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Published by kamedved, 2017-06-01 15:37:35

lassof 2025 (6)

lassof 2025 (6)

MANQUEIRA

EM

GADO LEITEIRO

UM PROBLEMA COMUM DE SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL

INTRODUÇÃO

Set the mood for your soothing night
in by lighting  your favorite scented
candles. Place them all around your
room to create a tranquil ambience.

O QUE É MANQUEIRA OU CLAUDICAÇÃO?

     Claudicação, popularmente conhecida como “manqueira”, é a alteração
do padrão normal de locomoção em animais. Ou seja, quando um animal
muda a sua forma de andar, por mais sutil que seja essa mudança, já pode
ser considerado um animal claudicante. A claudicação em vacas leiteiras
quase sempre é devida a lesões que produzem dor nos cascos das patas
posteriores. Porém, em alguns casos, há lesões em nervos, tendões,
articulações ou músculos que produzem claudicação: vacas recém paridas
que tiveram problemas ao parto, animais que caíram ou se machucaram
podem apresentar manqueiras por essas causas.

     A claudicação pode ser causada por diferentes doenças, como

infecções, ou problemas metabólicos que predispõem

os animais a lesões nos cascos. É um dos principais

problemas de saúde que atinge as vacas leiteiras É importante
e afeta o bem-estar, a fertilidade, a produção que a claudicação
de leite e a rentabilidade do rebanho. não seja confundida com
o carbúnculo sintomático, uma
EFEITOS INDESEJÁVEIS NA doença também conhecida
popularmente como “manqueira”,
mas que é causada por bactérias
(Clostridium chauvoei)

PRODUÇÃO, SAÚDE E BEM-ESTAR

DE VACAS LEITEIRAS

     A claudicação pode afetar o desempenho de vacas leiteiras de várias
formas. Os principais problemas devidos à claudicação são:

     a) Redução do consumo e da produção de leite.
     b) Infertilidade.
     c) Aumento da taxa de descarte (animais claudicantes são descartados
mais cedo).
     d) Aumento dos custos de tratamento dos animais afetados.
     e) Além disso, a alta ocorrência de claudicação no rebanho demanda
maior tempo de manejo dos animais afetados que são mais lentos para se
locomover. 

OS ANIMAIS QUE TÊM CLAUDICAÇÃO SENTEM
DOR

      As condições que causam a claudicação estão entre as doenças e
disfunções mais dolorosas que afetam o gado. Tanto as lesões de casco
causadas por infecções quanto as causadas por alterações mecânicas
dentro do casco são associadas à dor. Ou seja, os animais que estão
claudicando estão sentindo dor.
     Mudanças de comportamento são usadas como indicadores de dor e
desconforto nos animais, tanto nas rotinas das fazendas quanto em
pesquisas, já que o comportamento de um animal está diretamente
relacionado ao modo que ele lida com o ambiente e sobrevive. A dor nos
membros de uma vaca é demonstrada quando ela muda sua linguagem
corporal, ou seja, muda seu padrão de locomoção, e isso é utilizado como
base para definir os escores de severidade da claudicação.
     Apesar da dor ser um importante componente da claudicação, o
controle da dor não é sempre considerado de maior prioridade como
deveria. Inclusive, os tratamentos para claudicação podem produzir dor.
O tratamento de lesões nos cascos envolve a contenção física do animal e
do membro afetado enquanto a lesão é explorada, o que muitas vezes
pode resultar na exposição de partes sensíveis do casco mediante
casqueamento. Após o tratamento, as vacas normalmente são devolvidas
ao rebanho e podem percorrer distâncias consideráveis até a pastagem,
prejudicando a recuperação do animal e melhora do problema. É por isso
que usar analgésicos nas vacas afetadas é uma indicação fundamental
tanto para melhorar a condição do animal claudicante como para
complementar tratamentos, como casqueamentos.

POSTURAS ANORMAIS SERVEM COMO
INDICADORES DE CLAUDICAÇÃO

A postura é a relação de organização espacial que existe entre o tronco, a
cabeça e as extremidades do animal. Essa relação é muito importante para
manter as funções normais do organismo. Uma das consequências
indesejáveis da claudicação é que afeta a postura normal e, por causa disso,
afeta todo o organismo. Assim, um animal afetado por claudicação pode ter
degeneração de articulações, músculos e tendões que complicam o
problema inicial. 

