a equi-
vras da oração atribuída a São Fran- sensibilizar o co- pe do Patronato!” (Maria Apareci-
cisco de Assis: “É dando que se recebe”. ração para se in- da Barbosa)
clinar na realidade onde os atendi-
“O Patronato é uma obra mui- do estão. Os funcionários do Patro- Acolher a criança
to bonita, principalmente quando nato demonstram esta atitude em é acolher a Deus
suas palavras. Vejamos: Esta obra expressa muito bem o co-
- “Trabalhar no Patronato sig- ração bondoso e amoroso do mis-
nifica participar de uma realida- sionário belga. Deus seja louva-
de social fragilizada, mas com um do por ter inspirado no Pe. Júlio
potencial de mudança e de trans- o desejo de iniciar esta obra, que
formação na vida dos atendidos e chega aos seus 75 anos de histó-
suas famílias. É missão, é desafia- ria. Também queremos agrade-
dor, mas também é um sonho de cer aos Missionários Sacramen-
uma realidade melhor.” (Kelly de tinos de Nossa Senhora que diri-
Souza Silva – funcionária) gem esta casa, como os funcioná-
- “Eu só tenho a agradecer por tra- rios, voluntários e toda a comuni-
balhar no Patronato, sinto como se dade que abraça esta causa. O Pa-
aqui fosse a minha casa, onde criei tronato expressa o braço de Deus
os meus filhos e ajudei a criar mui- que acolhe e defende os pequeni-
nos do reino de Deus.]
DEZEMBRO 2018 [ OLUTADOR]13

VÍCTOR CODINA* Bíblia [ O pecado pessoal permeia e contamina a

OROMANCISTA colombiano O pecado
Gabriel García Márquez, continua
Nobel de Literatura, des- a matar os
creve em um de seus ro- de Deus
mances o dia da vida de
um homem. Mas esse dia dos, as crianças morrem de desnu- podem falar de regimes oligárqui-
é um dia especial. Embora o protago- trição. Em vez de feridos, há pessoas cos e pouco participativos. Porém,
nista não saiba, é o seu último dia: desempregadas; em vez de armas, do ponto de vista cristão, esta situa-
no final do dia ele vai cair assassi- tipos de interesses bancários.” ção deve ser chamar-se pecado, pe-
nado por seus inimigos. A novela é cado pessoal e social.
chamada “Crônica de uma morte Os sacerdotes e outros agentes
anunciada” e, desde a primeira pá- pastorais experimentam o alar- Dizem os bispos de toda Amé-
gina, é sabido que o protagonista es- mante crescimento dos batismos rica Latina reunidos na cidade de
tá condenado à morte. A sombra de de urgência para as crianças que Puebla, México, na III Assembleia
sua morte atravessa todo o romance. estão em perigo de morte. Muitas extraordinária de 1979: “Nesta an-
destas crianças morrem de simples gústia e dor, a Igreja discerne uma
Este romance de García Márquez desnutrição. Realmente, a guerra situação de pecado social, de gra-
pode servir de parábola para enten- já começou. vidade tanto maior por dar-se em
der a situação na América Latina e, países que se dizem católicos e que
em especial, na Bolívia. A sombra De onde vem essa morte? têm a capacidade de mudar”. (Pue-
da morte nasce no continente e no Os economistas podem dar explica- bla, 28)
país. É uma cidade inteira conde- ções para esta situação de condena-
nada à morte: morte prematura de ção à morte em que vive o Terceiro Pecado social
muitas crianças, morte precoce de Mundo, na América Latina, na Bo- O pecado pessoal permeia e conta-
adultos que não atingem 50 anos de lívia: situação não apenas de sub- mina a sociedade e chega a mate-
idade, a morte lenta de muitos que desenvolvimento, mas de depen- rializar-se em estruturas de peca-
sobrevivem em condições subuma- dência dos países do Norte, conse- do, que são como a cristalização da
nas, morte violenta em momen- quência lógica do sistema capitalis- injustiça e do egoísmo pessoal, sua
tos de ditadura. Nossa história é a ta predominante, da má distribui- consolidação e o mecanismo para
crônica de uma morte anunciada. ção interna da renda. Os políticos sua perpetuação.

Terceira guerra mundial [14 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2018
As estatísticas nos dizem que a ex-
pectativa de vida na Bolívia é de 48
anos; de cada cinco bolivianos, qua-
tro vivem em situação de pobreza;
metade dos bolivianos são desnu-
tridos; de cada quatro crianças, uma
morre no primeira ano da sua vida.

Acrescentemos a esses dados já
conhecidos, a crise provocada pe-
la política econômica de 85, com o
consequente congelamento dos sa-
lários, a queda brutal no preço do es-
tanho no mercado de Londres com
suas consequências na mineração
tradicional, o crescente peso da dí-
vida externa, e compreenderemos
quanta verdade encerram as pala-
vras de um líder sindical brasilei-
ro na reunião em Havana, em ju-
lho de 1985, sobre a dívida externa:

“Na verdade, a terceira guerra
mundial já começou, a guerra si-
lenciosa em que, em vez de solda-

a sociedade e chega a
materializar-se
em estruturas
de pecado, que
são como a
cristalização
da injustiça e do
egoísmo pessoal,
sua consolidação e
o mecanismo para

filhossua perpetuação.

Esta noção de pecado estrutural, Jesus é o maior expoente do peca- vida desumana e esta morte prema-
da que tanto falam os documentos do do mundo: a misteriosa morte tura são fruto do flagelo do pecado
dos bispos que se reuniram em 1968, do Filho de Deus. nosso e do pecado dos outros, do pe-
como os da Conferência de Puebla, é cado do país e do pecado do exterior.
a concretização histórica do pecado A partir daqui, pode-se entender
no mundo (cf. Jo 1,29), expressão do melhor a definição do pecado que A tensão norte-sul é fruto do pe-
pecado original. Uma corredeira de Dom Romero deu em Lovaina, quan- cado dos herodianos do país, que
pecado inunda nossa terra e deixa do recebeu seu doutorado honoris são como o cinturão de comparti-
sua marca mortal na sociedade e causa, poucos dias antes de sua mor- lhamento de interesses exteriores;
em suas instituições. O fruto do pe- te violenta: “O pecado é aquilo que eles também constituem uma es-
cado é a morte (Rm 5,12; 1Cor 15,22), matou o Filho de Deus, e o pecado trutura pecaminosa. Ao lado des-
morte não só interna do pecador, é isso que continua a matar os fi- tes, os pecados dos pobres são mais
mas também a morte dos irmãos. lhos de Deus”. desculpáveis, são fruto da conta-
minação ambiental pecaminosa!]
Os primeiros 11 capítulos do Gê- O pecado pessoal e estrutural é a
nesis mostram, simbolicamente, o causa desta situação dos condena- * Doutor em Teologia, assiste às comuni-
dinamismo da morte, o trágico sa- dos à morte em que vivemos. Esta si- dades populares de Oruro na Bolívia. (Texto
lário do pecado. A morte de AbeI (cf. tuação não é casual, nem é simples- de seu livro: Parábolas de la Mina y el Lago:
Gn 4) simboliza a dimensão fratrici- mente devida a desastres naturais Teología desde la noche oscura. Ed. Sígueme:
da do pecado; o dilúvio simboliza a que, às vezes, atingem o país. Esta Salamanca, 1990, Trad. DM.)
destruição e a morte cósmica, con-
seqüências do pecado humano (cf. DEZEMBRO 2018 [ OLUTADOR]15
Gn 6-9), e a Torre de BabeI (cf. Gn 11)
exemplifica o caos social do mun-
do pecaminoso. A crucificação de

PE. SEBASTIÃO SANT’ANA, SDN* Família [ Um novo estilo de Igreja à escuta, uma

AIgrejaescutou os

Além de ouvidos, mento final (27/10) e a Missa de en- Documento final do XV Sínodo Or-
cerramento (28/10) – pôde maravi- dinário dos Bispos foi apresentado
Gquerem ser lhar-se com a alegria manifestada por Dom Sérgio da Rocha que, a pe-
reconhecidos pelo Papa Francisco, pelos 270 bis- dido do Papa, foi o relator geral da
RANDE foi a expectativa pos sinodais e pelos jovens que re- grande assembleia.
em torno do XV Sínodo presentaram a juventude do mun-
Ordinário dos Bispos, do inteiro no grande evento. Para a leitura e aprovação de ca-
realizado em Roma, de da parágrafo, o cardeal brasileiro
3 a 28 de outubro. Com A delegação brasileira no Sínodo foi contou com a ajuda de Dom Bruno
o tema “Os jovens, a fé composta por Dom Sérgio da Rocha Forte, membro da comissão para a
e o discernimento vo- (CNBB), Dom Jaime Spengler (Porto redação do texto, e de mais dois pa-
cacional”, o Sínodo su- Alegre, RS), Dom Vilson Basso (Impe- dres secretários especiais.
perou o esperado. O Documento fi- ratriz, MA), Dom Gilson A. Silva (No-
nal foi acolhido com entusiasmo e va Iguaçu, RJ) e pelo jovem Lucas Ga- O Documento final – resultado de
muitos aplausos. O evento teve for- lhardo, da Pastoral Juvenil da CNBB. verdadeiro trabalho de equipe dos bis-
te significado para a fé e para a vi- pos sinodais, juntamente com espe-
da da Igreja inteira. O Documento final cialistas convidados e, de modo par-
Quem acompanhou o final do Sí- Formado de 3 partes, 12 capítulos, ticular, com os jovens participantes
nodo – leitura e aprovação do Docu- 167 parágrafos, 60 páginas, o rico – foi aprovado e acolhido com muitos
aplausos na tarde de 27 de outubro.
[16 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2018

a Igreja sinodal em caminho com todos, começando com os jovens...

jovens ouvidos, reconhecidos e acompa- É preciso um novo estilo de Igreja
nhados, e querem que sua voz seja Embora empolgado com o grande
Entregue nas mãos do Papa Fran- considerada interessante e útil no êxito do Sínodo, o Papa recordou que
cisco, este, de imediato, autorizou campo social e eclesial”. seu resultado não pode limitar-se
sua publicação. a um documento. Para Francisco,
Verdadeiro evento da graça divi- mais do que palavras escritas, es-
“Caminhava com eles” na, pôde sinalizar uma Igreja que tas “são palavras de vida que devem
O encontro de Jesus com os discí- se coloca na escuta para perceber arder em nosso coração, e devem
pulos de Emaús (cf. Lc 24,13-35) foi os “sinais dos tempos” e reconhe- mudar nosso coração e o coração
o fio condutor do Documento final cer que os jovens são o presente e o da Igreja para mudar o coração da
do Sínodo dos Jovens. Com os olhos futuro do mundo. humanidade”.
fixos em Jesus ressuscitado, a Igre-
ja toda é convidada a uma escuta Na “Carta aos Jovens do mundo Pelo testemunho de diversos par-
“empática” que, com humildade, pa- inteiro”, lida ao final da Missa de en- ticipantes do XV Sínodo Ordinário,
ciência e disponibilidade, permite cerramento, ficou claro que o pro- percebe-se que o Papa tem a peito
dialogar realmente com os jovens, tagonismo da juventude na evan- um processo a ser ativado, um ca-
“evitando respostas preconcebidas gelização deve ser uma prioridade minho a ser vivido por toda a Igreja.
e receitas prontas”. na Igreja. “Nestes dias nos reuni- Este Sínodo lançou um novo estilo
mos para escutar a voz de Jesus, ‘o
O Relatório ou Documento final Cristo, eternamente jovem’ e reco- Uma Igreja que se coloca
confirma que os jovens “querem ser nhecer Nele as vozes dos jovens e na escuta para perceber
seus gritos de exultação, lamentos os “sinais dos tempos”
e silêncios”. e reconhecer que os jovens
são o presente e o futuro
Uma Igreja da alegria e da escuta do mundo...
Dom Bruno Forte, renomado teólogo
e arcebispo italiano, trabalhou na de Igreja à escuta, uma Igreja sino-
comissão para a redação do Docu- dal em caminho com todos, come-
mento final. Ficou muito impres- çando com os jovens.
sionado pela experiência de uma
Igreja da alegria. “Aquilo que se viu Em entrevista, Dom Bruno For-
dessa reflexão e discussão com os te testemunhou que “o Papa Fran-
jovens e que traz em si uma força de cisco não tem medo do futuro, não
futuro, esperança e alegria, apesar tem medo de uma Igreja em saída
de tudo, está profundamente sinto- e gostaria de contagiar a todos nós
nizado com a alegria que Cristo dá com a atitude de profunda confian-
ao coração e à Igreja”, frisou o arce- ça e esperança, de entrega ao sopro
bispo-teólogo. do Espírito Santo que, mediante as
palavras do Documento final, nos
Considera Dom Bruno que não se fala, mas certamente nos pede pa-
trata “somente de um Sínodo como ra ir além e vivê-las, ser suas ale-
os outros, mas de um Sínodo total- gres testemunhas para o futuro da
mente único, em que a juventude da Igreja e do mundo”.
Igreja se manifestou como sinal de
esperança para o mundo”. Teremos uma Exortação Apostólica?
Continuaremos, nas próximas edi-
Segundo o arcebispo, os jovens de- ções, esta partilha em torno do Sí-
ram uma contribuição fundamen- nodo dos Bispos e de seu rico Docu-
tal para que surgisse o rosto de uma mento final. Se o Papa o quiser, po-
“Igreja à escuta”, a começar pelo Pa- derá transformá-lo em Exortação
pa, que se colocou à escuta de todos. Apostólica. Oremos para que Fran-
“Gostaria de dizer aos jovens, em cisco continue contagiando os jo-
nome de todos nós, adultos: des- vens e a todos nós com esta propos-
culpai, se muitas vezes não vos es- ta revolucionária na Igreja.]
cutamos; se, em vez de vos abrir o
coração, vos enchemos os ouvidos”,
disse o Papa Francisco na homilia
da Missa de encerramento.

DEZEMBRO 2018 [ OLUTADOR]17

A volta dos HÁalgunsanos(2011),
recebi de um amigo
da Holanda uma ins-
piradora mensagem

de Natal com esta gravura. A

obra, datada de 1860, é do ar-
tista alemão Julius Schnorr

pastores von Carolsfeld [1794-1872]. Ele
a intitulou: A volta dos pasto-
res. Sua intenção era reprodu-
zir pictoricamente a informa-
ção fornecida por Lc 2,20: “E os
pastores voltaram, glorifican-

do e louvando a Deus por tu-

PE. VINÍCIUS AUGUSTO TEIXEIRA, CM do o que tinham visto e ouvi-
do, conforme lhes fora dito”.

Catequese [ Com o olhar iluminado pela fé...