Figura 1. Na imagem se observa animais jovens com postura adequada: costas
retas, cabeça levantada e distribuição homogênea do peso em todas as
extremidades.

Figura 2. A claudicação pode ser diagnosticada avaliando a andadura
das vacas. Além disso, observar as vacas paradas ajuda a ver posturas
anormais que indicam que o animal pode estar claudicando. Nas
fotografias são mostradas posturas anormais em vacas que estavam
claudicando por diferentes problemas. O que é comum em todas as
imagens é que o animal deixa de apoiar parte corpo no membro afetado
e distribui o peso nas outras extremidades, sobrecarregando-as.

INTRODUÇÃO

Set the mood for your soothing night

Figura 3. A dcilfaeurdeinctaeçsãeomtaamicnnabiménbmadyilspleidosgde.hedPtaiilspnataicgnrete acytseohirdueearmmdefaasan,vlmilomaararsiitoséeujiomsnvcepdenosnyr.totaAenusdtrceausas
podem ser
observar todos os animaisrdooormebatnohocreecaotrerigairtorsanprqoubliel mamasbqiueenccaeus.am a

claudicação o mais rápido possível. Um pequeno problema de claudicação

num animal jovem pode virar um grande problema crônico no animal adulto,

se não for atendido adequadamente a tempo.

Figura 4. Quando um animal não consegue apoiar normalmente o pé no
chão, deve-se suspeitar de uma lesão grave, ou muito dolorosa. Por isso,
todo animal que tenha esse tipo de postura deve ser isolado e o casco deve
ser observado para detectar se há presença de lesões.

Figura 5. Postura anormal em vaca claudicante. As posturas anormais
indicam que o animal pode estar claudicando: a curvatura das costas, o apoio
irregular de uma ou duas patas, a relutância em se locomover são
informações importantes que podem ajudar a detectar animais com
problemas. Nas duas imagens apresentadas se observa uma angulação
exagerada do pé: desde o curvilhão (jarrete) até o casco pode ser notada uma
linha que não é perpendicular ao piso. Na vaca em destaque nesta imagem se
observa, também, curvatura das costas. Animais não claudicantes
apresentam uma linha reta perpendicular ao piso nessa região anatômica. 

ESTADOS DOS CASCOS E CLAUDICAÇÃO

COMO RECONHECER UM CASCO SAUDÁVEL E
UM COM PROBLEMAS?

     Revisar e corrigir anormalidades observadas nos cascos dos animais
ajuda a prevenir problemas que geram desconforto, dor e claudicação nas
vacas leiteiras. É importante revisar continuamente os cascos dos animais
para atender problemas oportunamente, para programar casqueamento de
animais antes deles virarem claudicantes e para controlar o nível de
problemas de pés presentes na propriedade.
     Um casco saudável deve estar limpo, sem fraturas, massas, sangramento,
secreções, ou lesões superficiais aparentes. Ao olhar desde o lado, o ângulo
da parede dorsal (da frente) deve estar entre 45 a 50 graus de inclinação. A
alteração deste ângulo pode indicar um crescimento anormal do casco. 

CASCO NORMAL E PRINCIPAIS ESTRUTURAS

1. Rodete coronário: borda superior do
casco onde começa a crescer a parede
ou parte externa do casco que recobre
os dois dedos do animal.
2. Córion: parte interna do casco que é
muito sensível e recebe muito fluxo de
sangue. É a estrutura que nutre as
partes externas do casco.
3. Parede ou muralha: porção córnea
do casco que é dura e recobre boa
parte do casco.
4. Linha Branca: parte do casco que está recoberta pela parede ou muralha.
Para enxergar a linha branca basta com olhar o casco por baixo: aparece
como uma linha clara que percorre toda a área de apoio do casco. A linha
branca é menos dura que a parede e é lugar de apresentação de vários
problemas de casco.
5. Pinça: parte dianteira do casco.
6. Talão: parte traseira do casco.
7. Sola: porção do casco inferior que faz contato com o chão.

CRESCIMENTO EXCESSIVO DOS CASCOS

     O casco dos bovinos cresce continuamente. O crescimento normal dessa
estrutura depende da conformação corporal do animal e da interação das
forças que promovem o crescimento (como a nutrição) e o desgaste do casco
(como o tipo de pisos ou solos ).
     O crescimento excessivo do casco, ou sobrecrescimento, se produz
quando:

     a) Os animais andam ou passam muito tempo em pé sobre superfícies
duras ou irregulares, úmidas ou com presença de abundante lama, sujeira
ou esterco. Este tipo de superfícies irregulares, ou pouco confortáveis,
fazem  que os animais adotem posturas anormais e desgastem os cascos de
maneira irregular.
     b). Os animais não são submetidos a casqueamento preventivo periódico,
já que, geralmente, os cascos das vacas crescem mais rápido do que podem
ser desgastados de maneira natural.
     c) Problemas de alimentação dos animais como excesso de proteína,
limitações de alimento podem levar ao crescimento anormal dos cascos.

     O sobrecrescimento do casco pode se apresentar comumente de duas
formas. O termo sobrecrescimento simétrico é usado quando as unhas do
do lado e do meio do casco crescem excessivamente, afetando o ângulo
normal da parede frontal do casco em relação ao solo. Pode ser chamado de
sobrecrescimento não simétrico quando uma das unhas cresce mais do que a
outra. É mais comum ver que a unha lateral cresce mais do que a unha do
meio nos cascos posteriores: isto porque é a parte lateral do casco que
suporta maior pressão e peso, o que estimula o maior crescimento.

Figura 6. Sobrecrescimento do casco. Um dos problemas do
sobrecrescimento do casco é que afeta o ângulo da parede frontal do casco
em relação ao solo. Assim, a distribuição do peso no casco se torna irregular
e as partes posteriores do pé e outras estruturas na sola acabam recebendo
muito peso, afetando a locomoção, produzindo lesões e gerando dor.

Figura 7. Quando há sobrecrescimento não simétrico uma das unhas
apresenta maior comprimento do que a outra. Geralmente a unha lateral
sobrecresce nos cascos posteriores e a do meio nos anteriores. 

     Os cascos sobrecrescidos modificam a andadura normal e a
distribuição do peso do corpo das vacas. Animais com sobrecrescimento
de casco podem apresentar desconforto, dor e predisposição a lesões
nas patas, por terem que realizar movimentos anormais e maior esforço
para mover seu próprio peso.

DERMATITE DIGITAL

     A dermatite digital é uma doença que produz lesões na pele da parte
posterior dos cascos nos membros posteriores. A lesão pode observar-se
como uma área avermelhada com forma de morango nas primeiras fases
da doença, ou como um sobrecrescimento de tecido ulcerado e com
cheiro fétido nas fases mais avançadas.
     A doença é produzida por bactérias que se encontram na lama, em
áreas úmidas, alagadas, ou de concentração de fezes dos animais. É uma
doença contagiosa que pode gerar desconforto, claudicação e, em casos
extremos, até desprendimento do casco.
     Animais com lesões de dermatite digital avançada mexem
continuamente as patas e batem contra objetos, o que produz outras
lesões nos cascos, como fraturas, ou fissuras.

Figura 8. As lesões iniciais de dermatite digital aparecem como uma leve
vermelhidão ou sangramento da pele na parte posterior do casco. Se o
tratamento é feito neste momento inicial, há melhores resultados do que
tratando os problemas crônicos.

Figura 9. Lesão comum em um animal que apresenta dermatite digital
crônica. Se observa um crescimento de tecido na pele que está na parte
traseira dos cascos posteriores. É comum que essas lesões apresentem mau
cheiro, sangue e infecção secundária.

Figura 10. Lesão comum em animais que apresentam dermatite digital
crônica. A presença de fezes, lama e umidade pode favorecer amolecimento
da pele e facilitar o crescimento dos microrganismos que infectam a pele ao
redor do casco.

Figura 11. Lesão crônica de dermatite digital com excessivo dano na pele e
nos talões do casco. O contato contínuo dos cascos com excesso de lama,
esterco e umidade promove o aparecimento e circulação da doença no
rebanho. Animais com lesões crônicas são multiplicadores do problema.

Figura 12. Dermatite digital crônica.