Boa nova aos pequenos Os pastores são os primeiros desti- deram reconhecer, na pequenez e
O contexto é bem conhecido (cf. Lc natários desta Boa Notícia. Por seu na fragilidade do “menino envolto
2,1-20). Este, aliás, é o Evangelho trabalho, eram homens e mulheres em faixas e deitado em uma manje-
que escutamos, a cada ano, na Mis- que tinham de viver à margem da doura”, toda grandeza e toda potên-
sa da Noite de Natal. Na região de sociedade. Suas condições de vida, cia do amor do Senhor que veio visi-
Belém da Judeia, na penumbra de os lugares onde eram obrigados a tar seu povo e trazer-lhe a salvação
uma noite invernal, humildes pas- permanecer impediam-lhes de ob- (cf. Lc 1,68). Por isso, fitando aqueles
tores guardavam seus rebanhos. servar todas as prescrições rituais que os recebem, pobres como eles,
Os pastores eram contados entre de purificação religiosa e, por isso, apontam para o Salvador, como se
os mais despossuídos e ignoran- eram considerados impuros. Traía lhes dissesse: Deus veio nos visitar!
tes, pertencentes a uma classe de -os sua pele, suas roupas, seu odor, No coração dos pobres, Deus encon-
pouquíssima relevância social e re- o modo de falar, a origem. Neles, tra abrigo. Os pastores não apenas
ligiosa, identificados pelos trajes tudo gerava desconfiança. Homens atravessam a ponte. Eles também
esfarrapados e pelo mau odor que e mulheres de quem era preciso to- “se tornam ponte”, transmitindo
exalavam. A estes, no entanto, des- mar distância, recear. Eram consi- a todos a paz e a alegria que se ir-
tina-se prioritariamente a Boa-no- derados pagãos entre os crentes, pe- radiam do mistério contemplado.
va (cf. Lc 4,18). cadores entre os justos e estrangei-
O tesouro mais precioso
Começando por eles, pelos peque- Assim, pois, Como os pastores de Belém, ilumi-
nos e humilhados, o dom da salva- de tanto contemplar nados e robustecidos pela fé, saímos
ção se estenderia a todos. Como em o mistério, nós nos ao encontro do Salvador. E o que des-
uma teofania (cf. Dt 33,2), o anjo do tornamos aquilo cobrimos? Na pobreza do presépio, o
Senhor aparece aos pastores e a gló- que contemplamos. tesouro mais precioso. Na singeleza
ria de Deus os envolve em luz, dissi- E nossa humana da criança, a nobreza de um amor
pando as trevas que os envolviam. existência se torna sem medidas. Deus se fez pequeno
Tomados de assombro diante do uma ponte, por meio e pobre para que ninguém jamais
mistério, acolhem a surpreenden- da qual a Vida se doa tivesse receio de se aproximar dele
te mensagem: “Não tenhais medo! no tempo e as vidas e não hesitasse em aceitar o que ele
Hoje, na cidade de Davi, nasceu pa- se encaminham... nos traz. No silêncio da noite santa,
ra vós o Salvador, que é o Cristo-Se- o céu e a terra trocam seus dons: o
nhor. Isto vos servirá de sinal: en- ros entre os cidadãos [...]. Eis a ale- Verbo se faz carne para dignificar
contrareis um recém-nascido en- gria que somos convidados a parti- nossa humanidade, povoar nossa
volto em faixas e deitado em uma lhar, celebrar e anunciar nesta noi- solidão e plenificar nossa esperan-
manjedoura”. (Vv. 11-12.) te. A alegria com que Deus, em sua ça. Humanizados pela contempla-
infinita misericórdia, abraçou os ção deste mistério, voltamos à vi-
Os pastores decidiram, então, ir pagãos, pecadores e estrangeiros, da nossa de cada dia, pacificados e
a Belém e ver de perto o que o Se- impelindo-nos a fazer o mesmo”. feitos capazes de pacificar, forta-
nhor lhes tinha dado a conhecer. lecidos e em condições de fortale-
Foram às pressas e encontraram No desenho, os robustos pastores, cer, consolados e aptos a consolar.
Maria, José e o recém-nascido dei- cercados de animais, retornam à É Natal! O caído se levanta, o solitá-
tado na manjedoura. Contaram o sua realidade concreta e reencon- rio se faz solidário, o frio se aquece.
que lhes tinha sido dito sobre o me- tram seus companheiros. Estes pa-
nino, deixando maravilhados a to- recem aguardá-los com ansiedade. Tinha razão São João de Ávila (séc.
dos os que os escutavam. Em segui- Seus rostos fulgurantes e seus ges- XVI), ao dizer: “Quando se fez carne,
da, “voltaram, glorificando e lou- tos efusivos traduzem a alegria in- o Verbo nos deu corações de carne.
vando a Deus por tudo o que tinham dizível que experimentam depois Este que veio e que vem é amigo da
visto e ouvido”. de ter contemplado a glória de Deus misericórdia e da mansidão. Que
e a realização de suas promessas. ele nos encontre misericordiosos e
A alegria de Deus Com o olhar iluminado pela fé, pu- mansos”. Assim, pois, de tanto con-
O Papa Francisco, na Missa da Noi- templar o mistério, nós nos torna-
te de Natal de 2017, discorreu admi- DEZEMBRO 2018 [ OLUTADOR]19 mos aquilo que contemplamos. E
ravelmente sobre esta passagem: nossa humana existência se torna
“Naquela noite, aquele que não ti- uma ponte, por meio da qual a Vida
nha um lugar para nascer é anun- se doa no tempo e as vidas se enca-
ciado àqueles que não tinham lu- minham para o Eterno.]
gar nas mesas e nas ruas da cidade.

FRT. DIONE AFONSO, SDN* Juventude [ A presença da Pastoral da Juventude

“Havia encontrado a garotada Jovens
daqui [da Amazônia] no maior
abandono... Reuni uns quinze odbarAimmgaauzdôintoioa!,
meninos e iniciei com eles um
trabalho de difusão do bem.” e as angústias são comuns: o que a mos na Amazônia, dados do censo
– (Pe. Júlio Maria De Lombaerde, realidade amazônica oferece com afirmam que 61,5% da população da
MSF, Macapá, 1913.) maior preocupação é a diversidade Amazônia é infanto-juvenil (de 0 a
de cultura entre os povos – indíge- 29 anos); 29,1% desse total estão en-
VIVI NAAMAZÔNIA por exata- nas, ribeirinhos, grandes centros tre 15 a 29 anos; 27% da população
mente 10 meses, enviado urbanos, aldeias totalmente isola- juvenil da Amazônia vive no cam-
pelos Missionários Sacra- das, presença forte de igrejas neo- po, enquanto a média brasileira é
mentinos de Nossa Senho- pentecostais, grande presença de de 16%. Segundo os recentes dados
ra. Para encerrar as nos- jovens inseridos nos movimentos do IPEA, publicados no livro Juven-
sas reflexões aqui na Revista O Lu- eclesiais –, mas não são realidades tude e Políticas Sociais no Brasil, na
tador deste ano, optei por relatar e que não encontramos em outros lo- Região Norte 13,2% das jovens en-
também agradecer por esse tem- cais de evangelização onde já esti- tre 15 e 19 anos já têm filhos, sen-
po em que, unido às causas das ju- vemos presente. do que 44,4% delas estão na faixa
ventudes desse lugar, aprendi que de renda de até meio salário míni-
ser jovem não tem muito a ver com A presença da Pastoral da Ju- mo. Uma em cada dez meninas de
idade e cultura, mas, sim, com dig- ventude na Amazônia é um fe- 10 a 19 anos tem pelo menos um fi-
nidade e humanidade. nômeno que chama a atenção de lho. 64,61% dessas só possuem, no
98% dos missionários. A diversi- máximo, sete anos de escolarida-
Ainda hoje o clamor dos povos dade juvenil amazonense abre um de. Em 2008, foram 42.614 novas jo-
da Amazônia se faz ouvir e a Igre- horizonte desafiador para a nos- vens mães. Das moças entre 10 e
ja “ouve o clamor e desce buscan- sa ação evangelizadora, e a Igre- 17 anos com filhos, 75% não estu-
do a libertação” [cf. Ex 3,7] para a ja na Amazônia, através de seus dam e 57% delas nem trabalham.
Amazônia com sua ação solidária bispos e missionários, coloca já Com relação aos jovens indígenas,
e de evangelização. A devastação da em 1974 a juventude como uma 38% dos 750 mil índios brasileiros
Amazônia representa uma ameaça das Linhas Prioritárias da Pasto- vivem em situação de extrema po-
e uma perda para toda a humani- ral na Amazônia. breza, o que afeta pesadamente os
dade, por isso precisa despertar-nos jovens das aldeias.
para conhecer, apreciar e respeitar Para esclarecer e ter uma infor-
a vida que a Amazônia guarda: seus mação do campo de missão que te-
povos, sua biodiversidade, sua be-
leza. Criar uma relação de harmo- [20 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2018
nia para que acolham, respeitem
e cuidem, todos juntos, com toda
a Criação, “lutando, com firmeza,
contra todas as formas de morte,
em defesa da vida, sobretudo a dos
mais fracos”.

Uma questão
de dignidade e humanidade
A Igreja da Amazônia sempre con-
tou com a presença de missionários
e missionárias, que dão suas vidas
em prol do anúncio de Jesus Cristo
e de seu Evangelho entre os povos
que aqui vivem. Numa caminhada
muito em comum com a Igreja toda
reunida, percebe-se que os desafios

na Amazônia é um fenômeno que chama a atenção...

fé de cada um de cada uma de vós
que está aqui. Obrigado!”

Meu muito obrigado!
Na Amazônia, vivi de perto essas
realidades, senti, sofri, sorri, cho-
rei, celebrei junto a uma Igreja jo-
vem, amazônica, cristã e cheia de fé.
O sínodo que celebramos há pouco
mais de um mês nos pediu uma “fé
jovem”. “Os jovens não devem ser
tratados como objetos, mas como
sujeitos da proclamação do Evan-
gelho”, lembraram os bispos reu-
nidos em Roma. A presença jovem
na Igreja da Amazônia é uma espe-
rança para todos nós. Vemos neles
a esperança de salvação de nossa
Casa Comum.

Os jovens da Amazônia Em outubro, quando celebramos Por isso, faço minhas, as palavras
o DNJ aqui na Arquidiocese de Ma- de Francisco: “Os jovens chamam-
“Os jovens arregaçam as mangas, naus, o Pe. Cândido, na homilia, lem- nos a despertar e a aumentar a
põem as mãos na massa e a fazem brava que “é inquestionável a for- esperança, porque trazem consigo
crescer com a levedura de seu suor. ça que vocês têm. Muitos de vocês as novas tendências da humanidade
Entendem que se imita demais e jovens que estão reunidos aqui ho- e abrem-nos ao futuro, de modo
que a salvação é criar. Criar é a pa- je, sofrem pela falta de oportunida- que não fiquemos encalhados
lavra-chave desta geração. O vinho des, falta de emprego; vivem fazen- na nostalgia de estruturas e
é de banana, e se sair ácido, é o nos- do um bico aqui e outro ali, a fim de costumes que já não são fonte
so vinho!” (MARTÍ, 1983.) conseguir pelo menos uma peque- de vida no mundo atual”. (EG, 108.)
na chance de serem independentes.
Encontrei aqui jovens ale- Sonham com um futuro melhor, so- Papa Francisco nos apresenta
gres, sorridentes, rostos car- frem abusos nas ruas, prostituem- uma igreja de “coração aberto pa-
regados de expressões cul- se no desespero da falta de comida ra os jovens”. Talvez esse seja o ca-
turais e de muita fé. Os jovens na mesa, transformam-se pelo trá- minho. Viver com os jovens com o
fico de drogas, por acreditarem ser coração aberto, com olhos de amor
da Amazônia levam consigo uma a única porta que vos abre e, infeliz- e de misericórdia, viver com eles,
representatividade extraordinária, mente, talvez seja. Mas, mesmo as- aprender com eles. “Que a Igreja e
uma força de vontade que nos en- sim, em meio a toda essa realidade as pessoas de boa vontade se com-
riquece e nos motiva a ir junto com que vocês vivem todos os dias, vocês prometam com a juventude como
eles para a luta, para a comunidade, estão aqui! Rezando, caminhando, agentes de uma nova evangeliza-
e com garra. Tentamos traçar um lutando por seus direitos, gritando ção e como força transformadora
possível retrato da população jovem as dores que sentem, reivindicando da Igreja e da sociedade”.
da região amazônica. E, nesse meio políticas públicas para vocês, por-
juvenil, é triste percebermos como que vocês ainda acreditam que um A juventude caminha e é caminho,
a realidade do desemprego maltra- futuro melhor há de chegar. Eu me e eu aprendi a caminhar com eles.
ta e desfigura o rosto humano. Co- enriqueço ao ver e sentir a garra e a Obrigado, Amazônia! Obrigado, ju-
loca os jovens numa condição de- ventude linda! Obrigado, Manaus!]
plorável, tira deles a dignidade, a DEZEMBRO 2018 [ OLUTADOR]21
vida, a esperança. * [email protected]

EDUARDO E SUZANA* Encontro Matrimonial [ Reservar tempo...

Amoris Laetitia socônjugecombasenossentimen-
tos, linguagem que nos permite ser-
e o Encontro mos facilmente aceitos pelo outro
e, assim, alcançarmos o júbilo co-
mo casal.

Matrimonial §140. Ter gestos de solicitude pelo
outro e demonstrações de carinho.
O amor supera as piores barreiras...

AExortação Apostólica do no FDS somos convidados a exercitar Étambém no FDS que enxergamos
Papa Francisco “Amoris “escutar com o coração”. Reconhe- que as demonstrações de carinho
Laetitia” completa três cemos que precisamos praticar es- precisam acontecer no dia a dia, fo-
anos em abril próximo. O Ca- sa escuta em nosso dia a dia assim mentando o amor verdadeiro, que
pítulo IV é dedicado ao “Amor como reservar um tempo de quali- fortalece o casal para superar os de-
no Matrimônio”. E nele, o te- dade para nosso cônjuge. safios impostos pelo plano do mun-
ma do “diálogo”, com o qual o do. Nesse contexto aprendemos que
Encontro Matrimonial Mun- §138. Desenvolver o hábito de dar real “amar é uma decisão”, e essa deci-
dial se identifica por comple- importância ao outro... são deve ser tomada principalmen-
to. O movimento já foi cha- te nos momentos de dificuldades.
mado no Brasil de “Encontro OPapa Francisco reforça um fun-
do Diálogo”. damento importantíssimo na §141. Por último, reconheçamos que,
vida conjugal e nas relações inter- para ser profícuo o diálogo, é preci-
§136. O diálogo é uma modalidade pessoais na família. Um dos pon- so ter algo para dizer; e isto requer
privilegiada e indispensável para vi- tos trabalhados no FDS é o desper- uma riqueza interior que se alimen-
ver, exprimir e maturar o amor na tar para percebermos que o nosso ta com a leitura, a reflexão pessoal,
vida matrimonial e familiar... relacionamento conjugal deve ser a oração e a abertura à sociedade.
uma prioridade em nossas vidas. Caso contrário, a conversa torna-se
OPapa Francisco é incisivo e afir- aborrecida e inconsistente...
ma o diálogo como “indispen- §139. ...A unidade, a que temos de
sável para viver”. O Fim De Semana aspirar, não é uniformidade, mas No FDS do Encontro Matrimo-
(FDS) do EMM utiliza uma metodo- uma “unidade na diversidade” ou nial Mundial, aprendemos fer-
logia que auxilia os casais a um diá- uma “diversidade reconciliada”... ramentas poderosas que tornam
logo que exprime e matura o amor nossos diálogos momentos praze-
na vida matrimonial e familiar. So- As 44 horas vividas no FDS nos rosos de abertura e entrega plena,
mos estimulados a dialogar sob va- fazem olhar para dentro de nós apoiados na oração como casal,
riados temas da vida conjugal, uti- mesmos como seres únicos e ama- sem perdermos a nossa essência
lizando uma linguagem amorosa, dos por Deus, e dialogar com o nos- individual.
expressando sentimentos, exerci-
tando a escuta ativa. Viver o FDS foi algo transforma-
dor em nossa vida de casal e como
§137. Reservar tempo, tempo de qua- indivíduos. Já se vão 15 anos e nos
lidade, que permita escutar, com pa- sentimos cada vez mais fortaleci-
ciência e atenção, até que o outro te- dos, ao praticarmos os valores que
nha manifestado tudo o que preci- aprendemos naquelas 44 horas. Uma
sava comunicar... verdadeira ação do Espirito Santo
em nossas vidas.
Nesse parágrafo, parece estar-
mos dentro do FDS, com esse Obrigado, Papa Francisco, por nos
exercício da escuta plena e verda- mostrar de forma tão carinhosa que
deira. Numa metodologia própria, estamos no caminho certo, ao fazer-
mos parte do Encontro Matrimonial
Mundial, buscando melhorar continua-
mente nossa vida conjugal e familiar.]

*Arquidiocese de Salvador, BA
E-mail: [email protected]

[22 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2018

IRMÃ MARIA HELENA BRINATI, SDN Família Julimariana [ Ver...