LINHAS, FISSURAS E FRATURAS NO CASCO

     Os animais podem apresentar fissuras tanto de forma vertical, como
horizontal sobre a parede do casco. São linhas onde o casco perde
continuidade e fica mais suscetível ao efeito negativo de fatores
ambientais como pedras, microrganismos, sujeira ou umidade.

Figura 13. Fissura horizontal
em cascos. Geralmente essas
fissuras se produzem por
algum fator que impede o
crescimento normal do
casco. Como o casco cresce a
partir do rodete coronário
como uma linha, qualquer
fator que diminua a nutrição
do casco, cria uma linha
horizontal aonde não se
produz casco normal e
aparecem as fissuras.

     As fissuras horizontais podem ser produzidas por mudanças extremas
na nutrição, manejo ou produção dos animais. Em geral, qualquer fator
que diminua a nutrição do casco pode interromper o crescimento
normal e assim aparece uma linha onde não se produz casco normal.
Algumas fissuras podem resultar de abscessos que crescem dentro do
casco e ao acumular muito material purulento pressionam a parede do
casco e drenam pelas áreas mais frágeis do casco.
     As fissuras verticais podem ser produzidas por traumas fortes ou
repetitivos que debilitem a parede do casco. Cascos de animais mal
nutridos ou debilitados por efeito de alta umidade e acumulação de
material orgânico e microrganismos podem ser mais suscetíveis de
apresentar fissuras.

Figura 14. Fissura vertical no
casco. Este tipo de lesão
debilita a superfície de apoio
do casco e pode permitir a
entrada de material estranho
no casco como pedras, lama e
microrganismos.

Em alguns animais se observa uma fissura horizontal que se localiza só
na parte lateral e superior do casco, mas que não aparece em toda a
extensão do casco. Esse tipo de fissura é produzida comumente por
efeito de drenagem de abcessos que crescem dentro do casco e que,
quando não são tratados, pressionam nessa região do casco e drenam
espontaneamente. Geralmente essas fissuras se apresentam em animais
com claudicação severa, se observa pus saindo pela fissura e às vezes se
detecta mau cheiro no casco.

Figura 15. Fissura horizontal no casco. As fissuras no casco podem
favorecer o acúmulo de sujeira e umidade e facilitar o aparecimento de
infecção no casco e de claudicação.

Figura 16. Fissura lateral no casco em
vaca leiteira com abcesso no pé. A linha
de drenagem do abcesso pode ser muito
sutil, mas geralmente aparece em
animais que não conseguem apoiar o pé
no chão, que têm extrema dificuldade
para se locomover e se observa
inflamação, dor, e drenagem de pus ao
redor da área da fissura.

Quando uma fissura é tão profunda que a parte interna e sensível do
casco fica exposta, geralmente ocorreu uma fratura. Animais com fraturas
de casco apresentam forte dor e restrição de movimento. Cascos que
apresentam fissuras profundas ou fraturas podem se desprender
totalmente, o que é uma complicação muito grave desse tipo de
anormalidade.

Figura 17. Fratura de casco com exposição
de tecido interno (córion) e sangramento.
Animais com esse tipo de lesão devem ser
isolados do rebanho, levados a um local
confortável, seco e limpo, e tratados por um
veterinário de maneira urgente.

HIPERPLASIA INTERDIGITAL

É um sobrecrescimento da pele que está no meio das duas unhas ou
dígitos do pé do animal. Geralmente se observa uma massa na parte
frontal do casco. Às vezes a massa pode ser firme e seca, mas dependendo
das condições do ambiente pode sangrar, infeccionar e supurar.
A massa cresce porque os animais passam muito tempo em lugares que
lesionam  a pele que divide os dos lados do casco: áreas úmidas, alagadas
e com abundante material orgânico (bosta, lama). Esse tipo de lesão se
produz pela irritação contínua da pele e uma vez cresce, não há muitas
possibilidades que ela diminua de tamanho espontaneamente.

Figura 18. Hiperplasia
interdigital. Lesão com
sobrecrescimento na
parte frontal do casco:
se observa ulceração,
contaminação por
material orgânico,
sangramento e
supuração. 