“Agradecer é reconhecer a Gratidão
força do Criador...” Por tudo dai graças, à Comunidade das Irmãs idosas-
Onde perceber esta Força? dai graças por tudo! doentes e Comunidades de Acolhida
Nas estrelas que cintilam. Cada ser traz em si o dom da pre- e Formação, em Belo Horizonte, MG;
No sol que irradia luz, vi- sença do Criador. É a presença-pre-
da e calor. sente do autor da vida que chega até às Irmãs que se dedicam na or-
nós. Mais um convite a transformar ganização do grupo para que possa
Na lua, ensinando-nos a refletir nossa vida em ação de graças, em servir melhor.
a luz do Grande Sol. comunhão com todas as pessoas.
Como não agradecer por pessoas que Em tudo, descubro a Força da Eu-
No Planeta Terra, nossa casa co- estão lado a lado com os povos indí- caristia que é Comunhão, Unidade,
mum, onde vivemos e existimos. genas, os ribeirinhos, os sem teto, Amor, Solidariedade, Partilha. No
os sem terra? A mídia não fala, não meu íntimo, rezo como Jesus re-
Meditando, meu ser encheu-se noticia, porém eles e elas existem. zou: “Te louvo, Pai, Senhor do Céu e
de Gratidão, num reconhecimen- Gente que doa seu tempo para uma da Terra, porque escondeste estas
to comprometido com o Criador, os organização na favela, na comuni- coisas aos sábios e entendidos e as
seus mistérios, surpresas e equilíbrio. dade bairro, comunidade eclesial. O revelaste aos pequeninos... Assim
que sustenta essa gente, com tanta foi do teu agrado”. (Mt 11, 25b-26.)
Em tudo, doação, senão a Força do Criador?!
vemos a Força do Criador Como Maria, com o coração agra-
Quando olho ao redor, na palma Abrir os olhos decido, eu canto: “Minha alma dá
das mãos das montanhas, vejo o e olhar mais longe, glória ao Senhor!” (Lc 1,46.)]
altar de ofertas ao Criador. No ver-
de das florestas, a esperança de vi- enxergar além.
da, que clama respeito e cuidado.
Beleza que encanta os olhos! Per- Como Sacramentina de Nossa Se-
fume que inebria a alma e enche o nhora, eu me encanto com a Força
espírito de gratidão! do Criador que inspirou o Servo de
Deus, Padre Júlio Maria De Lombaer-
Contemplar aves e pássaros di- de, e Irmã Maria Beatriz Framba-
versos: plumagens, cores, cantos, ch a iniciarem nossa humilde Con-
encantos mil... Olhar os animais, gregação, com o Carisma Missioná-
do menor ao maior, do mais frágil rio-Eucarístico-Mariano. Sua Força
ao mais forte, suas posturas, sua continua sustentando cada Irmã da
majestade, sua elegância e capaci- Congregação, no seu lugar, do seu
dade de aprender e colaborar com a jeito, na sua doação, no seu ser sa-
humanidade. A beleza dos rios que cramento da Presença de Jesus na
buscam o mar com o murmúrio das Eucaristia, do jeito de Maria, lá on-
águas; os remansos, com sua quie- de se encontram em missão, junto:
tude; o movimento das cascatas,
das fontes que deixam suas águas ao Povo de Luanda, Angola, África;
borbulharem... Vislumbram o so- aos ribeirinhos e comunidades
nho de cada ser até chegar ao seu de Alvarães, AM;
destino... aos jovens, crianças, pais e edu-
cadores nas Escolas de Minas Ge-
Abrir os olhos e olhar mais lon- rais e do Rio de Janeiro;
ge, enxergar além, ver quantas pes- às Comunidades Eclesiais de Ba-
soas, irmãos e irmãs que fazem de se em Goiânia, GO, Rio das Ostras
suas vidas uma total entrega, cui- e Arrozal, RJ;
dando dos mais necessitados, nu-
ma casa de repouso, de crianças de- DEZEMBRO 2018 [ OLUTADOR]23
samparadas, sendo aconchego pa-
ra elas. Outras, nos assentamentos,
cultivando e alimentando sonhos
de mais vida. Gente que deixa sua
terra fazendo de outro povo o seu
povo, outras pátrias a sua pátria.
Gente que, na gratuidade, doa seus
dons, bens, serviços.

Espiritualidade [ Fé...

hipótese de um olhar de Deus sobre o que
acontece na terra, não imaginamos o que
ele consegue enxergar, principalmente no

Brasil dos últimos tempos. Certamente fica-

ria decepcionado com o grau de deteriora-

ção provocado pelas atitudes inconsequen-

tes presentes em todos os ambientes e rea-

lidades do extenso território nacional. Destruição ge-

neralizada nas diversas esferas da Nação.

As consequências da destruição são drás-

ticas, porque causam sofrimento para todos. No di-

zer do apóstolo Paulo, “um membro sofre? Todos os

outros membros sofrem com ele”. (1Cor 12,26.) Vemos

muita coisa errada por causa da má conduta de mui-
ta gente. Há tanta coisa que deve ser restaurada para
recuperar a dignidade das pessoas atingidas em suas
bases estruturais.

Sabemos que o olhar de Deus tem a marca
da misericórdia, mas também as exigências do com-

promisso de responsabilidade na condução da criação.

O mundo está em nossas mãos e ele deve ser cuidado

com carinho e determinação. Podemos dizer que Deus

DoelhudaOser olha para nós com a expectativa de que a vida seja res-
DOM PAULO MENDES PEIXOTO*
peitada através da construção do bem e do valor que

damos às coisas criadas.

O olhar de Deus se encarnou na Pessoa de

Jesus Cristo, Deus feito Homem para resgatar o ho-

mem e a mulher de suas mazelas. Para isso ele tem

que ser conhecido e identificado como o próprio Deus
no meio do povo. Não pode ser um Deus distante, que
não compromete e causa vazia no ser humano. Por Je-
sus passa o caminho da restauração pessoal e a con-
fiança em dias melhores.

Não basta ter fé para enxergar o olhar de
Deus sobre o mundo. Isso significa dizer que a “fé sem

as obras é morta”. (Tg 2,17.) Essa forma de ver passa

pelo olhar que nós temos sobre os pobres e marginali-

zados, porque eles têm os traços sofredores de Cristo,

neles está a presença viva de Deus, e pelo trabalho que

realizamos para tirá-los da condição em que vivem.

É preciso entender quem é Jesus para di-

mensionar o olhar do Pai pelos seus filhos. O Filho de

Deus foi rejeitado e morto na cruz como um malfeitor.

Esse cenário revela as contradições contidas no meio

da sociedade daquele tempo e que se modernizaram

nos tempos atuais, porque Cristo continua morrendo

na vida de muitas pessoas através dos gestos moder-

nos de violência.] *Arcebispo de Uberaba, MG

[24 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2018

FRT. MATHEUS R. GARBAZZA, SDN Liturgia [ Tornar presente...

O ciclo do Natal Parusia. E a vinda cotidiana, litur-
gicamente, sobretudo por meio do
e o “hoje” da Liturgia sacramento da Eucaristia.

OINÍCIO de um novo ano li- “Orvalhai lá do alto, ó céus, e as nu- O “hoje” da liturgia
túrgico é sempre oportu- vens chovam o Justo!” Este emble- Chegando à gloriosa celebração do
nidade para reencontrar o mático cântico é inspirado em Is Natal do Senhor, a Igreja canta a
Mistério Pascal de Cristo no 45,8, uma prece do povo exilado que plenos pulmões: “Hoje nasceu pa-
mistério da vida cotidiana. Mirando anseia pela libertação e pela justi- ra nós o Salvador, que é Cristo, o Se-
novamente o admirável evento da ça. Do mesmo modo, a humanida- nhor”. (Lc 2,11.) Não se trata de uma
salvação, cada crente tem a opor- de e toda a criação aguardaram – e mera comemoração psicológica ou
tunidade de refazer sua experiên- aguardam! – a vinda do Salvador, afetiva. É a capacidade da liturgia
cia pessoal com Jesus e, a partir de- da justiça encarnada. de tornar presente, efetivamente, os
la, recuperar forças para um segui- sagrados mistérios que celebramos.
mento mais autêntico e frutuoso. Através da sutil catequese da mú- Não cantamos que “um dia nasceu”,
sica litúrgica, entramos na grande mas que o Salvador faz-se presente
O ano litúrgico tem um sabor proe- tensão celebrativa do “já” e “ainda entre nós hoje!
minentemente cristológico. É em não”, tão bem expressa no núme-
torno do Senhor ressuscitado que ro 8 da Constituição Sacrosanctum Para a comunidade que se reúne
se organizam e se ajustam todas as Concilium (SC) do Concílio Vatica- para celebrar, a liturgia é um eterno
demais festas. Ao iniciar novamen- no II. Ali se diz que as celebrações agora. Não uma repetição, é certo,
te, com o Advento, o Ciclo do Natal, da Igreja são uma antecipação do mas um tornar-se presente dian-
deparamo-nos novamente com a culto celeste, são uma presentifica- te do Mistério. Os Padres Concilia-
vivência do povo de Israel, ansioso ção do Mistério de Cristo. Mas, ao res apresentam esta radiante ver-
pela vinda do Salvador. Isso nos leva mesmo tempo, os que celebramos dade: “Com a recordação dos mis-
diretamente a uma compreensão estamos ainda em peregrinação ru- térios da Redenção, a Igreja ofere-
ampla e profunda do ano litúrgico. mo à eternidade, não temos ainda ce aos fiéis as riquezas das obras
a plenitude da vida divina. e merecimentos do seu Senhor, a
A “tensão litúrgica” ponto de os tornar como que pre-
O eminente hino do tempo do Ad- O tempo do Advento traduz bem sentes a todo o tempo, para que os
vento põe na boca dos cristãos a ex- esta tensão, sobretudo contemplan- fiéis, em contato com eles, se en-
pectativa dos tempos messiânicos: do as “três vindas” do Senhor: a pri- cham de graça”. (SC 102.)
meira, na Encarnação; a última, na
Conscientes dessa capacidade que
DEZEMBRO 2018 [ OLUTADOR]25 a liturgia tem de atualizar em nós
a graça de Deus, as equipes de ce-
lebração devem estar atentas para
poderem ajudar a assembleia a re-
tirar o máximo de fruto dessa expe-
riência de ir às fontes da fé. Os sím-
bolos, a ornamentação, os hinos, a
boa proclamação da Palavra... Tudo
isso deve ser bem pensado e prepa-
rado para não impedir ou dificultar
o contato com o mistério que se faz
presente hoje!

PARA REFLETIR

1Temos conseguido fazer a expe-
riência do “hoje litúrgico”?

2Que aspectos do Ano Litúrgico
mais chamam a nossa atenção?

3Os símbolos, hinos e outros as-
pectos litúrgicos de nossas co-
munidades nos ajudam a atuali-
zar o Mistério de Cristo?

Atualidade [ Olhar...

ANTÔNIO CARLOS SANTINI Aquilo que Deus

O Espírito Santo não tinha...
contemplou
CERTO DIA, lá no céu, Deus estava de folga e olhou aqui para baixo.
a luz cintilante As três Pessoas divinas corriam os olhos demoradamente sobre o
das estrelas, planeta azul. Viram a notável força dos ventos, o turbilhão de um
tsunami e a potência dos vulcões, mas Deus é onipotente e não se
as faíscas dos impressionou com aquilo. Foi quando o Pai disse em tom distraído:
relâmpagos
e as suaves – Nós temos mais força e mais poder do que tudo isso...
cores da Por sua vez, o Espírito Santo contemplou a luz cintilante das es-
aurora... trelas, as faíscas dos relâmpagos e as suaves cores da aurora, mas tam-

bém não viu nisso grande novida-
de e comentou:

– Nossa Luz divina é muito
mais forte!

Foi quando o Filho deteve seu
olhar sobre uma cena bem fami-
liar: na varanda de uma casinha
de sapê, um bebê era amamentado
por uma jovem mãe. O Filho con-
templou longamente o carinho da
mãe pela criança. Viu que ela dava
de seu próprio corpo para alimen-
tar o pequenino.

Então, os olhos do Filho se
encheram de lágrimas e, voltando-
se para o Pai e o Espírito Santo, sus-
surrou baixinho:

– Isso nós não temos aqui...
E, pondo-se de pé, o Filho
continuou:
– Eu já tenho um Pai, mas
nunca tive mãe. Se vocês Dois esti-
verem de acordo, vou descer à Ter-
ra e arranjar para mim a Mãe que
nunca tive.
O Pai e o Filho concordaram,
acenando com a cabeça. E foi assim
que o Anjo Gabriel recebeu a missão
de descer à terra, a uma cidadezinha
da Galileia, chamada Nazaré, onde morava uma virgem chamada Maria.
Nove meses depois, nascia em Belém de Judá um menino que re-
cebeu o nome de Jesus. O nome da mãe era Maria. É a essa mãezinha que
a humanidade se dirige, dizendo sem nunca se cansar:
– “Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois
vós entre as mulheres, e bendito é o fruto de vosso ventre, Jesus. Santa
Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa
morte. Amém.”]

[26 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2018

Atualidade [ Ser operário cristão...

PASSANDO na entrada de uma Hvaágas!
fábrica, li a estranha placa: CARLOS SCHEID
“Temos vagas. Preferência pa-
ra cristãos”. se dizem cristãos vivessem de fato o Ora, quando um trabalhador que
Na volta, reli o anúncio e resolvi Evangelho, eles seriam os preferidos se diz cristão comporta-se, na práti-
parar e procurar pelo gerente. Fui em todos os cantos. Como seguidores ca, como um pagão qualquer, ele se
bem recebido e lhe perguntei o mo- do Evangelho, estariam pratican- nivela ao progressivo nível de barbá-
tivo da “preferência”. A empresa es- do aquelas virtudes recomendadas rie reinante na sociedade e... deixa
tava ligada a alguma organização pelo apóstolo Paulo aos fiéis da Ga- de ter a “preferência” que poderia ter.
religiosa? Por que motivo preferiam lácia: alegria, paz, paciência, ama-
cristãos como empregados. bilidade, bondade, lealdade, man- E, uma vez nivelados, comparti-
sidão, domínio próprio (cf. Gl 5,22). lham todos das mesmas conheci-
O gerente sorriu. Disse que não das virtudes capitalistas: ambição,
pertenciam a nenhuma religião, mas
era de fato uma corporação multi- Ou aquelas recomendações que individualismo, ânsia de sucesso,
nacional. E explicou: Paulo faz aos cristãos de Éfeso: na- competição, indiferença pelo outro,
da de palavrões ou conversas tolas, insatisfação e mau humor.
– Com o tempo, nós observamos nem de piadas de mau gosto (cf. Ef
que os operários cristãos destoavam 5,4). E ainda os conselhos dados aos Não admira que o local de traba-
do conjunto dos empregados. O cris- fiéis de Colossos: suportai-vos uns lho se transforme em uma filial do
tão é mais pontual, só falta ao tra- aos outros e, se um tiver motivo de inferno! Já vão praticando as “vir-
balho por motivos sérios. O cristão queixa contra o outro, perdoai-vos tudes” que os levarão ao inferno de-
não costuma ficar enrolando, ma- mutuamente (cf. Cl 3,13). finitivo...
tando tempo. Ao contrário, se ter-
mina sua tarefa, ajuda os compa- Sucesso!]
nheiros em trabalhos que não teria
obrigação de realizar.

O gerente deve ter lido minha ca-
ra de surpresa e prosseguiu:

– Tem mais: nas equipes de tra-
balho formadas por não cristãos, é
comum a disputa pelo poder, a for-
mação de partidos, chegando mes-
mo a sabotar o trabalho dos colegas
para ocuparem o posto deles. Fre-
quentemente há desencontros, ma-
ledicência, acusações mútuas. Já
nas equipes de cristãos é alto o ní-
vel de colaboração, são raríssimas
as discussões e desentendimentos.

– E não é só isso – continuou o ge-
rente. Enquanto o operário comum
vive se queixando de seus salários, os
cristãos se declaram contentes com
sua remuneração. É por tudo isso que
estamos dando preferência a funcio-
nários que fazem parte de alguma de-
nominação cristã. No fundo, somos
pragmáticos e visamos aos interes-
ses da empresa. Dá para entender?

***

Claro que dá para entender. Pena
que isto seja uma página de ficção.
Não veremos a tal placa em lugar al-
gum. Mas deveríamos ver! Se os que

DEZEMBRO 2018 [ OLUTADOR]27

Crônica [ Maria NatalA

A casa está relu- Conto para meus filhos como
zente de bolas era a Noite de Natal no meu tem-
coloridas, de po e chego a ver estrelas de Belém
laços de fitas em seus olhos...

e velas; no lugar do presépio anti- Hoje, mamãe está aqui. E ela
me fala sobre o Natal de seu tem-
go, brilha uma árvore comprada po. E não é que a estrela de Belém
brilha no seu coração e seu rosto
na loja e o seu pisca-pisca cochi- fica muito mais bonito?

la até tarde da noite! - Mamãe, a Conceição Fiúza con-
tou-me muita coisa sobre o Natal
Acho que muitas estrelas do céu antigo aqui de Dores. Quem con-
tou pra ela foi a tia Luzuca...
resolveram passar o Natal aqui;
E a mamãe vai-se recordando
a Avenida brilha aqui e ali e qua- de tudo: as Pastorinhas, moças do
Buracão, todas vestidas de bran-
se posso tocar as estrelas com a co; à frente, a Sá Balbina do Ma-
noel Padeiro, com um manto de
ponta dos dedos... pele de carneiro nos ombros, car-
regando uma imagem do Meni-
É, este ano, o céu ficou mais per- no Jesus.

to na noite de Natal... Saíam pela cidade, parando nas
casas, cantando e dançando em
Com tudo isso, sinto saudades frente ao presépio...

do Natal antigo, onde cada sala de Meu olhar se perde no tempo,
meu coração se derrete no peito...
casa era uma nova gruta de Belém.
Ah! Mas o que achei mais bo-
O Menino Jesus lá na caminha nito foi o que a tia Luzuca con-
tava pra Conceição Fiúza: falava
de palha, São José e Nossa Senhora de um Natal tão antigo, do tem-
po da igrejinha de São Sebastião,
adorando o Jesusinho; o galo de cris- onde o arraialzinho cresceu e vi-
rou cidade:
ta vermelha lá em cima da gruta,
- Um bando de moças enfeita-
pertinho da Estrela de Belém com va os cabelos com angélicas e le-
vava uma pomba nas mãos pa-
aquele facho enorme e luzente... ra a Missa do Galo. No momento
do Glória, as campainhas repica-
E a gente escorregava nos ca- vam, foguetes espocavam lá fo-

minhos lamacentos pra buscar [28 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2018

musgo mais verde e macio, pra

buscar ninhos fofos e caquinhos

de espelhos...