Figura 19. Hiperplasia interdigital.
Este tipo de lesão pode
permanecer seca por períodos, mas
a pele ao redor do casco é uma
área muito suscetível, que pode
facilmente formar úlceras,
infeccionar e até ser afetada por
parasitas como larvas de moscas,
como se observa na imagem do
lado direito.
Hiperplasia interdigital. Este tipo de lesão pode se manter seca, mas é uma
área de pele muito suscetível que pode facilmente formar úlceras,
infeccionar e até ser colonizada por parasitas como larvas de moscas
(imagem do lado direito).

SAÚDE E PREVENÇÃO DA CLAUDICAÇÃO EM
GADO LEITEIRO

     A saúde é um processo dinâmico que depende da interação de diversos
fatores. A claudicação, como muitos problemas de saúde, é uma condição
multifatorial, ou seja, muitos fatores estão associados à sua ocorrência.
Estes fatores podem ser classificados nas seguintes categorias:

a) Fatores relacionados ao animal:
Raça: algumas raças podem apresentar mais claudicação.
Parição: a claudicação é mais comum em vacas multíparas, se comparadas
com as novilhas.
Produção de leite: vacas de maior produção no inicio de lactação são mais
suscetíveis a claudicação.
Estágio de lactação: as vacas no começo da lactação e no momento de
maior produção (ao redor de oito semanas pós-parto) têm alta
suscetibilidade a ter lesões que geram claudicação semanas depois.
Baixo escore corporal: vacas com baixo escore corporal têm alto risco de
virar claudicantes.
b) Manejo: alguns fatores de manejo aumentam a claudicação. Entre eles, a
inadequada condução dos animais (apressando-os), deficiente manutenção
dos corredores, permitir aglomeração de animais em instalações, deixar as
vacas muito tempo paradas na sala de espera ou no galpão de alimentação,
ausência de medidas de saúde preventivas e de tratamento – como o
casqueamento.
c) Ambiente: alguns fatores ambientais podem promover aparecimento de
claudicação. como a exposição contínua dos animais à alta umidade ou a
pisos duros, bem como o estresse térmico (as vacas ficam muito tempo em
pé e podem gerar lesões no casco). Instalações pouco confortáveis,
estreitas, úmidas e sujas, podem facilitar a apresentação de claudicação nas
vacas.

c) Fatores do agente: o “agente” é o fator que desencadeia o processo de
doença. Existem agentes químicos (venenos), físicos (radiação solar,
traumas) e biológicos (vírus, bactérias, parasitas). A presença de bactérias,
como as que produzem dermatite digital ou infecções no casco bem como
os pisos duros promovem o aparecimento de claudicação.
d) Fatores socioculturais: alguns fatores sociais têm relação com o aumento
ou diminuição da claudicação nos rebanhos. Entre eles. a relação das
pessoas com os animais, os tipos de sistemas de produção e manejo que são
implementados, ou exigidos por setores da sociedade, as políticas públicas.
A atitude e as ações que os agricultores têm em relação à claudicação
podem ajudar a controlar o problema no rebanho. Agricultores que se
interessam, conhecem e controlam o problema rapidamente, têm menos
risco de ter rebanhos com alta apresentação de claudicação.

Nos sistemas de produção estes fatores se sobrepõem e, dependendo das
condições de cada sistema, alguns fatores podem contribuir mais ou menos
na ocorrência da claudicação dependendo do rebanho específico ou das
condições próprias de cada município ou região.

Figura 20. A claudicação bovina é um
problema que pode ser desencadeado
por vários fatores que se classificam
dentro das categorias que são
ilustradas no gráfico. 
 Da mesma maneira, diferentes fatores contribuem para que se mantenha
como um problema no rebanho leiteiro. Assim, a claudicação é uma
condição complexa que surge a partir da interação dessas múltiplas
condições. Do ponto de vista da prevenção, igualmente, deve-se
considerar essas distintas condições para controlar o problema e suas
causas.

PREVENÇÃO DA CLAUDICAÇÃO

     É importante conhecer todos os fatores que favorecem o
desenvolvimento da enfermidade, assim como desenvolver a habilidade de
identificar os animais atingidos para que possam ser tratados o quanto
antes, de forma que os animais respondam adequadamente ao tratamento
causando o mínimo de perdas.
Prevenir a claudicação é uma boa opção já que:

a) É mais simples, mais racional e mais barato, do que esperar os animais
adoecer e tratar um a um todos os animais claudicantes.

b) Evita o sofrimento dos animais e a necessidade de descartar cedo os
animais do rebanho.

c) Evita a produção de resíduos de medicamentos e a perda de leite pelo
tempo de carência de alguns medicamentos.

ruclmAauicndidaicloacsçaeãuos?a      É comum as pessoas falarem que a acidose ruminal
é uma causa comum de claudicação em gado. Na
verdade, não há evidencia científica de que esse
problema tenha alguma relação direta com a
claudicação. Na maioria das vezes, a claudicação tem
relação com o conforto que é oferecido aos animais
ou com a presença de problemas de instalações,
manejo ou ausência de medidas preventivas
específicas para controlar o problema.

MEDIDAS DE MANEJO QUE AJUDAM A PREVENIR
A OCORRÊNCIA DE CLAUDICAÇÃO NO REBANHO

ACESSO ADEQUADO À ÁGUA E À SOMBRA,
PARA EVITAR ESTRESSE POR CALOR

     Garantir o acesso à água de boa qualidade, de maneira contínua e em
lugares adequados pode ajudar a evitar a apresentação da claudicação. A
água contribui no controle do estresse por calor . Já as áreas sombreadas
e confortáveis permitem que os animais repousem deitados, com menor
carga de peso sobre os cascos do que quando ficam em pé.
     A oferta de água de maneira adequada, em bebedouros, também facilita a
limpeza e evita o acúmulo de lama na área dos bebedouros. 

Figura 21. Áreas de alta umidade onde se concentram os animais, como os
açudes, predispõem à claudicação, já que os cascos amolecem com o
excesso de umidade e ficam mais suscetíveis aos traumas e às infecções. A
lama e a bosta são fontes de muitos microrganismos que podem infectar
os cascos dos animais.

CONFORTO DOS ANIMAIS E LIMPEZA DAS
INSTALAÇÕES

     O excesso de umidade, a presença de pedras ou lama e a falta de
conforto para os animais podem aumentar a ocorrência de claudicação no
rebanho. Se esses fatores são controlados nas instalações e nas áreas de
acesso aos piquetes, a claudicação pode ser reduzida.
     Áreas como a sala de espera, sala de ordenha, áreas de alimentação,
corredores e pontos de acesso e saída da ordenha, são lugares de passagem
obrigatória para os animais diariamente. Por isso, sua limpeza e
manutenção são chaves para evitar traumas ou infecções derivadas de
inadequada manutenção da instalação. Os espaços e o tamanho da
instalação devem ser adequados ao tamanho dos animais. Uma boa
instalação deve permitir o fluxo contínuo de animais e deve ser espaçosa o
suficiente como para permitir que o animal possa se locomover sem
restrições. 

ACESSO AO PASTO

     O acesso ao pasto pode ser um fator protetor para alguns tipos de lesões
de pés nas vacas leiteiras. Porém, vacas com acesso ao pasto podem ter
altos níveis de claudicação, o que significa que alguns fatores nesses
sistemas também podem promover a claudicação. Quando os animais têm
acesso ao pasto conseguem exercitar-se e repousar sobre um piso menos
agressivo para o casco do que os pisos de concreto, o que pode favorecer
menor aparecimento de algumas lesões podais.

Figura 22. A criação das bezerras no pasto
pode fortalecer os pés, tendões, articulações,
músculos e desgastar os cascos, o que ajuda
a melhorar a resistência desses animais
frente a lesões ou danos ortopédicos.

     É importante salientar que os piquetes e áreas de corredores devem ser
bem planejadas. Sempre que possível, devem estar cobertos por pasto.
Isso garante que os animais possam andar sobre uma superfície branda,
evitando o contato direto e contínuo com barro ou lama. Muitos
agricultores preferem preparar os corredores de acesso ao pasto,
colocando brita e compactando o solo para evitar a formação de buracos e
formação de lama.
     A largura dos corredores e o número de acessos à sala de ordenha são,
também, fatores importantes. Corredores largos facilitam o fluxo das
vacas e evitam que elas tenham que pisar em áreas alagadas ou pisem em
objetos que possam machucar os seus pés. Fazer uma adequada
preparação da área de acesso à sala de espera, ou ter vários acessos a esse
espaço, facilita a limpeza e evita a erosão, a umidade e o acúmulo de lama.