Ah! Meu Deus! E a Missa do Galo!

Sinos tocando pela noite adentro,

campainhas e incensos e a igre- ra, e as pombas cortavam o tem-
plo, levando aos fiéis uma men-
ja cheia de gente rezando. Depois, sagem de paz...

o beijo no Menino Jesus: uma fi- Tia Luzuca já se foi...
Mamãe está aqui, se lembran-
la silenciosa e contrita se despe- do de tudo, ficando mocinha de
novo. E ela canta os versinhos
dindo do menininho que nascia das Pastorinhas, e a casa vai-

de novo...

Tudo girava em torno do presé-

pio, em torno da pureza.

lAntigo HUMOR
Ladrão que rouba ladrão
se enchendo de uma doçura in- nos cabelos... Levariam um bando - Juca, a nova lavadeira roubou
finita...
de pombas nas mãos. As pombas duas toalhas da gente!
Sei não: acho que, no ano que - Que ladra mais safada! Quais
vem, vou sair por aí, com um bando brancas voariam sobre a cidade
de pastorinhas, vestidas de bran- foram as toalhas?
co; acho que, no Natal que vem, azul, como antigamente: - Aquelas que trouxemos do ho-
vou à Missa do Galo com um ban- - Paz! Paz! Paz!]
do de moças trazendo angélicas tel de Lindoia...
Do livro
“Horas Mágicas”, Cumplicidade
O delegado interroga dois presos:
Ed. O Lutador, - Qual a sua profissão?
Belo Horizonte, - Não tenho profissão, não se-

2009. nhor...
- E a sua?
DEZEMBRO 2018 [ OLUTADOR]29 - Sou aprendiz dele...
- Mas o que é que ele faz?
- Nada, não senhor.
- E você?
- Ajudo ele...
- Onde você mora?
- Não tenho casa, não senhor...
- E você?
- Sou vizinho dele.

Pior a emenda...
- Minha mulher não me dei-

xa dormir. Qualquer barulhinho,
ela já pensa que é um ladrão e me
acorda.

- Por que você não diz a ela que
ladrão não faz barulho?

- Pois é. Caí na asneira de dizer
isso pra ela... agora é que ela não
me deixa dormir mesmo!

Diálogo conjugal
- Boa hora da noite pro senhor

voltar pra casa!
- Boa hora da noite pra senho-

ra estar acordada!
- Há quatro horas que estou acor-

dada, esperando o senhor voltar!
- Há quatro horas que estou zan-

zando na rua, esperando a senhor
dormir!

NICOLAS VÉLIMIROVITCH* Páginas que não passam [ O Filho...

–DEIXEM vir a mim as crianci- Eu também
nhas! – grita em alta voz o
Filho da Virgem, e somente SOU UMA CRIANÇA
as crianças vêm a ele. Pelo inferno
de fogo serão responsáveis aqueles
que proíbem às crianças o acesso ao
Filho de Deus, pois eles não se apro-
ximam e não permitem que os ou-
tros se aproximem.

– Por que as crianças, Senhor? Por
que tu chamas as crianças?

– Porque eu também sou uma crian-
ça, por isso eu chamo as crianças.
Os impostores veem em mim um
impostor, os ímpios veem um ím-
pio, e o tirano, um usurpador. Os
fariseus perguntam: “Quem é esse
aí?” E não podem lembrar-se disso.
E os racionalistas me perseguem
com sua sabedoria terrestre.

Somente as crianças me co-
nhecem, pois eu também sou
uma criança. Como uma crian-
ça, eu não me pertenço, e como
criança não busco a glória pa-
ra mim mesmo, não digo na-
da por mim mesmo e nada fa-
ço por mim mesmo. Mas como
criança eu penso naquilo que
meu Pai me ensina, eu digo o
que ouço e faço o que eu vejo.

As crianças deixam de ser crianças, nará eternamente em meu Reino, Sérvia. Filho de modestos agriculto-
mas eu não deixo de ser criança. ao qual os velhos deste mundo não res, fez brilhantes estudos que o le-
As crianças deixam de ser crianças têm acesso. varam a um doutorado em teologia
por causa de seus guias malvados, em Berna [1908], e a um doutorado
que lhes proíbem uma permanên- Eu vos digo, meu Reino é o reino em filosofia em Genebra [1909]. Tor-
cia contínua comigo, e lhes ensi- das crianças. nando-se monge, ensinou no semi-
nam a velha sabedoria do mundo. nário de Belgrado a partir de 1911. Sua
Mas eu, eu não deixo de ser uma – Senhor luminoso e eterno Me- eloquência o levou a ser encarregado
criança, pois me alimento eterna- nino no espaço da Santíssima Trin- de missões diplomáticas no Ocidente
mente da jovem sabedoria do céu. dade, ajuda-me com tua inocência durante a 1ª Guerra Mundial. Sagra-
(a maior força que existe em todos do Bispo de Jitcha e, depois, de Ohrid
Felizes aqueles que, em sua ve- os mundos) a nascer pelo Espíri- [1920] dedicou-se a seu rebanho. Em
lhice, se desembaraçam de seus to Santo! 1941, posicionou-se contra a invasão
guias maldosos e da sabedoria alemã, sendo preso e levado ao campo
deles, que os faz velhos, doentes E que eu seja, como um recém- de Dachau, de onde foi libertado em
e mortos. Aqueles que se dirige a nascido, inseparável de ti na eter- 1945 com a chegada dos americanos.
mim, ainda que tenha sido enve- nidade, ó Príncipe da inocência e Exilou-se nos EUA durante o regime
lhecido pelo mundo, eu farei dele de todos os inocentes.] comunista, ensinando no mosteiro
uma criança, e como criança rei- de São Thikon, Pennsylvania, onde
* NICOLAS VÉLIMIROVITCH [1880-1956] morreu, deixando imensa produção
nasceu em uma aldeia no coração da literária. Foi canonizado pela Igreja
Ortodoxa Sérvia em 2003.
[30 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2018

Roteiros Pastorais

Leitura Orante 32 • Tudo em Família 33
Dinâmica para Grupo de Jovens 33
Catequese 34 • Homilética 36

DEZEMBRO 2018 [ OLUTADOR]31

Leitura Orante [ A Palavra...

A L.2: É muito importante ler a Bíblia. isso, a vida de Jesus, suas palavra
Palavra O Papa João XXIII, ao abrir o Concílio e suas ações devem nos levar a re-
se fez carne Vaticano II, faz uma afirmação que criar hoje as atitudes d’Ele. A Bíblia
nos ajuda a perceber a importân- deve ser encarnada na nossa vida
Invocação à Trindade cia da Palavra de Deus. Ele afirma como Jesus se encarnou no mundo.
e Oração ao Divino que há dois sacrários na Igreja e que Todos: (cantando): É missão de todos
Espírito Santo ambos são igualmente sagrados: “o nós. / Deus chama, eu quero ouvir a
Livro e o Cálice”, ou seja: a Bíblia e sua voz. (bis)
A. Situando o texto a Eucaristia. O primeiro sacrário é
Natal é a festa onde a Palavra vira o povo reunido ao redor da Palavra - O que mais chamou a sua aten-
carne, vira gente. Jesus é a Palavra de Deus. Sem esta intimidade com ção no texto bíblico e no comentá-
que se encarnou e nasceu em Belém a Palavra e sem esta experiência co- rio acima?
da Galileia. A Palavra virou criança munitária, a vida fica sem sentido.
e trouxe uma nova esperança pa- É como caminhar no escuro sem D. O que o texto nos faz dizer a Deus.
ra o mundo. Por isso, quem se en- saber por onde passar, nem aonde (preces e orações)
contra com a Palavra de Deus en- chegar. O outro sacrário é a Euca- 1. Senhor, que a celebração do Natal nos
contra-se com o próprio Deus. Ler ristia: a nova e eterna Aliança. Sem aproxime mais uns dos outros e nos faça
a Bíblia é abrir o coração e os ouvi- ela não temos força para caminhar, mais fraternos e solidários. Rezemos:
dos para escutar o próprio Deus nos pois a caminhada é superior às nos- Todos: Que o Natal nos faça encon-
falando. Ler a Bíblia é chegar perto sas forças (cf. 1Rs 19,7). O pão da Pa- trar Jesus.
da luz para enxergarmos melhor o lavra e o pão da Eucaristia são ali- 2. Senhor, que saibamos recriar em
que Deus quer de nós. mentos sagrados. São manifestação nós as atitudes de Jesus. Rezemos:
da presença de Deus no meio de nós. 3. Senhor, que a Palavra de Deus e Eu-
B. O que o texto diz em si? caristia sejam sempre a força e o âni-
Cantando: Creio, Senhor, mas au- mo para nossa caminhada. Rezemos:
Ler na Bíblia: João 1,1-14. mentai minha fé. (bis) (Outras preces espontâneas)
Chave de Leitura: L.3: A leitura da Bíblia é para ilumi-
1. Qual é a ação da Palavra? nar a nossa vida e a realidade que E. O que o texto sugere
2. Como o mundo recebeu a Palavra? nos cerca. Veja só: quando usamos para o mundo, hoje?
3. O que significa encarnar a Pala- uma lanterna, nós apontamos seu Comparando a Bíblia a uma lanter-
vra na vida? foco para o lugar onde queremos na, para onde estamos focando a Bí-
4. O que nos diz a figura acima? ver e não para nossos olhos. Assim, blia: para a realidade à nossa frente
quando ficamos presos só ao texto ou para os próprios olhos? Por quê?
C. O que o texto diz para nós da Bíblia, sem apontar sua luz para
L.1: No seu Evangelho, São João nos a realidade em que vivemos, é como F. Tarefa concreta
mostra a força da Palavra criadora apontar o foco da lanterna para os Realizar uma ação solidária em fa-
de Deus. Ele nos revela a Nova Cria- nossos olhos, ficamos ainda mais vor de uma pessoa ou família ne-
ção em Cristo. É por Cristo que to- cegos na noite escura. Neste Natal, cessitada.
das as coisas foram criadas e, sem somos convocados a encarnar a Pa-
Ele, nada poderia existir. Isto mos- lavra de Deus na nossa vida. Fazer Encerramento
tra que Jesus é a Palavra que dá vi- dela uma luz que ilumina nossos Pai-Nosso, Ave-Maria e pedido de
da. É Ele a grande luz do mundo. As- passos na Igreja e no mundo. Por bênção a Deus.]
sim, quem rejeita a Palavra, rejeita
o próprio Deus e caminha na escu- [32 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2018
ridão. Mas quem acolhe a Palavra
recebe o Espírito Santo e caminha
na luz de Deus.

Cantando: Sim eu quero / que a luz de
Deus que um dia em mim brilhou, /
jamais se esconda / e não se apague
em mim o seu fulgor.

Tudo em Família [ 60 – Família...

A escolha da nora

1. Coisas que acontecem 2. Pensando juntos 3. Para uma
Rute era moabita. Ela e sua irmã se Esta nora amorosa e fiel tem seu no- reunião de casais
casaram com judeus que haviam mi- me inscrito na genealogia de Jesus
grado de Belém de Judá para Moab Cristo (cf. Mt 1,5). Ao acompanhar - Como é a sua convivência com a
por causa da fome que ali grassa- sua sogra, Rute não podia imagi- sogra e o sogro?
va (cf. Rt 1,1). Depois de dez anos de nar que se tornaria a bisavó do Rei
convivência, morreram os seus ma- Davi, de cuja linhagem iria nascer - Esse relacionamento tem sido en-
ridos sem deixar filhos. A sogra de- o Messias esperado por Israel. Ela, riquecedor?
las, Noemi, decidiu regressar à terra a estrangeira, acabou inserida na
natal e sugeriu que ambas voltas- estirpe real, ao lado de outras mu- Deu ocasião para manifestações de
sem a casar-se e constituir família. lheres: Raab, Tamar, Betsabé e a Vir- carinho, amor e gratidão?
gem Maria.
Ao contrário de sua irmã, Rute - Em geral, quais são os motivos
escolheu acompanhar sua sogra, Tal como na vida de outras per- de atrito entre genro/nora e so-
declarando: “Não insistas comigo sonagens bíblicas, Deus se vale das gro/sogra?
para eu te abandonar e deixar tua escolhas que fazemos e cuida de rea-
companhia. Para onde fores eu irei, lizar por meio delas os seus mais - A presença de filhos/netos inter-
e onde quer que passes à noite, per- altos desígnios. Daí a importância fere de que maneira nesses relacio-
noitarei contigo. O teu povo é o meu das opções que vamos assumindo namentos?]
povo, o teu Deus é o meu Deus. Que ao longo de nossa existência. Boas
o Senhor me cumule de castigos, escolhas dão bons frutos, ainda que
se não for só a morte a nos separar não tenhamos consciência deles no
uma da outra”. momento de nossas decisões.

Salmo da vida — Dinâmicas para Grupo de Jovens [ 60

Objetivo: Definir a experiência de Depois, devem escrever o “salmo Pode-se ainda comparar os salmos
Deus na vida de cada integrante e da vida”, da sua vida, uma oração redigidos com os salmos bíblicos.]
agradecer por ela. de louvor, agradecimento, pedido
de perdão e/ou clamor. O desenvol- Fonte: catequisar.com.br/
Participantes: 10 a 20 pessoas vimento dos salmos deve-se reali-
zar em um ambiente de paz e refle-
Tempo estimado: 45 minutos xão. Então, os integrantes devem
ser divididos em subgrupos de três
Material: Lápis e papel para os in- ou quatro pessoas, onde cada inte-
tegrantes. grante deve partilhar sua oração.
Depois o grupo é reunido e quem
Descrição: Cada integrante deve es- quiser pode apresentar sua oração
crever a história de sua vida, desta- ao grupo.
cando os acontecimentos marcan-
tes. O coordenador deve alertar o Por último, é realizado um deba-
grupo de que experiências de dor e te sobre os objetivos da dinâmica
sofrimento podem ser vistas como e a experiência que ela trouxe pa-
formas de crescimento, e não sim- ra os integrantes. Algumas ques-
ples acontecimentos negativos. Em tões que podem ser abordadas: Co-
seguida, os integrantes devem per- mo se sentiu recordando o passa-
guntar-se qual foi a experiência de do? O que mais chamou a atenção?
Deus que fizeram a partir dos acon- Qual foi a reação para com aconte-
tecimentos descritos ou no decor- cimentos tristes? Como tem sido a
rer de suas vidas. experiência com Deus? Qual a im-
portância Dele em nossas vidas?

DEZEMBRO 2018 [ OLUTADOR]33

Catequese/Roteiros [ 3 encontros seguindo os

1. b) Como será preparado o caminho 2.
Preparai do Senhor? Vão
os caminhos e contem tudo
do Senhor c) O que quer dizer “Preparem o ca- o que ouviram
(2º Dom. minho do Senhor”? (3º Dom.
Advento) Advento)
Para refletir
Objetivo: Ajudar a entender que a João Batista foi uma pessoa muito Objetivo: Perceber que Jesus é o ver-
Palavra de Deus nos leva a trans- importante: era um profeta. Prega- dadeiro Messias, que vem para nos
formar a vida. va no deserto, convidando as pes- libertar.
soas à conversão. Conversão quer
Material: Bíblia, rolo de barbante. dizer mudança de vida, afastamen- Material: Bíblia, pessoas pobres, co-
to do pecado para viver a vida de roa de Advento.
1 – VER (a realidade) Deus. Esta vida nova é a esperança
para o povo sofrido. Este novo jei- 1. VER (a realidade nos ensina)
Dinâmica: O rolo de barbante. to de viver é o caminho de Jesus, é
Convidar os participantes a se orga- a proposta aberta para todos, des- Dinâmica: Preparar a mesa. Coroa de
nizarem em círculo. Com o rolo de de que se convertam e endireitem advento com 3 velas acesas. Em tor-
barbante nas mãos, o(a) catequista o seu caminho, e passem a viver o no da coroa, colocar os pratos com
iniciará a dinâmica. Segura firme a jeito que Jesus viveu. salgadinhos para a confraterniza-
ponta do barbante e joga o rolo pa- ção no final.
ra uma pessoa qualquer do grupo, João Batista convida à mudança
dizendo algo que atrapalha a vida. radical de vida, porque a nova his- Experiência de vida
A pessoa que pegar o fio deve segu- tória vai transformar pela raiz as Apresentar pessoas convidadas (crian-
rá-lo e repassar o rolo para alguém relações entre as pessoas. ças ou adultos) com uma acolhida
que está do outro lado do círculo, até fraterna.
que todos tenham falado. Guardar no coração: “Preparemos o
caminho do Senhor!” 2. ILUMINAR (ensinamentos de Jesus)
No final, estará formado no cen-
tro do círculo um emaranhado de 3 – CELEBRAR Canto de aclamação
barbante. O(a) catequista deverá Ler com clareza Mateus 11, 2-11
ajudar a descobrir que o emara- Oração
nhado é a nossa vida. Pergunta Diante da coroa do Advento, acen- Perguntar:
como fazer para encontrar o ver- der a 2ª vela. a) Onde estava João?
dadeiro caminho para desmon-
tar este emaranhado. Orientado Com o coração alegre e feliz, va- b) Com qual pergunta João Ba-
pelo(a) catequista, a pessoa que mos agradecer ao Senhor o seu gran- tista mandou seus discípulos a
estiver com o rolo deve jogá-lo de de amor por nós. Agradecer por nos Jesus?
volta, dizendo algo bom, para que dar a possibilidade de conversão e
o emaranhado possa ser desfeito. sermos levados a uma transforma- c) O que Jesus falou sobre João Ba-
O(a) catequista encaminha a re- ção, entrando mais na vida de Deus. tista?
flexão sobre o poder de transfor- Oração: Pai-Nosso.
mação que a Palavra de Deus pro- Para refletir
porciona em nossa vida. 4 – AGIR (a realidade nos convoca Chegamos à 3ª semana do Advento,
para...) da espera do Salvador. João Batis-
2 – ILUMINAR (Ensinamentos de Jesus) ta não duvida de Jesus ao ver suas
Compromisso obras. O testemunho fala alto: “Os
Canto: para aclamar a Palavra No cantinho de Jesus da sua casa, cegos recuperam a vista, os paralí-
Ler Mateus 3,1-12. rezar um Pai-Nosso e Ave-Maria, ticos andam, os leprosos são cura-
preparando a chegada de Jesus em dos, os surdos ouvem, os mortos res-
Perguntar: sua casa, neste dia de Natal. suscitam, aos pobres é anunciado
a) Através de quem Deus enviou sua a Boa Nova”. (Mt 11,15.)
Palavra? Final
Terminar o encontro com um can-
to alegre. Depois, rezar o Pai-Nosso
e a Ave-Maria.]

[34 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2018

evangelhos dos domingos 9, 16 e 23 de dezembro...

Jesus também elogiava João Ba- 3. vos. Deus vem com outra proposta:
tista, dizendo: “Eis que eu envio o Jesus se fez serem os responsáveis por seu Fi-
meu mensageiro diante de ti, pa- um de nós lho Jesus. Maria se torna a Mãe de
ra preparar o caminho”. João não (4º Dom. Jesus pela ação do Espírito Santo.
é frágil, não se deixa levar pelas Advento) O pai de Jesus é Deus. José foi esco-
aparências ou promessas fascinan- lhido para ser o pai adotivo de Je-
tes. Pelo batismo, nós também so- Objetivo: Descobrir que Deus se tor- sus. Ele aceita Maria como esposa,
mos chamados a ser profetas. De- nou, em Jesus, filho de uma famí- protege-a e assume a paternidade
vemos mostrar que acreditamos lia do povo. na família.
em Jesus, o Salvador que, neste Na-
tal, quer nascer de novo em nos- Material: Bíblia, vaso com galhos bo- O nome de Jesus foi escolhido pe-
sos corações. nitos, pedaços de cartolina para pen- lo próprio Deus. Jesus e Emanuel
durar nos galhos, gravuras de Natal. não são propriamente nomes, mas
A verdadeira presença de Cristo sim, o significado de sua presen-
se dá na misericórdia e no serviço 1. VER (a realidade nos ensina) ça no meio de nós. Jesus quer dizer
aos pobres, no perdão e na recon- “Deus salva”. Emanuel quer dizer
ciliação. Tudo isso Jesus hoje quer Dinâmica: Conversar sobre a confra- “Deus conosco”.
realizar e manifestar através de ternização do encontro anterior. O
nossos gestos. A credibilidade de que sentiram? O que significa ser A Virgem Maria foi a pessoa que
que Cristo vem como libertador e irmão um do outro? melhor viveu o Advento, esperando
não nos esqueceu, está em nossas Jesus, o Salvador, em meio à obs-
mãos. Ela depende de nossa fide- Experiência de vida curidade da fé e todas as dificul-
lidade à missão de levar os sinais Distribuir as fichas de cartolina onde dades que enfrentava. Ela é nossa
da solidariedade e do serviço aos cada um coloque o nome de seus pais. companheira na espera para o Na-
pobres, aos sofredores e aos aban- Ler em voz alta e colocar nos galhos. tal, o nascimento de Jesus em nos-
donados. sos corações.
2. ILUMINAR (ensinamentos de Jesus)
Guardar no coração: “Eu envio o meu Com a chegada de Jesus, inicia-
mensageiro à tua frente”. Canto: Eis a luz da quarta vela... nº se uma nova etapa na história da
45 (4ª estrofe) Salvação: o Novo Testamento.
3. CELEBRAR
Palavra de Deus De agora em diante, o povo tem a
Oração Hoje nós vamos ler, no Evangelho, co- oportunidade de se libertar de um
Reunir-se ao redor da mesa, com a mo Jesus nasceu, quem eram os seus passado de injustiça e pecado, vi-
coroa do Advento, e de mãos dadas pais. Ler com atenção Mateus 1,18-24. vendo a fraternidade e o amor.
rezar o Pai-Nosso. Cantar um canto
do Advento mais conhecido. Fazer a Perguntar: Guardar no coração: Maria deu à
confraternização, acolhendo e ser- a) Como era o nome dos pais de Jesus? luz um filho e nele pôs o nome
vindo bem os convidados. de Jesus.
b) Como Maria ficou grávida?
4. AGIR (a realidade nos convoca pa- 3. CELEBRAR
ra...) c) O que o anjo revelou a José?
Oração
Compromisso d) Qual o nome que Maria e José de- Formar um círculo. De mãos dadas,
Verificar o que falta no seu coração ram a seu filho? rezar um Pai-Nosso e uma Ave-Ma-
para ser presépio de Jesus. ria. Dar um abraço um no outro, di-
e) Que quer dizer Emanuel? zendo uns para os outros: “Jesus,
Final receba o meu abraço!”
Bênção final. Cantar “Eis-me aqui, Para refletir
Senhor...”] José e Maria eram dois jovens que 4. AGIR
estavam comprometidos como noi-
Compromisso
DEZEMBRO 2018 [ OLUTADOR]35 Procurar enfeitar a casa para aco-
lher a chegada de Jesus.

Final
Cantar um cântico de Natal. Bên-
ção final.]

Homilética [ 30•12•2018 “Jesus desceu
com seus pais
Festa da Sagrada Leituras da Semana
Família, Jesus, para Nazaré,
Maria e José dia 31: 1Jo 2,18-21; Sl 95[96],1-2.11-13; Jo 1,1-18 e era-lhes
dia 1º: Nm 6,22-27; Sl 66[67],2-3.5-6.8; Gl 4,4-7; Lc 2,16-21 obediente.”
dia 2: 1Jo 2,22-28; Sl 97[98],1-4; Jo 1,19-28
dia 3: 1Jo 2,29 – 3,6; Sl 97[98],1.3cd-6; Jo 1,29-34 (Lc 2,51)
dia 4: 1Jo 3,7-10; Sl 97[98],1.7-9; Jo 1,35-42
dia 5: 1Jo 3,11-21; Sl 99[100],2-5; Jo 1,43-51

Leituras: Eclo 3,3-7.14-17a; Perdoar a toda a hora do mesmo mo- Cada um deve levar um dom. Se Lu-
Sl 83Cl 3,12-21; Lc 2,41-52 do que o Senhor nos perdoou. Não é su- cas não menciona o dom da família
pérfluo lembrar que o Senhor nos per- de Jesus, é para lembrar que Jesus é o
1. Os frutos do amor. O texto comen- doou, redobrando o amor para conosco próprio dom entregue ao Pai.
ta o 4º mandamento, sintetizado pe- através do serviço total que terminou
la Igreja em palavras: “Honrar pai e na entrega total, na cruz. O israelita, aos 12 anos, já come-
mãe”. Ele vem de Ex 20,12: “Honra teu ça a fazer parte do mundo dos adul-
pai e tua mãe, para que vivas longos Por isso o autor vai dizer que a ves- tos, assume sua maturidade religio-
anos na terra que o Senhor teu Deus te te do cristão deve ser o amor, pois o sa (diante de Deus) e sua maturidade
dará”. Neste texto percebemos um fru- amor total é o laço da perfeição. Amar civil (diante dos homens). Assim, Je-
to prometido, uma promessa feita pa- até quem não nos ama, pois foi assim sus comparece ao Templo como obri-
ra os filhos que honram seus pais: “o que fez o Senhor. gação do homem adulto: “todos os teus
prolongamento dos dias sobre a terra”. 3. O amor obediente. O Evangelho de homens deverão apresentar-se ao Se-
hoje quer responder à pergunta: “Quem nhor teu Deus”.
No texto do Eclesiástico vemos mais é Jesus, qual é a sua missão?” A ida
duas promessas básicas: o perdão das anual para a celebração da Páscoa em O relato da perda e encontro do “me-
culpas (vv. 4.17) e o atendimento das ora- Jerusalém mostra, da parte dos pais nino” no Templo revela aspectos da fé
ções (v. 4). Além disso, podemos acres- de Jesus, fidelidade à Lei conforme Dt do evangelista ou da comunidade cristã
centar o significado e os benefícios espi- 16,16-17: “Três vezes ao ano, todos os pós-pascal na pessoa do Senhor Jesus.
rituais do amor aos pais: “quem respeita Jesus está sentado no meio dos mes-
sua mãe é como alguém que ajunta te- teus homens deverão apresentar-se tres com a admiração de todos. Estes vv.
souros.” (v. 5). “Quem honra seu pai terá ao Senhor teu Deus, no lugar que ele 46-47 revelam Jesus na sua dimensão
alegria em seus próprios filhos; e, no dia tiver escolhido: na festa dos Pães sem de mestre, ungido pelo Espírito Santo e
em que orar, será atendido.” (v. 6). “Com fermento, na festa das Semanas e na cheio de sabedoria (cf. 4,18-19).
obras e palavras honra teu pai, para que Festa das Tendas. Ninguém aparece-
dele venha sobre ti a bênção.” (vv.9-10). rá perante o Senhor de mãos vazias; A resposta de Jesus a seus pais são
cada um fará suas ofertas conforme suas primeiras palavras no Evangelho
O que dizer daquelas pessoas que, as bênçãos que o Senhor teu Deus lhe de Lucas: “Por que me procuráveis? Não
por egoísmo ou comodismo, abando- houver concedido”. sabíeis que eu devo estar naquilo que é
nam os pais num asilo? Você se preo- de meu Pai?” Sintetiza toda atividade
cupa com a alimentação, a higiene, os [36 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2018 de Jesus, que viveu em função do Pai e,
remédios dos seus pais idosos, da sua após sua morte (três dias), voltou para
avó, do seu avô? a casa do Pai. Mostra sua condição de
ressuscitado e glorificado. Mostra sua
2. Revestidos do amor. O batismo cris- missão como fruto da sua relação filial
tão provoca no ser humano uma trans- com o Pai do céu. Ela brota do coração
formação radical: através do batismo de Deus e da realização de sua vontade,
a pessoa se torna “homem novo”, ho- mas se realiza através do mistério da
mem recriado por Cristo. encarnação, onde Jesus se identifica
conosco e vai crescendo na obediência
Deus nos escolhe, nos santifica e nos filial “em sabedoria, tamanho e graça
ama. Isto é algo de estupendo, princi- diante de Deus e dos homens”.
palmente se lembrarmos que tudo isso
acontece sem merecimento algum de A relação de Jesus com seus pais era
nossa parte. É desse gesto de Deus que uma linda relação de amor e obediên-
decorrem gestos novos da nossa parte cia, mas o mistério que envolvia Jesus
em relação à família e à comunidade. revela o coração de Maria como cora-
É aqui que se colocam as exortações do ção modelo de todos os discípulos, pois,
nosso texto: ele nos convida a nos ves- apesar de não entender o alcance dos
tirmos de sentimentos de compaixão, segredos de Deus, ela conservava todas
ou seja, bondade, humildade, mansi- essas coisas no coração (cf. 2,19.51b).
dão e paciência. E ia assimilando, assim, o projeto de
Deus sem oferecer resistência.]

“Ajoelharam-se

Homilética [ 06•01•2019 diante dele e o adoraram.

Depois lhe ofereceram
presentes.”

Leituras da Semana (Mt 2,11)

Epifania dia 7: 1Jo 3,22 – 4,6; Sl 2,7-8.10-11; Mt 4,12-17.23-25
do Senhor
dia 8: 1Jo 4,7-10; Sl 71[72],1-4ab.7-8; Mc 6,34-44