Figura 23. É muito importante fazer o planejamento dos corredores que
dividem os piquetes ou conduzem até a sala de ordenha. Os corredores
devem permitir a adequada mobilidade e fluxo normal de locomoção dos
animais. Devem evitar pressão sobre os cascos por efeito de aglomeração
e permitir que os animais usem o caminho mais adequado para se
deslocar, evitando obstáculos, pedras, lamaçais.

CONDUÇÃO DOS ANIMAIS

     Realizar uma condução adequada dos animais é um fator muito
importante para evitar o aparecimento de traumas ou golpes nas
extremidades dos animais, e para prevenir que uma lesão simples vire uma
mais complicada.
     Deve-se deixar que as vacas andem em seu próprio passo, sem apresá-
las e nunca forçando a entrada rápida às instalações. Se uma vaca não
consegue avançar dentro das instalações ou num corredor, o problema
geralmente tem relação com o desenho inadequado das instalações. Outras
vezes pode ter relação com um problema de comportamento ou de saúde
do animal. O normal é que as vacas se movimentem continuamente, em
direção para onde avança o rebanho.

O QUE PODE SER FEITO PARA CONTROLAR A
CLAUDICAÇÃO EM UMA FAZENDA LEITEIRA?

I) Identificação precoce das vacas claudicantes e o tratamento precoce
apropriado para cada caso novo de claudicação que aparecer no rebanho:

1. Você precisa dar um escore de locomoção para as vacas e registrar as
vacas que precisam ser inspecionadas
2. Inspecionar as vacas que estão claudicando o mais rápido possível:
levantar e limpar o casco afetado. Primeiro, buscar por causas de problemas
mecânicos, como pedras no espaço interdigital ou na linha branca, ou
objetos penetrantes nos cascos.
3. Se nenhum problema evidente for detectado, chamar um veterinário
imediatamente. Não esperar por melhora espontânea, pois esse é o
primeiro passo para aumentar a ocorrência de claudicação na propriedade!
4. Tratar os animais com um protocolo adequado (recomendado pelo
veterinário). Um protocolo adequado deve considerar:
- Reduzir a dor, inflamação e sofrimento da vaca já que, na maioria das
vezes, a claudicação está associada a dor e inflamação.
- Corrigir a principal causa da claudicação: o veterinário deve fazer o
diagnóstico e tratar a lesão ou o problema que originou a claudicação.
- Manejar as vacas claudicantes de forma diferente durante a ordenha,
alimentação e deslocamento até a sala de ordenha. Algumas vacas
claudicantes não podem andar, ou não se locomovem na mesma velocidade
das outras vacas. Além disso, elas não devem ficar aguardando por muito
tempo na sala de espera, nem devem permanecer em pé em superfícies
duras ou sujas.

II) Ter uma base e definir uma meta realista para diminuir a ocorrência de

claudicação no rebanho (protocolo de início precoce):

1) Pergunte a si mesmo:
- Quantas vacas mancas eu tenho na minha propriedade (por exemplo, a
cada 15-20 dias)?
- Quanto desse nível pode ser reduzido?
2) Identifique as principais causas de claudicação na sua propriedade e
tome medidas para controlar esses problemas. Use um passo a passo:
comece com o problema mais comum e faça mudanças nos fatores de
manejo mais sensíveis. Para decidir por onde começar, avalie a simplicidade
da mudança, o menor custo, o maior efeito na redução da claudicação. Por
exemplo, controlar a condição corporal das vacas para evitar ter vacas
magras, conduzir as vacas até a ordenha de maneira calma, melhorar o
conforto das vacas (fornecer espaço adequado em lugares com
temperaturas adequadas).
3) Estabelecer uma meta. Por exemplo: “Eu quero reduzir 20% em 2 meses!".
4) Então: avaliar o escore de locomoção e verificar o comprometimento da
meta.
5) Repetir passos até atingir menor nível de claudicação. Você define suas
próprias metas.

Material produzido por
Maria José Hötzel (Coordenadora)
José Bran
Gabriela Marquette
Zimbabwe Santos
Katia Medved

Laboratório de Etologia Aplicada e Bem-Estar Animal
Centro de Ciências Agrárias

Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil


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