dia 9: 1Jo 4,11-18; Sl 71[72],1-2.10-13; Mc 6,45-52

dia 10: 1Jo 4,19 – 5,4; Sl 71[72],1-2.14.15bc.17; Lc 4,14-22a

dia 11: 1Jo 5,5-13; Sl 147[147B],12-15.19-20; Lc 5,12-16

dia 12: 1Jo 5,14-21; Sl 149,1-6a.9b; Jo 3,22-30

Leituras: Is 60,1-6; Sl 71[72]; plano de Deus de salvar todos os povos todos os povos pagãos, representados
Ef 3,2-3a.5-6; Mt 2,1-12 em Jesus Cristo. Através do evange- pelos magos.
lho anunciado por Paulo, todos (e não
1. A esperança renovada. Na situação apenas os judeus) são chamados à sal- Jesus é o verdadeiro rei dos judeus,
calamitosa do pós-exílio, a cidade de vação. Essa tarefa missionária é uma em oposição a Herodes que é violento,
Jerusalém estava em petição de misé- graça de Deus a ele concedida. Paulo prepotente, opressor e a serviço do po-
ria. Faltava tudo, até gente. O povo pre- teve a percepção muito clara sobre o der supremo, que está em Roma. Jesus
cisava de um profeta otimista, sonha- mistério de Cristo. nasce em Belém, cidade de Davi, rei
dor, poeta. É este papel do trito-Isaías, -pastor: Jesus vai reinar com mansi-
o profeta da 3a parte do livro de Isaías O v. 6 apresenta a grande revela- dão, justiça, carinho de pastor. Belém
(cap. 56-66 – após o exílio). ção: a) Ela vem por Jesus Cristo atra- não é capital. Representa o povo sim-
vés do Evangelho; b) Não é mais privi- ples, humilde e pobre das periferias.
O capítulo 60 é fascinante em termos légio dos judeus; destina-se também Jerusalém, a capital, simboliza o po-
de poesia, de otimismo, de esperança, aos pagãos; c) Os pagãos são chamados der tirano e opressor.
escrito para levantar o ânimo do povo, a participar da mesma herança – não
reanimar-lhe a esperança. Javé é um há mais privilégios. d) Eles são chama- Os magos representam todos os po-
esposo apaixonado que quer transfor- dos a formar o único e mesmo corpo vos pagãos abertos à salvação de Deus.
mar sua esposa – Jerusalém – na admi- de Cristo que é a Igreja. e) São chama- Eles vieram prestar homenagens ao
ração das nações. Para ela todas as na- dos a participar da mesma promessa verdadeiro rei dos judeus; o falso Hero-
ções vão convergir. Javé quer ornamen- do Salvador. des não merece homenagens. Os ma-
tá-la de esplendor e enchê-la de filhos. gos são sinceros, querem adorar o Sal-
Será que nós estamos vivendo este vador de todos os povos, que nasce no
O profeta convida Jerusalém a levan- evangelho, a Boa Nova da não discrimi- meio dos pobres. Os vv. 7-8 escondem
tar-se e a brilhar com o próprio brilho nação? Não discriminamos entre bons a mentira e a hipocrisia dos poderosos
de Javé que está sobre ela, atraindo pa- e maus, entre católicos e protestantes, representados por Herodes. O v. 13 re-
ra si todas as nações. No v. 4 o profeta entre pretos e brancos, entre casados e vela seu propósito assassínio.
sonhador convida Jerusalém a olhar divorciados, entre pobres e ricos etc.?
e observar filhos e filhas se reunindo A estrela, que simbolicamente re-
em torno dela. É a cidade-esposa que 3. A salvação para todos. Quais são os presenta o coração sincero dos magos,
se tornou mãe. Seus filhos são reco- personagens do texto? De um lado Je- não aparece sobre a Jerusalém opres-
nhecidos entre as nações. Estão tra- sus, Maria, os Magos e Belém. Do ou- sora. Depois que os magos deixam He-
zendo riquezas do mar e riquezas do tro lado temos: Herodes, chefes dos sa- rodes e Jerusalém, a estrela reapare-
Oriente. O esposo presenteia a esposa cerdotes, doutores da lei e Jerusalém. ce para guiá-los e para sobre o lugar,
com as joias mais preciosas. Ela sor- Grupos rivais, o grupo quer eliminar o onde estava o Menino.
ri de alegria, seus olhos brilham, sua primeiro. São os poderosos deste mun-
face resplandece e seu coração explo- do querendo engolir os pequeninos do Os magos de joelhos prestam home-
de de emoção. Reino. Homens sem Deus contra os ho- nagem a Jesus, reconhecendo nele o
mens de Deus. O mundo pagão con- seu Rei e Salvador. Isto indica que os
Camelos e dromedários trazem in- tra a Igreja cristã. O capítulo 2º quer magos (= os pagãos) estão a serviço do
censo e ouro. A meta é o Templo, a fi- mostrar a missão de Jesus de salvar novo Rei e Salvador. Os presentes para
nalidade é o culto a Javé. Uma vez que Jesus são uma oferta do que eles têm
o texto não cita expressamente o no- DEZEMBRO 2018 [ OLUTADOR]37 de mais nobre. Para os Padres da Igre-
me de Jerusalém, não poderíamos ver ja, o ouro simboliza a realeza de Jesus;
nesta comunidade-esposa a nossa co- o incenso a divindade, e a mirra sim-
munidade? boliza a paixão. Mirra é um perfume
que serve para embalsamar os corpos.
2. O mistério revelado. A Carta aos Efé-
sios foi escrita da prisão. Atribuída a - Os magos retornam por “outros
Paulo, apresenta para a comunidade caminhos”. Isto significa que o cami-
da região de Éfeso a revelação do mis- nho da salvação não passa por Jeru-
tério do amor salvífico de Deus. Pau- salém, nem pelos grandes, nem pelas
lo chama de “mistério” a revelação do opressões simbolizadas em Herodes.
Acolher Jesus é romper com os gran-
des deste mundo.]

Homilética [ 13•01•2019 “Jesus também
recebeu
Leituras da Semana
o batismo.”
[dia 14: Hb 1,1-6; Sl 96[97],1-2.6.7c.9; Mc 1,14-20
[dia 15: Hb 2,5-12; Sl 8,2a.5-9; Mc 1,21b-28 (Lc 3,21)
[dia 16: Hb 2,14-18; Sl 104[105],1-4.6-9; Mc 1,29-39
Batismo [dia 17: Hb 3,7-14; Sl 94[95],6-11; Mc 1,40-45
de Jesus [dia 18: Hb 4,1-5.11; Sl 77[78],3.4bc.6c-7.8; Mc 2,1-12
[dia 19: Hb 4,12-16; Sl 18[19],8-10.15; Mc 2,13-17

Leituras: Is 42,1-4.6-7; Pedro está hospedado em casa de Si- Ele procura esclarecer a dúvida do
Sl 103[104]; At 10,34-38; mão (10,6), curtidor de peles, cuja pro- povo, que achava que João Batista já era
Lc 3,15-16.21-22 fissão é impura e marginalizada, mas o Cristo e, por isso, iria realizar a grande
Pedro se identifica com os marginaliza- expectativa do julgamento messiânico,
1. Restabelecer a Aliança. Este é o 1º dos. Pedro é chamado a casa de Corné- aliás, um tema que João pregava. João
dos quatro cânticos de um persona- lio, um pagão, mas “temente a Deus”, Batista não é o Messias, veio apenas para
gem misterioso que aparece no livro ou seja, simpatizante com o judaísmo. anunciar a boa obra do Messias, mui-
de Isaías. Quais as características des- Em casa, Pedro faz um sermão com os to mais decisiva que a sua (cf. Lc 3,7-9).
te personagem? seguintes ensinamentos:
Quem é Jesus para João? É aquele que
Deus o ama e o chama (vv. 1a e 6a). a) Deus não faz distinção de pessoas, vem e é mais forte do que ele. Quer dizer,
Ele possui o Espírito de Deus como os de raça ou nação. Todo o mundo pode Jesus é realmente quem vem para libertar
juízes e reis de Israel. A função de quem pertencer ao povo de Deus contando Israel e trazer o juízo definitivo (cf. v. 17).
possui o Espírito de Deus é defender o que tema a Deus e pratique a justiça.
povo, fazendo justiça aos oprimidos. João não é digno de desatar as cor-
O Servo vai levar o direito (= a Lei) às b) Jesus é o anunciador da Boa No- reias das sandálias do Messias. Se João
nações. Ele é uma espécie de sacerdo- tícia da paz-salvação para todos, é o Batista já era para o povo um grande
te mediador entre Deus e os homens. Senhor de todos os homens. profeta, vemos aqui um modo de mos-
trar, mais que humildade em João, a
Como age o Servo de Deus? Não age Com este episódio, Lucas (o autor grande dignidade do Messias.
pela força como os poderosos. Age com dos Atos) mostra como, pela força do
mansidão na voz. Não deixará morrer Espírito Santo, a Igreja rompe as bar- Enquanto João batizava com água,
o restinho, que ainda fumega na vida como preparação e arrependimento, o
do povo (= não quebrará o caniço ra- reiras do nacionalismo judaico e abre Messias batizará com o Espírito Santo e
chado, nem apagará a mecha)... as portas para todos os povos conside- com fogo. Quer dizer, o batismo de Jesus
rados gentios ou pagãos. trará santificação para o povo. A men-
Qual a sua missão? Restabelecer a 3. Os céus abertos. Nestes versos perce- ção do Espírito Santo e do fogo pode ser
aliança com o povo de Israel. Ser luz bemos a preocupação do Evangelista em uma alusão ao Pentecostes (cf. At 2,3-4).
para todas as nações. Abrir os olhos salientar a diferença entre João Batista e
dos cegos (pessoas ou povos que ainda Jesus. Para Lucas, João pertence ao tempo Nestes dois versículos, percebemos que
não enxergaram o projeto de Deus). Li- da promessa, ao Primeiro Testamento. Lucas, tendo suposto o batismo de Jesus,
bertar os prisioneiros dominados por chama a atenção para o que acontece
qualquer tipo de dominação. [38 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2018 depois: Jesus em oração, o céu se abre, o
Espírito desce sobre Jesus e a voz do céu.
Quem é o Servo de Deus? O próprio
profeta? Israel diante das nações? Os Lucas tem predileção pela oração
primeiros cristãos veem nestes can- (cf. 5,16; 6,12; 9,18. 28-29; 11,1; 22,14). Nos
tos do Servo uma clara profecia, que se momentos decisivos de sua vida, Je-
realiza plenamente em Jesus. Não po- sus está em oração. “A abertura do céu”
deria ser também uma personificação quer mostrar que os céus (a profecia)
das nossas comunidades cristãs com não se fecharam após os últimos pro-
a missão de luz e justiça para a socie- fetas do Primeiro Testamento, como
dade e o mundo paganizado? pensavam os judeus.

2. Ampliar a Aliança. Este capítulo do Os céus se abrindo, o Espírito desce
Livro dos Atos marca a abertura pa- sobre Jesus e faz de Jesus sua habita-
ra os pagãos. Os judeus não podiam ção predileta e “natural”, assim como
conviver com os pagãos. Os primeiros uma pomba desce naturalmente para
cristãos tiveram que romper com esta o ninho. Com essa unção profética ini-
barreira para a propagação do Evan- cia-se a atividade messiânica de Jesus.
gelho, o que aconteceu com a força do
Espírito Santo. O protagonista desta A pomba, na tradição judaico-cris-
novidade é Paulo. tã, significa o povo eleito de Israel e a
Igreja. A voz celeste (aludindo a Is 41,1
ou Sl 2,7) reforça o caráter profético da
missão de Jesus.]

Homilética [ 20•01•2019 “Este
foi o início
Leituras da Semana dos sinais
de Jesus.”
[dia 21: Hb 5,1-10; Sl 109[110],1-4; Mc 2,18-22
[dia 22: Hb 6,10-20; Sl 110[111],1-2.4-5.9.10c; Mc 2,23-28 (Jo 2,11)
[dia 23: Hb 7,1-3.15-17; Sl 109[110],1-4; Mc 3,1-6
2º Domingo [dia 24: Hb 7,25 – 8,6; Sl 39[40],7-10.17; Mc 3,7-12
do Tempo [dia 25: At 23,3-16; Sl 116[117],1.2; Mc 16,15-18
Comum [dia 26: 2Tm 1,1-8; Sl 95[96],1-2a.2b-3.7-8a.10; Lc 10,19

Leituras: Is 62,1-5; Sl 95[96]; é o mesmo diante dos diferentes mo- za o Antigo Israel, fiel a Deus. Ela per-
1Cor 12,4-11; Jo 2,1-11 dos de agir. tencia àquele povo da antiga aliança,
mas era o resto fiel que vai gerar a No-
1. O Esposo fiel. Teria Deus abandona- O elenco dos carismas é apresenta- va Aliança em Jesus Cristo. Jesus e os
do sua esposa Jerusalém por causa da do nos vv. 8-10, e a origem de todos é o discípulos, que representam a Nova
infidelidade do povo? Teria anulado a mesmo Espírito. O v. 7 salienta a fina- Aliança, foram convidados. “Faltou vi-
aliança feita outrora com Judá? O aban- lidade dos carismas: a utilidade (edifi- nho” e a mãe de Jesus constata isso
dono total de Jerusalém no pós-exílio cação, cf. 14,5.12) de todos. Por fim, no- diante de Jesus.
suscitava as perguntas. Mas a respos- tar que os carismas mais ambiciona-
ta é não. Javé não abandonou Jerusa- dos pela comunidade são colocados em A falta de vinho significa que a An-
lém. O profeta anônimo (o 3o Isaías) último lugar: a profecia no penúltimo tiga Aliança estava chegando ao fim,
vai levantar o moral do povo. e o dom das línguas em último, como já sem sentido, não produzia mais ale-
mais insignificantes. Além disso, são gria. Os potes de pedra, que serviam pa-
Nosso texto é como um poema nup- dons submetidos a outros dois caris- ra os ritos de purificação, também es-
cial. Javé vai voltar. Saiu apenas pa- mas de controle: o discernimento dos tavam vazios. Eles simbolizam a Alian-
ra executar a justiça contra os que ex- espíritos, para testar a autenticidade ça do Sinai feita em tábuas de pedra.
ploram seu povo. Ele não vai se calar, da profecia, e o carisma da interpreta- Mas tudo agora é um vazio.
nem terá sossego enquanto a justiça ção, para que os dons das línguas não
de Jerusalém não brilhar como a au- seja balbucio inútil, mas sim, edifica- A mãe de Jesus entende que o Filho
rora, e a salvação dela como um farol ção para a comunidade. vai antecipar sua hora e dá a ordem aos
(v. 1). Todos verão que Javé está do la- que estavam servindo: fazer o que Je-
do dos sofredores e oprimidos. 3. A Nova Aliança. Neste episódio car- sus mandar. Os serventes simbolizam
regado de simbolismo, Jesus substi- os discípulos de Jesus, os convidados
Com amor e zelo de esposa, Je- tui a Antiga por uma Nova Aliança. O da Nova Aliança, aqueles que fazem a
rusalém será uma coroa magnífica, relacionamento entre Deus e o povo vontade de Jesus. A ordem de Jesus é
diadema real na mão do seu Deus (v. de Israel era visto pelos profetas em encher de água os potes vazios. A or-
3). Seu nome será trocado de “Deso- termos de aliança matrimonial. O 3o dem é cumprida.
lada” e “Abandonada” para “Minha dia – expressão técnica que lembra
Delícia” e “Desposada”: expressões a ressurreição de Jesus – equivale ao Aqui está a maravilha: a água é trans-
carregadas de afeto e ternura, pois 6o dia da Criação, em que o homem é formada em vinho de ótima qualida-
o amor de Javé é grande para com o criado. Com sua ressurreição, Jesus de. Interessante! O milagre acontece
seu povo (v. 4). refaz a Criação (cf. Jo 20,22), para ce- fora dos potes (cf. v. 9): Jesus não vai
lebrar não mais no sábado, mas nos remendar a Aliança Antiga, mas subs-
Nosso relacionamento para com Deus domingos, ( cf. Jo 20,19), a festa da tituí-la. Ele traz uma Aliança Nova em
carrega esta sensibilidade do amor de nova e eterna Aliança de Deus com seu sangue. O vinho simboliza o san-
Deus para conosco? os homens. gue que será derramado na cruz, on-
de a Aliança Nova será consumada.
2. O Espírito em limites. A comunidade “A mãe de Jesus estava lá”. O v. 6 diz
de Corinto estava valorizando os caris- que estavam lá também seis potes de Jesus substitui a Lei de Moisés pelo
mas que causavam impacto, como fa- pedra, representando a antiga alian- amor misericordioso, a graça que ele
lar em línguas, profetizar, fazer mila- ça. A mãe de Jesus, portanto, simboli- mesmo traz. (cf. 1,17). Para os profetas,
gres. O importante estava sendo “apa- quando viesse o Messias, haveria abun-
recer” com seus dons extraordinários. DEZEMBRO 2018 [ OLUTADOR]39 dância de vinho. As seis talhas equiva-
liam a uns 600 litros de vinho. Isto sig-
O Espírito é muito maior do que es- nifica que o Messias chegou mesmo,
tes simples carismas e seus dons são na pessoa de Jesus. Jesus é o esposo da
incontáveis; ninguém pode limitar o Nova Aliança, do novo povo de Deus.
Espírito de Deus, que distribui seus dons
conforme sua própria vontade (v. 11), Jesus começa assim seus sinais. O
sem discriminação nem privilégios. sinal maior do seu amor misericordio-
O Espírito é o mesmo diante da diver- so será a morte na cruz (cf. 15,13). Aqui
sidade dos dons, o Senhor é o mesmo ele começa a manifestar a sua glória.
diante da diversidade dos serviços, Deus Na cruz ele manifestará a plenitude
da sua glória, atraindo muitos a si.]

Homilética [ 27•01•2019 “Hoje se cumpriu
esta passagem
Leituras da Semana da Escritura.”

[dia 28: Hb 9,15.24-28; Sl 97[98],1-6; Mc 3,22-30 (Lc 4,21)
[dia 29: Hb 10,1-10; Sl 39[40],2.4ab.7-8a.10.11; Mc 3,31-35
3º Domingo [dia 30: Hb 10,11-18; Sl 109[110],1-4; Mc 4,1-20
do Tempo [dia 31: Hb 10,19-25; Sl 23[24],1-4ab.5-6; Mc 4,21-25
Comum [dia 1º: Hb 10,32-39; Sl 36[37],3-6.23-24.39-40; Mc 4,26-34
[dia 02: Ml 3,1-4; Sl 23[24],7-10; Hb 2,14-18; Lc 2,22-40

Leituras: Ne 8,2-4a.5-6.8-10; Sl 18B[19]; O pé representa as pessoas que to- de ordem cronológica, mas de ordem
1Cor 12,12-30; Lc 1,1-4; 4,14-21 pam fazer as tarefas menos vistosas. literária e didática.
O ouvido são as pessoas que procu-
1. A Palavra reúne. O povo que retor- ram mais escutar do que falar. As Em 4,14-15, temos uma síntese da
nara do exílio da Babilônia, ainda es- mãos indicam as pessoas disponí- atividade de Jesus. Pelo poder do Espíri-
tava em situação difícil. Era tempo de veis, ativas, mais capazes. O olho são to, Jesus volta para a Galileia e atua no
reconstrução e busca de renovação da as pessoas de intuição mais profun- meio do povo pobre e marginalizado.
própria identidade. Foi em torno da Pa- da, que veem logo o que é melhor pa- O Espírito Santo exerce um papel pre-
lavra de Deus que o povo se manteve ra a comunidade. No corpo da Igreja ponderante nos quatro primeiros ca-
unido e preservou sua identidade no não se pode marginalizar ninguém, pítulos do evangelho de S. Lucas, sendo
exílio. A Palavra de Deus é o elemento nem ninguém pode se sentir autos- força ativa em Maria, Isabel, Zacarias,
essencial da renovação da vida e preser- suficiente. Simeão, João Batista, principalmen-
vação da identidade. O povo pede e o li- te em Jesus. O início do Evangelho de
vro da Lei é lido. O que se pode destacar? Nos vv. 22-23 Paulo dá um destaque Lucas se destaca como um verdadeiro
aos membros mais fracos e aparente- Pentecostes. No resto do Evangelho, o
1. A Palavra de Deus é capaz de unir mente mais desprezíveis. É a opção pe- Espírito Santo se concentra em Jesus.
e reunir a comunidade (8,2-3). los mais fracos, pelos mais pobres. O
importante é a unidade, é a saúde e a Segue-se o programa libertador de
2. A Palavra de Deus gera a atenção eficiência do corpo. É fundamental o Jesus (4,16-21). Na sinagoga de Naza-
na comunidade, pois todos querem ou- cuidado comum, a união de sentimen- ré, a terra onde ele tinha sido criado,
vi-la atentamente (v. 2). Jesus lê o trecho do profeta Isaías (Is
tos, a solidariedade no sofrimento ou 61,1-2) que sintetiza seu programa. Je-
3. A Palavra de Deus provoca reações na alegria (vv. 25-26). sus se sente ungido pelo Espírito San-
iguais em toda a comunidade. Trata- to. É uma referência ao seu batismo.
se de uma verdadeira ação litúrgica, 3. Na plenitude do Espírito. O que Lu- Basicamente ele veio para isso:
onde Deus é adorado (vv. 5-6). cas diz nos primeiros versículos do seu
Evangelho? O surgimento de Jesus é - Anunciar a Boa Nova aos pobres,
4. A Palavra de Deus é luz para o po- realmente um fato histórico, testemu- os que vivem dependentes dos pode-
vo. Esdras e os levitas são os mediado- nhado por diversas pessoas. Muitos já rosos, explorados por eles, sem poder
res capazes de atualizar e aplicar a Pa- narraram estes acontecimentos rea- resistir. Jesus está do lado dos pobres,
lavra de Deus à vida do Povo (vv. 8-9). lizados por Deus. Quando Lucas escre- e não dos ricos.
veu, já havia o Evangelho de Marcos,
5. Finalmente, a Palavra de Deus le- como também coleções de milagres, - Proclamar aos cativos a libertação
va à partilha dos bens. O povo come- coleções de discursos e coleções de pa- e aos cegos a recuperação da vista, des-
ça a chorar. Por quê? Seria porque sua rábolas de Jesus. pedir os oprimidos em liberdade. Tra-
vida está distante da Palavra? O cer- ta-se da libertação dos marginalizados.
to é que o povo entende que é através Lucas procura informar-se cuida-
da partilha que são colocadas as bases dosamente de tudo a partir das ori- - Proclamar o ano de graça (= aco-
para a construção da nova sociedade. gens. Ele usou fontes escritas e fontes lhimento) da parte do Senhor. “Ano de
Assim, no dia do Senhor, o povo reen- orais. Ele quer escrever tudo, mas de graça” é uma referência ao ano jubilar
controu a força na “alegria do Senhor” um modo bem ordenado. Não se trata fixado pela lei. Acontecia de 50 em 50
e na partilha dos seus bens (vv. 9-11). anos (cf. Lv 25, 10-13). Trata-se de um
[40 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2018 perdão geral das dívidas, a devolução
2. Unidos em Cristo. Paulo aprovei- das terras hipotecadas ou roubadas pe-
ta a metáfora do corpo para falar da la ganância dos latifundiários. O povo
unidade social do corpo da Igreja. As- podia recomeçar uma vida nova. As-
sim como o corpo é composto de vá- sim a Boa Nova de Jesus não prevê ape-
rios membros e é um só, assim tam- nas “a libertação dos marginalizados,
bém acontece com Cristo e sua Igreja. mas sua plena reintegração na socie-
A Igreja é o corpo de Cristo. Nós somos dade, recuperando tudo aquilo do qual
os membros do corpo e cada membro foram defraudados”.
é importante e indispensável no cor-
po social da Igreja. É Cristo, através do Este programa de Jesus, o ano da gra-
seu Espírito, que nos une num só corpo. ça do Senhor, está acontecendo no hoje
da caminhada de sua comunidade?]

Mensagens [ Poesia & Sabedoria

[ Poema para o mês de dezembro [ Palavra de sabedoria

Em “O dom e a tarefa
Belém são inseparáveis.

ANTÔNIO CARLOS SANTINI E mais ainda:
a tarefa é puro dom
Tem os braços abertos o Menino, da graça de Deus.”
Na tosca manjedoura reclinado,
E os humildes pastores, ao seu lado, HANS URS VON BALTHASAR
Ouvem os anjos a cantar um hino.

Chegam os Reis, o rosto iluminado
Da luz que vem do olhar do Pequenino:
Trazem o raro incenso, o ouro fino
E a mirra do futuro Condenado.

Por um momento (ao menos um momento)
O rico e o pobre têm acampamento
Sem muralhas de classes e de cor...

Quem sabe, um dia – que me diz, Maria? –
Quem sabe, viveremos esse dia
Que há de juntar os homens no Amor...

DEZEMBRO 2018 [ OLUTADOR]41

Variedades [ Culinária & Dicas de português

[ Não Tropece na Língua

[ CONCORDÂNCIA: UM SUBSTANTIVO COM DOIS ADJETIVOS

apimBenifteasdos Desculpem a nossa falha - Não vou desculpá-lo por tanto
- Como tenho lido e ouvido versões atraso!
(steack au poivre) várias, pergunto: o certo é desculpe
o transtorno ou desculpe pelo trans- - Desculpa-me por ter te chama-
Ingredientes torno? O Houaiss cita como exemplo do tão cedo.
desculpe a insistência enquanto Sac-
6 bifes grossos de filé mignon; 6 conni abomina desculpe a nossa fa- - Peço desculpar-me pelos erros
colheres (café) de pimenta do rei- lha. O que faço? que deixei passar no texto.
no; 8 colheres (sopa) rasas de man-
teiga; sal, a gosto; e colheres (so- [MARCELO, RECIFE, PE No entanto, até por comodismo,
pa) de conhaque; 8 colheres (so- costuma-se deixar pronome e prepo-
pa) de creme de leite. Ora, ora, que intransigência. Há vá- sição de lado. Aliás, observe-se que
rias maneiras corretas de pedir des- falamos da preposição por na versão
Modo de fazer culpas. O Padre Vieira, nos seus fa- acima, atual. Já nos exemplos regis-
mosos Sermões (1679), já usava o ver- trados em dicionários antigos e novos
Temperar os bifes com sal e com- bo desculpar como transitivo direto a preposição encontrada é de, e tam-
primir ambos os lados de cada bi- (sem preposição): “Por isso já desculpa bém com quando se trata de “alegar
fe sobre a pimenta em pó (obser- a ingratidão dos homens com a sua ou pretextar como desculpa”:
var a proporção de 1 colher [café] ignorância”. Os exemplos clássicos e
de pimenta para cada bife). Fri- atuais são inúmeros nesse sentido. - O visconde abriu a porta da sala
tar os bifes, um de cada vez, em Pode o leitor amigo confiar e conti- imediata, culpando-se e desculpan-
6 colheres de manteiga, tendo o nuar a dizer: do-se da demora.
cuidado de não deixar despren-
der a pimenta. Reservar os bifes, - Desculpe o atraso. - Desculparam-se de só chegar
conservando-os aquecidos numa - Desculpe a insistência. àquela hora.
travessa. Na mesma frigideira da - Desculpem o pouco conforto no
fritura, preparar um molho com nosso flat e fiquem à vontade. - Tornou o mineiro a desculpar-se
o que restou, acrescido do conha- - Desculpa o mau jeito! da insuficiência e mau preparo da
que e de 2 colheres (sopa) de man- - Desculpa a minha fraqueza, podes? comida.
teiga. Quando ferver, adicionar o - Desculpem as brincadeiras.
creme de leite. Deixar ferver por - Peço que vocês desculpem nos- - Teresa, desculpando-se com o can-
mais 01 minuto e despejar sobre sos amigos pelos excessos cometidos. saço, arrancou-se ao martírio de não
os bifes.] - Queira desculpar a falta de urba- poder chorar em silêncio.
nidade dos colegas.
Do livro - A boa senhora estava sempre dis- - Na frase: Muito caros fulano, bel-
posta a desculpar os outros. trano e sicrano. A dúvida é relativa ao
“Cozinhando sem Mistério”, - Desculpe, não ouvi bem, pode re- emprego das palavras Muito caros. E
petir? o porquê dessa utilização.
de Léa Raemy Rangel
& É bom notar que a forma verbal [A.R., PARANAÍBA, MS
desculpe é o imperativo da terceira
Maria Helena M. de Noronha pessoa (você), e desculpa é da segun- O emprego da expressão muito ca-
Ed. O Lutador, Belo Horizonte, MG da, isto é, refere-se a tu. Ao empre- ros, embora raro, está correto. O ad-
gar desculpem, estamos falando com jetivo plural caros está no lugar de
Pedidos mais de uma pessoa: [vocês] descul- queridos. Seria assim:
0800-940-2377 pem. Essas são formas usuais de po-
livraria.olutador.org.br lidez, para justificar ou minimizar a - Fulano, beltrano e sicrano são
falha cometida. queridos.
[email protected]
Essas fórmulas ou frases de des- - Fulano, beltrano e sicrano são
culpas também poderiam ser usa- muito queridos.
das pronominalmente, ou seja, com
o pronome átono e uma preposição: - Fulano, beltrano e sicrano são
muito caros.
- Querida, desculpe-me pela demora.
- Desculpe-me por insistir no as- Isso corresponde a dizer, no iní-
sunto. cio de um discurso ou de uma cor-
respondência:
[42 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2018
- Caros amigos
- Meus amigos muito caros
- Muito caros amigos...
- Muito caros fulano, beltrano e si-
crano.]

Fonte: Língua Brasil

Sociedade [ Por uma regulamentação...

Escola em casa:

UMA OPÇÃO PARA AS FAMÍLIAS

O homeschooling (educação na família) já existe em vários países. No Brasil ainda não é aceito.

MATÉRIA assinada por Lais posta de Emenda à Constituição - reúnem famílias interessadas em
Semis, no site Nova Escola PEC 444/2009. dar aos filhos uma formação mais
[fev/2018] afirmava que o ampla, pois consideram (não sem
homeschooling poderá ser A ideia é que os responsáveis apre- razão) que a maioria das escolas é
regulamentado no Brasil, pois a dis- sentem uma proposta de estudo ao despreparada e dá pouca atenção
cussão sobre o tema já está sendo Conselho Estadual ou Municipal, que às crianças.
mobilizada no MEC e deve ser enca- deverá validá-la e definir estraté-
minhada para um “meio-termo”. Até gias de acompanhamento. Mesmo Artigo publicado na Revista “Cres-
o momento, as famílias que adota- tendo aulas em casa, os estudantes cer” registra que, em casa, as crian-
ram o sistema foram alvo de ações deverão estar matriculados em uma ças não ficam sem suporte: elas se-
judiciais. escola. A sugestão ainda será enca- guem um roteiro definido, com uso
minhada para discussão no Conse- de apostilas e livros baseados no cur-
Raph Gomes Alves, diretor de cur- lho Nacional de Educação – CNE e rículo formal escolar, mas a meto-
rículos do MEC, declarou no Semi- enviada para conhecimento do Su- dologia é diferente – e exige mais
nário Internacional de Educação Do- premo Tribunal Federal – STF. disciplina. Esses pais e mães de-
miciliar, promovido pela Ordem dos fendem, ainda, que a socialização
Advogados do Brasil, no Distrito Fe- Osistema é legalizado em das crianças é mais natural quando
deral, que a prática poderá ser re- vários países da Europa e nos elas escolhem seus grupos espon-
conhecida pelo Ministério. EUA, país onde conta com taneamente – e não apenas pelo fa-
mais de 2 milhões de adeptos. to de estudarem no mesmo local.
A matéria observa que o parecer No Brasil, mesmo antes de ser A rotina também é complementa-
em vigência do MEC sobre o assun- regulamentado, já existem mais da com atividades extracurricula-
to considera que a modalidade fere de 3.000 famílias que praticam res. Mas, para fazer valer a educa-
a Constituição Federal, Lei de Dire- o homeschooling e discutem ção dos filhos, muitos pais preci-
trizes e Bases Educacionais – LDB e a questão na Justiça. sam ir à Justiça.
o Estatuto da Criança e Adolescen-
te – ECA. Mas a busca por uma re- Em geral, os estudantes devem pres- Na França, um dos primeiro paí-
gulamentação legal para a prática tar exames regulares em uma esco- ses a adotar a educação domiciliar,
no país não é nova, tendo até Pro- la onde estão matriculados. E este há 25.000 estudantes na faixa de 6
número continua crescendo. a 16 anos que não vão à escola ha-
bitualmente, mas existe a tendên-
Os adversários do sistema ale- cia a aumentar as exigências pa-
gam que ele prejudica o desenvol- ra as famílias, diante da constata-
vimento da criança, em especial na ção de insuficiente supervisão tanto
convivência social com diferentes do Estado quanto dos próprios pa-
grupos e modelos de pessoas, rela- rentes. Um dos riscos apontados é
ções que ficariam restritas à fre- a ocorrência de “desvios sectários
quência a Igrejas e clubes recreati- ou religiosos”. Caberá às prefeitu-
vos. Poderia haver prejuízos tam- ras municipais o encargo dessa su-
bém na adaptação ao trabalho em pervisão.
equipe, na tolerância às diferenças
e na capacidade de falar em público. No fundo, todos sabem que a ver-
dadeira solução consiste em dar
Apesar disso, vê-se nas redes so- qualidade ao ensino oferecido pe-
ciais o crescimento de grupos que las unidades de ensino. Enquan-
to isto não acontece, como proibir
DEZEMBRO 2018 [ OLUTADOR]43 que os pais prefiram ensinar em
casa? (ACS) ]

Mundo [ A situação é tão grave que, em apenas um ano, o número de crianças r

ONOVO relatório do ACNUR
“Turn the Tide: Refugee
Education in Crisis”,
mostra que, apesar dos
esforços dos governos,

do ACNUR e de seus parceiros, a

matrícula de crianças refugiadas

na escola não está conseguindo

acompanhar o crescimento da

população refugiada.

Atualmente, 4 milhões de crian-

ças refugiadas estão fora da escola.

Isso é mais da metade dos 7,4 mi-

lhões de crianças refugiadas em ida-

de escolar sob o mandato do ACNUR.

No final de 2017, havia mais de

25,4 milhões de refugiados em todo

o mundo, 19,9 milhões deles sob o

mandato do ACNUR. Mais da metade

- 52% - eram crianças. Entre elas, 7,4

milhões estavam em idade escolar.

“A educação é uma forma de aju-

dar as crianças a se curarem, mas

é também uma maneira de reviver

países inteiros”, disse Filippo Gran-

di, Alto Comissário das Nações Uni-

das para os Refugiados. “Sem edu-

cação, as crianças – que suposta-

mente são nosso futuro – não te-

rão futuro próprio.”

A situação é tão grave que, em ape-

nas um ano, o número de crianças

refugiadas fora da escola aumentou

em meio milhão. Apenas 61% das

crianças refugiadas frequentam a

escola primária, em comparação a

92% das crianças no mundo.

CRIANÇAS O ACNUR está trabalhando para
REFUGIADAS: ajudar crianças refugiadas a per-
manecerem na escola, para que elas
umdeaaslittouariçsãcoo possam desenvolver seu potencial,
não importa o que aconteça. Mas
não podemos fazer isso sozinhos.

Recomendações do ACNUR para
a educação de crianças refugiadas
A educação é uma das formas mais
importantes de resolver as crises do
mundo e é fundamental na respos-
ta às emergências de refugiados.
Por quê? Porque os refugiados pas-
sam muitos anos, até décadas, no
exílio. Muitas vezes mais do que o
tempo necessário para viver uma
infância. Com a oportunidade pa-

[44 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2018

s refugiadas fora da escola aumentou em meio milhão...

ra aprender, crescer e florescer, as ças e adolescentes, refugiados da Re- o México, no ano passado, elas te-
crianças crescerão para contribuir pública Democrática do Congo na riam sido realocadas em casas de
tanto para as sociedades que as abri- província angolana da Lunda Nor- parentes ou pessoas próximas que
gam como para suas terras natais, te, terão aulas, numa ação promo- já residiam no país, enquanto os
quando a paz lhes permitir retornar. vida pela Igreja Católica, para a sua pais aguardavam pelo processo le-
integração na sociedade. gal, mas o governo não consegue lo-
As crianças precisam de um cur- calizá-las agora.
rículo adequado durante todo o en- De acordo com a Agência Lusa, o
sino fundamental e médio, resul- grupo de beneficiários, num total de Segundo o jornal Washington Post,
tando em qualificações reconheci- 4.753 crianças e adolescentes, está a revelação foi feita em um depoi-
das que podem ser o trampolim pa- abrigado no centro de assentamen- mento de Steve Wagner, secretário
ra a universidade ou para a forma- to do Lôvua, na Lunda Norte, região do Departamento de Saúde e Serviço
ção profissional superior. angolana que acolhe, desde março Social - HSS, órgão responsável por
de 2017, mais de 32 mil refugiados cuidar das crianças refugiadas sob
As crianças refugiadas precisam do país vizinho de Angola, devido a responsabilidade do governo norte
ser incluídas nos sistemas nacio- conflitos étnicos armados. -americano, ao senado. “De outubro a
nais de educação de seus países de dezembro de 2017, o HHS buscou 7635
acolhida – sistemas que são regu- A iniciativa, que partiu dos Servi- crianças que a agência realocou com
lados, monitorados, financiados e ços Jesuítas de Apoio aos Refugiados tutores e descobriu que 6075 ainda
atualizados. - JRS, tem como objetivo, segundo o viviam com eles, 28 haviam fugido,
coordenador provincial da institui- 5 foram deportadas e 52 estavam
[ Atualmente, ção católica, “facilitar a integração e morando com outra pessoa. O res-
4 milhões inserção sociocultural das crianças tante está desaparecido”, afirmou.
e proporcionar um clima de harmo-
de crianças nia, paz e amizade no seio de uma Os funcionários do departamen-
refugiadas comunidade que procura sarar os to aproveitaram para reforçar que
estão fora danos físicos e psicológicos causa- não têm nenhuma responsabilida-
da escola. dos pelos conflitos étnico e políti- de legal de procurar por essas crian-
cos, que viveram no país de origem”. ças, além de sugerirem que muitos
As regiões em desenvolvimen- dos tutores intencionalmente não
to abrigam 92% dos refugiados do Segundo Tomé de Azevedo, cita- teriam respondido seu contato. As
mundo em idade escolar, onde as do pelo “Jornal de Angola”, o pro- afirmações não foram suficientes
escolas muitas vezes sofrem com grama de educação, que vai da pri- para abafar o caso, que ganhou até
recursos insuficientes. Esses gover- meira à décima segunda classes, é hashtag nas redes sociais: #Whe-
nos precisam de apoio para incluir desenvolvido em quatro centros e reAreTheChildren e #MissingChil-
crianças refugiadas nos sistemas igual número de salas de aula, sen- dren, o equivalente a ‘onde estão as
nacionais de educação – como al- do assegurado por 39 professores, crianças’ e ‘crianças desaparecidas’.
guns deles de fato se esforçam para dos quais 19 angolanos e 20 auxilia-
fazer – e para expandir a infraestru- res igualmente refugiados. “Os alu- O senador que presidia a sessão,
tura e o suprimento de professores nos têm como disciplinas a língua Rob Portman, teria repetidamente
necessários para isso. portuguesa, matemática, geografia, argumentado que se tratava de uma
história e educação moral e cívica”. questão humanitária, não simples-
Presença católica mente de responsabilidade legal,
Em Angola, África, a Igreja Católica O Alto Comissariado das Nações citando um caso de oito crianças
promove educação para 4.700 crian- Unidas para os Refugiados - ACNUR de Ohio, seu Estado, que caíram no
ças refugiadas, noticia o periódico “A financia o programa, que obedece tráfico de pessoas. “Essas crianças,
Semana”. Mais de quatro mil crian- ao calendário e conteúdos do siste- independente do seu status imigra-
ma de ensino angolano, adiantou tório, merecem ser tratadas devi-
Tomé de Azevedo. damente, não abusadas ou trafica-
das. Isso tem tudo a ver com a nos-
Crianças perdidas sa responsabilidade”, afirmou ele.
Segundo o site “Crescer on-line”, os Infelizmente, a situação só deve se
Estados Unidos “perderam” cerca de agravar com a nova estratégia do go-
1.500 crianças refugiadas. Separa- verno de processar criminalmente
das de suas famílias ao cruzarem todos que atravessarem ilegalmen-
a fronteira, elas são realocadas em te as fronteiras, afastando mais fi-
casas de tutores determinados pelo lhos de seus pais.]
governo. Separadas de suas famí-
lias ao cruzarem a fronteira com Fonte: ACNUR Brasil, A Semana e Crescer on-line.

DEZEMBRO 2018 [ OLUTADOR]45

ROBSON R. DE OLIVEIRA CASTRO* Leigos [ Atender ao chamado de Cristo...

EM 2018, a Igreja nos convidou ao Cardeal Marc Ouellet, em 2016, o Desta maneira, o cristão deveria es-
a celebrar o Ano Nacional do Papa Francisco recorda que desde o tar atento às realidades, mas mui-
Laicato, período que se iniciou Concílio se falou muito sobre a ‘ho- tos se fecham e esquecem que a sua
em 2017 com a festa de Cristo ra dos leigos’, mas para o Papa esta atuação é, indispensavelmente, no
Rei, culminando no último dia 25 hora está tardando a chegar. Para mundo.
de novembro. A Igreja caminha vi- Francisco, e aqui nós nos somamos
va e atuante na sociedade, e o leigo a ele, as causas são várias, mas que Por isso retorno à pergunta: che-
é convocado a assumir seu protago- a passividade atinge, sim, o próprio gamos ao final do Ano do Laicato?
nismo, sendo autor da sua própria laicato, isto é um fato. Outro é o pe- Ou apenas a semente foi lançada pa-
vida e caminhada. Diante disso, vem so das estruturas, que não formam ra dar novo ardor à realidade de ho-
a pergunta: em apenas um ano, se- e não permitem um espaço favorá- mens e mulheres para o seu protago-
ria possível abarcar a realidade do vel para que leigos e leigas possam nismo? É preciso quebrar as amar-
laicato no Brasil e suas várias rea- exercer criticamente e com matu- ras do preconceito, agir com carinho
lidades? A resposta é simples: não. ridade a sua vocação. e mansidão, como o próprio Jesus
nos pede, colocando em prática os
Que o poder seja serviço Quebrar as amarras seus mandamentos.
O Concílio Vaticano II, na Constitui- Outro ponto importante, enalteci-
ção Pastoral Gaudium et Spes – so- Por fim, Francisco é categórico quan-
bre a Igreja no mundo atual – no do pelo Papa Francisco, é a doação do afirma: “O Concílio não olha os
seu 1º parágrafo já afirma: “As ale- que o cristão deve estar disposto a leigos como se fossem membros de
grias e as esperanças, as tristezas fazer, sendo membro da comuni- segunda categoria, a serviço da hie-
e as angústias dos homens de ho- dade e sendo sal e luz: “O sal se tor- rarquia e simples executores de or-
je, sobretudo dos pobres e de todos na sal quando se doa. [...]. Os dois – dens provenientes do alto, mas como
aqueles que sofrem, são também as isso é curioso –, luz e sal, são para discípulos de Cristo que, através do
alegrias e as esperanças, as triste- os outros, não para si mesmo. A luz Batismo e sua inserção no mundo,
zas e as angústias dos discípulos de não ilumina a si mesma; o sal não são chamados a animar todo am-
Cristo”. Quais são estas alegrias e es- dá sabor por si só”. biente, atividade e relação humana
peranças e por que ainda persistem segundo o espírito do Evangelho...
as tristezas e angústias? O Documento 105 da CNBB nos Ninguém melhor que os leigos po-
convida a refletir sobre esta reali- de desempenhar a tarefa essencial
Com o Vaticano II, houve uma gran- dade ao afirmar que leigos e leigas de inscrever a lei divina na vida da
de transformação na Igreja, porém os “sentem-se católicos, mas não Igre- cidade terrena”. (Mensagem para
esforços para torná-la mais atuan- ja”. Além disso, chama a atenção jornada “Vocação e missão dos lei-
te e fazer dos leigos protagonistas para nossa realidade ao dizer que gos”, 12/11/2015).
ainda não atingiram sua plenitu- a “forte mentalidade clerical difi-
de. O Vaticano II superou a ideia de culta o protagonismo e a participa- Que possamos atender ao chama-
que o leigo era um cristão de segun- ção do leigo como sujeito eclesial”. do de Cristo e assumir nosso prota-
da categoria, porém ainda é possí- gonismo, que os pastores compreen-
vel observar uma “queda de braço”, dam a necessidade e a importância
uma atuação complicada e, acima do laicato na comunidade, deixan-
de tudo, uma disputa pelo “poder”. do de lado o imperialismo clerical,
para assumir e “vestir” as sandálias
Francisco, eleito Papa aos 13 de do pescador.]
março de 2013, lúcido e coerente com
o Evangelho, nos mostra o que po- * Mestre em Teologia
der é, na verdade, “serviço”. Na sua pela Faculdade Jesuíta
primeira homilia, como Papa, afir- de Filosofia e Teologia - FAJE-BH.
mou: “Não esqueçamos jamais que Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3978298298863886
o verdadeiro poder é o serviço, e que E-mail: [email protected]
o próprio Papa, para exercer o poder,
deve entrar sempre mais naquele O Ano Nacional
serviço que tem o seu vértice lumi- do Laicato chegou ao fim?
noso na Cruz”.

Infelizmente, a Igreja continua
enrijecida e com dificuldade em dia-
logar com os leigos. Em uma carta

[46 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2018

Missão [ Evangelizar com alegria...

PE. RENATO DUTRA BORGES, SDN

Natal - sinais

do nascer e renascer

“Eci cikiko cinjikizo cenu, namukawana kemba wakujingila mulihina,
vanamusavalika muze mwakulila vimuna.” (Lc 2,12)

“Isso vos servirá de sinal, de forma particular por elas, cuja rua, as crianças abandonadas, as
encontrareis um menino vida é preciosa a seus olhos, mes- crianças soldados, as crianças pri-
envolto em panos e deitado mo quando as circunstâncias pare- sioneiras, as crianças forçadas a tra-
numa manjedoura.” cem desfavoráveis ou impossíveis. balhar, as crianças maltratadas por
causa de deficiência física e mental,
AMENSAGEM aos pastores nos Evangelizar com alegria e leveza as crianças consideras feiticeiras,
motiva na esperança de tem- Em Angola há bom trabalho da Pas- as crianças ditas serpentes, os ado-
pos alegres: “Não tenhais me- toral da Criança, promovendo o de- lescentes vendidos como escravos
do, pois eu vos anuncio uma gran- senvolvimento das crianças mais sexuais, os adolescentes traumati-
de alegria, que será de todo povo...” pobres, desde o ventre materno aos zados sem qualquer perspectiva de
Criar oportunidades de reconhecer 6 anos, contribuindo para que suas futuro.” (África Múnus, 19)
a presença de Deus na historia é a famílias e comunidades realizem
missão da Igreja. Quando acontece sua própria transformação, por meio Que os sinais de nascimento e re-
a novena do Natal, é a oportunida- de orientações básicas de saúde, nu- nascimento sejam abundantes en-
de de exercitar a missionariedade, trição, educação, cidadania, funda- tre nós, que a mensagem dos anjos
seja dos anjos, seja dos pastores que mentadas na mística cristã, que une nos tire todo medo para evangeli-
vão reconhecer o menino na man- fé e vida. Em nossa paróquia de San- zarmos com alegria e leveza.
jedoura. Todo nascimento gera es- to António de Cavungo, esta pasto-
perança, porem é preciso proteger ral tem feito um bem muito grande. Natal feliz e abençoado ano novo!]
com nossa dedicação e serviço es-
tas vidas que florescem. O Papa Bento XVI já alertava so-
bre os desafios de cuidar das crian-
O kimbo e a alegria ças e da juventude africanas. “Os pa-
Entre os povos Luvale e Lunda Ndem- dres sinodais referiram-se a diver-
bo, o nascimento de uma criança é sas situações como, por exemplo,
motivo de grande festa, reúne-se a as crianças assassinadas antes de
família, o kimbo e a alegria acon- nascerem, as crianças indesejadas,
tece, pois o nascimento confirma a os órfãos, os albinos, os meninos de
continuidade do povo. Nestas cul-
turas também está presente a cir- DEZEMBRO 2018 [ OLUTADOR]47
cuncisão (Mukanda); desta vez é um
renascimento para maturidade do
homem, que deixa de ser criança e
passa a ser de fato homem na comu-
nidade, conhecedor das tradições,
direitos e deveres que deve guardar.

Tal como as crianças, esses jo-
vens são um dom de Deus à Huma-
nidade, pelo que devem ser objeto
de um cuidado particular por par-
te das respectivas famílias, da Igre-
ja, da sociedade, e dos governantes,
porque elas são fonte de esperança
e de renovação na vida. Deus vigia

WESLEY FIGUEIREDO* ADCE [ Necessidade: um Estado eficiente...

ADCE Minas Gerais

publica mensagem de saudação
aos eleitos no segundo Turno das Eleições

as reformas e retomar os de, com geração de riqueza
investimentos para aten- econômica e social.
der os anseios da socieda-
de. O diálogo, o respeito à Os eleitos devem ser fir-
constituição, a segurança mes no combate a corrup-
jurídica e o cumprimento ção e intransigentes na mal-
das propostas são funda- versação dos recursos pú-
mentais para alcançarmos blicos. Consideramos ina-
a “Paz Social”. ceitável qualquer armação
ilegal entre poder público e
Os presidentes da Associação de Dirigentes Cristãos Acreditamos que pode- a iniciativa privada.
de Empresa de Minas Gerais (ADCE-Minas Gerais), mos partilhar e trans-
Sérgio Frade, e da ADCE Brasil, Sérgio Cavalieri, por muito da experiência Assim serão criadas as
divulgaram mensagem de cumprimento os candidatos empresarial na aplica- oportunidades para a cons-
eleitos. No texto, eles destacam que o Brasil tem pressa ção da responsabilida- trução de uma sociedade
em retomar o caminho do desenvolvimento, voltar a de social e na vivência mais igualitária e econo-
crescer, gerar empregos, promover as reformas e retomar das boas práticas admi- micamente justa, ecologi-
os investimentos para atender os anseios da sociedade. nistrativas para o setor camente sustentável, cul-
público. turalmente elevada e di-
Eleições 2018 – Mensagem da ADCE Minas Gerais e Brasil versa, sem violência e sem
Cumprimentamos os eleitos no segundo turno das elei- Destacamos a necessidade discriminação.
ções, desejando sucesso e realizações em suas gestões. de um Estado eficiente que
Reiteramos e destacamos a contribuição que oferece- deve restringir-se às ativi- Ao presidente e ao go-
mos aos candidatos através da Carta da ADCE aos can- dades que exclusivamente vernador de Minas Gerais
didatos/eleitores. lhe competem e munir-se eleitos, votos de muito su-
de instrumentos corretos cesso em seus mandatos.
O Brasil tem pressa em retomar o caminho do desen- para a regulação do mer-
volvimento, voltar a crescer, gerar empregos, promover cado e, assim, abrir espa- Registramos também
ços e criar condições favo- nossos cumprimentos ao
ráveis à iniciativa privada, senador Antônio Anasta-
para que ela crie oportuni- sia, que seguirá exercen-
dades para toda a popula- do suas funções no Sena-
ção; promovendo o traba- do Federal com competên-
lho digno, de boa qualida- cia e zelo, em prol de Mi-
nas Gerais.]

[*Assessoria de Imprensa
(31) 3211-7532 / (31) 99147.8152
Av. Luiz Paulo Franco, 385 – Bel-
vedere – Belo Horizonte, MG

[48 OLUTADOR [ DEZEMBRO 2018


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